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iNstituto Arte itAporANGA 2014 ProjetO CiRANDA de vALores

Ciranda de Valores 2014

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Cinco artistas contam suas experiencias ao aceitar participar de um projeto social num vilarejo do sul da Bahia. Durante o ano de 2014, cada um com sua técnica de arte, passou por Itaporanga e conviveu com 120 jovens. Ensinando e aprendendo valores humanos como Amor, Liberdade, Trabalho, Honestidade, Respeito e Amizade.

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iNstitutoArte

itAporANGA

2014

ProjetOCiRANDA

de vALores

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VAMBÓRA?

O convite, encontrado pelas redes sociais, dizia mais ou menos assim:

Estamos selecionando 5 artistas que possam nos ajudar a dar vida ao projeto CIRANDA DE VALORES no Instituto Arte Itaporanga em 2014. Temos interesse em artistas de diferentes áreas e experiências criativas. Sua experiência e sua paixão são essenciais para o sucesso desre projeto.

Você terá a oportunidade de passar de 6 a 8 semanas trabalhando com 100 jovens artistas explorando valores humanos escolhidos pela equipe de educadores do instituto: Amizade, Respeito, Honestidade, Liberdade, Amor e Trabalho.O projeto acontecerá em Itaporanga, um pequeno povoado no sul da Bahia, onde você poderá compartilhar sua arte como ponto de partida para a exploração de um valor em particular.No período que estiver morando no local, você poderá ensinar, compartilhar e aprender com os jovens artistas locais.Além do tempo dedicado às aulas no instituto, você terá tempo livre para sua própria exploração criativa e praticar sua arte, isto próximo a Trancoso e ao maravilhoso litoral Bahiano.

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TopArAm

e aGora coNtam suas experiências: DesafioO

Analice Sousa CostaValor: TrabalhoPeríodo: Março e AbrilLogo aqui na página 06

Cristhy Grecco MattosValor: RespeitoPeríodo: Maio e JunhoEncontre-a na página 18

Gisele OttoboniValores: Amor e LiberdadePeríodo: Julho e AgostoCorre lá na página 30

Jéssica FerrazValor: AmizadePeríodo: SetembroSaiba mais na página 42

Lucas Souzalima RodriguesValor: HonestidadePeríodo: Outubro a DezembroNo fundão, na página 54

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trABAlhO

AnALice SoUsa cOStaPOR

coisaS QUe OdinHeiro

naO cOMpra

“Escolhe um trabalho de que gostes e não terás que trabalhar nem um dia na tua vida.”Sempre segui esse lema de Confúcio e agora precisava mostrar a 120 crianças como fazer o mesmo. Ensinar a arte, ajudando cada um a encontrar o próprio estilo. Ensinar a reciclagem, ajudando cada um a fazer a sua parte no mundo. Ensinar o auto-conhecimento, ajudando cada um a buscar os próprios sonhos. Mas não tem jeito. A gente sempre aprende mais do que ensina e volta mais rico pra casa.6

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Analice Sousa Costa (1982) tem formação em Design Gráfico pela Faculdade SENAC de Comunicação e Artes. Curiosa nata, é uma Eco-Artista autodidata, sempre experimentando, criando e recilando tudo a sua volta. Da garrafa PET à geladeira antiga. Nasceu e cresceu em São Paulo - SP, mas largou a metrópole para investir numa pousada em Trancoso - BA. Ali, trabalha em parceria com as ONGs locais. Se considera cidadã do mundo e gira o planeta baseando seu turismo em trabalhos voluntários. Já passou por algumas cidades do estado de SP e BA, além de ter fincado pé em outros países como Itália, Canadá e Nova Zelândia. Acredita numa educação mais livre e criativa e colabora para essa mudança no mundo.

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Conhecer a si mesmo. Etapa fundamental para identificar os próprios talentos e descobrir os próprios sonhos. Depois, o trabalho: espaço para aplicar as habilidades e oportunidade de realizar os desejos.Com o trabalho a gente muda e muda o mundo. Então por que não mudar para melhor? Decidimos como queríamos o mundo, limpamos o vilarejo, entramos nas casas, espalhamos cidadania, pedimos respeito, vendemos sonhos.Eu mudei também. Aprendi com a lógica infantil e com a simplicidade que só um lugar como Itaporanga pode ensinar. Descobri o caos e o silêncio dentro de mim. Explorei alguns limites e me encontrei na beira de mim mesma.

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Bom Dia. Boa tarDe. Boa noite.Bom Dia. Boa tarDe. Boa noite.

Tão simples. Tão raro.Por ONDe EU aNDavaque não escutava isso antes?

Bom DiA. BoA tArDe. BoA NoitE.Era EU que não responDiA?

Ou simplesmente não existia?

mAS Em itAporANGA temAqui tem tODo Dia Bom dia.

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Então, mão na massa. Nada de moleza.Pensa. Tenta. Experimenta. Duvida. Erra. Acerta. Chora. Ri. Conhece. Descobre. Ajuda. Colabora. Compartilha. Cria.Trabalha!O tempo corre e o mundo não espera. Quanto tempo você vai perder naquele trabalho chato? Quanto talento você vai desperdiçar num trabalho que não te engrandece? O que você fez pelo mundo hoje? O que o mundo fez por você? O que o trabalho fez por você? Que frutos você colheu? Com muito suor, as 120 crianças do Instituto Arte Itaporanga colheram Amor, Companheirismo, Trabalho em Equipe, Paciência, Habilidade, Criatividade, Responsabilidade, Respeito, Realização e Satisfação Pessoal.Agora me diz...Com que dinheiro você compra tudo isso?

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QUAnto vaLe Um sorrisO no FinAL do dia?

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QUAnto vaLe Um sorrisO no FinAL do dia?

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respeitO

cristHy GRecco mATtOs POR

coMO Pensaro imPenSaveL

Somente podemos materializar algo que podemos pensar. Como então pensar e imaginar o desconhecido?Respeito por tudo e todos a partir do autoconhecimento. Olhar para si, aprender nossa luz e nossa sombra, potencialidades e limites e nos respeitar por isso. Olhar para o outro respeitando seus limites, potencialidades e compartilhar felicidades, pois já entendemos isso em nós. Para assim poder olhar para o entorno de uma outra forma, respeitar todos os seres e recriar nosso lugar para viver.18

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Minha experiência no projeto Ciranda de Valores começou de forma fluida e assim continuou por todo o projeto. Logo de cara, fiz um esforço para aprender o maior número de nomes possíveis dos 120 alunos que se apresentavam para mim naquela primeira semana - além do nome, o apelido, o que gerou uma aproximação mais rápida. Claro, já fui me apresentando com o meu apelido, Tity, e assim eles sentiram mais conforto e confiança para falar o deles.

Tity

Cristhy Mattos (1986, São Paulo). Bacharel em Arquitetura e Urbanismo pela FAU Mackenzie, 2010. Possui especialização em Design em Sustentabilidade pelo Gaia Education (modo imersivo em Ecovila), 2011. Estuda Arquitetura Orgânica e Geometria Projetiva pelo Naturalscool, participa do C.A.S.A Continental (Conselho dos Assentamentos Sustentáveis das Américas) e do Células de Transformação (programa de empoderamento pessoal e em comunidades a partir do teatro social baseado em PROUT). Teve seu trabalho de graduação publicado em livro desenvolvido pelo LabHab da FAU USP, 2011. Atualmente desenvolve projetos em parceria com COMJUNTO Arquitetura e Urbanismo de Baixo Impacto.

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BioDanzacnvGAiA eDucAtion

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Projetei um percurso para estes dois meses baseado em muitos percursos que eu mesma já passei e aprendi; resolvi juntá-los para criar um único, baseado no valor Respeito e direcionado a aflorar a criatividade conectado com o baixo impacto ambiental. Em paralelo eu estava - e continuo - buscando minha arte. Nesse percurso, então, fui e sou protagonista e participante: tudo o que propus aos alunos, também me propus a fazer.

Do Gaia Education*, me apropriei dos ensinamentos sobre como está o planeta e da atenção de que ele precisa, de valorizar o entorno. Também fiz uso da Biodanza*, e da CNV*, toda a escuta ativa. Do Células de Transformação* usei o teatro social e a pesquisação e empodeiramento. Da formação em Arquitetura e Urbanismo, mapas da cidade e o caminho de casa, potencialidades e recursos. E do meu interior, a dança com desenho, a dança livre.

GAiA eDucAtionCélulas de Transformação

UrBanismo

ArquiTeturADança livre

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Somente poderemos olhar para o planeta com respeito quando nos enxergarmos com este mesmo respeito.

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BanDeirinhas

Documentário

Cartazes

pLacas

Mapa meDicinal

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Documentário

ResultADo: Pró - AtiviDADe

No final deste percurso, assim como no Células, lancei um desafio: produzir um projeto que envolvesse a comunidade a partir do que aprendemos nesses dois meses. O resultado foi uma pró-atividade incrível.

Cada turma produziu um trabalho final, sendo: um documentário com os moradores da cidade sobre o valor Respeito, placas espalhadas pela cidade sobre o respeito ao meio ambiente, cartazes em estabelecimentos sobre o respeito ao meio ambiente, mapa medicinal da cidade pontuando as pessoas que tem algum conhecimento medicinal e bandeirinhas da festa de encerramento com palavras relacionadas ao valor respeito!

Além de todo protocolo - que de protocolo não tem nada -, muito me marcou quando os alunos pediram aulas paralelas de yoga, quando tantas vezes iam de manhã me buscar em casa para a aula, inclusive nos dias em que não tinha aula! E de todos, o marco maior é lembrar de encontrar um aluno e ver seu sorriso de alegria em estar ali, de você estar ali.

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Levo cOmigo tOda A Alegria

do instiTto,dOs ALUnOS

e daeQuipe.

e envio, a cada

Lembranca Desta jornada,todo meu amor

e todo meu

RespeitO.

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Amor eliBerDaDe

GiseLe OTtoBoniPOR

xiLOgRaVURasnArrAtivAS e coreS

,

Os valores foram desenvolvidos, ao longo de dois meses, através da narrativa de histórias, filmes, reflexões, brincadeiras e oficinas de gravura. Os temas foram abordados da perspectiva cotidiana das crianças no Instituto Arte Itaporanga, como se relacionam entre si, com os educadores, e com seus familiares. O principal objetivo desta proposta reflexiva foi conscientizá-los de seu papel protagonista nas ações e suas consequências, considerando que os valores são exercidos e retribuídos.30

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Todas as reflexões decorrentes da temática dos valores foram incorporados às oficinas de gravura, núcleo aglutinador de repertórios plásticos, liberdade expressiva, descobertas, promotor das interações sociais e acolhimento das individualidades.As oficinas de xilogravura desenvolvidas com os adolescentes, assim como as demais atividades de 32

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gravura e impressão, possibilitaram muitos desdobramentos sobre os temas e sobre a própria gravura, tornando esta experiência viva. Também trabalhei com as crianças o vocabulário específico de gravura para ampliar seu repertório e sua compreensão dos processos. Cada nova proposta apresentada, era tecnicamente demonstrada, exigia novos procedimento e materiais, ferramentas e resultados distintos, com o único propósito de ampliar o repertório plástico das crianças e mostrar as várias possibilidades da aplicação da gravura.

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Narrativas soBre

LiBerDADe amore

Trabalhei uma série de histórias para exemplificar os valores Liberdade e Amor. Com leituras, narrativas orais, ou exibição de animações e filmes, todos os conteúdos foram debatidos ao final de cada sessão.

Cada história, real ou imaginária, possibilitou ao alunos perceber os vários aspectos que os valores “Liberdade e Amor” podem conter, e como os indivíduo elaboram estes valores para si.

No módulo Liberdade as crianças conheceram a vida de artistas que lutaram pela liberdade de expressão, adversidades que limitaram suas ações e ideias, mas que de algum modo superaram as dificuldades e se tornaram grandes nomes da arte. Trabalhei a história dos artistas: Frans Krajcberg, Frida Kahlo, Oswald Goeld e Friedl Dicker Brandeis. Assistimos ao filme: “A voz do coração” de Christophe Barratier.

No módulo amor contamos outras histórias e conversamos sobre as várias formas de amar, e convidei as crianças a pesquisarem histórias de amor para criar suas gravuras. Trabalhei com histórias de cordel, animações, filmes e pesquisamos como o amor foi representado ao longo da história da arte. Alguns exemplos: o filme “Romeu e Julieta” de Franco Zefirelli, o fimle “O grande Milagre” de Ken Kwapis.

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No início do módulo fotografei todas as crianças e ao término do módulo todos os alunos receberam uma Mandala com sua imagem ao centro. Cada criança preencheu sua Mandala iniciando pelo nome, depois escolheram por onde gostariam de iniciar, pelos sonhos ou pelas músicas favoritas, etc... E para concluir, deveriam listar tudo que aprenderam sobre Liberdade e Amor ao longo do módulo.

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Curso de Arte para Professores Escola Municipal de Itaporanga

Procurei a direção da Escola Estadual de Itaporanga para divulgar o Projeto Ciranda de Valores e convidar seu corpo docente para iniciar um curso de arte pensado especialmente para elas.

Gisele Ottoboni é artista plástica, trabalha como educadora desde 1995. Licenciada em Artes Plásticas pela Faculdade Santa Marcelina, Pós graduada em Arte e Educação pela ECA USP, Pós-graduada em História da Arte pela FAAP. Desde 2008 trabalha como professora do departamento de Arte do Colégio Bandeirantes em São Paulo, onde desenvolve projetos em parceria com museus.

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Elaborei cinco encontros, considerando algumas solicitações da escola e do corpo docente, que não dispõem de professor de arte. O curso de arte para professores foi mais um desdobramento de minha residência artística, assim como a pintura do muro, que possibilitou uma maior integração com a comunidade de Itaporanga.

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O MURO DALiBerDADe, e PAZAmor

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A pintura do Muro em frente à quadra esportiva da Escola Municipal de Itaporanga, envolveu seus professores-gestores, educadores e alunos do IAI, e teve a participação espontânea de moradores que se identificaram com nossa ação.

Cerca de 150 pessoas participaram do processo de pintura do Muro de 12 metros de extensão, que foi concluído após duas semanas de trabalho.

Estampamos no muro imagens escolhidas pelos alunos, como símbolos universais da Liberdade - Paz - Amor (Pombas - Corações - Flores), foram estampadas com a técnica de Stencil, um molde vazado de papel, que permitiu que todos participassem igualmente da pintura.

A pintura do muro foi uma intervenção na paisagem de Itaporanga, uma ação coletiva, uma expressão artística pela paz.

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AmizADe

JesSicA FerraZPOR

DiALOGoScorpOrAis

Lá. Viagem de São Paulo até Porto Seguro. Ida de carro de Porto Seguro até Itaporanga. Paisagem diferente. Muito. Tudo novo. Isso no mesmo país que eu vivo. Nossa, não tem nada a ver com a cidade onde eu vivo. Nossa, aqui tem rio limpo, aqui tem árvore, aqui não tem prédio, aqui tem casa de sapê, aqui tem fruto comestível na árvore, aqui tem muita estrada de terra, aqui tem carroça com cavalo, aqui tem pessoas se cumprimentando na rua…Oba! Ah, aqui também tem moto. Ah, o capitalismo também chegou aqui.Que pena. Cheguei.42

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Primeiro dia de aula. Turma da segunda de manhã, segunda a tarde. Terça de manhã, terça a tarde. Vejo os mesmos rostinhos da segunda na quarta de manhã e a tarde. Na quinta volto a ver rostos conhecidos, os mesmos da terça. Novos na sexta de manhã e a tarde. 120, quase isso. Meu nome é Jéssica vou estar com vocês e ser a professora de vocês aqui. Amizade, vamos falar sobre isso.

Quanta vontade, quanto brilho nos olhos, quanto amor cabe no ser humano. Fiquei iluminada já nessa primeira semana, fiquei toda brilhante. Virei a estrela da cidade, a estrangeira conhecida por todos. Virei também a estrela para as crianças. A Estrela é a marca da Barbie? Hum, não sei, mas por que será que eu sou a estrela e não os próprios educadores que trabalham lá? Tratá-las como pessoas, com a contradição de sermos todos iguais e diferentes ao mesmo tempo. Desenvolver a autonomia, valorizar cada um. A criança confia 100% na gente. Educação é escolha. Aprender a escolher. Os caminhos se fazem no coletivo, centrar na relação e na qualidade dela, transformar no aqui e agora, aprender para a vida, para construir.

Criar memórias

questionarCONTAR seGReDOs

AjUDAR UM AO OUTROGeNTiLeZA

esCOLhAs

ABRAçAR

ADAPTAçãODifeReNçAscompanheirismo

OLhAR

fAZeR CÓCeGAs

flexiBilizArfAZeR COisAs jUNTOs

ACeiTAçãO

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questionar

AjUDAR UM AO OUTRO

flexiBilizAr

iGUALDADe

compaixão

seR VeRDADeiROBAGUNçA

CONheCiMeNTO De si e DO OUTRO

ALeGRiA

paciência

APReNDeR acolhimento

GOsTAR DO jeiTO qUe CADA UM é

fAZeR COisAs jUNTOs

CRiAR LAçOs

ANiMAçãOamparar

ACeiTAçãO

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Fora das aulas mais e mais encontros, cruzamentos e atravessamentos com as crianças e os adolescentes pela cidade. Encontros que me enchiam de amor, que me enchiam de um tanto de sentimentos bons, que me enchiam daquele sentimento que você tem quando pensa que a vida vale a pena.

Final de semana em Caraíva, à espera do ônibus, um grupo delas vem a minha direção, pra onde tá indo, pro? To esperando o ônibus, vou pra Caraíva, já foram? Umas sim outras não. Uma cochicha no ouvido de cada uma (eram 5) e depois fala. Pro, eu perguntei e todas aceitaram, a gente vai esperar aqui com você o ônibus. Sério? Podem ficar aqui? Sim. Oba, que lindas vocês são. Fiquei muito feliz com isso. Obrigada. Vamos brincar, pro? Vamos!46

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Jéssica Ferraz percorreu caminhos nas artes cênicas e visuais, participou de grupos de teatro, coletivos e festivais cênicos. Percorreu caminhos na psicologia, em sua graduação e estágios na área. Resolveu priorizar o que sempre a acompanhou em seus caminhos e se aprofundou em práticas de consciência corporal. Acredita na educação como meio de transformação e é educadora por opção política. Trabalhou com educação não formal e em escola de educação alternativa. Atualmente estuda Comunicação das Artes do Corpo na PUC, realiza um projeto aprovado pelo Programa Mais Cultura nas Escolas em uma EMEF na zona norte de São Paulo e integra o Grupo de Estudo e Criação em Performance e Live Art.

Segunda semana. Pro, vamo, pro. Abro a janela de casa elas estão lá, mais de cinco, lá embaixo me esperando. Oi meninas, bom dia, vieram me buscar aqui em casa, quanto amor. Pro, a gente pode entrar na sua casa? Outro dia, pode ser? Pro, quando você vai com a gente no rio? Não fui. Mas, pode ser hoje? Quero gritar daqui, agora na seca. Pode ser hoje? Não. Pessoal, como vocês estão chegando pro encontro? Sempre vamos fazer uma rodada dessa pergunta, lembram? Quem vai ser sempre nosso melhor amigo? A gente mesmo. Vamos escrever uma carta, como se fosse um diário, escrever uma carta para você mesmo, falando um pouquinho como está se sentindo nesse momento e no final dos nossos encontros a gente vai abrir, ler e ver se algo se transformou, pois a gente muda a todo instante. Vamos registrar um pouco da gente hoje, agora, pra ver isso depois. Cartas e mais cartas. Massagem nos pés, conhecer e sentir alguns ossos do nosso corpo, atividades do teatro social, pular, caminhar, olhar nos olhos, música, estátua, se mexer. Se relacionar. Se entregar ao desconhecido.

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Terceira semana. Pouco a pouco meu corpo explora novidade na linha do infinito. Tudo o que a gente vê pode se tornar arte. O que vocês acham disso? Lygia Clarck, Rodrigo Braga, Lygia Pape, Hélio Oiticica, Manoel de Barros. Marcel Duchamp, Piero Manzoni. Merda de artista. Mudanças de paradigmas. O quê, paradigma? Louco? Se a gente for pro país onde as mulheres andam com aquelas roupas compridas, burcas, sabem? Se a gente for pra lá, quem será o louco? Será que quando a gente não conhece algo a gente acha que é loucura? Por que seráque a gente estranha o que é novo? A gente coloca um óculos do estranhamento? A gente faz um pré-conceito daquilo que a gente não conhece? O que vocês acham?

“Quantos seres sou eu para buscar sempre do outro ser que me habita as realidades das contradições? Quantas alegrias e dores meu corpo se abrindo como uma gigantesca couve-flor ofereceu ao outro ser que está secreto dentro de meu eu? Dentro de minha barriga mora um pássaro, dentro do meu peito um leão. Este passeia pra lá e pra cá incessantemente. A ave grasna esperneia e é sacrificada. O ovo continua a envolê-la, como mortalha, mas já é o começo do outro pássaro que nasce imediatamente após a morte. Nem chega a haver intervalo. É o festim da vida e da morte entrelaçadas.” - Lygia Clarck.

Ninguém vive sozinho. A gente vive e se relaciona. O outro. Brincar de pega pega de olhos vendados, já experimentaram? Já sentiram algo mesmo sem estar vendo? Quais lugares de Itaporanga você gosta?

“Bernardo é quase árvore. Silêncio dele e tão alto que os passarinhos ouvem de longe e vem pousar em seu ombro. Seu olho renova as tardes. Guarda num velho baú seus instrumentos de trabalho; 1 abridor de amanhecer, 1 prego que farfalha, 1 encolhedor de rios - e 1 esticador de horizontes (Bernardo consegue esticar os horizonte usando três fios de teia de aranha. A coisa fica bem esticada). Bernardo desregula a natureza. Seu olho aumenta o poente (pode um homem enriquecer a natureza com sua incompletude?)” - Manoel de Barros.

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Quarta semana. Pina Bausch, Francys Alys, Geraldo Teles de Oliveira (GTO). Dançar com tecidos. É primavera, vamos ser sementinha, virar árvore e dar frutos. Criar com amigos. Brincar com amigos. Pintar com os amigos. Se sujar com os amigos. Se machucar com os amigos. Aprender com os amigos. Cortei meu dedo tentando descascar cana. Aprendi a fazer tinta de pintura corporal indígena de jenipapo. Ganhei pintura. Ganhei abraços calorosos, cheios de carinho e bons desejos. Recebi cartas e presentes. Ouvi coisas incríveis. Fica a saudade de subir naquele pé de Eugenia (jambo), de me pintar com a tinta do jenipapo, de ver horizontes...

“Isto porque a gente foi criado em lugar onde não tinha brinquedo fabricado. Isto porque a gente havia que fabricar os nossos brinquedos (...) Outra era ouvir nas conchas as origens do mundo. Estranhei muito quando, mais tarde, precisei de morar na cidade. Na cidade, um dia, contei para minha mãe que vira na praça um homem montado no cavalo de pedra a mostrar uma faca comprida para o alto. Minha mãe corrigiu que não era uma faca, era uma espada. E que o homem era um herói da nossa história. Claro que eu não tinha educação de cidade para saber que herói era um homem sentado num cavalo de pedra. Eles eram pessoas antigas da história que algum dia defenderam a nossa Pátria. Para mim aqueles homens em cima da pedra eram sucata. Seriam sucata da história. Porque eu achava que uma vez no vento esses homens seriam como trastes, como qualquer pedaço de camisa nos ventos. (...) O mundo era um pedaço complicado para o menino que viera da roça. Não vi nenhuma coisa mais bonita na cidade do que um passarinho. Vi que tudo o que o homem fabrica vira sucata: bicicleta, avião, automóvel. Só o que não vira sucata é ave, árvore, rã, pedra. Até nave espacial vira sucata. Agora eu penso uma garça branca de brejo ser mais linda que uma nave espacial. Peço desculpas por cometer essa verdade.” - Manoel de Barros

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Aqui. Sentada

na cadeira, num apartamento no décimo

andar olho pela janela, vejo outras janelas. Não

tenho horizonte a minha frente, somente muros e prédios. Árvores

parecem miragens, assim como a água atualmente. Ao fundo, ouço Caetano, canta o poema, “Triste Bahia, ó quão dessemelhante,

a ti toucou-te a máquina mercante…”. Cantei triste Brasil,

ó quão dessemelhante, a ti entrou-te o colonialismo,

o holocausto e a escravidão.

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Misturam-se. O som de Criolo

“...não existe amor em SP”. SP continua a imperar

no Brasil, a lógica européia da megacidade dominada e dominadora, que produz

incessantemente e quer produzir. Produzir o quê? Amor parece que

não é. Respiro, a luz do sol é a mesma para toda humanidade. Ouço agora a buzina do carro, olho para lua, termino essas

palavras e vejo brotar a Eugenia e o Jenipapo de lá

aqui na minha varanda, aqui, no meu peito.

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honestiDADe

Lucas SoUzaLimaPOR

BiOconsTRuinDOo PenSAmentO

coLeTiVo

Trabalhar o pensamento coletivo dos alunos como forma de valorizar a qualidade do ser humano honesto, que preza pelo bem comum. Ter consciência da nossa realidade e lutar por sua melhora, e saber que com o que a gente tem se pode fazer muito. Honestidade é não querer ser melhor passando por cima dos outros, e isso em um contexto mais amplo, nos traz uma responsabilidade ambiental e social muito grande. Até aonde vai nossa honestidade? Ficou estabelecido por cronograma, que teríamos um tempo para sonhar, outro para nos planejar, outro para realizar e finalmente ao concluir nosso trabalho celebrar os frutos. O material? O que tiver, tudo se adapta, o resto a gente encontra na região, ficou assim estabelecido.54

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Era outro dia, e no meio de toda a correria cotidiana, surge o anúncio partindo da minha grande amiga Cristhy. Lembro-me de algumas coisas que chamaram logo minha atenção, “trabalho com crianças”, “sul da Bahia”, “Educação pela arte”, e mais, mas já era o bastante, assim como anunciado entrei em contato, sentei escrevi o projeto, e em uma semana já estava acertando os detalhes da viagem para Itaporanga, para ocupar por dois meses o cronograma de trabalho. Em geral, o ano de 2014 foi de intenso aprendizado sobre bioconstrução para mim. Praticando sempre o trabalho com o bambu, tendo a oportunidade de participar de mutirões, executando técnicas de construção com terra, paredes de taipa, adobe, cordwood, hiperadobe, e esses são processos construtivos que envolvem tanto etapas de maior complexidade, quanto etapas que podem ser executadas por qualquer pessoa, portanto é muito comum ver, por exemplo, crianças e adultos também se sentindo crianças pisando barro para fazer as massas nos cursos de bioconstrução.

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Lucas Souzalima Rodrigues (1987, Barbacena - MG). Bacharel em Arquitetura e Urbanismo pela UFJF, 2012. Durante sua formação teve participação ativa na FeNEA (Federação Nacional de Estudantes de Arquitetura) na organização de congressos, onde deu início ao trabalho com materiais naturais como o bambu e a terra. Atualmente trabalha desenvolvendo projetos de arquitetura e aprofundando os conhecimentos sobre a Permacultura, mais especificamente a Bioconstrução, onde teve a possibilidade de trabalhar junto ao grupo de bioconstrutores Lowconstrutores Descalzos, o Instituto Pindorama, e no TerraBrasil 2014.

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Acredito muito em todas as possibilidades e qualidades que o uso do bambu nos oferece e também da manutenção dos saberes construtivos tradicionais de terra, assim como a replicação das boas novas técnicas. Espero poder de alguma forma ter plantado aqui uma semente da cultura permanente, ter gerado o interesse de juntos trabalharmos o nosso “ecocentro” ao invés de individualmente focarmos no nosso

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“egocentro”. Honestamente me orgulho muito de ter participado deste projeto e de estar do lado de pessoas maravilhosas, se tiver deixado por aqui pelo menos metade do que estou levando, ficarei muito feliz, pois sei da intensidade que foi participar deste trabalho. Ouvi por muitas vezes: “Professor, você quer fazer tudo de bambu?!”, dou risada e respondo: “Tudo o que for possível”.

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Os alunos são simplesmente a razão de tudo, e impossível não se envolver muito rápido. A intimidade veio de graça e num curto espaço de tempo. Ganhei aqui pela primeira vez a alcunha de “professor”, profissão essa de meus pais, e que muito me orgulha, porém vim aqui como amigo, desenvolver junto deles e do potencial de cada um as atividades propostas, vejo meu trabalho aqui como de “facilitador”, mostrando caminhos que possam ser trilhados por qualquer um.

As turmas divididas pelas idades traziam consigo grandes diferenças, os mais velhos, muitos momentos engraçados, fase de pagar no pé do amigo, de deixar de ser criança, de criar uma “imagem”. O pessoal do meio, só “figura” também, fase complicada, muitos questionamentos, “por que o mundo está contra minhas ideias?”. “E ai pessoal, como vamos dividir os times?” Meninos contra as meninas! Resposta certeira. Dessa turma de manhã, quase todo dia vinha uma trupe de meninas me buscar, para irmos para o Instituto. Dava 8h no relógio e era certeiro o coro ensaiado: “Professôôôôôrrr!!”. E a caminhada para o trabalho era sempre deliciosa dentre brincadeiras, correrias e risadas. E os pequenos... uma palavra resume: energia. Quantos bons momentos de muito amor trocado e diversão, risadas, gargalhadas, e também quantos momentos de caos, barulho por todo lado, falar alto e se impor. Sem dúvida é um grande desafio, mas muito bem recompensado. Por momentos me via como um brinquedo para eles, eu perdia a conta de quantos estavam pendurados em cima de mim.

Choque lindo de realidades é o encontro das diferentes falas e sotaques que nosso país rico em diversidade oferece. No primeiro “bão” que eu falei, já vi sorrisos e ouvi risadas. “Ó pá í ó” quanta coisa diferente a gente não escuta por ai. “Aaaa paaz para de bestagem”. Um dia fazendo um trabalho de bonecos reaproveitando embalagens plásticas, dando uma dica para uma aluna, ao terminar o raciocínio, completei: “Faz assim que fica miócabado”. “O que você falou professor?”, dei risada e falei claro dessa vez: “Melhor acabado”. Não largaram do pé mais, “Mío..” “É: melhor, professor!!”.

Professôôôôôôôôôôôôôôôôôôôôôôô

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iTAPORAnGA, MUiTa GRAtiDaO!!

O Instituto é um lugar muito especial. Acredito na importância do espaço na formação do ser humano como um todo e é muito boa a estrutura que é oferecida para o desenvolvimento das atividades com as crianças. Dos brinquedos, das fantasias, dos livros, dos filmes, dos jogos, das brincadeiras no gramado, lanches da Vanusa, das aulas e de todas as atividades. São momentos que vão construir boas memórias e possibilitar um crescimento na qualidade da educação dessas crianças.

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Toda a equipe de funcionários do Instituto fez muita diferença para que todo trabalho ocorresse bem, além de serem os maiores companheiros na estadia aqui na cidade. Com muita competência e dedicação nas tarefas divididas para eles. Sempre que necessário pude contar com total ajuda deles. Sineam, Jacy, Vanusa e Andreia, vão deixar muitas saudades. Agradeço muito também a Vera e Dalila por depositarem tanta confiança no meu trabalho mesmo num processo seletivo de tanta urgência. 65

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Queridos todos,

Para o encerramento do projeto Ciranda de Valores, a equipe do Projeto Inlócu realizou uma Gincana de Natal com as crianças e adolescentes do Instituto Arte Itaporanga. Foi a oportunidade que precisávamos para colocar em prática todos os valores aprendidos durante o ano.

Eles trabalharam em grupo, tiveram respeito pelas outras equipes, demonstraram amizade com os alunos menores, honestidade nas provas e sobretudo mostraram muito amor pelo IAI e pelo nosso trabalho.

Essa gincana foi um grande aprendizado para todos. Tivemos que lidar com a derrota e com a vitória, transpor obstáculos, superar adversidades, respeitar os limites de cada um, enfim crescer e amadurecer.

A finalização do projeto Ciranda de Valores foi um grande sucesso!

Carta de Vera Ceschin, fundadora do Instituto Arte Itaporanga, sobre a finalização dos projetos 2014:

Vera

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Editoração: Analice Sousa CostaColaboração: Tatiana Kahvegian