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1 Não há impedimento legal para que o Presidente do Tribunal Supremo se faça presente neste tipo de cerimónias, mas não cabe lugar a sua participação sem arrepiar o princípio da separação de poderes. O entendimento que se tem é o de que o Presidente da República se despede dos membros do seu Governo e particularmente da Presidente da Assembleia da República que, à luz da Constituição da República de Moçambique, o substitui nas suas ausências. É aqui onde o Presidente da República deixa as últimas recomendações aos membros do seu Governo e troca notas de trabalho com a Presidente da Assembleia da República. Já há muito que se levanta o problema da influência do poder político sobre o poder judicial. A sociedade tem vindo a propor reformas constitucionais que assegurem uma efectiva independência do Presidente do Tribunal Supremo. Porque, sendo o Presidente do Tribunal Supremo nomeado pelo Presidente da República mediante escolha deste com base, por isso, em critérios de confiança política, não obstante a impossibilidade legal de o demitir, senão a de exonerá-lo findo o cumprimento do mandato constitucionalmente consagrado, ainda se levanta, contudo, a questão da sua recondução ao cargo que, como se sabe, também depende do Chefe de Estado. Desta feita, ao ir curvar-se perante o Presidente da República, o Presidente do Tribunal Supremo está a passar para a sociedade a imagem de subalternização do poder judicial perante o poder executivo. Esta actuação do Presidente do Tribunal Supremo vai corroborar e perpetuar a contínua submissão do judicial ao executivo que, no fundo, é o que vem acontecendo como prática já enraizada. Tal submissão é um fenómeno que vem acontecendo também nas províncias e distritos deste país, onde os magistrados, designadamente os Presidentes dos Tribunais Provinciais e Distritais, participam nas sessões dos respectivos Governos. Por tudo isto e pela propalada reforma e credibilização do sistema judicial, não há lugar para o Presidente do Tribunal Supremo ir curvar-se perante o poder político. O Presidente do Tribunal Supremo tem como obrigação transmitir a imagem da separação Presidente do Tribunal Supremo Coarcta a já Fraca Credibilidade do Poder Judicial ao perfilar-se para a despedida do Presidente da República Entre os altos dignitários do Estado e Governo que perfilaram ontem, dia 14 de Julho de 2015, no Aeroporto Internacional de Maputo, para a despedida do Presidente da República Filipe Jacinto Nyusi, que partia para uma viagem de Estado a Portugal e seguidamente a França, estava o Presidente do Tribunal Supremo, Dr. Adelino Muchanga. Enquanto é muito importante a participação do poder judicial em cerimónias de Estado, o facto em análise é problemático e causa indignação. Newsletter Edição Nº 21/2015 - Julho - Distribuição Gratuita a Transparência CENTRO DE INTEGRIDADE PÚBLICA MOÇAMBIQUE Boa Governação - Transparência - Integridade

Cipdoc 375 a Transparencia Nº21 2015

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Não há impedimento legal para que o Presidente do Tribunal Supremo se faça presente neste tipo de cerimónias, mas não cabe lugar a sua participação sem arrepiar o princípio da separação de poderes. O entendimento que se tem é o de que o Presidente da República se despede dos membros do seu Governo e particularmente da Presidente da Assembleia da República que, à luz da Constituição da República de Moçambique, o substitui nas suas ausências. É aqui onde o Presidente da República deixa as últimas recomendações aos membros do seu Governo e troca notas de trabalho com a Presidente da Assembleia da República.

Já há muito que se levanta o problema da influência do poder político sobre o poder judicial. A sociedade tem vindo a propor reformas constitucionais que assegurem uma efectiva independência do Presidente do Tribunal Supremo. Porque, sendo o Presidente do Tribunal Supremo nomeado pelo Presidente da República mediante escolha deste com base, por isso, em critérios de confiança política, não obstante a impossibilidade legal de o demitir, senão a de exonerá-lo findo o cumprimento

do mandato constitucionalmente consagrado, ainda se levanta, contudo, a questão da sua recondução ao cargo que, como se sabe, também depende do Chefe de Estado.

Desta feita, ao ir curvar-se perante o Presidente da República, o Presidente do Tribunal Supremo está a passar para a sociedade a imagem de subalternização do poder judicial perante o poder executivo. Esta actuação do Presidente do Tribunal Supremo vai corroborar e perpetuar a contínua submissão do judicial ao executivo que, no fundo, é o que vem acontecendo como prática já enraizada.

Tal submissão é um fenómeno que vem acontecendo também nas províncias e distritos deste país, onde os magistrados, designadamente os Presidentes dos Tribunais Provinciais e Distritais, participam nas sessões dos respectivos Governos.

Por tudo isto e pela propalada reforma e credibilização do sistema judicial, não há lugar para o Presidente do Tribunal Supremo ir curvar-se perante o poder político. O Presidente do Tribunal Supremo tem como obrigação transmitir a imagem da separação

Presidente do Tribunal Supremo Coarcta a já Fraca Credibilidade do Poder Judicial ao perfilar-se para a despedida do Presidente da RepúblicaEntre os altos dignitários do Estado e Governo que perfilaram ontem, dia 14 de Julho de 2015, no Aeroporto Internacional de Maputo, para a despedida do Presidente da República Filipe Jacinto Nyusi, que partia para uma viagem de Estado a Portugal e seguidamente a França, estava o Presidente do Tribunal Supremo, Dr. Adelino Muchanga. Enquanto é muito importante a participação do poder judicial em cerimónias de Estado, o facto em análise é problemático e causa indignação.

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nítida entre o poder judicial e o executivo, o que se deve materializar também através da postura que assume, sabendo distinguir claramente o que é um evento de Estado e quando se trata de um acto de natureza política. Cabe-lhe, pois, conformar-se com a posição que ocupa e conferir à mesma a necessária dignidade, o que só se consegue através de acções concretas.