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Milena da Silva Carneiro
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO
CAMPUS II – ALAGOINHAS COLEGIADO DO CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA
MILENA DA SILVA CARNEIRO
CENTRO DE MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTE DA BAHIA:
EXPERIÊNCIAS UNIVERSITÁRIAS E DESAFIO CULTURAL
ALAGOINHAS
2012
MILENA DA SILVA CARNEIRO
CENTRO DE MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTE DA BAHIA:
EXPERIÊNCIAS UNIVERSITÁRIAS E DESAFIO CULTURAL
Monografia apresentada ao curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, Campus II, Alagoinhas, como requisito para obtenção de titulo em Licenciatura em Educação Física, sob a orientação do Professor Doutor Augusto Cesar Rios Leiro.
ALAGOINHAS
2012
AGRADECIMENTOS
Nossas histórias de vida são marcadas pelas relações que construímos com
aqueles que cruzam nosso caminho, tanto com aqueles que cativamos amizades de
longas datas, como aquelas pessoas que têm sua passagem temporária. Neste sentido,
na minha jornada de formação acadêmica, tive pessoas dessas duas formas e que, direta
e indiretamente, contribuíram para que esta etapa fosse vencida com êxito. Para tanto,
quero deixar meu sincero agradecimento:
Primeiramente a Deus, pela força concedida diariamente para enfrentar as
dificuldades, por iluminar meu caminho, abençoando-me todos os dias.
Aos meus pais e irmãos, pelo amor incondicional, por representarem meu esteio,
sem nunca limitar esforços para me apoiar em toda minha trajetória acadêmica.
Carinhosamente, agradeço ao meu querido namorado Wender, que esteve ao meu
lado, acompanhando cada conquista ou frustração; não medindo esforços pra me ajudar
no que necessitasse; sempre incentivando meu crescimento profissional, bem como
compreendendo minha ausência nesta etapa que se encerra nesta graduação.
Manolo, Conceição e Matheus, minha gratidão pela acolhida em sua casa, e por se
colocarem sempre disponíveis, não importando dia ou horário, para me levar ao aeroporto
ou à rodoviária, para participar de eventos acadêmicos;
Aos meus tios, primos, avó que sempre demonstraram preocupação comigo, bem
como torceram pelo meu sucesso.
Não podia esquecer meu agradecimento especial à Rauven, Janine e Nino que
permaneceram ao meu lado durante toda esta jornada me fazendo companhia,
protegendo e transmitindo alegria.
Para além da amizade, agradeço também a Anderson, pelas inúmeras vezes que
me socorreu, quando precisei de ajuda técnica na área de informática.
Já nesta reta final de conclusão de curso, a contribuição de D. Lurdes, Geisa e Téo
foi de fundamental importância para a realização das entrevistas. Portanto, fica aqui meu
muito obrigado.
Aos meus amigos, em especial Laís, Grace, Dani, Abigail, Jocileide, Rebeca, que
não apenas nos momentos de diversão estiveram ao meu lado, mas que também nos
momentos turbulentos me deram apoio;
Aos amigos que fiz ao longo das participações em congressos, em especial a Alan
Kardec bem como àqueles com quem, para além dos eventos acadêmicos, pude
compartilhar experiências em algumas disciplinas do curso, como Andressa, Isis, Alani,
Daiara, Cintia, pela companhia e bons momentos desfrutados juntos, e que certamente
ficarão guardados em nossa memória.
Em nossas vidas, despertamos maior afinidade com algumas pessoas do que com
outras. Assim sendo, durante a graduação, como expressão de admiração, respeito e
carinho, tive, nas imagens dos professores Luiz Rocha e César Leiro, referência de
competência, profissionalismo e dedicação à Educação Física. Portanto, meu
agradecimento, pela amizade, compreensão e por acreditarem em meu potencial.
Principalmente ao prof. César Leiro que sempre depositou confiança em minha
capacidade, dando subsídios para o meu crescimento profissional deixando-me livre pra
que pudesse alçar vôos.
Aos professores Ubiratan Menezes, Francisco Pitanga, Diana Tigre, Magdalânia
Cauby, Eduardo Sá, Nélia Bispo, Normando Carneiro, Gregório Benfica, Ana Simon,
Gleide Sacramento, Mônica Benfica, Valter Abrantes, Maurício Maltez, Martha Benevides,
Neuber Leite e Alan Rocha que fizeram da minha vida acadêmica uma construção do
saber.
A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia pelo apoio através do
financiamento de bolsa de Iniciação Cientifica.
Às amigas Arissandra, Juliana Correia, Rita de Cássia e Tatiane firmando ao longo
do curso uma grande parceria intelectual, compartilhando experiências, angústias e
alegrias.
À galera do paredão, Ariane, Janilma, Silas, Guilherme, Ângela, Izandra, Shirley,
Érica pela amizade e pelo que vivemos juntos.
Enfim agradeço a todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram na
formação profissional.
Guardar
Guardar uma coisa não é escondê-la ou
trancá-la. Em cofre não se guarda nada.
Em cofre, perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer
vigília por ela, isto é, velar por ela, isto é estar
acordado por ela, isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o vôo de um pássaro.
do que um pássaro sem vôos;
por isso se escreve, por isso se diz, por isso se
publica, por isso se declama e declara um poema:
para guardá-lo;
para que ele, por sua vez, guarde o que se guarda,
guarde o que quer que guarde um poema.
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.
Antonio Cícero
RESUMO Reconhecendo a importância do papel desempenhado pelos Centros de Memória, quanto ao trabalho de preservação da memória, disponibilizando-a de forma organizada e verificando que a Bahia, enquanto primeiro Estado do Brasil, ainda carece de um espaço que acolha a massa documental referente à Educação Física e ao Esporte, a investigação em tela se interessou em discutir as bases teóricas e infraestruturais para a criação de uma instituição desta no Estado. Para tanto, foi realizada uma pesquisa, fundamentada na abordagem qualitativa e do tipo exploratório, que se utilizou, como procedimentos metodológicos, de levantamento da literatura da área, entrevista com o primeiro coordenador dos Centros de Memória da Educação Física do Esporte da Escola de Educação Física de Minas Gerais (CEMEEF) e da Escola de Educação Física e Desportos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (CEME), bem como de observação dos sítios virtuais desses centros. Este estudo se estruturou em sete capítulos, abarcando desde uma breve discussão conceitual sobre memória e história, como forma de justificar a relevância do trabalho nesta área, atingindo o seu ápice ao discutir algumas experiências universitárias como forma de compreender quais os desafios que teremos que encarar na empreitada de constituição do Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia. Palavras-chave: Centro de Memória. Educação Física. Experiências acadêmicas.
ABSTRACT
Recognizing the important role played by the Centers for Memory, as the work of preserving the memory, making it available in an organized and verifying that the Bahia State of Brazil as the first, still lacks a space that welcomes the mass of documents relating to Education physical and Sports, research on screen was interested in discussing the theoretical foundations and infrastructure for the creation of an institution in this state. Therefore, a search was conducted, based on a qualitative approach and exploratory type, which was used as methodological procedures, lifting the literature, the first interview with the coordinator of Memory Centers of Physical Education Sports School of Education Physics of Minas Gerais (CEMEEF) and the School of physical Education and Sports, Federal University of Rio Grande do Sul (CEME), as well as observation of virtual sites such centers. This study was structured into seven chapters, ranging from a brief conceptual discussion about memory and history, as a way to justify the relevance of the work in this area, reaching its apex in discussing some university experiences as a way to understand what challenges we must face contract for the establishment of Memory Center of Physical Education and Sports of Bahia. Keywords: Memory Center. Physical Education. Academic experiences.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS FAPESB – Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado da Bahia UNEB – Universidade do Estado da Bahia GEPEFEL – Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Física, Esporte e Lazer MEL – Grupo de Pesquisa em Memórias, Esporte e Lazer UFBA – Universidade Federal da Bahia CEMEF – Centro de Memória da Educação Física, Esporte e Lazer CEME – Centro de Memória do Esporte UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFPR – Universidade Federal do Paraná EEFFTO – Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais IBRAM – Instituto Brasileiro de Museus IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional UNESCO – Organização das Nações Unidas para Educação, Ciências e Cultura CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico FAPEMIG – Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Minas Gerais FAPERGS – Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul PROPESQ-UFRGS – Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul PROREXT – UFRGS – Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
LISTA DE GRÁFICOS GRAFICO 1 – Número de museus na capital e UF e porcentagem (%) de concentração de museus na capital, 2010 GRÁFICO 2 – Quantidade de convênios firmados e pesquisas desenvolvidas, distribuídos por ano
LISTA DE IMAGENS IMAGEM 1 – Sítio virtual do Centro de Memória do Esporte da Escola de Educação Física da UFRGS IMAGEM 2 – Sítio virtual do Centro de Memória da Educação Física, do Esporte e do
Lazer – UFMG
IMAGEM 3 – Exposição: "Souvenirs" Olímpicos – Centro de Memória do Esporte (CEME)
IMAGEM 4 – Acervo: Olímpica - Medalha Oficial dos Jogos olímpicos de Lillehammer,
1994
IMAGEM 5 – Processo de identificação de objetos
IMAGEM 6 – Prédio do Centro de Memória da Educação Física, do Esporte e do Lazer da
UFMG
Imagem 7 – Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: Acervo Helio Campos
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 – Recuperação e restauração de imóveis – Bahia, 2003 a 2006 QUADRO 2 – Conservação de imóveis – Bahia, 2006
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 – Relação entre população e número de museus na Bahia, Região Nordeste e Brasil, 2010 TABELA 2 – Distribuição das pesquisas nos nove eixos temáticos, representadas em porcentagem
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 13 2 TENSÃO CONCEITUAL: HISTÓRIA E MEMÓRIA........................................................ 16
2.1 CATEGORIAS DA MEMÓRIA .................................................................................. 18 2.1.1 Tipos de memória............................................................................................... 18 2.1.2 Memória e esquecimento .................................................................................. 20 2.1.3 Temporalidades da memória .............................................................................. 21
3 OS CENTROS DE MEMÓRIA E SUA IMPORTÂNCIA NA PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA ......................................................................................................................... 26
3.1 OS CENTROS DE MEMÓRIA DE EDUCAÇÃO FISICA, ESPORTE E LAZER NO BRASIL ........................................................................................................................... 29
4 O PODER DA MEMÓRIA NUM ESTADO CHAMADO BAHIA ...................................... 31
4.1 O PAPEL DOS EDITAIS: IBRAM E ME ................................................................... 38 5 PERCURSO METODOLÓGICO .................................................................................... 43
5.1 UFMG E UFRGS COMO REFERÊNCIAS ............................................................... 51 6 DESAFIOS HISTÓRICOS E IMEDIATOS ...................................................................... 61 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 65 REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 67 APÊNDICE ....................................................................................................................... 70 ANEXOS ............................................................................................................................ 73
1 INTRODUÇÃO A Universidade, através do ensino, pesquisa e extensão, possui, como um de seus
papéis primordiais, a geração e a difusão do conhecimento. Isso se demonstra por meio
da participação em eventos científicos, publicações em periódicos, bem como pela
confecção de um trabalho de conclusão de curso, expressando um retorno social para
com os investimentos públicos feitos nesta instituição.
Com vistas ao curso de Educação Física da Universidade do Estado da Bahia,
campus II, nos últimos anos, seu crescimento e fortalecimento têm sido notáveis, com
êxito nos aspectos do ensino, da pesquisa e da extensão. Como estudante da graduação,
passei por inúmeras vivências, no decorrer do processo ensino-aprendizagem, que
elucidaram a escolha da temática para a construção do meu trabalho de conclusão de
curso, na modalidade monografia. O trabalho em tela configura a síntese dos esforços
despendidos em minha formação profissional, bem como resulta no término de uma etapa
de minha vida acadêmica.
Remetendo a minha trajetória estudantil dentro da universidade, para além do
conhecimento adquirido nos componentes curriculares, o incentivo à pesquisa, em alguns
deles, foi constante, inclusive com produções submetidas e aprovadas para apresentação
em congressos científicos, despertando, assim, o interesse em me aprofundar neste
campo.
Com este desejo, obtive apoio da FAPESB, através do Programa de Iniciação
Científica, desenvolvendo o subprojeto “Garimpando memórias: os trabalhos
monográficos do curso de Licenciatura em Educação Física do Campus II da UNEB”. Ao
mesmo tempo, aproximei-me das discussões sobre Ordenamento Legal e Políticas
Públicas, uma das linhas de pesquisa do Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação
Física, Esporte e Lazer – GEPEFEL – UNEB, e que, mais adiante, numa parceria com o
Grupo MEL – UFBA, possibilitou a minha participação no projeto “Políticas Públicas de
Esporte e Lazer no Estado da Bahia: Diagnóstico e intervenção no Território 18”.
Nesta caminhada na área da pesquisa, pude ainda participar do projeto “Centro de
Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia: um desafio histórico”, estudo este
que surge como proposta de escrita monográfica e que busca analisar e resgatar a
trajetória da Educação Física e do Esporte, bem como discutir as bases teóricas e
infraestruturais para a criação desta instituição no Estado.
A intenção de estudo parte do pressuposto de que, constituir um Centro de
Memória da Educação Física e do Esporte, é um desejo coletivo e uma necessidade
histórica. Uma iniciativa que demanda tempo e passos científicos capazes de reunir e
preservar documentos relacionados ao tema. É evidente que a sociedade, ao longo do
tempo, tem vivenciado inúmeras transformações e que, para entendermos o presente e
planejarmos o futuro, certamente temos o dever de olhar o passado, de modo contextual
e sociocultural.
Para tanto, importa ressaltar o relevo de editais públicos que estimulam a
formulação de políticas públicas plurais e socialmente referenciadas.
Nesse cenário se inscreve o crescente interesse público e o cuidado setorial
visando à preservação da memória documental, preocupando-se em disponibilizá-la de
forma organizada. Com base nisso, os Centros de Memória têm desempenhado esta
tarefa, tornando-se um lugar propício para o estímulo ao ensino e à pesquisa.
A pesquisa como princípio educativo vem encontrando, nos Centros de Memória,
em particular nos da área da Educação Física e do Esporte, um campo fecundo para a
formação de diferentes sujeitos. Possibilidade essa que já se faz presente em muitas
universidades brasileiras. No que tange à área das políticas de preservação da memória,
já são referências nacionais as experiências da Escola de Educação Física de Minas
Gerais (CEMEEF) e o Centro de Memória da Escola de Educação Física e Desportos da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (CEME), dentre outras. Porém, ao tratarmos
do Estado da Bahia, do primeiro Estado do Brasil, verificamos a inexistência de iniciativas
e de espaço para acolher tal desafio.
No entanto, apesar de existir um diálogo para a sua criação, o Estado da Bahia
ainda carece de um Centro de Memória na área de Esporte e Lazer. Sendo assim, torna-
se necessária sua criação, organização e consolidação, como forma de enfrentar o
desaparecimento do patrimônio histórico relacionado a esse tema.
Para fazer a discussão sobre a temática comentada até aqui, este trabalho
monográfico encontra-se estruturado em sete capítulos, dispostos da seguinte forma:
capítulo introdutório busca situar a problemática a ser tratada, justificando sua escolha.
Para desenvolver o trabalho, o levantamento de estudos sobre a área tornou-se de
extrema relevância. Deste modo, procurei dialogar com algumas categorias teóricas, já no
segundo capitulo – “Tensão conceitual: história e memória” – onde faço este exercício,
trazendo aspectos que englobam desde o surgimento de estudos neste campo e até
mesmo de que forma eles influenciam diretamente nosso cotidiano.
Denominado “Os Centros de Memória e sua importância na preservação da
memória”, o terceiro capítulo pontua o papel desempenhado por instituições de
preservação da memória. Assim, neste capítulo, apresento um subtópico específico: “Os
Centros de Memória de Educação Física, Esporte e Lazer no Brasil”, onde apresento a
trajetória desses espaços no País.
O quarto capítulo – “Poder da memória num Estado chamado Bahia” – traz
argumentos que demonstram a importância desta unidade federativa, para a constituição
do País que, pela sua diversidade cultural, torna-se um campo fecundo de manifestações
artístico-culturais, que, através de iniciativas do poder público, vêm sendo preservadas ao
longo do tempo. Embora exista uma valiosa contribuição de alguns personagens, que
vêm mostrando seu potencial e consequentemente auxiliando no reconhecimento da
Educação Física e do esporte no País, no que respeita à sua memória, as fontes
documentais estão dispersas, requerendo ações que as acolham e tratem. Neste sentido,
ainda neste capítulo, faço um recorte da parcela de contribuição que os editais públicos
vêm dando a esta tarefa.
Contextualizar os passos percorridos para se elaborar uma pesquisa de caráter
cientifico é ainda necessário. Sendo assim, o quinto capítulo aborda as opções
metodológicas escolhidas para a construção deste trabalho monográfico, bem como
apresenta e discute os dados obtidos nas entrevistas realizadas com duas personagens
importantes no cenário dos centros de memória de esporte no País.
Em seguida, apresento a conjuntura das instituições-memória ligadas ao esporte,
em específico no Estado da Bahia, e, a partir dela, apresento os desafios que teremos de
enfrentar no processo de criação, e até a sua consolidação, de um centro de memória.
Por fim, diante do que foi exposto ao longo deste estudo, trago minhas
considerações finais.
2 TENSÃO CONCEITUAL: HISTÓRIA E MEMÓRIA
Vivemos numa sociedade marcada pelas crescentes e velozes transformações
tecnológicas, e, juntamente com elas, a facilidade e a rapidez dos meios de comunicação
têm ocasionado uma profusão de informações. Em decorrência destes fatores, a
memória, que possui, como uma de suas funções principais, “reter fatos, dados e/ou
informações bem como retransmiti-las a novas gerações” (VON SIMSON, s.d. p. 1), não é
capaz de lembrar tudo nos mínimos detalhes, requisitando um mecanismo para intervir de
forma que estes não se percam.
Diante desta situação, os Centros de Memória surgem como o lugar propício à
preservação de documentos com valor histórico para a sociedade. No intuito de discutir as
bases teóricas para a edificação de um Centro de Memória, faz-se necessário
compreender os fatores que justificam o trabalho nesta área.
Partindo do entendimento de que a memória e a história como campos do saber
desempenham papel importante, uma vez que possibilitam a análise e a compreensão de
acontecimentos passados que influenciam diretamente o futuro, nossa primeira tarefa é
destacar as contribuições advindas dessas áreas. No plano teórico, existem diversos
estudos voltados para a preservação da memória documental e é a partir deles que
iniciamos este capítulo.
Sabemos, portanto, que os estudos sobre memória já possuem uma longa
caminhada, despertando o interesse de estudiosos. Segundo Fontanelli (2005, p. 17),
com o surgimento da Escola dos Annales, são utilizados vários instrumentos, desde os
mais convencionais e até mesmo depoimentos orais e monumentos, com o objetivo de
constituir a memória nacional.
Diversos são os tipos de abordagem da memória, podendo esta ser explorada por
filósofos, psicólogos, psiquiatras, entre outros, que a estudam isoladamente. Por outro
lado, há estudiosos, como Halbwachs (apud FONTANELLI, 2005, p. 18), que relacionam
a memória com as instituições sociais, sendo considerada, assim, como um fenômeno
social.
Conforme a referida autora, já no final do século XIX, as investigações de Pinto
(1998 apud FONTANELLI, 2005) evidenciam o aparecimento de trabalhos sobre este
tema, em diversos campos de reflexão, sendo tal evento atribuído às mudanças que
aconteceram nas relações humanas, junto ao processo de urbanização, pelas quais se
passou a privilegiar o presente, desperdiçando as lembranças.
Para entender a relação entre história e memória, é preciso, inicialmente,
compreender o que seja história. Como apontado na literatura, esta tarefa não é fácil, uma
vez que a concepção de história é bastante complexa, pois traz como objeto de estudo as
sociedades humanas.
Percebida a complexidade do assunto, verifica-se uma ampla discussão pelos
estudiosos. Dentre eles, Le Goff (2004 apud FONTANELLI, 2005, p. 20), que a define
como “ciências da evolução das sociedades humanas”, o que será desenvolvido mais
adiante, quando o mesmo autor faz a colocação de ciência do passado em constante
reconstrução.
Sob o entendimento de Bloch (2001 apud OLIVEIRA, 2011, p. 2), a história “é a
ciência dos homens no tempo”. Podemos acrescentar, ainda, que, enquanto elemento
fundante do trabalho de preservação do patrimônio cultural de um país, Goellner (2003, p.
200) trata a história como “reconstrução a partir das fontes que cada sujeito reúne para
construir sua narrativa”. Ou seja, o homem inserido na sociedade se autopermite
reconstruir sua história, ao deixar vestígios que o ajudam nesta tarefa. Portanto, ainda de
acordo com esta autora, a história se situa como a possibilidade de estabelecer ligações
entre várias épocas, evidenciando que o passado é algo que não é passível de mudança,
apenas de aproximação, recorrendo a documentos, imagens, objetos, artefatos, sons e
narrativas, dentre outros elementos.
Já a memória, segundo Belotto (2004 apud COELHO; ASSIS, 2010, p. 6),
compreende “um conjunto de informações e/ou documentos, orgânicos ou não”, que é
fonte material, para arquivos, bibliotecas, centros de documentação e museus, sendo
para isso empregadas diversas metodologias no tratamento de dados.
Diferenciando história e memória, observamos que:
Halbwachs, antes mesmo de Benjamin, já refletira sobre esta questão e separou as duas áreas, considerando a memória como instrumento de trabalho do historiador. Para ele, o historiador precisa manter certo distanciamento temporal dos acontecimentos para poder escrever sobre eles de forma critica. Enquanto que a memória é imediata e, com a ação do tempo ou o distanciamento do grupo, pode ser enfraquecida ou mesmo alterada, em virtude das influências e da alteração do próprio repertorio cultural do individuo. (FONTANELLI, 2005, p. 20)
Deixando clara, a diferença entre história e memória, a autora considera que a
memória só existe em vista daquele que viveu determinado fato, enquanto a história pode
ser contada por outra pessoa, mesmo que não tenha nascido naquela época, mas que,
através de registros, documentos, é capaz de relatar e refletir o ocorrido.
Ainda com a pretensão de diferenciar memória e história, Fontanelli (2005, p. 21)
fundamenta-se nas análises de David Lowenthal (1998), que esclarece: A função fundamental da memória, por conseguinte, não é preservar o passado, mais sim adapta-lo a fim de enriquecer e manipular o presente. Longe de simplesmente prender-se a experiências anteriores, a memória nos ajuda a entendê-las. Lembranças não são reflexões prontas do passado, mais reconstruções ecléticas, seletivas, baseadas em ações e percepções posteriores e em códigos que são constantemente alterados através dos quais delineamos, simbolizamos e classificamos o mundo à nossa volta. (apud FONTANELLI, 2005, p. 21)
No que se refere à história, segundo Lowenthal,
A história difere da memória não apenas no modo como o conhecimento do passado é adquirido e corroborado, mas também no modo como é transmitido, preservado e alterado. (1998 apud FONTANELLI, 2005, p. 22)
A história, portanto, tem a função de construir a representação crítica do passado,
mantendo vínculo com a modernidade, segundo Pinto (1998 apud FONTANELLI, 2005, p.
22). Assim, ela é um campo de conhecimento que visa discutir, elucidando fatos da
memória coletiva. Para isso, a memória é considerada objeto da história, existindo
dependência entre elas, uma vez que a história precisa da memória e esta é perpetuada e
registrada pela primeira.
2.1 CATEGORIAS DA MÉMORIA
Por categoria entendem-se “os modos mais gerais de se predicar um sujeito”
(MONTEIRO; CARELLI, 2007, p. 4). Tendo em vista que a memória apresenta variadas
características, estabelecemos algumas categorias para compor nossa investigação,
dentre elas: tipos de memória, esquecimento e temporalidade da memória.
2.11Tipos de memória
No entendimento de Von Simson (s.d, p. 1), a memória é a capacidade humana de
reter fatos que aconteceram no passado e retransmiti-los às novas gerações, por meio de
diferentes suportes (voz, imagem, documentos escritos etc.). Partindo dessa ideia,
podemos trabalhá-la sob dois enfoques: o individual e o coletivo.
Para a memória individual, este autor ainda discorre que é aquela que o indivíduo
guarda sobre suas vivências e experiências. Por estar inserido na sociedade, engloba
também aspectos da memória do grupo social onde ele se formou. Já a memória coletiva,
pode ser caracterizada como aquela formada pelos acontecimentos considerados
importantes e que são guardados como memória oficial da sociedade.
Neste sentido, a memória é individual ou subjetiva, quando se trata das
experiências ao nível do indivíduo, e pode ser social ou coletiva, quando se baseia na
cultura de um agrupamento social e em códigos apreendidos nos processos de
socialização que acontecem no seio da sociedade.
Tanto a memória individual quanto a coletiva são importantes, no entanto, há de se
considerar que a segunda se sobressai sobre a primeira, uma vez que estarmos inseridos
na sociedade e assim somos influenciados por pessoas e pelo contexto de que fazemos
parte.
Complementando esta ideia, em Halbwachs (1990 apud FONTANELLI, 2005, p.
18), vamos encontrar a observação de que “cada memória individual é um ponto de vista
sobre a memória coletiva”. Assim, ela muda de acordo com o local, o contexto, as
pessoas e as relações mantidas com o meio. Tal fato nos explica o porquê de nossas
lembranças serem modificadas, quando relembradas junto daqueles que delas
participaram, visto que, muitas vezes, as lembranças que possuímos não coincidirem com
as de outras pessoas.
Conforme Le Goff (2003, p. 460), algumas das manifestações mais importantes da
memória coletiva se deram no século XIX e início do século XX, por meio de dois
fenômenos. O primeiro, após a Primeira Guerra Mundial, que foi a construção de
monumentos aos mortos, sendo erguido, em vários países, um Túmulo ao Soldado
Desconhecido.
O segundo foi o advento da fotografia, revolucionando a memória, permitindo a sua
guarda, ao longo do tempo, segundo uma ordem cronológica. Para contribuir com tal
afirmação, Le Goff se utiliza das palavras de Pierre Bourdieu (1965, p. 53-54),
evidenciando o significado do álbum de família: A Galeria de Retratos democratizou-se e cada família tem, na pessoa do seu chefe, o seu retratista. Fotografar as suas crianças é fazer-se historiógrafo da sua infância e preparar-lhes, como um legado, a imagem do que foram [...]. O álbum
de família exprime a verdade da recordação social. Nada se parece menos com a busca artística do tempo perdido que estas apresentações comentadas das fotografias de família, ritos de integração a que a família sujeita os seus novos membros. As imagens do passado dispostas em ordem cronológicas, “ordem de estações” da memória social, evocam e transmitem a recordação dos acontecimentos que merecem ser conservados porque o grupo vê um fator de unificação nos monumentos da sua unidade passada ou, o que é equivalente, porque retêm do seu passado as confirmações da sua unidade presente. [...].
A memória coletiva exerce um papel de grande relevância, podendo ser
demonstrada com a evolução da sociedade, na segunda metade do século XX. Com ela
são incorporadas questões, tanto das sociedades desenvolvidas como daquelas em
desenvolvimento, das classes dominantes e das classes dominadas, que lutam todas pelo
poder, pela vida.
Cabe assinalar que a memória representa, também, um instrumento de poder, isso
se dá a partir do eixo que orienta o trabalho definido pela instituição que realiza a
atividade, de acordo com os objetivos daquele grupo.
2.1.2 Memória e esquecimento
Falar de memória significa mencionar a lembrança e o esquecimento. A título de
curiosidade humana, a maneira de registrar os fatos considerados importantes tem sido
objeto de variadas investigações. Para Von Simson (s.d., p. 4), este processo se “baseia
nas sinapses (ligações eletroquímicas) que conectam o vivido e o experienciado pelos
sentidos com a área cerebral onde se dará o registro”. Para que sejam registradas as
informações, entretanto, torna-se necessário um filtro seletivo, separando o que deve ser
preservado daquilo que deve ser descartado, tarefa em que a cultura apresenta um
importante papel.
Creus (2002 apud FONTANELLI, 2005, p. 28) discorre que “o esquecimento é
imprescindível para evocação da lembrança e para a própria constituição da memória.
Somente lembramos porque somos capazes de esquecer”. Neste sentido, citando os
estudos de Izquierdo (2002), Monteiro e Carelli (2007, p. 2) complementam, explicitando a
necessidade que temos de esquecer para não sobrecarregar a memória. Desta forma,
eles entendem que o esquecimento é um “processo natural e necessário para o melhor
funcionamento da memória”.
A memória pode ser tratada em três temporalidades distintas, como discutiremos
adiante, sendo que cada uma delas é afetada pelo esquecimento, como aponta Monteiro
e Carelli (2007, p. 12):
Até a memória técnica é constituída de esquecimento. Não é possível memorizar tudo que está disponível, nem na mente humana (oralidade), nem nos “lugares da memória” (escrita), nem mesmo, no Ciberespaço (digital).
Ainda, segundo as autoras, o esquecimento apresenta estreita relação com a
memória oral, uma vez que a transmissão do conhecimento estava baseada
exclusivamente na oralidade, através de ritos e mitos, e aquilo que não fosse reiterado era
esquecido. Já na memória escrita, o conhecimento julgado conveniente de ser preservado
era registrado em suporte, enquanto, na sociedade digital, o esquecimento se torna
constante, devido não haver garantias de preservação da memória. Tal fato é justificado
pela retirada de documentos da rede e a desterritorialização dos signos, que provocam o
esquecimento.
2.1.3 Temporalidades da memória
Falar em memória é trazer para o debate a maneira como o conhecimento é
transmitido ao longo do tempo. Dessa maneira, não se podem negar as diversas
alterações sofridas com a incorporação de novos suportes e técnicas de comunicação. No
entanto, cabe dizer que um antigo suporte não deixou de existir para dar espaço a outro,
mas eles surgiram de forma a se sobreporem aos demais. Neste contexto, portanto, a
memória se divide em três temporalidades distintas: a oral e as memórias técnicas, ou
seja, aquelas mediadas pelos registros do conhecimento, tais como a escrita e o digital.
O ser humano, desde a sua gênese detém uma grande quantidade de informações,
tanto na memória de longo prazo como na temporária. É pertinente dizer, então, que a
utilização da memória biológica foi a primeira forma de transmissão e perpetuação do
saber. Assim, as sociedades orais são consideradas aquelas anteriores à invenção da
escrita, quando se transmitia o conhecimento através da narração de mitos e ritos.
A prevalência da oralidade é uma das características da sociedade, antes da
escrita. Nela, todo conhecimento eram transmitido oralmente, tendo na figura dos mais
velhos o papel de destaque nesta realização. Como o saber só era transmitido por meio
da fala, não era possível se preservar a memória, o rito, e o mito, sem passar pelo
processo de observação, escuta, repetição, imitação e atuação das pessoas.
Os estudos revelam que neste tipo de sociedade existiam especialistas da
memória, vulgo homens-memória, que eram compostos pelos “genealogistas1”, guardiões
dos códices reais, historiadores da corte, “tradicionalistas”, com o papel de manter a
coesão do grupo, papel este que podia ser desempenhado pelos chefes de família idosos,
bardos e sacerdotes.
É importante dizer que: Os anciões, nessa época, eram considerados sábios guardiões da memória que, por sua vivencia e experiência adquirida com a idade, detinham valiosos conhecimentos e preciosas lembranças. (MONTEIRO; CARELLI 2007, p. 7)
No entanto, cabe falar que, embora muitas pessoas acreditem, os estudos de
Godoy revelam que a memória transmitida nas sociedades sem escrita não é uma
memória “palavra por palavra”. Para chegar a essa conclusão, ele se utilizou do mito do
Bagre, recolhido entre os lodagaas do norte de Gana, verificando a existência de
numerosas variantes do mesmo mito. Para Godoy, nesta sociedade não é desenvolvida
uma aprendizagem mecânica, automática, o que também não implica que tal fato esteja
relacionado à dificuldade objetiva de memorização integral, palavra por palavra, mas pode
estar ligado a uma ideia de “menos apreciável que o fruto de uma evocação inexata”.
(GODOY apud LE GOFF, 2003 p. 426)
Desta maneira, a reprodução mnemônica2, palavra por palavra, estaria relacionada
à escrita, como apontado por Le Goff (2003, p. 426), enquanto a sociedade sem escrita,
excetuando algumas práticas de memorização ne varietur3, dá à memória mais liberdade
e poder criativo.
O surgimento da escrita desencadeou inúmeras transformações na memória
coletiva, pois, através dela, os acontecimentos poderiam ser registrados em suporte, não
1 Profissional que atua no ramo da genealogia, ou seja, estuda a origem, a evolução e a disseminação das famílias e respectivos sobrenomes ou apelidos. Mais informações em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Genealogia>. Acesso em: 19.jun.2012. 2 São, tipicamente, verbais, e utilizados para memorizar listas ou fórmulas, e se baseiam em formas simples de memorizar maiores construções, baseados no princípio de que a mente humana tem mais facilidade de memorizar dados quando estes são associados a informação pessoal, espacial ou de caráter relativamente importante, do que dados organizados de forma não sugestiva (para o indivíduo) ou sem significado aparente. Mais informações em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Mnem%C3%B3nica>. Acesso em: 19,jun.2012 3 Trata-se de uma locução latina que significa: “Para que nada seja mudado”; usada para indicar reprodução muito fiel. (Pequeno Dicionário Brasileiro de Língua Portuguesa, 11ª Ed., Ed. GAMA)." Informações retirada do site: http://www.maconaria.net/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=125. Acesso em: 19.jun.2012
sendo mais atribuída exclusivamente à memória biológica a guarda de informações. Com
a escrita também foram desenvolvidas duas formas de memória: a primeira surge da
comemoração, por meio de monumentos e inscrições, e a segunda aparece nos
documentos.
Notadamente a primeira forma de memória pode ser verificada em Le Goff (2003,
p. 427), quando nos elenca alguns exemplos, tais como: Na mesopotâmia, predominavam as estelas, nas quais os reis quiseram imortalizar os seus feitos através de representações figuradas, acompanhadas de uma inscrição, desde o III milênio, como atesta a estela dos Abutrs (Paris, Museu do Louvre), em que o rei Eannatum de Lagash (cerca de 2470) fez conservar, através de imagens e de inscrições, a lembrança de uma vitória [...]. Na época assíria, a estela tomou a forma de obelisco, tais como o de Assurbelkala ( final do II milênio) em Nívine (Londres, British Museum) e o obelisco negro de Salmanassar III, proveniente de Nimrud, que imortalizava uma vitória do rei no pais de Nousri (cerca de 892).
Dentre os suportes de inscrição dos acontecimentos estão a argila, as tábuas de
cera, os pergaminhos, o papiro e o papel. Também havia outros materiais que serviam de
suporte para a escrita, tais como a pedra e o mármore. A esses dois era acrescida a
função de arquivos, pelo caráter de sua durabilidade e ostentação.
No que tange aos documentos, vistos como a segunda forma de memória ligada à
escrita, vale ressaltar que eles possuem, em si, um caráter de monumento. Assim sendo,
tivemos várias experiências até chegarmos à escrita em papel. Antes disso, foram feitas
tentativas sobre o osso, a pele, o estofo, na antiga Rússia, como aponta Le Goff (2003, p.
428), a folha de palmeira, na Índia, a carapaça de tartaruga, na China, e por fim o papiro,
o pergaminho e o papel.
Para Monteiro e Carelli (2007, p. 7), com o advento da escrita, os suportes da
memória tornam-se uma extensão da memória biológica humana e, desta forma, se
separam do sujeito, tornando-se algo morto, objetivo e impessoal. Ao mesmo tempo,
estes suportes permitem que o saber se torne disponível, acessível, estocável,
consultável, possibilitando, assim, que seja objeto de análise e exame.
Neste sentido, Godoy (1977 apud Le Goff, p. 429) contribui, apresentando duas
funções principais da escrita: “uma é o armazenamento de informações, que permite
comunicar através do tempo e do espaço, e fornece ao homem um processo de
marcação, memorização e registro; a outra, [assegura] a passagem da esfera auditiva à
visual”
Com o surgimento da escrita, foi gerada a tendência de separar os fatos que
devem ser registrados em suporte. Esses registros permitem a conservação da memória,
por maior tempo, de forma fiel, com maior durabilidade e objetividade.
Nas últimas décadas, viemos acompanhando o grande desenvolvimento das
tecnologias digitais. Com a utilização de novas técnicas, verificaram-se abundantes
transformações na maneira de produzir e preservar o conhecimento. Corroborando com
esta afirmativa, Le Goff (2003, p. 462) observa que “o desenvolvimento da memória no
século XX, sobretudo depois de 1950, constitui uma verdadeira revolução da memória, e
a memória eletrônica não é senão um elemento, sem dúvida o mais espetacular”.
No entanto, é pertinente falar que, ao mesmo tempo em que o avanço tecnológico
favoreceu a disseminação do saber, propiciando ao homem uma facilidade no acesso à
informação, fez surgir uma inquietação quanto aos desafios e problemas vindouros, com o
uso deste novo dispositivo. Melhor esclarecendo, não seria equivocado dizer que a
rapidez e a facilidade de acesso aos meios de comunicação têm gerado uma quantidade
exorbitante de informações, assim, diante desta realidade, o homem praticamente tem
consumido estes dados de forma acrítica.
Além dessas considerações, ainda nos estudos de Fontanelli (2005, p. 26),
podemos observar que este aumento na produção de conhecimento fez com que se
tornasse impossível, bem como desnecessário, memorizar as informações. Assim,
correlacionando tal fato ao incremento da internet como meio de comunicação, a autora
considera que o caráter efêmero das informações é um dos fatores para que não se
memorize tudo aquilo que se produz.
Uma das preocupações quanto a este tipo de memória é que os registros feitos
pelos dispositivos digitais não garantem a preservação da memória. A partir desta
afirmativa, nos valemos da opinião de Battelle (2006 apud MONTEIRO; CARELLI, 2007,
p. 11), expressando que a “Web não tem memória”. Isso pode ser vastamente percebido
devido à atualização das fontes que, para além da inserção de dados, implica também na
retirada de conteúdos antes disponibilizados nestes espaços.
Ainda de acordo com estas autoras, os mecanismos de busca trazem sua
importância para a memória digital, uma vez possibilitarem a lembrança dos conteúdos
que estão disponíveis para a consulta dos indivíduos. No entanto, para elas, o objetivo de
um site como o google, atualmente uma das maiores plataformas de processamento de
dados, é a busca e não a preservação de dados.
Outro fator de preocupação, agora apontado por Ferreira e Amaral (2004 apud
MONTEIRO; CARELLI, 2007, p. 10) é de “que o arquivamento digital não apresenta a
linearidade temporal das memórias anteriores”. Assim, a narração de um acontecimento
passado se dá de forma fragmentada e descontínua. Portanto, para que a exista uma
memória cultural digital, estas autoras mencionam a opinião de Battelle, dizendo que seria
preciso criar um eixo de tempo em que os arquivos da internet fossem disponibilizados
em uma cópia, para cada dia do ano.
3 OS CENTROS DE MEMÓRIA E SUA IMPORTÂNCIA NA PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA
O trabalho de preservação dos saberes históricos vem despertando o interesse de
homens e mulheres, nos últimos tempos. Tal situação é ocasionada por se perceber a
relevância de evocar o passado para se entender a vida cotidiana. Trata-se de
compreender a identidade de um povo, na perspectiva em que “é a memória que nos dá a
sensação de pertencimento e existência, daí a importância dos lugares de memória para
as sociedades humanas e para os indivíduos” (RIBEIRO, 2007 apud MONTEIRO;
CARELLI, 2007, p. 2).
É inegável que “Preservar a memória torna-se necessário porque a memória
representa a presença de um passado no presente ao referir-se a uma reconstrução
psíquica e intelectual de um passado que nunca é apenas individual, mas de um indivíduo
inserido num contexto familiar, social, político, cultural e econômico”. (GOELLNER, 2003,
p. 200)
O trabalho com memória “não nos aprisiona ao passado mas nos conduz com
muito maior segurança para o enfrentamento dos problemas atuais” (VON SIMSON, s.d.,
p. 3). Corroborando essa ideia, nos valemos daquele dito popular de que “devemos
aprender com o passado”, para frisar o valor de se preservar a memória como elemento a
nos auxiliar nas decisões futuras.
Assim sendo, a preocupação com a preservação das memórias tem levado o
homem a tomar cuidados para que estas não se percam ao longo do tempo. Neste
sentido, o papel que antigamente era desempenhado pelos mais velhos, atualmente vem
sendo substituído por instituições especializadas, que trabalham no intuito de garantir
condições satisfatórias para a preservação da memória documental, seja ela escrita, oral,
ou iconográfica.
De acordo com Linhares e Figueiredo (2011, p. 2):
Ao passo que as diferentes sociedades no mundo se constroem e se modificam são produzidos os registros que testemunham e servem de base para o conhecimento e a reavaliação deste processo pelas gerações futuras, tais registros constituem o que chamamos de documentos.
Do mesmo modo que a sociedade tem sofrido mudanças, a concepção de
documento passou por alterações, deixando de ser aquele texto escrito e oficial para ser
representado por todo e qualquer suporte que sirva de interpretação de um passado.
Desta forma, para Lima, Moreno e Possas (2009, p. 2), o conceito de documento engloba
uma carta, um livro anotado, uma escultura, fotografias, objetos pessoais e poemas,
dentre outros. No entanto, “para que cumpram sua função social, administrativa, jurídica,
técnica, científica, cultural, artística e/ou histórica é necessário que estejam preservados,
organizados e acessíveis” (TESSITORE, 2003, p. 8).
É preciso, ainda, nos atentarmos para o fato de que “guardamos do passado
apenas cacos, vestígios, reminiscências” (CHAGAS apud LIMA; MORENO; POSSAS,
2009, p. 2), assim sendo, através dos documentos temos uma possível visão daquele
acontecimento, constituindo numa provável versão.
No intuito de desempenhar a função de preservar a memória, em Tessitore (2003,
p. 11), encontramos quatro tipos de entidades incumbidas dessa tarefa, que são os
museus, arquivos, bibliotecas e centros de documentação. Entretanto, apesar de todos
desempenharem o papel de guarda e difusão dos documentos, cada uma deles se torna
diferente, pelo tipo de documento e procedimentos técnicos empregados no tratamento do
seu acervo.
Ao tomar o Centro de Memória da Educação Física e Esporte como objeto de
estudo, notadamente as questões postas por Tessitore (2003, p. 15), o aproximam de um
centro de documentação:
Possui documentos arquivísticos, bibliográficos e/ou museológicos, constituindo conjuntos orgânicos (fundos de arquivo) ou reunidos artificialmente, sob a forma de coleções, em torno de seu conteúdo; ser um órgão colecionador e/ou referenciador; ter acervo constituído por documentos únicos ou múltiplos, produzidos por diversas fontes geradoras; possuir como finalidade o oferecimento da informação cultural, científica ou social especializada; realizar o processamento técnico de seu acervo, segundo a natureza do material que custodia.
No entanto, Linhares e Figueiredo (2011, p. 4) observam que “todo Centro de
Memória se constitui enquanto Centro de Documentação mas não o contrário”. Para
tanto, estabelecem que os Centros de Memórias se caracterizam numa perspectiva
histórica, quando a constituição do acervo prima pela preservação e difusão da memória
dos sujeitos e instituições.
Atualmente, tem se verificado uma política de formação de rede de memórias. Esta
é baseada em adesões voluntárias que visam cooperação, troca de informações e
experiências, sendo promovidos cursos, encontros, que discutem aspectos técnicos
relacionados à preservação da memória (RODRIGUES, 2011, p. 26).
Segundo Silva (1999, p. 56), os centros de memória e documentação tornaram-se
característicos da ambiência acadêmica, cuidando de preservar o patrimônio arquivístico
e, em alguns casos, museológico. Mas, à frente, essa mesma autora explica que devido à
ausência de consciência e vontade política quanto à preservação documental e pela
grande quantidade de papéis públicos, em relação aos privados, esta função acabou
sendo transferida para as instituições de nível superior.
Complementando a discussão, um dos motivos que levam as universidades a
intervir neste sentido tem sido a grande dificuldade de acesso a fontes de pesquisa para o
desenvolvimento de estudos. Um dos fatores determinantes nesse quadro foi a ausência
de instituições que tratassem de preservar o patrimônio documental brasileiro, juntamente
com o descaso dos poderes públicos, das instituições privadas e particulares, bem como
a falta de recursos humanos especializados e de recursos financeiros investidos nestas
iniciativas.
Dessa maneira, Silva (1999, p. 57) ainda diz que: A solução encontrada foi criar na universidade, centros especializados na preservação e organização dessas fontes, trazendo para perto do pesquisador o material necessário ao desenvolvimento de suas pesquisas. Dessa forma, resolvia-se o problema do acesso ás fontes e, ao mesmo tempo, envolvia-se a universidade na tarefa premente de participar dos esforços de preservação da memória, nacional ou regional, conforme o caso.
Em Linhares e Figueiredo (2011) são sinalizadas, como principais diretrizes dos
Centros de Memória, “a função de preservação documental, recuperação da informação
de modo a disponibilizá-la para pessoas em geral bem como preservar a memória dos
sujeitos e instituições sociais firmando assim a identidade coletiva”. Para tanto, os acervos
que constituem tais Centros são compostos por documentos de origens diversas, sendo
adquiridos através de permutas, compras ou doação.
Cabe salientar que não basta apenas preservar, como aponta Fontanelli (2005, p.
23), pois este material deve ser armazenado, organizado de forma a disponibilizá-lo para
pesquisadores que produzirão novos conhecimentos.
Em vista disso, Simson (s.d., p. 3) considera que as instituições-memória possuem
esta tarefa de coletar, tratar, recuperar e organizar os documentos, colocando à
disposição da sociedade a memória de um grupo social, que é retida em suportes
materiais diversos. Atualmente, são inúmeros os suportes que registram e conservam a
memória. Dentre eles, citamos os documentos escritos, imprensa, fotografia, vídeos,
discos, CDs, DVDs, disquetes etc.
É importante destacar o trabalho, elaborado por Tessitore (2003), “Como implantar
Centros de Documentação”, que vem se tornando uma referência para aqueles que
almejam participar desta empreitada. Este trabalho consiste num verdadeiro manual
passo a passo de cada medida a ser tomada para criação destes espaços. Assim, a
referida autora expõe elementos imprescindíveis, desde a necessidade de se definir a
área na qual a instituição irá trabalhar, como deve ser tratada a massa documental, nos
procedimentos de arranjo e descrição dos fundos e coleções, a conservação dos
documentos e o atendimento ao público. Além disso, aborda quais profissionais devem
compor o quadro de pessoal, bem como a função de cada um deles em um centro, e, por
fim, trata da infraestrutura necessária ao desempenho de sua função.
Como a própria autora revela neste estudo, a dinâmica de trabalho num centro de
memória despende esforço para a aquisição, o armazenamento e o processamento
técnico do acervo que acolhe. Sendo que ainda “devido à variedade de materiais reunidos
ele apresenta características biblioteconômica, arquivística e museológica” (TESSITORE,
2003, p. 15).
3.1 OS CENTROS DE MEMÓRIA DE EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTE E LAZER NO
BRASIL
Nos últimos anos, tem sido constante a produção de trabalhos relacionados à
história da Educação Física, Esporte e Lazer. Geralmente vinculados a projetos de
pesquisa desenvolvidos em universidades, com o auxílio de alguns órgãos de
financiamento, temos, nesses documentos, registros oficiais, reportagens, depoimentos
de personagens importantes, variadas fontes de investigação.
O diálogo com a história tida campo teórico nos permite reconstruir o passado, a
partir dos vestígios deixados pelo homem. Sendo assim: Recorrer, portanto, á pesquisa histórica para melhor conhecer o esporte moderno significa recorrer a textos, imagens, sons, objetos, monumentos, equipamentos, vestes, ou seja, - memórias – entendendo-as como possibilidades de compreender que ali estão escritas sensações, ideologias, valores, mensagens e preconceitos que permitem conhecer parte do tempo onde foram produzidos e que podem nos auxiliar a compreender um tempo. GOELLNER, 2003, 2005, p. 80)
Valendo-nos destas informações, é perceptível a visibilidade que os centros de
memória vêm conquistando no Brasil, principalmente na ambiência acadêmica. Dentre
algumas instituições que priorizam a política de preservação da memória, podemos citar o
“Museu da Escola de Minas Gerais, que faz parte do Centro de Referencia do Professor,
o Centro de Memória da UNICAMP, o Projeto de Estudos e Documentação Educação e
Sociedade (PROEDES)” (MORO; GODOY, s.d, p. 4). Tratando-se da Educação Física,
atualmente, grande parte das universidades públicas brasileiras possui espaços que se
dedicam à preservação das práticas corporais, esportivas e de lazer.
Na esteira dessas instituições, temos o Centro de Memória do Esporte (CEME),
na UFRGS, e o Centro de Memória da Escola de Educação Física de Minas Gerais
(CEMEEF), que são considerados como locais de referência na área, em vista da vasta
experiência adquirida ao longo de mais de 10 anos de história.
No entanto, trazendo para o debate Goellner (2005, p. 82), podemos afirmar que
algumas iniciativas comprometidas com a preservação, recuperação e socialização, já
poderiam ser vistas no Brasil há algum tempo atrás. Portanto, a priori, não se trata de
uma realidade nova, pois tais iniciativas eram estruturadas a partir do interesse individual,
de colecionadores, que formavam seu acervo particular, sendo que a maioria deles ainda
não foi disponibilizada para acesso público. Como exemplo: - O acervo de Gerson Sabino, jornalista de Belo Horizonte, que desde a década de 30 colecionou artefatos relacionados ao futebol visto ter participado de todas as Copas do Mundo até o ano da sua morte, em 1998. [...] - A coleção de livros de Mario Cantarino, localizada em sua residência na cidade de Brasília. O professor Mario começou a reunir diferentes obras desde o final dos anos 40, reunindo um acervo bibliográfico que se constitui, hoje, na maior biblioteca particular do Brasil sobre Educação Física e Esportes [...]. - [...] o Museu de Educação Física, organizado pelo professor Jair Jordão Ramos de modo informal e particular em sua própria residência, no Rio de Janeiro.
Além destes exemplos, que figuram os acervos particulares relacionados à
memória do esporte no País, a autora elucida que alguns clubes, a partir dos anos 80 do
século XX, têm desempenhado o papel de preservar a memória esportiva e olímpica do
Brasil. Para citar alguns, vamos ter o Arquivo Histórico do Clube Espéria, de São Paulo
(1989); o Museu do Grêmio Football Porto Alegrense (1988); o Centro de Memória Hans
Nobiling, ligado ao Esporte Club Pinheiros, em São Paulo (1991); o Memorial Sogipa
pertencente à Sociedade de Ginástica Porto Alegre; o Flu-Memória, vinculado ao
Fluminense Football Club, no Rio de Janeiro (1995); o Centro de Documentação do
Comitê Olímpico Brasileiro (1996) e o Acervo Histórico do Minas Tênis Clube.
Também a partir dos anos 80, surgiram algumas iniciativas institucionais no Brasil,
como o Centro de Memória Esportiva De Vaney, vinculado à Secretaria Municipal de
Esportes de Santos, onde seu acervo engloba materiais datados desde 1938. No que
tange aos centros de memória e de documentação, estes despontaram há pouco tempo
atrás, como anteriormente dito, vinculados às Universidades, em sua maioria, públicas.
Em pesquisa, Rodrigues (2011, p. 27) aponta que as universidades, instituições e
clubes esportivos têm desempenhado papel extremamente significativo para a área do
esporte, não apenas por conservarem objetos e documentos, mas, entrelaçados a esta
tarefa, podem-se desvendar experiências que nos ajudam a compreender o presente.
Colaborando com esta discussão, a referida autora cita a análise de Vago (2008
apud RODRIGUES, 2011) sobre esses centros, ponderando que seus acervos contêm
diferentes tipos de informações e documentos que revelam as ações humanas, dos
governos e entidades, seja vivenciando, organizando ou usufruindo das práticas
esportivas e que, assim, podem contribuir para a compreensão das representações
atreladas ao esporte.
Referindo-se a estes espaços, Linhares e Figueiredo (2011, p. 5) enfatizam que: A maioria dos centros de memória estabelece como um dos objetivos principais: a preservação, a organização, reconstrução e disponibilização da memória que está relacionada com suas respectivas áreas de especialização. O Centro de Memória do Esporte Londrinense tem como objetivo: “cumprir a missão de resgatar, organizar, preservar e disponibilizar a memória esportiva londrinense” (PIRES, A.G.M.[s/d], p. 1) ; o Centro de Memória do Departamento de Educação Física da UFPR: “ recuperar, preservar e divulgar a memória da antiga Escola de Educação Física e das Práticas corporais no Estado do Paraná” (AZEVEDO, L.C.S et al. [s/d], p1); o Centro de memória da Educação Física da EEFFTO da UFMG “
Para Rodrigues (2011, p. 28), existe uma necessidade de atenção e ações
diferenciadas para que os documentos e objetos possam ser disponibilizados ao público.
Sendo assim, para lidarem com os acervos que abrigam, as instituições devem contar
com trabalhos complementares, como o de preservação, pesquisa e comunicação.
Um dos pontos-chave para que a memória seja preservada, segundo a autora
supracitada, consiste em produzir conhecimento sobre ela. Desta forma, a existência de
programas de pesquisa permanente, nestes espaços, contribui para gerar conhecimento
sobre as investigações em curso.
4 O PODER DA MEMÓRIA NUM ESTADO CHAMADO BAHIA
Considerado primeiro Estado brasileiro, a Bahia destaca-se pela sua riqueza
histórica e cultural. Primeiramente, podemos atribuir tal relevo à importância desta
unidade federativa na constituição do País, uma vez que foram as terras baianas as
primeiras a serem avistadas pelos portugueses, em 1500, assim como suas cidades as
primeiras a se formarem no Brasil.
Como podemos verificar, no documento produzido pelo Instituto Brasileiro de
Museus, intitulado “Museus em Números”, o contexto em que se deu a formação do
Estado da Bahia contribuiu para a diversidade cultural de seu povo. Para isso, alguns
fatores foram determinantes, tais como a sua localização estratégica, que estimulou a
exploração por nações europeias, a implantação do sistema colonial e a incorporação de
diversas tradições culturais, a economia escravagista baseada na monocultura de fumo e
açúcar, tendo a mão de obra originária dos povos africanos.
Desta maneira, constituída por múltiplas culturas provenientes das interações entre
povos, a Bahia torna-se um Estado rico em suas manifestações artístico-culturais. Cabe
frisar que estas manifestações refletem a sua própria história, bem como mantêm vivas
suas tradições e costumes.
Para além do patrimônio imaterial4, possuímos também uma vasta riqueza de
construções, datadas do período colonial, muitas delas tombadas pelo Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a exemplo dos conjuntos arquitetônicos das
cidades de Cachoeira e Porto Seguro e alguns edifícios na cidade de Salvador.
Vale destacar a relevância que o Pelourinho representa para o País, atribuída pelo
seu valor arquitetônico, artístico e paisagístico, sendo tombado pela Organização das
Nações Unidas para Educação, Ciências e Cultura – UNESCO, como Patrimônio da
Humanidade.
Outro local que figura a grande potencialidade da Bahia, no que se refere à
memória, é o Museu do Estado, criado pela Lei nº 1255, de 23 de julho de 1918, foi aberto
com retrato de personalidades locais e uma lápide comemorativa, em mármore. Assim, se
tornaria um lugar oficial para recolher estandartes de guerra e relíquias sagradas,
consideradas parte do patrimônio histórico da Bahia e do Brasil. Nesta ocasião, o discurso
4 A Unesco define como Patrimônio Cultural Imaterial “as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas – junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados – que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural”. Mais informações em: <http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaSecao.do?id=10852&retorno=paginaIphan>. Acesso em: 03.jul.2012
do deputado Fiel Fontes, reproduzido nos Annaes do Archivo Publico da Bahia (Sessão
de 13 de junho de 1918), já apontava argumentos sobre a importância deste espaço, pois
segundo ele, traria: progresso do Estado, para aquelles que aqui vierem visitar esta Capital possam admirar o valor da Bahia, que é grande, em tudo, nas artes, na sciencia, e mesmo na occasião em que tem sido preciso demonstrar o seu valor cívico tem sido inexcedível, tem sido extraordinária. Que fiquem nos nossos museus, como patrimônio do Estado, documentos dos nossos antepassados e que isto nos sirva de estimulo para que procuremos cumprir o nosso dever; para que possam coroar de brilho, de dignidade esta tradição; e que as gerações futuras, nos fazendo justiça, enveredem pelo mesmo caminho, sigam a mesma rota e a Bahia possa figurar como primeira entre os Estados da Federação Brasileira. (CERAVOLO, 2011, p.10)
Não obstante a relevância dos patrimônios aqui citados, podemos sinalizar que,
abrangendo todo o território estadual, encontramos igrejas e construções que se
caracterizam de cunho histórico. Somente em Salvador, segundo a publicação “Museus
em números” são totalizadas 350 igrejas católicas, espalhadas por toda cidade, algumas
delas datadas dos séculos XVII e XVIII.
Cientes do valor que estes patrimônios representam, sejam edificados ou
imateriais, cabe despender esforços que assegurem a sua preservação, bem como a
memória do Estado. Neste sentido, algumas políticas têm sido executadas pelo Instituto
do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia, a Fundação Pedro Calmon e o Arquivo
Público da Bahia.
De acordo com o portal da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, verificamos
que, em 2010, algumas iniciativas foram surgindo, no intuito de reforçar a importância da
preservação da história e da memória do Estado. Neste ensejo, tivemos a parceria,
firmada com o jornal A Tarde, por meio do Projeto “História da Bahia: da memória
impressa ao conteúdo digital”, pelo qual foi realizada a digitalização de todo conteúdo do
jornal mais antigo em circulação no Estado, permitindo, com isso, o acesso do público aos
registros jornalísticos da memória do Estado, de 1912 até hoje.
Outra iniciativa deu-se por meio do Centro de Memória da Bahia, que integra a
Fundação Pedro Calmon e conta com um acervo bibliográfico e títulos especializados que
abordam a História da Bahia. Neste espaço são oferecidos cursos que tratam desta
temática, bem como são desenvolvidas algumas ações, como o Projeto Octávio
Mangabeira, que busca transcrever e analisar as correspondências deste governador,
durante seu primeiro exílio (1930-1934) na Europa.
Ainda nesta matéria encontramos o Arquivo Público do Estado, avaliado como o
segundo mais importante do País que, em 2010, completou 120 anos de existência e
recebeu reconhecimento internacional, sendo nomeado pela UNESCO para integrar o
Registro Nacional do Programa Memória do Mundo, no mesmo ano, pelo conjunto
documental “Registros da Entrada de Passageiros no Porto de Salvador: 1855-1964”.
Em trabalho conjunto com o Centro de Memória da Bahia, foram preservados e
catalogados cerca de 1,7 milhão de documentos. Esta tarefa somente foi possível, a partir
de investimentos em torno de R$ 500 mil reais, no desenvolvimento do Projeto de
Modernização do Laboratório de Restauração e Encadernação do Arquivo Público da
Bahia, com a execução do projeto de descontaminação e conservação do acervo e dos
depósitos do Arquivo Público da Bahia e a aquisição de uma máquina híbrida para o
laboratório de microfilmagem.
A partir do exposto, averiguamos que o poder público tem se esforçado para
preservar o patrimônio e a memória do Estado. Para tanto, existem ações permanentes
que tratam de recuperar, restaurar e conservar o patrimônio arquitetônico e histórico
cultural, evitando sua degradação e desaparecimento.
Nesta perspectiva, de acordo com o Relatório de atividades do ano de 2006 do
Governo do Estado da Bahia, através do IPAC, vários imóveis e sítios históricos foram
recuperados, restaurados e conservados. Para demonstrar, seguem dois quadros: o
primeiro lista todas as obras que sofreram recuperação e foram restauradas, no período
de 2003 a setembro de 2006.
QUADRO 1 Recuperação e restauração de imóveis
Bahia 2003- 2006 OBRAS
CONCLUÍDA
2006 (*) Antigo Posto de Saúde – Lençóis
Biblioteca Municipal Urbano Duarte – Lençóis
Conjunto do Carmo: Igreja da Ordem Primeira, Ordem Terceira e Casa de Oração – Cachoeira
Forte do Barbalho Modulo A ( parcial) – Salvador
Forte Santo Antonio Além do Carmo ( Forte da Capoeira) – Salvador
Igreja Nossa Senhora do Rosário do Sagrado Coração do Monte Formoso ( Igreja do Rosarinho) e Cemitério –
Cachoeira
Museu do Recolhimento dos Humildes (1ª e 2ª etapa) – Santo Amaro
Sede do IPAC – Salvador
Palacete Martins Catharino – Museu Rodin Bahia – Salvador
Sede do IPHAN – Lençóis
Terreiro Pilão de Prata – Salvador
Catedral Nossa Senhora Sant’ana – Caetité – Etapa Final
2005 Arquivo Público do Estado – Salvador
Catedral de São Sebastião – Ilhéus
Gregório de Matos, 29 – Salvador
Igreja de São Miguel – Itacaré
Igreja do Bonfim – Salvador
Museu de Arte da Bahia ( projeto luminotécnico) – Salvador
Museu de Arte Moderna da Bahia ( galpão oficina) – Salvador
2004 Casa de Ana Nery – Cachoeira
Casa de Câmara e Cadeia – Cachoeira
Casa dos Santos da Ordem terceira do São Francisco – Salvador
Escola Azevedo Fernandes – Salvador
Igreja da lapinha – Salvador
Igreja de Bom Jesus dos Navegantes – Barra
Igreja Nossa Senhora da Ajuda – Salvador
Mercado Público – Lençóis
Museu Tempostal – Salvador
Prefeitura Municipal – Lençóis
2003
Casa de Cultura Américo Simas – São Felix
Igreja das Missões – Jacobina
Igreja Nossa Senhora da Ajuda – Jaguaripe
Igreja de Santo Antonio – Jacobina
Igreja de São Bartolomeu – Maragogipe
Igreja de São José de Itaporã – Muritiba
Igreja do Bom Jesus – Piatã
Catedral Nossa Senhora Santana – Caetité – 1ª etapa
Palácio da Aclamação ( anexo Sede Conselho estadual de Cultura) – Salvador
Prefeitura Municipal – Mucugê
Teatro Miguel Santana – Salvador
EM ANDAMENTO 7ª Etapa do Centro Histórico de Salvador – Salvador
Arquivo Público Municipal – Lençóis
Casa de Cultura Afrânio Peixoto e Anfiteatro – Lençóis
Gregório de Matos, 31 – Salvador
Igreja Nossa Senhora do Rosário – Cachoeira
Quarteirão Leite Alves – Futuro Campus da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – Cachoeira
Rua Ana Nery, 02 – Cachoeira
Rua Benjamim Constant, 17 – Cachoeira
Rua Sete de setembro, 34 – Cachoeira
Fonte: SCT/Ipac.
(*) Dados até setembro.
No quadro 2, podemos observar que também foram realizados investimentos no
sentido de conservar alguns imóveis.
QUADRO 2 CONSERVAÇÃO DE IMÓVEIS
BAHIA, 2006 (*) OBRAS
CONCLUIDA
Biblioteca Central dos Barris – Salvador
Igreja do Sacramento – Rio de Contas
Igreja Nossa Senhora Santana – Rio Vermelho
Largo do Pelourinho, 16 – Salvador
Museu de Arte da Bahia – Salvador
Museu Tempostal – Salvador
Rua das Laranjeiras, 12 – Salvador
Rua do Bispo, 29 e 30 – Salvador
Rua Gregório de Matos, 41 – Salvador
Rua João de Deus, 18 – Salvador
Rua Padre Agostinho, 03- Salvador
Rua Ribeiro dos Santos, 50 - Salvador
EM ANDAMENTO
Palácio da Aclamação – Salvador
Palácio Rio Branco – Salvador
Praça da Aclamação, 04 – Cachoeira
Solar Ferrão
Fonte: SCT/Ipac.
(*) Dados até setembro.
Cabe dizer que os recursos angariados para estas obras surgem a partir de
projetos e programas, a exemplo do Programa Monumenta5, nas cidades de Cachoeira e
Lençóis, que resulta de contrato de empréstimo entre o Banco Interamericano de
Desenvolvimento – BID e a União.
Em se tratando de iniciativas de preservação do patrimônio histórico e da memória
do Estado, salientamos que estas não se resumem apenas àquelas elencadas até então.
O IPAC vem dando atenção também à recuperação de bens móveis, principalmente obras
religiosas, assim como ao tombamento de diferentes bens importantes para a história e a
cultura da Bahia.
Tendo em vista a proposta deste capítulo de se fundamentar em elementos que
corroborem a força da memória nesta unidade federativa, consideramos pertinente a
opção de levantar o patrimônio edificado que passou por recuperação, restauração e
conservação, para assim ampliar nosso olhar sobre a imensidão de nossos bens
históricos e culturais.
Repleta de significados históricos na formação da identidade nacional e de seu
povo, a Bahia possui ainda diversos museus que fazem o papel de guarda e preservação
da memória. Como outra forma de visualizar a riqueza desta terra, no que se refere ao
seu teor histórico, podemos recorrer, mais uma vez, à publicação “Museus em números”. 6 Ainda que os dados aferidos estejam relacionados aos museus, podemos acompanhar a
proporção, nas esferas estadual, regional e nacional, conforme as tabelas e gráficos a
seguir.
TABELA 1 – RELAÇÃO ENTRE POPULAÇÃO E NÚMERO DE MUSEUS NA BAHIA, REGIÃO NORDESTE E BRASIL, 2010
5 Monumenta é um programa de recuperação sustentável do patrimônio histórico urbano brasileiro, sob tutela federal. 6 “Museus em números” é uma publicação periódica, com edições trimestrais, onde o Ministério da Cultura, por meio do Instituto Brasileiro de Museus, traz para o público informações levantadas pelo Cadastro Nacional de Museus e que servem de referência para o planejamento de políticas públicas, bem como ao desenvolvimento de pesquisa e participação setorial.
Se compararmos o número de museus existentes na Bahia e no Nordeste,
veremos que este Estado detém grande parte destas instituições. Assim como, de acordo
com esta publicação, a capital, Salvador, considerada a terceira cidade mais populosa do
Brasil, concentrando 46,7% dos museus baianos, é também o terceiro município brasileiro
com o maior número de instituições museológicas. Além disso, dentre os 417 municípios
que fazem parte desta unidade federativa, 55 possuem instituições museais.
GRÁFICO 1 – NÚMEROS DE MUSEUS NA CAPITAL E UF E PORCENTAGEM (%) DE CONCENTRAÇÃO DE MUSEUS NA CAPITAL, 2010
No que tange à área de Educação Física, Esporte e Lazer, é notória a
potencialidade do Estado na revelação de variados sujeitos envolvidos nestas práticas e
que assim contribuíram direta e indiretamente para o seu desenvolvimento.
No entanto, ainda que comprovada a existência de estudos dispersos sobre sua
história, do ponto de vista de Silva et al. ( 2006, p. 2), pode-se concluir que: Existe uma carência no que se refere ao estudo histórico, sistematizado e catalogado das manifestações da Cultura Corporal, Educação Física, em sua expressão cultural popular. Em contrapartida, este estado, matriz cultural do Brasil, apresenta uma diversidade de expressões culturais, uma amplitude de manifestações populares que contribuíram e contribuem para configuração de uma identidade cultural, tanto no próprio estado quanto no país.
4.1 O PAPEL DOS EDITAIS: IBRAM E ME
É bem verdade que atualmente temos voltado nossos olhares para a questão dos
editais públicos, priorizando a elaboração de projetos como forma de obter apoio de
órgãos de financiamento. Tratando-se de ações voltadas para a preservação da memória
da Educação Física, Esporte e Lazer, para efeitos deste trabalho, buscaremos discutir o
papel dos editais de duas fontes de financiamento: a primeira o instituto Brasileiro de
Museus, que tem um caráter específico no fomento da área museológica e, a segunda, o
Ministério dos Esportes, que por meio da Rede Cedes estimula a produção de
conhecimento científico e tecnológico sobre o esporte e o lazer.
Para discutir o papel dos editais do Ministério do Esporte é importante,
primeiramente, contextualizar a conjuntura da qual surgem estas iniciativas. Assim sendo,
vale ressaltar que, por muitos anos, o esporte esteve vinculado a secretarias e
departamentos dentro de Ministérios já consolidados. Isso pode ser aferido
cronologicamente no exposto por Alves e Pierante (2007, p. 12): Em 1937, o tema começou a ganhar relevância no âmbito federal com a criação da Divisão de Educação Física, vinculada ao Ministério da Educação e Saúde, posteriormente reorganizado como Ministério de Educação e Cultura. [...] Apenas em 1970 a Divisão de Educação Física foi transformada no Departamento de Educação Física e Desportos, ainda vinculada ao Ministério da Educação e Cultura (MEC). [...] Em 1978, o esporte passou a ser alvo de regulação por uma secretaria, dando início a uma troca de seu nome e de sua vinculação. Em 1995, o então Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, criou o Ministério Extraordinário do Esporte, sendo a secretaria substituída pelo Instituto Nacional de Desenvolvimento do Desporto (INDESP), separado do MEC e subordinado ao novo ministério. Extinto o ministério extraordinário, foi criado o Ministério do Esporte e Turismo, responsável pelas duas áreas até 2002. Pela primeira vez na história do Brasil, foi criado no ano seguinte, sem qualquer menção a caráter extraordinário, o Ministério do Esporte.
Por outras vias, cabe trazer para a discussão que a concepção de esporte tem
sofrido diversas modificações, ao longo dos anos. Assim, aquela velha ideia do esporte
meramente como uma atividade de lazer vem sendo substituída e ganha notoriedade uma
nova concepção. Assim sendo, foi incorporada uma visão de atividade econômica
estritamente relacionada a uma prática que inclui pessoas e que, por sua vez, contribui
para amenizar os problemas referentes à saúde e à educação.
A partir deste panorama, a criação de um ministério próprio possibilitou a
organização de uma política governamental efetiva, sendo elaborados e instituídos
programas e ações, tais como Programa Segundo Tempo, Bolsa Atleta, Esporte e Lazer
da Cidade, Lei Agnelo-Piva de 2003 e a lei de incentivo fiscal ao esporte, em 2006.
Como uma forma de melhor organizar, estruturar e planejar propostas voltadas
para os mais diversos campos que o esporte abrange, foi realizada uma divisão interna,
levando-se em consideração a divisão por segmentos esportivos, segundo a UNESCO.
Para isso, o Ministério dos Esportes dispõe de secretarias específicas que tratam do
esporte de rendimento, do esporte educacional, de esporte e lazer, além de uma que
aborda questões relacionadas apenas ao futebol.
Uma das ações programáticas do Ministério dos Esportes foi a implantação da
Rede CEDES, reunindo diferentes Instituições de Ensino Superior e sendo composta por
grupo de pesquisa de uma mesma instituição ou de outras. De acordo com Schwartz et al.
(2010, p. 44): A Rede CEDES visa estimular esses Grupos a produzir e difundir conhecimentos voltados para o aperfeiçoamento e a qualificação de projetos, programas e políticas públicas de esporte recreativo e de lazer, por meio da produção e difusão de conhecimentos fundamentados.
Deste modo, a partir de acordo firmado entre a Universidade e a Rede CEDES, são
financiados pelo Ministério dos Esportes variados projetos de pesquisa, tendo como
princípio o fomento às políticas públicas de esporte recreativo e de lazer.
Um indicador bastante importante de avaliação das ações da Rede CEDES é o
estudo feito por Schwartz et al. (2010, p. 50), pois nele encontramos informações
referentes aos projetos de pesquisa, apoiados de 2003 até 2010. Neste período,
observamos que foram firmados 129 convênios, sendo que alguns destes convênios
subsidiavam mais de uma pesquisa, totalizando 208 pesquisas ao todo. Esses dados
podem ser acompanhados, de acordo com o ano, no gráfico a seguir.
GRÁFICO 2 – QUANTIDADE DE CONVÊNIOS FIRMADOS E PESQUISAS DESENVOLVIDAS, DISTRIBUÍDOS POR ANO
A título de curiosidade, vale destacar que, até o ano de 2006, este apoio se dava a
partir de convite direto aos grupos de pesquisa que desenvolviam estudos voltados para
esporte e lazer e seus aspectos políticos. Depois disso, elaborava-se um projeto a ser
executado que era encaminhado para revisão por equipe gestora do Ministério dos
Esportes.
Somente a partir de 2007 é que o financiamento de projetos de pesquisa passou a
ser feito com base em editais públicos. Divulgados no site oficial do Ministério do Esporte,
estes editais definiam temas norteadores para os pesquisadores elaborarem seu projeto.
Cabe frisar que estes temas eram definidos levando-se em conta os déficits na área e que
mereciam enfoque.
Atendo-se aos eixos temáticos definidos para receber propostas de projetos de
pesquisa, encontramos:
1. “Memória do esporte e do lazer”; 2. “Perfil do esporte e lazer”; 3. “Programas integrados de esporte e lazer”; 4. “Desenvolvimento de programas sociais de esporte e delazer”; 5. “Observatório do esporte”; 6. “Gestão de esporte e de lazer”; 7. “Avaliação de políticas e programas de esporte e de lazer”; 8. “Infraestrutura de esporte e de lazer”; 9. “Sistema Nacional de Esporte e Lazer”.
Pelo caráter deste trabalho, buscaremos analisar a participação de projetos
relacionados ao eixo “Memória do esporte e lazer”. Assim, de acordo com Schwartz et al.
(2010, p. 56), foi o que teve maior incidência com 19,58% das pesquisas, como a tabela 2
permite verificar.
TABELA 2 – DISTRIBUIÇÃO DAS PESQUISAS NOS NOVE EIXOS TEMÁTICOS, REPRESENTADAS EM PORCENTAGEM
Ainda segundo a referida autora, estas pesquisas visaram resgatar a história de
algum tipo de modalidade esportiva, ou de clube/instituição, ou mesmo de jogos e
brincadeiras tradicionais e regionais, vivenciadas no âmbito do lazer.
Partindo agora para o Instituto Brasileiro de Museus – IBRAM, como instituição que
angaria verbas para o desenvolvimento de ações voltadas para preservação da memória,
como descrito no seu sítio virtual, seus editais públicos integram as ações empreendidas
pelo Ministério da Cultura, no âmbito da Política Nacional de Museus. Através deles é
desempenhado um conjunto de ações voltadas para o desenvolvimento das instituições
museológicas e para o fomento à criação de novas instituições de memória que
representem a diversidade social, étnica e cultural do País.
Com a intenção de garantir o acesso aos recursos públicos, de forma democrática
e descentralizada, é que o IBRAM promove seus editais. Segundo palavras do então
presidente da instituição, José do Nascimento Junior, no Programa de Fomento aos
Museus 2012, estas iniciativas surgem como “elemento estratégico para legitimação do
direito à memória do povo brasileiro”.
De acordo com informações disponibilizadas no seu sítio virtual, em 2011, foram
investidos mais de 16 milhões de reais em 10 editais públicos. Neste ano de 2012, serão
lançados também mais 10 editais, com a previsão orçamentária de cerca de 10 milhões
de reais para apoiar e premiar iniciativas, tais como construção e a modernização de
museus, o incentivo a artistas contemporâneos e a experiências voltadas para a memória.
Vale ressaltar que este ano teremos um edital público específico, voltado para a Memória
do Esporte Olímpico, destinado a selecionar e a premiar iniciativas de preservação da
memória nesta área, com o objetivo de apoiar ações de divulgação, preservação e difusão
de acervo.
5 PERCURSO METODOLÓGICO
Ao adentrar no trato metodológico para desenvolver esta produção monográfica,
considero importante fazer uma discussão sucinta sobre conhecimento, ciência, pesquisa
e métodos.
Adquirido com o tempo, através de nossas vivências cotidianas, estamos sempre
em contato com o conhecimento. Esta afirmação incide também no fato de que cada
indivíduo obtém um determinado conhecimento, independentemente do seu grau de
instrução. Melhor esclarecendo, trago o exemplo, citado por Lakatos e Marconi (2010, p.
57), quando falam que um camponês, mesmo iletrado, sabe identificar o momento certo
para semear, colher, a necessidade de utilizar adubos, os cuidados para que a plantação
não seja infestada por pragas ou ervas daninhas. Fazendo alusão ainda ao sistema de
cultivo, o mesmo autor faz referência a diferentes épocas, apontando os métodos
utilizados e como o homem se apropriara do conhecimento para melhores resultados.
Com isso, ele evidenciou dois tipos de conhecimento, aquele popular, transmitido de
geração a geração e baseado nas experiências pessoais e o outro, científico, com o
usufruto de procedimentos testados.
Para além destes dois tipos, em Lakatos e Marconi (2001 apud Mattos 2004, p.
10), verificamos variadas formas de conhecimento, dentre elas: o religioso e o filosófico.
Importa registrar que, no trabalho em questão, estaremos discutindo o conhecimento
científico. Assim, segundo Cervo e Bervian (2002 apud Mattos, 2004, p. 10), o
conhecimento científico: Procura conhecer não só os fenômenos ou os objetos, mas também suas causas, leis e conseqüências, revisando e reavaliando idéias, pensamentos, hipóteses e resultados de um determinado fato ou acontecimento.
Neste molde, a produção monográfica encontra espaço para se desenvolver, uma
vez que, depois de perpassar diversas experiências, se realiza o aprofundamento em
determinada temática. Esta tarefa, de acordo com Salomon (2001 apud Mattos, 2004, p.
8) consiste num “trabalho científico que observa, acumula e organiza informações,
sistematicamente e de maneira padronizada, as quais posteriormente são expostas em
forma de texto, redigido pelo pesquisador”.
Como exposto em Mattos (2004, p. 10), o surgimento da ciência está diretamente
relacionado à necessidade que os homens e mulheres possuem de saberem o porquê
dos acontecimentos. Neste sentido, Minayo (1994, p. 9) fala que, do ponto de vista
antropológico, sempre houve uma preocupação do homem com o conhecimento da
realidade. Ainda esse mesmo autor faz uma constatação, quando aponta que: As tribos primitivas, através dos mitos, explicaram e explicam os fenômenos que cercam a vida e a morte, o lugar dos indivíduos na organização social, seus mecanismos de poder, controle e reprodução. Dentro de dimensões históricas imemoriais até nossos dias, as religiões e filosofias tem sido poderosos instrumentos explicativos dos significados da existência individual e coletiva.
Portanto, é diante da busca do homem por explicações e soluções para demandas
do cotidiano que a ciência se define, podendo ser entendida como a sistematização de
um conhecimento. Em face disso, temos as diversas ciências (Matemática, Física,
Fisiologia, Biologia, Sociais etc.), que possuem características distintas. Para Minayo
(1994, p. 10), a “ciência é apenas uma forma de expressão desta busca, não exclusiva,
não conclusiva, não definitiva”.
Sob o prisma de Thomas e Nelson (2002 apud Mattos 2004, p. 10), a ciência pode
ser entendida como uma investigação disciplinada, que requer a utilização de métodos
específicos e de forma controlada. Desta forma, este autor acredita que o fazer ciência
implica não apenas ter um conjunto de procedimentos a sua disposição, é preciso
escolher o mais adequado aos objetivos a serem atingidos.
No entanto, ainda que vários autores busquem definir a ciência, a definição
proposta por Trujillo Ferrari, no livro “Metodologia da ciência”, parece ser a mais completa,
do ponto de vista de Lakatos e Marconi (2010, p. 62):
Entendemos por ciências uma sistematização de conhecimentos, um conjunto de proposições logicamente correlacionados sobre o comportamento de certos fenômenos que se deseja estudar: “ A ciência é todo um conjunto de atitudes e atividades racionais, dirigidas ao sistemático conhecimento com objeto limitado, capaz de ser submetido a verificação.”
Considerada uma atividade básica da ciência, a pesquisa caracteriza-se como uma
tarefa estruturada, que busca a solução de problemas. Para Andrade (2001 apud Mattos,
2004, p. 11), a pesquisa “é um conjunto de procedimentos sistemáticos que objetiva
encontrar a solução de determinado problema proposto fazendo menção de métodos
científicos.
Para fazer uma pesquisa científica, deve-se ter um assunto de interesse a
investigar, procurando por respostas quanto às indagações propostas.
Toda investigação se inicia por um problema com uma questão, com uma dúvida ou com uma pergunta, articulada a conhecimentos anteriores, mais que também podem demandar a criação de novos referenciais. (MINAYO, 1994, p. 18)
Articulada a essa afirmação há uma necessidade de usar uma metodologia
específica. Minayo (1994 p. 16) entende metodologia como “o caminho do pensamento e
a prática exercida na abordagem da realidade”. Geralmente, partindo da ideia de meio
para alcançar um objetivo, na literatura, verificamos que as definições de método não
sofrem muita divergência. Assim, de acordo com Lakatos e Marconi (2001 apud Mattos,
2004, p. 12), o método é compreendido como o “conjunto de atividades sistemáticas e
racionais que permitem alcançar um objetivo, traçando o caminho a ser seguido,
detectando erros e auxiliando nas decisões do pesquisador”. Já Cervo e Bervian (2002
apud Mattos 2004, p. 12) tratam como “um meio de acesso para atingir um resultado,
dando condições de selecionar os processos mais adequados para chegar-se a um
melhor resultado”.
No entanto, refletir acerca dos caminhos e trilhas metodológicas, através das quais
são planejadas e implementadas as políticas públicas de esporte e lazer, pressupõe,
antes de tudo, uma incursão pelos debates a respeito da problemática relativa à produção
do conhecimento, em especial, nas ciências sociais. Tal tarefa passa a ser exigida, ainda
mais, quando a pretensão está voltada a entender os fundamentos dessas políticas: os
sujeitos políticos que as fazem, como as fazem e para quem são feitas. Justifica-se,
também, esse percurso, pelo entender de Minayo (1994, p. 16), que “metodologia inclui as
concepções teóricas de abordagem, o conjunto de técnicas que possibilitam a construção
da realidade e o sopro divino do potencial criativo da investigação”.
Assim, considerando o caráter multidisciplinar dos estudos sobre memória, sua
associação com diferentes áreas do conhecimento – educação, política, história,
arquivologia, sociologia, antropologia – e o desafio de entender suas implicações junto às
políticas públicas de esporte e lazer, parte-se do princípio de que é preciso assumir, nesta
pesquisa, um enfoque não linear, para apreender os aspectos envolvidos na
implementação da memória, como política pública de esporte e lazer. Procura-se
relacionar, ao mesmo tempo, conteúdos educacionais, políticos, sociológicos,
antropológicos, econômicos e históricos, de modo a compreender as relações que
ocorrem no âmbito dessas política.
É preciso perceber a riqueza das modificações sofridas historicamente e, com isso,
reconhecer o conhecimento de senso comum como coadjuvante na compreensão da
realidade, uma vez ser espaço de expressão dos sujeitos alijados do processo, em
decorrência de uma ciência que se considera a dona da verdade, castrando a
subjetividade dos atores sociais – os principais responsáveis pela construção e
transformação permanente dessas mutações.
Para tanto, a presente investigação está centrada numa abordagem qualitativa que,
conforme Minayo (2001, p. 21), “trabalha com o universo de significados, motivos,
aspirações, crenças, valores, atitudes”.
Podemos dizer que esta pesquisa é caracterizada como qualitativa, do tipo
exploratório, que, baseado nos estudos de Gil (2002), tem como objetivo proporcionar
maior familiaridade com o problema, na busca de torná-lo explícito, trazendo um
planejamento flexível, que possibilite a consideração dos mais variados aspectos relativos
ao fato estudado.
Como em qualquer pesquisa científica, uma das tarefas iniciais foi o levantamento
da literatura, de forma a adquirir um conhecimento prévio sobre o assunto. A procura por
fontes bibliográficas da área permite ao pesquisador verificar se já existem estudos iguais,
semelhantes ou complementares, em algum aspecto, evitando a duplicação de esforços.
Valendo-se de livros, monografias, teses e artigos científicos, para esta tarefa,
foram consultados autores, como Fontanelli (2005), Coelho e Assis (2010), Goellner
(2003), Oliveira (2011), Le Goff (2003), Monteiro e Carelli (2007), que trazem um debate
sobre memória e história. Tessitore (2003) e Fontanelli (2005) apresentam uma
discussão ampliada sobre as instituições que trabalham com a memória. E mais
especificamente, na área de Educação Física, buscamos os estudos de Goellner (2003 e
2005), Lima; Moreno e Possas (2009), Moraes e Begossi (2011), que tratam das
experiências dos Centros de Memória da Educação Física e do Esporte.
Tendo em vista atingir os objetivos desejados, a ciência lança mão de inúmeras
técnicas, podendo a aproximação da realidade ser realizada segundo procedimentos
diretos ou indiretos. Para o estudo em questão, escolhemos a pesquisa documental, que
é um procedimento indireto de coleta de dados, e que possui como principal característica
a natureza da fonte ser restrita a documentos. Neste sentido, Gil (2002, p. 45)
complementa, alertando que este tipo de pesquisa faz uso de “materiais que não
receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa”.
De acordo com Bravo (1991 apud Silva et al., 2009, p. 4556), são documentos:
Todas as realizações produzidas pelo homem que se mostram como indícios de sua ação e que podem revelar suas idéias, opiniões e formas de atuar e viver.
Partindo deste entendimento, em Lakatos e Marconi (2010), os documentos podem
ser classificados em:
- escritos: subdivididos em documentos oficiais, publicações parlamentares, documentos
jurídicos, fontes estatísticas; e
- outros: englobam fontes iconográficas, fotografias, objetos, canções folclóricas,
vestuários e folclore.
Considerando as experiências da Escola de Educação Física de Minas Gerais
(CEMEEF) e do Centro de Memória da Escola de Educação Física e Desportos da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (CEME) como referências na política de
preservação da memória do esporte, optamos por investigá-las extraindo possíveis
contribuições teóricas e infraestruturais que nos auxiliem na edificação do Centro de
Memória do Esporte no Estado da Bahia.
Imagem 1 – Sítio virtual do Centro de memória do Esporte da Escola de Educação Física da
UFRGS. Na visão de Cellard (2008 apud SILVA; ALMEIDA; GUINDANI, 2009, p. 2),
Os documentos escritos constitui uma fonte extremamente preciosa para todo pesquisador nas ciências sociais. Ele é evidentemente, insubstituível em qualquer reconstituição referente a um passado relativamente distante, pois não é raro que ele represente a quase totalidade dos vestígios da atividade humana em
determinadas épocas. Além disso, muito freqüentemente, ele permanece como o único testemunho de atividades particulares ocorridas num passado recente.
Para além destas duas instituições investigadas achamos pertinente em nosso
estudo fazer um levantamento dos Centros de Memória da Educação Física e do Esporte
no Brasil. Desta forma foi realizada uma busca na internet, inclusive no sítio virtual do
IBRAM, para verificar se disponibilizava esses dados, porém nada encontramos. Tendo
em vista a realização do I Encontro Nacional de Centros de Memória no Brasil ser
promovido pelo Centro de Memória da Escola de Educação Física da UFMG, através de
contato, obtivemos esta informação através do professor Tarcísio Mauro Vago.
Como mecanismo de qualificar o estudo, ainda se utilizou de uma das abordagens
técnicas mais usuais, no trabalho de campo, que é a entrevista. Minayo (2001, p. 57)
alega que, através dela, o pesquisador busca captar informes nas entrelinhas das falas
dos atores sociais. Portanto, a entrevista não consiste numa simples conversa, mas, por
meio dela, tem-se a ambição de aferir dados, sendo uma atividade de coleta de fatos
relatados diante daquele que vivenciou a realidade que se está analisando.
Para compor a amostragem desta pesquisa, escolhemos dois personagens
importantes neste cenário: a professora Silvana Goellner, da UFRGS, e o professor
Tarcísio Mauro Vago, da UFMG. Cabe salientar que o critério de escolha deu-se, levando
em consideração o primeiro coordenador do centro de memória da Educação Física e do
Esporte, de cada uma das instituições focalizadas.
Fricker e Mattar (1999 apud VASCONCELOS; GUEDES, s.d., p. 2) explicitam que: O questionário, ou método de comunicação, experimenta diferentes modalidades de implementação, seja em função da sua natureza, das características dos prestadores de informação, dos recursos disponíveis para a investigação ou de exigências do delineamento da própria pesquisa que se conduz. Há fundamentalmente três modalidades usuais: entrevista pessoal, entrevista por telefone ou questionário autopreenchido.
Devido às questões geográficas e à distância para a realização das entrevistas,
estas aconteceram de forma virtual, sendo possível pelo expressivo e crescente
desenvolvimento tecnológico consolidado no aprimoramento da área de computacional e
de redes, tendo a internet como importante ferramenta de aprendizado.
Cabe frisar que, para realização da entrevista, foram levados em consideração os
ensinamentos de Mattar (1996 apud VASCONCELOS; GUEDES, s.d., p. 6), quando falam
que devemos nos atentar para a “possibilidade de fazer usos combinados de métodos de
pesquisa, de acordo com o perfil da amostra”. Salientamos que, na pesquisa em questão,
se contou com a utilização do Skype, um instrumento de videochamada para a sua
realização.
Assim, a entrevista se deu a partir de um roteiro que, segundo Minayo (2006, p.
189), consiste em uma “lista de temas que desdobram os indicadores qualitativos de uma
investigação”, sendo composta por 10 perguntas que abordam aspectos históricos,
estruturais e de funcionamento (ver modelo no Apêndice A).
Para isso, antes de realizarmos as entrevistas, apresentamos um Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (ver Apêndice B), que foi assinado pelos sujeitos da
investigação, pelo qual se descreviam os objetivos da pesquisa e assumíamos o
compromisso de utilizar os depoimentos exclusivamente para seus fins.
Tendo em vista a quantidade de material produzido e que necessita de
interpretação, no tratamento desses dados, utilizamos a técnica de análise de conteúdo.
Por análise de conteúdo, entende-se uma técnica que “possibilita a descrição do
conteúdo manifesto e latente das comunicações” (GIL, 2002, p. 89). Esta se desenvolve
em três fases: a pré-análise, onde é feita a escolha dos documentos; a exploração do
material, que abrange a escolha das unidades, enumeração e classificação; e, por fim, o
tratamento e a interpretação dos dados.
5.1 UFMG E UFRGS COMO REFERÊNCIAS
Entre os discursos dos sujeitos investigados e a observação dos sítios virtuais do
Centro de Memória da Escola de Educação Física de Minas Gerais (CEMEEF) e do
Centro de Memória da Escola de Educação Física e Desportos da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul (CEME), neste momento, trago os dados encontrados e analisados.
Primeiramente, esclareço que este exercício é feito com a intenção de apontar
elementos fundamentais para o entendimento do que é, como se estrutura e funciona um
centro de memória. Portanto, ao apresentar as experiências da UFMG e da UFRGS, na
preservação da memória da Educação Física e do Esporte, não temos a pretensão de
estabelecer um modelo pronto e acabado, que deva ser seguido por aqueles que desejem
trilhar este caminho. No entanto, é evidente que a sabedoria adquirida junto àqueles que
possuem um trabalho consolidado contribuirá e muito na empreitada de guarda,
organização e preservação da memória de uma determinada área, no nosso caso, a área
de Educação Física.
Com base nestas considerações, a opção de investigar os Centros de Memória de
Esporte da UFMG e UFRGS decorre, principalmente, por já possuírem um trabalho
reconhecido e por serem pioneiros neste segmento no País.
Como fonte rica de informações, a visita aos espaços virtuais dessas instituições foi
pertinente ao estudo, uma vez que, através de sua organização, pudemos verificar
aspectos históricos, estruturais e de funcionamento.
Recorrer aos sítios virtuais destas instituições também nos fez perceber o valioso
instrumento que as tecnologias têm colocado atualmente à disposição de todos os que
tenham interesse em usufruí-las. Através deles, são disponibilizadas eletronicamente
informações que indicam a forma como os pesquisadores têm tratado a massa
documental que está sob sua guarda.
Imagem 2 – Sítio virtual do Centro de Memória da Educação Física, do Esporte e do Lazer –
UFMG.
Em Callado e Ferreira (2004 apud Silva et al. 2009, p. 4558), isso vai ser muito
importante, uma vez que para estes autores os espaços de pesquisa são definidos pela
natureza do estudo. Assim, a localização dos documentos pode ser muito diversificada,
exigindo que o pesquisador tenha um conhecimento dos tipos de registro e informações
que aquela instituição abriga. Desta forma, as consultas aos sites destas instituições
permitem averiguar os materiais e o teor que se encontra explícito nestes documentos.
Consideramos que o levantamento de informações sobre os Centros de Memória
da Educação Física e do Esporte no Brasil foi importante, uma vez que nos apontou
indícios de como este movimento vem se configurando no país.
Nesta tarefa o professor Tarcísio Mauro Vago demonstrou que: Do sul ao norte do país existe um centro de memória em esporte na Escola de Educação Física da UFRGS onde a coordenadora é a professora Silvana Goelnner; no Rio Grande do Sul eu não sei como está a dinâmica neste momento, mas há uma mobilização junto a outro centro de memória na Federal do Rio Grande a FURGS. Subindo um pouco temos o Centro de Memória da Escola de Educação Física do Paraná cuja coordenadora foi a professora Vera Luiza Moro não sei se ela ainda esta lá, mais certamente esta envolvida. No Rio de Janeiro existe o Centro de Memória de Enezil Penna Marinho ele tinha um caráter mais virtual do que presencial. O nosso aqui em Belo Horizonte que vocês conhecem. No espírito Santo tem o grupo de estudo que não é bem um centro de memória, é um grupo de estudos o Proteoria onde estão lá o Omar Schneider e o prof. Amarilio Ferreira Neto que coordena o Proteoria e tem muita experiência em História da Educação Física com uma importante coleção de livros que é a Pesquisa histórica em Educação Física. Aqui em Minas Gerais além do nosso aqui tem um movimento em Belo Horizonte mesmo ligado a Secretaria do Esporte e da Juventude que está coordenado pela professora Marilita Arantes Rodrigues, mas me parece que foi desativado, me parece, houve pouco movimento. Em Muzambinho onde existe a escola de educação física se está organizando um centro de memória. Aqui em Minas Gerais ainda na Universidade Federal de Juiz de Fora sob os cuidados do professor Carlos Fernando da Cunha Junior tem um grupo de estudo que não é bem um centro de memória é um grupo de estudo que tem uma produção muito interessante. [...] Na Bahia estão tentando organizar, mais um pouco pra cima temos o da Federal do Sergipe coordenada pela professora Priscila Kelly Figueiredo, o CEMEFEL que é o Centro de Memória em Educação Física, Esporte e Lazer da Escola de Educação Física do Sergipe.
Na ocasião, o referido professor salientou que alguns dos nomes citados não se
configuram num Centro de Memória, propriamente dito, com acervos materiais, mas são
grupos de pesquisa que se interessam pela Educação Física, Esporte e Lazer e
produzem sobre a temática.
Partindo da ideia de que a criação de um centro de memória geralmente acontece
numa instituição, a partir do momento que seus membros se conscientizam da relevância
do papel desempenhado por estes centros, não meramente como depósitos de objetos,
documentos velhos, mas meios pelos quais se consegue visualizar experiências vivas que
ajudam a compreender algumas indagações do nosso cotidiano, procuramos verificar,
junto dos sujeitos investigados, qual a concepção possuíam do papel de um centro de
memória no âmbito de uma universidade.
Para esta questão, o Prof. Tarcísio iniciou sua fala, citando Jacques Le Goff,
quando nos diz que o historiador luta contra o esquecimento. Assim, para ele, num
primeiro momento, o centro tem como função enfrentar este desafio, por meio da guarda
de documentos que ajudam a contar a história de uma instituição ou, ainda, de uma área,
neste caso, a área de Educação Física. Outro fator elencado que justifica a existência de
um centro é a pesquisa, na qual pode ser utilizada a própria massa documental que o
centro abriga, como fonte de investigação. Ainda de acordo com o entrevistado, a
combinação destas duas funções gera outra, que é a de produzir conhecimento,
configurando aquilo que Le Goff descreve como uma maneira de lutar contra o
apagamento de uma história, que envolveu pessoas, em diferentes lugares e momentos
da história.
Sobre esta mesma questão, Silvana nos apresentou o ponto de vista de que a
universidade, principalmente a pública, tem como função primordial a produção e a
disponibilização de estratégias de acesso ao conhecimento. O Centro de Memória atende
amplamente a esta função, sendo que, em suas palavras, “além de preservar a memória
por meio da guarda de documentos de natureza distinta, um centro de memória pode
possibilitar a produção de diferentes histórias”.
Quanto à criação destes centros de Memória, as falas de ambos os entrevistados
evidenciam que estão estritamente relacionados a um primeiro movimento, de
professores e funcionários das respectivas instituições, promovendo discussões sobre a
importância desta iniciativa e em busca de apoio.
Para tanto, a criação do Centro de Memória da Escola de Educação Física da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 1997, contou com o papel de destaque
da professora Janice Mazo e da bibliotecária Rosália Camargo. Enquanto, em Minas
Gerais, apesar de já existir um movimento dentro da Escola de Educação Física, pela
equipe da biblioteca, para organizar documentos históricos, este só ganhou maior impulso
com a entrada do professor Tarcísio Mauro Vago, em 2001, naquela instituição, quando
foi retomada, ainda que de forma amadora, a organização do centro de memória. Deste
modo, este espaço se caracterizou como: Lugar de recuperação, preservação, conservação e divulgação da memória da área da Educação Física: local de encontro entre memória e história. Constitui como espaço formativo e educativo, de reflexão da e sobre a Educação Física, e no qual o ensino, a pesquisa e a extensão são praticas que ali tomam lugar. (LIMA; MORENO; POSSAS, 2009, p. 2)
Convém salientar que, além do contexto particular e das condições que definiram a
criação destes espaços, verificamos que o apoio dos departamentos da universidade e de
órgãos de fomento tem sido de extrema importância para a afirmação das iniciativas
desenvolvidas nesses centros. De acordo com as falas, este apoio se dá
fundamentalmente por meio de editais públicos, como o da Rede CEDES, do CNPq e da
própria universidade, na concessão, por exemplo, de bolsas para estudantes. Para além
disso, o Prof. Tarcísio conta que outra forma de apoio, recebida pela universidade, que
tem sido a vinculação do Centro de Memória à Rede de museus, espaços de ciências e
cultura da UFMG, com orçamento anual. Também existe aquela ajuda esporádica,
quando acontece algum evento, atingida com projetos destinados à Pró-Reitoria de
Extensão, para o financiamento de passagens e hospedagem para convidados.
Levando em consideração o posicionamento de Chagas (2006 apud LIMA;
MORENO; POSSAS, 2009, p. 2), quando afirma que “não há sentido para preservação,
tampouco trabalho preservacionista eficaz, se este não for acompanhado pelo trabalho
educativo e pela participação”, podemos dizer que os centros de memória vêm cumprindo
esta tarefa, de forma positiva, desenvolvendo ações que vão além da recuperação,
preservação e divulgação da massa documental que acolhem. Corroborando com esta
afirmativa, em Goellner (2003, p. 202), verificamos que o Centro de Memória do Esporte
(CEME) tem buscado: - implementar a produção científica no campo da história e da memória esportiva brasileira; - realizar exposições permanentes e itinerantes que tematizam a cultura corporal brasileira (esportes, dança, ginástica etc.); - oferecer oficinas para escolas de educação básica (públicas e privadas), bem como para centros comunitários e associações de moradores de bairros de Porto Alegre e grande Porto Alegre; - possibilitar aos interessados (pesquisadores e simpatizantes) informações relacionadas à memória esportiva gaúcha e brasileira; - organizar ciclos de vídeo e debates temáticos; -disponibilizar o acervo via recursos computacionais (home-page, internet, comutação.
Em face da variedade de atividades que são desenvolvidas pelo Centro de
Memória, a professora Silvana Goellner afirmou que existe uma grande procura, por parte
de pesquisadores, estudantes de graduação, pós-graduação e jornalistas, que têm
naquele espaço uma fonte rica para a elaboração de estudos. Já as atividades
educativas, tais como seminários e oficinas, conseguem envolver, principalmente, os
alunos do ensino fundamental e médio; já as exposições organizadas pelo centro têm um
público diversificado, uma vez que são abertas para a comunidade, em geral.
Ainda para a referida professora, o fomento de atividades diversas, tais como a
exposições, oficinas temáticas, mostras fotográficas, podem ser utilizadas como
ferramentas para tornar o espaço mais interativo e atraente ao público. Por outro lado, o
professor Tarcísio pensa que o próprio acervo do Centro de Memória já consegue chamar
a atenção do público, como verificamos em sua fala: O que torna o Centro de Memória atrativo é possibilidade de ver estes documentos, de manipular estes documentos e de conhecer aquilo que se pensou, se imaginou e se produziu para área de educação física em diferentes momentos da nossa história. É a possibilidade de ver como uma área foi sendo constituída ao longo de 10, 50 anos.
Imagem 3 – Exposição: "Souvenirs" Olímpicos – Centro de Memória do Esporte (CEME) Fonte: Disponível em: <www.esef.ufrgs.br>. Acesso em: 18.jun.2012.
Um dos primeiros passos para a edificação de um centro de memória é reunir
documentos que passam a constituir o seu acervo. Nesta tarefa, segundo os
depoimentos, foram realizadas buscas, em suas respectivas bibliotecas, no intuito de
mapear o acervo já existente, encontrando obras e documentos importantes que corriam
o risco de serem descartados. Nos porões, dos chamados “arquivos mortos” da Escola de
Educação Física “vieram os documentos produzidos pela instituição ao longo de sua
história, como atas, ofícios, jornais, revistas, apostilas, fotografias, dentre outros”
(LINHARES; CUNHA; VIANA, s.d., p. 2). Posteriormente, foram desenvolvidas atividades
de sensibilização, com ex-professores e ex-servidores, buscando ampliar o acervo já
existente. Assim, houve algumas iniciativas individuais de doação de acervos específicos,
por alguns deles, e até mesmo pelas famílias de professores já falecidos.
De acordo com Goellner (2003, p. 202), Atualmente o acervo do CEME comporta aproximadamente 4.500 livros sobre a Educação Física, lazer, dança, esporte publicados antes de 1960; 250 vídeos e filmes com temáticas relativas a essas práticas sociais; 4000 fotografias; inúmeros artefatos como vestuários, medalhas, troféus, painéis, banners, cartazes, distintivos, bandeiras, enfim, uma imensa lista de peças, varias delas raras.
Imagem 4 – Acervo: Olímpica -– Medalha Oficial dos Jogos Olímpicos de Lillehammer, 1994. Fonte: Disponível em: <www.esef.ufrgs.br>. Acesso em: 18.jun.2012.
Cabe frisar que para reunir e organizar os acervos são necessários passos
científicos, sendo estes constituídos e ampliados paulatinamente, o que envolve, como
Linhares, Cunha e Viana (s.d., p. 2) observam, o “compromisso dos pesquisadores e
acadêmicos do Centro com a recuperação de documentos institucionais. [...] o interesse
de eventuais doadores que, tomando ciência da existência do CEMEF, passam a
identificá-lo como um lugar de memória e guarda de suas trajetórias acadêmicas e
pessoais”.
Um dos pontos que merece atenção é que a própria dinâmica diária de um centro
de memória revela a necessidade de realizarmos constantes escolhas, como
caracterizam Lima, Moreno e Possas (2009, p. 2): Este trabalho nos motiva a estabelecer muitas questões, buscando caminhos, retificando opções, aprendendo com a experiência: o que e como preservar? Qual melhor lugar pra cada tipo de documento? Quando e como restaurar e higienizar os documentos?
Tendo em vista que não podemos preservar todo tipo de documento, faz-se
necessária a existência de uma política para a formação de acervos em um centro de
memória. Segundo a Prof.ª Silvana Goellner, essa política recai, sobretudo, na aceitação
de acervos que mantenham relação com as coleções e com o objetivo daquela instituição.
Para o professor Tarcísio, todo museu, arquivo ou centro de memória, apesar de
serem coisas distintas, deve possuir uma política que estabeleça critérios e que defina
quais documentos faz sentido preservar. Como forma de visualizarmos este aspecto, cita
o exemplo da coleção dos 30 anos da Escola de Educação Física da UFMG, acervo em
que faz sentido guardar apenas documentos relativos ao período. Assim sendo, através
de parceria com a direção da escola, passaram a ser responsáveis por todos os
documentos que correspondessem aos 30 primeiros anos daquele estabelecimento de
ensino superior. Desta forma, conta, atualmente, com documentos diversos, como
fotografias, livros, documentos institucionais, entre outros, compreendidoa entre 1952 e
1982.
Em Linhares, Cunha e Viana (s.d., p. 7), vamos encontrar o seguinte
esclarecimento sobre a importância de se elaborar uma “Política de desenvolvimento de
coleções”: A “Política de Desenvolvimento de Coleções” estabelece critérios que determinam a aquisição, a manutenção e/ou o descarte de materiais bibliográficos, arquivístivos ou museológicos. Por meio dessa Política o acervo do CEMEF vai ganhando identidade própria. O que preservar e como preservar? Como construir critérios e ordenamentos? Que diálogos estabelecer com doadores e colaboradores? Questões como essas, ao serem respondidas, constroem a autenticidade de nosso trato com a memória.
Tudo isto parte do princípio que de “nada adianta um centro de memória receber
todas as doações a ele oferecidas, se não possuir condições reais para tratar, organizar,
processar tecnicamente e disponibilizar os documentos aos usuários” (LINHARES;
CUNHA; VIANA, s.d., p. 7).
Enveredando pelo caminho da preservação memorial da Educação Física e do
Esporte, e entendendo que “os documentos de arquivos refletem a vida da instituição que
os produziu” (MOGARRO, 2005 apud MORO; GODOY, s.d., p. 4), precisamos ter clara a
necessidade de um conjunto de intervenções com vistas a coletar, tratar, recuperar,
preservar e colocar à disposição da população todo esse conhecimento.
Neste sentido, faz-se necessário dominar técnicas apuradas de higienização,
conservação e identificação de documentos. É válido destacar, portanto, que, após o
trabalho de identificação, que consiste no reconhecimento de objetos, ou mesmo de
pessoas ou lugares em fotografias, o processo de catalogação deste material torna-se
fundamental, visto facilitar, posteriormente, a sua localização.
Imagem 5 – Processo de identificação de objetos. Fonte: Disponível em: <www.cemef.eeffto.ufmg.br>. Acesso em: 18.jun.2012
Sabemos, no entanto, que este serviço não é fácil e que muitas dificuldades
precisam ser enfrentadas, diariamente, pelas equipes que trabalham neste segmento.
Estas dificuldades se tornam ainda maiores, quando estamos engatinhando, sendo que
algumas delas só conseguimos superar, ao longo do tempo, e fruto de muitos esforços.
A exemplo disso, verificamos que um dos principais problemas enfrentados por
aqueles que almejam criar um centro de memória está relacionado a “espaços físicos
adequados (com desumidificadores, materiais não alcalinos para a guarda de fotografias,
mobiliário adequado, combate a agentes nocivos, como fungos, traças, cupim etc.)”. Em
relação a esta dificuldade, pode-se dizer que ambos os centros de memória investigados
conseguiram vencer este desafio e hoje contam com uma boa infraestrutura física.
É importante destacar que os recursos para a construção destes espaços partem
da elaboração e da submissão de projetos a editais públicos. No caso do prédio que
abriga o Centro de Memória da UFMG, segundo informação obtida na entrevista, este foi
construído a partir de iniciativas deste tipo, obtendo financiamento do Ministério da
Ciência e Tecnologia, através da FINEP, juntamente com o Ministério dos Esportes, em
2006, sendo que a UFMG entrou com uma contrapartida para completar a obra. Cabe
salientar que, por meio desses projetos, obteve-se o apoio de agências de financiamento,
tais como CNPq, FAPEMIG e Ministério dos Esportes, para a aquisição de todos os
equipamentos pertencentes ao centro.
Imagem 6 – Prédio do Centro de Memória da Educação Física, do Esporte e do Lazer da UFMG. Fonte: Disponível em: <http://www.cemef.eeffto.ufmg.br/>. Acesso em: 18.jun.2012.
Apesar de já ter superado a falta de pessoal especializado em biblioteconomia,
esta foi considerada outra dificuldade enfrentada pelo trabalho inicial do Centro de
Memória da UFRGS. Dificuldade esta que ainda incide no Centro de Memória da UFMG,
juntamente com a carência de profissional lotado para o trabalho de secretaria. Como diz
o professor Tarcisio Nós somos cinco professores interessadíssimos na história da educação física mais nós não somos da área de arquivologia, nós somos professores pesquisadores e estudantes que estamos desenvolvendo pesquisas. Entendemos de fazer pesquisa mais estamos aprendendo mesmo que as duras penas, procurando ajuda de um grande amigo arquivologista mais ele não é do centro de memória, é um professor do curso de arquivologia que vem nos ajudando.
Ele ainda observa que tem havido um diálogo com a direção da Escola de
Educação Física sobre a necessidade de se possuir um profissional da área de
arquivologia, mas, até o momento, esse pleito não foi atendido. Também salientou que,
para ajudar nesta atividade, vem sendo contratado um bolsista, por meio de verbas
angariadas em projetos de pesquisa.
Outra ordem de dificuldade está relacionada à questão dos recursos financeiros
fixos, pois toda a receita decorre da aprovação de projetos de pesquisas que são
idealizados para o Centro. Assim, existe uma preocupação, neste sentido, uma vez que,
embora seja interessante, pode chegar um momento em que o Centro não consiga mais
contar com a aprovação de nenhum de seus projetos. Consequentemente, pela ausência
de financiamento permanente, destinado a higienizar, guardar e restaurar os acervos, há
uma dificuldade também em mantê-los em condições adequadas.
Representando muitas vezes a porta de entrada de recursos financeiros para uma
instituição, consideramos os projetos de pesquisas como elementos que movimentam e
dão vida a um centro de memória. Assim sendo, destacamos, por fim, os projetos de
pesquisa desenvolvidos por ambos os centros. Entre outras informações que podem ser
acessadas, ao fazer uma consulta no sítio virtual dos respectivos centros, verificamos que
é oferecida uma breve descrição de cada um dos projetos a eles vinculados.
Desta maneira, encontramos alguns projetos já concluídos e outros em andamento.
De acordo com os dados obtidos na entrevista junto ao Centro de Memória do Esporte
(CEME), o de maior destaque tem sido “Garimpando memórias: esporte, educação física,
lazer e dança no Brasil” 7, que objetiva preservar e divulgar a memória das práticas
corporais e esportivas brasileiras. Este é um projeto que já recebeu apoio de várias
agências de fomento, tais como CNPq, FAPERGS, PROPESQ-UFRGS, PROREXT –
UFRGS, Rede Cedes e Ministério do Esporte, e que resultou em diversas produções
científicas, na modalidade monografia e artigos para revistas.
Tratando-se do Centro de Memória da Educação Física, do Esporte e do Lazer
(CEMEF), encontramos, em seu sítio virtual, sete projetos de pesquisa concluídos e mais
cinco em andamento (ver listagem no Anexo A).
Conforme explicita o Prof. Tarcisio cada um dos projetos em andamento tem sido
coordenado por um dos professores que integra o Centro de Memória. Dentre eles,
temos “A Biotipologia no Brasil em meados do século XX: Juvenil Rocha Vaz e a clínica
propedêutica da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro”, sob a coordenação da
professora Ana Carolina Vimieiro Gomes, onde se tematiza a história do processo de
7 Saiba mais em: <http://www.repositorioceme.ufrgs.br/community-list>. Acesso em: 12. Jul. 2012.
constituição de campos de conhecimentos científicos no Brasil. Busca-se, ainda, analisar
a acomodação a um modelo de cientificidade no âmbito das ciências biomédicas,
baseado em pressupostos de quantificação e de qualificação dos fenômenos corporais.
Ainda foram citados os seguintes projetos: “Modelos pedagógicos, formação
docente e práticas escolares: o ensino da Educação Física em Belo Horizonte (1947-
1977)”, sob os cuidados da professora Meily Assbú Linhales; “Histórias de Educação
Física na Cultura Escolar: investigações sobre a escolarização da disciplina no norte-
nordeste de Minas Gerais (1900-1940)”, desenvolvido pelo professor Tarcisio Mauro
Vago; “Garimpando, organizando e divulgando a memória no CEMEF”, coordenado pela
professora Andrea Moreno, e o projeto “A educação dos sentidos na história: o tempo livre
como possibilidade de formação (entre os anos finais do séc. XIX e os anos iniciais do
séc. XXI) – fase I (2011 – 2013)”, do professor Marcus Aurélio Taborda.
Para Tarcísio Mauro Vago, “um centro de memória não existe sem pesquisa”.
Partindo desta consideração, verificamos que estas instituições vêm sendo assistidas
pelos projetos que desenvolvem. Assim, afirmamos que a pesquisa e a guarda de
documentos caminham juntas, mas este duplo movimento nos leva a um terceiro, que é o
de produzir e colocar este conhecimento em circulação.
Neste sentido, ambos os centros vêm cumprindo este papel, podendo-se verificar a
participação de seus membros em variados eventos científicos, nacionais e
internacionais, divulgando seus trabalhos. Outra dimensão fundamental é que a própria
dinâmica do centro de memória propicia a formação de seus pesquisadores, através de
participações nas reuniões do centro, da leitura e discussão de textos, resultando em
teses e dissertações entre outros produtos acadêmicos.
6 DESAFIOS HISTÓRICOS E IMEDIATOS
O interesse acadêmico pela preservação da memória histórica tem acarretado a
intensificação de iniciativas com vistas a enfrentar o apagamento da história. Neste
sentido, a trajetória até aqui esboçada nos aponta que várias ações que têm sido
desenvolvidas com este fim. No entanto, ao buscar na literatura referências e
esclarecimentos que ajudassem a compreender a atual conjuntura de ações direcionadas
à preservação da memória da Educação Física e do Esporte no Estado da Bahia, o
resultado obtido foi frustrante: quase nada há a esse respeito, especificamente. O que
existe, até então, como os estudos de Carneiro e Leiro (2012, p. 1) apontam, são poucos
trabalhos relacionados à história e à memória, bem como algumas iniciativas midiáticas
espalhadas.
Assim, reconhecendo a importância de preservamos a memória documental e,
utilizando-a como aliada na tarefa de compreender o passado, de forma contextual e
sociocultural, no presente, para que venha a auxiliar o planejamento de um futuro,
conferimos a necessidade de criar espaços que acolham, preservem documentos e que a
partir deles gerem conhecimentos sobre determinada área.
Neste sentido, os centros de memória se inscrevem como campo especializado na
tarefa de recuperar e preservar a memória de determinadas práticas corporais,
instituições ou personagens importantes, sendo que, nos últimos anos, tem havido um
crescimento no número de locais desse tipo, principalmente no âmbito das universidades
públicas.
Tratando-se da realidade baiana, no que se refere a espaços que façam o trabalho
de guardiões da memória do esporte, encontramos o Memorial do Esporte Clube Bahia8,
criado em 2004, e que, de acordo com o site Avante Esquadrão, representa o maior
passo dado em prol da manutenção e do resgate do patrimônio histórico do Esquadrão de
Aço. Nele está disponível um vasto acervo de fotografias de torcedores e personalidades,
bem como os 56 troféus mais importantes da trajetória deste time.
Entretanto, articulado ao fazer científico, bem como forma abrangente que acolha o
patrimônio histórico da área de educação física e do esporte, como um todo, podemos
dizer que, apesar do desejo coletivo, a Bahia ainda carece de iniciativas desse porte. O
que ocorre, até então, é um projeto para criação do Centro de Memória da Educação
8 Maiores informações em: <http://www.avanteesquadrao.com/>. Acesso em: 21.jul.2012.
Física e do Esporte da Bahia, que se encontra em trâmite, na Universidade Federal da
Bahia, através do Grupo MEL/CNPq, numa parceria com o Departamento de Educação
do Campus II da Universidade do Estado da Bahia, e que conta com o apoio da
Secretaria Estadual do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte da Bahia.
Acreditamos, portanto, que um centro de memória, enquanto espaço de pesquisa,
ensino e extensão, atende à perspectiva apresentada por Leiro (2005, p. 2), quando alega
que “a edificação de espaços públicos de estudo e pesquisa deve considerar o
compromisso com uma educação socialmente referenciada, com a proficiência dos
estudantes e com a produção crítica e inovadora de conhecimentos”.
Tendo em vista potencializar as fontes documentais esportivas relativas ao Estado
da Bahia, somos desafiados a criar, organizar e posteriormente a consolidar o Centro de
Memória da Educação Física e Esporte para Bahia. Para tanto, a criação de um centro de
memória demanda um enfrentamento de questões teórico-metodológicas, tendo em vista
um melhor cuidado de seu acervo.
Neste propósito, é notável a necessidade de aplicação de técnicas específicas para
o levantamento, organização e disponibilização de documentos, sendo que, certamente, o
aprofundamento dos conceitos e noções na área de arquivologia contribuirá na lida
cotidiana com os acervos. Além disso, a partilha de experiências com outras instituições
que desenvolvem este trabalho torna-se de fundamental importância, pelo rico
aprendizado obtido nestas interações, o que consequentemente aprimora as ações.
Para Carneiro e Leiro (2012, p. 2), constituir um Centro de Memória exige
esforços contínuos, sendo seu acervo formado paulatinamente. Neste sentido, Fontanelli9
(2005) demonstra que o trabalho de construir um espaço desses se divide em algumas
tarefas, tais como:
definir os objetivos da instituição ao constituir um Centro de Memória;
delimitar a missão do Centro;
delimitar o público ao qual atenderá;
compor uma equipe multidisciplinar que cuidará do desenvolvimento do projeto,
assim como da administração;
definir o organograma do centro;
9 Tomamos por base o trabalho de Goulart (2005 apud Fontanelli 2005, p. 89-93),
fazer o levantamento histórico e o diagnóstico das fontes documentais com vistas a
planejar o trabalho;
realizar treinamento da equipe que irá compor o centro, sobre a forma de produzir,
identificar e acondicionar os documentos;
definir a natureza dos acervos;
realizar campanhas internas e externas, como forma de recuperar e resgatar
documentos;
elaborar, junto à equipe, uma política de formação do acervo, que defina as normas
para aceitar ou não as doações de objetos e documentos para aquele centro;
com base na política de formação do acervo, avaliar e realizar uma triagem dos
documentos;
registrar a entrada dos documentos para posterior classificação;
estabelecer arranjos e descrição dos fundos arquivisticos;
disponibilizar as informações e o acervo para seu público;
promover atividades para a divulgação do acervo do centro;
realizar pesquisas com base nos documentos do acervo do Centro; e
promover intercâmbio entre centros de memória, com vistas a aprimorar as
técnicas de trabalho.
Tendo em vista os pontos destacados, consideramos que alguns deles são
primazes para organizarmos os primeiros passos de criação de um centro de memória.
Não menos importantes, outros precisam de tempo para que venham a se desenvolver.
No que tange ao Centro de Memória da Educação Física do Esporte da Bahia, um
dos desafios imediatos é a formação/ampliação de seu acervo. Para isso, há a
necessidade de possuir todo um aparato técnico e de infraestrutura que venha a tratar e
abrigar, em condições adequadas, os seus documentos. Cabe registrar que um dos
primeiros a ser formado/ou em construção é o acervo de Helio Campo, que desenvolve
um verdadeiro resgate da educação física baiana.
Imagem 7 – Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia (Acervo Helio Campos).
É importante lembrar que iniciativas desse tipo envolvem custos, sendo necessário
um capital financeiro para que aconteçam com maior afinco. Como já salientado em
outros capítulos, a elaboração de projetos de pesquisa e sua submissão a editais de
agências de fomento tem sido um dos meios para se conseguir investimentos em
aquisição de material permanente, aperfeiçoamento da equipe técnica e manutenção da
infraestrutura destes espaços, dentre outros.
Neste esforço, o projeto intitulado “Centro de Memória da Educação Física e
Esporte na Bahia: um desafio histórico” criou subsídios para elaborar e encaminhar
projetos para editais públicos, com vistas a contribuir com a edificação de um lugar para
acolher a memória da Educação Física e do Esporte baianos. Assim, cabe ficarmos
atentos a futuras oportunidades evidenciadas em editais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse trabalho monográfico buscou criar bases teóricas e infraestruturais para a
edificação do Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia, utilizando
para isso algumas experiências universitárias, bem como o levantamento de estudos
sobre a temática.
Ainda principiante no projeto de pesquisa que originou este trabalho monográfico,
aspirava, ao terminá-lo, apresentar, como resultado, o centro de memória já organizado.
No entanto, pude compreender que este tipo de iniciativa não se materializa de uma hora
para outra, pois demandaria tempo, maiores conhecimentos e investimentos.
À luz desta constatação, era preciso compreender o que é, como se estrutura e
funciona um Centro de Memória. Confirmando, assim aquele saber de que, para intervir
diante de uma realidade, necessitamos primeiramente conhecê-la. Nesta empreitada,
foram realizadas leituras e aprofundamentos sobre o campo de conhecimento em pauta,
esclarecendo muitos pontos.
Pensamos que o trabalho de preservação, recuperação e divulgação de
documentos e objetos históricos, para além da perpetuação da tradição de um povo, e de
suas diversas práticas corporais, torna-se um rico instrumento para a elaboração de
políticas públicas setoriais na área da Educação Física, Esporte e Lazer.
Tendo o foco no Centro de Memória da Educação Física e do Esporte da Bahia,
acreditamos que a estrutura que alicerçou este trabalho foi pertinente, uma vez que
conseguirmos percorrer vários aspectos que mostraram, por exemplo, a importância de
iniciativas como esta para o resgate e a preservação de histórias de vida que envolveram
pessoas, em diferentes contextos, e que por meio delas podemos também entender
questões do nosso cotidiano; também a partir do conhecimento daqueles que possuem
maior experiência na área, apresentamos alguns passos importantes que nos ajudarão a
construir e fortalecer um centro de memória do Esporte e do Lazer no Estado
Ficou evidente que constituir um Centro de Memória não é uma tarefa fácil, sendo
necessário todo um conjunto de ações. Mesmo aqueles que já possuem um trabalho já
consolidado no dia a dia, ainda se defrontam com inúmeras dificuldades, requerendo
pessoas comprometidas e flexíveis.
Entretanto, como anteriormente dissemos, nossa intenção neste estudo não foi a
de apresentar um modelo pronto, que mostrasse pontos a seguir na construção do centro
de memória, nem tão pouco esgotar o assunto. Assim, consideramos que há muitos
caminhos a serem percorridos.
Espero que mais adiante possa contribuir, de outra maneira, com esta iniciativa,
podendo disputar editais públicos que venham a auxiliar os trabalhos do centro, tornando-
se um espaço consolidado e reconhecido no País.
.
REFERÊNCIAS
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CERAVOLO, Suely Moraes. O Museu do Estado da Bahia, entre ideais e realidades (1918 a 1959). ANAIS MUSEU PAULISTA, São Paulo, v.19, n.1, p. inicial-final, jan./jun. 2011
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APÊNDICE A
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA Departamento de Educação – Campus II
Curso de Licenciatura em Educação Física
Roteiro de Entrevista
1. Qual a importância de um Centro de Memória na Universidade?
2. Faça um breve relato da história do centro. Quais foram os primeiros passos até a
criação, organização e consolidação?
3. Como foi edificado o acervo do centro de memória? Existe uma política de formação do acervo?
4. Qual o perfil do público que visita o centro de memória?
5. Como tornar estes espaços mais atraentes e interativos para o público?
6. Quais as principais dificuldades enfrentadas pela equipe na tarefa de arquivamento
e guarda de documentos?
7. Existe apoio de departamentos da universidade, órgãos públicos neste trabalho de preservação da memória?
8. Como se dá este apoio?
9. Quais são os subprojetos do centro?
10. No site do Centro de Memória verificamos a composição da equipe do CEME. Essa
equipe é formada por quais profissionais? Existe uma formação especifica para realizar este trabalho?
APÊNDICE B
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA Departamento de Educação – Campus II
Curso de Licenciatura em Educação Física
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Eu_____________________________________________________, declaro por meio
deste termo, que concordei em ser entrevistado (a) na pesquisa referente ao projeto
intitulado Centro de Memória da Educação Física e Esporte na Bahia: um desafio histórico
vincluado ao Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Física, Esporte e Lazer –
GEPEFEL/UNEB e que resulta no trabalho monográfico denominado Desafio de
edificação do Centro de Memórias da EF da Bahia, sob orientação do prof. Dr. Augusto
César Rios Leiro.
Afirmo que aceitei participar por minha própria vontade, sem receber qualquer incentivo
financeiro e com a finalidade exclusiva de colaborar para o sucesso da pesquisa.
Minha colaboração se fará de forma pública, por meio de questionário eletrônico
encaminhado por email. O acesso e a análise dos dados coletados se farão apenas por
mim juntamente com o orientador, sendo divulgados apenas os dados diretamente
relacionados aos objetivos da pesquisa.
_____________________________, ____ de _________________ de _____
Assinatura do (a) participante: ______________________________
Assinatura do (a) pesquisador (a): __________________________________
ANEXO A
Lista das Pesquisas – Centro de Memória da Educação Física, do Esporte e do Lazer (CEMEF) I - Em andamento:
A Biotipologia no Brasil em meados do século XX: Juvenil Rocha Vaz e a clínica propedêutica da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro
Histórias de Educação Física na Cultura Escolar: investigações sobre a
escolarização da disciplina no norte-nordeste de Minas Gerais (1900-1940)
Garimpando, organizando e divulgando a memória no CEMEF
Modelos pedagógicos, formação docente e práticas escolares: o ensino da Educação Física em Belo Horizonte (1947-1977)
Núcleo de Pesquisas sobre a Educação dos Sentidos e das Sensibilidades –
NUPESS
II - Concluídas:
Circularidade de modelos pedagógicos e formação de professores de Educação Física em Belo Horizonte: vestígios de práticas no acervo do CEMEF/UFMG (1950-1980)
A PRÁTICA DO ESPORTE NA FORMAÇÃO DE PROFESSORAS DA ESCOLA
NORMAL MODELO DA CAPITAL: pistas para uma compreensão da educação physica a partir da trajetória da professora Lúcia Joviano (Belo Horizonte, 1916-1935)
O CEMEF/UFMG como lugar de memória e pesquisa da história do esporte em
Minas Gerais: organização e conservação de acervos
Memória de esportes e ruas de recreio (1940-1980)
SENTIDOS E SENSIBILIDADES: a educação do corpo na Escola Normal Modelo da capital (Belo Horizonte, 1906-1930)
Eu vou te contar uma história... Memórias de Esportes e Ruas de Recreio (1940-
1970)
Levantamento e catalogação de fontes pra o estudo da educação do corpo em Belo Horizonte (1891-1930)
ANEXO B
Lista de projetos e pesquisas – Centro de Memória do Esporte (CEME)
1. Acervo Brasileiro de História Oral em Esporte e Educação Física
2. ESEF 70 Anos - (1940-2010)
3. Garimpando Memórias: esporte, educação física, lazer e dança no Brasil
4. Gênero e raça em programas de esporte e lazer
5. GRECCO - Grupo de Estudos sobre Corpo e Cultura
6. Memória do Programa Segundo Tempo
7. Mulheres atletas: o esporte como um espaço de visibilidade feminina
8. O Sport que virou esporte, o Sport que virou Desporto
9. Recônditos da Memória: o acervo pessoal de Inezil Penna Marinho
10. Rede Cedes - Núcleo UFRGS