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Batizada de Masdar City, a construção tem a sustentabilidade como foco e promete ser isenta de emissões de CO2. Para isso, contará com tudo que o conhecimento humano e o dinheiro dos maiores petroleiros árabes podem conseguir, como tecnologia de ponta e investimento da casa dos US$ 22 bilhões. Visa ser um modelo que ajude a preparar o país para a era pós-petróleo, na qual o mundo terá que se adaptar em todas as esferas de produção e consumo. Projetada pela firma Foster & Partners, a cidade de Masdar será um quadrado perfeito, com aproximadamente 1.500 metros de cada lado, erguida sobre uma base de sete metros de altura para aproveitar a brisa do deserto. O planejamento é de que 30% da área seja destinada às residências, 13% comercial, 6% universidades, 8% cultural, 19% serviços e 24% a uma zona econômica especial. Itens da arquitetura árabe tradicional, como os muros em volta das cidades, irão ajudar a isolar o vento quente do deserto, e ruas estreitas para potencializar o vento encanado e as sombras (a maioria das ruas da cidade terá apenas 3 metros de largura e 70 de comprimento para facilitar a passagem do ar e também incentivar a caminhada). Prevista para abrigar 40 mil moradores e 50 mil visitantes de passagem, a cidade não terá automóveis, mas não será necessariamente repleta de bicicletas e pedestres. Um sistema de trânsito rápido individual – mini-vagões sobre trilhos – oferecerá uma mobilidade comparável a andar num vagão de metrô particular. As mercadorias serão transportadas de modo similar. Os visitantes poderão ir a Masdar usando o já previsto sistema de transporte ferroviário leve (LRT) de Abu-Dhab. A energia necessária para funcionamento da cidade virá de painéis fotovoltaicos instalados fora da cidade, turbinas eólicas, cultivo de três espécies de plantas que geram biocombustíveis, sistema geotermal (que transforma o calor do solo em energia) e um quinto do abastecimento ainda não foi definido contando com s suposição otimista de que formas melhores para a geração de energia renovável possam surgir até 2016. As edificações de Masdar são projetadas para usar apenas 20% da energia das estruturas convencionais. A água doce será fornecida por uma usina de dessalinização movida a painéis solares fotovoltaicos. Coletores de orvalho e captação de água das chuvas complementarão o abastecimento. A água para irrigar plantações e jardins, equivalente a 60% das necessidades da cidade, e deverá ser obtida a partir da reciclagem de águas servidas. Os serviços de purificação e incineração são todos subterrâneos e apenas 2% dos resíduos gerados em Masdar serão destinados a um aterro. Todo o restante será enviado para centros de reciclagem e compostagem. A região econômica, uma espécie de zona franca árabe, foi planejada para atrair 1,5 mil empresas privadas. Elas contarão com um pacote de incentivos do governo, serão isentas de impostos e terão proteção de patente garantida em qualquer projeto criado ali. Só será usado material ecologicamente correto, como recicláveis e materiais certificados. Apenas alimentos biológicos e orgânicos farão parte do cardápio de Masdar City. Um dos objetivos em Masdar foi criar uma alternativa ao desenvolvimento ineficiente visto hoje em boa parte das cidades do Oriente Médio - casas construídas num superficial estilo islâmico ao lado de shoppings gigantescos. Será mesmo sustentável colocar mais gente morando num ambiente desértico? Dizem os críticos que o único modo de garantir que Masdar atinja a meta da neutralidade em emissão de carbono seria não construir a cidade. Os 22 bilhões de dólares do investimento inicial, dizem eles, seriam melhor empregados aumentando as áreas verdes de Abu- Dhabi, que apresenta uma das piores pegadas de carbono no mundo. A água potável servida na cidade é produzida em estações de dessalinização, processo custoso que implica em aquecimento, evaporação e condensação da água marinha. A idéia de que só carros elétricos - que são caríssimos - poderão entrar lá é viável? E de que tipo de empresas estamos falando: o negócio delas também será ecologicamente correto? De onde virão os alimentos para Masdar? Esses e outros questionamentos levam o mundo a refletir se a cidade de Masdar poderá mesmo ser aclamada como uma cidade sustentável ou se não vai passar de mais uma gigantesca obra de construção civil patrocinada pelos xeiques árabes, e de futuro incerto. Mas mais do que isso, será que a cidade ultra-sustentável será mesmo um modelo possível de ser reaplicado em todo o mundo? A cidade não é apenas uma miragem futurista e tem muitos pontos positivos, como a integração entre tecnologias de última geração e o design antigo das cidades árabes, inserida em uma sociedade que convive com o tradicional e o moderno diariamente. Mas se Masdar só puder ser sustentável caso permaneça isolada do resto do mundo, nunca será mais do que uma "experiência agradável", e assim como outros tantos casos de eco-cidades, será um modelo de estudos. O crescimento populacional e urbano e suas conseqüências ao meio ambiente e à qualidade de vida da população colocaram em pauta diversas questões sobre as cidades, entre elas moradia, infra-estrutura, saneamento, consumo e meio ambiente. A preocupação com degradação do planeta teve início apenas na metade do século XX e, de forma crescente, se tornou uma preocupação corrente em todos os campos do desenvolvimento urbano. Diversas conferências foram realizadas para definir as diretrizes para se promover, social e ambientalmente, o desenvolvimento sustentável. Dentre estas conferências destacamos os Fóruns para Cidades Sustentáveis, a conferência européia que elaborou a Carta de Leipzig e as Conferências Habitat I, realizada em 1976, e Habitat II, realizada em 1996, pois são as conferências que se focaram na questão das cidades sustentáveis. Nestes 20 anos que separam as conferências Habitat I e Habitat II, tem ocorrido uma lenta, porém significativa, mudança na maneira de pensar o planejamento e a gestão urbana. Abandona-se progressivamente a idéia da cidade como um caos a ser evitado, pela idéia de que é preciso administrar a cidade e os processos sociais que a produzem e modificam. E mais, pela idéia de que o futuro do planeta depende de como irão evoluir as soluções urbanísticas e a certeza de que qualquer idéia de sustentabilidade deverá provar a sua operacionalidade no cenário das cidades, em um mundo em crescente urbanização. As principais razões para esta mudança de pensamento devem ser atribuídas a dois fatores irrefutáveis: primeiro, o fracasso das políticas de incentivo a fixação da população rural, segundo, a efetiva realidade de que a cidade é a forma que os seres humanos escolheram para viver em sociedade, a prova disso esta no aumento crescente da população urbana, em 2008 verificou- se que mais da metade da população mundial vivia em cidades, totalizando 3,3 bilhões de pessoas. Esse número vai aumentar para 5 milhões em 2030, segundo a ONU. Com este cenário de constante expansão urbana, as cidades do século XXI precisam encontrar formas de se evitar a degradação ambiental decorrente do processo de urbanização acelerada, buscando um espaço urbano mais sólido, denso e duradouro. Richard Rogers estabelece em seu livro Towards an Urban Renaissance os princípios para uma cidade sustentável: -Desenho Urbano: o desenho urbano é fundamental para a qualidade do espaço urbano, pois não só determina a qualidade do ambiente construído, dos edifícios, dos espaços públicos, da paisagem e da infra-estrutura, mas também permite a implementação de instrumentos para se alcançar o renascimento urbano. Um bom desenho urbano, aliado a uma boa arquitetura produz cidades agradáveis com as quais a população se identifica, se apega e consequentemente cuida. -Cidade Compacta e Bem Conectada: O aumento da densidade populacional, além de ser necessário para conter a expansão territorial, permite a implantação de equipamentos públicos e infra-estrutura de transporte em maior quantidade em um menor espaço, reduzindo assim a necessidade do transporte individual e contribuindo para a sustentabilidade urbana. Mas a alta densidade não garante um espaço urbano de qualidade, é preciso haver uma articulação clara e eficiente, que deve conectar não apenas ruas e quarteirões, mas também pessoas e funções dentro da cidade. -Diversidade de Usos: A mistura de usos dentro de um mesmo bairro propicia um espaço urbano mais vivo, no qual a população residente pode desempenhar todas as suas tarefas nos arredores, sem precisar de transporte para isso. -Diversidade de Classes Sociais: Um espaço urbano que abriga pessoas de classes sociais distintas é capaz de distribuir de forma mais igualitária os serviços públicos e a infra-estrutura, além de evitar a exclusão social. -Espaços Públicos: Para conseguir a integração urbana é necessário pensar no espaço urbano aberto e não como uma unidade isolada, seja uma rua, parque ou uma praça, mas como uma parte vital da paisagem urbana com seu próprio conjunto específico de funções. O espaço público deve ser concebido como espaço ao ar livre dentro de um bairro, um lugar para relaxar e desfrutar da experiência urbana, um espaço que oferece uma gama de atividades diferentes para atender aos interesses de toda a população local. -Participação da Sociedade: A população precisa se engajar nos programas e projetos para a criação de um espaço urbano de qualidade. -Transporte: Uma cidade sustentável deve privilegiar a utilização do transporte público, oferecendo uma rede de transportes que conecte de forma eficiente toda a cidade, dessa forma a população opta naturalmente pelo transporte público e abandona o individual. Em uma cidade integrada a população deve, em muitas ocasiões, se deslocar a pé ou de bicicleta, para que isso ocorra é necessário que o espaço público seja agradável e confortável, estimulando a população a usufruir deste espaço. -Gestão de Energia: O incentivo a utilização de energias alternativas deve ser uma obrigação do poder público, que precisa disponibilizar a tecnologia e em muitos casos financiar a sua implantação. -Gestão de Água: A distribuição de água à população deve ser acompanhada de programas de conscientização que visem à diminuição do desperdício. O tratamento do esgoto deve ser eficiente para possibilitar a reutilização da água. -Eliminação de resíduos: Adotar o saneamento ambiental como uma política pública estruturadora para a redução de resíduos sólidos, associada à prática da coleta seletiva em larga escala, com foco na reutilização e reciclagem. -Particularidades: Os princípios para uma cidade sustentável precisam ser interpretados e adaptados para cada contexto. Para se criar um espaço urbano sustentável é necessário considerar as particularidades de cada cidade, pois cada caso é diferente e necessita de soluções distintas. BIBLIOGRAFIA GIRADET, Herbert. Creating Sustaynable Cities. Shumacher Briefings n. 2. Bristol: Green Books, 2003. ACSELRAD, Henri. A duração das cidades: sustentabilidade e risco nas políticas urbanas. Rio de Janeiro: DP&A, 2001. ECHENIQUE, Marcial, SAINT, Andrew. Cities for the new millennium. London: Routledge EF&N Spon, 2001. FRY, Hildebrand. Designing the city: towards a more sustainable urban form. London: EF&N Spon, 1999. JENKS, Mike, DEMPSEY, Nicola. Future firms and design for sustainable cities. Oxford: Architectural Press, 2005. ROGERS, Richard . Towards an Urban Renaissance. Final Report of the Urban Task Force. DETR - Department of the Environment, Transport and the Regions of London. London: E & FN SPON, 1999 http://www.camarasverdes.pt/tema-especial/442-cidades-sustentaveis-as-cidades-do-futuro.html http://www.energiaeficiente.com.br/tag/masdar/ http://imago-urbis.blogspot.com/2008/01/masdar-uma-nova-utopia.html http://www.knowledge.allianz.com.br/br/energy_co2/energy_efficiency/masdar_ecocity_abudhabi_city.html http://greenmobility.wordpress.com/page/2/ http://sustainable2010.blogspot.com/p/sites.html http://ecotecnologia.wordpress.com/2008/01/12/vila-solar-em-freiburg-alemanha/ Cidades sustentáveis, realidade ou utopia? AUT 221 - Dezembro / 2010 Kelly Viana Shuhama e Raquel Marechal Masdar City - Emirados Árabes Freiburg - Alemanha A cidade de Freiburgo, localizada no sudoeste da Alemanha é considerada uma cidade 100% sustentável. Freiburgo foi pioneira nos princípios de sustentabilidade urbana, sendo que as primeiras iniciativas começaram nos anos 80, e rapidamente de disseminaram e conquistaram toda a população da cidade. Freiburgo é uma cidade universitária em ascensão, com uma população jovem e engajada conseguiu incluir na administração pública um comitê de ambientalistas que definem as iniciativas públicas e regulamentam os princípios de sustentabilidade na cidade. Já na década de 1980 as autoridades locais implementaram um plano estratégico de uso racional de energia e em 1996 a cidade adotou um plano de proteção ambiental, com metas de redução de 25% na emissão de CO2 até 2010. Para alcançar essa meta foram estabelecidas duas prioridades: incentivar o uso de energias renováveis, em especial a energia solar, e incentivar a diminuição do consumo de energia nas construções novas e existentes. Basicamente, a política energética da cidade esta assentada em 3 pilares: conservação de energia, uso de tecnologias em ciclo combinado e uso de energias renováveis. Nos últimos 20 anos Freiburgo construiu dois bairros que são destaque em suas medidas sustentáveis, são eles Vauban, construído em uma antiga base militar próxima ao centro da cidade e Riesefeld, a oeste. Em Freiburgo esta localizada a sede de um dos principais fabricantes de painéis solares alemães, a “Fábrica Solar”, que conta com um enorme laboratório que desenvolve tecnologias de ponta. Esta fábrica teve um papel fundamental no desenvolvimento sustentável de Freiburgo, uma vez que disseminou o uso de painéis solares por toda a cidade. A população recebeu treinamento para a instalação e manutenção dos painéis e a empresa ainda financiou parte do programa. A cidade criou um programa de incentivo à energia solar e impôs que as casas novas devem ter um design de alta eficiência, o que significa usar apenas 2/3 do que é permitido por lei. Atualmente grande parte das residências de Freiburg são auto-suficientes energeticamente e as extensas fazendas de painéis solares produzem energia suficiente para manter todos os setores da cidade. A sustentabilidade de Freiburgo vai muito além da questão energética, uma vez que conta com meios de transporte de baixo impacto ambiental, residências sustentáveis, educação ecológica desde o ensino básico e uma urbanização que possibilita toda esta integração. Todas as residências recentemente construídas utilizam técnicas para diminuir o consumo de energia, que vão desde o isolamento térmico, janelas, sistema de ventilação e aquecimento central e solar, à reciclagem de dejetos e um sistema próprio de tratamento de água. A população de Freiburg privilegia a utilização do transporte público para longos trajetos e se desloca normalmente a pé ou de bicicleta. A diversidade de usos é adotada na cidade, de forma que as residências, o trabalho, os serviços e equipamentos são alocados de forma racional e integrada, privilegiando os trajetos curtos. A integração social é considerada uma responsabilidade do poder público, que constantemente realiza pesquisas que buscam definir um perfil da população, verificando as necessidades das famílias carentes e buscando integrá-las à comunidade, de forma a criar bairros com uma grande diversidade de classes sociais. Os espaços públicos possuem destaque na cidade de Freiburgo, e cumprem de forma eficiente sua função de integrar a comunidade e criar o apego da população à cidade. Vauban Construída em uma antiga base militar, o bairro de Vauban surgiu em 1995 já com a intenção de se tornar uma bandeira para projetos sociais e ambientais. O bairro foi criado através de um plano estratégico eficiente que implantou muitas medidas sustentáveis de sucesso, dentre elas podemos citar a preservação de áreas verdes, a diversidade de usos e classes sociais, a harmonia entre habitações e espaços públicos, a utilização de energia renovável, espaços públicos bem distribuídos e bem conectados, transporte público abrangente e integrado e etc. Atualmente Vauban é considerado um bairro sem carro, onde os residentes se movimentam basicamente a pé, de bicicleta e, para deslocações mais distantes, em autocarros elétricos. Rieselfeld A proposta para a criação de um bairro sustentável piloto começou nos anos 1980, com a construção de uma nova estação regional de tratamento de esgoto, nesta mesma região as autoridades decidiram criar uma reserva natural com 250 hectares e um bairro com aproximadamente 4500 residências que deveriam atender aproximadamente 12000 pessoas. As tipologias habitacionais implantadas no bairro foram bastante diversificadas, para possibilitar a comparação entre diferentes performances no consumo de energia, esta diversidade de tipologias também possibilitou a mistura de classes sociais. Localizado a apenas 15 minutos de trem do centro da cidade o bairro de Rieselfeld conta com todos os serviços necessários para atender a comunidade, além de 5 mil empregos para a população local, dando preferência a proximidade entre o trabalho e a residência. Outras medidas foram tomadas para alcançar os níveis de redução de CO2 desejados, como a oferta de um transporte público de qualidade, incentivo ao deslocamento a pé ou de bicicleta e até mesmo a proibição do uso de automóveis em alguns locais.

Cidades Freiburg - Alemanha sustentáveis, · Itens da arquitetura árabe tradicional, como os muros em volta das cidades, irão ajudar a isolar o vento quente do deserto, e ruas

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Page 1: Cidades Freiburg - Alemanha sustentáveis, · Itens da arquitetura árabe tradicional, como os muros em volta das cidades, irão ajudar a isolar o vento quente do deserto, e ruas

Batizada de Masdar City, a construção tem a sustentabilidade como foco e promete ser isenta de emissões de CO2. Para isso, contará com tudo que o conhecimento humano e o dinheiro dos

maiores petroleiros árabes podem conseguir, como tecnologia de ponta e investimento da casa dos US$ 22 bilhões. Visa ser um modelo que ajude a preparar o país para a era pós-petróleo, na qual

o mundo terá que se adaptar em todas as esferas de produção e consumo.

Projetada pela firma Foster & Partners, a cidade de Masdar será um quadrado perfeito, com aproximadamente 1.500 metros de cada lado, erguida sobre uma base de sete metros de altura

para aproveitar a brisa do deserto. O planejamento é de que 30% da área seja destinada às residências, 13% comercial, 6% universidades, 8% cultural, 19% serviços e 24% a uma zona econômica

especial.

Itens da arquitetura árabe tradicional, como os muros em volta das cidades, irão ajudar a isolar o vento quente do deserto, e ruas estreitas para potencializar o vento encanado e as sombras (a

maioria das ruas da cidade terá apenas 3 metros de largura e 70 de comprimento para facilitar a passagem do ar e também incentivar a caminhada).

Prevista para abrigar 40 mil moradores e 50 mil visitantes de passagem, a cidade não terá automóveis, mas não será necessariamente repleta de bicicletas e pedestres. Um sistema de

trânsito rápido individual – mini-vagões sobre trilhos – oferecerá uma mobilidade comparável a andar num vagão de metrô particular. As mercadorias serão transportadas de modo similar. Os

visitantes poderão ir a Masdar usando o já previsto sistema de transporte ferroviário leve (LRT) de Abu-Dhab.

A energia necessária para funcionamento da cidade virá de painéis fotovoltaicos instalados fora da cidade, turbinas eólicas, cultivo de três espécies de plantas que geram biocombustíveis,

sistema geotermal (que transforma o calor do solo em energia) e um quinto do abastecimento ainda não foi definido contando com s suposição otimista de que formas melhores para a geração de

energia renovável possam surgir até 2016. As edificações de Masdar são projetadas para usar apenas 20% da energia das estruturas convencionais.

A água doce será fornecida por uma usina de dessalinização movida a painéis solares fotovoltaicos. Coletores de orvalho e captação de água das chuvas complementarão o abastecimento. A

água para irrigar plantações e jardins, equivalente a 60% das necessidades da cidade, e deverá ser obtida a partir da reciclagem de águas servidas.

Os serviços de purificação e incineração são todos subterrâneos e apenas 2% dos resíduos gerados em Masdar serão destinados a um aterro. Todo o restante será enviado para centros de

reciclagem e compostagem.

A região econômica, uma espécie de zona franca árabe, foi planejada para atrair 1,5 mil empresas privadas. Elas contarão com um pacote de incentivos do governo, serão isentas de impostos

e terão proteção de patente garantida em qualquer projeto criado ali.

Só será usado material ecologicamente correto, como recicláveis e materiais certificados. Apenas alimentos biológicos e orgânicos farão parte do cardápio de Masdar City.

Um dos objetivos em Masdar foi criar uma alternativa ao desenvolvimento ineficiente visto

hoje em boa parte das cidades do Oriente Médio - casas construídas num superficial estilo islâmico

ao lado de shoppings gigantescos. Será mesmo sustentável colocar mais gente morando num

ambiente desértico? Dizem os críticos que o único modo de garantir que Masdar atinja a meta da

neutralidade em emissão de carbono seria não construir a cidade. Os 22 bilhões de dólares do

investimento inicial, dizem eles, seriam melhor empregados aumentando as áreas verdes de Abu-

Dhabi, que apresenta uma das piores pegadas de carbono no mundo.

A água potável servida na cidade é produzida em estações de dessalinização, processo custoso

que implica em aquecimento, evaporação e condensação da água marinha. A idéia de que só carros

elétricos - que são caríssimos - poderão entrar lá é viável? E de que tipo de empresas estamos

falando: o negócio delas também será ecologicamente correto? De onde virão os alimentos para

Masdar? Esses e outros questionamentos levam o mundo a refletir se a cidade de Masdar poderá

mesmo ser aclamada como uma cidade sustentável ou se não vai passar de mais uma gigantesca

obra de construção civil patrocinada pelos xeiques árabes, e de futuro incerto. Mas mais do que isso,

será que a cidade ultra-sustentável será mesmo um modelo possível de ser reaplicado em todo o

mundo?

A cidade não é apenas uma miragem futurista e tem muitos pontos positivos, como a

integração entre tecnologias de última geração e o design antigo das cidades árabes, inserida em

uma sociedade que convive com o tradicional e o moderno diariamente. Mas se Masdar só puder ser

sustentável caso permaneça isolada do resto do mundo, nunca será mais do que uma "experiência

agradável", e assim como outros tantos casos de eco-cidades, será um modelo de estudos.

O crescimento populacional e urbano e suas conseqüências ao meio

ambiente e à qualidade de vida da população colocaram em pauta diversas

questões sobre as cidades, entre elas moradia, infra-estrutura, saneamento,

consumo e meio ambiente. A preocupação com degradação do planeta teve

início apenas na metade do século XX e, de forma crescente, se tornou uma

preocupação corrente em todos os campos do desenvolvimento urbano.

Diversas conferências foram realizadas para definir as diretrizes para se

promover, social e ambientalmente, o desenvolvimento sustentável. Dentre

estas conferências destacamos os Fóruns para Cidades Sustentáveis, a

conferência européia que elaborou a Carta de Leipzig e as Conferências Habitat

I, realizada em 1976, e Habitat II, realizada em 1996, pois são as conferências que

se focaram na questão das cidades sustentáveis.

Nestes 20 anos que separam as conferências Habitat I e Habitat II, tem

ocorrido uma lenta, porém significativa, mudança na maneira de pensar o

planejamento e a gestão urbana. Abandona-se progressivamente a idéia da

cidade como um caos a ser evitado, pela idéia de que é preciso administrar a

cidade e os processos sociais que a produzem e modificam. E mais, pela idéia de

que o futuro do planeta depende de como irão evoluir as soluções urbanísticas e

a certeza de que qualquer idéia de sustentabilidade deverá provar a sua

operacionalidade no cenário das cidades, em um mundo em crescente

urbanização.

As principais razões para esta mudança de pensamento devem ser

atribuídas a dois fatores irrefutáveis: primeiro, o fracasso das políticas de

incentivo a fixação da população rural, segundo, a efetiva realidade de que a

cidade é a forma que os seres humanos escolheram para viver em sociedade, a

prova disso esta no aumento crescente da população urbana, em 2008 verificou-

se que mais da metade da população mundial vivia em cidades, totalizando 3,3

bilhões de pessoas. Esse número vai aumentar para 5 milhões em 2030, segundo

a ONU.

Com este cenário de constante expansão urbana, as cidades do século XXI

precisam encontrar formas de se evitar a degradação ambiental decorrente do

processo de urbanização acelerada, buscando um espaço urbano mais sólido,

denso e duradouro. Richard Rogers estabelece em seu livro Towards an Urban

Renaissance os princípios para uma cidade sustentável:

-Desenho Urbano: o desenho urbano é fundamental para a qualidade do

espaço urbano, pois não só determina a qualidade do ambiente construído, dos

edifícios, dos espaços públicos, da paisagem e da infra-estrutura, mas também

permite a implementação de instrumentos para se alcançar o renascimento

urbano. Um bom desenho urbano, aliado a uma boa arquitetura produz cidades

agradáveis com as quais a população se identifica, se apega e

consequentemente cuida.

-Cidade Compacta e Bem Conectada: O aumento da densidade

populacional, além de ser necessário para conter a expansão territorial, permite

a implantação de equipamentos públicos e infra-estrutura de transporte em

maior quantidade em um menor espaço, reduzindo assim a necessidade do

transporte individual e contribuindo para a sustentabilidade urbana. Mas a alta

densidade não garante um espaço urbano de qualidade, é preciso haver uma

articulação clara e eficiente, que deve conectar não apenas ruas e quarteirões,

mas também pessoas e funções dentro da cidade.

-Diversidade de Usos: A mistura de usos dentro de um mesmo bairro

propicia um espaço urbano mais vivo, no qual a população residente pode

desempenhar todas as suas tarefas nos arredores, sem precisar de transporte

para isso.

-Diversidade de Classes Sociais: Um espaço urbano que abriga pessoas de

classes sociais distintas é capaz de distribuir de forma mais igualitária os serviços

públicos e a infra-estrutura, além de evitar a exclusão social.

-Espaços Públicos: Para conseguir a integração urbana é necessário

pensar no espaço urbano aberto e não como uma unidade isolada, seja uma rua,

parque ou uma praça, mas como uma parte vital da paisagem urbana com seu

próprio conjunto específico de funções. O espaço público deve ser concebido

como espaço ao ar livre dentro de um bairro, um lugar para relaxar e desfrutar da

experiência urbana, um espaço que oferece uma gama de atividades diferentes

para atender aos interesses de toda a população local.

-Participação da Sociedade: A população precisa se engajar nos

programas e projetos para a criação de um espaço urbano de qualidade.

-Transporte: Uma cidade sustentável deve privilegiar a utilização do

transporte público, oferecendo uma rede de transportes que conecte de forma

eficiente toda a cidade, dessa forma a população opta naturalmente pelo

transporte público e abandona o individual. Em uma cidade integrada a

população deve, em muitas ocasiões, se deslocar a pé ou de bicicleta, para que

isso ocorra é necessário que o espaço público seja agradável e confortável,

estimulando a população a usufruir deste espaço.

-Gestão de Energia: O incentivo a utilização de energias alternativas deve

ser uma obrigação do poder público, que precisa disponibilizar a tecnologia e em

muitos casos financiar a sua implantação.

-Gestão de Água: A distribuição de água à população deve ser

acompanhada de programas de conscientização que visem à diminuição do

desperdício. O tratamento do esgoto deve ser eficiente para possibilitar a

reutilização da água.

-Eliminação de resíduos: Adotar o saneamento ambiental como uma

política pública estruturadora para a redução de resíduos sólidos, associada à

prática da coleta seletiva em larga escala, com foco na reutilização e reciclagem.

-Particularidades: Os princípios para uma cidade sustentável precisam ser

interpretados e adaptados para cada contexto. Para se criar um espaço urbano

sustentável é necessário considerar as particularidades de cada cidade, pois

cada caso é diferente e necessita de soluções distintas.

BIBLIOGRAFIA

GIRADET, Herbert. Creating Sustaynable Cities. Shumacher Briefings n. 2. Bristol: Green Books,

2003.

ACSELRAD, Henri. A duração das cidades: sustentabilidade e risco nas políticas urbanas. Rio de Janeiro:

DP&A, 2001.

ECHENIQUE, Marcial, SAINT, Andrew. Cities for the new millennium. London: Routledge EF&N Spon,

2001.

FRY, Hildebrand. Designing the city: towards a more sustainable urban form. London: EF&N Spon, 1999.

JENKS, Mike, DEMPSEY, Nicola. Future firms and design for sustainable cities. Oxford: Architectural

Press, 2005.

ROGERS, Richard . Towards an Urban Renaissance. Final Report of the Urban Task Force. DETR -

Department of the Environment, Transport and the Regions of London. London: E & FN SPON, 1999

http://www.camarasverdes.pt/tema-especial/442-cidades-sustentaveis-as-cidades-do-futuro.html

http://www.energiaeficiente.com.br/tag/masdar/

http://imago-urbis.blogspot.com/2008/01/masdar-uma-nova-utopia.html

http://www.knowledge.allianz.com.br/br/energy_co2/energy_efficiency/masdar_ecocity_abudhabi_city.html

http://greenmobility.wordpress.com/page/2/

http://sustainable2010.blogspot.com/p/sites.html

http://ecotecnologia.wordpress.com/2008/01/12/vila-solar-em-freiburg-alemanha/

Cidades sustentáveis,

realidade ou utopia?

AUT 221 - Dezembro / 2010 Kelly Viana Shuhama e Raquel Marechal

Masdar City - Emirados Árabes

Freiburg - AlemanhaA cidade de Freiburgo, localizada no sudoeste da Alemanha é considerada uma cidade 100% sustentável. Freiburgo foi pioneira nos princípios de sustentabilidade urbana, sendo que as

primeiras iniciativas começaram nos anos 80, e rapidamente de disseminaram e conquistaram toda a população da cidade.

Freiburgo é uma cidade universitária em ascensão, com uma população jovem e engajada conseguiu incluir na administração pública um comitê de ambientalistas que definem as

iniciativas públicas e regulamentam os princípios de sustentabilidade na cidade.

Já na década de 1980 as autoridades locais implementaram um plano estratégico de uso racional de energia e em 1996 a cidade adotou um plano de proteção ambiental, com metas de

redução de 25% na emissão de CO2 até 2010. Para alcançar essa meta foram estabelecidas duas prioridades: incentivar o uso de energias renováveis, em especial a energia solar, e incentivar

a diminuição do consumo de energia nas construções novas e existentes. Basicamente, a política energética da cidade esta assentada em 3 pilares: conservação de energia, uso de

tecnologias em ciclo combinado e uso de energias renováveis.

Nos últimos 20 anos Freiburgo construiu dois bairros que são destaque em suas medidas sustentáveis, são eles Vauban, construído em uma antiga base militar próxima ao centro da

cidade e Riesefeld, a oeste.

Em Freiburgo esta localizada a sede de um dos principais fabricantes de painéis solares alemães, a “Fábrica Solar”, que conta com um enorme laboratório que desenvolve tecnologias

de ponta. Esta fábrica teve um papel fundamental no desenvolvimento sustentável de Freiburgo, uma vez que disseminou o uso de painéis solares por toda a cidade. A população recebeu

treinamento para a instalação e manutenção dos painéis e a empresa ainda financiou parte do programa. A cidade criou um programa de incentivo à energia solar e impôs que as casas novas

devem ter um design de alta eficiência, o que significa usar apenas 2/3 do que é permitido por lei.

Atualmente grande parte das residências de Freiburg são auto-suficientes energeticamente e as extensas fazendas de painéis solares produzem energia suficiente para manter todos

os setores da cidade.

A sustentabilidade de Freiburgo vai muito além da questão energética, uma vez que conta com meios de transporte de baixo impacto ambiental, residências sustentáveis, educação

ecológica desde o ensino básico e uma urbanização que possibilita toda esta integração.

Todas as residências recentemente construídas utilizam técnicas para diminuir o consumo de energia, que vão desde o isolamento térmico, janelas, sistema de ventilação e

aquecimento central e solar, à reciclagem de dejetos e um sistema próprio de tratamento de água.

A população de Freiburg privilegia a utilização do transporte público para longos trajetos e se desloca normalmente a pé ou de bicicleta. A diversidade de usos é adotada na cidade, de

forma que as residências, o trabalho, os serviços e equipamentos são alocados de forma racional e integrada, privilegiando os trajetos curtos.

A integração social é considerada uma responsabilidade do poder público, que constantemente realiza pesquisas que buscam definir um perfil da população, verificando as

necessidades das famílias carentes e buscando integrá-las à comunidade, de forma a criar bairros com uma grande diversidade de classes sociais.

Os espaços públicos possuem destaque na cidade de Freiburgo, e cumprem de forma eficiente sua função de integrar a comunidade e criar o apego da população à cidade.

Vauban

Construída em uma antiga base militar, o bairro de Vauban surgiu em 1995 já com a intenção de se tornar uma bandeira para projetos sociais e ambientais. O bairro foi criado através de

um plano estratégico eficiente que implantou muitas medidas sustentáveis de sucesso, dentre elas podemos citar a preservação de áreas verdes, a diversidade de usos e classes sociais, a

harmonia entre habitações e espaços públicos, a utilização de energia renovável, espaços públicos bem distribuídos e bem conectados, transporte público abrangente e integrado e etc.

Atualmente Vauban é considerado um bairro sem carro, onde os residentes se movimentam basicamente a pé, de bicicleta e, para deslocações mais distantes, em autocarros elétricos.

Rieselfeld

A proposta para a criação de um bairro sustentável piloto começou nos anos 1980, com a construção de uma nova estação regional de tratamento de esgoto, nesta mesma região as

autoridades decidiram criar uma reserva natural com 250 hectares e um bairro com aproximadamente 4500 residências que deveriam atender aproximadamente 12000 pessoas.

As tipologias habitacionais implantadas no bairro foram bastante diversificadas, para possibilitar a comparação entre diferentes performances no consumo de energia, esta

diversidade de tipologias também possibilitou a mistura de classes sociais.

Localizado a apenas 15 minutos de trem do centro da cidade o bairro de Rieselfeld conta com todos os serviços necessários para atender a comunidade, além de 5 mil empregos para a

população local, dando preferência a proximidade entre o trabalho e a residência. Outras medidas foram tomadas para alcançar os níveis de redução de CO2 desejados, como a oferta de um

transporte público de qualidade, incentivo ao deslocamento a pé ou de bicicleta e até mesmo a proibição do uso de automóveis em alguns locais.