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Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores de Coimbra Institute of Systems Engineering and Computers INESC Coimbra Sandra Silva Luís Alçada-Almeida Luís C. Dias Classificação da Sustentabilidade de Explorações Leiteiras na Região Entre Douro e Minho com o Método ELECTRE TRI Número 9 2012 ISSN: 1645-2631 Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores de Coimbra INESC - Coimbra Rua Antero de Quental, 199; 3000-033 Coimbra; Portugal www.inescc.pt

Classificação da Sustentabilidade de Explorações ... · exigências ao longo do tempo (Goméz-Limón e Riesco, 2009 ... de se lidar com a dificuldade de identificar as exigências

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Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores de Coimbra Institute of Systems Engineering and Computers

INESC – Coimbra

Sandra Silva

Luís Alçada-Almeida

Luís C. Dias

Classificação da Sustentabilidade de Explorações Leiteiras na

Região Entre Douro e Minho com o Método ELECTRE TRI

Número 9 2012

ISSN: 1645-2631

Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores de Coimbra

INESC - Coimbra

Rua Antero de Quental, 199; 3000-033 Coimbra; Portugal

www.inescc.pt

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Classificação da Sustentabilidade de Explorações Leiteiras na Região Entre Douro e Minho com o Método ELECTRE TRI

Sandra Silva (1,2)

Luís Alçada-Almeida (1,3) Luís C. Dias (1,3)

(1) INESC Coimbra

(2) Instituto Politécnico de Viana do Castelo, Escola Superior Agrária (3) Universidade de Coimbra, Faculdade de Economia

RESUMO

O presente trabalho visa classificar as Explorações Leiteiras da Região Entre Douro e Minho quanto à sua sustentabilidade. A sustentabilidade agrícola é um conceito que, pelas suas características multidimensionais e pelo balanço que exige entre os objetivos económicos, sociais e ambientais, apresenta muitas vezes pontos de vista conflituantes e requer o envolvimento de vários atores e decisores. Nesta perspetiva e tendo em consideração o objetivo deste trabalho, na sua execução realizou-se um estudo de viabilidade ambiental e viabilidade socioeconómica das explorações leiteiras recorrendo-se ao método de apoio à decisão ELECTRE TRI, a partir do qual é realizada uma classificação de sustentabilidade, com o apoio de especialistas das diferentes áreas. Pelas características espaciais associadas ao estudo de caso, recorreu-se a um Sistema de Informação Geográfica para possibilitar o tratamento integrado de toda a informação e ainda para visualizar e analisar de forma intuitiva os resultados.

Palavras-Chave: Sustentabilidade Agrícola, Avaliação Multicritério, ELECTRE TRI, Sistemas de Informação Geográfica

1. Introdução e Objetivo

A produção agrícola e pecuária nos países desenvolvidos tem vindo a enfrentar uma forte necessidade de se adaptar a realidades que mudam constantemente. Nestes últimos anos as pressões externas das políticas e mercados agrários, das diretivas de proteção e bem-estar animal e ambiental e da qualidade e segurança alimentar condicionam a sustentabilidade da atividade e das explorações.

Em Portugal, nos últimos anos, verificou-se uma mudança nas estruturas agrícolas, com uma maior concentração e intensificação de atividades produtivas nas explorações, acompanhada ainda de novas políticas internas e externas, bem como de mudanças vividas nos mercados, nas regras do comércio internacional e nas obrigações ambientais cada vez mais restritivas. Se, por um lado, as políticas agrícolas

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e ambientais podem representar um desenvolvimento positivo para as explorações agrícolas mais eficientes e competitivas e para uma utilização mais racional e económica dos recursos, por outro, podem representar o progressivo abandono de muitas atividades rurais e agrícolas, o que traz preocupações e incertezas, especialmente no que diz respeito à preservação do meio ambiente, conservação da biodiversidade ou manutenção da vitalidade de muitas regiões (Santos, 2011).

Este é também o enquadramento da agricultura na Região Entre Douro e Minho, onde algumas explorações intensificaram a produção e cresceram tornando-se mais competitivas e eficientes e outras estão em risco de desaparecerem. Nesta região a agricultura caracteriza-se por pequenas explorações do tipo minifúndio, com perda constante de mão-de-obra familiar, envelhecimento da população ativa, escassez de tecnologia e, por vezes, o não cumprimento legal das exigências ambientais, que levam à não sustentabilidade da atividade.

No seio desta região sobrevive a produção de leite que não é desprezível e que, apesar das intensas mudanças estruturais, tem uma clara importância estratégica, económica, social e ambiental, que a distingue de outras produções regionais. É um sector competitivo, com exigência de mão-de-obra especializada, constante atualização das técnicas e práticas e uma gestão dedicada e com imensas imposições externas que têm provocado, nestes últimos anos, impactes sobre a estrutura produtiva das próprias explorações e também sobre os sectores técnicos de apoio, produção e comércio de produtos lácteos.

A sustentabilidade é um conceito complexo que engloba várias dimensões. A sua avaliação obriga à implementação de uma atitude concertada dos diferentes pontos de vista, tendo em consideração múltiplos critérios, de forma a captar as vertentes económica, ambiental e social envolvidas. O conceito de sustentabilidade surgiu definido no Relatório Brundtland (ONU, 1987) como “o desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem suas próprias necessidades”, defendendo que a sustentabilidade é baseada em três pilares distintos: a vertente económica, ambiental e social.

A sustentabilidade agrícola exige, em particular, uma clara necessidade de avaliação e ação, de forma a impedir alguns comportamentos e atitudes altamente insustentáveis, que podem colocar em causa a continuidade de uma atividade. Assim, é necessário integrar na análise os diferentes domínios: ambiental, social e económico, para que se possam articular esforços na busca pela sustentabilidade ao longo de todos os níveis do sistema agrícola. Por esta razão, consideramos que o Apoio à Decisão Multicritério (MCDA) é uma mais-valia na avaliação das explorações leiteiras, quanto à sua sustentabilidade, na região Entre Douro e Minho.

Os métodos MCDA são adequados nesta classificação por permitirem a consideração de várias dimensões associadas à análise. Estes métodos têm em conta a complexidade do sistema em estudo, envolvem os atores e/ou decisores no seu processo decisório e colocam a ênfase no processo e não apenas nos resultados. O processo de decisão envolve uma sequência de atividades que começa com a definição e estruturação de um problema de decisão, que toma forma com a definição do conjunto de alternativas, seguindo-se a definição do conjunto dos critérios (ou atributos) a partir dos quais as ações são avaliadas e termina com recomendações para a tomada de decisão.

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Com o objetivo de desenvolver uma avaliação de 1705 Explorações Leiteiras da

Região Entre Douro e Minho quanto à sua Sustentabilidade, tendo em consideração legislação e diretivas nacionais e europeias e o Plano de Ordenamento da Bacia Leiteira Primária de Entre Douro e Minho (POBLPEDM, 2007), foram considerados catorze critérios, dos quais sete de cariz ambiental para o estudo da viabilidade ambiental e sete de cariz socioeconómico para o estudo da viabilidade socioeconómica, definidos por três especialistas das áreas ambiental, agro-económica e zootécnica.

Nesta avaliação recorremos a um método multicritério baseado no conceito de prevalência, o ELECTRE TRI, considerando três categorias na classificação da viabilidade das explorações: Não Viável, Questionavelmente Viável e Viável, onde a viabilidade ambiental e socioeconómica são estudadas separadamente por forma a obter uma classificação mais ampla e global das explorações quanto à Sustentabilidade. Assim, após obtenção da classificação da viabilidade ambiental e socioeconómica das explorações é realizada uma reclassificação das categorias de forma a classificar as explorações quanto à Sustentabilidade, nas seguintes quatro categorias: Altamente Sustentável, Moderadamente Sustentável e Marginalmente Sustentável e Não Sustentável.

Pelas características espaciais do problema em estudo, recorremos aos Sistemas de Informação Geográfica, em particular ao Software ArcGIS versão 10, para melhor visualização e análise do comportamento espacial da classificação obtida.

Neste trabalho, na secção 2, é apresentada a metodologia desenvolvida,

realçando a interligação entre a sustentabilidade agrícola e o apoio à decisão multicritério, o método multicritério escolhido (ELECTRE TRI) e a aplicação do Sistema de Informação Geográfica na análise de resultados. A secção 3 apresenta estudo de caso, com uma descrição pormenorizada da região e das características ambientais e socioeconómicas das explorações, os critérios definidos e sua explicação e ainda a aplicação do método ELECTRE TRI. A secção 4 apresenta os resultados obtidos e sua discussão e, na secção 5, desenvolve-se uma análise de sensibilidade. Por fim, na secção 6, são apresentadas as conclusões.

2. Metodologia 2.1. Sustentabilidade Agrícola e Apoio à Decisão Multicritério

A sustentabilidade agrícola não tem um significado único. Hansen (1996) identificou duas interpretações distintas de sustentabilidade agrícola. A primeira concentra-se numa abordagem normativa em resposta às preocupações sobre os impactos negativos da agricultura "convencional". Esta abordagem baseia-se na implementação de uma agricultura "alternativa" (agricultura biológica, agricultura conservadora, etc.), como uma opção ideológica para atingir um conjunto de valores que devem caracterizar este sector. O segundo significado segue uma abordagem

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positiva, focada sobre a capacidade dos sistemas agrícolas satisfazerem as diferentes exigências ao longo do tempo (Goméz-Limón e Riesco, 2009). Neste trabalho seguiremos a segunda abordagem, que se aproxima da definição descrita no Relatório de Brundtland já mencionado. Goméz-Limón e Riesco (2009) ressaltam as dificuldades que esta abordagem apresenta na sua utilização empírica no mundo real. Primeiro, tem de se lidar com a natureza temporal da sustentabilidade. Em segundo lugar, tem de se lidar com a dificuldade de identificar as exigências que devem ser atendidas pelo sector agrícola para ser sustentável. A fim de evitar estas dificuldades, foi construído um consenso alargado de modo a considerar que a sustentabilidade incorpora três dimensões principais: ambiental, económica e social (Yunlong e Smit, 1994).

A forma como se consideram estas dimensões na avaliação de sustentabilidade varia entre autores. Para alguns autores, um sistema agrícola é sustentável quando os “trade-offs” entre os objetivos considerados pela avaliação das suas performances (objetivos económicos – como o crescimento da rentabilidade e estabilidade macroeconómica; objetivos sociais – como a equidade e cobertura das necessidades básicas; objetivos ecológicos – como proteção dos ecossistemas e regeneração dos recursos naturais) atinjam valores sustentáveis para a sociedade como um todo (Hediger, 1999; Stoorvogel et al., 2004; Becker, 1997). Esta abordagem da sustentabilidade agrícola torna possível o uso métodos de agregação para cobrir as três dimensões referidas, através da consideração do conjunto de critérios ou indicadores multidimensionais num indicador simples ou composto. Esta aproximação tem sido usada por vários autores como Stockle et al. (1994), Andreoli e Tellarini (2000), Rigby et al. (2001), Van Calker et al. (2005) e Sydorovych e Wossink (2008).

No entanto a quantificação da sustentabilidade agrícola através de um conjunto de indicadores agregados é de difícil interpretação e frequentemente criticada, sobretudo no que respeita à (Munda, 2005; Goméz-Limón e Riesco, 2009):

a) subjetividade destes métodos (a escolha de formas funcionais para a agregação e a ponderação dos indicadores individuais);

b) agregação de diferentes dimensões ou atributos da sustentabilidade, apesar de ser incomensurável;

c) compensação que está subjacente a este tipo de métodos aquando da agregação.

Assim, tendo em consideração as características que se desejam presentes neste tipo de avaliação, consideramos que os métodos de agregação não seriam os mais adequados. Por exemplo, a exigência de não-compensação parece-nos essencial de forma a evitar que uma má performance num critério seja compensado com uma boa performance noutro critério, o que exclui alguns métodos como o MAUT (Multi-Attribute Utility Theory), o MAVT (Multi-Attribute Value Theory), ou o AHP (Analytic Hierarchy Process).

Assim sendo, na avaliação da sustentabilidade das explorações leiteiras considerámos mais adequado recorrer a um método multicritério baseado no conceito de prevalência. O poder dos métodos de prevalência reside na comparação das alternativas, onde o output não é um valor mas sim uma relação de binária de prevalência. Para este trabalho, a abordagem de prevalência pareceu-nos adequada, principalmente pelas seguintes razões:

não é compensatória, o que significa que a obtenção de um bom resultado num critério não compensa um mau resultado noutro critério, sendo assim

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compatível com os requisitos exigidos pelo próprio conceito de sustentabilidade;

introduz a relação de incomparabilidade. Esta situação ocorre quando duas alternativas diferem largamente num certo número de critérios. No caso da avaliação da sustentabilidade das explorações é razoável esperar diferenças, por exemplo, uma exploração pode ter vantagens económicas e graves impactos ambientais, enquanto uma outra exploração pode apresentar características opostas e pode acontecer que para o decisor estas duas situações sejam incomparáveis e, ao contrário de outros métodos multicritério, os de prevalência permitem modelar a relação de incomparabilidade de modo a que a análise seja mais realista.

as unidades de valor dos critérios envolvidos podem ser consideradas diretamente sem necessidade de conversão, o que é importante quando estes provêm de diversos domínios, com diferentes escalas e medidas. Tal acontece na classificação da sustentabilidade (económica, social e ambiental), onde existem uma grande variabilidade no tipo de informação, desde qualitativa ou quantitativa e objetiva ou subjetiva.

As famílias mais populares da abordagem de prevalência são os métodos

ELECTRE (ELimination Et Choix Traduisant la REalité) e PROMETHEE (Preference Ranking Organisation METHod for Enrichment Evaluations). Neste trabalho, usaremos um método da família ELECTRE, família que apresenta diferentes versões, onde cada uma procura responder ao tipo de problemas em estudo. O ELECTRE I foi projetado para a problemática da escolha, o ELECTRE II, III e IV para problemática de ordenação e o ELECTRE TRI para a problemática de classificação. Assim, o método ELECTRE TRI foi o escolhido neste trabalho uma vez que pretendemos afetar um conjunto de alternativas a categorias pré-definidas e ordenadas, com base em múltiplos critérios.

Como a avaliação da sustentabilidade dos sistemas agrícolas pode diferir entre as partes interessadas é importante incluir um conjunto representativo das vertentes em análise (Van Calker et al., 2006). Neste estudo envolveram-se especialistas das diferentes vertentes em análise na definição dos critérios e de parâmetros associados ao método.

O recurso a métodos multicritério para avaliar e determinar a sustentabilidade

agrícola é ainda escasso. Os métodos aplicados dividem-se em métodos de agregação através da construção de funções multiatributo de sustentabilidade que medem sustentabilidade global através de indicadores e métodos de não-agregação. Van Calker et al. (2006) aplicam o método MAUT construindo funções de utilidade económica, social e ecológica para avaliação da sustentabilidade de explorações leiteiras holandesas. Dantsis et al. (2010) recorre ao MAVT para avaliar e comparar o nível de sustentabilidade das explorações agrícolas em duas regiões gregas. Goméz-Limón e Riesco (2009) e Santos (2011) aplicaram o método de agregação AHP na avaliação da sustentabilidade agrícola. A aplicação do método ELECTRE TRI na avaliação da sustentabilidade de explorações agrícolas e a forma como foi desenvolvida, neste trabalho, é inovadora.

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2.2. Método de Prevalência - ELECTRE TRI

Os métodos de Prevalência fundamentam-se na construção de uma relação de prevalência que incorpora as preferências estabelecidas pelo decisor durante a análise dos problemas e das alternativas disponíveis. Segundo Roy (1996), a relação de prevalência S é uma relação binária definida em conjunto de alternativas), tal que se a é pelo menos tão boa quanto b. Os métodos de prevalência utilizam a comparação par a par das alternativas (Figueira, Mousseau e Roy, 2005).

Entre os métodos de prevalência destacam-se os métodos da família ELECTRE, composta pelos métodos ELECTRE I, II, III, IV, IS e TRI. Os métodos da família ELECTRE distinguem-se pelo tipo de problemática a que estão associados. Estes métodos destacam-se por permitirem considerar as relações de incomparabilidade (R) e preferência fraca (Q).

Uma outra característica da família de métodos ELECTRE é o uso do modelo pseudocritério. O pseudocritério está associado a um limiar de preferência (p) e a um limiar de indiferença (q) para evitar uma passagem brusca de preferência estrita para a indiferença. Verifica-se indiferença se a diferença de desempenhos for inferior ao limiar q, verifica-se a preferência fraca se essa diferença estiver entre q e p, e verifica-se a preferência apenas para diferenças a partir de p. A preferência fraca (Q) é uma hesitação entre a indiferença (I) e uma preferência estrita (P).

O método ELECTRE TRI é um modelo desenvolvido para problemas de classificação, como já referido anteriormente. Nessa problemática, há o enquadramento de alternativas (ações) em categorias previamente definidas a partir do valor intrínseco de cada alternativa. No método ELECTRE TRI não há comparação das acções (alternativas) em estudo entre si. As diversas alternativas são classificadas, por meio da comparação de cada ação (alternativa) com uma referência padrão (ações de referência). As ações de referência são ações reais (por exemplo, normas jurídicas) ou fictícias, definidas para delimitar as diversas categorias.

Sendo a proposta deste trabalho classificar as explorações leiteiras quanto à sustentabilidade, consideramos o ELECTRE TRI um método adequado quer pelos aspetos descritos, quer pelas características associadas aos métodos de prevalência referidas na secção anterior. Assim sendo, passaremos à sua descrição.

Dado um conjunto de alternativas avaliadas em critérios

que se pretendem associar a um conjunto de categorias o método classifica cada alternativa de A numa classe de C. Cada categoria é definida através de duas ações de referência, que delimitam a categoria inferiormente e superiormente. Assim, as classes são delimitadas por limites inferiores e superiores, chamados perfis de referência e representados por . As avaliações destes perfis para cada critério , definem os conjuntos de valores,

, , que limitam as classes (Figura 1).

Figura 1: Definição das categorias do ELECTRE TRI (Dias, 2001)

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O ELECTRE TRI classifica as alternativas seguindo dois passos consecutivos: construção de uma relação de prevalência S, que determina como as alternativas são comparadas aos perfis das categorias; e a exploração, através de procedimentos de classificação, da relação S.

2.2.1. Relação de Prevalência no ELECTRE TRI

A relação de prevalência é construída para tornar possível a comparação de

uma alternativa com um limite . A afirmação de que , em que e , significa que “ é pelo menos tão boa quanto ” (Yu, 1992 e Roy e Bouyssou, 1993, Dias e Clímaco, 2000, Dias et al. 2002)

Na validação da afirmação (ou ), devem-se verificar duas condições:

Concordância: para que (ou ) seja aceite, uma maioria suficiente de critérios deve ser a favor desta afirmação;

Não-discordância: quando a condição de concordância é verificada, nenhum dos critérios na minoria deve opor-se à afirmação (ou ) de uma “maneira muito forte”.

Quatro tipos de parâmetros associados aos de critérios intervêm na construção da relação S:

O conjunto de coeficientes de importância, ou pesos onde e

. Usado no teste de concordância

quando se calcula a importância relativa dos critérios que são a favor da afirmação ;

O conjunto de limiares de veto , para cada critério .

Usado no teste de discordância. representa a menor diferença

que invalida completamente a afirmação ;

O conjunto de limiares de preferência para cada critério

. O limiar de preferência representa a menor diferença entre

compatível com a preferência de no critério ;

O conjunto de limiares de indiferença para cada critério

. O limiar de indiferença especifica a maior diferença entre

preservando a indiferença entre e no critério ;

Fundamentado nos princípios da concordância e da não discordância, o ELECTRE TRI estabelece um índice ( respectivamente) que representa o grau de credibilidade de uma relação de prevalência S, mais concretamente, da afirmação , resp.) Esta afirmação é considerada válida se , onde representa o nível de corte (este valor deve situar-se entre 0,5 e 1) que se define como o menor valor do grau de credibilidade ( para o qual se pode afirmar que prevalece (Figueira, Mousseau e Roy, 2005).

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Determinar o índice consiste no cálculo de: (o cálculo de é análogo)

Índice de concordância parcial Verifica-se a condição de concordância para cada critério, calculando-se o índice de concordância parcial (Roy, 1985). Esse índice que varia de 0 a 1, mede o quanto o critério concorda que uma alternativa prevalece num determinado critério.

Índice de concordância global Com base no índice de concordância parcial obtido, calcula-se o índice de concordância global que indica o quanto a avaliação da relação indica que prevalece .

Índice de discordância O índice de discordância representa o quanto cada critério se

opõe à afirmação “ prevalece ”. Para isto, é introduzido um limite de veto que, quando excedido, rejeita a essa afirmação.

Índice de credibilidade da relação de prevalência O índice de credibilidade é o quanto uma alternativa prevalece uma alternativa dados os índices de concordância global e de discordância .

Na ausência de critérios significativamente discordantes, o índice de credibilidade

é sempre igual ao índice de concordância global . Na situação em que um critério seja completamente discordante, ou seja, , o índice de

credibilidade é nulo, indicando que a afirmação não é verdadeira.

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Os valores de , e determinam as situações de preferências entre e :

e e é indiferente a e e não é preferível a

e não e é preferível a

e não e não é

incomparável a

Utilizando um valor elevado de para aumentar a credibilidade exigida, a ocorrência da incomparabilidade aumenta pois os índices de credibilidade e prevaleceriam menos frequentemente sobre o nível de corte. Por outro lado, caso se opte por reduzir o valor de e ser menos exigente com as incertezas, aumenta-se as ocorrências de indiferença.

2.2.2. Procedimento de Classificação no ELECTRE TRI

No ELECTRE TRI, a classificação é feita de forma a comparar a alternativa às alternativas de referência por forma a afetá-la a uma categoria. No entanto, esta comparação pode ser realizada de formas diferentes, que se refletem nos dois tipos de processos disponíveis: o otimista e o pessimista.

No processo pessimista, que foi o utilizado neste trabalho, compara-se a sucessivamente aos perfis de referência, começando-se pela melhor categoria. Passa-se para o perfil de referência seguinte até que o índice de credibilidade supere o nível de corte. Nesse momento, afeta-se a alternativa a à categoria delimitada por esse perfil de referência inferiormente. Desta forma, a alternativa fica na categoria tal que prevaleça sobre o seu perfil inferior mas não prevaleça sobre o seu perfil superior.

Após aplicação do método, deve-se realizar uma Análise de Sensibilidade para verificar como as variações introduzidas nos parâmetros do método influenciaram os resultados obtidos. Essa análise permite também fazer avaliar a estabilidade e robustez dos resultados.

2.3. Sistemas de Informação Geográfica no Apoio à Decisão

Segundo a definição clássica de Burrough (1986), os Sistemas de Informação Geográfica (SIG) são um “poderoso conjunto de ferramentas que permite recolher, guardar, encontrar, pesquisar, transformar e visualizar dados espaciais do mundo real”. Cowen (1988) afirma ainda que tratam de “um sistema de apoio à decisão que envolve a integração de dados georreferenciados num ambiente orientado para a resolução de problemas”. Os SIG permitem reunir uma grande quantidade de dados com uma componente geográfica, estruturando-os adequadamente, de modo a facilitar o tratamento das suas componentes: posição, topologia e atributos, armazenadas numa base de dados (tabela de atributos). Permitem ainda a análise e manipulação de dados

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espaciais através de operações (análises lógicas ou operações matemáticas) que propiciam o apoio à tomada de decisão.

Neste trabalho considerou-se importante recorrer aos SIG sobretudo pelo: i) desenvolvimento e a organização de bases de dados; ii) realização, sistematização e apresentação dos resultados de inquéritos

realizados ao universo das explorações; iii) visualização dos resultados obtidos após aplicação do método ELECTRE

TRI; iv) análise exploratória dos resultados e sua distribuição espacial.

A georreferenciação das explorações permite tirar partido das tecnologias SIG,

considerando que melhora a eficiência de análise do caso de estudo, o processo de comunicação e a visualização dos resultados, facultando assim um estudo mais detalhado da distribuição geográfica da sustentabilidade das explorações leiteiras.

Neste trabalho recorremos ao software ArcGIS da ESRI, versão 10.

3. Estudo de um Caso

3.1. Caracterização das Explorações Leiteiras

A região em estudo caracteriza-se como a Bacia Leiteira Primária de Entre Douro e Minho e é constituída por um conjunto de 10 concelhos: Viana do Castelo, Barcelos, Esposende, Póvoa de Varzim, Vila Nova de Famalicão, Vila do Conde, Santo Tirso, Trofa, Maia e Matosinhos, situada na região Noroeste de Portugal. Na qual se insere a Zona Vulnerável nº 1 ou “Aquífero Livre de Esposende Vila do Conde”.

Aquando da realização do Plano de Ordenamento da Bacia Leiteira Primária de

Entre Douro e Minho (POBLPEMD, 2007) foi realizado um inquérito ao conjunto das explorações com orientação técnica, económica e ambiental dirigida à produção de leite, com a finalidade de construir uma base de dados relativa ao sistema de

Figura 2: Área em Estudo

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exploração, sistema de produção leiteira, produtor e agregado familiar de cada unidade produtiva.

As explorações objeto de estudo, num total de 1705, distribuem-se por todo o território concentrando-se, em particular, nos concelhos de Vila do Conde, Póvoa de Varzim, Vila Nova de Famalicão e Barcelos (Figura 3). Este último concelho destaca-se pelo número elevado de unidades (35% do total), seguindo-se Vila do Conde com 21% das explorações, sendo que estes dois concelhos contêm mais de 50% das explorações em estudo (Tabela 1).

Tabela 1: Número e percentagem das explorações leiteiras pelos concelhos

Figura 3: Mapa distribuição espacial das explorações leiteiras

De acordo com os objetivos do presente trabalho, a análise de dados que se apresenta a seguir, todos obtidos a partir da base de dados primária produzida no levantamento da informação através do inquérito, são os que se consideram mais significativos para caracterizar a problemática da sustentabilidade na atividade leiteira da região. Na sua apresentação salientamos as características, económicas, sociais e ambientais referentes aos critérios envolvidos.

3.1.1. Caracterização Socioeconómica das Explorações

A condição jurídica do titular das explorações pretende distinguir entre os produtores que são entidades singulares e os que constituem sociedades. Neste aspeto, 91% dos titulares são singulares, dos quais 71% são autónomos (que

Número Explorações

Percentagem

Viana do Castelo 50

3%

Esposende 112 7%

Barcelos 593 35%

Póvoa de Varzim 199 12%

V. N. Famalicão 159 9%

Vila do Conde 354 21%

Santo Tirso 36 2%

Trofa 84 5%

Maia 55 3%

Matosinhos 63 4%

±

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representam o que se chama de agricultura familiar) e 20% empresários e apenas 8% representam sociedades (1% dos inquiridos não respondeu).

A idade média dos produtores leiteiros é de 49 anos, e não existe uma grande variabilidade dos dados. No entanto, existem alguns valores extremos, 24 anos e 92 anos.

O nível médio de instrução dos produtores agrícolas da região EDM (Entre Douro e Minho) é baixo. Cerca de 1% não sabe ler, nem escrever, 53% deles frequentaram apenas o ensino primário (1.º ciclo) dos quais 2% não o terminaram, 26% frequentaram o 2.º ciclo, 7% frequentaram o 3.º ciclo, 4% frequentaram o ensino secundário (onde apenas 1% o terminou) e apenas 2% frequentaram o ensino superior e 7% não responderam.

O tempo de dedicação dos produtores à atividade reflete uma inequívoca profissionalização da atividade leiteira, sendo que 85% dos produtores dedicam-se em completo (100%) à atividade. Apenas 6% dos produtores apresentam uma dedicação parcial (onde 3% com uma dedicação inferior a 50% e 3% com dedicação à atividade superior a 50%) e 2% dos produtores não se dedicam à atividade, ou seja, não trabalham na exploração (7% não respondeu).

Na análise da antiguidade dos produtores leiteiros verifica-se que a maioria dos produtores já se instalou antes da adesão de Portugal à CEE ou nos anos imediatamente a seguir à adesão. Cerca de 44% já iniciaram a sua atividade há mais de 20 anos, 33% há menos de 20 anos mas mais de 10 anos, e só 23% há menos de 10 anos.

Relativamente à sucessão das explorações leiteiras, analisa-se o número de filhos e a dedicação destes à atividade. Verifica-se que a média do número de filhos é de 2. Cerca de 42% dos filhos dedicam-se a 100% à atividade (tempo completo) mas contrariamente, 36% não trabalha na exploração e 12% dos filhos apresenta uma dedicação parcial inferior a 25% e os restantes 9% apresentam uma dedicação parcial superior a 25% e inferior a 100% (1% não respondeu).

No que se refere às perspetivas futuras, verifica-se que uma clara maioria, 56%, pretende (relembramos que o inquérito foi realizado em 2006) estabilizar a atividade, cerca de mais de um terço (36%) considerava a possibilidade de expansão da exploração e consequentemente, da atividade. Nessa altura, apenas 4% declarava desejar abandonar a atividade e outros 4% colocavam a hipótese de redução ou mesmo deslocalização para outra região.

Relativamente ao investimento, cerca de 52% dos produtores não pretende realizar qualquer tipo de investimento na atividade e 48% estavam dispostos a investir em instalações, equipamentos, animais, quota ou outra.

Um aspeto interessante é a análise da mão-de-obra das explorações leiteiras e verifica-se que esta é claramente do tipo familiar, sendo que 85% da mão-de-obra é garantida pelos membros do agregado. Cerca de 15% da mão-de-obra é do tipo permanente e contratada (não nos podemos esquecer que algumas destas explorações representavam sociedades), sendo que este valor por vezes, cresce para 21% com mão-de-obra eventual.

Quando se analisa o peso do rendimento externo no rendimento familiar, ou seja, obtido fora das explorações, verifica-se que na grande maioria (80%) não existe, o realça uma grande dependência dos produtores no rendimento obtido exclusivamente das explorações.

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A área total das explorações em estudo é de 20 331 hectares (ha). A dimensão física média das explorações é de 12ha, havendo naturalmente alguma variabilidade entre elas, dos quais 10ha são definidos como SAU (Superfície Agrícola Utilizável) e 2ha como área florestal, sendo a área de incultos, culturas permanentes e outras culturas pouco significativa. Podemos dizer que maioritariamente as explorações se classificam como pequenas e médias.

3.1.2. Caracterização Ambiental das Explorações

O inquérito realizado abordou várias características ambientais das explorações leiteiras da região EDM, de forma a analisar o cumprimento (ou não) por parte destas das normas ambientais de forma a evitar graves impactes sobre o solo, água e alimentos.

Uma das informações diz respeito às atividades animais presentes na exploração, indicando os efetivos de cada uma das classes de bovinos e dos diferentes tipos de animais presentes na exploração e as respetivas produções. As 1705 explorações em estudo abarcam um total de 106 958 animais, dos quais maioritariamente 56% (60 287) são vacas de produção, 10% vacas secas, 29% Recria, 4% Vitelão e 1% Novilho de engorda. O efetivo médio de vacas leiteiras por exploração é de 35, verificando-se contudo, uma elevada variabilidade neste indicador (desvio-padrão 28). Verifica-se uma maior concentração de animais nos concelhos de Barcelos com 32%, Vila do Conde com 25% e Póvoa do Varzim com 14%. Quando se compara o número de vacas por concelho com o número de explorações existentes em cada concelho, verifica-se que nos concelhos de Vila do Conde, Vila Nova de Famalicão e Póvoa de Varzim existe uma maior concentração de animais por exploração.

A partir do número de animais de cada unidade produtiva calcula-se o número de Cabeças Normais (CN) de acordo com a informação disponibilizada pelo anexo I do D.L 202/2005 de 24 de Novembro e, através desta informação, determina-se a quantidade de dejetos produzidos na exploração por tipo: chorume, águas brancas, águas verdes, etc. Com base no estado produtivo e idade dos animais determina-se o azoto excretado nos dejetos animais e, consequentemente, o azoto produzido em cada uma das explorações. Neste estudo, o azoto produzido pelas vacas leiteiras é 3 747 727kg, representando 92% da produção total de azoto dos restantes bovinos, que é de 4 093 816Kg.

Uma outra informação essencial à caracterização das explorações refere-se ao armazenamento dos dejetos e às diferentes estruturas de armazenamento. As formas de armazenamento de dejetos estão associadas à dimensão da exploração e ao tipo de instalações. Para as diferentes estruturas de armazenamento presentes na exploração, obteve-se o número de cada uma das formas e a soma da capacidade de armazenamento (m3). As diferentes formas de armazenamento encontram-se caracterizadas segundo a localização em relação ao estábulo, a distância aos pontos ou linhas de água, o tipo, o tempo de armazenamento, a separação sólido/líquido e a recolha de águas pluviais. Nas explorações em estudo produz-se um total de 1 462 077m3/ano de efluentes sólidos e 1 301 413m3/ano de efluentes líquidos. Relativamente às formas de armazenamento, existem no total 3185 fossas, 529 valas, 5 lagoas e 88 nitreiras. Sendo a fossa o tipo de armazenamento mais frequente,

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vamo-nos debruçar sobretudo nesta forma de armazenamento. Em média, cada exploração possui 2 fossas com capacidade média de 506m3 (sendo notória a grande variabilidade da capacidade destas entre as explorações) e a grande maioria possuem capacidade de armazenamento de 3 a 6 meses e ainda, maioritariamente, situam-se entre 25m a 50m das linhas de água ou a mais de 100m das linhas de água. A maioria das fossas são do tipo coberto, grande parte delas não possui separação sólido-líquido nem recolha das águas pluviais.

Tal como o armazenamento e tratamento, a distribuição dos dejetos é um dos principais aspetos a considerar porque envolve, não só os aspetos ambientais, mas também as populações que coabitam na área circundante à exploração e às parcelas que lhe estão associadas. Relativamente ao sistema de remoção de dejetos, descrevem-se as várias formas e a frequência de limpeza. Para cada um dos diferentes tipos de efluentes é descrito o destino, a forma e época de aplicação no solo, a posse de licença de utilização e a frequência de aplicação no solo. Nas explorações em estudo verifica-se que 96% destas aplicam os efluentes (em particular, chorume bruto) na terra inculta e 4% na produção forrageira. A forma de aplicação no solo é maioritariamente por aspersão em bandas de baixa pressão. Relativamente à época de aplicação no solo é maioritariamente à sementeira ou à sementeira e cobertura. Cerca de 54% das explorações têm como frequência de aplicação do chorume no solo de 3 a 6 meses e 14% de 3 meses. Verifica-se ainda que 89% das explorações não possui licença de utilização dos efluentes, 4% possui licença da ETAR municipal e cooperativa e 3% do Ministério do Ambiente.

Uma outra informação essencial é a área ocupada pelas diferentes culturas presentes na exploração, ocupação e uso do solo (culturas forrageiras Primavera-Verão, Outono-Inverno, culturas permanentes, incultos, floresta, etc.) e os dados estimados para a produção de dejetos, de forma a se determinar a capacidade de incorporação de azoto no solo. Neste sentido foram utilizados os dados relativos à Superfície Agrícola Utilizável (SAU) e área forrageira, no que concerne aos efluentes entramos com os efluentes totais e respetivas componentes sólida e líquida. A área em média de SAU das explorações é de 10ha. No universo das explorações em estudo, a SAU apresenta valores que variam entre o 1 a 68ha. É interessante ainda perceber que a maioria (60%) das explorações tem uma área inferior a 10ha, (das quais 42% se incluem na classe de 10 a 20ha de SAU), seguindo-se a classe de 10 a 20 ha com 51% das explorações. Quando analisada a capacidade de incorporação de azoto no solo, verifica-se que a grande maioria das explorações não têm capacidade de incorporação suficiente dos efluentes no solo sendo, nesse caso, negativo o balanço entre os efluentes produzidos e sua capacidade de incorporação de azoto no solo.

Por fim, é importante analisar a informação acerca do tipo de instalações e área correspondente, na perspetiva das condições e bem-estar animal, como: tipo de estabulação, sala de ordenha e silo, ventilação, tipo de piso, etc., para cada classe bovina e zonas (enfermaria, maternidade, quarentena, sala de leite, sala ordenha, silo, armazém, etc.). Nas explorações em estudo, no que se refere às vacas de produção (categoria que possui o maior número de animais) em 55% delas a estabulação é do tipo livre com cubículos, 20% do tipo livre sem cubículos e 20% do tipo presa. Em média, as explorações possuem 621m2 de área destinada às vacas de produção, que é uma informação importante para se analisar a concentração animal com a determinação da área (m2) aconselhável por vaca.

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3.2. Seleção dos Critérios

Muitos autores têm-se dedicado à análise das variáveis que explicam os processos de transformação das estruturas de produção agrícola. Embora as suas conclusões não sejam necessariamente coincidentes, geralmente apontam três aspetos que, unanimemente, são considerados fatores influentes nos possíveis caminhos de ajuste estrutural (expansão, abandono ou início da atividade agrícola): o produtor (ou agricultor) e sua família, a rentabilidade da exploração e a adequação às exigências ambientais (Santos, 2011).

Começando pelo agricultor, Ondersteijn et al. (2003) aponta em primeiro lugar as suas capacidades de gestão, dizendo que estas dependem de um conjunto de características pessoais, tais como as suas influências, motivações, competências ou fatores biográficos, idade, o tempo de dedicação de trabalho na sua própria exploração (avaliando a situação de profissionalização da atividade), e ainda a valorização profissional do produtor (indica o seu interesse na atualização e aquisição de novos conhecimentos para aplicação na sua exploração). É o produtor que toma decisões de fundo, como sejam as referentes ao sistema de produção e aos investimentos. A caracterização do titular da exploração assim como do seu agregado familiar assumem um papel importante na gestão, percurso e projeto de exploração.

A importância da família está relacionada com a tradição familiar na atividade, considerando-se a envolvência dos elementos da família e consequente existência de sucessores. Ochoa et al. (2007) discute a importância da sucessão entre gerações na agricultura para a manutenção da atividade. Uma exploração mantida por uma família sem nenhuma expectativa de sucessão não estará tão predisposta ao investimento, modernização e inovação quanto outra com sucessores (Santos, 2011). Assim, um dos aspetos que pode contribuir para a manutenção de uma exploração agrícola é a existência de um ou mais sucessores, nomeadamente de um ou mais filhos que evidenciem interesse e dedicação na atividade agrícola.

Um fator essencial é a rentabilidade das explorações. Hoje em dia, são necessários níveis de produção cada vez mais elevados para permitir a geração de rendimentos suficientes para que a exploração se mantenha ativa. Assim, as explorações de pequena dimensão têm mais dificuldades e daí, muitas vezes, verifica-se uma intensificação na produção para alcançar uma maior produtividade e/ou aumento da dimensão da exploração. O rendimento do produtor obtido fora das respetivas explorações indica a dependência e, consequente, necessidade de continuidade da atividade.

Tratando-se ainda de uma atividade particularmente exigente em termos de investimento em infraestruturas como instalações, máquinas e efetivo, o peso deste pode constituir uma barreira à manutenção da exploração e à motivação para novos investimentos. Assim, é importante perceber qual a perspetiva futura que o produtor tem da continuidade da sua atividade.

Outro fator importante é o cumprimento por parte das explorações das exigências legais, quer ambientais, quer alimentares, quer relativas à proteção dos solos e água que, caso não seja atendido, levanta problemas ambientais, sociais e económicos. Estes fatores associados por vezes a deficientes conceções das explorações do ponto de vista ambiental, escassas capacidades de recursos e utilização inadequada de métodos e equipamentos, resultam numa prática disforme levando a

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uma contaminação de culturas agrícolas e cursos de água, produção de odores desagradáveis, entre outros problemas. Esta problemática é notória na Região Entre Douro e Minho, onde pode estar comprometida a viabilidade de algumas das explorações por não cumprirem o novo enquadramento legal relativo às exigências ambientais definidas na Legislação Portuguesa e Europeia.

Os consumidores e a sociedade em geral têm obrigado à aplicação de novas atitudes no que se refere às questões de produção pecuária leiteira em particular, como o bem-estar animal, o impacte ambiental e rastreabilidade e segurança dos produtos alimentares. A esta atividade estão associados custos significativos como a contribuição para o efeito estufa que tem de ser mitigado através do comércio de emissões ou impostos sobre o carbono.

Neste estudo a definição e avaliação da performance dos critérios envolveu

três especialistas das áreas Ambiental, Agro-Económica e Zootécnica. Foi ainda considerada a base de dados obtida no inquérito desenvolvido aquando da realização do POBLPEMD (2007) e as seguintes preocupações:

existência de novas regras para o licenciamento da atividade bovina (Decreto-lei 202/2005 de 24 de Novembro que legisla sobre a questão da gestão dos diferentes efluentes pecuários de forma a regulamentar o Regime do Exercício da Atividade.

presença da Zona Vulnerável e de todo um problema associado ao excesso de nitratos e fósforo no solo e nos aquíferos, bem como a necessidade de valorização agrícola de efluentes (Código de Boas Práticas Agrícolas, Manual de Fertilização das Culturas e Lei da Água).

viabilidade das explorações leiteiras na perspetiva social e económica relativamente às novas políticas nacionais e europeias.

Assim, os critérios definidos são divididos em duas vertentes: socioeconómica e ambiental. Como se espera, a natureza destes é fortemente heterogénea, com diferentes escalas e unidades. Existem critérios quantitativos e qualitativos, sendo estes últimos reclassificados numa escala ordinal de forma a permitir a aplicação do método ELECTRE TRI.

3.2.1. Critérios Ambientais

Na dimensão da Viabilidade Ambiental consideraram-se sete critérios que são definidos, por um lado, de acordo com as exigências legais explícitas na legislação referida e, por outro lado, tendo em conta as sugestões de boas práticas a implementar, que se referem à ecocondicionalidade, ou seja, ao cumprimento de normas de carácter ambiental como seja saúde e bem estar-animal, manutenção das terras em boas condições agrícolas e ambientais, e respeito das normas em matéria de saúde pública e poluição.

Considerando as exigências ambientais definiram-se os seguintes critérios: a capacidade de armazenamento efetivo do chorume, a área agrícola disponível para aplicação do chorume no solo e a capacidade de absorção de azoto contido no chorume pelos solos e ainda o distanciamento das estruturas de armazenamento de

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efluentes às linhas de água. Na parte da ecocondicionalidade, consideraram-se os seguintes critérios: bem-estar animal, a existência de recolha individualizada de águas pluviais e a produção de gases com efeito de estufa. Estes estão sintetizados na tabela 2.

Tipo Nome Id Especificação Objetivo

Ambiental

CAPARM C1 Capacidade de Armazenamento por cabeça normal

Maximizar

AREACHO C2 Área de aplicação de chorume no solo Minimizar

INCAZOT C3 Incorporação em excesso de azoto na exploração

Minimizar

PRODCO2 C4 Produção total de gases de efeito estufa Minimizar

DISTLAGUA C5 Número de estruturas de armazenamento próximas das linhas de água

Minimizar

SEPAGPLU C6 Recolha individualizada de águas pluviais Maximizar

BESTANIM C7 Bem-estar animal Maximizar

Tabela 2: Critérios Ambientais e seus objetivos

Nos parágrafos seguintes detalham-se alguns aspetos referentes a cada um dos critérios elegidos:

I. Capacidade de Armazenamento por cabeça normal (CAPARM)

O critério CAPARM ( /CN) é obtido através da capacidade total de armazenamento de efluentes ( ) e o número de cabeças normais (CN).

Entende-se por Capacidade Total de Armazenagem de efluentes o somatório da capacidade de contenção dos efluentes, designadamente fossas, nitreiras, valas de condução dos efluentes dos estábulos até ao sistema geral de armazenamento, lagoas impermeabilizadas e outros reservatórios previstos para o efeito. Entende-se por Cabeça Normal a unidade padrão de equivalência usada para comparar e agregar números de animais de diferentes espécies ou categorias, tendo em consideração a espécie animal, a idade, o peso vivo e a vocação produtiva, relativamente às necessidades alimentares e à produção de efluentes pecuários.

De acordo com Decreto-lei 202/2005 de 24 de Novembro para as explorações de bovinos é necessária uma capacidade mínima total de armazenamento de efluentes correspondente a:

- 7 por CN, para explorações dotadas apenas de armazenagem (este valor tem por base o facto de o produtor não poder esvaziar a fossa durante 4 meses);

- 6 por CN, para explorações com sistema de separação (sejam mecânicos, físicos ou químicos) da fracção sólida e líquida.

Tem de se assegurar a capacidade mínima de armazenamento, para que a exploração seja sustentável. Este critério foi calculado da seguinte forma, sendo o objetivo maximizar o valor obtido:

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II. Área de Aplicação de Chorume no Solo (AREACHO)

Este atributo advém do interesse na análise do cumprimento ou não de cada exploração quanto à quantidade limite de aplicação de efluentes no solo de forma a avaliar se cada exploração possui capacidade suficiente de incorporação do azoto (N) produzido na Superfície Agrícola Utilizável (SAU).

O Plano de Gestão de Efluentes, desenvolvido pela DRAEDM, faz a transposição destes valores, tendo em conta as quantidades permitidas de incorporação de azoto orgânico no solo previstos no Anexo IV do mesmo diploma, para valores de razão CN/SAU. Assim, encontramos como limites máximos de encabeçamentos (partindo da hipótese de que todo chorume produzido é incorporado no solo da própria exploração), 4,1 CN/SAU para o caso de uma só cultura/ano e 5,6 CN/SAU para o caso de duas culturas/ano. A Zona Vulnerável (ZV) tem um enquadramento diferente, tal como foi explicado no capítulo anterior e o valor a aplicar nesta área é de 2,8 CN/SAU (POBLPEDM, 2007).

Analisando-se a informação sobre o número de culturas, verifica-se que o número de explorações só com uma cultura é insignificante, assim consideraram-se que os valores para uma avaliação da realidade da bacia são: 2,8 CN/SAU na ZV e 5,6 CN/SAU na restante área da Bacia.

Assim sendo, o critério CONCAZOT é calculado da seguinte forma, pretendendo-se minimizar o valor obtido.

III. Incorporação em excesso de Azoto na Exploração (INCAZOT)

A utilização dos recursos endógenos da exploração, nomeadamente, estrumes e chorumes, na produção de pastagens e forragens destinadas à alimentação do efetivo bovino, contribui para a diminuição do consumo de fatores de produção externos, como os fertilizantes minerais, melhorando os rendimentos das explorações com evidentes benefícios ambientais e sociais.

Assim, a sua aplicação permite assegurar às culturas o fornecimento dos principais nutrientes, nomeadamente do azoto, mas a sua incorporação deve ser feita em quantidades adequadas em função das necessidades de cada uma das culturas que o vai utilizar de forma a garantir o balanço de nutrientes, devendo obedecer a um

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plano de fertilização que abranja as quantidades, as épocas, as culturas e as técnicas de aplicação. Apesar da sua importância, a aplicação de fertilizantes orgânicos em quantidades excessivas, ou em locais ou momentos não adequados, implicará que as culturas não aproveitem os nutrientes incorporado no solo, originando-se situações de poluição quer dos solos, quer de linhas de água.

O critério INCAZOT tem como principal informação o cálculo da incorporação de azoto excretado em relação à área forrageira da exploração. Para tal, começa-se por determinar o Azoto total produzido (em Kg) de acordo com o número de CN por exploração e de seguida, determina-se a capacidade de incorporação de azoto na área forrageira (em Kg) através da soma do valor de azoto máximo que se pode aplicar, de acordo com área ocupada por cada uma das culturas: Outono-inverno e Primavera-Verão.

A incorporação de Azoto em excesso (INCAZOT) determinado, diz respeito apenas à área forrageira, não considerando outras áreas de SAU, tendo como objetivo minimizar o valor obtido da seguinte forma:

IV. Produção Total de Gases de Efeito Estufa (PRODCO2)

O armazenamento de efluentes está, de uma forma geral, subdimensionado

pelo que, não só se desperdiça o valor económico dos efluentes como fertilizante e ainda se agravam as condições ambientais provocadas por: emissão de odores desagradáveis para atmosfera e gases que contribuem para o efeito de estufa.

O critério PRODCO2 foi obtido através dos dados recolhidos pelo inquérito referentes à produção leiteira de cada exploração. O valor (em kg) dessa produção foi multiplicado em por 1,5 uma vez que se tende a considerar que, para sistemas produtivos do tipo intensivo como é praticado na região em estudo, cada kg de leite produzido contribui para uma libertação de gases com efeito de estufa correspondente (ou equivalente) a aproximadamente 1,5 kg de CO2 (Santos, 2011).

O seu valor é expresso em Kg de gases com efeito de estufa equivalentes a CO2, cujo objetivo é minimizar:

A inclusão deste critério justifica-se não só pela crescente importância da

produção de gases com efeito de estufa na sobrevivência de qualquer unidade produtiva - devido às leis cada vez mais complexas e rígidas regras ambientais - mas também e acima de tudo, pela responsabilidade acrescida dada à produção de gado (principalmente o leite) no total das emissões globais de gases de efeito estufa (Santos, 2011).

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V. Distância das Estruturas de Armazenamentos às Linhas de Água (DISTLAGUA) Para além de problemas ambientais no impacte do solo decorrentes da elevada

concentração espacial das explorações, do volume de efluentes gerados e errada aplicação, o excesso de azoto também provoca problemas no impacte da água, relacionados com a sua poluição, prejudicando a sua qualidade para consumo e desequilíbrio de todo o tipo de cursos de água pelo aumento do teor de nitratos.

O critério DISTLAGUA foi obtido através do quociente entre o número de armazenamentos cuja distância aos pontos de linhas de água é inferior a 25 metros e o número de armazenamentos existentes.

No Decreto-lei 202/2005 de 24 de Novembro é exigido que “as estruturas de armazenamento não possam ser implantadas a menos de 10 metros contados das margens das linhas de água e 25m contados dos locais onde são efetuadas captações de água”. As respostas aos inquéritos foram aglomeradas nas seguintes classes: <25 metros, 25 a 50 metros, 50 a 100 metros, > 100 metros e como tal não há informação específica para a análise da distância de 10 metros, e como tal decidiu-se analisar este atributo para a distância inferior a 25m, com o objetivo de garantir que o número de estruturas de armazenamento seja o menor possível.

VI. Recolha Individualizada de Águas Pluviais (SEPAGPLU)

A gestão e tratamento de efluentes na exploração podem ser melhorados através de fossas protegidas da entrada de águas pluviais. A instalação de sistemas de recolha de águas pluviais e de drenagem nas edificações aumenta a eficácia da capacidade de armazenagem, produção de fertilizante de melhor qualidade, a reutilização das águas para usos na exploração, em simultâneo, e a redução dos encargos com água.

O critério SEPAGPLU foi obtido através do quociente entre o número de estruturas de armazenamentos com separação das águas pluviais e o número de armazenamentos. O Decreto-lei 202/2005 de 24 de Novembro afirma que “as instalações pecuárias devem ser dotadas de um sistema de drenagem próprio das águas pluviais que permita, na medida do possível, a sua separação dos efluentes pecuários” e como tal, tem-se como objetivo a maximização do número de estruturas que contemplam este tipo de separação.

VII. Bem-Estar Animal (BESTANIM)

Hoje em dia, a criação de animais já não é vista pelos consumidores simplesmente como uma forma de produção de alimentos. Em vez disso, é

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considerada tão relevante como outros objetivos fundamentais, como a segurança e a qualidade dos alimentos, a proteção do ambiente, a sustentabilidade e a garantia de que os animais são tratados adequadamente. Com a consideração deste critério pretende-se valorizar a proteção e o bem-estar dos animais, uma vez que deste também depende direta e indiretamente a segurança e a qualidade dos alimentos e a qualidade ambiental.

O critério BESTANIM (m2/animal) resulta do quociente entre a área coberta (estábulo) e o número de vacas existentes na exploração, pretendendo-se que seja um indicador de avaliação do bem-estar animal. O quociente indica-nos a área existente para cada vaca, sendo que quanto menor o valor obtido, maior é o número de animais por metro quadrado no estábulo. Se houver uma demasiada concentração de animais numa determinada área, o seu bem-estar está em causa e a produção de leite pode mesmo ser inferior, portanto pretendemos assim maximizar o seguinte:

É importante referir que, na área do estábulo considerada, está definida como área coberta no inquérito e como tal estão incluídos os corredores de passagem e silo (alimentação), que variam de exploração para exploração, o que significa que a área introduzida não é necessariamente de utilização e usufruto animal. Assim, apesar de poder existir um enviesamento nas conclusões obtidas, optou-se pela consideração deste atributo por ser uma mais-valia na avaliação do indicador de bem-estar animal.

3.3. Critérios Socioeconómicos

Existem aspetos sociais e económicos do ponto de vista da caracterização do produtor e seu agregado familiar, assim como a profissionalização da atividade, rendimento, sucessores, estratégia de investimentos, etc., que comummente são aceites como os aspetos que mais podem contribuir para a manutenção ou não da atividade, ou seja, sua viabilidade. Assim, para além dos critérios ambientais anteriormente já considerados, vamos ainda considerar os seguintes critérios socioeconómicos:

Tipo Nome Id Especificação Objetivo

Socioeconómico

IDADPRO C1 Idade do produtor Minimizar

DEDPROF C2 Dedicação profissional Maximizar

VALPROF C3 Valorização profissional Maximizar

SUCES C4 Sucessores Maximizar

RENDEXT C5 Rendimento exterior à exploração

Minimizar

ESTINV C6 Estratégias de investimento Maximizar

PERPFUT C7 Perspetivas futuras Maximizar

Tabela 3: Critérios Socioeconómicos e seus objetivos

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A seguir procederemos à apresentação das características dos critérios Socioeconómicos elegidos:

I. Idade do Produtor (IDADPROD)

O critério IDADPRO foi obtido diretamente do inquérito POBLEDM e representa a idade em anos do produtor, no momento da realização do inquérito. Pretendemos minimizar este atributo, uma vez que que quanto mais envelhecido o produtor menor a probabilidade da sua continuação na atividade.

II. Dedicação Profissional

O critério DEDPROF representa o tempo de atividade na exploração e foi obtido diretamente através do inquérito. Seus valores são os seguintes:

0 - Não resposta; 1- Não trabalha na exploração, 0%; 2- Tempo parcial <25%; 3- Tempo parcial entre 25% e 49%; 4- Tempo parcial 50% a 74%; 5- Tempo parcial entre 75% e 99%; 6- Tempo completo - 100%.

Neste atributo, quanto maior o valor melhor no que se refere à continuidade/viabilidade da atividade.

III. Valorização Profissional (VALOPROF)

O critério VALOPROF representa a valorização profissional do produtor e foi obtido através do número de cursos realizados por este.

Através dos dados obtidos do inquérito POBLEDM também temos informação sobre qual(is) o(s) curso(s)realizados pelos agricultores: Curso Empresário Agrícola, Curso Operadores Máquinas Agrícolas, Curso Agrícola, Curso Não Agrícola e Curso Gestão Pecuária. Contudo definiu-se que seria mais importante a consideração do número de cursos pois, no caso do produtor ter vários cursos, significa que este tem investido na sua formação constante, dando um sinal positivo sobre a sustentabilidade da exploração.

IV. Sucessores

O critério SUCES representa a possível existência de sucessores na exploração através do número de filhos e a percentagem de tempo de dedicação destes na exploração. Procedeu-se ao cruzamento desta informação, reclassificando os resultados obtidos em 5 classes:

0 – Não tem filhos; 1- Nenhum filho trabalha na exploração;

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2- Todos os filhos trabalham menos de 50%; 3- Pelo menos um filho trabalha entre 50% e 99%; 4- Pelo menos um filho trabalha a 100%; 5- Mais do que um filho trabalha a 100%.

Considerou-se que quanto maior o número de filhos, com percentagem alta de dedicação à atividade, maior possibilidade de existência de sucessores na continuidade da atividade, pretendendo-se assim maximizar este critério.

V. Rendimento Exterior à Exploração (RENDEXT)

O critério RENDEXT foi obtido diretamente do inquérito. Representa o peso obtido do rendimento externo no rendimento familiar. Os seus valores são os seguintes:

1- renda exterior igual a 0%; 2- renda exterior >0 e <25%; 3- renda exterior 25% e <50%; 4- renda exterior 50% e <75%; 5- renda exterior 75% e <100% 6- renda exterior igual a 100%; 7- Não resposta.

A inclusão deste critério justifica-se por se considerar que quanto maior seja a dependência das famílias agrícolas a rendas exteriores, menos importante será para elas manter a atividade.

VI. Estratégias de Investimento (ESTINV)

O critério ESTINV representa a estratégia de investimento na atividade e exploração e foi obtido através do inquérito mediante uma reclassificação. Neste atributo, mais do que saber no que estão a considerar investir concretamente: instalações, equipamentos, animais, quotas ou outras (como foi considerado no inquérito); procura-se saber se pretendem investir ou não, aglomerando-se todos os investimentos possíveis. Considerou-se:

0 – sem investimento; 1 – com investimento.

Tal informação indica-nos se pretendem ou não permanecer na atividade, pelo menos a curto e médio prazo.

VII. Perspetivas Futuras (PERPFUT)

O critério PERPFUT representa a perspetiva futura do produtor quanto ao crescimento e continuidade da atividade. Foi obtido através do inquérito pela reclassificação seguinte (que pretendemos maximizar):

0- Não resposta; 1- Fechar;

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2- Diminuir; 3- Deslocalizar; 4- Estabilizar; 5- Aumentar.

Para uma continuidade sustentável das explorações interessa, assim, que estas respondam positivamente às exigências dos consumidores, à preservação dos recursos naturais através de boas práticas agrícolas e ambientais, utilizando técnicas e tecnologias compatíveis com uma produção economicamente viável.

3.4. Aplicação do Método ELECTRE TRI

Pelas razões já mencionadas decidimos aplicar o método multicritério ELECTRE TRI para dar resposta ao problema de classificação das explorações leiteiras quanto à viabilidade ambiental e socioeconómica.

O objetivo deste método é afetar as alternativas às categorias definidas previamente. Neste trabalho decidiu-se estudar os critérios ambientais e socioeconómicos de forma separada devido à natureza tão distinta destas duas áreas, obtendo-se uma classificação quanto à viabilidade ambiental e socioeconómica de forma a obter uma classificação mais ampla e pormenorizada da exploração quanto à sustentabilidade. As categorias consideradas, para cada tipo de análise são:

Figura 4: Categorias no estudo da viabilidade ambiental e socioeconómica

das explorações.

Como já foi descrito o método ELECTRE TRI baseia-se na classificação de uma alternativa numa categoria, dado o seu desempenho nos critérios estabelecidos. Isto é feito através da determinação dos perfis de referência e a comparação com as performances, inserindo-as assim nas categorias. Definimos dois perfis de referência e , onde indica a performance mínima que uma exploração deve apresentar para estar na categoria 3 e a performance mínima para estar na categoria 2, ou seja, é o limite superior da categoria 1 e inferior da 2 e é o limite inferior da categoria 3 e o superior da categoria 2.

Os critérios Ambientais (Tabela 2) e os critérios Socioeconómicos (Tabela 3) permitem construir a matriz de performance para avaliação em cada uma das

Categoria 1

• Ambientalmente Não Viável

• Socioeconomicamente Não Viável

Categoria 2

• Viabilidade Ambiental Questionável

• Viabilidade Socioeconómica Questionável

Categoria 3

• Ambientalmente Viável

• Socioeconomicamente Viável

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vertentes. Os perfis foram definidos pelos especialistas, através da colocação de questões direcionadas para a obtenção destes. Os perfis definidos são:

AMBIENTAL

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7

1.0 1.0 0 1000 0.25 0.5 5.0

0.8 1.3 300 4000 0.5 0.2 2.50

SOCIOECONÓMICO

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7

50 4 3 4 2 1 4

65 2 0 2 4 0 1

Para ter em consideração as imprecisões e incertezas nas performances das

alternativas são definidos limiares de indiferença ( )e de preferência ( ) para cada

critério, no intuito de melhor modelar as preferências dos atores de decisão. Também se deve determinar o limite de veto ( ) para cada critério, assim como o peso ( ) de

cada critério. Foram assim elaboradas as tabelas com os parâmetros atribuídos pelos especialistas em cada uma das suas áreas de especialização, ou seja, o especialista da área Agro-Económica atribuiu os parâmetros socioeconómicos, os especialistas das áreas ambiental e zootécnica atribuíram os parâmetros ambientais (sendo que o último só contribuiu para a definição dos parâmetros referentes ao critério C7):

AMBIENTAL

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7

qj 0.10 0.10 100 300 0.05 0.10 1

pj 0.20 0.20 150 800 0.10 0.20 2

vj 0.50 0.50 500 6000 0.55 0.45 3

kj 0.20 0.20 0.20 0.05 0.15 0.05 0.15

SOCIOECONÓMICO

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7

qj 10 1 1 1 1 0 1

pj 15 2 2 2 2 0.5 2

vj 20 4 3 4 3 1 3

kj 0.2 0.1 0.1 0.2 0.1 0.15 0.15

Procedeu-se seguidamente à aplicação do método ELECTRE TRI, como descrito

na secção 2.2., considerando 0. Neste trabalho recorreu-se ao Microsoft Excel para aplicação do ELECTRE TRI.

26

4. Avaliação dos Resultados 4.1. Viabilidade Ambiental e Viabilidade Socioeconómica das explorações Após aplicação do método ELECTRE TRI para classificar a viabilidade ambiental

e económica das explorações, obtiveram-se os resultados apresentados na Figura 5.

Figura 5: Número de Explorações obtidas em cada categoria em estudo.

Na avaliação da Viabilidade Ambiental verifica-se que, maioritariamente

(60,6%), as explorações classificam-se como Ambientalmente Não Viáveis (Categoria 1) devido ao incumprimento das exigências legisladas previstas no Regime do Exercício da Atividade Pecuária (REAP), considerados nos critérios ambientais definidos.

Na avaliação da Viabilidade Socioeconómica constata-se que, contrariamente ao que acontece na parte ambiental, apenas uma pequena minoria (3,1%) se classifica como Não Viável. O sector leiteiro, por ser uma atividade com mercado e preço garantido tem uma inegável importância na liquidez necessária da exploração e famílias, mas simultaneamente exige uma constante atualização das técnicas e práticas, mão-de-obra especializada e uma gestão dedicada que em algumas explorações é ainda ineficiente ou incipiente. O aspeto mais importante nesta análise a realçar é a grande distinção nos resultados obtidos na avaliação da viabilidade ambiental e socioeconómica, verificando-se que os problemas ambientais são, neste momento, os que mais afetam a sustentabilidade das explorações leiteiras.

O mapas da Figura 6 apresentam os resultados obtidos quanto à classificação

de cada exploração, relativamente à Viabilidade Ambiental e Socioeconómica, após aplicação do Método ELECTRE TRI.

1034

349 322

53

1307

345

Categoria 1 Categoria 2 Categoria 3

Viabilidade Ambiental Viabilidade Sócio-Económica

27

Viabilidade Ambiental Viabilidade Socioeconómica

Neste estudo uma análise interessante é a distribuição da classificação da

sustentabilidade ambiental e socioeconómica das explorações pelos dez concelhos em estudo, para tal recorreu-se à Densidade de Kernel (disponível no software ArcGis), que se trata de uma interpolação onde se pretende gerar uma superfície contínua através de pontos amostrais (neste caso, explorações), que é determinado pelo n.º de explorações classificadas em cada categoria em relação à área (em Km2).

Começando com a análise da distribuição de densidade da classificação da

viabilidade ambiental (Figura 7), verifica-se que:

os concelhos de Vila do Conde, Póvoa de Varzim e Esposende, todos pertencentes à Zona Vulnerável N.º1 apresentam o maior número de explorações classificadas como Ambientalmente Não Viáveis, tal acontece dada a maior exigência no cumprimento dos requisitos legais e ainda, à elevada densidade animal, grande concentração de explorações com dimensões (em ha) reduzidas e ainda, com dificuldades de crescimento devido à proximidade a zonas urbanas, o que implica obrigatoriamente a existência de maiores problemas ambientais.

a distribuição das explorações classificadas como Questionavelmente Viáveis Ambientalmente concentram-se na zona central da Bacia Leiteira, realçando-se os concelhos de Barcelos, Vila Nova de Famalicão, onde apesar de existir uma elevada concentração animal, as explorações possuem maiores dimensões o que permite uma melhor gestão ambiental.

Figura 6: Mapas referentes à distribuição da classificação das explorações

quanto à viabilidade ambiental e socioeconómica.

±

28

as explorações classificadas como Sustentáveis situam-se em “zonas limite” de alguns concelhos como Barcelos, Vila Nova de Famalicão, Trofa, Maia e Santo Tirso onde a densidade animal por exploração é menor, assim como a concentração de explorações, o que implica uma menor propensão para a existência de problemas ambientais.

(a) Não Viável (b) Viabilidade Questionável (c) Viável

Figura 7: Densidade da distribuição das explorações em cada uma das categorias

relativamente à Viabilidade Ambiental

Analisando a densidade da classificação da Viabilidade Socioeconómica (Figura 8), verifica-se:

uma distribuição praticamente contrária à distribuição Ambiental, uma vez que as explorações Não Viáveis Socioeconomicamente localizam-se sobretudo nos limites dos concelhos de Barcelos, Famalicão, Trofa, Santo Tirso e tal deve-se à baixa densidade animal que implica menores ganhos económicos e verifica-se ainda um maior envelhecimento dos produtores e falta de investimento na atividade, contribuindo para o abandono gradual e progressivo na atividade.

sobressai o facto de a classificação Socioeconomicamente Questionável se distribuir por praticamente por toda a região e ser a mais comum, reforçando a existência de várias explorações com necessidade de avaliação da estratégia, condições e investimentos;

a distribuição das explorações Viáveis Socioeconomicamente coincide, em muito, com a distribuição das explorações classificadas como Não Viáveis ambientalmente. Uma possível explicação é a intensificação da produção leiteira realizada pelas explorações que se encontram em melhor situação económica,

29

implicando muitas vezes uma elevada concentração animal mas simultaneamente o agravamento dos problemas ambientais. O problema é preocupante uma vez que tem lugar numa zona geograficamente pequena e que além disso, é uma das mais povoadas da região em estudo.

(a) Não Viável (b) Viabilidade Questionável (c) Viável

Figura 8: Densidade da distribuição das explorações em cada uma das categorias

relativamente à Viabilidade Socioeconómica.

4.2. Sustentabilidade das explorações Um dos aspetos mais importantes que sobressai da análise da Figura 6, assim

como das Figuras 7 e 8 é a baixa coincidência na classificação das explorações. Para verificar esta constatação, interessa comparar e cruzar as categorias obtidas, para cada exploração, quer quanto à viabilidade ambiental, quer quanto à viabilidade socioeconómica. Ao realizar este cruzamento, obtemos uma avaliação das explorações quanto à sua sustentabilidade, uma vez que temos agregadas as três dimensões que a caracterizam: ambiental, social e económica. Daqui para a frente, o termo sustentabilidade contempla a análise da viabilidade ambiental e socioeconómica em simultâneo.

Cruzando-se os resultados obtidos no estudo da viabilidade ambiental e socioeconómica, obtém-se a Tabela 4, que pode ser acompanhada com a Figura A1, do Anexo A, que contém a distribuição da classificação das explorações no mapa.

30

Viabilidade Socioeconómica

Categoria 1 Categoria 2 Categoria 3

Viabilidade Categoria 1 32 770 232 1034 Ambiental Categoria 2 12 271 66 349

Categoria 3 9 266 47 322

53 1307 345 1705

Tabela 4: Cruzamento da classificação da Viabilidade Ambiental e Socioeconómica

Verifica-se assim que apenas 2% (32) das explorações são classificadas como

Não Sustentáveis, entenda-se como ambiental e socioeconomicamente não viáveis; 16% (271) das explorações são classificadas como “Sustentabilidade Questionável”, com viabilidade ambiental e socioeconómica questionável simultaneamente. Apesar de termos verificado (Figura 5) que o número de explorações classificadas como Viáveis na parte Ambiental e na parte Socioeconómica era semelhante, verifica-se que apenas 3% (47) são classificadas simultaneamente como Viáveis. Realça-se ainda que 45% (770) das explorações em estudo, são classificadas simultaneamente como Ambientalmente Não Viáveis e Socioeconomicamente Questionáveis.

Verifica-se que maioritariamente as explorações que são classificadas com maior viabilidade económica apresentam pior viabilidade Ambiental. Uma possível explicação é a intensificação da produção leiteira realizada pelas explorações que se encontram em melhor situação económica, o que leva ao aumento do número de animais por hectare, com todos os problemas ambientais que isso traz.

Após obtenção destes resultados, os especialistas foram novamente envolvidos

numa nova discussão e análise, considerando-se que para realizar a avaliação de uma exploração quanto à sustentabilidade faria todo o sentido reclassificar (ou subdividir) as categorias obtidas no estudo da viabilidade ambiental e socioeconómica nas seguintes quatro subcategorias (Figura 9):

Figura 9: Reclassificação das categorias na avaliação da sustentabilidade das

explorações.

Interessa perceber que estas novas designações são usadas na classificação

final das explorações quanto à sustentabilidade. As novas categorias definem-se da seguinte forma:

Altamente Sustentável – representa as explorações classificadas como Categoria 3 na Viabilidade Ambiental e Socioeconómica simultaneamente;

Não Sustentável Marginalmente

Sustentável Moderadamente

Sustentável Altamente

Sustentável

31

47; 3%

332; 19%

271; 16% 1055

explorações; 62%

Altamente Sustentável Moderadamente Sustentável

Marginalmente Sustentável Não Sustentável

Moderadamente Sustentável – representa as explorações classificadas como Categoria 2 na Viabilidade Ambiental e Categoria 3 na Viabilidade Socioeconómica e vice-versa;

Marginalmente Sustentável - representa as explorações classificadas como Categorias 2 quer na avaliação Viabilidade Ambiental, quer na Socioeconómica.

Não Sustentável – todas as outras.

Fazendo esta reclassificação, obtém-se os resultados seguintes:

Figura 10: Número e percentagem de explorações classificadas nas 4 categorias de sustentabilidade.

Após esta classificação das explorações quanto à sustentabilidade,

consideramos importante conhecer a sua distribuição e concentração e como tal, recorreu-se novamente ao ArcGis 10, obtendo-se os seguintes mapas (Figura 11 à 14).

Das explorações classificadas como Altamente Sustentáveis cerca de 64%

situam-se no concelho de Barcelos, 11% no concelho da Maia e 6% no concelho de Vila Nova de Famalicão. Destaca-se que o concelho de Viana do Castelo não possui nenhuma exploração classificada nesta categoria e os restantes concelhos apresentam maioritariamente uma ou duas explorações nesta categoria.

Das explorações classificadas como Moderadamente Sustentáveis a maioria (cerca de 51%) situa-se no concelho de Barcelos e seguidamente, 19% situa-se no concelho de Vila Nova Famalicão, como é visível no mapa da Figura 11.

No caso das explorações classificadas como Marginalmente Sustentáveis a maioria das explorações situam-se no concelho de Barcelos, cerca de 54%, seguidamente no concelho de Vila Nova de Famalicão com 12%.

Por fim, das explorações classificadas como Não Sustentáveis ambientalmente e socioeconomicamente situam-se maioritariamente (30%) no concelho de Vila do Conde, cerca de 23% em Barcelos e 17% em Póvoa do Varzim.

32

Figura 11: Explorações classificadas como Altamente Sustentáveis

Figura 12: Explorações classificadas como Moderadamente Sustentáveis

Figura 13: Explorações classificadas como Marginalmente Sustentáveis

Figura 14: Explorações classificadas como Não Sustentáveis

É ainda importante fazer uma análise da distribuição da percentagem destas

quatro categorias por concelho (Figura 15), realçando alguns aspetos. Por exemplo, das 354 explorações do concelho de Vila do Conde, 320 (cerca de 80%) são

± ±

± ±

33

0

50

100

150

200

250

300

350 Altamente Sustentável

Moderamemte Sustentável

Marginalmente Sustentável

Não Sustentável

classificadas como Não Sustentáveis ambientalmente e socioeconomicamente; assim, como 89% das explorações de Póvoa de Varzim e 83% das explorações do concelho de Esposende. Assim, reflete-se a grave influência dos critérios ambientais na determinação da Sustentabilidade e a gravidade do não cumprimento, uma vez que fazem parte da Zona Vulnerável número 1.

O concelho da Maia, Santo Tirso e Barcelos, nesta ordem, são os que apresentam um melhor cenário, possuindo entre as explorações existentes, uma maior percentagem de explorações classificadas como Altamente Sustentável e menor percentagem de explorações classificadas como Não Sustentáveis. Ainda assim, a percentagem de explorações classificadas como Não sustentáveis é de cerca de 42%.

Figura 15: Número de explorações classificadas quanto à sustentabilidade relativa a cada concelho.

Para uma melhor visualização da distribuição da densidade de cada uma destas

quatro categorias, da sua distribuição na zona em estudo recorremos novamente à Densidade de Kernel e obtivemos os seguintes mapas:

(a) Não Sustentável (b) Marginalmente Sustentável (c) Moderadamente Sustentável (d) Sustentável

Figura 16: Densidade da distribuição das explorações em cada uma das

categorias relativamente à Sustentabilidade

34

A distribuição geográfica da sustentabilidade reforça os resultados obtidos na análise da densidade da viabilidade Ambiental e Socioeconómica (figuras 7 e 8) das explorações. Na análise destes resultados verifica-se um aspeto muito importante: o padrão da distribuição espacial da sustentabilidade coincide bastante com o padrão da viabilidade ambiental. Isto reforça a influência que os critérios ambientais têm na classificação da sustentabilidade das explorações, que é reforçada na legislação e que muitas das explorações ainda não cumprem. Assim, de acordo com os resultados no noroeste de Portugal, a componente económica contribui imenso para a continuidade das explorações, embora o incumprimento das exigências ambientais é que tem uma maior influência na sua sustentabilidade. Verifica-se assim, uma necessidade de uma intervenção técnica, científica e económica de apoio a uma reestruturação do sector leiteiro, que também passa por uma distribuição e uniformização no território.

5. Análise de Sensibilidade

Após análise dos resultados da aplicação do método ELECTRE TRI, procederemos à realização de uma análise de sensibilidade para verificar de que forma as variações introduzidas nos parâmetros do método influenciam os resultados. Interessa verificar a robustez dos resultados e analisar o seu comportamento quanto às variações impostas.

A análise de sensibilidade será efetuada tendo em consideração dois novos cenários distintos para a viabilidade ambiental e socioeconómica. Um dos cenários é mais benevolente e o outro mais penalizador, caracterizados por uma variação de 5% nos perfis das categorias, limiares de preferência e indiferença e veto dos valores considerados na aplicação do método ELECTRE TRI e uma variação de 0.05 no limiar de corte λ. Temos como objetivo avaliar as alterações na classificação obtida quando comparado com a classificação da viabilidade ambiental e socioeconómica obtida originalmente (denominado Cenário Original), analisando assim a robustez dos resultados.

O cenário mais benevolente caracteriza-se por considerar a alteração referida dos parâmetros do método ELECTRE TRI da seguinte forma: baixa-se o limiar de corte em 0.05 (ficando em 0.55), aumenta-se em 5% os perfis das categorias caso seja um critério a minimizar e diminui-se em 5% os perfis das categorias caso seja um critério a maximizar, os limiares de preferência, indiferença e veto são aumentados em 5% (OBS: não houve nenhuma alteração nos pesos em nenhum dos cenários).

Por sua vez, no cenário mais penalizador, considera-se a alteração referida nos seguintes parâmetros do método ELECTRE TRI: aumenta-se o limiar de corte em 0.05 (ficando 0.65), diminui-se em 5% os valores dos perfis das categorias caso o critério seja a minimizar e aumenta-se em 5% caso seja um critério de maximização, diminuem-se em 5% ainda os limiares de preferência, indiferença e veto. Implementando estes dois cenários e comparando-os com o cenário original, obtêm-se os resultados expressos na Figura 17 (recorde-se apenas: Categoria 1- Não Viável; Categoria 2 – Questionavelmente Viável; Categoria 3 – Viável).

35

Figura 17: Comparação dos três cenários quanto à classificação da

viabilidade Ambiental e Socioeconómica.

Analisando estes resultados, verifica-se que:

A. No Cenário mais Penalizador: A.1.) na análise da viabilidade ambiental, o número de explorações classificadas como não viáveis aumenta em 90 explorações, diminuindo o número de explorações classificadas como viabilidade questionável (23) e viáveis (67); o que equivale a uma alteração de cerca de 5%, 1% e 4%, respetivamente, em relação ao cenário original. A.2.) na análise da viabilidade socioeconómica, verifica-se que o número de explorações aumenta 1% (acresce 13) classificadas como não viáveis, aumenta ainda cerca de 2% (27) as explorações classificadas como viabilidade questionável e diminui 2% (40 explorações) classificadas como viáveis.

Neste cenário, realça-se o facto da percentagem alterada na avaliação socioeconómica ser inferior à ambiental. Embora tal aconteça, ainda assim as percentagens alteradas em cada categoria são iguais ou inferiores à variação provocada nos parâmetros e, como tal, podemos então afirmar que apesar da alteração nos resultados finais esta não é muito relevante.

Conclui-se que com uma maior exigência no cumprimento dos critérios ambientais e dos socioeconómicos, a classificação ambiental é a que sofre mais influência.

B. No Cenário mais Benevolente

B.1.) o número de explorações classificadas como não viáveis ambientalmente diminui em 131 explorações, diminuindo ainda o número de explorações classificadas como viabilidade questionável (37) e aumenta em 168 o número de explorações classificadas como viáveis; o que equivale a uma alteração relativamente aos parâmetros originais de cerca de 8%, 2% e 10%, respetivamente. B.2.) na análise da viabilidade socioeconómica, verifica-se que diminui em 3% (51 explorações) o número de explorações classificadas como não

1124

1034

903

66

53

2

326

349

312

1334

1307

1089

255

322

490

305

345

614

Cenário Mais Penalizador

Cenário Original

Cenário Benevolente

Cenário Mais Penalizador

Cenário Original

Cenário Benevolente

Via

bili

dad

e

Am

bie

nta

l V

iab

ilid

ade

cio

-Ec

on

óm

ica

Categoria 1 Categoria 2 Categoria 3

36

2,0

15,8 14,9

67,3

2,8

19,5 15,9

61,9

8,4

26,7

11,7

53,1

Altamente Sustentável

Moderadamente Sustentável

Marginalmente Sustentável

Não Sustentável

viáveis, diminui ainda cerca de 13% (218) o número de explorações classificadas como viabilidade questionável e aumenta em 16% (269 explorações) o número de explorações classificadas como viáveis.

Neste cenário, realça-se o facto do número de explorações que muda de classificação na análise ambiental é inferior ao número de explorações que muda na parte socioeconómica: 336 explorações na parte ambiental e 538 na parte sócio- económica. Apesar das alterações na classificação obtida, estas não são muito significativas.

Assim, conclui-se que a alteração efetuada provoca uma maior influência na classificação socioeconómica do que na ambiental, o que significa que mesmo que se exija um pouco menos no cumprimento das exigências ambientais, ainda assim, não haverá grandes alterações na classificação das explorações. Tal reforça a conclusão de que grande parte das explorações tem um défice enorme no cumprimento dos critérios ambientais definidos e ainda que, algumas explorações têm uma margem maior de crescimento socioeconómico.

Interessa ainda analisar o que acontece com a consideração destes dois cenários relativamente à análise da sustentabilidade, resultante do cruzamento dos resultados obtidos na análise de sensibilidade apresentada para a viabilidade ambiental e socioeconómica. O gráfico seguinte (Figura 18) dá-nos a informação resultante da comparação dos três cenários em análise, contendo a percentagem de explorações classificadas em cada uma das quatro categorias para cada um dos cenários.

Figura 18: Comparação percentual dos três cenários quanto à classificação da sustentabilidade.

Os resultados realçam, tal como esperado, que com alteração dos parâmetros

do ELECTRE TRI em 0.05 do limiar de corte e 5% nos perfis das categorias, limiares de preferência e indiferença e veto obtém-se uma ligeira alteração da classificação obtida num dos sentidos: mais penalizador ou mais benevolente, quando comparados com os resultados originais.

Verifica-se que no cenário mais penalizador a percentagem de explorações classificadas como Altamente e Marginalmente Sustentáveis quando comparadas com o Cenário Original, sofre uma pequena alteração (%). Na classificação Moderadamente e Não Sustentável a percentagem já é um pouco maior, ainda assim não ultrapassa 6%.

Cenário mais Penalizador

Cenário Original

Cenário mais Benevolente

37

Pode-se então afirmar que a alteração de 5% provocada nos parâmetros, provoca até uma semelhante alteração na classificação nas diferentes categorias. Por sua vez, no cenário mais benevolente, entre as categorias Altamente, e Marginalmente Sustentável a alteração percentual é da mesma ordem percentual (cerca de 5%) e a alteração percentual nas categorias Moderadamente e Não Sustentável é um pouco superior (entre 7 e 8%). Dito isto, conclui-se que as alterações não são muito relevantes.

Na figura 18 obtivemos informação da percentagem de explorações cuja

classificação em cada uma das categorias é alterada, mas não conseguimos perceber concretamente quais as alterações efetuadas. Para tal, analisaremos as tabelas 5 e 6 que se seguem.

Mais Penalizador

Alt. Sust. Mod. Sust Marg. Sust Não Sust.

Alt. Sust. 34 12 1 0 47

Original Mod. Sust 0 257 59 16 332

Marg. Sust 0 0 194 77 271

Não Sust. 0 0 0 1055 1055

34 269 254 1148 1705

Tabela 5: Comparação entre o Cenário Original e Mais Penalizador

Aquando da consideração do cenário mais penalizador, das 47 explorações

classificadas no cenário original como Altamente Sustentáveis, verifica-se que 34 delas mantêm-se nessa mesma categoria, 12 alteram para Moderadamente Sustentáveis e 1 para Marginalmente Sustentável, ou seja, a diferença entre estes dois cenários é de uma perda de 0.8% (13) explorações classificadas originalmente como Altamente Sustentáveis. Das 332 explorações classificadas como Moderadamente Sustentáveis, 23% delas alteraram de categoria: 59 explorações passaram a ser classificadas como Marginalmente e 16 como Não Sustentáveis. Assim, como das 271 explorações originalmente classificadas como Marginalmente Sustentáveis, 28% (77) baixaram de categoria para Não sustentáveis. Por fim, as 1055 explorações originalmente classificadas como Não Sustentáveis mantiveram-se, acrescendo ainda 93 já referidas que baixaram de categoria, anteriormente classificadas como Moderadamente ou Marginalmente Sustentáveis.

Mais Benevolente

Alt. Sust. Mod. Sust Marg. Sust Não Sust.

Alt. Sust. 47 0 0 0 47

Original Mod. Sust 71 261 0 0 332

Marg. Sust 26 134 111 0 271

Não Sust. 0 61 89 905 1055

144 456 200 905 1705

Tabela 6: Comparação Cenário Original e Mais Benevolente

38

No cenário mais benevolente, comparativamente com o original, menos 150 explorações fazem parte da categoria Não Sustentável, sendo que 89 delas alteraram para Marginalmente Sustentáveis e 61 para Moderadamente Sustentáveis. Também se verifica um decréscimo relativamente ao número de explorações classificadas como Marginalmente Sustentáveis, sendo que 111 se mantém relativamente à original, mas 134 alteram para a categoria Moderadamente sustentáveis e 26 para a categoria Altamente Sustentáveis. Às 47 explorações originalmente classificadas como Altamente Sustentáveis acrescem 97 explorações, sendo 71 anteriormente classificadas como Moderadamente Sustentáveis e 26 classificadas como Marginalmente Sustentáveis. Por sua vez, relativamente à categoria Moderadamente Sustentável das 332 originalmente classificadas apenas 261 se mantêm nesta categoria e ainda acrescem 195 já referidas que subiram de categoria, anteriormente classificadas como Marginalmente e Não Sustentáveis.

Para completar a informação obtida até ao momento, vamos analisar as alterações da distribuição destas categorias pelos concelhos, através da comparação dos mapas da Figura 19. De onde, se pode verificar que:

no cenário penalizador, apesar de existirem alterações em todos os concelhos, todos eles mantém a distribuição, ou seja, se por exemplo no cenário original o maior número de explorações se define como Não Sustentável, seguidamente Moderadamente Sustentável, Marginalmente Sustentável e Altamente Sustentável, no cenário penalizador mantém-se, embora com maior ou menor número de explorações.

no cenário mais benevolente, alguns concelhos destacam-se pelas alterações da classificação, como Barcelos, Vila Nova de Famalicão, Vila do Conde, Maia e Trofa, com um aumento de explorações classificadas como Altamente e Moderadamente Sustentáveis em detrimento das classificadas como Marginalmente e Não Sustentáveis.

No entanto, a distribuição da classificação da sustentabilidade ambiental e socioeconómica pelos concelhos, em cada uma das categorias, mantém-se praticamente inalterada, não provocando nenhuma alteração significativa e assim sendo, os resultados mostram-se robustos.

39

Figura 19: Mapa da classificação das explorações quanto à sustentabilidade nos 3 cenários

Cenário mais penalizador Cenário Original Cenário Mais Benevolente

Legenda

± ± ±

40

6. Conclusões

A complexidade do estudo associado à avaliação da sustentabilidade pode ser mitigada com o recurso a MCDA. Neste trabalho, constatou-se que MCDA pode definitivamente ter um papel importante no apoio à decisão na avaliação da sustentabilidade por abarcar as várias vertentes subjacentes e os múltiplos critérios e dimensões.

O ELECTRE TRI, método de prevalência, adequou-se bem à forma como se pretendeu analisar problema, como “não-agregação”, de forma a evitar a compensação, e permitiu obter uma classificação das explorações leiteiras quanto à sustentabilidade de acordo com os parâmetros e valores atribuídos pelos especialistas. A estrutura, processo e aplicação da avaliação da sustentabilidade, que neste trabalho se caracteriza como agrícola, pode ser alargado a outras áreas de avaliação.

A georreferenciação das explorações, junto com os critérios determinados para cada uma das diferentes vertentes, permite obter partido das tecnologias SIG, facultando um estudo mais detalhado da distribuição da sustentabilidade das explorações, enriquecendo assim a perceção espacial.

Considerando os resultados obtidos, é notória a situação preocupante em que se encontram muitas explorações da região EDM quanto à sua sustentabilidade. Verifica-se que a vertente ambiental é a que mais contribui para os maus resultados, o que exige uma intervenção assertiva por parte dos produtores na melhoria. Foi ainda possível analisar a distribuição geográfica da classificação das explorações e perceber que as zonas que refletem maiores níveis de sustentabilidade são as que possuem uma cada vez maior concentração de explorações e as zonas que refletem piores níveis de sustentabilidade são as que estão sujeitas ao abandono.

Os resultados obtidos foram submetidos à apreciação e análise dos especialistas, que consideraram ser muito próximos da realidade atual, quer ao nível da classificação obtida, quer ao nível da sua distribuição geográfica. O estudo de caso é ainda completado com uma análise de sensibilidade detalhada, por forma a avaliar a influência de alterações introduzidas nos parâmetros do método ELECTRE TRI, tendo sido verificada a robustez das principais conclusões.

Neste trabalho seguiu-se a estrutura pré-definida na forma de abordagem do problema: envolvimento de especialistas, definição de critérios ambientais, económicos e sociais e valores de parâmetros do método ELECTRE TRI definidos por estes tendo em consideração a legislação, aplicação do método no estudo da viabilidade ambiental e socioeconómica, cruzamento desta informação para obtenção da classificação da sustentabilidade (global: ambiental, económica e social) das explorações e análise dos resultados com o envolvimento dos especialistas e, por fim, a realização da análise de sensibilidade para verificação da robustez dos resultados.

Neste processo foram tomadas opções em cada uma destas fases, o que deixa espaço, em estudos futuros, para o desenvolvimento de novas formas de abordagem como, por exemplo, a definição de outros critérios ou agregação destes, com o envolvimento de mais especialistas, com a aplicação de outro(s) método(s) multicritério, com aplicação de novo inquérito mais atualizado, entre outras.

41

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43

ANEXO A

44

VIABILIDADE SOCIOECONÓMICO

CATEGORIA 1 - Não Viável CATEGORIA 2 – Questionável CATEGORIA 3 - Viável

VIABILIDADE AMBIENTAL

CATEGORIA 1 - Não Viável

32 Explorações

707 Explorações

232 Explorações

CATEGORIA 2 - Questionável

12 Explorações

271 Explorações

66 Explorações

45

SOCIOECONÓMICO

CATEGORIA 1 - Não Viável CATEGORIA 2 - Questionável CATEGORIA 3 - Viável

CATEGORIA 3 - Viável

9 Explorações

266 Explorações

47 Explorações

ANEXO A1: Distribuição da classificação das explorações no mapa de acordo com a avaliação da Viabilidade Ambiental e Socioeconómica, em simultâneo.