Upload
others
View
1
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Evandro Borges
Psicologia Positiva
Uma mudança de Perspectiva
Série Positiva Psicologia
Copyright © 2017 by Evandro de Lemos Borges CRP 20/07141
Diagramação: Wenceslau Abtibol Filho
Fotografia: Thainara Borges do Vale
Revisão: Rodrigo Benarrós Ribeiro
Série Positiva Psicologia
www.positivapsicologia.com.br
Todos os direitos reservados. A reprodução não autorizada desta
publicação, no todo ou em parte, constitui violação de direitos
autorais (Lei 9.610/98). O conteúdo desta obra é de responsabilidade
do Autor, proprietário do Direito Autoral.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE
EDIÇÃO DO AUTOR, SC, BRASIL
Borges, Evandro, 1982-
B732p Psicologia positiva: uma mudança de perspectiva [recurso eletrônico]:
Evandro Borges. – 1ª ed. – Série Positiva Psicologia. Vol.1. – Joinville:
Clube de Autores, 2017.
Formato: ePub
ISBN 978-85-923292-1-1 (recurso eletrônico)
1. Psicologia positiva. 2. Psicologia aplicada. 3. Bem-estar. I. Título.
CDD: 158.1
17-07873 CDU: 159.947
Produced in Brazil / Produzido no Brasil
ISBN 978-85-923292-1-1
SUMÁRIO
PREFÁCIO 13
Uma mudança de perspectiva na psicologia 19
Meu encontro com a psicologia positiva 31
Como surgiu a psicologia positiva? 39
Psicologia Positiva vs Psicologia Humanista 41
Bem-estar versus doença 43
Os 5 Pilares da Psicologia Positiva – O Modelo PERMA 49
Emoções Positivas (P) 53
Engajamento ou Fluidez (E) 63
Relacionamentos Positivos (R) 65
Sentido no viver, significado ou propósito (M) 67
Realização (A) 69
O Papel das Emoções Positivas no processo psicoterapêutico 73
O Modelo de Emoção em psicologia positiva 76
Emoção versus Ação 78
A consolidação dos efeitos das emoções em longo prazo 80
Autoconsciência, autocompaixão e autocuidado 83
Autoconsciência 83
Autocompaixão 87
A Teoria do Autocuidado 90
Felicidade em Psicologia Positiva 97
Obstáculos ao aumento do nível de felicidade 102
O Relatório Mundial da Felicidade (World Happiness Report) 105
Antecedentes 107
Aproveitamento da informação e da investigação sobre a
felicidade para melhorar o desenvolvimento sustentável. 108
Definição e medição de Florescimento 111
Florescimento 111
A Escala de Florescimento 114
A descoberta do Flow 117
As contribuições do Dr. Mihaly Csikszentmihalyi 117
A Teoria do Flow (Fluxo) 119
Exemplos Práticos de Estados de Flow / Fluxo 127
Prazer versus felicidade 131
O Estado de fluxo: 132
Fluxo versus Homeostase 135
Como obter maiores experiências de Fluxo 139
Introdução ao conceito de Engajamento 143
Engajamento nas Organizações 149
Engajamento no Trabalho 149
Identificando determinantes de satisfação com a vida 153
A felicidade e a Personalidade Autotélica 157
Autocontrole - Uma forma de superar momentos difíceis 171
Exercitando o Autocontrole 172
Depressão, um olhar biopsicossocial 179
Psicologia e Biologia – Um convite ao diálogo 183
Instrumentos de avaliação em psicologia positiva 189
Ampliando e construindo emoções positivas 197
Agradecimentos 203
ANEXO I - Relatório Mundial da Felicidade - Ranking 2016 205
ANEXO II – Estrutura da Escala de Florescimento 213
Referências 215
Notas 13
13
Dedicado aos meus queridos pais, Helena e
Getúlio.
Evandro Borges
14
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
13
PREFÁCIO
Quando você tem amor por uma profissão, quando
descobre nela sua vocação, quando você acredita que seu
trabalho pode influenciar positivamente a vida de outras
pessoas e, quando as pessoas depositam em você
confiança, você descobre verdadeiramente um sentido
maior pelo qual a vida deve ser digna de ser vivida. Esse é
o maior retorno que um profissional do campo das
ciências humanas pode ter. E no momento em que
escrevo este livro, o Brasil passa por um processo de
resseção econômica nunca antes visto na história
moderna do país. Por um instante questiono a mim
mesmo sobre os motivos pelos quais escrevo e quem irá
comprar livros em um momento econômico tão difícil
como este. Deste ponto em diante, meus motivos para
continuar escrevendo são claros, trata-se de uma
realização pessoal, de um objetivo, algo maior que eu,
algo que me faz feliz de uma forma plena. E tudo
começou com um pequeno projeto, um curso de
introdução à psicologia positiva gratuito, que lancei em
meados de 2015 na plataforma virtual
www.positivapsicologiacom.br. Para a minha surpresa,
recebi mais de 50 inscritos na primeira semana. Hoje
tenho centenas de alunos inscritos e centenas deles já
Evandro Borges
14
concluíram o curso, com direito a certificado de 40 horas.
Em seguida comecei a lançar as bases para um curso de
certificação em psicologia positiva aplicada. Para isso,
precisei recorrer a cursos nos Estados Unidos e Canadá, o
que me proporcionou uma base sólida em PP. Enquanto
eu compunha os módulos do curso e as apostilas, eis que
senti uma certa dificuldade em encontrar livros ou artigos
em português, embora este cenário esteja mudando
graças ao empenho de diversos profissionais e
pesquisadores cada vez mais engajados no tema, tanto no
Brasil quanto em boa parte da América Latina. E como os
cinco pilares fundamentais da psicologia positiva
baseiam-se no Modelo PERMA, que abordaremos no Cap.
5 deste livro, dei início ao projeto Série Positiva
Psicologia, abordando os cinco pilares em 5 volumes de
livros diferentes, todos em andamento até o presente
momento. Devo esclarecer, de antemão, que ao contrário
do que afirmam os críticos, o tema central da psicologia
positiva não é a felicidade, mas o bem-estar. O conceito
de felicidade é subjetivo e não pode ser aplicado a todos,
uma vez que cada indivíduo possui sua própria percepção
de mundo. E cada vez mais eu me convenço de que a
felicidade plena não se resume a um estado de humor
sempre alegre. O filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard,
ao refletir sobre a felicidade, compreendeu
metaforicamente que ela seria uma porta que somente
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
15
poderia se abrir para fora, e que qualquer um que tentasse
forçá-la no sentido contrário acabaria por fechá-la ainda
mais1
. De fato, nós podemos encontrar motivos para
sermos felizes dentro de nós mesmos, mas a porta que se
abre para fora é a mesma porta de entrada e saída. Isso
significa que nós podemos transmitir e absorver felicidade
ao abrirmos a porta. A alegria é passageira e o humor
oscila repentinamente. Você pode acordar extremamente
feliz e ir dormir extremamente triste. A conclusão de tudo
isso é de que é possível encontrar a felicidade plena nas
pessoas e até mesmo nas coisas exteriores. Somos parte
de uma coletividade e nos conectamos uns com os outros
constantemente, da mesma forma que nos conectamos
com o mundo à nossa volta. No entanto, é necessário que
nossa existência faça sentido nesse mundo. Deve haver
uma causa exterior, um significado, um propósito. E
talvez esse seja o motivo pelo qual muitas pessoas passem
por crises existenciais que causam angústia e fazem-nas
sentirem-se insignificantes. A angústia é sofrimento sem
sentido, como bem definiu o psicólogo Viktor Frankl2
. A
felicidade plena, a meu ver, é um estado mental que
1
Moreira, Neir; Holanda, Adriano. Logotherapy and the meaning of
suffering: convergences in the spiritual and religious dimensions.
Psico-USF, v. 15, n. 3, p. 345-356, 2010.
2
Frankl,Viktor E. Logoterapia e Análise Existencial - Textos de Seis
Décadas. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2012.
Evandro Borges
16
depende de fatores internos e externos, como
relacionamentos positivos que agreguem emoções
positivas, como alegria, coragem, motivação, inspiração,
sentimento de ser acolhido e amparado, dentre outros.
Por outro lado, também depende de sentido no viver, de
sentir-se realizado e estar engajado, envolvido e
comprometido com algo que nos faça perder a noção do
tempo. É como alguém que ama jogar xadrez e consegue
ficar envolvido em uma partida durante horas, ou como
um atleta de alto rendimento que consegue correr 20 km,
totalmente concentrado. Ambos buscam realização,
ambos têm um propósito. E quando nos isolamos,
quando não encontramos sentido e realização ou não
estamos engajados em algo, a mente parece ser inundada
por pensamentos aleatórios que podem causar insônia,
ansiedade e até mesmo depressão. Não há furacão mais
devastador do que uma crise existencial. E muitas pessoas
encontram-se no olho de um furacão nesse exato
momento, sem saberem o que fazer, sem terem a quem
recorrer enquanto suas vidas desmoronam. Talvez
tenham receio de procurar ajuda psicológica e serem
diagnosticadas como neuróticas ou psicóticas. E eu quero
vos dizer que, ao contrário do que muitos imaginam,
crises existenciais são extremamente positivas. E é
através delas que paramos para refletir, mudamos nossas
atitudes com relação a nós mesmos, ao mundo e às
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
17
pessoas. Nós podemos reconstruir nossas vidas do zero
quando tudo desmoronar. O ser humano possui forças
indomáveis para superar adversidades. E essa é a
mudança de perspectiva, explorar as forças humanas. Essa
é a psicologia que eu desejo para o futuro, uma psicologia
mais humana, com evidências científicas que comprovem
seus efeitos, focada nas potencialidades das pessoas. Estar
engajado neste livro, neste projeto e no objetivo de
contribuir com o avanço da psicologia positiva no Brasil é
o que me faz feliz e realizado. É difícil descrever tamanha
experiência, mas é como se o tempo parasse, como se eu
estivesse conectado com cada um de vocês, em um
diálogo com uma linguagem acessível e que possibilite
uma leitura agradável. Eu gostaria de agradecê-lo pela
aquisição do livro, de coração. E desejo a você uma
excelente leitura.
Evandro Borges
18
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
19
Capítulo 1
Uma mudança de perspectiva na psicologia
Independente de qualquer corrente teórica,
metodológica ou prática, a psicologia visa, desde seus
primórdios, emancipar o homem, torná-lo independente,
livre para fazer suas escolhas, para pensar e agir por conta
própria, um ser pujante, autônomo e dotado de senso
crítico, consciência e razão. Qualquer coisa que fuja a esse
direito fundamental estabelecido pela Declaração
Evandro Borges
20
Universal dos Direitos Humanos contraria a psicologia3
. A
psicologia do homem inválido, doente, vítima de sua
eterna infância traumática, do homem que tenta, em vão,
superar seu passado ao mesmo tempo em que tem nas
mãos a oportunidade de viver o presente e recomeçar do
zero, parece estar mudando de perspectiva. O mundo
evolui, tudo evolui. E o homem evolui constantemente.
Na década de 90 os primeiros telefones celulares
eram o que havia de mais avançado no campo das
telecomunicações, hoje eles são obsoletos. Há centenas de
novos modelos de aparelhos com funções das mais
diversas possíveis. Da mesma forma, os automóveis
também evoluíram, os computadores, os livros, os discos,
as artes, o pensamento, a medicina, a robótica, a
mecatrônica, os aparelhos de TV, os condicionadores de
ar, a moda, as cidades e uma inúmera série de outras
coisas. O homem torna possível a evolução das coisas por
meio de sua própria evolução. E de certa forma, a
evolução das coisas permite que o homem evolua, se
adapte, aprenda, explore, descubra, refaça, reinvente,
aprimore, aperfeiçoe, improvise, pense, repense, escolha,
decida, desista, insista, persista. O homem torna possível
a evolução das coisas que cria e as coisas tornam possível
a evolução do homem. É uma via de mão dupla. A mente
3 Declaração Universal dos Direitos Humanos – ONU, 1948.
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
21
humana está em constante evolução. As perspectivas
mudam. Não somos os mesmo de 10 ou 20 anos atrás.
Ocorre que a evolução das coisas são fruto de adaptações
que se aperfeiçoam na medida em que o pensamento
evolui, mas temos nas mãos o poder de escolha, sobre
como utilizar o conhecimento acumulado. Governos
podem optar por investimentos em ciências que tragam
benefícios à população, como no desenvolvimento de
vacinas que previnam epidemias, prevenção e promoção
de saúde, educação, dentre outras, mas também podem
investir maciçamente em programas nucleares e
desenvolvimento de mísseis capazes de exterminar
centenas de milhares de pessoas.
As convicções que eu tinha há 10 anos atrás são
totalmente diferentes das que eu tenho hoje. E talvez eu
mude de ideia daqui para amanhã. Isso, a meu ver, é
libertador. E como aspirante a cientista, tenho me
pautado pelas descobertas da ciência. E sou incapaz de
fechar os olhos para o esforço e tamanha dedicação da
comunidade acadêmica e científica ao redor do mundo. A
psicologia, no meu ponto de vista, vem perdendo muito
de sua identidade original, principalmente na América
Latina. E digo isso porque a psicologia moderna nasceu
em um laboratório, em Leipzing, com Wundt, um filósofo
que se abriu para a ideia de uma psicologia experimental.
Wundt, além de filósofo, estudou medicina, fisiologia,
Evandro Borges
22
química, anatomia e física. O fato é que, apesar das
limitações da época, Wundt ousou constituir a psicologia
como uma nova área da ciência objetiva e experimental
independente, tornando-a distinta da filosofia. Foi um
gênio, um gênio a seu tempo e com suas limitações. Mas
a ciência sempre será um ponto de interrogação. E muitos
outros vieram após ele e o refutaram. E isso é ciência, é
uma reticência atrás da outra. E isso é simplesmente o
combustível da ciência. E qualquer um que se arrisque a
adentrar no campo das ciências deve estar disposto a abrir
mão de suas convicções pessoais, ideológicas e políticas.
Não é o que eu tenho percebido atualmente. Não há
diálogo entre as diversas correntes da psicologia. Há, sim,
uma visível dicotomia de egos inflados em suas próprias
bolhas, e qualquer opinião, pesquisa ou tentativa de
refutação de uma teoria torna-se semelhante a uma
agulha. A psicologia como ciência deve estar aberta ao
novo. E o cientista moderno não pode se fechar dentro de
um círculo de séquitos que aplaudem tudo o que ele diz.
Ele tem que aprender a conviver com as críticas, sejam
positivas ou negativas, pois são as convergências de
pensamentos diversificados que enriquecem a ciência.
Por outro lado, tenho observado a psicologia latino
americana cada vez mais distante de temas como
neuropsicologia, neurogenética, biologia, genética,
psiquiatria, dentre outros temas riquíssimos em
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
23
informações que podem contribuir bastante para
pesquisas. Há, no entanto, uma forte inclinação para a
sociologia, antropologia, filosofia e psicanálise, o que é
normal dentro das chamadas ‘psicologias’. Mas, se você
for a um seminário cujo tema seja X, dentro da
perspectiva X e para o público X, falar em Y soa quase
como uma ofensa, porque muitos pesquisadores estão se
limitando a um único campo de conhecimento. Já não se
arriscam a ouvir o contraditório, talvez por não
dominarem o tema Y e por terem dedicado anos de
pesquisas ao tema X. E a recomendação que eu tenho é:
não se limitem apenas ao tema X, pois vocês serão
surpreendidos com questões das mais diversas possíveis.
E quando isso ocorrer, e se você não as dominar, não
tenha medo de admitir que não tem uma resposta para o
que você desconhece. E se acaso você tenha total domínio
do tema em questão, dialogue, pois o que vejo
constantemente são pessoas impondo um único ponto de
vista a qualquer custo. Dentro da ciência existe espaço
para a contradição. Pode-se questionar, debater, refutar,
formular novas hipóteses, colher diferentes tipos de dados
e validá-las. Sem tais premissas, a ciência perde seu
caráter de ciência e passa a ser doutrina. É praticamente
impossível estudar a psiquê humana excluindo fatores
biológicos e evolucionistas, assim como é impossível
Evandro Borges
24
estudar a evolução biológica excluindo os fatores
sociológicos e culturais. É uma via de mão dupla.
Se existe algo que eu aprendi com a ciência, é que a
ciência nunca estará completa. E sendo assim, a ciência
sempre estará aberta ao debate. Hoje há uma curva de
deformação nas ciências, onde o pesquisador dificilmente
se isenta de suas convicções pessoais ou ideológicas. São
pesquisas “fabricadas”, onde o cientista moderno escolhe
apenas as referências que embasem sua teoria, sem se
arriscar em refutar uma teoria existente. Sem direito ao
contraditório, ele chama isso de ciência, discursa pra seu
próprio público e se fecha num casulo. Mas, virão outros
após ele, outros com espíritos inquietos e indomáveis.
Porque a ciência nunca terá todas as respostas. Os
visionários precisam buscar respostas para o que ainda
não existe. Essa é a verdadeira ciência. Este livro te
caráter introdutório e, portanto, abordará de forma
sucinta os temas centrais da psicologia positiva.
E para ilustrar bem essa experiência extraordinária
da evolução do pensamento eu gostaria de falar sobre
minha primeira mudança de perspectiva sobre a vida,
sobre o mundo e meu encontro com a psicologia. Sobre
realização pessoal e profissional, pois tenho formação
inicial na área de exatas e, após trabalhar por longos treze
anos em um departamento comercial, questionei-me
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
25
sobre minha satisfação com a vida. Eu tinha um bom
emprego, liberdade para tomar decisões, uma
remuneração invejável, plano de saúde e garantias de
estabilidade econômica e financeira, mas faltava-me algo,
a satisfação pessoal e profissional. Era íntimo de uma lista
de produtos que continha mais de cinco mil itens,
dominava como ninguém as relações de compra e venda,
importação e exportação, mercado financeiro, câmbio
monetário, pregões eletrônicos, formação de preços,
negociações comerciais e uma infinidade de outras coisas,
só não dominava minha motivação. Acordar às 7 da
manhã durante treze anos e fazer o mesmo percurso até o
trabalho estava se tornando algo cansativo, tortuoso,
monótono e difícil de lidar. Se a tal estabilidade resume-
se em fazer a mesma coisa para o resto da vida, sem que
isso me traga satisfação, prefiro ter uma vida instável e
um pouco mais de liberdade. E foi aí que pensei em
mudar um pouco a rotina.
Tendo as noites livres, passei a dedicar-me à
leitura, e lá na prateleira, esquecido e empoeirado, um
livro sobre noções básicas de psicanálise. Até então eu
não sabia a diferença entre psicanálise e psicologia. A
única noção que tinha era aquela de consultório clínico,
com um terapeuta sentado e um paciente deitado no divã.
Talvez fosse meu ideal de tratamento psicológico, talvez
fosse o que eu estivesse precisando no momento. E
Evandro Borges
26
confesso, tornei-me um adepto da psicanálise. Foi amor à
primeira vista. E como que em um insight, pensei: “Todos
esses anos trabalhando só para conter meus impulsos
primitivos reprimidos”.
Um ano depois ingressei na faculdade de
psicologia. De início conseguia conciliar trabalho e
faculdade tranquilamente e pude até perceber uma
pequena mudança, minhas noites nunca mais foram as
mesmas. Abandonei meu emprego e fui trabalhar como
professor na área de exatas. O salário não era muito
atrativo, mas a satisfação em instigar meus alunos a
pensarem e evoluírem não tinha preço. Aprendi muito
com eles, uma aprendizagem mútua e facilitadora. Tinha a
meu favor a experiência, mas eles tinham as dúvidas,
perguntas inusitadas das quais não haviam respostas
prontas. E compreendi, também, que ser professor não
era simplesmente transmitir conhecimento, mas
incentivar e facilitar a busca por conhecimento.
No segundo período do curso de psicologia, eis que
vejo estampado em meu cartão de matrícula a tão
esperada disciplina de introdução à psicanálise. Na
primeira aula, ouço entusiasmado a apresentação de um
professor lacaniano que, em seguida, pede para que cada
um dos presentes diga o motivo pelo qual escolheu o
curso de psicologia. Convicto de minha escolha, respondi
que estava ali por ser um admirador da psicanálise. O
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
27
professor balançou a cabeça como que em uma negativa e
logo me disse a primeira verdade: “Você não precisa
estudar psicologia para ser um psicanalista, basta
procurar por um curso regular de psicanálise”. É...
pesquisar sobre um curso ou fazer um teste vocacional
antes de se matricular em uma faculdade faz toda a
diferença, mas não tanta diferença quando seu objetivo é
preencher um tempo livre ou estudar apenas para adquirir
novos conhecimentos e manter a mente ativa. Este era
meu real objetivo de estar ali, no início, até encontrar na
psicologia um sentido maior, um propósito que não fosse
apenas resolver minhas questões pessoais. E todo
acadêmico de psicologia parece ser conhecedor do estigma
que a profissão carrega. Esse estigma, para mim, foi
nitidamente visível no início do curso. Predominava a
ideia de que a maioria dos acadêmicos de psicologia
ingressavam no curso para resolverem suas questões
pessoais. Há um pouco de verdade, não devo negar, pois
apesar de sermos orientados a separar o que é ciência e o
que é um ponto de vista pessoal, baseado em nossas
vivências, estamos sujeitos à condição humana,
carregamos, inevitavelmente, questões pessoais não
resolvidas, mas eu gostaria de dar a minha opinião sobre
os reais motivos pelos quais acredito que uma pessoa
escolha cursar psicologia, e não são as questões pessoais,
mas uma personalidade altruísta, voltada para as questões
Evandro Borges
28
humanas, uma inclinação indomável ao propósito de
entender a mente humana, de doar-se a uma causa maior,
de colaborar com a sociedade, sentir-se útil, dentre outros
fatores. É uma questão puramente vocacional, e se não
for, você verá sua turma diminuindo gradativamente com
o passar dos anos.
Caí no curso de psicologia de paraquedas, no
primeiro período precisei fazer uma viagem de
emergência e quase abandonei o curso. Ao retornar a
Manaus, reencontrei um amigo de classe que me
incentivou a voltar para a faculdade. E voltei no segundo
período. Hoje, como profissional, aconselho a qualquer
acadêmico ou psicólogo que façam terapia. A terapia nos
ajuda a manter o equilíbrio necessário para os desafios de
nossa profissão. E também é uma forma de adquirirmos
confiança no que fazemos, e devemos começar por nós
mesmos.
Os cursos de psicologia nos dão um apanhado geral
das várias correntes teóricas, metodológicas e práticas,
mas é difícil concluí-los sabendo exatamente qual
vertente seguir. Muitos acabam tornando-se adeptos
daquilo que acreditam. E isso não deve ser considerado
um aspecto negativo, desde que faça sentido para o
indivíduo. Mas hoje acredito na psicologia baseada em
evidências científicas. O que funciona para uns pode não
funcionar para outros. E as pesquisas aplicadas a nível
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
29
global nos dão uma noção exata do que realmente pode
ser eficaz no que diz respeito aos tratamentos
psicológicos. Portanto, o caminho para uma formação
sólida deve ser composto, não somente pelo que se
aprende tradicionalmente na academia, mas pela busca
independente de conhecimento paralelamente a isso.
A grande maioria das grades curriculares que hoje
integram os cursos superiores de psicologia estão
atreladas à teorias do início do Século XX, enquanto que a
psicologia aplicada na prática se faz necessária para
pessoas do Século XXI. E isso é um desafio para qualquer
psicólogo. Como podemos, então, utilizarmos de
ferramentas tão antigas em tempos modernos e
globalizados onde a informação corre na velocidade da
luz?
Enquanto eu fazia estudos de casos de 1910, em
algum lugar do mundo um novo pesquisador publicava
artigos e livros, novas demandas surgiam e novas
pesquisas chegavam à novas conclusões acerca de
determinados fatores dentro da psicologia. De fato, com o
advento da tecnologia, da internet e da informação, a
comunidade acadêmica e científica produziu muito mais
conteúdo nos últimos 20 anos do que nos últimos 100
nos. E bastam alguns cliques e você estará acessando um
artigo publicado na Austrália, Nova Zelândia ou em
qualquer outra parte do mundo. Em contrapartida, a
Evandro Borges
30
utilização de ferramentas para coleta de dados
quantitativos em massa hoje possibilita que comparemos
amostras globais e a transformemos em pesquisas
qualitativas. Sim, devo dizer-lhes que a psicologia
positiva, apesar de ter como princípio básico o
aprimoramento científico, também possui ferramentas de
mensuração de dados qualitativos. Um exemplo disso é o
Questionário sobre as 24 Forças de Caráter
disponibilizado gratuitamente no site do VIA Institute. 4
4 Via Institute on Character http://www.viacharacter.org
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
31
Capítulo 2
Meu encontro com a psicologia positiva
Durante meu período de estágio profissionalizante
tive a oportunidade de atuar como psicoterapeuta
supervisionado. Meus primeiros supervisores tinham
orientação psicanalítica e as supervisões seguiam a
mesma abordagem. Não vou negar que encontrei na
psicanálise uma base sólida para dar os meus primeiros
passos como terapeuta. E não estou aqui para tecer
críticas sobre uma determinada abordagem. Não é minha
intenção fragmentar ainda mais a psicologia, mas uni-la,
propor um diálogo e apresentar uma nova abordagem,
não necessariamente a que acredito ser a melhor, mas a
que mostrou-se eficaz em minhas experiências clínicas e
na qual encontrei embasamento científico.
Meu encontro com a Psicologia Positiva (PP) deu-
se exatamente no momento em que eu questionava o
modelo tradicional de psicodiagnóstico, durante o período
de residência no departamento de plantão psicológico da
clínica de psicologia da universidade. Na ocasião, me foi
encaminhada uma criança com "indícios" de Transtorno
Evandro Borges
32
do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), e as
ferramentas diagnósticas de que eu dispunha no
momento constavam nos famosos testes psicodinâmicos e
manuais de classificação de transtornos mentais.
Preocupava-me o fato de que, cada vez mais, crianças em
idade escolar estarem sendo encaminhadas para os
serviços de atendimento psicológico por supostamente
apresentarem comportamentos "anormais" em casa ou na
escola. E imediatamente me propus a pesquisar sobre
novas abordagens que me levassem a uma compreensão
mais ampla de "saúde mental", ao invés do modelo
tradicional de "doença mental". Foi um longo desafio, eu
confesso, mas minha concepção de psicologia nunca mais
foi a mesma.
Dediquei os últimos quatro anos ao estudo da
psicologia positiva e tive a oportunidade de acompanhar
de perto as recentes pesquisas e avanços científicos. Posso
definir a psicologia positiva como uma abordagem nova
preparada para lidar com demandas antigas e atuais, que
utiliza-se de ferramentas modernas e explora a tecnologia
que temos disponível em nossos dias, mais do que isso, é
também a ampliação de um campo de visão sobre o
mundo, sobre como explorar o potencial humano, suas
forças de caráter, sua criatividade e virtude. Se antes os
indivíduos eram classificados como neuróticos ou
psicóticos, todo o trabalho do terapeuta concentrava–se
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
33
em diagnosticar o tipo de neurose ou psicose e então
classificá-las em graus. Hoje meu trabalho é focado no
diagnóstico do que há de saudável nas pessoas, do
potencial a ser explorado, de como auxiliar pessoas a
encontrarem sentido e realização em suas vidas. Isso é
gratificante.
Se antes eu estava atrelado a uma figura paterna ou
ocupava o lugar de autoridade no set terapêutico, envolto
em processos de transferência e contratransferência,
neuroses, fixações, projeções e afins, sentia-me, de certa
forma, afetado psicologicamente por estes processos.
Seligman (2011) discorre sobre sua concepção
original da psicologia positiva, onde afirma que achava
que o tema da psicologia positiva deveria ser a felicidade,
que o principal critério para a mensuração da felicidade
seria a satisfação com a vida e que o objetivo da psicologia
positiva era aumentar essa satisfação com a vida. O autor
reavalia tais concepções e então chega a conclusão de que
atualmente o tema central da psicologia positiva deva
estar focado no bem-estar, que o principal critério para a
mensuração do bem-estar é o florescimento, e que o
objetivo da psicologia positiva é aumentar esse
florescimento. A psicologia Positiva é, portanto, uma
mudança de perspectiva do modelo tradicional de
psicologia. Ela nasce de uma necessidade de se investigar
as origens da saúde, ao invés de buscar o que há de
Evandro Borges
34
"doente" nas pessoas (SELIGMAN, 2004). Mudança de
perspectiva, me refiro a uma perspectiva angular, a forma
como a enxergamos, uma nova postura frente ao modelo
tradicional. Esse é um desafio.
Um exemplo prático explica bem essa perspectiva:
Se um paciente é diagnosticado com depressão, é bem
provável que durante o processo psicoterapêutico o foco
principal seja investigar a origem de sua depressão e,
consequentemente, promover uma intervenção com o
objetivo de aliviar os sintomas. Obviamente, havemos de
considerar que a depressão pode ser proveniente de
inúmeros fatores clínicos. Então, em uma escala de 1 a
10, onde 1 representa pouco depressivo e 10 muito
depressivo, o foco da intervenção tende a regredir de 10
para 1. A Escala de Depressão de Beck (1988), onde
avaliam-se os graus de depressão de um indivíduo por
sintomas como tristeza, insatisfação, pessimismo, senso
se fracasso, culpa, dentre outros, possibilitou uma
verdadeira revolução no diagnóstico de depressão, mas há
uma pergunta a se fazer, especialmente no que diz
respeito às escalas e inventários diagnósticos. Seria a
depressão apenas uma consequência da presença de
aspectos negativos na vida do indivíduo, ou seria também
decorrente da ausência de aspectos positivos? Portanto,
pergunto-me se não poderíamos tratar determinados
casos de depressão promovendo mudanças de
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
35
comportamento que introduzissem tais aspectos positivos
ausentes, ao invés de somente tentar amenizar aspectos
negativos presentes. Aqui o foco seria a potencialização
do que ainda há de saudável no indivíduo, explorando
suas forças pessoas, ao passo que a outra alternativa seria
a de minimizar o que há de "doente".
De certa forma, minha relação com a psicologia e
com as pessoas mudou. Se antes eu era um acadêmico
preocupado em manter uma postura sempre vigilante,
tentando avaliar o que havia de ‘errado’ em meu
comportamento cotidiano, fora da academia ou da clínica,
incorporando o psicólogo 24 horas por dia e 7 dias por
semana, hoje levo uma vida absolutamente normal,
separando a profissão de minha vida pessoal. É uma tarefa
difícil, eu sei. Não é fácil desvincular-se completamente
do que trabalho e do que é pessoal, mas o estado de
vigília, de sempre se policiar, de analisar, mesmo que de
maneira não intencional, as pessoas à sua volta, acaba
gerando ansiedade. E isso de certa forma afeta a saúde do
psicólogo, afeta suas emoções, faz com que o indivíduo
abdique de sua liberdade de viver a vida como um ser
humano qualquer, afinal, não somos deuses e nem
detentores de poderes sobrenaturais. Estamos sujeitos a
alterações de humor, emoções, problemas do dia-a-dia, e
precisamos encontrar uma forma de deixar estes
problemas em casa, da mesma forma que precisamos
Evandro Borges
36
deixar o psicólogo ou a psicóloga no trabalho, na
faculdade, na clínica e onde quer que a condição exija que
sejamos psicólogos atuantes. E utilizo uma matemática
simples, apenas dividindo as 24 horas do dia por três.
Dedico oito horas ao trabalho, oito à família, lazer,
amigos e afazeres rotineiros e, por fim, oito horas
dedicadas ao descanso. Não é uma receita de bolo, mas
isso me proporciona bem-estar, me dá a liberdade de ser
‘eu mesmo’ quando estou com a família ou amigos, de ter
um ataque de raiva e não precisar justificar a mim mesmo
com aquele mantra “Calma Evandro, respira, você é um
psicólogo, precisa aprender a se controlar”. Sou um
psicólogo, não um monge budista. E o mais difícil é
convencer as pessoas mais próximas de que você, além de
psicólogo, é um ser humano qualquer, como elas. E há o
velho estigma de que ‘todo psicólogo é meio louco’, já
ouvi isso de diversas pessoas, e não foram poucas. Eu
diria que a questão é muito mais complexa do que se
imagina. Devemos admitir que o modelo de ‘doença’ com
o qual estamos habituados nos afeta diretamente. E estar
imerso em um ambiente adoecido, onde acreditamos fazer
parte de uma relação de transferência e
contratransferência, nos torna vulneráveis e até mesmo
doentes, padecendo dos próprios males que tentamos
solucionar.
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
37
Recebo diariamente dezenas de e-mails de
profissionais psicólogos e acadêmicos com os mais
variados tipos de perguntas. Me esforço para responder a
todos, mesmo que em poucas palavras. E uma pergunta,
em especial, me deixou bastante intrigado, e ela partiu de
um profissional recém formado. “Evandro, como devo me
comportar nas redes sociais, o que você me aconselharia a
fazer, qual postura devo adotar?”. Isso me intrigou, pois
as redes sociais são espaços públicos e há toda uma
preocupação em construirmos uma imagem profissional
positiva
Evandro Borges
38
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
39
Capítulo 3
Como surgiu a psicologia positiva?
Para Hutz (2014) essa é uma questão controversa e
que tem gerado bastante polêmica. No ano 2000,
Seligman e Csikszentmihalyi publicaram um artigo
intitulado “Positive Psychology: an introdution”, na
American Psychologist, onde afirmaram que desde a
Segunda Guerra Mundial o foco da psicologia teria sido
curar e reparar danos. Esse foco, quase exclusivamente
curativo, ressaltam os autores, fez com que se olhasse
pouco para os aspectos positivos que também são parte
do sujeito e das comunidades. Tais aspectos teriam então
sido negligenciados por um longo período, tornando a
visão da psicologia incompleta. Com base em tais
argumentos, os autores propuseram que o objetivo da
psicologia positiva é promover um ajuste no foco da
psicologia para que aspectos saudáveis também recebam
atenção. "Dessa maneira, percebe-se que tanto a
psicologia voltada à cura e à reparação do que precisa ser
mais bem ajustado quanto a psicologia que se volta ao
estudo das qualidades e das características positivas do
Evandro Borges
40
ser humano são aspectos importantes e merecem atenção
(HUTZ, 2014, p.13).
"Desde 11 de setembro de 2001, tenho pensado na
importância da Psicologia Positiva. Em tempos
intranquilos, a compreensão e o alívio do sofrimento
impedem a compreensão e a construção da felicidade?
Acredito que não. Pessoas sem recursos, deprimidas ou
com impulsos suicidas têm preocupações que vão muito
além do alívio de seu sofrimento. Essas pessoas se
preocupam — muitas vezes desesperadamente — com
virtude, propósito, integridade e significado. As
experiências que induzem emoções positivas fazem as
emoções negativas se dissiparem rapidamente. As forças e
virtudes, como veremos, funcionam como um para-
choque contra a infelicidade e as desordens psicológicas, e
podem ser a chave da resistência. Os melhores terapeutas
não curam simplesmente os sintomas; eles ajudam a
construir forças e virtudes. [...] A Psicologia Positiva leva
a sério a esperança de que, caso você se veja preso no
estacionamento da vida, com prazeres poucos e efêmeros,
raras gratificações e nenhum significado, existe uma
saída. Esta saída passa pelos campos do prazer e da
gratificação, segue pelos planaltos da força e da virtude e,
finalmente, alcança os picos da realização duradoura:
significado e propósito (SELIGMAN, 2004, p.14).
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
41
Psicologia Positiva vs Psicologia Humanista
Rich (2001 apud HUTZ, 2014) afirma que Carl
Rogers e Abraham Maslow já trabalhavam com tópicos
bastante próximos aos discutidos pela psicologia positiva,
e defende que a psicologia positiva tem suas raízes na
psicologia humanista. Assim, a psicologia positiva não
seria um novo movimento, mas o florescimento de algo já
iniciado muitos anos antes. Mas apesar de existirem
diversas semelhanças e conexões entre a psicologia
humanista e a psicologia positiva, estas seriam, segundo
Rich, aparentemente negligenciadas, havendo poucas
referências humanistas nos artigos de psicologia positiva.
O fato a ser levado em consideração é que há semelhanças
nas mudança de perspectivas de ambas as vertentes, tanto
positiva quanto humanista.
Evandro Borges
42
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
43
Capítulo 4
Bem-estar versus doença
Bem-estar é um construto, e felicidade é uma coisa,
afirma Seligman. Para o autor, uma “coisa real” é uma
entidade diretamente mensurável. E portanto, uma tal
entidade pode ser “operacionalizada”, ou seja, pode ser
definida por um conjunto muito específico de medidas. A
teoria da felicidade autêntica apresentada por Seligman,
inicialmente deu-se como tentativa de explicar uma coisa
real, a felicidade, que poderia ser definida pela satisfação
com a vida, com uma escala de 0 a 10 onde o indivíduo
poderia mensurar seus níveis de satisfação. De acordo
com a teoria da felicidade autêntica, pessoas que
possuíssem o máximo de emoções positivas, o máximo de
engajamento e o máximo de sentido seriam as mais
felizes e, portanto, teriam o máximo de satisfação com a
vida. A teoria do bem-estar é fruto de uma revisão do
próprio Dr. Seligman, e nega que o tema da psicologia
positiva seja uma coisa real. O tema agora passa a ser um
construto, o bem-estar, que agrega diversos elementos
mensuráveis, “sendo cada um deles uma coisa real, cada
um deles contribuindo para formar o bem-estar, mas
nenhum deles o definindo (SELIGMAN, 2011, p.25)".
Evandro Borges
44
Passareli e Silva (2007) apontam que diferentes
dados disponíveis na literatura científica sugerem que o
bem-estar leva ao desenvolvimento de boas relações
sociais e não é meramente seguido por elas. Pesquisas de
Burman e Margolin (1992 apud PASSARELI e SILVA,
2007) sugerem que muitos estudos têm indicado que,
comparadas às pessoas solteiras, pessoas casadas têm
melhor saúde física e psicológica, além de viverem mais.
Confirmando esses estudos, prosseguem os autores,
evidências experimentais indicam que as pessoas tendem
a apresentar sofrimento quando não fazem parte de
nenhum tipo de grupo ou quando têm relações pobres
dentro dos grupos a que pertencem, os levantamentos
foram feitos por Diener e Seligman (2004). Verificou-se,
desta forma, que participar de grupos, como grupos de
amigos, de trabalho, de apoio, é um fator favorável para o
bem-estar subjetivo.
Estudos conduzidos por diversos autores
constataram que felicidade, ou bem-estar subjetivo, não
significariam apenas a ausência de depressão, mas
também a presença de um número de emoções e estados
cognitivos positivos (Joseph, Linley, Harwood, Lewis &
McCollam, 2004). Segundo Diener, Suh e Oishi (1997), o
campo do bem-estar subjetivo inclui os estados
indesejáveis tratados pelos psicólogos clínicos, embora
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
45
não se limite apenas ao estudo desses estados
indesejáveis. Para esses autores, o bem-estar subjetivo
também se refere aos fatores que diferem as pessoas
ligeiramente felizes daquelas moderadamente e
extremamente felizes (PASSARELI e SILVA, 2007).
De acordo com Ferreira e Ramos (2007), Bem-
Estar Psicológico (BEP), traduz a avaliação subjetiva que
os indivíduos fazem das suas vidas, incluindo conceitos
como a satisfação com a vida, a felicidade, as emoções
agradáveis, os sentimentos de realização pessoal e de
satisfação com o trabalho e a qualidade de vida, em
detrimento de sentimentos negativos e desagradáveis.
Desta forma, representa a avaliação acerca das suas vidas,
em um dado momento e ao longo da vida, não
significando propriamente saúde psicológica, mas
refletindo um aspecto de bem-estar necessário (Diener &
Scollon, 2003; Albuquerque & Tróccoli, 2004).
Compreende-se também que a procura do bem-estar
psicológico revela ser um elemento preventivo da saúde.
A Organização Mundial de Saúde (1978) ressalta
que “saúde – estado de completo bem-estar físico, mental
e social, e não simplesmente a ausência de doença ou
enfermidade - é um direito humano fundamental, cuja
realização requer a ação de muitos outros setores sociais e
econômicos, além do setor da saúde.”
Evandro Borges
46
Já o conceito de doença é, segundo Perrez, Meinrad
et al (2005), complexo e multifacetado. Porém, para
efeito de aplicação destes conceitos na psicologia positiva,
devemos levar em consideração o conceito
biopsicossocial, ou seja, que englobam fatores, de acordo
com os autores:
a) Biológicos, como por exemplo, a predisposição genética
e os processos de mutação que determinam o
desenvolvimento corporal em geral, o funcionamento
do organismo e o metabolismo, etc.;
b) Os fatores psicológicos, como preferências,
expectativas e medos, reações emocionais, processos
cognitivos e interpretação das percepções, etc.;
c) Os fatores socioculturais, como o convívio interpessoal,
expectativas da sociedade e do meio cultural, influência
do círculo familiar, de amigos, modelos de papéis
sociais, etc.
Para Novaes (1976), saúde e doença são muito
mais valores sociais, historicamente colocados, do que a
simples expressão da situação biológica do organismo, em
um meio dado e, portanto, devem ser pensados em
termos de sua historicidade. Rouquayrol (1983),
considerando que a doença ocorre num dado ambiente,
enfatiza que "o estado final provocador de uma doença é
resultado da sinergização de uma multiplicidade de
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
47
fatores políticos, econômicos, sociais, culturais,
psicológicos, genéticos, biológicos, físicos e químicos."
Evandro Borges
48
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
49
Capítulo 5
Os 5 Pilares da Psicologia Positiva – O Modelo PERMA
O Modelo PERMA foi desenvolvido pelo psicólogo
norte americano Martin Seligman e publicado em seu
livro “Florescer – Uma nova compreensão sobre a
natureza da felicidade e do bem-estar (Rio de Janeiro:
Objetiva, 2011)”. Conhecida como Teoria do Bem-Estar,
"PERMA" representa os cinco elementos essenciais que
devem estar presentes para que seja possível adquirir
experiências de um bem-estar efetivo e duradouro. O
modelo é o núcleo central de toda a psicologia positiva,
embora novas pesquisas estejam agregando novos
conceitos ao modelo vigente. De forma sucinta, veremos
um resumo de cada elemento do modelo, visto que
dedicarei os próximos volumes da Série Positiva
Evandro Borges
50
Psicologia para abordá-los de uma forma mais abrangente.
5
6
7
PERMA
P - Positive Emotions - Emoções positivas;
E - Engagement (or flow) – Engajamento, Fluidez;
R - Relationships - Relacionamentos Sociais Positivos;
M - Meaning (and purpose) - Sentido no viver;
Propósito;
A - Accomplishment – Realização; Persistência; Metas.
5 Seligman, M. E. P. Florescer - uma nova e visionária interpretação
da felicidade e do bem-estar. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011.
6
Seligman, M. E. P. Felicidade Autêntica. Rio de Janeiro: Objetiva,
2004.
7
Seligman, M. E. P. & Csikszentmihalyi, M. (2001). Positive
psychology: an introduction. American Psychologist, 55(1), 5-14,
2001.
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
51
Para a psicologia positiva, seja na aplicação clínica,
em psicoterapia, no contexto educacional ou ocupacional,
nossa ‘bússola’ será o Modelo PERMA. Em outras
palavras, os cinco elementos descritos acima, bem como
seus derivados, no caso das emoções positivas, serão
nossos objetos de investigação em relação ao indivíduo e
às organizações. O Projeto Positiva Psicologia, como
mencionei no início deste livro, irá abordar os cinco
pilares da Psicologia Positiva separadamente, ou seja, a
intenção é aprofundar cada elemento do modelo
separadamente, em volumes separados. Apresento-vos
uma prévia a seguir.
Evandro Borges
52
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
53
Emoções Positivas (P)
Um dos cinco pilares centrais da psicologia positiva
são as Emoções Positivas. Para tanto, devemos
compreender, inicialmente, o que são emoções, suas
raízes biológicas, bem como as reações fisiológicas, ou
seja, a maneira como sentimos as emoções e o impacto
das mesmas em nossas relações com os outros.
O termo “emoção” origina-se do latim “ex
movere”, que significa, literalmente, “em movimento”. Se
sorrimos, se choramos, se pulamos de alegria, se
corremos de medo, se sentimos um frio na barriga ou
ficamos pálidos diante de um acontecimento, ou corados
Evandro Borges
54
de timidez, o termo faz todo sentido. Nosso corpo,
mesmo que esteja aparentemente em repouso, move-se
internamente. No entanto, há uma distinção entre
emoção e sentimento, afirma Goleman (2001). Para o
autor, sentimentos são informações que seres biológicos
são capazes de sentir nas situações que vivenciam, isso
porque, conforme observado, é um estado psico-
fisiológico. Já o sentimento seria a emoção filtrada através
dos centros cognitivos do cérebro, especificamente o lobo
frontal, produzindo uma mudança fisiológica em
acréscimo à mudança psico-fisiológica. Portanto, o
sentimento seria uma consequência da emoção com
características mais duráveis. Todavia, existem algumas
relações entre sentimentos e emoções, as emoções, por
exemplo, podem ser públicas, ou seja, notáveis, enquanto
que os sentimentos podem ser privados. Para Goleman, a
emoção é inconsciente e o sentimento, pelo contrário,
consciente.
De acordo com Casanova e Siqueira (2009), desde
a Grécia Antiga até meados do século XIX, filósofos,
psicólogos e pensadores acreditavam que as emoções
eram instintos básicos que deveriam ser controlados sob
pena de o homem ter sua capacidade de pensar
seriamente afetada. Até meados do Século XX, o tema
“emoção” foi parcialmente esquecido por influência do
pensamento cartesiano. Mas é no início do Século XX que
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
55
o tema ressurge sob uma nova perspectiva. Cientistas de
todo o mundo e de diversas áreas do conhecimento
despertaram para o fato de que as emoções influenciam
na capacidade do indivíduo de se relacionar com o meio
em que vive. Além disso, estudos recentes demonstraram
que as emoções influenciam diretamente em nosso
sistema imunológico. O estresse, por exemplo, pode
originar-se de fatores emocionais.
Para o psicólogo e médico francês, Henri Wallon
(1975), a emoção tem dupla origem. É tanto biológica
quanto social. Em sua Teoria das Emoções ele destaca o
importante papel dos laços de afetividade e ressalta que as
emoções também possuem funções determinantes na
garantia da sobrevivência da espécie humana. Para
Wallon, é na convivência com o outro e com o grupo
social que aprendemos a identificar, nomear e lidar com
nossas emoções, aprender a estabelecer relações de
reciprocidade, de cooperação, de rivalidade,
desenvolvendo assim, nossa sociabilidade.
Inteligência Emocional
Ao longo da história, pesquisas significativas
permitiram uma maior compreensão do intelecto
humano. E munidos de bases mais apuradas, alguns
autores passaram a desenvolver conceitos em torno da
Evandro Borges
56
inteligência e todas as suas vertentes. Em 1920,
Thorndike usou o termo “inteligência social” para
descrever a habilidade de se relacionar com outras
pessoas. Gardner, (1989), formulou a ideia de
“inteligências múltiplas”, incluindo a inteligência
interpessoal e a inteligência intrapessoal. Em 1985 surge
o conceito de “inteligência emocional”, criado por Wayne
Payne e, consequentemente aprofundado por Daniel
Goleman, em 1995, ganhando projeção mundial. Tal
conceito sustenta que “inteligência emocional” é um tipo
de inteligência que envolve as habilidades para perceber,
entender e influenciar as emoções. Para Goleman (2006),
nossas emoções guiam-nos quando temos de enfrentar
situações e tarefas muito importantes para serem
deixadas apenas a cargo do intelecto. Cada emoção
representa uma diferente predisposição para a ação,
afirma o autor. Inteligência Emocional (IE), também pode
ser compreendida como a capacidade de se autoconhecer,
lidar bem consigo, conhecer e lidar bem com os outros,
seja nos relacionamentos familiares, sociais ou
profissionais. A inteligência emocional, portanto,
caracteriza a maneira como cada indivíduo lida com suas
emoções e com as emoções que o rodeiam. Em suma,
abrange tudo o que está relacionado com a capacidade de
perceber e exprimir a emoção, assimilá-la ao pensamento,
compreender e raciocinar com ela, e saber regulá-la em si
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
57
e nos outros. Já a habilidade de reconhecer o que os
outros sentem é denominada “empatia”, que tem origem
na autoconsciência, sendo a base da IE, ou seja,
reconhecer um sentimento no momento em que ele
ocorre é um fator determinante, darei um breve exemplo:
Paulo ama sua esposa, e ela também o ama, estão casados
há cinco anos e a relação estava indo bem, até Paulo
começar a ter problemas no trabalho. Ao que parece, a
empresa pretende fazer uma redução de quadro e o nome
de Paulo está na lista de demissão. Com dívidas à pagar,
ele passou a ficar estressado com frequência. E na sexta-
feira, ao final do expediente, chegou em casa cabisbaixo.
Sua esposa lhe perguntou o que havia acontecido. E ele
teve um surto de raiva, agredindo-a verbalmente.
Se Paulo adquirisse a capacidade de reconhecer que está
estressado por conta do trabalho no momento em que
chegasse em casa, não descontaria sua raiva na esposa.
Essa é a base do “equilíbrio emocional”. Lembram
daquele velho conselho, “Respire fundo e conte até 10?
Faz parte do senso comum, mas pode ser útil. A
respiração alivia a ansiedade e tensão do corpo e os 10
segundos são suficientes para refletir sobre qual postura
tomar diante de uma situação complicada. O pensamento
precede a ação, mesmo que por frações de segundos.
Evandro Borges
58
Portanto, toda a ação sóbria e lúcida é consciente e
intencional. A ideia de que certas ações sejam frutos de
impulsos do inconsciente tira do sujeito a
responsabilidade por seus atos. De protagonista, passa a
ser vítima. Esse talvez tenha sido o motivo central de meu
ponto de ruptura com a psicanálise, apesar de reconhecer
que a psicanálise é uma faculdade independente e que
somente psicanalistas possuam capacitação suficiente
para aplicá-la. A mim, resta-me a atitude nobre de
recolher-me à seara de minha capacitação. Não incentivo
e nem encorajo que adeptos da psicologia positiva tomem
como descartáveis os conhecimentos advindos de outras
correntes de pensamento. Muito pelo contrário. Até que
se refute uma teoria através do método científico, ela
continua sendo válida.
No entanto, a emoção não tem sempre este caráter
negativo ou explosivo, como no surto imprevisível de
Paulo. Alguém que está apaixonado, por exemplo, pode
experimentar emoções maravilhosas, mas sentir ciúmes e
insegurança ao mesmo tempo. Para que possamos
aprender a regular atitudes impulsivas, devemos aprender
a escoar nossas emoções, mas nunca represá-las. Utilizar
de recursos físicos ou representacionais parece ser a
forma mais eficiente:
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
59
Todo aquele que observa, reflete ou mesmo imagina,
abole de si mesmo a perturbação emocional. Não nos
livramos da emoção apenas ao reduzi-la às suas
corretas proporções, mas sim, e principalmente, pelo
esforço para representá-la" (WALLON, 1995, p. 86).
Uma ampla gama de emoções positivas se
relacionam com o bem-estar, como paz, gratidão,
satisfação, prazer, inspiração, esperança, curiosidade ou
amor. Na psicologia positiva, o primeiro ponto de partida
para uma intervenção psicológica de uma determinada
demanda de um cliente deve ser, ao contrário da
psicologia tradicional, que procura investigar a presença
de experiências dolorosas e negativas, a investigação da
presença ou ausência de experiências positivas.
Devemos nos lembrar de que o corpo precisa
absorver as emoções e dissipá-las naturalmente. Tal
processo também faz parte do processo de homeostase,
uma vez que as emoções dependem de estímulos
neurológicos e descargas de neurotransmissores, como a
endorfina, noradrenalina, a acetilcolina e a dopamina.
Quando há o desequilíbrio emocional, há também o
desequilíbrio hormonal. E não podemos tratar das
questões hormonais com menor relevância, algo que a
psicologia tradicional aparentemente tem menosprezado.
As mulheres, por exemplo, são mais suscetíveis à
mudanças bruscas de humor devido ao ciclo menstrual, e
Evandro Borges
60
não é raro que uma mulher comece a chorar do nada, sem
motivo aparente durante o período de tensão pré-
menstrual. Tais mudanças bruscas de humor ocorrem
devido às alterações hormonais do corpo. Já o homem
pode irritar-se com maior facilidade, chegando a perder o
controle emocional e até mesmo agir com agressividade.
Isso se deve a uma alta concentração do hormônio
testosterona, que em homens adultos possui níveis cerca
de 7 a 8 vezes mais altos do que em mulheres8
.
Não estou afirmando, com isto, que as mulheres
estão em desvantagem emocional, muito pelo contrário,
as mulheres possuem capacidades neurológicas e
cognitivas relativamente significativas que permitem-nas
gerenciar emoções com maior facilidade que os homens. E
não somente emoções, mas conflitos sociais provenientes
de conflitos emocionais. Para a psicóloga norte-americana
Janet Hyde, professora de Psicologia e Estudos da Mulher
na Universidade de Wisconsin-Madison , conhecida por
suas mais recentes descobertas sobre sexualidade
humana, diferenças entre os sexos e desenvolvimento de
gênero, enquanto que os homens têm força corporal para
8 Taieb J, Mathian B, Millat F, Patricot M-C, Mathieu E,
Queyrel N, et al. Testosterone measured by 10 immunoassays and by
isotope-dilution gas chromatography–mass spectrometry in sera from
116 men, women, and children. Clin Chem 2003;49:1381-1395
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
61
competir com outros homens, as mulheres usam a
linguagem para conseguir vantagens sociais, através da
argumentação e persuasão.
Hyde (2005) afirma que o cérebro masculino, no
início da vida, desenvolve-se sob uma alta presença de
hormônios androgênicos, enquanto que o cérebro
feminino se desenvolve através de estrógenos pela falta de
androgênios. Voltando às diferenças propriamente ditas
entre os “diferentes” cérebros, existe um feixe de fibras
nervosas que liga os dois hemisférios do cérebro e é
considerado o ponto essencial do desenvolvimento
intelectual, este feixe é maior nas mulheres. Enquanto
que as mulheres usam várias partes do cérebro para
resolverem determinadas questões, os homens pensam
com regiões mais específicas do cérebro9
. Se
substituíssemos todos os membros do Conselho de
Segurança da ONU por mulheres, por exemplo, a
possibilidade de ainda haverem conflitos armados no
mundo seria remota e os arsenais nucleares seriam
desmantelados. Em abril de 2017, por exemplo, um grupo
de ativistas fundou o ICAN - International Campaign to
Abolish Nuclear Weapons (Campanha Internacional para
a Abolição das Armas Nucleares), em Melbourne,
9 Vieira, A., Moreira, J. I., & Morgadinho, R. (2008). Inteligência
Emocional Cérebro Masculino Versus Cérebro Feminino. Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (Portugal).
Evandro Borges
62
Austrália e, posteriormente em Viena, Áustria. Em 2017 o
ICAN já conta com cerca de 468 organizações parceiras e
está presente em 101 países10. Em 2017 o ICAN recebeu o Prêmio
Nobel da Paz. O ICAN é dirigido por Beatrice Fihn, uma jurista
sueca de 36 anos formada em relações internacionais e ex-membro
da Women's International League for Peace and Freedom -
WILPF (Liga Internacional de Mulheres pela Paz e Liberdade). O
Comitê de Gestão Internacional da campanha sem fins lucrativos
registrada na Suíça é composto por Susi Snyder (presidente),
Josefin Lind (secretária) e Celine Nahory (tesoureira).
10 ICAN (December 23, 2016). "UN General Assembly approves
historic resolution". www.icanw.org. ICAN. Retrieved 12 January 2017.
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
63
Engajamento ou Fluidez (E)
Quando estamos verdadeiramente empenhados em
uma situação, projeto ou atividade, nós experimentamos
um estado de fluidez: o tempo parece parar, esquecemos
os problemas comuns, nos concentramos intensamente
no presente. Quanto mais experimentamos este tipo de
concentração, mais provável é que a experiência de bem-
estar aumente. Enquanto escrevo este livro, perco, por
vezes e sem me dar conta disso, a noção de tempo. É
como se o tempo parasse para mim, como se eu estivesse
desconectado do mundo e minha mente estivesse voltada
Evandro Borges
64
apenas ao que escrevo. É o que considero ser meu estado
máximo de fluidez.
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
65
Relacionamentos Positivos (R)
Como seres humanos, somos "seres sociais", e
dentro desse contexto, os relacionamentos positivos são
fundamentais para o nosso bem-estar. Muitas pesquisas já
demonstraram que pessoas envolvidas em
relacionamentos significativos e positivos são mais felizes
que as demais. Os relacionamentos realmente importam!
Com o advento da tecnologia e o surgimento das
redes sociais na virada do Século XXI, surgiram também
os relacionamentos virtuais, dentro das chamadas
Evandro Borges
66
comunidades virtuais ou ciberespaços, que
proporcionaram os mais diversos tipos de relações sociais.
Dentro destas comunidades virtuais são partilhados
valores, sentimentos, gostos em comum, críticas,
manifestações políticas, dentre uma infinidade de outros
tipos de interações. E acredito que o mundo virtual tem
afetado significativamente o comportamento das pessoas,
seja de uma forma positiva, proporcionando novas
experiências e ampliando círculos de amizades, ou até
mesmo negativamente, condicionando o indivíduo ao
isolamento no mundo real e interativo no mundo virtual.
Não é uma afirmativa, mas a psicologia deve estar
preparada para lidar com as novas demandas advindas da
era tecnológica. E esse assunto carece de pesquisas mais
aprofundadas.
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
67
Sentido no viver, significado ou propósito (M)
O sentido no viver, geralmente vem de servir a uma
causa maior que nós mesmos. O encontro de um sentido
para o que fazemos pode vir de uma crença, uma religião,
uma causa humanitária ou um simples objetivo, desde
que seja significativo para o indivíduo. As pessoas tendem
a procurar por um sentido em suas vidas, um propósito,
uma resposta que dê sentido à própria existência. Muito
do que conhecemos como angústia, tema que foi
amplamente estudado no último século, incluindo
depressão, ansiedade, insônia, fobia social e síndrome do
pânico, dentre outras sintomas, parecem ser advindos de
Evandro Borges
68
duas fontes distintas: o medo de viver e o medo de
morrer. O medo de viver está aparentemente relacionado
aos sintomas da angústia e depressão, enquanto o medo
de morrer parece estar relacionado a comportamentos de
fuga e esquiva, um mecanismo de defesa inato, presente
nos sintomas da fobia social, síndrome do pânico, dentre
outros. Para o Dr. Viktor Frankl (2012), psiquiatra
austríaco e idealizador da Logoterapia, a angústia é
sofrimento sem sentido. A Logoterapia, segundo Frankl,
concentra-se no sentido da existência humana, bem como
na busca do indivíduo por um sentido no viver. O autor
também aborda alguns outros temas, como esperança,
objetivos e metas de vida, espiritualidade, altruísmo,
sentimento de pertencer a uma comunidade, de ser
acolhido e colaborar para o desenvolvimento do bem-estar
coletivo.
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
69
Realização (A)
Muitos de nós dedicamos esforços para melhorar a
nós mesmos de alguma forma, seja procurando dominar
uma habilidade ou alcançar um objetivo significativo.
Como tal, a realização é uma outra coisa importante e
contribui para nosso bem-estar e nossa capacidade de
florescer.11
Realização pessoal é algo subjetivo e pode variar de
pessoa para pessoa. Na antiguidade, diversos filósofos
gregos refletiram sobre o conceito de realização pessoal,
11 Munhoz, Fábio. Introdução à Psicologia Positiva. Centro de
Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental, 2016.
Evandro Borges
70
com um grande destaque para Aristóteles12
, que dedicou
boa parte de sua vida ao propósito de desvendar o real
objetivo da vida humana. Segundo o filósofo, esse
objetivo seria o de alcançar a felicidade a fim de se atingir
a realização pessoal. No entanto, há, hoje em dia,
reflexões diversas sobre o real significado de realização
pessoal. E interessa-nos aqui a reflexão de um psicólogo
que, a meu ver, lançou as bases para uma psicologia mais
humana e voltada para as potencialidades humanas.
Refiro-me a Abraham Maslow (1943), que desempenhou
um papel fundamental na reformulação da psicologia
como ciência das potencialidades, e dedicou longos anos
de pesquisas ao estudo das motivações humanas.
A Teoria da Hierarquia de Necessidades de
Maslow, também conhecida como A Pirâmide de Maslow,
afirma que os seres humanos possuem necessidades que
obedecem a um nível hierárquico. Na base da pirâmide
estão as necessidades básicas e fisiológicas, como comer,
beber, dormir, respirar, ter relações sexuais, manter o
organismo em homeostase e, por fim, sobreviver. Uma
vez que as necessidades básicas são atendidas, a
motivação se desloca para o próximo nível da pirâmide,
12 Aristóteles. Ética a Nicômaco. 2.ed. Editora Universidade de
Brasília. 1985.
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
71
onde o indivíduo busca segurança pessoal, como moradia,
saúde, segurança do corpo, emprego e recursos para
manter-se.
No terceiro estágio, de acordo com Maslow, a
motivação do indivíduo estaria voltada às necessidades de
afeto, como amor, intimidade, relacionamentos, amizades
e afeto familiar. No quarto estágio a motivação estaria
voltada aos sentimentos de estima, autoestima, confiança,
conquista e respeito mútuo. Por último, no topo da
pirâmide, a motivação estaria dirigida à realização pessoal
ou autorrealização.
Evandro Borges
72
Maslow (1943) afirma que a autorrealização
somente pode ser atingida quando o indivíduo é capaz de
suprir as necessidades anteriores.
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
73
Capítulo 6
O Papel das Emoções Positivas no processo psicoterapêutico
Estudos de Silvestre e Vandenberghe (2013)
constataram que tradicionalmente a psicologia clínica se
interessou mais pelas emoções negativas do que pelas
positivas. Os autores ressaltam que no trabalho com
pessoas que enfrentam, às vezes, um sofrimento
profundo, esse viés faz sentido. Porém, os mesmos
Evandro Borges
74
identificaram que trabalhos recentes têm chamado a
atenção para o papel das emoções positivas no processo
psicoterapêutico (Fizpatrick e Stalikas, 2008; Dick-
Niederhauser, 2009; Hayes et al., 2011; Vandenberghe e
Silvestre, 2013).
Os autores advertem, porém, que é interessante
observar que todos se referem a uma base de dados de
pesquisa experimental, em parte já antiga. Trata-se,
segundo eles, de uma tradição de trabalhos experimentais
acerca dos benefícios das emoções positivas que foi
iniciada por Alice Isen e continuada sob a liderança de
Barbara Frederickson, que até recentemente continuou
despercebida ou desconsiderada pelos autores clínicos
(SILVESTRE e VANDENBERGHE, 2013).
De acordo com os autores, dados provenientes
desses experimentos são usados como evidência empírica
para sustentar que emoções positivas desempenham um
papel central no processo terapêutico. Hayes et al. (2011
apud SILVESTRE e VANDENBERGHE, 2013) apontam
que o relacionamento terapêutico pode ser curativo por
promover emoções positivas no cliente, as quais, por sua
vez, favorecem o desenvolvimento de recursos pessoais
que ajudarão o cliente a superar seus problemas.
Estudos de Fizpatrick e Stalikas (2008) e Dick-
Niederhauser (2009) discutem ainda dinâmicas comuns
em diferentes tratamentos psicológicos. De acordo com os
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
75
autores, o papel do psicoterapeuta seria o de promover
experiências nos seus clientes que provoquem emoções
positivas. As vivências positivas dos clientes em terapia,
por consequência, passariam a promover novos
comportamentos e a construção de novos recursos
pessoais, que por sua vez, conduziriam a novas vivências
positivas, e assim por diante. As mudanças
comportamentais podem dar origem à construção de
novas redes de apoio e a habilidades sociais, que
continuam à disposição da pessoa muito tempo depois de
ter cessado a emoção positiva que promoveu a mudança
(SILVESTRE e VANDENBERGHE, 2013).
Vandenberghe e Silvestre (2013) discutem como
emoções positivas do terapeuta podem influenciar no
processo terapêutico. Podem promover mais atenção e
criatividade na atuação do terapeuta e contribuir para o
desenvolvimento de habilidades clínicas, além de
contribuir para o conteúdo da sessão. A compreensão do
cliente na sua complexidade, como também o
desenvolvimento de uma sensação de 'nós' (o terapeuta e
o cliente como uma equipe unida com objetivos e tarefas
compartilhados) pode ser promovida pelas emoções
positivas que o terapeuta sente no seu trabalho com o
cliente. Por outro lado, terapeutas relatam que as
vivências positivas contribuem para o desenvolvimento de
novos recursos pessoais e profissionais, incluindo a
Evandro Borges
76
expansão do repertório de técnicas terapêuticas, melhor
regulação das emoções e um melhor sentimento de
conexão com o cliente.
O Modelo de Emoção em psicologia positiva
De acordo com Gross (2008), o modelo típico de
emoção utilizado pela psicologia positiva pressupõe que
uma emoção é evocada por uma situação que exige
atenção, tem um significado particular para a pessoa e
desencadeia um conjunto de respostas que se encontram
programadas em redes neurais ou armazenadas em
esquemas mentais. Sendo assim, a emoção é vista como
um programa engatilhado por um evento em que
informações passam por um processamento automático.
Um exemplo de modelo típico é o modelo cognitivo de
Leventhal, amplamente utilizado durante as últimas
décadas do século XX, sendo representativo de uma
tendência geral na literatura empírica sobre emoções
(SILVESTRE e VANDENBERGHE, 2013).
No modelo de Leventhal (1982), um esquema
emocional é uma estrutura da memória que organiza e
guia o processamento de novas informações e a
recuperação das informações já armazenadas durante
vivências anteriores. O modelo contém três diferentes
níveis de processamento de informação. São eles: (I)
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
77
imagens e sequências que fizeram parte de vivências de
uma emoção; (II) comportamentos expressivos e padrões
de resposta autônomos que caracterizam essa emoção; e
(III) regras conceituais e proposições sobre como se deve
reagir nas situações que evocam essa emoção. A vivência
de uma emoção é entendida como o efeito da ativação de
tal esquema por informação subjetivamente relevante em
função das necessidades, dos objetivos e das suposições
da pessoa.
Gross (2008) critica o modelo cognitivo de
Leventhal por apresentar a emoção como um processo
retilíneo e mecânico. O autor afirma que a vivência
emocional é muito mais flexível e sujeita à
intencionalidade. Envolve sistemas de resposta
coordenados e maleáveis. A pessoa que está sentindo a
emoção não é passiva. Ela direciona e maneja a emoção
através de cinco famílias de regulação emocional, seriam
elas: (I) seleção da situação: a pessoa procura entrar em
situações (e evitar outras) que forneçam certa emoção;
(II) modificação da situação: o indivíduo muda a situação
que evoca a emoção; (III) distribuição estratégica da
atenção: consiste em mudar o foco para alterar o impacto
emocional da situação; (IV) mudança cognitiva: elaborar o
significado da situação de modo que a vivência emocional
seja alterada; e (V) modulação da resposta: o indivíduo
reage de maneira diferente a uma emoção, resultando em
Evandro Borges
78
uma vivência diferente. Ainda de acordo com Silvestre e
Vandenberghe (2013), as estratégias de regulação
descritas por Gross deixam a emoção como algo interativo
e moldável.
Emoção versus Ação
Frederickson (1998 apud SILVESTRE e
VANDENBERGHE, 2013) tentou identificar as
tendências de ação de cada emoção positiva. Frederickson
apontou que o interesse promove exploração e
envolvimento. O contentamento inclui uma tendência
para integrar vivências. O amor, por sua vez, amplia os
repertórios de curtir e interagir. A alegria inclui a
tendência de participar em atividades físicas, sociais ou
intelectuais. Os autores perceberam que as tendências de
ação ligadas a cada emoção positiva são amplas e difusas,
enquanto as ligadas às emoções negativas são específicas.
A falta de especificidade dos efeitos pode ofuscar as
funções adaptativas que as emoções positivas possuem.
Frederickson e Levenson (1998) investigaram o
uso de emoções positivas experimentalmente. Em um
destes experimentos, participantes assistiram a imagens
que induziram ao medo, o que foi corroborado pelo relato
deles e pela constatação de uma ativação cardiovascular
intensa. Em seguida foram dispostos aleatoriamente em
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
79
quatro grupos para assistir a um de quatro filmes que
evocavam: contentamento, diversão, tristeza e um era
neutro. Comparando os grupos, pôde-se notar que os que
viram os filmes positivos apresentaram uma retomada
significativamente mais rápida dos níveis prévios de
atividade cardiovascular. No segundo estudo, os
participantes foram expostos a um filme eliciador de
tristeza. A maioria deles sorriu espontaneamente, pelo
menos uma vez, enquanto assistia a esse filme. Quem
sorriu apresentou recuperação mais rápida dos níveis
prévios de ativação fisiológica. Esses resultados apontam
que emoções positivas combatem efeitos tóxicos de
emoções negativas ao restaurar o equilíbrio do organismo
(SILVESTRE e VANDENBERGHE, 2013).
Frederickson et al. (2000 apud SILVESTRE e
VANDENBERGHE, 2013) verificaram que o efeito
descrito acima é resultado da positividade e não da
eliminação do estressor. Primeiro, obtiveram, por indução
de ansiedade, uma resposta cardiovascular de estresse.
Em seguida, uma parte dos participantes assistiu a filmes
que suscitaram emoções brandas de contentamento,
divertimento, ou tristeza; e outra parte, a um filme
emocionalmente neutro. Outros participantes receberam,
depois da indução da resposta de estresse, instruções para
relaxar e esvaziar a mente de todos os pensamentos,
sentimentos e memórias. De acordo com os autores, a
Evandro Borges
80
indução das emoções positivas brandas acelerou o retorno
para o estado fisiológico de repouso, enquanto o
relaxamento e os filmes neutro ou triste não tiveram esse
efeito. Posteriormente, os participantes que viram os
filmes que evocaram emoções positivas mostraram
capacidade de atenção significativamente ampliada num
teste de processamento de informação visual. Esse efeito
foi confirmado numa replicação por Frederickson e
Branigan (2005).
Segundo Frederickson e Branigan (2005), emoções
positivas ajudam a pessoa a dar um passo atrás e a
considerar os problemas em diferentes perspectivas. Os
autores avaliaram que elas podem, com mais facilidade,
ver o contexto maior. Assim podem visualizar mais
possibilidades, o que aumenta a tendência de construção
abstrata (por exemplo, focando o aspecto "por que" de um
ato, em vez do aspecto mais concreto "como"). Também
ajuda a investir a pôr em prática objetivos que a pessoa
construiu numa forma abstrata (Labroo e Patrick, 2009
apud SILVESTRE e VANDENBERGHE, 2013).
A consolidação dos efeitos das emoções em longo prazo
De acordo com pesquisas de Frederickson (2001
apud SILVESTRE e VANDENBERGHE, 2013), as
emoções positivas promovem o engajamento em
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
81
atividades com outras pessoas, a exploração de novos
assuntos e aprofundam relações interpessoais. Desta
forma, a pessoa acumula novas aprendizagens e constrói
redes sociais. Estes recursos, observam os autores,
ajudarão a superar momentos difíceis e a crescer no
futuro. Desse modo, as emoções positivas contribuem
para a construção da resiliência. A consolidação das
mudanças em longo prazo é considerada o efeito de um
movimento em espiral. Frederickson cogita, por exemplo,
que as emoções positivas ajudam indivíduos a entrar em
espirais positivos, envolvendo relações causais recíprocas
entre as emoções positivas de um lado e a ampliação de
repertórios do outro.
Evandro Borges
82
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
83
Capítulo 7
Autoconsciência, autocompaixão e autocuidado
Autoconsciência
Segundo Goleman (2001 apud CONSTANTINO,
2010), a máxima “conhece-te a ti mesmo”, do filosofo
Sócrates, é um importante conceito de inteligência
emocional, que é a consciência de nossos sentimentos no
momento exato em que eles ocorrem. Esse processo,
afirma o autor, é denominado de autoconsciência, pois é a
Evandro Borges
84
permanente atenção ao que estamos sentindo
internamente, numa atitude auto reflexiva, que a mente
observa e investiga o que está vivenciando, incluindo as
emoções. Para Goleman, a diferença entre estar
arrebatado por um sentimento e ter a consciência de estar
sendo arrebatado pelo mesmo, é a diferença entre apenas
viver as emoções ou tomar consciência das mesmas. Por
isso, assinala Constantino (2010), “a importância de
tomar consciência das emoções quando elas ocorrem”.
Autoconsciência seria, portanto, a atenção permanente ao
que estamos sentindo internamente.
O autor defende que a mente humana possui uma
capacidade de auto reflexão, que observa e investiga o que
está sendo vivenciado, incluindo as emoções. Essa
autoconsciência dependeria, no entanto, do neocórtex
ativado, sobretudo as áreas da linguagem, sintonizado
para identificar e nomear as emoções despertadas. A
autoconsciência, de acordo com o autor, não é uma
atenção que se deixa levar pelas emoções, reagindo com
exagero e amplificando o que se percebe. Ao contrário, “é
um modo neutro, que mantém a auto reflexividade
mesmo em meio a emoções turbulentas” (GOLEMAN,
2001 apud CONSTANTINO, 2010).
Goleman observa ainda que os indivíduos tendem a
adotar estilos para acompanharem e lidarem com suas
emoções. O autor define tais indivíduos como:
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
85
Autoconscientes, o que os caracteriza como
conscientes de seus estados de humor e clareza de suas
emoções. E essa consciência, ressalta o autor,
administra as emoções do indivíduo, pois são
autônomas, tornando-os conscientes de seus próprios
limites, proporcionando uma boa saúde psicológica e
uma perspectiva positiva sobre a vida.
Mergulhadas, pessoas imersas em suas emoções e
incapazes de fugir das emoções e estados de humor,
como se fossem controladas por elas, instáveis, sem
consciência dos próprios sentimentos de modo que se
perdem neles, sem controle emocional.
Resignadas, pessoas capazes de perceber os estados de
humor e suas emoções, mas sem a intenção de
modificá-las. Dessa forma, a autoconsciência emocional
é a base deste aspecto da inteligência emocional: ser
capaz de estar atento às emoções e estados de humor, e
ser capaz de dissipar as emoções perturbadoras e
humores negativos.
Para Weisinger (2001 apud CONSTANTINO,
2010, "autoconsciência é o monitorar-se e observar-se em
ação. Mas pressupõe um conhecimento prévio de si.
Evandro Borges
86
Compreender o que o faz agir como age, o que importante
pra si, a maneira de experimentar as coisas, o que quer
como se sente e se dirige aos outro". Portanto, assinalam
os autores, esse conhecimento subjetivo a respeito da
natureza de sua personalidade não apenas orienta sua
conduta, mas fornece subsídios sólidos para que
possamos fazer escolhas melhores.
Já o conceito de "autoconhecimento” ou “auto
percepção”, segundo Goleman, é o primeiro componente
da inteligência emocional. E constitui-se de uma profunda
percepção das próprias emoções, pontos fortes e fracos,
necessidades e impulsos. Indivíduos com alto nível de
autoconhecimento não mostram-se excessivamente
críticos, nem têm expectativas irreais. São, em vez disso,
francos consigo mesmos e com os outros. “Quem possui
elevado nível de autoconhecimento sabe o efeito que seus
sentimentos têm sobre si mesmo, sobre as outras pessoas
e sobre seu trabalho (GOLEMAN, 1999, p. 69)".
A percepção das emoções, segundo Primi (2006
apud CONSTANTINO, 2010), abrangeria desde a
capacidade de identificar emoções em si, em outras
pessoas e em objetos ou condições físicas, até a
capacidade de expressar essas emoções e as necessidades
a elas relacionadas, e ainda, a capacidade de avaliar a
autenticidade de uma expressão emocional, detectando
sua veracidade, falsidade ou tentativa de manipulação. De
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
87
acordo com Goleman (2001), a autoconsciência é um dos
aspectos fundamentais da inteligência emocional, e tem
haver com saber o que se sente no momento em que as
emoções acontecem. Para o autor, a autoconsciência é
importante porque permite ao individuo conhecer-se,
possibilitando a ele também, conhecer e reconhecer seus
sentimentos e emoções no exato momento em que
emergem. Conforme Primi (2006 apud CONSTANTINO,
2010), conhecimento emocional inclui, desde a
capacidade de nomear as emoções, englobando a
capacidade de identificar e nomear diferenças e nuances
entre elas, como por exemplo, gostar e amar, até a
compreensão de sentimentos complexos, como amar e
odiar uma mesma pessoa, bem como as transições de um
sentimento para outro, como a de raiva para a vergonha,
por exemplo. Na opinião de Goleman (2001), a
autoconsciência significa uma profunda compreensão de
nossas próprias emoções, bem como de nossas
possibilidades, limites e valores. As pessoas dotadas de
autoconsciência são realistas, pois não pecam pelo
excesso de autocrítica e nem por nutrirem esperanças
ingênuas (CONSTANTINO, 2010).
Autocompaixão
Segundo Gilbert (2005 apud NEVES, 2011),
autocompaixão implica, estar aberto, atento e sensível ao
Evandro Borges
88
nosso próprio sofrimento, quando, por exemplo, este
surge em situações de fracasso ou adversidades, não o
evitando, mas recebendo-o abertamente, experienciando
assim, sentimentos de cuidado e bondade para conosco.
Implica também abrir mão dos autojulgamentos e a
adoção de uma postura compreensiva perante a nossa
experiência, aceitando nossas limitações, imperfeições e
dificuldades, contextualizando-a e reconhecendo-a
inevitavelmente, assim, como fazendo parte da
generalidade de uma experiência humana comum, em que
muitos outros também agem da mesma forma, passam
pelos mesmos sofrimentos e sofrem como nós (Neff,
2003b, 2004, 2008; Neff, Rude, et al., 2007 apud NEVES,
2011).
Levantamentos feitos por Neves (2011)
demonstram que pesquisas de Gilbert, Irons e Procter,
(2004, 2006), verificaram através de registos de diários
relativos à autocompaixão versus autocríticas, num
contexto terapêutico focado no desenvolvimento de
autocompaixão, que um aumento das capacidades de
autocompaixão estava ligado a uma diminuição de
depressão, ansiedade, vergonha, sentimentos de
inferioridade e comportamento submisso.
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
89
Neff (2003a apud NEVES, 2011) introduziu o
conceito de autocompaixão na psicologia ocidental,
baseando-se em referencial teórico e empírico da
psicologia social e da personalidade, desenvolvendo uma
escala para o medir, de forma a estabelecê-lo como um
construto psicológico válido que influenciasse o bem-
estar psicológico. De acordo com Neff, autocompaixão
define-se como uma atitude para conosco, saudável e de
auto aceitação, representando uma postura calorosa e de
aceitação perante aspectos de nós mesmos e de nossa
vida, dos quais não gostamos, mantendo as emoções
dolorosas sob uma atenção consciente enquanto
ampliamos sentimentos de cuidado e de bondade para
conosco.
De acordo com Neff (2003a, 2003b, 2008 apud
NEVES, 2011) a autocompaixão é composta por três
componentes, que apesar de distintos, interagem entre si:
Compreensão (versus autocrítica);
Condição humana (versus isolamento);
Atenção Plena (mindfulness) versus (sobre-
identificação).
O construto da autocompaixão, afirma Neves
(2011), foca-se assim, na postura emocional que o
Evandro Borges
90
indivíduo tem perante si quando confrontado com
dificuldades. Ela seria útil também na regulação
emocional, favorecendo a saúde mental e o bem-estar.
Neff, Rude, et al., (2007 apud NEVES, 2011) verificaram
que o conceito de autocompaixão está negativamente
associado com o auto criticismo, com a depressão, com a
ansiedade, com a ruminação, com a supressão de
pensamento, com o perfeccionismo neurótico e com a
afetividade negativa em geral. O termo em inglês "self-
pity", traduzido como autopiedade ou autocompaixão é
amplamente associado a fatores negativos. No entanto, os
autores salientam que, pelo contrário, a autocompaixão
estaria positivamente ligada à satisfação com a vida,
felicidade, inteligência emocional, conectividade social,
sabedoria, iniciativa pessoal, otimismo, curiosidade e
exploração, agradabilidade, extroversão, responsabilidade
e afetividade positiva em geral. Desta forma, a
autocompaixão, por sua importância para a saúde mental
dos indivíduos demonstra ser uma características humana
de extrema relevância.
A Teoria do Autocuidado
De acordo com Diógenes e Pagliuca (2003), a
Teoria de Enfermagem do Déficit de Autocuidado ou
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
91
Teoria Geral de Enfermagem de Orem, é composta de três
teorias interrelacionadas, ou seja, a do autocuidado, do
déficit de autocuidado e do sistemas de enfermagem. Para
efeito de aplicação na psicologia, adentraremos na teoria
do autocuidado. O conceito de Capacidade de
Autocuidado serviu de base para a elaboração da
“Appraisal of Self-care Agency (ASA) Scale”, que foi
adaptada e validada à cultura brasileira por Silva; Kimura
(2002), sendo denominada Escala para Avaliar as
Capacidades de Autocuidado (EACAC). De acordo com
os autores, a estrutura das Capacidades de Autocuidado
está representada por três subconceitos, são eles:
1) disposições e capacidades fundamentais;
2) componentes de poder;
3) operações de autocuidado, que constituem o limite
entre as capacidades e ações de autocuidado. Se fosse
viável ordená-las quanto à sua formação e
desenvolvimento em um triângulo, poderia ser dito que as
capacidades fundamentais estão na base, as operações de
autocuidado no ápice e os componentes de poder
localizados como uma ponte entre ambas (OREM, 2001).
Conforme assinalam Diógenes e Pagliuca (2003),
para se entender a teoria do autocuidado é necessário
definir os conceitos relacionados, como os de
Evandro Borges
92
autocuidado, ação de autocuidado, fatores condicionantes
básicos e demanda terapêutica de autocuidado.
“Autocuidado é a atividade que os indivíduos praticam
em seu benefício para manter a vida, a saúde e o bem
estar. Ação de autocuidado é a capacidade do homem
engajar-se no autocuidado. Fatores condicionantes
básicos são idade, o sexo, o estado de desenvolvimento, o
estado de saúde, a orientação sociocultural e os fatores do
sistema de atendimento de saúde (FOSTER, BENETT e
OREM, 2000 apud DIÓGENES e PAGLIUCA, 2003).”
Incorpora-se ainda na teoria do autocuidado o
conceito dos requisitos de autocuidado: universais,
desenvolvimentais e desvio de saúde. De acordo com
Diógenes e Pagliuca (2003), os requisitos universais são
comuns aos seres humanos, auxiliando-os em seu
funcionamento, estão associados com os processos da
vida e com a manutenção da integridade da estrutura e do
funcionamento humano. Os requisitos desenvolvimentais,
assinalam os autores, ocorrem quando há a necessidade
de adaptação às mudanças que surjam na vida do
indivíduo. Os requisitos por desvio de saúde acontecem
quando o indivíduo em estado patológico necessita
adaptar-se a tal situação.
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
93
Segundo Orem (1995 apud DIÓGENES e
PAGLIUCA, 2003) os requisitos para o autocuidado por
desvio de saúde são: busca e garantia de assistência
médica adequada; conscientização e atenção aos efeitos e
resultados de condições e estados patológicos; execução
de medidas prescritas pelo médico e conscientização de
efeitos desagradáveis dessas medidas; modificação do
autoconceito (e da autoimagem) na aceitação de si como
estando num estado especial de saúde; aprendizado da
vida associado aos efeitos de condições e estados
patológicos, bem como de efeitos de medidas de
diagnósticos e tratamentos médicos, num estilo de vida
que promova o desenvolvimento contínuo do indivíduo.
Os requisitos de autocuidado, de acordo com os
autores são: manutenção e ingesta suficiente de ar, água e
alimento; a provisão de cuidados com eliminação e
excreção; manutenção de um equilíbrio entre atividade e
descanso, entre solidão e interação social; a prevenção de
riscos à vida, ao funcionamento e ao bem-estar humano; a
promoção do funcionamento e desenvolvimento humano,
em grupos sociais, conforme o potencial humano,
limitações humanas conhecidas e o desejo de ser normal.
Evandro Borges
94
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
95
13
Em sua versão original, o instrumento acima inclui,
sem domínio algum, 24 itens aos quais as pessoas
atribuem valor em uma escala Likert, que vai de um a
cinco pontos. As opções de escolha são: discordo
totalmente, discordo, nem concordo nem discordo,
concordo e concordo totalmente. As respostas tomam um
valor mínimo de 24 e máximo de 120 pontos. Quanto
maiores os escores, melhores serão as capacidades de
13 Silva, J. V.; Kimura, M. Adaptação Cultural e Validação do
Instrumento de Capacidades de Autocuidado “Appraisal of self-care agency scale”. Trabalho de Pesquisa. (Doutorado em Enfermagem) – Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002.
Evandro Borges
96
autocuidado da pessoa que responde à escala. As formas
utilizadas para a sua administração foram entrevista
estruturada e questionário sob as modalidades auto
administrada e aplicação assistida.
Com o objetivo de facilitar a interpretação dos
escores, a escala original foi transformada, durante o
processo de validação, por decisão do profissional
estatístico, em escala de 0 a 100 pontos, conforme sugere
McDowell, Newell (1996).
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
97
Capítulo 8
Felicidade em Psicologia Positiva
O termo felicidade possui muitas conotações e
definições, a maioria delas faz menção a um estado
emocional positivo, com sentimentos de bem-estar e
prazer. O Dicionário Houaiss da língua portuguesa (2004)
define felicidade como: “1. qualidade ou estado de feliz,
estado de uma consciência plenamente satisfeita,
satisfação, contentamento, bem-estar; 2. boa fortuna,
sorte; 3. bom êxito, acerto, sucesso”.
De acordo com Ferraz (2007), até o advento da
filosofia socrática acreditava-se que a felicidade dependia
Evandro Borges
98
dos deuses. Essa concepção de felicidade imperou durante
muitos séculos e em diferentes culturas. A autora ressalta
que no século IV a.C, Sócrates inaugura um paradigma a
partir do qual buscar ser feliz seria uma tarefa de
responsabilidade do indivíduo, debatendo sobre a
felicidade e pregando que a filosofia seria o caminho que
conduziria a essa condição. Aristóteles, assinala a autora,
continua a investigação de Sócrates, concluindo que todos
os outros objetivos perseguidos pela humanidade, como
a beleza, riqueza, saúde e o poder, eram meios de se
atingir a felicidade, sendo esta última a única virtude
buscada como um bem por si mesma. Com o advento do
Iluminismo, a concepção de mundo no Ocidente começa a
girar em torno da crença de que todo ser humano tem o
direito de atingir a felicidade. “Na mesma linha, o ideário
da Revolução Francesa estabelece que o objetivo da
sociedade deve ser a obtenção da felicidade de seus
cidadãos (Csikszentmihalyi, 1990; McMahon, 2006 apud
FERRAZ, 2007, p.235)”.
Segundo Lunt (2004 apud FERRAZ, 2007), a
felicidade é considerada um valor tão precioso e
indiscutível na atualidade que, como um exemplo
emblemático, podemos citar a Declaração de
Independência dos EUA, que registra que “todo homem
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
99
tem o direito inalienável à vida, à liberdade e à busca da
felicidade”.
Ekman (1992 apud FERRAZ, 2007) afirma que a
felicidade é uma emoção básica. E que diversos estados e
experiências podem produzir felicidade, como o amor, a
alegria, a saúde, a saciedade, o prazer sexual, o
contentamento, a segurança e a serenidade. Segundo os
autores, emoções como tristeza, medo, raiva e nojo, além
de estados afetivos como ansiedade, angústia, dor e
sofrimento, costumam diminuir a felicidade.
Cloninger (2004 apud FERRAZ, 2007) considera
que “felicidade” é a expressão que traduz a compreensão
coerente e lúcida do mundo, de acordo com o autor, a
felicidade autêntica requer uma maneira coerente de
viver, e ara tanto, isso incluiria todos os processos
humanos que regulam os aspectos sexuais, materiais,
emocionais, intelectuais e espirituais da vida. Cloninger
afirma que tais aspectos podem ser adaptativos ou não, a
depender do grau de consciência que as pessoas têm de
seus objetivos e valores. Afirma, ainda, que o grau de
coerência dos pensamentos e relacionamentos humanos
pode ser medido em termos de quanto estes seriam
capazes de conduzir à harmonia e à felicidade
CLONINGER, 2004 apud FERRAZ, 2007. P.236).
Evandro Borges
100
Segundo Carvalho et al. (2014), referir o que
significa a felicidade implica revelar a própria visão da
vida. E Boiron (2001 apud CARVALHO et al., 2014)
descreve a felicidade em 6 alíneas:
1) é um estado fisiopsicológico que caracteriza o bom
funcionamento do organismo;
2) é acessível a todos os seres humanos;
3) é independente do prazer ou do sofrimento;
4) leva a uma realização pessoal;
5) a procura da felicidade é uma dever ético, e ;
6) tudo isto depende daquilo em que o sujeito acredita ser
a sua felicidade.
A teoria da Felicidade Autêntica de Seligman
(2004) sustenta que a felicidade possui três dimensões:
emoções positivas, engajamento e significado com a vida.
Emoções positivas, de acordo com o autor, significa
vivenciar uma vida agradável, remete à existência de
emoções positivas no passado, presente e futuro.
Emoções positivas sentidas no passado incluem no sujeito
uma satisfação e sentimentos de serenidade. No presente
inclui prazeres somáticos momentâneos e prazeres mais
complexos que incluem outras aprendizagens e, no
futuro, sentimento de otimismo, esperança e fé.
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
101
A segunda dimensão, segundo o autor, significa um
envolvimento com a vida, englobando o desenvolvimento
das capacidades humanas, como um meio para atingir os
objetivos que o sujeito idealiza como sendo importantes
para si. Valores morais, liderança, bondade, integridade,
originalidade, sabedoria, capacidade para amar e ser
amado são alguns dos exemplos de competências que
podem ser desenvolvidos nos sujeitos (Seligman, 2004
apud CARVALHO et al. 2014).
A terceira dimensão trata da existência de uma vida
com significado, que pode ser expressa por emoções
positivas, incluindo traços de personalidade positivos de
orientação na vida. (Seligman, 2004 apud CARVALHO et
al. 2014).
Após reformular sua teoria original da Felicidade
Autêntica, Seligman (2011) substitui o termo felicidade
pelo constructo de bem-estar, acrescentando cinco
elementos essenciais, que são: emoções positivas, que
seriam expressas por estados de felicidade e pela
satisfação com a vida, o engajamento ou envolvimento,
significado, realização pessoal e relações interpessoais
positivas. Desta forma o indivíduo seria capaz de florescer
e atingir o máximo de bem-estar (Huppert & So, 2009;
2013).
Evandro Borges
102
Para Seligman (2011) felicidade é um constructo.
Portanto, a classificação do conceito de felicidade propõe
um conjunto de elementos que cada ser humano necessita
ter presente em sua vida, e que são essenciais para
alcançar o bem-estar (DURAYAPPAH, 2010 apud
FERRAZ).
Obstáculos ao aumento do nível de felicidade
Seligman (2004) afirma que um dos obstáculos ao
aumento do nível de felicidade é a “rotina hedonista”, que
faz com que as pessoas se adaptem rapidamente e de
forma inevitável às coisas boas, vendo-as como naturais.
O autor observa que com o acúmulo de bens materiais e
de realizações, as expectativas aumentam. Desta forma, os
feitos conquistados tão arduamente não trazem mais
felicidade, levando o sujeito a desejar alcançar algo ainda
melhor, para elevar a felicidade até os níveis mais altos
dos limites estabelecidos. Seligman observa, no entanto,
que o indivíduo também vai se adaptando aos novos bens
materiais ou realizações.
De acordo com Seligman (2004), estudos
demonstraram que coisas boas e realizações importantes
têm o poder de aumentar a felicidade apenas
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
103
temporariamente. O autor argumenta que se não fosse
assim, pessoas que têm mais coisas boas na vida seriam,
em geral, muito mais felizes do que as que têm menos.
Mas as menos afortunadas, sugere o autor, são, de modo
geral, tão felizes quanto as mais afortunadas. Seligman
observa ainda 6 pontos importantes sobre felicidade e sua
relação com o bem-estar:
1. Em menos de três meses, eventos importantes, como
uma demissão ou uma promoção, podem perder o
impacto sobre os níveis de felicidade.
2. De acordo com o ator, a riqueza, que certamente traz
com ela bens materiais, tem uma correlação
surpreendentemente baixa com o nível de felicidade. Os
ricos são, em média, apenas ligeiramente mais felizes que
os pobres.
3. Estudo de Séligman (2004) apontam que os salários
aumentaram bastante nas nações prósperas nos últimos
50 anos, mas o nível de satisfação com a vida manteve-se
o mesmo nos Estados Unidos e na maioria dos outros
países ricos.
Evandro Borges
104
4. Mudanças recentes no salário do indivíduo são motivo
de satisfação no trabalho, mas os níveis médios de salário,
não, sustenta o autor.
5. A beleza física, que, como a riqueza, traz com ela uma
série de vantagens, não teria muito efeito sobre a
felicidade, afirma Seligman.
6. E ainda segundo o autor, a saúde física, talvez o mais
valioso de todos os recursos, tem pouquíssima relação
com a felicidade.
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
105
Capítulo 9
O Relatório Mundial da Felicidade (World Happiness Report)
Em julho de 2011 a Organização das Nações
Unidas (ONU) aprovou, por meio de sua Assembleia
Geral, uma resolução convidando os países membros a
medirem a felicidade de seus habitantes e usar os dados
para ajudar em suas políticas públicas. Em abril de 2012,
houve a primeira Reunião de Alto Nível da ONU sobre a
"Felicidade e Bem-Estar: Definindo um Novo Paradigma
Econômico". A reunião foi presidida por Jigme Thinley,
Evandro Borges
106
primeiro-ministro do Butão, o primeiro e único país que
até então havia adotado oficialmente a felicidade interna
bruta, ao invés do produto interno bruto, como seu
principal indicador de desenvolvimento. O Relatório
Mundial da Felicidade (World Happiness Report) é uma
medição da felicidade publicado pela Rede de Soluções
para o Desenvolvimento Sustentável da ONU (SDSN, na
sigla em inglês).
O primeiro Relatório Mundial da Felicidade foi
lançado em 1 de abril de 2012 como material base para a
reunião. Ele chamou a atenção internacional por ser a
primeira pesquisa sobre a felicidade global. O relatório
descrevia o estado de felicidade mundial, as causas da
felicidade e da miséria, e as implicações políticas
destacadas por estudos de caso. Em setembro de 2013, o
segundo relatório apresentou a primeira continuação
anual e, desde então, os relatórios passaram a ser
emitidos todos os anos. A pesquisa utiliza dados do
Gallup World Poll. Cada relatório anual está disponível
para o público no site World Happiness Report.
Nos relatórios, principais especialistas de várias
áreas, como economia, psicologia, análise de pesquisa,
estatísticas nacionais, entre outros. Descrevem como as
medições de bem-estar podem ser efetivamente usadas
para avaliar o progresso das nações. Cada relatório está
organizado por capítulos, que se aprofundam nas
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
107
questões relacionadas à felicidade, incluindo doenças
mentais, benefícios objetivos da felicidade, a importância
da ética, implicações políticas e as ligações com a
abordagem da OECD para mensurar o bem-estar
subjetivo e o Índice de Desenvolvimento Humano.14
Antecedentes
O mundo mudou muito desde a publicação do
primeiro Relatório Mundial da Felicidade em 2012.
Constatou-se um aumento notável da consideração da
felicidade como uma medida adequada do progresso
social e um objetivo das políticas públicas. Um número
rapidamente crescente de governos nacionais e locais está
a utilizar a informação e a investigação sobre a felicidade
na definição de políticas que permitam às pessoas ter uma
vida melhor. Os governos estão a medir o bem-estar
subjetivo e a utilizar a pesquisa sobre o bem-estar para
orientar o design de espaços públicos e a prestação de
serviços públicos.
14
World Happiness Report 2016 Updatep. 4, para. 1 cap. "2: The
Distribution of World Happiness“. 2016.
Evandro Borges
108
Aproveitamento da informação e da investigação sobre a
felicidade para melhorar o desenvolvimento sustentável.
O ano de 2015 representou um ponto positivo para
a humanidade, com a adoção, pelos Estados-membros da
ONU, de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
(ODS), que ajudem a conduzir a comunidade mundial
para um padrão de desenvolvimento global mais inclusivo
e sustentável. É muito provável que os conceitos de
felicidade e bem-estar ajudem a orientar o progresso para
um desenvolvimento sustentável. O desenvolvimento
sustentável é um conceito normativo, que requer que
todas as sociedades equilibrem os seus objetivos
econômicos, sociais e ambientais.
De acordo com o relatório, quando os países
procuram o crescimento do PIB de forma
desproporcionada, atropelando os objetivos sociais e
ambientais, os resultados têm frequentemente impactos
negativos no bem-estar humano. Os ODS foram pensados
para ajudar os países a atingir seus objetivos econômicos,
sociais e ambientais de forma harmoniosa, levando-os,
portanto, a proporcionar níveis mais elevados de bem-
estar para as gerações presentes e futuras.
Os ODS incluem metas, objetivos e indicadores
quantitativos. A Rede de Soluções de Desenvolvimento
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
109
Sustentável, nas suas recomendações relativas à seleção
de indicadores de ODS, recomendou vivamente a inclusão
de indicadores de Bem-estar Subjetivo e de Atitude
Positiva para ajudar a orientar e medir o progresso na
consecução dos ODS. Encontramos considerável apoio de
diversos governos e especialistas para a inclusão desses
indicadores de felicidade nos ODS. O Relatório Mundial
da Felicidade 2015 destaca uma vez mais a idoneidade da
utilização da medição da felicidade para orientar a
definição de políticas públicas e para ajudar a avaliar o
bem-estar geral de cada sociedade.15
ANEXO I - Relatório Mundial da Felicidade - Ranking 2016
15
World Happiness Report 2016 Update. UN Sustainable
Development Solutions Network; Earth Institute (University of
Columbia), 2016.
Evandro Borges
110
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
111
Capítulo 10
Definição e medição de Florescimento
Florescimento
De acordo com Leite et al. (2016), as definições de
florescimento presentes na literatura apontam para um
estado de pleno desenvolvimento humano, caracterizado
por elevada saúde mental, bem-estar e contribuição
genuína. “A perspectiva do florescimento é baseada nas
teorias humanísticas que abordam as exigências
psicológicas, como as necessidades por competência,
afinidade e auto aceitação” (MENDONÇA et al., 2014, p.
173 apud LEITE et al. 2016).
Para Fredrickson e Losada 2005 (apud LEITE et al.
2016) “Florescer significa viver dentro de uma faixa ideal
de funcionamento humano, que conota bondade,
amadurecimento, crescimento e resiliência”.
A Mental Health Foundation of New Zealand
(2013) descreve o florescimento pessoal como um estado
de saúde mental positiva, que permita ao indivíduo ampla
experiência e significado. Dessa forma, pessoas que
Evandro Borges
112
florescem experimentam, na maior parte do tempo,
emoções positivas e funcionamento psicológico e social
positivos. Isso significa, em termos filosóficos, acesso à
uma vida boa e agradável, engajada e com significado. As
pessoas em estado de florescimento teriam uma visão
positiva de si e dos outros, com determinada
predisposição a preocuparem-se mais com as demais
pessoas que as rodeiam, serem menos tolerantes com a
injustiça e mais promotores de instituições justas e
equitativas. (MENTAL HEALTH FOUNDATION OF
NEW ZEALAND, 2013 apud LEITE et al. 2016).
Segundo Leite et al. (2016), estudos apontam
diversos benefícios dos indivíduos que estão florescendo,
como a capacidade de efetivamente aprender, trabalhar de
forma produtiva, ter melhores relações sociais, mais
suscetibilidade a contribuir para a sua comunidade, ter
uma melhor saúde e expectativa de vida.
Huppert e So (2009 apud LEITE, 2016)
apresentam um conjunto de recursos básicos e um
número mínimo de recursos adicionais com relação ao
florescimento. Os recursos básicos incluem emoções
positivas, engajamento, interesse, significado e propósito.
Já os recursos adicionais são autoestima, otimismo,
resiliência, vitalidade, autodeterminação e relações
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
113
positivas. Já na correlação entre florescimento e trabalho,
destaca-se a pesquisa de Harter, Schmidt e Keyes (2003
apud LEITE, 2016), “que afirmam que a maior parte do
tempo de um adulto é passada no trabalho e que ele é
parte significante da vida do ser humano, afetando sua
vida e bem-estar social”.
De acordo com Mendonça et al. (2014 apud LEITE,
2016) o trabalho é um dos mais importantes bens na vida
do ser humano e está diretamente relacionado ao
florescimento. Isto se justificaria por ser o ambiente de
trabalho um espaço que possibilita envolvimento com
colegas, trabalho e a organização, vivência de relações
sociais satisfatórias, trocas sociais favoráveis,
desenvolvimento de competências, otimismo em relação
ao futuro, propósito e significado na vida.
Para Seligman (2004) as diferenças de gênero com
relação ao florescimento são pequenas. O autor afirma
que o maior florescimento estaria associado ao ensino
superior e à renda.
Evandro Borges
114
A Escala de Florescimento
Diener et al. (2010 apud Becalli, 2014)
apresentaram uma medida de florescimento. Trata-se de
uma escala que pretende complementar as medidas
existentes de bem-estar subjetivo de maneira a avaliar a
prosperidade psicossocial com base nas teorias existentes
acerca do bem-estar psicológico e social. Inicialmente
denominada como sendo uma escala de bem-estar
psicológico, teve sua nomenclatura alterada para Escala de
Florescimento, de forma a revelar com maior precisão o
que permite avaliar, uma vez que vai além do bem-estar
psicológico, ressaltam os autores.
De acordo com Becalli (2014), a Escala de
Florescimento (Flow Scale), desenvolvida por Diener,
Wirtz, Tov, Kim-Prieto, Choi, Oishi, & Biswas-Diener
(2010); versão traduzida por Baptista, 2011), foi
concebida com o objetivo de avaliar a prosperidade
psicossocial e complementar outras escalas de avaliação
do bem-estar subjetivo, mas tendo por base o conceito de
florescimento humano. De acordo com os autores, a
escala consiste em uma breve autoavaliação, é composta
por oito itens formulados numa direção positiva e com
formato de resposta numa escala tipo Likert de 7 pontos
que varia de 1 (Discordo totalmente) a 7 (Concordo
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
115
fortemente). Também avalia aspetos do funcionamento
humano que vão desde as relações sociais, autoestima,
significado e propósito na vida, formando uma única
dimensão, fornece um resultado total de bem-estar
psicológico, que pode variar entre 8 (forte desacordo com
todos os itens) e 56 (forte concordância com todos os
itens). “A escala possui boas qualidades psicométricas
demonstrando uma forte associação com outras escalas de
bem-estar psicológico (Diener et al., 2010 apud BECALLI,
2014)”.
ANEXO II – Estrutura da Escala de Florescimento
Evandro Borges
116
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
117
Capítulo 11
A descoberta do Flow
As contribuições do Dr. Mihaly Csikszentmihalyi
Mihaly Csikszentmihalyi (Pronuncia-se Mirrale
Chics sent-mirrai (1934). É um psicólogo húngaro-
americano, renomado professor de ciências sociais da
Peter Drucker School of Business, na Claremont
University. Foi ele quem nomeou e investigou flow, o
estado de gratificação em que entramos quando nos
concentramos completamente no que estamos fazendo. É
também professor de Psicologia e Gestão na Claremont
Graduate University, ex-chefe do Departamento de
Psicologia da Universidade de Chicago e do
Departamento de Sociologia e Antropologia da Lake
Forest College. Fundador e co-diretor do Centro de
Pesquisa de Qualidade de Vida (QLRC - Quality of Life
Research Center). Atualmente a Divisão de Ciências
Comportamentais e Organizacionais (DBOS) da
Claremont Graduate University oferece um programa de
Doutorado em Psicologia Positiva através do QLRC,
instituto de pesquisa sem fins lucrativos que realiza
Evandro Borges
118
pesquisas sobre uma ampla gama de questões de ponta
em psicologia positiva, também fornece um fórum para
pesquisadores de todo o mundo, com o objetivo de
estender suas pesquisas e estudos em psicologia positiva.
A biografia do Dr Mihaly é surpreendente, quando
criança, ficava surpreendido ao observar que, mesmo sob
o horror da Segunda Guerra Mundial, algumas pessoas
utilizavam sua coragem para ajudar o próximo e eram
capazes de dar direção e sentido às suas vidas. Após mais
de trinta anos de estudos, o autor mantém a convicção de
que, seja qual for a atividade que uma pessoa esteja
exercendo, como por exemplo, esportes, trabalho braçal,
intelectual ou artístico, o sentimento batizado por ele
como “flow” (fluxo ou fluidez em português), é registrado
quando há total envolvimento e satisfação com o que está
sendo feito. A capacidade de discernir o que nos
proporciona o fluxo é também a possibilidade de alcançar
a sabedoria de viver plenamente, ressalta o autor. 'A
descoberta do fluxo' parte de uma reflexão ao mesmo
tempo simples e profunda do Dr. Mihaly: “se não
assumirmos a direção de nossa vida, ela será controlada
pelo mundo exterior para servir a propósitos alheios”16
.
16 Andrade, Elisson. Finanças & comportamento: Coletânea de
artigos. 2016.
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
119
Ele alerta para o fato de que não podemos esperar que
alguém nos ajude a viver. E no entanto, precisamos
descobrir uma forma de como fazer isso por conta
própria. A solução proposta pelo autor baseia-se na
possibilidade do auto desafio, com tarefas que exijam alto
grau de habilidade e comprometimento.
Trabalhos mais recente do Dr. Mihaly estão
concentrados no estudo da motivação. Ele enfatiza que
pessoas que estão intrinsecamente motivadas lutam
menos com a procrastinação e são mais propensas a
estarem altamente motivadas.
A Teoria do Flow (Fluxo)
A teoria do Flow surgiu a partir de estudos do Dr.
Mihaly Csikszentmihalyi. De acordo com Weinberg e
Gould (2001, p. 158), ela representa uma inovação nos
estudos sobre motivação intrínseca. Pesquisas envolvendo
essa teoria evoluíram significativamente em países como
Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Itália, Japão e
Austrália, porém, no Brasil, há ainda poucos estudos.
O conceito de flow é derivado do estudo de
atividades que Csikszentmihalyi considerou
substancialmente motivantes, ou seja, que proporcionam
prazer por meio de suas realizações, levando o indivíduo a
Evandro Borges
120
um estado de profundo envolvimento e a ter um
sentimento intenso de alegria e satisfação pessoal. Para
Csikszentmihalyi (1988, 1992, 1999), o flow acontece em
condições específicas, quando a atenção está totalmente
focada na atividade e sentimentos, desejos e pensamentos
estão completamente alinhados. As pesquisas
identificaram oito elementos que definem essa
experiência: equilíbrio entre desafio e habilidade; metas
claras e retorno (feedback); concentração total na
atividade e no momento presente; fusão entre ação e
consciência; sensação de controle; perda da
autoconsciência; perda da noção do tempo e experiência
autotélica. Iremos tratar da Experiência Autotélica mais
adiante.
De acordo com Massarella e Winterstein (2009),
quando as pessoas refletem sobre o que sentem após
vivenciarem uma experiência muito positiva, elas
mencionam pelo menos um desses oito elementos:
1) Equilíbrio entre desafio e habilidade: há um equilíbrio
entre o desafio com o qual o sujeito está envolvido e
sua capacidade de responder a ele de forma adequada
(Figura 1).
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
121
Figura 1. Relação entre nível de desafio/ habilidade e flow.
(adaptado de CSIKSZENTMIHALYI, 1992, p. 113).
2) Metas claras e retorno (feedback) das ações: clareza
sobre o objetivo a ser atingido, conhecimento das regras,
do que é necessário fazer para que a atividade ocorra com
sucesso. Ter indicadores efetivos sobre como está sendo o
desempenho na tarefa.
3) Concentração total na atividade e no momento
presente: o foco da atenção está totalmente na tarefa e no
presente, não é desperdiçada energia psíquica para
processar informações que não sejam pertinentes à
Evandro Borges
122
realização da atividade. Sobre concentração, o professor
Helder Kamei, um dos pioneiros no estudo de Flow e
Psicologia Positiva no Brasil, ressalta que na vida
cotidiana, raramente concentramos nossa atenção além de
um nível muito breve. Para o autor, somos
constantemente distraídos e nossa atenção salta de um
estímulo para outro. Entretanto, o Dr. Kamei (2010)
observa que na experiência de flow, os desafios são
suficientemente altos para absolver o máximo de nossas
habilidades. Desta forma, para que o indivíduo possa
atingir o estado de flow é necessário que ele concentre
toda a sua atenção na atividade que estiver realizando,
sem desperdiçar nenhum recurso atencional para
processar qualquer informação relevante. Por exemplo: se
um maratonista começar a pensar sobre qualquer outra
coisa enquanto estiver percorrendo um trecho difícil de
um determinado percurso da competição, ele poderá
perder a concentração e ser ultrapassado.
4) Sentimento de ‘fusão’ entre ação e consciência: Neste
ponto, os autores ressaltam que o envolvimento na
atividade é por vezes tão intenso que as ações parecem
transcorrer quase que de maneira automática, de forma
totalmente espontânea e natural, o indivíduo deixa de se
perceber como distinto das ações que realiza.
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
123
5) Sensação de controle: no flow, afirmam os autores, há
uma certa sensação de controle sobre a situação, sem que
haja, necessariamente uma preocupação efetiva com isso.
Há, segundo eles, uma satisfação em exercer o controle
sobre si mesmo em situações difíceis ou complexas.
6) Perda da autoconsciência: tal fenômeno ocorre,
segundo os autores, quando a percepção que temos de um
self, o que eles definem como sendo a soma dos
conteúdos da consciência, tais como lembranças, ações,
desejos, prazeres e dores, bem como a hierarquia de
metas que construímos ao longo de nossas vidas,
separado do mundo à nossa volta, deixa de existir. Desta
forma, quando estamos profundamente envolvidos ou
conectados uma determinada atividade, assinalam os
autores, podemos ter um sentimento de união com as
pessoas, coisas ou o ambiente à nossa volta.
7) Sentimento de distorção ou perda da noção da
passagem do tempo: ainda de acordo com as pesquisas
realizadas pelos autores, determinadas pessoas
descreveram uma certa desorientação temporal, ou perda
da noção da passagem do tempo. Eles observaram que em
alguns relatos, determinados indivíduos afirmaram ter
tido a sensação de que o tempo passou muito rápido,
Evandro Borges
124
enquanto outros relataram que se passou muito mais
tempo do que de fato ocorreu.
8) Sentimento de viver uma experiência autotélica:
segundo Csikszentmihalyi (1992, p. 103) e Kamei (2010),
“o elemento fundamental de uma experiência máxima, ou
flow, é que ela tem um fim em si mesma”. Portanto,
ressaltam, mesmo que a princípio uma determinada
experiência seja efetuada por outras razões, a atividade
que nos absorve, torna-se um fim em si mesma.
Massarella e Winterstein (2009) também
observaram que o resultado de vivenciar o flow é a
percepção de uma “experiência autotélica”, capaz de
proporcionar um profundo sentimento de prazer e
satisfação, o fato de estar naquele determinado local e
poder realizar a atividade é a recompensa. Dos oito
elementos, assinalam os autores, três deles sendo o
equilíbrio entre desafio e habilidade; metas claras e
retorno (feedback); concentração total na atividade e no
momento, podem ser entendidos como elementos
necessários para que o flow ocorra. Os demais, como
fusão entre ação e consciência; sensação de controle;
perda da autoconsciência; perda da noção do tempo e
experiência autotélica, podem ser interpretados como
consequências, ou mesmo como percepções da ocorrência
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
125
do estado mental. Essa divisão, ressaltam, visa facilitar a
compreensão do fenômeno e a análise de dados no estudo
em questão.
Csikszentmihalyi (1999) destaca ainda que
atividades esportivas são potencialmente geradoras do
estado de fluxo. Segundo o autor, nelas estão presentes
todos os elementos necessários para que o flow ocorra.
Constituem atividades que prendem nossa atenção,
possuem metas claras, fornecem feedback e representam
desafios que devem ser respondidos à altura com
determinadas capacidades ou habilidades. No entanto,
outras atividades cotidianas são capazes de proporcionar
um estado de flow.
Embora nem todas as dimensões do flow
necessariamente precisem estar presentes para que seu
estado seja atingido, Csikszentmihalyi (1988) afirma que
a precondição universal consiste em o indivíduo saber que
há algo que ele tem que fazer, e que ele é perfeitamente
capaz de fazê-lo. Um exemplo claro disso é aprender a
nadar ou andar de bicicleta. No início sentimos medo,
mas ao adquirirmos a independência de dar as primeiras
pedaladas ou braçadas na água, automaticamente nos
remete a um estado de "experiência máxima".
Evandro Borges
126
Em outras palavras, experimentamos o máximo de
nossa capacidade. Porém, com o passar do tempo, andar
de bicicleta já não nos garante as mesmas experiências de
flow, mesmo que praticar atividades físicas elevem nossas
experiências de bem-estar. Se você dirige automóveis,
deve se lembrar da alegria de quando aprendeu a guiar
um automóvel, talvez até tenha experimentado um estado
de flow durante os primeiros 100 metros dirigindo.
Agora eu pergunto se você consegue sentir a
mesma sensação ao acordar pela manhã e enfrentar o
trânsito para chegar ao trabalho, consegue? Pois bem,
particularmente, raramente eu consigo. E isso se deve ao
fato de que o estado de flow depende de experiências
novas e que nos motivem a testar nossos limites e
habilidades.
Para Kamei (2010), as habilidades do indivíduo
devem estar totalmente envolvidas em superar um desafio
que está no limiar de sua capacidade de controle. Quando
isso ocorre, afirma o autor, o indivíduo vivencia um
estado de flow. Porém, observa Kamei, se as habilidades
forem maiores que os desafios, o indivíduo entrará no
estado de tédio. Para retornar ao estado de flow, de
acordo com o autor, o indivíduo terá que aumentar o nível
dos desafios. Em contrapartida, se os desafios forem
maiores que as habilidades percebidas, o indivíduo
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
127
entrará em estado de ansiedade, observa. “Nesse caso,
para retornar ao estado de flow, a pessoa terá que
aumentar suas habilidades, ou então diminuir o nível dos
desafios (KAMEI, 2010)."
Exemplos Práticos de Estados de Flow / Fluxo17
Exemplo 1:
“Quando completei 18 anos fui morar sozinha em
outra cidade. Lá eu conheci um rapaz na faculdade, pelo
qual me apaixonei perdidamente. Após 6 meses de
namoro, descobri que estava gravida. Quando contei a ele,
disse que eu estava louca, me chamou de irresponsável e
em seguida me largou. Eu estava longe de minha família e
receosa de contar aos meus pais. E quando meu pai
soube, ficou muito revoltado e disse-me para assumir as
consequências de minhas escolhas. Felizmente, consegui
um emprego e guardei minhas economias durante 9
meses até o nascimento do bebê. Então ela nasceu, uma
menina linda e saudável a quem dei o nome de Vitória.
Você pode imaginar o que passei para conseguir cuidar
dessa criança sozinha, sem ter ninguém da família para
17
Andrade, Elisson. Finanças & comportamento: Coletânea de
artigos. 2016.
Evandro Borges
128
ajudar? Encontrei dentro de mim uma mulher que não
conhecia, descobri que era forte e capaz. E esse evento,
sem dúvidas, foi uma das maiores realizações de minha
vida. E apesar das dificuldades que passei, lembrome
dessa época com muita alegria. Hoje sou uma médica e
mãe de 3 filhos, Vitória, Cauã e o pequeno Victor.
(Rebekka - *Nome Fictício).”
Exemplo 2:
“Sempre fui um aficionado por esportes radicais. E
algo que marcou profundamente minha vida foi escalar o
Monte Everest. Foram anos de trabalho duro para
financiar a viagem e comprar os equipamentos para a
escalada. Durante um ano, foquei nos treinos físicos de
resistência. Eu sabia que não seria fácil e não queria que
nada desse errado. Finalmente chegara o grande dia. E
estava ali diante do gigante Everest. Porém, nas primeiras
horas de escalada senti uma profunda falta de ar. Meu
corpo não estava mais respondendo aos meus comandos.
Pensei em desistir, em voltar atrás. Com a ajuda de
amigos, armei minha barraca e dormi em meio a uma
noite extremamente fria. Comecei a lembrar de todo o
esforço que havia feito para estar ali, das coisas que abri
mão. No dia seguinte, retomei a escalada rumo ao topo. E
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
129
lá chegando, senti uma das maiores sensações de
felicidade do mundo! (Robert - *Nome Fictício).”
Exemplo 3:
“Durante a crise econômica de 2016 os negócios de
minha empresa declinaram em 80%. Eu estava
trabalhando apenas para cobrir os custos e pagar os
funcionários. A maioria deles está na empresa há bastante
tempo, somos praticamente uma família, mas o momento
era difícil para todos nós. Minha autoestima estava no
nível mais baixo de todos, por pouco não entrei em
depressão. Pensei em fechar a empresa, então resolvi
marcar uma reunião para definirmos um possível acordo
sobre as demissões. Me vi surpreso quando, em meio a
reunião, todos decidiram optar pela redução dos próprios
salários para ajudar a empresa a se reerguer. Felizmente
superamos a crise e os negócios voltaram a fluir. Todos
estão engajados e ainda mais unidos. O espírito de equipe
superou as dificuldades. Hoje valorizamos nosso trabalho
cada vez mais. (Maik - *Nome Fictício)”
Evandro Borges
130
Vejamos agora os pontos em comum nos exemplos citados:
ESFORÇO
PROATIVIDADE
SUPERAÇÃO
CORPO E MENTE LEVADOS AO EXTREMO
CONDIÇÕES ADVERSAS
FOCO E CONCENTRAÇÃO
CONTROLE CONSCIENTE DOS ATOS > FOCO
EXPERIÊNCIA ÓTIMA> CONTROLE DO PRÓPRIO DESTINO
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
131
Prazer versus felicidade
FELICIDADE ESTÁ ASSCOCIADA A REALIZAÇÃO E INOVAÇÃO
NO PRIMEIRO EXEMPLO NÃO HOUVERAM APENAS ATIVIDADES PRAZEROSAS.
ATIVIDADES QUE PROPORCIONAM PRAZER SÃO IMPORTANTES PARA A VIDA, MAS PRAZER NEM SEMPRE PRODUZ CRESCIMENTO PESSOAL.
DE ACORDO COM A TEORIA DO FLUXO, PRAZER NÃO EXIGE INVESTIMENTO EM CONCENTRAÇÃO E ENERGIA.
PRAZER PODE SER ADQUIRIDO SEM MUITO ESFORÇO, BASTA QUE DETERMINADA ÁREA DO CÉREBRO SEJA ATIVADA.
EXEMPLO: COMER DOCES
PRAZER É PASSAGEIRO E NÃO AGREGA VALOR
LOGO, PRAZER É PASSAGEIRO E NÃO PROPORCIONA FELICIDADE DURADOURA.
Evandro Borges
132
O Estado de fluxo:
CONTROLE DA CONSCIÊNCIA = PODER DE TRANSFORMAÇÃO
ENTRAR EM ESTADO DE FLUXO É UMA OPÇÃO,
UMA ESCOLHA
BASTANDO OFERECER AS CONDIÇÕES BÁSICAS
PARA TAL: FOCO, CONCENTRAÇÃO E
ENERGIA
MOMENTOS DEDICADOS A ALGUMA ATIVIDADE EM QUE NADA MAIS PARECE INTERESSAR. NÃO SE NOTA QUE O TEMPO PASSOU. O TEMPO PARECE “PARAR”.
ALGUNS REQUISITOS PARA O FLUXO:
> ATENÇÃO
> ENERGIA
IMPORTÂNCIA DAS PRIORIDADES
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
133
Diagrama do Estado De Fluxo 18
18
Diagrama que representa as principais sensações do indivíduo na
realização de uma atividade até que possa atingir o estado de Flow.
Fonte: CSIKSZENTMIHALYI, Mihaly. Flow: The psychology of
optimal performance. 1990. p.74)
Evandro Borges
134
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
135
Capítulo 12
Fluxo versus Homeostase
Homeostase, dos termos gregos homeo, "similar"
ou "igual", e stasis, "estático", é a condição relativa de
estabilidade da qual o organismo necessita para realizar
suas funções adequadamente para o equilíbrio do corpo.
Em se tratando de seres vivos, é a propriedade de um
sistema aberto, de regular o seu ambiente interno, de
modo a manter uma condição estável mediante múltiplos
ajustes de equilíbrio dinâmico, controlados por
mecanismos de regulação inter-relacionados. Este
fenómeno foi descrito pela primeira vez por Claude
Bernard, em 1859, que afirmou que todos os mecanismos
vitais, por mais variados que sejam, não têm outro
objetivo além da manutenção da estabilidade das
condições do meio interno. Em 1929, tal fenômeno foi
estudado por Walter Cannon, que chamou essa
estabilidade de homeostase.19
19
Sperelakis, Nicholas; Freedman, Jeffrey C.; Ferguson, Donald G.
Biophysical Chemistry of Physiological Solutions. Cell Physiology
Sourcebook. A Molecular Approach. 3ª ed. San Diego, California:
Academic Press. (2001) p.3.
Evandro Borges
136
Exemplo 1:
Exemplo 2:
Exemplo 3:
Mary resolve anotar todos os assuntos importantes para a prova. Ela quer reservar os fins de semana para estudar. Passadas três semanas, Mary desiste.
Paulo tomou a decisão de ser um marido mais atencioso. Ele chega em casa mais cedo, passa mais tempo com a família, ajuda com os afazeres domésticos, junta as meias e toalhas molhadas e já não vai mais ao futebol com os amigos com tanta frequência. Após um mês, Paulo nem percebeu que voltou a fazer as mesmas coisas de sempre. Paulo desistiu da mudança.
Júlia foi ao médico e descobriu que estava com colesterol de alto risco. Júlia decidiu fazer uma dieta rigorosa. Na primeira semana ela malha duas horas por dia, evita refrigerantes e doces e adota uma alimentação saudável. Após uma briga com o namorado, tem uma crise de estresse e joga tudo para o alto. Ela desistiu.
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
137
Pontos em comum nos exemplos:
TENTATIVA DE MUDANÇA ABRUPTA
DESISTÊNCIA APÓS UM INTERVALO DE TEMPO
ELES ACREDITAM SER FALTA DE “FORÇA DE VONTADE”
HOMEOSTASE: TENDÊNCIA DOS SISTEMAS BIOLÓGICOS EM RESISTIR A MUDANÇAS (BUSCA DE ESTABILIDADE)
INCONSCIENTEMENTE, NOSSO CORPO RESISTE A MUDANÇAS;
CONCEITO DE HOMEOSTASE SOCIAL: NORMAS, COSTUMES, PUNIÇÕES;
DEVIDO À HOMEOSTASE: PESSOAS SE ACOMODAM E ACEITAM AS COISAS COMO ELAS SÃO.
Evandro Borges
138
Referências20
21
20
Csikszentmihalyi, Mihaly. A descoberta do fluxo. Rio de Janeiro: Rocco,
1999.
21 Andrade, Elisson. Finanças & comportamento: Coletânea de artigos. 2016.
MUDANÇAS EXIGEM:
• Compreender a homeostase;
• Negociar com as próprias resistências do corpo, família, sociedade;
• Evitar mudanças abruptas.
MARY: “NUNCA VOU CONSEGUIR ESTUDAR”.
JÚLIA: “NÃO CONSIGO FAZER DIETA.”
PAULO: “MINHA SINA É SER ASSIM.”
ACEITAR O FRACASSO É MAIS CÔMODO E MUDAR PERDE SUA FORÇA.
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
139
Como obter maiores experiências de Fluxo
Agora que já discorremos sobre a Teoria do Fluxo,
é hora de entendê-la na prática aplicada do dia-a-dia, mas
como nos foi mencionado anteriormente, quando
atingimos um estado de fluxo, estamos tão envolvidos
com o momento ou a atividade em questão, que
simplesmente não nos damos conta. Deixe-lhe dizer algo
sobre o estado de fluxo, é algo pessoal, mas certamente
você também já o experimentou. Durante algum tempo
estive trabalhando como voluntário em um projeto
comunitário. Eu fazia parte de uma equipe de psicólogos
de um projeto de plantão psicológico para pessoas de
baixa renda. O local era distante de minha residência e eu
precisava atravessar a cidade todos os fins de semana,
onde passava a tarde inteira em atendimento. Se você é
psicólogo clínico e faz atendimento em consultório, deve
saber da importância de se usar um relógio de pulso, mas
o fato é que eu não usava. E o motivo pelo qual eu não
usava era simples, eu não me preocupava em como estava
passando o tempo naquele local, eu simplesmente não
percebia o tempo passar, com exceção dos momentos em
que olhava para o relógio da parede para me certificar de
que haviam decorrido 50 minutos de atendimento. Em
suma, dedicava-me ao máximo em cada atendimento e
procurava dar o meu melhor. Curiosamente, ao término
Evandro Borges
140
dos plantões, voltava para casa sentindo-me leve como
uma pluma. E foi durante esse intervalo de tempo que
descobri que ser psicólogo era algo que verdadeiramente
fazia sentido para mim, experimentei o efeito auto
realizador do estado de "flow". E aqui vão algumas dicas
de como obter mais experiências de fluxo.22
Procure por desafios. Escolha algo que você goste de
fazer. Pode ser qualquer coisa, como ler, escrever um
livro, andar de bicicleta, assistir uma nova série de TV,
fazer parte de um projeto voluntário e assim por
diante.
Desenvolva suas habilidades a fim de ser capaz de
enfrentar o desafio. Lembre-se que se algo é muito
fácil você poderá sentir tédio. E um dos efeitos do
tédio é fazer a mente vagar de forma que venha a se
distrair com outras atividades. Procure por atividades
que exijam que suas habilidades sejam levadas ao
limite.
22
Fabrega, Marelisa. How To Enter the Flow State. Daring to Live
Fully. 2016
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
141
Defina metas claras. Você precisa ser claro sobre o que
quer alcançar e sobre como saberá que estará sendo
bem-sucedido(a) em seus desafios. Por exemplo: Ao
estudar para um concurso público, procure responder
questões de provas anteriores e, com base no seu
desempenho você saberá se está obtendo resultados
em seus estudos.
Concentre-se completamente com a atividade que
estiver realizando. Procure eliminar toda e qualquer
distração, de forma que esteja plenamente focado(a).
Certifique-se de que você reservou tempo suficiente
para a atividade. Não existe um tempo determinado
para se entrar em estado de flow, mas é muito
provável que isso ocorra no momento em que você
estiver concentrado(a). De qualquer forma, ao sentir-
se imerso(a) em uma atividade, aproveite-a ao
máximo sem a preocupação de ser interrompido(a).
Monitore o seu estado emocional. Se você atender a
todos os requisitos acima, mas ainda assim tiver
dificuldades para entrar no estado de flow, não se
preocupe. Procure monitorizar o seu estado
emocional. Irritação, ansiedade e preocupações tiram
Evandro Borges
142
toda a nossa atenção. Procure fazer algo relaxante,
como estar na companhia de amigos, caminhar ou
ouvir música. Finalmente, entregue-se.
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
143
Capítulo 13
Introdução ao conceito de Engajamento
De acordo com Seligman (2011), engajamento
significa entregar-se completamente, sem se dar conta do
tempo, e perder a consciência de si mesmo durante uma
atividade envolvente. O engajamento, de acordo com o
autor, é um dos caminhos para o florescimento. O autor
destaca ainda que uma vida vivida com esses objetivos
seria uma “vida engajada”. O engajamento, segundo
Seligman, é algo diferente e até mesmo o oposto de uma
emoção positiva, pois quando perguntamos às pessoas
que se entregam a uma atividade o que estão pensando e
sentindo, elas geralmente dizem: “Nada”, assinala o
autor.
A questão, embora complexa, pode ser
compreendida facilmente se levarmos em consideração
um pequeno detalhe, no engajamento nós nos fundimos
com o objeto, ou seja, com a atividade em si. Seligman
observa, por exemplo, que a atenção concentrada exigida
pelo engajamento consome todos os recursos cognitivos e
Evandro Borges
144
emocionais que formam nossos pensamentos e
sentimentos (SELIGMAN, 2011).
Para Seligman, não há atalhos para o engajamento.
O autor assegura que, ao contrário, o indivíduo deve
empregar suas forças pessoais e talentos para se envolver
com o mundo, mas ressalta que existem atalhos fáceis
para que o indivíduo possa sentir uma emoção positiva, e
que há uma diferença entre uma emoção positiva e o
engajamento em si.
Os termos ‘engagement’ em inglês, ou
‘engajamento’ em português, no âmbito da psicologia
positiva, não se resumem apenas a envolvimento, mas a
um estado de profundo envolvimento com determinada
atividade, em dado momento.
Por exemplo: Alguém que esteja profundamente
envolvido em uma partida de xadrez durante horas, sem
se dar conta do tempo, pode estar engajado
psicologicamente. A este fenômeno dá-se o nome de
“Estado de Fluxo” ou “Estado de Flow”, como vimos
anteriormente.
O engajamento, bem como uma emoção positiva, é
um elemento que só pode ser avaliado subjetivamente.
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
145
Por exemplo:
Para Seligman (2011), emoções positivas e
engajamento são as duas categorias distintas dentro da
teoria do bem-estar da psicologia positiva. Para o autor,
os fatores são mensurados apenas subjetivamente. Ele
classifica uma emoção positiva como um elemento
hedônico ou aprazível, que abrange todas as variáveis
subjetivas do bem-estar, como prazer, êxtase, conforto,
afeição e outras afins. Para o autor, o pensamento e o
sentimento estão geralmente ausentes durante o estado
de engajamento, ou seja, quando estamos profundamente
envolvidos em algo, só podemos dizer, por exemplo, que
“Você teve a sensação de que o tempo parou?”
“Ficou completamente absorvido pela tarefa?”
“Perdeu a consciência de si mesmo?”
Evandro Borges
146
uma atividade foi extremamente divertida, ou que um
passeio por uma trilha foi maravilhoso, de uma
perspectiva retrospectiva. Em outras palavras, enquanto o
estado subjetivo para o prazer está no presente, o estado
subjetivo para o engajamento é apenas retrospectivo,
assinala.
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
147
De acordo Seligman, a emoção positiva e o
engajamento atendem facilmente aos três critérios para
serem considerados elementos do bem-estar:
3) são mensurados independentemente do restante dos elementos.
(2) as pessoas buscam essas coisas por elas mesmas e não necessariamente para obter qualquer um dos outros elementos (eu quero essa massagem nas costas mesmo que ela não traga nenhum sentido, nenhuma realização e nenhum relacionamento);
(1) a emoção positiva e o engajamento contribuem para a formação do bem-estar;
Evandro Borges
148
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
149
Capítulo 14
Engajamento nas Organizações
Engajamento no Trabalho
Em tempos globalizados onde gerenciar grandes ou
pequenas organizações exige cada vez mais eficiência, a
psicologia positiva tem se tonado peça chave no
gerenciamento de recursos humanos. E embora Maslow
seja referência no assunto, com a introdução da Teoria
das Necessidades adaptada por diversos psicólogos às
organizações, a teoria do engajamento tem ganhado cada
vez mais espaço.
Para Bakker e Leiter (2010 apud RODRIGUES et
al., 2015), as organizações buscam, por meio de seus
níveis de gerenciamento, manter um grupo de
colaboradores engajados no trabalho, pois esses tendem,
ressaltam os autores, a dedicarem-se mais à empresa e às
tarefas apresentando melhores resultados. O engajamento
no trabalho, portanto, estaria relacionado à satisfação
advinda de uma grande carga de energia direcionada a
uma atividade na qual o indivíduo se identifique. Em
outras palavras, um indivíduo que desempenhe uma
Evandro Borges
150
determinada função ou cargo com o qual sinta-se
envolvido, motivado e realizado tende a engajar-se com
maior facilidade, mesmo que isso exija um grande
esforço.
Para Schaufeli et al., (2002), o fenômeno estaria
relacionado a um estado mental ligado a três dimensões:
Vigor: considerando o ambiente de trabalho, o vigor
estaria relacionado à energia empregada nas atividades
executadas. Outros fatores importantes relacionados ao
vigor seriam a persistência, os esforços e a vontade de
empenhar-se em cada projeto ou atividade.
Dedicação: estaria relacionada aos sentimentos de
afeição e consideração em alto grau, quando da
realização das tarefas. Um outro fator relevante seria a
sensação de prazer pelo trabalho à medida que o
indivíduo o vê como desafiador e carregado de
significados.
Absorção: seria a sensação de deleite para com o
ambiente e as próprias dinâmicas da atividade
profissional. Fenômeno em que colaborador se vê
tomado por um sentimento de elevação e acaba por ter
dificuldades em se separar das tarefas.
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
151
Para Mowday, Steers e Porter (1979, p. 225 apud
RODRIGUES et al., 2015), um outro fator estudado foi o
comprometimento organizacional afetivo, estado no qual
um indivíduo se identifica com uma organização
particular e com seus objetivos, desejando manter-se
afiliado a ela com vista a realizar tais objetivos. Já o fator
bem-estar no trabalho estaria ligado à organização, ao
vínculo afetivo do trabalhador para com a empresa e da
consciência do que esta empresa representa positivamente
para ele.
A satisfação no trabalho, afirma Locke (1976), é
um estado emocional positivo ou de prazer, resultante de
um trabalho ou de experiências de trabalho. Tal estado
emocional seria, no entanto, um fator particular do
indivíduo em relação às realidades que envolvem suas
atividades, inclusive, quando da falta delas, tais como o
chefe, colegas, satisfação em relação à remuneração,
oportunidades de ascensão e atividades desenvolvidas.
Já o bem-estar no trabalho estaria relacionado à
predominância de emoções positivas no desempenho das
atividades diárias, ao mesmo tempo em que o colaborador
“vê que o exercício de suas competências e habilidades
profissionais colaboram para os resultados pessoais”
(PASCHOAL, 2008 apud RODRIGUES et al., 2015).
Evandro Borges
152
O envolvimento com o trabalho, de acordo com
Lodahl e Kejner, (1965), diz respeito ao grau em que o
desempenho de um colaborador, no exercício de suas
atividades, afeta sua autoestima, ou ao grau em que as
tarefas desempenhadas pelo colaborador são importantes
e envolventes para ele. “Há também uma relação deste
envolvimento com os conflitos oriundos das funções
organizacionais e as orientações divergentes” (SIQUEIRA
e GOMIDE JR., 2004; RODRIGUES et al.,, 2015).
Em suma, estar engajado profissionalmente
significa entregar-se completamente, sem se dar conta do
tempo e perder a consciência de si mesmo durante uma
atividade envolvente. O engajamento é algo diferente, até
oposto de uma emoção positiva, pois as pessoas não
percebem as emoções que estão sentindo durante uma
atividade engajada, elas se envolvem a ponto de fundirem-
se com o objeto da atividade. Não há atalhos para o
engajamento. O indivíduo precisa empregar suas forças
pessoais e talentos para se envolver com o mundo.
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
153
Capítulo 15
Identificando determinantes de satisfação com a vida
De acordo com Celinska e Olszewski, (2013), o
tema satisfação com a vida já foi objeto de estudo de
diversos pesquisadores, como os de Kahneman (1999),
Graham e Pettinato (2001) e Grochowska e Strawinski
(2012). A autora observou que nestes estudos o fator
renda foi um dos determinantes mais expressivos da
satisfação com a vida, mas afirma que, contudo, os
resultados das pesquisas sobre o fator renda tendia a estar
em contradição, dependendo da técnica de análise
utilizada e outras variáveis incluídas no modelo. Todavia,
ressalta Celinska, a renda é um fator que geralmente tem
um impacto positivo na satisfação com a vida, o que pôde
ser constatado nos estudos de Seghieri et al., (2006) e
Deaton (2008).
Celinska e Olszewski, (2013) afirma também que
alguns pesquisadores concluíram que pode haver um
impacto reverso de ambas as variáveis, o que significa que
pessoas mais satisfeitas ganham mais (Diener et al., 2002;
Graham et al., 2004). De acordo com Ferrer-iCarbonell e
Frijters (2004 apud Celinska e Olszewski, 2013), a renda
Evandro Borges
154
em si pode até não ser um determinante de felicidade,
mas é um fator que significativo de satisfação para
pessoais com maiores ganhos.
Já a percepção da própria situação financeira pode
ser ainda mais significativa na determinação da satisfação
com a vida, apontam estudos de Johnson e Krueger
(2006). A maioria das pesquisas também mostrou
correlação positiva entre educação e satisfação, ou seja, o
aumento dos níveis de educação têm um impacto positivo
na satisfação com a vida, apontam Blanchflower e Oswald
(2004). No entanto, tais fatores podem estar
correlacionados com o impacto da renda, uma vez que
pessoas com graus de escolaridade elevados e boa
qualificação, possuem maiores chances de ocuparem
postos de trabalho que ofereçam melhor remuneração.
Ferrer-i-Carbonell (2005 apud Celinska e Olszewski,
2013) apontam que este fator pode também estar
correlacionado com características latentes como
motivação e inteligência. Os autores examinaram o
impacto da educação em comparação com a renda per
capita de diversos países, e chegaram à conclusão de que a
o fator educação é mais significativo na determinação da
satisfação com a vida em países mais pobres.
O impacto do gênero na satisfação com a vida é
ambíguo, afirma Celinska e Olszewski, (2013). A autora
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
155
avalia que em algumas pesquisas as mulheres
apresentaram níveis mais elevados de satisfação com a
vida do que os homens (Alesina et al. al., 2004). Por
outro lado, estudos de Louis e Zhao (2002) não
encontraram discrepâncias entre gêneros, o que sugere
que o gênero em si não é um determinante de satisfação
com a vida, afirma Celinska. Ainda de acordo com a
autora, os níveis mais elevados de satisfação com a vida
estão geralmente correlacionados com uma melhor saúde,
pois proporcionaria maior entusiasmo com a vida (Shields
e Price 2005 apud Celinska e Olszewski, 2013).
Outra variável significativa observada pela autora
foi o número de horas dedicadas a atividades sociais, que
segundo ela, influenciam positivamente na satisfação com
a vida. Constatou-se também, de acordo com Celinska,
que populações de países que acreditam ter maior
controle sobre suas vidas são mais felizes do que as que
afirmaram não ter controle.
O fator idade apresentou resultados ligeiramente
negativos se comparados a idosos, afirma Celinska e
Olszewski, (2013). Para a autora, o número de contatos
sociais e o estado civil parecem demonstrar maior
importância como fatores determinantes. Ela constatou
que para indivíduos entre 64 e 65 anos, de ambos os
sexos, os fatores determinantes foram a família, o
convívio social, os amigos, o casamento, as realizações
Evandro Borges
156
pessoais, a saúde e a sensação de serem amados. Para os
homens, a ausência de divórcio após os 65 anos
apresentou resultados positivos em comparação com as
mulheres.
Estudos de Cherie e Saun-Ders (1999) utilizaram
o Inventário de Depressão de Beck (1988) para avaliar
atitudes específicas relacionadas aos sintomas da
depressão. Os resultados demonstraram que indivíduos
mais afetados pelos sintomas da depressão possuem
menor nível de satisfação com a vida e estão
significativamente menos envolvidos em atividades
sociais. Constatou-se também que as mulheres são
geralmente mais ativas socialmente do que os homens,
porém, tais fatores não estariam relacionados com menor
intensidade de depressão.
Um estudo de Rojas (2004), avaliou variáveis como
saúde, fatores econômicos, trabalho, família, amigos, vida
pessoal e social. Os resultados mostraram que fatores
como amizade e relações sociais possuem pouca
influência nos níveis de satisfação com a vida. Já o fator
família teve o maior impacto, seguido, respectivamente
por fatores econômicos e sociais.
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
157
Capítulo 16
A felicidade e a Personalidade Autotélica
No início de dezembro de 2016, em meio a Guerra
Civil na Síria, na cidade de Aleppo, o mundo conheceu a
identidade, até então desconhecida, de Anas al-Basha, um
voluntário de 24 anos de idade que se vestia de palhaço
para distrair crianças traumatizadas em meio aos intensos
conflitos entre tropas militares do Governo Sírio e
milícias que se opunham ao governo daquele país. Anas
era membro voluntário da organização não governamental
síria Space of Hope (Espaço da Esperança) e tinha se
Evandro Borges
158
casado há dois meses. Ele se recusou a deixar a cidade
após receber a notícia de que a mesma estava sitiada por
tropas leais ao governo. Anas morreu em decorrência de
bombardeios. Cerca de 30 mil civis já haviam deixado
Aleppo nos últimos meses, inclusive os pais de Anas, em
julho do mesmo ano. De acordo com estimativas de
organizações humanitárias locais, incluindo a ONU, mais
de 400 mil pessoas morreram e milhões foram obrigadas
a fugir desde o início da guerra na Síria, há quase seis
anos. Calcula-se que 250 mil pessoas ainda estão vivendo
na cidade sitiada, das quais 100 mil são crianças.23
24
Você deve estar se perguntando: "-Por que um
título contendo a palavra felicidade começou com uma
história triste?".
A resposta está na história do próprio Anas. E
minha intenção aqui, além de compartilhar esta história
emocionante de dedicação, superação e amor à vida, foi
também de demonstrar o quanto o ser humano pode ser
altruísta, sensível, feliz e dedicado ao mundo em que vive,
23
Globo. G1 Internacional. "A trágica morte do palhaço que alegrava
crianças em meio à guerra em Aleppo”.
24
Foto: Anas al-Basha se fantasiava de palhaço para alegrar as
crianças na cidade sitiada de Aleppo (Foto: Courtesy of Ahmad al-
Khatib, via AP).
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
159
independentemente das adversidades que o cercam.
Talvez, o sentido da vida de Anas, a forma como se sentia
feliz, realizado e motivado a viver, estivesse exatamente
na razão pela qual escolheu ser voluntário e ajudar
crianças. Talvez não tivesse alternativas para deixar a
cidade, talvez não tenha lhe restado tempo, mas o que ele
realmente fazia ultrapassava seus próprios interesses
pessoais. Anas perdeu a vida fazendo o que amava. E isso,
involuntariamente, na maioria das vezes, é a maneira pela
qual as pessoas dão sentido às suas vidas, são estados de
fluxo que ultrapassam a barreira do que é meramente
compreensível.25
Quando indagado sobre quais realizações em sua
vida tinha mais orgulho, o famoso físico Freeman John
Dyson afirmou:
Suponho que foi apenas ter criado seis
filhos, e feito deles, pelo que posso ver,
pessoas interessantes. Acho que é disto que
tenho mais orgulho, realmente
(CSIKSZENTMIHALYI, 1999).
E o ganhador, em duas ocasiões do Prêmio Nobel
(de Química em 1954 e da Paz em 1962), o cientista
norte-americano Linus Pauling, entrevistado aos 89 anos,
25
Csikszentmihalyi, Mihaly. A descoberta do fluxo. Rio de Janeiro:
Rocco, 1999.
Evandro Borges
160
deu a seguinte resposta ao ser questionado sobre o que
faria da vida perto de completar 90 anos:
Acho que nunca me sentei e me perguntei,
o que vou fazer da minha vida, agora? Eu
simplesmente continuo fazendo o que
gosto. Se você se dedica seriamente a seu
trabalho, perde a noção do tempo, fica
completamente enlevado, totalmente
dominado pelo que está fazendo... Quando
trabalha em algo que gosta e trabalha bem,
você tem a sensação de que não há outra
maneira de dizer o que está sentindo
(CSIKSZENTMIHALYI, 1999).
Exemplos como estes, afirma Lima (2010), nos
fazem refletir sobre como passamos nossos dias, o que
nos dá prazer, como nos sentimos quando comemos,
assistimos à televisão, trabalhamos, dirigimos ou saímos
com nossos amigos. Tomando como base uma extensa
pesquisa mundial sobre questões como estas, o Dr.
Mihaly argumenta que muitas vezes consumimos nossos
dias inconscientes e sem contato com nossas emoções.
Por causa dessa desatenção, constantemente oscilamos
entre dois extremos: durante a maior parte do dia
estamos imersos na ansiedade e nas pressões do trabalho
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
161
e das obrigações e, nos momentos de lazer, tendemos a
viver no tédio passivo.26
A palavra “autotélica” vem do grego “auto”,
“relativo ao próprio indivíduo”, e “telos”, que significa
“finalidade”. Desta forma, uma vida autotélica seria
aquela realizada por si mesma, tendo a experiência como
meta principal. Por exemplo, se um indivíduo joga poker
porque aprecia a inteligência das jogadas, então suas
partidas são experiências autotélicas, mas se joga por
dinheiro ou para alcançar um alto nível competitivo no
nas rodas de poker, então o mesmo jogo torna-se
“exotélico”, isto é, motivado por uma finalidade externa.
Quando aplicado a uma personalidade, o termo
autotélico denota um indivíduo que geralmente faz as
coisas por si mesmas, sem se preocupar com metas
externas posteriores. Dessa forma, o indivíduo possuidor
de uma personalidade autotélica é desprendido de excesso
de bens materiais, entretenimento, conforto, poder ou
fama, porque o que ele faz já é gratificante o bastante. Ele
poderá, contudo, adquirir bens materiais, ter
entretenimento, desfrutar de conforto, alcançar poder e
fama, mas todos estes fatores serão advindos das
26
Lima, Jerônimo. Resenha: A descoberta do fluxo, de Mihaly
Csikszentmihalyi – Valores Reais. 20 de jun de 2010.
Evandro Borges
162
consequências de sua alegria ou prazer pelo que faz, do
modo como vive e se relaciona com o mundo, ou seja, não
serão metas pré-estabelecidas. E uma vez que estes
indivíduos experimentam o fluxo no trabalho, na vida
familiar, na interação com os outros, quando comem e até
mesmo quando ficam sozinhos, sem ter o que fazer, são
menos dependentes das ameaças e recompensas externas
que mantêm a maioria das pessoas motivadas a
prosseguir com uma vida composta por rotinas tediosas e
sem significado. Assim, são mais autônomos e
independentes porque se envolvem mais com tudo ao seu
redor, estão totalmente imersos nas experiências da vida.
É necessário, no entanto, que o indivíduo leve uma
vida significativa, sentir que pertence a algo maior que ele
mesmo. Pessoas autotélicas que vivem imersas em
experiências de fluxo, observa Csikszentmihalyi (1999),
ajudam a reduzir a desordem na consciência daqueles com
quem interagem, pois “quando agimos na plenitude da
experiência do fluxo, também estamos construindo uma
ponte de felicidade para o futuro do nosso universo”.
Para o Dr. Mihaly, gastamos nosso tempo em
atividades produtivas como trabalhar, estudar, falar,
comer e divagar durante o trabalho; atividades de
manutenção, como cuidados com a casa (cozinhar, limpar,
fazer compras), dirigir ou locomover-se; e atividades de
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
163
lazer como mídia (TV e leitura), hobbies, esportes, filmes,
restaurantes, conversas e contatos sociais e repouso.
Segundo o autor, estes três tipos de atividades ocorrem
numa proporção média de 42%, 31% e 27%,
respectivamente. Partindo destes pressupostos, a vida
cotidiana não seria definida apenas pelo que fazemos, mas
também por aqueles com quem estamos. O significado de
‘viver’ ou ‘ter uma vida boa’ passaria a ter um novo
sentido, e este sentido seria viver de maneira plena,
expressando a própria individualidade, sem desperdício
de tempo e potencial.
De acordo com Csikszentmihalyi (1999), há três
pressupostos básicos para compreendermos o sentido de
viver de maneira plena. O primeiro, assinala o autor, é
que profetas, poetas e filósofos vislumbraram verdades
importantes no passado que são essenciais para a
continuidade da sobrevivência da raça humana. Mas essas
verdades, ressalta, foram expressas no vocabulário
conceitual de sua época, de modo que, para que sejam
úteis atualmente, seu significado precisa ser redescoberto
e reinterpretado a cada geração. Por isso, os livros
sagrados do Judaísmo, Cristianismo, Islamismo, Budismo
e dos Vedas são os melhores repositórios das ideias mais
importantes de nossos ancestrais, e ignorá-los é um ato
de arrogância infantil, tanto quanto acreditar que tudo
Evandro Borges
164
que foi escrito no passado é uma verdade absoluta e
imutável.
O segundo, de acordo com o Dr. Mihaly
Csikszentmihalyi (1999), é que atualmente a ciência
oferece as informações mais essenciais para a
humanidade, expressando a “verdade científica” de acordo
com a visão do mundo de sua época e, portanto mudará e
poderá ser descartada no futuro. Os próprios cientistas –
em especial os físicos e biólogos - hoje já acreditam, por
exemplo, que, no futuro, a percepção extra-sensorial e a
energia espiritual poderão nos levar à verdade sem a
necessidade de teorias e experiências de laboratório. Mas
também não vamos nos iludir pensando que nosso
conhecimento é mais amplo e avançado do que realmente
é.
O terceiro, segundo o autor, é que, se desejamos
compreender o que realmente seja “viver”, de fato,
devemos escutar as vozes do passado e integrar suas
mensagens com o conhecimento que a ciência acumula.
Portanto, “vida”, observa Csikszentmihalyi (1999),
significa aquilo que experimentamos, seja pelos processos
químicos de nosso corpo, pela interação biológica entre os
órgãos, “pelas ínfimas correntes elétricas saltando entre
as sinapses do cérebro e pela organização da informação
que a cultura impõe sobre nossa mente”. Em
contrapartida, a mensuração da qualidade real da vida, ou
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
165
seja, o que fazemos e como nos sentimos quanto a isso,
será determinada subjetivamente por meio de nossos
pensamentos e emoções, pelas interpretações que damos
aos processos químicos, biológicos e sociais. Portanto,
Com base em questões como essas, O Dr. Mihaly
afirma que só conseguimos ser felizes à medida em que
vivenciarmos experiências de fluxo, ou seja, momentos
em que o que sentimos, o que desejamos e o que
pensamos se harmonizam.
O fluxo, observa o Dr. Mihaly, ocorre quando o
indivíduo encara um conjunto claro de metas que
oferecem feedback imediato sobre seu desempenho, ou
seja, quando suas competências (conhecimentos,
habilidades e atitudes) estão totalmente envolvidas em
superar um desafio que está no limiar de sua capacidade
de controle. Se os desafios são altos demais, o indivíduo
tende a frustrar-se, em seguida fica preocupado e, por
último, ansioso. Se os desafios são baixos demais, ele fica
relaxado, em seguida entediado. Um dia típico, portanto,
estaria marcado por picos de ansiedade e tédio.
As experiências de fluxo, afirma o autor, oferecem
“lampejos de vida intensa contra esse cotidiano
medíocre”. Mas, para que o fluxo ocorra, para fugirmos
disso, é preciso “oscilar”. Na prática, as experiências de
fluxo acontecem quando fazemos coisas diferentes do que
Evandro Borges
166
estamos habituados a fazer, ou seja, quando oscilamos
entre atividades rotineiras e atividades que prendam
nossa atenção de maneira prazerosa. A pesquisa do Dr.
Mihaly comprova que as atividades produtivas ajudam
muito a melhorar nossa capacidade de concentração e nos
dão um nível médio de fluxo. Já as atividades de
manutenção pouco contribuem neste sentido, enquanto
que as atividades de lazer são especialmente úteis para a
geração de motivação e de fluxo, em especial quando
praticamos nossos hobbies e esportes e um pouco menos
quando conversamos com amigos, fazemos sexo e
participamos de eventos de socialização. Assim, por
exemplo, um executivo muito atarefado, que trabalha
muito, poderia “oscilar” sua rotina praticando um pouco
de meditação ou fazendo yoga, um psiquiatra poderia
jogar tênis ou fazer alpinismo, um professor poderia ir
mais ao cinema ou jogar futebol. Isto lhes daria maior
equilíbrio no ritmo de suas ações, pensamentos e
emoções. O difícil, contudo, é conseguir mudar nossos
padrões de vida. Como para a maioria das pessoas o
trabalho figura como parte central da vida, é essencial que
esta atividade seja tão agradável e compensadora quanto
possível. Para que isso ocorra, é preciso pensar e agir
além do que reza a atribuição do cargo. Uma solução
alternativa seria focarmos nossa atenção, uma energia
psíquica adicional, a cada etapa exigida no trabalho, e
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
167
então nos perguntarmos: “-Esta etapa é necessária? Quem
precisa dela? Se realmente é necessária, pode ser feita de
maneira melhor, mais rápida e mais eficiente? Que passos
adicionais tornariam minha contribuição em trabalho
mais valiosa?”
Nossa atitude para com o trabalho geralmente
envolve gastar bastante tempo e esforço tentando resolver
questões urgentes fazendo o mínimo possível. E isso
consome recursos cognitivos que consomem uma enorme
quantidade de energia. Portanto, se encontrarmos uma
forma de gastarmos a mesma quantidade de atenção
tentando encontrar maneiras criativas de realizarmos
nossas atividades no trabalho, seremos mais bem-
sucedidos e felizes. Carreiras de indivíduos criativos
oferecem maiores alternativas de como moldar o trabalho
segundo as próprias exigências, isto é, a maioria dessas
pessoas não segue apenas uma rotina pré-estabelecida,
mas reinventa seu trabalho enquanto o realiza.
Além do trabalho, outra área que impacta a
qualidade de vida é o tipo de relacionamento que temos.
E é comum que exista um conflito entre estes dois lados,
de modo que uma pessoa que ama trabalhar possa acabar
por negligenciar a família e os amigos, e vice versa, uma
vez que a atenção é um recurso limitado, e quando uma
meta toma quase toda a energia psíquica do indivíduo,
Evandro Borges
168
sobra pouco ou quase nada para as demais atividades. É
como chegar em casa extremamente cansado do trabalho
e não ter vontade para fazer mais nada, além de dormir ou
descansar. Uma alternativa para que possamos aprender a
dividir a energia psíquica é encontrarmos maneiras de
equilibrar o significado das recompensas que recebemos
no trabalho e nos relacionamentos. E isso parece esbarrar
em dois fatores distintos, como o prazer no trabalho
versus remuneração e relacionamentos versus
recompensas afetivas. E muitas pessoas acabam
negligenciando as recompensas afetivas por considerarem
as necessidades materiais satisfeitas. O sentimento mais
comum é o de que a família vai cuidar de si mesma, uma
vez suprida de recursos materiais e sustento. Por
exemplo, há a falsa ilusão de que o cônjuge vai continuar
a ser cúmplice e a dar apoio incondicional, de que os
filhos vão cuidar dos pais quando estes ficarem velhos, ou
de que as conversas entre o casal e deste com os filhos
continuarão para compartilhar ideias, emoções, memórias
e sonhos.
Em contrapartida, quando há equilíbrio entre
trabalho e relacionamentos, ou seja, quando conseguimos
obter experiências de fluxo em ambos os espaços, a
qualidade da vida cotidiana tenderá a melhorar
consideravelmente, tudo dependerá do fator adaptação.
No entanto, isso exige que não desperdicemos energia
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
169
com problemas pequenos, ou seja, fáceis de se resolver.
Quando estes fatores tornam-se equilibrados, podemos
então, experimentar uma vida “autotélica”, ou seja,
repleta de experiências de fluxo, mais digna de ser vivida
do que uma vida de consumo, de entretenimento passivo,
uma vida sem graça alguma.
Para Scardua (2013), pessoas com personalidades
autotélicas se caracterizam por usufruírem com maior
frequência dos estados de fluxo nas mais diversas
atividades da vida cotidiana. E por esta razão, precisam de
poucos bens materiais, pouco entretenimento, pouco
conforto, poder ou fama, sendo mais autônomas e
independentes porque não se sentem ameaçadas ou
seduzidas por recompensas externas. Ao mesmo tempo se
envolvem mais com tudo ao seu redor porque estão
totalmente imersas na corrente da vida.
Evandro Borges
170
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
171
Capítulo 17
Autocontrole - Uma forma de superar momentos difíceis
A cada dia que passa me convenço de que a
capacidade de superar momentos extremamente difíceis
repousa na capacidade que adquirimos de ser menos
enérgicos. Isso me faz crer que quanto menos você gastar
energia com problemas pequenos, mais fácil irá superar
os problemas verdadeiramente grandes. Não é um ponto
de vista meramente filosófico ou abstrato. E no que diz
respeito a evidências, pesquisas conduzidas pelo
psicólogo norte americano Roy Baumeister, da University
of Queensland, têm avançado nesse sentido. Em sua mais
recente publicação, “Willpower: Rediscovering the
Greatest Human Strength, a Self studies, 2011 ( Força de
Vontade: Redescobrindo a Maior Força Humana, um
estudo sobre autocontrole)”, Baumeister constatou que as
emoções se auto regulam quando aprendemos a lidar com
elas de maneira mais amena. Isso não significa que
devamos nos tornar frios emocionante, mas aceitarmos a
instabilidade emocional como consequência da forma
como interpretamos nossos problemas cotidianos, bem
como as interações com os outros. Não se pode ter total
Evandro Borges
172
controle sobre os outros, mas é possível ter controle sobre
si mesmo. Portanto, guarde suas energias para quando
realmente for necessário.
Exercitando o Autocontrole
O autocontrole ou “self-control”, em inglês, é uma
função central do funcionamento psíquico e uma
importante chave para o sucesso na vida. Porém, o
exercício do autocontrole parece depender de um recurso
limitado. Assim como um músculo se cansa do esforço, os
atos de autocontrole causam prejuízos de curto prazo. Tal
fenômeno foi batizado de Depleção do Ego, que tem como
definição, de acordo com os pesquisadores, “uma redução
temporária na capacidade individual ou na vontade
individual para engajar-se em uma ação intencional
(incluindo o controle do ambiente, o controle do eu,
tomar decisões e iniciar ações) causada por um exercício
anterior de uma ação intencional” (BAUMEISTER et al.,
1998, p. 1253).
O Dr. Baumeister cunhou o termo “Ego
Depletion”, que em português pode ser traduzido como
“Depleção do Ego” ou “Esgotamento do Ego”, para
explicar o fenômeno de redução de autocontrole, ou
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
173
dificuldade de manutenção do autocontrole. Tal
esgotamento seria mental e, portanto, prejudicaria o
indivíduo em suas metas e decisões, principalmente a
longo prazo. Por exemplo, se uma pessoa passa uma
semana inteira mantendo uma dieta rígida, sem consumir
doces, as chances dessa pessoa sentir-se esgotada
psicologicamente e abandonar a dieta seriam maiores,
pois manter o autocontrole por um longo período de
tempo causaria o esgotamento (Baumeister, et al., 1998).
No entanto, o Dr. Baumeister e sua equipe de
pesquisadores afirmam que autocontrole refere-se à
capacidade de alterar as próprias respostas, especialmente
para alinhá-las a padrões como ideais, valores, moral e
expectativas sociais, e apoiar a busca de metas de longo
prazo. Muitos escritores usam os termos autocontrole e
autoregulação de forma intercambiável, mas aqueles que
fazem uma distinção tipicamente consideram o
autocontrole como o subconjunto deliberado, consciente e
esforçado da autoregulação. Em contraste, processos
homeostáticos tais como manter uma temperatura
corporal constante podem ser chamados de
autoregulação, mas não de autocontrole. O autocontrole
permite que uma pessoa restrinja ou anule uma resposta,
tornando possível uma resposta diferente (BAUMEISTER,
R. F., VOHS, K. D., & TICE, D. M. 2007. p. 351).
Evandro Borges
174
O tema autocontrole tem atraído a atenção
crescente dos psicólogos por duas razões principais. No
nível teórico, o autocontrole contém importantes chaves
para a compreensão da natureza e funções do “self”.
Enquanto isso, as aplicações práticas do autocontrole têm
atraído o estudo em muitos contextos. O autocontrole
inadequado tem sido associado a problemas
comportamentais, tais como compulsão alimentar, abuso
de álcool e drogas, crime, violência, gastos excessivos,
comportamento sexualmente impulsivo, gravidez
indesejada e tabagismo, por exemplo (Baumeister,
Heatherton, e Tice, 1994 ; Gottfredson & Hirschi, 1990;
Tangney, Baumeister, e Boone, 2004 ; Vohs & Faber,
2007). Os autores sugerem que o autocontrole também
pode estar relacionado a problemas emocionais, falta de
escolaridade, falta de persistência, várias falhas no
desempenho das tarefas, problemas de relacionamento,
dissolução e outros fatores.
Quanto ao conceito de “self” proposto por
Baumeister (1993), o autor refere-se a três experiências
básicas do ser humano:
1ª) Consciência reflexiva, que é o conhecimento sobre si
próprio e a capacidade de ter consciência de si;
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
175
2ª) Interpessoalidade dos relacionamentos humanos,
através dos quais o indivíduo recebe informações sobre si;
3ª) Capacidade do ser humano de agir.
Outro fenômeno explorado pelos pesquisadores foi
a “força de vontade”. Para Gailliot et al., (2007) a glicose
disponível na corrente sanguínea poderia ser convertida
em neurotransmissores e, assim, fornecer combustível
para a atividade cerebral. Para os autores, exercícios de
autocontrole causariam reduções nos níveis de glicose no
sangue, que por sua vez resultariam em um autocontrole
pobre em tarefas comportamentais. Os pesquisadores
identificaram que beber um copo de limonada com açúcar
ajudou a neutralizar esses efeitos, presumivelmente
restaurando a glicose no sangue. Já no grupo de controle,
a limonada misturada com adoçante diet (sem glicose),
não surtiu o mesmo efeito.
No entanto, Baumeister et al., (2006) sugere que,
assim como o exercício pode fazer os músculos mais
fortes, há sinais de que esforços regulares de autocontrole
podem aumenta a força de vontade, ou seja, embora
exercitar o autocontrole com frequência possa causar
esgotamento, com uma prática regular, o organismo se
adaptaria, assim como um iniciante em uma academia de
Evandro Borges
176
musculação se adaptaria a uma jornada de exercícios
depois de alguns meses. Para os pesquisadores, estas
melhorias tipicamente assumiriam uma forma de
resistência ao esgotamento, no sentido de que o
desempenho nas tarefas de autocontrole passariam a se
deteriorar a uma taxa mais lenta. Muraven & Slessareva
(2003) também constataram que pessoas que recebem
recompensas ou incentivos durante o desempenho de
atividades tiveram os efeitos do esgotamento
neutralizados.
Várias linhas de trabalho identificaram
procedimentos que podem moderar ou neutralizar os
efeitos do esgotamento, por exemplo, induzindo um
estado de emoção positiva, como o humor, parece ter esse
efeito (Tice, Baumeister, Shmueli, & Muraven de 2007).
Quanto à possibilidade de interferência nas
questões de comportamento inteligente, que dependem
em parte do autocontrole, os pesquisadores destacam que
alguns processos, como memória, são bastante
automáticos e independentes do autocontrole e parecem
não ser relativamente afetados pelo esgotamento. Em
contrapartida, o raciocínio lógico poderia ter seu
desempenho fortemente afetado quando as pessoas estão
esgotadas (Schmeichel, Vohs, e Baumeister, 2003).
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
177
Processos interpessoais também parecem depender
de operações de autocontrole. Richeson e Shelton (2003)
argumentam que o autocontrole é necessário para discutir
questões delicadas e sensíveis, e que o esgotamento
poderia prejudicar um diálogo desse tipo, ou seja, as
pessoas poderiam se ofender com maior facilidade.
Estudos recentes indicam que a mesma energia
utilizada para autocontrolar-se também pode ser
direcionada para a tomada de decisões que exijam esforço
(Vohs et al., 2007 ). Para os autores, isso parece
corresponder ao que o senso comum entende como "livre-
arbítrio", ou seja, a capacidade de substituir impulsos, se
comportar moralmente, mostrar iniciativa e se comportar
de acordo com escolhas racionais (Baumeister et al.,
2007).
Em suma, conclui-se que o autocontrole exige
treino, desde que gradativo, moderado e constante, como
forma de evitar o esgotamento completo e possibilitar
uma adaptação, que também seria passível de melhorias
mesmo em indivíduos em idade adulta. A indução de
emoções positivas, como o humor, desacelerariam a taxa
de esgotamento, da mesma forma que a incentivos ou
recompensas. Também constatou-se que ao contrário do
raciocínio lógico, a inteligência não seria afetada, e que a
ingestão de glicose durante os experimentos demonstrou
reduzir os efeitos do esgotamento.
Evandro Borges
178
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
179
Capítulo 18
Depressão, um olhar biopsicossocial
De acordo com o Relatório Sobre a Saúde no
Mundo publicado pela OMS (2001), atualmente a
depressão atinge em torno de 7% da população brasileira
(17 milhões de pessoas). Segundo pesquisa da IMS
Health, em 2016 a venda de antidepressivos e
estabilizadores de humor cresceu 18,2%27
. A OMS alerta
que atualmente a depressão é a quarta causa global de
incapacidade e deve se tornar a segunda até 2021.
De acordo com o psiquiatra Bruno Nazar, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e
pesquisador do King´s College, de Londres, a
desinformação e o preconceito a respeito da doença
parece refletir no agravamento da mesma, acarretando em
danos secundários como ansiedade, síndrome do pânico,
insônia e indisposição, que afetam o desempenho no
trabalho e nas atividades diárias como estudar e se
relacionar com outras pessoas.
27
IMS Institute For Healthcare Informatics. The global use of
medicines: outlook through 2012-2016.
Evandro Borges
180
Para a titular da Associação Brasileira de
Psiquiatria, Dra. Evelyn Vinocur, a depressão também é
uma doença psicossocial, não sendo necessariamente
decorrente de fatores genéticos, que interferem no
desequilíbrios de neurotransmissores do cérebro. A Dra
Vinocur também afirma que de dois anos para cá, as
pessoas estão muito mais estressadas, ansiosas,
deprimidas, com sintomas característicos da psiquiatria, e
que o cenário de um mundo globalizado, onde a
informação está cada vez mais acelerada acaba
contribuindo para que as pessoas fiquem mais aceleradas
e, consequentemente, mais estressadas.28
De acordo com os psiquiatras, os sintomas mais
comuns são: cansaço repentino, apatia, taquicardia,
insônia, hipersensibilidade, choro por qualquer coisa,
medo e, aparentemente, tudo isso, sem motivo. Os
psiquiatras também afirmam que doenças como diabetes
e hipotireoidismo também podem estar relacionadas a
determinados casos de depressão. Porém, um outro fator
que me chamou a atenção foi a hipoglicemia, que se não
for diagnosticada por um profissional especializado, acaba
apresentando sintomas semelhantes à depressão e
28
Goussinsky, Eugenio. Venda de antidepressivos no Brasil cresce
com o aumento de casos ligados à depressão. Notícias. Saúde. R7,
2017.
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
181
fazendo com que, cada vez mais indivíduos recebam
diagnósticos equivocados e passem a tomar
antidepressivos, sem se preocupar com o consumo
excessivo de açúcar, levando-os ao quadro irreversível de
diabetes.
Os sintomas da hipoglicemia ‘mascarados’ como o
de uma depressão, na verdade são os sintomas do famoso
‘Perigo Branco’, termo cunhado por William Dufty no
livro “Sugar Blues: O gosto amargo do açúcar ″, que alerta
sobre o consumo exagerado de açúcar e seus derivados. E
são os mesmos descritos anteriormente.29
E é sempre bom fazer um alerta para que, em casos
de suspeita de depressão, o primeiro passo deva ser
procurar ajuda de um profissional qualificado e
especializado no assunto. Uma conversa franca com a
família ou pessoas próximas também é essencial. O uso
de medicamentos sempre deverá seguir a orientação e
prescrição médica. E em caso de suspeita de hipoglicemia,
é aconselhável informar ao profissional para que exames
complementares sejam realizados, tornando o diagnóstico
mais preciso.
29
Dufty, William. Sugar blues: O gosto amargo do açúcar. Rio de
Janeiro: Editora Ground, 1975.
Evandro Borges
182
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
183
Capítulo 19
Psicologia e Biologia – Um convite ao diálogo
Apesar de ser adepto da psicologia positiva, não
deixo de ser um profundo admirador de Freud, um
homem muito à frente de seu tempo, um visionário. E
apesar de ter fundado os alicerces da psicanálise
juntamente com o Dr. Josef Breuer, nunca se apartou
completamente de sua vocação inicial, a neurologia. Antes
de morrer, Freud deixou algo incompleto, “Um projeto
para uma psicologia científica”, ao qual o psicanalista
francês Jacques Lacan tentou ressuscitar. Freud, como um
desbravador da mente humana, usou as ferramentas que
tinha e em sua época, aplicando-as a seu contexto e
demandas existentes, demandas estas consideradas tabus,
fenômenos que não dispunham de meios de investigação
avançada, como nos dias de hoje. E a frase mais
impactante de Freud hoje me motiva a seguir uma linha
de raciocínio diferente da que eu tinha há alguns anos
atrás, quando, em conversa com o psiquiatra Joseph
Wortis, seu aluno e posteriormente fundador da Revista
Biological Psychiatry, Freud expressou sua vontade
incansável de aproximar psicologia e biologia:
Evandro Borges
184
Não aprenda apenas psicanálise como
existe hoje. Já está ultrapassada. Sua
geração chegará à síntese entre
psicologia e biologia. Você deve se
dedicar a isso (Sigmund Freud)30
.
O estabelecimento da psicologia como ciência 'pura'
e, não somente aplicada, implica em uma série de fatores.
Enquanto a ciência pura é dependente de deduções a
partir de verdades demonstradas, experimentos bem
controlados e seguindo a lógica do reducionismo
científico, a ciência aplicada visa às aplicações do
conhecimento para a solução de problemas práticos.
Durante décadas a psicologia focou-se apenas na
prática clínica, nos aspectos psicológicos e em resultados
advindos da experiência clínica. Em contrapartida, as
ciências biológicas avançaram de tal forma que hoje
compreendem grande parte da anatomia e fisiologia
cerebral. Nos campos da neurobiologia, neurologia e
neurogenética, já é possível compreender a gênese de
inúmeras patologias, sem que haja, necessariamente, uma
correlação entre fatores externos, traumas ou aspectos
psicossociais.
30
Servan-Schreiber, David; Bigotte, Magda. Curar: o stress, a
ansiedade e a depressão sem medicamentos nem psicanálise. 2004.
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
185
Pesquisas dirigidas pelo Dr. Kerry Ressler, da
Emory University, em Atlanta, EUA, identificaram e
isolaram o gene FKBP5, através do "Grady Trauma
Project". E descobriram quatro variantes que são mais
comumente encontradas em pessoas que sofrem de
transtorno de estresse pós-traumático, ansiedade
generalizada, síndrome do pânico e depressão.31
Cientistas da Universidade de Bonn, na Alemanha,
publicaram um estudo recente na revista "Behavioural
Neuroscience", no qual atestaram uma mutação genética
que atinge cerca de metade da população europeia, e que
manifesta-se em 25% das pessoas, que herdam de seus
pais duas cópias do mesmo gene. Esses indivíduos têm
um risco significativamente maior que a média da
população de sofrer de ansiedade e males relacionados
como transtornos pós-traumáticos e doenças obsessivo-
compulsivas. Para o Dr. Christian Montag, que liderou as
pesquisas, é possível identificar diferenças genéticas entre
as pessoas que afetam diretamente os
neurotransmissores, substâncias que transmitem os
31
Binder, E. B., Bradley, R. G., Liu, W., Epstein, M. P., Deveau, T. C.,
Mercer, K. B., ... & Schwartz, A. C. (2008). Association of FKBP5
polymorphisms and childhood abuse with risk of posttraumatic stress
disorder symptoms in adults. Jama, 299(11), 1291-1305.
Evandro Borges
186
impulsos nervosos, e influenciam as variações
psicológicas.32
O Dr. Abraham Palmer, professor assistente de
genética humana na Universidade de Chicago, EUA,
conduziu um estudo publicado no “Journal of Clinical
Investigation”, no qual foram constatados mecanismos
que autorregulam comportamentos de ansiedade. Ao
isolarem o gene Glo1, os cientistas descobriram um novo
fator de inibição no cérebro: o subproduto metabólico
metilglioxal (MG). De acordo com os pesquisadores, tal
descoberta poderá resultar em novos métodos e técnicas
de abordagens mais eficazes no tratamento de transtorno
de ansiedade, epilepsia e distúrbios do sono.33
Quando um indivíduo procura um médico, ele não
quer receber um diagnóstico evasivo ou hipotético e, por
mais que receba, o médico certamente solicitará exames
complementares. Portanto, o paciente quer uma resposta
concreta que possibilite um tratamento eficaz. Da mesma
forma, quando um indivíduo procura auxílio psicológico,
32
Montag, C., Buckholtz, J. W., Hartmann, P., Merz, M., Burk, C.,
Hennig, J., & Reuter, M. (2008). COMT genetic variation affects fear
processing: psychophysiological evidence. Behavioral neuroscience,
122(4), 901.
33
Palmer, Abraham A.; Margaret G. Distler; Marcelo A. Nobrega et al
(2012). Glyoxalase 1 increases anxiety by reducing GABAA receptor
agonist methylglyoxal. Journal of Clinical Investigation, june, 2012.
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
187
suponho que ao deparar-se com explicações abstratas,
hipotéticas ou que necessitem de 'insights', deva sentir-se
desconfortável. E isso talvez explique o motivo pelo qual
muitos pacientes abandonam um processo
psicoterapêutico breve em curso. Pesquisas realizadas
entre 1999 e 2000 em uma clínica-escola de psicologia
revelaram diferentes índices de desistência em diversos
momentos do atendimento: 45,05% antes da triagem,
56,59% no início do atendimento e 14,84% no decorrer
da terapia.34
Um outro estudo realizado em 2013, no Rio
Grande do Sul, revelou que, do total de 188 indivíduos
que deram entrada em um processo psicoterapêutico em
um uma clínica-escola de psicologia, 163 residiam na
cidade onde a universidade estava localizada e 25 residiam
em cidades vizinhas. Do total de pessoas que realizaram
psicoterapia durante o ano letivo de 2013, 37 receberam
alta, aproximadamente 20% dos pacientes, e 45
desistiram durante o processo, totalizando 24% dos casos.
O restante foi encaminhado para continuidade do
atendimento no ano de 2014, totalizando 106 casos com
34
Chilelli, Karla Bittencourt; Enéas, M. L. E. Desistência em
psicoterapia breve: pesquisa documental e da opinião do
paciente. Boletim de Iniciação Científica de Psicologia, v. 1, n. 1, p.
47-52, 2000.
Evandro Borges
188
indicação de continuidade da psicoterapia. Mediante a
uma leitura dos resumos de encerramento dos casos
atendidos, as justificativas apresentadas pelos terapeutas
nos relatos de encerramento de caso foram classificadas
da seguinte maneira, explicadas a seguir: não adesão à
psicoterapia (20%), problemas com o terapeuta ou com a
instituição (33,3%), questões particulares externas à
clínica (17,7%), encerramento por faltas injustificadas
(27%) e 2% não justificaram o encerramento do caso.35
Não quero dizer, com isso, que a psicologia deva
ser ‘fatalista’ ou que deva limitar-se ao uso de manuais de
diagnósticos de transtornos mentais, encaminhando todos
os casos de depressão, ansiedade ou síndrome do pânico
para serviços de atendimento que possibilitem uma
abordagem psicofarmacológica, mas que devemos estar
abertos ao diálogo com as ciências biológicas, analisando
o histórico familiar de cada caso e solicitando exames
complementares com o objetivo de se chegar a um
diagnóstico mais preciso. Não devemos nos fechar para a
possibilidade de determinados casos clínicos serem
decorrentes de fatores, não somente psicológicos, mas
biológicos, genéticos ou hereditários.
35
Sei, MB, Colavin JRP. Desistência e abandono da psicoterapia em
um serviço-escola de Psicologia. Rev. bras. psicoter. 2016;18(2):37-
49.
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
189
Capítulo 20
Instrumentos de avaliação em psicologia positiva
Para Fortes e Ferreira (2013), o estudo dos
aspectos saudáveis do ser humano é tão relevante quanto
os estudos sobre a psicopatologia. Essa foi a grande
contribuição da psicologia positiva, fornecendo outra
perspectiva de análise do comportamento humano ao
olhar para o que possuímos de melhor em nós. A
psicologia positiva tem sua proposta baseada na ideia de
favorecer que o psicólogo tenha uma postura mais
apreciadora dos potenciais humanos e, portanto, alguns
aspectos são extremamente importantes para essa nova
ciência, como a avaliação do otimismo, altruísmo,
esperança, alegria, bem-estar e resiliência, autoestima e
esperança, aspectos estes tão importantes quanto a
avaliação da depressão, ansiedade e desesperança
(ÜCKER E NUNES, 2007).
Por se tratar de uma abordagem nova, esforços
significativos estão sendo empregados no
desenvolvimento e validação de instrumentos de avaliação
em psicologia positiva (SELIGMAN, 2004). No que tange
Evandro Borges
190
a avaliação psicológica positiva, destaca-se a avaliação da
satisfação com a felicidade ou BES, satisfação com a vida,
afeto, otimismo, esperança e auto eficácia.
ADVERTÊNCIAS
Por questões éticas não poderemos reproduzir o conteúdo
de testes ou avaliações psicológicas neste livro, porém,
poderemos indicar as referências e literatura disponíveis
atualmente, tanto no Brasil quanto no exterior, para
efeito de consulta ou pesquisa. De acordo com os Artigos
10 e 16 da Resolução CFP n.º 002/2003 (CFP, 2003), só
será permitida a utilização dos testes psicológicos que
obtiverem o parecer favorável pelo Conselho Federal de
Psicologia e será considerada falta ética a utilização de
instrumento que não esteja em condição de uso. É
importante destacar também que conforme dispõe o Art.
13 da Lei 4.119/62 (Brasil, 1962), no Brasil, o uso de
testes psicológicos constitui função privativa do
psicólogo.
Em 2011 o Dr. Aaron Jarden, presidente da
Associação de Psicologia Positiva da Nova Zelândia
lançou um artigo intitulado “Avaliação Psicológica
Positiva: Uma introdução prática a ferramentas de
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
191
pesquisa empiricamente validadas para medir o bem-
estar”, atualizado posteriormente em 2014 (JARDEN,
2014). O artigo reúne dezenas de modelos de
instrumentos de avaliação em psicologia positiva, com
suas devidas referências para consulta no idioma inglês.36
Segue uma lista dos instrumentos disponíveis com os
títulos traduzidos e referência para consulta logo abaixo:
Escala de Medidas de Felicidade (HM)
Escala de Satisfação com a Vida (SWLS)
Escala de Satisfação Temporal com a Vida (TSWLS)
Escala de Felicidade Subjetiva (SHS)
Questionário de Gratidão (GQ-6)
Escala de Esperança do Adulto (AHS)
Questionário de Significado de Vida (MLQ)
Escala de Florescimento (FS)
Escala de Experiência Positiva e Negativa (SPANE)
Escala Grit Curta (GRIT)
Inventário de Curiosidade e Exploração II (CEI-II)
Escala do Uso de Forças e Conhecimento Corrente
(SUCK)
Teste de Orientação de Vida - Revisado (LOT-R)
36
Jarden, A. (2011). Positive Psychological Assessment: A practical
introduction to empirically validated research tools for measuring
wellbeing. Získáno, 2(3), 2014.
Evandro Borges
192
Escala Breve de Resiliência (BRS)
Escala de Vitalidade Subjetiva (VS)
Escala de Combate à Auto-Ancoragem de Cantril
(CSASS)
Questionário de Vida Valiosa (VLQ)
Escala de Bem-Estar Psicológico (SPW)
Escala de Depressão do Centro de Estudos
Epidemiológicos (CES-DS)
Escala de Depressão, Stress, Ansiedade (DASS21)
Escala de Solidão (LS)
Devo destacar também que o Centro de Psicologia
Positiva da Universidade da Pensilvânia mantém um
banco de dados com atualmente 18 modelos de
questionários para pesquisadores. Os recursos estão
disponíveis no idioma inglês e podem ser acessados em:
http://ppc.sas.upenn.edu/resources/questionnaires-
researchers
Outra ferramenta rica em informações é o website
Felicidade Autêntica da Universidade da Pensilvânia, que
disponibiliza uma série de escalas e questionários para
auto preenchimento online, com referências-chave e
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
193
outras informações relevantes. O conteúdo está
disponível nos idiomas: inglês, espanhol, alemão, japonês
e mandarim. Para saber mais, visite o site:
https://www.authentichappiness.sas.upenn.edu/testcent
Er
Lista de Instrumentos disponíveis no site Felicidade Autêntica:
Inventário de felicidade autêntica - Mede a Felicidade
Geral;
Escala geral da felicidade - Avalia a felicidade
duradoura;
Questionário PANAS - Mede o Afeto Positivo e
Negativo;
Questionário CES-D - Mede os sintomas da depressão;
Questionário de Emoções Fordyce - Mede a felicidade
atual;
Teste de Otimismo - Mede o otimismo sobre o futuro;
Questionário de Motivações Transversais - Mede o
Perdão;
VIA Levantamento de Forças de Caráter - Mede as 24
forças de caráter;
Inquérito de Gratidão - Mede a apreciação sobre o
passado;
Evandro Borges
194
VIA - Pesquisa de Força para Crianças - Mede as 24
forças de caráter para crianças;
Avaliação Grit - Mede a força do caráter da
perseverança;
Teste Breve de Forças - Mede 24 forças de caráter;
Questionário Vida-Trabalho - Mede a Satisfação Vida-
Trabalho;
Medidor PERMA ™ - Avalia as medidas de
florescimento;
Escala de Satisfação com a Vida - Mede a satisfação
com a vida;
Abordagens à Felicidade - Mede a Felicidade Geral;
Questionário de Significado de Vida - Mede o
significado de vida;
Escala Compassiva do Amor - Mede sua tendência a
apoiar, ajudar e entender outras pessoas;
Questionário de Fechamento de Relacionamentos;
O Centro Australiano de Qualidade de Vida (ACQOL),
disponibiliza uma breve descrição sobre centenas de
escalas de qualidade de vida e bem-estar, bem como suas
referências e dados sobre pesquisas psicométricas. Você
pode saber mais em:
http://www.acqol.com.au/instruments/instrument.php
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
195
No Brasil, podemos destacar o Laboratório de
Mensuração do Instituto de Psicologia da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que tem
desempenhado um papel extremamente significativo no
desenvolvimento de instrumentos de avaliação
psicológica. O site pode ser acessado em:
http://www.ufrgs.br/psico-laboratorio/Instrumentos.htm
Evandro Borges
196
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
197
Capítulo 21
Ampliando e construindo emoções positivas
A Teoria do Ampliar e Construir das Emoções Positivas (The
Broaden-And-Build Theory)
A Teoria do Ampliar e Construir das Emoções
Positivas, desenvolvida pela Dra. Barbara Fredrickson,
professora e pesquisadora de psicologia da Universidade
da Carolina do Norte, sugere que as emoções positivas
ampliam nosso repertório de pensamentos e ações e
constroem nossos recursos pessoais. A teoria sugere que
as emoções positivas impulsionam o florescimento
humano (COUTO, 2014).
Pessoas que experimentam as emoções positivas,
com frequência, são mais:
1. Interessadas em seu autodesenvolvimento;
2. Física e Psicologicamente saudáveis;
Evandro Borges
198
3. Habilidosas para lidar com dificuldades e problemas;
4. Estruturadas em seus relacionamentos e interações
sociais;
5. Abertas a desenvolver uma variedade de estratégias
mentais;
6. Abertas ao novo;
7. Propensas a nutrir mais esperança, visão do todo e foco
no futuro.
Em diversos contextos as pessoas experimentam
um misto de emoções agradáveis e desagradáveis, sugere
Carvalho (2014). Tais emoções desencadeiam humores
que são expressos posteriormente por uma variedade de
comportamentos e sentimentos. No entanto, as
evidências dos efeitos positivos das emoções somente
ganharam força durante os últimos 20 anos (Fredrikson,
2002 apud CARVALHO, 2014). As investigações
traçaram a divisão entre os afetos positivos e negativos,
concluindo que o afeto positivo tem efeitos relevantes no
desenvolvimento dos pensamentos e comportamentos. A
teoria das emoções positivas de Fredrickson (2003) é um
modelo que capta efeitos únicos, pois vivenciar estados
positivos conduzirá a comportamentos, que indiretamente
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
199
irão influenciar positivamente o sujeito em situações
difíceis.
A teoria sugere que valores altos de positividade
podem prever o funcionamento ideal do sujeito. As
emoções positivas desenvolvem-se na construção de
recursos pessoais, e ao longo do tempo, por consequência,
transformam as pessoas para melhor, permitindo-lhes
sobreviver e prosperar em diversas situações da vida
(Fredrickson et al., 2008; Carvalho, 2014). Segundo as
autoras, as emoções positivas ampliam os pensamentos e
constroem recursos físicos, sociais e psicológicos para o
futuro. E tanto as emoções positivas quanto negativas
teriam uma função adaptativa, com efeitos fisiológicos
diferentes e complementares. As emoções negativas
estariam associadas à formas de agir, que diminuiriam e
focalizariam os pensamentos para ações concretas, como
por exemplo as de luta ou fuga (Fredrickson, 1998; 2001;
2003; 2013 apud CARVALHO, 2014).
Através da expansão dos processos cognitivos, os
recursos e capacidades pessoais estabelecem-se ao longo
do tempo. Tais processos teriam sido úteis, não somente
por preservaram ao longo dos tempos a evolução humana,
mas também porque, espontaneamente provaram ser
uteis para o desenvolvimento de recursos da
Evandro Borges
200
sobrevivência. As autoras afirma que vivenciar
experiências emocionais positivas coloca os sujeitos em
trajetórias de crescimento pessoal. Já no processo de
ampliar as estratégias comportamentais, as emoções
positivas vão dissipar as emoções negativas, preparando o
sujeito para ações específicas (Fredrickson, 1998; 2002;
2003; 2013; Carvalho, 2014).
As emoções positivas ampliam a atenção e
cognição, e a vivência das emoções positivas produz um
efeito associado a aumentos de níveis de dopamina no
cérebro (Ashby, Isen, & Turken, 1999). Cultivar emoções
positivas também torna os sujeitos mais saudáveis, mais
socialmente integrados, mais curiosos, mais eficazes na
diversidade dos comportamentos, e muito mais resilientes
(Fredrickson & Losada, 2005).
Desta forma, podemos concluir que o efeito
positivo das emoções amplia o comportamento perante a
situação em que os sujeitos se encontrem. Ao longo do
tempo, constrói mapas cognitivos muito apurados do que
é agradável e desagradável na interação com o meio
ambiente. E embora este efeito seja transitório, as
capacidades pessoais que são adquiridas em momentos de
positividade podem ser mantidas a longo prazo,
possibilitando ao sujeito utilizá-las em situações de
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
201
stress. Este processo aumenta as probabilidades de
sobrevivência, o que poderá desencadear também
crescimento pessoal e mais resiliência. Em síntese, o
processo desenvolvido influência o florescimento humano
(Fredrikson & Losada, 2005 apud CARVALHO, 2014).
Evandro Borges
202
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
203
Agradecimentos
Gostaria de agradecer profundamente aos disseminadores
da psicologia positiva no Brasil, América Latina, América
do Norte e demais partes do mundo, em especial, ao
núcleo da Associação de Psicologia Positiva da América
Latina (APPAL), a Associação Brasileira de Psicologia
Positiva (ABPP), ao Dr. Cláudio Simon Hutz,
coordenador do Curso de Especialização em Psicologia
Positiva da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS), ao professor de Psicologia Positiva do MBA
Executivo em Desenvolvimento do Potencial Humano na
Franklin Covey Business School, Helder Kamei, ao núcleo
de pesquisa do Centro de Psicologia Positiva da
Universidade da Pensilvânia, EUA, aos Doutores Martin
Seligman, ex-presidente da Associação Americana de
Psicologia (APA), e Chris Peterson, fundadores do VIA
Instituto do Caráter, pioneiros nos estudos da psicologia
positiva no mundo. Ao Dr. Tal Ben-Shahar, coordenador
do Curso de Psicologia Positiva da Universidade de
Harvard, EUA, ao Dr. Tayyab Rashid, pesquisador em
psicologia positiva na Universidade de Toronto
Scarborough, Canadá, ao Dr. Mihaly Csikszentmihalyi,
professor da Universidade de Pós-Graduação Claremont e
um dos principais pesquisadores em psicologia positiva
no mundo. A Dra. Sofia Bauer e sua equipe do curso de
Evandro Borges
204
Certificação em Psicologia Positiva, a Dra. Renata
Livramento, fundadora e presidente do Instituto
Brasileiro de Psicologia Positiva, ao querido amigo de
profissão e sempre incentivador de meu trabalho, Paulo
Henrique. E a todos os fomentadores, pesquisadores,
profissionais, professores, mestres, doutores,
admiradores, praticantes e simpatizantes da psicologia
positiva.
Gratidão.
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
205
ANEXO I - Relatório Mundial da Felicidade - Ranking 2016
Evandro Borges
206
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
207
Evandro Borges
208
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
209
Evandro Borges
210
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
211
Evandro Borges
212
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
213
ANEXO II – Estrutura da Escala de Florescimento
Evandro Borges
214
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
215
Referências
Albuquerque, A.S.; & Tróccoli, B.T. (2004). Desenvolvimento de uma Escala de Bem-Estar Subjetivo.
Alesina A., Di Tella R., MacCulloch R. (2004) Inequality and happiness: Are Europeans and Americans different? Journal of Public Economics, 88, 2009-2042.
Andrade, Elisson. (2016). Finanças & comportamento: Coletânea de artigos.
Aristóteles. (1985) Ética a Nicômaco. 2.ed. Editora Universidade de Brasília.
Ashby, F. G., Isen, A. M., & Turken, A. U. (1999). A Neuropsychological Theory of Positive Affect and its Influence on Cognition. Psychological Review, 106, 529– 550.
Bakker, A. B.; Leiter, M. P. (2010). Where to go from here: integration and future research on work engagement. In: ______(Orgs.). Work Engagement: a handbook of essential theory and research. New York: Psychology Press.
Baumeister, R. (1993). Self-esteem: The puzzle of low self-regard. New York: Plenum.
Baumeister, R. F., Bratslavsky, E., Muraven, M., & Tice, D. M. (1998). Ego depletion: Is the active self a limited
Evandro Borges
216
resource? Journal of Personality and Social Psychology, 74(5), 1252-1265.
Baumeister, R. F., Vohs, K. D., & Tice, D. M. (2007). The strength model of self-control. Current Directions In Psychological Science, 16(6), 351-355.
Baumeister, R.F., Heatherton, T.F., & Tice, D.M. (1994). Losing control: How and why people fail at self-regulation. San Diego, CA: Academic Press.
Beck, A.T.; Steer, R.A. & Garbin, M.G.(1988). Psychometric Properties of the Beck Depression Inventory: Twenty-Five Years of Evaluation. Clinical Psychology Review 8:77-100.
Binder, E. B., Bradley, R. G., Liu, W., Epstein, M. P., Deveau, T. C., Mercer, K. B., ... & Schwartz, A. C. (2008). Association of FKBP5 polymorphisms and childhood abuse with risk of posttraumatic stress disorder symptoms in adults. Jama, 299(11), 1291-1305.
Blanchflower D. G., Oswald A. J. (2004) Well-being over time in Britain and the USA. Journal of Public Economics, 88, 1359-1386.
Boiron, C. (2001). Le Ragioni Della Felicitá. Milano: Franco Angeli.
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
217
Brasil. (1962). Lei Nº 4.119, de 27 de agosto de 1962. Dispõe sobre os cursos de formação em psicologia e regulamenta a profissão de psicólogo. Presidência da República, Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos, Brasília.
Carvalho, Vanda Susana Torais de et al. (2014). A felicidade e o coping pró-ativo: estudo exploratório em homens e mulheres.
Casanova, N., & Sequeira. (2009). Emoções. Trabalho de Orientação. Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes (Portugal).
Celinska,Dorota; Olszewski, Kornel. (2013).The determinants of life satisfaction. Faculty of Economic Sciences, University of Warsaw in its journal Ekonomia journal nº 34.
CFP - Conselho Federal de Psicologia. (2003). Resolução N.º 002/2003. Disponível em: http://site.cfp.org.br
Cherie R., Saunders S. A. (1999) The relationship between depression, satisfaction with life,and social interest. South Pacific Journal of Psychology, Vol. 11 Issue 1.
Cloninger, C.R. (2004). Feeling good: the science of well-being. Oxford University Press, New York.
Constantino, Tábata Castro. (2010). A inteligência emocional no ambiente organizacional. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Psicologia) –
Evandro Borges
218
Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC, Criciúma.
Couto, J. A. (2014). 7 Dicas para ampliar e construir Emoções Positivas. Couto Performance.
Csikszentmihalyi, M. & Csikszentmihalyi, I. S (org). (1988). Optimal experiênce: Psychological studies of flow in consciousness. Nova York: Cambridge University Press.
Csikszentmihalyi, M. (1990). Flow: the psychology of optimal experience. HarperCollins Publishers, New York.
Csikszentmihalyi, M. (1992). A Psicologia da felicidade. São Paulo: Saraiva.
Csikszentmihalyi, M. (1999). A descoberta do fluxo: a psicologia do envolvimento com a vida cotidiana. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
Csikszentmihalyi, M. (2004) Fluidez, o segredo da felicidade – TED 2004 · 18:55 min. Filmado em fevereiro de 2004.
Da Costa, Luiza S.M; Alves Pereira, Carlos Américo. (2007) Bem-estar subjetivo: aspectos conceituais. Arquivos Brasileiros de Psicologia, v. 59, n. 1.
Deaton A. (2008) Income, Health and Well-Being around the World: Evidence from theGallup World Poll. Journal of Economic Perspectives, 22(2), 53-72.
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
219
Declaração Universal dos Direitos Humanos. (1948). Organização das Nações Unidas – ONU.
Dick-Niederhauser, A. (2009). Therapeutic change and the experience of joy: Toward a theory of curative processes. Journal of Psychotherapy Integration, 19:187-211.
Diener E. (2000). Subjective Well-Being: The Science of Happiness and a Proposal for a National Index. American Psychologist, 55, 34–43.
Diener E., Lucas R. E., Oishi S., Suh E. (2002) Looking up and looking down: Weighting good and bad information in life satisfaction judgements. Personality and Social Psychology Bulletin, 28(4), 437-445.
Diener, E., & Seligman, M. E. P. (2004). Beyond money: toward an economy of well-being. Psychological Science in the Public Interest, 5 (1), 1-31.
Diener, E., Suh, E., & Oishi, S. (1997). Recent findings on subjective well-being. Indian Journal of Clinical Psychology, 24 (1), 25-41.
Diener, E.; & Scollon, C. (2003). Subjective well-beig is desirable, but not the summum bonum. Paper to be delivered at the University of Minnesota Interdisciplinary Workshop on Well-Beig, 1-20.
Diógenes, Maria Albertina Rocha; Pagliuca, Lorita Marlena Freitag. (2003). Teoria do autocuidado: análise crítica da
Evandro Borges
220
utilidade na prática da enfermeira. Revista Gaúcha de Enfermagem, v. 24, n. 3, p. 286.
Dufty, William. (1975). Sugar blues: O gosto amargo do açúcar. Rio de Janeiro: Editora Ground.
Durayappah, A. (2010). The 3P Model: A General Theory of Subjective Well-Being.
Ekman, P. (1992). Are there basic emotions? Psychol Rev 99: 550-553.
Fabrega, Marelisa. (2016). How To Enter the Flow State. Daring to Live Fully.
Ferraz, Renata Barboza; Tavares, Hermano; Zilberman, Monica L. (2007). Felicidade: uma revisão. Revista de Psiquiatria Clínica, v. 34, n. 5, p. 234-242.
Ferreira, A., and S. Ramos. (2007). Sentido interno de coerência e bem-estar psicológico nos enfermeiros prestadores de cuidados a doentes hemato-oncológicos. Rev. Psychologica, 46.
Ferrer-i-Carbonell A. (2005) Income and well-being: An empirical analysis of the comparison income effect. Journal of Public Economics, 89, 997-1019.
Ferrer-i-Carbonell A., Frijters P. (2004) How important is methodology for the estimates of the determinants of happiness. The Economic Journal, 114, 641-659.
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
221
Fizpatrick, M.R.; Stalikas, A. (2008). Positive emotions as generators of therapeutic change. Journal of Psychotherapy Integration, 18:137-154.
Fortes, Ana Carolina da Cunha; Ferreira, Vinícius Renato Thomé. (2013). Avaliação Psicológica no Contexto da Psicologia Positiva. VII Mostra de Iniciação Científica e Extensão Comunitária e VI Mostra de Pesquisa de Pós Graduação da IMED. Passo Fundo.
Foster PC, Benett AM. Orem, Dorothea E. (2000). In: George JB. Teorias de enfermagem: os fundamentos à pratica profissional [tradução de Ana Maria Vasconcellos Thorell. 4ª ed. Porto Alegre (RS): ARTMED, 2000. 375 p. p. 83-101.
Frankl,Viktor E. (2012). Logoterapia e Análise Existencial - Textos de Seis Décadas. Rio de Janeiro: Forense Universitária.
Frederickson, B.L.; Branigan, C. (2005). Positive emotions broaden the scope of attention and thought-action repertoires. Cognition and emotion, 19:313-332.
Frederickson, B.L.; Levenson, R.W. (1998). Positive emotions speed recovery from the cardiovascular sequelae of negative emotions. Cognition and emotion, 12:191-220.
Fredrickson B.L. (2002). Positive emotions. In Snyder, C.R. & Lopez, S.J. (Coord.), Handbook of Positive Psychology (pp.120-134). New York: Oxford University Press.
Evandro Borges
222
Fredrickson, B. (2013). Updated Thinking on Positivity Ratios. American Psychologist. Advance Online Publication. Doi: 10.1037/a0033584
Fredrickson, B. L. & Losada, M. (2005). Positive Affect and the Complex Dynamics of Human Flourishing. American Psychologist, 60, (7), 678-686.
Fredrickson, B. L. (1998). What Good are Positive Emotions? Review of General Psychology, 2, 300–319.
Fredrickson, B. L. (2001). The Role of Positive Emotions in Positive Psychology: The Broadenand-Build Theory of Positive Emotions. American Psychologist, 56, 218-226.
Fredrickson, B. L. (2003). The Value of Positive Emotions. American Scientist, 91, 330-335.
Fredrickson, B. L., Cohn, M. A., Coffey, K. A., Pek, J., & Finkel, S. M. (2008). Open Hearts Build Lives: Positive Emotions, Induced Through Loving-Kindness Meditation, Build Consequential Personal Resources. Journal of Personality and Social Psychology,95,1045–1062. Doi: 10.1037/a0013262.
Fredrickson, B.L.; Mancuso, R.A.; Branigan, C.; Tugade, M.M. (2000). The undoing effect of positive emotions. Motivation and Emotion, 24:1-22.
Gailliot, M., Baumeister, R., DeWall, C., Maner, J., Plant, E., Tice, D., & Schmeichel, B. (2007). Self-control relies on glucose as a limited energy source: Willpower is more than
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
223
a metaphor. Journal Of Personality And Social Psychology, 92(2), 325-336.
Gardner, H., & Hatch, T. (1989). Educational implications of the theory of multiple intelligences. Educational researcher, 18(8), 4-10.
Gilbert, P. (2005). Introduction and outline. In P. Gilbert (Eds.), Compassion: Conceptualizations, research and use in psychotherapy (pp. 1-6). East Sussex: Routledge.
Gilbert, P., & Irons, C. (2004). A pilot exploration of the use of compassionate images in a group of self-critical people. Memory, 12, 507-516.
Gilbert, P., & Procter, S. (2006). Compassionate mind training for people with high shame and self-criticism: Overview and pilot study of a group therapy approach. Clinical Psychology and Psychotherapy, 13, 353-379.
Globo. G1 Internacional. (2016). A trágica morte do palhaço que alegrava crianças em meio à guerra em Aleppo". Por BBC 02/12/2016 18h06 Atualizado 02/12/2016 18h06. Disponível em: http://g1.globo.com
Goleman, Daniel. (1999). Trabalhando com a inteligência emocional. Rio de Janeiro: Objetiva.
Goleman, Daniel. (2001). Inteligência emocional: a teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente. Edição revista Rio de Janeiro: Objetiva.
Evandro Borges
224
Gottfredson, M.R., & Hirschi, T. (1990). A general theory of crime. Stanford, CA: Stanford University Press.
Goussinsky, Eugenio. (2017). Venda de antidepressivos no Brasil cresce com o aumento de casos ligados à depressão. R7, Notícias, Saúde, 30/01/2017 às 00h30. Atualizado em 14/03/2017 às 16h19. Disponível em http://noticias.r7.com.
Graham C., Eggers A., Sukhtankar S. (2004) Does happiness pay? An exploration based on panel data from Russia. Journal of Economic Behavior and Organization, 55(3), 319-342.
Graham C., Pettinato S. (2001) Happiness, markets and democracy: Latin America in comparative perspective. Journal of Happiness Studies, 2, 237-268.
Grochowska A., Strawi?ski P. (2012) Impact of Social Capital on Income. Ekonomia, Vol. 31, 56-70.
Gross, J.J. (2008). Emotion regulation. In: M. Lewis; J.M. Haviland-Jones; L.F. Barrett (orgs.), Handbook of emotions. New York, Guilford, p. 497-512. Hayes, S.C.; Villatte, M.; Levin, M.; Hildebrandt, M. (2011). Open, aware and active: Contextual approaches as an emerging trend in the behavioral and cognitive therapies. Annual Review of Clinical Psychology, 7:141-168.
Houaiss, A. (2004). Dicionário Houaiss da língua portuguesa. 1ª ed. rev. Objetiva, Rio de Janeiro.
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
225
Hyde, J. S. (2005). The gender similarities hypothesis. American psychologist, 60(6), 581.
Huppert, F. & So, T. (2013). Flourishing Across Europe: Application of a New Conceptual Framework for Defining Well-Being. Social Indicators Research, 110 (3), 837-861. Journal Happiness Stud, 12, 681-716. Doi: 10.1007/s10902-010-9223-9.
Hutz, C. S. (Org.). (2014). Avaliação em psicologia positiva. 1ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 152p.
Hutz, C.S. (Org.). (2016). Avaliação em Psicologia Positiva: técnicas e medidas. 1ª ed. Hografe: São Paulo, 2016. 184p.
ICAN (December 23, 2016). "UN General Assembly approves historic resolution". www.icanw.org. ICAN. Retrieved 12 January 2017.
IMS Institute For Healthcare Informatics. (2016) The global use of medicines: Outlook Through 2012-2016.
Jarden, A. (2011). Positive Psychological Assessment: A practical introduction to empirically validated research tools for measuring wellbeing. Získáno, 2(3), 2014. Disponível em: http://www.positivepsychology.org.nz
Johnson W., Krueger R. F. (2006) How money buys happiness: Genetic and environmental processes linking finances and life satisfaction. Journal of Personality and Social Psychology, 90, 680-691.
Evandro Borges
226
Joseph, S., Linley, P. A., Hardwood, J., Lewis, C. A., & McCollam, P. (2004). Rapid assessment of wellbeing: The Short Deppression-Happiness Scale (SDHS). Psychology and Psychotherapy: Theory, Research and Practice, 77 (4), 463-478.
Kamei, Helder Hiroki. (2010). Flow: o que é isso? Um estudo psicológico sobre experiências ótimas de fluxo na consciência, sob a perspectiva da psicologia positiva. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.
Laboratório de Mensuração. (2017). Instituto de Psicologia da UFRGS. Disponível em: http://www.ufrgs.br
Labroo, A.A.; Patrick, V.M. (2009). Psychological distancing: Why happiness helps you see the big picture. Journal of Consumer Research, 35:800-809.
Leventhal, H. (1982). The integration of emotion and cognition. In: M.S. Clark.; T.S. Fiske (orgs.), Affect and Cognition. Hillsdale, Erlbaum, p. 253-276.
Lima, Jerônimo. (2010). Resenha: A descoberta do fluxo, de Mihaly Csikszentmihalyi – Valores Reais.
Locke, E. A. (1976). The nature and causes of job satisfaction. In: M. P. Dunnette (Org.). Handbook of Industrial and Organizational Psychology. Chicago: Rand-McNally. p. 1294-1349.
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
227
Lodahl, T. M.; Kejner, M. (1965). The definition and measurement of job involvement. Journal of Applied Psychology, v. 49, n.1.
Louis V. V., Zhao S. (2002). Effects of family structure, family SES, and adulthood experiences on life satisfaction. Journal of Family Issues, 23, 986-1005.
Lunt, A. (2004). The implications for the clinician of adopting a recovery model: the role of choice in assertive treatment. Psychiatr Rehabil J 28 (1): 93-97.
Maslow, A. H. (1943). A theory of human motivation. Psychological Review, 50: 390-6.
Massarella, Fábio Luiz; Winterstein, Pedro José. (2009). Motivação intrínseca e o estado mental Flow em corredores de rua. Movimento (ESEF/UFRGS), v. 15, n. 2, p. 45-68.
McDowell, I.; Newell, C. (1996). Measuring health: A guide to rating scales and questionnaires. (2nd ed.). New York, NY: Oxford U Pr.
McMahon, D. (2006). Happiness: a history. Atlantic Monthly Press, New York.
Montag, C., Buckholtz, J. W., Hartmann, P., Merz, M., Burk, C., Hennig, J., & Reuter, M. (2008). COMT genetic variation affects fear processing: psychophysiological evidence. Behavioral neuroscience, 122(4), 901.
Evandro Borges
228
Moreira, Neir; Holanda, Adriano. (2010). Logotherapy and the meaning of suffering: convergences in the spiritual and religious dimensions. Psico-USF, v. 15, n. 3, p. 345-356.
Mowday, R. T.; Steers, R. M.; Porter, L. W. (1979). The measurement of organizational commitment. Journal of Vocational Behavior, n. 14, p. 224-247.
Munhoz, Fábio. (2016). Introdução à Psicologia Positiva. Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental.
Muraven M., Slessareva E. (2003). Mechanisms of self-control failure: Motivation and limited resources. Personality and Social Psychology Bulletin, 29, 894–906.
Neff, K. D. (2003). Self-compassion: An alternative conceptualization of a healthy attitude toward oneself. Self and Identity, 2, 85-101.
Neff, K. D. (2004). Self-compassion and psychological well-being. Constructivism in the Human Sciences, 9, 27-37.
Neff, K. D. (2008). Self-compassion: Moving beyond the pitfalls of a separate self-concept. In J. Bauer & H. A. Wayment (Eds.), Transcending self-interest: Psychological explorations of the quiet ego (pp. 95-105). Washington DC: APA Books.
Neff, K. D., Pisitsungkagarn, K., & Hsieh, Y. (2008). Self-compassion and self-construal in the United States,
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
229
Thailand, and Taiwan. Journal of Cross-Cultural Psychology, 39, 267-285.
Neff, K. D., Rude, S. S., & Kirkpatrick, K. L. (2007). An examination of self-compassion in relation to positive psychological functioning and personality traits. Journal of Research in Personality, 41, 908-916.
Neves, Carla Susana Serrano. (2011). A relação entre Mindfulness, Auto-Compaixão, Vergonha e Psicopatologia em praticantes e não praticantes de Meditação/Yoga.
Novaes, R.L. (1976). A saúde e os conceitos. Dissertação de Mestrado - Faculdade de Medicina da USP. São Paulo.
OMS. (1978). Organização Mundial de Saúde. Declaração de Alma-Ata – Conferência Internacional Sobre Cuidados Primários de Saúde. Alma-Ata (URSS).
OMS. (2001). Organização Mundial Da Saúde. Relatório sobre a saúde no mundo 2001: Saúde mental: nova concepção, nova esperança.
Orem D. E. (1995). Nursing: concepts of practice. 4th ed. New York: McGraw-Hill. 385 p. p. 91-117.
Orem, D. E. (2001).Nursing concepts of practice. Boston: Mosby.
Palmer, Abraham A.; Margaret G. Distler; Marcelo A. Nobrega et al. (2012). Glyoxalase 1 increases anxiety by
Evandro Borges
230
reducing GABAA receptor agonist methylglyoxal. Journal of Clinical Investigation, june, 2012.
Paschoal, Tatiane. (2008). Bem-estar no trabalho: relações com suporte organizacional, prioridades axiológicas e oportunidades de alcance de valores pessoais no trabalho.
Passareli, Paola Moura; Silva, José Aparecido da. (2007). Positive psychology and the subjective well-being study. Estudos de Psicologia (Campinas), v. 24, n. 4, p. 513-517. Payne, W.L. 1985. A study of Emotion: “Developing Emotional Intelligence, Self-integration, relating to fear, pain, and desire”. Dissertation Abstracts International, 470: 203A.
Perrez, Meinrad & Baumann, Urs. (2005). Lehrbuch klinische Psychologie - Psychotherapie. Bern: Huber.
Primi, Ricardo; Bueno, José Maurício Haas; Muniz, Monalisa. (2006). Inteligência emocional: validade convergente e discriminante do MSCEIT com a BPR-5 e o 16PF. Psicol. cienc. prof., Brasília , v. 26, n. 1, p. 26-45. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 20 (2), 153-164.
Relatório sobre a saúde no mundo. (2001). A saúde mental pelo prisma da saúde pública. Organização Mundial de Saúde.
Richeson J.A., Shelton J.N. (2003). When prejudice does not pay: Effects of interracial contact on executive function. Psychological Science, 14, 287–290.
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
231
Rodrigues, N., Furnielis, C. B., De Camargo Oliva, E., & Nunes, F. B. (2015). Engajamento e Bem-estar no trabalho: uma análise de consultores de TI que atuam com Body Shop e Projeto.Revista ADMpg Gestão Estratégica, Ponta Grossa, v. 8, n. 2, p.85-93.
Rojas M. (2004) The Complexity of Well-being. A Life Satisfaction Conception and a Domains-ofLife Approach. Paper for the International Workshop on Researching Well-being in Developing Countries, Hame Institute for Advanced Study.
Rouquayrol, M.Z. (1988). Epidemiologia e saúde. Fortaleza, Universidade de Fortaleza.
Ryff, C. D. & Keyes, C. L. M. (1995). The structure of psychological well being revisited. Journal of Personality and Social Psychology, 69, 719-727.
Salanova, M.; Schaufeli, W. B.; Llorens, S.; Peiró, J. M.; Grau, R. (2000). Desde el “burnout” al “engagement”: ¿uma nueva perspectiva? Revista de Psicología del trabajo y de las organizaciones, v. 16, n. 2, p. 117-134.
Scardua, Angelita Corrêa. (2008). Os Sentidos da Felicidade. A Felicidade e a Personalidade Autotélica. 13 de novembro, 2008. Disponível em: https://angelitascardua.wordpress.com
Schaufeli, W. B. et al. (2002). The measurement of engagement and burnout: a two sample confirmatory
Evandro Borges
232
factor analytic approach. Journal of Happiness Studies, v. 3, p. 71-92.
Schmeichel B.J., Vohs K.D., Baumeister R.F. (2003). Intellectual performance and ego depletion: Role of the self in logical reasoning and other information processing. Journal of Personality and Social Psychology, 85, 33–46.
Seghieri C., Desantis G., Tanturri M. L. (2006) The Richer, the Happier? An Empirical Investigation in Selected European Countries. Social Indicators Research, 79, 455-476.
Sei MB, Colavin JRP. (2016). Desistência e abandono da psicoterapia em um serviço-escola de Psicologia. Rev. bras. Psicoter; 18(2):37-49
Seligman, M. E. P. & Csikszentmihalyi, M. (2001). Positive psychology: an introduction. American Psychologist, 55(1), 5-14, 2001.
Seligman, Martin E. P. (2004). Felicidade autêntica: usando a nova psicologia positiva para a realização permanente. Rio de Janeiro: Objetiva.
Seligman, Martin E. P. (2011). Florescer: uma nova compreensão sobre a natureza da felicidade e do bem-estar. Rio de Janeiro: Objetiva.
Shapiro, S., & Schwartz, G. E. (2005). The role of intention in self-regulation: Toward intentional systemic mindfulness. In M. Boekaerts, P. R. Pintrich & M. Zeidner (Eds.),
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
233
Handbook of self-regulation (pp. 253-273). San Diego, CA: Academic Press.
Shapiro, S., Carlson, L., Astin, J. A., & Freedman, B. (2006). Mechanisms of mindfulness. Journal of Clinical Psychology, 62, 373-386.
Shields M., Price S. (2005). Exploring the economic and social determinants of psychological wellbeing and perceived social support in England. Journal Royal Statistical Society. Series A, 513-537.
Silva, J. V.; Kimura, M. (2002). Adaptação Cultural e Validação do Instrumento de Capacidades de Autocuidado “Appraisal of self-care agency scale”. Trabalho de Pesquisa. (Doutorado em Enfermagem) – Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo, São Paulo.
Silva, M. R. (1976). Ciência Pura, Ciência Aplicada. São Paulo: Editora de Humanismo, Ciência e Tecnologia HUCITEC, 1976.
Silvestre, Rafaela Luiza Silva; Vandenberghe, Luc. ( 2013). Os benefícios das emoções positivas. Contextos Clínic, São Leopoldo , v. 6, n. 1, p. 50-57, jun. 2013 .
Siqueira, M. M. M. (1995). Antecedentes de comportamentos de cidadania organizacional: análise de um modelo pós-cognitivo. Tese (Doutorado) – Instituto de Psicologia, Universidade de Brasília, Brasília.
Evandro Borges
234
Siqueira, M. M. M.; Gomide Junior, S. (2004). Vínculos do indivíduo com o trabalho e com a organização. In: Zanelli, J. C.; Borges-Andrade, J. E.; Bastos, A.V. B. (Org.). Psicologia, organizações e trabalho no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2004. p. 300- 330.
Siqueira, M. M. M.; Padovam, V. A. R. (2004). Influências de percepção de suporte no trabalho e satisfação como o suporte social sobre o bem-estar subjetivo de trabalhadores. In: Congresso Nacional De Psicologia Da Saúde, 5., 2004. Anais. Lisboa, Portugal, p. 659-663.
Sperelakis, Nicholas; Freedman, Jeffrey C.; Ferguson, Donald G. (2001). Biophysical Chemistry of Physiological Solutions. Cell Physiology Sourcebook. A Molecular Approach. 3ª ed. San Diego, California: Academic Press.
Taieb J, Mathian B, Millat F, Patricot M-C, Mathieu E, Queyrel N, et al. (2003) Testosterone measured by 10 immunoassays and by isotope-dilution gas chromatography–mass spectrometry in sera from 116 men, women, and children. Clin Chem;49:1381-1395.
Tangney, J.P., Baumeister, R.F., & Boone, A.L. (2004). High self-control predicts good adjustment, less pathology, better grades, and interpersonal success. Journal of Personality, 72, 271–322.
Tice D.M., Baumeister R.F., Shmueli D., Muraven M. (2007). Restoring the self: Positive affect helps improve self-regulation following ego depletion. Journal of Experimental
Psicologia Positiva: uma mudança de perspectiva
235
Social Psychology, 43, 379–384. Thorndike, E.L. (1920). Intelligence and its uses. Harper’s Magazine, 140, 227-235.
Ücker, Prisla; Campio, M.; Nunes, Tiellet. (2007). Psicologia da saúde e psicologia positiva: perspectivas e desafios. Rev Psicologia Ciência e Profissão, v. 27, n. 4, p. 706-717.
Vandenberghe, L.; Silvestre, R.L.S. (2013) .Therapists' positive emotions in-session: Why they happen and what they are good for. Counselling and Psychotherapy Research, 13:257-266.
Vieira, A., Moreira, J. I., & Morgadinho, R. (2008). Inteligência Emocional Cérebro Masculino Versus Cérebro Feminino. Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (Portugal).
Vohs, K., Baumeister, R., Schmeichel, B., Twenge, J., Nelson, N., & Tice, D. (2008). Making choices impairs subsequent self-control: A limited-resource account of decision making, self-regulation, and active initiative. Journal Of Personality And Social Psychology, 94(5), 883-898
Vohs, K.D., & Faber, R.J. (2007). Spent resources: Self-regulatory resource availability affects impulse buying. Journal of Consumer Research, 33, 537–547
Evandro Borges
236
Wallon. H. (1975). Psicologia e educação da infância. Lisboa: Estampa.
Wallon, H. (1941-1995). A evolução psicológica da criança. Lisboa, Edições 70
Weinberg, R. S.; Gould, D. (2001). Fundamentos da Psicologia do Esporte e do Exercício. Porto Alegre: Artmed.
Weisinger, Hendrie, Ph.D. (2001). Inteligência emocional no trabalho: como aplicar os conceitos revolucionários da IE nas suas relações profissionais, reduzindo o estresse, aumentando a sua satisfação, eficiência e competitividade. Rio de Janeiro: Objetiva.
World Happiness Report (2016). Update. UN Sustainable Development Solutions Network. Earth Institute. University of Columbia.
World Happiness Report .(2016). Updatep. 4, para. 1 cap. 2: The Distribution of World Happiness. Earth Institute. University of Columbia.
Notas
1. Moreira, Neir; Holanda, Adriano. Logotherapy and
the meaning of suffering: convergences in the
spiritual and religious dimensions. Psico-USF, v. 15,
n. 3, p. 345-356, 2010.
2. Frankl,Viktor E. Logoterapia e Análise Existencial -
Textos de Seis Décadas. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2012.
3. Declaração Universal dos Direitos Humanos – ONU,
1948.
4. Via Institute on Character http://www.viacharacter.org
5. Seligman, M. E. P. Florescer - uma nova e visionária
interpretação da felicidade e do bem-estar. Rio de
Janeiro: Objetiva, 2011.
6. Seligman, M. E. P. Felicidade Autêntica. Rio de
Janeiro: Objetiva, 2004.
7. Seligman, M. E. P. & Csikszentmihalyi, M. (2001).
Positive psychology: an introduction. American
Psychologist, 55(1), 5-14, 2001.
8. Taieb J, Mathian B, Millat F, Patricot M-C, Mathieu E,
Queyrel N, et al. (2003) Testosterone measured by 10
immunoassays and by isotope-dilution gas
chromatography–mass spectrometry in sera from 116
men, women, and children. Clin Chem;49:1381-1395.
9. Vieira, A., Moreira, J. I., & Morgadinho, R. (2008).
Inteligência Emocional Cérebro Masculino Versus
Cérebro Feminino. Universidade de Trás-os-Montes e
Alto Douro (Portugal).
10. ICAN (December 23, 2016). "UN General Assembly
approves historic resolution". www.icanw.org. ICAN.
Retrieved 12 January 2017.
11. Munhoz, Fábio. Introdução à Psicologia Positiva.
Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-
Comportamental, 2016.
12. Aristóteles. Ética a Nicômaco. 2.ed. Editora
Universidade de Brasília. 1985.
13. Silva, J. V.; Kimura, M. Adaptação Cultural e
Validação do Instrumento de Capacidades de
Autocuidado “Appraisal of self-care agency scale”.
Trabalho de Pesquisa. (Doutorado em Enfermagem)
– Escola de Enfermagem da Universidade de São
Paulo, São Paulo, 2002.
14. World Happiness Report 2016 Updatep. 4, para. 1
cap. "2: The Distribution of World Happiness“. 2016.
15. World Happiness Report 2016 Update. UN
Sustainable Development Solutions Network; Earth
Institute (University of Columbia), 2016.
16. Andrade, Elisson. Finanças & comportamento:
Coletânea de artigos. 2016.
17. Andrade, Elisson. Finanças & comportamento:
Coletânea de artigos. 2016.
18. Csikszentmihalyi, Mihaly. Flow: The psychology of
optimal performance. 1990. p.74)
19. Sperelakis, Nicholas; Freedman, Jeffrey C.; Ferguson,
Donald G. Biophysical Chemistry of Physiological
Solutions. Cell Physiology Sourcebook. A Molecular
Approach. 3ª ed. San Diego, California: Academic
Press. (2001) p.3.
20. Csikszentmihalyi, Mihaly. A descoberta do fluxo. Rio
de Janeiro: Rocco, 1999.
21. Andrade, Elisson. Finanças & comportamento:
Coletânea de artigos. 2016.
22. Fabrega, Marelisa. How To Enter the Flow State.
Daring to Live Fully. 2016.
23. Globo. G1 Internacional. "A trágica morte do palhaço
que alegrava crianças em meio à guerra em Aleppo”.
24. Foto: Anas al-Basha se fantasiava de palhaço para
alegrar as crianças na cidade sitiada de Aleppo (Foto:
Courtesy of Ahmad al-Khatib, via AP).
25. Csikszentmihalyi, Mihaly. A descoberta do fluxo. Rio
de Janeiro: Rocco, 1999.
26. Lima, Jerônimo. Resenha: A descoberta do fluxo, de
Mihaly Csikszentmihalyi – Valores Reais. 20 de jun de
2010.
27. IMS Institute For Healthcare Informatics. The global
use of medicines: outlook through 2012-2016.
28. Goussinsky, Eugenio. Venda de antidepressivos no
Brasil cresce com o aumento de casos ligados à
depressão. Notícias. Saúde. R7, 2017.
29. Dufty, William. Sugar blues: O gosto amargo do
açúcar. Rio de Janeiro: Editora Ground, 1975.
30. Servan-Schreiber, David; Bigotte, Magda. Curar: o
stress, a ansiedade e a depressão sem medicamentos
nem psicanálise. 2004.
31. Binder, E. B., Bradley, R. G., Liu, W., Epstein, M. P.,
Deveau, T. C., Mercer, K. B., ... & Schwartz, A. C.
(2008). Association of FKBP5 polymorphisms and
childhood abuse with risk of posttraumatic stress
disorder symptoms in adults. Jama, 299(11), 1291-
1305.
32. Montag, C., Buckholtz, J. W., Hartmann, P., Merz, M.,
Burk, C., Hennig, J., & Reuter, M. (2008). COMT
genetic variation affects fear processing:
psychophysiological evidence. Behavioral
neuroscience, 122(4), 901.
33. Palmer, Abraham A.; Margaret G. Distler; Marcelo A.
Nobrega et al (2012). Glyoxalase 1 increases anxiety
by reducing GABAA receptor agonist methylglyoxal.
Journal of Clinical Investigation, june, 2012.
34. Sei, MB, Colavin JRP. Desistência e abandono da
psicoterapia em um serviço-escola de Psicologia. Rev.
bras. psicoter. 2016;18(2):37-49.
35. Jarden, A. (2011). Positive Psychological Assessment:
A practical introduction to empirically validated
research tools for measuring wellbeing. Získáno, 2(3),
2014.