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Cessão de crédito O crédito é um patrimônio que se pode negociar. Quando você faz um negócio com crédito, você está fazendo o que chamamos de cessão de crédito. Na cessão, a primeira figura chama-se cedente. Este é o credor que transfere crédito. Depois tem o cessionário, que é aquele que adquire o crédito. Ele passa a ser o novo credor. Por fim, tem a figura do cedido que é o devedor. O art. 286 fala que todos os créditos são cedíveis, ou seja, podem ser cedidos. Agora, ressalva aqueles que são proibidos por lei. Tem alguns créditos que não podem ser cedidos, como: alimentos (art. 1704, CC). Créditos de alimento servem para alimentar a pessoa, esta precisa para sobreviver, portanto, o código não permite que o crédito de alimento seja cedido. Agora, a lei também diz que quando se constitui o crédito, as partes podem estabelecer uma proibição de cessão do crédito. Ex: vou fazer um negócio com X. Ele vai me dar um documento e eu vou pagar a dívida daqui 50 dias. Nesse documento nós 2 vamos escrever que não se admite a cessão desse crédito. Se escrevermos isso, a cessão é proibida, mas precisa estar escrito no título, caso não esteja, não tem proibição. Normalmente ninguém escreve isso. O devedor pode se opor à cessão? Não, devedor tem que pagar. Ele tem que ser notificado. O devedor tem que ser avisado de que houve mudança de credor para ele saber a quem pagar. Como se faz a notificação?

Cessão de crédito

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Cessão de crédito

O crédito é um patrimônio que se pode negociar.

Quando você faz um negócio com crédito, você está fazendo o que chamamos de cessão de crédito.

Na cessão, a primeira figura chama-se cedente. Este é o credor que transfere crédito.

Depois tem o cessionário, que é aquele que adquire o crédito. Ele passa a ser o novo credor.

Por fim, tem a figura do cedido que é o devedor.

O art. 286 fala que todos os créditos são cedíveis, ou seja, podem ser cedidos. Agora, ressalva aqueles que são proibidos por lei. Tem alguns créditos que não podem ser cedidos, como: alimentos (art. 1704, CC). Créditos de alimento servem para alimentar a pessoa, esta precisa para sobreviver, portanto, o código não permite que o crédito de alimento seja cedido.

Agora, a lei também diz que quando se constitui o crédito, as partes podem estabelecer uma proibição de cessão do crédito.

Ex: vou fazer um negócio com X. Ele vai me dar um documento e eu vou pagar a dívida daqui 50 dias. Nesse documento nós 2 vamos escrever que não se admite a cessão desse crédito. Se escrevermos isso, a cessão é proibida, mas precisa estar escrito no título, caso não esteja, não tem proibição. Normalmente ninguém escreve isso.

O devedor pode se opor à cessão? Não, devedor tem que pagar. Ele tem que ser notificado.

O devedor tem que ser avisado de que houve mudança de credor para ele saber a quem pagar. Como se faz a notificação?

Pode ser feita por carta AR, pelo correio, mediante entrega e assinatura, pelo cartório de títulos e documentos, por meio judicial (art. 867, CPC), por e-mail (desde que a pessoa confirme o recebimento), fax etc. Agora telefone não se faz, pois não tem como provar.

A cessão de crédito do direito civil é feita por um contrato solene, por escrito, e ele é registrado no cartório de registro de títulos e documentos. Ele tem que ser registrado para valer contra terceiros.

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Ao lado dessa cessão de crédito, existe uma outra, que chamamos de cessão de crédito de direito comercial. Esta é diferente, só ocorre nos títulos de crédito, e a cessão se faz de maneira informal, através de uma simples assinatura que se chama “endosso” (quando transfere o título a outro credor). É muito simples porque o direito comercial tem que ser rápido, eficiente para gerar riqueza. Nos negócios não se pode perder tempo.

A cessão de crédito (civil) é arriscada porque eu dependo do devedor pagar. Quem vai pagar a dívida? O cedido. Qual a garantia que eu tenho que o devedor vai pagar? Nenhuma.

Art. 295, CC

Esse artigo trata da cessão onerosa, que é quando o cessionário paga pelo crédito cedido.

Ex: precatório (quando você é credor de poder público – o Estado lhe deve -, ele vai pagar, mas depois que você entrar em uma lista de espera. Essa lista chama-se precatório).

O fato é que este artigo distingue a cessão onerosa e a gratuita, que é aquela que se faz sem pagamento.

Na cessão de crédito onerosa o cedente é sempre obrigado, é responsável pela existência da dívida cedida.

Duplicata fria ou simulada

Toda vez que alguém cede um crédito de forma onerosa, ele é responsável pela existência da dívida. Então se ele fizer uma dívida simulada e ceder, ele responde pela existência dela.

O cessionário não pode ter prejuízo. Perante o cessionário, o outro é responsável pela EXISTÊNCIA da dívida e não pelo pagamento.

O artigo diz também que na cessão a título gratuito, o cedente só é responsável pela existência da dívida se ele agir de má-fé.

No art. 296, tem a questão da responsabilidade do cedente pelo pagamento da dívida cedida se o devedor (cedido) não pagar. O devedor vai pagar para o cessionário. E se ele não pagar?

O art. 296 diz: o cedente não é responsável pela solvência do devedor, salvo se ele assumir essa responsabilidade.

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Cessão pro soluto – é quando o cedente não assume responsabilidade.

Cessão pro solvendo – é quando o cedente assume o dever de pagar caso o cedido não pague.

Uma coisa é garantir a existência da dívida, outra é garantir o seu pagamento.

Garantir a existência do crédito significa assegurar a titularidade e a validade ou consistência do direito adquirido.

O devedor tem que opor as exceções que ele tinha contra o cedente logo que ele for notificado de que é outro o seu credor.

Vamos imaginar que o devedor já pagou a dívida, aí o credor cede o crédito. De acordo com o CC, o cedente tem que dizer imediatamente ao cessionário que ele já pagou porque se ele não disser, ele vai ter que pagar de novo.

Se ele não é avisado, o código prefere dar direito ao cessionário, então este tem direito de cobrar, o devedor tem que pagar e aí este entrará com uma ação contra o cedente.

Dívida prescrita o juiz tem que extinguir de ofício.

03/05

Art. 292, CC

No momento que o devedor é notificado, ele tem o dever de apresentar as matérias que ele tem a alegar.

Ex: vamos imaginar que ele já pagou a dívida. Se o devedor (cedido) já pagou, no momento em que ele é notificado da cessão ele tem que contra notificar, ou seja, ele tem que mandar um aviso para o cessionário dizendo que ele já pagou porque se ele não fizer isso, ele perde o direito dessa defesa diante do cessionário.

Portanto, esse artigo é importante exatamente por isso, para obrigar o devedor a imediatamente alegar as matérias de defesa que ele tem.

Agora, uma das matérias que importa é a prescrição.

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Vamos supor que houve uma cessão de crédito prescrita (dívida prescrita não se exige), mas a dívida (temos um art.: 219, CPC) pode ser conhecida de ofício. Então quando se tratar de prescrição, não precisa o devedor avisar imediatamente porque o juiz de ofício reconhece a prescrição, então independente de ele falar na hora certa ou não, não vai ter influência nenhuma.

Art. 293, CC

Fala a respeito dos direitos do cessionário antes da notificação do devedor. O cessionário só tem direito contra o devedor após a notificação, que é aí que o devedor fica ciente da cessão.Mas o art. 293 diz que o cessionário tem direitos conservatórios. O que é isso?

Vamos supor que eu tenha um devedor, X. A dívida deve ser paga dentro de 30 dias. Aí eu fico sabendo (antes dos 30) que o devedor já largou da mulher, está vendendo todos os seus bens e vai se mudar. O que eu, credor, posso fazer antes de vencer a dívida? Arresto. É uma medida cautelar que está prevista no art. 813, I, CPC. Através do arresto eu peço para o juiz segurar os bens que ele tem antes de vencer, é uma garantia para o credor, mas tem que ficar demonstrado que ele está vendendo tudo e “fugindo”. Caso eu assim não faça, quando a dívida vencer o que eu vou encontrar para penhorar? Nada, ele já sumiu e os bens já foram todos vendidos, então eu tenho que ter o arresto.

Portanto, voltando ao art. 293, o cessionário tem direito de pleitear o arresto.

Quando o credor fala para o juiz (através do advogado, claro por meio da petição) que o devedor está vendendo todos os bens e etc. Suponhamos que ele tenha ainda uma moto. Esta vai ser penhorada para garantir o pagamento. Se ele tiver dinheiro no banco, o juiz bloqueia.

No direito civil o credor tem mais privilégio, mas de nada adiantará tais privilégios se o devedor não tiver bens (vai pegar o quê? Nada).

Art. 158, CC

Fraude de credores ocorre quando o devedor tem dívidas a pagar e aí ele passa o seu patrimônio para um comparsa, ou seja, a pessoa que sabe que é uma fraude. Isso é feito para prejudicar o credor.

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A fraude de credores depende do consilium fraudis. Ou seja, quem compra tem que saber, participar da fraude. Portanto, ela só existe quando o comprador participa do ato fraudulento.

Quando o comprador é de boa-fé, este não perde a propriedade que compra.

O cessionário na forma do art. 293 também pode entrar com ação de fraude de credores (além do arresto).

Art. 297, CC

Trata da cessão onerosa.

Antonio (cedente)

Walter (cessionário)

Pedro (devedor)

O Antonio é credor de Pedro. Valor é 100 mil reais. O Antônio resolve ceder o crédito, ou seja, passar para frente, e o Walter se interessa. Só que o Walter “aceita” comprar o crédito não por 100mil, mas ele vai pagar 80.000 (que é o que geralmente acontece). Quando o cessionário adquire um crédito, ele normalmente não paga o valor deste porque ainda não recebeu, ele vai receber, então a pessoa geralmente paga menos (é um risco).

Essa cessão foi feita pro solvendo (o cedente paga se o devedor não pagar o cessionário).

Chegou o dia do pagamento, Pedro não pagou. Como a cessão é pro solvendo, o cedente ficou obrigado perante o cessionário. Quanto é que o Antônio tem que pagar para o Walter? 80, pois ele recebeu 80 e não 100 do Walter. É o que diz o art. 297.