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CENTRO UNIVERSITÁRIO SÃO CAMILO Mestrado em Bioética Elaine Fatima Nyakas O ENFERMEIRO E OS CUIDADOS PALIATIVOS: NECESSIDADE DE UMA REFLEXÃO BIOÉTICA São Paulo 2010

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CENTRO UNIVERSITÁRIO SÃO CAMILO

Mestrado em Bioética

Elaine Fatima Nyakas

O ENFERMEIRO E OS CUIDADOS PALIATIVOS:

NECESSIDADE DE UMA REFLEXÃO BIOÉTICA

São Paulo

2010

Livros Grátis

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Elaine Fatima Nyakas

O ENFERMEIRO E OS CUIDADOS PALIATIVOS:

NECESSIDADE DE UMA REFLEXÃO BIOÉTICA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

graduação stricto sensu em Bioética do Centro

Universitário São Camilo, como parte dos

requisitos para a obtenção do título de Mestre

em Bioética.

Orientadora: Profa. Dra. Margareth Rose Priel

Co-orientadora: Profa. Dra. Grazia Maria Guerra

São Paulo

2010

Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Pe. Inocente Radrizzani

Nyakas, Elaine Fátima O enfermeiro e os cuidados relativos: necessidade de uma reflexão

bioética / Elaine Fátima Nyakas. -- São Paulo : Centro Universitário São Camilo, 2010.

71p. Orientação de Margareth Rose Priel e Grazia Maria Guerra Dissertação de Mestrado em Bioética, Centro Universitário São

Camilo, 2010. 1. Assistência terminal 2. Atitude frente à morte 3.Bioética

4. Cuidados paliativos I. Priel, Margareth Rose II.Guerra, Grazia Maria III. Centro Universitário São Camilo IV. Título.

DEDICATÓRIA

Àqueles que representam meu alicerce,

Aos meus amados pais, Walter e Rosa, a quem atribuo o meu sucesso nesta

vida e a tudo o que sou hoje. Por todos os sonhos que abandonaram para que eu

sonhasse e principalmente porque acreditaram em mim.

Dedico em especial ao meu querido filho, Fábio, que é a maior riqueza da

minha vida. Amo demais você. Obrigada por fazer parte da minha vida.

AGRADECIMENTOS ESPECIAIS

À Profa. Dra Margareth Rose Priel, fiel orientadora, incansável em sua

assistência, durante todo o desenvolvimento do trabalho.

À Profa. Grazia Maria Guerra, pela sua colaboração e incentivo.

AGRADECIMENTOS

À Deus, minha fortaleza e meu porto seguro.

Aos meus irmãos Salete, Walter e Adriane pelo apoio na minha trajetória de

vida;

Aos meus cunhados e sobrinhos, Lucas e Giulia, que torceram por mim em

todas as jornadas;

À amiga, Kátia Massako, pela amizade e carinho, com quem compartilhei

grandes momentos da minha vida e no decorrer do curso do Mestrado;

À Prof. Dra. Ariadne da Silva Fonseca, pela orientação e tempo dispensado

para auxiliar-me;

Ao Prof. William Saad Hossne, pelo grande ensinamento. Sinto-me

privilegiada por ter convivido com esta pessoa maravilhosa;

Aos meus amigos do Mestrado, pelos momentos agradáveis;

A bibliotecária Rosana Drigo, pela assistência e paciência, na revisão do

texto, correções e sugestões para a realização deste trabalho;

Aos bibliotecários do Centro Universitário São Camilo Ipiranga, pelo apoio nas

horas difíceis

Houve um tempo em que nosso poder perante a morte era

muito pequeno. E por isso, os homens e as mulheres dedicavam-se

a ouvir a sua voz e podiam tornar-se sábios na arte de viver. Hoje,

nosso poder aumentou, a morte foi definida como inimiga a ser

derrotada, fomos possuídos pela fantasia onipotente de nos

livrarmos de seu toque. Com isso, nós nos tornamos surdos às

lições que ela pode nos ensinar.

Rubem Alves

NYAKAS, Elaine Fatima. O enfermeiro e os cuidados paliativos: necessidade de uma reflexão bioética. 2010. 71f. Dissertação (Mestrado em Bioética) – Centro Universitário São Camilo, São Paulo, 2010.

Este estudo teve como objetivo analisar as questões relativas aos cuidados

paliativos percebidas pelos enfermeiros, à luz da bioética. Foi realizado através de

uma revisão bibliográfica. A pesquisa foi realizada a partir do portal BVS (Biblioteca

Virtual em Saúde do Centro Latino – Americano e do Caribe de Informação em

Ciências da Saúde), usando os resultados obtidos nas bases de dados SciELO

(Scientific Eletronic Library Online), LILACS (Literatura Latino Americana e do Caribe

em Ciências da Saúde e na BDENF (Banco de Dados de Enfermagem), utilizando

os descritores: “atitude frente a morte”, “cuidados paliativos”, “ética em enfermagem”,

“relações enfermeiro-paciente” e “assistência terminal”. Foram selecionados sete

artigos, que preencheram os critérios de seleção. Foi realizada uma leitura dos

artigos na íntegra, seguida de uma releitura das conclusões e das considerações

finais. As idéias identificadas de acordo com o julgamento do pesquisador eram

grifadas e validadas pelo segundo observador. Foram identificadas as seguintes

unidades de significado: impotência, dificuldade em lidar com a morte, respeito ao

limite de reanimação e a humanização. Os resultados demonstram a relevância da

discussão desses temas na formação do enfermeiro e ressalta a importância da

formação com uma abordagem humanística, pautada na valorização da vida, no

cuidado e na importância do entendimento da morte como condição natural, o

caráter multidisciplinar do atendimento a estes pacientes, a fim de exercitarmos o

olhar holístico no tratamento deles.

Palavras-chave: Assistência terminal. Atitude frente à morte. Ética em enfermagem.

Cuidados paliativos. Relações enfermeiro-paciente.

NYAKAS, Elaine Fatima. The nurse and palliative care: a need for bioethical reflection. 2010. 71f. Master’s Paper. (Masterchip in Bioethic) – Centro Universitário São Camilo, São Paulo, 2010.

This aim of this study the questions related to palliative care perceived by nurses in

light of bioethics. Accomplished though bibliography review. The research was made

conducted via the portal BVS (Virtual Health Library of the Latin - American and

Caribbean Center on Health Sciences), using the results in databases SciELO

(Scientific Electronic Library Online), LILACS (Latin American and Caribbean Center

on Health Sciences and BDENF Database (Nursing), using the keywords "attitude to

death," "palliative care", "nursing ethics", "nurse-patient relationship" and "assistance

terminal”. We selected seven articles that met the criteria selection. We performed a

reading of the articles in full, followed by a reinterpretation of the findings and

concluding remarks. The ideas identified in accordance with the trial and the

investigator were validated by second observer. We identified the following units:

impotence, difficulty in coping with death, as the threshold for resuscitation and

humanization. The results demonstrated the importance of discussing these

questions in nursing education and emphasis the importance of training with an

approach humanistic, based on the quality of life, care and understanding of the

importance of death as a natural condition, the multidisciplinary nature of care to

these patients in order to exercise holistic look at their treatment.

Keywords: Assistance terminal. Attitude to death. Nurse-patient relationship.

Nursing ethics. Palliative care.

SUMÁRIO

Resumo

Abstract

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 9

1.1 Interesse pela pesquisa.................................................................................. 9

1.2Trajetória da Enfermagem ............................................................................... 12

1.3 O cuidado ....................................................................................................... 14

1.4 A bioética ........................................................................................................ 19

1.5 A bioética na Enfermagem ............................................................................. 24

1.6 Cuidados paliativos ........................................................................................ 28

1.6.1 Histórico ...................................................................................................... 28

1.7 Conceito e Filosofia ........................................................................................ 29

2 OBJETIVO ......................................................................................................... 34

3 METODOLOGIA ................................................................................................ 35

3.1 Tipo de Estudo ............................................................................................... 35

3.2 Coleta de Dados ............................................................................................. 35

3.2.1 Armazenamento do Material ....................................................................... 36

3.2.2 Descrição do Instrumento de Coleta de Dados ........................................... 36

3.2.3 Tratamento dos Dados ................................................................................ 36

4 RESULTADOS .................................................................................................. 37

4.1 Impotência e Dificuldade em Lidar com a Morte ............................................ 37

4.2 Respeito ao Limite de Reanimação ................................................................ 45

4.3 Humanização ................................................................................................. 53

5 CONCLUSÃO .................................................................................................... 59

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 60

REFERÊNCIAS .................................................................................................... 62

APÊNDICES ......................................................................................................... 70

9

Elaine Fatima Nyakas

O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

1 INTRODUÇÃO

1.1 Interesse pela pesquisa

Em anos e anos na prática profissional da Enfermagem tive muitos encantos,

desencantos, alegrias, angústias, erros e acertos. Tive a oportunidade de realizar

atividades relacionadas à assistência ao paciente clínico-cirúrgico, gestantes,

puerperas e recém-nascidos. Toda essa vivência me permitiu ter dúvidas e anseios.

No decorrer destes anos as atividades administrativas foram se incorporando

à minha prática profissional, onde tive a atuação como chefe de Departamento por

11 anos. Pude participar de várias questões conflitantes relacionadas à assistência

ao paciente, questões essas que eram bioéticas.

A motivação e o interesse por essa temática surgiu pela minha inquietude e

os meus questionamentos sobre as questões éticas que o enfermeiro enfrenta no

seu dia a dia. Tive a preferência no enfoque dos Cuidados Paliativos, onde temos o

cuidar e também o cuidado de enfermagem, as novas tecnologias, o processo

saúde-doença interligados na sua complexidade. Percebo que os avanços da

tecnologia e da racionalidade se distanciaram da essência originalmente humanitária

do ato de cuidar.

Na minha formação acadêmica, na década de 80, pude perceber que o nosso

poder sobre a morte era muito ínfimo, e sendo assim, ela tornava-se mais tranqüila e

o cuidar era exercido com intensidade, mas atualmente esse poder aumentou

consideravelmente e a morte tornou-se uma grande inimiga. O processo de viver

prolongou-se de uma forma exponencial nas últimas décadas, já que a luta contra a

morte faz com que sejam investidos todos os recursos tecnológicos possíveis,

avançados métodos diagnósticos e terapêuticos, com o único objetivo de manter a

vida a qualquer custo e esquecendo-se da filosofia da humanização que resgata a

dignidade no processo da terminalidade.

Certamente não há como colocar em dúvida os benefícios promovidos pelos

avanços tecnológicos, desde que bem indicados e utilizados.

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Elaine Fatima Nyakas

O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

O processo de morrer e a morte sempre me incomodaram, quando assistia o

paciente sem prognóstico de cura, sentia a equipe de enfermagem muito distante

dele, era o último a ser prestada assistência, o último banho do plantão. Esse

afastamento talvez seja por não conseguirmos lidar com a morte do outro e com a

nossa morte.

Hoje a linha tênue do viver e do morrer tornou-se mais uma batalha a ser

transposta e a cura é perseguida, obsessivamente, sem critérios, não levando em

conta, muitas vezes, a vontade do paciente e da família em interromper o tratamento

e dar ênfase à qualidade de vida no momento da finitude que deve ser alcançado

através do conforto, alívio e controle dos sintomas, suporte espiritual e psicossocial

ao paciente.

A assistência multiprofissional e os Cuidados Paliativos devem ser

estendidos aos familiares que participam do “processo de morrer”, compartilhando

do luto com os mesmos, já que esse momento se torna marcante pelo rompimento

do vínculo afetivo, da tomada de consciência da perda, constituindo um momento

extremamente doloroso em que pode ser realizada a despedida entre eles.

No Hospital, em minhas visitas diárias aos pacientes, tenho claro em minha

mente a importância do ato de cuidar e a importância de prestar um cuidado

competente, qualificado e diferenciado nessa fase final das suas vidas e procuro

passar isso para minha equipe, que devemos ter um olhar holístico sobre o paciente,

uma relação honesta, já que ele tem uma história de vida, uma religião, uma cultura,

uma vida social e por muitas vezes trabalhou por anos, produzindo para a sociedade

e talvez hoje ela não proporcione a dignidade e o respeito que ele mereça. Temos

que priorizar o cuidado ao invés da cura, pois cuidar sempre é possível, mesmo

quando a cura não é mais possível.

Devemos desmistificar uma situação comum entre as pessoas leigas e os

profissionais de saúde que acham que a pessoa que necessita de Cuidados

Paliativos sempre é um paciente com neoplasia. Sabemos que isso é uma inverdade

já que pacientes que apresentam vários tipos de doenças crônico-degenerativas e

progressivas também necessitam destes cuidados.

11

Elaine Fatima Nyakas

O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

A prestação de cuidado é de responsabilidade de toda a equipe

multiprofissional, cada um com sua competência e formação, objetivando assim a

promoção do cuidado integral do paciente e a dignidade no processo de morrer.

A enfermagem é baseada no cuidar e nos cuidados, sendo o enfermeiro o

profissional que se mantém a maior parte do tempo ao lado do paciente. Cabe ao

enfermeiro identificar as necessidades deste, planejando e implementando ações

que possam ser discutidas com o paciente e familiares, permitindo assim um maior

controle de decisão de sua própria vida.

Nesse momento devemos respeitar a autonomia do paciente colaborando

para que ele exerça o seu auto cuidado, participe das tomadas de decisão e não

somente os familiares e os profissionais de saúde. É importante que sejamos

maleáveis muitas vezes em detrimento de rotinas e protocolos instituídos sem

prejuízo da assistência prestada. Para que ele não fique dependente das atitudes e

vontades da enfermagem, levando-o à insegurança e ao medo. A base de

sustentação do cuidado deve assentar-se sempre na liberdade, na comunicação e

no compartilhar do conhecimento.

Torna-se necessária cada vez mais a promoção de reflexões bioéticas que

auxiliem os profissionais nas tomadas de decisão e em seus comportamentos frente

aos cuidados de pacientes fora de possibilidades terapêuticas de cura, não somente

em sua fase terminal, mas durante todo o percurso da doença, pois estes exigem

um modo específico de cuidar.

A atuação da equipe multidisciplinar deve ocorrer de forma individualizada e

focada na dignidade do paciente. A equipe, em geral, preocupa-se com o respeito à

autonomia e com a dignidade do paciente, mas talvez não consiga por em prática os

cuidados pertinentes ou não suspenda os tratamentos considerados fúteis por

desconhecimento, o que acaba interferindo no morrer com dignidade, causando

assim a temida distanásia.

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Elaine Fatima Nyakas

O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

1.2 Trajetória da Enfermagem

Oguisso (2005, p.IX) afirma que nada é tão instigante e motivador para que

descubramos nossa identidade profissional quanto estudar a origem da

enfermagem. Se hoje ela se encontra mais reconhecida e respeitada pela sociedade

do que no passado, certamente é porque pessoas pioneiras contribuíram para o

desenvolvimento de tecnologias e pesquisa e aliaram tudo isso a um profundo

sentimento de humanidade, que é a base do cuidar.

Percebo que hoje a Enfermagem como profissão encontra-se mais

reconhecida e respeitada pela sociedade do que há alguns anos atrás e isto se deve

à luta e à força de pessoas pioneiras na área. Contudo, sabemos que ainda há muito

a conquistar para que a Enfermagem se torne mais valorizada e reconhecida e

ocupe um lugar de destaque, no contexto de saúde, na nossa sociedade.

Waldow (2001, p.52) recorda em seus dizeres que nas civilizações antigas, as

práticas médicas incluíam muitas das atividades que hoje são realizadas pela

enfermagem. Eram realizadas pelo próprio médico ou outra pessoa. Algumas

atividades eram designadas às mulheres da família ou escravas. As mulheres em

geral eram as responsáveis pelo parto, como no Egito, Babilônia, Palestina, Índia,

Grécia e Roma.

Enfermagem é a ciência e a arte do cuidar; a arte do Ser e do Fazer em

Enfermagem. Este cuidado é prestado ao paciente de modo integral e holístico por

enfermeiros, hoje em dia, com diferentes níveis de especializações. Constitui-se um

desafio diário prestar uma assistência de qualidade já que a tecnologia e as

descobertas na área da saúde sofrem inovações e atualizações constantes. Torna-

se necessário que o profissional enfermeiro mantenha-se atualizado e acompanhe

as mudanças na área da saúde em geral e na sua área especialização.

É muito importante o conhecimento da história da profissão pelos enfermeiros

para que não se menospreze o passado e ache que somente o futuro é o que

interessa, pois o passado traz uma história que se reflete no presente e nos traz

forças para que consigamos um futuro melhor em termos de pesquisa, para que

aprofundemos os conhecimentos e práticas da profissão.

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Elaine Fatima Nyakas

O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

A trajetória histórica da Enfermagem mostra-nos uma mudança marcante no

que se refere ao cuidado prestado aos enfermos, pois muitos acreditavam que a

doença era um castigo de Deus ou efeito do poder místico e diabólico sobre os

homens em função das diversas crenças existentes. O sacerdote exercia um papel

mediador entre os homens e os Deuses. Quando o enfermo se recuperava era um

milagre e se este morria, não era digno de viver, ou seja, o sacerdote não tinha

responsabilidade no resultado dessas ações.

Os templos eram utilizados pelas religiosas não somente como lugar que

servia para orações e sacrifícios, mas também para abrigar doentes. No primeiro

milênio do cristianismo não houve tentativa de organizar a enfermagem, o que se

praticava eram ações muito simples, como atender às necessidades dos doentes,

administrar medicamentos, realizar curativos e a higiene corporal (OGUISSO, 2005,

p 59).

Florence Nightingale, a percussora da enfermagem, foi uma das mais

notáveis figuras femininas que a Inglaterra teve, por ter aberto para as mulheres a

possibilidade de seguir uma carreira independente, desfrutando da liberdade

econômica. No século XIX, não havia domínio do conhecimento na enfermagem,

esta era reconhecida pela vocação de servir e de estar ao lado dos pobres e

doentes (OGUISSO, 2005, p.65).

Ser enfermeira, afirma Florence:

É executar o trabalho conforme seu próprio e elevado conceito do que é certo e o melhor para o doente, não apenas para cumprir ordens, mas para sua própria satisfação. Porque se a enfermeira não o fizer para sua satisfação pessoal, de nada adiantará ensiná-lo e dizer-lhe que o faça, pois, por melhor que ela execute suas tarefas, agirá sempre no seu próprio interesse e não no interesse do paciente. (CARVALHO, 1989, p.6).

Geovanini et al. (2005, p.26) afirmam que

[...] as concepções teórico-filosóficas da Enfermagem desenvolvidas por Florence Nightingale apoiaram-se em observações sistematizadas e registros estatísticos de sua experiência no cuidado

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Elaine Fatima Nyakas

O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

com os doentes, merecendo destaque quatro conceitos fundamentais: ser humano, meio ambiente, saúde e Enfermagem que foram revigorados pela teoria holística.

Oguisso (2005, p.X) afirma que a história da enfermagem, ou seja, o

fenômeno do cuidar, como atividade, fato ou idéia, surgiu apenas em meados do

século XIX, em especial pelas mãos de historiadores anglo-saxões.

Antes de 1890, o exercício da enfermagem no Brasil era praticado com base

na solidariedade humana, no misticismo, no senso comum e nas crendices. Após

1890, com a criação da primeira escola para enfermeiros, tivemos a

profissionalização. O aspecto profissional surge a partir da prestação de cuidados à

pessoa enferma nos domicílios, por mães e escravos que lá trabalhavam. No Brasil,

a profissionalização da enfermagem surgiu por meio da sistematização do ensino da

prática do cuidar (OGUISSO, 2005, p.102).

1.3 O Cuidado

Quando iniciaram as práticas de cuidar? Como se manifestaram? O cuidar

sempre esteve presente na história humana como forma de viver e se relacionar.

O cuidado de enfermagem é histórico, sofrendo, no entanto, mudanças ao

longo do tempo. Voltando os olhos para a remota antiguidade, observa-se que a

atividade de “cuidar” ou "tomar conta” de pessoas se confunde no tempo com o

trabalho da mãe no cuidado, que foi a primeira manifestação instintiva no cuidado do

seu semelhante (OGUISSO, 2005, p.7).

A enfermeira francesa Françoise Collière afirma que “[...] os cuidados

existiram desde que surgiu a vida, uma vez que os seres humanos, como todos os

seres vivos sempre precisaram deles (OGUISSO, 2005, p.8).

A enfermagem caracteriza-se por ser eminentemente uma atividade prática e

dinâmica, sendo o processo de cuidar a interação entre quem cuida e quem é

cuidado, sempre baseado no respeito ao Ser humano, na sua dimensionalidade

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Elaine Fatima Nyakas

O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

moral, ética, ambiental, cultural, política e econômica e no conceito de equidade,

reconhecendo assim as diferenças da necessidade do outro.

Para além do estar perto, cuidar é o interesse pelo outro, preocupar-se com

ele, manter-se atento às suas necessidades. O cuidar é tido como um instrumento

de nossas ações e representa um caminho para uma prática que possui o

compromisso com o ser humano, tendo como objetivo a promoção do bem estar, da

saúde e da qualidade de vida.

O profissional de saúde, na perspectiva do “tratar”, valoriza tudo o que é

técnico e preocupa-se apenas em tratar o doente com eficácia e competência; limita-

se à restabelecer a saúde, ainda que impliquem em mais sofrimento ao doente

(ZOBOLI, 2010, p.370).

Essas questões me fizeram retornar a 23 anos atrás, onde minhas

professoras acreditavam e diziam para nós alunos: “Vocês não podem se envolver

emocionalmente com os pacientes, pois se isso acontecer vocês não serão bons

profissionais e nem estarão fazendo o bem a esse paciente.” Eu por muitas vezes

tive receio de que elas me vissem triste ou chorando por algum acontecimento no

estágio e que isso influenciasse em minha avaliação. Como cuidar sem ter emoção?

Será que temos que ser somente interpretadores de exames, saber lidar com a alta

tecnologia ou mero executores das rotinas?

Hoje devemos refletir e repensar o papel do enfermeiro com a prestação do

atendimento com qualidade, e assim deixar de nos esconder atrás de equipamentos

que, sem dúvida, trazem benefícios. Devemos olhar para o paciente que pede

acolhimento, para a sua vulnerabilidade, com respeito para sua autonomia,

cidadania e dignidade. Deve-se resgatar o cuidar no seu conhecimento e na sua

arte, que sempre foi uma característica da enfermagem.

O grande desafio é combinar o trabalho com o cuidado e para isso devemos

usar a nossa sensibilidade e fazer alguns questionamentos: Quem é o paciente a

quem assisto? Onde ele mora e com quem vive? Qual sua atividade? Essas, entre

outras questões, nos permitem planejar o cuidado de enfermagem e acreditar que a

16

Elaine Fatima Nyakas

O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

comunicação faz a interface do cuidado com o cuidador. Com isso pode-se

compreender as condições que influenciam no processo saúde-doença.

O profissional cuidadoso agrega cuidado e trabalho, congrega cuidado-

técnica e cuidado-ética na atenção à saúde, movido e motivado pelo espírito de

cuidar (ZOBOLI, 2010, p.368).

O cuidado existe desde o princípio da humanidade e é por ele que a vida se

mantém. Com o passar do tempo as mulheres expressaram o cuidado através da

demonstração de interesse e de afeto pelo outro.

Florence Nightingale foi quem propôs as bases científicas da enfermagem

tendo sido influenciada por sua passagem em lugares que era realizado o cuidado

de enfermagem leigo e fundamentado em conceitos religiosos e também pelos

preceitos de valorização do ambiente adequado para o cuidado.

A história do cuidado remonta aos primórdios da humanidade. PESSINI

(2009, p.133) relata que “[...] a essência da vida é o cuidado.” Mas o que entender

por cuidado? O termo terapêutica origina-se do grego therapéuo que significa “eu

cuido”. Na Grécia Antiga, o thérapeuter era aquele que se colocava junto ao que

sofre, podendo assim compartilhar da sua doença para poder compreendê-la e

ajudar na arte de cuidar, sem saber se haveria a cura real, mas dedicava seu tempo

em ouví-lo e examiná-lo.

Puggina (2004, p.19) traz que:

[...] todas as pessoas que escolhem a profissão de Enfermagem

talvez devessem ter como prioridade o cuidado ao ser humano;

muitas têm, mas na prática... muitos têm dificuldade de sustentar

essa ideologia. Quando entramos no mercado de trabalho nos vemos

responsáveis por inúmeras atividades que acabam nos distanciando

da assistência ao paciente, alegando falta de tempo.

Dar atendimento humanizado não requer, necessariamente, dedicar-se mais

tempo ao paciente, basta saber dirigir palavras de conforto, segurança e carinho.

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Elaine Fatima Nyakas

O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

O termo cuidado humano foi difundido e consagrado internacionalmente.

Madeleine Leininger e Jean Watson, teoristas renomadas sobre o cuidado, são as

pioneiras em utilizar o termo “cuidado humano” em enfermagem (WALDOW, 2006,

p.15).

Entre outros princípios teóricos que fundamentam seus estudos, Waldow

(2006) considera que a primeira contribuição para a construção de uma teoria do

cuidado surgiu com Madeleine Leininger, por ser considerada a teorista e

pesquisadora que mais tem se preocupado em divulgar um cuidado significativo

para o paciente/cliente. Sua teoria é fundamentada num modelo transcultural de

enfermagem. Para o desenvolvimento de sua teoria, Leininger usou uma crença

básica que cuidar/cuidado é a essência de enfermagem. É importante destacar as

três modalidades principais previstas na teoria de Leininger, as quais guiam

julgamentos, decisões ou ações de enfermagem de forma a prover o que ela

denomina de cuidado cultural congruente. As três modalidades incluem:

Preservação e/ou manutenção do cuidado cultural;

Acomodação e/ou negociação do cuidado cultural;

Repadronização ou reestruturação do cuidado cultural.

A proposta da teoria do Cuidado Cultural é investigar as diversidades em

relação ao mundo a fim de podermos prover o cuidado às diferentes culturas

mantendo ou resgatando seu bem estar e enfrentando a morte de maneira que a

sua crença e a sua religião sejam respeitadas.

Waldow (2006, p.23) descreve que os pressupostos básicos da ciência para o

cuidado humano de Jean Watson são os seguintes:

[...] cuidar pode ser efetivamente demonstrado e praticado somente de forma interpessoal; o cuidado consiste em fatores que resultam da satisfação de certas necessidades humanas; cuidar inclui aceitar a pessoa não somente como ela é, mas como ela virá a ser; o meio ambiente de cuidado proporciona o desenvolvimento do potencial da pessoa, ao mesmo tempo em que lhe permite escolher a melhor

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Elaine Fatima Nyakas

O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

ação para si em um tempo dado; o cuidado refere-se mais à saúde do que à cura, e a prática de cuidar é o foco central da enfermagem.

Exemplificando, Waldow (2006, p.28) traz a definição de enfermagem por

Watson:

[...] como a ciência humana de pessoas e de experiências de saúde-doença, medidas por transações humanas de cuidados profissionais, pessoais, científicos, éticos e estéticos. E também prega o cuidado holístico como forma de promover a relação humana, saúde e a qualidade de vida do doente. O cuidado é uma resposta a alguém ou a alguma coisa a que se atribui importância e valor e este pode ser desenvolvido através da presença de modelos ou ausência de modelos de cuidado.

O cuidado não deve ser visto como um “prêmio de consolação”, ele deve ser

o motivador e também uma forma de humanizar as ações da equipe multiprofissional

que após um diagnóstico pode sistematizar o tipo de cuidado que o paciente

necessita. É no bojo do cuidado que muitas vezes a cura ocorre.

Waldow (2006, p.56) descreve com propriedade que a enfermagem em sua

trajetória tem sido associada ao termo cuidado e no Brasil é mais comum o termo

assistir. O assistir parece ter se originado das traduções do termo to assist sendo

traduzido como assistir, o termo em inglês significa ajudar e em português além de

ajudar inclui estar presente, socorrer, ou seja, estar perto de alguém que precise de

ajuda.

O momento de cuidar é o encontro entre o Ser que cuida e o Ser que é

cuidado, pois ambos devem estar em sintonia oferecendo assim o melhor na relação

cuidativa.

Em Zoboli (2006, p.193) encontramos uma visão de cuidar que alinha essa

idéia:

Mover-se pela ética do cuidado quer dizer assumir um modo-de-ser essencial no qual a pessoa, sem esquecer-se de si, sai de si mesma

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Elaine Fatima Nyakas

O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

e centra-se no outro com desvelo e solicitude, compreendendo a complexa teia de interelações que sustenta a vida [...].

Zoboli (2010, p.370) entende o “cuidar” como prestar atenção global e

continuada ao paciente, nunca esquecendo que este é, antes de tudo, uma pessoa,

um ser único e insubstituível. Por isso todos os aspectos, sejam físicos, psicológicos

ou espirituais, e não somente a doença ou seus sinais e sintomas, devem ser

considerados. No “cuidar” o outro é visto como um fim em si mesmo e não apenas

mero meio para fins científicos, técnicos ou institucionais

1.4 Bioética

Uma nova palavra apareceu nos anos 1970: Bioética! O que se entendia por

Bioética? A pergunta não é simples, pois esta palavra provoca debates e

controvérsias até nossos dias, sendo carregada das mais ricas interrogações ao

invés de certezas, pois é uma vertente bastante recente da ética. As pessoas usam,

muitas vezes, a palavra ética e moral como sinônimos, portanto é importante

distinguir seus significados.

Dall’Agnol (2004, p.16) define “ética” como uma reflexão filosófica sobre a

moralidade. A “moral”, por sua vez, pode ser definida como o conjunto de costumes,

modo de ser, regras, etc.

De acordo com o Dicionário Aurélio (FERREIRA, 1999), ética é o estudo dos

juízos de apreciação referentes à conduta humana suscetível de qualificação do

ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente a determinada sociedade, seja

de modo absoluto. O mesmo descreve moral como conjunto de regras de conduta,

consideradas como válidas quer de modo absoluto para qualquer tempo ou lugar,

quer para grupo de pessoas ou pessoa determinada (SANT’ANNA; ENNES, 2006,

p.25-26).

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Elaine Fatima Nyakas

O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

Podemos dizer que a ética é um processo que vem de “dentro para fora” e

baseia–se em princípios, valores, sentimentos, emoções que cada pessoa traz

dentro de si, ao contrário dos valores morais que vem de “fora para dentro”.

Foram propostas algumas definições para o termo bioética e cada uma

privilegia um conjunto de premissas pelas quais encaram os vários problemas ético-

científicos, indo além das meras discussões éticas multiprofissionais avançando

para a “bioética global”.

O termo bioética vem do grego “bios” = vida e “ethos” = ética. Bio representa

o conhecimento biológico, a ciência dos sistemas vivos; e ética representa o

conhecimento dos valores humanos. Assim podemos traduzir bioética como a ética

da vida (PESSINI; BARCHIFONTAINE, 2010, p.35).

Durand (2007, p.21) ressalta que assim que a palavra foi criada a mesma já

teve sucesso, o que comprova a necessidade que se sentia dos questionamentos

diante de problemas novos e questionamentos novos diante problemas antigos.

Ela surgiu como uma forma de abordar as questões relacionadas com a vida

e com a morte e tornou–se um marco importante de reflexão e discernimento de

valores humanos e de conhecimentos biológicos, constituindo-se numa ponte entre

as culturas científicas e a humanística.

O conceito de Bioética nasceu nos Estados Unidos há cerca de quarenta

anos (1970) mais ou menos ao mesmo tempo, na Universidade de Wisconsin, em

Madison com um norte americano, pesquisador e professor na área de Oncologia,

chamado Van Rensselaer Potter com a histórica publicação do livro Bioethics:

Bridge to the Future (Bioética: ponte para o futuro) e com a criação do Instituto

Kennedy de Ética na Universidade de Georgetown em 1971 por André Hellengers,

obstetra holandês e pesquisador, com o apoio de R. Sargent Shriver e da Família

Kennedy marcando assim oficialmente o “nascimento” do termo e do conceito de

bioética. Warren Reich, editor chefe das duas primeiras edições da Enciclopédia de

Bioética, identifica Potter, Hellegers e Shriver como os “pais” da bioética. A bioética

no seu nascedouro é definida pela Enciclopédia de Bioética (1978) como “[...] o

estudo sistemático da conduta humana na área das ciências da vida e da saúde,

21

Elaine Fatima Nyakas

O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

enquanto esta conduta é examinada à luz de valores e princípios morais.” (PESSINI;

SIQUEIRA; HOSSNE, 2010, p.12).

Pessini (2006, p.20) destaca a definição de Bioética por Potter como sendo a

“[...] ciência da sobrevivência humana.”

Na contracapa de seu livro pioneiro, “Bioethics: bridge to the future” (Bioética:

ponte para o futuro), lemos:

Esta nova ciência, a bioética, combina o trabalho dos humanistas e cientistas, cujos objetivos são sabedoria e conhecimento. A sabedoria é definida como o conhecimento de como usar o conhecimento para o bem social. A busca de sabedoria tem uma nova orientação porque a sobrevivência do ser humano está em jogo. Os valores éticos devem ser testados em termos de futuro e não podem ser divorciados dos fatos biológicos. Ações que diminuem as chances de sobrevivência humana são imorais e devem ser julgadas em termos do conhecimento disponível e no monitoramento de parâmetros de sobrevivência que são escolhidos pelos cientistas e humanistas. (POTTER, 1971).

Potter (1971) sintetiza a bioética como uma “ponte” entre a ciência biológica e

a ética onde passou a refletir a preocupação com a vida humana e com a dimensão

moral das pesquisas científicas e das condutas médicas com a finalidade de se

atingir: o conhecimento biológico e os valores humanos. Incorporando também os

temas ligados à sustentabilidade do planeta. Apesar da novidade do termo, a

bioética possui raízes muito antigas.

É importante destacar que recentes pesquisas no âmbito da bioética trazem

uma grande novidade em relação às suas origens. Ao recuar no tempo e na história

podemos encontrar na Alemanha em 1927, Fritz Jahr um pastor protestante, filósofo

e educador que publicou no influente periódico científico alemão Kosmos, um artigo

intitulado “Bio-Ethics: A Review of the Ethical Relationships of Humans to Animals

and plants” (Bioética: uma revisão do relacionamento ético dos humanos em relação

aos animais e plantas). Nessa publicação Jahr propõe um “Imperativo Bioético”:

“Respeite todo ser vivo, como princípio e fim em si mesmo e trate-o, se possível,

enquanto tal”. O conceito bioético de Jahr é mais amplo do que o conceito dos

22

Elaine Fatima Nyakas

O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

pioneiros norte- americanos, incluindo essencialmente todas as formas de vida

(PESSINI; SIQUEIRA; HOSSNE, 2010, p.12-13).

O Homem sempre questionou com o olhar da bioética a conduta a ser tomada

frente os questionamentos sobre a saúde, comportamento, a morte, ao aborto e às

más formações.

Oliveira (1997, p.48) ressalta que da época de Potter e de Hellegers para cá,

a bioética recebeu muitas contribuições teóricas e teve várias transformações, mas a

interface entre a bioética, a medicina e a religião é muito forte até os dias de hoje.

Namba (2009, p. 8) descreve que a finalidade da bioética, segundo Potter, é

auxiliar a humanidade no sentido da participação racional, cautelosa no processo de

evolução biológica e cultural. O meio ambiente seria o cerne da pesquisa.

Neste sentido Oliveira (1997, p 47-48) completaria a conceituação de bioética

com outro enfoque:

[...] a bioética, inicialmente um movimento social que lutava pela ética nas ciências biológicas e áreas correlatas, hoje é também uma disciplina norteadora de teorias para o biodireito e para a legislação, com a finalidade de assegurar mais humanismo nas ações do cotidiano das práticas médicas e na experimentação cientificas que utilizam seres humanos.

Os bioeticistas Tom Beauchamp e James Childress publicaram em 1979 o

livro “Principles of Biomedical Ethics”, inspirados no Relatório Belmont, que tinha por

objetivo identificar os princípios bioéticos. Este foi um marco relevante na evolução

da bioética, pois foi a partir deles que, de certa forma, sistematizou-se a ética

biomédica.

A obra destes dois autores praticamente pautou a bioética dos anos 70 e

início dos anos 80, sob a linha do “principialismo”, ou seja, o desenvolvimento da

bioética a partir de princípios básicos: autonomia, beneficência e justiça. O princípio

da “não maleficência” (do juramento hipocrático primum non nocere – antes de tudo,

não causar danos) foi acrescentado e distinguido do princípio da beneficência. Estes

23

Elaine Fatima Nyakas

O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

quatro princípios, pretensamente universais, ganharam o mundo e acabaram

confundindo muitas pessoas desavisadas com a própria bioética (DALL’AGNOL,

2004, p.28; GARRAFA; KOTTOW; SAADA, 2006, p.12),

Os princípios são definidos por Ferrer e Alvarez (2005, p.60-61):

Autonomia: A autonomia pessoal refere-se à capacidade que tem as

pessoas para se autodeterminar, livres tanto de influências externas que as

controlem, como de limitações pessoais que as impeçam de fazer uma genuína

opção [...]

Não – maleficência - a obrigação de não causar dano intencionalmente.

Beneficência – qualquer ação humana levada a cabo para beneficiar a outra

pessoa.

Justiça – tem a ver com o que é devido às pessoas, com aquilo que de

alguma maneira lhes pertence ou lhes corresponde.

Hossne (2006, p.674) ressalta que apesar da importância da teoria dos

princípios, a mesma é insuficiente para equacionar todas as questões que surgem

no campo da ética biomédica, pois se verifica que os quatro princípios têm forte

fundamentação ontológica e diceológica. Ele cita como exemplo que os quatro

princípios já tinham sua importância na prática e na teoria médica desde o

Juramento Hipocrático há 25 séculos, já estava firmado a não maleficência do

mesmo modo que a beneficência. Os séculos XVII e XVIII foram muito relevantes,

pois a autonomia foi incorporada aos Códigos de Ética refletindo nos direitos do

paciente. No tempo de Sócrates, Platão e Aristóteles, já eram abordados os

conceitos de justiça e equidade.

Em sua proposta Hossne (2006, p.675) relata a teoria dos referenciais da

seguinte maneira “[...] englobam, coisas além de direitos e deveres e que devem ser,

também, pontos de referência para a elaboração da reflexão bioética”; enquanto que

a teoria dos princípios pode ser representada por um quadrado, os referencias tem

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Elaine Fatima Nyakas

O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

uma visão mais ampla incluindo-se vários outros como: não-maleficência,

autonomia, justiça, dignidade, solidariedade, fraternidade, confidencialidade,

privacidade, vulnerabilidade, responsabilidade, sobrevivência e qualidade de vida.

Se assim é, nem a ética, nem a bioética podem ser frutos de um consenso.

Devem ser compreendidas como ciências que ajudam a desvendar a identidade

profunda. Mesmo que a bioética tenha se apresentado como pluridisciplinar e aberta

ao diálogo desde sua origem na década de 1970, a verdadeira preocupação da

bioética não é agradar gregos e troianos e sim lutar, honestamente e com todas as

forças, para que nunca se perca de vista que, ao longo da história, já houve muitos

consensos que se revelaram desastrosos. A bioética tornou-se uma espécie de

palavra de referência obrigatória sempre que se trata de questões relacionadas com

a vida e com a evolução biotecnológica (SOARES; MOSER, 2006, p.10-12).

1.5 A Bioética na Enfermagem

Os profissionais de enfermagem enfrentam vários dilemas profissionais no

seu dia a dia, pois muitos desenvolvem uma conduta de “apropriação” sobre os

pacientes, deixando-os sem escolha. Como conciliar a atuação profissional eficiente

e comprometida com os valores do paciente? Como agir?

Os profissionais que incluem o exercício da bioética na prática diária buscam

respostas em suas reflexões, uma vez que não lhes interessa o conhecimento

fragmentado na sua relação com o paciente/cliente (VIEIRA, 2007, p.18).

Durand (2007, p.23) quando fala sobre a ética de enfermagem cita o

juramento escrito em 1893, que foi usado pelas formandas da Farrand Training

School, cujo conteúdo pode ser dividido em duas partes:

- o compromisso de se dedicar ao bem – estar do doente, de não lhe fazer

mal, de respeitar sua privacidade;

- o compromisso de proteger o padrão da profissão e de ajudar o médico em

sua tarefa.

25

Elaine Fatima Nyakas

O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

O autor enfatiza que este conteúdo foi modificado ao longo das épocas, mas

é professado até hoje.

Outros pressupostos relacionados à bioética e que encontram respaldo nos

princípios que a fundamentam são os direitos do paciente ao sigilo e à verdade

(exceto nos casos previstos em lei) e como desdobramento disso, o direito de decidir

sobre seu tratamento e sobre sua vida (SELLI , 2005 p.38).

Sant’anna e Ennes (2006, p.35) pontuam a formação ética nas primeiras

décadas de realização do curso de enfermagem que se fundamentava na

religiosidade, no conservadorismo e no conformismo, que podemos observar no

“Juramento e Profissão de Fé dos Enfermeiros Brasileiros” descrito assim:

Comprometo-me solenemente a servir de todo coração àqueles cujos cuidados me forem confiados (...). Trabalharei sempre com fidelidade e obediência para com meus superiores e peço a Deus que me conceda paciência, benevolência e compreensão.

Para que o paciente tenha esses direitos garantidos devemos ter o

compromisso de ajudá-lo com a verdade, por meio de informações e esclarecimento

de dúvidas, fornecendo-lhes as orientações necessárias, tanto ao paciente como

aos familiares, respeitando sempre seus valores, crenças, cultura e sua religião

como prevê o Código de Ética Profissional. Não é possível refletir sobre a

enfermagem sem fazer uma abordagem da sua dimensão ética, pois a doença é

uma situação transitória e passageira que pode ser controlada através dos

modernos tratamentos ou evoluir para a cura ou não.

Oguisso e Zoboli (2006, p. 63) destacam que o Código de Ética de

Enfermagem é um instrumento legal que reúne um conjunto de normas, princípios

morais e do direito, relativos à profissão e ao seu exercício.

Perante o exposto acima o enfermeiro, querendo ou não, terá que assumir

sua parte na responsabilidade da assistência ao cliente/paciente. As autoras

acrescentam que todas as pessoas no exercício ou não de uma profissão,

26

Elaine Fatima Nyakas

O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

respondem pelos danos que causaram ou possam causar à outra pessoa

(OGUISSO; SCHMIDT, 1999, p. 58-59).

Sant’Anna e Ennes (2006, p.9) contemplam que o Código de Ética dos

profissionais de Enfermagem, aprovado pela Resolução COFEN Nº240, de 30 de

agosto de 2000, reúne os princípios fundamentais da enfermagem, os direitos, as

responsabilidades, deveres, proibições e deveres disciplinares além dos tipos de

infrações e penalidades que o profissional esta sujeito caso incorra em alguma

infração ética.

Este código é aplicável a todos os profissionais de enfermagem inscritos nos

Conselhos Regionais de Enfermagem normatizando as condutas dos profissionais.

Podem ocorrer situações que surjam dilemas éticos, onde entrem em conflitos as

normas a serem seguidas e a própria conduta moral e formação do profissional.

Portanto, devemos dar a devida importância ao conhecimento do Código de

Enfermagem conforme descrevem Oguisso e Schmidt (1999, p.57). O Código Penal

(BRASIL, 1984) dispõe no art.21 que “[...] o desconhecimento da lei é inescusável. O

erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, é isento de pena; se evitável, poderá

diminuí-la de um sexto a um terço”.

Assim, além da utilização permanente de conhecimentos técnicos, o

enfermeiro necessita também estudar os aspectos legais do seu próprio exercício

profissional, a fim de não incorrer ou ser envolvido em problemas de

responsabilidade civil ou criminal, o que poderá exigir reparação pecuniária, impor

uma suspensão ou até a cassação do exercício profissional assim como a pena de

restrição de liberdade (OGUISSO; SCHMIDT, 1999, p.60).

Diante das responsabilidades profissionais de enfermagem, Selli (2005, p.39)

propõe que se reflita sobre as condutas terapêuticas e questione-se sobre os

valores, repense e redefina a práxis e cuidados no agir profissional à luz do Código

de Ética que representa para a enfermagem, a tomada da consciência da dimensão

e do desafio da bioética na profissão.

27

Elaine Fatima Nyakas

O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

Conforme apresentam Oguisso e Zoboli dentre os princípios fundamentais do

Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem (CEPE) enuncia-se que:

A Enfermagem é uma profissão comprometida com a saúde do ser humano e da coletividade. Atua na promoção, proteção, recuperação da saúde e reabilitação das pessoas, respeitando os preceitos éticos e legais e ainda que o profissional de enfermagem respeite a vida, a dignidade e os direitos da pessoa humana, em todo o seu ciclo vital, sem discriminação de qualquer natureza. (2006, p.82).

Com isso espera-se que os enfermeiros e a equipe de enfermagem possam

compreender a dimensão do trabalho que realizam e a importância da contribuição

da sua formação acadêmica para sua competência profissional.

A bioética na área da saúde é muito importante, pois permite que sejam feitas

reflexões bioéticas diante das diversas situações-dilema, desenvolvendo assim um

raciocínio crítico do profissional perante os diferentes momentos da vida do paciente

As questões referentes aos aspectos éticos, morais e legais que envolvem a

autonomia e os direitos dos pacientes são os que mais levantam polêmicas no

cotidiano do profissional de saúde. É necessário que essa relação seja baseada na

verdade, respeitando a autonomia e a decisão do paciente/ família. Nesse contexto,

o enfermeiro juntamente com os outros profissionais da saúde pode auxiliar o

paciente a entrar em contato com a verdade sem se distanciar de seus sentimentos

e possíveis angústias (OGUISSO; ZOBOLI, 2006, p.28).

Assim, podemos fazer uma reflexão em que o enfermeiro deve reavaliar o

cuidado e não esquecer que os princípios bioéticos devem reger a sua prática,

sempre tendo como premissa básica o respeito ao paciente, fazendo com que o

cuidado não se transforme em um rol de simples técnicas de enfermagem.

Devemos reconhecer o paciente como um agente autônomo. É importante

que o profissional respeite a autonomia do paciente, mas é igualmente importante

que respeite também seu código de conduta profissional, entendendo que fazer o

bem é a sua finalidade. A autonomia do paciente deve ser discutida já nos cursos de

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Elaine Fatima Nyakas

O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

graduação na área da saúde, não somente do ponto de vista jurídico, mas numa

visão interdisciplinar (SOARES; MOSER, 2006, p.27).

1.6 Cuidados Paliativos

1.6.1 Histórico

O primeiro hospice fundado especificamente para os moribundos foi

provavelmente o de Lyon, em 1842. Depois de visitar pacientes com câncer, que

morriam em suas casas, Madame Jeanne Garnier abriu o que ela chamou de

hospice e um Calvário. As irmãs irlandesas de caridade fundaram em 1905, na Grã-

Bretanha, em Hackney, o St. Joseph Hospice. Sua fundadora, Madre Mary

Aikenhead, era contemporânea de Florence Nightingale, que fundou em Dublin,

1846, uma casa para alojar pacientes em fase terminal e chamou-a de hospice por

analogia às hospedarias para o descanso dos viajantes, na Idade Média. Foram

abertos em Londres outros hospices, entre eles o St. Columba (1885) e o St. Luke’s

(1893), o único que fora fundado por um médico, o Dr. Howard Barret (PESSINI,

2001b, p.205).

Como se vê, o hospice vai além de qualquer estabelecimento de saúde, é um

modo de pensar e de ver a pessoa humana em toda a sua dimensão, humana e

espiritual (BARCHIFONTAINE, 2001, p.284).

A insatisfação com as práticas da medicina moderna, especificamente no final

da vida, explica a criação do hospice como a criação de uma nova especialidade

chamada cuidados paliativos.

O movimento hospice moderno começou em 1967 quando Dame Cicely

Saunders (1918-2005), assistente social, enfermeira e médica, abriu o hoje famoso,

St. Christopher’s Hospice, no sul de Londres, instituição que se transformou num

modelo de assistência, ensino e pesquisa no cuidado dos pacientes terminais e das

suas famílias. Sanders descreveu a filosofia do cuidado da pessoa que está

morrendo, que desde então conhecemos como cuidados paliativos ou a filosofia do

hospice. O hospice ainda não é muito conhecido e utilizado devido ao estigma social

29

Elaine Fatima Nyakas

O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

relacionado com a morte e com a percepção de falha profissional para manter uma

vida (MCCOUGHLAN, 2004, p.168-169).

Cicely Saunders cunhou o conceito de “dor total”, uma combinação de

elementos das dimensões física, psíquica, social e espiritual da pessoa humana

(PESSINI; BARCHIFONTAINE, 2006, p.28).

Cuidar dignamente de uma pessoa que está morrendo num contexto clínico

significa respeitar a integridade da pessoa. No hospice a morte é reconhecida como

inevitável e o foco é torná-la mais humana, tendo uma visão holística do paciente,

voltando-se mais para o cuidar do que o curar. Os cuidados paliativos não rejeitam a

medicina científica moderna, mas ampliam a teoria médica de base a fim de corrigir

algumas limitações (DRANE, 2003, p.417).

Voltado ao atendimento de doentes oncológicos, o movimento pela

assistência paliativa nasce no Brasil como iniciativa exclusiva dos profissionais de

saúde algumas décadas após a fundação dos primeiros hospices, na Inglaterra e

EUA (MENEZES, 2004b, p.55-56)

1.7 Conceito e a Filosofia

Eu me importo pelo fato de você ser você, me importo até o último momento da sua vida e faremos tudo o que estiver a nosso alcance, não somente para ajudá-lo a morrer em paz, mas também para você viver até o dia da morte.

Cicely Saunders

As palavras acima resumem a essência do que significa a filosofia dos

cuidados paliativos.

O termo palliare tem origem no latim e significa proteger, amparar, cobrir,

abrigar. Assim quando a causa não pode ser curada, os sintomas são “tapados” ou

“cobertos”. A perspectiva de cuidar e não somente curar surge amplamente como

foco principal. O termo tem um enfoque holístico, já que considera a dimensão física,

30

Elaine Fatima Nyakas

O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

psicológica, social e espiritual (MELO; FIGUEIREDO, 1998, p.17; PESSINI, 2001b,

p.208-209).

Cuidados paliativos? O que significa? A grande maioria dos profissionais de

saúde e do público em geral praticamente desconhece do que se trata, não sabem

da existência de programas e serviços de cuidados paliativos (PESSINI;

BERTACHINI, 2004, p.5).

Os cuidados paliativos, ao contrário do que se pensa, não representam uma

omissão de tratamento e cuidados, e sim uma filosofia baseada na prestação dos

cuidados, proporcionando conforto e o alívio necessário. Esses cuidados, também

denominados de “cuidados de fim de vida”, nasceram para atender os pacientes

portadores de câncer avançado e hoje foram estendidos para outras áreas da

medicina.

A grande pergunta é: o que fazer quando, clinicamente, não há mais nada a

fazer?

McCoughlan (2004, p.169) descreve como a Organização Mundial de Saúde

(OMS), em 1990, conceituou cuidados paliativos:

O cuidado ativo e total dos pacientes cuja enfermidade não responde mais aos tratamentos curativos. Controle da dor e de outros sintomas, entre outros problemas sociais e espirituais, são da maior importância. O objetivo dos cuidados paliativos é atingir a melhor qualidade de vida possível para os pacientes e suas famílias.

McCoughlan (2004, p.167) sugere acrescentar à definição de Cuidados

Paliativos da OMS três elementos: compaixão, humildade e honestidade e equipe

multidisciplinar.

Esse acréscimo na definição de cuidados paliativos faz com que o cuidar se

aproxime do ideal de um cuidar uniforme, pois o indivíduo estará sendo respeitado

como um ser social, com valores, crenças e necessidades. O objetivo é promover o

cuidado integral e a dignidade no processo de morrer.

31

Elaine Fatima Nyakas

O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

A idéia de abordagem multidisciplinar é muito importante, pois ninguém tem

as respostas corretas para o enfrentamento de uma situação, o que faz destacar a

importância do trabalho coletivo, que permite que haja um olhar para os problemas

do paciente e da família sob várias perspectivas (McCOUGHLAN, 2004, p.172).

Em 1995, a Associação Canadense de Cuidados Paliativos conceituou os

cuidados paliativos:

“[...] como uma filosofia de cuidar que combina terapias ativas e visa ao

conforto e ao suporte individual e familiar para quem esta vivendo com doenças

crônico-evolutivas (MELO; FIGUEIREDO, 1998, p.18).

Figueiredo e Jorge descrevem como a Organização Mundial de Saúde (OMS)

conceitua cuidados paliativos:

[...] abordagem que aprimora a qualidade de vida dos pacientes e famílias que enfrentam problemas associados com doenças ameaçadoras da vida através da prevenção e alívio do sofrimento, por meio da identificação precoce, avaliação correta e tratamento da dor, e outros problemas de ordem física, psicossocial e espiritual. (2009, p.289).

Já, em 2000, a Organização Mundial de Saúde redefiniu essa conceituação, com um enfoque na prevenção do sofrimento:

Cuidados paliativos é uma abordagem que aprimora a qualidade de vida dos pacientes e famílias, que enfrentam problemas associados com doenças ameaçadoras de vida, através da prevenção e alívio do sofrimento, por meio de identificação precoce, avaliação correta e tratamento da dor e outros problemas de ordem física, psicossocial e espiritual. (MELO; CAPONERO, 2009, p.260).

Vemos uma negação e fuga da palavra morte até na definição de cuidados

paliativos com o uso do eufemismo: “com doença ameaçadora de vida”, ou seja,

doenças que podem levar à morte (SANTOS, 2009).

Chiba (2008, p.47) ressalta que os profissionais de saúde perceberam que

mesmo não havendo cura da doença há uma forma de atendimento com ênfase na

32

Elaine Fatima Nyakas

O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

qualidade de vida e nos cuidados prestados ao paciente, através da assistência

interdisciplinar e da abordagem dos familiares que também acompanham esse

processo e do final de vida – os Cuidados Paliativos.

O cuidado paliativo é mais do que tratar sintomas, mesmo o mais comum - a

dor; a ênfase é na qualidade de vida, prevenção e alívio do sofrimento, seja físico,

psicossocial e espiritual. Trabalhar como se os sofrimentos físicos fossem mais

freqüentes e importantes que os outros aspectos, é ter uma visão mecanicista dentro

da área das ciências da vida (SANTOS, 2009).

Devemos desmistificar uma idéia frequente entre os leigos e até mesmo entre

os profissionais de saúde que é o de achar que a pessoa que necessita de cuidados

paliativos sempre é o paciente com neoplasia. É sabido que pacientes que

apresentam doenças crônico-degenerativas e progressivas, necessitam igualmente

desses cuidados. São situações em que o paciente e seus familiares necessitam

que lhes seja oferecidas uma melhor qualidade de vida, individualização e respeito

(CHIBA, 2008, p.49).

Deve existir a interação entre os profissionais que atuam em cuidados

paliativos, e estes devem estar unidos, durante todo o processo da doença, e não

somente em prol do paciente, mas também dos seus familiares.

Chiba (2008, p.55) descreve os Cuidados Paliativos como sendo um conjunto

de atos multiprofissionais que tem por objetivo efetuar o controle dos sintomas do

corpo, da mente, do espírito e do social, que afligem o homem na sua finitude, isto é,

quando a morte dele se aproxima.

O cuidado paliativo não deve ser encerrado com a morte do paciente, deve

ser prolongado após a morte, a fim de que compartilhemos com os familiares o luto

e o sofrimento dos mesmos.

Silva, Araujo e Firmino (2008, p.61) reforçam que o cuidar é o verbo que está

presente em todas as teorias de enfermagem, e nos cuidados paliativos significa

estar ao lado de pessoas com perda da vitalidade, dor, entre outros sintomas;

33

Elaine Fatima Nyakas

O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

devemos conhecer e respeitar seus valores espirituais e culturais e sermos a ponte

da relação paciente-família onde eles possam resolver assuntos pendentes.

Diante disso é que os cuidados paliativos surgem como uma proposta de

assistir às pessoas, cuja doença não é mais responsiva ao tratamento curativo,

fazendo frente à obstinação terapêutica de modo a valorizar a história do indivíduo

adequando-o a esse momento peculiar que é a hora da sua morte.

É muito gratificante estar presente com a pessoa em desconforto e poder

trabalhar para que ela encontre o conforto. Aprendemos a respeitar o ser humano, a

dimensionar como são frágeis nosso próprio ego, planos e sonhos. Temos a

oportunidade de partilhar com essa pessoa suas experiências passadas e a sua

vivência atual, mesmo quando a vida dela está próxima do fim. Podermos ajudar

uma pessoa a sentir melhor, sem tecnologia e somente com as mãos, coração e

mente, este é o privilégio que podemos usufruir (McCOUGHLAN, 2004, p.175).

Sá (2008, p.138-139) descreve que existem cinco princípios relevantes na

atenção aos pacientes terminais: a veracidade, a proporcionalidade terapêutica, o

duplo efeito à prevenção e o não abandono. A veracidade é o fundamento da

confiança nas relações interpessoais, comunicar a verdade ao paciente e seus

familiares traz um benefício para eles, pois proporciona a oportunidade de participar

nas decisões (autonomia). A proporcionalidade terapêutica, existe uma obrigação

moral de implementar medidas terapêuticas que tenham uma relação de proporção

entre os meios empregados e o resultado previsível. O duplo efeito analisar a

empregabilidade de um ato que, na verdade, tem dois efeitos – um bom e outro

mau. No princípio do não abandono é eticamente condenável abandonar um

paciente que recuse algum tipo de terapia, mesmo quando o médico considere essa

recusa inadequada.

34

Elaine Fatima Nyakas

O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

2 OBJETIVO

Analisar as questões relativas aos cuidados paliativos percebidas pelos

enfermeiros, à luz da bioética.

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Elaine Fatima Nyakas

O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

3 METODOLOGIA

3.1 Tipo de estudo

A presente pesquisa trata-se de uma revisão integrativa nível 1 transversal,

realizada por meio de uma revisão bibliográfica, em que foram identificados os

aspectos éticos que os enfermeiros enfrentam diante dos cuidados paliativos.

3.2 Coleta de Dados

A pesquisa foi realizada a partir do portal BVS (Biblioteca Virtual em Saúde do

Centro Latino – Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde),

usando os resultados obtidos nas bases de dados SciELO (Scientific Eletronic

Library Online),LILACS (Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da

Saúde e na BDENF (Banco de Dados de Enfermagem). O periódico Bioethikos,

publicado pelo Centro Universitário São Camilo, embora ainda não indexado, foi

também utilizado nessa pesquisa, desde seu primeiro número em 2007 até 2010,

considerando ser esta uma publicação científica importante e pioneira na área de

bioética.

Para a busca bibliográfica foi adotado o operador booleano “AND” na

combinação dos seguintes descritores: “atitude frente a morte”, “cuidados paliativos”,

“ética em enfermagem”, “relações enfermeiro-paciente” e “assistência terminal”.

Na busca inicial foram considerados os títulos e os resumos dos artigos que

estavam com o texto acessível, com o intuito de verificar em que medida atendia às

necessidades de investigação de acordo com os objetivos da pesquisa. Foram

selecionados apenas os artigos de pesquisa de campo com foco na percepção do

enfermeiro em cuidados paliativos. Adotou-se como critério de inclusão artigos na

íntegra no idioma português e de autores nacionais. Esta estratégia teve como

objetivo aproximar a análise ao contexto nacional.

36

Elaine Fatima Nyakas

O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

3.2.1 Armazenamento do Material

Cada documento foi arquivado num banco de dados estruturado no programa

MS-Word em ambiente Windows criando-se assim um fichamento de todas as

citações.

3.2.2 Descrição do Instrumento de Coleta de Dados

Para o registro das informações obtidas foi elaborado um instrumento

(APÊNDICE A), utilizado para organizar, sintetizar e ordenar o material coletado. O

instrumento foi composto com dados de identificação dos seguintes itens, com vista

para análise do material: descrição do assunto, palavras-chave, cabeçalho com a

referência bibliográfica de acordo com as normas da ABNT, idéias principais da obra

consultada.

3.2.3 Tratamento dos Dados

Ao término da seleção do material foi realizada a leitura dos artigos na

íntegra, seguida de uma releitura das conclusões e considerações finais dos artigos

selecionados que serviram como base para a busca dos dilemas éticos vivenciados

pelo enfermeiro nos cuidados paliativos. As idéias identificadas de acordo com o

julgamento do pesquisador eram grifadas e validadas pelo segundo observador.

Posteriormente, foram realizadas leituras repetidas no sentido de identificar a

repetição das idéias e estas foram contabilizadas buscando consensos entre os

aspectos relativos ao dilema do enfermeiro quanto às questões éticas acerca dos

cuidados paliativos.

37

Elaine Fatima Nyakas

O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

4 RESULTADOS

Foi identificado o total de sete artigos de pesquisa de campo considerados de

interesse do estudo, sendo todos utilizados. As idéias centrais foram agrupadas

permitindo o reconhecimento de alguns dilemas vivenciados por enfermeiros que

atuam em cuidados paliativos. Os textos foram agrupados em uma tabela

(APENDICE B) conforme o núcleo de sentido que apresentavam nos artigos, sendo

aproximados à temática da pesquisa. As unidades de significado encontradas

aquelas situações que mais angustiam os enfermeiros, são as concepções de

caráter estritamente humanista como: sensação de impotência, dificuldade em lidar

com a morte, respeito ao limite de reanimação e humanização

4.1 Impotência e Dificuldade em Lidar com a Morte

Nos artigos analisados foi identificado que a grande maioria dos enfermeiros

tem a sensação de impotência e dificuldade em lidar com o paciente frente a morte,

já que eles relatam que não tem respaldo na sua formação acadêmica para lidar

com esses pacientes e com seus familiares que vivenciam o processo de morrer e a

própria morte, o que acaba comprometendo o cuidado de enfermagem

Magalhães et al. (2007, p.89) ressaltam que:

Enquanto os alunos de Graduação em Enfermagem temos nos

deparados com situações de sofrimento, pacientes em estado grave,

morrendo, e o enfermeiro convivendo diariamente com essas

situações estressantes e temos nos perguntado: como o enfermeiro

se sente? Qual o preparo que ele teve para enfrentar esses

desafios?

Com certeza, os profissionais de enfermagem, são os que mais se deparam

com a situação de morte e de pacientes sem condições terapêuticas. No entanto,

essa experiência por si só, não os capacita para lidarem com tal situação, pois

podemos encontrar com freqüência, sentimentos de angústia, medo, fuga do

confronto com a situação e impotência diante da situação (RODRIGUES, 2001).

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Elaine Fatima Nyakas

O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

Na graduação são enfatizados os aspectos técnicos e práticos da

enfermagem. Esse aprendizado acontece no cotidiano profissional e muitos

sentimentos podem não ser reconhecidos.

Esslinger (2004, p.149) sugere que o processo de educação continuada

envolva o conhecimento de algumas habilidades, principalmente a de poder estar

com o paciente, acolhê-lo, ouvi-lo, o que envolve uma mudança de mentalidade: da

morte não mais como inimiga, mas como uma realidade que faz parte da vida.

Fernandes (2007, p.1) esclarece que a escola deve realizar uma análise

crítica a respeito do trabalho que desenvolve, questionar o seu significado para os

sujeitos que está formando e o que está construindo para a comunidade visando o

próprio compromisso com a mesma.

A formação profissional do enfermeiro visa fornecer subsídios para a

educação em saúde. Os cursos de enfermagem são ricos em disciplinas sobre

Fundamentos e Teorias de Enfermagem, formando profissionais para o “cuidar” e

auxiliar o paciente no prolongamento de sua vida, dando ênfase para o manuseio

técnico da doença, sem dar a devida importância ao subjetivo que envolve esse

processo e tendo como objetivo a busca da sua cura; como se a morte, fosse um

tabu, não fizesse parte do ciclo vital da vida.

Os enfermeiros, em sua maioria, apresentam grande desconforto em lidar

com a morte da criança com câncer e fora de possibilidade de cura, pois os

indivíduos durante a infância são vistos pela sociedade como portadores de alegria e

vida, qualidades que se opõem à morte (LOPES; SILVA; ANDRADE, 2007, p.8).

Esta situação potencializa a situação de impotência que os profissionais de

saúde tem diante da morte, já que é uma verdade incontestável, e há a dúvida de

como agir diante dos pacientes, familiares e até mesmo outros profissionais. Devido

grande parte desses profissionais não ter vivenciado essa situação no decorrer da

sua formação acadêmica, onde é enfatizada a valorização da vida, eles não se

sentem aptos a lidar com o paciente e seus familiares e muitas vezes impedindo que

eles manifestem os seus temores, suas dúvidas e angústias, próprias da condição

vivenciada.

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Elaine Fatima Nyakas

O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

Observamos um completo despreparo técnico, psicológico, existencial e

espiritual dos profissionais em abordar o processo de morrer e as necessidades

existenciais/espirituais dos pacientes e familiares. Como podem ir para a prática não

conhecendo nem recebendo treinamento no que constitui o coração dos cuidados

paliativos: Morte e Espiritualidade? (SANTOS, 2009).

Cada vez mais, falamos menos sobre a morte. Assim, não é de estranhar que

a sociedade negue a morte. A morte é a única certeza da nossa vida [...]. Então

porque escamoteá-la? Apesar dos progressos tecnológicos somos mortais.

(BARCHIFONTAINE, 2007, p. 296)

A questão da espiritualidade, no que se refere ao profissional da saúde, está

ligada principalmente à compaixão, ao transcender às máscaras, ao ser você

mesmo, a ser um ser humano cuidando de outro ser humano (SÁ, 2008, p.147).

O enfermeiro, apesar de lidar no seu cotidiano com a morte, ainda se

sensibiliza com este processo, assim, não basta apenas ter o conhecimento técnico,

mas também a formação moral e ética que lhe dê suporte no momento da tomada

de decisão, já que labuta com vidas devendo, portanto, respeitar o princípio da

dignidade humana (VIEIRA, 2007, p.18).

Avancini et al (2009, p.713) ressaltam que:

Geralmente, torna-se inevitável no cuidado ao outro, seja ele

criança ou idoso, não direcionar um sentimento, pois somos

humanos, e sendo assim refletimos nossos próprios sentimentos

naquele ser cuidado, como aqueles que amamos.

Esslinger (2003) citado por Pessini e Barchifontaine (2004, p.159) avalia os

cursos de profissionais de saúde como carentes de disciplinas sobre os temas

morte, luto e o morrer, porque devemos lembrar que educar para a morte é educar

para a vida.

Pessini e Barchifontaine (2010, p.378) refletem em seu discurso sobre a

formação dos profissionais de saúde de como lidar com a morte relatando que não

existe nada expressivo nos currículos que prepare os enfermeiros para lidar com os

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Elaine Fatima Nyakas

O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

pacientes terminais, levando os pacientes nesta fase crítica a uma desumanização

terrível. Em países desenvolvidos existe o estudo da Tanatologia na faculdade e nos

hospitais existem pessoas com formação para atender esses pacientes.

O enfermeiro é o profissional que acompanha o paciente terminal, mantendo-

o limpo, confortável e sem dor. Portanto, este profissional deve ser melhor

preparado para lidar com a morte e dar apoio à família que muitas vezes o procura

neste momento. Em sua formação há pouca ênfase em questões ligadas à emoção.

A enfermeira que está próxima nos momentos mais difíceis, é quem o paciente

busca para conversar sobre seus temores ou quando está morrendo (KOVÁCS,

2008, p.237).

Pitta esclarece que:

O homem moderno pelo horror de adoecer e de sua própria morte, necessita do saber e da técnica como refúgio para seu medo e precariedade. Outros homens vendem a sua força de trabalho administrando tais incômodos, construindo histórica e socialmente um processo de trabalho onde o poder e a técnica se encarregam de diluir o impacto e o sentimento de impotência desconcertante. A dificuldade atual de lidar com a morte é de tal ordem que ela não chega sem comprometer, em alguma medida, a dignidade do doente, pobre coisa eriçada de tubos que não conseguiu resistir’, a sensibilidade de uma família destroçada pela espera e a desmoralização de enfermeiros e médicos que não encontram durante a espera uma fórmula mágica de reverter a trajetória. E concluem interrogando se uma melhor formação psicossociológica permitiria ao pessoal do hospital domesticar a morte (PITTA. 1999, p.25,30).

Horta (2002, p.15) esclarece que a capacitação dos profissionais de

enfermagem frente à morte e ao processo de morrer pode ajudar na elaboração das

perdas pessoais e colaborando na qualidade da assistência prestada.

Silva et al. (2010, p.415) descrevem que:

A condição de terminalidade do paciente e a decisão de não

introduzir medidas de suporte à vida geram dilemas para o

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Elaine Fatima Nyakas

O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

enfermeiro que observa a ação, porém não pode tomar qualquer

medida de contraposição.

Trabalhar com o sofrimento ou a perda de significado da existência pelo

paciente pode despertar no profissional as mesmas vivências, ferindo o seu

narcisismo e a sua onipotência, colocando-o diante do incompleto e do não

terminado (KOVÁCS, 2008, p.242).

Todos nós, desde a infância, nos defrontamos com os sentimentos de

onipotência/impotência e sensações de triunfo/fracasso, controle/perda de controle

na imaginação e na realidade [...] As experiências vividas e o registro emocional de

tudo isso interagem com fatores genéticos e constitucionais e vão estruturando

nosso modo de ser, nossa autonomia, nosso grau de idealização, auto-exigência e

perfeccionismo, na maneira benevolente ou cruel com que tratamos os outros e a

nós mesmos (MALDONADO; CANELLA, 2003, p.32).

Como profissionais da saúde conseguimos estar ao lado do paciente e ao

exercitar a troca de lugar com o outro teremos uma vivência completamente

diferente e auxiliá-lo a descobrir seu próprio caminho e auxiliá-lo em seus anseios.

Estaremos aptos a quebrar a postura rígida que adquirimos na nossa formação

acadêmica, já que o envolvimento com o paciente era proibitivo, que acaba nos

tornando mais distantes. Há necessidade de envolvimento com o paciente para que

haja o sentimento de confiança no profissional

As questões que mais nos afligem é quando o paciente nos questiona: Por

que eu? O que eu fiz para merecer isso? Quanto tempo tenho de vida? Sentimo-nos

impotentes porque temos o sentimento que deveríamos saber todas essas

respostas, e muitas vezes não as temos e podemos sentir o quanto somos

vulneráveis. Muitos pacientes nesse momento apegam-se à vida pelo fato de terem

assuntos pendentes, como medos e culpa.

Fischer e Silva (2003, p.30) descrevem que:

A reação emocional focalizada com maior ênfase pelos enfermeiros é

a sensação de impotência diante da morte, pois apesar de ter sido

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O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

preparados tecnicamente e adquirir conhecimentos científicos, precisa

conviver com a verdade de que não pode impedir a morte de um

paciente fora de possibilidades terapêuticas.

Pierre (1998, p.46) recorda-nos que o grande cientista Einstein, disse há tanto

tempo atrás que, tudo no Universo faz parte de um todo, de uma grande

engrenagem, e é, no mínimo, pouco científico pensarmos que aquele que está

afetado à nossa frente não nos afeta.

Sá (2003, p.37-38) faz uma refexão de como lidar com a impotência, quando

a morte chega:

Tente encarar a morte como um processo natural; ela é inevitável e não deve ser encarada como um fracasso seu. Reflita sobre suas crenças: se ela é o fim ou se ela é o começo de uma nova experiência. Independentemente da direção que escolher pense que, naquele momento, o indivíduo que esta passando pelo processo de morrer necessita de apoio para encará-la.

A morte é uma palavra temida e quase impronunciável em nosso vocabulário,

pois ela traz à tona sentimentos e atitudes diversas; é um assunto polêmico,

inaceitável e muitas vezes evitado, como se pudéssemos vencê-la, e por isso

falamos muito mais da vida do que da morte; não devemos pensar nela somente

quando bate à nossa porta, pois ela está sempre presente ao longo de toda a nossa

vida. Por outro lado, parece estar ausente enquanto vivemos plenamente, é uma

sensação de proximidade e distanciamento. Como outros fenômenos da vida social,

o processo do morrer pode ser vivido de distintas formas.

Porque é tão difícil falarmos da morte? Dentro de nossas casas temos contato

com a morte todos os dias através dos meios de comunicação, apresentada muitas

vezes de forma escancarada e imprudente, o que faz aumentar as estatísticas

oficiais todos os dias. Essa morte massiva e anônima que nos é apresentada é mais

fácil de lidar, pois é mais fácil aceitar a morte dos outros

Gallian e Reginato (2009, p.117) descrevem que o homem é frágil e

dependente durante boa parte de sua existência como nenhum outro animal, e que a

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O enfermeiro e os cuidados paliativos:

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doença é um acontecimento que, em maior ou menor intensidade, recorda sua

debilidade.

Pierre (1998, p.46) diz:

Todos nós, que lidamos de algum modo com doentes crônicos ou terminais, deveríamos ter preparo e acompanhamento psicológico, pois desde o momento da descoberta da doença, a comunicação formal ao doente até o ato de morrer, tudo nos mobiliza profundamente e não podemos deixar de perceber que são sentimentos e sensações relevantes.

Para que haja luto Horta (2002, p.15) esclarece que deve ter ocorrido vínculo,

devemos compreender o significado desse evento e como isso interfere em suas

atividades.

Historicamente, as atitudes perante a morte foram passadas de uma

aceitação espontânea, sendo a ela incorporada como um fato natural, esperado e

superado, para atitudes que a consideram um tabu, interdita e vergonhosa. Os

avanços tecnológicos contribuíram para a estigmatização da morte (SILVA, 2009,

p.111).

Mesmo o enfermeiro sabendo que seu compromisso é a vida, o lidar com a

morte torna-se bastante árduo porque também não conseguimos lidar com nossa

própria finitude. O Ser humano não se resigna bem com sua finitude, tornando-se

assim complicado lidar com o processo de morrer “do outro”, sendo a morte

vivenciada como absurda e sem sentido. Trabalhar em um ambiente onde a

presença da morte é certa é desafiador para o enfermeiro.

Kovács (2008, p.235) em seu discurso relata que:

A diferença básica entre pessoas em geral e os profissionais da área da saúde, médicos, enfermeiras e psicólogos, é que na vida destes, a morte faz parte do cotidiano e pode se tornar sua companheira de trabalho diária. Toda doença é uma ameaça à vida e, portanto, pode aparecer como um aceno à morte.

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Elaine Fatima Nyakas

O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

A morte é ainda muito estigmatizada em nossa sociedade. Dificuldades

profissionais, pessoais e religiosas acabam interferindo na assistência prestada, pois

fazem florescer sentimentos como frustração, impotência e incapacidade. Não

podemos esquecer que existe um limite para as intervenções e quando são

cessadas não significa que o paciente foi abandonado.

O autoconhecimento é um processo importante a ser explorado para que se

possa melhor lidar com esses sentimentos.

Pierre (1998, p.45) faz uma ressalva importante a respeito dos profissionais

de saúde:

Desse modo poderemos elaborar internamente e nos posicionar diante da vida, encarando com realidade e serenidade a própria finitude e limitações, assim como a de nossos doentes, diante das doenças e portanto, compreender, entrando no lugar deles, quando se mostrarem assustados e com dor.

A morte, na verdade, traz uma angústia profissional que pode nos distanciar

do paciente. No nosso trajeto do nascimento até a morte passam-se muitos anos e a

dificuldade em lidar com esse processo continua na enfermagem. O que é

necessário para o profissional saber lidar com a morte?

Vivemos em uma sociedade que nega a morte. Assim, a sociedade de

consumo proclama a morte: para saber viver bem, esqueça que você deve morrer. A

morte é a única certeza da nossa vida, ela faz parte da nossa vida. Então porque

escamoteá-la? Apesar dos progressos tecnocientíficos, somos mortais.

(BARCHIFONTAINE; PESSINI, 2001, p.284-296).

Há muitas razões para se fugir de encarar a morte, e uma das mais

importantes é que, hoje em dia, morrer é triste sob vários aspectos, sobretudo é

solitário, mecânico e desumano. É solitário porque o paciente não morre mais em

seu ambiente familiar na presença de sua família (KUBLER-ROSS, 2005, p.11-12).

Esslinger (2003) citado por Pessini e Barchifontaine (2004. p.162) descreve

que os profissionais de saúde devem ser acolhidos, para acolherem, pois a relação

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Elaine Fatima Nyakas

O enfermeiro e os cuidados paliativos:

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paciente-família-equipe de saúde no contexto da terminalidade não é simples. Lidar

com situações que nos levam ao limite entre a vida e a morte nos faz repensar nos

aspectos éticos, sociais, econômicos, políticos, religiosos e psicológicos.

Devemos estar atentos para não sermos mecanicistas em nossas ações e

passar essa postura ao paciente e familiares como: eu sou o enfermeiro e você é o

paciente, portanto, eu tenho o conhecimento técnico e o domínio da situação,

portanto, seja bonzinho e não faça questionamentos. Há muitas razões

inconscientes para tal comportamento.

Vieira (2007, p.57) em seu texto relata que para que essas transformações

ocorram os profissionais de saúde necessitam retomar nas suas práticas a

solidariedade, pois este é um valor coletivo que envolve afeto, emoções e sobretudo,

ter o desejo de construir e por em prática os direitos e deveres de todos.

4.2 Respeito ao Limite de Reanimação

Por meio da análise dos artigos encontrados pode-se observar que na

temática central em torno do respeito ao limite de reanimação, temos o princípio da

beneficência, que traz a preocupação com o bem-estar do outro, devendo ser levado

em conta os seus desejos, suas crenças e valores morais, assim como as

necessidades e os direitos do paciente. Os artigos revelam que os enfermeiros

sentem-se angustiados por ter que realizar ações, que em seu julgamento, não

trazem benefícios ao paciente, o que é gerador de conflitos éticos entre eles.

Diante de uma realidade tão conflitiva, com muita dissensão e pouca

concordância. É possível encontrar uma perspectiva de trabalho que crie pelo

menos um consenso mínimo? (PELLEGRINO, 2001, p.163).

Temos que reforçar o dever de priorizar o ser humano frente às pesquisas

científicas e os avanços tecnológicos, verificados de forma acentuada no decorrer do

último século, sendo que estes não podem ser utilizados contra o próprio ser

humano, por exemplo como manipulações genéticas. O cuidar sempre será o foco e

torna-se imprescindível nesse momento da vida.

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Elaine Fatima Nyakas

O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

Pessini (2001c, p.330) define distanásia como sendo uma ação, intervenção

ou um procedimento médico que não atinge o objetivo de beneficiar a pessoa em

fase terminal e que prolonga inútil e sofridamente o processo de morrer, procurando

distanciar a morte.

Rodrigues e Zago descrevem que:

Os cuidados paliativos fazem parte da assistência de enfermagem e os pacientes em fase terminal requerem do enfermeiros conhecimentos específicos sobre: manejo da dor, administração de analgésicos, sintomas clínicos comuns da fase final de muitas doenças, comunicação com o paciente, além da habilidade do trabalho em equipe, leitura e estudo de artigos e livros sobre o assunto e ainda reflexão sobre o significado da morte e da terminalidade. (2003, p.89-92).

O respeito à vida, incluindo a promoção da qualidade de vida, suscita a

questão da beneficência.

Durand (2007, p.162) define beneficência como:

A etimologia indica (bene-facere), refere-se à ação a ser feita. Ela

comporta dois fatores: não fazer o mal ao próximo ou, melhor,

positivamente, fazer- lhe o bem. No campo da saúde, esses dois

aspectos podem ser traduzidos do seguinte modo:não usar a arte

médica par causar males, injustiças, ou para prejudicar

Pellegrino (2001, p.164) refere que:

O benefício diz respeito ao que o paciente ou seu representante

percebem como sendo de valor. Esta é uma determinação subjetiva

do paciente, e não se situa no âmbito do médico. O benefício centra-

se na avaliação do paciente sobre seu próprio bem – seus objetivos e

valores no tratamento que está sendo aplicado.

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O enfermeiro e os cuidados paliativos:

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Além do benefício, Pellegrino (2001, p.164) enfatiza que devemos considerar

a eficácia e a onerosidade do tratamento, como um guia de prudência no processo

decisório do tratamento fútil. A eficácia está ligada na intervenção do tratamento.

Onde surge a pergunta: O tratamento faz diferença em termos de morbidade,

mortalidade ou função? Já a onerosidade se refere aos custos do tratamento, tanto

físicos como emocionais, econômicos e sociais. Quando a avaliação destes três

elementos é favorável ao bem do paciente, então o tratamento é moralmente

justificável.

Assim a distanásia tornou-se um problema ético, pois passou a interferir

diretamente no desejo do paciente e da família. A visão que se tem é a de fazer tudo

a todo custo, de manter a vida na qual a morte já esta instalada. Nessa situação,

parar, ouvir, olhar e interpretar gestos é o que qualifica a assistência ao cuidado. A

morte digna é um direito do Ser Humano.

Chaves e Massarollo (2009, p.34) descrevem que:

Os discursos dos enfermeiros revelaram que algumas vezes os

médicos realizam medidas que podem postergar o sofrimento e não

trazem benefícios à condição clínica dos pacientes, constatando assim

a obstinação terapêutica.

Moller (2007, p.17) esclarece que:

O temor de que as novas tecnologias não fossem utilizadas em benefício do homem e da humanidade, mas para a promoção e o aumento do poder de alguns, trouxe a percepção da necessidade de impor-se alguns limites ao desenvolvimento tecnológico e às realizações das ciências.

A distanásia e seus significados para a equipe de enfermagem foram

incluídos nessa unidade temática já que a conduta de preservar e prolongar a vida

constitui-se em um “benefício” ou “malefício” para o paciente.

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O enfermeiro e os cuidados paliativos:

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Não há beneficência sem autonomia, já que o benefício é sempre

necessariamente definido por uma pessoa autônoma. O que para um pode ser

benéfico para outro pode não sê-lo (GRACIA, 2010, p.362).

A questão de fundo é definir quando uma determinada intervenção médica

não mais beneficia o doente em estado crítico, terminal, em estado vegetativo

persistente, ou o neonato concebido com seríssimas deficiências congênitas, e

torna-se, portanto, fútil e inútil. A insistência em implementá-la vai resultar numa

situação que caracterizamos como distanásica (PELLEGRINO, 2001, p.163).

Santana et al. (2009, p.85) descrevem que:

Os fatores que influenciam a tomada de decisão em momentos

complicados para a resolução de dilemas éticos relacionados à

reanimação são: o esclarecimento da família e do paciente, a postura

coerente dos profissionais de saúde envolvidos e ainda a observação

dos princípios bioéticos.

O conceito de paciente terminal é historicamente relacionado com o século

XX, por causa da alteração das trajetórias das doenças que em outras épocas eram

fulminantes. Hoje temos a cronificação das doenças, muitas doenças não tem cura,

mas em muitos casos tem pacientes que vivem anos. O rótulo de “paciente terminal”,

por muitas vezes, é utilizado erroneamente (KOVÁCS, 1998, p.63).

Os profissionais da enfermagem que incluem o exercício da bioética na

prática diária buscam respostas em suas reflexões, uma vez que não lhes interessa

o conhecimento fragmentado na sua relação com o paciente/cliente (VIEIRA, 2007,

p.18).

Os enfermeiros identificam uma gama de questionamentos éticos, morais,

legais e econômicos, sendo apontadas situações de investimento de recursos

técnicos em pacientes com quadro clínico que não apresenta condições de

recuperação, o que caracteriza essa conduta uma forma de desrespeito à sua

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Elaine Fatima Nyakas

O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

dignidade como pessoa, resultado do emprego exagerado de tais medidas. Essa

prática conhecida no âmbito da saúde como “obstinação terapêutica”.

O termo Dignidade Humana é o reconhecimento de um valor. É um

princípio moral baseado na finalidade do ser humano e não na sua

utilização como um meio. Isso quer dizer que a Dignidade Humana

estaria baseada na própria natureza da espécie humana a qual inclui,

normalmente, manifestações de racionalidade, de liberdade e de

finalidade em si, que fazem do ser humano um ente em permanente

desenvolvimento na procura da realização de si próprio.

(BARCHIFONTAINE, 2007, p. 78).

Todos conhecem o adágio popular que diz que “o fim justifica os meios”. Esse

adágio geralmente é criticado na ética e substituído pela seguinte máxima: o fim não

justifica os meios. Por exemplo, não se promove a vida ao suprimir uma vida

(DURAND, 2007, p.165).

Não podemos deixar de citar que tivemos evidentes benefícios com este

avanço tecnológico, permitindo assim o aumento da vida média da população, mas

deve-se ter uma limitação nos tratamentos de suporte vital, sempre com o

envolvimento da família e/ou paciente nas tomadas de decisão.

Os aparelhos, cada vez mais complexos e sofisticados, decorrentes de um

progresso tecnológico, permitem acesso a espaços no corpo até então impensáveis.

Esse progresso promoveu uma formação de especialistas, em que o Homem deixou

de ser visto holisticamente para ser observado por partes ou órgãos. Cada

profissional cuida de uma parte, sendo o todo por muitas vezes esquecido

(GALLIAN; REGINATO, 2009, p.121).

Barchifontaine (2007, p.163) esclarecem que mesmo sendo a tecnologia a

expressão da ciência aplicada, devemos assinalar que nenhuma máquina ou

procedimento técnico é capaz de substituir o diálogo entre duas pessoas.

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Elaine Fatima Nyakas

O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

Nem tudo o que é tecnicamente possível é eticamente correto, e a luta pela

vida deve levar em conta alguns limites racionais e humanos, para além dos quais

se compromete a dignidade humana (PESSINI, 2001a, p.151).

A propósito, muitos autores afirmam ser o enfermeiro um mestre da

criatividade, inclusive na capacidade de interligar tecnologia e humanização,

favorecendo o calor humano nas relações com a clientela, levando a melhoria da

assistência de enfermagem prestada (GIORDANI, 2008, p.26).

Fischer e Silva (2003, p.25) descrevem que:

Existe uma necessidade real de que o enfermeiro receba também

apoio psicológico que o ajude a compreender suas reações

emocionais e amadurecer a assistência de enfermagem aos pacientes

fora de possibilidades terapêuticas.

O termo distanásia é pouco conhecido, ao contrário do que acontece com seu

antônimo, eutanásia, que a todo o momento ganha a manchete dos noticiários, mas

é, sem dúvida, muito menos praticada do que a distanásia em nossos hospitais. O

dicionário Aurélio (FERREIRA, 1999) define distanásia como “morte lenta, ansiosa e

com muito sofrimento”. É um tratamento fútil e inútil que prolonga a agonia, o

sofrimento e adia a morte, prolongando assim o processo de morrer (PESSINI, 2006,

p.115).

Do ponto de vista moral, a eutanásia é totalmente condenável, mas devemos

ressaltar que a distanásia também é condenável já que ambas desviam a morte de

seu curso natural. Entre as duas temos a ortotanásia. Nesta linha de pensamento,

situam-se os cuidados paliativos ou medicina paliativa (SOARES; MOSER, 2006,

p.146-147).

Muitos desconhecem a existência do significado da distanásia, cuja prática é

muito comum nos hospitais de hoje, quando não se deixa a pessoa morrer em paz e

com dignidade. Não devemos confundir com omissão de socorro (PESSINI, 2006,

p.116)

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Elaine Fatima Nyakas

O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

Fischer e Silva (2003, p.26) relatam que:

Quando os esforços para prolongar a vida fracassam, ou quando nenhum tipo de esforço é viável, os profissionais de saúde usualmente perdem o interesse, “saem de cena” e, dependendo das circunstâncias, o paciente é deixado só.

Menezes (2004a, p.37) enfatiza que o ideal é que o indivíduo que está

morrendo tenha controle do processo de morrer, realizando escolhas a partir de

informações sobre as técnicas médicas e espirituais que considerar adequadas.

Chaves e Massarollo (2009, p.34) relatam que:

A proximidade com a dor e o sofrimento parecem provocar nos

enfermeiros uma empatia importante para o vínculo terapêutico, o que

proporciona uma melhor assistência de enfermagem, mas ao mesmo

tempo um desgaste emocional íntimo ligado à dificuldade no lidar com

a terminalidade.

Em suma, deve-se promover o bem estar físico, emocional e espiritual do

paciente e seus familiares, buscando assim, uma melhor qualidade de vida.

Santana et al. (2009, p.84) relatam que:

A não possibilidade de cura de um paciente rompe com os limites

terapêuticos, mas de forma alguma com as possibilidades de cura e

proporcionar dignidade e respeito aos limites de quem não quer viver

sofrendo.

Selli (2005, p.84) relata que a nossa sociedade tem grande preocupação com

a eutanásia, mas pouco se questiona sobre as pessoas que são mantidas nas

instituições em longos processos de distanásia.

Tal como a eutanásia, a distanásia é irracional e eticamente reprovável, pois

criar situações que prolonguem quantitativamente a vida do paciente, à custa de

obstinação terapêutica, é inaceitável. É necessário ter prudência em avaliar o que é

proporcional e o que é desproporcional numa situação de dor e sofrimento

(SOARES; MOSER, 2006, p.149).

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Elaine Fatima Nyakas

O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

Cabe à enfermagem promover e priorizar o conforto do paciente, diminuindo o

seu sofrimento que, por muitas vezes, não é físico e sim emocional, assegurando-

lhe uma morte digna, com acompanhamento de seus familiares. Suas necessidades

não mudaram através dos tempos, talvez a nossa aptidão em satisfazê-las. Embora

não seja função do enfermeiro, a decisão de interromper ou mudar as condutas no

tratamento dos pacientes, ele deve ser inserido nas discussões, pois é o profissional

que permanece mais tempo com os pacientes em cuidado contínuo.

Kubler-Ross (2005, p.173) relata que ela acha cruel exigir a presença

constante de um membro da família o tempo todo ao lado do paciente, pois como

renovamos o ar dos pulmões, as pessoas tem de “recarregar suas baterias”. A

doença não pode desequilibrar toda a família, porque devemos nos adaptar e fazer a

transformação gradativa, preparando-se para quando o paciente não estiver mais

presente

No início do século XX se promoveu uma reformulação ampla nos hospitais e,

consequentemente, na assistência aos pacientes, deixando de ser uma “casa de

espera de morte” para transformar-se em centros de tratamento e recuperação

(GALLIAN; REGINATO, 2009, p.121).

Hoje temos um grande avanço na medicina o que permite a cura de várias

doenças e o prolongamento da vida a todo custo, o que é um dos maiores temores

do Ser Humano: ter a sua vida mantida à custa de muito sofrimento e morrer na

solidão de um quarto, apenas na companhia de tubos e máquinas. Os tratamentos

propostos devem visar à qualidade de vida e o bem estar dessa pessoa, mesmo

quando a cura não é possível, mas frente a essa impossibilidade, nem sempre

prolongar a vida é o melhor a ser feito por essa pessoa.

Neste cenário de vida e morte temos vários personagens envolvidos:

pacientes, familiares, os profissionais de saúde e a própria instituição. A equipe de

saúde baseada no princípio da beneficência, de fazer o bem e evitar o sofrimento,

justifica suas atitudes com a premissa de que sabe o que é melhor para o paciente,

comportando-se como detentores do saber.

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Elaine Fatima Nyakas

O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

[...] Quando se fala no direito do paciente terminal a morrer com dignidade e autonomia, está – se falando de um direito realmente reconhecido juridicamente: reconhecido tanto na categoria dos direitos fundamentais conforme expressa na nossa Constituição Federal de 1988, como na categoria dos direitos humanos, positivados ou não (MOLLER, 2007, p.19).

4.3 Humanização

Quando não existe mais a possibilidade de cura, o foco da atenção ao

paciente é a busca pela qualidade de vida, que é alcançada através do conforto e da

humanização na assistência prestada a esse paciente.

Giordani (2008, p.26) ressalta que no universo da Saúde a palavra humanizar

parece uma redundância, mas seu sentido esta ligado à vários aspectos, como

acolhimento, afabilidade, benevolência, dignidade, civilidade, respeito pelo outro,

atendimento e tratamento igual para todos.

A ética é um pressuposto básico para o sucesso na implementação de

humanização na assistência. Humanizar é assegurar e garantir o respeito à ética

nas relações interpessoais, além de outras abrangências (MEZZOMO, 2003,p.39).

A consciência de dignidade humana estimula a prática da humanização e se

constitui num pressuposto indispensável à Humanização (MEZZOMO, 2003, p.131).

Humanizar o cuidar é dar qualidade à relação profissional da saúde-paciente;

é acolher as angústias do ser humano diante da fragilidade de corpo, mente e

espírito. Destaca-se nesse contexto o profissional que tenha habilidade humana e

científica e que seja sensível à situação do outro (PESSINI; BERTACHINI, 2004,

p.4).

Humanizar é essencialmente dar atendimento humano, que é tratar a pessoa,

com respeito, dignidade, carinho atenção e, se possível, com amor. Humanizar a

assistência ao doente requer: aprimorar as relações humanas em todas as

dimensões (MEZZOMO, 2003, p.58).

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Elaine Fatima Nyakas

O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

A enfermagem tem um importante papel na humanização, já que constitui o

maior contingente da força de trabalho em cuidados da saúde, ocupando os mais

diversos cargos, exercendo diversas funções e responsabilidades, e tendem a

adquirir uma visão ampla da pessoa, isto é, não focada apenas em sinais e

sintomas. Nesse sentido valorizam-se mais a subjetividade e as experiências de vida

do cliente.

Não aceitar a visão holística do ser humano é andar na contramão do saber

humano. A visão holística não abrange apenas a relação pessoa e meio ambiente e,

sim, o ser humano em sua múltipla realidade, biopsicossocial e espiritual

(MEZZOMO, 2003, p.45).

Denominamos humanização o resgate desse relacionamento no qual o

profissional de saúde se posiciona na sua integridade, munido do conhecimento

atualizado. O processo de humanização não pode ocorrer sem que haja a

integridade (do profissional) e pessoalidade (do paciente). A integridade do

profissional não é uma postura estagnada, mas um processo interativo na busca do

crescimento pessoal. Outro aspecto importante é a pessoalidade do paciente, onde

se deve entender o paciente na sua totalidade integrada e harmonizada e afastar a

visão fragmentada, que usa critérios baseados na doença e não no paciente.

Procede daí a utilização do termo humanização, ou seja, assistir o ser humano no

seu todo, conforme sua personalidade (GALLIAN; REGINATO 2009, p 127-128).

Porém não só médicos e enfermeiros, mas todas as categorias profissionais de saúde, quando orientadas dentro de uma linha de cuidado integral, aprendem a conhecer melhor o assistido e tendem a adquirir uma visão ampla da pessoa, isto é, não focada apenas em sinais e sintomas. Nesse sentido valorizam-se mais a subjetividade e as experiências de vida do cliente. (GIORDANI, 2008, p.75).

Com a rápida evolução dos avanços tecnológicos a assistência ficou centrada

na cura, e a promoção e prevenção à saúde ficaram em segundo plano. Essa

inovação fez com que o morrer no ambiente domiciliar tenha sido deslocado para o

ambiente hospitalar.

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O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

Enxergar as angústias e ansiedades da família faz parte de um atendimento

de qualidade, humanizado, portanto, os profissionais de saúde devem saber

conduzir situações de estresse e sofrimento (GIORDANI, 2008, p.42).

A simples presença à beira do leito da pessoa em tratamento é um gesto

simples de carinho que pode fazer a diferença, e nesse momento devemos ter o

compromisso com a ética e com o respeito. Muitas vezes os familiares tem

dificuldades operacionais impostas pela própria instituição ou pelos profissionais da

saúde, de estar ao lado do seu familiar enfermo. A família deve ser valorizada nesse

momento e não ser considerada como alguém que “incomoda” quando faz

perguntas a respeito do tratamento do paciente.

Os horários de visitas destinados a um paciente grave e/ou terminal deve ser

flexível e não somente quando ele estiver em seu estágio final, onde ele já não

reconhece mais ninguém, muitas vezes encontra-se inconsciente ou até mesmo

sedado, pois devemos permitir a despedida do paciente e não somente da família.

Pessini (2010, p.32) enfatiza que diante, desse cenário gerador de sofrimento,

podemos implementar uma política de assistência e cuidado que honrem a

dignidade do ser humano doente.

Se os profissionais de saúde tiverem o conhecimento sobre as fases do

morrer e a inspiração em percebê-las no paciente terminal e em sua família, torna-se

um instrumento valioso no processo de humanização. Desenvolvendo suas ações

de forma integral, particularizada, humanizada e principalmente compartilhada,

proporcionando uma situação familiar e cultural única, sentindo-se acolhido e

cuidado no processo de enfrentamento da morte.

Santana et al. (2009, p.79) descrevem que:

Grande parte dos profissionais de saúde que trabalham com pacientes

terminais enfrentam desafios para tentar promover uma assistência de

qualidade, sem se esquecer do lado humano do cuidar.

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O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

Quando mencionamos uma “prática humanizada” para a assistência, a

primeira impressão que temos é de que estamos reforçando o óbvio de modo

desnecessário.

Para que o cuidado se dê da forma mais completa possível e adequada, a

cada paciente terminal é necessário buscar-se conhecer melhor a dor e o sofrimento

por que passam, bem como identificar os estados psicológicos que se encontram

(MOLLER, 2007, p.65).

Os cinco estágios da morte segundo Kubler-Ross (2005), devem ser vividos

da forma mais harmônica e digna possível, experenciando seus estágios que são:

negação, raiva, barganha, depressão e aceitação; que não se sucedem

necessariamente nessa ordem e nem é obrigatório que passe por todas elas.

Kubler-Ross entendia que esses sentimentos podem ser expressos de

diferentes formas e por várias pessoas envolvidas no processo da morte (pacientes,

familiares e profissionais) (SANTOS, 2009).

A equipe deve estar atenta ao reconhecimento das fases pelas quais passam

o paciente e família, descritas por Kubler-Ross (2005, p.43-117):

- Negação: Constitui uma defesa temporária “Não, eu não, não pode ser

verdade”, acham que seus exames foram trocados, procuram outros médicos para

confirmar a suspeita, sempre na esperança de que haja ocorrido um erro.

- Raiva e cólera: Sentimento de revolta, inveja e ressentimento Surge a

pergunta “Por que eu?” “Não, não é verdade, isso não, isso não pode acontecer

comigo!”; esta raiva propaga-se em todas as direções e projeta-se no ambiente,

muitas vezes sem razão plausível.

- Barganha: A barganha, na realidade, é uma tentativa de adiamento; tem de

incluir um prêmio oferecido “por bom comportamento”. Psicologicamente, as

promessas podem estar associadas a uma culpa recôndita.

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O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

- Depressão: Há alguns pacientes que lutam até o fim, que se debatem e se

agarram à esperança. Chega um dia em que dizem: “Não posso mais resistir .”

“Quando deixam de lutar a luta acaba”.

- Aceitação: Há alguns pacientes que lutam até o fim, que se debatem e se

agarram à esperança. Chega um dia em que dizem : “Não posso mais resistir.”

“Quando deixam de lutar a luta acaba. Em outras palavras, quanto mais se debatem

para driblar a morte inevitável, mais difícil será alcançar esse estágio com paz e

dignidade.

Magalhães et al. (2007, p.90) descrevem que em:

Todos esses estágios são mecanismos para enfrentar as

situações difíceis, estando presente em todos eles a esperança

de uma possibilidade de cura, a descoberta de um novo

produto,um êxito em uma nova pesquisa ou mesmo um milagre.

Humanizar é, basicamente, valorizar o ser humano, resgatar o respeito à vida

desgastada diante do processo tecnológico da Medicina e da desvalorização dos

aspectos objetivos e subjetivos que integram o universo individual e social do

indivíduo assistido. É, em suma, valorizar mais a pessoa que necessita de cuidados

e menos a doença (GIORDANI, 2008, p.176).

Com o crescimento de um novo paradigma de assistência, onde a

humanização tem um lugar de destaque, espera-se que este sofrimento seja cada

vez mais atenuado, bem como também que os aspectos técnicos do tratamento que

vêm contribuindo para a qualidade de vida (LOPES; SILVA; ANDRADE, 2007, p.7).

Temos uma gama variada de vontades do paciente e/ou familiares que

podem ser atendidas nesse momento. Mesmo que ele esteja próximo do processo

de morrer, ele ainda está vivo. O resgate desse desejo favorece uma significação da

vida e muitas vezes podem ser realizadas sem dificuldade (KOVÁCS, 1998, p.62).

Cuidados paliativos buscam promover a humanização no momento final da vida,

proporcionando o morrer com dignidade, tendo o foco primordial o respeito à vida.

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O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

Santana et al. (2009, p.85) descreve que:

Cuidar de pacientes terminais exige muito mais do que conhecimentos

técnico – científicos, requer a compreensão a fundo de sua

individualidade, a partir de um relacionamento interpessoal de

valorização da pessoa humana contribuindo, conseqüentemente, com

o processo de humanização dos cuidados paliativos.

Os mesmos autores ainda ressaltam que:

Nesse sentido, é cabível destacar que os profissionais de enfermagem

evidenciam a valorização dos cuidados paliativos e a concordância de

que os pacientes terminais devem permanecer junto à família

recebendo tratamento adequado e conforto. Santana et al (2009,

p.84)

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Elaine Fatima Nyakas

O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

5 CONCLUSÃO

Diante das discussões apresentadas nos artigos e das exposições das idéias

relatadas pelos enfermeiros frente ao paciente em cuidados paliativos, percebemos

que o enfermeiro relata com freqüência a sua angústia e sofrimento diante da

impotência e a dificuldade em lidar com a morte.

Tomando como base os pontos relevantes nos artigos pesquisados,

observou-se a relevância que é dada à abordagem humanística, pautada na

valorização da vida, e na importância do entendimento da morte como condição

natural, o caráter multidisciplinar do atendimento a estes pacientes, a fim de

exercitarmos o olhar holístico no tratamento deles.

A impotência e a dificuldade de lidar diante da morte são situações que

angustiam os enfermeiros que vivenciam os cuidados paliativos. Esta análise nos

leva a sugerir que os cursos de enfermagem devam ter no seu currículo o preparo

dos profissionais em lidar com a morte e também encontrar um suporte adequado

para a valorização do Ser humano nas suas dimensões física, psicológica, social e

espiritual, proporcionando uma assistência com qualidade já que existe uma lacuna

evidente entre a formação do profissional e o suporte que este enfermeiro recebe no

seu dia a dia.

O respeito ao limite da reanimação é uma questão que deve ser discutida na

sua formação, de preferência em situações práticas e de estágios, visando que o

enfermeiro alie a competência técnica com a sensibilidade humana.

Devemos ter uma relação mais horizontal com o paciente e a família

favorecendo assim a autonomia e a humanização, com a participação de ambos no

momento das decisões.

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O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo teve como proposta a identificação das questões éticas

vivenciadas pelo enfermeiro diante dos cuidados paliativos.

A análise dos artigos, selecionados de acordo com a metodologia proposta e

a leitura dos trabalhos na área da Enfermagem, permitiram ampliar a discussão

sobre o tema. Após as reflexões apresentadas para responder ao objetivo deste

trabalho, tenho a proposta de continuá-lo.

Percebe-se claramente que é muito pequena a produção de artigos que

abordam questões éticas em cuidados paliativos e terminalidade e que ainda hoje

esse é um assunto que os profissionais da equipe multidisciplinar vivenciam

diariamente, mas vários desses dilemas e conflitos ainda são tabus, e desta forma

pouco discutidos e publicados em nossos periódicos.

Com esse trabalho percebi a importância em realizar trabalhos voltados aos

cuidados paliativos e terminalidade, pois só assim muitos desses conflitos podem

ser enfrentados pela equipe com mais facilidade

Podemos questionar a abrangência do Ser Enfermeiro no que diz respeito aos

valores éticos que norteiam e dão sentido à nossa atividade profissional. É bem

verdade que ainda lutamos por coisas muito básicas em termos de vida digna e

saudável, permitindo aos pacientes a melhor qualidade de vida possível,

proporcionando o alívio dos sintomas e do sofrimento.

O cuidado paliativo tem como objetivo o cuidado do paciente fora de

possibilidade terapêutica, onde já não existe mais possibilidade de cura, assim o

cuidar torna-se imprescindível. Sendo a Enfermagem a arte do cuidar, ela está

intrínsecamente ligada aos Cuidados Paliativos.

Cuidar de pacientes terminais exige muito mais do que somente

conhecimentos técnico-científicos e sim o respeito a sua individualidade, onde

construímos a valorização da pessoa humana, através do relacionamento

interpessoal, auxiliando no processo de humanização dos cuidados paliativos, pois a

atuação do enfermeiro junto a esses pacientes e familiares, faz com que possamos

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O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

perceber a vulnerabilidade dos mesmos, por esse motivo devemos acolhê-los de

modo particular e holisticamente.

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Elaine Fatima Nyakas

O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

APÊNDICE A - Ficha de idéias sugeridas pela leitura

IDÉIAS PRINCIPAIS:

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

ASSUNTO

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O enfermeiro e os cuidados paliativos:

necessidade de uma reflexão bioética

APENDICE B – Quadro de artigos consultados

Autor

Revista

Artigo

Questões bioéticas relevantes para os

enfermeiros

SILVA et al., 2010

Nursing

Análise da presença do enfermeiro sobre a assistência de enfermagem ao paciente em cuidados paliativos

- Impotência com a morte

AVANCINI et al., 2009

Esc. Anna Nery

Cuidados Paliativos à criança oncológica na situação do viver/morrer: A ótica do cuidar em enfermagem

- Sofrimento diante da morte;

- Fracasso e impotência

SANTANA et al., 2009

Bioethikos

Cuidados paliativos aos pacientes terminais: percepção da equipe de enfermagem

- Despreparo da equipe para lidar com a finitude

- Respeitar o limite de reanimação ou não

- Humanização nos cuidados paliativos

CHAVES; MASSAROLLO, 2009

Esc. Enferm.

USP

Percepção de enfermeiros sobre dilemas éticos relacionados a pacientes terminais em Unidades de Terapia Intensiva

- Dificuldade no processo de morrer

- Impotência perante a morte

- Lado humano do cuidar

MAGALHÃES et al.,

2007

Nursing

Sentimentos dos enfermeiros ao cuidar do paciente terminal

- Impotência

- Despreparo em lidar com a morte

LOPES; SILVA; ANDRADE, 2007

Brazilian Journal of Nursing

A percepção de profissionais de enfermagem sobre cuidados paliativos ao cliente oncológico pediátricos fora de possibilidade de cura: um estudo na abordagem fenomenológica das relações humanas.

- Impotência perante a morte;

- Dificuldade em lidar com a morte

- Humanização no final de vida

FISCHER; SILVA, 2003

Nursing

Reações emocionais da enfermeira no atendimento ao paciente fora de possibilidades terapêuticas

- Sensação de ineficiência

- Impotência diante da morte

- Necessidade de humanização

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