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Celso Furtado (1920-2004) Nascido em Pombal, sertão paraibano Chega ao Rio de Janeiro em 1939 Ingressa em 1940 na Faculdade de Direito e na carreira jornalística Em 1943 entra, por concurso, para o funcionalismo público federal, nos quadros do DASP (Departamento Administrativo do Serviço Público, criado nas diretrizes do Estado Novo e responsável pela organização e profissionalização da carreira de servidor público) “Eu venho de um mundo que me parecia catastrófico. Pombal é das cidades mais ásperas do sertão. Região seca, de homens secos. Muito menino, eu olhava pela fresta da janela a chegada dos cangaceiros.” http://www.pensamentoeconomico.ecn.br/economistas/celso_furtado.html http://www.centrocelsofurtado.org.br/ “Celso Furtado. Formação econômica do Brasil” por Francisco Oliveira em Introdução ao Brasil. Um banquete no Trópico (organização Lourenço Dantas Motta) Interpretações do Brasil

Celso Furtado (1920-2004)

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Page 1: Celso Furtado (1920-2004)

Celso Furtado (1920-2004) Nascido em Pombal, sertão paraibano

Chega ao Rio de Janeiro em 1939

Ingressa em 1940 na Faculdade de Direito e na carreira jornalística

Em 1943 entra, por concurso, para o funcionalismo público federal, nos quadros do DASP (Departamento Administrativo do Serviço Público, criado nas diretrizes do Estado Novo e responsável pela organização e profissionalização da carreira de servidor público)

“Eu venho de um mundo que me parecia catastrófico. Pombal é das cidades mais ásperas do sertão. Região seca, de homens secos. Muito menino, eu olhava pela fresta da janela a chegada dos cangaceiros.”

http://www.pensamentoeconomico.ecn.br/economistas/celso_furtado.htmlhttp://www.centrocelsofurtado.org.br/“Celso Furtado. Formação econômica do Brasil” por Francisco Oliveira em Introdução ao Brasil. Um banquete no Trópico (organização Lourenço Dantas Motta)

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Celso Furtado (1920-2004) Se diploma em Direito em 1944 e é convocado pela Força Expedicionária Brasileira (FEB) e vai para a Itália

Em 1945, quando retorna da 2ª Guerra, opta por ser economista, ao invés de advogado.“Meu primeiro interesse foi a ciência política. Daí fui para as ciências sociais em geral, e daí é que fui para a economia. Se você não tem idéias claras e evidentes sobre a economia na sociedade, fica sempre um pouco no superficial. Para entender a vida da sociedade é preciso saber como é que se mata a fome, primeiro. No último ano de faculdade, já estava mesmo quase que só com a economia. Já tinha me desinteressado pelo direito, que me parecia ser algo para legitimar o que existia.”

Em 1946 ingressa em um doutorado em Economia na Universidade de Paris-Sorbonne, onde se doutora em 1948 e retorna ao Brasil para integrar o quadro de economistas da FGV e colaborar na revista Conjuntura Econômica

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Celso Furtado (1920-2004) Em 1949 integra-se à recém-criada Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), órgão das Nações Unidas sediado em Santiago do Chile “Se eu não estivesse fora do Brasil provavelmente não teria prestado atenção, mas o fato de viver fora, de trabalhar numa equipe internacional, me obrigou a enfrentar esse desafio que era decifrar o Brasil, entender onde estavam os erros. Será que nós, brasileiros, éramos realmente inferiores, como muita gente insinuava? Ou será que a classe dirigente brasileira é que não tinha política, não tinha uma visão clara das coisas, não tinha projeto para alavancar o país?”

Em 1953, preside o Grupo Misto CEPAL-BNDE, cujo estudo sobre a economia brasileira, com ênfase especial nas técnicas de planejamento — “Esboço de um programa de desenvolvimento, período de 1955-1962” — servirá de base ao Plano de Metas do governo de Juscelino Kubitschek.

Em 1957, escreve Formação econômica do Brasil, seu livro mais difundido no Brasil e traduzido em nove línguas.

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Celso Furtado (1920-2004) Em 1961, encontra o presidente John Kennedy e decide apoiar um programa de cooperação com a SUDENE.

Publica Desenvolvimento e Subdesenvolvimento.

Em 1962, torna-se Ministério do Planejamento, no governo João Goulart, e elabora o Plano Trienal.

Seus direitos políticos são cassados em 1964 e segue para Santiago do Chile, a convite do Instituto Latino-Americano para Estudos de Desenvolvimento (ILPES).

Em 1965, assume a cátedra de professor de Desenvolvimento Econômico na Faculdade de Direito e Ciências Econômicas da Universidade de Paris. É o primeiro estrangeiro nomeado para uma universidade francesa, na qual fica por 20 anos.

De 1986/1988 Ministro da Cultura do governo José Sarney. Elabora a primeira legislação brasileira de incentivos fiscais à cultura.

É eleito membro da ABL em 1997

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Celso Furtado (1920-2004) Trabalho com marcas interdisciplinares: filosofia, sociologia, ciência política, história e antropologia

Atento à questão cultura, não apenas aos processos econômicos e históricos

Influências teóricas de: Manheim – quanto às possibilidades racionais e democráticas da escolha e do planejamento

Weber – teoria dos processos de racionalização e da formação burocrática do Estado

Marx - em toda obra

Keynes – em relação ao grau de autonomia do Estado

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A economia não pode ser pensada sem a história e sem os processos culturais

“A cultura brasileira nasceu marcada por um duplo esforço de adaptação: do homem europeu aos trópicos, e de povos de origens profundamente diversas — ameríndios e africanos — à dominação européia. Menos visível na formação da cultura brasileira foi o fato de que os povos oprimidos constituíram-se naqueles que mais contribuíram para a configuração do modo de ser brasileiro. Daí a importância, entre nós, do conceito de identidade cultural.”

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Economia e herança colonial

“O problema brasileiro é de uma sociedade que acumulou um enorme atraso no plano social. Tem um modelo econômico herdado da época colonial, do século XIX, marcado pelo regime escravista, pelo latifundismo. Todo o modelo brasileiro é concentrador de renda. A sociedade brasileira ainda não produziu os meios necessários para corrigir isso, como outras já produziram.”

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A perda histórica do Brasil: Crescimento sem desenvolvimento social

“Creio que todos os países do mundo não desenvolvido têm a possibilidade de mudar seu destino. O Brasil teve sua oportunidade histórica. Havia acumulado riqueza e poderia ter transformado essa ‘modernidade’ em uma sociedade mais justa, mais estável. E não o fez. Perdeu uma chance histórica. Perdeu pelo atraso social, por ter uma elite que se aliou aos Estados Unidos, preocupada estritamente em acumular em benefício de uma minoria”

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Marcas da desigualdadesocial

“(...)O Brasil cresceu. Hoje em dia, é uma das dez maiores economiasdo mundo e tem um sistema industrial complexo. Mas, ao mesmo tempo, este País tem uma massa enorme de subempregados. A parte da população que não participa dos benefícios do desenvolvimento é tão grande que este passa a ser um dos principais problemas, senão o prioritário, de quem governa o Brasil.

(...) Veja os dados que vocês publicaram sobre o setor industrial: a indústria brasileira se modernizou consideravelmente, aumentou a produtividade e – outro lado dessa moeda – causou o declínio do emprego industrial. (...)”

Estatísticas do Século XX – entrevista com Celso Furtado – IBGE, 2003Interpretações do Brasil

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O que é subdesenvolvimento?

“(...) Consideraremos o subdesenvolvimento como uma criação do desenvolvimento, isto é, como conseqüência do impacto, em grande número de sociedades, de processos técnicos e de formas de divisão de trabalho irradiados do pequeno número de sociedades que se haviam inserido na revolução industrial em sua fase inicial, ou seja, até fins do século XIX. As relações que se estabelecem entre esses dois tipos de sociedades envolvem formas de dependência e tendem a autoperpetuar-se. Essa dependência apoiou-se, inicialmente, num sistema de divisão internacional do trabalho que reservava para os centros dominantes atividades produtivas em que se concentrava o progresso tecnológico. (....)

Sendo assim, infere-se que o subdesenvolvimento não pode ser estudado como uma “fase” do processo de desenvolvimento (...) Em síntese: desenvolvimento e subdesenvolvimento devem ser considerados como dois aspectos do mesmo processo histórico, ligado à criação e a forma de difusão da tecnologia moderna”

Celso furtado - Raízes do subdesenvolvimento, pág 88

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O que é subdesenvolvimento?

“(...) A urbanização, que caracteriza a evolução dos países subdesenvolvidos, corresponde menos a modificação na estrutura ocupacional motivadas pela industrialização e mais à ação de outros fatores ligados ao crescimento das atividades mercantis concentradas em alguns portos – na fase de expansão do comércio exterior - , à existência de estruturas agrárias que dificultam o acesso à terra, à penetração de técnicas que reduzem o emprego agrícola, aos benefícios que de uma ou outra forma concedem os governos às populações urbanas, ao crescimento do mercado de trabalho, para serviços

As formas de pressão dessa massa urbana para ter acesso ao mercado de trabalho constituem processo distinto daquele pelo qual a assalariada industrial conseguiu organizar-se e fazer pressão, de modo cada vez mais efetivo, para ter acesso aos frutos do aumento de produtividade e participar dos centros de comando do Estado. (...)”

Celso furtado - Raízes do subdesenvolvimento, pág 99

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O que é subdesenvolvimento?

“(...) Nos países subdesenvolvidos, nem a penetração do progresso tecnológico facilita a solução dos conflitos sociais de natureza substantiva, nem as massas que se acumulam nas grandes cidades possuem uma consciência de classe derivada de antagonismos econômicos aos proprietários dos meios de produção (...)”

Celso furtado - Raízes do subdesenvolvimento, pág 101

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O subdesenvolvimento hoje

“ (....)Com efeito, o subdesenvolvimento é um processo histórico autônomo. Não é uma etapa pela qual passaram as economias que já alcançaram grau superior de desenvolvimento. É uma forma perversa de crescimento. Com o crescimento econômico eleva-se a renda da população. Com a modernização, adotam-se novas formas de vida, imitadas de outras sociedades que, estas sim, beneficiam-se de autêntica elevação da produtividade física. Mas só o desenvolvimento propriamente dito é capaz de fazer do homem um elemento de transformação (..) e de realizar suas potencialidades. (...)

Hoje o Brasil tem uma renda dez vezes superior à renda da época em quecomecei a refletir sobre o nosso subdesenvolvimento. Nem por isso diminuíram as desigualdades sociais; nem por isso fomos bem sucedidos no combate à pobreza e à miséria. Cabe, pois, a pergunta: o Brasil se desenvolveu? (...)

Celso Furtado – “Metamorfoses do capitalismo”. Palestra proferida no recebimento do título doutor honoris causa na Universidade Federal do Rio de Janeiro em 02/12/2000

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E o desenvolvimento?

“(...)O desenvolvimento, além de ser o fenômeno de aumento de produtividade do fator trabalho, é um processo de adaptação das estruturas sociais a um horizonte em expansão de possibilidades abertas ao homem. As duas dimensões do desenvolvimento – a econômica e a cultural- não podem ser captadas senão em conjunto (...)”

Celso furtado - Raízes do subdesenvolvimento, pág 101

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A questão da economia

“(...)Em síntese: a interação do econômico com o não econômico, seguramente o que é mais importante no processo de desenvolvimento, desaparece do campo de observação do economista. O que no começo era uma simplificação metodológica necessária tende a transformar-se em obstáculo à própria percepção da natureza do problema (...)”

Celso furtado - Raízes do subdesenvolvimento, pág 102

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“ (...) As elites do Brasil vivem tão bem, ou melhor, do que as do chamado Primeiro Mundo. O subdesenvolvimento cria um sistema de distribuição de renda perverso, que sacrifica os grupos de renda baixa. Pois é inerente à economia capitalista a tendência à concentração social da renda.

O processo competitivo da economia de mercado exige a seleção dos mais fortes, e os que vão passando na frente concentram a renda. (...) Na Europa, onde se criaram grandes sindicatos, a sociedade civil se modificou, evoluiu, e a própria luta social passou a ser um elemento dinâmico. Se a Europa avançou tanto não foi só porque cresceu economicamente, mas porque redistribuiu a renda, o que foi possível graças às pressões dos poderosos sindicatos. O problema é que nas economias subdesenvolvidas a ação dessas forças sociais é de muito menor eficácia (...)”

Estatísticas do Século XX – entrevista com Celso Furtado – IBGE, 2003

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Celso FurtadoBrasil e o modelo das elites

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Celso FurtadoBrasil e o modelo das elites

“ (...) A deformação da economia está no modelo de civilização que se imita. As classes média e alta querem reproduzir os padrões de vida dos países mais ricos do mundo, viver como nos Estados Unidos ou na Europa mais avançada. E isso leva inevitavelmente à necessidade de concentrar a renda, pois, para haver no Brasil uma população que vive como nos Estados Unidos, é preciso ter uma renda dez vezes mais concentrada que lá. Esse quadro só começará a se reverter com outra política tributária e fiscal.

Os mais pobres pagam muito imposto, a começar pelo imposto indireto, que é alto no Brasil. Mas o imposto propriamente direto, que é o Imposto de Renda, não é cobrado dos muito ricos. Veja o sistema bancário brasileiro. Eles pagam impostos? Praticamente não. A distribuição de renda no Brasil é muito deformada pelo sistema fiscal. Se quisermos modificá-la, é preciso alterar a dinâmica da carga fiscal, fazer com que os grupos de classe alta, aqueles que têm uma renda igual à dos países ricos, paguem mais impostos(...)”

Entrevista com Celso Furtado – “Atual situação política mundial”. Revista de Economia Mackenzie, Novembro de 2002

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Celso Furtado:em defesa da ação

“Porque no centro de minhas reflexões estavam problemas reais, a pesquisa econômica foi sempre para mim um meio de preparar a ação, minha ou de outros. Compreender melhor o mundo para agir sobre ele com mais eficácia. Isso significa que os fins últimos devem estar sempre presentes no espírito.”

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Celso Furtado por Ricúpero

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“Mas o mais importante é que, a partir de sua situação profissional, Celso Furtado contribuiu, como poucos, para mudar a postura em relação ao Estado no Brasil. Até ele e sua geração, praticamente, o Estado era domínio do pensamento autoritário. Autores como Alberto Torres, Oliveira Vianna e Azevedo Amaral argumentavam que caberia ao Estado organizar a sociedade. Com o regime autoritário do Estado Novo implantado em 1937, esses autores vieram a ter particular influência. A própria trajetória de Furtado foi impulsionada pelas novas condições do país, em que o planejamento e a ação do Estado na economia passaram a ter papel central”.

Bernardo Ricúpero – “Celso Furtado e o pensamento social brasileiro” – Estudos Avançados, 2005

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Por uma economia que leve em conta a ecologia

“ (...) Descobriu-se petróleo no Alasca, mas ninguém deu importância à destruiçãodo Alasca. Numa cidade como o Rio, e, pior ainda, como São Paulo, temos hojeuma desordem no tráfego que reflete o desperdício de petróleo queimado. A soja, por exemplo, entusiasma muita gente, mas, olhando mais de perto, é algo perigoso, pois se está destruindo o cerrado, esse quadro ecológico que não se reconstitui.

Se não houver o trabalho de conscientização à que você se refere, o homem poderá destruir o planeta. Será que o homem não tem saída, senão se suicidar? Quando se discutia o futuro da humanidade, sempre se imaginava que o homem iria trabalhar menos, gozar de mais tempo livre, de cultura etc. A realidade foi outra. No mundo de hoje se trabalha mais e, muitas vezes, se trabalha no caminho de um suicídio coletivo. A nova geração, que alimenta essas instituições à que você se refere, tenta levantar uma nova bandeira (...)”.

Entrevista com Celso Furtado – “Atual situação política mundial”. Revista de Economia Mackenzie, Novembro de 2002

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