Cerrado - ecologia, biodiversidade e conservação

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Ecologia, Biodiversidade e Conservao

Cerrado:

MINISTRIO DO MEIO AMBIENTE

Ecologia, Biodiversidade e ConservaoOrganizadores Aldicir Scariot Jos Carlos Sousa-Silva Jeanine M. Felfili

Cerrado:

Braslia-DF 2005

Este livro foi editado e impresso com apoio da Diretoria de Conservao da Biodiversidade Brasileira DCBio e do Projeto de Conservao e de Utilizao Sustentvel da Diversidade Biolgica Brasileira PROBIO. VEDADA A COMERCIALIZAO Reviso em lngua portuguesa e preparo de originais: Maria Beatriz Maury de Carvalho Acompanhamento editorial e reviso final: Cilulia Maury PROBIO Projeto grfico e diagramao: Jos Miguel dos Santos

ISBN 85-87166-81-6 CERRADO: Ecologia, Biodiversidade e Conservao/Aldicir Scariot, Jos Carlos Sousa-Silva, Jeanine M. Felfili (Organizadores). Braslia: Ministrio do Meio Ambiente, 2005 439 p:il 1. Cerrado. 2. Meio Ambiente. 3. Biodiversidade 4. Ecologia. 5. Conservao I. Ttulo.

Ministrio do Meio Ambiente MMA Centro de Informao e Documentao Luis Eduardo Magalhes CID Ambiental Esplanada dos Ministrio Bloco B trreo 70068-9000 Braslia-DF Tel.: 5561 - 4009-1235 Fax.: 5561 - 3224-5222 Email: [email protected]

APRESENTAO com muita satisfao que apresento o livro Cerrado: Ecologia, Biodiversidade e Conservao, uma formidvel contribuio de 46 pesquisadores e revisores, todos eles empenhados em desvendar as peculiaridades, belezas e a diversidade biolgica dos cerrados brasileiros. Desde o incio da minha gesto frente ao Ministrio do Meio Ambiente, tenho procurado abrir caminhos para que o Cerrado ocupe o lugar que merece entre os biomas brasileiros, e deixe de ser visto apenas como uma regio a ser ocupada pela expanso agrcola e, simultaneamente, por uma ocupao urbana desordenada. Assim, em 2004 o MMA lanou o Programa Nacional de Conservao e Uso Sustentvel do Bioma Cerrado Programa Cerrado Sustentvel, cujo objetivo geral promover condies para reverter o empobrecimento socioambiental deste bioma. Esse Programa foi desenvolvido pelo Grupo de Trabalho do Bioma Cerrado (GT Cerrado), institudo pela Portaria MMA n 361, de 12 de setembro de 2003. Tais iniciativas fortaleceram e sedimentaram tambm o Ncleo dos Biomas Cerrado e Pantanal (NCP), vinculado Secretaria de Biodiversidade e Florestais, criado em 1994, que tem como sua principal atribuio articular e propiciar a execuo de iniciativas voltadas para a conservao e o uso sustentvel destes dois biomas to profundamente entrelaados, junto aos projetos e programas em execuo no Ministrio do Meio Ambiente, alm de ser um ponto para interlocuo com a sociedade civil organizada. Apoiar a publicao deste livro acrescentar mais uma ao s anteriores, uma oportunidade de disponibilizar informaes preciosas nele contidas a todos interessados, pesquisadores, estudantes, ao pblico em geral, o que muito me alegra. Aproveito esta oportunidade para cumprimentar os autores e unir-me a eles nas homenagens aos pioneiros professores George Eiten e James Alexander Ratter, que tanto contriburam para o conhecimento de vegetao do Cerrado, ao professor Leopoldo Magno Coutinho e professora Maria Lea Salgado Labouriau que, com suas ousadas observaes sobre o impacto do fogo muito acrescentaram, entre outras contribuies relevantes, para a percepo do papel deste elemento na dinmica desse bioma.

Marina Silva Ministra do Meio Ambiente

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HOMENAGEADOSPela sua contribuio incomparvel para a ecologia do Cerrado, os editores, os autores e a equipe do Ministrio do Meio Ambiente prestam homenagens a:

George EitenNasceu em Morristown, EUA e professor aposentado do Departamento de Botnica da Universidade de Braslia UnB. George Eiten pesquisador em ecologia vegetal, sendo bastante conhecido pelo seu artigo de 1972, The cerrado vegetation of Brazil. Esse artigo conceitua termos ambientais e estruturais da vegetao do Cerrado, suas comunidades, fatores influenciadores como o solo, fogo, clima, e apresenta o primeiro modelo para explicar as diferenas fisionmicas observadas entre as fitofisionomias do Cerrado. autor de outros trabalhos clssicos que, no seu todo, esto hoje entre os mais citados na literatura do bioma.

James Alexander RatterEclogo vegetal e pesquisador aposentado do Royal Botanic Garden Edinburgh, da Esccia, trabalhou por mais de 35 anos com a vegetao do Cerrado. Em 1967, ele foi um dos integrantes da expedio da Royal Botanical Society e Royal Geographical Society na rea nordeste de Mato Grosso. Em 1971, ele e a equipe reconheceram as diferenas ecolgicas entre cerrades e a floresta estacional, fazendo as primeiras correlaes com fatores edficos determinantes e reconhecendo espcies indicadoras. Seus estudos iniciaram as anlises quantitativas da vegetao do bioma. Recentemente, o professor Ratter tem analisado padres fitogeogrficos das comunidades vegetais junto ao projeto Conservao e Manejo da Biodiversidade do Bioma Cerrado CMBBC/DFID (Reino Unido), visando definio de estratgias para manejo e conservao da sua biodiversidade.

Leopoldo Magno CoutinhoProfessor aposentado do Departamento de Ecologia da Universidade de So Paulo-USP, onde ministrou vrios cursos de graduao e ps-graduao, assim como orientou vrias teses de mestrado e doutorado. Ele foi o primeiro eclogo a usar a abordagem ecossistmica no estudo do Cerrado, pesquisando a produtividade primria e o ciclo de nutrientes. A partir de 1977, o professor Coutinho tambm dedicou grande parte de seu tempo a estudos sobre o impacto do fogo na vegetao do Cerrado. A grande variedade de trabalhos desenvolvidos pelo professor Coutinho gerou discusso e estimulou vrias questes abordadas na ecologia do Cerrado.

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Maria Lea Salgado Labouriau conhecida por ter criado as bases para a pesquisa paleoecolgica no Brasil e, particularmente, no Cerrado. atualmente professora no Instituto de Geocincias na Universidade de Braslia-UnB. A partir de 1960 a professora Labouriau deu incio ao mais novo catlogo de polens preparado para o Cerrado, proporcionando assim o rpido desenvolvimento das pesquisas paleocolgicas nesse ambiente. As pesquisas da professora Labouriau esto entre as primeiras a demonstrar que os perodos secos ocorridos no Cerrado tiveram carter mais amplo, atingindo toda a Amrica do Sul. Ela foi tambm uma das pioneiras no estudo do fogo ao longo da histria da vegetao do Cerrado. Atualmente, tem trabalhado no refinamento dos estudos das modificaes climticas e vegetacionais no Cerrado, particularmente do fogo.

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Autores e RevisoresAutores Adriana Reatto [email protected] Aldicir Scariot [email protected] Alexandre R. T. Palma [email protected] Anderson C. Sevilha [email protected] Augusto Csar Franco [email protected] Brbara F. D. Leo - [email protected] Carlos Csar Ronquim Carlos E. Pinheiro - [email protected] Carlos H. B. de Assis Prado - [email protected] Claudia Padovesi Fonseca - [email protected] Cleber J. R. Alho - [email protected] Cristiane G. Batista [email protected] der de Souza Martins [email protected] Emerson M. Vieira - [email protected] G. Wilson Fernandes [email protected] Geraldo W. Fernandes - [email protected] Guarino R. Colli - [email protected] Helena C. Morais - [email protected] Heloisa S. Miranda - [email protected] Ivone Rezende Diniz [email protected] James Alexander Ratter [email protected] Jean Franois Timmers [email protected] Jeanine Maria Felfili - [email protected] Jorge E. F. Werneck Lima [email protected] Jos Carlos Sousa Silva [email protected] Jos Felipe Ribeiro - [email protected] Jos Maria Cardoso [email protected] Ludmila M. S. Aguiar [email protected] Luzitano B. Ferreira - [email protected] Manoel Cludio da Silva Jnior [email protected] Marcos Prsio Dantas Santos - [email protected] Margarete Naomi Sato - [email protected] Maria Lea Salgado-Labouriau - [email protected] Mariana Cristina Caloni Pern Miguel T. Urbano Rodrigues - [email protected] Mundayatan Haridasan - [email protected] Raimundo P. B. Henriques - [email protected] Reginaldo Constantino - [email protected] Reuber A. Brando [email protected] Ricardo B. Machado [email protected] Roberto Cavalcante - [email protected] Rosana Tidon [email protected] Denise F. Leite [email protected] Samuel Bridgewater - [email protected] Silmary J. Gonalves-Alvim [email protected] Vnia R. Pivelo - [email protected] William A. Hoffmann - [email protected] Reviso Tcnica Adelmar Gomes Bandeira Amabilio Jos Aires de Camargo Alexandre Francisco da Silva Aldicir Scariot Ary Teixeira de Oliveira Filho Augusto Csar Franco Carlos E. G. Pinheiro Carlos H. B. A. Prado Claudia Padovesi Fonseca Christopher W. Fagg Divino Brando Edson Junqueira Edson Ryoiti Sujii Eduardo Arcoverde de Mattos Fabio Scarano Glein Monteiro Guarino R. Colli Helena C. Morais Hussan El Dine Zaher Humberto Santos Ivan Schiavini Jeanine Maria Felfili Joo Augusto A. Meira Neto John D. Hay Jos Carlos Sousa Silva Jos Maria Cardoso da Silva Jos Roberto R. Pinto Jos Roberto Pujol-Luz Jucelino A. Azevedo Keith S. Brown Jr. Leandro G. Oliveira Leopoldo M. Coutinho Ludmila M. S. Aguiar Maria Lucia Meirelles Miguel A. Marini Miguel Trefaut Rodrigues Mundayatan Haridassan Nabil J. Eid Nilton Fiedler Paulo Csar Motta Paulo Eugenio A. M. de Oliveira Raimundo Paulo Barros Henriques Reginaldo Constantino Ricardo B. Machado Rosana Tidon Silvio T. Spera Vnia R. Pivello Vitor Osmar Becker

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INTRODUO

O conhecimento das causas e conseqncias da destruio, fragmentao e depauperamento dos habitats naturais fundamental para a compreenso e conservao de amostras funcionais representativas dos ecossistemas naturais e dos recursos biolgicos. Dentre os ecossistemas tropicais que sofrem com aceleradas taxas de destruio destaca-se o Cerrado, esta vasta regio do Brasil. Embora seja o segundo bioma brasileiro em extenso, cobrindo quase um quarto do territrio nacional, sua biodiversidade ainda pouco conhecida, o que parece irnico, pois se trata da mais rica e ameaada savana tropical do planeta. O conhecimento sobre o Cerrado vem sendo acumulado, porm o que conhecido e a capacidade em transformar o conhecimento em aes prticas tem sido muito inferior velocidade em que este bioma est desaparecendo. Diferente de outros biomas brasileiros, como a Amaznia e a Floresta Atlntica, nem mesmo a proporo de habitats naturais do Cerrado conhecida. A paisagem natural do Cerrado, manifestada em muitas fisionomias de vegetao que hospedam espcies endmicas, conhecimentos tradicionais, culturas particulares e cenrios deslumbrantes est rapidamente sendo transformada em monoculturas de soja e algodo e pastagens para gado. A facilidade com que a vegetao pode ser removida, em comparao quelas de outros biomas, clima e solos propcios agricultura e pecuria, juntamente falta de ordenamento na ocupao da paisagem e uso dos recursos naturais poder trazer conseqncias desastrosas. No somente a biodiversidade ser afetada em sua composio, mas tambm os servios advindos de ecossistemas, como a ciclagem de nutrientes, a recarga dos aqferos e o fluxo das guas, dentre muitos outros, comprometendo a qualidade de vida das populaes e a sustentabilidade das atividades econmicas e sociais da regio. Este livro est organizado em quatro sees principais: Determinantes Abiticos, Comunidades de Plantas, Comunidades de Animais, e Conservao. Na primeira seo so apresentados textos sobre solos, hidrologia, palinologia e as queimadas no Cerrado. Na segunda seo, os textos tratam da biodiversidade, composio e estrutura da vegetao, comparaes ecolgicas entre espcies e ecofisiologia de plantas. Na terceira e maior seo, textos tratando da biodiversidade, distribuio, biogeografia, caracterizao da fauna do Cerrado e comparaes entre reas protegidas e no protegidas so apresentados. Este volume finalizado com a quarta seo, composta de textos com perspectivas e desafios para a conservao e manejo dos recursos naturais do Cerrado. Esta publicao uma amostra da capacidade dos pesquisadores, demonstrada em suas pesquisas no Cerrado, baseada na perseverana e dedicao de muitos que acreditam que possvel trilhar um caminho diferente daquele com base unicamente na destruio dos ecossistemas naturais. A informao sobre os ecossistemas e espcies do Cerrado ainda necessria, assim como aes que efetivamente garantam

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amostras significativas e funcionais desse bioma s geraes futuras e um uso racional dos recursos naturais existentes, com respeito s sociedades dessa regio. nosso desejo e esperana que a informao aqui contida seja til para a promoo da pesquisa e formas mais sustentveis de utilizao dos recursos do bioma Cerrado.

Aldicir Scariot Jos Carlos Sousa-Silva Jeanine M. Felfili (Organizadores)

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SUMRIOApresentao ......................................................................................... Homenageados ....................................................................................... Autores e Revisores ................................................................................ Introduo .............................................................................................. Captulo sntese ...................................................................................... PARTE I Determinantes abiticos Captulo 1. Captulo 2. Captulo 3. Captulo 4. Captulo 5. Classes de solo em relao aos controles da paisagem do bioma Cerrado................................................................... Estimativa da produo hdrica superficial do Cerrado brasileiro. .......................................................................... Influncia da histria, solo e fogo na distribuio e dinmica das fitofisionomias no bioma Cerrado. ............................... Efeitos do fogo na vegetao lenhosa do Cerrado. .............. Alguns aspectos sobre a Paleoecologia dos cerrados. ..........

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PARTE II Comunidades de plantas Captulo 6. Captulo 7. Captulo 8. Captulo 9. Biodiversidade, estrutura e conservao de florestas estacionais deciduais no Cerrado. ...................................... Diversidade alfa e beta no cerrado strictu sensu, DF, GO, MG e BA. ................................................................................. Ecologia comparativa de espcies lenhosas de cerrado e de mata.................................................................................. Competio por nutrientes em espcies arbreas do cerrado.

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Captulo 10. Biodiversidade de forma e funo: implicaes ecofisiolgicas das estratgias de utilizao de gua e luz em plantas lenhosas do Cerrado. ....................................................................... Captulo 11. Balano de carbono em duas espcies lenhosas de Cerrado cultivadas sob irradiao solar plena e sombreadas. ..........

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PARTE III Comunidades de animais Captulo 12. A importncia relativa dos processos biogeogrficos na formao da avifauna do Cerrado e de outros biomas brasileiros. ........................................................................ Captulo 13. A biodiversidade dos cerrados: conhecimento atual e perspectivas, com uma hiptese sobre o papel das matas galerias na troca faunstica durante ciclos climticos. ......... Captulo 14. As origens e a diversificao da herpetofauna do Cerrado. . Captulo 15. Pequenos mamferos de Cerrado: distribuio dos gneros e estrutura das comunidades nos diferentes habitats. ............ Captulo 16. Biodiversidade de insetos galhadores no Cerrado. ..............

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Captulo 17. Estudos comparativos sobre a fauna de borboletas do Distrito Federal: implicaes para a conservao. ........................... Captulo 18. Abundncia e amplitude de dieta de lagartas (Lepidoptera) no cerrado de Braslia (DF) ................................................ Captulo 19. Padres de diversidade e endemismo de trmitas no bioma Cerrado. ............................................................................ Captulo 20. Drosofildeos (Diptera, Insecta) do Cerrado. ....................... Captulo 21. A complexidade estrutural de bromlias e a diversidade de artrpodes, em ambientes de campo rupestre e mata de galeria no Cerrado do Brasil Central. ............................................. PARTE IV Conservao Captulo 22. Desafios para a conservao do cerrado face s atuais tendncias de uso e ocupao. ........................................... Captulo 23. Ocupao do bioma Cerrado e conservao da sua diversidade vegetal. ............................................................................. Capitulo 24. Manejo de fragmentos de Cerrado visando a conservao da biodiversidade. .................................................................. Captulo 25. Caracterizao dos ecossistemas aquticos do Cerrado. Captulo 26. Perspectivas e desafios para conservar a biodiversidade do Cerrado no sculo 21 .........................................................

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Lista de FigurasPARTE I Determinantes abiticos Captulo 1 Classes de solo em relao aos controles da paisagem do bioma Cerrado Figura 1. Fatores de formao de solo e pedognese ............................. Figura 2. ndices pluviomtricos do bioma Cerrado ............................... Figura 3. Fluxograma de identificao dos controles da paisagem das classes Neossolo Quartzarnico e Latossolos .......................... Figura 4. Fluxograma de identificao dos controles da paisagem das classes de solos com B textural e B incipiente ......................... Figura 5. Fluxograma de identificao dos controles da paisagem das classes de solos sob ambiente de hidromorfismo .................... Captulo 2 Estimativa da produo hdrica superficial do Cerrado Brasileiro Figura 1. Representao dos limites do Cerrado em relao s grandes bacias hidrogrficas do Brasil. ................................................ Figura 2. Distribuio espacial da precipitao mdia anual no Cerrado. Figura 3. Estaes utilizadas no trabalho, numeradas de 1 a 34, e suas respectivas reas de Cerrado, diferenciadas por cores, de acordo com a bacia hidrogrfica em que esto inseridas. ...................

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Captulo 3 Influncia da histria, solo e fogo na distribuio e dinmica das fitofisionomias no bioma Cerrado. Figura 1. Distribuio geogrfica do bioma do Cerrado no Brasil. As reas disjuntas nos outros biomas adjacentes so indicadas. ........... Figura 2. Diagrama de bloco da distribuio das fisionomias de cerrado sensu lato em relao profundidade do solo na vertente de um vale. Figura 3. Distribuio dos valores de saturao de bases (%) e razo ki nas reas com cerrado sensu lato e florestas estacionais no Brasil central. .................................................................................. Figura 4. Ocorrncia potencial das fisionomias de cerrado sensu lato em funo da profundidade e do contedo de gua na superfcie do solo no fim da estao seca. Cc capacidade de campo; Pm ponto de murchamento; CL campo limpo; CS campo sujo; Css cerrado sensu stricto; CD cerrado. ............................ Figura 5. Representao da hiptese de Lund (1835) do efeito do fogo na evoluo da vegetao no bioma dos cerrados. O fogo transforma o cerrado em cerrado, que pela continuidade do fogo substitudo pelo campo, que pode ser mantido pelo fogo peridico. .............................................................................. Figura 6. Esquema dos efeitos do fogo nos processos que determinam a fisionomia aberta na vegetao dos cerrados. As setas mais grossas indicam os principais processos. ................................ Figura 7. Modelo conceitual de sucesso e regresso das fisionomias dos cerrados, em funo da profundidade do solo e do fogo no Brasil central. ..................................................................................

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Captulo 5 Alguns aspectos sobre a Paleoecologia dos Cerrados Figura 1. Cronologia das mudanas do clima durante os ltimos 36 mil anos. esquerda, seqncia das mudanas nos altos Andes tropicais. No centro, mudanas do clima em sete reas de cerrado. direita, mudanas em duas reas de mata dentro da regio de cerrados. Modificado de Salgado-Labouriau (1997). ............... Parte II - Comunidades de plantas Captulo 6 Biodiversidade, estrutura e conservao de florestas estacionais deciduais no Cerrado. Figura 1. Localizao geogrfica da bacia do rio Paran (GO e TO) e distribuio das Florestas Estacionais Deciduais no Brasil (IBGE 1983) e suas respectivas classes de solos de ocorrncia (EMBRAPA 1981) na escala de 1:5.000.000, segundo o novo Sistema Brasileiro de Classificao de Solos (EMBRAPA 1999).

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Figura 2. Classificao pelo mtodo de TWINSPAN de 11 fragmentos de Floresta Estacional Decidual Submontana intactos (i) e explorados (e) em reas de planaltos (p) e afloramentos calcrios (ac) no municpio de So Domingos, Vale do Paran (GO), em reas amostradas nas fazendas So Domingos (SD), Flor do Ermo (FE), Traadal (FT), Olho dgua (OA), Manguinha (FM), Cruzeiro do Sul (CS), So Vicente (SV), Canad (FC) e So Jos (SJ). ....... Captulo 7 Diversidade alfa e beta no cerrado sentido restrito, Distrito Federal, Gois, Minas Gerais e Bahia Figura 1. Principais Unidades Fisiogrficas do Brasil Central estudadas . Figura 2. Locais de estudo em destaque nos Sistemas de terra nas Unidades Fisiogrficas estudadas. ......................................................... Figura 3. Diversidade beta expressa pelo posicionamento das 15 reas de cerrado sensu stricto nos eixos de ordenao pelo mtodo DECORANA. .......................................................................... Captulo 8 Ecologia comparativa de espcies lenhosas de cerrado e de matas. Figura 1. Comparao da resposta ao fogo de espcies de mata e de cerrado Figura 2. Comparao da espessura da casca de dez pares de espcies de cerrado e mata de galeria. ...................................................... Figura 3. A) Razo raiz/parte area de espcies de cerrado e de mata. B) Alturas de plntulas de espcies de cerrado e de mata C) Razo de rea foliar (rea foliar por unidade de peso total da planta) de espcies de cerrado e de mata. ............................................... Captulo 9 Competio por nutrientes em espcies arbreas do cerrado Figura 1. Relao entre a biomassa e o nmero de rvores das 35 espcies em um cerrado em Latossolo Vermelho no Distrito Federal (Silva, 1990). .................................................................................... Figura 2. Compartilhamento da biomassa area entre as 35 espcies arbreas em um cerrado em Latossolo Vermelho no distrito Federal (Silva, 1990) .............................................................. Figura 3. Densidade relativa das 35 espcies arbreas em um cerrado em Latossolo Vermelho no Distrito Federal (Silva, 1990) .............. Figura 4. Relao entre a concentrao foliar de nutrientes e o nmero de rvores das 35 espcies em um cerrado em Latossolo Vermelho no Distrito Federal (Silva, 1990). ............................................ Captulo 10 Biodiversidade de forma e funo: implicaes ecofisiolgicas das estratgias de utilizao de gua e luz em plantas lenhosas do Cerrado.

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Figura 1. Variaes sazonais na porcentagem de folhas em ramos de 10 indivduos de Caryocar brasiliense (A) e Myrsine guianensis (B) em uma rea de cerrado sensu stricto da Reserva Ecolgica do IBGE, Braslia, DF. ................................................................. Figura 2. Variao da taxa de assimilao lquida de CO2 em funo da densidade de fluxo de ftons na faixa fotossinteticamente ativa (DFF) em folhas de Blepharocalyx salicifolius (3 folhas) e Sclerolobium paniculatum (2 folhas) em condies naturais em um cerrado da Fazenda gua Limpa, Braslia, DF. .................. Figura 3. Eficincia fotossinttica em resposta a variaes na densidade de fluxo de ftons na faixa fotossinteticamente ativa (DFF) de folhas de indivduos jovens de Qualea grandiflora em uma rea de campo sujo e de cerrado na Fazenda gua Limpa, Braslia, DF. ........................................................................................

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Captulo 11 Balano de carbono em duas espcies lenhosas jovens de Cerrado cultivadas sob irradiao solar plena e sombreadas Figura 1. Curso dirio do fluxo de ftons fotossinteticamente ativos (FFFA) nos locais onde as plantas jovens de Cybistax antisyphilitica e Tabebuia chrysotricha foram cultivadas. ................................. Figura 2. Fotossntese lquida (A) expressa em rea (mol m-2 s-1) em funo do fluxo de ftons fotossinteticamente ativos (FFFA) em fololos totalmente expandidos de Cybistax antisyphilitica e Tabebuia chrysotricha aos 240 e 360 dias aps a semeadura (DAS), cultivadas sob sol. ...................................................... Figura 3. Fotossntese lquida (A) expressa em massa (mol kg-1 s-1) em funo do fluxo de ftons fotossinteticamente ativos (FFFA) em fololos totalmente expandidos de Cybistax antisyphilitica e Tabebuia chrysotricha aos 240 e 360 dias aps a semeadura (DAS), cultivadas sob sol ....................................................... Figura 4. Valores mdios (colunas) e desvio padro (linhas acima das colunas) da rea foliar total, massa especfica foliar (MEF), razo da rea foliar (RAF) e nmero de fololos das espcies lenhosas jovens Cybistax antisyphilitica e Tabebuia chrysotricha aos 240 e 360 dias aps a semeadura (DAS), cultivadas sob sombra e sob pleno sol ......................................................................... Figura 5. Valores mdios e desvio padro da massa seca total, altura, dimetro do caule e razo da massa seca raiz/parte area das espcies lenhosas jovens Cybistax antisyphilitica e Tabebuia chrysotricha aos 240 e 360 dias aps a semeadura (DAS), cultivadas sob sombra e sob pleno sol. .................................. Figura 6 Fotossntese lquida expressa em rea (mol m-2 s-1) em funo da concentrao de CO 2 atmosfrico em fololos totalmente expandidos de plantas jovens de Cybistax antisyphilitica e Tabebuia chrysotricha aos 240 e 360 dias aps a semeadura (DAS), cultivadas sob pleno sol e sob sombra. .......................

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Figura 7. Fotossntese lquida expressa em massa (mol kg-1 s-1) em funo da concentrao de CO 2 atmosfrico em fololos totalmente

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expandidos de plantas jovens de Cybistax antisyphilitica e Tabebuia chrysotricha aos 240 e 360 dias aps a semeadura (DAS), cultivadas sob sol e sob sombra. ............................................ Figura 8. Fotossntese lquida expressa em rea (mol m s ) em funo da concentrao interna de CO 2 (Ci) em fololos totalmente expandidos de plantas jovens de Cybistax antisyphilitica e Tabebuia chrysotricha aos 240 e 360 dias aps a semeadura (DAS), cultivadas sob pleno sol e sob sombra. ..................................-2 -1

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PARTE III Comunidades de animais Captulo 12 A importncia relativa dos processos biogeogrficos na formao da avifauna do Cerrado e de outros biomas brasileiros Figura 1. O bioma do Cerrado no contexto da Amrica do Sul. Note a posio central do Cerrado no continente ............................... Figura 2. Localidades de amostragem de aves no Cerrado: (a) todas as localidades e (b) somente as localidades consideradas como minimamente amostradas (modificado a partir de Silva 1995c). Figura 3. Curvas de descobrimento de espcies de aves dependentes, semidependentes e independentes de floresta no bioma do Cerrado (curvas geradas a partir do apndice 1 de Silva, 1995b, com informaes novas apresentadas neste captulo). ............ Figura 4. A contribuio relativa da produo de espcies (especiao intraregional) e intercmbio bitico (colonizao de uma regio por espcies de biomas adjacentes) na diversidade regional de aves em cinco grandes biomas brasileiros: Amaznia, Floresta Atlntica, Cerrado, Caatinga e Pantanal. .................................

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Captulo 13 A biodiversidade dos Cerrados: conhecimento atual e perspectivas, com uma hiptese sobre o papel das matas galerias na troca faunstica durante ciclos climticos. Figura 1: Esquema hipottico para explicar o possvel papel assimtrico desempenhado pelas matas de galeria no enriquecimento faunstico de reas florestadas durante ciclos climticos. ........ Captulo 14 As origens e a diversificao da herpetofauna do Cerrado Figura 1. Cladograma de reas, obtido atravs de Anlise de Parsimnia de Endemismos de 213 espcies de lagartos em 32 localidades neotropicais ........................................................................... Captulo 15 Pequenos mamferos de Cerrado: distribuio dos gneros e estrutura das comunidades nos diferentes habitats.

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Figura 1. Mapa do Brasil central com a localizao das reas amostradas. Figura 2. Nmero de gneros e espcies de pequenos mamferos capturados em stios na regio do Cerrado. .............................................. Figura 3. Abundncia relativa mdia dos gneros de pequenos mamferos em funo da freqncia de ocorrncia. ................................. Figura 4. Relao entre cada tipo de habitat e a mdia dos ndices de riqueza. ................................................................................. Figura 5. Resultados da Anlise de Correspondncia No-tendenciada (DCA) para os stios amostrados. ...........................................

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Captulo 16 Biodiversidade de insetos galhadores no Cerrado Figura 1. Influncia da riqueza de espcies de Leguminosae, do contedo de nutrientes (MO, P, K, Mg e Fe) e da capacidade total de troca de catons (CTC) do solo sobre a riqueza de insetos galhadores (ndices de correlao de PearsonP e SpearmanS). ................... Captulo 17 Estudos comparativos sobre a fauna de borboletas do Distrito Federal: implicaes para a conservao Figura 1. Dendrogramas baseados na similaridade da fauna de borboletas em seis reas de conservao (PNB, EEAE, EEJB, IBGE, FAL e RCO) e em trs reas no protegidas do Distrito Federal. .....

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Captulo 18 Abundncia e amplitude de dieta de lagartas (Lepidoptera) no cerrado de Braslia (DF) Figura 1. Porcentagem de espcies de Lepidoptera (n = 302) monfagas (uma espcie de planta), oligfagas (um gnero ou uma famlia) e polfagas (mais de uma famlia) no cerrado do Distrito Federal. Figura 2. Porcentagem de espcies polfagas em diferentes famlias de Lepidoptera, em cerrado sensu stricto do Distrito Federal. .......

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Captulo 19 Padres de diversidade e endemismo de trmitas no bioma Cerrado Figura 1. Distribuio do esforo de inventrio de cupins no Cerrado e algumas savanas amaznicas. ................................................ Figura 2. Composio taxonmica da fauna de cupins de cinco reas de cerrado. ................................................................................. Figura 3. Composio de grupos funcionais na fauna de cupins de cinco reas de cerrado. ................................................................... Figura 4. Dois padres comuns de distribuio geogrfica de espcies de cupins no Cerrado. ................................................................

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Captulo 21 A complexidade estrutural de bromlias e a diversidade de artrpodes, em ambientes de campo rupestre e mata de galeria no Cerrado do Brasil Central Figura 1. Localizao da rea de estudo (Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros) no estado de Gois, Brasil. .................................... Figura 2. Nmero cumulativo de espcies de artrpodos em funo do nmero de bromlias examinadas na rea de campo rupestre do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (GO). .................. Figura 3. Nmero cumulativo de espcies de artrpodos em funo do nmero de bromlias examinadas na rea de mata de galeria do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (GO). .................. Figura 4. Anlise discriminante cannica realizada com as medidas morfomtricas de quatro espcies de bromlias nas reas de campo rupestre e mata de galeria do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (GO). ............................................................... Figura 5. Relao entre a abundncia de indivduos (Log) e o dimetro do copo das bromlias nas reas de amostragem do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (GO). ............................................

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Captulo 23 Ocupao do bioma Cerrado e conservao da sua diversidade vegetal Figura 1. Estimativa de ocupao do Cerrado em 1996 (Sano et al., 2001) Figura 2. Evoluo da produo de gros em toneladas na rea do domnio do bioma Cerrado. Fonte: Embrapa Cerrados - Palestra Institucional ...........................................................................

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PARTE IV Conservao Captulo 25 Caracterizao dos ecossistemas aquticos do Cerrado Figura 1. Esquema geral do gradiente longitudinal de zonas midas do bioma Cerrado .......................................................................

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Lista de TabelasPARTE I Determinantes Abiticos Captulo 1 Classes de solo em relao aos controles da paisagem do bioma Cerrado Tabela 1. Relaes entre cor do solo associado s classes de solo e os controles geolgicos, geomorfolgicos, climtico, hdricos, e fitofisionmicos da paisagem. .................................................

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Captulo 2 Estimativa da produo hdrica superficial do Cerrado Brasileiro Tabela 1. Anlise dos dados hidromtricos das estaes sob influncia do bioma Cerrado. ...................................................................... Tabela 2. Estimativa da vazo gerada na regio de Cerrado sem cobertura das estaes fluviomtricas utilizadas. ................................... Tabela 3. Produo hdrica do Cerrado por bacia hidrogrfica. .............. Captulo 5 Alguns aspectos sobre a Paleoecologia dos Cerrados Tabela 1. Distribuio dos gneros das famlias mais freqentes de Angiospermas na regio dos cerrados. Baseada na lista dada por Mendona et al. (1998) .......................................................... Parte II - Comunidades de plantas Captulo 6 Biodiversidade, estrutura e conservao de florestas estacionais deciduais no Cerrado. Tabela 1. Distribuio do volume de precipitao e da temperatura mdia por Estado de ocorrncia das Florestas Estacionais Deciduais no Brasil. .................................................................................... Tabela 2. Estrutura da comunidade de rvores de Floresta Estacional Decidual Submontana de fragmentos intactos (i) e explorados (e) em planaltos (p) e afloramentos calcrios (ac) no municpio de So Domingos, Vale do Paran (GO), em reas amostradas nas fazendas So Domingos (SD), Flor do Ermo (FE), Traadal (FT), Olho dgua (OA), Manguinha (FM), Cruzeiro do Sul (CS), So Vicente (SV), Canad (FC) e So Jos (SJ). ...................... Tabela 3. Rol e posio das 10 espcies arbreas mais importantes em valor de importncia (VI) amostradas em fragmentos de Floresta Estacional Decidual Submontana, So Domingos, Vale do Paran, GO, em reas amostradas nas fazendas So Domingos (SD), Flor do Ermo (FE), Traadal (FT), Olho dgua (OA), Manguinha (FM), Cruzeiro do Sul (CS), So Vicente (SV), Canad (FC) e So Jos (SJ). ........................................................................ Captulo 7 Diversidade alfa e beta no cerrado sentido restrito, Distrito Federal, Gois, Minas Gerais e Bahia Tabela 1. Latitude, longitude, altitude (m) e precipitao mdia anual (mm) nos locais de estudo no Brasil Central. ................................... Tabela 2. Riqueza de espcies e diversidade alfa da flora lenhosa do cerrado sensu stricto, incluindo plantas a partir de 5cm de dimetro a 0.30m do nvel do solo, em 15 locais de estudo, inclusos em trs Unidades Fisiogrficas. ..........................................................

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Tabela 3. Similaridade da flora lenhosa do cerrado sensu stricto, em plantas a partir de 5cm de dimetro a 0,30m do nvel do solo, em 15 locais inclusos em trs Unidades Fisiogrficas Espigo Mestre do So Francisco, Chapada dos Veadeiros e Chapada Pratinha no Brasil Central. ................................................................... Captulo 9 Competio por nutrientes em espcies arbreas do cerrado Tabela 1. Disponibilidade de nutrientes em um Latossolo Vermelho (Fazenda gua Limpa, DF) e um Neossolo Quartzarnico (Parque Nacional Grande Serto Veredas, MG) sob vegetao nativa de cerrado (sentido restrito). ...................................................... Tabela 2. Concentraes foliares de nutrientes em espcies arbreas de um cerrado (sentido restrito) em Latossolo Vermelho no Distrito Federal (Silva, 1990). .............................................................

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Captulo 11 Balano de carbono em duas espcies lenhosas jovens de Cerrado cultivadas sob irradiao solar plena e sombreadas Tabela 1. Caractersticas qumicas do solo utilizado para o crescimento das espcies jovens Cybistax antisyphilitica e Tabebuia chrysotricha. .......................................................................... Tabela 2. Valores mximos erro padro da fotossntese expressa em rea ....................................................................................... Tabela 3. Valores mximos erro padro da fotossntese lquida em funo da concentrao de CO2 expressa em rea ............................... PARTE III Comunidades de animais Captulo 12 A importncia relativa dos processos biogeogrficos na formao da avifauna do Cerrado e de outros biomas brasileiros Tabela 1. Novas espcies de aves registradas para o bioma Cerrado aps a publicao de Silva (1995b). ..................................................

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Captulo 14 As origens e a diversificao da herpetofauna do Cerrado Tabela 1 - Matriz utilizada na anlise de parsimnia de endemismos baseada na distribuio de 213 espcies de lagartos em 32 localidades neotropicais .........................................................

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Captulo 15 Pequenos mamferos de Cerrado: distribuio dos gneros e estrutura das comunidades nos diferentes habitats. Tabela 1. Gneros de pequenos mamferos encontrados nos estudos realizados em Cerrado. ..........................................................

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Captulo 16 Biodiversidade de insetos galhadores no Cerrado Tabela 1. Distribuio do nmero de espcies de insetos galhadores e de espcies vegetais (total e com galhas) nas famlias de plantas predominantes no cerrado, cerrado sensu stricto, campo sujo e canga, no sudeste do Brasil. ................................................... Tabela 2. Matriz de similaridade florstica (ndice de Sorensen) entre as fisionomias de vegetao amostradas, no sudeste do Brasil. ... Captulo 17 Estudos comparativos sobre a fauna de borboletas do Distrito Federal: implicaes para a conservao Tabela 1. As principais unidades de conservao do Distrito Federal. .... Tabela 2. Nmero de espcies em vrios taxa de borboletas encontradas nos parques, reservas e outras localidades no protegidas do Distrito Federal. ..................................................................... Captulo 18 Abundncia e amplitude de dieta de lagartas (Lepidoptera) no cerrado de Braslia (DF) Tabela 1. Exemplos de espcies de Lepidoptera com local tipo na regio dos Cerrados brasileiros (Heppner, 1984, 1995; Thny, 1997). Tabela 2. Exemplos de espcies e gneros reconhecidamente novos na fauna de lagartas folvoras considerada neste trabalho (V. O. Becker, com. pes.) e suas plantas hospedeiras. ....................... Tabela 3. Famlias de Lepidoptera com o nmero total de espcies, espcies representadas por apenas um adulto, espcies raras (2 a 10 adultos), espcies comuns (mais de 10 adultos) e o nmero de espcies polfagas entre as raras e as comuns. ........................ Tabela 4. Exemplos de lagartas polfagas em plantas do cerrado de Braslia e suas amplitudes de dieta. .................................................... Tabela 5. Exemplos de lagartas comuns e monfagas e suas plantas hospedeiras no cerrado da Fazenda gua Limpa, DF. ............. Captulo 19 Padres de diversidade e endemismo de trmitas no bioma Cerrado Tabela 1. Trmitas registrados em vegetao de cerrado e fauna conhecida de algumas regies ou localidades..........................................

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Captulo 20 Drosofildeos (Diptera, Insecta) do Cerrado Tabela 1. Relao das espcies de drosofildeos registradas no Bioma Cerrado .................................................................................

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Captulo 21 A complexidade estrutural de bromlias e a diversidade de artrpodes, em ambientes de campo rupestre e mata de galeria no Cerrado do Brasil Central Tabela 1. Relao das morfoespcies de artrpodes com nmero de indivduos encontrados nas bromlias de campo rupestre e mata de galeria do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (GO).

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PARTE IV Conservao Captulo 23 Ocupao do bioma Cerrado e conservao da sua diversidade vegetal Tabela 1. Espcies lenhosas presentes em mais de 50% dos 376 levantamentos comparados [Os valores em parnteses so das porcentagens encontradas respectivamente em levantamentos anteriores Ratter and Dargie (1992) e Ratter et al. (1996)] .... Tabela 2. Transformaes na pesquisa, educao e nas polticas pblicas propostas para mudar o entendimento sobre o valor ambiental do bioma Cerrado ................................................................

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Captulo 25 Caracterizao dos ecossistemas aquticos do Cerrado Tabela 1. Riqueza estimada (ordem de grandeza) de espcies da biota aqutica do Cerrado. ..............................................................

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Captulo SnteseFOTO: GUARINO COLLI

Biodiversidade, ecologia e conservao do Cerrado: avanos no conhecimento.

Jeanine Maria Felfili Departamento de Engenharia Florestal Universidade de Braslia - Braslia, DF Jos Carlos Sousa-Silva Embrapa Cerrados - Planaltina, DF Departamento de Engenharia Florestal - UnB Aldicir Scariot Embrapa Recursos Genticos e Biotecnologia Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) - Braslia, DF

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DIVERSIDADE SOB AMEAADentro de um mesmo bioma (Allaby, 1992), os padres fitogeogrficos esto, em geral, vinculados a determinantes fsicos como solo, relevo e topografia, que no caso do Brasil Central foram sobrepostos em um zoneamento publicado por Cochrane et al. (1985). Estes identificaram um total de 70 sistemas de terra em 25 Unidades Fisiogrficas. Um sistema de terras uma rea, ou grupo de reas, no qual existe um padro recorrente de clima, paisagem e solos, ou seja, no bioma Cerrado existe uma diversidade de paisagens, tanto constituda por diferentes fisionomias de vegetao vinculadas a fatores fsicos e fisiogrficos, como por um mesmo tipo de vegetao com distintos padres de composio florstica tambm relacionadas s condies do meio (Felfili & Silva Jnior, nesta publicao), sugerindo a necessidade de estratgias de manejo e conservao que considerem os padres recorrentes de paisagens disjuntas ao longo do extenso bioma, que se distribui por mais de 20 graus de latitude. Esta diversidade de paisagens determina uma grande diversidade florstica, que coloca a flora do bioma Cerrado como a mais rica entre as savanas do mundo, com 6.429 espcies j catalogadas (Mendona et al. 1998). A biota, com grande percentual de endemismo na flora, com valores estimados por Silva & Bates (2002), da magnitude de 44% para plantas vasculares, 30% para anfbios, 20% para rpteis, 12% para mamferos e 1,4% para aves, resultante de uma longa e dinmica histria evolutiva conforme sugerem Silva & Santos (nesta publicao). As interfaces com outros biomas so particularmente importantes no Cerrado, pois este se limita com todos os demais biomas de terras baixas da Amrica do Sul conforme salientado por Silva & Santos (nesta publicao), ressaltando-se os ambientes contrastantes como as interfaces entre Cerrado e Caatinga e aquelas entre Cerrado e Florestas Tropicais midas.

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Felfili, Sousa-Silva & Scariot

O Cerrado contm as trs maiores bacias hidrogrficas sul-americanas. Do ponto de vista hidrolgico, por compreender zonas de planalto, a regio possui diversas nascentes de rios e, conseqentemente, importantes reas de recarga hdrica, que contribuem para grande parte das bacias hidrogrficas brasileiras (Lima & Silva, nesta publicao). Seis das oito grandes bacias hidrogrficas brasileiras tm nascentes na regio: a bacia Amaznica (rios Xingu, Madeira e Trombetas), a bacia do Tocantins (rios Araguaia e Tocantins), a bacia Atlntico Norte/Nordeste (rios Parnaba e Itapecuru), a bacia do So Francisco (rios So Francisco, Par, Paraopeba, das Velhas, Jequita, Paracatu, Urucuia, Carinhanha, Corrente e Grande), a bacia Atlntico Leste (Rios Pardo e Jequitinhonha) e a bacia dos Rios Paran/Paraguai (rios Paranaba, Grande, Sucuri, Verde, Pardo, Cuiab, So Loureno, Taquari, Aquidauana). Com relao importncia relativa do Cerrado no sistema hdrico, este abrange 78% da rea da bacia do Araguaia-Tocantins, 47% do So Francisco e 48% do Paran/ Paraguai. A regio contribui com 71% da produo hdrica na bacia do Araguaia/ Tocantins, 94% no So Francisco e 71% no Paran/Paraguai (Lima & Silva nesta publicao). O Cerrado, com 24% do territrio nacional, contribui com 14% da produo hdrica superficial brasileira, mas, quando se exclui a bacia Amaznica da anlise, verifica-se que o Cerrado passa a representar 40% da rea e 43% da produo hdrica total do restante do pas. de primordial importncia, a contribuio hdrica superficial do Cerrado para o Nordeste do Brasil, regio freqentemente assolada por secas. No entanto, as reas de recarga dos aqferos esto sendo desmatadas, convertidas em reas para pastagens e cultivos agrcolas, impermeabilizadas por conglomerados urbanos e sendo utilizadas como fontes para sistemas de irrigao, instalados sem o adequado planejamento. Por estas razes, inclusive, o Cerrado foi identificado como um dos mais ricos e ameaados ecossistemas mundiais, um hot spot da biodiversidade (Mittermeier et al. 1999). Alho (nesta publicao) explica que o conceito de hot spot se apia em duas bases, endemismo e ameaa: as espcies endmicas so mais restritas em distribuio, mais especializadas e mais susceptveis extino em face das mudanas ambientais provocadas pelo homem, em comparao com as espcies que tm distribuio geogrfica ampla. O endemismo de plantas escolhido como o primeiro critrio para definir um hot spot, pois estas do suporte a outras formas de vida. O grau de ameaa a segunda base do conceito de hot spot e , fortemente, definido pela extenso de ambiente natural perdido, isto , quando a rea perdeu pelo menos 70% de sua cobertura original, onde se abrigavam espcies endmicas. Nesse mesmo estudo, sugerido que dos 1.783.200 km2 originais do Cerrado, restam intactos somente 356.630 km2, ou apenas 20% do bioma original, justificando a caracterizao desse bioma como hot spot.

DETERMINANTES E PROCESSOSOs principais fatores considerados responsveis pelos padres e processos das comunidades de savanas so estacionalidade climtica, disponibilidade hdrica, caractersticas edficas como profundidade, textura e disponibilidade de nutrientes no solo, fogo e herbivoria. No Cerrado, o papel da herbivoria tem sido minimizado pela ausncia de grandes populaes de herbvoros de grande porte, apesar da

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Avanos no conhecimento

intensa herbivoria por insetos. Henriques (nesta publicao) enfatiza tambm eventos histricos, dentre os determinantes do Cerrado. Este autor sugere que parte das diferenas observadas entre as fitofisionomias no Cerrado sensu lato pode ser explicada pela profundidade e umidade do solo. Devido capacidade da matria orgnica em reter nutrientes, os solos das fisionomias com maior cobertura vegetal (cerrado e cerrado) tornam-se mais frteis do que aqueles com menor cobertura (Campo limpo e Campo sujo) , ou seja, a dinmica da vegetao assegura a sua manuteno. A antiga hiptese de que a vegetao do Cerrado uma formao vegetal secundria resultante do corte e queima das florestas pelo homem ainda no foi comprovada (Salgado Labouriau nesta publicao). Pois, o registro palinolgico mostra que o Cerrado uma vegetao resiliente, que tem sido queimada freqentemente por, pelo menos, 40.000 anos, enquanto os indgenas, responsveis por queimadas, estabeleceram-se no Cerrado h cerca de 10.000 anos. Conforme a autora, entre 28.000 e 20.000 AP, durante o ltimo mximo glacial, o Cerrado era frio e mido com a presena de plen de espcies do gnero Byrsonima, Neea e das Leguminosae Andira, Cassia, Stryphnodendron. Plen de espcies das famlias Combretaceae, Gramineae, Melastomataceae, Myrtaceae e Palmae tambm coexistiram na regio. Alm de espcies de Cerrado encontravam-se tambm plen de plantas arbreas tpicas de formaes florestais dos gneros Rapanea, Hedyosmum, Ilex, Celtis, Salacia, Symplocos, Podocarpus, de espcies de Cunoniaceae e Moraceae. Depois de 5.000 AP, lagos, pntanos e veredas comeam a se formar nos cerrados do Brasil Central e o clima passou para semi-mido com uma estao seca prolongada de trs a cinco meses, conforme a localidade. A estacionalidade do clima tem sido considerada como determinante das fisionomias savnicas do bioma Cerrado, assim como exerce grande influncia sobre as Florestas Estacionais Deciduais e Semideciduais. J o lenol fretico, prximo superfcie do solo compensa os efeitos da estacionalidade para as Matas de Galeria permitindo a ocorrncia de floresta tropical com vinculaes florsticas s demais formaes tropicais midas brasileiras. O clima do Cerrado apresenta duas estaes bem definidas, uma seca, que tem incio no ms de maio, terminando no ms de setembro, e outra chuvosa, que vai de outubro a abril, com precipitao mdia anual variando de 600 a 2.000 mm, com a ocorrncia freqente de veranicos, perodos sem chuva, na estao chuvosa desta regio (Assad, 1994). A diversidade fisionmica das formaes vegetais resulta em uma explorao diferenciada da gua disponvel ao longo do perfil do solo e as variaes em altura, tamanho de copas, densidade de gramneas. Outras caractersticas proporcionam gradientes luminosos distintos tanto no transcurso da paisagem e como ao longo da estrutura vertical da vegetao, resultando em diferenas acentuadas no nvel de sombreamento a que uma planta pode estar exposta no decorrer de seu desenvolvimento. Alm disso, a estao das chuvas caracteriza-se por uma alta nebulosidade o que reduz consideravelmente a intensidade luminosa e, provavelmente, afetando o balano de carbono das folhas, mesmo em ambientes expostos, conforme citado por Franco (nesta publicao). Conforme este autor, espera-se que plantas lenhosas do

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Felfili, Sousa-Silva & Scariot

Cerrado possuam uma variedade de estratgias de utilizao de gua e luz, com efeitos marcantes da sazonalidade no balano de carbono de espcies com diferentes fenologias. Plantas lenhosas do Cerrado apresentam taxas, relativamente, altas de assimilao mxima de CO 2, entretanto, o investimento macio em estruturas subterrneas representa um dreno importante dos produtos fotossintticos que poderia ser investido em crescimento da parte area (Franco, nesta publicao). Alteraes no metabolismo do carbono, na utilizao da irradiao e na alocao de biomassa para os compartimentos da planta, certamente, ajustaram a capacidade de assimilao com as demandas de carbono, mantendo o crescimento de Cybistax antisyphilitica e Tabebuia chrysotricha, estudadas por Prado et al. (nesta publicao), sob taxas menores na condio de sombra. Os resultados demonstraram a capacidade de aclimatao de longo prazo reduzida irradiao incidente em diferentes nveis de organizao da planta, explicando, ao menos em parte, a ampla distribuio destas duas espcies nas diversas fisionomias do Cerrado. O efeito da luz na germinao, crescimento e desenvolvimento de espcies nas formaes florestais, inclusive nas Matas de Galeria, j bastante entendido com a possibilidade de separao das espcies em grupos funcionais relativos tolerncia ao sombreamento (Felfili & Abreu 1999; Felfili et al. 2001). Nos ambientes savnicos de Cerrado, que se caracterizam por um estrato herbceo contnuo, entrecortado por um estrato arbreo de densidade varivel verifica-se tambm um gradiente lumnico ao longo dos estgios de desenvolvimento das plantas. O nvel de sombreamento a que uma planta lenhosa no Cerrado estar exposta vai variar em funo do seu tamanho e da estrutura da vegetao, ou seja, na fase inicial de crescimento quando germina sob a camada graminosa, uma planta estar sujeita a nveis de sombreamento muito superiores queles que encontrar na sua fase adulta, depreendendo-se que, mesmo em ambientes savnicos no Cerrado o sombreamento pode ser um fator limitante no estabelecimento e desenvolvimento das plantas. A maior sensibilidade ao fogo das espcies florestais sugere que esse fator tem sido importante em limitar a distribuio atual de florestas (principalmente, Cerrado) no bioma Cerrado. Hoffmann (nesta publicao) com base em experimentos em viveiro com espcies congneres de Cerrado e Mata de Galeria constatou essa diferena na sensibilidade ao fogo e sugeriu que esta tem um importante papel na dinmica do ectono Cerrado-Mata. Apesar das florestas serem menos inflamveis do que Cerrado, o fogo ocasionalmente penetra nelas, causando grandes danos devido baixa tolerncia de espcies florestais ao fogo (Felfili 1997). As diferenas em repartio de biomassa entre espcies florestais, que investem mais em parte area e em espcies de Cerrado com comportamento contrrio, corroboram os resultados encontrados por Paulilo & Felippe (1998), Moreira & Klink (2000) e Felfili et al. (2001). A consistncia dessas caractersticas dentre as espcies em cada ambiente indica evoluo convergente, que uma forte evidncia de que essas caractersticas so adaptaes aos ambientes de Cerrado e de Mata, conforme sugerido por Wanntorp et al. (1990). Em matas, onde a luz considerada um dos principais fatores que limitam o crescimento de plntulas, espcies com porte alto e um grande investimento em rea foliar teriam mais sucesso na competio por luz. Em Cerrado, a luz abundante, mas gua e nutrientes, provavelmente, so mais

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Avanos no conhecimento

limitantes, o maior investimento em razes seria mais vantajoso, conforme sugerem Gleeson & Tilman (1992). As principais classes de solo que suportam o Cerrado sentido restrito na regio central do Planalto Central brasileiro so Latossolos Vermelhos (46%) e Neossolos Quartzarnicos (Haridasan, nesta publicao). So solos profundos e bem drenados, e no apresentam restries ao crescimento radicular das rvores. Estas classes representam respectivamente, cerca de 46 e 15% da superfcie total da regio (Reatto & Martins, nesta publicao). Haridasan (nesta publicao), citando Burnham (1989) e Nepstad et al. (2001), sugere que com o alto grau de intemperismo e profundidade do solo, geralmente maior que 2m, as camadas inferiores no devem desempenhar nenhum papel significativo na nutrio mineral das plantas nativas do Cerrado o que leva improbabilidade do aproveitamento de formas de P e K consideradas indisponveis (no extradas pelos extratores convencionais como de Mehlich e de Bray). Haridasan considera que a manuteno deste ecossistema deve depender de uma reciclagem fechada e eficiente de macronutrientes (P, K, Ca e Mg), ainda existindo a possibilidade de entrada de quantidades pequenas atravs de precipitao, como preconizado por Coutinho (1979). Quando a profundidade do solo torna-se limitante, por causa de concrees laterticas ou ferruginosas ou afloramento de rochas, a fisionomia comum de Campo cerrado ou Cerrado rupestre (Ribeiro & Walter 1998). Nestes ambientes, a distribuio de razes est concentrada nas camadas mais superficiais, diminuindo drasticamente com a profundidade (Abdala et al. 1998, Delitti et al. 2001). Apesar da alta biodiversidade de espcies arbreas em comunidades nativas do Cerrado sentido restrito em solos distrficos, relativamente, poucas espcies constituem as maiores populaes (Felfili et al., 2004) e segundo Haridasan (nesta publicao) contribuem para a maior parte da biomassa e estoque de nutrientes. As concentraes de nutrientes foliares variam bastante entre estas espcies. As espcies mais abundantes, entretanto, parecem ser menos exigentes em nutrientes por apresentarem relativamente menores concentraes foliares e maiores nmeros de indivduos. O estabelecimento e desenvolvimento das plntulas esto relacionados ao intervalo entre queimas, com queimadas freqentes favorecendo a reproduo vegetativa, pois com pequenos intervalos entre queimadas, as plntulas no se desenvolvem o suficiente para atingir o tamanho crtico de escape ao fogo, cujo efeito, na poca seca seria mais negativo (Miranda, nesta publicao, com base em Whelan, 1995). Vale ressaltar que os incndios naturais, apesar de ocorrerem h milhares de anos no Brasil Central, eram provavelmente menos concentrados na estao seca do que atualmente, pois alguns seriam causados por raios durante tempestades que, em geral, ocorrem a partir do incio das chuvas, enquanto ainda h muito material combustvel acumulado. Apesar de muitas espcies de plantas dos ambientes savnicos do Cerrado apresentarem caractersticas morfolgicas que conferem resistncia ao fogo, os incndios em intervalos muito curtos desfavorecem a camada lenhosa (Felfili et al, 2000; Moreira, 2000) contribuindo para que vegetao mais aberta suceda aos Cerrados mais densos. Henriques (nesta publicao) sugere que cada tipo fisionmico do Cerrado sensu lato pode ser considerado como um tipo de vegetao clmax. Na ocorrncia

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Felfili, Sousa-Silva & Scariot

do fogo, todos os tipos fisionmicos sofrem um processo de regresso para uma fisionomia (estgio) mais aberta, com desenvolvimento do estrato inferior dominado por gramneas e diminuio do componente lenhoso arbustivo. Considerando que a regio do bioma Cerrado pode estar com freqncia de fogo acima do regime normal, devido ao antrpica, provvel que as fisionomias abertas, em particular a de Cerrado sensu stricto em reas sem impedimento edfico, estejam em diferentes estgios sucessionais aps o fogo. Vale ressaltar que uma fisionomia s pode alcanar sua plenitude em funo da capacidade de carga do ambiente, ou seja, mesmo protegido de fogo, um campo mido em solo hidromrfico no se tornar um Cerrado tpico, assim como, um Campo rupestre no se tornar uma Mata de Galeria. Por outro lado, um Cerrado ralo sobre Latossolo profundo e bem drenado, protegido, pode tornar-se um Cerrado denso, pois esta ltima, seria a formao clmax que estava aberta pela recorrente ocorrncia de incndios.

PADRES DE DISTRIBUIO E IMPLICAES PARA CONSERVAO E MANEJONa anlise comparativa de pequenos mamferos no Cerrado, Vieira e Palma (nesta publicao) verificaram que as comunidades de pequenos mamferos do Cerrado podem ser divididas em trs conjuntos, segundo sua composio: comunidades em florestas, comunidades em reas abertas (secas ou midas) e comunidades em savanas (cerrados com diferentes graus de cobertura arbrea). A riqueza de espcies de pequenos mamferos no Cerrado atinge valores mximos em Matas Ciliares e de Galeria, seguidas pelas Florestas Mesofticas. Estes autores destacam as comparaes em escala regional realizadas com comunidades de rpteis e anfbios (Colli et al., 2002) e pequenos mamferos (Marinho-Filho et al., 1994). Rodrigues (nesta publicao), parte da premissa que, com raras excees, as espcies da herpetofauna do Cerrado freqentam livremente ou toleram a Mata de Galeria, possuindo assim pr-adaptaes mnimas para permanecerem em reas florestadas. A fauna de floresta, ao contrrio, estritamente umbrfila e, praticamente, no tolera ambientes abertos. O autor refere-se a trabalhos de Silva (1995a, 1995b), Cartelle (2000) e Fonseca et al. (2000), que apresentaram hipteses para explicar a distribuio atual e pretrita e a composio da fauna do Cerrado e os que buscaram evidncias sobre a importncia das Matas de Galeria na disperso de aves amaznicas e da Floresta Atlntica nos Cerrados (Silva, 1996; Willis, 1992). No que toca vegetao, estudos comparativos de inventrios de comunidades tm sido realizados para detectar padres fitogeogrficos, diferenciando a regio em zonas fitogeogrficas caracterizadas por txons distintos (Ratter & Dargie, 1992; Ratter et al., 1996; Ratter et al., 2003; Castro, 1994 e Castro et al., 1999) assim como associar os padres de distribuio, com base em amostragens padronizadas, a fatores ambientais (Felfili & Silva Jnior, 1993, 2001 e nesta publicao; Felfili et al. 1994, 1997, 2004). A anlise dos padres fitogeogrficos e de diversidade de comunidades vegetais do Cerrado sensu stricto apresentada por Felfili & Silva Jnior (nesta publicao) indica que o Cerrado sensu stricto uma rica e diversa fitofisionomia, com elevada

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Avanos no conhecimento

diversidade alfa. O relacionamento positivo entre os padres de diversidade e as caractersticas fsicas do ambiente, tambm verificado por Felfili & Silva Jnior (2001), trazem a possibilidade de modelagem desses padres de acordo com zoneamentos fisiogrficos e fisionmicos tais como o elaborado por Cochrane et al. (1985). Os autores verificaram tambm que a diversidade beta baixa nas comunidades de Cerrado sensu stricto quando as comparaes so baseadas em presena e ausncia de espcies devido a um elevado nmero de espcies comuns entre diferentes locais. Porm, esta se torna elevada nas comparaes baseadas na densidade de espcies ou seja, a diversidade beta elevada devido a uma distribuio de indivduos por espcies muito desigual nos locais ao longo do bioma, apesar de um grande nmero de espcies ocorrerem em comum. A densidade de espcies , portanto, um importante parmetro para tomada de decises quanto conservao e manejo do Cerrado. No estabelecimento de unidades de conservao torna-se importante verificar tanto a ocorrncia das espcies, como o tamanho de suas populaes. No delineamento de estratgias para manejo e extrativismo sustentvel, tornam-se fundamentais avaliaes quantitativas, com preciso suficiente para o planejamento da produo em nvel regional. Quanto representatividade das unidades de conservao em relao aos padres de diversidade beta, aqui estudados, verificou-se que a configurao original do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros insuficiente para proteger a diversidade florstica daquela Chapada. Que todas as unidades de conservao da Chapada Pratinha esto concentradas no Distrito Federal, deixando as terras baixas da Chapada que incluem Paracatu-MG e Patrocnio-MG desprotegidas e que o Parque Grande Serto Veredas bastante representativo do Espigo Mestre (Felfili & Silva Jnior, nesta publicao). Ribeiro et al. (nesta publicao), em termos de Cerrado sentido restrito, citam que as anlises biogeogrficas realizadas por Castro (1994), Castro e Martins (1999), Ratter & Dargie (1992), Ratter et al. (1996) e Ratter et al. (2003) com base em presena e ausncia de espcies permitiram a identificao de padres de distribuio da flora do bioma. Ratter et al. (1996) reconheceram os grupos Sul (So Paulo e sul de Minas Gerais), Este-sudeste (principalmente, Minas Gerais), Central (Distrito Federal, Gois e pores de Minas Gerais), Centro-oeste (a maior parte de Mato Grosso, Gois e Mato Grosso do Sul), e Norte (principalmente Maranho, Tocantins e Par), assim como um grupo de vegetao savnica disjunta na Amaznia. Neste estudo, os autores mostraram no apenas que a diversidade tende a ser menor nos stios com solos relativamente mais frteis, onde existe a dominncia de espcies indicadoras como Callisthene fasciculata, Magonia pubescens, Terminalia argentea e Luehea paniculata mas tambm a existncia de intensa heterogeneidade entre os stios amostrados (diversidades beta e gama). O padro de diversidade das espcies lenhosas principalmente constitudo de um grupo restrito de 300 espcies (cerca de 1/3 do total) relativamente comuns e 2/3 de espcies bastante raras, muitas das quais poderiam ser classificadas como acessrias (Ratter et al. 2003). Este padro de oligarquia de um grupo de espcies comuns e muitas outras espcies raras, tambm foi verificado para as Matas de Galeria (Silva Jnior et al. 2001). Os autores consideram tambm que a intensa heterogeneidade florstica local e regional aqui destacada deve ser considerada para o estabelecimento de Unidades de Conservao, onde se

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torna necessrio proteger muitas reas para representar adequadamente a biodiversidade local e regional de plantas lenhosas. Os dados disponveis evidenciam que, para ser efetiva, a conservao deve ser fundamentada na integrao entre as fisionomias. A similaridade florstica entre as fisionomias florestais e savnicas baixa, Felfili & Silva Jnior (1992) comparando Matas de Galeria, Cerrado sensu stricto e Cerrado da Fazenda gua Limpa, Distrito Federal, verificaram uma pequena sobreposio de espcies lenhosas entre Cerrado sensu stricto e Matas de Galeria, enquanto que o Cerrado foi composto de uma mistura de espcies do Cerrado e das Matas de Galeria. Analisando-se a lista de espcies vasculares elaborada por Mendona et al. (1998) confirma-se esse padro e verifica-se tambm que as florestas estacionais em solos frteis apresentam uma flora diferenciada tanto do Cerrado como das Matas de Galeria e que o Cerrado nos solos distrficos apresenta uma flora composta de espcies de Cerrado sensu stricto e de Mata de Galeria, mas quando ocorre em solos mesotrficos apresenta tambm, elementos de florestas estacionais deciduais e semideciduais configurando-se como uma fisionomia de transio com uma estrutura prpria, mas com uma flora mista, composta de espcies das formaes adjacentes. O Carrasco uma fisionomia que ocorre principalmente na zona de transio Cerrado/ Caatinga (Felfili & Silva Jnior 2001) e tambm se configura como uma fisionomia de transio. Scariot e Sevilha (nesta publicao) consideram, baseados em aspectos florsticos e fisionmicos, que entre as formaes brasileiras, as Florestas Estacionais Deciduais esto mais associadas s Caatingas arbreas, com espcies tidas como tpicas dessa formao, tais como Myracruodruon urundeuva Fr. All. (aroeira), Schinopsis brasiliensis Engl. (brana), Cavanillesia arborea K Schum. (barriguda), Amburana cearensis (Fr. All.) A. C. Smith (cerejeira) e Tabebuia impetiginosa (Mart.) Standl. (ip roxo) entre outras, apesar dessas florestas poderem apresentar semelhana tambm com outros tipos de vegetaes adjacentes, dada a interpenetrao de espcies dessas outras formaes. Da mesma forma, florstica e estruturalmente, o componente arbreo das Florestas Estacionais Deciduais de reas planas e de afloramentos calcrios de uma mesma regio, como o caso da bacia do rio Paran, pode formar associaes distintas (Scariot & Sevilha 2003; nesta publicao). No obstante a singularidade das florestas estacionais deciduais, a riqueza em espcies de importncia madeireira, a alta taxa de desmatamento e o impacto da perturbao antrpica nos remanescentes, poucas unidades de conservao contemplam essa fitofisionomia (Sevilha et al., 2004). Essencial na extensa regio do vale do rio Paran, onde ainda existem reas dessa vegetao, a imediata implantao de novas unidades de conservao que permitam a conservao e a preservao de amostras significativas da biodiversidade, da rica variedade de fitofisionomias e das nascentes dos cursos de gua e que assegurem, ainda, o fluxo gnico entre populaes isoladas. Scariot & Sevilha (nesta publicao) sugerem, que neste contexto, a implementao de corredores ecolgicos um objetivo maior a ser perseguido. Os corredores ecolgicos so uma das formas de planejamento regional que visam manter sistemas de reas protegidas em uma matriz de uso humano da paisagem. Esses autores destacam que, em um corredor ecolgico, so desenhadas e implementadas conexes entre reas protegidas, de forma que os biomas naturais

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no sejam ilhados como resultado da ao antrpica. Ao combater a fragmentao, mantm-se os processos de migrao, disperso, colonizao e intercmbio gentico que permitem a sobrevivncia da biota nativa na paisagem. Em termos de ecossistema, tambm so mantidos os fluxos de matria e energia que sustentam a produtividade natural (Cavalcanti, nesta publicao). Silva & Sousa (nesta publicao) relatam que nas ltimas dcadas foram desenvolvidos estudos biogeogrficos sobre as avifaunas dos cinco grandes biomas brasileiros, permitindo assim estimar a importncia relativa da especiao versus intercmbio bitico no processo de formao das avifaunas desses biomas e propor um primeiro modelo. Com base no modelo, a produo de espcies parece ser o principal fator que leva alta diversidade regional de espcies na Amaznia e Floresta Atlntica enquanto que nas avifaunas da Caatinga, Cerrado e Pantanal, o intercmbio bitico teve um papel mais importante na determinao da diversidade regional de aves do que a produo de espcies. Em contraste com as avifaunas das trs reas de formaes abertas, as avifaunas da Amaznia e da Floresta Atlntica so compostas por uma grande porcentagem de espcies endmicas, muitas das quais so restritas a somente uma poro da regio. O Pantanal no possui endemismos em aves e muito da sua avifauna composta por elementos biogeogrficos dos biomas adjacentes. A Caatinga e o Cerrado possuem muito mais espcies endmicas do que o Pantanal, mas em ambos os biomas o grande nmero de espcies que tm os centros de suas distribuies localizados em outros biomas muito significativo. Na Caatinga, os elementos de outros biomas esto principalmente nas florestas midas encontradas nas encostas de planaltos residuais (localmente denominados de brejos) ou nas transies ecolgicas com relevo complexo (Chapada da Diamantina) para a Floresta Atlntica e Cerrado. No Cerrado, os elementos dos outros biomas esto principalmente nas Matas de Galeria, que cobrem menos de 10% da regio, e nas Florestas Estacionais (Matas Secas), que esto restritas a manchas de solos derivados de rochas bsicas, nas depresses localizadas entre planaltos. Os brejos e as Matas de Galeria apresentam vnculos florsticos com a Floresta Atlntica (Felfili et al. 2001) e as Matas Secas ou Florestas Estacionais Deciduais apresentam elementos florsticos comuns com a Caatinga arbrea (Andrade Lima, 1981, Felfili 2003) e com as florestas semideciduais do Sudeste, para fins conservacionistas, hoje classificadas como Floresta Atlntica, ou seja, a avifauna de outros biomas presentes nas formaes abertas so dependentes das formaes florestais extra Cerrado ou extra Caatinga que existem nos limites dos respectivos biomas. Um planejamento biorregional de conservao deve ter como objetivo manter os processos biogeogrficos responsveis pela diversidade regional de espcies. Esse planejamento deveria tanto manter a produo de espcies e o intercmbio bitico com os biomas adjacentes como evitar a extino em massa das espcies devido s modificaes ambientais causadas pelas atividades humanas. No Pantanal e no Cerrado, extensos corredores ribeirinhos so essenciais para garantir o fluxo permanente de populaes e espcies dos biomas adjacentes para essas regies. No caso do Cerrado, as florestas ribeirinhas possuem tambm muitas espcies endmicas. Para a conservao das espcies endmicas das reas abertas do Cerrado, lugares estratgicos devem ser selecionados com base nos padres de variao da abundncia destas espcies ao longo da regio. Mais especificamente, um esforo especial de

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conservao deve ser direcionado para as trs reas de endemismo reconhecidas para aves na regio: o vale do rio Araguaia, o vale do rio Paran e suas florestas secas e a Chapada Diamantina com os seus campos rupestres (Silva & Bates, 2002). Colli (nesta publicao) avalia que os principais eventos de vicarincia que afetaram a herpetofauna sul-americana, em geral, e do Cerrado, em particular, foram em primeiro lugar, a diferenciao climtica latitudinal e formao de provncias florsticas ao final do Cretceo e incio do Tercirio, que criou uma dicotomia entre espcies de paisagens abertas, sob climas temperados e secos, versus espcies de paisagens florestais, sob climas tropicais e midos. Em segundo lugar, a herpetofauna foi subdividida pela formao da Cordilheira dos Andes a partir do Oligoceno, resultando na divergncia de elementos cis- versus trans-Andeanos. Depois, a grande transgresso marinha do Mioceno promoveu uma maior diferenciao entre a herpetofauna do Planalto Central Brasileiro em relao do sul do continente. Em seguida, o soerguimento do Planalto Central Brasileiro estimulou a diversificao da herpetofauna do Cerrado, entre elementos dos plats versus aqueles das depresses interplanlticas. Finalmente, flutuaes climticas no Quaternrio promoveram mais especiao, principalmente em encraves de vegetao nas regies de contato entre o Cerrado e as Florestas Amaznica e Atlntica. A esses eventos de vicarincia, h que se acrescentar o enriquecimento adicional da herpetofauna de paisagens abertas, incluindo o Cerrado, pela chegada de imigrantes das Amricas Central e do Norte. Essa seqncia de eventos presumivelmente deixou suas marcas, seja na composio atual da herpetofauna dos biomas, seja nas filogenias dos clados sul-americanos, o que pode ser verificado por meio de anlises biogeogrficas. Baseado em dados da literatura, na anlise de colees zoolgicas e em levantamentos, Pinheiro (nesta publicao) apresenta uma lista contendo 645 espcies de borboletas efetivamente registradas no Distrito Federal, indicando uma expressiva riqueza, mas, mesmo assim, aproximadamente um tero de todas as borboletas que ocorrem no Brasil Central (cerca de 210 espcies), nunca foi registrado em qualquer unidade de conservao do Distrito Federal. Este fato atribudo pelo autor, ausncia nas Unidades de Conservao do DF em pelo menos duas das fisionomias de vegetao de Cerrado que se constituem no habitat preferido de uma grande variedade de espcies de borboletas: (1) as florestas semideciduais (tambm conhecidas como florestas mesofticas), que no DF ocorrem principalmente em regies de solos calcrios, como na regio de Sobradinho, na chapada da Contagem e na regio da Fercal, e (2) as Matas de Galeria associadas a rios de mdio e grande porte, geralmente mais densas e mais extensas do que aquelas encontradas ao longo dos pequenos crregos e ribeires presentes nos parques e reservas. O autor considera que nas ltimas dcadas, o Distrito Federal vem passando por um intenso processo de urbanizao e pelo desenvolvimento de vrias atividades econmicas que levam inexoravelmente destruio dos habitats naturais e, conseqentemente, perda em biodiversidade. Com o avano da urbanizao, muitas das unidades de conservao vm sendo transformadas em verdadeiras ilhas de vegetao, geograficamente isoladas de outras unidades. Neste trabalho verifica-se que mesmo ambientes com pouca representatividade em rea no bioma Cerrado esto revestidos de grande importncia para estratgias de conservao da biodiversidade. As florestas estacionais que

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ocorrem em fragmentos naturais e antrpicos no Brasil Central, arranjadas como trampolins naturais de biodiversidade (Felfili, 2003), aproximam as extensas formaes estacionais da regio da Caatinga, do Pantanal e do Chaco. Proporcionando, assim, habitats exclusivos para uma flora (Scariot & Sevilha, nesta publicao, Pott & Pott 2003, Nascimento et al. 2004) e fauna de borboletas (Pinheiro, nesta publicao) de distribuio restrita a este tipo de formao e que, em geral, no esto contempladas nas Unidades de Conservao existentes. No Distrito Federal, as Florestas Estacionais ocorrem na regio da FERCAL, na APA de Cafuringa, fora das principais unidades de conservao. Os estudos sobre amplitude de dieta dos herbvoros, principalmente na regio tropical, podem esclarecer algumas questes ecolgicas, entre elas as estimativas de riqueza de espcies locais e regionais (Diniz & Morais, nesta publicao). Estas autoras consideram que no Cerrado do Distrito federal, cerca de 47% das espcies de lagartas (Lepidoptera) folvoras foram encontradas em apenas uma espcie de planta (monfagas), enquanto 20% so oligfagas, ocorrendo em apenas uma famlia de planta e 33% so polfagas, que se alimentam de vrias famlias de plantas. Isto refora a idia de que as lagartas tm uma amplitude de dieta estreita nos trpicos e por isso a necessidade de conservao da biodiversidade. Aguiar et al. (nesta publicao) analisando a complexidade estrutural de bromlias e a diversidade de artrpodes, em ambientes de campo rupestre e Mata de Galeria no Cerrado do Brasil Central constaram diferenas significativas entre esses habitats, ressaltando, tambm, a importncia da conservao do mosaico vegetacional do bioma Cerrado. Fernandes & Gonalves-Alvim (nesta publicao), citando Lara & Fernandes (1996), sugerem que a fauna de insetos galhadores no Cerrado uma das mais ricas do mundo. Tidon et al. (nesta publicao) informam que foram identificados trs gneros de Drosophilidae no bioma Cerrado. Drosophila, o maior desses trs gneros na regio Neotropical, contempla 55 das 57 espcies listadas, enquanto Scaptodrosophila e Zaprionus esto representados por apenas uma espcie cada. Dentre as 57 espcies de drosofildeos reconhecidas, 48 so endmicas da regio Neotropical e nove nela introduzidas. Vrias dessas espcies so sinantrpicas e colonizaram a rea aps a chegada do homem, alterando a composio da fauna drosofiliana da regio. Espcies da fauna nativa so encontradas em todas as fitofisionomias do Bioma, demonstrando o alto grau de plasticidade adaptativa dessa famlia. Um dado preocupante que das nove espcies introduzidas na regio Neotropical e registradas no bioma Cerrado, sete foram capturadas pelas autoras na Reserva Ecolgica do IBGE e no Parque Nacional de Braslia, Unidades de Conservao do Distrito Federal. Isso sugere que, embora mantidas como reservas ambientais, essas reas esto sofrendo colonizaes de espcies introduzidas, que podem alterar a fauna nativa da regio. Devido a sua capacidade incomum de digerir celulose, os trmitas so um grupo funcional dominante no Cerrado, com grande impacto no fluxo de energia, ciclagem de nutrientes e formao do solo. Uma fauna extremamente diversa depende dos cupins para alimento ou abrigo. Por outro lado, a converso de cerrados em agrossistemas, freqentemente, leva a desequilbrios que transformam algumas espcies de trmitas em pragas agrcolas (Constantino, nesta publicao). Os cupins do bioma Cerrado podem ser divididos em quatro grupos funcionais: xilfagos,

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humvoros, comedores de folhas da serapilheira (litter) e intermedirios (espcies que no se enquadram claramente em nenhum dos outros grupos), sendo uma caracterstica importante da fauna do Cerrado, a abundncia e diversidade de comedores de folhas mortas. As principais diferenas da termitofauna de Cerrado em relao de florestas so: a) menor proporo de xilfagos; b) maior proporo de comedores de folhas da serapilheira. Dois padres comuns de distribuio geogrfica podem ser estabelecidos com base em grupos mais bem conhecidos, sugere o autor citando Cancello & Myles (2000). Algumas espcies, como Serritermes serrifer, ocorrem em boa parte do Cerrado e em algumas savanas amaznicas, mas tm um limite sul que corresponde aproximadamente divisa entre Minas Gerais e So Paulo. Vrias outras, como Labiotermes brevilabius e Procornitermes araujoi, ocorrem numa rea menor, de So Paulo a Gois. provvel tambm que existam dois outros padres comuns. O primeiro corresponderia poro noroeste, incluindo parte de Gois at Rondnia, onde ocorrem Spinitermes allognathus e Spinitermes robustus. O segundo seria a parte nordeste, em Tocantins, Maranho, Piau e Bahia. A fauna dessa ltima rea praticamente desconhecida, mas uma espcie nova, Noirotitermes noiroti, foi descoberta recentemente num Cerrado do Piau. A diversidade de espcies da ictiofauna no Cerrado bastante expressiva contendo mais de 500 das quase 3.000 espcies de peixes na Amrica do Sul (Fonseca, nesta publicao). Conforme a autora, os cursos dgua que nascem nesta regio do Cerrado fluem naturalmente para as bacias contguas, constituindo muitas vezes corredores ecolgicos para muitas espcies aquticas. Dependendo da capacidade de adaptao das espcies, aliada s condies adequadas para o seu estabelecimento em outras regies, os deflvios do Cerrado podem representar caminhos de disperso de espcies aquticas. Dessa forma, o Cerrado brasileiro representa uma das reas indispensveis para a preservao da diversidade biolgica aqutica e do seu patrimnio gentico. Citando Conservation International (1999), a autora considera que as reas de conexo entre as bacias, que compreendem as suas cabeceiras de drenagem, so focos de endemismo para muitas espcies de gua doce, representando uma das reas prioritrias para a conservao da biodiversidade aqutica.

PROPOSTAS PARA CONSERVAOAlho (nesta publicao) ressalta que tem sido difcil persuadir os polticos, diante da presso social, de que o combate pobreza, misria, e tambm o desejo de desenvolvimento econmico e social, pressupem a necessidade de conservao da natureza. A perda da biodiversidade, alcanada pela extino irremedivel de espcies de flora e fauna s agrava os problemas da populao humana. A prtica tem demonstrado que, no caso de destruio da natureza, a populao local pobre a primeira que sofre a conseqncia da degradao da natureza. Este autor considera que o conceito de biodiversidade se apia num trip: diversidade de espcies (representando o nmero de formas de vida no nvel de espcies e suas populaes), diversidade gentica (representando as diversas variedades sub-especficas ou genticas das formas de vida) e diversidade ecossistmica (representando as diversas paisagens naturais como Campo, Campo sujo, Campo mido, Cerrado no sentido restrito, Campo cerrado, Cerrado, Mata Seca, Mata-Ciliar e de Galeria, Vereda e

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outras). E, que cada um desses elementos pode sofrer influncia de pelo menos trs tipos de presso: fsica (degradao ou perda de habitats), qumica (ao de contaminantes ambientais e poluio), e biolgica (introduo de espcies exgenas, perturbao na cadeia trfica, eliminao de espcies-chave da comunidade ecolgica) e outros fatores. Aponta que h diversas causas ou fatores identificados como ameaas ao Cerrado: (a) de ordem institucional (dificuldade de aplicar a legislao ambiental existente, deficincias na fiscalizao e carncia de conscientizao ambiental); (b) fogo; (c) desmatamentos; (d) expanso agrcola e pecuria (sem ordenamento ecolgico-econmico); (e) contaminantes ambientais (emprego desordenado de pesticidas, herbicidas e outros txicos ambientais, provocando poluio das guas e do solo); (f) eroso (assoreamento de corpos dgua, lixiviao e perda de solos devido ao emprego de tcnicas no apropriadas de uso do solo); (g) uso predatrio de espcies (sobre-explotao de espcies da flora e fauna); (h) implantao de grandes obras de infra-estrutura (impactos causados pela abertura de rodovias, hidrovias, hidreltricas e outras obras); (i) turismo desorganizado e predatrio e outras causas. A degradao e perda de habitats naturais, oriundas de diversas causas, so as maiores ameaas identificadas sendo necessria a adoo pelo governo e sociedade das diretrizes elaboradas para o Cerrado pelo grupo de trabalho criado pela Portaria do Ministrio do Meio Ambiente e Recursos Hdricos, nmero 298 de 11 de agosto de 1999. Pivelo (nesta publicao) sugere que apenas a criao de unidades de conservao no suficiente para a manuteno do patrimnio natural, mas tambm necessrio que medidas de manejo sejam adotadas para estas reas, bem como para toda a paisagem onde se inserem. Intervenes nos ecossistemas protegidos so necessrias para direcionar seus processos e evitar ou remediar problemas que os levem deteriorao. Dentre as constantes presses antrpicas sobre o Cerrado, a autora destaca as queimadas, invases para sua ocupao com moradias e agricultura de subsistncia, entrada de gado, retirada de lenha e de espcies medicinais, alm da invaso biolgica por espcies exticas. Dentre os problemas enfrentados pelas unidades de conservao do Cerrado, trs so destacados devido freqncia com que ocorrem e magnitude dos danos decorrentes: incndios causados por queimadas acidentais, invases biolgicas e fragmentao de habitats. Pivelo pondera que ampla a gama de dados j obtidos para o Cerrado, teis para subsidiar seu manejo, entretanto grande parte desse conhecimento biolgico e fisiogrfico est sob forma descritiva e necessita ser organizado, analisado e trabalhado sob uma perspectiva prtica, e ainda integrado a aspectos sociais e econmicos, para sua utilizao no manejo ambiental. Mais do que isso, a informao precisa chegar aos agentes - os tcnicos responsveis pelas unidades de conservao - e aos tomadores de decises, que elaboram as diretrizes e normas a serem adotadas. Cavalcanti (nesta publicao) alerta que a capacidade de sustentao extrativa de ecossistemas nativos extremamente limitada e oferece poucas perspectivas de ampliao como instrumento para promoo de conservao. Por outro lado, o uso de paisagens naturais para fornecimento de servios, onde no h necessidade de remoo de matria ou energia do sistema, permite um crescimento de escala considervel, restando o desafio de promover um processo de valorao para justificar sua manuteno. O autor informa que os esforos para conseguir valorar ecossistemas

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naturais a ttulo de servios foram acelerados a partir da dcada de 1980. As principais classes so: (a) servios de ecossistema: manuteno da gua, manuteno de clima, fixao de carbono, controle de eroso e conservao do solo; (b) servios biolgicos: manuteno da biodiversidade, bioprospeco, controle de predadores, servios de polinizadores, entre outros e; (c) servios sociais/culturais: manuteno de identidade cultural de populaes locais, smbolo e local para rituais sociais e religiosos, ecoturismo e turismo de aventura, lazer, manuteno da qualidade de vida. Entretanto, Cavalcanti pondera, que na sociedade moderna, os servios pblicos, em geral, assim como os recursos naturais tm sido sistematicamente no valorados, subvalorados, ou ento tm seus custos subsidiados. Dessa forma, o real valor dos ecossistemas naturais invisvel para a maioria da populao e no conseguem enfrentar em termos econmicos os outros usos potenciais da terra em que os retornos so valorados de forma mais transparente. O ambiente terrestre um ambiente biolgico, os principais elementos que mantm as condies de vida na terra so conseqncias da transformao biolgica do planeta durante o ltimo bilho de anos. O teor de oxignio na atmosfera, as condies climticas locais como temperatura, precipitao, umidade, ventos e o teor de gua no solo so todos mediados e em boa parte determinados pelas paisagens biolgicas. A sustentao da vida humana, tambm, em ltima instncia depende da transformao biolgica da energia solar em alimentos, mediada pela fotossntese. Desta forma paradoxal que grande parte da populao humana d maior valor aos elementos tecnolgicos de uma sociedade de consumo do que aos biolgicos na determinao de nossa qualidade de vida e sustentabilidade. Uma estratgia de proteo ambiental agrega valor significativo para a viabilidade da ocupao humana de uma regio. O custo de no proteger reas-chave muito alto. No Cerrado, onde a precipitao se concentra em seis meses do ano, a perenizao dos rios depende de armazenamento de gua subterrnea, nos grandes sistemas de chapades da Serra Geral.

CONSIDERAES FINAISDa abordagem multidisciplinar contida neste captulo-sntese, depreende-se que o Brasil Central contm um mosaico de fisionomias savnicas e florestais, onde o Cerrado sensu stricto sobre Latossolos profundos e bem drenados domina, entretanto, uma grande variedade de fisionomias intercala-se com esta. Ou seja, em uma escala ampla, a vegetao do Cerrado constitui-se em grandes manchas ou fragmentos naturais que se intercalam estando a conectividade vinculada manuteno do mosaico de fisionomias associadas. H diferenciaes florsticas e estruturais entre fisionomias, no entanto, h tambm diferenciaes florsticas em uma mesma fisionomia ao longo do espao territorial. Em geral, estas diferenas esto vinculadas a padres recorrentes de caractersticas fisiogrficas, gerando a necessidade de estratgias de manejo e conservao que considerem os padres recorrentes de paisagens disjuntas ao longo do extenso bioma, que se distribui por mais de 20 graus de latitude. As interfaces com outros biomas so particularmente importantes no Cerrado, ressaltando-se os ambientes contrastantes como as interfaces entre Cerrado e Caatinga e aquelas entre Cerrado e Florestas Tropicais midas.

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Esta diversidade de paisagens determina uma grande diversidade florstica, que coloca a flora do bioma Cerrado como a mais rica dentre as savanas do mundo. A estacionalidade do clima tem sido considerada como determinante das fisionomias savnicas do bioma Cerrado, assim como exerce grande influncia sobre as florestas estacionais deciduais e semideciduais. J o lenol fretico, prximo superfcie do solo, compensa os ef