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CENTRO UNIVERSITRIO METODISTA, DO IPA
CURSO DE DIREITO
Eduardo Carvalho dos Santos
O PESO (!) DA OBESIDADE PARA A SOCIEDADE: ANLISE DE ASPECTOS
JURDICOS-CONSTITUCIONAIS
PORTO ALEGRE
2013
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1
EDUARDO CARVALHO DOS SANTOS
O PESO (!) DA OBESIDADE PARA A SOCIEDADE: ANLISE DE ASPECTOS
JURDICOS-CONSTITUCIONAIS
Trabalho de Concluso de Curso apresentado ao Curso de Direito do Centro Universitrio Metodista do IPA, como requisito parcial para obteno do grau de Bacharel em Direito. Orientadora: Prof Me. Silvia Resmini Grantham
PORTO ALEGRE
2013
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2
EDUARDO CARVALHO DOS SANTOS
O PESO (!) DA OBESIDADE PARA A SOCIEDADE: ANLISE DE ASPECTOS
JURDICOS-CONSTITUCIONAIS
O presente Trabalho de Concluso de Curso submetido banca examinadora integrada
pelos professores abaixo firmados foi julgado e aprovado para obteno do grau de Bacharel
no Curso de Direito do Centro Universitrio Metodista do IPA.
Porto Alegre,_______de_________________de 2013.
______________________________
Profa. Me. Silvia Resmini Grantham
Orientadora
______________________________ ______________________________
Prof. Prof.
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3
Dedico este trabalho a minha filha Eduarda, um anjo em
minha vida.
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4
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Manoel Luiz e Maria Lucia por me ensinarem valores e virtudes de
honradez e decncia de carter que hoje norteiam toda a minha vida.
Ao meu irmo Gustavo e minha irm Helen, por se fazerem presente em minha vida.
A minha esposa Andiara por me incentivar a superar as barreiras para chegar at este
momento.
Agradeo aos professores dessa instituio pelos conhecimentos e pela amizade com
que sempre me agraciaram, em especfico a Prof. Me. Silvia Resmini Grantham pela preciosa
e competente orientao, confiana e apoio depositados, a qual foi de fundamental relevncia
para a elaborao e concluso deste trabalho.
A todos que de alguma forma contriburam para a elaborao desse trabalho
Muito Obrigado!
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5
Nossa sociedade cria os obesos, mas no os suporta.
Jean Trmolires. Frana, 1971
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RESUMO
Na presente pesquisa foi abordada questo da proteo constitucional das pessoas
portadoras de obesidade e as dificuldades enfrentadas para efetivao de seus direitos
previstos constitucionalmente, atravs do direito sade e do princpio da proteo
dignidade humana. Importar ainda relacionar a temtica com o mnimo existencial, o qual,
no significa apenas a garantia de sobrevivncia do indivduo, mas contm tambm os direitos
socioculturais, notadamente direito a vida social. Assim, a presente pesquisa tem por objetivo
a anlise da obesidade, enquanto doena grave, e suas implicaes jurdico-constitucionais. O
tipo de pesquisa utilizado ser documental com reviso bibliogrfica, utilizando o resumo de
ideias de diversos autores, sendo a coleta de dados feita atravs de acervos bibliogrficos,
publicaes, livros cientficos, didticos e literrios, peridicos e artigos cientficos
publicados em meios de comunicao eletrnicos. O mtodo de procedimento o tipolgico,
com base em conceitos da rea mdica e rea jurdica, a abordagem ser dialtica, com
contrapontos dos conceitos utilizados, e o mtodo de interpretao sistmico em razo da
abordagem interdisciplinar do assunto.
Palavras-chave: Obesidade. Polticas Pblicas. Dignidade Humana. Mnimo Existencial.
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7
ABSTRACT
In the present research was addressed issue of constitutional protection of people
with obesity and the difficulties for enforcement of his rights under the Constitution, through
the right to health protection and the principle of human dignity. Still relate the subject matter
to the existential minimum, which not only means ensuring the survival of the individual, but
also contains social and cultural rights, notably the right to social life. Thus, this research aims
at the analysis of obesity as serious illness, and their legal and constitutional implications. The
type of research will be used to document literature review, using the abstract ideas of various
authors, and the data were collected through library collections, publications, scientific books,
textbooks and literary journals and scientific papers published in electronic media. The
method of procedure is the typological concepts based on the medical and legal field, the
approach is dialectical, with counterpoints of concepts used, and the method of interpretation
is systemic because of the interdisciplinary approach to the subject.
Keywords: Obesity. Public Policy. Human Dignity. Existential Minimum.
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SUMRIO
INTRODUO ........................................................................................................................ 9
1 OS ASPECTOS MDICO-CIENTFICOS DA OBESIDADE ....................................... 12
1.1 CONCEITO DE OBESIDADE .......................................................................................... 12
1.2 CLASSIFICAO: SOBREPESO E OBESIDADE - DIAGNSTICO .......................... 15
1.3 OS NMEROS DA OBESIDADE NO BRASIL E NO RIO GRANDE DO SUL ........... 17
1.4 DIRETRIZES PARA A ORGANIZAO DA PREVENO E DO TRATAMENTO
DO SOBREPESO E OBESIDADE COMO LINHA DE CUIDADO PRIORITRIA DA
REDE DE ATENO SADE DAS PESSOAS COM DOENAS CRNICAS ............. 19
1.5 A ESTIGMATIZAO SOCIAL DO INDVIDO OBESO VISO DA SOCIEDADE
INABILITAO DO SER HUMANO ................................................................................ 21
1.6 ASPECTOS (ESTRAGOS) PSICOSSOCIAIS E PSIQUITRICOS DA OBESIDADE
.................................................................................................................................................. 26
2 O TRATAMENTO JURDICO DISPENSADO AO CIDADO OBESO .................... 29
2.1 AS POLTICAS PBLICAS E O TRATAMENTO DA OBESIDADE ........................... 29
2.2 ANLISE INFRACONSTITUCIONAL: A PROTEO LEGAL AOS OBESOS, COM
NFASE NO DIREITO AO TRATAMENTO DA OBESIDADE MRBIDA ...................... 36
2.3 O DIREITO AO TRATAMENTO DA OBESIDADE MRBIDA NA
JURISPRUDNCIA ................................................................................................................. 39
2.4 A CONSTITUIO DE 1988 E A PROTEO AOS DIREITOS DO OBESO ............. 44
CONCLUSO ......................................................................................................................... 54
REFERNCIA ........................................................................................................................ 58
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9
INTRODUO
A obesidade no somente uma doena inabilitante, uma desgraa capaz de tirar a
condio social do indivduo.
Quantos de ns gordos j fomos fisgados pela indstria da obesidade, pronta para
faturar com as dietas da moda, lipoaspirao, ginstica passiva, Gaste calorias sem fazer
fora, Dez minutos equivalem a mil abdominais, Emagrea comendo de tudo, Dieta da
Sopa e muito mais...
Graas ao uso indiscriminado de anfetaminas nos famosos coquetis para emagrecer
prescritos por diversos profissionais de sade o que transformou o Brasil no recordista
mundial do uso destas substncias -, a ANVISA proibiu a fabricao, importao,
exportao, distribuio, manipulao, prescrio, dispensao, aviamento, comrcio e uso
de qualquer remdio que contenha anfepramona, fenproporex e mazindol. O nico destes
medicamentos que escapou da proibio total foi sibutramina (sendo que o remdio no
pode ser prescrito por um perodo superior a 60 dias). Sobraram poucas alternativas para tratar
o gordo.
Em contrapartida destas proibies, no h aes afirmativas criadas pelo Poder
Pblico em favor dos obesos. Uma em cada trs crianas brasileiras com idade entre 5 e 9
anos esto com peso acima do recomendado pela Organizao Mundial da Sade (OMS) e
pelo Ministrio da Sade. Entre os jovens de 10 a 19 anos, 1 em cada 5 apresentam excesso
de peso, 49 % da populao brasileira est acima do peso (95 milhes de brasileiros esto
acima do peso). Porto Alegre a capital com mais pessoas acima do peso: 55% da populao.
preciso agir a partir da raiz do problema para erradicar a situao de excluso
social. Cada tentativa frustrada equivale a um perodo psquico muito ruim, acompanhado de
uma fuga na comida e, por consequncia, quilos a mais.
A vergonha, a culpa, a discriminao que os gordos sofrem uma dor enorme, dor na
alma que dilacera, puni e maltrata. Trata-se de cncer sem tumor. A obesidade e o tratamento
dispensado pela sociedade a ela comparvel ao racismo e homofobia. O gordo raramente
poupado de comentrios sarcsticos ou olhares maldosos. Se o gordo vai para a academia,
piscina ou praia o centro das atenes, se vai ao teatro, cinema, ou andar de avio ou nibus,
no cabe direito nas poltronas feitas para magros. Ouvir a mxima: Voc tem um rosto
bonito, chega ser hilrio!
A discriminao comea no ensino fundamental, onde ridicularizar o gordinho da
turma o maior barato, arrasando sua autoestima e confiana. O termo gordo utilizado
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como ofensa. Ningum fala que no gosta de gordos, mas grande maioria os trata com
repugnncia, nojo e desdm.
Ningum gordo porque quer, gordo por disfunes fsicas ou de ordem psquica.
O sonho de todo o gordo ser magro. Magro saudvel, magro comendo.
Assim, a presente pesquisa tem por objetivo a anlise da obesidade, enquanto doena
grave, e suas implicaes jurdico-constitucionais. Para alm da patologia, como visto, a
obesidade representa problema social, na medida em que os obesos so tratados com
preconceito e desdm.
Nessa esteira, o trabalho trar baila a questo da proteo constitucional das
pessoas portadoras de obesidade e as dificuldades enfrentadas para efetivao de seus direitos
previstos constitucionalmente, atravs do direito sade e do princpio da proteo
dignidade humana. Importar, ainda, relacionar a temtica com o mnimo existencial, o qual
no significa apenas a garantia de sobrevivncia do indivduo, mas contm tambm os direitos
socioculturais, notadamente direito a vida social.
H uma srie de direitos que devem ser garantidos s pessoas obesas, sem nenhuma
exceo, distino ou discriminao, destacando-se: o direito ao respeito sua dignidade
como pessoa humana; adoo de medidas prprias a capacit-las a tornarem-se, quanto
possvel, autoconfiantes; o direito a tratamento mdico, psicolgico e funcional para
desenvolvimento de capacidades e habilidades; e segurana material em nvel de vida.
Para tanto, a pesquisa se desenvolver em dois captulos.
No primeiro captulo sero abordados os conceitos mdicos da doena obesidade,
classificao e diagnstico de sobrepeso e obesidade, os nmeros da obesidade no Brasil e no
Estado do Rio Grande do Sul, as diretrizes para a organizao da preveno e do tratamento
do sobrepeso e obesidade como linha de cuidado prioritria da Rede de Ateno Sade das
Pessoas com Doenas Crnicas, diretrizes estas redefinidas recentemente pelo Ministrio da
Sade (MS), atravs da publicao da Portaria n 424 de 19 de maro de 2013, e, for fim, a
viso (exclusiva) da sociedade como determinante da inabilitao do SER humano do
indivduo obeso.
O segundo captulo trar o tratamento jurdico dispensado ao cidado obeso, as
polticas pblicas e o tratamento da obesidade, a anlise infraconstitucional: proteo legal
aos obesos, com nfase no direito ao tratamento da obesidade mrbida, o direito ao tratamento
da obesidade mrbida na jurisprudncia, e, a abordagem da proteo aos direitos do obeso e a
Constituio de 1988 que, propositadamente, foi tratada ao final do estudo, na tentativa de
mostrar que a proteo jurdica ao obeso abrange bem mais do que princpios constitucionais,
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mas j matria de polticas pblicas e regrada pela legislao infraconstitucional ou seja, j
h regulamentao dos preceitos constitucionais que garantem proteo do Estado doena
obesidade.
O tipo de pesquisa utilizado ser documental com reviso bibliogrfica, utilizando o
resumo de ideias de diversos autores, sendo a coleta de dados feita atravs de acervos
bibliogrficos, publicaes, livros cientficos, didticos e literrios, peridicos e artigos
cientficos publicados em meios de comunicao eletrnico. O mtodo de procedimento o
tipolgico, com base em conceitos da rea mdica e rea jurdica, a abordagem ser dialtica,
com contrapontos dos conceitos utilizados, e o mtodo de interpretao sistmico em razo
da abordagem interdisciplinar do assunto.
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1 OS ASPECTOS MDICO-CIENTFICOS DA OBESIDADE
A obesidade o resultado de diversas interaes, das quais chamam a ateno os
aspectos genticos, ambientais, comportamentais e psicossociais. O obeso sofre de doena
crnica decorrente do excesso de gordura no corpo, acelerando, assim, o desenvolvimento de
inmeras doenas, podendo ocasionar a morte precoce de seu portador.
1.1 CONCEITO DE OBESIDADE
A obesidade uma doena complexa e de muito difcil tratamento, epidmica,
crnica, multifatorial, dispendiosa, de alto risco, caracterizada pelo excesso de peso e
ocasionada por um grande acmulo de gordura corporal. Atinge milhes de pessoas, tanto em
pases desenvolvidos, como em pases em desenvolvimento, sendo um dos fatores de maior
risco para o adoecimento na espcie de doenas no transmissveis. Atualmente uma das
doenas de maior mortalidade no mundo. Neste primeiro momento, a ideia trazer conceitos
mdicos de obesidade, afim de demonstrar a sua caracterizao como uma doena.
Conceitua Silva (2013)1,
A obesidade conceitua-se como o excesso de tecido adiposo que implica prejuzos sade das pessoas. A obesidade mrbida a patologia caracterizada pelo excesso de gordura, que traz consigo as doenas ou o risco de adquiri-las, associadas ao excesso de peso. No um problema moral, mas sim mdico, que envolve causas metablicas, hormonais, comportamentais, culturais, psicolgicas, sociais e, s vezes, genticas.
J para Jnior (2004)2,
Obesidade uma doena universal de prevalncia crescente e que vem adquirindo propores alarmantemente epidmicas, sendo um dos principais problemas de sade pblica da sociedade moderna. A obesidade acarreta um risco aumentado de inmeras doenas crnicas, como diabete melito, dislipidemia, doenas cardio e cerebrovascular, alterao da coagulao, doenas articulares degenerativas, neoplasia de vescula biliar, esteatose heptica com ou sem cirrose, apneia do sono, etc.
1 SILVA, Souza, Renato, da. Cuidados Pr e Ps-Operatrios na Cirurgia da Obesidade.[Editor]; [Co-Editor] Nilton TokioKawahara. Porto Alegre: AGE, 2005, p. 25. 2 JUNIOR, Garrido. Cirurgia da Obesidade. Editor Arthur B. So Paulo: Editora Atheneu, 2004. p. 1.
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13
E o Manual de Bases Patolgicas das Doenas (2005)3traz que a obesidade uma
doena epidmica global, resultante dos estilos de vida sedentrios, da melhoria das condies
socioeconmicas e da disponibilidade de alimentos processados de alto valor calrico e
refrigerantes, nas sociedades industrializadas.
A obesidade definida em termos de excesso de peso. Os fatores que levam a
obesidade podem ter origem gentica, ambiental, individual ou circunstancial.
Neste sentido define Angelis (2003)4,
A obesidade poderia ser definida como uma sndrome multifatorial que consiste em alterao fisiolgicas (de funcionamento), bioqumicas (da composio), metablicas (modificaes qumicas que ocorrem nos seres vivos), anatmicas (estrutura corporal, aparncia), alm de alteraes psicolgicas e sociais, sendo caracterizada pelo aumento de adiposidade (acmulo de gordura no tecido subcutneo) e de peso corporal. Deve-se distinguir o que um estado de sobrepeso e o que consiste propriamente em obesidade. Sobrepeso indica um aumento do que normalmente deveria ser o peso de um indivduo com relao sua altura, sendo uma classificao praticamente arbitrria. Obesidade refere-se a uma desproporo de excesso de gordura corporal.
A obesidade pode ocasionar diversas alteraes no organismo humano, confirmando-
se assim, a complexidade da doena, sugerindo que os tratamentos devem considerar, tanto as
motivaes psicolgicas do indivduo para o ato de se alimentar compulsivamente, como as
implicaes fisiolgicas, bioqumicas, metablicas, anatmicas e psicossociais decorrentes
desta sndrome multifatorial.
A Sociedade Brasileira de Cirurgia Baritrica e Metablica5explica que,
A obesidade uma doena caracterizada pelo excesso de gordura no corpo. Esse acmulo ocorre quando a oferta de calorias constantemente maior que o gasto de energia corporal e resulta frequentemente em srios prejuzos sade. Atualmente, atinge 600 milhes de pessoas no mundo, 30 milhes somente no Brasil. Se for includa a populao com sobrepeso, esse nmero aumenta para 1,9 bilho de pessoas no mundo e 95 milhes de brasileiros. Estudos da Organizao Mundial da Sade (OMS) projetam um cenrio ainda pior para os prximos anos. Estima-se que, em 2015, existiro 2,3 bilhes de pessoas com excesso de peso e 700 milhes de obesos no mundo inteiro.
Os hbitos da vida contempornea, o que poderia ser chamado de estilo de vida
ocidental contemporneo, favorecem o consumo exagerado de alimentos de alto valor
calrico, mas com pobre qualidade nutricional, colaborando assim, com a ingesto incorreta 3 KUMAR, Abbas, Fausto Patologia: Bases Patolgicas das Doenas. Editores; [traduo Maria Conceio Zacharias... et al.] Rio de Janeiro: Elsevier, 2005 il. p.56 4ANGELIS, Rebeca, C., de. Riscos e Preveno da Obesidade: Fundamentos Fisiolgicos e Nutricionais para Tratamento. So Paulo: Editora Atheneu, 2006. 5 SBCB. Disponvel em: Acesso em: 12 de abr. 2013.
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http://www.sbcb.org.br/obesidade.asp?menu=0
14
de alimentos. Somando-se aos hbitos alimentares inadequados, temos as facilidades de
transportes, o trabalho mecanizado e sedentrio, fazendo com que os organismos gastem cada
vez menos energia.
Para a Organizao Mundial da Sade (OMS, 1998), a obesidade conceituada
como o acmulo anormal ou excessivo de gordura corporal que pode atingir graus capazes de
afetar a sade, considerada como uma doena, estando catalogada como tal no CID (cdigo
internacional de doenas)10 E66 Obesidade.
A Lei n 11.721, de 23 de junho de 2008, instituiu o Dia Nacional de Preveno da
Obesidade, celebrado anualmente no dia 11 de outubro, com o objetivo de conscientizar a
populao sobre a importncia da preveno da obesidade.
O Plano de Assistncia Sade e Benefcios Sociais do Supremo Tribunal Federal se
utiliza da designao Doena crnica6.
Segundo o Dicionrio Aurlio7, a obesidade representa deposio excessiva de
gordura no organismo.
Anjos (2006)8 define que a obesidade causada por um quadro prolongado de
ingesto energtica maior do que o gasto energtico, ou seja, balano energtico positivo.
Para Braga9 (2009), a obesidade uma doena inflamatria que surge quando existe
alto consumo de carboidratos refinados e est associada ao sedentarismo e ao estresse crnico.
o mal da sociedade moderna.
A obesidade, sem sombra de dvida, uma doena inabilitante, crnica e mortal.
Gerada pelo excesso de gordura, principalmente na regio abdominal, uma doena cada vez
mais comum, que atinge nmeros estratosfricos da populao mundial e brasileira, com
propores epidmicas. Junto com ela, associam-se doenas como diabete melito, doenas
cardiovasculares, doenas respiratrias, doenas do trato digestrio, doena heptica
gordurosa no alcolica, doenas psiquitricas, apneia do sono, hipertenso arterial, cncer,
distrbios psicossociais, neoplasias, osteoartrose, infertilidade masculina e feminina,
disfuno ertil, sndrome de ovrios policsticos, veias varicosas, doena hemorroidria,
hipertenso intracraniana idioptica, disfuno cognitiva, demncia, entre outras. Provoca
sofrimento e srias dificuldades no mbito social e ocupacional, incapacitao fsica,
6 BRASIL, STF MED. Obesidade. Disponvel em: Acesso em: 18 de mar. 2013. 7 AURLIO, Mni. O dicionrio da lngua portuguesa. Aurlio Buarque de Holanda Ferreira; coordenao de edio Marina Baird Ferreira. 8 Ed. Curitiba: Positivo, 2010. 8 ANJOS, Luiz, Antonio, dos. Obesidade e Sade Pblica. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2006. 9 BRAGA, Sylvana. Dieta Ortomolecular. Osasco, SP: Novo Sculo Editora, 2009, p.8.
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
http://www2.stj.jus.br/stfmed/cms/verNOTICIA.php?id=180033
15
absentesmo, aumento de licenas mdicas, perda e/ou recusa de emprego, queda de renda,
depresso, ansiedade, baixa autoestima e isolamento social.
As vises de mundo, crenas, comportamentos, percepes e atitudes diante da
doena, do mal estar, da dor e de outras formas de sofrimento, transforma a obesidade numa
doena inabilitante, capaz de tolher do indivduo, sua dignidade. Representa deixar de ter um
corpo socialmente aceitvel e passa a ter sofrimento psicossocial. O corpo, com o passar dos
sculos, adquiriu conotaes, significados, importncia e tratamentos diferentes. A
corpulncia vira motivo de chacotas. Geram-se os comentrios com conotaes negativas
em relao pessoa obesa. A valorizao esttica do corpo perfeito endossada na
sociedade de consumo, onde milhes de cirurgias plsticas e corretivas acontecem por ano,
numa sociedade onde para vender e ampliar as vendas, os comerciantes/indstrias e
profissionais dos cuidados com o corpo, vem contribuindo massivamente para difundir o culto
narcisista, diettico cultura do corpo socialmente perfeito.
1.2 CLASSIFICAO: SOBREPESO E OBESIDADE - DIAGNSTICO
A classificao adotada pela Organizao Mundial da Sade (OMS, 1998),
apresentada na tabela 1, baseia-se em padres internacionais desenvolvidos para pessoas
adultas descendentes de europeus. A OMS, em 2000, estandardizou a classificao do excesso
de peso e da Obesidade baseada no IMC (ndice de Massa Corporal), para adultos de ambos
os sexos, no qual o peso em kg dividido pelo quadrado da altura. O IMC o ndice
recomendado para medida da obesidade em nvel populacional e na prtica clnica10.
Para o diagnstico nutricional da obesidade, deve-se calcular o IMC = peso / (altura
* altura). A partir do valor obtido, deve-se compar-lo com a referncia atravs da tabela
abaixo: Tabela 1 Classificao de peso pelo IMC11
Fonte: www.reducaoestomago.com.br
10 Para crianas menores de 7 anos deve-se utilizar o ndice peso/idade. 11 ndice de Massa Corporal (IMC) = peso / (altura * altura) ou IMC = peso / altura.
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http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=images&cd=&cad=rja&docid=cRsRc7F4wHwQbM&tbnid=mKBffYnWxKmLoM:&ved=0CAQQjB0&url=http%3A%2F%2Fwww.reducaoestomago.com.br%2Findicacoes-para-a-cirurgia-de-reducao-de-estomago%2F&ei=KGCeUYOaJJDo9gTs04CoDw&bvm=bv.46865395,d.dmg&psig=AFQjCNEYwLseff6R09eH_9VTpBYN0qvihA&ust=1369420123684617
16
O manual de orientaes do SISVAN (Sistema Nacional de Vigilncia Alimentar e
Nutricional) adota como ponto de corte para o sobrepeso o IMC >25 e 30, com base na recomendao da OMS.
A obesidade definida como o IMC igual ou superior a 30 kg/m, mas pode tambm
ser subdividida em termos de severidade da obesidade, segundo o risco de outras morbidades
associadas: assim IMC entre 30-34,9, denomina-se obesidade I, IMC entre 35-39,9 denomina-
se obesidade II e IMC entre 44-44,9 denomina-se obesidade III (OMS, 1998).
Existem alguns mtodos utilizados para avaliao da gordura abdominal (localizao
central), como a relao cintura/quadril-RCQ, que consiste num indicador complementar para
o diagnstico nutricional, uma vez que tem boa correlao com a gordura abdominal e
associao com o risco de morbimortalidade (Brasil, Ministrio da Sade, Secretaria de
Ateno Sade, 2004).
Outras medidas como as dobras cutneas tricipital e subescapular podem ser teis
para a melhor avaliao da composio corporal e do diagnstico da obesidade. No entanto,
estas medidas so menos factveis para uso nos servios de sade e exigem treinamento
adicional para sua aferio (OMS, 1998).
Alm do grau do excesso de gordura, a sua distribuio regional no corpo interfere
nos riscos associados ao excesso de peso. O excesso de gordura abdominal representa maior
risco do que o excesso de gordura corporal por si s. Esta situao definida como obesidade
andride, ao passo que a distribuio mais igual e perifrica definida como distribuio
ginecide, com menores implicaes sade do indivduo (OMS, 1998).
A obesidade um dos fatores de risco mais importantes para outras doenas no
transmissveis, com destaque especial para as cardiovasculares e a diabete. O excesso de peso
est claramente associado ao aumento da morbidade.
A obesidade se torna "mrbida" quando atinge o ponto de aumentar,
significativamente, o risco de uma ou mais condies ou doenas graves relacionadas
obesidade (tambm conhecidas como co-morbidades), que resultam em deficincia fsica
significativa ou at morte12.
De acordo com o Relatrio de Consenso dos Institutos Nacionais de Sade, a
Obesidade Mrbida uma doena grave e deve ser tratada como tal; uma doena crnica, o
12 OBESIDADE. Disponvel em: Acesso em 19 de mar. 2013.
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
http://www.obesidademorbida.med.br/obesidade_002.htm
17
que significa que seus sintomas desenvolvem-se lentamente durante um longo perodo de
tempo13.
A primeira opo para se livrar do excesso de peso o chamado tratamento clnico,
que inclui dieta, exerccios, medicao e acompanhamento de endocrinologista e nutricionista.
Tambm podem fazer parte da equipe um fisioterapeuta e um psiclogo. O objetivo
conscientizar o paciente da necessidade de trocar o sedentarismo e a m alimentao por
hbitos de vida mais saudveis que contemplem atividade fsica e dieta balanceada.
Nos casos em que a obesidade traz prejuzos sade e o tratamento clnico se mostra
ineficaz, o tratamento cirrgico deve ser considerado. O mtodo conhecido popularmente
como reduo de estmago, mas vai muito alm. Existem vrios tipos de cirurgias
disponveis e cabe ao mdico apresent-los ao paciente e recomendar o mais apropriado e
seguro para cada caso.
1.3 OS NMEROS DA OBESIDADE NO BRASIL E NO RIO GRANDE DO SUL
No Brasil, mais de 65 milhes de pessoas, 40% da populao, est com excesso de
peso, enquanto 10 milhes so considerados obesos. Os nmeros avanam rapidamente entre
todas as idades e classes sociais14.
O Brasil tem 193 milhes de habitantes, o projeto Fome Zero do governo pretendia
ajudar 44 milhes deles que no tinham o suficiente para comer. Ao mesmo tempo, segundo o
Ministrio da Sade, 83 milhes tm alm do suficiente15. Ou seja, 43% da populao
incluindo 15% de crianas, esto acima do peso, e 25 milhes (13%) esto classificados como
obesos.
A alimentao na sociedade ocidental, o estilo sedentrio de vida e os costumes
sociais e culturais em determinados grupos societrios, raciais e tnicos com certeza
promovem a obesidade.
O Ministrio da Sade divulgou uma pesquisa que revela que quase metade da
populao brasileira est acima do peso. Segundo o estudo, 42,7% da populao estavam
acima do peso no ano de 2006. Em 2011, esse nmero passou para 48,5%16.
13OBESIDADE. Disponvel em: Acesso em 11 de abr. 2013. 14 OBESIDADE. Disponvel em: http://obesidadenobrasil.com.br/> Acesso em: 15 de mar. 2013. 15 SMITH, Andrew, Martin. Soltando o Magro. So Paulo, Editora Atheneu, 2011, p. 1. 16 ENDOCRINO. Disponvel em: Acesso em: 15 de mar. 2013.
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR
http://www.obesidademorbida.med.br/obesidade_002.htmhttp://obesidadenobrasil.com.br/http://www.endocrino.org.br/numeros-da-obesidade-no-brasil/
18
Os ndices da obesidade no Brasil chegaram a patamares nunca vistos antes,
atingindo metade da populao, concentrando-se na zona urbana e nas regies com maior
poder de renda17.
De acordo com a pesquisa de Vigilncia de Fatores de Risco e Proteo para
Doenas Crnicas por Inqurito Telefnico (Vigitel)18, a proporo de pessoas acima do peso
no Brasil passou de 42,7% em 2006 para 48,5% em 2011, enquanto o percentual de obesos
subiu de 11,4% para 15,8% no mesmo perodo19
De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica), 63% da
populao gacha est acima do peso. A cultura e a gastronomia, predominantemente alem e
italiana, contribuem para isso, segundo a pesquisa. Alm da preferncia pelo gorduroso
churrasco20.
A Pesquisa de Oramentos Familiares (POF) de 2009 apontou que 21,7% dos
brasileiros que tm entre 10 e 19 anos apresentam excesso de peso; em 1970 esse ndice era
3,7%. Segundo os dados, 1,14% das mulheres e 0,44% dos homens apresentam obesidade
grave, o que representa 0,8% da populao.
O Rio Grande do Sul o estado com maior nmero de obesos.21
Uma em cada trs crianas brasileiras com idade entre 5 e 9 anos esto com peso
acima do recomendado pela Organizao Mundial da Sade (OMS) e pelo Ministrio da
Sade. Entre os jovens de 10 a 19 anos, 1 em cada 5 apresentam excesso de peso, 49 % da
populao brasileira est acima do peso (95 milhes de brasileiros esto acima do peso). Porto
Alegre a capital com mais pessoas acima do peso: 55% da populao22.
Em uma recente pesquisa, observou-se que quase a metade dos gachos tem excesso
de peso, sendo 14,3% considerados obesos. Os homens lideram as estatsticas de sobrepeso
(48,9%) quando comparado s mulheres (43,7%) no estado. No entanto, segundo as
estimativas de obesidade, as mulheres no Rio Grande do Sul esto mais obesas (16,9%),
17 BRASIL. Disponvel em: Acesso em: 15 de mar. 2013. 18 VIGITEL, Fatores de risco e proteo para doenas crnicas: vigilncia por meio de inqurito telefnico, , Brasil, 2007 Cad. Sade Pblica, 27 (3) (2011), p. 486496. 19 CORPORE. Disponvel em: acesso em 15 de mar. 2013. 20 SADE. Disponvel em: Acesso em: 15 de mar. 2013. 21 CASA, Santa. Disponvel em: Acesso em: 15 de mar. 2013. 22 BRASIL. Disponvel em: Acesso em: 11 de abr. 2013.
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http://www.brasilescola.com/saude-na-escola/conteudo/obesidade-no-brasil.htmhttp://www.corpore.org.br/cws_exibeconteudogeral_4203.asphttp://noticias.r7.com/saude/noticias/rio-grande-do-sul-e-o-estado-com-mais-obesos-no-pais-20110822.htmlhttp://noticias.r7.com/saude/noticias/rio-grande-do-sul-e-o-estado-com-mais-obesos-no-pais-20110822.htmlhttp://www.santacasa.org.br/servicos/detalhe/cto---centro-de-tratamento-da-obesidade/8http://www.santacasa.org.br/servicos/detalhe/cto---centro-de-tratamento-da-obesidade/8http://www.brasil.gov.br/noticias/arquivos/2012/03/05/mais-de-5-milhoes-de-estudantes-do-pais-serao-orientados-sobre-obesidade/printhttp://www.brasil.gov.br/noticias/arquivos/2012/03/05/mais-de-5-milhoes-de-estudantes-do-pais-serao-orientados-sobre-obesidade/print
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quando comparadas aos homens (11,4%) 23. Com estes dados alarmantes, a capital gacha
ficou em segundo lugar no ranking de obesidade feminina no Brasil, perdendo apenas para
Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Este mesmo levantamento trouxe outro dado curioso:
nas mulheres, quanto maior a escolaridade, menor a prevalncia de excesso de peso e
obesidade, achado que no se repete para os homens24.
Segundo o Ministrio da Sade, Porto Alegre a capital que possui a maior
quantidade de pessoas com excesso de peso (55,4%), seguida por Fortaleza (53,7) e Macei
(53,1)25.
H tantas pessoas obesas em nvel mundial que a Organizao Mundial de Sade
(OMS) considerou esta doena como a epidemia global do sculo XXI.
Um estudo comparativo do Setor de Epidemiologia da Faculdade de Sade Pblica
da USP mostrou que, em apenas duas dcadas (entre 1974 e 1997), o nmero de pessoas
obesas no Brasil quase triplicou. Outra pesquisa, feita pela Organizao Mundial de Sade
(OMS), indicou que o aumento da obesidade um problema que atinge dezenas de pases.26
1.4 DIRETRIZES PARA A ORGANIZAO DA PREVENO E DO TRATAMENTO
DO SOBREPESO E OBESIDADE COMO LINHA DE CUIDADO PRIORITRIA DA
REDE DE ATENO SADE DAS PESSOAS COM DOENAS CRNICAS
O Ministrio da Sade (MS) publicou, no dia 19 de maro de 2013, a portaria n 424
que redefine as diretrizes para a organizao da preveno e do tratamento do sobrepeso e da
obesidade como linha de cuidado prioritria da Rede de Ateno Sade das Pessoas com
Doenas Crnicas em seu art. 1: Art. 1 Esta Portaria redefine as diretrizes para organizao da preveno e do tratamento do sobrepeso e obesidade como linha de cuidado prioritria na Rede de Ateno Sade das Pessoas com Doenas Crnicas.
Embora o destaque principal esteja sendo dado ao tratamento cirrgico da obesidade,
necessrio examinar com cuidado a portaria. Suas determinaes englobam cuidados com a 23 SOCERGS. Disponvel em: Acesso em: 11 de abr. 2013. 24 SOCERGS. Disponvel em: Acesso em: 15 de mar. 2013 25 ENDOCRINO Disponvel em: http://www.endocrino.org.br/numeros-da-obesidade-no-brasil/ Acesso em: 15 de mar. 2013. 26 OBESIDADE. Disponvel em Acesso em: 19 de mar. 2013.
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http://www.socergs.org.br/publico/index.php?option=com_content&view=article&id=53:a-obesidade-nohttp://www.socergs.org.br/publico/index.php?option=com_content&view=article&id=53:a-obesidade-nohttp://www.endocrino.org.br/numeros-da-obesidade-no-brasil/http://www.obesidademorbida.med.br/obesidade_001.htm
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obesidade de forma completa, incluindo, desde a preveno, at o tratamento. A portaria vai
muito alm do tratamento cirrgico, de acordo com seu artigo 4. A preveno e o tratamento
da obesidade ficam includos na rede de ateno bsica sade.
Art. 4 Para a preveno e o tratamento do sobrepeso e da obesidade, os Componentes da Rede de Ateno Sade das Pessoas com Doenas Crnicas exercero especialmente as seguintes atribuies: I - Componente Ateno Bsica: a) realizar a vigilncia alimentar e nutricional da populao adstrita com vistas estratificao de risco para o cuidado do sobrepeso e da obesidade; b) realizar aes de promoo da sade e preveno do sobrepeso e da obesidade de forma inter setorial e com participao popular, respeitando hbitos e cultura locais, com nfase nas aes de promoo da alimentao adequada e saudvel e da atividade fsica; c) apoiar o autocuidado para manuteno e recuperao do peso saudvel; d) prestar assistncia teraputica multiprofissional aos indivduos adultos com sobrepeso e obesidade que apresentem IMC entre 25 e 40 kg/m, de acordo com as estratificaes de risco e as diretrizes clnicas estabelecidas; e) coordenar o cuidado dos indivduos adultos que, esgotadas as possibilidades teraputicas na Ateno Bsica, necessitarem de outros pontos de ateno, quando apresentarem IMC 30 kg/m com comorbidades ou IMC 40 kg/m; f) prestar assistncia teraputica multiprofissional aos usurios que realizaram procedimento cirrgico para tratamento da obesidade aps o perodo de acompanhamento ps-operatrio realizado na Ateno Especializada Ambulatorial e/ou Hospitalar; e g) garantir o acolhimento adequado das pessoas com sobrepeso e obesidade em todos os equipamentos da ateno bsica, incluindo os Polos de Academia da Sade;
Com relao s medidas relacionadas preveno, elas so bem completas.
Destacando-se a preocupao com o diagnstico da doena, que por vezes passa despercebida
pela populao em geral e, at mesmo pela classe mdica. Outra determinao importante o
acolhimento adequado dos pacientes nos servios de atendimento, conforme pargrafo g deste
mesmo artigo. O obeso tem o direito de ser recebido como paciente que precisa de assistncia.
A capacitao adequada de profissionais de sade para o atendimento a esses pacientes
fundamental para banir o preconceito com a obesidade em todos os nveis de atendimento.
O tratamento do paciente obeso em unidade bsica de sade, segundo este ato
normativo, deve seguir as diretrizes clnicas vigentes.
A portaria tambm amplia os limites de idade para realizao de cirurgia baritrica,
reduzindo a idade mnima para 16 anos, ficando a idade mxima para passar pela cirurgia, que
at ento era 65 anos, tambm alterada. Com o normativo, o fator determinante no ser mais
a idade e, sim, a avaliao clnica (risco-benefcio).
II. Respeitar os limites clnicos de acordo a idade. Nos jovens entre 16 e 18 anos, poder ser indicado o tratamento cirrgico naqueles que apresentarem o escore-z maior que +4 na anlise do IMC por idade, porm o tratamento cirrgico no deve
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21
ser realizado antes da consolidao das epfises de crescimento. Portanto, a avaliao clnica do jovem necessita constar em pronturio e deve incluir: a anlise da idade ssea e avaliao criteriosa do risco-benefcio, realizada por equipe multiprofissional com participao de dois profissionais mdicos especialistas na rea. Nos adultos com idade acima de 65 anos, deve ser realizada avaliao individual por equipe multiprofissional, considerando a avaliao criteriosa do risco benefcio, risco cirrgico, presena de comorbidades, expectativa de vida e benefcios do emagrecimento;
Segundo o Ministrio da Sade, a pessoa com sobrepeso ou com ndice de massa
corporal (IMC) igual ou superior a 25 poder, por exemplo, ser encaminhada a um polo da
academia da sade para a realizao de atividades fsicas e a um Ncleo de Apoio Sade da
Famlia (Nasf) para receber orientaes sobre alimentao saudvel e balanceada.
1.5 A ESTIGMATIZAO SOCIAL DO INDVIDO OBESO VISO DA SOCIEDADE
INABILITAO DO SER HUMANO
A obesidade no somente uma doena inabilitante, mas algo capaz de tirar a
condio social do indivduo.
O que desde muito cedo se verifica ocorrer face aos indivduos obesos so atitudes
negativas, a formao de esteretipos negativos e consequente discriminao educativa,
laboral e social. Outro fato que atribudo s pessoas obesas que elas so responsveis pela
sua condio por possurem falhas no seu carter, tal como preguia, gula, falta de
autocontrole e de autodisciplina.
As consequncias da obesidade comeam pela eminente perda da qualidade de vida,
h uma diminuio parcial ou at mesmo total das capacidades funcionais, tais como:
percorrer meia dzia de metros, recolher objetos do cho, calar ou amarrar os sapatos, subir
escadas, sair da cama, tomar banho, levantar uma cadeira ou demais objetos. Afeta a imagem
do prprio corpo, desvalorizando a autoestima e aumentando o sentimento de inadequao
social, provocando, assim, um afastamento social, levando ao isolamento da convivncia,
gerando dificuldade de relacionamentos sociais, familiares e profissionais.
O obeso passa por um processo de estigmatizaco pela sociedade, pois sofre
discriminao, rotulagem, preconceito e excluso social, tendo consequncias prejudiciais
para suas oportunidades na vida, incluindo o bem - estar fsico, psicolgico e econmico
social. As atitudes negativas com o obeso acarretam um processo discriminatrio, criam uma
categoria social depreciada.
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22
De acordo com um recente estudo, o estigma em relao obesidade cresceu
aproximadamente 66% nos ltimos 10 anos!27
O ministro da Sade, Alexandre Padilha (19/03/2013), assinou portaria que cria a
Linha de Cuidados Prioritrios do Sobrepeso e da Obesidade no Sistema nico de Sade
(SUS). Dados do Ministrio da Sade revelam que o SUS gasta, anualmente, R$ 488 milhes
com o tratamento de doenas associadas obesidade.28
O estigma da gordura uma construo social que desqualifica os sujeitos, na
medida em que as pessoas atribuem juzos de valores pejorativos ao excesso de peso,
identificando o gordo como preguioso e descontrolado. H, nesse sentido, uma gesto da
aparncia nos processos de individualizao do sujeito, na medida em que ele elege seu corpo,
isto , sua aparncia, como um valor moral. As construes pessoais e coletivas inserem-se,
portanto, nas representaes contemporneas das normas de beleza que excluem o gordo,
tornando-o marginalizado e estigmatizado 29.
Entretanto, esses modelos rgidos de beleza (pureza) que so difundidos e
estimulados em nosso cotidiano, conduzem a uma contradio: a gordura ao mesmo tempo
em que deve ser eliminada, j que emagrecer sinnimo de pureza, considerado um macro
nutriente essencial ao bom funcionamento do corpo. O corpo gordo, "sujo", adquire a cada dia
novas apreciaes negativas (trapaceiro, preguioso, sujo, mau, feio, besta, etc.). Todos
passam a viver cercados por espelhos e balanas, e neles procuram a aparncia de um EU que
seja socialmente valorizado. O planejamento da vida passa a se centrar na aparncia e forma
corporais30.
O significado do corpo na cultura atual, bem como maneira que o corpo est
condicionado a padres estticos, relacionando-se, assim, com a dimenso da ditadura da
beleza31, atribuem que o corpo a fala da identidade, no contexto social atual, competitivo e
consumista, uma imagem bem-sucedida delineada a partir de um corpo bem-sucedido.
27 ABESO. Associao Brasileira Para o Estudo da Obesidade e da Sndrome Metablica. Documento do Consenso Latino Americano sobre Obesidade. 10 de outubro de 1998. Disponvel em: Acesso em: 18 de mar. 2013. 28 SAUDE, Portal. Disponvel em: Acesso em: 20 de mar. 2013 29 DURET, P.; Roussel, P. Le corps etses sociologies.Paris: Nathan, 2003. Disponvel em Acesso em: 18 de mar. 2013. 30 Sobrevivendo ao estigma da gordura: um estudo socioantropolgico sobre obesidade. Disponvel em: Acesso em 18 de mar. 2013. 31 MARLE, Alvarenga; BAEZA, Scagliusi, Fernanda, PHILIPPI, Sonia, Tucunduva. Nutrio e Transtornos alimentares, organizadoras. Barueri, SP: Manole, 2011 .
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http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20075322http://www.abeso.org.br/doc/consenso.dochttp://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/noticia/9905/162/doencas-associadas-a-obesidade-custam-meio-bilhao-de-reais.htmlhttp://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/noticia/9905/162/doencas-associadas-a-obesidade-custam-meio-bilhao-de-reais.htmlhttp://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-73312009000200014&script=sci_arttexthttp://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-73312009000200014&script=sci_arttext
23
Os obesos severos ou super obesos (IMC > 35) tm mais tendncia para referirem
discriminao envolvendo o trabalho ex: no ser promovido, ser despedido e a
discriminao relacionada com os cuidados de sade (receber piores cuidados mdicos) e
discriminao interpessoal diria (experincias interpessoais recentes envolvendo tratamento
desagradvel e agresso ao carter) relativamente a pessoas com peso normal32.
De acordo com Martins33,
A excluso apenas um momento da percepo que cada um e todos podem ter daquilo que corretamente se traduz em privao. Diante disso, ressaltamos as privaes vivenciadas cotidianamente pelos portadores de obesidade, seja no mercado de trabalho onde os portadores de obesidade tm dificuldades de insero devido aos padres estticos, seja na participao no mercado de consumo, que prope majoritariamente roupas e objetos fabricados de acordo com os padres vigentes, que priorizam a esttica do magro, esbelto, oferecendo tamanhos pequenos e/ou inadequados a pessoas que no correspondam a este padro.
Ressalta-se as privaes no mercado de trabalho, dificuldade de insero em vagas
oferecidas pelos concursos pblicos com realizao de teste de aptides fsicas, participao
no mercado de consumo que em sua grande maioria fabrica e prope roupas e objetos de
acordo com padres estticos baseados em pessoas magras e esbeltas.
A obesidade altamente estigmatizada na medida em que surge frequentemente
associada a conceitos negativos. Os indivduos obesos, na sua grande maioria, so objeto de
discriminao social.
Segundo Faleiros34,
As discriminaes so formas de exerccio de poderes para excluir pessoas do acesso a certos benefcios ou vantagens ou do prprio convvio social da maioria atravs da rotulao dos ou etiquetagem de esteretipos socialmente fabricados. Esses rtulos perpassam as relaes cotidianas de dominao produzindo a identificao social das pessoas.
um julgamento positivo ou negativo, formulado sem exame prvio a propsito de
uma pessoa. De fato, as atitudes negativas face os obesos, existem em todos os nveis sociais,
a boa aparncia relacionada ao corpo magro e esbelto, cria o mecanismo de excluso social e
submisso das pessoas obesas em relao ao grande grupo social. A estigmatizao torna-se
um verdadeiro crculo vicioso, quando o obeso aceita e considera como normais os
32 Disponvel em: Acesso em: 18 de mar. 2013. 33 MARTINS, J., Souza, de. Excluso e a Nova Desigualdade Social. So Paulo. Paulus, 1997, p. 18. 34 FALEIROS, Vicente de Paula. A questo da metodologia em servio social: reproduzir-se e representear-se. Caderno ABESS. So Paulo: Cortez, 1995, p. 124.
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http://obesidadesaude.blogspot.com.br/2007/12/implicaes-sociais.html
24
tratamentos discriminatrios que ele sofre e os preconceitos dos quais vtima35. Comea
ento uma depreciao pessoal que termina numa alterao da imagem de si como ser
humano.
A pessoa obesa sofre cotidianamente com a discriminao social, submetida a
constrangimentos e humilhaes, motivo de piadas ao tentar passar por uma catraca ou uma
porta giratria, ou mesmo vtima de hostilidade ao ser obrigado a se esgueirar no meio da
multido, em estabelecimentos e transportes pblicos lotados, A moda, a mdia e tudo o mais
, na atualidade, voltada ao corpo escultural. Como isso, o gordo acaba sendo visto como uma
pessoa preguiosa, que no gosta de fazer exerccio e est acima do peso porque quer,
gerando certo preconceito.
Pode-se afirmar que a rejeio social agrava ainda mais o problema que por si s j
preocupante. A percepo negativa dos obesos acaba se tornando norma cultural em muitos
grupos sociais. Piadas e apelidos para gordos sempre existiram, mas o que parece ter mudado
a posio da maioria das pessoas, que passou a culpar quem est acima do peso. Nossa
sociedade, cada vez mais, julga pelas aparncias e discrimina de acordo com ela.
A discriminao, Estigma e a Obesidade (24/03/2005) 36,
As atitudes negativas, contra as pessoas obesas, constitui a mais recente forma de discriminao aceita pela sociedade. Com o aumento da obesidade entre as crianas e adultos nas ltimas dcadas, um grande nmero de pessoas afetado por essas formas de discriminao. A discriminao no emprego. Os indivduos obesos j levam desvantagens nas entrevistas iniciais na obteno de um emprego. Isso ocorre principalmente nas formas de trabalho em que essa pessoa ficar em contato permanente com o pblico. Aps obter emprego, so julgados, como preguiosos, menos competentes, menos disciplinados do que os empregados magros. Isso leva aos obesos obter menos promoes nas suas carreiras do que os outros empregados. Uma mulher obesa receber na mesma funo um salrio menor do que outra de peso normal na mesma funo.
O obeso visto no mercado de trabalho como menos capaz, sem fora de vontade,
preguioso, com rendimento menor. A obesidade tida como causa de afastamento do
trabalho devido s inmeras doenas relacionadas a ela e maior ser o nmero de licenas e
atestados mdicos em virtude desta. O cargo que oferecido s pessoas obesas, geralmente
so os de menor expresso e remunerao.
35 POULAIN, J. P. Sociologias da alimentao: os comedores e o espao social alimentar. Florianpolis: Editora da UFSC, 2004, p. 123 36 OBESIDADE. A discriminao, Estigma e a Obesidade. Disponvel em: http://www.obesidadesevera.com.br/conteudo/noticias/noticias_full.asp?id=32> Acesso em: 18 de mar. 2013
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http://www.obesidadesevera.com.br/conteudo/noticias/noticias_full.asp?id=32
25
A discriminao nos Servios de Sade - e pelo Mdico Atitudes discriminatrias so verificadas contra os obesos, pelos mdicos, enfermeiros e estudantes de medicina. As afirmaes comuns por esses profissionais so de que os obesos so menos inteligentes, no tem sucesso, preguiosos e sem autoestima. Isso pode levar a cuidados mdicos insatisfatrios para esses pacientes. Um estudo entre enfermeiras mostrou que 12% delas no gostavam de falar sobre obesidade com as suas pacientes obesas, e 24% achavam que as pacientes obesas eram repulsivas. Isso faz com que muitas pacientes obesas nem procurem tratamento mdico, pela discriminao que sofrem, principalmente deixam de procurar os ginecologistas para os exames peridicos, da mama e rgos ginecolgicos. Muitas pacientes alegam que tiveram serias discusses na ltima consulta que fizeram. Os planos de seguro mdico por outro lado dificultam o atendimento mdico, para tratamento clinico ou cirrgico nesses pacientes.
Considera-se que o obeso est nesta condio porque quer. Ele no precisa de
cuidados pois ele deveria ter cuidado de si prprio.
Discriminao Educacional. H numerosos estudos mostrando que as estudantes obesas so estigmatizadas por diferentes formas de discriminao. A forma mais perigosa a rejeio pelos pares, so os prprios colegas os que mais frequentemente ridicularizam a colega obesa. Isso pode comear a ocorrer j na idade da pr-escola. As crianas obesas discriminadas relatam que so frequentemente excludas, das atividades sociais e das prticas de esporte. Estudos mostram que as meninas obesas so excludas dos grupos de colegas de peso normal, apesar de terem o mesmo ndice de aprovao nos estudos.
A maioria das discriminaes no mbito educacional pelo aspecto fsico, ser gordo
motivo de chacotas e faz parte da realidade do aluno obeso, o estigma do aspecto fsico, o
rechao ao corpo diferente, no o normal, desejvel, belo, muitos sofrem humilhaes
o que acaba por ocasionar a ameaa do convvio escolar do obeso, gerando um espao
reprodutor de desigualdades socais e excluso.
A sociedade humana um conjunto de pessoas ligadas pela necessidade de se
ajudarem umas s outras, a fim de que possam garantir a continuidade da vida e satisfazer
seus interesses e desejos. preciso que todos procurem conhecer seus direitos e exijam que
eles sejam respeitados, como tambm devem conhecer e cumprir seus deveres e suas
responsabilidades sociais. Todas as vezes que uma pessoa vtima de preconceitos, ocorre
negao do direito igualdade. Todas as pessoas nascem iguais em dignidade, e nada justifica
que no sejam dados os mesmos direitos a todos. Todos tm igual direito ao respeito das
outras pessoas, e nada justifica que no tenham, desde o comeo, as mesmas oportunidades.
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26
De acordo com Barcellos37,
Se a sociedade no for capaz de reconhecer a partir de que ponto as pessoas se encontram em uma situao indigna, isto , se no houver consenso a respeito do contedo mnimo da dignidade, estar-se- diante de uma crise tica e moral de tais propores que o princpio da dignidade da pessoa humana ter se transformado em uma frmula totalmente vazia, um signo sem significado correspondente.
O Professor Ricardo Lobo Torres denomina este mnimo de mnimo existencial
dizendo: "Sem o mnimo necessrio existncia cessa a possibilidade de sobrevivncia do
homem e desaparecem as condies iniciais da liberdade. A dignidade humana e as condies
materiais da existncia no podem retroceder aqum de um mnimo" 38
O obeso no pode ser transformado em objeto, o obeso um ser humano, com
direitos e deveres. A obesidade uma doena, e o seu reconhecimento pela sociedade como
tal, o caminho para que se crie condies de que o obeso possa viver em sociedade, ter uma
vida digna, como condio essencial para sua existncia.
1.6 ASPECTOS (ESTRAGOS) PSICOSSOCIAIS E PSIQUITRICOS DA OBESIDADE
Pessoas obesas so alvo de preconceito e discriminao importantes em pases
industrializados. Isto pode ser observado nas mais variadas e corriqueiras situaes, como
programas de televiso, revistas e piadas. Alm ou por causa disso, so pessoas que cursam
um menor nmero de anos na escola, que tm menor chance de serem aceitas em escolas e,
posteriormente, em empregos mais concorridos, que tm salrios mais baixos, que tm menor
chance de estarem envolvidas num relacionamento afetivo estvel.39
37 BARCELLOS, Ana Paula. A Eficcia dos Princpios Constitucionais: o princpio da dignidade da pessoa humana. 2 Ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2008, p. 22. 38 BARCELLOS. Normatividade dos princpios e o princpio dadignidade da pessoa humana na Constituio de 1988. Revista de Direito Administrativo. Rio de Janeiro: Renovar, n 221, 2000, p. 180. 39 SEGAL, Adriano; CARDEAL, Vincius, Marcus; CORDS, Athanssios, Tki. Aspectos Psicossociais e Psiquitricos da Obesidade. Disponvel em: Acesso em: 30 abr. 2013.
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http://www.hcnet.usp.br/ipq/revista/vol29/n2/81.html
27
Do ponto de vista da psicanalista e psicloga Denise Mairesse40, o problema
psicossocial da obesidade comea quando:
Uma pessoa ao ser diagnosticada como obesa, recebe esse diagnstico como um rtulo, muitas vezes recaindo sobre esta um estigma que gera a excluso social, seja na busca de um trabalho ou na escolha de um parceiro, seja uma excluso causada por ela mesma ou pela sociedade que compreende o sujeito com obesidade como aquele que no tem fora de vontade. Quando instalada a obesidade, claro que o excesso de gordura na maioria das pessoas causa sim, no mnimo, um desconforto. Podendo significar at a excluso total nas relaes sociais. Muitas vezes o sujeito evita expor seu corpo, colocar roupas que lhe marquem as formas, evita um traje de banho, evita o relacionamento sexual, em alguns casos tornando-se solitrio e triste, podendo chegar a casos de depresso e pnico. Outras vezes o sujeito se coloca como aquela pessoa sempre alegre e divertida, o amigo de todos, no se excluindo socialmente, porm excluindo-se de algumas experincias e realizaes que deseja.
J para o IGASTRO (Instituto do Aparelho Digestivo, Coloproctologia, e Cirurgia da
Obesidade41, o indivduo obeso apresenta sofrimento psicolgico decorrente tanto dos
problemas relacionados ao preconceito social e discriminao contra a obesidade, como das
caractersticas do seu comportamento alimentar. A depreciao da prpria imagem fsica leva
preocupao opressiva com a obesidade, tornando o obeso inseguro devido sua inabilidade
de manter a perda de peso. A falta de confiana, a sensao de isolamento, atribuda ao
fracasso da famlia e dos amigos em entender o problema, assim como a humilhao,
decorrente do intenso preconceito e discriminao aos quais os indivduos obesos esto
sujeitos, remetem enorme carga psicolgica aos obesos.
O mdico endocrinologista da Beneficncia Portuguesa de So Paulo, Fadlo Fraige42,
alerta para as consequncias negativas desencadeadas pelo excesso de peso, destacando o
fator psicolgico:
A criana acima do peso geralmente alvo de piadas e provocaes dos colegas. Pode, ainda, sofrer algum tipo de restrio a brinquedos e equipamentos que no suportem o seu peso. Esses fatores afetam profundamente a autoestima da criana e podem evoluir para distrbios mais graves no futuro, como ansiedade, depresso e isolamento social.
40ASPECTOS PSICOLGICOS DA OBESIDADE. Palestra realizada em 26/08/2009 Agncia Central do Banrisul. Disponvel em: Acesso em: 30 abr. 2013. 41 Obesidade. Disponvel em: Acesso em: 30 abr. 2013. 42 IMPACTO PSICOLGICO UMA DAS CONSEQUNCIAS MAIS GRAVES DA OBESIDADE INFANTIL. Publicado em 10/03/2012 s 9h. Disponvel em: Acesso em: 30 abr. 2013.
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http://dradenisemairesse.blogspot.com.br/2010/08/aspectos-psicologicos-da-obesidade.htmlhttp://dradenisemairesse.blogspot.com.br/2010/08/aspectos-psicologicos-da-obesidade.htmlhttp://www.igastro.com.br/node/61http://www.isaude.net/pt-BR/noticia/26031/saude-publica/impacto-psicologico-e-uma-das-consequencias-mais-graves-da-obesidade-infantilhttp://www.isaude.net/pt-BR/noticia/26031/saude-publica/impacto-psicologico-e-uma-das-consequencias-mais-graves-da-obesidade-infantilhttp://www.isaude.net/pt-BR/noticia/26031/saude-publica/impacto-psicologico-e-uma-das-consequencias-mais-graves-da-obesidade-infantil
28
Os pais devem estar atentos ao peso dos seus filhos. As crianas necessitam de
cuidados permanentes quanto a questo do peso. Ressalta Paulo Henkin43, Coordenador da
Poltica de Alimentao e Nutrio da Secretaria Estadual da Sade do Rio Grande do Sul,
que preciso que os pais ensinem as crianas a comer direito, apesar de dar mais trabalho.
Embora o sanduche com salada leve mais tempo de fazer do que comprar um pacote de
bolacha, deve ser considerado um investimento na sade do filho. Nas cantinas escolares,
oferecem uma srie de lanches mais densos em energia, menos saudveis. Se servissem caf
com leite, po com manteiga e uma fruta, no se teria tanto problema com a obesidade
infantil. Outra tendncia a de trocar refeies por lanches. Os pais j no preparam comida
em casa, compram coisas prontas. Tanto que vem caindo o consumo de arroz e feijo, dados
do IBGE so bastante preocupantes: 30% do populao infantil apresenta sobrepeso ou
obesidade.
A Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul44 lanou, em 2013, uma campanha
contra esta epidemia, com outdoors espalhados pela capital, aes em parques e mdia
eletrnica.
Figura 1 Campanha contra obesidade infantil
Fonte: www.sprs.com.br
A campanha elaborada traz uma gangorra na qual um dos lados est
permanentemente abaixado, fazendo uma referncia ao problema causado pela obesidade
infantil. A campanha dividida em duas fases: primeiro, ser feito um alerta e, aps, haver a
orientao de como combater o problema.
Neste captulo, portanto, a obesidade foi apresentada sob o aspecto medico, social e
psquico. Adiante, sero analisadas as repercusses jurdicas da obesidade.
43 PERIGO NA COMIDA: Luta contra a obesidade infantil, Paulo Henkin, entrevista para Zero Hora de 13/03/2013. Disponvel em: Acesso em: 09 mai. 2013. 44Obesidade Infantil tema de campanha que pretende conscientizar crianas e adultos. Disponvel em: Acesso em: 12 abr. 2013.
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http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=images&cd=&cad=rja&docid=QRxsDQF_7NXBuM&tbnid=uaOJidecOWnf3M:&ved=0CAQQjB0&url=http%3A%2F%2Fwww.sprs.com.br%2Fnovosite%2Fnoticias%2Findex.php%3Fpublico%3D1%26mainmenu%3D1%26id%3D222%26tipo%3D23&ei=Wl6eUcqHN5KO9ASMCw&bvm=bv.46865395,d.dmg&psig=AFQjCNH7U5S9lUdTKtiDaRGIn893bnH06w&ust=1369419734104952http://www.federacaors.net/news/detail/1029http://www.sprs.com.br/novosite/noticias/index.php?publico=2&mainmenu=1&id=226&tipo=23
29
2 O TRATAMENTO JURDICO DISPENSADO AO CIDADO OBESO
Neste captulo ser abordado o tratamento jurdico dispensado ao cidado obeso,
bem como as polticas pblicas e o tratamento da obesidade.
2.1 AS POLTICAS PBLICAS E O TRATAMENTO DA OBESIDADE
O termo poltica pblica se refere poltica de ao que visa, mediante esforo
organizado e pactuado, atender necessidades sociais cuja resoluo ultrapassa a iniciativa
privada, individual e espontnea, e requer deliberada deciso coletiva regida por princpios de
justia social, que por sua vez, devem ser amparados por leis impessoais e objetivas,
garantidoras de direitos45.
O tema de polticas pblicas na preveno da obesidade discutido mundialmente.
Suas diretrizes mais recentes indicam fortemente que essas polticas tenham carter
intersetorial, ou seja, essa no s uma questo de polticas no setor da sade, mas tambm
na educao, cultura, comrcio e mdia46. Mais do que isso, essas polticas precisam estar
conectadas.
Para conter a onda de obesidade que vem assolando os Estados Unidos, o governo
norte-americano tem orientado a populao de que o consumo de gorduras saturadas faz mal
sade.47
Segundo Pereira48, polticas pblicas so definidas como uma linha de ao coletiva
que concretiza direitos sociais declarados e garantidos em lei. mediante as polticas pblicas
que so distribudos ou redistribudos bens e servios sociais, em resposta s demandas da
sociedade. Por isso, o direito que as fundamenta um direito coletivo e no individual.
Embora as polticas pblicas sejam de competncia do Estado, no representam decises
45 PEREIRA, Potyara. A assistncia social na perspectiva dos direitos: crticas aos padres dominantes de proteo aos pobres no Brasil. Braslia: Thesaurus, 1996, p. 171. 46 Poltica para preveno da obesidade precisa ser ampla e integrada, afirmam especialistas. Instituto Alana . Grupo Especializado em Nutrio e Transtornos Alimentares. Disponvel em: Acesso em: 02 mai. 2013. 47 SELLA, Fernando, Luiz. Obesidade, sade e as polticas pblicas. Reforma de Sade / Publicado em: 15 nov. 2010 s 22h56. Disponvel em: Acesso em: 02 mai. 2013. 48 PEREIRA, Potyara. A assistncia social na perspectiva dos direitos: crticas aos padres dominantes de proteo aos pobres no Brasil. Braslia: Thesaurus, 1996, p. 130.
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http://www.alana.org.br/CriancaConsumo/NoticiaIntegra.aspx?id=8839&origem=23http://www.genta.com.br/http://www.ebc.com.br/infantil/para-pais/2012/07/politica-para-prevencao-da-obesidade-precisa-ser-ampla-e-integradahttp://www.ebc.com.br/infantil/para-pais/2012/07/politica-para-prevencao-da-obesidade-precisa-ser-ampla-e-integradahttp://www.outraleitura.com.br/web/artigo.php?artigo=428:Obesidade_saude_e_as_politicas_publicas
30
autoritrias do Governo para a sociedade, mas envolvem relaes de reciprocidade e
antagonismo entre estas duas esferas.
Gomes49, sob outro prisma, entende que existem polticas pblicas chamadas de
aes afirmativas voltadas concretizao do princpio constitucional da igualdade material e
neutralizao dos efeitos da discriminao racial, de gnero, de idade, de origem nacional e
de compleio fsica. Impostas ou sugeridas pelo Estado, por seus entes vinculados e at
mesmo por entidades puramente privadas, elas visam a combater no somente as
manifestaes flagrantes de discriminao, mas tambm a discriminao de fundo cultural,
estrutural, enraizada na sociedade.
Os Ministros da Sade de 31 pases do continente americano, reunidos no Mxico,
em 25 de fevereiro de 2011, assinaram em conjunto uma declarao em que propem a
criao de polticas pblicas com o fim de combater a obesidade nas respectivas naes50. Na
declarao, faz-se referncia a um trabalho multissetorial que deve ser executado em todos os
pases envolvidos reconhecendo, em particular, a liderana da rea de sade.
A Carta Europeia de luta contra a obesidade, assinada por Ministros e delegados
presentes na Conferncia Ministerial da Organizao Mundial de Sade Europeia sobre a Luta
contra a Obesidade (Istambul, Turquia, 15-17 Novembro de 2006), e na presena do
Comissrio Europeu para Sade e Proteo do Consumidor, declara como compromisso aes
dirigidas neutralizao da obesidade, colocando o problema em posio prioritria na
agenda dos governos, buscando a atuao europeia desempenhar e servir de modelo para
mobilizao de esforos globais.
Conforme a Carta51 ter de ser encontrado um equilbrio entre a responsabilidade do
indivduo e as do governo e da sociedade, pois, responsabilizar unicamente o indivduo pela
sua obesidade no deve ser aceitvel. Prev, ainda, parcerias de todos os nveis para que haja
o desenvolvimento da poltica econmica, bem como de projetos em reas comerciais, de
agricultura, transporte e planejamento urbano, dando ateno prioritria ao impacto sobre os
objetivos da sade pblica. Os governos nacionais devem garantir a coerncia e a sustentao
atravs de uma ao regulamentar, incluindo legislao. Tambm considerando mecanismos
importantes reformulao poltica, polticas fiscais de investimento pblico, avaliao do
49 GOMES, Joaquim B. Barbosa. Ao afirmativa e princpio constitucional da igualdade: o direito como instrumento de transformao social A experincia dos EUA. So Paulo: Renovar, 2001, p. 6. 50 CASTRO, Cintia. Associao Brasileira Para o Estudo da Obesidade e da Sindrome Metablica. Disponvel em http://www.abeso.org.br/lenoticia/675/reuniao-aconteceu-no-mexico-com-diretora-da-oms-e-31-ministros.shtml. Acesso em: 02 de mai. 2013. 51 Carta Europeia de luta contra a obesidade, disponvel em: Acesso em: 02 mai. 2013.
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http://www.abeso.org.br/lenoticia/675/reuniao-aconteceu-no-mexico-com-diretora-da-oms-e-31-ministros.shtmlhttp://www.abeso.org.br/lenoticia/675/reuniao-aconteceu-no-mexico-com-diretora-da-oms-e-31-ministros.shtmlhttp://www.fipa.pt/userfiles/file/Carta%20Europeia.pdf
31
impacto para a sade, campanhas de sensibilizao e informao para o consumidor, o reforo
das capacidade de parcerias, pesquisa, planejamento e controle. Parcerias pblicas e medidas
regulamentares especficas devem incluir: a adoo de regulamentos para reduzir,
substancialmente, a prevalncia e o impacto da promoo comercial de alimentos e bebidas
enrgico-saturadas, especialmente sobre as crianas, desenvolvendo abordagens
internacionais, nomeadamente um cdigo de marketing para crianas nesta situao, e a
adoo de regulamentos para caminhos mais seguros para andar de bicicleta e a p.
Em seu item 2.4.9, sustenta a criao de um pacote de aes vitais como medida
chave para o combate a obesidade:
Como medida-chave deve ser promovido um pacote de aes vitais de preveno: os estados podem querer priorizar certas intervenes deste pacote, em conformidade com quaisquer circunstncias nacionais relevantes e seu nvel de desenvolvimento poltico. Este pacote incluiria: a diminuio da presso do mercado, especialmente aquela dirigida a crianas; a promoo da amamentao; a garantia de acesso a - e disponibilidade de - alimentos mais saudveis, incluindo a fruta e os vegetais; medidas econmicas indutoras de opes de alimentao mais saudveis; oferta de equipamentos de lazer/exerccio acessveis, incluindo apoio para grupos socialmente desfavorecidos; reduo de gorduras, eliminao de acares (especialmente adicionados) e sal em produtos industrializados: rotulagem de nutrio adequada; promoo do ciclismo e de caminhadas a p atravs de projetos urbanos melhorados e polticas de transporte; criao de oportunidades no meio ambiente local que estimulem o envolvimento em atividades fsicas nos perodos de lazer; o fornecimento de alimentos mais saudveis, oportunidades para atividades fsicas dirias, e a nutrio e educao fsica nas escolas; facilitar e incentivar a escolha de regimes alimentares melhores e atividade fsica nos postos de trabalho; o desenvolvimento/melhoramento de linhas de orientao nacionais de regimes alimentares e orientaes em relao atividade fsica; e mudana de comportamento relacionado sade adequado ao individual.
A implantao de aes pblicas voltadas para a reduo de peso, combate a
obesidade infantil e adulta e ao sobrepeso podem passar a ser poltica estadual no Paran com
a aprovao de um projeto de lei apresentado pela Deputada Luciana Rafagnin (PT). Tal
projeto prope que o Poder Executivo institua a Poltica de Preveno e Combate Obesidade
e ao Sobrepeso no Estado, atravs da promoo de projetos e aes que efetivem o direito do
cidado informao e alimentao adequada52.
As campanhas propostas no projeto abrangem vrias aes, tais como: promoo de
campanhas de estmulo ao aleitamento materno como forma de preveno tanto da obesidade
quanto da desnutrio, combate a obesidade infantil na rede escolar de ensino; campanhas
educativas direcionadas s populaes das comunidades com baixo ndice de 52 Combate Obesidade e ao Sobrepeso Podem se Tornar Poltica Estadual. Disponvel em Acesso em: 12 mai. 2013.
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http://www.vigilantesdademocracia.com.br/lucianarafagnin/News7027content101834.shtml
32
Desenvolvimento Humano (IDH); integrao de polticas estadual e nacional de segurana
alimentar, nutricional e de sade, capacitao de servidores pblicos como multiplicadores da
segurana alimentar e nutricional, medidas voltadas disciplinar a publicidade de alimentos
infantis, entre outros.
A nutricionista Mariana Del Bosco, membro do Departamento de Nutrio da
ABESO, acha que: polticas pblicas para o combate da epidemia da obesidade so
absolutamente necessrias para que se possa conter a escalada dessa doena e de suas co-
morbidades ao redor do mundo. fato que o aumento no tamanho das pores, especialmente
de alimentos como refrigerante, hambrgueres, salgadinhos e similares, aumentou
consideravelmente nos ltimos 50 anos. Pesquisas apontam essa mudana no padro
alimentar como um grande contribuinte para o aumento do peso da populao.
A nutricionista da ABESO acredita que uma campanha educativa de fundamental
importncia para incitar mudanas de hbitos, e os rgos governamentais precisam tomar
frente nesse processo. Alm disso, tambm necessrio que haja estmulo para que as
empresas comercializem pores menores a preos mais atraentes.
Mariana Del Bosco observa que, atualmente, a maioria das redes de fastfood
comercializa as pores grandes com muitas vantagens para o consumidor. No parece bvio
que, se o refrigerante de 200 ml custar metade do que custa o de 400 ml, e no alguns
centavos a menos, talvez seja eleito pela maioria? Ou ainda, que se a caixinha de junkfood
no contiver o brinde, talvez muitas das crianas possam optar por uma refeio mais
saudvel?
No Brasil, infelizmente, a obesidade no est na agenda poltica, porque um tema
que no tem repercusso eleitoral. A razo simples: polticas de combate a obesidade tm
repercusso em mdio prazo e requerem um enfoque multidisciplinar, alm de exigirem, em
muitas situaes, o enfrentamento de interesses da indstria alimentcia.53
Na cidade do Rio de Janeiro, a Lei n 503854, aprovada no dia 6 de junho de 2007,
obriga que hospitais, unidades mdicas de atendimento emergencial e laboratrios privados
disponibilizem equipamentos adaptados ao atendimento de obesos mrbidos e graves. Os
hospitais e unidades mdicas de atendimento emergencial ficam obrigados a disponibilizar
53 BRASIL. um pas de obesos? Matria publicada na Folha de S. Paulo sobre a greve do servio funerrio me chamou ateno. Um coveiro, Sr. Elias Azeredo da Silva, apontou a epidemia da obesidade como uma notvel transformao da cidade de So Paulo. Disponvel em: Acesso em: 02 mai. 2013. 54 BRASIL. Decreto-Lei 5038/07. Lei n 5038, de 6 de junho de 2007. Obriga hospitais, unidades medicas de atendimento emergencial e laboratrios privados no estado do rio de janeiro a disponibilizarem equipamentos adaptados ao atendimento de obesos mrbidos/graves. Rio de janeiro.
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http://www.fundacaosanepar.com.br/blog/brasil-um-pais-de-obesoshttp://www.fundacaosanepar.com.br/blog/brasil-um-pais-de-obesos
33
equipamentos que possam atender as necessidades desse pblico sem coloc-los em situao
constrangedora e desconfortvel.
No Estado de So Paulo, a Lei n 12.28355, de 22 de fevereiro de 2006, institui a
Poltica de Combate Obesidade e ao Sobrepeso no Estado, denominada So Paulo Mais
Leve, que tem por finalidade implementar aes eficazes para a reduo de peso, o combate
a obesidade, adulta e infantil, e a obesidade mrbida da populao.
Em Foz do Iguau, por exemplo, ainda no existem leis de proteo ao cidado
obeso. Aprovada no dia 23 de dezembro de 200456, a Lei n 3017 no libera a transposio da
roleta dos veculos do transporte coletivo urbano aos cidados obesos mrbidos. Os
portadores de obesidade mrbida devem entrar pela porta da frente, pagar a passagem e
permanecer na parte dianteira do nibus.
J na cidade de Mato, no interior de So Paulo, a Lei n 3864 57de 17 de julho de
2007, considera obesas mrbidas aquelas pessoas com ndice de massa corporal com IMC
superior a 40 kg/m e, ao mesmo tempo, veta qualquer forma de discriminao direcionada a
estes indivduos. Ainda no municpio de Mato, ao Poder Pblico Municipal no permitido
criar restries de qualquer ordem contra as pessoas com problema de obesidade mrbida,
inclusive contra o ingresso nas carreiras pblicas municipais, com exceo aos cargos ou
funes cujas atribuies sejam incompatveis com essa condio.
Na cidade de Londrina, a regulamentao de determinadas prticas autoriza o Poder
Executivo a implantar o programa de enfrentamento obesidade mrbida na rede assistencial
de sade do municpio e seus componentes. Tal medida, que foi aprovada pela Lei n9463 58,
de 26 de abril de 2004, viabiliza ao paciente obeso mrbido o atendimento na rede
especializada, com direito a um diagnstico e avaliao clnica, assim como atendimento
mdico especializado; acesso cirurgia baritrica; fila nica gerenciada pelo gestor municipal
para a realizao do procedimento cirrgico; acompanhamento ps-operatrio no servio
credenciado; e cirurgia plstica reparadora no servio credenciado, decorridos dezoito meses
da realizao da cirurgia baritrica, conforme critrio da Portaria GM/545, de 18 de maro de
2002.
55 BRASIL. Decreto-Lei 12283/06. Lei n 12.283, de 22 de fevereiro de 2006. Poltica de combate a obesidade e ao sobrepeso- So Paulo mais leve. So Paulo. 56 BRASIL. Decreto-Lei 3017/04. Lei n 3017 de 23 de dezembro de 2004. desobriga o cidado obeso a transpor a roleta dos veculos do transporte urbano coletivo. Foz do Iguau. 57 BRASIL. Decreto-Lei 3864/07. Lei n 3864 de 17 de julho de 2007. Veda qualquer forma de discriminao aos portadores de obesidade mrbida no mbito do municpio de mato e d outras providncias. Mato. 58 BRASIL. Decreto-Lei 9463/04. Lei n 9463 de 26 de abril de 2004.autoriza o poder executivo a implantar o programa de enfrentamento da obesidade mrbida na rede assistencial de sade do municpio e seus componentes. Londrina
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34
O art. 5., 2., da CF/1988 serve de porta de entrada para novos direitos
fundamentais no previstos expressamente pelo constituinte originrio. Permite o
reconhecimento tanto para direitos que esto dispersos no corpo da Constituio como para os
que esto implcitos no regime e princpios adotados. Assim, no entendimento de Jane Reis
Gonalves Pereira, "a comunidade, por intermdio da Constituio, estabelece valores que
devem nortear no apenas o ordenamento jurdico, mas, principalmente, a vida social. Assim,
as opes axiolgicas expressas nos direitos fundamentais orientam a ao do Estado e de
toda a sociedade"59
Na Lei Estadual 12.22760, de 05 de janeiro de 2005, no art. 1., 1., III, o
governador do Estado do Rio Grande do Sul prev a instalao de, pelo menos, dois assentos
adequados utilizao por idosos, gestantes e obesos nos veculos do Sistema Estadual de
Transporte Metropolitano de Porto Alegre - RMPA.
J o do Decreto Federal 5.29661, no Art. 23, 1, Seo II, Das Condies
Especficas, de 02 de dezembro de 2004, promoveu a acessibilidade atravs da reserva de,
pelo menos, dois por cento da lotao de estabelecimentos com abertura ao pblico para
pessoas obesas, vejamos:
Art. 23. Os teatros, cinemas, auditrios, estdios, ginsios de esporte, casas de espetculos, salas de conferncias e similares reservaro, pelo menos, dois por cento da lotao do estabelecimento para pessoas em cadeira de rodas, distribudos pelo recinto em locais diversos, de boa visibilidade, prximos aos corredores, devidamente sinalizados, evitando-se reas segregadas de pblico e a obstruo das sadas, em conformidade com as normas tcnicas de acessibilidade da ABNT. 1o Nas edificaes previstas no caput, obrigatria, ainda, a destinao de dois por cento dos assentos para acomodao de pessoas portadoras de deficincia visual e de pessoas com mobilidade reduzida, incluindo obesos, em locais de boa recepo de mensagens sonoras, devendo todos ser devidamente sinalizados e estar de acordo com os padres das normas tcnicas de acessibilidade da ABNT.
Ainda, no 3 do mesmo Decreto: Os espaos e assentos a que se refere este artigo
devero situar-se em locais que garantam a acomodao de, no mnimo, um acompanhante da
pessoa portadora de deficincia ou com mobilidade reduzida.
59 PEREIRA, Jane, Reis, Gonalves. Cfr. Apontamentos sobre a aplicao das normas de direito fundamental nas relaes jurdicas entre particulares. In: BARROSO, Luis Roberto (org.). A nova interpretao constitucional: ponderao, direitos fundamentais e relaes privadas. Rio de Janeiro: Renovar 2006, p. 148. 60 Lei Estadual 12.227, de 05 de janeiro de 2005. Disponvel em: Acesso em: 02 de mai. 2013. 61 Decreto Federal 5.296, de 02 de dezembro de 2004 - Decreto de Acessibilidade. Disponvel em: Acesso em: 02 mai. 2013.
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http://revistadostribunais.com.br/maf/app/relationships/document?stid=st-rql&marg=LGL-1988-3&ds=BR_LEGIS_CS;BR_JURIS_CS;BR_DOUTRINA_CS;BR_SUMULAS_CS&sourceProduct=&disableHighlighting=true&fcwh=true&unit=A.5&unit2Scroll=LGL-1988-3|A.5http://revistadostribunais.com.br/maf/app/relationships/document?stid=st-rql&marg=LGL-1988-3&ds=BR_LEGIS_CS;BR_JURIS_CS;BR_DOUTRINA_CS;BR_SUMULAS_CS&sourceProduct=&startChunk=1&endChunk=1http://www.faders.rs.gov.br/legislacao/5/54http://www.faders.rs.gov.br/legislacao/4/87http://www.faders.rs.gov.br/legislacao/5/54
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No Decreto Estadual 39.67962, de 23 de agosto de 1999, o governador do Estado do
Rio Grande do Sul, no uso da atribuio que lhe confere o artigo 82, inciso V, da Constituio
do Estado, e de acordo com o disposto no artigo 2 da Lei n 8.974, de 8 de janeiro de 1990,
considerando que a luta contra todas as formas de excluso social um compromisso do
Governo do Estado do Rio Grande do Sul, decretou obrigatria, em todas as obras realizadas
pelo poder pblico estadual visando criao, ampliao, reforma ou remodelao de espaos
pblicos urbanos e rurais, edificaes e logradouros de uso pblico, a incluso das adequaes
recomendadas pelas normas tcnicas especficas, em especial a NBR 9050/94 da Associao
Brasileira de Normas Tcnicas - ABNT -, ou a que vier a substitu-la, para permitir o acesso e
circulao livre, segura e independente a todas as pessoas, em especial idosos, crianas,
pessoas portadoras de deficincia, gestantes, obesos, dentre outras com limitaes de
locomoo.
O prefeito municipal de Porto Alegre, na mesma seara de entendimento, sancionou a
Lei Municipal 8.31763, de 9 de junho de 1999, onde, no seu Art.1 - As edificaes e
logradouros de uso pblico devero ser adequadas a fim de permitir o acesso e a circulao
livre, segura e independente a todas as pessoas, em especial idosos, crianas, pessoas
portadoras de deficincia, gestantes, obesos, dentre outras com limitaes de locomoo.
Na Lei Estadual n 13.32064, de 21 de dezembro de 2009 - Consolidao de Leis da
Pessoa com Deficincia, a governadora do Estado do Rio Grande do Sul, na Seo III,
intitulada Da Acessibilidade ao Transporte Metropolitano de Porto Alegre, disciplinou que
as empresas concessionrias do Sistema Estadual de Transporte Metropolitano de Porto
Alegre RMPA, devem disponibilizar, em seus veculos de transporte coletivo de
passageiros, dispositivos que facilitem o acesso pessoa com deficincia fsica, obesos,
gestantes e idosos, sob a superviso do rgo estadual competente (art. 34 da aludida lei).
Raul Cohen, o atual secretrio de Acessibilidade e Incluso Social de Porto Alegre,
tem como objetivo de sua gesto criar novas aes que contemplem no apenas a
acessibilidade, mas, tambm, incluso social. Fala-se muito em dar acessibilidade, mas no
podemos parar por a. Claro que pretendemos dar condies para que as pessoas com
deficincia visual, fsica, auditivas, assim como obesos, gestantes e pessoas com mobilidade
62 FADERS. Decreto Estadual 39.679, de 23 de agosto de 1999. Disponvel em: Acesso em: 02 mai. 2013. 63 FADERS. Lei Municipal 8.317, de 9 de junho de 1999. Porto Alegre. Disponvel em: Acesso em: 02 de mai. 2013. 64 FADERS. Lei Estadual 13.320, de 21 de dezembro de 2009. Consolidao de Leis da Pessoa com DeficinciaDisponvel em: Acesso em: 02 de mai. 2013.
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http://www.faders.rs.gov.br/legislacao/5/77http://www.faders.rs.gov.br/legislacao/5/54http://www.faders.rs.gov.br/legislacao/7/288http://www.faders.rs.gov.br/legislacao/5/54http://www.faders.rs.gov.br/legislacao/5/387http://www.faders.rs.gov.br/legislacao/5/387http://www.faders.rs.gov.br/legislacao/5/54
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reduzida permanente ou temporria, possam transitar livremente por Porto Alegre disse
Cohen.65
Nessa linha e destacando-se como ponto positivo, a Arena do Grmio tem 270
lugares para pessoas com necessidades especiais, dos quais, no topo da arquibancada inferior,
44 lugares para obesos e 66 para pessoas com mobilidade reduzida, e na arquibancada
Gold(sobre a inferior),20 para obesos e 40 lugares para pessoas com mobilidade reduzida.66
2.2 ANLISE INFRACONSTITUCIONAL: A PROTEO LEGAL AOS OBESOS, COM
NFASE NO DIREITO AO TRATAMENTO DA OBESIDADE MRBIDA
Para alm das polticas pblicas que asseguram e tentam garantir a convivncia do
obeso em sociedade, no plano infraconstitucional vale tratar da relao entre as pessoas
portadoras da doena obesidade e os planos de sade, bem como de seu direito legal
realizao das cirurgias baritricas.
A legislao clara no sentido de impor as seguradoras o nus de incluir
procedimentos mnimos em cada plano oferecido. Desta forma, o consumidor no ser
surpreendido quando precisar de um tratamento de urgncia, por ausncia de previso no
contrato de adeso firmado. E mesmo que esteja expressamente previsto, algumas clusulas
so consideradas inexistentes exatamente por excluir direitos irrenunciveis do consumidor.
Especificamente no que tange obesidade, o Ministrio da Sade chegou a publicar,
inclusive, uma Portaria (Portaria n 1.075), alm da Resoluo n 10, do Conselho de Sade
Suplementar CONSU, que no seu art. 5, pargrafo nico, alnea a, dispe expressamente
sobre a obrigatoriedade de cobertura para tratamento da obesidade mrbida pelos Planos de
Sade.
J o Cdigo de Defesa do Consumidor dispe que, nos contratos de adeso, o
consumidor tem a seu favor a interpretao favorvel quanto a quaisquer clusulas ambguas,
resguardadas ainda as ressalvas quanto a restries contra renncia de certos direitos, ainda
que previstos no instrumento contratual. Convm ainda frisar que o Cdigo permite a
concesso via liminar do tratamento ou interveno cirrgica de urgncia, conforme se
observa no art. 84, 3.
65 FADERS. Disponvel em: Acesso em: 12 de mai. 2013. 66FADERS. Arena do Grmio ter 270 lugares para pessoas com necessidades especiais. Disponvel em: Acesso em: 11 de mai. 2013.
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http://www.faders.rs.gov.br/http://www.faders.rs.gov.br/noticias/1579
37
H necessidade de uma atuao transdisciplinar para garantir constitucionalidade e
legalidade67:
Consectrios da tutela constitucional da dignidade humana so os direitos fundamentais liberdade (art. 5, caput) e sade (art. 6). Atuando em conjunto, esses direitos garantem, de um lado, o direito do obeso de se tratar de sua doena, buscando recobrar seu bem-estar, preservando, assim sua dignidade. De outro lado, a atuao conjunta dos direitos liberdade e sade que tem o paciente de obesidade impe ao mdico o dever de promover um tratamento adequado e eficiente, que permita, acima de tudo, a manuteno da dignidade do paciente.
Com efeito, como a simples existncia legal no capaz de coibir a abusividade na
atuao das operadoras de planos de sade, muitas vezes o Poder Judicirio chamado a
resolver os conflitos resultantes das relaes entre consumidores e fornecedores desses
servios.68
A Lei n 9.656/1998 compreende a cobertura assistencial mdico-ambulatorial e
hospitalar para o tratamento da obesidade mrbida, doena listada e classificada pela
Organizao Mundial da Sade (OMS). Entretanto, nem sempre as seguradoras cobrem o
procedimento. comum o plano alegar que a cirurgia de reduo de estmago puramente
esttica e, por isso, negar a realizao da interveno69. Outros pontos questionados pelos
convnios so a carncia do plano e a pr-existncia da doena.
A viso do Estado e dos planos de sade, por muito tempo, foi de que a obesidade
era um problema esttico, a ser tratado a expensas do paciente. Apesar de reconhecida como
doena, e de sua gravidade, contrariando a Constituio Federal, que, em seu art. 109, define
como funo do Estado promover a sade do cidado,