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Chuvas intensas em São Paulo no dia 11/03/2016 O gradativo aprofundamento de um amplo sistema de baixa pressão atmosférica (ciclone extratropical) próximo ao litoral das regiões Sul e Sudeste, ajudou a organizar e intensificar as instabilidades no estado de São Paulo. Os fortes eventos de chuva registrados ao longo da quinta-feira (10/03/2016), sobretudo entre o final da tarde-noite de quinta-feira e o início da madrugada de sexta-feira, ocasionaram acumulados de chuva acima dos 80 mm/24h e sérios transtornos à população de pelo menos 23 municípios do estado de SP. Este sistema meteorológico, que consiste em uma intensa área de baixa pressão atmosférica em superfície, está associado a uma corrente de ar quente e bastante úmido em baixos níveis, originário da Amazônia, que se encontra com ar mais ameno de sul (convergência de umidade). Também está associado a um cavado em médios níveis da atmosfera (que organiza o deslocamento das áreas de instabilidade) e da intensa divergência de vento em altos níveis da atmosfera. Esse padrão ocasionou chuvas intensas em um curto espaço de tempo na região Metropolitana de São Paulo. Desde a segunda-feira (07/03/2016), os modelos numéricos de previsão do tempo evidenciavam a atuação desse padrão e sistema meteorológico sobre o litoral da região Sul e Sudeste do país. No início da tarde de quarta-feira (09/03/2016), o 7°Disme/SP enviou aos usuários o texto da previsão, indicando a possibilidade de chuvas fortes: ” A partir da tarde de hoje e durante toda a quinta-feira, fortes áreas de instabilidade provocam pancadas de chuva intensas, trovoadas, rajadas de vento e possibilidade de queda de granizo. Hoje, quarta-feira, as instabilidades mais fortes atingem as regiões que fazem divisa com o PR e o MS e também áreas do centro e leste, incluindo a Capital..... Amanhã as áreas transientes de baixa pressão se alinham com o ciclone extratropical ao largo da costa da região Sul, formando assim uma extensa área de convergência de ventos úmidos que terá apoio de marcada difluência dos ventos em altos níveis e do deslocamento de um cavado em níveis médios. Dessa forma haverá mais de um ciclo de chuvas fortes, que atingirão todas as regiões paulistas, algumas desde a madrugada.A evolução das cartas sinóticas de superfície (00, 03 e 06 UTC Figuras 1a, 1b e 1c) também mostra o deslocamento e intensificação de uma área de baixa pressão atmosférica próximo à região. Nas imagens do satélite Goes 13 no canal Infravermenho (cores avermelhadas) indicam topos de nuvens com temperatura inferior a -55°C, áreas com chuvas intensas (Figuras 2a, 2b, 2c e 2d). As análises e prognósticos do modelo numérico de previsão do tempo Cosmo (7km x 7km), indicavam vários padrões que apontavam para uma condição meteorológica de elevada severidade, como, por exemplo: acumulado de chuva, umidade elevada, alto conteúdo de água precipitável, temperatura elevada em 850hPa, pressão atmosférica baixa, divergência do vento em 200 hPa e vários índices com elevada instabilidade termodinâmica. Tais condições subsidiaram, inclusive, que o INMET emitisse Aviso Meteorológico Especial para as áreas atingidas, cujo grau de severidade era de perigo (Figura 7).

Chuvas intensas em São Paulo no dia 11/03/2016 O gradativo

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Chuvas intensas em São Paulo no dia 11/03/2016

O gradativo aprofundamento de um amplo sistema de baixa pressão atmosférica

(ciclone extratropical) próximo ao litoral das regiões Sul e Sudeste, ajudou a organizar e

intensificar as instabilidades no estado de São Paulo. Os fortes eventos de chuva registrados ao

longo da quinta-feira (10/03/2016), sobretudo entre o final da tarde-noite de quinta-feira e o

início da madrugada de sexta-feira, ocasionaram acumulados de chuva acima dos 80 mm/24h e

sérios transtornos à população de pelo menos 23 municípios do estado de SP. Este sistema

meteorológico, que consiste em uma intensa área de baixa pressão atmosférica em superfície,

está associado a uma corrente de ar quente e bastante úmido em baixos níveis, originário da

Amazônia, que se encontra com ar mais ameno de sul (convergência de umidade). Também

está associado a um cavado em médios níveis da atmosfera (que organiza o deslocamento das

áreas de instabilidade) e da intensa divergência de vento em altos níveis da atmosfera. Esse

padrão ocasionou chuvas intensas em um curto espaço de tempo na região Metropolitana de

São Paulo.

Desde a segunda-feira (07/03/2016), os modelos numéricos de previsão do tempo

evidenciavam a atuação desse padrão e sistema meteorológico sobre o litoral da região Sul e

Sudeste do país. No início da tarde de quarta-feira (09/03/2016), o 7°Disme/SP enviou aos

usuários o texto da previsão, indicando a possibilidade de chuvas fortes: ” A partir da tarde de

hoje e durante toda a quinta-feira, fortes áreas de instabilidade provocam pancadas de chuva

intensas, trovoadas, rajadas de vento e possibilidade de queda de granizo. Hoje, quarta-feira,

as instabilidades mais fortes atingem as regiões que fazem divisa com o PR e o MS e também

áreas do centro e leste, incluindo a Capital..... Amanhã as áreas transientes de baixa pressão

se alinham com o ciclone extratropical ao largo da costa da região Sul, formando assim uma

extensa área de convergência de ventos úmidos que terá apoio de marcada difluência dos

ventos em altos níveis e do deslocamento de um cavado em níveis médios. Dessa forma haverá

mais de um ciclo de chuvas fortes, que atingirão todas as regiões paulistas, algumas desde a

madrugada.”

A evolução das cartas sinóticas de superfície (00, 03 e 06 UTC – Figuras 1a, 1b e 1c)

também mostra o deslocamento e intensificação de uma área de baixa pressão atmosférica

próximo à região. Nas imagens do satélite Goes 13 no canal Infravermenho (cores

avermelhadas) indicam topos de nuvens com temperatura inferior a -55°C, áreas com chuvas

intensas (Figuras 2a, 2b, 2c e 2d).

As análises e prognósticos do modelo numérico de previsão do tempo Cosmo (7km x

7km), indicavam vários padrões que apontavam para uma condição meteorológica de elevada

severidade, como, por exemplo: acumulado de chuva, umidade elevada, alto conteúdo de água

precipitável, temperatura elevada em 850hPa, pressão atmosférica baixa, divergência do vento

em 200 hPa e vários índices com elevada instabilidade termodinâmica. Tais condições

subsidiaram, inclusive, que o INMET emitisse Aviso Meteorológico Especial para as áreas

atingidas, cujo grau de severidade era de perigo (Figura 7).

Embora o sistema meteorológico tenha influência sobre uma extensa área, a ocorrência

de chuva apresenta grande variabilidade temporal e principalmente espacial. Dentre as estações

convencionais do INMET as que registraram chuvas mais significativas foram:

Tabela 1 - Estações Meteorológicas Convencionais do INMET onde foram registrados

os maiores acumulados de chuva.

Volume de chuvas em 24 horas (09h do

dia 10/03 às 09h do dia 11/03):

Média Histórica

São Paulo (Mirante); 87,2 mm 187,9 mm (1943 a 2015)

Sorocaba: 84,4 mm 132,0 mm (1961 a 2014)

OBS: Estação meteorológica de apoio do 7° Disme, localizada no bairro de Moema, zona sul

de São Paulo, registrou volume de chuvas de 103,4 mm em 24 horas.

O quadro informativo do Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres

(CENAD), nº 141 – 11/03/2016 – Manhã, mostra as consequências e danos dos intensos

temporais que atingiram as áreas citadas acima (figura 8).

(a)

(b)

(c)

Figura 1. Cartas sinóticas de superfície dia 11/03: (a) 00:00UTC, (b) 03:00 UTC e em (c)

06:00 UTC.

(a) (b)

(c) (d)

Figura 2. Imagens do satélite Goes 13- canal Infravermenho- cores avermelhadas indicam topos

de nuvens com temperatura inferior a -55°C, áreas com chuvas intensas, (a) 21h15 UTC, (b) (a)

23h45 UTC, (c) 00h45 UTC em e (d) 01h45 UTC

Figura 3: índice experimental para tempestades severas, com base na rodada das 12h UTC de

10/03/2016 do modelo numérico de previsão tempo GFS resolução 50kmx50km. Cores

indicam os níveis de severidade: Verde= observação= possível pancada de chuva isolada

moderada/forte, Amarelo=atenção = atmosfera levemente instável= possível tempestade isolada

(53-54); Laranja= alerta=cautela = atmosfera moderadamente instável, possível (55-56) a

provável (57-58) tempestade com chuva forte e eventual queda de granizo isolado. Vermelho=

alerta= perigo= muito instável=alto risco de tempestades severas com chuva forte, vendavais e

granizo, destrutivo em pontos isolados (59-63). Linhas indicam a direção dos ventos em baixos

níveis

Na figura 3 o índice experimental que detecta tempestades severas indica cores variando

entre amarelo e laranja sobre o estado de SP, entre a tarde de quinta-feira e a madrugada de

sexta-feira, ou seja, havia o potencial para tempestades moderadas a fortes.

Figura 4: volume de chuva previsto pelo modelo numérico Cosmo 7kmx7km entre às 09h de

quinta-feira 10/03/2016 ás 09 de sexta-feira 11/03/2016 (a) e índice de instabilidade Showalter

(cores alaranjadas) e K (linhas escuras).

Na figura 4 (a) a observa-se que o modelo Cosmo indicava volume acumulado de chuva

acima dos 50 mm nas proximidades da Grande SP e da região de Sorocaba. Em 2(b) os índices

de instabilidade Showalter (cores) e K (linhas escuras) eram favoráveis à ocorrência de chuvas

fortes.

Figura 5: Vento (linhas) e umidade relativa do ar (cores azuladas) em 850 hPa (a) e água

precipitável (cores) e temperaturas em 850 hPa (b);

Umidade elevada e ventos de noroeste em 850 hPa. Elevados valores de água

precipitável (acima de 50 mm) e de temperatura do ar (acima de 18°C).

Figura 6: Vento (linhas) e umidade relativa do ar (cores azuladas) em 500 hPa (a) e vento

(linhas) e cores cinzas (umidade) em 200 hPa do modelo Cosmo 7km x7km;

Em níveis médios os ventos em 500 Hpa indicavam a passagem do cavado atmosférico

(com elevada umidade) sobre SP, enquanto os ventos divergentes de altitude (200 hPa)

indicavam cenário favorável à intensificação das tempestades.

Figura 7 –Aviso meteorológico especial emitido pelo INMET.

Figura 8 – Informativo CENAD nº 141 – 11/03/2016 – Manhã

Nota: Participaram da elaboração desta Nota Técnica: Ingrid Peixoto – Centro de Análise e Previsão

do Tempo (Capre/INMET); e Marcelo Scheneider - Sétimo Distrito de Meteorologia (7º

Disme/INMET)