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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARA
FACULDADE CEARENSE
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
EMILY CRISTINY SALES BENEVIDES
PROJETO SAÚDE, BOMBEIRO E SOCIEDADE: UMA ANÁLISE DA
CONVIVÊNCIA EM GRUPO E QUALIDADE DE VIDA DO IDOSO DO
PROJETO NO BAIRRO VILA PERY
FORTALEZA
2014
EMILY CRISTINY SALES BENEVIDES
PROJETO SAÚDE, BOMBEIRO E SOCIEDADE: UMA ANÁLISE DA
CONVIVÊNCIA EM GRUPO E QUALIDADE DE VIDA DO IDOSO DO
PROJETO NO BAIRRO VILA PERY.
Monografia submetida à aprovação pela Coordenação do curso de Serviço Social da Faculdade Cearense - FAC, como requisito parcial para obtenção do grau de graduação.Orientadora: Esp. Wallinda Gomes Frota
EMILY CRISTINY SALES BENEVIDES
PROJETO SAÚDE, BOMBEIRO E SOCIEDADE: UMA ANÁLISE DA
CONVIVÊNCIA EM GRUPO E QUALIDADE DE VIDA DO IDOSO DO
PROJETO NO BAIRRO VILA PERY.
Monografia como pré-requisito para obtenção de título de bacharelado de Serviço Social, outorgado pela Faculdade Cearense – FAC, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelos professores.
Data de aprovação: ___/___/___
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________Professora: Esp. Wallinda Gomes Frota (Orientadora)
___________________________________________ Professora: Esp. Cleidiana Moreira Firmino Sales
___________________________________________ Professor. Ms. Walter Barbosa Lacerda Filho
Dedico este trabalho aos meus pais, que foram como alicerces em minha vida, com sua força, amor, dedicação me deram apoio e incentivo para continuar nesta batalha.
AGRADECIMENTOS
Quero agradecer primeiramente a Deus, pois, diariamente, principalmente nesta última fase, pedi que ele me desse força e sabedoria para vencer e concluir esta minha monografia, em que sabemos que é um período que requer bastante concentração, leitura e perseverança. Então pedi que ele me concedesse essa graça e assim ele se fez presente me dando dia após dia mais garra, vontade de vitória e de lutar pelo meu proposito.
Aos meus pais, pessoas guerreiras, batalhadoras, que sempre se esforçaram ao máximo para me proporcionar grandes conquistas, e esta graduação vai ser a primeira de muitas, foram vocês, meus amores, que me formaram, formaram esta mulher que sou hoje em dia, me deram muito amor, carinho, atenção, cuidado, como também muito conselhos e carões quando necessário, nunca passando a mão em minha cabeça, me ensinaram a viver, respeitando, tendo princípios, personalidade, sendo uma pessoa integra. Ensinaram-me que nada é fácil e só conseguimos com bastante esforço. Eu os amo imensamente, a vocês eu daria a minha vida, muito obrigada, agradeço todos os dias a Deus por vocês por estarem aqui comigo. E que em todos os momentos vocês foram meu alicerce, me incentivaram em todos os momentos, e sei que vão estar comigo sempre, amo vocês.
À minha família, meus tios e tias, primos e primas, a todos vocês, em especial, aos que considero como primos-irmãos, vocês que sempre me acompanharam e de alguma forma queriam contribuir com a minha felicidade.
Ao esperto Tiago, que sempre me impulsionou a querer conquista maiores, com seus conselhos, ou melhor, palavras bem colocadas (carões), mas que, de alguma forma, mesmo não gostando tanto, e no momento em que precisei, foram absorvidos, sendo utilizados como degraus. A você, namorado doido, tenho a agradecer grandes coisas.
Sra. Raimunda que foi uma peça fundamental nesta pesquisa, a ela também o meu profundo agradecimento.
Aos meus amigos, por estarem sempre comigo em todos os momentos, não vou prolongar muito, nem citar nomes, porém só tenho a agradecer por todos, pois tivemos momentos inesquecíveis, e claro uns que nem de brincadeira merecem ser lembrados. Mesmo que muitos, a princípio me achassem chata, como sempre digo, não julgue o livro pela capa, todos vão lembrar de mim como uma grande amiga.
À minha querida eterna supervisora Grecya, essa pessoa e profissional magnífica, que me proporcionou o melhor estágio de campo, me recepcionou muito bem, ficamos um ano e meio juntas, nas batalhas daquele hospital, todos os finais de semana, nos momentos difíceis, quando não sabia o que fazer, você vinha com sua calma e me mostrava o caminho de
como fazer. Suas experiências, atitudes, trejeitos, que vou levar para minha vida profissional, pois sua postura e garra são exemplo, muito obrigada por todo o aprendizado e será uma amiga que levarei por toda a vida.
Wallinda, seu nome já diz tudo, linda de caráter, personalidade, enfim de corpo e alma, é uma profissional incrível, simples, uma assistente social supercompetente. Muito obrigada por aceitar meu convite, algo de surpresa, mais que você com toda sua experiência disse que me ajudaria no que fosse preciso, você foi uma luz no meu caminho, que não poderia ter vindo em momento melhor.
À minha banca examinadora, Wallinda Gomes (orientadora), professora Cleidiana Moreira e professor Walter Barbosa, queria agradecer imensamente pela gentileza em aceitar o meu convite, para esse momento tão especial na minha vida, vocês me proporcionaram grandes conhecimentos, experiências e conquistas para meu crescimento profissional, me incentivaram e contribuirão para a concretização deste trabalho.
RESUMO
Este trabalho apresenta um estudo realizado no Projeto Saúde, dos Bombeiros no bairro Vila Pery. Tem como objetivo principal compreender como os idosos que participam desse projeto encaram a qualidade de vida através do mesmo. A metodologia utilizada foi pesquisa de cunho qualitativa, bibliográfica e de campo. Com a realização da entrevista com cinco idosos que participam do referido projeto e um instrutor. Buscou-se, no intuito de colaborar com este trabalho, autores que relacionem seu pensamento com a temática escolhida, dentre eles autores que ressaltam sobre a saúde, a velhice e o projeto dos Bombeiros. A relevância que este trabalho tem é contribuir para a análise da saúde dos idosos no Brasil e saber a respeito da sua condição de vida na sociedade. O projeto tem proporcionado aos idosos a socialização e exercitarem seus corpos e mentes para uma melhor qualidade de vida.
Palavras – Chaves: Velhice, Idosos, Qualidade de Vida e Projeto Saúde dos Bombeiros.
ABSTRACT
This paper presents a study on the health of Fire project in Vila Pery neighborhood. Its main objective is to understand how the elderly participating in the project health of Firemen in Vila Pery neighborhood perceive the quality of life through it. The methodology was qualitative nature of research, bibliographical and field. With the interview with five seniors who participate in this project and an instructor. We tried to in order to collaborate with this work authors to list your thought with the chosen theme, including authors who stress on health, old age and the design of Fire. The relevance of this work has is to contribute to the analysis of the health of the elderly in Brazil and about their living conditions in society. The project has provided the elderly socialization and exercise their bodies and minds to a better quality of life.
Key - Words: Elderly, Elderly, Quality of Life and Health Project of Fire.
LISTA DE SIGLAS
AF - Atividade Física
BM - Brigada Militar
CBMCE - Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará
CTDH - Centro de Treinamento e Desenvolvimento Humano
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia
LOAS - Lei Orgânica da Assistência Social
ONU – Organização das Nações Unidas
OMS - Organização Mundial de Saúde
PNI – Política Nacional do Idoso
SUMÁRIO
1.INTRODUÇÃO ....................................................................................................11
2. IDOSO NO BRASIL ..........................................................................................13
2.1 Características do idoso no Brasil e seus conceitos .......................................13
2.2 Projetos sociais que visam a melhorar a qualidade de vida do idoso no Brasil
................................................................................................................................22
3. PROJETO SAÚDE, DOS BOMBEIROS ...........................................................28
3.1 Perfil do Projeto Saúde dos bombeiros em Fortaleza .....................................28
3.1.1 Enfrentamento do projeto na sociedade, qual sua receptividade.................36
3.3 O idoso e o esporte esporte.............................................................................38
4. A MUDANÇA NA VIDA DOS IDOSOS QUE PARTICIPAM DO PROJETO
SAÚDE DOS BOMBEIROS DO BAIRRO VILA PERY: UMA ANÁLISE EM
QUESTÃO..............................................................................................................46
4.1 Histórico do Projeto Saúde dos bombeiros em parceria com a Paróquia São
Judas Tadeu............................................................................................................46
4.2 O cenário da Pesquisa ....................................................................................50
5.CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................63
REFERÊNCIAS......................................................................................................65
APÊNDICE.............................................................................................................68
ANEXOS.................................................................................................................69
11
1. INTRODUÇÃO
A pessoa idosa em seu processo de envelhecimento pode vir a
sofrer alterações de diversas ordens favorecedoras de condições de
fragilidade, muitas vezes associadas à uma doença crônico-
degenerativa ou a um quadro de comorbidade. Essas condições
tornam o idoso dependente de cuidados de alguém da família. Ou
pode muitas vezes ocorrer o processo do idoso chegar a
aposentadoria e se sentir inútil sem ter o que fazer e chegar, muitas
vezes, a um estado depressivo.
Ao analisar o Projeto Saúde dos Bombeiros que faz parte do
objetivo desta pesquisa, observamos que os idosos antes de
entrarem neste projeto tinham certo anseio acerca da velhice e da
aposentadoria. Diante disso, o presente trabalho analisa a
importância do Projeto Saúde dos Bombeiros na vida dos idosos para
uma melhor qualidade de vida velhice no bairro Vila Pery. Esse
estudo tem como objetivo específico identificar os benefícios que o
projeto traz para a vida dos idosos e analisar como o projeto
contribuiu com a qualidade de vida dessas pessoas.
A metodologia utilizada na realização deste trabalho de
imediato foi uma pesquisa bibliográfica com autores estudiosos que
pudessem fundamentar o sentido do trabalho. A relevância desse
trabalho está no fato de refletir a respeito das condições de vida do
idoso no Brasil e suas perspectivas de saúde e qualidade de vida,
levando-se em conta os espaços para prática de exercícios, lazer,
discussões e debates acerca da saúde do idoso, vacinação, etc e
elaborar mais políticas públicas que visem à melhoria da qualidade de
vida da pessoa idosa.
A escolha por essa temática vem da necessidade pessoal de
conhecer melhor e divulgar as ações sociais desenvolvidas visando o
público idoso no Brasil, especificamente no bairro que resido, Vila
Pery, no intuito de averiguar sua efetiva contribuição para a melhoria
da qualidade de vida da pessoa idosa que frequenta aquele projeto.
12
No entanto, ao final da pesquisa o interesse também se voltava para
minha pessoa, pois como jovem ainda percebi a importância de
envelhecer com qualidade de vida através da experiência do contato
com os idosos do projeto.
O trabalho está estruturado em três capítulos. O primeiro traz
uma análise acerca do idoso e as características da velhice no Brasil
e seus conceitos. O segundo capítulo traz abordagem sobre o perfil
do Projeto Saúde dos Bombeiros, como também os avanços e
benefícios do mesmo para a sociedade idosa. O terceiro capítulo traz
uma abordagem acerca da análise das entrevistas com os sujeitos e
toda o seu percurso e características. O terceiro capitulo foi
desenvolvido por meio de vivências e experiências de pessoas que
criaram e trabalham no projeto.
13
2. IDOSO NO BRASIL
2.1 Características do idoso no Brasil e seus conceitos
Como podemos conceituar a pessoa idosa hoje? Na realidade
o que observamos é que definir a velhice e o idoso na atualidade não
é uma tarefa fácil. Por trás de todas as características que envolvem
o processo do envelhecimento existem aspectos históricos, sociais e
principalmente culturais. O que podemos denominar neste sentido do
idoso são os aspectos teóricos que existem acerca dos estudos deste
segmento.
A idade cronológica do indivíduo é o indicador principal para se
determinar a faixa etária de uma população.
Considerando essa questão, ela só quantifica o tempo que se passou a partir do dia em que nascemos, ou seja, tempo de existência do nascimento à morte. No entanto, não podemos deixar de considerar que há também, a idade existencial, que foge do padrão cronológico, embora a literatura priorize uma reflexão mais temporal e, portanto, alicerçada em padrões biológicos. (FERREIRA, 2011, p.18).
Há imprecisão do termo velhice ou sobre quando a pessoa se
torna velha. Será aos 55, 60, 70 ou 75 anos? Diz Veras (2003), que
nada flutua mais do que os limites da velhice em termos comparados
a complexidade fisiológica, psicológica e social. Uma pessoa chega a
ser tão velha quanto as suas artérias, da mesma forma quanto ao seu
cérebro ou seu coração, sua moral ou situação civil. Mas é a maneira
pela qual as pessoas passam a encarar as características que
classificam as pessoas como velhas.
O termo denominado idoso trata das populações ou indivíduos
que Neri (2001), que podem ser assim caracterizados pela duração
do seu ciclo vital. A ONU – Organização das Nações Unidas -
considera uma pessoa idosa com 65 anos ou até mais, em países
desenvolvidos; e nos países em desenvolvimento, aqueles com 60
anos ou mais, como é no caso do Brasil. Mascaro (2002) nos retrata
sobre o envelhecimento no campo psicológico, da qual ele denomina
ser bastante abrangente, pois envolve as mudanças de
14
comportamento decorrente das transformações biológicas,
influenciadas pelas normas e expectativas sociais, por componentes
de personalidade, atitudes, sendo que tais descrições decorrem de
algo extremamente pessoal.
O envelhecimento é um processo, na realidade, um estágio
que é definido de várias maneiras diferentes. Com a afirmação do
IBGE (2000), que o número de idosos crescerá 3,5 vezes até o ano
de 2050. Chegamos a acreditar que estamos em um processo de
viver mais do que os nossos antepassados, como um equilíbrio social
em que os idosos com 60 anos ou mais cresce e crescerá. Isso
significa que em cada dez pessoas uma está acima de 60 anos. Neto
e Ponte (1996) afirmam que o Brasil tem a sexta população de idosos
em número absoluto, com 32 milhões de indivíduos longevos,
estimado em um aumento de 15% para 2025.
O termo velhice possui uma associação muito forte com o
termo decadência, pois segundo Peixoto (1998), essa relação atinge
todos os domínios da sociedade brasileira. A velhice é tratada como a
última fase da vida, com redução de capacidade funcional, de
trabalho, resistência e a perda de papéis sociais etc.
Ao pensar sobre o envelhecimento e a imagem corporal do
idoso, Ferreira (2011) explica que necessariamente ao pensarmos
sobre o corpo considerando toda sua história de vida, o idoso carrega
marcas e cicatrizes comuns da transformação natural da sua
evolução e desenvolvimento, desde o nascimento até a morte. Nesse
sentido, não devemos somente olhar o envelhecimento e seu
processo por características biológicas, corporais, mas, sim, por sua
totalidade que engloba o ser humano neste processo.
Na realidade, não existe um consenso para que determinemos
o sentido da velhice, cada pessoa constrói a sua imagem em cima de
suas vivências, de como são inseridos na sociedade. Peixoto (2000)
expõe:
Não existe uma velhice, mas maneiras singulares de envelhecer. Cada velhice é consequência de uma história de vida que, à medida de que o tempo passa, vai acrescentando processos de desenvolvimento individual e da socialização junto ao grupo em que se insere:
15
internalizando, normas, regras, valores, cultura. (PEIXOTO, 2000, p.293).
Pensar a velhice passando pelo corpo em uma sociedade
como a nossa é vivenciar o estranhamento. Simone de Beauvoir
(1990) diz que a velhice é sempre o outro, pois o sujeito não a
imagina em si mesmo. Para ela, o velho dificilmente se vê como tal, e
o jovem ignora a velhice que já reside em seu corpo. Beavouir nos
traz a demonstração que diferentes sociedades categorizam os
indivíduos no grupo dos velhos de acordo com seus interesses, mas
também segundo as necessidades de um determinado esquema de
organização social. Portanto, existe uma grande diferença entre os
sujeitos idosos e os papéis que desempenham na comunidade, e
suas funções mudam de acordo com a classe social a que
pertencem.
O termo denominado velho pode ou não ser carregado de
preconceitos. Muito preferem o termo idoso, outra denominação
também já existe como o termo terceira idade. Algumas pessoas não
aceitam ser chamadas pelo termo velho, pelo fato de ser carregado
de estereótipos que denominam que a pessoa já passou da idade
que a sociedade vê como proveitoso, no caso os jovens. “A propósito,
a palavra, velho, é originada do latim vetulo e significa muito idoso,
que tem muito tempo de existência, desusado, antiquado, obsoleto.”
(COSTA, 1998, p.21).
Na realidade, não depende só do indivíduo ser taxado de
velho, ou idoso ou de qualquer outro termo, mas sim de um sistema
social que estrutura nossa sociedade, nossa comunidade em si.
Em relação à existencialidade do idoso, não basta apenas que ele assuma desafios, esteja aberto a mudanças e aceite as transformações vindas do envelhecimento, mas é necessário gozar de condições adequadas de vida, como moradia, alimentação, saneamento, educação. Como também, independente da semântica utilizada é relevante considerar o que sentimos interiormente, sentir-se bem, jovem e com muito vigor é muito maior do que qualquer aparência física. (FERREIRA, 2011, p. 22).
Devemos entender que as formas de envelhecimento para
16
cada pessoa soam de uma forma diferente, determinadas situações
da vida cotidiana expressam essa maneira de cada um encarar sua
forma de envelhecer. Costa (1998) afirma que cada pessoa em nossa
sociedade possui uma idade individual, afirmando que:
A idade pessoal é aquela que o seu espírito sente, em que a sensação de estar com uma idade respectiva é mais forte do que qualquer ruga na face. Não existe, por conseguinte, a avaliação ou impressão do outro, isto é, nessa situação ela não é revelada. Somos nós, que prescrevemos nossa idade, segundo aquilo que sentimos interiormente. (COSTA, 1998, p. 33).
E quando nos dispomos a falar sobre o envelhecimento no
Brasil, entendemos que por trás de todos os conceitos existe a cultura
brasileira que relaciona o modo envelhecer. Para Borges (2007) ao
falarmos do idoso no Brasil, no século XXI, sem analisarmos de
maneira mais ampla a estrutura social vigente é um esforço sem
recompensas reais. Diante disso, os estudiosos do tema têm
discorrido sobre o envelhecimento dos indivíduos, mas são poucos os
trabalhos sobre o modo como a sociedade envelhece as pessoas.
De 1991 ao ano de 2010 houve um alargamento do topo de
pirâmide populacional observado pelo crescimento da população com
65 anos ou mais. De acordo com o senso demográfico de 2010, em
1991 a população com 65 anos ou mais era cerca de 48%, em 2000 a
população idosa cresceu para 5,9%, chegando a 7,4% em 2010. O
destaque desta pesquisa ocorre para a população da pessoa idosa.
Hoje a probabilidade de vivermos mais de 60 é muito grande,
isso ocorre devido a expectativa de vida como consequência.
Também em decorrência das melhorias das condições básicas na
saúde, na vida, no trabalho, dos avanços tecnológicos da medicina
entre outras melhorias que ocorreram na sociedade.
A expansão acentuada de idosos na população gera novas necessidades e consequentemente, mudanças na estrutura de planejamento público são inevitáveis. Uma pirâmide social desequilibrada pode ser uma experiência dramática, caso não se resolvam os problemas básicos como saúde, moradia, alimentação, emprego, como também a criação de novas políticas públicas para os idosos, garantindo uma vida digna. (FERREIRA, 2011, p.24).
17
O Brasil, como um país chamado em desenvolvimento, tem o
processo de envelhecimento com um aumento rápido e absoluto, pelo
fato do aumento da população adulta e idosa ter modificado a
pirâmide populacional. Veras (2003), afirma que a diminuição de
taxas de fecundidade e mortalidade alterou a estrutura etária da
população brasileira, ocorrendo uma acentuada redução nas taxas de
mortalidade, particularmente nos primeiros anos de vida. Entretanto,
mas do que a diminuição da mortalidade, a explicação para o
crescimento da população idosa está na drástica redução das taxas
de fecundidade, principalmente nos centros urbanos.
Os processos de transição demográfica e epidemiológica no
Brasil vêm se desenvolvendo de forma heterogênea e estão
associados, em grande parte, às desigualdades sociais do país. “A
população idosa se constitui como um grupo bastante diferenciado,
entre si e em relação aos demais grupos etários, tanto nas condições
sociais, quanto aspectos demográficos e epidemiológicos.” (VERAS,
2003, p.08).
O envelhecer não é um problema e, sim, uma conquista. Feliz
daquele que chega na idade do envelhecimento na nossa sociedade.
Berzin (2003) relata que os problemas de envelhecer são das nações
desenvolvidas e em desenvolvimento não elaborarem e executarem
políticas públicas e programas para promover um envelhecimento
digno e sustentável e que contemplem as necessidades do grupo
etário das pessoas com idade igual ou superior a 60 anos.
As políticas e programas oficiais devem contemplar os direitos, as necessidades, as preferências e a capacidade dos idosos, reconhecendo a importância das experiências individuais dos sujeitos idosos. O desafio é e será incluir na agenda de desenvolvimento socioeconômico dos países políticas para promover o envelhecimento ativo, possibilitando qualidades aos anos adicionados à vida. Criar condições para fortalecer as políticas e programas para promoção de uma sociedade inclusiva e coesa para todas as idades, reconhecendo o direito à vida, à dignidade e à longevidade deve ser o objeto dos governantes. (BERZINS, 2003, p.20).
As projeções nos apontam que, para o ano de 2050, a
quantidade de idosos deverá superar a população menor de 14 anos.
18
Portanto, é necessária a adoção de políticas públicas que respaldem
os idosos para que os mesmos possam dar continuidade em nossa
sociedade brasileira, para que se estabeleçam seus verdadeiros
papéis sociais de participação e o desenvolvimento de sua autonomia
na vida social.
Conforme Berzins (2003), o processo de transição demográfica
em poucas décadas mudou o padrão de fecundidade feminina
brasileira e provocou forte desaceleração na taxa de crescimento
demográfico do país. A queda de fecundidade, iniciada em 1960,
continuou em 1990 de forma moderada. Essa associação da redução
da fecundidade com a queda da mortalidade reflete-se na evolução
da composição etária da população do país que segue em processo
de envelhecimento.
O IBGE com a pesquisa de 2000 considera importante indicar
em relação à estrutura de um povo e o índice de idosos, que é
determinado pelo contingente de idosos e crianças. Quanto mais
elevado for a proporção de idosos em relação às crianças, maior será
a magnitude do fenômeno. Em 2000, o Brasil possuía 20 idosos para
cada 100 crianças, isso representava uma tendência de crescimento
constante. Berzins (2003), afirma que a população brasileira de
idosos já supera 15 milhões de pessoas na atualidade. Outro
destaque que a autora enfatiza é sobre o número de idosos
centenários no Brasil (100 anos e mais). Este grupo de pessoas
representa 1,3% da população idosa.
Podemos comparar com os dados de 2010 do mesmo IBGE
falando sobre a estimativa de quadruplicar o número de idoso, isso
faz parte de uma série de projeções populacionais baseada no Censo
de 2010 divulgadas no dia 29 de agosto de 2013 pelo IBGE. Segundo
o órgão, a população com essa faixa etária deve passar de 14,9
milhões (7,4% do total), em 2013, para 58,4 milhões (26,7% do total),
em 2060. No período, a expectativa média de vida do brasileiro deve
aumentar dos atuais 75 anos para 81 anos. De acordo com a
pesquisa, as mulheres continuarão vivendo mais do que os homens.
19
Em 2060, a expectativa de vida delas será de 84,4 anos, contra 78,03
dos homens. Hoje, elas vivem, em média, até os 78,5 anos, enquanto
eles, até os 71,5 anos.
A expectativa de vida do brasileiro é de 68,6 anos. Na última década a esperança de vida ao nascer da população teve um ganho de 2,6 anos, ao passar de 66 anos, em 1991, para 68,6 anos, em 2000. A população feminina teve um incremento mais expressivo do que o da população masculina. Em 1991, as mulheres possuíam em média 7,2 anos a mais que os homens em 2002 chegou a 7,8 anos. (BERZINS, 2003, p.28).
Outro fator que podemos destacar é que a ideia de
envelhecimento ainda é sinônimo de dependência econômica. Mas
esse conceito tem sido alterado pelos próprios idosos no Brasil, pois
os mesmos ocupam cada vez mais um papel de destaque na
sociedade, desmistificando esse conceito1.
Conforme o pensamento de Berzins (2003), a aposentadoria e
a pensão são as principais fontes de renda dos idosos responsáveis
por domicílio; entretanto, na população masculina, 36% total do
rendimento vem do trabalho, sendo esta a sua segunda principal
fonte de renda. Nas mulheres, o percentual é de apenas 10%. A
principal fonte de renda das mulheres é a pensão e cerca de 45% das
mulheres idosas são viúvas.
As famílias brasileiras nas quais existem idosos estão as melhores condições econômicas do que as demais famílias. Isso se deve, em grande medida, aos tipos de arranjos internos e etapas do ciclo familiar que estabelecem diferentes relações de dependência econômica entre os membros da família, bem como a universalização dos benefícios da seguridade social. (CAMARANO, 2002, p.30).
É importante destacar que o padrão de vida dos idosos
brasileiros não alcançou os padrões dos países desenvolvidos. O que
podemos observar é que os idosos brasileiros nem sempre são um
peso para a sociedade, a renda destes idosos contribui e muito na
economia nacional isso desfaz equívocos que existem em relação
aos mais velhos. Podemos citar como exemplo o turismo que estão
1Disponível em http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/08/130829_demografia_ibge_populacao_brasil_lgb
20
oferecendo mais ofertas para idosos no Brasil.
Outros fatores estão ligados aos idosos no Brasil. Um deles
refere-se à inclusão dos idosos no mercado de trabalho e o seu nível
de escolaridade e há uma grande disparidade na diferença de
escolaridade de idosos mulheres e homens. Berzins (2003) diz que
apesar do avanço do crescimento que houve no percentual dos
idosos alfabetizados no país, ainda existem 5,1% de idosos
analfabetos no Brasil. Em relação ao gênero, os homens são,
proporcionalmente, mais alfabetizados do que as mulheres. O acesso
na década de 1960 era restrito às classes sociais mais alta e
particularmente aos homens, esse é um dos fatores que o autor
denomina ser a razão do analfabetismo entre os idosos.
No Brasil, um novo cenário pra velhice poderá ser construído,
segundo Bruno (2003), isso se levando em conta duas atitudes
fundamentais: cultivar uma cultura de tolerância, onde o respeito às
diferenças seja o valor fundamental, e considerar o ser humano como
prioridade absoluta, independentemente de sua faixa etária, na
efetivação de políticas públicas que busquem garantir a inclusão
social para todos.
Depois de constatados os dados brasileiros que os autores nos
trouxeram da representação do processo de envelhecimento,
destacamos a seguir os projetos do estabelecimento das garantias
dos processos sociais e da qualidade de vida dos idosos na realidade
brasileira, pois o envelhecimento diz respeito a toda sociedade.
2.2 Projetos sociais que visam a melhor qualidade de vida do
idoso no Brasil
É na velhice que recai, de forma mais intensa, o isolacionismo
da sociedade contemporânea. A condição de solidão a que muitos
idosos estão submetidos é avassaladora. O afastamento do mundo
do trabalho, única condição de expressão e valor humanos, da vida
social, do lazer e isolados no próprio espaço doméstico, suas
21
possibilidades de contato e apropriação do mundo encontram-se
bastante reduzidas. (CORRÊA, 2009, p. 12).
O idoso na realidade é um cidadão, que tem direitos e deveres
e conquistas. Desta forma, mesmo com a questão do isolacionismo
os idosos têm direitos garantidos por leis. Para tal, a legislação
brasileira, Constituição Federal, Estatuto do Idoso são ferramentas
legais que garantem a dignidade da pessoa idosa, amparando-lhe
legalmente quanto às suas necessidades.
Bruno (2003) fala que em um país onde ainda hoje é comum
se observar um reducionismo da ideia de ser cidadão à possibilidade
de um registro de nascimento, a uma carteira de identidade e a um
título de eleitor, onde em época de eleição o cidadão é chamado a
exercer o seu direito de cidadão por meio do voto, isso se apresenta
como um grande desafio à possibilidade de promover uma educação
em cidadania que venha a superar a tendência de reduzi-la ao
conhecimento de direitos e deveres civis políticos.
O processo de elaboração da Constituição Federal de 1988
possibilitou a participação efetiva da sociedade e culminou na
garantia da elaboração de diversas leis que vieram atender às
expectativas demandadas pelos mais diversos segmentos sociais.
Segundo Faleiros (2007), No Capítulo da Ordem Social da
Constituição, no que se refere ao idoso, o artigo 203 estabelece o
direito a um salário mínimo em situação de falta de subsistência. Esse
artigo foi regulamentado pela Lei Orgânica da Assistência Social
(LOAS – Lei 8.742/03). Foi elaborada, neste contexto, a Lei nº
8842/94, que dispõe sobre a Política Nacional do Idoso
(regulamentada pelo Decreto nº 1948/96).
Segundo Bruno (2003) a Política Nacional do Idoso reconhece
o idoso como sujeito portador de direitos, define princípios que
asseguram os direitos sociais e as condições para promover sua
autonomia, integração e participação dentro da sociedade, na
perspectiva da intersetorialidade e compromisso entre o poder público
e a sociedade civil. Ela foi pautada em dois eixos básicos: proteção
social, que inclui questões de saúde, moradia, transporte, renda
22
mínima; e inclusão social, que trata da inserção ou reinserção social
dos idosos por meio da participação em atividades educativas,
socioculturais, organizativas, saúde preventiva, desportivas e ação
comunitária.
Além disso, trabalho e renda com incentivo à organização
coletiva na busca associada para a produção e geração de renda
como cooperativas populares.
A construção de uma política, que se dá sempre por meio de uma luta política, busca construir maior igualdade entre os segmentos. Ela pode e deve impactar a sociedade, contribuindo para novas representações. A Política Nacional do Idoso deveria ser um instrumento de referência fundamental para o trabalho com o segmento, porém até hoje foi pouco apropriada tanto pelos profissionais como pelos próprios idosos, no sentido de exigirem a garantia de seus direitos sociais, espaços de participação política e inserção social. (BRUNO, 2003, p.79).
Não podemos esquecer de citar o Estatuto do Idoso que faz
parte da realidade e das conquistas deste segmento. O Estatuto do
Idoso (substitutivo ao PL nº 3.561/97 – agosto de 2001) foi aprovado
na Câmara dos Deputados em Brasília, no dia 21 de agosto de 2014
e enviado ao Senado para a sua aprovação final. O estatuto além de
ratificar os direitos demarcados pela Política Nacional do Idoso,
acrescenta novos dispositivos e cria mecanismos para coibir a
discriminação contra os sujeitos idosos. Ainda prevê cenas para
crimes a maus tratos contra os idosos e a concessão de vários
benefícios, como também, consolida os direitos já assegurados pela
Constituição Federal, sobretudo com a proteção ao idoso.
Segundo o Estatuto do Idoso, nas disposições preliminares Art.
1º, 2º e 3º:
Art. 1° Fica instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a sessenta anos.
Art. 2° O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade.Art. 3° É obrigação da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar ao
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idoso, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.
O projeto de lei do Estatuto do Idoso está embasado na
concepção da necessidade da aglutinação, em norma legal
abrangente, das postulações sobre os idosos no país, exigindo um
redirecionamento de prioridades das linhas de ação das políticas
públicas. Visto que, o distanciamento entre a legislação e a realidade
dos idosos no Brasil ainda é enorme e para que esta situação se
modifique, é preciso fomentar o debate e estimular a mobilização
permanente da sociedade. (BRUNO, 2003).
O idoso necessita ser considerado como ser que, terminada
sua fase de prestação de serviços e aposentado, tem total condições
de gozar de uma vida saudável e digna. Para isso, engaja-se em
espaços coletivos de convivência onde possam partilhar junto com
outras pessoas seus anseios.
Assim sendo, o exercício de sua cidadania proporciona aos
idosos praticar a democracia que representa ter a consciência do seu
poder participativo nos diferentes espaços sociais. Portanto:
O fato de um cidadão entrar na velhice não significa descompromisso com a participação, nem renúncia aos direitos de cidadania, embora ocorram diversas mudanças em sua vida, entre elas, o afastamento das atividades de trabalho, em virtude da aposentadoria. Conviver com pessoas que estejam na mesma fase da vida pode oportunizar momentos de reflexão e debate sobre as perdas e ganhos associados ao processo de envelhecimento e, também, sobre as potencialidades, as perspectivas futuras, as possibilidades de exercício pleno da cidadania, que fomentem sentimentos de pertencer e que abram caminhos para a participação mais ampla na vida social (BULLA; SOARES; KIST, 2007, p. 174).
Face ao exposto, os idosos estão se organizando melhor,
refletindo sobre sua influência social e exigindo sua inclusão social,
visto que sua luta consiste em desmembrar a associação feita ao
longo do tempo entre pessoa idosa e dependência.
24
O estabelecimento de direitos iguais, numa sociedade
desigual, e para grupos específicos é uma questão fundamental que
articula processos de cidadania e democracia. Para Faleiros (2007), a
geração atual dos idosos que estão sendo incluídos nas políticas de
Previdência, assistência social e de saúde passou por um processo
político complexo de mudança que foi do Estado liberal nos anos
1920 a um Estado de Proteção Restrita sob o getulismo, que inclui no
sistema protetor apenas os trabalhadores urbanos. Com a
Constituição de 1988, passou a vigorar um sistema de proteção
integral.
As portarias do Ministério da Previdência e Assistência social
fixam critérios e normas para operacionalizar as Diretrizes Básicas da
Política Nacional do Idoso e da Política Nacional do Idoso que visam
desenvolver ações integradas entre órgãos públicos e privados em
seus diversos níveis de atuação (BULLA; SOARES; KIST, 2007).
As reformas da Previdência social de 1988 trouxeram a
exigência de contribuição de 30 anos para mulheres e de 35 anos
para homens e, como corolário, o fator previdenciário que determina
o valor da aposentadoria conforme a expectativa de vida. A reforma
da previdência de 2003 propiciou mudanças no serviço público,
estabelecendo critérios de idade mínima e a taxação dos inativos em
11% no valor acima do teto, que também passa a valer como teto de
aposentadoria para novos funcionários. (FALEIROS, 2007).
Entretanto, são vários os grupos organizados que
desenvolvem um trabalho social envolvendo pessoas idosas. Esses
projetos abrangem o aspecto da saúde, da educação, lazer, esporte,
dança, dentre outros. Assim:
A criação desses espaços específicos e qualificados justifica-se, também pela necessidade de conferir status social aos idosos, de forma que eles possam desenvolver o sentimento de pertencer à sociedade. O reconhecimento da existência do ser, conferindo status social, contribui para a socialização do ser humana e para sua qualidade de vida (BULLA; SOARES; KIST, 2007, p. 179).
Nesse sentido, a importância desses grupos sociais está no
25
fato de estabelecer novas concepções e ações que envolvam a
identidade da população idosa no país, conferindo-lhe oportunidade
de reafirmar-se nos espaços sociais.
Em síntese, a emergência dos direitos sociais para as pessoas
idosas é um processo diferenciado, que foi adquirindo mais
visibilidade nas lutas pela Previdência social. Com efeito expõe
Faleiros (2007) os grupos de idade não são iguais ao longo da
história, mas variam conforme a maior ou menor presença de
crianças, jovens, adultos e velhos e com o processo de urbanização.
Na modernidade a velhice está assumindo novos significados diante
do aumento da longevidade e da alteração do impacto da velhice
sobre o Estado e sobre a vida em sociedade e dos indivíduos.
26
3. PROJETO SAÚDE DOS BOMBEIROS
3.1 Perfil do Projeto Saúde dos Bombeiros em Fortaleza
O Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará²,
considerando que o adequado enfrentamento da exclusão social e
dos preconceitos sofridos pelos idosos exige uma nova relação entre
Estado e Sociedade, assim como novas iniciativas direcionadas para
a atuação do Estado na área social, resolveu viabilizar a
implementação do Projeto Saúde, Bombeiros e Sociedade, que tem
como objetivo atingir prioritariamente a comunidade de pessoas
acima dos 60 anos de idade e proporcionar-lhes uma oportunidade de
cuidar da saúde biopsicosocial através da participação em grupos de
atividades multidisciplinares.
O projeto saúde, na prática dos exercícios físicos com o
público alvo na terceira idade surgiu, como ressalta Medeiros (2013),
na amizade que aconteceu há onze anos, quando um grupo de
idosos fazia caminhada na praia da Leste Oeste, próximo ao Quartel
do Comando dos Bombeiros Militar de Fortaleza estado do Ceará.
Homens do corpo dos bombeiros Militar praticando atividades
rotineiras nas areias da Beira Mar depararam com os praticantes
anônimos que solicitaram aos rapazes da corporação orientações de
uma prática correta na execução dos exercícios.
A partir daquele encontro, a corporação percebeu que os
idosos apesar das doenças que afetam a terceira idade, tinham muita
energia para gastar e alegria de viver, precisando de alguém para
auxiliá-los e quebrar o paradigma de que a idade avançada é o fim da
existência humana e não há o que fazer. O ser humano em
consideração de que o idoso deve aposentar-se da vida, reserva
ilusões negativas, pois a maioria que alcança os sessenta anos de
idade demonstra muita vontade de entreter relações.
A priori, os membros da corporação compreenderam que os
idosos não poderiam ficar na ociosidade e no esquecimento,
acarretando mazelas por uma vida sedentária e à espera da morte. O
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que o grupo deveria fazer era algo produtivo para sentir-se bem e
disposto, iniciando uma nova rotina para esse público. A partir dessa
perspectiva, o público foi crescendo a cada dia e as atividades
passaram a ser oferecidas aos bairros, pelo fato do percurso longo
que muitos idosos teriam que fazer até a Beira Mar. Cada bairro
passou a possuir seu núcleo e professores capacitados, sejam com
formação em Educação Física ou atribuído a um curso técnico, em
atendimento pela manhã ou à tarde. Mas, ainda hoje se faz presente
o grupo da terceira idade que iniciou com novos integrantes
praticando atividade física na Beira Mar com ajuda dos bombeiros.
(MEDEIROS, 2013).
O Projeto Saúde Bombeiros e Sociedade, executado pelo
Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará (CBMCE), é um
projeto de caráter voluntário que se iniciou junto ao Grupamento de
Busca e Salvamento, conforme Portaria nº 023, de 18 de março de
2003. Esse projeto foi elaborado pelos respectivos: Capitão BM
(Brigada Militar) Virgílio Ryozaburo Cláudio Sawari; Tenente BM Luís
Roberto Costa; Sargento BM José Ivonildo Brito e Sargento BM
Antônio Aldenor da Silva, com o objetivo de oferecer atendimento às
pessoas da terceira idade na forma de atividades físico-ocupacionais
(BRANDÃO, 2013). O Projeto Saúde é desenvolvido através do
Centro de Treinamento e Desenvolvimento Humano (CTDH). Este
Projeto realiza atividades físicas de baixo impacto, dando ênfase
especialmente à ginástica para pessoas idosas.
As atividades de baixo impacto são realizadas duas vezes por
semana, em duas turmas, obedecendo aos seguintes horários: 1ª
turma: 6 horas às 7 horas (podendo variar), 2ª turma: 17 horas às 18
horas (podendo variar). O Projeto conta com um Coordenador Geral
para conduzir o desenvolvimento dos trabalhos. E para melhor
conhecimento dos participantes são confeccionados crachás e fichas
individuais para os mesmos. Também é feito um controle de serviço e
horários para uso e monitoramento dos instrutores, assim como
relatórios mensais das suas atividades.
28
Os principais objetivos do projeto são:
Desenvolver métodos e procedimentos adequados para o trabalho de atividade física com idosos; diminuir a inatividade gerada pela aposentadoria, proporcionar um encontro salutar entre as pessoas dando-lhes oportunidade para a reinserção social, resgatar o conceito de tempo livre, através das atividades físicas propostas, dar oportunidade de livre escolha das pessoas em participar de atividades físicas, proporcionar uma boa integração do esquema corporal e de atitude (reeducação postural); desenvolver amplitude das articulações não comprometidas por patologias (mobilidade articular), tornar o indivíduo mais seguro na sua locomoção e assumindo em suas tarefas diárias uma posição mais simétrica (equilíbrio), desenvolver uma organização do sistema nervoso, com utilização dos músculos certos no tempo certo e intensidade correta sem gastos energéticos (coordenação), envolver o retreinamento de padrões respiratórios (respiração), evitar esforço consciente para aliviar a tensão de um segmento muscular (relaxamento) (PSBS, 2010).
Com o crescimento vertiginoso por parte de população, ficou
explícita a necessidade da população e a urgência em promover
ações que integrassem os profissionais, criando um espaço de
ensino-aprendizagem, a fim de que essa modalidade pudesse crescer
ainda mais, alcançando altos patamares, conforme Portaria nº 023,
de 18 de março de 2003, DOE nº 073, 17 de abril de 2003.
Segundo o Corpo de Bombeiros a adesão ao Projeto Saúde,
Bombeiros e Sociedade são feita de forma espontânea por parte dos
participantes. Inicialmente não houve apoio da mídia para divulgação
do Projeto. No entanto, a carência de programas específicos para
essa faixa etária contribuiu, de certa forma, para a disseminação
dessa informação, ocorrendo uma adesão bastante significativa, que
culminou na ampliação do mesmo, estendendo-se por toda a região
metropolitana e cidades do interior do Estado. (ARAÚJO, 2013).
Os idosos ao aderirem atividade física sentem-se mais jovens
e menos doentes, mostrando que uma boa qualidade de vida com
prática de exercícios e curtir os momentos com alegria, aumentando
seus anos. A prova disso é que 100 anos já não é um absurdo para
um ser humano comemorar, com saúde e sanidade mental. Com a
inserção do grupo da terceira idade no projeto e a adesão do governo
29
em parceria com a sociedade, o êxito desse resultado é
proporcionado ao bem estar de dever cumprido pelas autoridades e a
gratidão de quem encontrou a vontade de viver. (MEDEIROS, 2013).
A equipe de profissionais que atua no projeto é composta por
bombeiros formados e pós-graduados em educação física. Os eixos
centrais importantes a serem atingidos pelo projeto diz respeito à
promoção de saúde e a qualidade de vida elaborado e implementado
pelo Corpo de Bombeiros Militar, através da atividade física com
idosos. Para eles é fundamental que o idoso aprenda a lidar com as
transformações de seu corpo e tire proveito de sua condição,
prevenindo e mantendo em bom nível sua plena autonomia. Diante
disso, é necessário que se procure estilos de vida ativos, integrando
atividades físicas à vida cotidiana.
A parceria com o CREF–CE é considerada um avanço
estratégico na visão do Projeto, pois foram formados vários
profissionais (bombeiros militares) habilitados para atuarem em
ginástica e outros que ainda estão se graduando em diversas
universidades no curso de Educação Física. O Projeto Saúde,
Bombeiros e Sociedade, já chegou a várias cidades, principalmente
da Região Metropolitana de Fortaleza. Maracanaú é o município que
concentra o maior número de participantes: são 12 mil pessoas,
sendo oito mil na sede e os restantes divididos nos Conjuntos
Habitacionais. Os grupos fazem exercícios pela manhã das 6h e
30min às 7h e 30min e à tarde das 17h às 18h.
As atividades são realizadas em locais chamados de núcleo. É assim denominado cada bairro onde há a presença do projeto. Cada núcleo com os respectivos professores oferece uma programação de exercícios efetuando práticas essenciais para a manutenção do corpo e da mente aos adeptos presentes. Os bombeiros comandam a ginástica, que começou a cerca de onze anos em frente a um quartel na beira mar de Fortaleza, em abril de 2002 com uma quantidade 48 mínima de idosos. Em 2003 já contava com 100 adeptos, e daí por diante cresceu cada vez mais. Atualmente há 384 núcleos no Estado do Ceará, em torno de 45.000 pessoas participando, com meta para 2014 de 60.000 simpatizantes a esse novo meio de inclusão, exercícios e disciplina. (MEDEIROS, 2013, p.30).
30
Para os profissionais que lidam diretamente com a equipe, as
atividades físicas não podem restaurar tecidos que já foram
destruídos, no entanto pode proteger o idoso contra várias doenças
crônicas relacionadas ao envelhecimento, maximizando as funções
fisiológicas do organismo que ainda estão conservadas. São tantos
os benefícios que em alguns casos, a idade biológica pode ser
reduzida em até mais de 20 anos. A expectativa de vida é
incrementada e as condições debilitantes são adiadas, ocorrendo um
salto qualitativo de vida.
Dentro desse contexto, da carência de políticas públicas
voltadas para esse fim, o Corpo de Bombeiros, através do Projeto
Saúde, Bombeiros e Sociedade, resolveu eleger a qualidade de vida
como principal indicativo na intervenção das atividades físicas
multidisciplinares nesta faixa etária da população. O CBMCE acredita
que as parcerias entre o Estado e a Sociedade estão se tornando
cada vez mais necessárias nesse período de profundas
transformações nas políticas públicas. Sem amplas e diversificadas
parcerias no âmbito local não se conseguirá superar os desafios na
área social, capazes de multiplicar os recursos disponíveis para
produzir resultados ponderáveis na melhoria integral das condições
de vida da população excluída.
O desempenho do papel junto à comunidade dos Bombeiros,
que veio a elaborar e implantar o Projeto Saúde, Bombeiro e
Sociedade, numa iniciativa pioneira visa alcançar dois aspectos junto
ao público da terceira idade: o primeiro, no que diz respeito ao físico,
que é o de proporcionar a preservação e minimização das algias
corporais debilitantes e alterações orgânicas ligadas à inexistência da
prática de exercícios físicos; e o segundo aspecto se refere ao
psicossocial e à qualidade de vida, constituindo uma alternativa para
pessoas da terceira idade que a sociedade exclui, numa fase da vida
em que detém experiência acumulada e sabedoria.
Pensando no crescimento do Projeto, várias ações foram
motivadas pelo comandante geral do CBM-CE, dentre elas o Projeto
31
destaca: “minicursos de prescrição de exercícios para a terceira
idade; palestras sobre os cuidados com o idoso; regularização do
projeto, incentivo aos alunos dos diversos cursos de Educação Física
e também aos professores da área”. Foram ainda realizadas
capacitações para os bombeiros militares do PSBS em atividades
físicas para os sujeitos na fase da velhice.
Os procedimentos para inscrição e participação do Projeto
Saúde, Bombeiros e Sociedade são: preencher ficha de inscrição;
apresentar uma avaliação ou atestado médico de seis em seis
meses, com o objetivo de identificar possíveis cardiopatias,
pneumopatias e/ou outras doenças que possam limitar o idoso na
realização dos exercícios físicos; responder no ato da inscrição, um
questionário (anamnese) contendo informações referentes à sua vida
pessoal e a sua saúde em geral.
Os idosos que participam de atividades físicas são submetidos
a uma avaliação física e funcional para controle e correta prescrição
das atividades físicas. As aulas desenvolvidas constam das seguintes
atividades: equilíbrio, coordenação, reeducação postural, mobilidade
articular, relaxamento, alongamento, exercícios de flexibilidade,
exercício de resistência muscular, localizada, dança expressão
corporal.
O referido projeto justifica-se pela importância de suscitar
estudos sobre a influência da prática de atividades físicas na terceira
idade, já que essa população está em constante crescimento, e
comprovadamente necessita do exercício físico para a manutenção
da qualidade de vida, além de oferecer outras atividades de caráter
diversificado, tais como artísticas e culturais, que objetivem a
manutenção da saúde biopsicosocial, e consequentemente melhoria
da qualidade de vida dos indivíduos. Tal projeto estimula a parceria
entre as comunidades com atividades físicas de baixo impacto
voltadas para a terceira idade, trabalhando também as emoções e
32
motivações, de forma a resgatar a autoestima, autoimagem e
autoconceito de cada um, visando a melhoria da qualidade de vida
dos idosos.
O Projeto Saúde Bombeiros e Sociedade resgatam a oportunidade das pessoas idosas participarem de atividades que proporcionam boa integração, o desenvolvimento da coordenação motora, o controle da respiração e o relaxamento dos músculos. Dessa forma, também as relações de amizade são estabelecidas e a dignidade da pessoa idosa é respeitada. Para essas pessoas, o fato de ter um objetivo, uma atividade já lhe dá ânimo para levantar, fazer as atividades de casa e preparar-se para participar do Projeto. (ARAUJO, 2013, p.32).
Apesar dos avanços alcançados nos diversos segmentos da
medicina, o que se tem conseguido é apenas retardar alguns efeitos
do envelhecimento no organismo. Em consequência disso, à questão
do envelhecimento é um desafio para a ciência e uma preocupação
constante dos governos. Podemos dizer que o envelhecimento
populacional, aliado à ausência de políticas públicas voltadas a essa
nova realidade mundial, vem constituindo uma fonte de preocupação
para o Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará. É sabido que
a inatividade é o fator que mais compromete a qualidade de vida na
terceira idade.
É crescente o número de cidadãos da terceira idade em ótimas
condições de saúde, que demandam um conjunto de novos desafios
criativos e inovadores das instituições. Para agir é necessário ter vida
e para ter vida é necessário mover-se. Entretanto, durante séculos,
pouco ou quase nada se falou da relação entre o exercício físico e a
saúde. O desgaste do organismo com o passar dos anos é inevitável;
apesar da velhice não ser uma doença, é uma fase na qual o ser
humano fica mais suscetível a elas e com a prática do exercício físico
na vida do idoso pode melhorar e muito esse desgaste.
3.1.1 Enfrentamento do projeto na sociedade - Qual a sua
receptividade.
33
A questão dos Direitos Humanos na Terceira Idade origina
exigências de respeito, acatamento, reverência à solidariedade, tão
importantes quanto os aspectos materiais da vida. Encontra-se na
Constituição Federal, em seu Artigo 229: “Os pais têm o dever de
assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o
dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou
enfermidade.”
Neste contexto, Barros (2012) os processos que envolvem o
envelhecimento antes pertencente aos domínios da geriatria e da
gerontologia, começou a ganhar espaços dentro das políticas
públicas dos Governos. Entende-se como fundamental uma união de
esforços nas diferentes áreas profissionais, visando um maior
conhecimento sobre o envelhecimento, e, principalmente como
envelhecer de forma saudável.
O Projeto, além de ter tido grande aceitação pela comunidade,
vem recebendo uma grande adesão do público, inscrito nos vários
núcleos existentes nas Unidades de Bombeiros Militares, dispostos
por todo o Estado, inclusive no interior, assim como em polos de lazer
ou locais estratégicos utilizados pela comunidade. De acordo com
Spirduso (1995), o sedentarismo no idoso advém muitas vezes de
imposições socioculturais, mais do que de uma incapacidade
funcional. Os comportamentos atribuídos aos idosos referem-se à
passividade e à imobilidade, com reduzido nível de atividade física.
A qualidade de vida envolve segundo a Organização Mundial
de Saúde – OMS, a percepção do indivíduo acerca da sua posição na
vida associado ao bem-estar, à segurança, à expectativa de vida, à
paz de espírito e ao desfrute das condições essenciais do que o
cidadão deve ter ao seu alcance (água, luz, higiene, telefone etc.).
Para Araújo (2013) nessa perspectiva, a qualidade de vida do idoso
pode ser melhorada a partir da proposição de bem estar através de
práticas saudáveis, relações sociais e familiares positivas, autonomia
e desenvolvimento pessoal (oportunidades de conhecer pessoas,
lugares, culturas etc.).
34
Diante disso, ressalta-se a importância entre o idoso e o
esporte no tópico a seguir, mostrando a importância cultural, social e
para a saúde de todas as maneiras através do esporte pelos idosos,
já que nosso foco principal é falar da qualidade de vida através dos
projetos dos bombeiros, faz-se necessários ressaltar sobre a
importância do esporte para vida desses idosos neste trabalho.
3.2 O Idoso e o Esporte
Na atualidade, quando muitas vezes o termo velhice é
facilmente associado a termos tratados como a autonomia, a
qualidade de vida, a saúde e atividade e exercício físico. O que
Sobral (2003) ressalta é que vários estudos foram feitos para
descobrir qual a melhor forma de alcançar uma boa qualidade de
vida, lembrando que a velhice é um processo natural da vida das
pessoas, o importante será não parar ou retardar o envelhecimento,
mas, sim, viver com qualidade de vida durante esse processo, e isso
ocorre com as práticas do esporte.
Algumas doenças são notórias na vida dos idosos, como a perda da força muscular, a diminuição da densidade óssea, o aumento da gordura corporal, a diminuição hormonal, a redução do débito cardíaco, a diminuição da função vital dos pulmões, a elevação da pressão arterial, entre outras. Todas estas alterações acarretam desequilíbrios no organismo e deixando o idoso cada vez mais enfraquecido, podendo assim diminui sua expectativa de vida ou levá-lo ao óbito prematuro. Todas essas afecções estão mais relacionadas com o estilo de vida do que propriamente com a idade cronológica do idoso. (CIVINSKI et al, 2011, P.03).
O envelhecimento é um processo contínuo durante o qual
ocorre declínio progressivo de todos os processos fisiológicos.
Mantendo-se um estilo de vida ativo e saudável, podem se retardar
as alterações morfofuncionais que ocorrem com a idade.
A atividade física refere-se ao trabalho muscular capaz de elevar a taxa metabólica acima do nível considerado de repouso. Ela é inerente ao Homem. Todos os seres Humanos sentem necessidade de a realizar de forma a poderem prolongar e sustentar a sua vida. (SOBRAL, 2003, p. 20).
35
A atividade física também é um movimento corporal, produzido
pela mobilização ativa dos músculos, Katch e Katch (1995) expõe que
o exercício físico é uma atividade física totalmente planejada e
estruturada, como também é realizada por um objetivo determinado.
O Centro Nacional de Estatística para a Saúde estima que
cerca de 84% das pessoas com idade igual ou superior a 65 anos
sejam dependentes para realizar as suas atividades cotidianas,
constituindo-se no maior risco de institucionalização. Estima-se que
em 2020 ocorrerá aumento de 84 a 167% no número de idosos com
moderada ou grave incapacidade. Entretanto, a implantação de
estratégias de prevenção, como a prática da atividade física (AF)
regular e de programas de reabilitação, poderá promover a melhora
funcional e minimizar ou prevenir o aparecimento dessa
incapacidade. (NÓBREGA et al, 1999).
Quando falamos no conceito de saúde, este é hoje em dia
muito mais do que a simples ausência de doença, implicando bem-
estar físico e social. É, pois o estado em que o indivíduo tem a
vitalidade e energia suficientes para realizar as suas tarefas diárias.
No idoso ocorre também redução da massa óssea, mais frequentemente em mulheres, que, quando em níveis mais acentuados, caracteriza a osteoporose, que pode predispor à ocorrência de fraturas. Após os 35 anos há alteração natural de a cartilagem articular que, associada às alterações biomecânicas adquiridas ou não, provoca ao longo da vida degenerações diversas que podem levar à diminuição da função locomotora e da flexibilidade, acarretando maior risco de lesões. (NÓBREGA et al, 1999, p.05).
Quando falamos em esportes e atividades físicas para idosos,
uma média de duração de 30 minutos por dia inversa com a
intensidade, Nóbrega et al (1995) diz que os chamados “idosos
frágeis” e indivíduos em fase inicial do programa de exercícios podem
beneficiar-se de sessões de curta duração (cinco a dez minutos)
realizadas em dois ou mais períodos ao dia. Idealmente, deve-se
praticar exercícios na maioria se possível em todos os dias da
36
semana. Dessa forma, mais provavelmente pode-se atingir o gasto
energético necessário para obtenção dos benefícios para a saúde.
Segundo a Organização Mundial da saúde (2001) a qualidade
de vida na Terceira Idade pode ser definida como a manutenção da
saúde, em seu maior nível possível, em todos aspectos da vida
humana: físico, social, psíquico e espiritual. O conceito de qualidade
de vida está relacionado à autoestima e ao bem-estar pessoal e
abrange uma série de aspectos como: a capacidade funcional, o nível
socioeconômico, o estado emocional, a interação social, a atividade
intelectual, o auto cuidado, o suporte familiar, o próprio estado de
saúde, os valores culturais, éticos e a religiosidade, o estilo de vida, a
satisfação com o emprego e/ou com atividades diárias e o ambiente
em que se vive. Neri (1993) fala também dos fatores físicos,
biológicos, sociais, econômicos e políticos, bem como os
comportamentais e culturais, têm sido identificados como interferindo
diretamente na qualidade de vida do indivíduo.
O exercício físico deve ter como principal objetivo a promoção
da saúde, pondo o objetivo da promoção da condição física num
plano mais secundário. Mas, apesar de se pretender promover a
saúde com ela, não podemos deixar de admitir que as vantagens
também sejam visíveis a nível da condição física. (HORTA e BARATA,
1995). Podemos dizer que o exercício físico traz ganhos ao indivíduo
através de termos como saúde e termos de condição física,
principalmente quando o indivíduo é sedentário e inicia nos esportes
como uma caminhada, ou outro tipo de exercícios fazendo bem para
o organismo e o social.
Os exercícios e as atividades físicas contribuem para diminuir
as doenças crônicas dos idosos, sabe-se que a maioria dos males da
velhice é provocada pela falta de atividade e pela imobilidade. Barata
(1997) reforça esta ideia, afirmando que um programa de exercício
físico adaptado à pessoa idosa, traz benefícios para a saúde e ajuda
a diminuir os problemas associados ao envelhecimento. Há, no
entanto, que ter em conta que a população idosa é reconhecidamente
37
uma população para a qual nem todos os exercícios físicos são
aconselháveis, estando no grupo de população de risco, sendo por
isso necessário optar por um exercício físico regular, estruturado e
adaptado a cada idoso, para que este usufrua na totalidade dos
inúmeros benefícios decorrentes desta prática.
Todas as estruturas biológicas do nosso organismo estão
preparadas e adaptadas ao movimento que relacionam ao exercício
físico, sendo este considerado como um dos meios de manter a
atividade humana. Desta forma, Nunes (1999) afirma que o exercício
aparece como um dos principais meios de prevenir doenças, muitas
delas causadas pelo sedentarismo. Assim, e uma vez que a
inatividade provoca modificações no equilíbrio funcional do corpo
humano, ele considera correto afirmar que, de certa forma, o
exercício físico é uma necessidade fisiológica do organismo.
Desta forma, o processo degenerativo do envelhecimento pode
ser atenuado através de exercícios físicos e a atividade física ser
pontual na vida do indivíduo, visto que esta como nos passa Sardinha
(1999), parece desempenhar um papel importante nas modificações
que ocorrem na composição corporal do idoso, na sua aptidão
metabólica, bem como na sua mobilidade física geral.
Com a idade avançada existe um progressivo declínio da
atividade motora habitual, o número de horas de atividade física vai
diminuindo com o passar dos anos, principalmente relacionado a
fatores de doença, cansaço e falta de tempo. A ideia de que os idosos
possuem algumas consequências em relação à falta de prática de
esporte é fundamental para que mostremos a importância de
participar de alguma atividade, algum projeto físico.
Qualquer programa de exercício para a terceira idade deve ser
precedido da avaliação da condição física dos idosos para o qual o
mesmo se destina (Martins et al., 2002), e deve ter como objetivos
primordiais melhorar a capacidade física dos indivíduos, bem como
potencializar o seu contato social. Na fase inicial de um programa, é
importante dar segurança, educando quanto aos princípios do
exercício e estimulando a automonitorização. É importante fazer com
38
que o hábito do exercício se transforme em algo tão natural como, por
exemplo, cuidar da própria higiene.
Qualquer programa de exercícios só pode ser iniciado após
uma avaliação das capacidades motoras e funcionais do idoso
(aptidão física), avaliação essa que irá determinar a natureza dos
exercícios e das cargas a aplicar, consoante as capacidades de cada
indivíduo. A prática desportiva deve ainda ter em atenção as
preferências de cada indivíduo. Ávila (1999), fala que o planejamento
das atividades físicas praticadas durante o envelhecimento deve
englobar as habilidades do dia-a-dia do idoso.
Então, na terceira idade, devido à enorme complexidade do processo de envelhecimento, tanto a avaliação da aptidão física, como a prescrição de programas de exercício devem ser acompanhadas de redobradas cautelas. Sendo assim, torna-se prioritário que qualquer programa de exercício seja precedido de controlo médico, que permitirá uma mais correta avaliação das capacidades dos indivíduos, a prescrição de atividades mais adequadas a cada um, e a descriminação das restrições na realização de exercícios (MARQUES, 1996, p.21).
Na pessoa idosa torna-se mais moroso atingir os benefícios
decorrentes do exercício físico do que nos jovens, como também
motivar os idosos para a prática de um programa de exercício é uma
tarefa muito complicada (Shephard, 1994). No entanto, é fundamental
motivar os idosos para a prática de exercício físico, para também
desmistificar algumas situações e quebrar a sensação de desconforto
sentida por alguns idosos a quando da prática de exercício físico,
alertando-os também para as vantagens que poderão advir da prática
de exercício físico, e de que forma essas vantagens lhes trarão
benefícios na vida do dia-a-dia.
A prática regular de exercícios na vida dos idosos é aspecto
fundamental no processo de implantação de um programa específico
para a promoção da saúde de pessoas da terceira idade e na
prevenção de diversas doenças relacionadas ao envelhecimento. O
processo de envelhecimento varia bastante entre as pessoas e é
influenciado pelo estilo de vida e por fatores genéticos do indivíduo.
39
Civinski et al (2011) dá dicas de como ter alguns hábitos saudáveis e
também a importância da atividade física na colaboração desses
hábitos.
Hábitos saudáveis como: não fumar, não ingerir bebidas alcoólicas, uma alimentação balanceada, um repouso diário entre 7 a 8 horas, controle do estresse, vida social ativa, entre outros hábitos, irão auxiliar na promoção e na manutenção de uma qualidade de vida. A prática regular de exercícios físicos para as pessoas da terceira idade além de ser fundamental, é o aspecto que exerce extrema importância na exposição e estimulação aos benefícios mais agudos e crônicos de sua prática. A inserção de uma rotina de exercícios físicos no estilo de vida de pessoas idosas traz resultados quase que imediatos, pois estes são visíveis em curto prazo. (CIVINSKI et al, 2011, p.05).
Hábitos saudáveis evitam possíveis problemas de saúde e
ajudam a manter o corpo saudável prolongando e melhorando a
expectativa de vida da população. Estes fatores podem ser
modificados ao decorrer da medida do tempo em que vão
envelhecendo. (BRODY, 1999).
Entre os benefícios causados pelo estilo de vida saudável
podemos destacar a diminuição do risco de quedas, além de
algumas doenças como hipertensão, osteoporose que ocorre muito
em idosos, artrite e depressão. Idosos que praticam algum esporte
tem aptidão para alcançar um bom desempenho em suas atividades
diárias.
A aptidão física consiste em componentes que podem ajudar
na efetiva função do indivíduo na sociedade, sem excessiva fadiga e
com reserva de energia para desfrutar o tempo livre (PITANGA,
2007). Dentre os destaques que a aptidão física pode proporcionar e
ser vista como:
Elemento indispensável na realização de qualquer tipo de movimento, resistência anaeróbica capacidade de um indivíduo sustentar por maior tempo possível um exercício físico, resistência aeróbica capacidade do indivíduo em sustentar um exercício que proporcione ajuste cardiorrespiratório e hemodinâmico global ao esforço, velocidade é a capacidade do indivíduo realizar movimentos sucessivos e rápidos de um mesmo padrão no menor tempo possível, potência capacidade que o indivíduo tem em realizar uma contração muscular máxima no menor tempo possível, flexibilidade, grau de amplitude do movimento de uma articulação, equilíbrio habilidade que permite ao indivíduo manter o sistema músculo esquelético em posição
40
estática eficaz e controlar uma postura eficiente, quando em movimento. Coordenação capacidade do indivíduo de realizar tipos de integrados de movimento dentro de um padrão específico (ROCHA, 2000, p.101).
E quando voltamos a prática do exercício para a área social,
física e psicológica, Civinski et al (2011) afirmam:
Os benefícios dos exercícios físicos para pessoas da terceira idade podem ser tanto físicos, sociais, quanto psicológicos. Ao praticar exercícios físicos regularmente os idosos tendem a diminuir seus níveis de triglicerídeos, reduzirem sua pressão artéria, aumentar colesterol HDL, aumentar à sensibilidade das células a insulina, reduzir da gordura corporal, aumentar a massa muscular, diminuir a perda mineral óssea, entre outros diversos fatores positivos para o praticante. (CIVINSKI et al, 2011, p.06).
A participação dos idosos nos esportes fazendo exercícios
físicos consegue retardar significativamente ou reverter à situação da
perda das funções, independente de quando uma pessoa torna-se
fisicamente mais ativa. Quando uma pessoa está inserida em um
programa de exercícios físicos, ela se torna ativa e usufrui de todos
os benefícios advindos da prática esportiva e ainda minimiza os
impactos e prejuízos que o envelhecimento pode causar.
Diante de todas essas afirmações, é preciso que
compreendamos sobre a criação de um programa de exercício físico,
que ele não tem por finalidade prolongar a vida do idoso, porém sim
oferecer-lhe uma melhor qualidade de vida nos seus derradeiros anos
de vida, tornando-o menos vulnerável a distúrbios psicológicos ou
sociais.
41
4.A MUDANÇA NA VIDA DOS IDOSOS QUE PARTICIPAM DO PROJETO SAÚDE DOS BOMBEIROS DO BAIRRO VILA PERY: UMA ANÁLISE EM QUESTÃO
4.1 Histórico do Projeto Saúde dos Bombeiros em parceria com a
Paróquia São Judas Tadeu
Em 17 de abril de 1977, foi realizada a primeira reunião do
grupo responsável pela construção da capela, ministrada pelo
coordenador e Padre Aquiles Salvatoriano, contudo, sendo
inaugurada em 21 de janeiro 1979 e realizada a sua primeira missa.
Já em 15 de janeiro 1989, foi inaugurado o Centro de Pastoral que
levou o nome do Pe. Marcelino Aldo Zanella localizado na
comunidade de Vila Pery. O referido era padre da Igreja da
Parangaba e na sua gestão trabalhou para que fosse criado esse
centro pastoral, na capela São Judas Tadeu que faz parte da
congregação da paróquia da Parangaba.
O projeto dos Bombeiros é realizado neste espaço Centro
Pastoral Padre Zanella desde 2004. O projeto Saúde dos Bombeiros
foi divulgado no bairro Vila Pery e entre os idosos que frequentavam a
paróquia através de duas representantes da pastoral da igreja, a Sra.
Denise e Raimunda, que foram as primeiras coordenadoras e que
junto ao Moises, bombeiro militar, sentiram a necessidade de
implantar o projeto nesta comunidade, visando saúde, bem-estar,
qualidade de vida saudável e assim anunciaram em uma missa ao
domingo, que se iniciaram as inscrições e desde então o projeto foi
ganhado força e permanece até os dias de hoje.
O projeto societário teve início na paróquia São Judas Tadeu
em 07 de fevereiro de 2004, tendo neste corrido ano completado os
seus 10 anos, sendo considerado para os entornos deste bairro o
projeto piloto, com mais de 90 pessoas cadastradas, aos pouco foram
se dividindo e sendo necessária serem instalados em outras
42
localidades próximas, para dar atenção a toda essa população que se
viu incentivada por este projeto, de alguma forma se identificaram ou
apenas visaram uma melhor condição de saúde, mais nesse
momento virão que o projeto estava dando certo, e assim sentiram
mais força para continuar investindo nesses idosos.
O projeto iniciou com noventa pessoas inscritas, pois não tinha
nas adjacências outras atividades, agora todas têm, então o público
foi diminuindo e hoje temos de 45 a 60 idosas que frequentam
regularmente. A estrutura do projeto atualmente e composta por um
supervisor geral, o Coronel Valdiano, que segundo relatos está
responsável em analisar, fiscalizar e a priori está voltado para o setor
burocrático, para ser mais preciso é responsável pelos ofícios,
autorização de passeios entre outros.
Os instrutores que atualmente são quatro Tenentes do CBM
que estão sempre se reversando através de uma escala, entre
segundas e quartas-feiras no horário de 17h às 18h. As aulas sempre
bastante animadas, embaladas por músicas escolhidas pelas
participantes, tornando assim essa atividade física uma verdadeira
diversão, que elas sentem prazer em participar.
Por fim, essa estrutura com as coordenadoras do projeto, Ana
Paixão e Socorro Martins, que está há oito anos dando continuidade
a este trabalho administrativo e auxiliando os instrutores. Essas são
moradoras do bairro, onde nas entrevistas relatam “desde o início
estamos fazendo o possível para que esse projeto fosse pra frente”.
O projeto neste bairro atinge o objetivo ao qual é designado, o
público é composto 100% por mulheres, todas moram nas
proximidades da quadra onde são realizadas as atividades. Em 2006,
houve a primeira votação para reeleição das coordenadoras, onde
ficou designado que seria feita de três em três anos, mas desde
então as idosas não querem outras pessoas, Ana e Socorro foram
eleitas por unanimidade. Isso nos mostra tamanho afeto e atenção
que essas mulheres têm por essas idosas que participam deste
projeto.
Segundo os relatos das coordenadoras, o projeto trouxe
43
grandes benefícios para os idosos, pois muitas chegavam tristes,
cabisbaixas, com algumas doenças, com o passar dos anos
participando deste projeto tornaram-se pessoas mais alegres, bem-
humoradas. Todas se acham capazes de fazer tudo. As
coordenadoras são bastante cautelosas com as idosas que têm seus
80 anos e as respostas são as melhores possíveis “Me solte, ainda
sou capaz de fazer isso.” Uma autoestima muito elevada.
O projeto proporciona várias formas de lazer para essas
idosas, são comemorados dia das mães, festa junina, aniversariantes
do mês, divididos em dois períodos, de janeiro a junho e de julho a
dezembro, são realizados também durante o ano três passeios,
geralmente as idosas escolhem ir à praia. O passeio é sempre sob
supervisão dos instrutores e coordenadores deste projeto visando à
segurança dessas idosas. Todos os anos são convidadas por uma
escola do bairro, para desfilar no dia 7 de Setembro com o pelotão
Projeto Saúde, sendo a receptividade dos jovens bastante tranquila e
sem discriminação. Todo ano também é realizada uma festa em que
são selecionadas oito idosas que se preparam e desfilam para
concorrerem a rainha do grupo, tem um grupo de jurados escolhidos
pela própria comunidade, normalmente moradores do bairro, assim
sendo escolhida a idosa mais charmosa e bem humorada para se
torna a rainha do grupo.
Os passeios exigem muita responsabilidade, organização tudo
que é passado elas aceitam de bom grado, mas quando se fala em
local no ônibus, como dizem as mesmas “É um Deus nos acuda” é
feito a relação de quem senta na frente, elas optam por quem tem
mais proximidade para irem conversando no decorrer do percurso,
mas no final tudo se resume em festa e o passeio se torna cada vez
prazeroso e já chegam perguntando quando vai ser o próximo.
É cobrada uma taxa de R$ 10 para realização desses passeios
e eventos, pois não existem patrocinadores, portanto foi dada uma
sugestão de que elas teriam que colaborar com o valor de 5 reais
inicialmente, e as próprias idosas resolveram modificar para quantia
já destacada anteriormente, devemos visar que este investimento é
44
para um retorno a elas.
Os passeios têm alugueis de ônibus, os jantares são
contratados Buffet, e aniversariantes recebem presentes, tudo feito e
organizado pelas coordenadoras. Neste ano foi realizado o jantar em
comemoração aos dez anos de projeto com muitas homenagens,
emoções, comprometimento envolvidos e esperanças para continuar
com todo gás ao projeto.
4.2 O cenário da Pesquisa
Para a realização desta pesquisa foram feitos diversos
encontros no grupo de idosos que frequentam o projeto. Em primeira
mão a primeira visita foi com intuito de conhecer o local mais de perto
e saber quais os possíveis andamentos com as coordenadoras para a
pesquisa naquele local. O primeiro contato ocorreu no começo do
mês de outubro, quando fomos convidadas a participar dos encontros
e das atividades para observar como eram feitas.
No primeiro encontro observamos que normalmente as idosas
chegam vários minutos antes dos exercícios para ficarem
conversando sobre suas experiências o que se passou no final de
semana, contando como elas dizem as “novidades”, formando uma
família fora de casa, pois elas se apegam uma as outras, tornando o
ambiente propício a coisas boas, verdadeiras amizades.
Muitas chegam com problemas, stress do dia a dia e naquele
ambiente esquecem, pois conversam, brincam, dançam e o mais
importante, praticam as atividades físicas. Principalmente nos dias
que não têm o projeto elas não param, fazem caminhada outros
exercícios para não ficar acomodadas. A interação de grupo, pelo que
pudemos perceber e nos foi relatado pelas entrevistadas, é muito
boa.
Os encontros dos quais participamos ocorreram durante uma
semana, no segundo dia já nos apresentamos ao grupo pelas
coordenadoras e já foi dada a oportunidade de conhecer cada idosa
45
para fazermos uma análise de qual iríamos abordar para entrevistas.
Após a abordagem as entrevistas foram agendadas para o próximo
encontro.
No terceiro encontro, já conseguimos realizar as entrevistas
após participar das atividades com duas idosas. Apresentamos os
objetivos da pesquisa e iniciamos com o consentimento de cada uma,
cada entrevista foi realizada separadamente seguindo o roteiro de
perguntas e com o consentimento delas, gravamos e posteriormente
transcrevemos na integra.
No quarto encontro, realizamos as entrevistas com mais três
idosas, a escolha de critério das mesmas ocorreu pela sensibilidade
delas de aleatoriamente se dispor para a realização da entrevista. No
último encontro do qual participamos, as entrevistas foram feitas com
dois instrutores para enriquecer essa pesquisa, mostrando a
realidade do projeto e dos dois lados.
No final da atividade, todos se reúnem no meio da quadra e
fazem uma oração, e cada um agradece pelo que achar melhor. São
pessoas idosas bastante receptivas, lindas, bem-humoradas, amam a
vida acima de tudo, não tivemos dificuldade nenhuma em conversar.
Durante a apresentação iremos utilizar nome de pedras
preciosas para indicar as idosas, diante disso uma pequena pesquisa
foi realizada sobre o significado de cada uma e podemos perceber
que muitas refletem sobre a iniciativa de se fortalecer, rejuvenescer,
equilíbrio mental e corporal. Tendo como principais características e
associando a elas a coragem, alegria de viver, amor, atrair novas
amizades, paz, harmonia. A escolha recai de acordo com a
simbologia da pedra, se encaixando a história de cada uma dessas
idosas.
RUBI
Indicações: Pedra da preservação da saúde do corpo e da
mente. Propriedades: Pedra preciosa que fortalece a intuição e a
iniciativa, aumenta a flexibilidade e o poder de liderança. Ajuda no
amor, no romance, nos da coragem e entusiasmo. Rubi tem 65 anos
e está há quatro meses no projeto.
46
ESMERALDA
Indicações: Foi a pedra preciosa mais desejada pelos antigos.
Acreditavam que fosse pedra sagrada. Propriedades: Pedra preciosa
que tem efeito de rejuvenescimento e equilíbrio interior e emocional.
É a pedra do amor, inteligência e comunicação. Esmeralda tem 87
anos e está há dez anos no projeto e não pretende sair.
CRISTAL
Indicações: Harmonia e energia. Propriedades: Aumenta a
possibilidade de cura física, mental ou espiritual por ser uma grande
fonte de energia. História: Esta é uma das pedras mais conhecidas
entre todos os povos desde a antiguidade. Os gregos chamavam-no
de "Kristallos" que significava "gelo". Cristal tem 67 anos e está há
dez anos no projeto.
JADE
Indicações: Alegria, equilíbrio emocional, fertilidade.
Propriedades: Proporciona maior alegria de viver. Considerada a
pedra da paz interior, traz equilíbrio emocional ajudando em casos de
depressão. Na meditação purifica os centros energéticos. História: Os
maias utilizavam o Jade como amuleto do amor e da amizade. Jade
tem 66 anos e está há dez anos no projeto.
TURQUESA
Indicações: Sucesso, amigos, amor, felicidade. Propriedades:
Proporciona sucesso comercial, favorece a auto segurança e
combate a depressão. Atrai novos amigos, o amor e a felicidade.
História: Seu nome significa "pedra turca". Para os turcos esta era
uma pedra da sorte; para os egípcios e gregos era uma pedra de cura
que protegia o corpo de todos os males. Turquesa tem 67 anos e
está há cinco anos.
Diante do exposto acima, nesta pesquisa e da ética em que
esse trabalho embasa, todos os entrevistados receberam os nomes
fictícios citados acima os seus significados, com o intuito de manter o
anonimato e preservar a identidade deles. Os nomes fictícios foram
selecionados conforme cada percepção que tivemos das idosas
relacionando com os nomes fictícios que destacamos aqui.
47
Por conseguinte, os velhos atuais, como afirma Giddens
(2005), estão bem menos propensos a aceitar o envelhecimento
como um processo inevitável de deterioração do corpo. Aqui se pode
mais uma vez traçar o impacto da socialização da natureza. O
processo de envelhecimento era geralmente aceito como uma fatal
manifestação da devastação do tempo.
Mas, cada vez mais, a velhice não tem sido encarada como
algo natural; os avanços na medicina e na nutrição têm mostrado que
muito do que um dia foi considerado inevitável sobre o
envelhecimento pode ser contestado ou retardado. Em média, as
pessoas atingem idades bem mais avançadas do que há um século,
como resultado de melhorias nos cuidados com nutrição, higiene,
saúde etc.
O que seria uma pessoa idosa para as idosas do Grupo?
Adiante seguimos com os depoimentos.
A terceira idade não chegou para mim, pois nunca perdi a vaidade, não deixo de fazer as coisas, ou usar coisas que gosto por causa da idade. “Eu amo minha idade”, gosto muito porque sou uma pessoa muito lúcida, inteligente, faço os meus exercícios, gosto de passear, não vou dizer que não gosto da minha idade, se eu não fosse inteligente, se eu tivesse ficado “abestada” porque tem idosas que se entrega, as pessoas nunca devem se entregar, pois as pessoas tem que levar sua vida do jeito que acham que tá certo, que gosta. Claro que não é fazer uma coisa que estamos vendo que tá errado, mas se seguimos as instruções certas, da forma que somos orientadas podemos sim fazer o que nós gostamos. ”Independente” da idade, as pessoas devem sempre fazer exercícios pra se entreter, é bom pra cabeça. (ESMERALDA, 87 anos).
Mascaro (2004) complementa que ninguém quer ser ou
parecer velho, e um dos maiores elogios que se pode fazer a uma
pessoa é justamente dizer que ela parece ser mais jovem do que a
idade que tem. Hoje tentamos adiar o envelhecimento cuidado da
saúde. Podemos perceber quando Esmeralda afirma que a terceira
idade não chegou para ela, pois a mesma nunca perdeu a vaidade
para ela falar do envelhecimento não faz parte da sua vida, a mesma
se cuida se mantém com os mesmos hábitos da juventude e acha
que a idade é apenas um processo que ocorre na vida das pessoas a
qual todos temos que passar. Os demais entrevistados expõem:
48
Pra mim ser idoso é a partir dos cinquenta anos, apesar de ainda trabalhar e ter um contato com muitas me sentia sozinha sendo uma pessoa idosa, sentia muitas dores no corpo. (CRISTAL, 67 anos).
Eu me sinto muito bem por ser idosa, adoro a minha idade, porém quando muitas vezes sou discriminada pela idade em qualquer lugar no shopping, no ônibus, quando vou fazer um pagamento as pessoas te olham com o olhar de discriminação, por conta da idade, como se fôssemos incapazes de estar ali fazendo nossas coisas, como se fôssemos pessoas inutilizadas, quando na verdade adoramos saber que estamos vivos e podemos sim ir fazer nossos pagamentos, tirar nosso dinheiro, apesar de notar ainda nos dias de hoje, com toda essa modernidade essa discriminação, me sento muito bem com minha idade. (JADE, 66 anos).
Eu me sinto muito bem com a minha idade, mas pensa que o indivíduo passa a ser idoso quando você para de se amar, de fazer exercícios, de ter sua vaidade, os trabalhos. (TURQUESA, 67 anos).
Podemos perceber que a velhice para alguns idosos tem um
sinal positivo, para outros em sua fala é um sinal de qualidade de
vida, mas não deixam de citar os preconceitos que a sociedade
expõe com a chegada da velhice, momento esse que muitos de nós
ainda chegaremos “Assim, viver bem a velhice é uma
responsabilidade pessoal.” (NERI, 2006, p.25).
Contudo, percebe-se que o enfrentamento da velhice faz parte
do ciclo da vida. Cabe a nós aceitar e nos organizar como se chegar
nela com nossas expectativas, aquilo que fazemos quando somos
jovens reflete no futuro e na chegada da velhice, não esquecendo dos
percalços que nos acompanha ao longo do percurso da vida. Velhice
para as idosas entrevistadas é uma gama de sentimentos que mistura
aceitação desse ciclo da vida. Mas o que fazer durante esse processo
da velhice, o que ocorre na vida de um idoso quando ele chega nesse
ciclo, eis a posição da Rubi.
Eu vivia deitada, assistindo televisão e a minha rotina era apenas ir ao mercantil quando necessário e apenas se locomovia do quarto para a cozinha quando ia fazer o almoço, era uma pessoa bastante estressada, sentia-me bastante dolorida tinha uma coordenação motora lenta,
49
quando ia fazer algo, já se notava uma imensa dificuldade, era uma pessoa calada até mesmo em casa, meus filhos já se estávamos aflitos pensando em algo pior. Ao saberem do projeto eles me incentivaram a participar, que lá era muito bom, que iria fazer novas amizades, que seria bom para minha sua saúde, e que talvez até arranjasse um namorado (risos) (sic). (RUBI, 65 anos).
Mascaro (2004), afirma que o envelhecimento ou senescência
se caracteriza por uma série de alterações biológicas, psíquicas e
também sociais, que acompanharia as pessoas em 2/3 de sua
existência, são fenômenos que ocorrem no organismo como um todo.
É o que aconteceu com Rubi, as suas atividades funcionais já
estavam lentas e por chegar a essa idade sem uma expectativa
definhou e se entregou as limitações da velhice. Mas como ela relata,
o projeto melhorou a sua vida. O projeto dos bombeiros tem
modificados esse aspecto em relação à saúde e tirando os idosos da
acomodação da velhice.
Podemos observar isso nas falas a seguir quando os sujeitos
desta pesquisa retratam sobre o projeto saúde dos bombeiros na sua
vida.
Através do projeto tive muitas vantagens na minha vida, a saúde melhorou, bem-estar, eu sinto que minha coordenação motora está melhor, eu não interage muito com o grupo sou uma pessoa bastante reservada, mas adoro fazer as atividades físicas, me sinto disposta o dia inteiro. (RUBI, 65 anos).
Após iniciar o projeto dos bombeiros, apesar de pouco tempo, percebi que tinha renascido uma nova mulher, estou mais esperta, normalmente acordava cedo, mas agora tenho uma nova rotina, vou caminhar, participar dos exercício fiz novas amizades, estou mais bem-humorada comigo mesma, estou de bem com a vida, minha autoestima está elevada. Eu participo dos passeios e de outras atividades que são proporcionadas aos idosos. (RUBI, 65 anos).
Face ao exposto dos sujeitos, verifica-se que o conceito de
qualidade de vida através do projeto tomou novos rumos, tendo como
principal fonte de mudança as próprias concepções dos idosos.
Assim, a autoestima da pessoa idosa motivou as demais
transformações, como: as práticas de exercício físico, a participação
em eventos sociais, o que contribui para o exercício saudável da
50
mente, dentre outros. Dessa forma, é necessário manter a autonomia
e a independência durante o processo de envelhecimento e priorizar
aspectos positivos da vida humana que contribuem para a melhoria
na qualidade de vida.
Soube do projeto, porque costuma ir à missa aos domingos, e em um desses domingos de missa foi anunciado que no pátio haveria uma aula com exercícios com os bombeiros, no outro dia trouxe minha identidade e fiz sua inscrição. Quando eu era mais nova sempre fazia exercícios, caminhava, sempre tentava fazer algum exercício, se movimentar, nunca ficou parada, faz hidroginástica, e hoje em dia estou inserida no projeto saúde, bombeiro e sociedade, tinha vários problemas de saúde, como por exemplo bursite, artrose, mas que atualmente sente que com o projeto ficou mais esperta, é muito bom fazer esses exercícios, conhecer e fazer novas amizades, adora os passeios, as organizadores são pessoas educadas, já fui a vários como Juazeiro do Norte, Parnaíba, mas um dos melhores passeios que fiz foi uma viagem a cidade de Natal-RN, a cidade é linda ainda não conhecia, foi ótimo pra se entreter, desopilar. (ESMERALDA, 87 anos).
Antes de iniciar no projeto eu me sentia muito triste em casa, que a idade vai chegando e tem que se acostumar com isso. Fui a procura de um médico, por conta de saúde, foi necessário que procurasse uma ajuda especializada, então vendo quadro clínico, o médico me encaminhou para fazer uma atividade física, aí comecei a caminhar, foi aí que em um dos anúncios da missa avisaram sobre o projeto saúde dos bombeiros, e logo após iniciei e estou até a presente data. (CRISTAL, 67 anos).
Apesar do idoso apresentar dificuldades nas realizações de
tarefas e em solucionar problemas inéditos com a mesma velocidade
com que fazia quando jovem, ele não deve se excluir da sociedade.
Ferreira (2011) expõe que isso não significa ser incapaz e inútil, já
que todas as pessoas apresentam algum tipo de dificuldade em
algum momento da vida.
Após iniciar o projeto que este ano fez dez anos que participo, sinto que melhorei 50%, melhorei a minha saúde, pois ficar parado é bem pior, e com os exercício ajudou a melhorar minha situação, estou bem-humorada, hoje em dia cuido do meu “netinho” e estou me relacionando bem melhor com as pessoas. Eu acho bom participar do projeto, fiz muitas amizades, adoro o ambiente, as pessoas e toda a equipe. (CRISTAL, 67 anos).
51
Ribeiro et al (2008), afirmam que o grau de satisfação humana
nas diferentes esferas de vida (familiar, amorosa, ambiental, social,
profissional e existencial) relaciona-se ao padrão de conforto e bem-
estar estabelecido pela sociedade, historicamente. Em relação à
saúde, as noções se unem em uma resultante social da construção
coletiva dos padrões de conforto e tolerância que determinada
sociedade estabelece, como parâmetros para si.
Sempre pratiquei exercício físico quando mais nova, frequentava a academia do bairro, fazia musculação, aeróbica, fazia caminhada, sempre fui bastante ativa, pois gostava sempre de manter-se em forma, aí resolvi sair da academia, porque notava a diferença de tratamento por conta da minha idade, os instrutores acaba dando atenção aos jovens e acaba deixando de lado os idoso, pois quando na verdade se cultua o corpo perfeito em vez de uma vida saudável. Então procurei outros meios de continuar se exercitando, comecei a participar do projeto através de uma amiga da igreja uma das primeiras coordenadoras do projeto, pois fazíamos caminhada juntas e convidou pra que participasse explicando que haveria no pátio da igreja São Judas Tadeu um projeto dos bombeiros, onde me escrevi e que estou até hoje e não troco por outro lugar, aonde fiz muitas amizades, melhorou minha autoestima, senti-me muito feliz naquele ambiente, embora tenha outros entorno da casa minha casa, prefiro estar ali. (JADE, 66 anos).
O conceito de qualidade de vida da qual identificamos na fala
de Jade está relacionado, como que Vecchi et al (2005) diz em
relação à autoestima e ao bem-estar pessoal e abrange uma série de
aspectos como a capacidade funcional, o nível socioeconômico, o
estado emocional, a interação social, a atividade intelectual, o
autocuidado, o suporte familiar, o próprio estado de saúde, os valores
culturais, éticos e a religiosidade, o estilo de vida, a satisfação com o
emprego e/ou com atividades diárias e o ambiente em que se vive.
Jade ainda continua se referindo aos benefícios para sua saúde que
o projeto trouxe:
O projeto foi muito bom pra sua saúde diminuiu grandes riscos, como pressão, glicose no sangue, diz que no começo o projeto tinha várias pessoas mais com a criação de outros núcleos, foram-se diminuindo os participantes, mais gosta de estar ali. (JADE, 66 anos).
Ferreira (2011) diz que com o passar dos anos é possível
52
observar o declínio das funções no nosso corpo com algumas
doenças causadas pelo envelhecimento. O que percebemos que
Jade mesmo relatou sobre sua saúde as mudanças no seu corpo,
mas que com o andamento do projeto essas funções de mudança
foram se amenizando e se modificando para ter uma saúde melhor.
O Projeto Saúde Bombeiros em questão resgata a
oportunidade das pessoas idosas participarem de atividades que
proporcionam boa integração, o desenvolvimento da coordenação
motora, o controle da respiração e o relaxamento dos músculos.
Dessa forma, também as relações de amizade são estabelecidas e a
dignidade da pessoa idosa é respeitada.
Para essas pessoas, o fato de ter um objetivo, uma atividade já
lhe dá ânimo para levantar, fazer as atividades de casa e preparar-se
para participar do Projeto. Como algumas das entrevistadas afirmam:
Minha vida melhorou bastante após ter entrado no projeto, pois era uma pessoa que não saia de casa, a não ser para ir ao trabalho, pois tenho problemas de locomoção por conta da osteoporose, minhas pernas inchavam muito, agora está bem melhor. Fui a um médico, por sentir fortes dores nas pernas depois de constatado a doença, o médico indagou se eu estava praticando algum exercício físico, relatando que estava indo ao projeto dos bombeiros, onde o mesmo incentivou para que continuasse e nos dias que não fosse sempre manter-se fazendo algum exercício, como exemplo caminhada. (TURQUESA, 67 anos).
Trabalhei trinta e três anos pelo estado, atualmente funcionária pública aposentada, apesar disso não para de exercitar principalmente minha mente, leio de quatro a cinco livros no ano, adoro ler e fazer receitas, fazendo hoje em dia bolos e doces pra vender moro próximo a uma comunidade onde ajudo a organizar as festas, está sempre no meio me propondo a ajudar isso me deixa mais ativa. (TURQUESA, 67 anos).
Por conseguinte a essas afirmações temos a visão dos
instrutores acerca do projeto e a mudança em suas vidas e dos
idosos.
O projeto teve início em 2003 com o Major Sauwi na Leste
Oeste e se expandiu em 2004 quando deu-se início o coronel
chamou o pessoal que tinha o CATF, que era o curso técnico de
educação física para poder abrir alguns núcleos, foi eu e mais nove,
53
éramos dez e o primeiro núcleo que eu abri foi o do José Walter, em
agosto de 2003 e aqui na Vila Pery começou em fevereiro de 2004, e
hoje estamos com dez anos aqui. Aqui começou quando uma
moradora do bairro sentiu a necessidade de ter esse núcleo, por que
as senhoras não tinham o que fazer, não costumavam ir a uma praça,
academia e como o projeto estava no auge e ela nos convidou pra vir,
e eu vim, fizemos uma reunião no sábado e na segunda já iniciou.
Iniciamos com doze mulheres, e chegamos a ter mais de cem. Aqui
na Vila Pery procuramos trabalhar com elas não só a questão física,
mais também a questão social a gente faz passeios, excursões, tenta
trabalhar esse lado também, a experiência aqui é bastante valida
porque nós temos visto bastantes resultados pessoas sedentárias,
pessoas com problemas na coordenação motora, pessoas que
chegaram com problema de AVC, nós trabalhamos quase como uma
fisioterapia com ela, então temos tido muitos resultados, muito
proveitoso mesmo. Um caso que me chamou atenção ao longo dessa
minha trajetória aqui neste núcleo, era uma senhora bastante obesa e
tinha muita dificuldade para se locomover, sentia muitas dores, tinha
artrose e com o esforço dela e nosso incentivo com os exercícios ela
conseguiu perder peso, ela conseguia fazer o exercício mais
coordenadamente, teve um bom resultado. Com relação ao social e
os benefícios que o projeto trouxe eu vi que mudou muito com
relação a autoestima, o próprio exercício físico ele produz uma
endorfina que causa alegria, e elas passaram a ser mais alegres,
mais dinâmicas, tinha e tem pessoas aqui com depressão, nós temos
uma aluna que é depressiva, mas quando está aqui se transforma,
fica bastante feliz. Esse projeto é muito bem aceito pela sociedade,
inclusive alguns médicos recomendam para as pessoas idosas que
procurem o núcleo do bombeiro, que tem sido de muita valia.
(OURIVES 01).
O que observamos na fala do ourives 01 é a questão do social
trabalhado através do projeto, o que enfatiza que a qualidade de vida
ela aborda todos os tópicos que vai da saúde a vida social e como foi
relatado nas entrevistas com as idosas essa questão do social
54
também foi posto em questão a amizade, a socialização e a saúde
tudo isso ocorrido através deste projeto que muda não só a vida dos
idosos, mas dos instrutores e daqueles que estão envolvidos em
questão.
Quando fui convidado e informado de como seria o projeto e
seus objetivos de cara topei, pois me sentia bastante feliz em
participar desses projetos sociais, a minha primeira turma seria no
Vila União onde tem uma praça que várias senhoras caminhavam,
logo fui anunciar que começariam as inscrições, começamos com
entorno de uma 300 mulheres, entre idosas e jovens que sentiam
necessidade de fazer um exercício físico, muitas diariamente
caminhavam mais não praticavam aeróbico exercitando toda a
coordenação motora. Foi muito satisfatório, quando vimos o projeto
evoluindo em saber que estaríamos tirando várias senhoras de dentro
de casa, muitas com algumas doenças crônicas, psicológicas entre
outras. A 1º vez me deparei com uma turma enorme e fui me
adaptando ao que elas queriam e poderiam por suas habilidades
treinar, quando cheguei a minha residência fui treinando alguns
passos, porque muitas delas me diziam que queriam suar, queimar
calorias, assim peguei minha filha e fui ensaiando alguns exercícios
aeróbicos, e assim tornando o treino de acordo com o que elas se
adaptavam. Começamos a observar uma grande evolução, o carisma
que nós temos com as mesma, a alegria, foi fortalecendo e tornando
o projeto cada vez mais satisfatório a sociedade, formando assim
uma família. Aqui nós temos exemplos de pessoas que tem alguns
problemas de saúde, como diabetes, que tiveram AVC, entre outras
já estavam se desenvolvendo se movimentando com mais facilidade,
e elas ficam cada vez mais jovens psicologicamente, socialmente.
Pessoas que nunca dançaram e hoje em dia treinam a coordenação
motora, muitas não faziam por diversos motivos e atualmente não
perdem um dia. Foi um grande incentivo para abrir os olhos da
prefeitura com relação a essas pessoas idosas, para que eles
pudessem ter seus direitos garantidos, principalmente a uma vida
saudável. (OURIVES 02).
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A contribuição para um envelhecimento ativo e saudável,
perceptível na fala do ourives 02, no olhar, nas atitudes dessas
pessoas que estão na ativa querendo ajudar esses idosos também
comparece no significado que uma vida ativa é extremamente
importante para a sociedade.
Ao se partir do pressuposto de que o idoso deva se manter
ativo na sociedade, chega-se ao que se chama de envelhecimento
ativo que tem por objetivo a melhoria da qualidade de vida por meio
da otimização de oportunidades de saúde, participação e de
segurança de idosos. E o Projeto Saúde dos bombeiros proporciona
isso à parcela de idosos que nele buscam refúgio, ajuda e qualidade
de vida.
56
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho aqui apresentado procurou objetivar a importância
do Projeto Saúde dos Bombeiros para a sociedade, principalmente a
sociedade que está envelhecendo e precisa de uma qualidade de
vida através dos exercícios físicos. O levantamento em questão nos
proporcionou ressaltar alguns pontos que cercam o processo do
envelhecimento, a questão da saúde, o conceito de velhice e as
mudanças ocorridas na vida dos idosos por uma melhor qualidade de
vida.
É preciso salientar, aqui, nas entre linhas deste trabalho que
esse processo investigatório não está acabado, muito pelo contrário,
as discussões que foram apresentadas neste espaço servem apenas
como subsídio para reflexões maiores e mais profundas. Contudo,
não há, de forma alguma, o desejo de desmerecer esta construção
teórica, pois ela também é um acréscimo aos diversos estudos que
estão surgindo a respeito do idoso e a fase da vida que é a velhice.
O envelhecimento tem sido destaque em algumas pesquisas
na sociedade acadêmica, e isso tem se mostrado de extrema
importância para esse segmento, mostrando a voz e a vez deles. O
que é necessário para que os mesmos compreendam a importância
das leis, dos seus direitos e, principalmente, da saúde da qualidade
de vida para eles. E o Projeto Saúde, Bombeiros é um grupo que em
parceria com Estado e comunidade conseguiu atrelar atividade física
com lazer, isso porque os idosos que participam encontram nesse
espaço oportunidade de melhorar sua saúde, esquecer um pouco
seus problemas, diminuir o ócio e ainda desenvolver suas
habilidades, quando da realização de oficinas de artesanato, festas
comemorativas, dentre outros momentos.
A realidade é que os idosos estão mais ativos, pelo que
percebemos durante o processo da entrevista o que ocorreu com a
entrada dos mesmos no projeto, com a nova roupagem de muitas
surpreender a família, seja cuidando de familiares netos
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principalmente. Ou seja, vieram também novos papéis sociais e isso
implica para esse grupo um trabalho no campo social e a sociedade
deve estar preparada para desempenhar o seu papel seja no social
ou ainda no contexto familiar.
Esta pesquisa procurou contribuir para uma maior reflexão
sobre o espaço que o idoso tem na sociedade como de direito. E
refletir sobre a velhice e a qualidade de vida, já que estamos ainda
nesse processo e devemos levar como incentivo o que os sujeitos
desta pesquisa nos passaram que saúde acima de qualquer coisa e
uma qualidade de vida na velhice é essencial.
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1.
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APÊNDICE
Questionário - Idoso
1. Pra você o que é ser idoso(a)?
2. Com que idade se começa a ser idoso(a) pra você?
3. O que levou você a procurar o projeto dos bombeiros?
4. O que o Projeto Saúde, bombeiros e sociedade acrescentou em sua vida?
5.Como a sua família vê esse projeto?
Questionário – Instrutores
1. Como você ver o projeto, qual a importância dele para o idoso(a)?
2. Qual sua perspectiva a respeito do projeto, qual foi sua primeira impressão?
3. Como foi sua aproximação com o público?
4. Qual a sua didática com as idosos(a)?
5. De acordo com suas vivências, houve casos de idosas que se recuperaram de doenças após iniciar o projeto?
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ANEXOS
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