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CETCC- CENTRO DE ESTUDOS EM TERAPIA COGNITIVO- COMPORTAMENTAL PRISCILA LEMOS MARTINS FUNÇÕES EXECUTIVAS: ASPECTOS IMPORTANTES EM SEU DESENVOLVIMENTO São Paulo 2019

CETCC- CENTRO DE ESTUDOS EM TERAPIA COGNITIVO ...€¦ · CHARCHAT-FICHMAN, MALLOY-DINIZ, 2016 apud LURIA, 1976). Uehara, Mata, Charchat-Fichman, Malloy-Diniz (2016) destacam que

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CETCC- CENTRO DE ESTUDOS EM TERAPIA COGNITIVO-

COMPORTAMENTAL

PRISCILA LEMOS MARTINS

FUNÇÕES EXECUTIVAS: ASPECTOS IMPORTANTES EM SEU DESENVOLVIMENTO

São Paulo 2019

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PRISCILA LEMOS MARTINS

FUNÇÕES EXECUTIVAS: ASPECTOS IMPORTANTES EM SEU DESENVOLVIMENTO

Trabalho de conclusão de curso Lato Sensu Área de concentração: Neuropsicologia Orientadora: Profa. Dra. Renata Trigueirinho Alarcon

São Paulo 2019

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Fica autorizada a reprodução e divulgação deste trabalho, desde que citada à fonte.

Martins, Priscila Lemos Funções Executivas: aspectos importantes em seu desenvolvimento Priscila Lemos Martins, Renata Trigueirinho Alarcon – São Paulo, 2019. 27 f. + CD-ROM Trabalho de conclusão de curso (especialização) - Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental (CETCC). Orientadora: Profª. Drª. Renata Trigueirinho Alarcon 1 Função executiva, 2. Desenvolvimento das funções executivas. I. Martins, Priscila Lemos. II. Alarcon, Renata Trigueirinho.

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Priscila Lemos Martins

Funções Executivas: aspectos importantes em seu desenvolvimento

Monografia apresentada ao Centro de Estudos em

Terapia Cognitivo-Comportamental como parte das

exigências para obtenção do título de Especialista em Neuropsicologia

BANCA EXAMINADORA

Parecer: ____________________________________________________________

Prof. _____________________________________________________

Parecer: ____________________________________________________________

Prof. _____________________________________________________

São Paulo, ___ de ___________ de _____

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DEDICATÓRIA

Aos meus pais, que me deram a

possibilidade de conquistar tudo o que conquistei. Ao meu

marido e meu filho, pessoas que amo dividir a vida e que

tiveram paciência e compreensão nos meus momentos de

ausência e extremo cansaço. À minha avó, que sempre foi

minha maior fã. E à minha amiga inseparável Camyla, que foi

quem me motivou e incentivou a fazer a especialização e

sempre acreditou no meu potencial.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço à Profª. Camila de Masi, professora ímpar que coordenou o curso e

ministrou suas aulas de uma maneira que sempre manteve os alunos motivados e

mais apaixonados pela Neuropsicologia.

Agradeço à minha orientadora Profª. Drª. Renata Alarcon, que com toda sua

dedicação e paciência, me ajudou a fazer o melhor trabalho possível.

Agradeço também à minha supervisora Profª. Rejane Coan, por toda sua dedicação

em me orientar em meus casos e por compartilhar seu conhecimento comigo.

Aos meus queridos colegas de curso, que com seus incentivos e trocas de

conhecimento fizeram toda a diferença para a realização deste trabalho. A frase:

“Estaremos sempre de mãos dadas” ficará marcada para todo sempre.

Às minhas queridas amigas Ana e Letícia, que estiveram ao meu lado em todo

processo, me ouvindo e acalmando, com todo seu carinho e acolhimento.

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RESUMO O presente trabalho analisou como ocorre o desenvolvimento das funções

executivas, numa perspectiva neurobiológica e cognitiva. Em seguida, trouxe

informações de como as habilidades do funcionamento executivo ocorrem em uma

das etapas mais importantes de seu desenvolvimento: a infância. E finalmente,

analisou dados sobre fatores (estilos parentais, ambiente escolar e estilo de vida)

que podem impactar positivamente ou negativamente no desenvolvimento do

funcionamento executivo.

Palavras-chave: função executiva; neuropsicologia; síndrome disexecutiva;

habilidades cognitivas

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ABSTRACT

The present work analysed how it occurs the development of the executive functions,

in both, the neurobiological and the cognitive perspective. It also provides information

on how the executive functional abilities happen in one of the most crucial

development phases: childhood. Finally, were analysed the data regarding factors

such as: parenting style, school environment and lifestyle, that can impact either

negatively or positively in the executive performance development. Keywords: executive function; neuropsychology; dysexecutive syndrome; cognitive abilities.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8

2 OBJETIVO .............................................................................................................. 11

3 METODOLOGIA ..................................................................................................... 12

4 RESULTADOS ....................................................................................................... 13

5 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 22

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 24

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 25

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1 INTRODUÇÃO

As funções executivas (FEs) são um conjunto de habilidades cognitivas

necessárias para controlar nossos pensamentos, emoções e ações. As FEs

consistem um mecanismo de controle cognitivo que direciona e coordena o

comportamento humano de maneira adaptativa, permitindo mudanças rápidas e

flexíveis ante as novas exigências do ambiente (UEHARA, MATA, CHARCHAT-

FICHMAN, MALLOY-DINIZ, 2016).

Não existe um consenso sobre qual seria o modelo cognitivo perfeito das FEs.

Entretanto, CHEIB, GODOY, QUERINO, MALOY-DINIZ & SALLUM (2018),

acrescentam que o modelo proposto por Myiake (2000) tem grande aceitação na

literatura especializada. Por meio de uma análise fatorial, identificaram três grandes

fatores: Shifting (alternância), inhibition (inibição) e updating (atualização). Eles

acrescentam que Diamond (2013) aprimorou esse modelo aliando as evidências

psicométricas ao desenvolvimento das FEs no ciclo vital. Os propostos três fatores

receberam novos nomes, sendo agora controle inibitório (de inhibition); memória

operacional (de updating) e flexibilidade cognitiva (de shifting). Assim, essas três

FEs compreenderiam as funções nucleares, as quais outras funções de alta ordem,

tais como raciocínio abstrato, solução de problemas e planejamento se

desenvolveriam.

O controle inibitório permite ao indivíduo inibir, de forma consciente,

determinado aspectos com alta predisposição interna. É ele quem impede que o

indivíduo esteja à mercê de seus próprios impulsos. Ele possibilita ter domínio da

atenção, do pensamento, do comportamento e das emoções, de tal forma que se

consiga evitar distrações, impulsos e ações automáticas (COSTA, 2016).

Memória operacional é definida como a habilidade de manter uma informação

na mente por um curto período de tempo e manipulá-la e está relacionada à

capacidade de raciocínio, aprendizagem, compreensão e solução de problemas

(Baddeley & Hitch, 1974 apud CHEIB, GODOY, QUERINO, MALOY-DINIZ &

SALLUM, 2018).

Para um bom funcionamento da memória de trabalho é necessário que a

inibição cognitiva esteja bem desenvolvida, pois possibilita manter o foco nas

informações desejadas, mesmo na presença de algum pensamento involuntário. A

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memória de trabalho e o controle inibitório são mutuamente dependentes e

dificilmente funcionam separadamente. Ter em mente o objetivo é indispensável

para avaliar o que deve ser filtrado ou inibido. Mas, também, para trabalhar com

informações mentalmente, é preciso ter a capacidade de resistir a distrações

(COSTA, 2016).

E a última função executiva, flexibilidade cognitiva, é definida como a

capacidade de mudar de perspectiva com relação a um problema e ajustar-se de

maneira flexível a novas demandas, regras ou prioridades, ou oportunidades. Essa

habilidade se constrói com base nos outros dois componentes (para mudar de

perspectiva, manter em mente a nova perspectiva e inibir a anterior) e por isso,

surge mais tarde no desenvolvimento. Sem a flexibilidade cognitiva, os indivíduos

não conseguiriam tentar resolver um problema de outra forma, ajustar-se a

mudanças de prioridades, reconhecer erros e aproveitar oportunidades inesperadas

(COSTA, 2016).

Essas habilidades do funcionamento executivo estão diretamente

relacionadas ao córtex pré-frontal, que é última região cerebral a atingir maturação

durante o crescimento do indivíduo. Entre os 6 e 8 anos esse desenvolvimento é

bem intenso e tem sua continuidade até o final da adolescência e o inicio da vida

adulta (ROMINE e REYNOLDS, 2005). Entretanto, mesmo apresentando maturação

tardia, o desenvolvimento dessas funções inicia-se no primeiro ano de vida

(DIAMOND, 1996 apud MALLOY-DINIZ, SEDÓ, FUENTES, LEITE, 2008).

Alguns autores trazem o conceito de guarda-chuva para definir os processos

cognitivos que fazem parte das FEs. Cita-se o controle atencional e inibitório, a

memória de trabalho, a flexibilidade cognitiva, a identificação de metas, a iniciação

de tarefas, o planejamento e a execução de comportamentos e o monitoramento do

próprio desempenho (autorregulação) até que o objetivo seja alcançado (DELIS,

KAPLAN & KRAMER, 2001).

É importante ressaltar que as experiências que ocorrem nos primeiros anos

de vida entre pais e filhos são fundamentais para o desenvolvimento do cérebro e,

mais especificamente, para o desenvolvimento do lobo frontal e suas conexões, ou

seja, para o desenvolvimento das FEs. Sendo assim, algumas evidências sugerem

que a conduta utilizada pelos pais para direcionar o processo de educação de seus

filhos é considerada uma das experiências primárias mais relevantes para a

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constituição dessas funções durante os primeiros anos da infância (BERNIER,

WHIPPLE & CARLSON, 2010 apud SEABRA, LEÓN, MARTINS, 2013).

As FEs são fundamentais ao direcionamento e para garantir o bom

desempenho de várias habilidades intelectuais, emocionais e sociais. É importante

considerar que com o curso lento do seu desenvolvimento, alterações genéticas e

ambientais proporcionam vulnerabilidade preferencial e diferencial ao longo do

desenvolvimento e, portanto, são comuns os déficits nas FEs em diversos

transtornos psiquiátricos ou transtorno do déficit de atenção com hiperatividade

(CHEIB, GODOY, QUERINO, MALOY-DINIZ & SALLUM, 2018). Goldberg (2002

Apud DIAS & SEABRA, 2013) enfatiza que nenhuma outra perda cognitiva pode ser

tão comprometedora para o comportamento humano quanto a das FEs.

As habilidades que compõem as funções executivas são essenciais para o

controle consciente e deliberado sobre ações, pensamentos e ações. Assim, esse

trabalho tem como objetivo oferecer uma revisão não-sistemática sobre a relevância

da formação das funções executivas, assim como fatores que favorecem ou

desfavorecem seu pleno desenvolvimento.

Os resultados desse estudo foram divididos em subtemas: Desenvolvimento

das FEs; Síndromes disexecutivas e Aspectos essenciais para seu pleno

desenvolvimento, para uma maior explicação e melhor entendimento do assunto

abordado.

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2 OBJETIVO

Este trabalho teve como objetivo oferecer uma revisão não sistemática sobre

como ocorre o desenvolvimento das funções executivas, assim como fatores

importantes que podem impactar positivamente ou negativamente no curso desse

desenvolvimento.

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3 METODOLOGIA

Esse estudo será realizado através de pesquisa bibliográfica e serão

utilizados base de dados LILACS, Scielo, pubmed e Google acadêmico, além de

livros publicados relacionados ao tema.

Palavras-chave: função executiva, neuropsicologia, síndrome disexecutiva.

Keywords: executive functions, neuropsychological, dysexecutive syndrome

Os critérios de inclusão foram artigos e textos com os seguintes temas:

1. Desenvolvimento das funções executivas

2. Neurobiologia e Neuropsicologia das funções executivas

3. Avaliação das funções executivas

4. Funções executivas e suas alterações sem comorbidades específicas

5. Estilos parentais e funções executivas

Os critérios para exclusão foram artigos e textos com os seguintes temas:

1. Funções executivas com comorbidades específicas, como por exemplo,

transtorno do espectro autista.

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4 RESULTADOS

4.1 DESENVOLVIMENTO DAS FEs Em 1968, Luria propõe um modelo de funcionamento cerebral composto por

três unidades funcionais. Esse sistema é mediado por regiões neuroanatômicas e

funcionalmente hierárquicas que, ao trabalharem juntas, regulam todos os nossos

comportamentos e processo mentais (UEHARA, MATA, CHARCHAT-FICHMAN,

MALLOY-DINIZ, 2016).

A primeira unidade é composta pelo tronco encefálico e o diencefálo,

responsável pela regulação de funções fisiológicas básicas, como manutenção do

tônus cortical, da vigília e dos batimentos cardíacos. A segunda unidade inclui as

regiões parietal, temporal e occipital e é responsável por obter, analisar e armazenar

informações provenientes do meio externo e interno. Por fim, a terceira unidade

exerce as funções de programação, regulação e monitoramentos das atividades

mentais, compreendendo, principalmente, os lobos frontais (UEHARA, MATA,

CHARCHAT-FICHMAN, MALLOY-DINIZ, 2016 apud LURIA, 1976).

Uehara, Mata, Charchat-Fichman, Malloy-Diniz (2016) destacam que o

modelo das unidades funcionais de Luria trouxe a participação do córtex pré-frontal

em processos cognitivos superiores e que anteriormente, essa região do cérebro era

considerada uma espécie de lobo silencioso. As FEs envolvem o funcionamento de

diversas estruturas subcorticais, incluindo os núcleos da base, o tálamo e até

mesmo o cerebelo.

O córtex pré-frontal guarda múltiplas e recíprocas conexões com inúmeras

estruturas do encefálo, corticais e subcorticais. É geralmente dividido em três áreas:

o córtex pré-frontal lateral ou dorsolateral, o córtex cingulado anterior e a área

ventromedial, também designada por córtex orbitofrontal (DIAS, 2009).

Para além dessa divisão anatômica, sugere-se que o córtex pré-frontal não é

uma região homogênea, ou seja, há algum grau de segregação também funcional

entre as regiões pré-frontais. Tal segregação reflete tanto uma especificidade com

relação ao tipo de material a ser processado, havendo uma tendência do hemisfério

esquerdo a processar material lingüístico, enquanto o direito parece engajar-se em

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demandas de conteúdo visoespacial, quanto uma especificidade com relação ao tipo

de processamento envolvido (ELLIOT, 2003 apud DIAS, 2009).

Cada um dos circuitos pré-frontais tem a sua funcionalidade. O circuito

dorsolateral está mais relacionado às FEs lógico-abstratas, o circuito do cíngulo

anterior é particularmente importante para aspectos da motivação, do controle

executivo da atenção e para a seleção e o controle de respostas. Por sua vez, o

circuito orbito-frontal está relacionado a algumas dimensões do comportamento

social, como empatia, cumprimento de regras sociais, controle inibitório de respostas

socialmente inadequadas, tomada de decisão afetiva e autorregulação (MALLOY-

DINIZ, PAULA, SEDÓ, FUENTES &LEITE, 2014 apud UEHARA, MATA,

CHARCHAT-FICHMAN, MALLOY-DINIZ, 2016).

A região dorsolateral mantém conexões com áreas associativas parietais,

occipitais e temporais, além de conexões com o cingulado anterior e o córtex

orbitofrontal e regiões subcorticais, incluindo gânglios basais e tálamo (ESTÉVEZ-

GONZALEZ, 2000 apud DIAS, 2009) e está implicada nos mecanismos de memória

de trabalho, filtragem, dinâmica da informação, abarcando os processos de atenção

seletiva e inibição, planejamento e flexibilidade cognitiva (LENT, 2001 apud DIAS,

2009). Por sua vez, o córtex cingulado anterior, conectado ao córtex-pré-frontal

dorsolateral e a estruturas límbicas, sobretudo do lobo temporal medial, suporta a

operação de um sistema atencional executivo, monitorando a execução da tarefa

pelas demais regiões cerebral (GAZZANINGA, 2006; LENT, 2001 apud DIAS, 2009).

Assim, apesar do importante papel do córtex pré-frontal nas FEs, seria

simplista afirmar que tal estrutura é a única responsável por todos os processos

executivos. Diversas outras estruturas cerebrais participam e possibilitam estes

processos, compondo uma rede integrada, mutuamente interativa, porém as regiões

pré-frontais assumem posição hierárquica de controle, recrutando processos e

funções específicas por meio da mediação de outras estruturas cerebrais e, além,

monitorando sua execução. Com o aumento da demanda de uma tarefa, o córtex

pré-frontal é capaz de recrutar outras regiões cerebrais para dar conta do processo

em foco (ELLIOT, 2003).

Malloy-Diniz e colaboradores (2008) utilizam uma analogia do córtex pré-

frontal como um general ou maestro, coordenando, por meio de suas interconexões,

outras estruturas e sistemas neurais.

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No cérebro humano existem dendritos de neurônios piramidais da camada III

do córtex pré-frontal dorsolateral que passam por expansões drásticas durante o

primeiro ano de vida. O nível de metabolismo de glicose no córtex pré-frontal

dorsolateral aumenta e se aproxima dos níveis da vida adulta por volta do primeiro

ano de idade. Os níveis de dopamina nessa região também se encontram elevados

durante esse período e sabe-se que esse é um neurotransmissor de extrema

importância para o córtex pré-frontal (DIAMOND, 2001 apud CHEIB, GODOY,

QUERINO, MALOY-DINIZ & SALLUM, 2018).

De acordo com DIAS e SEABRA (2013), existem evidências de que a primeira

habilidade a emergir seja a inibição, por volta dos 12 meses. Porém, nesse estágio

do desenvolvimento, essa habilidade é muito incipiente e, até aproximadamente os 3

anos de idade, os comportamentos infantis ainda são predominantemente

espontâneos, refletindo reações do ambiente. É apenas entre 4 e 5 anos que as

crianças se tornam progressivamente mais capazes de inibir a reação inicial e de

agir de modo mais ponderado.

Os primeiros sinais da memória de trabalho surgem entre 7 e 8 meses, mas, é

apenas a partir dos 3 anos até aproximadamente 5 anos, que as crianças precisarão

cada vez menos da presença e da manipulação física do objeto para pensar sobre

ele. Elas se tornam capazes de criar imagens mentais e operar sobre elas (DIAS &

SEABRA, 2013). No período de 9 a 12 anos, a memória de trabalho sofre um salto

significativo em sua capacidade e eficiência e torna-se menos sensível a

interferências (UEHARA, MATA, CHARCHAT-FICHMAN, MALLOY-DINIZ, 2016

apud LEON-CARRION, GARCIA-ORZA, & PEREZ-SANTAMARIA, 2004).

Com relação à flexibilidade, Dias e Seabra (2013) relatam que essa

habilidade começaria a se desenvolver mais tardiamente, pois envolveria também as

outras habilidades. Como dito anteriormente, para tomar uma perspectiva diferente,

seria necessário antes, inibir a perspectiva prévia e, ainda, ativar na memória de

trabalho a nova abordagem ao problema. A sugestão é de que a flexibilidade tem

seu desenvolvimento significativo entre os 5 e 7 anos de idade, apesar do contínuo

crescimento ao longo da infância e adolescência.

Dessa forma, inicialmente até os 3 anos de idade emergem habilidades

básicas e, entre os 3 e 5 anos de idade, tais habilidades ainda em desenvolvimento,

são integradas, permitindo a criança maior controle de seu comportamento. Nesse

período há a emergência e o desenvolvimento de habilidades como a inibição,

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atenção seletiva, memória de trabalho e de aspectos metacognitivos, que permitem

a criança avaliar o produto de suas ações e saber se um comportamento é ou não

adequado às regras ou contextos específicos. A partir dessa idade, as crianças se

tornam capazes de se engajar em comportamentos mais complexos, tomar decisões

e planejar, dividir comportamentos complexos em sequências e os recombinar em

novas formas para resolução de novos problemas ou objetivos, o que exige a

atuação integrada de outras habilidades do funcionamento executivo (ROSARIO,

NUNES, GOLZÁLEZ-PIENDA, 2007).

CHEIB, GODOY, QUERINO, MALOY-DINIZ & SALLUM (2018) relatam que

no período da adolescência existe um aumento da impulsividade, falha no controle

inibitório e padrão de escolhas mais imediatistas. Ernst, Pine e Hardin (2006 apud

CHEIB, GODOY, QUERINO, MALOY-DINIZ & SALLUM 2018) propõem um modelo

triádico neurobiológico do comportamento motivado em adolescentes. O modelo

indica três sistemas: 1. De aproximação – busca por recompensas (associado ao

estriado ventral); 2. De evitação de danos (associada à amídala) e 3. Regulador

(associado ao córtex pré-frontal). Eles explicam que nessa fase, os sistemas

regulatório – de FEs – e de evitação de danos, estão menos ativados, enquanto o

sistema de aproximação está mais ativado. Isso explicaria o comportamento mais

impulsivo nessa idade.

As FEs demoram a se desenvolver, atingindo seu pico de funcionamento

entre os 20 e 30 anos, mas também começam a declinar rapidamente. Seu declínio

acontece nos anos finais da vida adulta, antes da senescência. Nesse período, são

notadas dificuldades no controle inibitório, maior comportamento perseverativo, erros

de distração e dificuldades atencionais. De fato, existe uma diminuição maior no

volume do córtex pré-frontal nessa idade em comparação com outras regiões

(HAUG & EGGERS, 1991 apud CHEIB, GODOY, QUERINO, MALOY-DINIZ &

SALLUM, 2018), o que explica o declínio mais rápido das FEs. Apesar desse

declínio, observa-se que, em relação à tomada de decisão, adultos mais velhos

tendem a serem menos impulsivos e a ter escolhas menos imediatistas do que

adultos jovens (GREEN, FRY, & MYERSON, 1994 apud CHEIB, GODOY,

QUERINO, MALOY-DINIZ & SALLUM, 2018).

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4.2 SÍNDROMES DISEXECUTIVAS Sobre o comprometimento das habilidades executivas, que é chamado de

síndrome disexecutiva, compreende-se alterações cognitivo-comportamentais

importantes, associadas a prejuízos significativos na vida cotidiana dos indivíduos.

Algumas dessas dificuldades são: dificuldades na seleção de informação,

distratibilidade, dificuldades na tomada de decisão, problemas de organização,

comportamento perseverante ou estereotipado, dificuldade no estabelecimento de

novos repertórios comportamentais, dificuldades de abstração e de antecipação das

conseqüências de seu comportamento (DIAS, MENEZES & SEABRA, 2010).

Pode-se acrescentar a essas dificuldades, o imediatismo comportamental e o

prejuízo no ajuste social do comportamento (LENT, 2001 apud DIAS, 2009) e se

relevam os prejuízos em habilidades de planejamento, memória evocativa e mesmo

em linguagem expressiva (SABOYA, FRANCO & MATTOS, 2002 apud DIAS, 2009).

Em suma, alterações estruturais alterações estruturais ou funcionais dos lobos pré-

frontais ou de seus circuitos podem ocasionar diversos transtornos comportamentais

dissociativos (GARCIA-MOLINA, 2008 apud DIAS, 2009).

Alterações estruturais ou funcionais dos lobos pré-frontais ou de seus

circuitos podem ocasionais diversos transtornos comportamentais desadaptativos

(GARCIA-MOLINA, 2008 apud DIAS, MENEZES & SEABRA, 2010).

Assim, alterações no controle executivo têm sido percebidas em diversos

transtornos, além de estarem relacionadas com o desempenho escolar de crianças e

adolescentes. Transtornos de comportamento disruptivo, como Transtorno do déficit

de atenção e hiperatividade – TDAH; transtornos globais do desenvolvimento, como

no espectro autista; transtornos de aprendizagem, como a dislexia e discalculia;

quadros neurológicos, como a epilepsia; abuso de substâncias e quadros

sindrômicos, como a Síndrome de Down. Dias e Seabra (2013) também relatam que

alterações nas FES tem sido encontradas na ausência de qualquer quadro

diagnóstico, ou seja, habilidades cognitivas podem não estar se desenvolvendo

adequadamente.

As síndromes disexecutivas podem apresentar diferentes manifestações

comportamentais, variando desde apatia até um quadro de desinibição ou mesmo

apresentando uma ou mais habilidades cognitivas comprometidas, como

desatenção, planejamento empobrecido, déficits de memória operacional, entre

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outros (BORGES, COUTINHO, MALLOY-DINIZ, MATTOS, MIELE E RABELLO,

2010). Os mesmos autores ainda ressaltam que apesar de ser possível observar

nítido comprometimento funcional associado a déficits de FEs, clínicos

frequentemente apresentam dificuldade para documentar esses déficits utilizando

testes neuropsicológicos, tendo em vista que grande parte dos testes apresenta

baixa sensisbilidade.

DIAS, MENEZES & SEABRA (2010), contam sobre um estudo onde um

menino de 8 anos com agenesia da região pré-frontal do lobo frontal foi avaliado.

Além de prejuízos formais do funcionamento executivo, eles descreveram a

presença de problemas comportamentais, como a dificuldade de julgar ações, a

impossibilidade de internalizar regras sociais e ausência de limites, além de

problemas motivacionais para encerrar atividades iniciadas, mesmo de aquelas de

cunho recreativo.

Apesar de necessitar de maior comprovação, Dias (2009) relata sobre o

estudo de Nigg (2001) em que o TDAH reflete uma alteração no funcionamento

executivo, mais especificamente, um prejuízo na habilidade de inibir o

comportamento, o que teria conseqüências diretas sobre o auto-controle do

individuo.

A mesma autora relata sobre uma revisão de Mahone e Silverman (2008) em

que eles verificaram que a maturação do córtex pré-frontal de crianças com TDAH é

atrasada de dois a cinco anos em relação a controles, porém a maturação das áreas

motoras primárias destas crianças é adiantada, sugerindo um desenvolvimento

atípico que conduziria a uma excessiva atividade motora destas crianças e uma

falha em inibir tais comportamentos inadequados pelo córtex pré-frontal, ainda

imaturo. 4.3 ASPECTOS IMPORTANTES PARA MELHOR DESENVOLVIMENTO E FUNCIONAMENTO DAS FEs LEON, MARTINS & SEABRA (2016) relatam que o cuidado parental e a

qualidade do vínculo afetivo fornecem um contexto seguro e ordenado de

relacionamento em que as crianças podem, gradualmente, aprender a usar o

pensamento autorregulado e desenvolver as ações que definem as FEs.

Page 21: CETCC- CENTRO DE ESTUDOS EM TERAPIA COGNITIVO ...€¦ · CHARCHAT-FICHMAN, MALLOY-DINIZ, 2016 apud LURIA, 1976). Uehara, Mata, Charchat-Fichman, Malloy-Diniz (2016) destacam que

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O estabelecimento de vínculos positivos com os adultos cuidadores, na

família ou na escola, potencializa o desenvolvimento saudável da criança. Interações

sociais adequadas à formação de um bom funcionamento executivo devem incluir

também incentivo e orientação ao longo do processo de aquisição de autonomia

pelas crianças. O ambiente tem que ser propício para que as crianças pratiquem as

habilidades em desenvolvimento. (COSTA, 2016)

As FEs constituem uma aquisição complexa que é frágil e extremamente

vulnerável a condições negativas de diversos tipos, desde fatores genéticos ou

adversidades no ambiente vivenciado pela criança, como já dito anteriormente.

Então, Costa (2016) relata que a exposição das crianças ao estresse afeta a

dinâmica dos circuitos cerebrais e prejudica tanto a aquisição de habilidades do

funcionamento executivo, como a utilização de capacidades já construídas e que

essas crianças apresentam um menor desenvolvimento das capacidades de

memória e controle inibitório, por exemplo.

Costa (2016) traz o exemplo de crianças que sofreram agressões físicas e

que apresentam prejuízos no desenvolvimento da capacidade de atenção. Crianças

que sofreram abusos e negligência ou foram criadas em orfanatos também

apresentam resultados insatisfatórios quanto ao desenvolvimento das FEs. Também

apresenta que a baixa condição socioeconômica pode representar uma condição

adversa à aquisição dessas habilidades, na medida em que famílias com maior

privação material podem ter dificuldade em construir ou acessar ambientes

favoráveis ao desenvolvimento infantil e que podem apresentar problemas de

memória de trabalho, controle inibitório e flexibilidade cognitiva.

Com o desenvolvimento do indivíduo, cada vez mais aspectos da vida ficarão

sob o seu controle e as funções executivas são fundamentais para que esse

gerenciamento seja feito da melhor forma possível. É importante ressaltar que o

desenvolvimento das FEs na primeira infância, será fundamental para a formação de

habilidades cognitivas em fases posteriores da vida. Assim, percebe-se a relação

entre o nível de desenvolvimento das FEs na infância e diversos indicadores de

qualidade de vida na fase adulta.

SEABRA e colaboradores (2014) trazem evidências que crianças com FEs

pobres podem apresentar dificuldades para prestar atenção à aula, para completar

trabalhos e para inibir comportamentos impulsivos. Escrever, tomar notas, fazer

cálculos, ler e compreender textos complexos pode ser particularmente difícil, o que

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pode ser explicado pelo fato de indivíduos com déficits executivos frequentemente

experimentarem uma sobrecarga de informações, se desorganizarem e, assim, não

conseguirem iniciar, retomar ou finalizar a tarefa. Como consequência, seu

desempenho em diversas áreas pode ficar comprometido e suas notas podem não

refletir sua real habilidade intelectual (MELTZER & BAGNATO, 2010 apud SEABRA,

MUNIZ, REPPOLD, DIAS, SIQUARA, TOURINHO, GURGEL & TEIXEIRA, 2014).

Assim, ambientes escolares que proporcionam o desenvolvimento das

funções executivas, ensinando estratégias que auxiliem as crianças a inibir

impulsos, planejar, organizar-se, focalizar a atenção e mesmo regular suas

emoções, possuem ganhos significativos nas áreas de desempenho escolar (DIAS E

SEABRA, 2013). As autoras também relatam aspectos importantes que poderiam

estar nos programas curriculares para promover as FEs: (1) o foco no “como

aprender” e não só no produto final, refletindo a opinião de que as habilidades

executivas precisam e devem ser ensinadas; (2) a promoção de oportunidades para

que a crianças possa praticar e exercitar FEs em diferentes situações; (3) o uso da

linguagem como ferramenta auto-regulatória; (4) condução de atividades em pares

ou grupos maiores para permitira a regulação mútua de comportamentos; (5) uso de

mediadores e ensino de estratégias; (6) instrução direta e explícita, com recurso a

modelagem e prática; (7) necessidade do envolvimento e engajamento da criança no

processo; e (8) modo de interação e papel do professor, com clara ênfase em

oferecer maior suporte inicial e, gradativamente, retirar esse apoio, provendo

autonomia crescente à criança.

Alguns autores afirmam que as práticas da atividade física também mostram

melhorias no funcionamento executivo. Isso porque, mais do que a demanda

cardiorrespiratória, é extremamente importante a disciplina, autorregulação e a

atenção plena, controle cognitivo semelhante ao construto da atenção focalizada

(CHEIB, GODOY, QUERINO, MALOY-DINIZ & SALLUM, 2018). A atividade física

também minimiza a degeneração progressiva que ocorre associada ao processo de

envelhecimento, e se constitui como coadjuvante à manutenção da autonomia e

independência, fundamentais ao desempenho das atividades da vida diária.

Diamond (2015) salienta que em contraposição com o treino aeróbico e treino

de força, as artes marciais e o yoga mostram ser mais eficazes no melhoramento do

funcionamento executivo de crianças, exatamente pela disciplina e autorregulação

que essas práticas desenvolvem.

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Assim, vale à pena ressaltar que, além do estímulo direto ao desenvolvimento

do funcionamento executivo, é importante dar atenção às condições que

indiretamente afetam as FEs. Tendo em vista que o corpo humano é integrado,

atividades que atendam às necessidades físicas, emocionais e sociais das crianças

cooperam de forma relevante para o desenvolvimento do córtex pré-frontal e das

funções executivas.

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5 DISCUSSÃO

Pode-se perceber que não existe um consenso sobre qual seria o modelo

cognitivo perfeito de FEs, porém conclui-se que essas consistem em processos

cognitivos de alta complexidade, que compreende três principais habilidades:

controle inibitório; memória operacional e flexibilidade cognitiva.

Com base nesse trabalho, acredita-se que funcionamento executivo está

relacionado a diferentes dimensões da vida das pessoas. A trajetória da evolução

dessas habilidades ao longo do tempo não depende somente da integridade do

córtex pré-frontal, mas os estímulos que o cérebro recebe são fundamentais para a

formação dessas habilidades.

Pode-se perceber que os períodos de desenvolvimento das FEs encontram

grande relação com os períodos de maturação do córtex pré-frontal e de suas

conexões subcorticais. Alguns períodos deste desenvolvimento tem suma

importância: aos 7 e 8 meses se iniciam lentamente a aquisição de habilidades das

FEs. Também existe um pico no desenvolvimento de tais habilidades entre os 4 e 5

anos e outro aos 18 anos de idade aproximadamente, com estabilização na vida

adulta e seu declínio na velhice.

Dias (2009) enfatizou que o desenvolvimento das FEs não possui trajetória

única. Apontando para trajetórias desenvolvimentais diferenciais para o controle

cognitivo, sendo que habilidades mais simples, como a requerida em uma tarefa de

detecção de alvo, parecem ter curso desenvolvimentais mais curtos comparado a

habilidades mais complexas.

O presente trabalho mostrou a relevância da formação das FEs durante a

primeira infância, assim é importante se atentar para os ambientes familiares e

escolares que favorecem o desenvolvimento e a aprendizagem dessas habilidades.

A criação de vínculos, interações sociais positivas e ambiente seguro propiciam

diretamente a aquisição de importantes habilidades, como memória de trabalho,

controle inibitório e flexibilidade cognitiva.

O desenvolvimento emocional é formado a partir de uma diversidade de

habilidades cognitivas, incluindo a capacidade de regular o comportamento com

flexibilidade, de forma voluntária, exigindo esforço, dependendo fortemente do

amadurecimento dos lobos frontais. A regulação cognitiva e emocional parecem se

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desenvolver em conjunto, exibindo um forte desenvolvimento durante o período pré-

escolar e um curso de desenvolvimento mais demorado durante a infância posterior

e adolescência (PAZ-ALONSO, RUEDA, 2013).

Déficits em FEs podem se associar a comprometimento signitificativo em

atividades cotidianas, incluindo área acadêmica e profissional.

Outro achado importante desse estudo foi acerca de que alguns autores

acreditam que o TDAH deveria ser compreendido como uma síndrome disexecutiva.

Déficits no funcionamento executivo estão freqüentemente associadas ao

diagnóstico de TDAH, conduzindo a diversos comprometimentos em atividades

cotidianas. E pode-se perceber que as dificuldades estão, muitas vezes, mais

associadas a dificuldades de inibição cognitiva.

Uma das limitações desse estudo foi à carência de artigos científicos

relacionando atividade física e alimentação com o funcionamento executivo. Porém,

nos estudos encontrados, houve uma significância importante no papel que a

atividade física tem em relação às FEs, acrescentando que além de uma

autoconsciência corporal, oferece um maior controle cognitivo. No que diz respeito à

alimentação, não foi encontrado artigos científicos que estudaram essa relação.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo buscou investigar os principais aspectos do

desenvolvimento das funções executivas, assim como seu impacto na vida cotidiana

do indivíduo.

O desenvolvimento das FEs possui uma trajetória não linear, sendo uma das

últimas áreas cerebrais a amadurecer estruturalmente e sua maturidade funcional só

pode ser observada no inicio da idade adulta.

Ressaltou-se que a primeira infância constitui um momento fundamental para

o desenvolvimento do ser humano, uma vez que nessa etapa da vida se dá o início

do desenvolvimento das FEs.

Assim como a qualidade da parentalidade também exerce fundamental

importância ao desenvolvimento das funções executivas. Interações positivas

aumentam a motivação da criança para aprender a explorar, controlar e interagir

com o mundo externo. Assim como, interações e estímulos negativos na infância e

adolescência podem formar adultos com diversos problemas.

Quando existe um comprometimento biológico dessas habilidades ou elas

não se desenvolveram adequadamente, o individuo pode se tornar desatento,

impulsivo, apresentar dificuldades em regular suas emoções, dificuldade de

planejamento, dificuldades na solução de problemas, dificuldades em finalizar

atividades e até um agravamento de quadros neuropsiquiátricos.

Assim, conclui-se então que com desenvolvimento e interações sociais

saudáveis na primeira infância, se têm um pleno desenvolvimento das habilidades

iniciais associadas às FEs; em conseqüência, na adolescência, haverá um

aprimoramento dessas habilidades desenvolvidas anteriormente e como

decorrência, na vida adulta, haverá maior saúde física, mental e emocional, melhor

desempenho na vida acadêmica, melhores condições de emprego e menores

chances de adotar comportamentos de risco (seja ele, usar drogas ou cometer

crimes).

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ANEXO

Termo de Responsabilidade Autoral

Eu Priscila Lemos Martins, afirmo que o presente trabalho e suas devidas

partes são de minha autoria e que fui devidamente informado da responsabilidade

autoral sobre seu conteúdo.

Responsabilizo-me pela monografia apresentada como Trabalho de

Conclusão de Curso de Especialização em Terapia Cognitivo Comportamental, sob

o título “Funções executivas: aspectos importantes em seu desenvolvimento”,

isentando, mediante o presente termo, o Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-

Comportamental (CETCC) e meu orientador de quaisquer ônus consequentes de

ações atentatórias à "Propriedade Intelectual", por mim praticadas, assumindo,

assim, as responsabilidades civis e criminais decorrentes das ações realizadas para

a confecção da monografia.

São Paulo, __________de ___________________de______.

_______________________

Assinatura do (a) Aluno (a)