Chico Xavier - Livro 6 - Ano 1938 - Brasil Coração do Mundo Pátria do Evangelho

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    Francisco

    Cndido

    Xavier

    PELO ESPIRITO

    HUMBERTO DE CAMPOS

    A primeira edio desta obrafoi publicada em 1938

    FEDERAO ESPRITA BRASILEIRADEPARTAMENTO EDITORIAL E GRFICO

    Rua Souza Valente, 1720941-040 Rio-RJ Brasil

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    Esta numerao corresponde ao livro impresso, o textodigital no considerou as folhas em branco.

    NDICE

    Prefcio .......................................................... 9Esclarecendo ................................................... 13O Corao do Mundo ................................... 19A Ptria do Evangelho ................................ 27Os degredados .................................................. 35Os missionrios ................................................. 41Os escravos ..................................................... 49A civilizao brasileira ................................ 57Os negros do Brasil ......................................... 65A Invaso Holandesa........................................ 73A restaurao de Portugal ........................... 81

    As Bandeiras ..................................................... 89Os movimentos nativistas ................................ 97No tempo dos vice-reis ................................ 103Pombal e os jesutas ....................................... 109A Inconfidncia Mineira ................................. 117A Revoluo Francesa .................................. 125D. Joo VI no Brasil ....................................... 133

    Primrdios da Emancipao............................. 141No limiar da Independncia ............................ 147A Independncia .............................................. 153D. Pedro II......................................................... 161Fim do primeiro reinado ................................. 167Bezerra de Menezes ......................................... 175A obra de Ismael ............................................ 181

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    A Regncia e o segundo reinado ................... 187A guerra do Paraguai ................................. 193

    O movimento abolicionista ............................. 201A Repblica ...................................................... 209A Federao Esprita Brasileira ................... 217O Espiritismo no Brasil ................................ 225Ptria do Evangelho.................................... 233

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    PrefcioMeus caros filhos. Venho falar-vos do trabalho

    em que agora colaborais com o nosso amigo desen-carnado, no sentido de esclarecer as origens remo-tas da formao da Ptria do Evangelho a quetantas vezes nos referimos em nossos diversos co-

    municados. O nosso irmo Humberto tem, nesseassunto, largo campo de trabalho a percorrer, comas suas facilidades de expresso e com o espritode simpatia de que dispe, como escritor, em faceda mentalidade geral do Brasil.

    Os dados que ele fornece nestas pginas foramrecolhidos nas tradies do mundo espiritual, onde

    falanges desveladas e amigas se renem constante-mente para os grandes sacrifcios em prol da huma-nidade sofredora. Este trabalho se destina a explicara misso da terra brasileira no mundo moderno.Humboldt, visitando o vale extenso do Amazonas,exclamou, extasiado, que ali se encontrava o celeirodo mundo. O grande cientista asseverou uma grandeverdade: precisamos, porm, desdobr-la, estenden-do-a do seu sentido econmico sua significaoespiritual. O Brasil no est somente destinado asuprir as necessidades materiais dos povos maispobres do planeta, mas, tambm, a facultar aomundo inteiro uma expresso consoladora de crenae de f raciocinada e a ser o maior celeiro de clari-dades espirituais do orbe inteiro. Nestes tempos de

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    confusionismo amargo, consideramos de utilidadeum trabalho desta natureza e, com a permisso dos

    nossos maiores dos planos elevados, empreendemosmais esta obra humilde, agradecendo a vossa desin-teressada e espontnea colaborao. Nossa tarefavisa a esclarecer o ambiente geral do pas, argamas-sando as suas tradies de fraternidade com o ci-mento das verdades puras, porque, se a Grcia e aRoma da antigidade tiveram a sua hora, como

    elementos primordiais das origens de toda a civili-zao do Ocidente; se o imprio portugus e o espa-nhol se alastraram quase por todo o planeta; se aFrana, se a Inglaterra tm tido a sua hora proemi-nente nos tempos que assinalam as etapas evolutivasdo mundo, o Brasil ter tambm o seu grande mo-mento, no relgio que marca os dias da evoluo dahumanidade.

    Se outros povos atestaram o progresso, pelasexpresses materializadas e transitrias, o Brasilter a sua expresso imortal na vida do esprito, re-presentando a fonte de um pensamento novo, sem asideologias de separatividade, e inundando todos oscampos das atividades humanas com uma nova luz.Eis, em sntese, o porqu da nossa atuao, nesse

    sentido. O nosso irmo encontra mais facilidade paravazar o seu pensamento em soledade com o mdium,como se ainda se encontrasse no seu escritrio soli-trio; da a razo por que as pginas em apreoforam produzidas de molde a se aproveitarem asoportunidades do momento. Pecamos a Deus queinspire os homens pblicos, atualmente no leme da

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    Ptria do Cruzeiro, e que, nesta hora amarga em quese verifica a inverso de quase todos os valores

    morais, no seio das oficinas humanas, saibam elescolocar muito alto a magnitude dos seus precpuosdeveres. E a vs, meus filhos, que Deus vos forta-lea e abenoe, sustentando-vos nas lutas depura-doras da vida material.

    EMMANUEL

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    Esclarecendo

    Todos os estudiosos que percorreram o Brasil,estudando alguns detalhes dos seus oito milhes emeio de quilmetros quadrados, se apaixonarampela riqueza das suas possibilidades infinitas. Emi-nentes gelogos definiram-lhe os tesouros do solo enaturalistas ilustres lhe classificaram, a fauna e aflora, maravilhados ante as suas prodigiosas sur-

    presas. Nas paisagens suntuosas e inditas, onde ocalor suave dos trpicos alimenta e perfuma todasas coisas, h sempre um trao de beleza e de origi-nalidade empolgando o esprito do viajor sedentode emoes.

    Afs, se numerosos pensadores e artistas not-veis lhe traduziram a grandiosidade de mundo novo,

    contando "l fora" as inesgotveis reservas do gi-gante da Amrica, todo esse esprito analtico nopassou da esfera superficial das apreciaes, porqueno viram o Brasil espiritual, o Brasil evanglico,em cujas estradas, cheias de esperana, luta, sonhae trabalha o povo fraternal e generoso, cuja alma a "flor amorosa de trs raas tristes", na expressoharmoniosa de um dos seus poetas mais eminentes.

    As reservas brasileiras no se circunscrevem aomundo de ao do progresso material, que impressionoufortemente o esprito de Humboldt, mas se estendem,infinitamente, ao mundo de ouro dos coraes, onde opas escrever a sua epopia de realizaes morais, emfavor do mundo.Jesus transplantou da Palestina para a regio do Cru-

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    zeiro a rvore magnnima do seu Evangelho, a fim deque os seus rebentos delicados florescessem de novo,

    frutificando em obras de amor para todas as criaturas.Ao cepticismo da poca soar estranhamente uma afir-mativa desta natureza. O Evangelho ? No seria merafico de pensadores do Cristianismo o repositrio desuas lies ? No foi apenas um cntico de esperanado povo hebreu, que a Igreja Catlica adaptou para ga-rantir a coroa na cabea dos prncipes terrestres? No

    ser uma palavra vazia, sem significao objetiva naatualidade do globo, quando todos os valores espiritu-ais pare-cem descer ao sepulcro caiado" da transio eda decadncia? Mas, a realidade que, no obstantetodas as surpresas das ideologias modernas, a lio doCristo a est no planeta, aguardando a compreensogeral do seu sentido profundo. Sobre ela, levantaram-sefilosofias complicadas e as mais extra vagantes teorias

    salvacionistas. Em seu favor, muitos milhares de livrosforam editados e algumas guerras ensangentaram oroteiro dos povos. Entretanto, a sublime exemplifica-o do Divino Mestre, na sua expresso pura e sim-ples, s pede a humildade e o amor da criatura, para serdevidamente compreendida. Do seu entendimento decor-re aquele "Reino de Deus" em cada corao, de que fa-

    lava o Senhor nas suas meigas pregaes do Tiberades reino de amor fraternal, cuja luz o nico elementocapaz de salvar o mundo, que se encaminha para osdesfiladeiros da destruio.

    E os verdadeiros aprendizes, os crentes sinceros nopoder e na misericrdia do Senhor, esperam, com osseus labores obscuros, o advento da cristianizao da

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    origens profundas no plano espiritual, de onde Jesus,pelas mos carinhosas de Ismael, acompanha desve-

    ladamente a evoluo da ptria extraordinria, emcujos cus fulguram as estrelas da cruz. So elas,ainda, um grito de f e de esperana aos que esta-cionam no meio do caminho. Ditadas pela voz dequem j atravessou as estradas poeirentas e tristesda Morte, dirigem-se aos meus companheiros eirmos da mesma comunidade e da mesma famlia,

    exclamando: Brasileiros, ensarilhemos, para sempre, asarmas homicidas das revolues!... Consideremoso valor espiritual do nosso grande destino.' Engran-deamos a ptria no cumprimento do dever pelaordem, e traduzamos a nossa dedicao mediante otrabalho honesto pela sua grandeza! Consideremos,acima de tudo, que todas as suas realizaes ho demerecer a luminosa sano de Jesus, antes de se fi-xarem nos bastidores do poder transitrio e prec-rio dos homens! Nos dias de provao, como nashoras de venturas, estejamos irmanados numa docealiana de fraternidade e paz indestrutvel, dentroda qual deveremos esperar as claridades do futuro.No nos compete estacionar, em nenhuma circuns-

    tncia, e sim marchar, sempre, com a educao ecom a f realizadora, ao encontro do Brasil, na suaadmirvel espiritualidade e na sua grandeza impe-recvel!

    HUMBERTO DE CAMPOS. (Esprito)

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    O CORAO DO MUNDO

    O inundo poltico e social do Ocidente encon-tra-se exausto.Desde as pregaes de Pedro, o Eremita, at a

    morte do Rei Lus IX, diante de Tnis, acontecimen-to que colocara um dos derradeiros marcos nas guer-ras das Cruzadas, as sombras da idade medievalconfundiram as lies do Evangelho, ensangentando

    todas as bandeiras do mundo cristo.Foi aps essa poca, no ltimo quartel do sculoXTV, que o Senhor desejou realizar uma de suasvisitas peridicas Terra, a fim de observar os pr-gressos de sua doutrina e de seus exemplos no cora-o dos homens.

    Anjos e Tronos lhe formavam a corte mara-vilhosa. Dos cus Terra, foi colocado outro smbolo

    da escada infinita de Jacob, formado de flores e deestrelas cariciosas, por onde o Cordeiro de Deustransps as imensas distncias, clarificando os cami-nhos cheios de treva. Mas, se Jesus vinha do coraoluminoso das esferas superiores, trazendo nos olhosmisericordiosos a viso dos seus imprios resplan-decentes e na alma profunda o ritmo harmonioso

    dos astros, o planeta terreno lhe apresentava aindaaquelas mesmas veredas escuras, cheias da lama daimpenitncia e do orgulho das criaturas humanas, erepletas dos espinhos da ingratido e do egosmo.Embalde seus olhos compassivos procuraram o ninhodoce do seu Evangelho; em vo procurou o Senhoros remanescentes da obra de um de seus ltimos

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    enviados face do orbe terrestre. No corao daUmbria haviam cessado os cnticos de amor e de

    fraternidade crist. De Francisco de Assis s haviamficado as tradies de carinho e de bondade; os pe-cados do mundo, como novos lobos de Gbio, haviamdescido outra vez das selvas misteriosas das iniqi-dades humanas, roubando s criaturas a paz e ani-quilando-lhes a vida. Helil disse a voz suave e meiga do Mestre

    a um dos seus mensageiros, encarregado dos proble-mas sociolgicos da Terra meu corao se enche deprofunda amargura, vendo a incompreenso doshomens, no que se refere s lies do meu Evange-lho. Por toda parte a luta fratricida, como polvode infinitos tentculos, a destruir todas as esperan-as; recomendei-lhes que se amassem como irmos,e vejo-os em movimentos impetuosos, aniquilando-se

    uns aos outros como Cains desvairados.Todavia replicou o emissrio solcito,

    como se desejasse desfazer a impresso dolorosa eamarga do Mestre esses movimentos, Senhor, in-tensificaram as relaes dos povos da Terra, aproxi-mando o Oriente e o Ocidente, para aprenderem alio da solidariedade nessas experincias penosas;

    novas utilidades da vida foram descobertas; o co-mrcio progrediu alm de todas as fronteiras, reu-nindo as ptrias do orbe. Sobretudo, devemos con-siderar que os prncipes cristos, empreendendo asiniciativas daquela natureza, guardavam a nobreinteno de velar pela paisagem deliciosa dos Luga-res Santos.

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    Mas retornou tristemente a voz compas-siva do Cordeiro qual o lugar da Terra que no

    santo? Em todas as partes do mundo, por maisrecnditas que sejam, paira a bno de Deus, con-vertida na luz e no po de todas as criaturas. Eraprefervel que Saladino guardasse, para sempre,todos os poderes temporais na Palestina, a que casseum s dos fios de cabelo de um soldado, numa guerraincompreensvel por minha causa, que, em todos os

    tempos, deve ser a do amor e da fraternidade uni-versal.E, como se a sua vista devassasse todos os mis-

    trios do porvir, continuou: Infelizmente, no vejo seno o caminho do

    sofrimento para modificar to desoladora situao.Aos feudos de agora, seguir-se-o as coroas podero-sas e, depois dessa concentrao de autoridade e de

    poder, sero os embates da ambio e a carnificinada inveja e da felonia, pelo predomnio do mais forte.

    A amargura divina empolgara toda a formosaassemblia de querubins e arcanjos. Foi quandoHelil, para renovar a impresso ambiente, dirigiu-sea Jesus com brandura e humildade:

    Senhor, se esses povos infelizes, que pro-

    curam na grandeza material uma felicidade impos-svel, marcham irremediavelmente para os grandesinfortnios coletivos, visitemos os continentes igno-rados, onde espritos jovens e simples aguardam asemente de uma vida nova. Nessas terras, para almdos grandes oceanos, podereis instalar o pensamen-to cristo, dentro das doutrinas do amor e da

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    liberdade.E a caravana fulgurante, deixando um rastro

    de luz na imensidade dos espaos, encaminhou-se aocontinente que seria, mais tarde, o mundo americano.O Senhor abenoou aquelas matas virgens e

    misteriosas. Enquanto as aves lhe homenageavam ainefvel presena com seus cantares harmoniosos,as flores se inclinavam nas rvores ciclpicas, aro-matizando-lhe as eterizadas sendas. O perfume do

    mar casava-se ao oxignio agreste da selva bravia,impregnando todas as coisas de um elemento defora desconhecida. No solo, eram os silvcolas hu-mildes e simples, aguardando uma era nova, com oseu largo potencial de energia e bondade.

    Cheio de esperanas, emociona-se o corao doMestre, contemplando a beleza do sublimado espe-tculo.

    Helil pergunta ele onde fica, nestasterras novas, o recanto planetrio do qual se enxer-ga, no infinito, o smbolo da redeno humana?

    Esse lugar de doces encantos, Mestre, deonde se vem, no mundo, as homenagens dos cusaos vossos martrios na Terra, fica mais para o sul.

    E, quando no seio da paisagem repleta de aro-

    mas e de melodias, contemplavam as almas santifi-cadas dos orbes felizes, na presena do Cordeiro, asmaravilhas daquela terra nova, que seria mais tardeo Brasil, desenhou-se no firmamento, formado deestrelas rutilantes, no jardim das constelaes deDeus, o mais imponente de todos os smbolos.

    Mos erguidas para o Alto, como se invocasse

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    a bno de seu Pai para todos oelementos daquelesolo extraordinrio e opulento, exclama ento Jesus:

    Para esta terra maravilhosa e bendita sertransplantada a rvore do meu Evangelho de piedadee de amor. No seu solo dadivoso e fertilssimo,todos os povos da Terra aprendero a lei da frater-nidade universal. Sob estes cus sero entoados oshosanas mais ternos misericrdia do Pai Celestial.Tu, Helil, te corporificars na Terra, no seio do

    povo mais pobre e mais trabalhador do Ocidente;instituirs um roteiro de coragem, para que sejamtranspostas as imensidades desses oceanos perigosose solitrios, que separam o velho do novo mundo.Instalaremos aqui uma tenda de trabalho para anao mais humilde da Europa, glorificando os seusesforos na oficina de Deus. Aproveitaremos o ele-mento simples de bondade, o corao fraternal dos

    habitantes destas terras novas, e, mais tarde, orde-narei a reencarnao de muitos Espritos j purifi-cados no sentimento da humildade e da mansido,entre as raas oprimidas e sofredoras das regiesafricanas, para formarmos o pedestal de solidarie-dade do povo fraterno que aqui florescer, no fu-turo, a fim de exaltar o meu Evangelho, nos sculos

    gloriosos do porvir. Aqui, Helil, sob a luz miseri-cordiosa das estrelas da cruz, ficar localizado ocorao do mundo!

    Consoante a vontade piedosa do Senhor, todasas suas ordens foram cumpridas integralmente.

    Da a alguns anos, o seu mensageiro se estabe-lecia na Terra, em 1394, como filho de D. Joo I e de

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    D. Filipa de Lencastre, e foi o herico Infante deSagres, que operou a renovao das energias portugue-

    sas, expandindo as suas possibilidades realizado-ras para alm dos mares. O elemento indgena foi cha-mado a colaborar na edificao da ptria nova; almasbem-aventuradas pelas suas renncias se corporifi-caram nas costas da frica flagelada e oprimida e,juntas a outros Espritos em prova, formaram a fa-lange abnegada que veio escrever na Terra de Santa

    Cruz, com os seus sacrifcios e com os seus sofrimen-tos, um dos mais belos poemas da raa negra emfavor da humanidade.

    Foi por isso que o Brasil, onde confraterni-zam hoje todos os povos da Terra e onde ser mode-lada a obra imortal do Evangelho do Cristo, muito an-tes do Tratado de Tordesilhas, que fincou as balizas daspossesses espanholas, trazia j, em seus contornos, a

    forma geogrfica do corao do mundo.

    NOTA DA EDITORA O Autor preferiu aforma rabe.

    Helil, em vez de Hilel, forma hebraica geral-

    mente usada.

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    A PTRIA DO EVANGELHO

    D. Henrique de Sagres abandonou as suas ati-vidades na Terra em 1460.Estava realizado, em linhas gerais, o seu grande

    destino. Da sua casa modesta da Vila-Nova do In-fante, onde se encontra ainda hoje uma placa come-morativa, como perene homenagem ao grande nave-gador, desenvolvera ele, no mundo inteiro, um sen-

    timento novo de amor ao desconhecido. Desde aexpedio de Ceuta, o Infante deixou transparecer,em vrios documentos que se perderam nos arquivosda Casa de Avis, que tinha a certeza da existncia

    das terras maravilhosas, cuja beleza haviam con-templado os seus olhos espirituais, no passado lon-gnquo. Toda a sua existncia de abnegao e asce-tismo constitura uma srie de relmpagos luminosos

    no mundo de suas recordaes. A prova de que osseus estudos particulares falavam da terra desco-nhecida que o mapa de Andr Bianco, datado de1448, mencionava uma regio fronteira frica.Para os navegadores portugueses, portanto, a exis-tncia da grande ilha austral j no era assuntoignorado.

    Novamente no Alm, o antigo mensageiro doMestre no descansou, chamando a colaborar comele numerosas falanges de trabalhadores devotados causa do Evangelho do Senhor. Procura influen-ciar sobre o curto reinado de D. Duarte estendendo,com os seus cooperadores, essa mesma atuao aotempo de D. Afonso V, sem lograr uma ao deci-

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    siva a favor das empresas esperadas. Aproveitandoo sonho geral dos tesouros das ndias, a personali-

    dade do Infante se desdobra, com o objetivo de des-cortinar o continente novo ao mundo poltico doOcidente. Enquanto a sua atuao encontra fracoeco junto s administraes de sua terra, o povo deCastela comea a preocupar-se seriamente com asidias novas, lanando-se disputa das riquezasentrevistas. Eleva-se ento ao poder D. Joo U, cujo

    reinado se caracterizou pela previdncia e pela ener-gia realizadora. Junto do seu corao, o emissrioinvisvel encontra grandes aspiraes, irms dassuas. O Prncipe Perfeito torna-se o dcil instru-mento do mensageiro abnegado. A mesma sede dealm lhe devora o pensamento. Expedies diversasse organizam. O castelo de So Jorge fundado porDiogo de Azambuja, na Costa da Mina; Diogo Co

    descobre toda a costa de Angola; por toda parte,sob o olhar protetor do grande rei, aventuram-se osexpedicionrios. Mas o esprito, em todos os planose circunstncias da vida, tem de sustentar as maio-res lutas pela sua purificao suprema. Entidadesatrasadas na sua carreira evolutiva se unem contraas realizaes do prncipe ilustre. Depois do desas-

    tre no Campo de Santarm, no qual o filho perde avida em condies trgicas, surgem outras compli-caes entre a sua direo justiceira e os nobres dapoca, e D. Joo II morre envenenado em Alvor, noano de 1495.

    Todavia, os planos da Escola de Sagres estavamconsolidados. Com a ascenso de D. Manuel I ao

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    poder, nada mais se fez que atingir o fim de longae laboriosa preparao. Em 1498, Vasco da Gama

    descobre o caminho martimo das ndias e, um poucomais tarde, Gaspar de Corte Real descobre o Cana-d. Todos os navegadores saem de Lisboa com ins-trues secretas quanto terra desconhecida, quese localizava fronteira frica e que j havia sidoobjeto de protesto de D. Joo n contra a bula deAlexandre VI, que pretendia impor-lhe restries ao

    longo do Atlntico, por sugesto dos reis catlicosda Espanha.No dia 7 de maro de 1500, preparada a grande

    expedio de Cabral ao novo roteiro das ndias,todos os elementos da expedio, encabeados pelocapito-mor, visitaram o Pao de Alcova, e navspera do dia 9, dia este em que se fizeram ao mar,imploraram os navegadores a bno de Deus, na

    ermida do Restelo, pouso de meditao que a f sin-cera de D. Henrique havia edificado. O Tejo estavacoberto de embarcaes engalanadas e, entre mani-festaes de alegria e de esperana, exaltava-se opendo glorioso das quinas.

    No oceano largo, o capito-mor considera a pos-sibilidade de levar a sua bandeira terra desconhe-

    cida do hemisfrio sul. O seu desejo cria a necess-ria ambientao ao grande plano do mundo invisvel.Henrique de Sagres aproveita esta maravilhosa pos-sibilidade. Suas falanges de navegadores do Infinitose desdobram nas caravelas embandeiradas e ale-gres. Aproveitam-se todos os ascendentes medini-cos. As noites de Cabral so povoadas de sonhos

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    sobrenaturais e, insensivelmente, as caravelas in-quietas cedem ao impulso de uma orientao im-

    perceptvel. Os caminhos das ndias so abandona-dos. Em todos os coraes h uma angustiosa expec-tativa. O pavor do desconhecido empolga a almadaqueles homens rudes, que se viam perdidos entreo cu e o mar, nas imensidades do Infinito. Mas, aassistncia espiritual do mensageiro invisvel, que,de fato, era ali o divino expedicionrio, derrama um

    claror de esperana em todos os nimos. As primei-ras mensagens da terra prxima recebem-nas comalegria indizvel. As ondas se mostram agora, ami-de, qual colcha caprichosa de folhas, de flores e deperfumes. Avistam-se os pncaros elegantes da plagado Cruzeiro e, em breves horas, Cabral e sua gentese reconfortam na praia extensa e acolhedora. Osnaturais os recebem como irmos muito amados.

    A palavra religiosa de Henrique Soares, de Coimbra,eles a ouvem com venerao e humildade. Colocamsuas habitaes rsticas e primitivas disposiodo estrangeiro e reza a crnica de Caminha queDiogo Dias danou com eles nas areias de Porto Se-guro, celebrando na praia o primeiro banquete defraternidade na Terra de Vera Cruz.

    A bandeira das quinas desfralda-se ento glo-riosamente nas plagas da terra abenoada, paraonde transplantara Jesus a rvore do seu amor e dasua piedade, e, no cu, celebra-se o acontecimentocom grande jbilo. Assemblias espirituais, sob asvistas amorosas do Senhor, abenoam as praiasextensas e claras e as florestas cerradas e bravias.

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    H um contentamento intraduzvel em todos os co-raes, como se um pombo simblico trouxesse as

    novidades de um mundo mais firme, aps novodilvio.Henrique de Sagres, o antigo mensageiro do

    Divino Mestre, rejubila-se com as bnos recebidasdo cu. Mas, de alma alarmada pelas emoes maiscarinhosas e mais doces, confia ao Senhor as suasvacilaes e os seus receios:

    Mestre diz ele graas ao vosso coraomisericordioso, a terra do Evangelho florescer agorapara o mundo inteiro. Dai-nos a vossa bno para quepossamos velar pela sua tranqilidade, no seio da pi-rataria de todos os sculos. Temo, Senhor, que as na-es ambiciosas matem as nossas esperanas, invali-dando as suas possibilidades e destruindo os seus te-souros...

    Jesus, porm, confiante, por sua vez, na proteode seu Pai, no hesita em dizer com a certezae a alegria que traz em si:Helil, afasta essas preocupaes e receiosinteis. A regio do Cruzeiro, onde se realizar aepopia do meu Evangelho, estar, antes de tudo,ligada eternamente ao meu corao. As injunes

    polticas tero nela atividades secundrias, porque,acima de todas as coisas, em seu solo santificado eexuberante estar o sinal da fraternidade universal,unindo todos os espritos. Sobre a sua volumosaextenso pairar constantemente o signo da minhaassistncia compassiva e a mo prestigiosa e poteh-tssima de Deus pousar sobre a terra de minha

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    cruz, com infinita misericrdia. As potncias impe-rialistas da Terra esbarraro sempre nas suas clarida-

    des divinas e nas suas ciclpicas realizaes. Antes de oestar ao dos homens, ao meu corao que ela se en-contra ligada para sempre.

    Nos cus imensos, havia clares estranhos de umabno divina. No seu slio de estrelas e de flores, oSupremo Senhor sancionara, por certo, as bondosaspromessas de seu Filho.

    E foi assim que o minsculo Portugal, atravsde trs longos sculos, embora preocupado com asfabulosas riquezas das ndias, pde conservar, contraflamengos e ingleses, franceses e espanhis, a uni-dade territorial de uma ptria com oito milhes emeio de quilmetros quadrados e com oito mil qui-lmetros de costa martima. Nunca houve exemplocomo esse em toda a histria do mundo. As posses-

    ses espanholas se fragmentaram, formando cercade vinte repblicas diversas. Os Estados americanosdo norte devem sua posio territorial s anexaese s lutas de conquista. A Louisiana, o Novo Mxico,o Alasca, a Califrnia, o Texas, o Oregon, surgiramdepois da emancipao das colnias inglesas. S oBrasil conseguiu manter-se uno e indivisvel na

    Amrica, entre os embates polticos de todos ostempos. que a mo do Senhor se ala sobre a sualonga extenso e sobre as suas prodigiosas riquezas.O corao geogrfico do orbe no se podia fracionar.

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    OS DEGREDADOS

    Todos os espritos edificados nas lies subli-mes do Senhor se reuniram, logo aps o descobri-mento da nova terra, celebrando o acontecimentonos espaos do Infinito. Grandes multides donairo-sas e areas formavam imensos hifens de luz, entrea terra e o cu. Uma torrente impetuosa de per-

    fumes se elevava da paisagem verde e florida, embusca do firmamento, de onde voltava superfciedo solo, saturada de energias divinas. Nos ninhosquentes das rvores, pousavam as vibraes reno-vadoras das esperanas santificantes, e, no Alm,ouviam-se as melodias evocadoras da Galilia, uber-tosa e agreste antes das lutas arrasadoras das Cru-zadas, que lhe talaram todos os campos, transfor-

    mando-a num monto de runas. Afigurava-se que aregio dos pescadores humildes, que conheceu, bas-tante assinalados, os passos do Divino Mestre, sehavia transplantado igualmente para o continentenovo, dilatada em seus suaves contornos.

    Uma alegria paradisaca reinava em todas asalmas que comemoravam o advento da Ptria do

    Evangelho, quando se fez presente, na assembliaaugusta, a figura misericordiosa do Cordeiro.Complacente sorriso lhe bailava nos lbios an-

    glicos e suas mos liriais empunhavam largo estan-darte branco, como se um fragmento de sua almaradiosa estivesse ali dentro, transubstanciado na-quela bandeira de luz, que era o mais encantador

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    dos smbolos de perdo e de concrdia.Dirigindo-se a um dos seus elevados mensagei-

    ros na face do orbe terrestre, em meio do divinosilncio da multido espiritual, sua voz ressoou comdoura: Ismael, manda o meu corao que doravantesejas o zelador dos patrimnios imortais que consti-tuem a Terra do Cruzeiro. Recebe-a nos teus braosde trabalhador devotado da minha seara, como a

    recebi no corao, obedecendo a sagradas inspira-es do Nosso Pai. Rene as incansveis falangesdo Infinito, que cooperam nos ideais sacrossantosde minha doutrina, e inicia, desde j, a construoda ptria do meu ensinamento. Para a transplanteia rvore da minha misericrdia e espero que a culti-ves com a tua abnegao e com o teu sublimadoherosmo. Ela ser a doce paisagem dilatada do

    Tiberades, que os homens aniquilaram na sua vora-cidade de carnificina. Guarda este smbolo da paze inscreve na sua imaculada pureza o lema da tuacoragem e do teu propsito de bem servir causade Deus e, sobretudo, lembra-te sempre de que esta-rei contigo no cumprimento dos teus deveres, comos quais abrirs para a humanidade dos sculos

    futuros um caminho novo, mediante a sagrada revi-vescncia do Cristianismo.Ismael recebe o lbaro bendito das mos com-

    passivas do Senhor, banhado em lgrimas de reco-nhecimento, e, como se entrara em ao o impulsosecreto da sua vontade, eis que a nvea bandeira temagora uma insgnia. Na sua branca substncia, uma

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    tinta celeste inscrevera o lema imortal: "Deus,Cristo e Caridade". Todas as almas ali reunidas

    entoam um hosana melodioso'e intraduzvel sabe-doria do Senhor do Universo. So vibraes gloriosasda espiritualidade, que se elevam pelos espaos ili-mitados, louvando o Artista Inimitvel e o Matem-tico Supremo de todos os sis e de todos os mundos.

    O emissrio de Jesus desce ento Terra, ondeestabelecer a sua oficina. Os exrcitos dos seres re-

    dimidos e luminosos lhe seguem a esplndida trajet-ria e, como se o cho do Brasil fosse a superfciede um novo Hlicon da imortalidade, a natureza,macia e cariciosa, toda se enfeita de luzes e sombras,de sinfonias e de ramagens odorferas, preparan-do-se para um banquete de deuses.

    Os caminhos agrestes tornam-se sendas de ma-ravilhosa beleza, rasgadas pelas coortes do invisvel.

    Nessa hora, a frota de Cabral foge das guasverdes e fartas da Baa de Porto Seguro.

    Entretanto, nas fitas extensas da praia choram,desesperadamente, os dois degredados, dos vinteprias sociais que o Rei D. Manuel I destinara aoexlio.

    Os homens do mar se distanciam daqueles stios,

    levando amostras da sua extraordinria riqueza. Emtoda a paisagem h um largo ponto de interrogao,enquanto os dois infelizes se lastimam sem consoloe sem esperana. Os silvcolas amveis e fraternoslhes abrem os braos; dos seus coraes rudes esimples que desabrocham, para a amargura deles,as flores amigas de um brando conforto.

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    Mas, Afonso Ribeiro, um dos condenados aopenoso desterro, avana numa piroga desprotegida

    e desmantelada, sem que os olhos da Histria lheanotassem o gesto de profunda desesperao, a ca-minho do mar alto. Ao longe, percebem-se ainda osderradeios mastros das caravelas itinerantes. O infe-liz degredado anseia por morrer. Os ltimos gemidosabafados lhe saem da garganta exausta. Seus olhos,

    inchados de pranto, contemplam as duas imensida-

    des, a do oceano e a do cu, e, esperando na morteo socorro bondoso, exclama, do ntimo do corao: Jesus, tende piedade da minha infinita amar-

    gura! Enviai a morte ao meu esprito desterrado.Sou inocente, Senhor, e padeo a tirania da injustiados homens. Mas, se a traio e a covardia me arre-bataram da ptria, afastando dos meus olhos aspaisagens queridas e os afetos mais santos do cora-

    o, essas mesmas calnias no me separaram davossa misericrdia!

    Nesse instante, porm, o pobre exilado senteque uma alvorada de luz estranha lhe nasce nomago da alma atribulada. Uma esperana nova seapossa de todas as suas fibras emotivas e, como pordelicado milagre, a sua jangada rstica regressa, cele-

    remente, praia distante. Em vo as ondas sinistrase poderosas tentam arrebat-lo para o oceano largo.Uma fora misteriosa o conduz a terra firme, ondeo seu corao encontrar uma famlia nova.

    Ismael havia realizado o seu primeiro feito nasTerras de Vera Cruz. Trazendo um nufrago e ino-cente para a base da sociedade fraterna do porvir,

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    ele obedecia a sagradas determinaes do DivinoMestre. Primeiramente, surgiram os ndios, que eram

    os simples de corao; em segundo lugar, chegavamos sedentos da justia divina e, mais tarde, viriamos escravos, como a expresso dos humildes e dosaflitos, para a formao da alma coletiva de um povo

    bem-aventurado por sua mansido e fraternidade.Naqueles dias longnquos de 1500, j se ouviam noBrasil os ecos acariciadores do Sermo da Montanha.

    OS MISSIONRIOS

    D. Manuel I recebeu sem grande surpresa a no-tcia do descobrimento das terras novas. Seu espritose achava voltado para os tesouros inesgotveis dasndias, que faziam da Lisboa daquele tempo umadas mais poderosas cidades martimas da Europa.

    Contudo, o xito do capito-mor provocou umlargo movimento de curiosidade no crculo dos na-vegadores portugueses. Quase todas as expediesque se dirigiam aos rgulos da sia tocavam nosportos vastos de Vera Cruz, cujo nordeste j cen-tralizava as atenes dos comerciantes franceses, quea se abasteciam de vastas provises de pau-

    -brasil.Geralmente, as caravelas lusitanas que deman-davam Calicut traziam consigo grande nmero deexilados e de aventureiros. Muitos deles foram aban-donados no extenso litoral do pas inexplorado edesconhecido, ao influxo das inspiraes do mundoinvisvel; essas criaturas vinham como batedores

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    humildes, frente dos trabalhadores que, maistarde, chegariam s terras novas.

    A situao oficial perdurava com a indiferenado monarca, distrado pelas suas conquistas noOriente; mas, entre as autoridades administrativasdo Reino, comentava-se a questo da nova colniaabandonada aos exploradores franceses e espanhis.Compelido pela opinio do seu tempo, D. Manuelprovidencia as primeiras expedies oficiais, a fim

    de que se colocasse nas suas praias extensas o sinaldas armas portuguesas. Prepara-se a expedio deGonalo Coelho, que, alm de alguns cosmgrafosnotveis, levava consigo Amrico Vespcio, famosona histria americana pelas suas cartas acerca doNovo Mundo, nas quais, infelizmente, reside grandepercentagem de literatura e de pretensiosa imagina-o. Chegando ao litoral baiano, Gonalo Coelho or-

    ganiza a Feitoria de Santa Cruz, primeiro ncleo dacivilizao ocidental nas plagas brasileiras. O nomedo pas agora Terra de Santa Cruz, pelo qual sefaz conhecido nos documentos da metrpole.

    Depois de graves incidentes, nos quais Vesp-cio se entrega a aventuras pelo interior da colnia,sedento de posio e de glria, o expedicionrio por-

    tugus, pobre de possibilidades e com raros compa-nheiros, lana marcos de Portugal ao longo de todaa costa brasileira. Uma das emoes mais gratas aoseu esprito o quadro maravilhoso da Baa deGuanabara. Julgando-se no esturio de um rio es-plndido, denomina Rio de Janeiro o local, em vir-tude de se encontrar ali nos primeiros dias do pri-

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    meiro ms do ano. No stio encantado, instala umanova Feitoria a da Carioca, da qual no ficaram

    largos vestgios, passando a meses a fio, a retem-perar suas energias em contacto com a paisagemmagnfica. Prossegue na sua tarefa de reconheci-mento e volta depois metrpole, sem conseguirinteressar o monarca no que se referia exploraoda terra nova. Limitou-se o rei portugus a permitiro estabelecimento de feiras de pau-brasil, na colnia

    longnqua, o que facultou aos elementos estrangei-ros o mais largo desenvolvimento de comrcio comos indgenas da regio litornea.

    De Portugal, somente aportavam no Brasil, devez em quando, alguns aventureiros e degredados,obedecendo a um apelo inexplicvel e desconhecido.

    Foi, aproximadamente, por essa poca, queIsmael reuniu em grande assemblia os seus cola-

    boradores mais devotados, com o objetivo de insti-tuir um programa para as suas atividades espirituaisna Terra de Santa Cruz: Irmos exclamou ele no seio da multidode companheiros abnegados plantamos aqui, sobo olhar misericordioso de Jesus, a sua bandeira depaz e de perdo. Todo um campo de trabalhos se

    desdobra s nossas vistas. Precisamos de colabora-dores devotados que no temam a luta e o sacrif-cio. Voltemo-nos para os centros culturais de Coim-bra e de Lisboa, a regenerar as fontes do pensa-mento, no elevado sentido de ampliarmos a nossaao espiritual. Alguns de vs ficareis em Portugal,mantendo de p os elementos protetores dos nossos

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    trabalhos, e a maioria ter de envergar o sambenitohumilde dos missionrios penitentes, para levar o

    amor de Deus aos sertes nvios e carecidos de todoo conforto. Temos de buscar no seio da igreja asroupagens exteriores de nossa ao regeneradora.Infelizmente, a dolorosa situao do mundo europeu,em virtude do fanatismo religioso, to cedo no sermodificada. Somente as grandes dores realizaro afraternidade no seio da instituio que dever repre-

    sentar o pensamento do Senhor na face da Terra, aigreja que, desviada dos seus grandes princpios pelamais terrvel de todas as fatalidades histricas, foiobrigada a participar do organismo mundano e pe-recvel dos Estados. Um sopro de reformas se anun-cia, impetuoso, no mago das organizaes religio-sas da Europa e, em breves dias, Roma conhecermomentos muito amargos, no obstante os sonhos

    de arte e de grandeza de Leo X, que detm nesteinstante uma coroa injustificvel, porquanto o reinode Jesus ainda no desse mundo; mas, temos deaproveitar as possibilidades que o seu campo nosoferece para encetar essa obra de edificao daptria do Cordeiro de Deus.

    Pregareis, em Portugal, a verdade e o despren-

    dimento das riquezas terrestres e trabalhareis, sob aminha direo, nas florestas imensas de Santa Cruz,arrebanhando as almas para o nico Pastor. O ca-racterstico de vossa ao, como missionrios do PaiCelestial, ser um testemunho legtimo de rennciaa todos os bens materiais e uma consoladora pobreza.

    Quase todos os Espritos santificados, ali pre-

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    sentes, se oferecem como voluntrios da grandecausa. Entre muitos, descobriremos Jos de Anchie-

    ta e Bartolomeu dos Mrtires, Manuel da Nbrega,Diogo Jcome, Leonardo Nunes e muitos outros, quetambm foram dos chamados para esse conclaveno mundo invisvel.

    Em 1531, aps Portugal ter resolvido, sob adireo de D. Joo III, a primeira tentativa de colo-nizao da Terra de Santa Cruz, alguns dos convo-

    cados, participantes daquela augusta assemblia,chegavam ao Brasil com Martim Afonso de Sousa ea sua companhia de trezentos homens, a tomar parteativamente na fundao de S. Vicente e na de Pira-tininga.

    Nbrega aportava mais tarde, na Bahia, comTome de Sousa, o primeiro governador-geral da co-lnia, em 1549, chefiando grande nmero desses

    irmos dos simples e dos infelizes, a fim de estabe-lecer novos elementos de progresso e dar incio cidade do Salvador.

    Anchieta veio depois, em 1553, com Duarte daCosta, e se transformou no desvelado apstolo doBrasil. Designado para desenvolver, particularmen-te, os ncleos de civilizao j existentes em Pira-

    tininga, a se manteve no seu respeitvel colgio,que todos os governos paulistas conservaram comvenerao carinhosa, como tradio de sua culturae de sua bondade. Alguns historiadores falam comseveridade da energia vigorosa do apstolo que,muitas vezes, foi obrigado a assumir atitudes corre-tivas no seio das tribos, que, entretanto, lhe mere-

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    ciam as dedicaes e os desveles de um pai. Anchie-ta aliou, no mundo, suprema ternura, grande ener-

    gia realizadora; mas, aqueles que, na histria oficial,lhe descobrem os gestos enrgicos, no lhe notam asuavidade do corao e a profundeza dos sacrifcios,nem sabem que, depois, foi ainda ele a maior expres-so de humildade no antigo convento de Santo An-tnio do Rio de Janeiro, onde, com o hbito singelode frade, adoou ainda mais as suas concepes de

    autoridade. A edificadora humildade de um Fabianode Cristo, aliada a um sentimento de renncia total desi mesmo, constitua a ltima pedra que faltavana sua coroa de apstolo da imortalidade.

    D. Joo m teve a infelicidade de introduzir emPortugal o organismo sinistro da Inquisio. Como tribunal da penitncia, vieram os Jesutas.

    No constitui objeto do nosso trabalho o exame

    dos erros profundos da condenvel instituio, quefez da Igreja, por muitos sculos, um centro de per-versidade e de sombras compactas, em todas asnaes europias, que a abrigaram sombra da m-quina do Estado. O que nos importa a exaltaodaqueles missionrios de Deus, que afrontavam anoite das selvas para aclarar as conscincias com a

    lio suave do Mrtir do Calvrio. Esses homensabnegados eram, de fato, "o sal da nova terra".Os falsos sacerdotes poderiam continuar mas-

    sacrando, em nome do Senhor, que a misericrdiasuprema; poderiam prosseguir ostentando as prpurasluxuosas e todas as demais suntuosidades doreino mentiroso desse mundo, incensando os pode-

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    rosos da Terra e distanciando-se dos pobres e dosaflitos; mas, os humildes missionrios da cruz

    ouviam a voz de Ismael, no mago de suas almas;aos seus sagrados apelos, abandonaram todos osbens, para seguir os rastros luminosos dAquele quefoi e ser sempre a luz do mundo. Foram eles osprimeiros traos luminosos das falanges imortais doInfinito, corporificadas na terra do Evangelho, e,com a sua divina pobreza, se fizeram os iniciadores da

    grande misso apostlica do Brasil no seio domundo moderno, inaugurando aqui um caminho res-plandecente para todas as almas, transformando aterra do Cruzeiro numa dourada e eterna Porcincula.

    OS ESCRAVOS

    Certo dia, preparava-se, numa das esferas supe-riores do Infinito, o encontro de Ismael com Aqueleque ser sempre caminho, verdade e vida.

    Por toda parte, abriam-se flores evanescentes,oriundas de um solo de radiosas neblinas. Luzes po-licrmicas enfeitavam todas as paisagens celestes,que se perdiam na incomensurvel extenso dos espaos

    felizes.Rodeado dos seres santificados e venturosos queconstituem a coorte luminosa de seus mensageirosabnegados, recebeu o Senhor, com a sua complacncia,o emissrio dileto do seu amor nas terras doCruzeiro.

    Ismael, porm, no trazia no corao o sinal da

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    alegria. Seus traos fisionmicos deixavam mesmotransparecer angelical amargura.

    Senhor exclama ele sinto dificuldadespara fazer prevaleam os vossos desgnios nos ter-ritrios onde pairam as vossas bnos dulcificantes.A civilizao, que ali se inicia sob os imperativos davossa vontade compassiva e misericordiosa, acabade ser contaminada por lamentveis acontecimentos.Os donatrios dos imensos latifndios de Santa Cruz

    fizeram-se vela, escravizando os negros indefesosda Luanda, da Guin e de Angola. Infelizmente, ospobres cativos, miserveis e desditosos, chegam ptria do vosso Evangelho como se fossem animaisbravios e selvagens, sem corao e sem conscincia.

    O mensageiro, porm, no conseguiu continuar.Soluos divinos lhe rebentaram do peito opresso,evocando to amargas lembranas...

    O Divino Mestre, porm, cingindo-o ao seu co-rao augusto e magnnimo, explicou brandamente:

    Ismael, asserena teu mundo ntimo nocumprimento dos sagrados deveres que te foramconfiados. Bem sabes que os homens tm a sua res-ponsabilidade pessoal nos feitos que realizam emsuas existncias isoladas e coletivas. Mas, se no

    podemos tolher-lhes a a liberdade, tambm no po-demos esquecer que existe o instituto imortal dajustia divina, onde cada qual receber de confor-midade com os seus atos. Havia eu determinado quea Terra do Cruzeiro se povoasse de raas humildesdo planeta, buscando-se a colaborao dos povos so-fredores das regies africanas; todavia, para que

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    essa cooperao fosse efetivada sem o atrito dasarmas, aproximei Portugal daquelas raas sofredo-

    ras, sem violncias de qualquer natureza. A colabo-rao africana deveria, pois, verificar-se sem abalosperniciosos, no captulo das minhas amorosas deter-minaes. O homem branco da Europa, entretanto,est prejudicado por uma educao espiritual con-denvel e deficiente. Desejando entregar-se ao prazerfictcio dos sentidos, procura eximir-se aos traba-

    lhos pesados da agricultura, alegando o pretexto dosclimas considerados impiedosos. Eles tero a liber-dade de humilhar os seus irmos, em face da grandelei do arbtrio independente, embora limitado, insti-tudo por Deus para reger a vida de todas as cria-turas, dentro dos sagrados imperativos da respon-sabilidade individual; mas, os que praticarem o ne-fando comrcio sofrero, igualmente, o mesmo mar-

    trio, nos dias do futuro, quando forem tambmvendidos e flagelados em identidade de circunstn-cias. Na sua sede nociva de gozo, os homens brancosainda no perceberam que a evoluo se processapela prtica do bem e que todo o determinismo deNosso Pai deve assinalar-se pelo "amai o prximocomo a vs mesmos". Ignoram voluntariamente que o

    mal gera outros males com um largo cortejo desofrimentos. Contudo, atravs dessas linhas tortuo-sas, impostas pela vontade livre das criaturas hu-manas, operarei com a minha misericrdia. Colocareia minha luz sobre essas sombras, amenizando todolorosas crueldades. Prossegue com as tuas renn-cias em favor do Evangelho e confia na vitria da

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    Providncia Divina.Calara-se a voz de Jesus por instantes; mais

    confortado, Ismael continuou: Senhor, no tereis um meio direto de orien-tar a poltica dominante, no sentido de se purificaro ambiente moral da Terra de Santa Cruz?

    Ao que o Divino Mestre ponderou sabiamente: No nos compete cercear os atos e intenes

    dos nossos semelhantes e sim cuidar intensamente

    de ns mesmos, considerando que cada um ser jus-tiado na pauta de suas prprias obras. Infelizmen-te, Portugal, que representa um agrupamento deespritos trabalhadores e dedicados, remanescentedos antigos fencios, no soube receber as facilida-des que a misericrdia do Supremo Senhor do Uni-verso lhe outorgou nestes ltimos anos. At aos meusouvidos tm chegado as splicas dolorosas das raas

    flageladas por sua prepotncia e desmesuradas am-bies. Na velha Pennsula j no existe o povo maispobre e mais laborioso da Europa. O luxo das con-quistas lhe amoleceu as fibras criadoras e todas assuas preciosas energias e qualidades de trabalhovm esmorecendo sob o amontoado de riquezas fa-bulosas. Entretanto, o tempo o grande mestre de

    todos os homens e de todos os povos, e, se no nos possvel cercear o arbtrio livre das almas, pode-remos mudar o curso dos acontecimentos, a fim deque o povo lusitano aprenda, na dor e na misria,as lies sagradas da experincia e da vida.

    Ismael retornou luta, cheio de fervorosa co-ragem e os acontecimentos foram modificados.

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    Os donatrios cruis sofreram os mais tristesreveses no solo do Brasil.

    Os Tupinambs e os Tupiniquins, que se loca-lizavam na Bahia e haviam recebido Cabral com asmelhores expresses de fraternidade, reagiram con-tra os colonizadores, transformados, para eles, emdesalmados verdugos. Lutas cruentas desencadearamcontra os brancos, que lhes depravavam os costumes.

    A luxuosa expedio de Joo de Barros, que se

    destinava ao Maranho, mas que sara de Lisboa cominstrues secretas para conquistar o ouro dos incas,no Peru, dispersou-se no mar, sofrendo os seus com-ponentes infinitos martrios e resgatando com ele-vados tributos de sofrimento as suas criminosasintenes, na condenvel aventura.

    Os tesouros das ndias levaram o povo portu-gus decadncia e misria, pela disseminao dos

    artifcios do luxo e pelas campanhas abominveis daconquista, cheias de crueldade e de sangue. A sedede ouro acarretava o abandono de todos os campos.

    A CIVILIZAO BRASILEIRA

    Nas praias largas e fartas de Santa Cruz, flo-resciam cidades prestigiosas. Com o feudalismo dascapitanias, as cidades e as vilas modernas do litoraldo Brasil estavam j em seus primrdios, destacan-do-se dentre todas os ncleos populosos do Salvadore de So Vicente, em vista das facilidades encon-tradas pelos colonizadores, com o auxlio dos Cara-

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    murus e dos Ramalhos, que os haviam precedido naao, junto dos indgenas.

    Contudo, Portugal ainda no se decidira a des-tacar os seus elementos mais valorosos para os tra-balhos da colnia, preferindo enviar-lhe criminosose homens sem escrpulos. Por toda parte, buscavamos naturais os recantos desconhecidos das florestasremotas, fugindo escravido e s torturas injusti-ficveis que lhes infligiam os homens brancos, por

    eles, um dia, acolhidos com as mais altas manifes-taes de fraternidade.O atrito das raas dava ensejo aos quadros mais

    dolorosos e mais lamentveis.Tome de Sousa estava substitudo por Duarte

    da Costa, que, como o primeiro governador-geral,trouxera tambm consigo alguns dos missionriosconcitados por Ismael ao novo apostolado nas flo-

    restas americanas.Por essa poca, os franceses desejaram apro-

    veitar a encantadora beleza da Baa de Guanabara eestabeleceram a uma feitoria, nos mesmos stios poronde se havia retemperado Gonalo Coelho, nos pri-meiros anos decorridos aps o descobrimento. Coma proteo do Almirante Coligny, ento favorito do

    Rei Henrique II de Frana, Nicolau de Villegaignonaporta baa maravilhosa, em 1555, e funda umacolnia na Hha de Serigipe, que tomou, mais tarde,o seu nome. Das rvores de Uruumirim, que hojea praia elegante do Flamengo, os Tamoios valentescontemplavam, receosos, a intromisso dos europeusna sua regio privilegiada. Mas, Villegaignon, com

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    a sua mentalidade religiosa e honesta, conseguecaptar a confiana dos naturais, concedendo-lhes o

    mesmo tratamento dispensado aos seus companhei-ros. Os indgenas recebem carinhosamente a orien-tao de Paicols e se tornam devotados colabora-dores da sua obra.

    Enquanto os franceses se vo apoderando dacosta, D. Duarte, na Bahia, lhes observa os movi-mentos, impossibilitado de adotar quaisquer provi-

    dncias. A metrpole portuguesa no se digna deenviar colnia distante os elementos necessrios sua conservao e defesa. Villegaignon, localizadona Guanabara, edifica a sua obra; mas, os padrescalvinistas, que lhe acompanharam a expedio, inu-tilizam-lhe muitas vezes o trabalho construtivo, comas suas discusses estreis. Em 1559, Villegaignonregressa Frana, no propsito de buscar recursos

    oficiais, sem jamais tornar ao Brasil, ficando os seuscompatriotas abandonados na colnia nascente.

    Em 1558, havia assumido o governo-geral deSanta Cruz, Mem de S, que combate sem trguas ainfluncia dos estrangeiros. Com a sua energia,expele os franceses do Rio de Janeiro, destruin-do-lhes as fortificaes. Mal, porm, se havia reti-

    rado o governador, voltaram os franceses dispersosa reassumir a sua posio na Ilha de Serigipe, como auxlio dos Tamoios, reunidos a esse tempo namaior confederao indgena que j existiu em ter-ras do Brasil, sob a direo de Cuhambebe, contraas perversidades dos colonizadores portugueses. O go-vernador-geral reconhece a necessidade de fundar-se

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    uma povoao que a ficasse como sentinela dacosta, a fim de eliminar os derradeiros resqucios

    das influncias francesas. O grande projeto aguardaensejo favorvel para a sua concretizao. Estciode S, sobrinho do governador, ento incumbidode comandar uma guarnio que ali se planta, emdefesa da cidade; a povoao se reparte em peque-nas guarnies de militares, junto ao Po de Acare numa das numerosas ilhas do golfo esplndido. Os

    franceses, todavia, unem-se aos ndios e Estcio deS morre, em 1567, empenhado com eles em guerras.O combate, em tais circunstncias, assume propor-es asprrimas e rudes. Mem de S rene todas asforas disponveis nas cidades da colnia e atacatodas as fortificaes que existiam onde hoje sesituam a praia do Flamengo e a Ilha do Governador;obtm a mais completa vitria sobre o inimigo, mas

    permitiu, lamentavelmente, que a se consumasseminauditas crueldades com os vencidos.

    Os portugueses transferem, ento, a cidade, quefica definitivamente fundada no Morro de So Ja-nurio, mais tarde do Castelo. Em homenagem aomrtir do Cristianismo, recebeu a cidade o nome deSo Sebastio, ficando outro sobrinho do governa-

    dor na sua administrao.Nas esferas superiores do infinito, Ismael e suasabnegadas falanges choram sobre to lamentveisacontecimentos, quais o suplcio imposto a Joo deBoles pelos elementos de mais confiana dos maio-rais da espiritualidade.

    A cidade fica sob a proteo espiritual de Sebastio,

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    o grande filho de Narbonne, martirizado pela sua fcrist ao tempo de Diocleciano, em 288 da nossa era.

    Estcio de S rene-se s falanges invisveis, encarre-gadas de cooperar no progresso daqueles stios. Sob asvistas amorosas do desvelado patrono da cidade, desdo-bra-se em dedicao a favor do seu progresso, entre osncleos florescentes.

    Muitas vezes voltou Estcio a se corporificar naPtria do Evangelho, para viver na paisagem predi-

    leta dos seus olhos. Sua personalidade a adquiriuelementos de cincia e de virtude e, ainda h poucosanos, podia ser encontrada na figura do grande be-nemrito do Rio de Janeiro, que foi Osvaldo Cruz.

    Depois das lutas sanguinolentas nas praias dabaa mais bela do mundo, onde os vcios europeus,desencadeando nefandas guerras religiosas, batalha-vam entre si, estendendo suas crueldades at ao

    Novo Mundo, Ismael considerou a necessidade deestabelecer uma diretriz para a organizao econ-mica da terra do Cruzeiro. Aps a elaborao delargos projetos de ao do plano invisvel, o sbiomensageiro do Senhor discrimina as funes de cadaregio da ptria brasileira. Junto do golfo enorme,onde os contornos da paisagem assumem as cam-

    biantes mais delicadas e mais espantosas, desdo-brando-se nos mais graciosos caprichos da Natureza,traa ele as linhas de uma urbe maravilhosa, queser a sede do pensamento brasileiro e, mais funda-mente, no corao da terra moa e bravia, tracejaas plantas magnficas das duas usinas mais podero-sas, onde se guardar o profundo manancial de suas

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    foras orgnicas. Os pontos de fixao dessas sagradasbalizas so encontrados ao longo dos seiscentos qui-

    lmetros de extenso do Paraba do Sul e nas cabe-ceiras do So Francisco, cuja corrente dever lanar,pelo seu percurso de quase trs mil quilmetros, todasas sementes da brasilidade mais pura.

    Aproveitou tambm Ismael os ncleos orienta-dores de Piratininga, que se expandiriam, mais tarde,com as audaciosas bandeiras. A linha do corao do

    Brasil, at hoje, se encontra a traada.Ningum pode negar a hegemonia da intelectua-lidade carioca e fluminense, desde os tempos emque a cidade de So Sebastio se derramou do Morrodo Castelo, invadindo as ilhas, absorvendo as praiaslongas e elevando-se pelos outeiros vizinhos. SoPaulo e Minas de hoje foram as regies escolhidascomo as duas fontes poderosas que guardariam o

    potencial de energias orgnicas da terra, formandoos primeiros ndices da etnologia brasileira. Asguas do Paraba do Sul e as de todo o percurso doSo Francisco ainda constituem roteiro singular,onde se descobrem os caractersticos mais fortes dopovo fraternal da terra do Cruzeiro. Cada Estado doBrasil tem a sua funo essencial no corpo ciclpico

    da ptria que representa o corao geogrfico domundo; mas, em S. Paulo e em Minas Gerais se assen-taram, por determinao do invisvel, os elementosindispensveis organizao da ptria esplndida.Ambos sero ainda, por muito tempo, as conchas dabalana poltica e econmica da nacionalidade e osdnamos mais poderosos da sua produo. Obede-

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    cendo aos elevados propsitos do mundo oculto,ambos ficaram irmanados junto do crebro do pas,

    por indefectveis disposies do determinismo geo-grfico, que os rene para sempre. Os Espritos in-felizes e perturbados, inimigos da obra de Jesus,que, entretanto, se convertero um dia ao supremobem, pela sua infinita piedade, agem de preferncianos bastidores administrativos dos dois grandes Es-tados brasileiros, provocando a vaidade dos seus

    homens pblicos, levantando tricas polticas e con-duzindo-os, muitas vezes, a lutas fratricidas e tene-brosas, no sentido de atrasar os triunfes divinos doEvangelho, no corao de todas as almas.

    Mas, os devotados obreiros do Alm no des-cansam em sua faina de abnegao e renncia e,ainda agora, em 1932, quando um distinto jorna-lista da atualidade rasgava a bandeira nacional na

    capital paulista, em seu famoso discurso sem pala-vras, Jos de Anchieta, de quem Joo de Boles agora dedicado colaborador, e vrios outros gniosespirituais da terra brasileira se reuniam no Colgio dePiratininga, implorando a Jesus derramasse odoce blsamo da sua humildade sobre o orgulhoferido dos valorosos piratininganos, e Ismael esten-

    de o seu lbaro de perdo e de concrdia sobre osmovimentos fratricidas e rene de novo os irmosdos dois grandes Estados centrais do pas, para arealizao da sua obra em prol do Evangelho.

    As fraquezas e vaidades humanas, fermentadaspor foras malficas do mundo, tm separado muitasvezes as coletividades dos dois grandes Estados da

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    Repblica, levando-os inimizade e quase runa;mas, muito breve, quando as sombras da confuso

    dos tempos modernos invadirem ameaadoramenteos cus da ptria, ambos compreendero a imperiosanecessidade de se unirem para sempre, como irmosmuito amados e, novos smbolos de Castor e Plux,expandiro juntos as suas energias tnicas, modela-doras da terra do Evangelho, absorvendo nos seussurtos extraordinrios as expresses excessivamente

    inditicas do Amazonas, ao Norte, e as platinas in-fluncias nas plancies do Rio Grande, por cumpri-rem, de mos dadas, os imperativos da sua grandemisso histrica.

    Nesse tempo que no vem muito longe, as men-sagens de fraternidade e de amor, expedidas pelosgnios inspiradores do Brasil, do sagrado Colgiode Piratininga, tocaro, primeiramente, na coroa de

    tnues neblinas das montanhas, antes de ascende-rem aos cus.

    OS NEGROS DO BRASIL

    Sob o domnio espanhol, Portugal sofria todasas conseqncias da sua desdia e imprevidncia.

    A Espanha guardava o cetro de um imprio resplan-decente e maravilhoso. Suas frotas poderosas co-briam as guas de todos os mares, carregando ostesouros do Mxico e do Peru, do Brasil e das ndias,os quais faziam afluir para Madrid a mais elevadaporcentagem de ouro do mundo inteiro.

    At hoje, comenta-se com esprito a clebre

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    frase de Francisco I, exprimindo o seu desejo deconhecer a disposio testamentria de Ado, que

    dividira o mundo entre espanhis e portugueses eo deserdara.A esse tempo, a terra do Evangelho no mais

    conhecida pelo nome suave de Santa Cruz. foradas expresses comuns, dos negociantes que vinhambuscar as suas fartas provises de pau-brasil, seunome se prende agora ao privilgio das suas madeiras.

    Os missionrios da colnia protestaram contra a ino-vao adotada; mas, as falanges do Infinito sancio-naram a novidade imposta pelo esprito geral, consi-derando as terrveis crueldades cometidas na Baade Guanabara, em nome do mais caricioso dos sm-bolos. A sano de Ismael escolha da nova expres-so objetivava resguardar a ptria do Cruzeiro dosperigos da Inquisio, que na Europa fomentava os

    mais hediondos movimentos em nome do Senhor.A situao, no Brasil, sob todos os pontos de

    vista, como a da metrpole portuguesa, era dolorosae cruel, embora governado por funcionrio de Lis-boa, segundo as combinaes estipuladas na Pe-nnsula.

    A raa aborgine e a raa negra sofriam toda

    sorte de humilhaes e vexames. Os ndios procura-vam o Norte, em busca dos seus amigos franceses,que, expulsos do Rio por Mem de S, concentravamsuas atividades no Maranho, onde pretendiam fun-dar a Frana Equinocial, preocupando seriamenteas autoridades da colnia. A situao geral era amais deplorvel. Ismael e seus abnegados colabora do-

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    res sofrem intensamente em seus trabalhos rduose quase improfcuos, no sentido de organizar o Insti-

    tuto sagrado da famlia nas florestas inspitas, ondeos brancos no dispensavam considerao s leishumanas ou divinas, na condio de superioridadeque se atribuam.

    Aos cus ascendem os aflitivos apelos dosobreiros invisveis:

    Senhor! exclama Ismael nas suas preo-

    cupaes estendei at ns o manto da vossa infi-nita misericrdia. Enviai-nos o socorro das vossasbnos divinas, para que as nossas vozes sejamouvidas pelos espritos que aqui procuram edificaruma ptria nova. Nosso corao se comove ante osquadros deplorveis que se deparam s nossas vistas.Por toda parte, vem-se os infortnios das raasflageladas e sofredoras.

    Uma voz suave e meiga lhe responde do Infinito: Ismael, nas tuas obrigaes e trabalhos, con-

    sidera que a dor a eterna lapidaria de todos osespritos e que o Nosso Pai no concede aos filhosfardo superior s suas foras, nas lutas evolutivas.Abriga a, na sagrada extenso dos territrios dopas do Evangelho, todos os infortunados e todos

    os infelizes. No meu corao ecoam as splicas dolo-rosas de todos os seres sofredores, que se agrupamnas regies inferiores dos espaos prximos daTerra. Agasalha-os no solo bendito que recebe asirradiaes do smbolo estrelado, alimentando-os com opo substancioso dos sofrimentos depuradores edas lgrimas que lavam todas as manchas da alma.

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    Leva a essas coletividades espirituais, sinceramentearrependidas do seu passado obscuro e delituoso, a

    tua bandeira de paz e de esperana; ensina-lhes a leros preceitos da minha doutrina, nos cdigos doura-dos do sofrimento.

    Ismael sente que luzes compassivas e miseri-cordiosas lhe visitam o corao e parte com os seuscompanheiros, em busca dos planos da erraticidademais prximos da Terra. A se encontram antigos

    batalhadores das cruzadas, senhores feudais da Ida-de Mdia, padres e inquisidores, espritos rebeldes erevoltados, perdidos nos caminhos cheios da trevadas suas conscincias polutas. O emissrio do Senhordesdobra nessas grutas do sofrimento a sua ban-deira de luz, como uma estrela d'alva, assinalandoo fim de profunda noite. Irmos exorta ele comovido at aocorao do Divino Mestre chegaram os vossos apelosde socorro espiritual. Da sua esfera de brandos arre-bis cristalinos, ordena a sua misericrdia que asvossas lgrimas sejam enxugadas para sempre. Umensejo novo de trabalho se apresenta para a reden-o das vossas almas, desviadas nos desfiladeiros doremorso e do crime. H uma terra nova, onde Jesus

    implantar o seu Evangelho de caridade, de perdoe de amor indefinveis. Nos sculos futuros, essaptria generosa ser a terra da promisso para todos osinfelizes. Dos seus celeiros inesgotveis sair opo de luz para todas as almas; mas, preciso se faznos voltemos para o seu solo virgem e exuberante aconstruir-lhe as bases com os nossos sacrifcios e

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    devotamentos. Ali encontrareis, nos carreiros aspr-rimos da dor que depura e santif ica, a porta estreita

    para o cu de que nos fala Jesus nas suas liesdivinas. Aprendereis, no livro dos padecimentos sal-vadores, a gravar na conscincia os sagrados par-grafos da virtude e do amor, na epopia de luz dasolidariedade, na expiao e no sofrimento. Sabeique todas as aquisies da filosofia e da cincia ter-restres so flores sem perfume, ou luzes sem calor

    e sem vida, quando no se tocam das claridades dosentimento. Aqueles de vs que desejarem o supre-mo caminho venham para a nossa oficina de amor,de humildade e redeno.

    E a, nas estradas escuras e tristes da angstiaespiritual, viu-se, ento, que falanges imensas, an-siosas e extasiadas, avanavam com fervorosa cora-gem para as clareiras abertas naquela manso de

    dor e de sombras. Todos queriam, no seu testemu-nho de agradecimento, beijar a bandeira sacrossantado mensageiro divino. O seu emblema Deus,Cristo e Caridade refulgia agora nas penumbras,iluminando todas as coisas e clarificando todos oscaminhos. As esperanas reunidas, daqueles seresinfortunados e sofredores, faziam a vibrao de luz

    que ento aclarava todas as sendas e abria todos osentendimentos para a compreenso das finalidades,das determinaes sublimes do Alto.

    Essas entidades evolvidas pela cincia, maspobres de humildade e de amor, ouviram os apelosde Ismael e vieram construir as bases da terra doCruzeiro. Foram elas que abriram os caminhos da

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    terra virgem, sustentando nos ombros feridos o pesode todos os trabalhos. Nesse filo de claridades in-

    teriores, buscaram as prolas da humildade e dosentimento com que se apresentaram mais tarde aJesus, no dia, que lhes raiou, de redeno e de glria.

    Foi por isso que os negros do Brasil se incor-poraram raa nova, constituindo um dos baluartesda nacionalidade, em todos os tempos. Com as suasabnegaes santificantes e os seus prantos abenoa-

    dos, fizeram brotar as alvoradas do trabalho, depoisdas noites primitivas. Na Ptria do Evangelho tmeles sido estadistas, mdicos, artistas, poetas e es-critores, representando as personalidades mais emi-nentes. Em nenhuma outra parte do planeta alcan-aram, ainda, a elevada e justa posio que lhescompete junto das outras raas do orbe, como acon-tece no Brasil, onde vivem nos ambientes da mais

    pura fraternidade. que o Senhor lhes assinalou opapel na formao da terra do Evangelho e foi poresse motivo que eles deram, desde o princpio desua localizao no pas, os mais extraordinriosexemplos de sacrifcio raa branca. Todos os gran-des sentimentos que nobilitam as almas humanas eles osdemonstraram e foi ainda o corao deles, dedi-

    cado ao ideal da solidariedade humana, que ensinouaos europeus a lio do trabalho e da obedincia, nacomuna fraterna dos Palmares, onde no havia nemricos nem pobres e onde resistiram com o seu esforoe a sua perseverana, por mais de setenta anos, es-crevendo, com a morte pela liberdade, o mais belopoema dos seus martrios nas terras americanas.

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    Por toda parte, no pas, h um ensinamento ca-ricioso do seu resignado herosmo, e foi por essa razo

    que a terra brasileira soube reconhecer-lhes as abne-gaes santificadas, incorporando-os definitivamente grande famlia, de cuja direo muitas vezes par-ticipam, sem jamais se esquecer o Brasil de que osseus maiores filhos se criaram para a grandeza daptria, no generoso seio africano.

    A INVASO HOLANDESA

    Se raa negra eram impostas as mais dolo-rosas torturas, nos primrdios da organizao doBrasil, no menores sacrifcios se exigiam dos in-dgenas, acostumados amplitude da terra, proprie-dade deles.

    As "entradas" pelo serto, com o fito de escra-vizar os selvagens indefesos, se realizavam, naqueletempo, em todos os recantos.

    Tabas prsperas eram incendiadas de surpresa,no silncio da noite. So famosas e comovedoras asdescries que desses fatos guardam os documentosantigos. Somente de uma vez, uma caravana de por-

    tugueses capturou mais de sete mil homens vlidos,mulheres, velhos e crianas. E quando os mamelucosguiadores no convenciam os naturais de que deviamacompanh-los s cidades mais prximas, para queas caadas humanas se verificassem com pleno xito,as cenas de selvajaria nodoavam a floresta virgem,enchendo de pavor os caminhos atapetados de cad-

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    veres e de sangue coagulado. Como represlia atantas crueldades, os Tamoios nunca se harmoniza-

    ram com os portugueses. Desde o princpio da aodestes, foram seus declarados inimigos.No seio dessas lutas devastadoras, em que ven-

    ciam, a maior parte das vezes, as criminosas astciasdos colonos, eram os padres piedosos os que maissofriam, experimentando a angstia de se veremdesprezados pelos seus prprios companheiros da

    raa branca, nos sertes nvios e hostis. A almasimples dos naturais se mostrava malevel aos seusensinamentos. Aos seus apelos, aproximavam-se dosncleos de civilizao. Aldeavam-se para uma vidaordeira que os colonizadores destruam com as suastaras infames e seculares. Anchieta e quase todos osoutros missionrios das selvas brasileiras sustenta-ram demoradas lutas, defendendo os indgenas fra-

    ternos. A verdade, porm, que, embora esfacelas-sem os plpitos na pregao da piedade crist, suasvozes se perdiam na imensidade do cu, sem que seusirmos da terra as escutassem com a idia generosade lhes praticar os carinhosos ensinos. Os primeirosbrancos que aportaram Amrica do Sul, na suageneralidade, no tinham em conta a existncia da

    lei nas extensas florestas do Novo Mundo.Os portugueses prosseguiam, incessantemente,na faina ingrata de "descer os ndios".

    Regressando ao Alm, os primeiros missionriosda caravana luminosa de Ismael pedem a sua cola-borao misericordiosa, para que semelhante situa-o se modifique. Mas, o grande apstolo de Jesus

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    explica: Irmos, no podemos tolher a liberdade dosnossos semelhantes. No sou indiferente a esses mo-vimentos hediondos, nos quais os ndios, simples ebons, so capturados para os duros trabalhos docativeiro. Esperemos no Senhor, cujo corao mise-ricordioso e augusto agasalhar todos aqueles quese encontram famintos de justia. Contudo, podere-mos, com os nossos esforos, auxiliar os encarnados

    na compreenso das leis fraternas, avisando-lhes ocorao de modo indireto, quanto aos seus divinosdeveres. Infelizmente, no encontramos, na atuali-dade do planeta, outro povo que substitua os portu-gueses na grande obra de edificao da Ptria doEvangelho. Todas as demais naes, como o prprioPortugal, se encontram presas da cobia, da invejae da ambio. Os vcios de todas as identificam per-

    feitamente umas com as outras, e no povo lusitanotemos de considerar a austera honradez aliada agrandes qualidades de valor e de sentimento, que ohabilitam, conforme a vontade do Senhor, a povoaros vastos latifndios que constituiro mais tarde opouso abenoado da lio de Jesus. Colonizadoresdesalmados esto em todos os pases dos tempos

    modernos, que no reconhecem outro direito a noser o da fora desumana e impiedosa. Recorrendo,pois, s possibilidades ao nosso alcance, buscaremos,na Europa, um prncipe liberal, trabalhador e justo,que no esteja subordinado poltica romana, a fimde caracterizar a nossa ao indireta. Traremos asua personalidade de administrador para a parte

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    mais flagelada da nova ptria, a fim de que seusexemplos possam servir aos que se encontram na

    direo das atividades sociais e polticas da colniae beneficiem, ide maneira geral, a nao inteira. Elevir na qualidade de invasor, porquanto no encon-tramos outros recursos para a adoo de providn-cias dessa natureza; mas, a sua permanncia noBrasil ser curta e eventual, apenas durante os anosnecessrios a que suas lies sejam prodigalizadas

    aos administradores da nova terra. Preliminarmen-te, porm, devemos considerar que os seus compa-nheiros no sero melhores que os portugueses, nosentido da educao espiritual. A poca de pro-fundo atraso de quase todos os indivduos e paraexpelir essas trevas da conscincia do mundo quenos teremos de sacrificar nas atmosferas prximas daTerra, trabalhando pela vitria do Senhor em

    todos os coraes.Os fatos se verificaram, consoante as afirma-

    es do iluminado preposto de Jesus.Em 1624, a pretexto de sua guerra com a Espa-

    nha, os holandeses tomavam de assalto a Bahia, sobo comando de Johan Van Dorth.

    Importa notar que as cenas dolorosas e lasti-

    mveis, decorrentes da invaso, no foram organi-zadas pelas abnegadas falanges do mundo invisvel.As causas profundas desses fatos residiam no estadoevolutivo da poca. Os morticnios nas praas incen-diadas e destrudas se verificavam, todos os dias,entre inevitveis atritos das raas chamadas a po-voar aqueles recantos desconhecidos.

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    Em 1637, entrava em Pernambuco o generalholands Joo Maurcio, Prncipe de Nassau. Inu-

    merveis benefcios e imensos frutos produziu a suaadministrao no Norte do Brasil, que foi semprea zona mais sacrificada do pas.

    O Recife se ostenta diante da Europa, comouma das mais belas cidades da Amrica do Sul.Olinda reedificada. Uma assemblia de mecnicos,de pintores, de arquitetos e artistas acompanha o

    Prncipe de Nassau, enchendo a sua cidade de sin-gulares esplendores. Mas, o esprito construtivo doadministrador holands no se cristaliza nas expres-ses materiais da sua cidade predileta. O amor e orespeito que vota liberdade fazem-no venerado detodos os brasileiros e portugueses de Pernambuco,cujas terras, naquela poca, desciam at regio doParacatu, em Minas Gerais. Todos os escravos que

    procuram abrigo sombra da sua bandeira de tole-rncia ele os declara livres para sempre, e os ndiosencontram, no seu corao, o apoio de um nobre eleal amigo. Maurcio de Nassau estabelece a liber-dade religiosa e administra Pernambuco, inauguran-do a a primeira liberal-democracia nas terras ame-ricanas, tais a justia e a liberdade com que se houve

    em seu governo.Os Albuquerques e outros elementos em evi-dncia no Norte muito aprenderam com ele para assuas atividades do porvir.

    A realidade, todavia, que a lio de Nassaufora preparada no plano invisvel, para que os colo-nizadores da terra brasileira recebessem um novo

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    claro no seu caminho rotineiro e obscuro.Em socorro da nossa afirmativa, podemos invo-

    car o testemunho da prpria histria, porque, ter-minado o tempo necessrio sua administrao noBrasil, o grande prncipe holands regressava ptria, por imposio dos espritos avarentos, quemilitavam, nessa poca da Companhia das ndias,na poltica holandesa, sem que encontrassem subs-tituto para a sua obra na Amrica. Apesar de suas

    frotas extraordinrias e poderosas, a Holanda reti-rou-se do Brasil sem a interveno de Portugal, bas-tando, para isso, o concurso dos habitantes da col-nia. Quando a questo ficou definitivamente resol-vida na Corte de Haia, em 1661, os holandeses, em-bora a sua soberania martima perdurasse at ento,em troca dos seus imensos trabalhos no Norte doBrasil e dos milhes de florins a abandonados,

    apenas receberam, a ttulo de indenizao, a impor-tncia de cinco milhes de cruzados.

    A RESTAURAO DE PORTUGAL

    No primeiro quartel do sculo XVII, a situaode Portugal era de profunda decadncia. Sob o rei-

    nado de Filipe m, de Espanha, prncipe aptico edoente, que entregara a direo de todos os negciosao Duque de Lerma, os esplendores das conquistasportuguesas haviam desaparecido.

    Aquele povo minsculo e herico, cuja coragemacendera nova luz em todos os departamentos detrabalho do Ocidente, encontrava-se agora reduzido

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    quase penria.Foi por esse tempo que Henrique de Sagres, o

    antigo Helil, mensageiro de Jesus, que levantara asenergias portuguesas com a sua escola de navega-o, procurou o Senhor, tocado de compaixo e deangstia, a implorar a bno da sua misericrdiapara a nao de que se tornara o gnio renovador.

    Mestre diz ele compungidamente venhopedir o vosso auxlio paternal para a terra portu-

    guesa, cujas experincias amargas tocam, agora, aoauge das penosas provaes coletivas. Humilhada evencida, ela implora a vossa divina providncia,atravs de minhas palavras, no sentido de lhe serpossvel aproveitar as foras derradeiras, para umareorganizao poltica e econmica que a possa es-quivar de to angustiosa situao.Helil replicou-lhe Jesus sabes que aminha piedade no se reveste de excessivas exign-cias. Enviei-te a Portugal com o fim de lhe reergueras energias, compensando os seus grandes esforosde povo humilde e laborioso. Infelizmente, apesar desuas grandes qualidades de corao, os portuguesesno souberam corresponder nossa expectativa,provocando, eles prprios, a situao em que se

    encontram, pela fraqueza com que se entregaram sinistra embriaguez da fortuna e da posse. Depoisde teres ajudado Vasco da Gama a franquear o cami-nho martimo das ndias, as foras lusas, aps rece-berem os favores da cidade de Calicut, ali regres-sam, algum tempo mais tarde, para bombarde-la,inundando-a num mar de crueldade e sangue. No

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    Brasil, onde lanamos os fundamentos da Ptria doEvangelho, introduziram o trfico de homens livres,

    forando as falanges de Ismael a despender todosos esforos possveis para que as ordens divinas nose subvertessem pelas iniqidades humanas. EmLisboa, permitiram a entrada do terrvel institutoda inquisio, que comete no mundo todos os crimesem meu nome, que deveria ser, para todas as cria-turas, um sinnimo de brandura e de amor.

    verdade, Senhor exclama Helil amar-gurado quando o primeiro portugus aprisionou,

    nas Canrias, alguns pobres africanos, para ven-d-los como escravos aos brancos da Europa, ordeneifossem imediatamente repatriados, enchendo-se-meo corao de amargura aps tantos entusiasmos noperodo dos descobrimentos, quando eu vos confia-va, no Restelo, as lgrimas do meu reconhecimento

    e da minha esperana. Mas, a grande ptria que meconfiaste, Senhor, muito tem aprendido no caminhodas experincias dolorosas. Nas suas cidades impor-tantes escasseiam os espritos de eleio, aptos tarefa do governo; as naes ambiciosas se asse-nhoreiam de todas as suas possibilidades econmi-cas; suas riquezas so pilhadas pela pirataria do

    sculo; seu povo se acha esmagado pelos impostos;seus filhos abatidos e humilhados. Apiedai-vos, meuJesus, de tanta misria que nos enche o corao deinfinita amargura! Permiti possamos restaurar-lhe asforas polticas, a fim de que ela cumpra asvossas determinaes sbias e justas, na terra doEvangelho!

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    Essas experincias dolorosas explicou-lheo Divino Mestre dotaro Portugal de novos sen-

    timentos, acrisolando nele as concepes de bran-dura e de fraternidade, a fim de que possa corres-ponder ao nosso esforo, na edificao da ptria dosmeus ensinamentos. Quais os elementos encarnadosque utilizars nessa restaurao?

    Senhor, com o vosso apoio e com o vossoamparo, esperamos realizar essa reorganizao bus-

    cando para o trono os descendentes de D. Afonso,primeiro Duque de Bragana, que atualmente detma maior fortuna portuguesa e em cuja Casa vivemmais de oitenta mil vassalos. Quanto ao nosso plano,constar de uma larga ao dos agrupamentos espi-rituais sob a minha direo, combinados com as fa-langes de Ismael, no sentido de intensificarmos opensamento cristo em Portugal, projetando as mais

    nobres realizaes no Brasil, disseminando-nos entreos colonizadores, a fim de que as concepes de fra-ternidade se intensifiquem, cimentando as bases daptria das vossas lies divinas. Nossos apelos se es-tendero aos companheiros reencarnados, que se en-contram nas cortes espanholas e nas selvas america-nas, para levantarmos a bandeira de Ismael sobre

    todas as frontes, como sublime legado do vosso co-rao compassivo e misericordioso. Sim, Helil retrucou Jesus, bondoso

    teu plano se realizar com a minha bno, efetuan-do-se essa ao espiritual conforme a idealizas. Te-mos, no entanto, de considerar que os elementos aserem utilizados so os mais representativos, porm,

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    no constituem os mais necessrios. No acho quea Casa de Bragana esteja preparada, espiritual-

    mente, para a sublime realizao; todavia, somosobrigados, igualmente, a reconhecer que pesadastrevas invadem atualmente todas as atividades po-lticas da Terra e tu te esforars por ampar-la nosgrandes deveres que assumir, neste e nos prximossculos. Ters o cuidado de inspir-la, no propsitode se organizarem as precisas combinaes com as

    outras nacionalidades do mundo, para que a Ptriado Evangelho no sofra novos choques de raas,alm dos at agora sofridos. Bem sabes que, en-quanto os homens no se integrarem no conheci-mento pleno da minha doutrina de amor e de frater-nidade, os tratados comerciais sero os necessriosjogos de interesses a equilibrarem as ambies, emproveito dos setores da verdadeira evoluo espi-

    ritual. Auxiliarei os teus empreendimentos com aminha misericrdia, pedindo a Nosso Pai que sedigne de guardar-nos sob o palio da sua bondadeinfinita.

    Henrique de Sagres organizou as suas falan-ges e, em 1640, Portugal era restaurado, subindo aotrono D. Joo IV, chamado dos seus regalos e pra-

    zeres de Vila Viosa, para os cuidados do reino.Ao cabo de um perodo de lutas ferrenhas, arestaurao se consolida na batalha de Montijo e agrande nao do Ocidente prossegue em seu laborabenoado por Jesus, na formao da Ptria doCruzeiro.

    Sob a orientao do mundo invisvel, Portugal

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    estabelece tratados comerciais, entre eles, algunscomo o de Methuen, que mais tarde se verificou ser

    ruinoso para a indstria portuguesa, mas colocavao Brasil a salvo de lutas com o poderio da Inglaterra.Toda uma ao espiritual se conjuga, harmo-

    niosamente, nessa poca, e as falanges de Ismael ede Helil buscam, no silncio e na obscuridade, ogrande corao de Antnio Vieira, que se constituiupoderoso organismo medinico para as revelaes

    de suas verdades.Vieira toma posio ascendente na corte deD. Joo IV e, da a algum tempo, contra a vontadedo soberano, que desejava conservar a sua palavrade sabedoria e de amor junto do seu corao, ogrande missionrio embarca para o Brasil.

    Sua voz, saturada de suave magnetismo, ilumi-na todas as conscincias, esclarecendo todos os co-

    raes. Em momento de sagrada eloqncia, exclamaele: No Evangelho de Jesus, ofereceu o demniotodos os seus reinos pela posse de uma alma; mas,no Maranho, no necessrio ao demnio tantabolsa, para compr-las todas. Basta acenar o diabocom um tijupar de pindoba e dois tapuias para queseja adorado com ambos os joelhos.

    E no foram poucos os senhores que, tocadosdessas claridades divinas, cuja origem profunda es-tava nas lies de Ismael e de seus abnegados men-sageiros, correram s suas propriedades, envergo-nhados do crime de manter escravos os seus irmos,e devolveram para sempre, aos pobres cativos, aliberdade.

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    AS BANDEIRAS

    No desdobramento da ao espiritual que de-veria restaurar a ptria portuguesa, Ismael congre-gou os espritos que chegavam aos espaos depoisdo primeiro contacto com a vida de Piratininga, a fimde elaborar novos projetos de trabalho naquele setorda Ptria do Evangelho.

    Almas decididas e hericas, postas ali para a

    construo da grande obra, apesar dos seus caracte-rsticos de bondade e de energia, necessitavam re-gressar luta terrestre, em seu prprio benefcio.

    O mensageiro divino as reuniu em grandes cr-culos, de onde lhe ouviram a palavra amiga e escla-recedora.

    Meus irmos disse ele regressareisdentro de breves dias aos ncleos de trabalho esta-

    belecidos no planalto piratiningano. Prosseguireisatuando no mesmo campo de labor