CEPAL - Compras Governamentais

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LC/BRS/R.130Setembro de 2002 Original: portugus

CEPAL

COMISSO ECONMICA PARA A AMRICA LATINA E O CARIBE Escritrio no Brasil

Compras Governamentais: Polticas e Procedimentos na Organizao Mundial de Comrcio, Unio Europia, Nafta, Estados Unidos e Brasil

Documento elaborado por Heloza Camargos Moreira e Jos Mauro de Morais, no mbito do Convnio CEPAL/IPEA. As opinies aqui expressas so de inteira responsabilidade dos autores, no refletindo, necessariamente, a posio das instituies envolvidas.

SUMRIOI. Sumrio dos Acordos e Legislaes sobre Compras Governamentais I.1. Introduo....1 I.2. Acordo de Compras Governamentais da OMC...3 I.3. Diretivas sobre compras governamentais na Unio Europia.....5 I.4. Compras governamentais no NAFTA.8 I.5. Polticas de compras governamentais dos Estados Unidos10 I.6. Legislao brasileira sobre compras governamentais....12 Organizao Mundial do Comrcio: Acordo sobre Compras Governamentais II.1. Introduo...14 II.2. Cobertura: mbito de aplicao...15 II.3. Valorao dos contratos...15 II.4. Tratamento nacional e no-discriminao...16 II.5. Regras de origem17 II.6. Tratamento especial e diferenciado para pases em desenvolvimento.17 II.7. Especificaes tcnicas....18 II.8. Procedimentos de licitao e qualificao de fornecedores.18 II.9. Procedimentos: publicidade e convite para participao.19 II.10. Procedimentos: seleo, condies e prazos de licitao e entrega das propostas..20 II.11. Apresentao, recebimento e abertura das propostas e adjudicao dos contratos.22 II.12. Procedimentos: negociao.22 II.13. Licitao restrita e excees ao acordo...23 II.14. Impugnao, consultas e soluo de controvrsias..24 II.15. Transparncia, informao e exame: obrigaes das entidades e dos pases signatrios.25 Unio Europia: Diretivas Sobre Compras Governamentais III.1. Introduo...27 III.2. Diretivas Relativas Coordenao das Contrataes de Bens, Obras Pblicas e Servios.30 III.3. Diretiva Relativa Coordenao das Contrataes nos Setores de gua, Energia, Transportes e Telecomunicaes..54 III.4. Proposta de novas diretivas.62 Acordo de Livre Comrcio da Amrica do Norte Nafta: Compras Governamentais IV.1. Introduo....64 IV.2. Cobertura: mbito de aplicao e modalidades de licitao....66 IV.3. Valorao dos contratos...67 IV.4. Especificaes tcnicas, regras de origem e compensaes especiais68 IV.5. Procedimentos de licitao: qualificao de fornecedores..69 IV.6. Procedimentos: avisos, editais e prazos da licitao e entrega das propostas.69 IV.7. Procedimentos: disciplinas de negociao, apresentao, recebimento e abertura das propostas e adjudicao de contratos...71 IV.8. Licitao seletiva e licitao restrita....72

II.

III.

IV.

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IV.9. Procedimentos: impugnao74 IV.10. Informaes dos signatrios, retificaes, modificaes, excees e denegao de benefcios.74 IV.11. Cooperao tcnica e programas de participao para pequenas empresas76 IV.12. Previso de negociaes futuras..77 IV.13. Consideraes finais78 ANEXO I Limites de Aplicao e Listas Nacionais de Entidades, Bens, Servios e Construo ANEXO II Definies ANEXO III Meios de Publicao V. Estados Unidos: Compras Governamentais no Contexto de Acordos Internacionais V.1. Introduo....90 V.2. A Poltica de compras governamentais dos Estados Unidos: cobertura, diretrizes e princpios..91 V.3. Preferncia para a produo domstica93 V.4. Buy American Act: diretrizes nas aquisies de bens estrangeiros.95 V.5. Preferncia nas compras governamentais para pequenas empresas....99 V.6. Procedimentos em licitaes pblicas nos Estados Unidos...103 V.7. Concluses e Recomendaes...116 Legislao Brasileira Sobre Compras Governamentais VI.1. Introduo...120 VI.2. Legislao brasileira sobre compras governamentais: princpios e cobertura122 VI.3. Normas para licitaes e contrataes da administrao pblica: princpio da economicidade e tratamento nacional.123 VI.4. Limites e modalidades de licitao.124 VI.5. Casos excepcionais: dispensa de licitao..126 VI.6. Casos excepcionais: inexigibilidade de licitao129 VI.7. Tipos e procedimentos para as licitaes129 VI.8. Habilitao..131 VI.9. Outros procedimentos e julgamento das propostas....132 VI.10. Concorrncias internacionais..134 VI.11. Impugnao e recursos administrativos..135 VI.12. Sanes administrativas e tutela judicial....136 VI.13. Excees ao tratamento nacional....137 Concluses139

VI.

VII.

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I.

SUMRIO DOS ACORDOS GOVERNAMENTAIS I.1 INTRODUO

E

LEGISLAES

SOBRE

COMPRAS

Este trabalho analisa as legislaes sobre compras governamentais adotadas no mbito dos acordos de comrcio da Organizao Mundial de Comrcio, Unio Europia e Acordo de Livre Comrcio da Amrica do Norte-NAFTA e em dois pases, Estados Unidos e Brasil, tendo sido realizado no mbito do Convnio de Cooperao Tcnica entre a CEPAL e o IPEA. Neste captulo apresentado um sumrio das matrias analisadas nos demais captulos, cada um dedicado a descrever e analisar a legislao e as polticas de compras governamentais dos blocos de comrcio e pases citados. O tema compras governamentais tem sido pouco abordado nas anlises realizadas no Brasil sobre integrao em blocos comerciais, refletindo o prprio no envolvimento do governo brasileiro em negociaes internacionais com vistas adeso a acordos de compras governamentais, seja no contexto da OMC ou de blocos regionais na Amrica Latina.1 O desinteresse por estudos sobre experincias comparadas da legislao ocorreu at o advento das negociaes para a criao da rea de Livre Comrcio das Amricas-ALCA, que definiu o estabelecimento de um grupo de trabalho sobre compras governamentais entre os nove grupos negociadores criados.2 O aprofundamento das negociaes entre os 34 pases que comporo a ALCA mostrou a importncia da realizao de avaliaes sobre normas e procedimentos em compras governamentais adotados em alguns blocos de comrcio referenciais, como so os casos da Unio Europia, do Acordo de Compras Governamentais da OMC e do captulo sobre compras governamentais do NAFTA. Revela-se, ainda, de primordial interesse avaliar a poltica de aquisies governamentais adotada na legislao dos Estados Unidos, o maior parceiro da ALCA, pela abrangncia que aquela poltica assume, ao determinar a preferncia, nas aquisies dos rgos pblicos, aos bens de produo interna em relao aos importados. Os princpios bsicos de um acordo de compras governamentais compreendem, entre outros, a adoo de tratamento nacional e a no-discriminao em relao aos bens e produtores dos demais pases participantes do acordo. Esses princpios se efetivam com os pases signatrios assumindo o compromisso de conceder aos bens, servios e fornecedores dos demais pases tratamento no menos favorvel que o concedido aos seus prprios produtos, servios e1

Um estudo coordenado por Mauro Arruda e Jorge Fernandes, que tem como preocupao central o aprimoramento das polticas de compras governamentais no Brasil, contm anlise sobre os acordos de compras governamentais do GATT e Unio Europia, alm das polticas de compras dos Estados Unidos e outros pases e de firmas multinacionais; cf. Racionalizao do Poder de Compras Estatal, 1994, verso preliminar, mimeo. 2 Ressalte-se, a respeito, a grande importncia do mercado de compras governamentais, cujos dispndios alcanam de 3% a 12 % do PNB em vrios pases e blocos de comrcio. As compras de bens e servios dos quinze pases da Unio Europia representaram, em 1994, 11,5 % do PNB. No NAFTA, as compras governamentais alcanaram valores prximos a US$ 1 trilho (1995). Cf. Improving SME Access to Public Procurement, International Trade Centre, UNCTAD/WTO, 2000, pg. 4. No Brasil, as compras de bens e servios do governo federal, compreendendo a administrao direta, autarquias e fundaes alcanaram R$ 14,2 bilhes, em 2001, cf. informao disponvel no site: www.comprasnet.gov.br - publicaes.

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fornecedores. Esses preceitos devem ser aplicados tambm aos fornecedores de bens ou servios de origem estrangeira e aos fornecedores de propriedade estrangeira estabelecidos no territrio onde realizada a licitao pblica. Respeitando esses princpios, os pases participantes asseguraro que os rgos pblicos convidem, sem discriminao, e nas mesmas condies aplicveis aos seus nacionais, os fornecedores e os prestadores de servios dos outros Estadosmembro que possuam as qualificaes requeridas. Outro princpio bsico de um acordo de compras governamentais diz respeito transparncia das leis, regulamentos, normas e prticas adotadas pelos pases. Toda a legislao concernente s compras governamentais deve ser tornada pblica por meio da divulgao em publicaes determinadas no texto ou em anexos dos acordos, de forma a permitir igual oportunidade a todos os interessados em participar das licitaes. Esse tpico, pela sua importncia, tem recebido ateno especial por parte da Organizao Mundial de Comrcio. Com o propsito de avaliar as polticas e prticas adotadas pelos pases nesse domnio, a organizao vem desenvolvendo, desde dezembro de 1996, estudos para o aprimoramento das legislaes em vigor, por meio de um Grupo de Trabalho sobre Transparncia em Compras Governamentais. Espera-se que as propostas do grupo de trabalho possibilitem a adoo de medidas para se alcanar maior grau de transparncia nos procedimentos relativos a compras governamentais. O primeiro acordo multilateral estabelecendo regras para a reduo de tarifas de importao entre pases signatrios, assinado em 1947, sob o Acordo Geral de Tarifas e Comrcio-GATT, excluiu explicitamente as compras governamentais das obrigaes de tratamento nacional concedido aos bens dos pases-membro do acordo. Foi no mbito do Tratado que instituiu a Comunidade Europia, originado do Tratado de Roma, de 1957, que se desenvolveu a primeira iniciativa para incluir as compras governamentais nas normas de comrcio de desgravao tarifria de um mercado comum. As normas acordadas para as compras governamentais assumiram a forma de Diretivas, ou seja, ordenamentos estabelecendo regras comuns a serem seguidas pelos entes governamentais nas suas aquisies de bens e contrataes de servios, aceitando-se o livre acesso dos fornecedores dos pases do bloco ao mercado de compras governamentais de cada pas. A primeira Diretiva entrou em vigor em 1971, estabelecendo a coordenao de procedimentos nas contrataes de obras pblicas nos pases comunitrios. Seguiram-se as diretivas com normas comuns para aquisies de bens (1977), aquisies e contrataes das entidades que operam servios de utilidades pblicas (1990) e nas contrataes de servios (1992). Em mbito mundial, o primeiro esforo para incluir o tema compras governamentais nas normas de comrcio de desgravao tarifria ocorreu nas negociaes da Rodada Tquio, resultando no primeiro acordo plurilateral sobre compras governamentais, assinado em 1979, e que entrou em vigor em 1981. Posteriormente, como resultado das negociaes desenvolvidas na Rodada Uruguai, entre 1986-94, o acordo de compras governamentais foi renovado, com sua verso atual tendo sido assinada em 15 de abril de 1994, mesma data de criao da Organizao Mundial de Comrcio, e entrando em vigor em 1 de janeiro de 1996. O Acordo de Compras Governamentais tem a adeso de 27 pases, expandindo a cobertura, em relao ao acordo

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anterior, para incluir governos subcentrais (Estados/provncias e prefeituras), empresas pblicas, servios e construo civil.3 Nas Amricas, o primeiro acordo de compras governamentais foi implementado com a criao do Acordo de Livre Comrcio da Amrica do Norte (com a sigla NAFTA, em ingls), em 1992, com vigncia a partir de 1 de janeiro de 1994, envolvendo os Estados Unidos, Canad e Mxico. Apresenta-se, a seguir, um resumo comentado das legislaes sobre compras governamentais dos blocos comerciais e pases citados, cujas anlises detalhadas se encontram nos captulos seguintes. As recomendaes deste trabalho s negociaes internacionais do Brasil voltadas a acordo de compras pblicas na ALCA encontram-se nas sees IV.13 do Captulo IV (NAFTA), V.7 do Captulo V (Estados Unidos) e no Captulo VII (Concluses). I.2 - ACORDO DE COMPRAS GOVERNAMENTAIS DA OMC O texto introdutrio do Acordo de Compras Governamentais da OMC (GPA) destaca que o objetivo global a se obter com a adoo do acordo a liberalizao e a expanso do comrcio mundial e o aprimoramento das normas que orientam as transaes comerciais entre os pases. Com esse propsito, o GPA estabelece um conjunto de direitos e obrigaes na rea de contrataes pblicas, definindo as entidades pblicas abrangidas, as modalidades de licitao, os procedimentos para a qualificao dos fornecedores, entre diversas outras provises. As normas se aplicam a partir de valores mnimos de compras governamentais, definidos em anexos para cada um dos pases-membro, e expressos em Direitos Especiais de Saque-DES,. Para entidades dos governos federais, o limite de valor mnimo para compras de bens e servios de 130.000 DES; para contratos de construo, o limite mais comum de 5.000.000 DES. Para entidades dos governos subcentrais, o valor para bens e servios alcana 200.000 DES ou 355.000 DES, conforme o pas. Para empresas pblicas, o valor mais comum para bens e servios de 400.000 DES, sendo de 5.000.000 DES o limite para contratos de construo civil. O Acordo aplica-se, em geral, a todos os bens. No caso de servios, os pases indicam, em anexos prprios, listas positivas ou negativas. Os servios de construo abrangidos so indicados em listas positivas. So trs as modalidades de licitao previstas no GPA, conforme o grau de abertura para a participao dos fornecedores: procedimentos abertos, em que todos os interessados podem apresentar propostas; procedimentos de licitao seletiva, em que podem apresentar propostas os fornecedores convidados a participar; e procedimentos de licitao restrita, realizada sob determinadas condies, em que os entes pblicos entram em contato com os fornecedores individualmente. Para proporcionar iguais oportunidades de participao a fornecedores nacionais e estrangeiros, as condies estabelecidas para a qualificao nas licitaes devem ser publicadas em prazo adequado, para que os interessados possam completar com a antecedncia necessria os3

Trading into the Future, WTO, march 2001, disponvel no site www.wto.org.

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requisitos exigidos. Essas exigncias, que podem compreender garantias financeiras, qualificaes tcnicas e informaes sobre a capacidade financeira e comercial dos interessados, entre outros, no devem estabelecer diferenas entre fornecedores nacionais e estrangeiros. Exceto no caso de licitao sob procedimentos restritos,4 as pretendidas aquisies ou contrataes devem ser tornadas pblicas por meio de convite para participao, contendo o objeto do contrato, as datas de incio e trmino da entrega dos bens ou servios, datas para a apresentao dos requerimentos de qualificao e do recebimento das propostas, o endereo da entidade pblica licitante, entre outras. No caso de licitao seletiva, as entidades que mantm listas de fornecedores qualificados podem selecionar os que sero convidados a apresentar propostas, concedendo iguais oportunidades para todos os includos nas listas. Devem, ainda, examinar os pedidos de qualificao de fornecedores que ainda no obtiveram essa condio, desde que haja tempo suficiente para se completar os procedimentos de qualificao. Quando a avaliao das propostas indicar que nenhuma das ofertas, apresentadas em licitao aberta ou seletiva, mostra vantagens ntidas sobre as demais, abre-se a possibilidade de que a entidade pblica estabelea processo de negociao (procedimentos restritos) com os fornecedores individualmente. Os prazos previstos para a apresentao das propostas devem ser adequados para permitir que fornecedores nacionais e de outros pases preparem e submetam suas ofertas antes do trmino dos procedimentos para a licitao. Os prazos esto previstos no artigo XI do Acordo, sendo de 25 dias para a licitao seletiva e de 40 dias para a licitao aberta. Quando for permitida a apresentao de propostas em vrios idiomas, um desses idiomas dever ser um dos oficiais da OMC (ingls, francs ou espanhol). Ao selecionar a proposta vencedora, a entidade licitante verifica o cumprimento pelos ofertantes das condies previstas no aviso ou edital de licitao, adjudicando o contrato ao fornecedor que demonstre plena capacidade de cumprir as condies previstas e cuja oferta seja a de mais baixo preo ou considerada a mais vantajosa, levando em conta, no segundo caso, os critrios de avaliao especficos determinados no aviso ou edital de licitao. Aps a adjudicao do contrato, deve ser publicado aviso com informaes sobre a contratao, como a natureza e quantidade dos produtos ou servios, o nome e endereo do vencedor e o valor do contrato ou o valor da maior e da menor oferta considerada na avaliao do contrato. Um aspecto especial do Acordo refere-se ao tratamento diferencial para pases em desenvolvimento que aderirem, em razo da necessidade de que sejam resguardados o equilbrio do balano de pagamentos e a manuteno de reservas adequadas para a implementao de programas de desenvolvimento econmico. Nessas condies, esses pases podem negociar excees s normas de tratamento nacional, como por exemplo, conceder preferncias s aquisies de bens e servios de origem domstica, apoiar a implantao de indstrias nascentes, de empresas de pequeno porte e fabricantes internos que dependam das compras governamentais4

O artigo XV do GPA prev as situaes em que a licitao sob procedimentos restritos pode ser utilizada, como as seguintes: ausncia de propostas sob licitao aberta ou seletiva; compra de obra de arte; existncia de fornecedor nico; razes de extrema urgncia; adies a contrato original para a reposio de partes e peas ou ampliao de materiais, servios ou instalaes existentes; aquisio de produtos bsicos, e outras situaes previstas.

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para continuar produzindo, entre outros tratamentos diferenciados. O Acordo probe a imposio de condies compensatrias pelos pases-membro, tais como exigncias de contedo domstico dos bens e metas de investimentos, entre outros. Contudo, aos pases em desenvolvimento permitida a negociao desse tipo de medida, realizada por ocasio do processo de qualificao de ofertantes nas licitaes. I.3 - DIRETIVAS SOBRE COMPRAS GOVERNAMENTAIS NA UNIO EUROPIA A legislao sobre compras governamentais da Unio Europia (U.E.) estabelecida em Diretivas, que consistem em ordenamentos estabelecendo a coordenao de normas e procedimentos para as aquisies de bens e contrataes de servios e obras pblicas, a partir de determinado valor mnimo. Com base nas diretivas, os pases comunitrios devem adaptar sua legislao nacional s normas e procedimentos ali acordados, aplicando os princpios de livre circulao de bens, tratamento nacional e no-discriminao, entre outros, de forma a garantir oportunidades iguais de participao aos ofertantes do prprio pas e dos demais pases comunitrios nas compras governamentais. Encontram-se em vigor quatro diretivas coordenando os procedimentos nas compras e contrataes de bens, servios e obras pblicas, e duas diretivas definindo procedimentos para a interposio de recursos: aquisies de bens: Diretiva 93/36/EEC contrataes de obras pblicas: Diretiva 93/37/EEC contrataes de servios: Diretiva 92/50/EEC aquisies e contrataes de bens, obras e servios pelas empresas que operam servios de utilidade pblica nos setores de abastecimento de gua, energia, transportes e telecomunicaes: Diretiva 93/38/EEC normas para a interposio de recursos nas contrataes de bens, obras pblicas e servios pelas entidades pblicas: Diretiva 89/665/EEC normas para interposio de recursos nas contrataes realizadas pelas empresas dos setores de utilidade pblica: Diretiva 92/13/EEC

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As entidades abrangidas pelo acordo so, conforme definido nas diretivas, as entidades pblicas pertencentes ao Estado, os rgos locais ou regionais, os organismos de direito pblico e as empresas concessionrias de servios de utilidade pblica nos setores de gua, energia, transportes e telecomunicaes. So previstos os trs tipos clssicos de licitao na seleo das propostas dos fornecedores: Procedimentos abertos de contratao, em que qualquer fornecedor, empreiteiro de obras ou prestador de servios interessado pode apresentar propostas;

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Procedimentos limitados, em que s os fornecedores, empreiteiros ou prestadores de servios convidados pelas entidades adjudicantes podem participar; Procedimentos por negociao, em que as entidades adjudicantes consultam fornecedores, empreiteiros ou prestadores de servios sua escolha, conforme o caso, negociando as condies do contrato com um ou mais entre eles.

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As entidades adjudicantes devem aplicar, como regra geral, procedimentos abertos ou procedimentos limitados. Na impossibilidade de se recorrer a essas modalidades, podero ser utilizados procedimentos de negociao. Os limites de valor a partir dos quais se aplicam as regras comunitrias so expressos em Ecus/Euros ou em Direitos Especiais de Saque-DES. Os limites variam conforme o setor ou atividade, havendo limites especficos para os rgos dos governos centrais participantes do Acordo de Compras Governamentais da OMC (os rgos encontram-se listados no Anexo I da Diretiva 97/52). Os limites adotados so os seguintes: 200.000 DES: nas contrataes de bens e de servios prioritrios (esses ltimos so listados no Anexo IA da Diretiva 92/50); 200.000 Ecu/Euros: contrataes de servios no prioritrios (listados no Anexo IB da Diretiva 92/50), alm de servios de P&D e telecomunicaes; 130.000 DES - nas contrataes de bens e servios pelas entidades dos governos centrais; 600.000 Ecu/Euros - nas contrataes de bens e servios pelas empresas de telecomunicaes; 5.000.000 Ecu/Euros - nas contrataes de obras pelas entidades governamentais e empresas concessionrias de telecomunicaes e energia (gs, petrleo e carvo); 5.000.000 DES - nas contrataes de obras pelas concessionrias dos setores de utilidade pblica, exceto concessionrias de telecomunicaes e energia; 400.000 DES - nas contrataes de bens e nas contrataes de servios prioritrios pelas empresas concessionrias de gua, eletricidade, transportes, aeroportos e portos martimos; 400.000 Ecu/Euros - nas contrataes de servios no prioritrios pelas empresas concessionrias de gua, eletricidade, transportes, aeroportos e portos martimos; 400.000 Ecu/Euros - nas contrataes de bens e servios pelas empresas concessionrias de energia;

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As diretivas relativas a contrataes de bens, servios e obras estabelecem os requisitos e informaes que podem ser solicitados para a qualificao dos ofertantes interessados nas licitaes, envolvendo a prova da capacidade financeira, econmica e tcnica, e esclarecem que os avisos de licitao no podem exigir outras condies alm das especificadas nas diretivas. J a diretiva que coordena as contrataes das empresas que exploram servios de utilidade pblica

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no determina as informaes que podem ser solicitadas aos interessados em serem includos no sistema de qualificao, deixando s empresas licitantes o julgamento sobre critrios de qualificao. Os procedimentos utilizados nas licitaes devem ser tornados pblicos por meio de diversas regras de publicidade, a serem observadas em trs fases do processo de contrataes: informao prvia sobre as aquisies planejadas nos prximos doze meses, publicao dos avisos de licitao e informao sobre as contrataes adjudicadas. A informao prvia consiste na publicao de anncio indicativo sobre a totalidade das aquisies que cada entidade tenciona realizar durante os doze meses seguintes, cujo valor total estimado seja igual ou superior a 750.000 Ecu/Euros. Quanto ao aviso sobre licitao que se pretende realizar, sob procedimentos abertos, limitados ou por negociao, dever ser publicado anncio no Jornal Oficial das Comunidades Europias e no banco de dados TED (Tenders Electronic Daily), nas respectivas lnguas originais, de acordo com modelos anexos s diretivas. Aps a adjudicao do contrato, deve ser publicado aviso com informaes sobre os critrios de adjudicao, o nmero de ofertas recebidas, os preos pagos e o nome do ofertante vencedor. Quando a licitao for realizada sob procedimentos limitados ou por negociao, as entidades licitantes selecionam os candidatos que sero convidados a apresentar uma proposta ou a negociar, entre aqueles que preencham as qualificaes requeridas, com base nos requisitos mnimos de natureza econmica e tcnica que devem preencher. No julgamento das propostas, as normas da UE determinam a utilizao de dois critrios de avaliao: o preo mais baixo ou a proposta economicamente mais vantajosa, esta ltima levando em considerao tanto o preo quanto outras informaes, como o prazo de entrega, a qualidade dos produtos ou servios, os aspectos tcnicos, entre outros, conforme deve ser indicado no aviso de licitao. O perodo decorrido desde a entrada em vigor das primeiras diretivas, que datam da dcada de setenta, os aprimoramentos efetivados nas primeiras diretivas, que foram substitudas ou emendadas ao longo do tempo, e o intenso e longo processo de integrao ocorrido na Unio Europia, so fatores que indicariam a existncia de um tambm intenso processo de integrao dos mercados de compras governamentais naquele bloco comercial. Contudo, estudos realizados pela Comisso Europia constataram que a incorporao das normas comunitrias de contrataes pblicas nos pases-membro havia alcanado, ao final de 1997, apenas 55,6 %, refletindo a complexidade da adoo dos procedimentos de contrataes pelos pases.5 Verificouse ainda que o ndice de entrada de importaes no setor pblico havia passado de 6 %, em 1987, para apenas 10 % em 1997, em decorrncia, principalmente, da existncia de setores especficos que continuavam fechados s compras externas, em razo das exigncias de normas tcnicas e de sistemas de qualificao e certificao, dificultando a entrada de ofertantes nas licitaes. Com o objetivo de simplificar as normas e procedimentos, concorrendo para a dinamizao dos mercados de compras pblicas, a Comisso Europia apresentou, em maio de 2000, propostas de duas novas diretivas, consolidando as seis diretivas em vigor. As diretivas5

La Contratacin Pblica en la Unin Europea, Comision Europea, Bruxelas, 1998, pg. 2 e Public Procurement: Comission proposes to simplify and modernise the legal framework, disponveis no site: www.simap.eu.int.

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propostas, ainda no aprovados pelo Parlamento Europeu, reduziro metade o nmero de artigos em vigor e, entre diversos aprimoramentos e modificaes, excluiro os setores que passaram a operar em situao de concorrncia efetiva na Unio Europia, em razo de privatizaes, alm de introduzir mecanismos eletrnicos de aquisio e a simplificao dos patamares de valor, com a reduo do seu nmero. I.4 - COMPRAS GOVERNAMENTAIS NO NAFTA As normas e procedimentos relativos a compras governamentais acordados no mbito do NAFTA encontram-se dispostos no Captulo X do Acordo, compreendendo 25 artigos, 11 anexos e 3 apndices aos anexos, tratando de temas como cobertura do acordo (setores e entidades pblicas participantes), modalidades de licitao, procedimentos e prazos a serem observados nas etapas do processo de licitao, procedimentos para impugnao dos resultados de licitaes, dentre outros. Encontram-se nos Anexos do Captulo X as listas nacionais de entidades dos governos federal e de empresas estatais federais includas nas regras do acordo de compras, as listas positivas comuns de bens para aquisies pelos rgos de defesa, listas nacionais negativas de servios, lista positiva comum de servios de construo, e listas nacionais dos meios de comunicao para a publicao das informaes, leis e regulamentos. Em valores originais do Acordo, as regras se aplicam s aquisies e contrataes das entidades federais indicadas, de valor igual ou superior a US$ 50 mil para bens e servios e US$ 6,5 milhes para obras pblicas. Em se tratando de empresas estatais, os limites so de US$ 250 mil e U$ 8 milhes, respectivamente. O Captulo X aponta, para cada pas signatrio, as excees ao universo de bens e servios cobertos pelo Acordo, sendo que para obras pblicas a cobertura refere-se a lista positiva comum dos trs pases. Foram permitidas, ainda, outras excees cobertura do Acordo, sendo a mais relevante delas, por suas implicaes na restrio ao acesso ao mercado de compras governamentais, a referente aos programas de apoio s pequenas empresas dos Estados Unidos. Conforme amplamente descrito no captulo V - Estados Unidos: Compras Governamentais no Contexto de Acordos Internacionais - so reservadas para as pequenas empresas norteamericanas as compras governamentais de at US$ 100 mil, o que torna sem aplicao o limite inferior para bens e servios acordado no NAFTA. Em termos de modalidades de licitao, as normas do captulo de compras governamentais do NAFTA prevem a adoo preferencial da licitao aberta, em que todos os interessados podem apresentar ofertas, prevendo ainda as modalidades de licitao seletiva, com ou sem lista de fornecedores, e licitao restrita, em que a entidade pblica contata os fornecedores individualmente. Como norma geral, so reafirmados os princpios da nodiscriminao, impessoalidade e publicidade no acesso a informaes por parte de todos os interessados. As normas definem os procedimentos especiais a serem observados na licitao seletiva. Em cada aquisio ou contratao dever ser convidado o maior nmero possvel de fornecedores nacionais e das outras Partes, conjugando os objetivos de promover a competio e atender s necessidades das entidades licitantes. Quando for utilizada lista de fornecedores qualificados, sero concedidas iguais condies e oportunidades de participao para todos os fornecedores

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nelas includos, como tambm a possibilidade de ingresso de novos interessados. Permite-se entidade limitar o nmero de novos fornecedores apenas em decorrncia de eventuais perdas de eficincia nesse processo simplificado de compras. Quanto licitao restrita, modalidade em que a entidade licitante se comunica individualmente com os fornecedores, somente em circunstncias especficas poder ser utilizada, como nas seguintes: ausncia de propostas aps utilizao das modalidades de licitao aberta ou seletiva; aquisies de obras de arte ou bens ou servios protegidos por patentes, direitos autorais e outros direitos exclusivos; urgncia devida a acontecimentos no previstos ou impossibilidade de obteno de bens ou servios em tempo hbil; aquisio de produtos bsicos, entre outras situaes previstas. As condies exigidas para a habilitao dos participantes qualificaes tcnicas, garantias e informaes para se verificar a capacidade financeira, comercial e tcnica - devem ser as indispensveis para assegurar o cumprimento dos contratos, e tornadas pblicas aos interessados com a devida antecedncia. Ao se avaliar a capacidade financeira, comercial e tcnica de um fornecedor, dever ser considerada toda a sua atividade, incluindo tanto a exercida no territrio da Parte do provedor, como em territrio da Parte da entidade licitante. Para a seleo da proposta vencedora ser escolhida a que apresentar o menor preo ou a considerada mais vantajosa, de acordo com os critrios especficos de avaliao estabelecidos no aviso ou no edital de licitao, apresentada por fornecedor considerado plenamente capaz de executar o contrato. No caso de oferta com preo anormalmente inferior s demais, a entidade poder assegurar-se de que o potencial fornecedor satisfaz as condies de participao e ou ser capaz de cumprir o contrato. So previstos procedimentos para assegurar a transparncia e publicidade nesta etapa do processo licitatrio. Assim, prev-se que a entidade publique aviso, no prazo de at 72 dias, contendo informaes sobre os contratos adjudicados. Alm disso, se solicitada, a entidade dever fornecer informaes sobre os mesmos, inclusive para os participantes cujas propostas tenham sido rejeitadas. O Captulo X fixa tambm os compromissos relativos s informaes a serem prestadas por cada Pas signatrio. Alm da publicao das entidades pblicas abrangidas pelo acordo, nos meios indicados nos anexos, e de avisos, editais, convocatrias e outras informaes sobre as licitaes pretendidas e realizadas, prev-se que sejam publicadas nos mesmos veculos de comunicao a regulamentao, jurisprudncia e atos relativos s compras governamentais cobertas. As regras prevem o fornecimento de informaes e esclarecimentos, mediante solicitao de qualquer outro pas signatrio, sobre os contratos, ofertas descartadas, normas, leis, etc. Para se dispor de informaes sobre os resultados totais das compras e contrataes efetivadas anualmente no mbito do NAFTA, as normas estabelecem que devem ser apresentados informes sobre as compras realizadas por cada signatrio, contendo as estatsticas sobre o valor estimado de todos os contratos adjudicados, tanto abaixo como acima do valor dos patamares aplicveis, discriminadas por entidades; o nmero e valor total dos contratos de valor superior aos limites aplicados, discriminadas por entidades, categorias de bens ou servios, e por pases de

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origem dos bens e servios adquiridos; e estatsticas sobre o nmero e o valor total dos contratos adjudicados sob a modalidade de licitao restrita, e sobre o nmero e valor total dos contratos adjudicados conforme as excees indicadas por cada signatrio, discriminadas por entidades. Alm das normas e procedimentos descritos, importante acrescentar outras condies determinadas no captulo sobre compras governamentais do NAFTA. Uma delas refere-se s condies deferidas ao Mxico, como reconhecimento da situao mais desfavorvel na adaptao de suas instituies abertura do mercado de compras governamentais. Assim, foram previstas regras transitrias para o pas como, por exemplo, a concesso de perodo de cinco anos para ajustes significativos nas normas internas e nos sistemas de contratao pblica, incluindo ajustes nas obrigaes, e a possibilidade de incorporao gradual s obrigaes do captulo X das aquisies de bens e servios pelas estatais PEMEX e Comissin Federal de EletricidadeCFE. Com vistas a ampliar a cobertura do Acordo, foi previsto o incio de negociaes destinadas a ampliar a liberalizao do mercado regional de compras governamentais, no mais tardar em 31 de dezembro de 1998. At o momento, no houve avano nessas negociaes, a despeito de terem sido iniciadas. Alm disso, no relatrio apresentado pelo Grupo de Trabalho do NAFTA sobre Compras Governamentais foram registradas preocupaes do Canad e do Mxico quanto ao prosseguimento das negociaes. O Canad expressou que a incluso das entidades subcentrais deveria levar em conta as excees existentes na legislao dos Estados Unidos, como os programas de preferncia para pequenas empresas, as exigncias do Buy American Act e as preferncias locais. Quanto ao Mxico, considerou que um ambiente mais liberal nas preferncias para pequenas empresas ajudaria o processo de negociaes com os seus Estados.6 Informaes atualizadas, provenientes de representante do governo mexicano, do conta de que a pretendida ampliao de cobertura no ocorreu, no apenas em decorrncia de intervenes do setor privado, resistente concesso de maior acesso a empresas americanas e canadenses, como tambm de dispositivo constitucional que impede o governo central de dispor sobre as licitaes promovidas pelas unidades subcentrais. As posies colocadas acima pelo Canad e Mxico a respeito dos programas especiais norte-americanos que concedem preferncia nas compras governamentais aos bens fabricados internamente e aos produtos provenientes de empresas de pequeno porte encontram-se analisadas no captulo V. I.5 - POLTICAS DE COMPRAS GOVERNAMENTAIS DOS ESTADOS UNIDOS A poltica de compras governamentais dos Estados Unidos constitui-se no exemplo mais completo de utilizao do poder de compra do Estado para a obteno de resultados de poltica econmica e social, alm daqueles objetivos que normalmente orientam as diretrizes sobre as compras do governo, que podem, simplificadamente, ser resumidos como a busca da proposta mais vantajosa para os bens e servios demandados pelos rgos governamentais.

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Cf. o relatrio 1994-1996 Report on the NAFTA Government Procurement Working Group, disponvel no site: www.sice.oas.org.

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A preocupao com a obteno de resultados de polticas pblicas definida logo no primeiro captulo da legislao americana sobre compras governamentais, o Sistema FARFederal Acquisition Regulations, onde se estabelece que nas compras realizadas pelos rgos governamentais deve-se procurar tornar disponvel em tempo hbil o produto ou servio com o melhor preo, mantendo a confiana do pblico e atingindo os objetivos das polticas pblicas. 7 Os objetivos de polticas pblicas na legislao norte-americana constituem um amplo espectro de polticas, abrangendo aspectos econmicos, industriais, sociais, militares e desenvolvimento local, entre outros. Os instrumentos para tanto se encontram na determinao de que os rgos e empresas pblicas concedam preferncia, nas suas aquisies, aos bens de produo domstica, de acordo com condies e exigncias estabelecidas nas normas e procedimentos de compras governamentais, condies essas derivadas das disposies contidas nos programas Buy American Act, Balance of Payments Program e Small Business Act. A assinatura de acordo internacional pelos Estados Unidos suspende as restries s aquisies de bens e materiais de construo estrangeiros previstas no Buy merican Act, aos quais passa-se a aplicar a norma de tratamento nacional, sujeita, contudo, a condicionantes, como o caso da preferncia aos bens e servios de empresas de pequeno porte, que continuam a prevalecer mesmo sob aquisies amparadas por acordos internacionais. Obedecidas, portanto, as diretrizes que determinam prioridade aos bens produzidos internamente e aos ofertados por empresas de pequeno porte, so aplicadas nas compras do governo dos Estados Unidos as regras e os procedimentos previstos na legislao, relativos s modalidades de licitao, s normas para a divulgao das licitaes e dos contratos adjudicados, aos prazos para a apresentao de propostas pelas empresas, aos requisitos de habilitao dos fornecedores e aos procedimentos para impugnao de licitaes. So utilizados trs procedimentos ou modalidades de acesso dos interessados em fornecer ao governo: licitao aberta, onde qualquer interessado pode apresentar proposta (sealed bidding); licitao restrita ou seletiva, com nmero limitado de ofertantes convidados a apresentar propostas; aquisio de fornecedor nico, denominada de aquisio negociada no competitiva. Alm dessas, so previstos procedimentos prprios para a chamada licitao simplificada, aplicvel aos contratos de valor at US$100.000 (cem mil dlares). Alm dos procedimentos acima, as normas possibilitam a adoo de procedimentos simplificados de licitao nas aquisies de bens, servios e construo de valor no superior a US$ 100.000, e nas compras de pequeno valor (at US$ 2.500), com o objetivo de reduzir custos administrativos, melhorar as oportunidades para que pequenas empresas obtenham uma7

As diretrizes governamentais para as compras e contrataes de bens, servios, construes e obras pblicas dos Estados Unidos encontram-se consolidadas no Sistema FAR-Federal Acquisition Regulation, que regulamenta as polticas, prticas e os procedimentos utilizados nas aquisies do Governo Federal, compreendendo todas as suas agncias. O Sistema FAR coordena e d uniformidade ao processo de compras federais. Contudo, permitido aos rgos definir normas internas, desde que sejam preservados os princpios gerais previstos na lei e que no afetem os procedimentos dos demais rgo da administrao (FAR, seo 1.101). Assim, nos termos da legislao, os rgos podem emitir regulamentos prprios e implementar polticas adicionais, procedimentos, prescries sobre editais ou clusulas de contratao que suplementem a FAR, para atender a necessidades especficas da agncia (FAR, seo 1.302).

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proporo justa dos contratos governamentais, promover a eficincia e a economia na contratao e evitar gastos desnecessrios para os rgos do governo e fornecedores. Nesses procedimentos est prevista a utilizao do carto de compras governamental (government wide purchase card) no pagamento de bens e servios, emitido para pessoas autorizadas dos rgos governamentais, e o cumprimento das normas que determinam aquisies nas quantidades mais econmicas possveis. Para a seleo da proposta vencedora h dois critrios de avaliao: escolha da proposta mais vantajosa para o governo, considerando unicamente os preos propostos, ou avaliao levando em considerao o preo e os fatores relacionados a preos, includos nos avisos de licitao, consistindo em custos previsveis ou atrasos para o governo, resultantes de fatores como: necessidade de inspeo dos bens, que podem estar localizados em maior ou menor distncia, transporte para o local onde os bens sero utilizados, impostos locais, estaduais ou federais, dentre outros. As normas tambm requerem uma averiguao de responsabilidade, antes da adjudicao do contrato para a melhor proposta. O responsvel pela licitao deve verificar se o futuro contratado: i) demonstra capacidade financeira para cumprir o contrato e o cronograma de entrega proposto ou requerido; ii) apresenta desempenho satisfatrio no cumprimento de fornecimentos anteriores, integridade e tica nos negcios; iii) demonstra a necessria organizao, experincia, controles contbeis e operacionais, capacidades tcnica e produtiva, e demais recursos necessrios; iv) est qualificado e elegvel para contratao pelo governo, atendendo legislao em vigor, conforme a seo 9.100 da FAR que prescreve polticas, normas e procedimentos para a averiguao de responsabilidade de fornecedores. No captulo V encontram-se descritas e analisadas de forma circunstanciada as polticas, normas e procedimentos adotados pelo governo norte-americano em suas aquisies de bens e servios, e indicadas as barreiras ao comrcio decorrentes das disposies nos programas especiais que determinam preferncia para os bens de produo domsticos. I.6 - LEGISLAO BRASILEIRA DE COMPRAS GOVERNAMENTAIS As normas sobre licitaes e contratos da Administrao Pblica esto consolidadas na Lei n 8.666, de 21 de junho de 1993 e alteraes posteriores, abrangendo todos os bens e servios adquiridos ou contratados, assim como alienaes e locaes, aplicveis aos Poderes Executivo, Legislativo e Judicirio da Unio, dos Estados e municpios, e suas autarquias, fundaes e empresas pblicas. A Lei consagra o princpio da economicidade, buscando as condies mais vantajosas para a administrao pblica, independentemente de se tratar de bens ou servios nacionais ou importados. A legislao brasileira no prev o uso do poder de compra do Estado para garantir mercado para a produo interna ou desenvolver determinados setores da economia, como o caso da poltica adotada nos Estados Unidos. A Lei 8.666 procura conferir ao Poder Pblico as melhores condies possveis nas aquisies de bens e servios. So princpios bsicos a impessoalidade, a competio, a transparncia, a publicidade e a igualdade nas condies de acesso, alm da economicidade,

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buscando as condies mais vantajosas para a administrao pblica, independentemente de se tratar de bens ou servios nacionais ou importados. A Lei veda a incluso de condies nas licitaes que restrinjam a competio ou estabeleam preferncias em funo da naturalidade, sede ou domiclio dos fornecedores potenciais, ou ainda estabelecer tratamento diferenciado entre empresas brasileiras e estrangeiras. Nesse aspecto, ficam ressalvadas da aplicao do princpio de tratamento nacional apenas as aquisies de bens e servios de informtica, que dispem de preferncia concedida aos bens e servios com tecnologia desenvolvida no Pas e aos bens e servios produzidos de acordo com processo produtivo bsico, conforme o art. 3 da Lei n 8.248/91 (Lei de Informtica). Mesmo no exigindo que as licitaes devam se estender sempre a concorrentes estrangeiros, a Lei 8.666 determina que no haver discriminao a favor de bens e servios produzidos no Pas. Em termos de modalidades de licitao, alm de concurso e leilo, so previstas as modalidades de concorrncia, aberta a todos os interessados que comprovem possuir os requisitos mnimos de qualificao exigidos no edital; tomada de preos, aberta somente aos cadastrados, observada a necessria qualificao; convite, em que participam convidados, em nmero mnimo de trs, cadastrados ou no, observada a necessria qualificao; prego, em que a disputa pelo fornecimento feita por meio de propostas e lances em sesso pblica. Alm dessas, esto previstos dois casos excepcionais: dispensa de licitao, em que so determinadas 24 situaes em que os procedimentos acima so dispensados, e inexigibilidade de licitao, para as situaes que apresentam inviabilidade de competio, como o caso de presena de fornecedor nico de bem ou servio. A Lei prev, ainda, os seguintes tipos de licitao: a de menor preo; a de melhor tcnica; a de tcnica e preo e a de maior lance ou oferta, essa ltima nos casos de alienao de bens ou concesso de direito real de uso. Os tipos de licitao melhor tcnica e tcnica e preo so utilizados exclusivamente para servios de natureza intelectual, em especial na elaborao de projetos, engenharia consultiva e elaborao de estudos tcnicos. No julgamento das propostas no sero consideradas as que apresentem preos simblicos, irrisrios ou de valor zero, incompatveis com os preos dos insumos e salrios de mercado, acrescidos dos respectivos encargos. Nas negociaes para um acordo de compras governamentais no mbito da ALCA, um dos aspectos a ser superado diz respeito legislao dos Estados Unidos que concede preferncia s empresas de pequeno porte. So conhecidas as dificuldades para a excluso das preferncias a essas empresas, significando que, mesmo sob acordo de comrcio, que suspende as restries aos produtos estrangeiros, as diretrizes de apoio s empresas de pequeno porte seriam mantidas, consubstanciando uma barreira aos produtos brasileiros. No caso brasileiro, a Lei 8.666/93 no prev qualquer tratamento favorecido produo de bens e servios por microempresas e empresas de pequeno porte. Contudo, como o Estatuto da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, Lei 9.841, de 5 de outubro de 1999, prev que a poltica de compras governamentais dar prioridade microempresa e empresa de pequeno porte, individualmente ou de forma associada, com processo especial e simplificado nos termos da regulamentao desta Lei, e que ainda no foi regulamentado, o Brasil poderia incluir dispositivo no acordo de compras governamentais da ALCA que resguardasse uma futura poltica de reserva para esse segmento de empresas.

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II.

Organizao Mundial do Comrcio: Acordo sobre Compras Governamentais II.1 - INTRODUO

O Acordo sobre Compras Governamentais (Government Procurement Agreement Acuerdo sobre Contratacin Pblica) constitui um dos quatro Acordos Plurilaterais no mbito da Organizao Mundial do Comrcio - OMC. Em sua verso atual, com vigncia a partir de 1 de janeiro de 1996, so signatrios: Alemanha, ustria, Blgica, Canad, Cingapura, Coria, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Finlndia, Frana, Grcia, Holanda e Aruba, Hong Kong, Irlanda, Islndia, Israel, Itlia, Japo, Liechtenstein, Luxemburgo, Noruega, Portugal, Reino Unido, Sucia e Sua.8 Considerando os pases que ora negociam a formao da ALCA, tem-se a seguinte posio: membros do Acordo: Estados Unidos e Canad; observadores: Argentina, Chile, Colmbia e Panam, este ltimo em processo de negociao de adeso. Tendo como princpios bsicos a transparncia, tratamento nacional no discriminatrio e a clusula da nao mais favorecida, o Acordo estabelece regras e procedimentos a serem observados nas aquisies de bens e servios realizadas pelas entidades do setor pblico dos pases signatrios.9 O Acordo compreende 24 artigos e 4 Apndices,10 dispondo sobre: mbito de aplicao; valorao dos contratos; tratamento nacional e no discriminao; regras de origem; tratamento especial e diferenciado para pases em desenvolvimento; especificaes tcnicas; modalidades, procedimentos, condies e prazos de licitao, para apresentao de propostas e qualificao de licitantes; procedimentos de seleo e adjudicao de contratos; regras sobre transparncia; preferncias produo nacional; informao e exame das obrigaes das entidades e dos pases signatrios; procedimentos de impugnao; consultas e soluo de controvrsias; excees e compensaes s demais partes signatrias. Aplicando-se s contrataes realizadas pelas entidades dos nveis de governo - poder central e subcentrais - e s demais entidades, sobretudo empresas estatais, o Acordo prev que8

A verso atual do Acordo sobre Compras Governamentais da OMC tem como base o Acordo sobre Compras do Setor Pblico, de 1979, emendado em 1987. Seu objetivo maior foi o de ampliar e melhorar o Acordo de 1979, com base na reciprocidade mtua, e permitir a incluso dos contratos de servios. 9 Prembulos do Acordo da OMC. 10 No Apndice I, com 5 Anexos, deve ser indicada a cobertura do Acordo - no Anexo 1, so indicados os limites para bens e servios a serem licitados pelas unidades do governo central; no Anexo 2, os limites e as entidades subcentrais do governo; no Anexo 3 os limites e as demais entidades, inclusive estatais; no Anexo 4 os limites e os servios; e no Anexo 5 os limites e os servios de construo. No Apndice II so indicadas as publicaes que cada Pas deve utilizar para divulgar os editais, resumos, informaes sobre adjudicao, etc. No Apndice III so indicadas as publicaes que cada Pas deve utilizar para divulgar, anualmente, as informaes sobre as listas permanentes de fornecedores qualificados, nos casos de licitao na modalidade de seleo. No Apndice IV so as indicadas as publicaes que cada Pas deve utilizar para divulgar as leis, regulamentos; decises judiciais, regras administrativas de aplicao geral e qualquer procedimento relacionado com as licitaes cobertas pelo Acordo. Atente-se que as Notas Gerais ao Apndice II podero conter, alm de esclarecimentos, as excluses de bens, ou de bens e servios ou outras condies limitadoras da cobertura apontada nos Anexos, alm de condies diferenciadas para os pases apontados.

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cada pas signatrio indique as entidades, os servios e os limites a partir dos quais valem as regras do Acordo. Ainda que tenha como pilares as clusulas de tratamento nacional e da nao mais favorecida, o Acordo reconhece o poder de compra do Estado como elemento para incentivar o desenvolvimento nacional de bens e servios, em particular nos pases em desenvolvimento. Assim, logo nos considerandos, tem-se: (...) as leis, regulamentos, procedimentos e prticas relativas contratao pblica no devem ser elaborados, adotados nem aplicados aos produtos, servios ou fornecedores estrangeiros ou nacionais de forma a proteger os nacionais, nem devem discriminar entre os produtos, servios ou fornecedores estrangeiros (tratamento nacional). Contudo, (...) h que se ter em conta as necessidades de desenvolvimento, financeiras e comerciais, dos pases em desenvolvimento, em particular dos menos adiantados (....). A seguir, apresenta-se, de forma pormenorizada, o contedo do Acordo, referencial importante para a negociao de acordo sobre compras governamentais no mbito da ALCA. II.2 - COBERTURA: MBITO DE APLICAO Nos termos do Artigo I , o Acordo abrange todos os contratos para aquisies de bens acima de valores fixados, celebrados pelas entidades do governo central, subcentrais e outras entidades - empresas pblicas, sociedades de economia mista controladas pelo governo e outras entidades, indicadas por cada um dos signatrios. Compreende todos os instrumentos contratuais, includas no apenas as compras vista, mas tambm as compras a prazo, o arrendamento financeiro ou mercantil, com ou sem opo de compra, ou ainda contratos que incluam bens e servios. No Anexo 1 do Apndice I devem ser apontadas as entidades dos governos centrais e respectivos limites; no Anexo 2, os limites e as entidades subcentrais do governo - Estados, Provncias; e no Anexo 3, os limites e as demais entidades, inclusive empresas pblicas e empresas estatais. O tratamento para as contrataes de servios distinto. Devem ser indicados, mediante lista positiva ou negativa, os servios compreendidos, assim como os limites a partir dos quais se aplicam as regras do Acordo. No Anexo 4 devem ser apontados os limites e servios, exceto obras de construo civil e respectivos limites, listados no Anexo 5. Embora o Acordo tenha como mbito de aplicao todas as compras e contrataes de bens e servios realizadas pela Administrao Pblica, nos diversos nveis de governo e nas empresas com controle governamental - empresas pblicas e sociedades de economia mista , cabe a cada signatrio indicar as entidades, os servios, assim como os valores a partir dos quais aplicam-se as regras do acordo. II.3 - VALORAO DOS CONTRATOS Definida a abrangncia, so fixadas regras para a determinao dos valores dos contratos, com vistas a evitar que formas alternativas de valorao venham a elidir os limites acordados. Nos termos do artigo II , na publicao do anncio sobre a contratao devem ser consideradas

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todas as formas de remunerao, inclusive prmios, honorrios, comisses e juros relativos aos contratos alvo da licitao. Explicitamente, fica vedado o fracionamento dos contratos de licitao, com o objetivo de obter um valor inferior aos limites acordados no Acordo. Se em um aviso de licitao estiver prevista a adjudicao de mais de um contrato ou a adjudicao fracionada dos contratos, a base para se determinar seu valor dever considerar: a) o valor real dos contratos similares celebrados durante o exerccio fiscal anterior ou nos doze meses anteriores, ajustado em funo das alteraes previstas para os doze meses seguintes, considerando a qualidade e os preos; b) o valor estimado dos contratos celebrados durante o exerccio fiscal ou nos doze meses seguintes ao contrato inicial. Quando se tratar de contratos para compras a prazo ou arrendamento financeiro ou mercantil, de bens ou servios, ou de contratos em que no se especifica o preo total, a base para a valorao ser a apresentada a seguir, devendo ser utilizada a forma constante no item (b), em caso de dvida. As bases de valorao so: a) contratos por prazo determinado, de at doze meses: valor total do contrato durante sua vigncia; por prazo superior a doze meses, o valor total com incluso do valor residual estimado; b) contratos por prazo indeterminado: considerar o valor mensal, multiplicado por 48. Nos casos de contratos com clusula de opo, a base da valorao ser o valor da maior contratao permitida, includos os valores das compras objeto da clusula de opo. II.4 - TRATAMENTO NACIONAL E NO-DISCRIMINAO O Artigo III determina que nenhuma parte aplicar aos bens e servios importados dos demais signatrios um tratamento no menos favorvel que o concedido aos produtos, servios ou fornecedores nacionais, ou a bens, servios ou fornecedores de qualquer outra parte. Atente-se que o tratamento, no caso, compreende as leis, regulamentos, procedimentos e prticas. Alm disso, no caso de fornecedores estabelecidos no territrio do pas que realiza a licitao, no deve haver discriminao em decorrncia de propriedade de capital, nem contra um fornecedor, estabelecido no pas, cuja produo ocorra em outro pas signatrio. Ressalva-se que no se aplica o tratamento nacional aos direitos aduaneiros e encargos sobre a importao, a mtodos de aplicao dos direitos aduaneiros, regulamentos e formalidades de importao, nem medidas que afetam o comrcio de servios, exceo das leis, regulamentos, procedimentos e prticas relativas aos contratos pblicos includos no Acordo.

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Entretanto, as partes tm feito certas derrogaes ao princpio de no discriminao e tratamento nacional com relao a outros signatrios em suas respectivas listas, com vistas a assegurar reciprocidade no acesso aos mercados dos parceiros.11 II.5 - REGRAS DE ORIGEM Em matria de regras de origem, o Acordo determina, no art. IV, que no sero distintas das aplicadas nas operaes comerciais normais. II.6 - TRATAMENTO ESPECIAL E DIFERENCIADO PARA PASES EM DESENVOLVIMENTO Essa constitui parte importante do Acordo. Nos termos do Artigo V, as partes tero devidamente em conta as necessidades de desenvolvimento, financeiras e comerciais dos pases em desenvolvimento, em particular dos menos adiantados. Alm de reconhecer as necessidades de resguardar a situao do balano de pagamentos e de manuteno de nvel de reservas compatvel com o crescimento dos pases menos desenvolvidos, reconhece-se a importncia do mercado representado pelas compras governamentais para estimular o desenvolvimento da produo nacional de determinados setores, das pequenas empresas, a produo artesanal em zonas rurais ou atrasadas e a legitimidade de se apoiar as empresas que dependam, total ou em medida considervel, das compras governamentais. No mbito do Acordo, os pases em desenvolvimento podem negociar com os demais signatrios excees s regras do tratamento nacional, conferindo preferncia para as compras nacionais de determinados bens ou servios, requisito de contedo nacional, compensaes, etc, ou entidades, mesmo includos em suas listas de cobertura - aps a entrada em vigor, os pases em desenvolvimento podem modificar suas listas de cobertura, ou ainda solicitar excees ao tratamento nacional para entidades ou servios includos no Acordo, ou ainda eliminar da lista empresas privatizadas. Contudo, para exercer tal prerrogativa, no apenas devero ser seguidos os procedimentos previstos no artigo XXIV, como podero estar sujeitas a conferir compensaes s demais partes para preservar o equilbrio dos direitos e obrigaes e um nvel comparvel do alcance mutuamente Acordado. Este ponto particularmente importante, na medida em que o Brasil ainda no encerrou seu processo de desestatizao.12

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Fonte: Resumen: Cuadro Comparativo de los Regmenes de Compras en Acuerdos de Integracin en las Amricas, ALCA-FTAA, BID. 12 Merece registro especial o fato de o artigo XXIV prever a possibilidade de compensaes, quando da alterao das listas de entidades, servios includos no Acordo, em decorrncia de processos de desestatizao. Na medida em que a desestatizao ocorra, as empresas ento sob controle estatal passam a se submeter s regras gerais que se aplicam ao comrcio normal de bens e servios. Salvo situaes excepcionais previstas nos Acordos da OMC, aplicam-se, ento, as clusulas sagradas de tratamento nacional e da nao mais favorecida. Deve ser mencionado que, no caso brasileiro, a Lei 8.666/93 no confere tratamento especial favorvel para as empresas estatais - o art. 173, 2 da Constituio Federal determina que eventuais incentivos fiscais concedidos s empresas estatais sero estendidos s empresas privadas. Assim sendo, o tratamento tributrio e administrativo conferido s importaes realizadas pelas empresas estatais o aplicado normalmente s realizadas pelo setor privado. No se aplicam s compras das empresas estatais, salvo nas aquisies de bens e servios de informtica, qualquer preferncia ao produto nacional. Assim sendo, no haveria qualquer sentido conceder compensaes s demais partes, em decorrncia de eliminao da empresa ento privatizada da cobertura do Acordo.

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Recomenda-se que os pases desenvolvidos se esforcem para incluir entidades que adquirem produtos e servios de interesse dos pases em desenvolvimento. Em matria de dificuldades relacionadas com as contrataes pblicas, prev-se que, sempre que solicitado, os pases desenvolvidos prestem toda assistncia aos pases em desenvolvimento. Alm isso, foram previstos centros de informao, individuais ou coletivos, para que os pases desenvolvidos possam responder s solicitaes de informaes de pases em desenvolvimento sobre as leis, regulamentos, procedimentos e prticas, alm de avisos de licitao publicados, e outras informaes pertinentes relacionadas a compras governamentais. Com relao aos pases de menor desenvolvimento relativo recomendado no apenas um tratamento especial para produtos, servios ou fornecedores neles estabelecidos, com assistncia tcnica, e at mesmo benefcios aos pases menos desenvolvidos no signatrios do Acordo. Atente-se que, no artigo XIV dispe-se que levando em conta consideraes de poltica geral, inclusive as relativas ao desenvolvimento, cada pas em desenvolvimento, quando da adeso ao Acordo, poder negociar condies especiais, a exemplo de incorporar exigncias de cumprimento, pelos fornecedores, de contedo nacional. Contudo, essas condies somente sero utilizadas como elementos de qualificao para participao no processo de licitao e no como critrio para adjudicao de contrato (grifo nosso). As condies devero ser claramente definidas, objetivas e no discriminatrias, devero constar expressamente do Apndice I do pas signatrio e podero compreender limitaes concretas imposio de compensaes em qualquer outro contrato aplicvel ao Acordo. Devero constar do anncio do contrato e demais documentos pertinentes. II.7 - ESPECIFICAES TCNICAS Nos termos do Artigo VI, vedado o uso de qualquer especificao tcnica, uso de marca de fbrica, nome comercial, origem do fabricante ou fornecedor, a qualquer ttulo, que implique algum tipo de visna licitao, ou obstculo competio. Assim, as especificaes tcnicas devem ser formuladas de forma a indicar as propriedades de uso e emprego do produto, em lugar de seu desenho ou caractersticas descritivas e devero ser baseadas em normas internacionais. Quando inexistirem tais normas, devero ser baseadas em regulamentos tcnicos nacionais, normas nacionais reconhecidas ou ainda cdigos de construo. Como regra de conduta, com vistas a evitar uma reduo ou excluso na competio, determina-se que as entidades no recebam nem aceitem assessoria de empresa com interesse comercial no contrato na preparao das especificaes tcnicas dos bens ou servios a licitar. II.8 PROCEDIMENTOS FORNECEDORES DE LICITAO E QUALIFICAO DOS

Os artigos VII e VIII dispem sobre os procedimentos, modalidades de licitao e qualificao dos fornecedores. Em primeiro lugar, para assegurar a impessoalidade e evitar reduo na competio, veda-se o acesso a informaes privilegiadas a eventuais fornecedores.

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O Acordo admite as trs modalidades clssicas de licitao: a) licitao pblica (aberta), em que todos os fornecedores interessados podem apresentar ofertas; b) licitao seletiva (convite)13, em que podem apresentar ofertas os fornecedores convidados para tal; e, c) licitao restrita, em que as entidades contatam cada fornecedor em separado, utilizada exclusivamente em determinadas circunstncias.14 No processo de qualificao de fornecedores, alm de se reafirmar os princpios de publicidade, transparncia e impessoalidade, so apresentados os procedimentos clssicos para tal. Assim, determina-se a publicao dos editais com a antecedncia necessria para que os fornecedores possam se qualificar, assim como a apresentao das condies no discriminatrias, claras, razoveis e objetivas, limitadas s estritamente essenciais. Com relao s entidades que mantm listas permanentes de fornecedores qualificados, prev-se que, a qualquer momento, os fornecedores possam solicitar sua incluso. Desde que atendam a todas as condies, devero ser atendidos em prazo razoavelmente breve. Alm disso, quando publicado um aviso ou anncio, um fornecedor no qualificado poder requerer sua participao, iniciando a entidade, prontamente, a qualificao. As entidades devero comunicar aos fornecedores as decises relativas s solicitaes de qualificao e informar os fornecedores que figuram em suas listas permanentes, assim como suas alteraes - cancelamento ou eliminao das listas. Anualmente, as entidades que mantm listas de fornecedores qualificados, utilizadas nos processos de licitao seletiva, devero public-las em uma das publicaes indicadas no Anexo IV do Acordo, indicando ainda os prazos de validade das listas e as condies necessrias para a incluso de interessados. Salvo necessidade devidamente justificada, cada entidade deve adotar procedimento padronizado de qualificao, com esforos para a reduo, ao mnimo, de diferenas de procedimentos de qualificao entre as entidades. II. 9 - PROCEDIMENTOS: PUBLICIDADE E CONVITE PARA PARTICIPAO Conforme Artigo IX, ressalvados os casos de licitao restrita, as entidades devero publicar convites para a participao de todos os fornecedores interessados. Em se tratando de contrato projetado, os anncios devero conter, dentre outras, informaes sobre a natureza e quantidade dos bens e servios; indicao da data de publicao dos anncios de licitao; indicao sobre a modalidade de licitao - pblica, seletiva, com ou sem negociao; data do incio ou trmino da entrega dos bens e servios; endereo para correspondncia, solicitao de informaes de toda natureza, prazo mximo para recebimento e idioma em que devem ser apresentadas as solicitaes de admissibilidade nas licitaes. Alm dessas, devem constar todas13 14

A modalidade se assemelha tomada de preos prevista na legislao brasileira. Prev-se que o procedimento no seja utilizado para reduzir a competio As hipteses em que a licitao restrita deve ser utilizada esto apontadas no art. XIV do Acordo.

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as condies e requisitos - condies econmicas ou tcnicas, garantias financeiras - da licitao e dos fornecedores. Para cada contrato previsto, a entidade deve publicar um resumo do anncio, em um dos idiomas oficiais da OMC (ingls, francs e espanhol), contendo no mnimo: a) objeto do contrato; b) prazos para a apresentao das propostas ou de solicitao de admissibilidade na licitao; e, c) endereo em que possam ser solicitados os documentos relativos ao contrato. Em se tratando de licitaes seletivas, as entidades que mantm listas permanentes de fornecedores devem publicar anualmente, nos meios de comunicao indicados por cada signatrio no Apndice III, um anncio com o seguinte contedo: a) listas de produtos e servios ou categorias de produtos ou servios que devero ser licitados; b) condies para incluso de fornecedores na lista e mtodos para verificar o cumprimento das mesmas; c) vigncia das listas e formalidades para renovao; d) natureza dos produtos ou servios; e) indicao de que o anncio constitui um convite para participao. II.10 - PROCEDIMENTOS: SELEO, CONDIES E PRAZOS DE LICITAO E ENTREGA DAS PROPOSTAS Nos termos do Artigo X, so reafirmados os princpios de competio ampla e no discriminao, com oportunidades iguais para os fornecedores. Em se tratando de licitao pblica, devero ser enviadas as condies e fornecidas as informaes solicitadas a todos que manifestarem interesse. Na modalidade de convite, as entidades devero convidar o maior nmero possvel de fornecedores, enviando informaes sobre as condies para todos que se inscreverem para participar da licitao. As entidades que mantm listas permanentes de fornecedores qualificados podero selecionar os que sero convidados, com igualdade de oportunidades para todos os includos na lista. Atente-se que dever ser permitida a participao, tambm, dos que ainda no tenham sido qualificados, limitando-se o nmero de fornecedores adicionais apenas em funo do funcionamento eficaz do sistema de licitao. Como regra geral, determina o Artigo XI que os prazos de licitao e para a entrega das propostas sero estabelecidos de forma a permitir que os fornecedores, nacionais e dos demais

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signatrios, possam se preparar de forma satisfatria e apresentar suas propostas. Os prazos devero ser compatveis com a complexidade dos contratos, assim como o tempo de transmisso, por via postal, das propostas de fornecedores estrangeiros. Com relao s condies, segundo o Artigo XII, no apenas devem constar todas as informaes necessrias para a apresentao das propostas (desde as condies constantes do anncio sobre o objeto do contrato, prazos, especificaes tcnicas, requisitos econmicos e financeiros do proponente, etc,) at os dados e informaes sobre endereos para solicitao de informaes, entrega das propostas, data e hora do encerramento das entregas, abertura das propostas, responsveis, etc. Atente-se que, quando as licitaes forem apresentadas em mais de um idioma, um deles dever ser um dos idiomas oficiais da OMC. Alm das informaes apontadas acima, devero ser explicitados, ainda, os critrios que fundamentaro a adjudicao dos contratos, inclusive os fatores que sero agregados aos preos para se proceder comparao das ofertas. Em relao aos prazos de entrega, devero ser considerados os prazos para a produo, despacho e transporte a partir de diversos pontos dos territrios nacional e dos demais signatrios. Salvo situaes especiais previstas,15 os prazos para a apresentao das propostas sero os seguintes: a) licitaes pblicas: prazo no inferior a 40 dias, contados a partir da publicao do aviso ou anncio; b) licitaes seletivas (convite) sem utilizao de lista permanente: prazo para apresentao de solicitao de admissibilidade no inferior a 25 dias, contados a partir da data de publicao do anncio; no caso, para apresentao das propostas, prazo no inferior a 40 dias, contados a partir da expedio do convite; c) licitaes seletivas com utilizao de lista permanente de fornecedores qualificados: prazo para recebimento das propostas no inferior a 40 dias, contados a partir da data da primeira publicao do convite, independentemente se tal data coincide ou no com a da publicao do anncio sobre a licitao.

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Os prazos podero ser reduzidos nos seguintes casos: a) quando houver sido publicado um anncio separado, no mnimo 40 dias e no mximo 12 meses antes, em que figurem as informaes essenciais sobre a licitao e o contrato, inclusive sobre a indicao de que os fornecedores deveriam manifestar seu interesse em participar do processo licitatrio. Nesse caso, o prazo de 40 dias para o recebimento das propostas poder ser reduzido para no menos de 24 dias, como regra geral, e nunca inferior a 10 dias; b) no caso de segunda publicao ou publicaes posteriores para contratos complementares, o prazo para recebimento das propostas poder ser reduzido de 40 para 24 dias, no mnimo; c) quando, por razo de urgncia justificada, os prazos para licitaes pblicas ou seletivas podero ser reduzidos, porm nunca devero ser inferiores a 10 dias, contados a partir da publicao do anncio, aviso, ou edital; d) quando se tratar de contratos com licitao seletiva e utilizao de lista de fornecedores qualificados, as entidades e os fornecedores selecionados podero fixar os prazos de comum acordo. Na impossibilidade de acordo, caber s entidades fixar os prazos, que no podero ser inferiores a 10 dias.

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II.11 - APRESENTAO, RECEBIMENTO E ABERTURA DAS PROPOSTAS E ADJUDICAO DOS CONTRATOS O Artigo XIII define os procedimentos para a apresentao, recebimento e abertura das propostas e adjudicao dos contratos. As ofertas, como regra geral, devero ser apresentadas por escrito, diretamente ou por correio. Considerando que podero ser transmitidas tambm por meio de telex, telegrama ou fax, devero apresentar todas as informaes requeridas e necessrias para a avaliao. No caso, as propostas devero ser confirmadas por carta, ou por meio de cpia assinada do telex, telegrama ou fax, prevalecendo as propostas encaminhadas por esses meios, quando a documentao recebida aps o encerramento do prazo apontar diferenas ou contradies em relao s informaes j apresentadas. Em relao ao recebimento de propostas, atente-se que podero ser aceitas fora dos prazos, se decorrentes de negligncia dos responsveis pela licitao ou, em circunstncias excepcionais, se os procedimentos das entidades o permitirem. Observando os princpios de tratamento nacional e no discriminao, as informaes sobre a abertura das ofertas ficaro em poder da entidade interessada e das autoridades superiores, para serem eventualmente utilizadas em caso de impugnao da licitao. Na adjudicao dos contratos, conforme os critrios e requisitos fundamentais estabelecidos no edital, h que se verificar, inicialmente, o cumprimento de todas as condies previstas. O contrato ser adjudicado para o fornecedor que tenha demonstrado plena capacidade de cumprimento do contrato, e apresentada a proposta considerada mais vantajosa - no esto previstos no Acordo os critrios de licitao das propostas, ou seja, por preos, tcnica, ou tcnica e preos, sendo considerado o critrio de preo, ou outro apontado nos editais. Atente-se que, se na legislao brasileira est prevista a desqualificao da oferta que apresenta preos anormalmente baixos, no Acordo prev-se a possibilidade de solicitar informaes ao potencial fornecedor, para se assegurar que o mesmo pode satisfazer as condies de participao e cumprir o estipulado no contrato, quando apresentar proposta com preos considerados muito baixos. II.12 - PROCEDIMENTOS: NEGOCIAO Nos termos do Artigo XIV, as negociaes entre as entidades e os ofertantes sero utilizadas para identificar as vantagens e desvantagens das propostas apresentadas. Com tratamento confidencial das ofertas, as negociaes podero ser utilizadas quando nenhuma oferta apresentada for claramente vantajosa, ou quando expressamente indicadas nos editais de licitao. Nos casos que envolverem negociaes, os procedimentos devem ser tais que: a) as entidades no estabelecero qualquer discriminao entre os diversos fornecedores; b) a eliminao se d em conformidade com os critrios previstos nos anncios e editais; c) que se admita que todos os participantes no eliminados possam modificar ou apresentar novas propostas;

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d) que ao trmino das negociaes, todos os participantes no eliminados possam apresentar propostas definitivas dentro de um determinado prazo comum. II.13 - LICITAO RESTRITA E EXCEES AO ACORDO Determinando que a modalidade no seja utilizada para evitar a competio, discriminar contra fornecedores dos demais signatrios ou conferir proteo aos produtores domsticos de bens e servios, prevem-se no Artigo XV as seguintes possibilidades de utilizao da licitao restrita:16 a) depois de realizada uma licitao pblica ou seletiva, no tenham sido apresentadas propostas; que tenha sido constado conluio entre os fornecedores; ou ainda que as propostas no tenham atendido aos requisitos essenciais da licitao ou tenham sido formuladas por fornecedores que no tenham atendido s condies de participao; c) quando se tratar de obra de arte ou por razes relacionadas com direitos exclusivos, como patente ou direito do autor; d) quando, por razes tcnicas, os bens ou servios puderem ser ofertados somente por um fornecedor determinado, e no houver outros razoavelmente equivalentes ou substitutos; e) em razo de extrema urgncia devida a acontecimentos imprevisveis; f) quando se tratar de adies ao contrato original para a reposio de partes ou peas de material ou instalao j existente; ou para ampliar os materiais, servios ou instalaes existentes; ou ainda no caso de mudana de fornecedor obrigar a entidade a adquirir bens ou servios incompatveis com os j existentes; g) quando uma entidade adquire prottipo ou primeiro servio desenvolvido ou criado por sua solicitao para a execuo de contrato de pesquisa, experincia ou criao original. Finalizado o contrato, as aquisies posteriores se ajustaro s regras normais; h) quando, devido a circunstncias imprevisveis, para completar os servios de construo descritos no edital original, mostrem-se necessrios servios adicionais de construo no includos no contrato, porm compreendidos nos objetivos do editais; nesse caso, o valor dos servios adicionais no poder ser superior a 50% do valor do contrato principal; i) no caso de novos servios de construo, anlogos aos previstos no projeto bsico, para o qual haja sido adjudicado o contrato, e quando a entidade tiver indicado no aviso ou anncio do contrato original que outros servios de construo poderiam ser licitados por meio da modalidade de licitao restrita; j) na aquisio de produtos bsicos;

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Mutatis mutandis, a modalidade de licitao restrita guarda relao com as hipteses de dispensa ou inexigibilidade de licitao, previstas na legislao brasileira.

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k) quando se tratar de compras em condies excepcionalmente vantajosas que vigoram por prazo muito curto. Essa condio no se aplica a compras normais efetuadas junto a fornecedores tradicionais; l) no caso de contratos adjudicados a ganhadores de concursos de projeto, sempre que o concurso for realizado levando em conta os princpios do Acordo. Nos casos de uso da modalidade de licitao restrita, as entidades devem preparar informe sobre cada contrato adjudicado, contendo o nome da entidade contratante, o valor e classe das mercadorias ou servios objeto do contrato, o pas de origem e uma explanao indicando as circunstncias que concorreram para tal. O informe ficar disposio das autoridades superiores, para ser utilizado em caso de impugnao da licitao. No artigo XXIII esto previstas excees s disposies do Acordo. Assim, explicitamente fica determinado que nenhuma disposio poder ser interpretada no sentido de impedir que o signatrio adote as medidas ou abstenha-se de revelar informaes, quando considerar necessrio proteger os interesses essenciais em matria de segurana na aquisio de armas, munies ou material de guerra, ou qualquer outra contratao indispensvel para a segurana ou defesa nacional. Alm disso, no se interpretar nenhuma disposio do Acordo no sentido de impedir um signatrio de estabelecer ou implementar medidas necessrias para proteger a moral, a ordem ou segurana pblica, a sade humana, animal ou vegetal, a propriedade intelectual, ou relacionadas com bens produzidos ou servios prestados por portadores de deficincia, instituies beneficentes ou penitencirias, sempre que as medidas no se apliquem de forma a constituir meio de discriminao arbitrria ou injustificvel entre pases com as mesmas condies, ou sejam equivalentes a uma restrio (disfarada) do comrcio internacional. II.14 - IMPUGNAO, CONSULTAS E SOLUO DE CONTROVRSIAS Consistentemente com os princpios de impessoalidade, imparcialidade, publicidade e transparncia, alm de tratamento nacional e no discriminao que norteiam o Acordo, esto previstos no artigo XX os procedimentos a serem adotados em caso de impugnao s licitaes. Cada signatrio dever estabelecer e tornar pblicos procedimentos no discriminatrios, oportunos, transparentes e eficazes que permitam a impugnao de infraes presumidas nas licitaes. Durante trs anos as entidades devero manter resguardada a documentao referente a todos os procedimentos relativos aos contratos abrangidos pelo Acordo, podendo ser estabelecido prazo, no inferior a 10 dias contado a partir do conhecimento dos fatos que geraram o processo, para que os fornecedores iniciem e notifiquem a entidade que devero acionar o processo de impugnao.

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Atente-se que, alguns signatrios tm derrogado em suas listas a aplicabilidade dos procedimentos de impugnao em relao a certas compras e certos signatrios, a fim de assegurar a reciprocidade do Acordo.17 No caso de apresentao de reclamao baseada na existncia eventual de infrao a alguma clusula do Acordo, devero ser procedidas consultas com a entidade contratante. Nesse caso, a entidade dever examinar as reclamaes de forma imparcial e tempestiva, a fim de aplicar as medidas corretivas devidas, em conformidade com a sistemtica de impugnao. As impugnaes devero ser apresentadas a um tribunal ou rgo independente que no tenha interesse no resultado, cujos membros estejam protegidos de influncias e presses. Entretanto, se o rgo de exame no se constituir de um tribunal, sua atuao poder estar sujeita a reviso judicial, e dever atuar em conformidade com os procedimentos normais, tais como ouvir as partes antes da sentena, permitir que as mesmas sejam representadas, acompanhadas ou possam apresentar testemunhas, etc. Os procedimentos de impugnao devero prever medidas rpidas para corrigir as infraes e preservar as oportunidades comerciais, e podero resultar na suspenso do processo de contratao. Entretanto, os procedimentos podero prever a possibilidade de se ter em conta as conseqncias desfavorveis, inclusive para o interesse pblico, da suspenso da contratao. Devero ser previstos, tambm, mecanismos para retificao da infrao, ou para a compensao por danos ou prejuzos eventuais. Essas compensaes aos reclamantes podero ser limitadas aos gastos pela preparao da oferta ou da reclamao. No artigo XXII, prev-se que um signatrio possa acionar os mecanismos de soluo de controvrsias, quando considerar que uma vantagem que lhe corresponda foi afetada, direta ou indiretamente. Tais mecanismos seguem, essencialmente, os previstos pelo rgo de solues de controvrsias da OMC, com algumas particularidades, em decorrncia da caracterstica plurilateral do Acordo. Cabe destacar que, no pargrafo 7, fica expressamente desautorizado o procedimento das chamadas retaliaes cruzadas, o que significa vedar a retirada de concesses no mbito do Acordo sobre Compras Governamentais em decorrncias de disputa relativa a outros Acordos da OMC, assim como suspenso de concesses em outros acordos, em funo de controvrsias relativas ao Acordo sobre Compras Governamentais. II.15 - TRANSPARNCIA, INFORMAO E EXAME: OBRIGAES DAS ENTIDADES E DOS PASES SIGNATRIOS Reiterando o princpio da transparncia nas compras governamentais, o artigo XVIII determina que as partes signatrias devero incentivar as entidades a adotar todas as providncias para assegurar ampla publicidade de seus atos, objetivos e procedimentos - divulgao, qualificao de fornecedores potenciais, informaes relativas a cada contrato, adjudicao, assim como procedimentos de impugnao. Os artigos XVIII e XIX definem as obrigaes das entidades e dos pases signatrios sobre as informaes a serem prestadas relativas s contrataes de bens e servios cobertos pelo17

ALCA-FTAA-IADB, Procedimientos de Impugnacin y Solucin de Controversias.

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Acordo. Conforme artigo XVIII, no prazo de 72 dias, contados a partir da adjudicao, devero ser publicadas pelas entidades as seguintes informaes: a) nome e endereo da entidade e do responsvel pela adjudicao de cada contrato; b) data, natureza e quantidade dos produtos e servios objeto das adjudicaes; c) nome e endereo do ganhador, valor da oferta vencedora e das ofertas mais alta e da mais baixa consideradas no julgamento; d) modalidade de licitao utilizada e, quando procedente, forma para identificar a publicao do edital; justificativa para utilizao eventual dos procedimentos de licitao restrita. Alm disso, as entidades devem fornecer, sem protelao, informaes requeridas pelos fornecedores, a despeito de se assegurar o sigilo de informaes, quando sua divulgao afetar o interesse pblico, provocar danos comerciais a interesses legtimos de determinadas empresas, ou contrariar a competio leal entre os fornecedores. No artigo XIX so previstas as obrigaes dos pases, enquanto signatrios do Acordo. Cabe ao Pas a publicao de todos os atos legais relacionados com as compras governamentais cobertas, assim como a prestao de eventuais explicaes ou informaes, sem prejuzo dos mecanismos de consultas formais. Anualmente, cada signatrio dever fornecer ao Comit sobre Compras Governamentais, cuja criao est prevista no artigo XXI, estatsticas sobre as compras efetuadas por todas as entidades cobertas pelo Acordo, assim como sobre as compras efetuadas com as excees previstas, utilizando as diretrizes emanadas pelo Comit. de se observar que outras obrigaes a serem cumpridas pelos signatrios constam do artigo XXIV, a exemplo dos procedimentos previstos para alteraes nas listas de cobertura, ainda que em decorrncia de privatizao de empresas estatais.18 Finalmente, cabe destacar, em matria de informaes e procedimentos, os previstos no artigo XXIV. O pargrafo 8, sobre o uso de Tecnologia da informao, ainda que louve seu uso nos processos de compras governamentais, determina que quando uma parte tiver a inteno de introduzir inovaes, far esforos para levar em conta as opinies das demais partes em relao aos problemas que possam apresentar (grifo nosso). Ainda que seja relevante e nobre a inteno18

Nos termos do pargrafo 6 do artigo XXIV, as retificaes, transferncias de entidades de um Anexo para outro, ou em casos excepcionais, emendas de outro tipo que afetem a cobertura do Acordo devero ser notificadas ao Comit (para que seja avaliado seu alcance). As retificaes de carter puramente formal passaro a vigorar no prazo de 30 dias, desde que no sejam apresentadas objees (grifo nosso). Se for apresentada objeo (...) o Comit examinar as propostas e as possveis demandas por compensaes (...) que podero resultar no acionamento do mecanismo de soluo de controvrsias, caso no se chegue a acordo. Em se tratando de alterao da cobertura em decorrncia de privatizao, o procedimento praticamente o mesmo. Contudo, a alterao passar a vigorar a partir do dia seguinte ao trmino da reunio seguinte do Comit, desde que no haja objees e tal reunio no se realize antes de 30 dias contados a partir da notificao. Ainda que, no caso, seja destacado que ao se examinar a proposta de modificao (da cobertura) as eventuais compensaes sero levados em conta os efeitos da abertura de mercado e a eliminao do controle ou influncia do governo, chamamos a devida ateno para esse ponto, em particular pelo fato de o Brasil ainda no haver completado seu processo de desestatizao.

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de tal dispositivo, e ainda que o Brasil se disponha a prestar toda assistncia tcnica nessa matria, entendemos conveniente anlise cuidadosa de dispositivo dessa natureza que venha a compor um Acordo no mbito da ALCA, para que no signifique burocratizao ou aumento de obrigaes, em rea em que o Brasil tem feitos avanos reconhecidos em termos internacionais. FONTE: texto do Acordo de Compras Governamentais da Organizao Mundial do Comrcio, disponvel no site: www.wto.org. III - Unio Europia: Diretivas sobre Compras Governamentais III.1 - INTRODUO A Unio Europia, formada por Alemanha, ustria, Blgica, Dinamarca, Espanha, Frana, Finlndia, Grcia, Holanda, Inglaterra, Irlanda, Itlia, Luxemburgo, Portugal e Sucia, tem como base o Tratado de Roma, firmado em maro de 1957. O Tratado no estabeleceu regras especficas sobre compras governamentais, definindo princpios gerais, aplicveis s contrataes governamentais de qualquer valor. Esses princpios consistem, entre outros, na livre circulao de bens e servios, na liberdade de estabelecimento, na no-discriminao em razo da nacionalidade, e na proibio de restries quantitativas de importaes e exportaes ou de medidas com efeitos equivalentes. Com base nesses princpios, no cabe qualquer discriminao na aquisio ou contratao de bens ou servios, por entidades ou empresas pblicas ou privadas, em razo da nacionalidade da empresa fornecedora ou prestadora, ou ainda da origem do bem ou servio. Para o estabelecimento de um mercado nico de compras governamentais faltava, contudo, a definio de regras comuns que garantissem a abertura dos mercados e o aumento da competio, por meio de maior transparncia nos procedimentos adotados nas compras dos governos dos pases da Comunidade. Para assegurar s empresas interessadas em participar de contrataes governamentais as necessrias informaes sobre as normas e procedimentos adotados, de maneira que pudessem preparar suas ofertas em ambiente de mxima transparncia, foi necessria a adoo de legislao especfica, que tomou a forma de Diretivas, determinando a aplicao daqueles princpios gerais aos mercados de compras governamentais.19 Conforme o artigo 189 do Tratado da Comunidade Europia, uma Diretiva deve ser cumprida quanto aos resultados a serem alcanados pelos Estados-membro para os quais 19

As Diretivas adotadas introduziram um conjunto de normas comuns, coordenando as aquisies e contrataes governamentais dos pases membros a partir de patamares mnimos de valor, resumidas nos seguintes pontos: i) normas definindo as autoridades contratantes e o escopo dos contratos sujeitos s Diretivas; ii) definio dos procedimentos utilizados nas contrataes; iii) normas sobre especificaes tcnicas, concedendo-se preferncia aos padres adotados pela Comunidade, e proibindo-se exigncias tcnicas discriminatrias; iv) normas de publicidade, pelas quais os avisos de licitao devem ser publicados no Official Journal of the European Communities, devem atender a requerimentos especficos relativos a perodos de tempo, e serem redigidos conforme modelos prestabelecidos; v) normas comuns de contratao, atendendo a critrios objetivos para seleo qualitativa de fornecedores e para a adjudicao de contratos (o preo mais baixo ou a oferta economicamente mais vantajosa, a critrio da autoridade contratante); vi) compromissos relativos apresentao de relatrios estatsticos, permitindo que a Comisso Europia tenha conhecimento sobre o funcionamento efetivo das normas cf. European Procurement Brochure, seo 3.2 site: www.simap.eu.int.

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dirigida, deixando a cada pas a escolha das formas de aplicao e dos mtodos a adotar.20 As Diretivas, portanto, no harmonizam todas as normas nacionais, sendo seu propsito estabelecer a coordenao dos procedimentos para a adjudicao de contratos, por meio de um conjunto de regras comuns, a serem adotadas a partir de determinado patamar de valor.21 Para criar as condies efetivas de aplicao das normas comuns, os pases devem transpor as provises determinadas nas diretivas ao seu ordenamento jurdico.22 As diretivas no fazem distino entre bens de origem comunitria ou importados, sendo aplicado o princpio do Tratado da Comunidade Europia de livre movimento de bens. 23 So proibidas as restries quantitativas, ou medidas com efeito equivalente, para bens originados em pases-membro e no-membro. Aplicam-se, contudo, restries de duas naturezas: i) podem ser proibidas ou restringidas as importaes ou exportaes de bens com base na moral pblica, segurana, proteo sade, animais e plantas, proteo de bens culturais e histricos e da propriedade comercial e industrial; ii) so aplicadas medidas de restrio a bens domsticos e importados com base em regulamentos tcnicos e em normas de qualidade, com objetivos de proteo ao consumidor, ao meio-ambiente e segurana.24 A primeira diretiva adotada no direito comunitrio foi a Diretiva 71/305/EEC, em 1971, aplicando normas comuns para a contr