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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE SERVIÇO SOCIAL ANA KELLY DE ARAÚJO LIMA IDOSOS DO GRUPO ALCOÓLICOS ANÔNIMOS: HISTÓRICO DE USO DE ÁLCOOL E TRATAMENTO FORTALEZA 2014

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

ANA KELLY DE ARAÚJO LIMA

IDOSOS DO GRUPO ALCOÓLICOS ANÔNIMOS: HISTÓRICO DE USO DE ÁLCOOL E TRATAMENTO

FORTALEZA

2014

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ANA KELLY DE ARAÚJO LIMA

IDOSOS DO GRUPO ALCOÓLICOS ANÔNIMOS: HISTÓRICO DE USO DE ÁLCOOL E TRATAMENTO

Monografia submetida à aprovação da

Coordenação do Curso de Serviço Social

do Centro Superior do Ceará, como

requisito parcial para obtenção do grau

de graduação de Serviço Social.

Orientador (a): Verbena Sandy

FORTALEZA 2014

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ANA KELLY DE ARAÚJO LIMA

IDOSOS DO GRUPO ALCOÓLICOS ANÔNIMOS: HISTÓRICO DE USO DE ÁLCOOL E TRATAMENTO

Monografia apresentada como pré-requisito para

obtenção do título de bacharel em Serviço Social,

outorgado pela Faculdade Cearense (FaC), tendo

sido aprovada pela banca examinadora composta

pelos professores.

Data de aprovação: ___/___/___

Banca Examinadora

Professor (a) especialista: Verbena Paula Sandy.

Orientadora

Professor (a) mestra Virzângela Paula Sandy Mendes

Professor (a) especialista Talitta Cavalcante Albuquerque Vasconcelos

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A Deus, porque ele é o caminho, a verdade e a vida.

Também aos meus pais Antônia Lúcia e José Luís, e aos

meus irmãos Robson e Kermeson, pois somos uma

família que luta para a realização de nossos sonhos.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por sempre ter me iluminado e me inspirado

para a realização deste trabalho, encorajando-me em meios às dificuldades nesta

caminhada. A minha família, no qual dedico este trabalho, e aos demais familiares.

Também quero manifestar meus agradecimentos às pessoas que

contribuíram de alguma forma direta ou indiretamente para a realização deste

trabalho: aos meus professores, que durante esta caminhada acadêmica

contribuíram para a ampliação dos meus conhecimentos. Em especial, a minha

orientadora Verbena Sandy, que com sua sabedoria e compreensão me conduziu

para a realização do trabalho.

Agradeço também à banca examinadora, composta pelas docentes

Virzângela Paula Sandy Mendes e Talitta Cavalcante Albuquerque Vasconcelos,

pela disponibilidade de participar e contribuir com o trabalho. Aos meus amigos de

longa caminhada Ana Kelly Brígido, Walier Aguiar, Alessandra Matias, Ana Lúcia

Brígido, Lívia Galdino e Roberta Sousa.

Às amigas da faculdade, em especial Karen Raulino, Maria Clesciane Freitas,

Aline Maria, Aline Brasil, Suellen Loiola. Aos meus amigos catequistas de eucaristia

da comunidade São Francisco Xavier, no bairro Conjunto Esperança.

Aos amigos de trabalho, em especial a minha querida enfermeira Ana Paula

Lessa, que sempre me apoiou nesta caminhada acadêmica. Também as minhas

amigas Liliane Meneses, Edilene Queiroz, Socorro Portácio, Fátima Nobre e Núbia

Mendonça, Emanuelle, Leda Alves e Marluce Marques.

E também não posso deixar de agradecer às pessoas que compõem a equipe

de funcionários da instituição que estagiei por dois anos, que é o Centro de Atenção

Psicossocial de Álcool e outras Drogas (CAPS-AD), em especial as assistentes

sociais que me ensinaram muito, sendo exemplo de profissionais que trabalham com

seriedade e ética, Ana Cristina Rodrigues e Ana Paula Lima. Também agradeço aos

coordenadores Mauro Sousa e Clarice Cordeiro.

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“Recomeçar

Mesmo que o hoje te dê um não, lembre-se que há um amanhã melhor,

a certeza de que os nossos caminhos devemos traçar ao lado de quem

nos ama; com amor, paz, confiança e felicidade, é a base para se

recomeçar. Um recomeço, pra pensar no que fazer agora, acreditando

em si mesmo, na busca do que será prioridade daqui pra frente;

PLANOS? Pra que os fizemos, já que o amanhã é mistério? A qualquer

momento pode ser tempo, de revisar os conceitos e ações, e concluir,

que tudo aquilo que você viveu marcou, porém não foi suficiente pra

que continuasse.

As lembranças passadas ficam, tudo que vivemos era pra ser vivido , o

destino é como um livro do qual nós somos os autores, ele não vêm

pronto, antes de nascermos ele está em branco, ao nascermos

introduzimos as primeiras passagens, um começo, com o tempo

através das escolhas vamos escrevendo-o página por página,

rabiscadas, rasgadas ou marcadas, onde encontramos obstáculos

onde indicarão a melhor hora pra recomeçar, nos últimos dias de vida

concluiremos, e no final deixamos nossas historias marcadas no

coração daqueles, que sempre farão parte de nossa historia, onde quer

que estejam. Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo, é

renovar as esperanças na vida e o mais importante, acreditar em você

de novo.”

(Carlos Drummond de Andrade)

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RESUMO

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, o alcoolismo é um dos graves problemas de saúde pública em nosso país, problema este que atinge diversas faixas etárias, incluindo pessoas idosas. Um dos meios mais antigos e conhecidos no mundo para tratamento do alcoolismo é a irmandade dos Alcoólicos Anônimos (AA), através do programa Dozes Passos e as Dozes Tradições. Este estudo tem como principal objetivo conhecer e compreender o uso de álcool e a trajetória de tratamento dos idosos alcoolistas do grupo dos Alcoólicos Anônimos (AA). Para coleta de dados, utilizamos entrevistas semi-estruturadas, composta por 26 perguntas que englobam relatos desde o primeiro gole de álcool até o tratamento. Esta pesquisa é de natureza qualitativa e descritiva, sendo realizada em um grupo de AA em Fortaleza, Ceará. Através dos dados obtidos, concluímos que o programa dos AA para recuperação do alcoolismo é de suma importância para os idosos alcoolistas estudados, pois após aderirem ao programa da irmandade, eles conseguiram conquistas como: sobriedade, reconstrução de identidade e reinserção social.

Palavras-chave: idosos, alcoolismo e alcoólicos anônimos.

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ABSTRACT

According to the World Health Organization alcoholism is a serious public health problems in our country, a problem that affects various age groups, including older people. One of the oldest and known worldwide for treatment of alcoholism means is the fellowship of Alcoholics Anonymous (AA) through the twelve steps and twelve traditions program. This study aims to know and understand the use of alcohol and trajectory treatment of alcoholics elderly group of Alcoholics Anonymous (AA). For data collection we used semi-structured interviews, consisting of 26 questions that include reports from the first sip of alcohol until treatment. This research is qualitative and descriptive nature being held in an AA group in Fortaleza, Ceará. Through the data obtained, we conclude that the AA program of recovery from alcoholism is of paramount importance for elderly alcoholics studied, because after joining the fellowship program, they were able to achievements such as: sobriety, reconstruction of identity and social reintegration.

Keywords: elderly, alcoholism, alcoholics anonymous.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AA – Alcoólicos Anônimos APA – Associação Psiquiátrica Americana CFEES – Conselho Federal de Serviço Social CID – Código Internacional de Doenças CNM - Confederação Nacional de Municípios DSM - Manual de Diagnóstico e Estatística das Desordens Mentais FAC – Faculdade Cearense IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IESS - Instituto de Estudos de Saúde Suplementar INPAD - Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas. JUNAAB – Junta de Serviços Gerais de Alcoólicos Anônimos do Brasil LENAD - Levantamento Nacional de Álcool e outras Drogas OMS – Organização Mundial de Saúde PNAD- Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios PNI - Política Nacional do Idoso SIM – Sistema de Informações de Mortalidade SUS – Sistema Único de Saúde UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância TCC – Trabalho de Conclusão de Curso TEE – Transição de Estrutura Etária WHO – Organização Mundial de Saúde

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................

2 METODOLOGIA.............................................................................................

2.1 Cenário de pesquisa ......................................................................................... 18

3 ENVELHECIMENTO POPULACIONAL BRASILEIRO E SEUS FATORES.

3.1 Conceito de velhice, velho, idoso e terceira idade ......................................... 31

3.2 Álcool e idoso.......................................................................................................

4 ASPECTOS HISTÓRICOS E CULTURAIS DO ÁLCOOL..............................

4.1 Alcoolismo como doença............................................................................

5 HISTÓRICO DE USO DE ÁLCOOL E TRATAMENTO .......................................... 51

5.1 Histórico de uso de álcool dos sujeitos...................................................

5.2 Tratamento dos sujeitos no grupo Alcoólicos Anônimos ................................... ..58

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. .....71

REFERÊNCIAS..................................................................................................

APÊNDICE A..............................................................................................................

APÊNDICE B....................................................................................................

APÊNDICE C.....................................................................................................

ANEXO I.............................................................................................................

ANEXO II............................................................................................................

10

12

18

24

31

36

41

43

51

53

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1 INTRODUÇÃO

No Brasil, o envelhecimento populacional se desenvolve de forma acelerada,

resultando muitas vezes de questões e desafios associados à velhice,

principalmente na área da saúde. Dentre estas questões encontra-se o alcoolismo.

Atualmente o alcoolismo é um dos maiores problemas de saúde púbica, uma doença

crônica e irreversível que, cada vez mais vitimiza tanto idosos como pessoas das

demais faixas etárias. Podemos dizer que o crescente consumo de álcool no país é

um dos fatores que contribui para esta questão de saúde pública, já que segundo a

Organização Mundial de Saúde (OMS) e Botega (2006), o álcool é a substância

mais consumida. Ao longo desta pesquisa discutiremos os fatores que contribuem

para o crescente consumo de álcool.

O uso abusivo de álcool não acarreta somente problemas de saúde, mas

também problemas sociais, econômicos, familiares etc. e tais complicações são

grandes desafios para o país. Reconhecemos que o Brasil, como forma de

responder tais problemas, vem buscando melhores resultados frente a essa

questão. Citamos como exemplo a criação de políticas, leis, programas e estratégias

para usuários de álcool.

Dentre os diversos tipos de tratamento para o alcoolismo, tomamos como

parte deste estudo o modelo terapêutico da irmandade dos Alcoólicos Anônimos

(AA), um tratamento bastante antigo e conhecido. Um grupo de autoajuda, em que

pessoas trocam e compartilham experiências referentes ao alcoolismo, ajudando-se

mutuamente.

O presente estudo tem como objetivo geral conhecer e compreender o uso de

álcool e a trajetória de tratamento dos idosos de um grupo AA em Fortaleza, Ceará.

E tem como objetivos específicos compreender o grupo de AA como apoio social

para os idosos e identificar a visão dos mesmos a respeito do alcoolismo.

Acreditamos ser importante conhecer as histórias de vida dos sujeitos da pesquisa,

que são idosos a partir de 60 anos. Compreender também de que forma o AA

colaborou e ainda ajuda estes idosos.

A presente pesquisa encontra-se dividida em quatro capítulos: o primeiro

capítulo trata da metodologia da pesquisa, no qual discorremos sua natureza, tipo de

caráter, quais técnicas e instrumentos utilizados, quem são os sujeitos da pesquisa.

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E também apresentamos o cenário da pesquisa, que é um grupo dos Alcoólicos

Anônimos em Fortaleza (CE)..

No segundo capítulo, discutimos a questão do envelhecimento populacional

brasileiro, de que forma este fenômeno ocorre e quais fatores contribuem para o

crescimento da população idosa. Exploramos também neste capítulo os conceitos

velhice, velho, idoso e terceira idade.

O terceiro capítulo trata dos aspectos históricos e culturais do álcool. Também

fizemos uma breve discussão a respeito do alcoolismo no Brasil e quais fatores

contribuem para o grande consumo de bebidas alcoólicas e por último o alcoolismo

como doença.

E no quarto capítulo encontramos as análises das entrevistas realizadas com

os idosos do grupo dos Alcoólicos Anônimos (AA). Nesta parte descrevemos

momentos das vidas dos sujeitos da pesquisa, desde o primeiro gole de álcool até o

presente momento. Identificando a forma pela qual os mesmos reconstruíram suas

identidades e também o que o AA representa na vida deles.

Por último apresentamos as observações e resultados da presente pesquisa,

como também as reflexões a respeito das ações do Sistema Único de Saúde (SUS)

para responder às questões do alcoolismo.

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2 METODOLOGIA

Neste capítulo descreveremos quais os caminhos percorridos para a

realização da presente pesquisa. De acordo com Demo (1987, p. 23) “Pesquisa é a

atividade pela qual descobrimos a realidade”. Em outras palavras, a pesquisa é uma

investigação de uma realidade social no qual se pretende estudar. Neste estudo

temos como objetivo principal conhecer e compreender o uso de álcool e a trajetória

de tratamento dos idosos de um grupo de Alcoólicos Anônimos (AA).

Diversos motivos despertaram o nosso interesse do trabalho pela escolha do

objeto de pesquisa, são eles: primeiramente por encontrar no nosso dia a dia muitos

idosos aparentemente alcoolizados pelas ruas, instigando assim um questionamento

e curiosidade de conhecê-los e também saber se procuram por tratamento, se

sabem algo sobre alcoolismo.

Outro motivo foi pela prazerosa experiência de estágio no Centro de Atenção

Psicossocial de Álcool e outras Drogas (CAPS-AD) e também por trabalhar na área

da saúde, pois como agente comunitário de saúde, no cotidiano encontramos muitos

idosos alcoolistas, tanto nas ruas como também entre as visitas domiciliares. Como

profissional sempre orientamos a procurar instituições de saúde para tratamento do

alcoolismo como os CAPS-AD e muitos deles relatam que se decidir a fazer algum

tratamento citam o grupo dos Alcoólicos Anônimos como opção de escolha.

Desta forma, acabou despertando em nós o interesse em conhecer de que

forma trabalham para recuperação das pessoas que possuem problemas com o uso

de álcool. E por último a escolha da faixa etária dos sujeitos porque gostamos muito

de trabalhar com o público idoso.

Por isso, a fim de conhecer a realidade no qual é inserido nosso objeto de

estudo, realizei alguns procedimentos. O primeiro deles foi a pesquisa bibliográfica.

De acordo com Minayo (2010, p. 183), “a primeira tarefa do investigador, uma vez

definido seu objeto, é proceder a uma ampla pesquisa bibliográfica, capaz de

projetar luz e permitir melhor ordenação e compreensão da realidade empírica”.

Em outras palavras, as pesquisas e estudos existentes são de grande

contribuição para os pesquisadores, pois são eles que irão nortear e iluminar os

mesmos neste processo. Podemos dizer que fazer uma pesquisa sem consultar e

recorrer a outros estudos é praticamente impossível. Antes, devemos saber o quê e

como pesquisar, pois dependendo do assunto a ser abordado, a pesquisa chega a

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ser extensa. Então, com objeto e cenário já definidos, fizemos um levantamento dos

principais trabalhos e autores relacionados como nosso objeto, selecionando assim

quais iríamos trabalhar após estudos teóricos.

Segundo Cervo (2007, p. 60), “A pesquisa bibliográfica procura explicar um

problema a partir de referências teóricas publicadas em artigos, livros, dissertações

e teses”. É através dessas pesquisas que os problemas que englobam o mundo, são

abordados, discutidos, investigados etc. com o objetivo e a finalidade de

compreender, conhecer e descobrir soluções para os mesmos. Oliveira (2002) diz

que é através dela que o indivíduo tem oportunidade de conhecer vários trabalhos e

ainda expandir seus conhecimentos.

Por isso, é essencial suas publicações, porque são de grande contribuição

para a construção de outras pesquisas, já que é através delas que o pesquisador

tem a oportunidade de adquirir mais conhecimento e ao mesmo tempo analisar as

contribuições científicas do objeto em questão.

Esta pesquisa é de natureza qualitativa, busca compreender uma realidade a

qual não pode ser medível, já que cada grupo e/ou sujeito tem suas particularidades

quantificadas, pois definida por dados quantitativos. Segundo Martinelli (1999, p. 21),

este tipo de pesquisa “tem por objetivo de trazer à tona o que os participantes

pensam a respeito do que está sendo pesquisado, não é só a [...] visão de

pesquisador em relação ao problema, mas é também o que o sujeito tem a [...] dizer

a respeito”.

Ou seja, o desenvolvimento das ideias, concepções e conclusões do

pesquisador também depende dos dados coletados, dos sujeitos e de suas histórias

durante o processo da pesquisa; não é só o seu conhecimento a respeito do objeto

estudado. De acordo com Minayo (2010, p. 23), a pesquisa qualitativa “visa [...]

compreender a lógica interna de grupos, instituições e atores quanto (a): [...] valores

culturais, [...] relações entre indivíduos, instituições e movimentos sociais [...]”. A

autora quer dizer que este tipo de pesquisa visa uma compreensão particular,

específica de uma realidade, no qual os resultados da tal pesquisa não são

generalizados, mas sim único e específico do grupo a ser estudado.

Este trabalho tem caráter exploratório e descritivo. Exploratório porque nesta

pesquisa buscamos informações a respeito do objeto estudado, pois segundo Cervo

(2007, p. 63), “a pesquisa exploratória não requer a elaboração de hipótese a serem

testadas [...] tais estudos têm por objetivo familiarizar-se com o fenômeno ou obter

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uma nova percepção dele e descobrir novas ideias”. Ou seja, estudamos a respeito

da vida dos idosos do grupo AA não para comprovar algo, mas para compreender o

uso de álcool e a trajetória de tratamento dos mesmos.

A respeito do caráter descritivo, Cervo (2007, p. 62) diz que “pesquisa

descritiva desenvolve-se, principalmente, [...] nas ciências humanas e sociais,

abordando [...] problemas que merecem ser estudados [...]”. Neste estudo,

abordamos a respeito do alcoolismo, que é um grande problema de saúde pública

no nosso país, por isso pensamos ser ele de grande contribuição para a pesquisa

sobre o assunto. Este tipo de pesquisa não se refere apenas ao fato de descrever,

mas sim conhecer a vida dos sujeitos dela.

Para Martinelli (1999, p. 22), “cada pesquisa é única, pois se o sujeito é

singular, conhecê-lo significa ouvi-lo, escutá-lo, permitir-lhe que se revele. E onde o

sujeito se revela? No discurso e na ação”. Para isso, a comunicação direta entre o

pesquisador e os sujeitos da pesquisa é indispensável, caso contrário ficará difícil de

atingir os objetivos determinados. Afinal, como o pesquisador poderá conhecer,

interpretar os sujeitos do seu estudo se não houver aproximação entre ambos?

Sendo assim, se exigiu do pesquisador muito tempo e disposição para a

realização desse estudo. Para melhor conhecimento e compreensão dos sujeitos da

pesquisa, participei das reuniões de AA pelo menos 1 (uma) vez por semana

semana, dentre o período de outubro de 2013 ao mês de maio deste ano, pois foi

através destes encontros que pude conhecer as pessoas e suas respectivas

histórias a respeito do uso de álcool no Ceará.

Durante estas reuniões, os ingressados se apresentaram, compartilharam

suas histórias de vida, relataram, por exemplo, quando e de que forma começaram a

ingerir bebidas alcoólicas; quando perceberam que o uso do álcool estava afetando

sua vida; quais foram as complicações obtidas pelo uso indevido do álcool, quando

ingressaram no grupo AA; quais foram as mudanças ocorridas após aderir ao

tratamento, enfim foram nestes encontros que enquanto pesquisadora fiquei mais

próximo do objeto estudado.

Para melhor estudo e compreensão sobre o tema, adotamos algumas

técnicas para coleta de dados, como: observação e entrevista. De acordo com Gil

(2011, p.100) “A observação nada mais é que o uso dos sentidos com vistas a

adquirir os conhecimentos necessários [...]” É preciso que o pesquisador observe,

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escute, perceba tudo do seu campo de pesquisa, para assim compreender seu

objeto de estudo.

Posso dizer que fazer uma pesquisa sem a observação do pesquisador fica

muito difícil, já que é através dela que podemos adquirir mais conhecimento e

informações a respeito do objeto estudado. Cervo (2007, p.31) diz que “sem a

observação, o estudo da realidade e de suas leis seria reduzido à simples conjectura

e adivinhação”. Quando falamos em observar, não é apenas o ato de olhar algo,

mas sim olharmos e compreendermos o que olhamos, já que engloba a aplicação de

todos os sentidos físicos e isto muitas vezes exige do pesquisador inteligência e

compreensão, caso contrário irá ver e não entender e/ou compreender.

Existem inúmeros tipos de observação, como, por exemplo, observação

espontânea, que não exige técnica e/ou planejamento; observação estruturada, que

ao contrário da anterior exige um planejamento e técnica; também existe a

observação não participante, em que o pesquisador somente observa, sem ter

envolvimento algum com o objeto da pesquisa, entre outras. Mas, neste trabalho

optamos pela observação participante.

Tal observação permite maior aproximação e envolvimento do pesquisador

com o seu objeto, segundo ainda Cervo (2007). Isto ocorre devido à observação ser

direta, sem nenhuma intermediação, ou seja, o pesquisador acaba fazendo parte do

campo de pesquisa, diferindo de outras técnicas onde a sua presença não é exigida.

Definimos observação participante como um processo pelo qual mantém-se a presença do observador numa situação social, com a finalidade de realizar uma investigação científica. O observador está em relação face a face com os observados e, ao participar da vida deles, no seu cenário cultural, colhe dados [...] (SCHWARTZ & SCHWARTZ, 1955, p. 355).

A presença do observador no cenário da pesquisa é crucial para a

observação participante, mas só sua presença não basta, é necessário que esteja

preparado para realizar tal investigação, é preciso saber o que observar e de que

maneira. O pesquisador, ao interagir e se envolver com os sujeitos do seu estudo,

terá experiência direta com seu objeto e suas perspectivas em relação à pesquisa

serão complementadas e/ou modificadas, ou seja, novas descobertas durante o

processo da pesquisa.

Durante o período de observação, a utilização de um diário de campo foi

indispensável, pois segundo Minayo (2010), este instrumento é um caderno em que

o observador faz anotações a respeito do objeto, cenário e seus sujeitos. Pois é

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muito importante o registro de tudo que é referente ao objeto, como, por exemplo, as

conversas informais, depoimentos, gestos, comportamentos dos sujeitos, descrever

como seguiu as reuniões, enfim, anotam-se muitas coisas para não correr o risco de

perderem-se informações, detalhes do que vem sendo estudado. As observações

foram feitas de forma organizada, facilitando assim uma maior interpretação e

compreensão dos dados para análise.

Outra técnica que utilizei para coleta de dados foi a entrevista. De acordo com

Cervo (2007, p. 51), “A entrevista [...] é uma conversa orientada para um objetivo

definido: recolher, por meio do interrogatório do informante, dados para a pesquisa.”

Em outras palavras, conclui-se que não se trata apenas de uma conversa, é

importante que o pesquisador esteja atento para planejar e elaborar da melhor

maneira a entrevista, para que assim os objetivos da pesquisa sejam atendidos,

caso contrário será apenas um interrogatório sem contribuição alguma. Segundo

Ribeiro (2008, p.141), a entrevista é:

A técnica mais pertinente quando o pesquisador quer obter informações a respeito do seu objeto, que permitam conhecer sobre atitudes, sentimentos e valores subjacentes ao comportamento, o que significa que se pode ir além das descrições das ações, incorporando novas fontes para a interpretação dos resultados pelos próprios entrevistadores.

Para a autora, a entrevista é a técnica mais adequada para explorar um

objeto, por diferir de outras técnicas como, por exemplo, questionário onde se

aplicam perguntas em um papel aos entrevistados, impossibilitando assim maior

contato entre as partes. Podemos dizer que é diferente porque na entrevista é

permitida uma conversa entre pesquisador e entrevistados, indo além da coleta de

informações. Ela propicia ao pesquisador a extração de esclarecimentos das

informações e facilita a participação de qualquer pessoa alfabetizada ou não, caso

contrário da aplicação de um questionário.

Segundo Minayo (2010, p. 261): “As entrevistas podem ser consideradas

conversas com finalidades e se caracterizam pela sua forma de organização [...]” A

organização de uma entrevista depende de quem a organiza e o que se pretende

alcançar, pois não existe um único tipo de entrevista e uma única forma de fazer,

tudo irá depender do caminho a ser percorrido pelo pesquisador.

Dentre os diversos tipos de entrevista, optei pelas entrevistas

semiestruturadas, pois de acordo com a autora referida, este tipo de entrevista é

formada por perguntas fechadas, já elaboradas, em outras palavras, pré-

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estabelecidas, cujo pesquisador toma como roteiro, mas que ao mesmo tempo lhe é

permitida a introdução de mais perguntas que poderão surgir no decorrer da

conversa, ou seja, o pesquisador não é obrigado a seguir a risca o roteiro, havendo

assim uma flexibilidade. Como ocorreu de fato, pois fui a campo com um roteiro

composto por 23 perguntas e, dentre as entrevistas, algumas respostas induziram à

formulação de mais três perguntas, as quais tratam desde início do uso de álcool

dos sujeitos até o presente momento.

Algumas restrições foram exigidas pelo grupo de AA para a realização das

entrevistas, tais restrições se referiam ao uso de instrumentos para registro das

informações, como, por exemplo, câmaras fotográficas, celulares, Mp3, entre outros

objetos. Não foi possível qualquer tipo de gravação e/ou filmagens, por isso as

observações, informações e respostas foram registradas no diário de campo com

todo o cuidado e atenção para garantir a fidedignidade das informações. Segundo

Minayo (2010) somente a memória do pesquisador não é suficiente para

credibilidade das informações, por isso, o pesquisador deve encontrar meios para

registrá-las.

As entrevistas foram realizadas a partir do dia 17 de fevereiro deste ano. Não

marquei data nem horário com os entrevistados. As entrevistas foram sendo

realizadas de acordo com a disponibilidade dos idosos escolhidos, ocorrendo

sempre antes ou durante as reuniões, já que seria no mesmo local dos encontros.

Instalações de boa estrutura, porém, a localização deixou a desejar, devido ser em

frente a uma pracinha que tem um campinho de futebol e com grande fluxo de

pessoas e principalmente automóveis.

O barulho foi constante durante as reuniões o que acabou dificultando um

pouco a escuta de alguns depoimentos e a realização de algumas atividades, como

por exemplo, as entrevistas. Muitas vezes utilizamos algumas estratégias, como, por

exemplo, sentar sempre na primeira fileira para assim observar e escutar bem os

indivíduos. Durante as entrevistas, a escuta foi primordial, pois tínhamos cuidado

para ouvir bem os entrevistados, já que o registro foi de forma manual, quando não

se entendia algo, pedia para os entrevistados repetirem e assim poder conduzir os

sujeitos, sem influenciá-los nas suas respectivas respostas, pois, segundo Oliveira

(2002), é necessária à imparcialidade do pesquisador. As entrevistas duraram cerca

de 50 minutos cada.

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Como referência, os sujeitos abordados foram quatro homens idosos, cujas

idades são a partir de 60 anos. Afinal, a respeito da quantidade dos sujeitos este tipo

de pesquisa não exige um número grande deles envolvidos. De acordo com

Martinelli (1999), neste tipo de pesquisa precisa-se mais dos relatados dos

indivíduos e não de um número grande deles.

Após conclusão e a apresentação desse estudo, frente à banca examinadora

de trabalho de conclusão de curso (TCC) da Faculdade Cearense (FAC),

pretendemos apresentar ao grupo AA pesquisado os resultados, pois Martinelli

(1999, p. 26) afirma que “pesquisa qualitativa nunca é feita apenas para o

pesquisador, seu sentindo é social, portanto deve retornar ao sujeito”. Em outras

palavras, percebo que é muito importante que as pessoas que colaboraram com a

pesquisa, principalmente os sujeitos entrevistados tenham conhecimento dos

resultados obtidos, uma vez que foi construída a partir das histórias e vivências, ou

seja, da realidade dos entrevistados, por isso apresentar e/ou mostrar os resultados

ao grupo pesquisado é mais que importante, é essencial.

2.1 Cenário de pesquisa

Como já fora citado no início deste capítulo, temos como cenário de pesquisa

um grupo dos Alcoólicos Anônimos (AA). De acordo com a literatura do AA, a

irmandade foi criada em 10 de maio de 1935, nos Estados Unidos, através de um

médico e um corretor que faziam uso abusivo de álcool e após algumas tentativas

de tratamentos resolveram criar um grupo de autoajuda, onde pessoas com

problemas e objetivos semelhantes se ajudariam mutuamente na recuperação do

alcoolismo. E assim, no decorrer dos anos, a irmandade foi se expandindo no

mundo inteiro devido aos resultados significativos de suas atividades.

Os grupos de AA acolhem qualquer pessoa desde a adolescência até mesmo

quando idosa, sejam homens, mulheres ou indivíduos de outra orientação sexual,

independente de raça, religião e outras crenças. Pois “o AA não está ligado a

nenhuma seita ou religião, nenhum movimento político, nenhuma organização ou

instituição [...]” (livro azul do AA, 2011, p. 5). Ou seja, para participar de um grupo

AA é preciso apenas que o indivíduo que tem problemas com o uso de álcool queira

parar de beber e esta é a única condição exigida na comunidade.

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O programa de recuperação do AA é formado pelos doze passos (JUNAAB,

2011). Podemos dizer que tais passos são princípios que ajudam o individuo a

conquistar e manter a sobriedade, senão vejamos:

Admitimos que éramos impotentes perante o álcool - que tínhamos perdido o domínio sobre nossas vidas; viemos a acreditar que um poder superior a nós mesmos poderia devolver-nos a sanidade; Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de Deus, na forma em que o concebíamos; fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos; admitimos perante Deus, perante nós mesmos e perante outro ser humano a natureza exata de nossas falhas; prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos de caráter; humildemente rogamos a ele que nos livrasse de nossas imperfeições; fizemos uma relação de todas as pessoas que tínhamos prejudicado e nos dispusemos a reparar os danos a elas causados; fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre que possível, salvo quando fazê-las significasse 19prejudicá-las ou a outrem; continuamos fazendo o inventário pessoal e, quando estávamos errados nós o admitíamos prontamente; procuramos através da prece e da meditação melhorar nosso contato consciente com Deus, na forma em que o concebíamos, rogando apenas o conhecimento de sua vontade em relação a nós e forças para realizar essa vontade; tendo experimentado um despertar espiritual, graças a esses passos, procuramos transmitir esta mensagem aos alcoólicos e praticar estes princípios em todas as nossas atividades (JUNAAB, 1995, pp.3-6).

Além do programa dos doze passos, também existem como meio de

organização da irmandade as doze tradições. Tais tradições são princípios

norteadores para a sobrevivência e expansão da irmandade e tais princípios

trabalham a unidade dos grupos de AA, são eles:

Nosso bem-estar comum deve estar em primeiro lugar; a reabilitação individual depende da unidade de AA; somente uma autoridade preside, em última análise, ao nosso propósito comum - um Deus amantíssimo, que se manifesta em nossa consciência coletiva. Nossos líderes são apenas servidores de confiança; não têm poderes para governar; para ser membro de AA, o único requisito é o desejo de parar de beber; cada grupo deve ser autônomo, salvo em assuntos que digam respeito a outros grupos ou a AA em seu conjunto; cada grupo é animado de um único propósito primordial - o de transmitir sua mensagem ao alcoólico que ainda sofre; nenhum grupo de AA deverá jamais sancionar, financiar ou emprestar o nome de AA a qualquer sociedade parecida ou empreendimento alheio à irmandade, a fim de quaisquer problemas de dinheiro, propriedade e prestígio não nos afastemos do nosso objetivo primordial; todos os grupos de AA deverão ser absolutamente autossuficientes, rejeitando quaisquer doações de fora; o Alcoólicos Anônimos deverá manter-se sempre não profissional, embora nossos centros de serviços possam contratar funcionários especializados; o AA jamais deverá organizar-se como tal; podemos, porém criar juntas ou comitês de serviços diretamente responsáveis perante aqueles a quem prestam serviços; Alcoólicos Anônimos não opina sobre questões alheias à irmandade; portanto, o nome de AA jamais deverá aparecer em controvérsias públicas; nossas relações com o público baseiam-se na atração em vez da promoção; cabe-nos sempre preservar o anonimato pessoal na imprensa, no rádio e em filmes; o anonimato é o alicerce espiritual das nossas tradições, lembrando-nos sempre da necessidade de colocar os princípios acima das personalidades. (JUNAAB, 1995, pp.7-10).

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Podemos dizer que uma das principais tradições da irmandade é a que se

refere ao anonimato, pois é pedido aos membros que coloquem sempre o bem

comum do AA acima dos seus anseios pessoais, pois trabalham juntos em unidade.

É entendido como um ato de humildade, segundo Junaab (1995). O anonimato

ocorre desde a criação dos primeiros grupos de AA, pois as pessoas que

participavam temiam e tinham receio quanto ao tratamento da sociedade para com

eles, pois os alcoólicos não eram respeitados, a sociedade em geral tinha uma visão

estigmatizada deles.

Também se acreditava que a quebra do sigilo prejudicaria de algum modo

suas atividades, já que nos primórdios do AA, uma vez ou outra alguns anonimatos

eram quebrados e isto resultava muitas vezes no afastamento dos membros, pois

perdiam a confiança. Outra razão para a prática do anonimato é impedir que alguém

se apresente como membro maior da irmandade, pois consideram Deus o único ser

superior. Sendo assim, decidiram que o AA não poderia ser uma irmandade secreta,

que suas atividades deveriam ser divulgadas, mas que a identidade dos

participantes não.

Apontamos também algumas características da irmandade segundo a Junta

de Serviços Gerais de Alcoólicos Anônimos no Brasil (JUNAAB): não fornecem

serviços religiosos, não prestam serviços ambulatoriais de enfermagem ou

internações, também não fornecem medicações e acompanhamentos médicos, não

fiscalizam seus membros e nem os registram e por último não se dedicam a outros

tipos de tratamento para a recuperação do alcoolismo. Mas esta condição não

impede algum membro de participar de forma individual, sem representar a

irmandade de outros tratamentos.

Para a escolha do grupo, primeiramente acessamos o site oficial dos

Alcoólicos Anônimos, com o propósito de obter informações e posteriormente

contatos com grupos de Alcoólicos Anônimos (AA) existentes em Fortaleza. Após a

obtenção de alguns dados, entramos em contato por telefone com algumas

secretarias dos AA para informações como faixa etária dos ingressados e endereços

de alguns grupos, para que assim pudesse dar-se início às visitas aos grupos de AA.

Após coletados os endereços dos grupos, decidi visitar os AA existentes de

melhor acessibilidade e locomoção, já que tínhamos pretensão de participar dos

encontros. A realização das visitas tinha como objetivos conhecer os grupos de AA e

identificar a quantidade de idosos a partir de 60 anos de idade. Em geral, foram

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visitados três grupos de AA; a primeira visita ocorreu no dia 14 do mês de outubro

do ano de 2013.

Chegando ao local, o presidente do respectivo grupo apresentou à

pesquisadora os ingressados acima de 60 anos de idade; falou um pouco a respeito

do grupo e entregou alguns panfletos sobre a entidade. O segundo grupo de AA

visitado foi em 16 de outubro do ano de 2013, cujo objetivo era identificar a

quantidade de pessoas idosas existentes. Após a apresentação formal de ambas as

partes, observação do grupo e conversa com os ingressados, percebemos que a

participação maior é de pessoas jovens.

Em 18 de outubro de 2013, visitei mais um grupo de AA. Esta visita foi a

primeira de muitas, pois a partir deste dia decidimos pesquisar, explorar este grupo,

pois seria assim nosso campo de pesquisa. Neste primeiro encontro foram obtidas

informações importantes e necessárias para dar início à pesquisa. O presidente

junto com alguns ingressados apresentou o grupo, relatou o histórico desde a

fundação até o presente momento e diferente dos outros grupos visitados, antes de

relatar a história do grupo, apresentou um breve histórico da irmandade AA.

Além do bom acolhimento por parte do grupo, percebi também que ele se

apresentava com grande entusiasmo, prazer e satisfação. Podemos dizer que foi um

encontro prazeroso, para a pesquisadora porque estava conhecendo o grupo e

obtendo muitas informações e para os participantes porque se apresentavam com

muito entusiasmo. Muitos deles relataram que sempre ficam alegres quando

pessoas decidem, optam pesquisar em um grupo de AA. A partir deste dia

começamos a participar das reuniões ao menos uma vez por semana.

Após escolhido o grupo, tomamos algumas providências formais e legais para

a realização das visitas e entrevistas. Inicialmente, apresentamos ao grupo os

motivos de nossa presença e os objetivos da presente pesquisa. Também lhes

informamos quais pessoas pretendia entrevistar e por último garanti-lhes sigilo e/ou

anonimato referente às identidades dos membros e dos dados coletados. Mesmo

com todas as formalidades e esclarecimentos dos sujeitos entrevistados, apenas um

quis quebrar o anonimato, assinando os termos de participação e entrevistas.

Não foi possível também a elaboração de um termo que o presidente do

grupo assegurasse a participação dos membros nas entrevistas, porque a

irmandade não se responsabiliza por estudos e pesquisas, nem pela participação de

seus membros.

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O grupo pesquisado foi fundado em 26 de maio no ano de 1999. Suas

reuniões são realizadas às segundas e sextas-feiras, sempre às 19h. Aos domingos

as reuniões se iniciam às 16h, abertas para qualquer público. Podemos dizer que o

local é de boa estrutura, espaço amplo, composta por quadros brancos, cadeiras,

mesas, geladeira, fogão, talheres, porém, sua localização é em frente a uma

pracinha, que tem um campinho de futebol e grande fluxo de pessoas e

principalmente automóveis.

Durante a visita, a média de membros por encontro era de seis (6) a dez (10)

indivíduos, todos do sexo masculino, apenas em uma única reunião identificamos a

presença de uma mulher. Após uma rápida conversa com ela, descobrimos que há

muitos anos faz parte de outro grupo AA e como estava passando alguns dias nesta

localidade, decidiu visitar o grupo estudado. A visita a outros grupos é uma prática

comum entre eles, já que o programa de recuperação da irmandade é o mesmo.

Referente à quantidade de pessoas ingressadas no grupo, é importante

ressaltar que corresponde ao nosso período de observação que é desde outubro do

ano de 2013, pois devido ao anonimato dos mesmos, a irmandade não registra seus

membros, mas sim alguns grupos de AA existentes em diversos países, através do

Escritório de Serviços Gerais (GSO).

E assim mesmo com diversos serviços existentes para tratamento do

alcoolismo e a existência da irmandade por muitos anos, os grupos de AA ainda

sobrevivem em diversos países, com a missão de ajudar indivíduos, como tem

ajudado os sujeitos da pesquisa na recuperação contra o alcoolismo, na conquista

pela sobriedade.

Referente aos sujeitos entrevistados, que são os idosos a partir de 60 anos de

idade, este estudo apresenta no próximo capítulo uma breve discussão sobre o

envelhecimento populacional brasileiro e seus fatores e, por conseguinte, a

conceituação de velhice, velho, idoso e terceira idade, os termos usados para

identificar as pessoas deste grupo etário.

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3 ENVELHECIMENTO POPULACIONAL BRASILEIRO E SEUS FATORES

Discutiremos neste capítulo a respeito do crescimento da população idosa no

Brasil e como se deram as mudanças dos termos que designam este público. O

envelhecimento populacional é um fenômeno universal e nas últimas décadas em

vários países como também no Brasil vem se destacando nos campos de estudos e

pesquisas, despertando assim em vários autores interesse e curiosidade sobre o

fenômeno. Berzins (2003) relata que:

Em demografia entende-se por envelhecimento populacional o processo de crescimento da população considerada idosa em uma dimensão tal que, de forma sustentada, amplia-se a sua participação relativa no total da população. (BERZINS, 2003, p. 22).

De acordo com Santos, Levy e Szmrecsanyi (1980), demografia é a ciência

que estuda a dinâmica populacional humana e através de estudos e pesquisas

realizados percebe-se o início do processo de transição demográfica, identificando

mudanças nas taxas de fecundidade e mortalidade do país. Mas, afinal, de que

forma o envelhecimento populacional vem ocorrendo em nosso país?

No Brasil, estima-se que o envelhecimento populacional vem ocorrendo

desde os anos de 1960, pois o crescimento do grupo de idosos já era maior que os

dos outros grupos. Este fenômeno ocorre devido à redução nas taxas de

fecundidade e mortalidade. Segundo Carvalho (1993), a mudança na distribuição

etária do país pode ser percebida a partir do declínio da taxa de fecundidade iniciada

nos anos 60. Pode-se perceber que o rápido declínio dessas taxas resulta numa

maior expectativa de vida.

Renato Veras (1995) e Berzins (2003) também está de acordo com Carvalho

(1993), de que a explicação deste crescimento possa estar na redução das taxas de

fecundidade e mortalidade no país. Para Veras é ainda maior por causa da taxa de

fecundidade. A taxa de fecundidade no Brasil em 1960 chegou a atingir o número de

6,28 filhos para cada mulher.

Segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE) em 2000 a taxa era de 2,38, caindo para 1,90 em 2010. Entre 2000 e 2010 a

região foi a que teve maior redução, atingindo 23,4%. A pesquisa atribui a queda da

taxa de fecundidade a fatores como a renda, a inserção das mulheres no mercado

de trabalho, o nível educacional e a influência de práticas contraceptivas.

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Neste mesmo censo, a redução da taxa de mortalidade infantil no ano de

2000 era de 29,7, diminuindo para 15,6 em 2010. A declinação desta taxa entre

2000 e 2010 foi maior na região Nordeste, chegando a atingir 58,6%, mesmo sendo

uma região marcada por um alto índice de pobreza. Este alto índice de redução

ocorre em certa parte por causa do aumento do salário mínimo e ampliação de

programas de transferência de renda e ambos contribuíram para a redução das

desigualdades sociais, segundo o IBGE. O Fundo das Nações Unidas para a

Infância (UNICEF) em Nova York divulgou através de um relatório que o Brasil é um

dos países que reduziu positivamente a taxa de mortalidade na infância.

Para Berzins (2003), a redução das taxas de fecundidade e mortalidade

contribuiu para o crescimento do envelhecimento populacional, mas também outros

fatores contribuíram para a redução, como, por exemplo, melhores condições

sanitárias e os avanços na área da saúde, com o surgimento de vacinas,

medicamentos, ou seja, atribui a diversas transformações demográficas, sociais,

econômicas, biológicas etc.

Muitas pesquisas indicam que nos próximos anos o Brasil será um país de

idosos. Segundo dados da Síntese de Indicadores Sociais 2012, divulgada pelo

IBGE em novembro de 2012, do ano de 2001 a 2011 o número de idosos com 60

anos ou mais passou de 15,5 milhões para 23,5 milhões de pessoas. Projeções da

população do país indicam que entre 2000 e 2050 continuará havendo queda nos

grupos das populações de jovens e adultos e todo o aumento se concentrará na

população idosa. Já a organização Pan-Americana de Saúde publicou uma pesquisa

que o Brasil é um dos países em que o índice de envelhecimento cresce

aceleradamente e assim se estima que em 2025 devam existir 46 idosos para cada

100 pessoas menores de 15 anos. E de acordo com a Organização Mundial de

Saúde (OMS) 2005 aponta que até 2025 o Brasil será o sexto país do mundo com

maior quantidade de pessoas idosas.

Em Fortaleza não é diferente, a população idosa também aumentou no

decorrer dos anos; podemos perceber este crescimento pelos resultados do censo

do IBGE de 2010. A cidade no ano de 2000 tinha 2.141.402 habitantes, sendo que

destes, 160.148 (7,47%) eram pessoas de 60 anos ou mais. Já em 2010, o total de

habitantes era de 2.452.185; destes, 237.775 era da população idosa. Sendo que

93.409 de homens e 144.366 de mulheres.

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Gráfico 1 Distribuição por sexo, da população idosa por grupo etário

Fonte: IBGE, censo demográfico de 2010.

De acordo com os resultados, percebemos que o sexo feminino é maior e que

o grupo etário de 60-64 anos concentra o maior número de idosos. Geralmente, o

grupo de mulheres idosas é maior em quase todas as cidades, pois segundo o IBGE

isto ocorre porque a taxa de mortalidade entre os homens é maior. Os dados da

Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD97) apontam algumas

possibilidades que explicam porque as mulheres vivem mais que os homens; são

elas: o consumo do tabaco e álcool é maior entre os homens; o uso dos serviços de

saúde é maior entre as mulheres; acidentes de trânsito, homicídios e suicídios são

mais freqüentes entre os homens. Geralmente, os homens são conhecidos por não

terem muito cuidado com a saúde, pois não têm a prática de realizar consultas e/ou

exames de rotina que contribuam para diagnóstico ou prevenção de alguma doença,

diferentemente da maioria das mulheres.

Podemos dizer que o crescimento populacional no país é algo para

comemorarmos, é uma conquista a ser celebrada, já que as pessoas estão vivendo

mais? A Organização Mundial de Saúde (OMS) tem o envelhecimento populacional

como resultado positivo das políticas sociais e de saúde, por isso, este fenômeno é

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uma conquista a ser celebrada. Mas é preciso que os países elaborem mais políticas

e programas para a promoção do envelhecimento digno e sustentável.

Já para Veras (1995), este envelhecimento populacional só poderá ser uma

conquista, uma vitória se ele estiver associado à qualidade de vida. Caso contrário,

este crescimento acelerado poderá acarretar muitos problemas e desafios para o

país. Além de Veras (1995) e Ramos (1987), também acredita que a redução real da

taxa de fecundidade proporcionará grandes mudanças na estrutura etária do país,

mas em tempo curto e sem muitas mudanças sociais, resultando assim diversos

problemas.

Segundo Kalache (1987), esse envelhecimento é um fenômeno natural, que

ocorre em qualquer lugar, mas é necessário ansiar melhores condições de vida dos

idosos, pois só envelhecer não basta. Este fenômeno por outro lado não é uniforme,

existe uma grande diferença entre o processo de envelhecimento nos países

desenvolvidos e os países que estão em desenvolvimento como o Brasil:

Os países desenvolvidos enriqueceram e depois envelheceram. Nós, como todos os países pobres, estamos envelhecendo antes de enriquecer. Eles tiveram recursos e tempo. A França levou 115 anos para dobrar de 7% para 14% a proporção de idosos na população. O Brasil vai fazer o mesmo em 19 anos. Uma geração. Eles levaram seis. (FELIX, 2007, p. 3).

O envelhecimento populacional para muitos é uma preocupação, pois o país

envelhece de forma acelerada, mas sem muito tempo para planejamento e

investimento em prol da melhoria de vida desses indivíduos. Infelizmente, na maioria

das vezes, a velhice no nosso país é ligada a estereótipos negativos, que acabam

causando ceticismo, falta de esperança e sofrimento em algumas pessoas, muitas

delas chegam até ter medo de envelhecer, não enxergam a velhice como algo bom.

Segundo Oliveira (1999), o Brasil ainda não conseguiu mudar ou amenizar a

situação de seus idosos, que na maioria das vezes vivem com mínimas condições

de sobrevivência. Mas, já em outras sociedades, o processo de envelhecimento

pode ser totalmente o contrário, já que geralmente um conjunto de fatores, como

econômicos, sociais e culturais determinam todo este processo.

O crescimento acelerado da população idosa afeta diretamente a estrutura

etária da população, gerando dificuldades socioeconômicas à nação, intensificando

problemas relacionados à população idosa. É preciso mais investimentos no setor

de saúde (FREITAS ET AL., 2002; RIBEIRO & PAÚL, 2008; CAMARGOS,

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MACHADO & RODRIGUES, 2008). Os autores geralmente destacam mais a

necessidade do investimento na saúde, porque acreditam que com o aumento da

população idosa, consequentemente cresce também o número de doenças e a

procura por serviços de saúde.

Segundo Behrman et al. (2001)1, em 2050 o Brasil terá muitas dificuldades

para responder as necessidades de uma sociedade envelhecida, devido à

distribuição iníquas dos serviços sociais e da renda, por isso ele levanta um

questionamento, se o Brasil saberá enfrentar esse grande desafio. Porque

geralmente quanto maior for o crescimento da população idosa, maior será a

probabilidade de crescerem as desigualdades sociais também.

As autoras Rodrigues & Rauth (2002) fazem uma avaliação na qual o Brasil

nem conseguiu resolver ou pelo menos amenizar os problemas clássicos do

subdesenvolvimento e há alguns anos já vem se deparando com as implicações

geradas devido à massa da população idosa. O envelhecimento populacional produz

desafios para a saúde, a pobreza, a família e também para políticas sociais.

As transformações conjunturais se refletem em todas as gerações, mas é o segmento idoso o que mais sofre as mazelas decorrentes da crise resultante do Estado Mínimo para as políticas sociais, onerando as famílias e a sociedade com os ônus decorrentes da velhice, principalmente no que concerne à seguridade social. (GOLDMAN, 2004. p. 61).

Em outras palavras, Goldman quer dizer que os problemas e desafios

existentes não são algo específico da população idosa, mas também de outras

gerações, a diferença é que estes desafios se multiplicam e são os idosos que

sofrem mais. Referindo-se a elementos e/ou problemas que a sociedade em geral

associa à velhice, Moreira (1997) nos fala que vários estudos sobre o processo de

envelhecimento populacional nos países em desenvolvimento se concentram mais

nos aspectos ligados às condições de saúde, aposentadoria e arranjos familiares

para o suporte dos idosos.

Geralmente, o crescimento da população idosa é visto como um grande

problema para o país, por causar impactos na esfera econômica, social e

previdenciária e faz emergir ações emergenciais, necessidade de maiores

1Artigo apresentado no VIII Encontro da Associação Brasileira de Economia de Saúde (ABRES,

2007).

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investimentos em mais recursos, acarretando assim maiores gastos para o Estado,

já que este tem o dever de proporcionar melhores condições de vida aos indivíduos.

Segundo a Transição de Estrutura Etária (TEE), para o Brasil enfrentar tais

desafios será necessário investir mais em recursos, infraestrutura, programas e

políticas que permitam um envelhecimento mais ativo. Sem estes investimentos o

país não conseguirá responder e acompanhar o desenvolvimento da população

idosa, pelo contrário, surgirão mais problemas principalmente financeiros, podendo

haver um desequilíbrio fiscal.

Pensando assim, a OMS/WHO (2002) diz que idosos ativos e mais saudáveis

consomem menos recursos, evitando assim o desequilíbrio fiscal. Com este

propósito, se acredita que devem ocorrer algumas mudanças, modificações em

políticas de saúde, programas de prevenção e tratamento voltado para este público

idoso, como, por exemplo, uma ampliação de profissionais e serviços desde a

atenção primária.

No entendimento de Rios-Neto (2005), a área de saúde deve estar envolvida

com os atributos da gerontologia: marcadores biológicos, morbidade, biologia e

genética da longevidade, epidemiologia do envelhecimento, prevenção, intervenção

e tratamento e ainda a incapacidade. Estes campos implicariam o acompanhamento

da expectativa de vida ativa.

Caso contrário, o envelhecimento populacional se resumirá em um país mais

doente e consequentemente à procura de mais serviços, gerando, assim, mais

gastos para o país. Assim, percebemos que a saúde tem a velhice como problema

social e também econômico, já que quando trabalham a saúde do idoso, tem como

um dos objetivos evitar muitos gastos dos cofres públicos e não como direito do

idoso de viver sua velhice com qualidade de vida.

Mas será mesmo que o envelhecimento causa muitas despesas para o país?

De acordo com o censo 2000 do IBGE, os resultados podem provar que não, pois

com 15 milhões de idosos, 8,9 milhões (62,4%) eram pessoas idosas responsáveis

pelos domicílios brasileiros e as principais fontes de renda eram pensão e

aposentadoria.

Camarano (2002) chega até a ressaltar que o desemprego que afeta os

adultos e jovens faz com que a aposentadoria, pensões e outros benefícios

previdenciários acabem por ser a única fonte de renda das famílias brasileiras. Hoje,

é quase comum vermos no cenário brasileiro muitas famílias que de forma exclusiva

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ou não dependem da renda dos seus familiares idosos. Reforçando o pensamento

de Camarano, Berzins (2003) fala que:

A crise econômica e de desemprego que o país vem sofrendo nas últimas décadas tem provocado alterações nas condições de vida das famílias brasileiras. Muitos filhos casados com suas famílias têm voltado a morar com seus pais, por não terem condições de arcar com as despesas do orçamento [...] (BERZINS, 2003, p.30)

Já as autoras Rodrigues & Rauth (2002) nos falam que não se pode conceder

o envelhecimento populacional apenas como transformação demográfica, que tem

como principais fatores a redução das taxas de mortalidade e fecundidade ou

simplesmente um fenômeno natural, um problema a mais ou um “peso” para o país,

mas pode ser entendido como uma questão social, em razão de fazer surgir

implicações sociais e políticas que acabam demandando ações dos órgãos

governamentais ou não.

Entende-se por questão social:

[...] conjunto de problemas políticos, sociais e econômicos que o surgimento da classe operária impôs ao mundo no curso da constituição da sociedade capitalista. Assim, a “questão social” está fundamentalmente vinculada ao conflito entre o capital e o trabalho (CERQUEIRA, Filho, 1982. p.21).

O crescimento da população idosa no país acaba resultando em demandas

sociais, é por isso que não podemos ver este fenômeno apenas como mudança

demográfica, mas algo que engloba um conjunto de questões sociais, econômica,

biológica, psicológica etc. Podemos dizer que este envelhecimento geralmente vem

acompanhado pelas desigualdades sociais, precarização no Sistema Único de

Saúde (SUS), desemprego com alto índice, doenças, expansão de violência contra

este público, entre outros. Ou seja, demandas sociais resultado de uma sociedade

capitalista.

Uma das profissões que trabalha para atender tais questões relacionadas à

velhice é o serviço social. De acordo com Pereira (2007), o serviço social não pode

ficar afastado do fenômeno do envelhecimento, por ser uma profissão que trabalha

com políticas e direitos sociais e com as expressões da questão social. O autor até

propõe que a temática do envelhecimento seja incorporada ao processo de

formação dos assistentes sociais. O profissional de serviço social precisa estar bem

preparado, é preciso que o profissional entenda o fenômeno do envelhecimento e

suas implicações para assim responder às demandas com seriedade e eficácia,

contribuindo para melhores condições de vida dos indivíduos.

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Como o profissional de serviço social pode atuar em prol do público idoso? De

acordo com Souza (2003), o serviço social tem o trabalho de esclarecer e/ou

conscientizar a sociedade em relação aos idosos no âmbito da sociedade, tentando

garantir o lugar deles, ou seja, trabalhar a inclusão social. O autor refere-se mais à

inclusão social pelo fato de numa sociedade capitalista como a nossa ser comum as

pessoas só serem úteis até o momento em que elas produzem.

É por isso que muitas pessoas idosas são excluídas do meio social e familiar,

simplesmente por não trabalharem mais no mercado de trabalho e acabarem se

sentindo inúteis, desvalorizados, decadentes, ou seja, estereótipos negativos que

geralmente a sociedade associa à velhice. Também é necessário que o serviço

social trabalhe com os idosos, conscientizando-os a respeito dos seus direitos,

incentivando a sua participação na sociedade, para que assim possam exigir a

efetivação dos direitos conquistados e que continuem ativos na sociedade. O

assistente social pode atuar não só na aplicação de políticas como também na sua

criação e elaboração.

Podemos dizer que o envelhecimento populacional também é uma expressão

da questão social e não apenas uma questão demográfica. E é por isso que é de

grande contribuição o serviço social trabalhar esta temática. Mas, para se obter

resultados positivos é preciso que os profissionais de serviço social tenham

conhecimento do que ocorre no âmbito deste fenômeno e quais os meios e as

possibilidades a serem trabalhadas para responder a estas necessidades. Caso

contrário, como o assistente social poderá trabalhar e criar mecanismos para

atender às reais necessidades desta população. Sendo assim, o profissional não

conseguirá transformar ou pelo menos minimizar as condições de vida deles.

Portanto, conforme as opiniões dos autores já discutidos, dizemos que o

Brasil ainda não está preparado para atender à massa da população idosa, por isso,

o fenômeno do envelhecimento requer uma atenção das autoridades competentes.

É fundamental que eles trabalhem principalmente com políticas que possam

proporcionar melhores condições de vida ou pelo menos amenizar as reais

condições dos idosos. O Estado precisa trabalhar com mais ações, programas que

colaborem para o prolongamento e melhoria de vida dos idosos. Tentando melhorar

as condições dos idosos, foram criados termos para designar tais sujeitos, com o

intuito de mudar a visão da sociedade a respeito deles; sendo assim, no tópico a

seguir discutiremos a criação desses termos.

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3.1 Conceito de velhice, velho, idoso e terceira idade

Nesta parte do trabalho, iremos discutir a criação e a variação dos termos que

são usados para a identificação das pessoas acima de 60 anos de idade. De acordo

com a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2005), o Brasil até 2025 será o sexto

país do mundo com maior população idosa. Podemos dizer que o envelhecimento é

um processo, uma fase, um ciclo de vida que faz parte da vida humana. Segundo

Neri e Debert (1999),

A velhice e o envelhecimento [...] são realidades heterogêneas, isto é, variam conforme os tempos históricos, as culturas [...] as classes sociais, as histórias de vida pessoais [...] dentre outros elementos que conformam as trajetórias de vida dos indivíduos e grupos. (NÉRI & DEBERT,1999).

Esses diversos elementos acabam não possibilitando uma padronização, um

conceito absoluto e preciso para a velhice ou envelhecimento, tudo depende da

variação dos fatores citados acima. Mas, afinal, quem são os sujeitos do

envelhecimento populacional? São muitos os termos usados para designar estes

sujeitos, que surgiram e se modificaram em épocas diferentes. Os termos mais

conhecidos são: velho, idoso e terceira idade.

O que é ser velho? Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), nos países

em desenvolvimento como o nosso, são consideradas pessoas velhas as pessoas

com 60 anos de idade ou mais, isto é, define a pessoa velha simplesmente pela

idade cronológica. Além da OMS, o Brasil também define estas pessoas pela idade,

pois, de acordo com o art. 1° da Lei n° 10.741/03, ser velho é toda pessoa com

idade igual ou superior a 60 anos. Em discordância, Veras (1995) afirma ser difícil

caracterizar uma pessoa velha exclusivamente pela idade, afinal são muitos os

componentes e fatores que juntos englobam a velhice, pois,

Velhice é um termo impreciso, e sua realidade difícil de perceber. […] Não é possível estabelecer conceitos universalmente aceitáveis e uma terminologia globalmente utilizável com relação ao envelhecimento. (VERAS, 1995, p.25).

É impossível um conceito universal de velhice, devido este processo

depender de fatores culturais, históricos, políticos, sociais etc., componentes estes

que variam de acordo com cada país, por isso é difícil definir uma pessoa velha

exclusivamente pela idade cronológica. Podemos citar como exemplo idosos com

mesma idade, mas que devido as suas particularidades se definem e se

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caracterizam de formas diferentes; alguns se sentem mais velhos, como se ficassem

só à espera da morte; outros já se acham idosos de espírito jovem, com projetos de

vida ainda a serem realizados. Ou seja, a idade cronológica muitas vezes não é a

igual à idade biológica. Por isso, o processo de envelhecimento é diferente para

cada idoso. Em concordância com Veras (1995) e Simone de Beauvoir (1990) vem

reforçar este pensamento, já que a mesma propõe que a velhice só pode ser

compreendida em sua totalidade; não representa somente um ato biológico. Silva

(2003) ressalta que a idade é um dado importante, mas na realidade não determina

as condições da pessoa.

Já Mascaro (1997) entende a velhice como uma fase natural da vida e que

não há como a pessoa fugir deste ciclo: nascimento, crescimento, amadurecimento,

envelhecimento e morte. Em outras palavras, a autora quer dizer que este ciclo de

vida é um processo contínuo, onde as pessoas nascem, crescem, envelhecem e

morrem, mas que durante este processo pode haver alguma alteração no que acabe

por antecipar o processo. Beauvoir (1990) reforça este pensamento quando afirma o

inexorável: morrer prematuramente ou envelhecer, não existe alternativa. Com isso,

podemos dizer que a velhice é um processo dinâmico, no qual as pessoas se

modificam constantemente.

Geralmente o termo velho é associado a conotações negativas, como, por

exemplo, improdutividade, invalidez, inatividade, limitações, algo ultrapassado e

morte. Mas precisamos compreender que, por exemplo, invalidez, limitações,

inatividade não é só algo da velhice, pode acontecer com qualquer pessoa, com

crianças, jovens, adultos independentemente da geração. A respeito da velhice, está

ligada ao estágio final da vida, Simões (1999) vem dizer que a morte não é um

privilégio da velhice.

Muitas vezes, a sociedade não percebe a morte como algo que possa ocorrer

com pessoas de qualquer idade e não simplesmente com as pessoas com 60 anos

ou mais. As pessoas não enxergam ou não lembram que todos os dias inúmeras

pessoas de outros ciclos de vida, como crianças, jovens e adultos morrem sem

terem alcançados sequer a velhice. Podemos citar como exemplo o público jovem,

que devido à violência e o uso e tráfico de drogas, que cada vez mais vão perdendo

a vida, sem ao menos terem chegado à idade adulta.

Infelizmente em nosso país, isso ocorre com frequência devido à sociedade

ter construído um modelo social de velho, atribuindo qualidades contrárias de

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pessoas jovens. Também pelo fato de a sociedade capitalista considerar uma

pessoa velha aquela pessoa improdutiva, já que a mesma associa a velhice

somente à força produtiva. Como nos falam Minayo e Jr. (2002), a imagem da

velhice ainda se associa à debilidade física e mental, a doenças, à dependência.

Mas não podemos entender a velhice apenas como algo negativo, pois os

velhos são pessoas enriquecidas de sabedoria e experiência, que contribuem com

suas famílias e sociedade. Nesta fase de vida, muitos deles continuam vivendo a

sexualidade, a espiritualidade, o trabalho, a família e o lazer, ou seja, vivendo.

O crescimento da população idosa em diversos países acabou despertando

interesse de todas as partes para com este grupo; muitos pesquisadores e

estudiosos começaram a estudar esta população; o governo e a sociedade civil

também começavam a trabalhar em prol dela que, até um tempo atrás não era

lembrado na sociedade e na maioria das vezes não chegava a ser reconhecida

como cidadãos. Podemos dizer que após algum tempo de pesquisas e estudos,

surge nos países europeus outro termo para designar essas pessoas, que até então

eram identificadas somente como velhos, eles agora passaram a ser identificados

como idosos.

No Brasil, o termo velho predominou até a década de 1960, quando por

influências europeias o país começou a usar o termo idoso para identificar a

população idosa. De acordo com Martinez (1997, apud SOUSA, 2006), a palavra

“velho’’ associa-se a coisa inútil ou imprestável, por isso, o seu uso passou a ser

politicamente incorreto. Devido a esta posição, logo se adotou a palavra idoso.

O termo idoso já identificaria todas as pessoas de 60 anos ou mais, pois,

como nos fala Peixoto (2000), este termo já traz um significado diferente, ele acaba

caracterizando a população envelhecida em geral, sem fazer nenhuma distinção, já

que acaba impondo respeito e representa cidadãos com direitos e deveres como os

outros indivíduos, sem discriminação.

Surge com a pretensão de acabar com a imagem negativa que a sociedade

tinha e/ou ainda tem a respeito do velho, assim como a troca ou substituição do

termo; ocorre aí uma inversão dos valores, já que idoso representa um individuo

com muita idade e que é digna de respeito, uma imagem contrária de velho.

Infelizmente em nosso país não se trabalha muito com a sociedade o respeito para

com esses indivíduos, sabemos que a solução está muito além do que troca e/ou

substituição desses termos.

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Para Mascaro (1997), é difícil definir o que é ser idoso, por conta das

modificações correntes nos fatores econômico, social, cultural, familiar etc. Em

outras palavras, podemos dizer que as modificações e alterações existentes a cada

geração que passa resultam em novas características que contribuem para

identificar um outro perfil da pessoa idosa, tornando quase impossível uma definição

única do idoso.

Outro termo criado para caracterizar este grupo é terceira idade; de acordo

com Peixoto (1998), este termo surgiu na França a partir dos anos 60, em

decorrência da criação de uma política de integração social da velhice, cujo objetivo

era transformar a imagem estigmatizadas das pessoas velhas. Neste período,

muitos idosos eram excluídos da sociedade e acabavam abandonados pelas ruas e

asilos. Essa política de integração tinha como finalidade tentar mudar a realidade

destes sujeitos. E para acabar com a imagem negativa, com o tachamento deste

grupo, um dos meios criados foi a mudança de termo e seus significados.

O termo terceira idade não se refere a uma idade cronológica precisa, mas

sim a uma forma de tratamento das pessoas com mais idade. Diferindo do termo

velho, representa o aumento da longevidade, geralmente é caracterizado por idosos

mais atuantes na sociedade, com maior qualidade de vida, mas no Brasil este termo

tem suas significações distorcidas, pois segundo Peixoto (1998) terceira idade

estaria sendo usada para identificar toda população idosa, ou seja, tornar a velhice e

o envelhecimento homogêneo. Já discutimos neste trabalho que para muitos autores

é quase impossível definir a população idosa por ser uma realidade heterogênea, os

sujeitos deste grupo vivenciam a velhice de diversas formas.

Debert (1999), a respeito da invenção da terceira idade, tem uma postura

crítica, pois compreende a terceira idade como um processo de reprivatização da

velhice, já que esta etapa de vida está associada à qualidade de vida, realização

pessoal, envelhecimento prazeroso, ativo etc. Por que a autora entende a terceira

idade como uma reprivatização da velhice?

Antes da constituição de 1988, o Estado e a sociedade não eram

responsáveis legalmente pela velhice das pessoas, o indivíduo que não tinha

condições financeiras, saúde, moradia, alimentação etc. acabava jogado pelas ruas

ou até em asilos. Estas pessoas não tinham proteção alguma, afinal cada um era

responsável pelo seu próprio envelhecimento. Com a criação da Constituição de

1988, o idoso passou a ser responsabilidade legal do Estado e da sociedade, como

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podemos ver no “Art. 230 - A família, a sociedade e o Estado têm o dever de

amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade,

defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida.”

Em outras palavras, a velhice deixa de ser algo particular e individual. Para a

autora na terceira idade os idosos são induzidos e convencidos a assumirem a

responsabilidade pela sua velhice, ou seja, reprivatizando-a, tirando a

responsabilidade do Estado e da sociedade para novamente ser responsabilidade

particular.

Dentro desta percepção crítica a respeito da terceira idade, Debert e Peixoto

(1998) diz que a imagem positiva que se dá a ela acaba trazendo consequências

como exclusão, padronização e ilusão da velhice. Ocorre a exclusão porque aqueles

indivíduos que não podem ou não querem uma velhice prazerosa, ativa, com

qualidade de vida etc. acabam sendo “excluídos” da sociedade, são identificados

como dependentes, inativos, que vivem de forma inadequada dos demais da terceira

idade.

Se alguém não é ativo, se não está envolvido em programas de rejuvenescimento, se vive a velhice no isolamento e na doença é porque não teve o comportamento adequado ao longo da vida, recusou a adoção de formas de consumos e estilos de vida adequados [...] (DEBERT,1999ª, p. 35).

Também se cria uma padronização, pois na terceira idade o idoso tem que

vivenciar sua velhice de acordo com o que se preza, ou seja, acaba por padronizar a

velhice, definindo assim uma única forma de envelhecer e elimina as outras, ou seja,

acaba homogeneizando a velhice. E por último, tem-se uma ilusão da velhice, pois

os autores se referem à imagem positiva que a terceira idade apresenta. Por causa

disto os problemas sociais da velhice acabam sendo obscurecidos e a sociedade

entende a velhice apenas como algo favorável, prazeroso e positivo, não consegue

enxergar a realidade de muitos idosos que vivem de forma precarizada.

Deste modo, a terceira idade ao construir uma única identidade, ao

generalizar as diferentes formas de envelhecimento, consequentemente limita,

encobre e até nega a identidade da velhice, já que em suas opiniões a construção

de uma única identidade necessita de uma seleção de determinadas características

e a exclusão de outras. Em concordância com esses autores referente à negação da

velhice, Blaikie (1999) vem dizer que a realidade biológica da velhice é cada vez

mais negada quando se perpetua a jovialidade.

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Mesmo os autores possuindo uma postura crítica referente à terceira idade,

ambos reconhecem que com ela surgiram outras formas de velhice, principalmente

esta que estimula não apenas o prolongamento de vida, mas também a

independência e a qualidade de vida desses indivíduos. Pois atualmente

encontramos muitos idosos que compõem o grupo de terceira idade, são idosos

atuantes na sociedade, ativos, praticam exercícios físicos, participam de grupos de

convivência, trabalham, são chefes de família, curtem o lazer, totalmente diferente

dos tempos passados. Mas não deve deixar de se dizer que ainda existem muitos

deles que não se encontram neste perfil, principalmente por causa de problemas de

saúde. Podemos citar como um desses problemas o alcoolismo.

3.2 Álcool e idoso

Baseado no Guia de Saúde Mental (BRASIL, 2006), o consumo de álcool é

um gravíssimo problema de saúde pública e é de responsabilidade de todos os

níveis de atenção do SUS, desde a atenção primária até a atenção terciária. O uso

desta substância pode acarretar implicações físicas, psicológicas e sociais em

muitos indivíduos, principalmente em pessoas idosas. De acordo com Pilon et al

(2010), o uso de álcool entre os idosos é um problema de grande complexidade, já

que geralmente os problemas decorrentes do uso são subestimados, ou não

diagnosticados.

Podemos dizer que isto ocorre muitas vezes porque os sintomas do

alcoolismo são atribuídos a outras doenças crônicas, também por ser uma

problemática ignorada por muitos profissionais e o sistema de saúde e por último a

falta de relatos de uso dos próprios idosos, no qual muitos têm vergonha, medo de

relatar tal uso. Para os autores Beullens e Aertgeerts (2004), muitas vezes os

profissionais de saúde não pesquisam e nem tentam descobrir a quantidade de

álcool consumida por idosos e isto acaba dificultando a identificação, o diagnóstico

da doença neste público.

Conforme Castro e Laranjeiras (2004), os casos de alcoolismo em idosos

podem ocorrer de duas formas: uma de início precoce, em que o idoso desenvolve a

doença antes mesmo dos 45 anos de idade e a outra forma é de início tardio,

quando é adquirido e desenvolvido após os 45 anos de idade. De acordo com os

autores supracitados, o alcoolismo do tipo tardio geralmente ocorre por causa de

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problemas como perdas de algo ou alguém, divórcio, aposentadoria e problemas

financeiros.

Pechanscky et al (2014) também afirma que a aposentadoria e perdas em

relacionamentos pessoais possam contribuir para o consumo abusivo de álcool, isso

em idosos de início tardio. E que segundo Hirata et al (1997), as pessoas deste

grupo etário são mais propícias a consequências como: quedas, fraturas e

transtornos psicológicos. Por outro lado, os efeitos causados pelo uso abusivo do

álcool nos idosos que iniciaram precocemente chegam a ser mais agravantes,

resultando muitas vezes em inúmeras doenças, transtornos psicológicos e má

nutrição.

A respeito dessas duas formas de consumo, Senger et al (2011) diz que

muitos estudos apontam que um terço dos idosos começa a fazer uso de bebidas

alcoólicas tardiamente, já aproximado da velhice devido a questões já citadas

anteriormente, como aposentadoria, problemas conjugais e perdas. E Pechanscky et

al (2014) diz que o consumo iniciado na juventude é muito mais comum do que

quando iniciado na maturidade.

E também concorda que o uso abusivo de bebidas alcoólicas entre idosos

pode ser identificado de duas maneiras, “Idosos que iniciaram um consumo pesado

na juventude e o mantiveram ao longo da vida e idosos que iniciaram o consumo

pesado na maturidade” (PECHANSCKY et al, 2014, p. 71). Podemos dizer que é

muito comum idosos que se enquadram no grupo de início precoce, ou seja, idosos

com histórico de uso de álcool prolongado.

A respeito do consumo de álcool entre os idosos, em 2007 foi realizada uma

pesquisa pela Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD), em parceria com a Unidade

de Pesquisa em Álcool e Drogas (UNIAD), do Departamento de Psiquiatria da

Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), no qual foi feito o I levantamento

nacional sobre os padrões de consumo de álcool na população brasileira. A respeito

da frequência do consumo de álcool entre as pessoas a partir de 60 anos de idade,

os resultados apontaram que 7% dos idosos consomem álcool diariamente, 8%

bebem de 1-4 vezes/semana, 10% deles fazem uso de álcool de 1-3 vezes/mês e

por último 8% dos idosos ingerem bebidas alcoólicas raramente, ou seja, uma

vez/mês.

Quanto à porcentagem do seu uso diário, chama atenção o fato dos idosos

ficarem a frente das pessoas de idades de 18 a 34 anos de idade que indicam

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apenas 5% de consumo diário. São dados que comprovam que o uso de álcool por

pessoas idosas é uma realidade que precisa de mais atenção e cuidado

principalmente da parte da saúde pública. Referente às quantidades de doses

usualmente consumidas por dia por esses idosos, os resultados indicam que 5% dos

mesmos consomem de 12 doses ou mais, já 12% de 5 a 11 doses, também 12 % de

3 a 4 doses e por último 70% deles consomem até duas doses por dia. Apontando

assim o grupo de pessoas que mais tomam até duas doses por dia, diferente das

demais idades.

Em 2010 também foi realizada mais uma pesquisa na cidade de São Paulo

pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, a respeito do

abuso de álcool por parte dos idosos a partir de 60 anos. Os resultados indicaram

que dentre os 1.563 idosos participantes, 9,1%, o equivalente a 88 mil idosos fazem

uso abusivo de bebidas alcoólicas. Notou-se também que o índice de alcoolismo foi

maior nos idosos homens com 20%, enquanto as mulheres foram apenas 3,1%. O

consumo abusivo de álcool por pessoas deste grupo etário é muito mais prejudicial

do que em pessoas de outras idades, por serem mais sensíveis aos efeitos de

bebidas alcoólicas.

Para Pechanscky et al (2014), os efeitos do álcool são maiores em idosos,

independente da quantidade de doses consumidas por causa das modificações

físicas ocorridas na velhice. De acordo com Castro e Laranjeira (2004), os idosos

são as pessoas de maior risco para adesão e agravamento de problemas físicos

devido ao abuso de álcool, porque as concentrações sanguíneas de álcool e

sensibilidade a tal substância são maiores do que em pessoas mais jovens.

Por isso que dizemos que por mais que o idoso faça uso de poucas doses de

bebidas alcoólicas, os efeitos ainda poderão ser maiores. Conforme os autores

supracitados, a dependência de bebidas alcoólicas nesta população tem algumas

singularidades, como, por exemplo, transtornos psiquiátricos tendo como mais

comum depressão e demência e problemas clínicos como cirrose e fraturas.

Conforme já falamos, o uso abusivo de álcool acarreta muitas implicações nas

pessoas idosas.

Conforme Soares e Campos (2010), as doenças mais adquiridas pelos idosos

com problemas de alcoolismo são as de gastrointestinais e do fígado, ou seja, são

doenças comuns entre os usuários de álcool, pois tal substância causa muitos

efeitos negativos à saúde. Também o uso abusivo de álcool pode resultar em

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problemas mentais, psicológicos e físicos. De acordo com Vieira (2004, p.13), “os

distúrbios mentais orgânicos associados ao alcoolismo, como a demência alcoólica,

a síndrome de amnésia, os sintomas da abstinência e a intoxicação, entre outros,

geralmente ocorrem quando o indivíduo já está na terceira idade”.

Isso porque o alcoolismo é mais frequente em pessoas de outras idades, mas

por não ser diagnosticado e/ou tratado cedo, tal doença vai se agravando podendo

chegar à velhice, causando até insuficiência dos órgãos, como fígado, pâncreas e

coração. Muitos destes problemas são agravados devido a relação de uso de álcool

e medicamentos, pois segundo Vieira (2004, p.14)

A interação entre álcool e medicamentos... é de especial importância na terceira idade. Os prejuízos pelo álcool são aumentados por essas drogas. Visto que o número de drogas prescritas e usadas por adultos mais velhos é relativamente grande [...]

O que a autora nos fala é que geralmente pessoas com idade mais

avançadas fazem muito o uso de medicamentos, por serem portadores de várias

doenças, principalmente doenças crônicas. E, quando estes idosos usam álcool e

medicação ao mesmo tempo, as complicações são maiores porque segundo Levin e

Kruger (2000) e eles são mais fragilizados e sensíveis quanto ao uso de drogas,

como o álcool. Ainda sobre os problemas por causa do uso abusivo de álcool, os

resultados do I Levantamento sobre os padrões de consumo de álcool na população

brasileira, a respeito dos problemas obtidos por causa do uso do álcool entre os

idosos, apontaram: 15% dos idosos tiveram problemas sociais, 10% problemas no

trabalho, 19% problemas familiares, 29% apresentou problemas físicos, 2%

problemas legais e problemas com violência apenas 9%. Conclui-se assim que os

efeitos nessas pessoas são diversos, e não apenas problemas de saúde.

Para minimizar os problemas decorrentes ao uso do álcool nos idosos é

preciso que a saúde se interesse mais com essa problemática, principalmente

quando as vítimas do alcoolismo são pessoas idosas, pois atualmente o alcoolismo

é a terceira maior causa de morbidade e mortalidade, segundo a OMS, atingindo

assim pessoas de todas as idades, mas que tal doença em idosos, como já

dissemos, os efeitos e consequências podem ser maiores. De acordo com

Pechanscky et al (2014) os idosos respondem positivamente aos tratamentos de

alcoolismo como qualquer outra pessoa. Por isso é muito importante trabalharmos a

recuperação deles.

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Castro e Laranjeiras (2004) ainda dizem que os idosos respondem melhor ao

tratamento quando é direcionado especificamente aos idosos. Mas para mudarmos

essa situação que se agrava cada vez mais segundo Boyle e Dovis (2006) é

necessário que profissionais principalmente de saúde, sejam capacitados para

obterem mais conhecimentos técnicos científicos a respeito do uso abusivo e

dependência de álcool em pessoas idosas para que assim a saúde possa oferecer a

esses idosos atendimento digno e eficaz.

Assim, podemos dizer que a respeito dos termos criados para identificar estas

pessoas existe uma contradição, pois surgiram para acabar com a imagem negativa

social de velho e através destes apontamentos percebemos que se o idoso não tem

sua vida adequada ao padrão da terceira idade, ele é identificado como velho e

acaba por ser excluído da sociedade como nos anos atrás.

Sendo algo contrário do que é proposto com a criação desses termos, com

isso só podemos concluir que acabar com a imagem estigmatizada da velhice e

proporcionar aos idosos melhor qualidade de vida é preciso muito mais que a

substituição de um termo, é necessário que o Estado e sociedade trabalhem em prol

deste público. Após termos discutido sobre o uso abusivo e dependência ao álcool,

no capítulo a seguir discutiremos os aspectos históricos e culturais dele e depois de

como o alcoolismo tornou-se doença.

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4 ASPECTOS HISTÓRICOS E CULTURAIS DO ÁLCOOL

A respeito dos aspectos histórico-culturais do álcool e do alcoolismo, Varella

(2009) relata em um dos seus guias práticos de saúde sobre o álcool que esta droga

existe há milhares de anos. Lima (2008), em seu livro ‘O alcoolismo na perspectiva

de saúde pública,’ também afirma que segundo estudos antropológicos desde a pré-

história o homem conhece e consome bebidas alcoólicas. “Considerando-se os

dados de estudos arqueológicos, pode-se dizer que nos primórdios da nossa

civilização, [...] já existiam indícios de bebidas alcoólicas produzidas pelo homem, de

forma artesanal”. (LIMA, 2008, p. 11).

Também em alguns documentos e livros, como, por exemplo, na Bíblia

Sagrada, registra-se a existência de bebidas alcoólicas fermentadas e a embriaguez.

Podemos ver no livro de Gênesis, versículo 9.20, em que se diz que Noé plantara

vinha e acabou por conhecer a embriaguez, ou seja, podemos perceber que são

acontecimentos e relatos de muitos séculos atrás, desde os primórdios da terra. “A

humanidade desde suas origens fez uso das bebidas, dentro dos respectivos

contextos sociais e culturais de cada época.” (LIMA, 2008, p. 19). Percebe-se que a

produção de bebidas começou de forma artesanal para destilado2.

Ao contrário de outras opiniões, o autor referente acredita que os males e as

consequências devido ao uso abusivo do álcool sempre existiram, apenas não eram

vistos como problemas que futuramente resultariam em danos para a sociedade.

Nesta época os problemas já eram presentes em alguns países, como, por exemplo,

na França, onde o rei François I promulgou uma lei para punir qualquer cidadão

embriagado que andasse pelas ruas.

Para Lima (2008, p.13), “Os malefícios e consequências nocivas do abuso do

álcool sempre existiram, porém sempre foram subestimados ou mesmo negados,

como, aliás, ocorre, de certa forma, ainda nos dias atuais”. Sendo assim, podemos

perceber que o uso de bebidas alcoólicas e suas implicações não são problemas

recentes.

E assim “Símbolo da cultura com valores religiosos e sociais diversos, a

bebida vai se afirmando cada vez mais como produto do comércio e das relações

entre as pessoas e religiões ou nações, ao atravessar toda a Idade Média”. (Lima,

2 Destilado: bebida que contém alto teor alcoólico.

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2008.p.13). Podemos dizer que desde sua existência mudaram a fórmula, os valores

e a forma de consumo. Antes, podíamos dizer que as bebidas eram consumidas

mais em celebrações e festas para comemoração de algo e/ou alguma data

especial. Hoje, isso não é mais necessário, o hábito de beber virou comum em

muitos países, chegando a fazer parte da rotina de muitas pessoas.

Antes da produção industrial do álcool o alcoolismo ainda não era muito

presente e/ou identificado, porque as bebidas produzidas artesanalmente não

causavam muitos problemas aos poucos consumidores. A partir da produção

industrializada, o teor de álcool nas bebidas foi elevado e, consequentemente, as

complicações também. Segundo Laranjeiras e Pinsky (1998), os fatores que

contribuíram para muitas pessoas ficarem dependentes do álcool foram o teor

alcoólico elevado, a expansão das bebidas, a redução nos preços de venda, o

aumento do consumo e a migração para centros urbanos.

Lima (2008) também afirma que o consumo de bebidas e os problemas

referentes aumentaram por causa do “crescimento da produção, maior oferta e

diminuição do preço [...]” (2008, p. 13). Por outro lado, a relação do homem com as

bebidas alcoólicas não podemos achar que acarretam somente malefícios, pois de

acordo com Lima (2008, p. 199) “os efeitos satisfatórios e benéficos das bebidas

sobre o organismo são conhecidos naturalmente e, por isso mesmo, estão

integrados à nossa cultura”.

O álcool faz parte de diversas culturas e faz parte do nosso cotidiano e é por

isso que não podemos enxergá-lo apenas como uma substância que só causa

malefícios. O uso social e moderado do álcool é tratado de forma natural. O que

preocupa é o uso abusivo de tal substância. Lima (2008) destaca a contribuição das

indústrias de bebidas alcoólicas a diversos países, principalmente naqueles em que

a produção e o consumo são maiores, pois são inúmeras as ofertas de empregos

tanto na produção como também no comércio.

Segundo o autor supracitado

Á primeira vista, parece que estamos diante de um dilema: ou optamos pelo radicalismo de colocarmos a bebida alcoólica sob a ótica do bem e do mal, ou consideramos a eventualidade das consequências e prejuízos secundários ao abuso [...] somos portanto obrigados a viver e a conviver tanto com o lado prosaico e cultural quanto com os outros diversos aspectos relativos ao consumo de bebidas alcoólicas (uso/abuso). (LIMA, 2008, pp.24-25).

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Em outras palavras, precisamos saber conviver com os benefícios e os

maléficos do uso do álcool, afinal tal uso só representa problemas quando é de

forma abusiva. Sendo assim, podemos dizer que é muito importante o investimento

em programas e campanhas de prevenção contra o alcoolismo, contra o uso

abusivo, já que o álcool faz parte de nossas vidas. Vale ressaltar que o consumo de

bebidas alcoólicas foi crescendo e se expandindo a partir dos séculos XVIII e XIX,

precisamente com a Revolução Industrial, pois:

Com [...] a explosão da era industrial, com a criação da nova classe de operários e trabalhadores, além dos comerciantes, e a concentração urbana no entorno das fábricas e das usinas propiciaram um importante cenário favorecedor para o aumento do consumo de bebidas, fazendo surgir uma nova espécie de cidadãos que não bebe mais só em casa ou em aglomerações, mas sim em locais próprios ([...] bares [...]), que passam a integrar, de forma definitiva e progressiva, o ambiente urbano de consumo de bebidas alcoólicas. (LIMA, 2008, p.13).

Antes, não era muito comum a existência desses locais que oferecem a

venda de álcool, mas, com o passar dos tempos, a frequência de pessoas nesses

espaços foi sendo mais acessível e, consequentemente, também ficava perceptível

a presença de pessoas alcoolizadas pelas ruas. Atualmente, podemos dizer que

além destes locais, que cada vez mais se multiplicam, também existem outros

elementos que favorecem maior produção e consumo de álcool, como a tecnologia e

propagandas que circulam nos meios de comunicação, geralmente bem atrativas e

que têm como um dos objetivos conquistar mais consumidores. Por isso, não há

dúvida que todos estes elementos colaboraram e muito para o crescimento do

consumo.

Devido a estes fatores muitos indivíduos passaram a consumir o álcool em

excesso e, consequentemente, acabavam precisando de atendimento médico

devido à grande quantidade de álcool ingerido, muitas vezes intoxicado. Foi através

destes atendimentos que os médicos foram percebendo que o uso de álcool em

excesso estaria acarretando implicações físicas e mentais em muitos indivíduos.

Este será o assunto do nosso próximo item.

4.1 Alcoolismo como doença

De acordo com Lima (2008), estima-se que no século XIX Magnus Huss foi o

primeiro a entender o alcoolismo como uma doença e denominou este termo para

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“definir o quadro clínico resultante da intoxicação crônica pelo álcool e suas

manifestações biopsicossociais” (LIMA, 2008, p. 14). Muitos anos depois, por volta

de 1950, o conceito de alcoolismo ganhava uma nova roupagem. Jellinek criaria o

alcoolismo gama, que seria “o beber progressivo que leva a problemas crescentes e

culmina na invalidez permanente ou na morte prematura, a menos que o alcoólatra

pare de beber”. (LAZO, 2008, p. 7).

Mesmo com estas conceituações, o alcoolismo e/ou embriaguez para a

sociedade em geral referia-se mais à questão de comportamento, caráter, moral,

falta de controle e status social do que a uma doença. Por muito tempo, as pessoas

que se encontravam alcoolizadas pelas ruas eram vistas como indivíduos de má

índole, “vagabundos,” pessoas que não procuravam o que fazer, já que acabavam

tendo comportamento além da moral, da ética e dos bons costumes. Sendo assim,

muitas vezes vítimas de preconceito e discriminação por parte da sociedade ou até

mesmo punidas pelo Estado. Atualmente, ainda podemos encontrar pessoas que

não entendem e nem conseguem ver o alcoolismo como doença.

Para definir, identificar as pessoas vítimas do alcoolismo, a Organização

Mundial de Saúde (OMS) criou em 1952, o termo alcoólatra:

Aqueles bebedores excessivos cuja dependência atingiu tal grau que mostra um transtorno mental observável ou uma interferência em sua saúde corporal e mental, em suas relações interpessoais, e em seu funcionamento social e econômico, ou aqueles que demonstram sinais prodômicos de tais desenvolvimentos. (OMS, 1952)

Aqueles indivíduos que não conseguiam controlar o próprio consumo de

álcool e que de alguma forma sua vida estivesse sendo afetada por conta disto eram

considerados um alcoólatra. Para Senise (1975), alcoólatra é “somente aquele que é

impelido ao álcool por uma necessidade intrínseca, que só conseguimos

compreender como decorrente de um problema psicológico”.

Em discordância, Lazo (2008) faz críticas aos pensamentos de muitas

pessoas e profissionais de saúde que pensam desta forma, devido a sua experiência

com alcoolismo, pois sofreu com o alcoolismo por 23 anos, conviveu com muitos

alcoólatras e após muitos anos de sobriedade concluiu que, “em alcoolismo, tudo é o

contrário do que comumente se pensam”. (LAZO, 2008, p. 29.). Segundo este autor,

um alcoólatra bebe não por ter algum tipo de problema, frustrações, sofrimento etc.

mas sim porque faz uso abusivo do álcool, pois quando as pessoas alcoólatras ou

não começam a ingerir álcool, praticamente os motivos são os mesmos, como, por

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exemplo, curiosidade de conhecer o sabor e os efeitos, vontade de experimentar, a

pressão de amigos etc.

No começo, podemos dizer que as pessoas que bebem só conseguem ver e

sentir coisas boas, já que muitas vezes ficam mais felizes, leves e soltos, ficam mais

comunicativos, descontraídos, ou seja, apresentando assim nenhum problema.

Acredita-se que os problemas surgidos ou agravados no período que bebe

excessivamente são consequência do alcoolismo e não os motivos e/ou causa para

as pessoas beberem.

O termo alcoólatra,

Confere uma identidade e impõe um estigma, que anula todas as outras identidades do sujeito, tornando-o tão somente aquilo que ele faz e que é socialmente condenado, não por fazê-lo, mas pelo modo como o faz. Em outros termos, não é a bebida em si, mas aquela pessoa que bebe mal, isto é, de modo abusivo, desregrado, que a leva à condição de ser socialmente identificada popularmente como "alcoólatra", ou seja, quem "idolatra", "adora" e se tornou dependente do álcool. (FORMIGONE, 2014, p.16).

Devido ao estigma posto, muitas pessoas que sofrem de alcoolismo acabam

sofrendo também preconceito e exclusão social, pois a sociedade enxerga estes

indivíduos apenas como bebedores, pessoas que não têm o que fazer, conhecidos

dentre outros como bêbados, ‘papudim’ e ‘pinguço’. Afinal, nem todos compreendem

que estas pessoas são doentes, que são vítimas do alcoolismo. Mas com o objetivo

de tentar reverter esta situação, pesquisadores criaram o termo alcoolista, pois:

Segundo eles, o termo não reduziria a pessoa a uma condição, como a de alcoólatra, mas a identificaria como uma pessoa que tem como característica uma afinidade com alguma coisa, com alguma ideia. Por exemplo, uma pessoa que torce no futebol pelo Flamengo é flamenguista [...] É uma característica, mas não reduz o indivíduo a ela, como uma identidade única e dominante. Eis porque seria preferível designar uma pessoa como alcoolista e saber que ela é, ao mesmo tempo, muitas outras coisas, inclusive alguém que pode deixar de ser dependente de álcool. Isto ajudaria esta pessoa a não ser estigmatizada, reduzida a uma única condição. (FORMIGONE, 2014, p.16).

Em outras palavras, o indivíduo não seria identificado unicamente como uma

pessoa que faz uso e/ou abuso de bebidas alcoólicas, ou seja, o uso deste termo

contribuiria para a redução do estigmatização e preconceito. Mas, infelizmente não é

isto o que vem ocorrendo, pois existe uma confusão referente aos termos alcoólatra

e alcoolistas, pois a maioria das pessoas, principalmente da sociedade civil, acredita

que o significado de ambos os termos é o mesmo, que alcoólatra e alcoolista sejam

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a mesma coisa. Por isso, usa-se que os dois termos, principalmente o alcoólatra.

Com isto o objetivo proposto pela criação de alcoolista não tem sido muito

alcançado. Geralmente este termo alcoolista é usado mais entre profissionais de

saúde, já que são sabedores do significado e diferença para o termo alcoólatra.

Por volta do ano de 1952 o alcoolismo acabou sendo incluído no Manual

Diagnóstico e Estatístico das Desordens Mentais (DSM-I), da Associação

Psiquiátrica Americana (APA). Neste manual, encontram-se as categorias de

transtornos mentais existentes e os critérios para diagnóstico de acordo com a APA.

São muitos os profissionais, principalmente os de saúde mental, que usam este

manual para diagnosticar doenças após avaliação do usuário.

Por volta do ano 1967 a OMS incluiu o alcoolismo na Classificação

Internacional de Saúde (CID). Nesta classificação, as doenças e seus sintomas são

designados através de códigos; no CID-8, os problemas devido ao uso do álcool

ficaram divididos entre as categorias dependência, beber excessivo (abuso) e por

beber excessivo habitual. No decorrer dos anos, os conceitos de alcoolismo foram

se modificando e o mais recente é:

O conceito de alcoolismo como dependência química passou a ser considerado sob a nova ótica a partir da ênfase dada a prevenção [...] levando-se em conta que “dependência” refere-se a um estado clínico determinado e mais avançado, passou-se a definir a relação de álcool com as suas manifestações clínicas e psicossociais enfocando também o uso e abuso, e não só a dependência (química). (LIMA, 2008, p.14).

Ao longo dos anos, a DSM passou por algumas revisões e atualmente os

critérios destinados para a dependência do álcool e outras drogas são do DSM–V,

que foi publicado em maio de 2013. Podemos dizer que este manual é uma revisão

e atualização do manual anterior e nele ocorreram algumas modificações em relação

aos transtornos decorrentes do uso de álcool e outras drogas.

A CID-10 foi desenvolvida em 1992 para registrar as estatísticas de

morbidade e mortalidade. E, referente ao alcoolismo, o código usado para identificar

transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de álcool é o F-10, cujas

subdivisões são: F10.0 intoxicação aguda; F10.1 uso nocivo; F10.2 síndrome de

dependência; F10.3 estado de abstinência; F10.4 estado de abstinência com

delirium; F10.5 transtorno psicótico; F10.6 síndrome amnésica; F10.7 transtorno

psicótico residual e de início tardio; F10.8 outros transtornos mentais e de

comportamento; F10.9 transtorno mental e de comportamento não especificado. De

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acordo com Osiatynska (2004), a OMS, através do CID 10, acabou recomendando a

substituição do termo alcoolismo por Síndrome da Dependência de Álcool (SDA),

como podemos ver na categoria F10.2.

Grifith Edwards e Milton Gross Edward foram os descobridores da Síndrome

da Dependência de Álcool, por volta de 1976. Segundo a Organização Mundial de

Saúde (OMS), Síndrome da Dependência de Álcool (SDA) é o:

Conjunto de fenômenos comportamentais, cognitivos e fisiológicos que se desenvolvem depois de repetido o consumo de uma substância psicoativa, tipicamente associada ao forte desejo de tomar a droga, à dificuldade de controlar o consumo, à utilização persistente apesar de suas consequências nefastas, a uma maior prioridade dada ao uso de droga em detrimento de outras atividades e obrigações, a um aumento da tolerância à droga e por vezes a um estado de abstinência física. (OMS, 1993, p. 74).

Em outras palavras, a SDA não se refere exclusivamente à dependência, mas

também a um conjunto de sintomas e sinais referentes ao uso de bebidas alcoólicas.

Afinal, o álcool pode ser consumido de inúmeras formas, pois seu uso compreende

diversos fatores, como culturais, biológicos, sociais etc. Podemos dizer que esta

síndrome engloba desde pessoas que ingerem pouca quantidade de álcool para

aquelas já dependentes da droga.

Podemos perceber que todos os problemas de saúde referentes ao álcool

encontrados no grupo F10 se enquadram mais na área de saúde mental e é por isso

que Lima (2008) faz algumas críticas ao CID 10, pois, segundo este autor, existem

diversas doenças relacionadas ao alcoolismo além das citadas aqui, que poderiam

ser encontradas nesta categoria F10, por exemplo, doenças como cirrose hepática,

síndrome alcoólica fetal, gastrite alcoólica, pancreatite etc. Doenças que de alguma

forma têm relação com o alcoolismo.

Em sua opinião, o CID 10 precisa passar por mais revisões para que assim os

problemas e doenças relacionados ao alcoolismo possam ser reconhecidos e

delimitados com mais precisão. Caso contrário, continuarão assim “pacientes com

doenças efetivamente relacionadas à ação tóxica do álcool [...] deixam em geral de

receber o diagnóstico de alcoolismo por estas não estarem reconhecidas e

codificadas claramente CID 10”. (LIMA, 2008, p.159).

O autor reconhece que o alcoolismo faz parte da saúde mental, mas não só

dela. É muito importante que outras patologias em relação ao alcoolismo sejam

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reconhecidas e consideradas para que assim tenhamos resultados significativos

quanto à questão do alcoolismo, doença que atinge muitas pessoas.

No livro ‘Álcool e redução de danos: uma abordagem inovadora para países

em transição’, organizado pelo Ministério da Saúde (2004), álcool segundo Bill

Stronach é “a droga psicoativa mais usada na maioria dos países, tanto para a

celebração como para o sofrimento, pois libera as inibições”. Ou seja, em diversas

situações o uso de bebidas alcoólicas é muito comum. Um desses países é o Brasil,

além dos fatores que contribuíram para o aumento do consumo de bebidas

alcoólicas já discutidos neste capítulo, existe também outro, pois, segundo Lima

(2008), o Brasil além de ser um dos maiores consumidores, também é um dos

maiores produtores de álcool do mundo.

O álcool é a droga mais usada, mas também é a que tem causado mais

óbitos. Uma pesquisa realizada pelo Observatório do Crack da Confederação

Nacional de Municípios (CNM) apresentou o número de mortes no país, devido ao

uso de drogas lícitas e ilícitas de 2006 a 2010. Os dados utilizados nesta pesquisa

foram do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), do DATASUS. De acordo

com os resultados, ocorreram neste período 40.692 mortes. Destas, 34.573 (84,9%)

foram por causa do álcool. O Ceará foi apontado como um dos estados de maior

incidência de óbitos por álcool, já que 2.882 pessoas morreram por causa dele. O

uso indevido de bebidas alcoólicas acaba provocando acidentes e problemas de

saúde que muitas vezes resulta em óbito.

Na luta contra o alcoolismo, muitos países elaboram até hoje programas,

políticas e estratégias para ajudar os usuários no enfretamento desta droga. Alguns

dos objetivos almejados destas ações são redução de danos, a recuperação e a

reinserção social deles. Também não podemos deixar de dizer que reduzindo o

consumo de álcool da sociedade, também diminuirão os problemas decorrentes do

uso indevido de bebidas alcoólicas.

Uma das primeiras ações referentes aos problemas devido o uso abusivo de

bebidas alcoólicas, foi à criação da Política Nacional sobre Álcool em 2007. Uma

política de atenção e prevenção das implicações relacionadas ao álcool. Tem como

algumas diretrizes a ampliação e fortalecimento das redes locais de atenção integral

às pessoas que apresentam problemas decorrentes do consumo de bebidas

alcoólicas, no âmbito do SUS; promover programas de formação especifica para os

trabalhadores de saúde que atuam na rede de atenção integral a usuários de álcool.

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Também foram criados diversos tipos de tratamento para usuários de álcool.

De acordo com Lima (2008, p.176) os primeiros tratamentos que surgiram foram

“cognitivo-comportamental, psicanalítico, de comunidades terapêuticas, e médico

convencional com medicações e internações”. Por volta de 1930 surge a irmandade

dos Alcoólicos Anônimos (AA), um modelo de mútua ajuda, onde pessoas com

mesmo problema e objetivos se ajudam baseado n programa dos Dozes Passos.

Atualmente, para tratamento do alcoolismo no âmbito do SUS exige-se uma

equipe multidisciplinar, composta por médicos, enfermeiros, assistentes sociais,

psicólogos já que o alcoolismo envolve vários fatores, desde o individual ao social.

Hoje, podemos citar como principais instituições do SUS para tratamento os

hospitais com leitos para desintoxicação e os Centros de Atenção Psicossocial de

Álcool e outras Drogas (CAPS-AD). Mesmo com o surgimento de muitas instituições

e modelos de tratamento, os AA ainda têm presença forte no mundo, são inúmeros

grupos espalhados, facilitando assim na maioria das vezes o acesso à sociedade,

mas as instituições do SUS por parte de alguns ainda são desconhecidas.

No nosso país, segundo Lima (2008, p.180), “temos um sistema híbrido, onde

o Estado [...] e organizações privadas e filantrópicas desempenham papéis muitas

vezes superpostos na oferta de serviços de saúde”. O alcoolismo desde sua

inclusão na DSM é considerado mais como problemas de saúde mental. De acordo

com o autor referido,

O Ministério da Saúde [...] trata do problema quase que exclusivamente pela óptica da saúde mental, deixando de lado inúmeras questões diretamente ligadas ao uso/abuso do álcool que deveriam ser contempladas dentro de uma visão sistêmica. (LIMA, 2008, p. 156).

Sabemos que os problemas relacionados ao uso do álcool são muitos, mas

nem todos são reconhecidos como tal. Podemos citar como exemplo doenças

clínicas, cardiovasculares, acidentes etc. decorrentes do uso de bebidas alcoólicas.

É preciso rever esta questão para que tais problemas sejam diagnosticados como

alcoolismo e assim possam ser tratados de forma correta. É preciso que o Estado

tenha uma visão mais ampla a respeito para que assim se possam criar estratégias

de prevenção, diagnóstico e tratamento. Pois, segundo Lima (2008), mesmo com

todos os avanços no combate ao alcoolismo, o país ainda precisa dar mais atenção

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à doença, pois o que aparenta é que o combate contra às drogas ilícitas é maior que

do alcoolismo.

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5 HISTÓRICO DE USO DE ÁLCOOL E TRATAMENTO

Neste capítulo iremos mostrar os resultados das entrevistas realizadas com

os sujeitos da pesquisa, em que através delas poderemos conhecer e compreender

o uso de álcool pelos mesmos e como se deu o tratamento e recuperação. Desde já,

queremos informar que dentre os resultados utilizaremos alguns dados do II

Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (LENAD), realizado pela Unidade de

Pesquisa de Álcool e Drogas (UNIAD) e também pela Universidade Federal de São

Paulo no ano de 2012.

Neste II Lenad foram realizadas 4.607 entrevistas em todo país, com pessoas

a partir de 14 anos de idade. As perguntas das entrevistas se referiam ao consumo,

abuso e dependência de álcool, tabaco e drogas lícitas; beber e dirigir e por últimos

fatores de risco (depressão, qualidade de vida, violência, saúde física e etc.).

Dentre os participantes do grupo AA, selecionamos quatro idosos para serem

os sujeitos da nossa pesquisa, ambos participam desde a fundação em 26 de maio

do ano de 2009. De acordo com o Estatuto do Idoso, Lei n° 8.842, de quatro de

janeiro de 1994, art° 2, considera-se idosa a pessoa maior de 60 anos de idade.

Pelo Estatuto dos Idosos, todos são identificados somente através da idade

cronológica, mas como já foi discutido no segundo capítulo deste trabalho, cada

idoso tem suas diferenças, características e particularidades. Por isso, o quadro a

seguir apresenta algumas características dos sujeitos entrevistados, vejamos:

Quadro 1: Perfil dos entrevistados

Entrevistados Leonel Ozias Augusto Joel

Naturalidade Quixadá - CE Iguatu - CE Quixadá - CE Campanário -

CE

Sexo Masculino Masculino Masculino Masculino

Idade 76 anos 65 anos 67 anos 60 anos

Escolaridade Ensino médio

completo

Ensino fundamental incompleto

Ensino fundamental incompleto

Ensino fundamental

completo

Situação Conjugal

Casado Casado Casado União estável

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Ocupação

Beneficiário do BPC (Benefício de Prestação continuada) e

Fotógrafo.

Pedreiro autônomo

Aposentado Vendedor autônomo

Religião Católica Católica Católica Católica

Tempo de participação do AA.

28 anos 19 anos 17 anos 14 anos

Pelos dados do gráfico podemos identificar que todos os sujeitos são do sexo

masculino, com faixa etária entre 60 a 76 anos. Dois deles naturais de Quixadá-CE,

um de Campanário - CE e por último um de Iguatu-CE. Todos moram próximos à

instalação do grupo que frequentam. Como forma de preservar o sigilo deles,

identificaremos-lhes com nomes fictícios, como senhores Leonel, Ozias, Augusto e

Joel.

Podemos relacionar a predominância do sexo masculino com os resultados

do II Lenad, pois referente à prevalência do uso abusivo e dependência de álcool por

gênero, seguindo-se os critérios da DSM-IV, indicam que os homens são os maiores

abusadores e dependentes de álcool. Referente ao abuso, os homens apontam

3,25% e as mulheres 0,62%, e em relação a dependência os homens também ficam

a frente com 10,48% e as mulheres 3,63%.

Com relação ao período de educação dos entrevistados, percebe-se um baixo

nível de escolaridade, pois dentre os quatros apenas o Sr. Leonel cursou o ensino

médio completo. Já o entrevistado Joel concluiu o ensino primário e os senhores

Ozias e Augusto nem chegaram a concluir o ensino fundamental. Quanto à situação

conjugal dos indivíduos, três são casados, são eles: Leonel, Ozias e Augusto e o Sr.

Joel vive em uma união estável. Também identificamos que todos os idosos

possuem filhos. Quando perguntamos a respeito da religião dos participantes, todos

responderam ser católicos. Segundo a pesquisa do II Lenad, as pessoas que mais

consumem álcool são da religião católica com 64,8% e em segundo lugar os

evangélicos com 23,4%.

Referente à condição de ocupação dos sujeitos, dois deles ainda trabalham

como pedreiro e vendedor, são autônomos e não contribuem para a previdência

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Social. Identificamos ainda um único aposentado por idade e outro é beneficiário do

BPC-Benefício de Prestação Continuada3. A renda salarial do idoso aposentado e do

beneficiário do BPC é de respectivamente um salário mínimo, pois, de acordo com a

Lei de n° 8.213 de 24 de Julho de 1991, que dispõe sobre os planos de benefícios

da Previdência Social e dá outras providências,

Art. 1° A Previdência Social, mediante contribuição, tem por fim assegurar aos seus beneficiários meios indispensáveis de manutenção, por motivo de incapacidade, desemprego involuntário, idade avançada, tempo de serviço, encargos familiares e prisão ou morte daqueles de quem dependiam

economicamente. Segundo o Art.48 da Lei 8.213/91, têm direito a aposentadoria por idade

urbana mulheres a partir de 60 anos e homens a partir de 65 anos de idade, que

tenham contribuído com pelo menos 180 meses. Condição essa que Augusto se

adequava. Já para ser beneficiário do BPC, de acordo com o Art. 20, da Lei

8.742/93, têm direito a este benefício assistencial pessoas com deficiência e

também idosos de 65 anos de idade ou mais. No caso dos idosos, além da idade é

preciso comprovar que a pessoa não tem como se prover nem de ser provida por

outras pessoas da família, condição esta do entrevistado Leonel.

5.1 Histórico de uso de álcool dos sujeitos

Após apresentarmos algumas características dos idosos, iremos agora

discutir as suas respostas às respectivas entrevistas, perguntas relacionadas ao uso

de álcool e tratamento. Referente à idade que os entrevistados começaram a ingerir

bebidas alcoólicas, podemos concluir que o uso de álcool entre todos começou

antes mesmo dos 20 anos de idade. Dois deles, os senhores Ozias e Augusto

iniciaram na juventude, antes dos 18 anos de idade; o Sr. Ozias “Aos 14 anos”; o Sr.

Augusto, “Tinha 17 anos quando bebi a primeira vez” e os senhores Leonel e Joel

mencionaram o uso a partir dos 18 anos de idade.

Já na fase adulta, podemos confirmar com suas falas: Sr. Leonel “Comecei a

beber com 19 anos de idade” e Sr. Joel “Aos 18 anos de idade, estava em uma

festa”. Segundo Lima (2008), o consumo de bebidas alcoólicas desde a

adolescência é cada vez maior, principalmente em nosso país. Resultados de

inúmeras pesquisas indicam o álcool como à droga mais usada por jovens entre 12

3 BPC: É um benefício assistencial que integra a Proteção Social Básica no âmbito do Sistema Único

de Assistência Social (SUAS).

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a 18 anos de idade. Fazer uso do álcool desde a juventude, tornou-se um ato muito

comum, no qual cada vez mais os jovens começam fazer uso precoce de muitas

drogas, principalmente o álcool. Muitos justificam isso, pelo fato de o álcool ser uma

droga lícita em nosso país, de fácil acesso, mercadoria de muita publicidade e de

baixo custo. Assim muitos acreditam que esses jovens são mais vulneráveis a futura

dependência de álcool e ou até mesmo outras drogas, devido o uso precoce.

Resultados do II Lenad apontam que 22% do público adulto declararam que ter

experimentaram bebidas alcoólicas antes mesmo dos 15 anos de idade.

Observando esses dados, nos questionamos por que o consumo de bebidas

alcoólicas entre adolescentes é cada vez maior como Lima afirma acima se em

nosso país existem leis que proíbe vender, ofertar, fornecer, entregar e permitir o

consumo de álcool aos menores de 18. Até mesmo no Estatuto da criança e

Adolescente, Lei de n° 8.069, de 13 de Julho de 1990, no Art. 81 encontra-se a

proibição de venda de bebidas alcoólicas para este público.

Talvez isto ocorra por falta de mais propagandas educativas, mais políticas e

programas, por falta também de punição e fiscalização do governo e sociedade, que

muitas vezes são condescendentes e/ou negligente com tal situação. É preciso

trabalharmos mais para que tais leis de proibição sejam realmente respeitadas e

assim o consumo de álcool deste público seja reduzido.

Quando perguntamos a respeito da frequência do uso de álcool dos sujeitos,

ambos relataram praticamente as mesmas características quanto ao início da

ingestão do álcool, o primeiro gole foi por curiosidade e/ou oportunidade, no qual se

encontravam em festa com amigos que lhes ofereceram bebida. A partir daí o uso

era socialmente e eventualmente, nessa fase todos tiveram sentimentos e

sensações semelhantes, pois ao fazerem uso de bebidas se sentiam alegres,

extrovertidos, corajosos etc.

Segundo Lazo (2008), no início do uso geralmente as pessoas são jovens e

sentem-se felizes e divertidas, o álcool só lhe proporciona momentos prazerosos.

Também Lima (2008, p. 41) diz que “o que se busca com o uso das bebidas

alcoólicas, de início, é o efeito relaxante e prazeroso [...], resultante de pequenas

doses, ou mesmo de doses maiores”. Pois o álcool, como outras substâncias, atua

no cérebro das pessoas, resultando assim em efeitos positivos e negativos.

Depois, com o passar dos anos Leonel, Ozias, Augusto e Joel desejaram

beber cada vez mais, chegando ao ponto de se encontrarem bêbados e

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embriagados por muitas vezes. Segundo Lima (2008, p.43) isto ocorre porque “Em

longo prazo, com o passar do tempo, o álcool [...] faz com que o indivíduo precise de

doses cada vez maiores para obter o mesmo efeito.” Ou seja, desenvolveram uma

tolerância ao álcool, pois devido à ingestão constante de álcool, o organismo torna-

se mais resistente aos efeitos do álcool. E para sentirem as mesmas sensações e

sentimentos precisam aumentar a quantidade de bebidas alcoólicas. Para Lazo

(2008) “A dependência psicológica e física gerada pelo beber do alcoólatra

primeiramente faz com que deseje continuar bebendo e, mais tarde, com que

necessite continuar bebendo”. Como aconteceu com os senhores Leonel, Ozias e

Augusto, que chegaram ao ponto de beber diariamente, ou seja, o desejo passou a

ser necessidade, podemos notar pelos seus depoimentos:

Sr. Leonel: no início bebia eventualmente, depois de alguns anos passou a ser diariamente, foi aí que admiti que era um alcoólatra. Sr. Ozias: no começo foi eventualmente, depois passou a ser diariamente até cheguei a ser expulso de casa aos 15 anos de idade. Sr. Augusto: bebia de vez em quando até vir morar em Fortaleza, acho que tinha 46 ou 48 anos de idade, foi aí que comecei beber todos dos dias, eu tinha que beber diariamente. Sr. Joel: bebia às vezes, quando bebia passava um bom tempo para eu beber de novo, era muito difícil, mas depois comecei a beber dias consecutivos, por exemplo, não bebia entre segunda e quinta-feira, mas quando chegava sexta-feira, emendava com sábado e domingo também.

O consumo de bebidas alcoólicas segundo Lazo (2008) tem suas vantagens,

como já fora citado, mas também suas desvantagens quando seu uso é abusivo. “As

desvantagens [...] são os problemas crescentes gerados pela dependência: os

problemas financeiros, conjugais, sociais, emocionais, psicológico, espirituais e

físicos” (LAZO, 2008, p.100).

Os problemas citados por nossos participantes durante as entrevistas foram:

desemprego, acidentes, complicações de saúde, problemas psicológicos, problemas

familiares e conjugais, pois sentiram o desprezo e/ou abandono por parte dos

familiares e amigos. Podemos dizer, por exemplo, que os problemas conjugais

ocorrem muitas vezes por motivos como: comportamento do alcoolista em casa e

em outros lugares, coibindo muitas vezes sua esposa e ou/ filhos; ausência em

casa, o não cumprimento das atividades de pai e/ou esposo etc.

As complicações físicas e emocionais sucedem porque o álcool interferir no

funcionamento do cérebro, principalmente no sistema nervoso central resultando

assim em algumas sequelas. Também relataram que se envolveram muito em brigas

e discussões não só em seus lares, como também nas ruas. Podemos concluir que

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todos entrevistados passaram por essas desvantagens, complicações devido o

abuso, dependência de bebidas alcoólicas. Vejamos em suas falas:

Sr.Leonel: percebi através da irresponsabilidade que tomava conta da minha vida, eu estava muito irresponsável. Sr. Ozias: eu não percebi, perceberam por mim, a minha esposa falava das situações ocorridas por causa da bebida. Passei por situações de risco de vida, já que sofri violência, até minha família chegou a pedir para eu sair de casa, mas depois resolveram me dar uma chance a mais se eu fizesse tratamento. Sr. Augusto: foi em 21 de outubro de 2006 que percebi que não tinha mais condições de beber, pois levei uma queda grande que fui parar no hospital, também já estava se revoltando com os meus amigos aí, percebi que era hora de parar. Sr. Joel: quando fui desprezado pela minha família, e abandonado pela minha 1° mulher, filhos e também irmãos. Chegou a um ponto de até meus filhos me negarem água, quando eu passava lá e pedia a eles.

Sobre os problemas decorrentes do uso de bebidas alcoólicas existe uma

discussão no qual, algumas pessoas identificam-nos como as causas e/ou motivos

que fazem o individuo abusar do álcool, e uma minoria julga que esses problemas

não são as causas, mas as conseqüências do alcoolismo. Para Lazo (2008) isso

ocorre porque o alcoolista da “preferência” em atender sua necessidade de beber

álcool e não de levar sua vida normal trabalhando para resolução de seus

problemas, pois de acordo com o mesmo, todo mundo tem esses mesmos

problemas, dependentes de álcool ou não, a diferença é que na vida de um

alcoolista eles se agravam cada vez mais, é por isso que ele julga que tais

problemas são consequências do alcoolismo e não a causa.

Já para outros a pessoa começa a beber álcool, com um tempo depois com

mais frequência devido os problemas que o mesmo tem na vida, como por exemplo:

perdeu a companheira; ficou desempregado; não consegue realizar um sonho e etc.

E com a ingestão de álcool constantemente tais complicações acabam se agravando

como também o surgimento de outras, tudo por causa da situação com que se

encontram essas pessoas. Por exemplo, Lima (2008, p.200) diz que,

São inúmeras as situações, portanto, que levam as pessoas a beberem socialmente, sem acarretar problemas de saúde, ou distúrbios psicossociais mais evidentes. O que torna o beber um verdadeiro problema biológico (saúde orgânica), psicológico e social, é a relação inadequada do abuso ou excesso, isto é o consumo excessivo e problemático acima do qual a quantidade ingerida pelo indivíduo pode levar o mesmo a “depender” de quantidades cada vez maiores de bebidas (tolerância).

A respeito das situações que levam as pessoas a usarem álcool ou outras

drogas, pude constatar isso na experiência do meu estágio, pois que era em um

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Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e Outras Drogas (CAPS-AD) e nos

atendimentos e/ou melhor, anamnese quando perguntávamos a pessoa quais

razões fizeram consumir tal droga, a maioria delas colocava uma frustração, perda,

problemas de relacionamentos como reais motivos de usar drogas. Outros diziam

que tinham experimentado e gostado, alguns afirmavam não ter motivos e assim

continuaram a fazer uso de álcool, chegando a fazerem uso abusivo e/ou

dependentes.

Lazo (2008) diz que, muitas vezes o alcoolista ver o consumo de bebidas

como uma solução para tais complicações, já que quando bebem sentem a

sensação de alívio. A respeito desta visão Lima (2008, p. 200) faz um

questionamento “O que faz as pessoas buscarem as bebidas como algo que traz

alívio. E alívio de quê?”. Essa é uma pergunta de muita complexidade, mas o autor

supracitado afirma que a busca do bem-estar é que faz o individuo a procurar pelo

álcool, já que o álcool como também outras drogas tem efeito anestésico ou

analgésico aliviando assim mesmo por alguns momentos, tais problemas.

Quanto ao uso de outras drogas, três idosos usaram ou apenas

experimentaram tabaco, maconha e cocaína, vejamos,

Sr. Leonel: sim, cigarro. Sr. Ozias: sim, maconha e cocaína. Sr. Augusto: sim, aos 50 anos de idade experimentei a maconha, mas foi uma única vez só. Sr. Joel: sim, e ainda usos. No ano de 1999 quando entrei no AA decidido a parar de beber, comecei a fumar cigarro. Digo muitas vezes que troquei o diabo pelo cão, pois estava fazendo de tudo para não beber e me agarrei a outra droga.

Nota-se que o álcool não foi a única droga a ser consumida pelos nossos

entrevistados, dentre eles somente o Joel ainda faz uso do tabaco, pois informa que

há anos tenta parar de fumar. Relatou ter a consciência que somente trocou uma

droga por outra. Os outros três vêm obtendo sucesso quanto à abstinência destas e

outras drogas que chegaram a experimentar e ou consumir por muitos anos.

Perguntamos a eles se antes de conhecerem e ingressarem no grupo AA

conheceram ou procuraram por alguma instituição de tratamento. Os senhores

Leonel, Augusto e Joel disseram que nem conheceram e nem procuraram por

tratamento. O único a procurar por ajuda foi o Sr. Ozias: “Procurei me tratar através

do Espiritismo e Centros de Umbanda... mas foram apenas algumas vezes”.

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Ambos justificam a não procura de tratamento, por falta de interesse, já que

antes de ingressarem no AA ainda não admitiam que estavam dependentes e/ou

estavam fazendo uso abusivo de bebidas alcoólicas, por isso não procuraram em

outros locais tratamento.

5.2 Tratamento dos sujeitos no grupo Alcoólicos Anônimos

Quanto à forma de ingressar no AA, os senhores Leonel, Augusto e Joel

conheceram a irmandade através de membros do grupo, já o senhor Ozias recebeu

o convite de seu cunhado que não participava, mas conhecia um pouco sobre a

irmandade, vejamos em seus relatos,

Sr. Leonel: fiquei sabendo através de um integrante da irmandade que durante uma missa fez o convite para conhecer o grupo dos Alcoólicos Anônimos. Sr. Ozias: conheci o AA através do meu cunhado em Junho de 1994, comecei visitando e um mês depois já ingressei no grupo para o tratamento. Sr. Augusto: conheci através de um conterrâneo que participava da irmandade. Ele fez o convite aí comecei a visitar um grupo do Bairro João XXIII, após um mês resolvi entrar no grupo para o tratamento e cheguei até a receber a ficha de três meses, mas acabei me sentindo confiante e acabei abandonando o grupo, pensando que não precisava mais participar, após alguns anos voltei e não me desliguei mais daqui”. Sr. Joel: minha irmã “chorava” para dois companheiros de AA irem fazer o convite pra mim, então toda vez que eu estava na sala assistindo novela, aproximadamente às 18h eles passavam na janela da minha casa e gritavam bem alto, assim Sr. D vamos pro AA, eu apenas escutava. Foi aí que no dia 21/12/1999 nunca me esqueço desse dia, aconteceu a mesma coisa... chamaram-me aí de repente senti vontade de desligar a televisão e ir visitar o grupo, desde desse dia nunca mais abandonei o grupo.

A irmandade tem inúmeros grupos de AA espalhados pelo mundo, sua forma

de divulgação é através de cartazes, cujo slogan é muito conhecido: ‘Se seu caso é

beber o problema é seu, se seu caso é parar de beber o problema é nosso’. Nele

também podemos encontrar informações da localidade do grupo, números de

telefones para contato, dias e horários das reuniões. Estes cartazes geralmente são

fixados em comércios, estabelecimentos, ruas etc.

Dentro dos grupos existem também outras formas de divulgação

principalmente para os visitantes; são panfletos e cartões com informações sobre: o

que é AA; como identificar se a pessoa faz uso abusivo de álcool; qual a visão da

irmandade sobre alcoolismo. Livros de literatura da irmandade, do programa dos

Doze Passos, Dozes Tradições, Viver Sóbrio, entre outros.

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Outra forma é o compartilhamento de algumas experiências como alcoolistas

e como se encontram após aderirem o tratamento. Os membros realizam convites

oralmente e visitas domiciliares caso a pessoa demonstre interesse em parar de

beber. E, por último, contam com a internet, já que lá existem sites de AA como de

seu endereço eletrônico: <www.alcoolicosanonimos.org.br> em que pode ser

encontrado tudo sobre essa irmandade.

Para participar de um grupo AA é preciso apenas que o indivíduo que tem

problemas com o uso de álcool queira parar de beber. Esta é a única condição

exigida na comunidade, segundo os requisitos da JUNAAB, pois podemos dizer que

tudo começa a partir desta decisão, em que o alcoolista primeiramente admite que já

não tenha mais controle da situação e acredita que é possível recuperar sua

sanidade. Sendo assim, após estes dois passos, geralmente o indivíduo procurará

formas e meios de tratamento para enfrentar o alcoolismo, no caso do AA decidem

tornar-se um membro da irmandade.

Reconhecer-se e/ou admitir que não tenha mais controle do uso de álcool,

que estar dependente é uma tarefa muito difícil, com eles não foi diferente.

Diferente da fase “boa” do álcool, o indivíduo quando estiver dependente apresenta

alguns problemas, complicações já citadas neste capítulo. Quando alcoolizados ou

não, por exemplo, mudam de comportamento,

Sr. Leonel: sim me sentia muito alegre quando bebia, mas quando não eu ficava abusado, muito irritado. Sr. Ozias: sim, quando eu bebia vivia armado de faca ou arma, eu ficava muito furioso. Sr. Augusto: sim, ficava revoltado. Sr. Joel: mudava totalmente, bebo ficava violento e nervoso.

Pelas repostas das entrevistas podemos perceber que os motivos pelos quais

decidiram aderir ao programa de recuperação da irmandade são semelhantes aos

de quando perceberam que eram dependentes ou que faziam uso abusivo do álcool.

Sr. Leonel: sentia necessidade de parar de beber. Sr. Ozias procurava ter uma vida melhor, pois estava sem credibilidade tanto no trabalho, quanto na família. Sr. Augusto: motivo maior foi o sofrimento, pois quando eu bebia me transformava em outra pessoa, eu era um bebo depravado, bruto, ignorante, dizia coisas que a minha mulher não merecia escutar e por causa disso tinha conflitos entre nós. Sr. Joel: o desprezo da família, principalmente dos meus filhos.

Lazo (2008) diz que todos estes problemas, esta fase “má” que geralmente

todos os alcoolistas passam, são os únicos motivos pelos quais irão querer parar de

ingerir álcool, pois como já foi dito é preciso que o indivíduo queira parar de beber

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para conseguir deixar de beber, caso contrário, o autor acha em vão os trabalhos

dos profissionais que lutam de todas as maneiras para que o mesmo deixe de beber.

“Para que um... se recupere, ele precisa abandonar a bebida. Para que ele

abandone a bebida, precisa querer abandoná-la, as desvantagens do seu beber

precisam pesar sempre mais - e continuar prometendo pesar mais - do que as

vantagens”. (LAZO, 2008, p. 95). E realmente podemos perceber através de suas

falas nas entrevistas e depoimentos durante as reuniões que os motivos que fizeram

querer parar de beber, foram tais problemas que de alguma forma estavam

interferindo em suas vidas e de suas famílias.

Mas sabemos que tem pessoas que procuraram por tratamento, sem precisar

passar por muitos desses problemas e/ou agravamento deles, mas sim porque

querem de alguma forma evitar a dependência pelo álcool e também suas

conseqüências. Por desejarem ter mais saúde, e outros motivos que não seja

necessariamente pelo agravamento dos problemas. Por isso, não podemos pensar

como Lazo, quando afirma que os problemas são os únicos motivos por quais as

pessoas procuram por tratamento, pode até serem os motivos mais comuns, mas

não os únicos.

Referente ao tempo de participação dos sujeitos no grupo alcoólicos

anônimos foi uma surpresa para nós. Acreditávamos antes mesmo da pesquisa ao

campo que encontraríamos idosos que faziam uso de álcool e que há poucos anos

estariam no AA. Mas, ao obter as respostas dos sujeitos, percebemos que é

contrário do que pensávamos. Pois ambos relataram serem membros da irmandade

há muitos anos e não bebem também há anos.

Sr. Leonel: há 28 anos sou membro... Participo de 4 a 5 vezes por semana, já que frequento outros grupos de AA. Sr. Ozias: faz 19 anos e participo semanalmente do grupo... Sr. Augusto: semanalmente deste grupo e faz 17 anos que sou membro... Sr. Joel: com muita freqüência, eu não consigo passar uma semana sem vir

para as reuniões, e tenho 14 anos desde que entrei no AA.

Notamos que todos são assíduos ao tratamento e/ou programa de

recuperação da irmandade que é ‘Os Doze Passos’, desde que ingressaram em um

grupo. Desde início do tratamento que a luta é diária, o programa da irmandade é a

sobriedade4 por mais 24horas e assim conseguem se manter sóbrios até hoje.

Todos os entrevistados no decorrer dos anos vêm recebendo fichas de aniversário

4 No uso corrente dos Alcoólicos Anônimos, sobriedade refere-se à aquisição e manutenção do

controle sobre a vida e seu equilíbrio, em geral.

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de sobriedade. Ambos admitem que nem todas as pessoas conseguem, pois já

viram companheiros abstêmios por muitos anos terem recaído, e começar a luta

novamente, ou nem mesmo conseguirem deixar de ingerir álcool por alguns dias,

por exemplo.

É como muitos membros relatam que sabem que o programa do AA não

funciona com todos, pois isso depende muito do próprio indivíduo, em ele querer

parar de beber. O programa é um auxílio uma ajuda para a luta contra o alcoolismo.

O programa é um auxílio uma ajuda para a luta contra o alcoolismo.

Os nossos sujeitos afirmam que é muito importante e necessário continuarem

participando do programa do AA, mesmo que ainda abstêmios por muitos anos, pois

sabem que o alcoolismo é uma doença e não tem cura, por isso os mesmos dizem

não estarem curados do alcoolismo, como já foi relatado ambos acreditam que a luta

é sempre por mais 24 horas e mesmo que passem anos e anos sem beberem

álcool, como todos vem passando, sabem que ainda correm riscos de terem

recaídas e/ou até mesmo voltarem a ser dependentes.

Para ajudar seus membros a conquistarem a sobriedade e também se

manterem sóbrios, a irmandade dentro de sua literatura trabalha com o livro ‘Viver

Sóbrio’, que sua última publicação no Brasil foi no ano de 2001. Neste livro

encontram-se algumas sugestões e métodos para os indivíduos não só alcançarem

a sobriedade, como também se manterem sóbrios, são eles:

Usar o próprio livro Viver Sóbrio... narramos...alguns métodos que usamos para viver sem beber; Evitar o primeiro gole...Se você não tomar esse primeiro gole, não pode ficar bêbado; Praticar o plano das 24 horas...o plano é bastante flexível. Podemos começá-lo a qualquer momento, onde quer que estejamos; Nunca esquecer que o alcoolismo não tem cura e é uma doença progressiva, no qual as sequelas podem aparecer muito tempo depois, mesmo não bebendo mais; Viver e se deixar viver, sempre enfrentando a realidade; Entrar em atividade, pois muitas vezes, muitas pessoas perdem seus empregos, perdem o lazer, etc., não tinham nada para fazer a não ser beber e beber. Por isso é interessante que as pessoas voltem a trabalhar, estudar, passear, etc.; Praticar a oração da serenidade, no qual é pedido sabedoria para distinguir as coisas que podem ou não serem modificadas; Mudar alguns hábitos, principalmente as atividades; Utilizar-se da terapia do telefone... serve para nos ajudar a permanecer sóbrios. Pegamos o telefone em vez de uma garrafa. Mesmo sem pensar funciona. Mesmo sem querer; Valer-se de um padrinho... é orientador e amigo para ajudar o alcoolista a se manter sóbrio; Frequência às reuniões do grupo; a prática dos Dozes passos... JUNAAB (2001, pp.11-42; 107-118).

Quanto a esses métodos relatados acima, não só durante as entrevistas

como também em seus depoimentos nas reuniões, nossos sujeitos destacaram a

adoção de alguns métodos como esses para alcançarem à sobriedade e mantê-la

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até o presente momento. No início do tratamento os entrevistados Leonel e Ozias

afirmaram sentir dificuldades para deixar de beber, já os senhores Augusto e Joel

nem tanto, vejamos,

Sr. Leonel: Quando no início do tratamento sentia muita compulsão para beber, evitava lugares que bebia diariamente, agora não encontro nenhuma dificuldade na luta por 24 horas. Sr. Ozias: No início sofria perseguição e cobrança da família, queriam logo resultados positivos do tratamento, depois reduzi a minha participação em eventos, festas, evitava ir a lugares que bebia. Atualmente posso dizer que não tenho mais nenhuma dificuldade não. Sr. Augusto: Não tenho nenhuma dificuldade não. Sr. Joel: Quando comecei o tratamento coloquei na minha cabeça que não iria mais beber, por isso dificuldades eu não senti muito não, tento praticar a humildade para me manter sóbrio.

Mesmo com dificuldades ou não, os nossos participantes há anos vêm se

mantendo sóbrio, o mínimo com 14 anos e o máximo em 28 anos de sobriedade. E

para esta conquista também destacam a assiduidade no programa e reuniões do

AA. Segundo eles, permanecem no grupo porque:

Sr. Leonel: Participo até hoje porque primeiramente gosto muito de participar, segundo porque sinto a necessidade de um acompanhamento, me dá equilíbrio emocional, mas também conto com a ajuda da espiritualidade e religião já que sou católico praticante. Sr. Ozias: Por causa do amor e compreensão que encontrei aqui dentro, aqui é minha vida, nasci de novo para viver. Sr. Augusto: Por que pra mim tenho uma nova vida, me sinto muito bem, aqui é minha segunda casa. Sr. Joel: Preciso vir para as reuniões para continuar sóbrio, esse é o tratamento. Também me sinto muito bem com meus companheiros do AA.

Nota-se através dos depoimentos durante as reuniões que os entrevistados

sentem-se muito bem ao continuarem participando do grupo AA. Sabem que é

preciso dar continuidade ao tratamento para que a sobriedade permaneça, caso

contrário correm riscos de voltar a fazer uso de bebidas alcoólicas. Em seus

depoimentos, é nítido o prazer de compartilhar suas experiências, de falarem da

irmandade.

Todos eles gostam de compartilhar principalmente as mudanças ocorridas em

suas vidas após a adesão ao tratamento no AA, pois podemos dizer que a partir do

momento que a pessoa começa seu tratamento e vai conseguindo a sobriedade,

algumas mudanças vão ocorrendo em sua vida e de sua família, mudanças essas

positivas. Dizemos que o indivíduo passa por uma transformação, ou um despertar

espiritual.

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De acordo com Lazo (2008, p.146) “[...] torna-se outra pessoa, quase oposta

àquela que era quando bebiam [...] passa a ser uma pessoa que parece estar em

paz consigo mesma e com o mundo”. Com os nossos sujeitos aconteceu algo

semelhante, já que ambos relataram mudanças positivas, como: aprenderam a se

amar e também se sentem amados pelos familiares e amigos; conquistaram o

respeito das pessoas; sentem-se úteis, importantes, felizes; voltaram às atividades

diárias que perderam ou abandonaram devido ao alcoolismo, ou seja, dizem que

conseguiram “refazer” suas vidas. Aquele sentimento de inutilidade, tristeza,

desprezo quando relatado nos depoimentos durante as reuniões desapareceu. É o

podemos perceber pelas suas falas:

Sr. Leonel: eu era muito irresponsável, viva embriagado, me sentia rejeitado pela sociedade e isso era um motivo a mais para eu beber, após começar a participar do AA fiquei responsável e a me sentir melhor, já que não me encontrava mais embriagado. Sr. Zias: mudou tudo na minha vida, primeiro comecei a ter amor próprio, segundo ser obediente a irmandade, terceiro lugar consegui ter credibilidade, responsabilidade, consegui ter caráter e ser cidadão. Sra. Augusta: mudou muita coisa, consegui ter sossego, ter paz no meu lar, ter uma família unida onde as pessoas se respeitam, sou feliz. Sr. Joel: bem, melhorou muito a minha vida, como já tinha perdido minha família, consegui ficar em paz com meus filhos e formei uma nova família. Sou muito feliz.

Quando perguntamos a respeito do relacionamento dos sujeitos com suas

famílias, o apoio das famílias foi o destaque, pois, relataram que, mesmo com os

problemas que seus familiares tiveram que enfrentar por causa deles quando

bêbados, não desistiram deles. Leonel, Ozias e Augusto destacaram muito tanto nas

entrevistas como em seus depoimentos o apoio dos familiares, principalmente com o

surgimento e agravamento dos problemas devido ao uso do álcool, nunca foram

rejeitados por familiares.

Hoje, afirmam que convivem muito bem com suas respectivas famílias.

Diferente dos outros, o Sr. Joel afirma ter sido abandonado pela sua família porque

bebia muito, mas quando começou a refazer a vida, conheceu uma pessoa que

convive atualmente. Também lamenta a relação com seus filhos do primeiro

casamento e coloca como causa o alcoolismo nota-se isto por sua fala:

Sr. Joel: posso dizer que o meu relacionamento com meus filhos do primeiro casamento é bom, mas a gente não tem aquela intimidade de pai com os filhos, eles me respeitam, mas não temos muito contato não, acho que isso é uma sequela do alcoolismo, não conseguiram esquecer tudo que passaram por causa de mim quando eu bebia descontroladamente.

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Todas as mudanças positivas na vida dos nossos sujeitos foram a partir de

ingressarem no AA, por isso, eles dizem que a irmandade tem muita importância na

suas vidas, pois foi através do programa dos Dozes Passos e dos companheiros do

grupo que conseguiram conquistar a sobriedade e refazerem suas vidas. Nota-se

que são assíduos no grupo não por obrigação (pois não são obrigados a

permanecerem), nem por gratidão, mas porque é neste lugar que se sentem bem,

sentem-se apoiados para a luta por mais 24 horas, pois como já fora citado

anteriormente, o alcoolismo não tem cura.

Vejamos a importância do AA para cada um deles:

Sr. Leonel: É meu tudo, adoro isso aqui, não sei ficar sem participar, pois mesmo quando viajo procuro participar de outros grupos de AA próximo de onde me encontro. Sr. Ozias: Representa tudo na minha vida, como disse nasci de novo. Sr. Augusto: Devido o AA sou outra pessoa de quando eu era quando alcoólatra, hoje sou muito feliz e saudável, respeito muito essa irmandade. Sr. Joel: Há o AA é muito importante pra mim, aqui é melhor que muitos irmãos meus, agradeço muito aos meus companheiros que me ajudaram de todas as maneiras principalmente quando estava desempregado. Aqui consegui construir minha vida novamente.

Quando perguntamos aos entrevistados que importância tem o AA na vida

deles, pode-se perceber o quanto são felizes por participar do grupo; podemos até

dizer que desde a primeira visita, a satisfação de ser membro desta irmandade é

muito notório. Apesar de muitos anos ingressados, não aparentam cansaço ou

desânimo nas reuniões, ao contrário, apresentam-se felizes, animados, confiantes,

entusiasmados a cada encontro que passa.

Durante as observações identificamos todos os quatro como os que mais

compartilham suas experiências e histórias para com os outros membros presentes.

Eles dizem que o programa dos Dozes Passos e Doze Tradições vêm resultando de

forma positiva na vida deles, por isso, dizem que o tratamento do AA é muito bom.

Como percebemos, os sujeitos falam muito bem do tratamento do AA, mas

também queríamos saber qual a visão deles a respeito de outros tipos de

tratamento. Sabemos que atualmente existem inúmeras instituições, locais para o

tratamento e atendimento para os usuários de álcool e outras drogas em nosso

município.

Foi criada uma rede de cuidados para estes usuários, pela Coordenadoria de

Políticas sobre Drogas-CPDrogas, são eles: Centro de Atenção Psicossocial de

Álcool e Outras Drogas (CAPS-AD); comunidades terapêuticas; residências

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terapêuticas; ocas comunitárias; organizações não governamentais; grupos de ajuda

mútua. E, como serviços de apoio: Centro de Referência de Assistência Social -

CRAS; Centro de Referência Especializado em Assistência social - CREAS;

hospitais; leitos para desintoxicação; SAMU; serviços especializados para a

população em situação de rua (consultórios de rua); unidades de saúde etc.

Todos esses serviços trabalham com o mesmo objetivo, que é atender

usuários e dependentes de álcool e outras drogas, com o intuito de prevenção,

tratamento e reinserção social. Ambos entendem que o alcoolismo é uma doença e

que não tem cura, mas a respeito de tipos de tratamento e políticas de saúde a

opinião difere um pouco.

Algumas instituições, casas de recuperação, grupos de autoajuda e ONGs

visam somente o parar de beber do usuário, já as instituições do SUS, como os

CAPS-AD, não visam só o parar de consumir a drogas, mas também acreditam que

através da política de redução de danos, é possível sim chegar ao principal, que é a

abstinência. Mas, afinal, o que representa a política de redução de danos?

Mediante o Art. 196 da Constituição de 1988, “A saúde é direito de todos e

dever do Estado, garantindo mediante políticas sociais e econômicas, que visem à

redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário,

às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”. Sendo assim,

como forma de reduzir riscos a doenças e agravos de usuários e dependentes de

álcool e outras drogas, foi criado em 22 de maio de 2007, pelo governo federal:

A Política Nacional sobre Álcool contém princípios fundamentais à sustentação de estratégias para o enfrentamento coletivo dos problemas relacionados ao consumo de álcool, contemplando a intersetorialidade e a integralidade de ações para a redução dos danos sociais, à saúde e à vida, causados pelo consumo desta substância, bem como as situações de violência e criminalidade associadas ao uso prejudicial de bebidas alcoólicas na população brasileira. LIMA (2008, p.190-191).

A Política de Redução de Danos (PRD) é uma das ações e estratégias para

redução de quaisquer danos, como contempla a Política Nacional sobre Álcool. Tem

como objetivo, prevenir doenças e reduzir riscos e danos que os usuários e

dependentes de qualquer droga correm por causa do uso indevido, ou seja,

podemos considerá-la como uma estratégia de saúde. Podemos citar exemplos

como estes; o compartilhamento de instrumentos, como seringas, para uso das

drogas injetáveis, entre usuários e dependentes, no qual correm riscos de

adquirirem doenças sexualmente transmissíveis.

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Também trabalha-se com os usuários a redução da quantidade de drogas

usadas e/ou a troca por drogas menos ofensivas. Dessa forma os profissionais de

saúde apoiados por essa política podem orientar os mesmos a tomar medidas

preventivas sem que o usuário deixe de usar, afinal todos têm o direito à liberdade

de escolha, ninguém pode forçá-los a parar de usar drogas.

Pois um dos princípios desta mesma Lei como consta no Art. 4°, inciso I, é “o

respeito aos direitos fundamentais da pessoa humana, especialmente quanto a sua

autonomia e à sua liberdade”. Isto não quer dizer que as instituições de saúde do

Sistema Único de Saúde - SUS não trabalham para os usuários e/ou dependentes

deixarem de usar tais drogas, pelo contrário trabalham sim, mas enquanto essas

pessoas não conseguem deixar, não param de usar, toma-se medidas preventivas

como essa que é a Política de Redução de Danos. Afina quando tratamos da saúde

das pessoas cada uma tem seus limites e particularidades.

Lazo (2008) é algum dos que criticam esta política, pois segundo o mesmo “o

profissional de saúde mental tenta treinar seu paciente alcoólatra a voltar a beber de

maneira “controlada”. Afinal, presume-se que o paciente está ali porque não

consegue controlar a bebida, isto é, já criou uma dependência...”. Lazo (2008,

p.139). Por isso ,acredita que não tem como o alcoolista aprender a controlar seu

consumo e também julga por se tratar de um problema de saúde, o próprio SUS tem

o dever de trabalhar para a abstinência e não redução como é essa política, esta é a

visão do autor.

Pensamento esse totalmente contrário do que é a política, pois segundo

Ministério da Saúde Redução de Danos é “[...] uma estratégia de saúde pública que

visa reduzir os danos causados pelo abuso de drogas lícitas e ilícitas, resgatando o

usuário... sem a preconização imediata da abstinência [...]” (BRASIL, 2004b, p. 25).

Ou seja, a abstinência em si, o parar de beber, não pode ser o único objetivo, até

porque o uso das drogas acarreta inúmeras doenças e problemas como já

discutimos neste capítulo.

Por isso, acreditamos ser importante e necessário trabalhar não só a

abstinência como também a redução de danos e riscos de doenças, afinal não são

muitas as pessoas que conseguem se recuperar e acabam morrendo em

consequência do uso de drogas. Desta forma, não podemos ver ou compreender

esta política como “treinamento” para o usuário controlar seu uso como Lazo (2008)

pensa, ou até mesmo como incentivo para os mesmos continuarem usando, mas

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sim como um meio de prevenir doenças e reduzir danos, pois como já falamos deve-

se respeitar a autonomia e liberdade destes.

Sabemos que o programa de recuperação dos Alcoólicos Anônimos é de total

abstinência, pois não acreditam que a pessoa controle a quantidade de álcool a ser

ingerida. Os membros tentam evitar o primeiro gole, totalmente contrário da política

de redução de danos, que como já falamos não visa unicamente a abstinência.

Em relação ao posicionamento dos entrevistados sobre outros tipos de

tratamento, podemos perceber através de suas falas que ficou dividido as opiniões,

pois os senhores Leonel e Augusto acham que todo tratamento é válido, porque é

algo que depende muito do sujeito.

Um idoso já informou não conhecer tais tratamentos, por isso não falou a

respeito, mas destacou a irmandade do AA como melhor local e por último o Sr. Joel

fez observações quanto à seriedade dos tratamentos, já que por experiência própria

de ter trabalhado em uma casa de recuperação para dependentes, percebeu que

muitas vezes os governos contribuem financeiramente, mas não fiscalizam como

estas pessoas estão trabalhando; vejamos:

Sr. Leonel: qualquer tipo de tratamento para dependentes de álcool ou outras drogas é muito importante, é muito útil. Sr. Ozias: não acho todas as instituições sérias não, já visitei algumas casas de recuperação para prestar ajuda e vi que não era séria. É preciso que a saúde tenha mais atenção com essas instituições de tratamento, parece que elas não são visitadas pelos órgãos competentes, gente de saúde. Sr. Augusto: acho que tudo depende de cada pessoa, de cada um de nós, por isso acho que todo tratamento é válido. Sr. Joel: dos outros eu não posso falar porque não conheço, mas acredito que o melhor tratamento que existe é no AA, não existe lugar melhor que este.

Podemos dizer que os participantes não demonstram ter muito conhecimento

a respeito de outros tratamentos, pois dois deles disseram apenas que qualquer

tratamento é válido; um senhor fala a respeito das casas de internação e outro

mesmo diz não poder falar, porque não conhecer. Referente a políticas para

usuários de álcool, os resultados do II Lenad apontaram que a maioria dos jovens e

adultos entrevistados disse ser a favor de tratamentos gratuitos em instituições de

saúde e também que deveria ocorrer mais fiscalização quanto à venda de bebidas

alcoólicas para menores de 18 anos de idade. E que também as propagandas sobre

tratamento de alcoolismo deveriam existir mais.

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Quanto a políticas e programas para usuários de álcool, podemos dizer que

desde 2007 o Brasil vem criando formas e meios para atenção e prevenção dos

problemas relacionados ao álcool. Neste mesmo ano, em 22 de Maio, foi aprovado a

Política Nacional sobre Álcool, Lei de n° 6.117. A mesma dispõe de medidas para

redução do uso indevido de álcool e sua associação com violência e criminalidade, e

dá outras providências. Segundo Lima (2008, p.187) “Este [...] decreto-lei abre

espaço para ações e estratégias mais efetivas e abrangentes de atenção e de

prevenção dos problemas relacionados ao uso e abuso de álcool”.

Outra lei que veio contribuir para redução de danos devido ao álcool foi a Lei

de n° 11.705, de 28 de junho de 2008. Com a sua aprovação, houve modificações

no código de trânsito, estabelecendo assim a alcoolemia zero e ao mesmo tempo

punições mais severas para os condutores que dirigirem sob influencia de álcool,

entre outras providências.

Segundo Lima (2008, p. 172), dentre os inúmeros acidentes de tráfego

ocorrentes em nosso país, “o álcool está envolvido de modo preponderante [...]

sendo que nos casos fatais, 70% estão relacionados ao uso/abuso de bebidas”. Ou

seja, problemas estes trazem danos não só ao alcoolista como também põem em

risco a vida de outras pessoas, problemas sociais, acarretando assim muitas vezes

gastos financeiros para o Brasil.

Existem ainda outras leis e políticas para os usuários de álcool, mas que não

serão discutidas nesta pesquisa. Quando perguntamos aos nossos participantes se

conheciam alguma lei, política e/ou programa para usuários de álcool, percebemos

total desconhecimento por parte deles, pois todos disseram não conhecer e nem

ouvir falar a respeito e isto pode ser justificado porque a irmandade não tem ligação

com outras instituições e nem com profissionais de diversas áreas como a saúde.

E principalmente pela falta de publicização dessas políticas, leis e programas.

É preciso que tais ações sejam mais trabalhadas e divulgadas dentro da sociedade

e não apenas nas instituições públicas para tratamento de álcool e outras drogas,

mas sim todas as instituições do SUS.

Sr. Leonel: não, nunca ouvi falar. Sr. Ozias: não conheço muito não. Sr. Augusto: desconheço essas leis e políticas. Sr. Joe: não conheço nenhuma não.

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Agora, em relação à Lei Seca, percebemos um pouco de conhecimento por

parte deles, vejamos,

Sr. Leonel: sim, já escutei falar. O que posso dizer é que ela com certeza evita alguma coisa, tipo acidentes de trânsito quando alguém é punido por dirigir embriagado. Sr. Ozias: já ouvi falar, mas não conheço. O que posso dizer é que creio que esta lei evite algum acidente, sou de acordo. Sr. Augusto: só escuto os outros falar, acho que esta lei deve contribuir pouca coisa. Sr. Joel: não, só sei sobre as multas que acontece se a pessoa dirigir bêbado, e a minha opinião sobre isso eu acho que essa lei seja boa.

Finalizamos a entrevista com a pergunta como os sujeitos se avaliam no

momento. Através de suas respostas pudemos concluir que hoje se consideram

pessoas melhores do que quando bebiam e muito felizes. Acreditam que vencer o

alcoolismo é possível, basta só querer. Disseram que a sobriedade não foi

conquistada de um dia para o outro, todos passaram e passam por um grande

processo que no decorrer dos tempos os faz aprender cada vez mais, a mantê-la.

Além de lutarem contra o alcoolismo, também lutam para serem seres humanos

renovados, já que também transformam seus estados de espírito. Eles acreditam em

um Deus maior, por isso o tratamento da irmandade é em cima da fé e da

espiritualidade.

Vejamos através de depoimentos como eles se veem agora,

Sr. Leonel: [...] sempre acreditei muito no poder da oração. Hoje me sinto bem, sou uma pessoa equilibrada, responsável, sinto-me um cidadão, participo de movimentos e sindicatos. Sou uma pessoa muito feliz e agradeço a Deus pela minha sobriedade. Sr. Ozias: me sinto uma pessoa realizada, feliz, consegui reconstruir minha identidade, meu papel de cidadão. Srª Augusta: me sinto bem, sou uma pessoa mais tranqüila graças a Deus. Sr. Joel: me sinto muito bem, me sinto maravilhoso, me sinto até um garoto. Hoje, sempre entrego tudo na mão de Deus, procuro viver um dia de cada vez.

Reconhecem que todo esforço vale a pena e é esta felicidade e a condição de

como se encontram hoje que dão mais motivos de continuarem abstêmios por

muitos e muitos dias, pois lembram-se de como eram quando bebiam e de como são

agora sóbrios.

Com a discussão de todas estas questões, conseguimos conquistar os

objetivos da pesquisa; pois conhecemos os sujeitos e o histórico de uso de álcool e

tratamento. Pudemos identificar também as mudanças ocorridas em suas vidas após

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ingressarem no AA e qual a visão deles a respeito do alcoolismo. Também

conhecemos um pouco da história do AA e qual é o seu modelo terapêutico.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Notamos que o envelhecimento populacional brasileiro ocorre de forma

acelerada, resultando muitas vezes em implicações e problemas sociais, políticos,

econômicos e de saúde, já que o país ainda não se encontra totalmente preparado

para tal fenômeno. Relacionado aos problemas de saúde entre os idosos,

destacamos o alcoolismo, pois é uma doença que quando não adquirida na velhice

pode ser agravada, acarretando assim muitas conseqüências, já que se trata de

uma doença incurável e progressiva, segundo a OMS. O uso abusivo de álcool por

parte dos idosos é um problema de grande complexidade, devido resultar em muitas

implicações, principalmente de saúde.

A presente pesquisa teve como objetivo conhecer e compreender a história

de uso de álcool e tratamento dos idosos no grupo de Alcoólicos Anônimos,

caracterizado como tratamento comunitário e que tem como maior influência a

espiritualidade, diferindo assim de outras formas de tratamento como, por exemplo,

medicamentoso, terapêutico.

Identificamos que os membros do AA entendem o alcoolismo como uma

doença progressiva e incurável e não como um desvio e/ou falta de caráter e moral

como uma parte da população interpreta. Esse entendimento deve-se aos estudos

de literatura da irmandade que são trabalhados no decorrer das reuniões,

seminários e conferências existentes.

O uso de álcool por parte das pessoas entrevistadas começou antes mesmo

dos 20 anos de idade, quando ainda eram jovens. Diferente de algumas pessoas

que começam a beber álcool devido a problemas, nossos idosos iniciaram por mera

curiosidade e até diversão, pois se sentiam bem quando bebiam. Como já fora

discutido no decorrer deste trabalho, o álcool desde muitos anos faz parte da cultura

de muitos países, inclusive o Brasil, por isso, é muito comum a presença de bebidas

alcoólicas em festas, encontros com amigos etc.

Podemos dizer que o uso de álcool em nosso país é estimulado

principalmente pelas propagandas comerciais, propagandas que sempre passam

uma imagem de pessoas reunidas e felizes, contribuindo para o aumento do

consumo entre os indivíduos.

Percebemos que o histórico de uso de bebidas alcoólicas dos nossos sujeitos

é muito semelhante, pois ambos começaram a fazer uso de álcool socialmente e no

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decorrer dos anos a frequência de uso foi aumentando e o hábito que era prazeroso

e eventual tornou-se uma necessidade, pois quando perceberam já se encontravam

dependentes de bebidas alcoólicas e ou fazendo uso abusivo delas.

Observou-se também que a busca por tratamento e inserção no grupo de AA

pelos idosos entrevistados ocorreu devido às inúmeras complicações e problemas

relacionados ao uso do álcool, problemas pessoais, financeiros, psicológicos,

familiares, sociais, que interferiam gravemente em suas vidas, na vida de seus

familiares e também na sociedade, impossibilitando-os de levarem suas vidas

comumente.

Como muitas pessoas, os entrevistados demoraram a perceber que faziam o

uso abusivo do álcool e consequentemente a procura por tratamento também, pois

enquanto o indivíduo não admitir e/ou reconhecer que faz uso abusivo de álcool,

dificilmente procurará por tratamento. Infelizmente isso às vezes ocorre porque o

álcool não é visto como uma droga ofensiva por parte da sociedade e a maioria da

população entende por droga somente substâncias psicoativas ilícitas no nosso

país.

Todos os idosos ingressaram no grupo AA com o objetivo em comum que era

parar de beber, buscavam a sobriedade. A irmandade dos Alcoólicos Anônimos é

um dos grupos de autoajuda mais antigos e conhecidos que existe para tratamento

do alcoolismo. Um grupo onde pessoas com objetivos e problemas em comum

ajudam-se mutuamente no tratamento do alcoolismo e outras drogas, já que

atualmente os AA também acolhem pessoas dependentes de drogas além do álcool.

Durante as reuniões, os integrantes compartilham suas experiências para com os

outros membros, trabalham a literatura da irmandade como, por exemplo, o

programa dos Dozes Passos, Doze Tradições.

Os resultados da pesquisa também mostram que o grupo de AA é de grande

importância na vida deles, já que é através do programa de recuperação da

irmandade que conquistaram a sobriedade e a vêm mantendo-a até o momento,

pois todos os entrevistados encontram-se abstinentes por muitos anos. Os

alcoolistas têm o AA como um alicerce, um apoio para a luta diária contra o primeiro

gole. Notou-se também que este grupo de autoajuda contribui de forma significativa

para a recuperação destes sujeitos, pois no decorrer do tratamento conseguiram

reconstruir suas vidas, suas identidades, se reintegrarem socialmente.

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Segundo os entrevistados, as mudanças na vida deles, após ingressarem na

irmandade, foram positivas, pois hoje se identificam como seres humanos totalmente

diferentes de quando bebiam, são pessoas muito felizes, vivem em paz consigo

mesmo e com os outros. O programa dos Doze Passos proporcionou-lhes uma

recuperação pessoal e/ou espiritual. Além do grupo, destacamos também o apoio

dos familiares que ajudaram seus alcoolistas a conquistarem a sobriedade,

compreendendo-os e apoiando-os, pois geralmente entre as perdas que pessoas

com problemas de alcoolismo têm é na família que muitas vezes são abandonados

e/ou desprezados.

Todos nossos idosos afirmaram que só tiveram resultados significativos

quando da adesão ao programa do AA, mas isto não quer dizer que aconteça a

mesma coisa com todas as pessoas que ingressam e aderem ao tratamento, pois

cada indivíduo tem suas limitações e particularidades.

Mesmos com muitos anos de participação no AA e abstinência, os idosos

ressaltam a importância e a necessidade de continuarem assíduos ao tratamento

para se manterem sóbrios, pois são sabedores que o alcoolismo não tem cura e que

correm o risco de recaídas. A participação contínua deles também contribui para o

tratamento de outros alcoolistas, através da troca de experiências. Eles alegam se

sentirem úteis quando ajudam outros membros frente aos problemas do alcoolismo.

O alcoolismo é entendido mais como problema de saúde mental, por está

incluído no capítulo de transtornos mentais e comportamentais do CID 10. Mas,

sabemos que esta doença é responsabilidade de todos os níveis de saúde pública.

Precisamos compreender que o alcoolismo também é problema de outras áreas

como: justiça, educação, sociedade etc.

No Brasil, há poucos anos, vem-se criando e elaborando algumas ações

contra esta problemática, podemos citar como exemplo a criação de políticas

públicas, programas e estratégias para os usuários de álcool, mas infelizmente são

desconhecidos por uma parte da sociedade. É preciso que tais ações sejam mais

divulgadas e trabalhadas para com a sociedade, proporcionando-lhes prevenção,

tratamento, reinserção social e qualidade de vida.

Além de políticas, programas e estratégias que ainda não são muito

exploradas, trabalhadas, citamos também a existência de vários serviços ofertados

para tratamento do alcoolismo, desde privados até os oferecidos pelo SUS. Mesmo

não sendo problema exclusivo de saúde mental, percebemos que o SUS tem maior

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ênfase nos CAPS-AD, pois é uma instituição de natureza pública, regido pela

legislação e modelo de saúde mental.

Como faz parte de todos os níveis, a saúde precisa preparar e capacitar mais

os diversos profissionais de saúde, para que assim o alcoolismo e os problemas

decorrentes dele sejam diagnosticados de forma mais eficaz, desde a atenção

básica até a atenção terciária. Caso contrário, inúmeros casos passarão

despercebidos, podendo se agravar e acarretar mais doenças, principalmente

quando idosos.

Para ocorrer isto é muito importante o fortalecimento das redes de apoio aos

usuários de substâncias psicoativas, para assim se obter resultados mais

significativos de recuperação e reinserção social. Afinal, um serviço não existe em

detrimento de outro. É preciso a união e cooperação de todos. Podemos até pensar

que algum dos motivos pelos quais as pessoas procuram mais por grupos de

autoajuda e instituições não governamentais para tratamento do que instituições do

SUS, seja pela pouca ou falta total de conhecimento das redes de apoio. Pois,

ofertar serviços para tratamento do alcoolismo e outras drogas e ampliar as redes de

apoio são algumas das obrigações do Estado.

Percebe-se que, mesmo com diversas formas de tratamento, o AA como rede

de apoio aos usuários de álcool ainda é de grande contribuição para o

enfrentamento do alcoolismo. Mas, não podemos deixar de destacar o quão é

importante e necessária a criação de mais políticas públicas, programas e

estratégias para usuários de álcool e fortalecimento das já existentes,

proporcionando atividades de prevenção, tratamento, reinserção social e qualidade

de vida.

Reconhecemos que no decorrer dos anos o Ministério da Saúde vem

tentando fortalecer e estruturar os serviços de atenção a estes usuários, como, por

exemplo, a criação da portaria GM/816 (30/4/2002), que instituiu o Programa

Nacional de Atenção Comunitária Integrada a Usuários de Álcool e outras Drogas,

Lei de n° 6.117, de 22 de maio 2007, mas ainda é preciso maior intensificação para

que assim os resultados sejam significativos. É importante não só a criação de leis e

programas, mas também a execução, a prática.

Podemos dizer que os objetivos da pesquisa foram alcançados, pois

conseguimos conhecer e compreender o uso de álcool e tratamento na vida dos

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entrevistados. Identificamos qual a visão deles a respeito do alcoolismo e, por

último, compreendemos como o AA serviu de apoio para o seu tratamento.

A presente pesquisa à medida que descreve o histórico de uso de álcool e

tratamento do alcoolismo dos sujeitos também instiga a uma possível pesquisa uma

reflexão a respeito do fortalecimento das redes de apoio do SUS dos consumidores

de álcool. Também a questão da elaboração de mais políticas e programas, pois,

assim, o país poderá responder às questões relacionadas ao consumo de bebidas

alcoólicas.

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SOARES, Claudia; CAMPOS, Fagner Alfredo Ardisson Cirino. Efeitos negativos do álcool sobre o feto e o idoso. Psicologia e Ciclo Vital. Disponível em: http://www.pt.sribd.com/. Publicado por: Jaspedwardofking em 15 de março de 2010. SCHWARTZ, M. & Schwartz, C. G. Problems in participant observation. American Journal of Sociology, 60 (Jan) , pp.343-53, 1955. VERAS, R. P. Envelhecimento populacional contemporâneo: demandas, desafios e inovações. Rev Saúde Pública 2009; 43(3): 548-54. __________ et al. Crescimento da população idosa no Brasil: transformações e conseqüências na sociedade. Rev. Saúde pública. S. Paulo, 21 : 225-33, 1987. __________ Terceira idade: um envelhecimento digno para o cidadão do futuro. Rio de Janeiro Ed. Relume Dumará, 1995. __________ A longevidade da população: desafios e conquistas. Revista Serviço Social & Saúde, n°75, ano XXIV, 2003. VIEIRA, Eliane Brandão. Manual de gerontologia: um guia teórico-prático para profissionais, cuidadores e familiares. 2ª ed. Rio de Janeiro, Revinter, 2004.

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APÊNDICE A

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Convidamos o (a) Sr (a) para participar da Pesquisa “Idosos alcoolistas

assíduos no grupo dos Alcoólicos Anônimos (AA)”, desenvolvida por Ana Kelly de

Araújo Lima, estudante do curso de Serviço Social da faculdade Cearense – FAC.

Caracteriza-se como Trabalho de Conclusão de Curso - TCC, para obtenção de

título de Bacharel em Serviço Social, sob a orientação da Professora Verbena

Sandy, apresenta como objetivo principal analisar e compreender a vida dos idosos

alcoolistas em recuperação e/ou idosos sóbrios do grupo AA.

Nesse sentido para que possamos concretizar nosso objetivo, contamos com

sua participação e contribuição. Sua participação é voluntária e se dará por meio da

cooperação com a observação do seu cotidiano no grupo AA, no qual pretendemos

conhecer e analisar a vida dos idosos assíduos no grupo AA. Realizaremos a

observação das ações por tempo indeterminado e de acordo com a sua

disponibilidade. É importante destacar que sua colaboração será muito importante

para a realização deste estudo e que não lhe trará malefício. Sua identidade será

mantida em sigilo e a preservação do anonimato ocorrerá por meio da utilização de

codinomes.

Não há riscos decorrentes da sua participação e o Sr (a) possui a liberdade

de retirar sua permissão a qualquer momento, seja antes ou depois da coleta dos

dados, independente do motivo e sem nenhum prejuízo a sua pessoa, nem a sua

participação no grupo. Se o (a) Sr (a) aceitar participar, estará contribuindo para o

aprofundamento de estudos relacionados à temática.

Esclarecemos que não há despesas pessoais para o (a) participante em

qualquer fase de estudo. Também não há compensação financeira relacionada à

sua participação. Os resultados da pesquisa serão analisados e publicados, mas sua

identidade não será divulgada, sendo guardada em sigilo.

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Em qualquer etapa do estudo, caso julgue necessário, poderá contatar com a

pesquisadora Ana Kelly de Araújo Lima pelo fone: (85) 98404642. E qualquer dúvida

a respeito da ética da pesquisa também pode entrar em contato com a Faculdade

Cearense, contato: (85) 3201 7000, localizado na avenida João pessoa, 3884, bairro

Damas, Fortaleza/CE.

Consentimento pós-informação

Eu __________________________________________________ fui informado

sobre o que o pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboração e

entendi a explicação. Por isso, eu concordo em participar da entrevista, desde que

seja resguardado meu anonimato.

Fortaleza, _____ de_____________________ de 2014.

_________________________________________

Assinatura do participante

_________________________________________

Assinatura do pesquisador responsável

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APÊNDICE B

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

(ENTREVISTA)

Convidamos o (a) Sr (a) para participar da Pesquisa “Idosos alcoolistas

assíduos no grupo dos Alcoólicos Anônimos (AA).”, desenvolvida por Ana Kelly de

Araújo Lima, estudante do curso de Serviço Social da faculdade Cearense - FAC,

caracteriza-se como Trabalho de Conclusão de Curso - TCC, para obtenção de título

de Bacharel em Serviço Social, sob a orientação da Professora Verbena Sandy,

apresenta como objetivo principal analisar e compreender a vida dos idosos

alcoolistas em recuperação e/ou idosos sóbrios do grupo AA.

Nesse sentido para que possamos concretizar nosso objetivo, contamos com

sua participação e contribuição. Sua participação é voluntária e se dará por meio de

entrevista, que consiste em respostas a perguntas apresentadas ao Sr (a) pela

pesquisadora. A entrevista será realizada no local das reuniões do grupo AA em

Fortaleza, Ceará, com duração aproximada de 40 minutos e de acordo com a sua

disponibilidade. Os depoimentos desta entrevista só serão gravados com o seu

consentimento. É importante destacar que sua colaboração será muito importante

para a realização deste estudo e que não lhe trará malefício. Sua identidade será

mantida em sigilo e a preservação do anonimato ocorrerá por meio da utilização de

codinomes.

Não há riscos decorrentes da sua participação e o Sr (a) possui a liberdade

de retirar sua permissão a qualquer momento, seja antes ou depois da coleta dos

dados, independente do motivo e sem nenhum prejuízo a sua pessoa e nem a sua

participação no grupo. Se o (a) Sr (a) aceitar participar, estará contribuindo para o

aprofundamento de estudos relacionados a temática.

Esclarecemos que não há despesas pessoais para o (a) participante em

qualquer fase de estudo. Também não há compensação financeira relacionada à

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sua participação. Os resultados da pesquisa serão analisados e publicados, mas sua

identidade não será divulgada, sendo guardada em sigilo.

Em qualquer etapa do estudo, caso julgue necessário, poderá contatar com a

pesquisadora Ana Kelly de Araújo Lima, pelo fone: (85) 98404642. E qualquer

dúvida a respeito da ética da pesquisa também pode entrar em contato com a

Faculdade Cearense, contato: (85) 3201 7000, localizado na Avenida João pessoa,

3884, bairro damas, Fortaleza/Ce.

Consentimento Pós-Informação

Eu _____________________________________________________, fui informado

sobre o que o pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboração, e

entendi a explicação. Por isso, eu concordo em participar da entrevista, desde que

seja resguardado meu anonimato.

Fortaleza, _____ de_____________________ de 2014.

_________________________________________

Assinatura do Participante

_________________________________________

Assinatura do Pesquisador Responsável

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APÊNDICE C

ROTEIRO DE ENTREVISTA

1. Entrevistado?

2. Sexo?

3. Idade?

4 Escolaridade?

5 Situação conjugal?

6. Religião?

7. Naturalidade?

8. Ocupação?

9. Idade que começou a ingerir álcool?

10. Com que frequência ingeria álcool?

11. Quando percebeu que fazia uso abusivo de bebidas alcoólicas?

12. Usou outras drogas além do álcool?

13. Antes de ingressar no AA conheceu e/ou buscou algum tipo de tratamento?

14. Como conheceu a irmandade dos Alcoólicos Anônimos?

15. Quais motivos levaram você aderir o tratamento?

16. Mudava de comportamento quando bebia?

17.Quanto tempo participa do AA e com que freqüência participa das reuniões?

18.Quais desafios e/ou dificuldades você encontrou e/ou ainda encontra pela luta

por 24horas?

19. Você é abstêmio ou ainda faz uso de álcool?

20. Por que participa do grupo até o presente momento?

21. Que mudanças ocorreram em sua vida após ingressar no AA?

22. Como é o relacionamento entre você e seus familiares?

23. O que o AA representa em sua vida?

24. Qual sua visão em relação aos outros tipos de tratamento?

25. Tem algum conhecimento a respeito de leis, programas e/ou políticas para

usuários de álcool? E da Lei Seca?

26. Como você se avalia agora?

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ANEXO I

OS DOZE PASSOS

1° passo “Admitimos que éramos impotentes perante o álcool - que tínhamos

perdido o domínio sobre nossas vidas”.

2° passo “Viemos a acreditar que um poder superior a nós mesmos poderia

devolver-nos a sanidade”.

3° passo “Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de Deus, na

forma em que o concebíamos”.

4° passo “Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos”.

5° passo “Admitimos perante Deus, perante nós mesmos e perante outro ser

humano, a natureza exata de nossas falhas”.

6° passo “Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses

defeitos de caráter”.

7° passo “Humildemente rogamos a ele que nos livrasse de nossas imperfeições”.

8° passo “Fizemos uma relação de todas as pessoas que tínhamos prejudicado e

nos dispusemos a reparar os danos a elas causados”.

9° passo “Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre

que possível, salvo quando fazê-las significasse prejudicá-las ou a outrem”.

10° passo “Continuamos fazendo o inventário pessoal e, quando estávamos errados,

nós o admitíamos prontamente”.

11° passo “Procuramos através da prece e da meditação melhorar nosso contato

consciente com Deus, na forma em que concebíamos, rogando apenas o

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conhecimento de sua vontade em relação a nós e forças para realizar essa

vontade”.

12° passo “Tendo experimentado um despertar espiritual, graças a esses passos,

procuramos transmitir esta mensagem aos alcoólicos e praticar estes princípios em

todas as nossas atividades.” (JUNAAB, 1995, pp. 3-6).

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ANEXO II

AS DOZE TRADIÇÕES

1° Tradição “Nosso bem-estar comum deve estar em primeiro lugar; a reabilitação

individual depende da unidade de AA”.

2° Tradição “Somente uma autoridade preside, em última análise, ao nosso

propósito comum - um Deus amantíssimo que se manifesta em nossa consciência

coletiva. Nossos líderes são apenas servidores de confiança; não têm poderes para

governar”.

3° Tradição “Para ser membro de AA, o único requisito é o desejo de parar de

beber”.

4° Tradição “Cada grupo deve ser autônomo, salvo em assuntos que digam respeito

a outros grupos ou a AA em seu conjunto”.

5° Tradição “Cada grupo é animado de um único propósito primordial - o de

transmitir sua mensagem ao alcoólico que ainda sofre”.

6° Tradição “Nenhum grupo de AA deverá jamais sancionar, financiar ou emprestar

o nome de AA a qualquer sociedade parecida ou empreendimento alheio à

irmandade, a fim de qualquer problemas de dinheiro, propriedade e prestígio não

nos afastemos do nosso objetivo primordial”.

7° Tradição “Todos os grupos de AA deverão ser absolutamente auto-suficientes,

rejeitando quaisquer doações de fora”.

8° Tradição “Alcoólicos Anônimos deverá manter-se sempre não profissional,

embora nossos centros de serviços possam contratar funcionários especializados”.

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9° Tradição “AA jamais deverá organizar-se como tal; podemos, porém criar juntas

ou comitês de serviços diretamente responsáveis perante aqueles a quem prestam

serviços”.

10° Tradição “Alcoólicos Anônimos não opina sobre questões alheias à irmandade;

por tanto, o nome de AA jamais deverá aparecer em controvérsias públicas”.

11° Tradição “Nossas relações com o público baseiam-se na atração em vez da

promoção; cabe-nos sempre preservar o anonimato pessoal na imprensa, no rádio e

em filmes”.

12° Passo “O anonimato é o alicerce espiritual das nossas tradições, lembrando-nos

sempre da necessidade de colocar os princípios acima das personalidades”.

(JUNAAB, 1995, p.7-10).