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CLAUDIA VENTURI
A PRATICA TEATRAL NO ENSINO MEDIO
Monografia apresentada como requisita parcialpara a obtenyao do titulo de especialista no cursode p6s-gradua9ao em Educag3.o Fundamentadana Arte da Universidade Tuiuti do Parana
Orientadora: Professora Guaraci Martins
CURITIBA
2003
RESUMO
Esta pesquisa constara de uma revisao bibliogr<ifica a partir de estudiosospreocupados com a area da educayao. Entre eles encontram~se atores, diretoresteatrais, te6ricos do teatro e educadores de expressao, dedicados com a arte na suatotalidade e, mais especificamente, com 0 teatro, num contexto pedag6gico. Alemdestes, ainda serao observadas as principais leis que regem 0 ensina escolar noBrasil.Este trabalho esta voltado para 0 Ensino Media, fase em que as adolescentespassam par uma multiplicidade de preocupa90es e decis6es que podem influenciartada a sua vida. E para esta publico Hie especffico 0 Teatro aparece como urnauxiliar imprescindfvel no desenvolvimento pessoal e do cidadao, preparando-o paraS8 defender frente aos obstaculos que encontrara em sua trajetoria.Nesta pesquisa tenho como proposta evidenciar a funl(ao da escola de preparar 0
aluno para a vida. Uma vez que a pratica do Ensino do Teatro e eficaz na forma<;aoeducacional do aluno, considero importante a uniao das foryas. Compreendo quequando as tecnicas teatrais sao desenvolvidas na sal a de aula, a escola cumpre asua funyao que e contribuir no processo de conhecimento do aluno.
SUMARIO
RESUMO ..
INTRODUC;;iio ..
1 0 TEATRO E A EDUCAC;;iiO
. 5
. 7
..101.1 OQUEI~TEATRO?.......... . 131.2- 0 QUE E EI)UCA~AO? . 171.3 CONTEXTO H1ST6RICO DA ARTE NA ESCOLA 201.4 • PROFESSOR - UM PROrISSIONAL QUALIFICADO 23
2 TECNICAS DE INTERPRETACiio E 0 TEATRO PEDAGOGICO .. . 28
2.1- CONSTANTIN STANI$LA VSKI E 0 MUNDO DAS EMOC:;OES 292.2 - I3ERTOL T BRECHT E 0 DISTANCIAMENTO CRiTico.. ... 322.3 AUGUSTO BOAL E 0 TEATRO DO OPRlMIDO... . 35
3 A FORMACiio DO CIDADAO ... . 393.1- 0 TEATRO E 0 FORTI\LECIMENTO DA COLETIVIDADE 403.2 - 0 CONHECIMENTO NO PROCESSO EDUCACIONAL... . 423.3 PQR QUE UTJUZAR 0 TEATRO NA EDUCA<;AO? 46
3.3.1 - Estimulo a leitura.. . 483.3.2 Criatividadc.. . 513.:'.3 Libcrdadc ilrticulada corn a disciplina.. . 53
CONCLUSAO 58
REFERENCIAS .. . 60
INTRODUc;:iio
A linguagem teatral como ferramenta de observayao da personalidade e
integrayao social e 0 objetivo desta monografia. a questionamento sabre como
poderia 0 T eatre auxiliar no processo de aprendizagem e desenvolvimento pessoal,
constitui 0 objeto do estudo.
Formada em Artes Cenicas pela Pontificia Universidade Cat61ica do Parana,
atuou par varios an os de forma amadora e profissional no cenario teatral, tanto em
Florianopolis, aonde iniciou as seus estudos na area, como em Curitiba.
Na trajetoria de sua experiencia na area do Teatro, esta pesquisadora
constatou que esta manifesta<;ao artfstica favorece 0 processo educacional do aluno.
As aries cenicas abrangem todas as linguagens artfsticas e, par isso mesma, 0
jovem do Ensine Media pode, at raves desta atividade, expressar os seus desejos e
desenvolver as suas tendencias criativas, numa pratica pedag6gica comprometida
com a espontaneidade. Vale ressaltar que, de forma prazerosa, tal atividade
possibilita ao aluno trabalhar com as pr6prias dificuldades.
A iniciativa de desenvolver a pratica Teatral no Ensino medio, como um
auxflio pedag6gico surgiu da observa9ao de metodologias convencionais aplicadas
em sala de aula. Nesse contexte foi possive] constatar a dificuldade da assimilagao e
memorizagao dos conteudos curriculares, correspondentes as diversas disciplinas,
pela grande maioria dos alunos do Ensino Medio. Quando analisadas as escolas
que oferecem variadas formas artfsticas como parte de seu currlculo, observa-se
que os alunos, em geral, apresentam um temperamento mais sociavel e um
rendimento escolar diferenciado, sem, no entanto, tornarem-se passiv~s e
conformados, ao contrario, desenvolvem melhor a capacidade crftica e reflexiva.
o Teatro e, por natureza, uma atividade social, tendo em vista que se
caracteriza como a unica expressao artfstica que envolve mais de uma pessoa - 0
ator e 0 espectador. Em algumas formas de arte, e possivel que uma unica pessoa
seja 0 idealizador, 0 executor e 0 espectador da obra, que nao precisa ser admirada
por ninguem mais para existir. Em algumas outras manifestagoes, sequer e
necessario que haja espectador. Entretanto no Teatro, uma vez que e agao e s6
existe no momenta em que esta acontecendo, 0 ator nao poden3. ser 0 mesmo que 0
espectador, precisando dessa forma, de mais uma pessoa para que se possa
caracterizar a arte como tal.
Nessa perspectiva, 0 trabalho em grupo faz parte da essencia do Teatro,
contribuindo para 0 fortalecimento da coletividade, valor de fundamental importancia
para 0 individuo enquanto ser social.
o Teatro e composto por diversas outras manifestayoes artfsticas. Ator e
espectador e apenas uma sintese desta arte tao abrangente que pode envolver
danya, artes plasticas e visuais, musica, entre outras. Assim como tecnicos
especializados, tais como: em iluminac;:c1o, cenario, figurin~ e sonoplastia. Neste
senti do, essa expressao artfstica corresponde a uma arte completa que abrange
uma gama de atividades e seus respectivos profissionais.
o trabalho do educador deve ser, antes de tudo, motivador. 8em motivayao a
aprendizagem ocorre de forma lenta e sem grandes avanyos. Entretanto deve se
evitar a utilizayclo do Teatro na Escola como mero passatempo ou como um recurso
decorativo nas comemorac;:oes de datas festivas. Compreende-se que 0 Teatro e,
entre todas as formas de arte, a menos trabalhada em sala de aula e uma das mais
ricas, por conter manifestayoes de todas as outras artes poder ser desenvolvido
sobre qualquer tema. Motivo pelo qual 0 professor de Teatro precisa ter 0 dominio
dessa area especffica do conhecimento humano, para usufruir com eficacia de seu
valor pedagogico.
Diversos estudiosos da area ja testaram e aprovaram atividades dramaticas e
jogos teatrais como uma deliciosa forma de 0 aluno aprender brincando. Este e 0
motivo pelo qual a pesquisadora optou por este trabalho, que visa 0 aprofundamento
te6rico para evidenciar a importancia das Artes Cenicas na formac;:ao do aluno do
Ensino Medio.
Esta pesquisa tem como objetivos estimular a observayao e 0
questionamento do aluno, enquanto ser social, para favorecer 0 pensamento critico
e reflexivo; favorecer a expressao das emoyoes e sentimentos dos alunos por meio
do teatro; evidenciar a importancia do profissional habilitado em teatro, para
desenvolver as potencialidades dos alunos.
A partir dos t6picos descritos acima, procure desenvolver 0 primeiro capitulo
analisando 0 conjunto Teatro/Educayao, conceituando as duas palavras e
discorrendo sobre sua abrangencia, al9m de trayar um paralelo entre ambas, para a
utilizayao do Teatro nas escolas de Ensino Medio. Em seguida procuro estabelecer
urn pertil hist6rico da arte na educayao brasileira. Come<;o com a chegada dos
Padres Jesuitas no Pais, quando toi desenvolvido urn trabalho de educaqao a partir
do Teatro, e continuo ate os dias de hoje, quando analiso alguns pontos nos quais 0
ensino da arte evoluiu bastante e outros aonde permanece a mesma mentalidade de
decadas atras. Par tim enfatizo a necessidade da qualificaqao do profissional que
ira aplicar essas tecnicas teatrais na escola, bem como de todos os professores,
independente da materia que lecionem. 0 professor e 0 responsavel formal pela
educaqao de jovens e crianqas e como tal, deve ser muito bem qualificado e
devidamente valorizado, para poder realizar a sua tarefa com a competencia que
nossos filhos merecem.
No capitulo dois realqo 0 tato de existirem diversas tecnicas teatrais que
podem ser desenvolvidas com os jovens do Ensino Medio e apresento mais
detalhadamente as tres tecnicas de interpretaqao mais utilizadas no Brasil. E feita
uma analise dos metodos do russo Constantin Stanislavski, do alemao Bertolt Brecht
9 do brasileiro Augusto Boal, e as devidas aplicaryoes para se desenvolver um
trabalho com jovens na educayao escolar.
No terceiro e ultimo capitulo desta pesquisa, abordarei a questao da formayao
do cidadao e de que forma 0 Teatro inserido no Ensino Medio pode auxiliar nesse
processo, apontando 0 motivo palo qual esta tecnica e tao uti I como auxiliar
pedag6gico nas escolas. Salientarei que 0 Teatro ajuda 0 aluno no processo de
conhecimento de si pr6prio, assim como do mundo em que vive. Finalmente
apontarei as principais areas desenvolvidas quando S9 realizam trabalhos com 0
Teatro em sala de aula. Estas areas sao: 0 estimulo a leitura, desenvolvido atraves
do estudo de textos dramaticos; a criatividade, buscando a auto~expressao dos
adolescentes; e a liberdade, que possibilita ao aluno urn maior conhecimento das
pr6prias emoyoes e reaqoes, para assim, aprender a lidar com elas.
1 0 TEATRO E A EDUCA~AO
Diversos autores afirmam que e impassivel desvincular 0 Teatro de seu
carater pedag6gico. PDr mais descomprometido que 0 espetaculo teatral possa
parecer, sempre ira transmitir uma mensagem, fazer com que 0 espectador reflita
sabre determinado assunto. Quando uma pessoa assiste a urn espetaculo teatral,
independente da tecnica utilizada, ela tern a oportunidade de obs8rvar 0 mundo par
urn outro ponto de vista. Em S8 tralando de urn espetaculo que segue uma estetica
realista, ela podera observar conflitos e suas devidas soluyoes, ampliando os
pr6prios horizontes. Em uma apresenta.yao mais abstrata, a pessoa que assiste
estara exercitando a sua capacidade de assimilayao e interpretayao das ideias que 0
grupo procura transmitir e, para as quais, buscara as suas proprias saidas.
Lopes afirma que "0 Teatro educa, se entendermos por educar a descoberta
e utilizayao de formas e meios de apoio para 0 desenvolvimento do ser humano, em
direyao a vida autonoma e consequente, para a sociedade de que seja meio" (1981,
p. 6). Alguma nova sensagao ou conceito sempre sera experienciado pela pessoa
que assiste a um espetacul0 teatral. Ja a pessoa que participa de um espetaculo,
estani con stante mente se aperfeigoando. Ampliar os horizontes e imprescindfvel apessoa que deseja interpretar um papel no palco. 0 aluno precisa conhecer 0
mundo que mostrara em cena, para que seu trabalho tenha credibilidade. E como
geralmente ele ira interpretar papeis diferentes da sua propria realidade, este jovem
estara, necessariamente, em con stante movimento de aprendizagem.
Alem do carater educativo do Teatro, como espetaculo, ainda hit 0 Teatro
Pedagogico, ou seja, 0 Teatro especialmente estudado para ser desenvolvido em
sala de aula. 0 ensino do Teatro na escola desenvolve capacidades especfficas no
aluno, sintoniza-o com 0 mundo que 0 rodeia, ou ainda, ira integrar-se as demais
materias para auxiliar na assimilagao das mesmas. Para Dutra, "0 Tealro a serviyo
da educayao dan! ao educando 0 ensejo de valorizar-se, de integrar-se
harmaniasamente a um grupa, aumentanda a sensa de respansabilidade" (1973, p.
12)
o Teatro aplicado a educayao nao visa a formar diretores ou atores, mas nem
por isso pode ser rebaixado a categoria de mera recreayao, para apresenta90es em
festividades ou simples passatempo. Seu verdadeiro objetivo e a mobilizayao de
II
todas as capacidades criadoras, 0 aprimoramento da rela9ao vital do indivfduo com
a sociedade em que vive e, porque nao dizer, com 0 mundo.
E importante dizer que a arte e urna forma de educaqiio, urn metodo de
ensinamento de lodas as malarias e nao meramente uma materia a mais num
programa de estudos. Par auxiliar no desenvolvimento das habilidades dos alunos
sla ira, mesma que indiretamente, facilitar 0 processo de aprendizagem de lodas as
oulras materias.
Considero conveniente mencionar que a maioria das vezes em que S8
desenvolve uma atividade pedag6gica baseada no Teatro, esse trabalho e realizado
atrav8S de ;0905 teatrais, de expressao au dramaticos. Para uma melhor
compreensao desta tecnica, cite a definigao utilizada par Lopes para esse tipo de
atividade:
~o jogo dramatico, base do Teatro, e uma linguagem de corpo e voz que articulamos na
inffmcia, mas que posteriormente esquecemos, matamos. ou que usamos timidamente quando
e preciso contar um falo que 0 discurso oral, branco e a frio, nao comunica inleiramenten (1981,
p.81)
Na escola, 0 que se busca e desenvolver essa linguagem e torna·la menos
tfmida para se poder atingir, atraves de/a, os objetivDs determinados. Entre eles,
enumero 0 relacionamento, que e a capacidade de adapta9ao do aluno aos grupos
em que vivem; a espontaneidade, que ira favoreeer 0 desenvolvimento das
eapacidades expressivas; a imaginar;8o, a arte de formar imagens; a ObS€lVar;80 e a
percepqiio.
As teenieas teatrais ainda podem au xi liar em outras materias, num proeesso
de interdisciplinaridade. A eada dia se questionam novas formas de se melhorar a
aprendizagem nas eseolas. Os alunos estao vivendo em um mundo de imagens,
uma linguagem que rnuda diariamente, permitindo um aeesso rapido a informa9Bo.
o edueador deve saber lidar com essas transforma90es. Atualmente, a teenologia
coloca a disposi9BO da escola uma serie de reeursos potentes como 0 computador, a
televisBo, 0 videoeassete, entre outros, dos quais os professores devem fazer 0
melhor usa passive!. 0 aluno nao pode eneontrar na sala de aula menos reeursos
do que se tem fora dela. A esse respeito, os peN's1 ressaltam que:
J Pariimelros Curricularcs Nm.:ionais, oora produzida pclo Minislcrio da Educar;ilo com 0 objC1ivo deauxiliar os proressores na clabor.u:;:iio dos cOlllclidos que devcm ser minislrados em sala de aula.
12
"As lecnologias de comunica9ao, alem de serem vefculos de informayoes, possibilitam novas
'ormas de ordenayao da experiencia humana, com multiplos reflexos, particularmente na
cognic;:ao e na atua980 humana sabre 0 meio e sabre si mesma. A utiHzac;:ao de produtas do
mercado da informac;:ao - revistas, jornais, livros, CO-ROOM, programas de radio e televisao,
home-pages, sites, correia eletr6nico -, ait3m de possibilitar novas formas de comunicayao, gera
novas lormas de produzir 0 conhecimento" (1998, p.135)
a educador deve oferecer aos adolescentes algo que estimule 0 aprendizado,
indo muito alem do que poderia utilizando apenas a antiga forma de ensinar. A
pratica teatral na escola oferece uma valorosa contribui~ao nesse senlido ja que se
utilizam recursos variados e nao convencionais, como sonoros e visuais, para
facilitar na assimila9ao dos conteudos.
Acrescento ainda, que todas as disciplinas encontradas na grade curricular do
Ensino Media, tem em seus conteudos variados elementos que podem integrar as
outras e estimular os alunos a cria9ao de uma montagem cenica, num processo de
interdisciplinaridade. Complelando essa idaia, Reverbel afirma que:
"0 Tealro na escola visa melhorar a qualidade das aulas ministradas. 0 professor lira proveito
de manifestayoes artisticas para complementar a fixacao dos conteudos do planejamento
curricular. Enriquecer uma aula e buscar 0 desenvolvimento pessoal do aluno e obrigacao do
educador. E 0 Teatro oferece ferramentas para que ele possa atingir os seus objetivos~ (1978,
p.82)
E importante ressaltar aqui, que embora 0 Teatro possa enriquecer a
conleudo das demais materias, num processo de inlerdisciplinaridade, jamais
devemos nos esquecer de seu va/or individual. 1510 e, 0 valor que a disciplina possui
em si, sem necessaria mente estar vinculada as demais malarias. Alem de contar
com uma hist6ria e conteudos especfficos que impoem a sua continuidade, a Teatro
possui um grande valor na forma~ao do aluno. Slade oportunamente lembra que "0
drama sensatamente usado, torna as crian9as mais amistosas, abertas e diretas, e a
habito da absor9ao conseguido com esle treino e a melhor maneira de aprender
concentra9ao para todas as formas de estudo" (1978. p.94). 0 aluno que utiliza
tecnicas teatrais ira se comunicar com maior fluidez e desenvolver a habit a de
observar melhor as situa90es presenciadas au vividas. Consequentemente ira se
relacionar melhor com a mundo que 0 rodeia, ajudando-o inclusive na obtenyao de
melhores oportunidades profissionais e em outros aspectos de sua vida.
1.10QUEETEATRO?
A palavra Teatro pode especificar, em literatura, um genero que tambem e
chamado de "dramatico". Sao em geral pe,as teatrais, que contam historias,
normalmente em dialogos e sugerindo a a9800ao leilor. Ou ainda urn tipo de casa de
espetaculos. Mas, as peyas de Teatro, em bora possam ser lidas com prazer, s6 se
tornam realmente Teatra quando urn grupo composto de artistas, tecnicos e equipe
de produy8oo a estudam com a inteny800 de realizar urna montagem. Neste momenta
a palavra Teatro passa a designar um ramo artfslico. Na pesquisa apresentada,
busear-se-a uma reflexao mais profunda sobre 0 ultimo conceito abordado, ou seja,
o termo Teatra enquanto uma area especffica da arte.
E diffcil definir com precisao quando 0 Tealro leve 0 seu inicio, podendo ter
originado junto com a propria humanidade. A palavra Teatro, no entanto, tem sua
origem no termo grego THEASTAI, que significa ver, contemplar, olhar. Conforme
ex plica Peixoto 0 termo "inicialmente designava 0 local onde aconteciam
espetaculos. Mais tarde serve para qualquer tipo de espetaculo: danyas selvagens,
festas publicas, cerimonias populares, funerais solenes, desfiles mililares etc." (1985,
p. 9) Ressalta-seque a defini,ao atual da palavraTeatro, que engloba espa,o e tipo
de espetaculo, s6 aparece no sec. XVII.
Tentar definir 0 conjunto do Teatro nao me parece uma tarefa simples e 0
mesmo aconleee ao busear uma definiyao oficia1 e unica para esta palavra. Diante
de tal complexidade, vou utilizar-me de um eonceito que seja aceito pela maioria dos
artistas de diversas tendencias. Na minha compreensao, a definiy800 mais coerente
de Teatro, e a que inclui Ires itens ba.sicos: um local, urn ator e um espectador.
o local pode ser qualquer um. Um auditorio especialmente construido para
esse tipo de alividade, com refletores potenles, isolamento acustico, um palco de
dimensoes apropriadas e decorado com 0 rna is rico cenario. Mas tambem pode ser
no calyadao au praya de uma grande cidade. Com chao de lajola, iluminayao
publica, ou mesmo solar, e com a inlerferencia de lodos os rufdos que uma regiao
central pode oferecer. Acrescento ainda que essa atividade artfstica se manifesta
tambem em saloes de festas, interrompendo urn grande baile, ou nos corredores de
14
urn supermercado. Qualquer esparyo e considerado cfmico S8 nele aconteee urn
espetaculo teatral. Este e urn aspecto interessante para se analisar quando 0 Teatro
e realizado na Escola. Para a realiza9ao de jogos teatrais nao e necessario palco ouauditoria, eles podem acontecer em diversos lugares, tais como na sala de aula au
mesma na quadra esportiva.
Analisando para a segundo topica, 0 espectador, Augusto Baal considera
que "0 espelaculo faz-se para 0 especlador" (1991, p.13). Ele ainda complela esla
afirmaryao dizendo que "0 Teatro deve modificar 0 espectador, dando-I he consciEmcia
do mundo em que vive e do movimenlo desse mundo" (1991, p. 22). Tal afirma9aO
pode parecer clara e 169ica. No entante ainda existem pessoas que afirmam ser
desnecessaria a presenrya de espectadores para que haja uma manifestaryao teatra!.
Param, nem toda manifestaqao teatral pode ser chamada de Tealro, e penso ser
esta generalizaqao err6nea do termo uma das principais responsaveis por confusoes
deste tipo. A maior parte das "manifestaqoes teatrais" realizadas sem a presenqa de
publico pode ser cham ada de jogos e tem como principal funqao a desinibiqao, 0
conhecimento do individuo e do mundo que 0 rodela. Ainda assim, Viola Spolin
considera de fundamental importancia 0 espectador mesmo nos jogos dramaticos
que ocorrem com finalidades educacionais: afinal a atividade teatral impoe 0
espectador. Somente com a presenqa de urn observador e que ira se realizar a troca
plateiaiator, uma troca de informaqoes que e imprescindivel no processo
educacional. 0 aluno/ator apresenta uma situaqao para outras pessoas, que irao
observar e analisar a cena, desenvolvendo a consciencia critica e a opiniao propria.
Os referidos jogos sao muito utilizados com fins educacionais e, em sua
estrutura pressupoe a existencia da platE~ia, atenta e partlcipativa, preparada para
opinar ou descordar, quando se fizer necessario. Uma atividade de expressao que
nao conte com a participaqao de urn publico observador nao pode ser considerada
Teatro, talvez possa ate ser encaixada como terapia, mas esse definitivamente nao
e 0 objelivo do Tealro, nem lao pouco da Educa9aO. Exalamenle sobre isso que fala
Reverbel quando descreve a importancia do espectador para 0 Teatro, ate mesmo
inserido nos jogos dramaticos que se realizam nas escolas:
"Na minha opiniao, pra que a magia do Teatro aconteQa, e necessario que haja alguem pracontar e alguem pra ver e ouvir. Ou seja, acho que com duas pessoas essa magia pode existir.Com uma, acho que nao... Oual a gra9a de contarmos alga pra n6s mesmos?! Nesse caso emelhor procurar alguem pra fazer uma boa lerapia, pais certamente pra chegarmos nesseponto, estamos precisando, e muito..," (2002, p.26)
15
o que ocorre atualmente e uma alterac;ao na posirrao do espectador. Em
alguns casas, al9m de assistir ao espetaculo, ele pode tambem ser con vida do a
subir no palco e participar, de alguma forma, do espetaculo que S8 desenvolv8.
Par ultimo, a existencia do ater. 0 atar e a pessoa que tern consciencia de
estar encenando uma determinada situarrao para pessoas que tern consciencia do
que estao presenciando. E esta e uma das principais diferenrras entre urn alar e urn
mentiroso, a consciencia tanto de quem realiza 0 ato, quanta de quem presencia.
Baal afirma que "0 atar deve ter sempre em mente que atua" (1991, p.92), isto e,nunca confundir a 8903.0dramatica com vida real, 0 que caracterizaria urn desvio
psiquico ao inves de uma interpretayao.
Ha, no entanto, urn genera de interpretayao que lanya mao da consciencia
que a plateia teria de estar presenciando uma encenayao. Sao os cham ados
Happenings,manifesta90es teatrais que representam cenas chocantes do cotidiano
em locais onde elas poderiam acontecer realmente. Nenhuma explicayao ou
introduyao e feita de forma que os passantes acreditam estar presenciando uma
cena real. 0 objetivo deste metodo e provocar urn questionamento social para
situayoes cotidianas e a observayao das reayoes populares. Peixoto define
happenings como "Espetaculo invisfvel. Manifestayoes totalmente improvisadas que
negam a arte como mercadoria e a marginalismo contestat6rio" (1991, p.1 04). Eo uma
arte cornpletamente desvinculada de padroes esteticos, que visa a chocar a
sociedade com atitudes grotescas. Ap6s 0 desenrolar de um happening sempre
havera no local pessoas com questionamentos variados a respeito do epis6dio
presenciado.
Neste momento, quero enfatizar a grande importancia que 0 Teatro Grego
teve na historia, pois e a primeira manifestayao teatral que se tern registro,
oficialmente falando. 0 Teatro na Gracia era uma manifestayao de grande
popularidade da qual todos participavam e desde essa apoca ele era aproveitado
com funyao educativa.
Nos palcos de arena da antiga Gracia, a Tragedia se dava com Deuses e
homens se defrontando. Os primeiros trayando destinos que seriam obedecidos
pelos segundos. De uses opressores e homens fatalizados pelo destino, sem opyoes
nem perspectivas. Hoi apenas a destino do her6i a ser cumprido. No en tanto, esse
her6i dificilrnente se conformava com 0 destino trayado, ele nao se submetia e lutava
16
desesperadamente para veneer as desfgnios dos Deuses. Este heroi, que e urn ser
humano como todos os Qutros, lutava durante 0 decorrer da pe9a, para garantir a
sua existencia. Neste aspecto reside uma importante funyao educativa deste tipo de
Teatro, ele incentiva 0 espectador a observar e analisar criticamente as situa90es
sem S8 submeter a tudo 0 que Ihe e impasto, mas sim lutando para a preservayao
da sua dignidade enquanto individuo e enquanto comunidade, uma vez que 0 teatro
grego tambem e politico.
Completando a trajetoria do Teatro Grego, ressalto a notabilidade de
Aristoteles na hist6ria do Teatro. Arist6teles foi urn dos maio res 1il650fo da Grecia,
estudado ate as dias de hojet e que tambem deu uma grande colaborayao a
dramaturgia universal com importantes pe9as teatrais consideradas sempre atuais.
Para ele, "A comedia e a imita9ao dos maus costumes, nao contudo de toda sorte de
vicios, mas s6 daquela parte do ignominioso que e 0 ridiculo" (sem data, p. 297), ela
nasce das cerim6nias e can90es falicas e mostra os homens piores do que sao.
Enquanto que a tragedia e a imita9ao nao de homens, mas de a96es importantes e
completas: "A tragedia e a imita9ao de uma a930 completa, com princfpio, meio e
lim, al'ao que deve comportar certa extensao" (ARISTOTELES, sem data, p.280).
Cabe esclarecer que a tragedia tem sua origem nos ditirambos (cantos corais
acompanhados de flauta) e tende a mostrar os homens melhores do que sao.
Na definigao de Aristoteles, duas palavras-chave sao observadas: imita9aO e
a9ao. Imita9ao indica simulagao, copia, alguma coisa que nao e a coisa original, mas
uma reprodu9ao dela. E a palavra a9ao, irnpregnada de tempo e movimento, sugere
algo que se inicia, evolui e conclui, um acontecimento. Procura retratar a90es da
vida, da feJicidade e da infelicidade. Sendo que 0 fim que se pretende alcan9ar com
o espetaculo, a resultado de uma certa maneira de agir e nao da maneira de ser dos
personagens. "Os caracteres permitem qualificar 0 homem, mas e de sua a930 que
de pen de sua inlelicidade ou lelicidade" (ARISTOTELES, p.300)
o objetivo da tragedia e a Catarse, termo que foi primeiramente desenvolvido
par Aristoteles e que significa obter, provocando a paix30 ou 0 temor, a purifica9ao
da emo9ao teatral. Ele esclarece a forma que a catarse ocorre atraves da tragedia
quando diz que:
"A Iragedia bem concebida deve empolgar pelas paix6es expressas, num gozo que, no final do
espelaculo, da a impressao de liberta<;:aoe de calma, de apaziguamento, como se a obra
17
livesse dado ocasiao para 0 escoamento do excesso de emolYoes" (ARIST6TELES, sem data,
p.285).
Oesde 0 seu infcio, a Teatro tern por objet iva aguc;ar 0 espirita critico e
reflexivo das pessoas envolvidas, aperfeic;oando a capacidade de observagao,
compreensao e analise do mundo que as rodeia. Oesta forma, independente de
como seja conceituado au de qual tecnica seja utilizada para 0 seu desenvolvimento,
acredito ser consenso que 0 Teatro educa em sua essencia e, portanto, pode S8
tamar urn importante auxiliar na educac;ao esc alar. Para maior reflexao sobre 0 lema
abordado, buscar-se-a, a seguir, tratar sabre a educayao no processo de
emancipa9ao da consciencia do homem.
1.2- 0 QUE E EDUCAQAO?
Conceituar educac;ao nao e tarefa simples, pais se trata daquelas palavras
que todos possuem uma com preen sao ampla, mas poucos se preocupam com a
especffica. 0 significado esta diretamente ligado ao ensino, instru~ao. Sempre
quando hit uma pessoa aprendendo, seja com outra pessoa ou com situa~6es da
vida, hit um processo de educa~ao.
o processo de aprendizagem pode ser encontrado em todas as areas da
vida. Homens e animais estao em con stante educa~ao, aprendendo como devem
agir, portar·se, relacionar·se, para atingir os objetivos desejados por cad a um.
Sa lien to ainda que, em bora seja comprovado que os animais aprendem e
constroem, ha uma diferen~a multo grande entre 0 aprendizado dos homens e 0 dos
demais animais. Por ser dotado de consciEmcia, 0 ser humano e 0 unico que possui
capacidade para transformar 0 mundo em que vive buscando melhor se adaptar a
ele. Ao interferir na natureza ele rompe com as barreiras natura is que sao alteradas
e, nesse processo, 0 homem se emancipa. Por isso a educa~ao torna-se tao
importante, para que possam ser estabelecidos conceitos e normas eticas, de
acordo com cada sociedade, que iraQ garantir a manuten~ao da vida.
o homem aprende desde 0 momenta em que come~a a existir. A crian~a,
logo ap6s nascer, aprende que chorando ira receber alimento ou aten~ao. E uma
das primeiras liyoes da vida humana. Wagner afirma em seu site que "A educayao
18
existe no imaginario das pessoas e na ideologia dos grupos sociais e a sua missao €I
transformar sujeitos e mundos em alguma coisa melhor, de acordo com as imagens
que se tem de uns e outros" (2002). Enfim, a educayao existe para que 0 homem se
relacione melhor entre si e com mundo ao seu redor, possibihtando a manutengao da
vida.
A educagao vai muito alem da simples transmissao de conhecimentos. Ela
deve ser encarada como urn processo formativD do ser humano, pelo qual S8 auxilia
o homem a desenvolver as sentidos e os significados que orientam a sua ayao no
mundo. Este processo cultural deve girar sempre em torna da criatividade e do
desenvolvimento coletiva. E atraves da criatividade que 0 indivfduo vai encontrar
mais facilmente solu90es para os desafios de seu trajeto. Uma pessoa sem
criatividade apenas reproduz as soluc;:oes, logo nao consegue se desenvolver
independente do auxilio de modelos pre-estabelecidos e, desta forma, fara parte de
uma estagnayao coletiva que estancara 0 desenvolvimento social.
A interferencia do meio social na educayao e muito forte. Ela geralmente sofre
grande influencia dos interesses politicos e econ6micos vigentes no momento. De
uma forma ou de outra, qualquer situayao do meio interfere no processo de
educayao. Pois se trata de uma atividade criadora que visa a levar 0 ser humano a
realizar as suas potencialidades flsicas, morais, espirituais e intelectuais. A
Educayao HE processo contfnuo, que comeya nas origens do ser humano e se
estende ate a morte." (Wagner, site, 2002)
Embora a educayao possa ser encontrada em varios setores da vida, existem
pessoas e entidades oficialmente preparadas e autorizadas para tratar desse
assunto. A famflia e principalmente os pais sao os primeiros educadores na vida de
um ser humano. Ja bem cedo, com alguns poucos an os de vida, este mesma ser €I
encaminhado para instituiyoes especializadas, as escalas, aonde professares
passam a dividir esta funyao com os pais. Menelau e Pinto, na Internet, definem
educac;:aa como sendo um "Processo vital de desenvalvimento e formayao da
personalidade. Comeya na familia, continua na escola e se prolonga par tada a
existEmcia humana." (2003)
A escola tem side a entidade responsavel por gerenciar 0 conhecimento
adquirido pelo aluno, em casa ou mesmo nas ruas; acrescentar informac;:6es que
possam auxiliar no desenvolvimento dessa pessoa, no campo familiar ou
profissional; lapidar os conceitos e oferecer dados para que esse aluno possa se
19
relacionar com a sociedade em que vive, da melhor maneira passlvel. Compreencto
que 0 Estado e responsavel pelo acesso de seus cidadaos a escola, aonde eles
receberao os conceitos de cidadania, coletividade e noc;:6es basicas para manter a
ordem social.
No entanto 0 termo Educaqao naD inclui as conceitos de born au mal, po is
estes diferem de acordo com a cullura na qual 0 indivfduo esta inserido. Tais
conceitos podem fazer tada a diferenc;:a quando falamos em manutenc;:ao da vida.
Par 8ste motivD, e fundamental S8 ter em mente que as pessoas oficialmente
responsaveis pela educaqao devem sempre levar em considerac;:ao os pad roes
eticos da sociedade em que vivem, visando a melhor integraqao do homem com 0
seu meio.
E oportuno lembrar que nao ha uma forma (lnica nem um unico modelo de
educa,ao, ela pode se dar em qualquer local e talvez a escola nem seja 0 melhor. 0
ensino escolar e apenas uma de suas praticas e 0 professor profissional um de seus
representante. Wagner defende, na Internet, que "a educac;ao do homem existe por
toda parte e, muito mais do que a escola, e 0 resultado da ac;ao de todo 0 meio s6cio
cultural sobre os seus participantes. E 0 exercfcio de viver e conviver 0 que educa"
(2002). Tal conceito ja era ensino pelos antigos gregos e continua atual ate os dias
de hoje.
Cada momento da vida e um momenta de ensino e aprendizado e com 0
Teatro e simples de se utilizar deste fato para facilitar 0 processo de
desenvolvimento do aluno. 0 Teatro promove uma releitura de fatos cotidianos e os
apresenta de forma estatica e ludica, propiciando uma divertida observac;ao da vida,
para analise e crftica de quem 0 assiste. Quando se realizam jogos leatrais em sala
de aula, esla se oferecendo para 0 aluno urn acesso mais direto aos
questionamentos da sociedade da qual taz parte, para que ele possa compreende-Ia
e aprender a se posicionar com relac;ao as dificuldades que Ihe sao impostas em seu
mundo real.
Todas as pessoas participantes de uma cultura sao educadoras e todos os
momentos da vida sao situagoes de en sino e de aprendizagem: as pessoas
convivem umas com as outras e 0 saber flui alraves dos alos de quem sabe e de
quem faz em diregao daquele que nao sa be e aprende. E, dessa forma se perpelua
o processo educacional no qual cad a indivfduo tem a sua fun gao no percurso da
hist6ria. Em algum momento da vida, cada urn sera urn aluno ou urn professor
20
responsavel pela cantinuidade do saber.
1.3 CONTEXTO HISTORICO DA ARTE NA ESCOLA
A hist6ria da educat;:ao no Brasil teve a sua origem no me sma momento que a
hist6ria do Teatro. Iniciou-se com a chegada dos padres jesuftas em 1549. Estes
implantaram 0 ensina das artes no Brasil com 0 objetivo de catequizar as povos
indfgenas da re9i30. Tambem utilizaram a arte como afieia. 0 metoda de ensina par
eles utilizado era elitizante e reprodutivista, devido a depend€mcia economica. 0
aluno era passiv~ enquanto 0 professor era urn mere transmissar de conhecimentos.
Para Dutra, com a queda dos Jesuitas e do en sino elitista, em 1800, 0 Marques de
Pombal da infcio a escola publica no pais, porem contando com professores
incapacitactos e sem forma9ao.
Quando a familia real chega ao Brasil, aparece a Escola de Belas Artes
(Cursos de Medicina e Advocacia), com 0 objetivo de atender a classe dominante
que geralmente ia estudar em Portugal. Naquele perfodo, a educayao da Arte surge
como capia e reprodu,ao de modelos. Uma arte fragmentada para a classe
burguesa. 0 estilo dominante na epoca era 0 neoclassicismo, 0 culto da beleza
cliissica. "0 ensino da arte no Brasil do seculo XIX (por volta de 1883), adquire um
sentimento utilitario, direcionado ao preparo tecnico de indivfduos para 0 trabalho"
(FUSARI E FERRAZ, 1992, p. 24). Considero importante ressaltar que em 1889 0
desenho geometrico aparece como base da educa9ao das artes em nfvel de 29 grau.
Na primeira metade do seculo XX, as disciplinas Desenho, Trabalhos
Manuais, Musica e Canto Orfeonico faziam parte do programa das escolas primarias
e secundarias, concentrando 0 conhecimento na transmissao de pad roes e modelos
das culturas predominantes. Na escola tradicional, valorizavam-se principalmente as
habilidades manuais, os "dons artfsticos", os habitos de organizayao e precisao,
most ran do ao mesmo tempo uma visao utilitarista e imediatista da arte. Os PCN's
relatam que:
"0 ensino da arte era vollado essencialmente para 0 dominio lecnico, mais centrado na figura
do professor, compelia a ele transmitir aos alunos os c6digos, conceitos e categorias, ligados a
padroes esteticos que variavam de linguagem para linguagem mas que tlnham em comum,
sempre. a reprodw;::aode modelos~ (2001, p. 25)
parte das festividades escolares na celebra9ao de datas como Natal, Pascoa ou
Independemcia, ou nas festas de final de periodo escolar. Neste contexto a forma9ao
do professor de Teatro nao tinha muita importancia uma vez que ele era tratado com
uma unica finalidade: a de apresentay8.o. As criany8s decoravam os textos e os
movimentos cEmicos eram marcados com rigor, sem abertura para a expressao da
criatividade do aluno. Saliento ainda que este panorama pode ser encontrado em
diversas escolas do nosso pais ate os dias de hoje. Escolas que, apesar do avan90
das leis e da cultura geral do povo, ainda consideram que 0 T eatro nao tem outra
fun9ao se nao a de preparar as apresentayoes das festividades e divertir os pais
vaidosos que se emocionam ao ver seus filhos subirem no palco.
Entre os anos 20 e 70, as escolas brasileiras viveram outras experiencias, no
ambito do en sino e aprendizagem de arte, fortemente sustentadas pela estetica
modernista e com base na tendencia escolanovista. a ensino da arte volta-se para 0
desenvolvimento natural da crian9a, centrado no respeito as suas necessidades e
aspiragoes, valorizando suas formas de expressao e compreensao do mundo. As
praticas pedag6gicas, que eram diretivas, com enfase na repeti9ao de modelos e no
professor, sao redimensionadas, deslocando-se a enfase para os processos de
desenvolvimento do aluno e sua cria9ao.
Em 1922, com a Semana de Arte Moderna, 0 Brasil comeya a pensar a arte
como expressao artfstica. Surgem escolinhas de arte com 0 objetivo de desenvolver
a livre expressao e a criatividade. Ha uma ruptura com 0 modelo classico e uma
busca da tematica naciona!. E a nascimento da arte brasileira. Segundo 0 Ministerio
da Educa98.0, nesse perfodo "vive-se a crescimento de movimentos culturais,
anunciando a modernidade e vanguardas. A encena9.30 do "Vest ida de Noiva"
(1943), de Nelson Rodrigues, introduz 0 Teatro brasileiro na modernidade." (2001,
p.27)
Em 1948, Augusto Rodrigues iniciou a divulga,ao do movimento Educa,ao
pela Arte. Criou, no Rio de Janeiro, a Escolinha de Arte do Brasil, onde as crian9as
podiam desenhar e pintar livremente, refletindo 0 clima de reafirma9.30
expressionista que dominava 0 pais. Este fato marca 0 inicio da Escola Nova no
pais. Foi urn movimento fortemente influenciado por projetos desenvolvidos
anteriormente em outros pafses comeya a ganhar forma no Brasil abrindo caminho
22
para a valorizac;ao do ensino das artes e 0 aproveitamento das potencialidades dos
alunos. 0 pr6prio Teatro ganhou mais espac;o com Nelson Rodrigues e outros
grandes dramaturgos que retrataram a realidade do pafs.
Ate os anos 60, existiam pouqufssimos cursos de formac;ao de professores
nesse campo, e professores de quaisquer materias ou pessoas com alguma
habilidade na area poderiam assumir as disciplinas de Desenho, Desenho
Geometrico, Artes plasticas e Musica.
Em 1971, pela Lei de Diretrizes e Bases da Educac;ao nacional, a arte e
inclufda no currfculo escolar com a titulo de Educa~ao Artfstica, mas e considerada
atividade educativa e nao disciplina. Para Fusari e Ferraz, "desde a sua implantac;ao,
observa-se que a Educa9ao Artistica e tratada de modo indefinido" (1992, p. 37).
Nao houve uma maior elaborac;ao curricular ou exigencia profissional. Assim, a
materia referente as artes nao foi encarada como tal, uma vez que as notas dadas
par essa materia s6 serviam para enfeitar boletim. Consequentemente, 0 aluno nao
era reprovado por mal comportamento ou aproveitamento nas aulas de Artes no
Brasil.
A introduc;ao da educac;ao artistica no curriculo escolar foi urn grande avanc;o.
No entanto, nao haviam professores habilitados ou preparados para 0 dominio das
varias linguagens que deveriam ser incluidas no can junto das atividades artisticas.
Somente por volta de 1973, que apareceu 0 primeiro curso de licenciatura em
Educac;ao Artfstica no Brasil, tendo como principal objetivo 0 de formar professores
de 12 e 22 graus, com perfil polivalente e condic;6es de desenvolver todas as
habilidades inerentes a criac;ao artfstica. Segundo 0 Ministerio da Educac;ao:
~Os professores passam a atuar em todas as areas artfsticas, independentemente de sua
formagao e habililagao. Conhecer mais profundamente cada uma das modalidades artfsticas
nao fazia parte de decisoes curriculares que regiam a pralica educativa em Artes nessa epoca"
(2001, p.29)
Observa-se aqui 0 motivo pelo qual a materia nem poderia ser considerada de
grande importancia, uma vez nao se exigia dos professores 0 dominio dos
conteudos especfficos da arte que eles lecionavam. Assim, em nivel de 12 grau, a
curso de educa~ao artfstica buscava sondar aptid6es, a inicia<;:8o para a trabalho,
embasar 0 ensino de arte e integrar esta area a de Comunica~ao e Expressao. No 22
grau deveria desenvolver as habilitac;6es especfficas, atuando como tecnicos de
23
nfvel media com funyao de coadjuvar a atuagao de profissionais de nfvel superior.
A partir dos an os 80 constitui-se a movimento Arte-Educal(ao, inicialmente
com a finalidade de conscientizar e organizar os profissionais. 0 movimento Arte-
Educayao permitiu que S8 ampliassem as discussoes sabre a valorizay8o e 0
aprimoramento do professor, que ja reconhecia a seu isola menta dentro da escola e
a insuficiencia de conhecimentos e competencia na area.
Com a Lei n. 9.394/96, revogam-se as disposic;:oes anteriores e Arte econsiderada obrigatoria na educac;ao basica: "0 ensina da arte constituira
componente curricular obrigat6rio, nos diverSQs niveis da educayao basica, de forma
a promover 0 desenvolvimento cultural dos alunos" (art.26.§ 2Q).
o Minlsterio da Educa~ao comenta que:
"E com esle cenario que se chegou ao final da decada de 90, mobilizando novas tendencias
curriculares em Arte, pensando no terceiro miliEmio. Sao caracteristicas desse novo marco
curricular as reivindicar;:6es de identificar a area par Arte (e nao mais par Educar;:ao Artislica) e
de incluf-Ia na eslrulura curricular como area, com conteudos pr6prios ligados a cultura artfstica
e nao apenas como atividade." (2001, p.30)
Em suma, as Artes foram finalmente desmembradas e passaram a ser
lecionadas por professores especializados par area. Embora esse ainda nao seja urn
comportamento padrao e muitas escolas ainda mantenham as caracteristicas
antigas, pode-se dizer que este foi 0 inicio de uma nova era no ensino das artes no
Brasil.
1.4 - PROFESSOR - UM PROFISSIONAL QUALIFICADO
E dificil elaborar uma pesquisa sobre educa~ao na escola sem falar na figura
do professor. Nao basta se ter uma boa estrutura ffsica e um curriculo impecavel. Se
a pessoa responsavel pela transmissao desse conteudo, 0 professor, nao for
devidamente qualificado, todo 0 trabalho estara comprometido. Compreendo que
ate 0 mais qualificado dos professores necessita de recursos para poder transmitir
dignamente os seus conhecimentos para os alunos, de outra forma, toda a sua
capacidade fica comprometida, perdida num mar de precariedades.
Um professor devidamente preparado pode instigar 0 aluno ao conhecimento
cientifico, a busca de solu~5es, ao desenvolvimento espontaneo gerado por aqueles
24
que am am 0 que fazem. Da mesma forma, S8 0 profissional nao dominar 0 suficiente
a area que leeiona, podera gerar no atuno insatisfac;ao, rebeldia e desprezo tanto
pela materia quanta peto professor. E, neste casa, a escola perde completamente a
sua func;ao pois 0 at uno insatisfeito e rebelde ao inves de aprender ira S8 revoltar
contra 0 proprio sistema que 0 obriga a perder tempo com coisas que a ele parecem
inuteis.
As escolas precisam urgentemente contratar profissionais qualificados de
acordo com a area de atu8ryao. Embora parec;a logica, nao corresponde exatamente
a realidade da Educac;ao Brasileira. Este profissional, para S8 manter qualificado,
necessita uma remunerac;:ao que 0 permita sob reviver dignamente com uma carga
horaria que respeite as suas necessidades pessoais. Ora, todos sabem que 0
professor trabalha tanto na sala de aula quanta em casa, preparando au corrigindo
trabalhos escolares. Portanto a sua remunerar;ao deveria incluir esse tempo
extraclasse. Alem do mais, para que 0 profissional permaner;a no nivel que as
alunos precisam para aprender algo, ele necessita de atualiza<;ao constante. Cursos,
seminarios, palestras, atividades que requerem tempo e dinheiro. Atividades raras
das quais geralmente um professor nao pode participar por falta dos requisitos
basicos mencionados acima.
A esse respeito, Souza e Silva, tra<;am urn comentario sabre 0 inciso da LOB
que fala da valoriza9ao do profissional de educa9ao:
"A valorizayao dos profissionais de educa~ao e medida de extrema urgencia na atuaHdade
brasileira. Nao se pede ter qualidade de ensino sem dispor de professores qualilicados. A
qualifica~ao docente diz respeito tanto a sua maior titulay<lo, quanto a sua melhor
remuneray<lo..." (1997, p. 11)
Quando falamos em valoriza<;ao, nao estamos nos referindo apenas aos
beneficios dos quais as professores deveriam dispor, como melhores salarios e uma
carga horaria justa. A qualificar;ao do profissional vern de sua gradua9ao,
especializar;oes e cursos que tenha participado. A titular;ao e a experi€mcia e que
definem a qualifica((ao do profissional. E para que as professores possam ter tal
qualificar;ao e de fundamental importancia, alem dos cursos de graduar;ao, a
elabora((ao de projetos e pesquisas que irao possibilitar a forma<;ao continuada do
educador. Atraves de convenios e parcerias com organiza((oes internacionais ou
mesmo privadas, esses projetos podem ser viabHizados tambem para a area das
25
artes. A partir daf, as beneffcios para as professores vern apenas como mento e
incentivo para a manuten\=ao de tal qualifica\=8.o.
Par outro lado, as professores do Ensino Basico, mais especlficamente do
Ensino Medio, inde pendente da materia, sempre sofreram com um certo descaso
das autoridades competentes. Se nao na teoria, pelo menos na pratica. Ou seja, hit
muito tempo existem leis que ressaltam a importancia do profissional. 0 que
demorou em aparecer foi 0 reconhecimento real.
Mais especificamente no que se refere as artes foi urn pouco rna is delicado,
uma vez que a propria materia nao estava devidamente definida quanto ao enfoque
e conteudos. E: sabido que a ensino da arte, a partir de 1973, esteve a cargo da
Educa\=8.o Artfstica. A maioria dos professores desta area foi formada par cursos de
mesmo nome cujo principal objetivo era a forma\=8.o de professores para ensino de
primeiro e segundo graus. 0 que se visa va, no mom en to, era a forma98.0 de
professores que tivessem condi90es de desenvolver, na Educa\=8.o Artfstica de curta
dura\=8.o, todas as habilidades inerentes a cria98.0 artfstica: plastica, musica,
desenho e artes cemicas, com pertil pOlivalente. Salienlo que mesmo havendo um
curso especffico para a forma98.o de professores de artes, muitas vezes tal cadeira
fol ocupada nas escolas par qualquer outro profissional que possufsse um minima
de conhecimento em algum ramo das artes. Nos peN's le-se:
"0 ensino da arte e area de conhecimento com conteudos especfficos e deve ser conso!idada
como parle constilutiva dos curricu!os escolares, requerendo, porlanto, capacitayao dos
professores para orienlar a forma<;ao do aluno" (2001, p.51)
Embora 0 ensino das artes ja tenha sido ramificado e ja existam cursos por
areas, tanto de licenciatura como especializa\=oes em todos os graus, a materia
ainda e considerada superflua por muitas escolas. Quando estas oferecem as
op\=oes de artes para os seus alunos, geralmente nao contratam 0 professor
qualificado para leciona-Ias.
o motivo de tal descaso nao esta muito claro. As principals justificatlvas giram
em torno da falta de verbas, mas ainda pode-se perguntar a por que de excluir
justamente artes. A resposta para esla questao talvez seja mais facilmente
encontrada na lirnitada carga horaria das escolas que dificulta a inclusiio de rnais
materias com conteudos dignos de serem estudadas, e nas materias exigidas em
26
concursos profissionais, principal mente 0 vestibular. As escalas preparam as alunos
mais para 0 vestibular do que para a vida, no geraL As matarias artfsticas naG sao
exigidas nestes tipos de concurso, logo naG sao prioridade. a que as escatas esUio
esquecendo e que atraves de praticas artfsticas 0 atuno desenvolve a
espontaneidade, a rapidez de raciocinio e a desinibil{ao, falares que certamente iraQ
auxilia-Io na obten9ao de bons resultados em quaisquer concursos.
a professor de Teatro nao precisa ser necessariamente urn alor, mas deve
conhecer profunda mente a arte de representar, bern como saber identificar as fases
de desenvolvimento dos alunos e as devidas caracterfsticas psico-sociais. Essa
obs8rvajfao conduzira 0 educador a realizayao de urna atividade condizente com 0
grupo que ele estara trabalhando. Oessa forma havera urn melhor aproveitamento
das atividades realizadas, de acordo com os objetivos de cada aula, evitando
traumas ou bloqueios geralmente decorrentes da ma administrayao das tecnicas. Os
peN's sustentam que "0 professor deve conhecer as eta pas de desenvolvimento da
linguagem dramatica da crianya e como ela esta relacionada ao processo cognitivo."
(2001, p.85). E justamente 0 agrupamento de conhecimentos
Teatro/PsicologiaJPedagogia - a que me referi. Todo esse conhecimento requer urn
estudo especializado, uma capacitayao que s6 pode ser devidamente
regulamentada quando as escolas reconhecerem 0 valor de fato do profissional que
ministra as aulas de artes.
Reverbel enumera algumas condiyoes espedficas que devem ser atendidas
pelo professor de Arte Oramatica. Em primeiro lugar, "A descontrayao do professor e
essencial para que sua voz e atitude atinjam os alunos." (1978, p.4). Oepois
acrescenta a necessidade de caracterfsticas como: "espontaneidade, imaginayao,
observayao, criatividade, descontrayao, expressao, relacionamento, cultura, boa voz
e boa atitude" (1978, p. 5) caracterlsticas estas que sao as mesmas que se esperam
de urn ator. 0 curioso a se observar e que estas mesmas caracterlsticas nao sao
condiyoes apenas de urn professor de Arte Oramatica, mas de qualquer professor.
A descontrayao do educador e fundamental nao apenas para que 0 professor
tenha uma boa voz, mas principal mente para que a turma tam bern possa se
descontrair e libertar a imaginayao e espontaneidade. Estas caracterfsticas sao
fundamentais para qualquer atividade teatral e tambem se encontram na lista
enumerada por Reverbel. Se tais elementos sao muito importantes para 0 teatro,
devem ser desenvolvidas nos alunos. Logo, 0 professor deve apresenta-Ias, nurn
27
ambiente propicio a realizac;ao da atividade dramatica. E ainda vale ressaltar que
caracterfsticas como descontrayao, espontaneidade e originalidade devem ser
requisitos do professor porque sao atributos que S8 deseja desenvolver no aluno.
Para que esle jovem possa ter liberdade de crial.(ao e realmente evoluir at raves do
Teatro, e necessaria que confie no educador. Esta confianc;:a 56 sera conquistada S8
o professor S8 mostrar capacitado para a func;:ao que exerce, for tolerante e
apresentar as caracterfsticas que deseja desenvolver em seus educandos.
2 TECNICAS DE INTERPRETA~i\O E 0 TEATRO PEDAGOGICO
Em cada epoca e regiao aonde 58 fez Teatro, desenvolveu-se uma tecnica
diferente para apresentar esse trabalho. Essas tecnicas abrangem desde a forma
como os atores interpretarem seus personagens ate as demais itens envolvidos no
espetaculo, como iluminay80 e cenario, entre Qutros. Existem quase tantas tecnicas
quanta autores teatrais famosos. Elas servem para auxiliar 0 autor e 0 diretor do
espetaculo a transmitir a mensagem do texto. Cada tecnica representa a realidade,
as anseios e necessidades da sociedade na qual nasceram.
Pode-s8 assistir a uma pec;a de T eatre na qual tem-S8 a impressao de que as
atores estao apenas narrando urn texto, sem expressao alguma. Da mesma forma
po de acorrer de uma pe9a teatral ter uma interpreta9ao tao visceral que causa certa
repugnancia. Em ambos os casos voce estara assist indo a um espetckulo teatral
porem, cada qual com suas caracterfsticas particulares.
Algumas dessas tecnicas sao desenvolvidas de forma intuitiva pelos atores.
Algumas vezes por influ€mcia de oulros meios de comunica9ao, em outras por
simples falta de recurso. De qualquer forma, a tecnica deve ser escolhida de acordo
com 0 objetivo de cada trabalho.
Boal afirma que "A alfabetiza980 teatral e necessaria porque e uma forma de
comunica9ao muito poderosa e uti I nas transforma90es sociais" (1991, p.17). E e
somente atraves dessas transforma90es que a sociedade ira evoluir e vencer as
dificuldades existentes. 0 Teatro pedag6gico tern por si urn objetivo bern definido
que 13, como 0 nome ja diz, a educa9ao. Ensinar algo atraves do Teatro, quer seja
com apresenta90es para os alunos, quer seja colocando os alunos para representar.
Quando os alunos sao espectadores de uma peya teatral, a tecnica de
interpretayao pode fazer parte das discuss6es posteriores sobre 0 trabalho assistido.
Pode-s8 fazer uma analise sobre 0 objetivo de tal tecnica ter side empregada e
tambem sobre 0 que 0 espetaculo pretende transmitir em seu conjunto. Quando os
alunos sao atores, vale selecionar algumas lecnicas de interpreta980 e trabalhar um
pouco com cada. ESle revezamento de hknicas selVe para que 0 aluno perceba, na
pratica, como cada uma funciona e tambem, para que ele aprenda a lidar melhor
com as pr6prias em090es e situa90es do cotidiano.
Nesta pesquisa abordarei apenas Ires das tecnicas mais ulilizadas atualmente
29
no Teatro brasileiro. Tais tecnicas sao muito utilizadas na educac;ao pela sua
simplicidade ao mesmo tempo em que oferecem urn amplo campo de trabalho para
ser desenvolvido com as alunos.
Nos ilens a seguir analisarei de forma mais detalhada cada uma dessas
tecnicas.
2.1- CONSTANTIN STANISLAVSKI E 0 MUNDO DAS EMO<;;OES
Constantin Stanislavski nasceu em Moscou em 1863. Alor, diretor de Tealro e
lee rica de arte dramatica, marcou profundamente 0 Tealro contemporaneo,
sobretudo pela sua pedagogia da forma<;ao do alar, na qual buscava criar urn
metoda para que 0 alor pudesse campor personagens de grande densidade
psicol6gica.
Seu metoda ficou conhecido como naturalismo, trata-se de "urn metoda que
busca a espontaneidade do alar, a fe cenica e as movimentos bem arquitetados"
(SIDDARTHA, site, 2003). Stanislavski propoe uma inlerprela,ao natural e viva, que
escape aos estereotipos e a mera imita~ao. Busca uma interpreta9aO verdadeira,
onde 0 ator deve estar certo, user logico, coerente, pensar, lutar, sentir e agir em
unissono com 0 papel" (STANISLAVSKI, 1979, p.43) Pela primeira vez se recorre ao
psiquismo como fonte criadora. 0 ator utiliza as proprias experiencias para trayar um
paralelo, buscar em suas experiencias algo semelhante com 0 personagem que se
interpreta e procurar entao a emoyao adequada para se atingir a verdade cenica.
Alem de todo 0 trabalho interior e psfquico que 0 ator desenvolve, ele ainda
precisa se preocupar com 0 trabalho exterior. Desenvolver 0 corpo e preservar as
suas capacidades, que sao os instrumentos de trabalho do ator. Corpo e voz devem
estar sempre preparados para as exigencias do papel. Para Stanislavski 0 bom
desempenho do alor depende de uma tecnica psicologica bem trabalhada, um
enorme talento e grandes reservas ffsicas e nervosas. E 0 que ele chama de bases
organicas das leis da natureza, quando explica porque 0 metodo e chamado de
natural:
·0 ator do nosso \ipo precisa trabalhar tao mais que os outros, tanto no seu equipamento
interior, que cria a vida do papel, como, tambem, na sua apare!hagem exterior, ffsica, que deve
reproduzir com precisao os resultados do trabalho criador das suas emovoes. Com eleilo,
:m
nenhuma lecnica artificial, leatral, pode sequer comparar-se as maravilhas que a natureza
produz· (1979, pAS)
E considerado natural por se utilizar os recursos que a natureza oferece ao
ator, possibilitando uma interpretayao mais pr6xima da realidade. Esse processo, no
Teatro Pedag6gico, e importante para aumentar a consciencia que 0 aluno tern de si
mesmo, das potencialidades de seu corpo ate de suas capacidades emocionais e
psfquicas.
Quando se assiste a uma novela ou a um filme de Hollywood, ha uma
tendencia de se identificar com a herofna ou com 0 mocinho da est6ria: passa-se a
enxergar 0 mundo como eles, a sentir e a sofrer como eles. Esse processo de
identificayao tern como urn dos objetivos a abordagem e compreensao do problema
a partir do ponto de vista da pessoa que esla na a9aa. Tal processo tam bam eaproveitado na educayao pois a partir do momenta em que a aluna - atar au
espectador - se envolve e identifica com 0 personagem apresentado, estara
reconhecendo, nele mesma enos companheiras, caracteristicas e limitayoes que
podem passar a ser desenvolvidas ou gerenciadas para seu melhor desempenha
social.
A pesquisa de Stanislavski e voltada diretamente ao trabalho do ator, na
construyao do personagem que sera representado em cena. Parte de uma tacnica
chamada visualizaqao ativ8, que consiste, no trabalho do ator, na "sua visualizayao
de denlro, se ver no lugar do personagem; nao a ver com os olhos de um
especlador, e sim se ver agindo no lugar do personagem. E diferente de uma
simples contempla9ao da a9ao alheia." (KUSNET, 1987, p. 41).
Para se trabalhar com a visualizayao ativa e necessaria ter fe cenic8, que
vern a ser 0 estado psicofisico que nos possibilita a aceitayao espontanea de uma
situaryao e de objetivos alheios como se fossem nossos. Se 0 ator conseguir tomar
atitude pessoal perante essa situayao e esses objetivos imaginarios, ele sentira
vontade de agir no lugar do personagem. "Quanto mais complexo for 0 objetivo do
personagem lanto mais facilmenle sera despertada a imagina9ao do ator" (KUSNET,
1987, p. 31). Tal pralica de inlerprela9ao , quando utilizada na escola, ira
desenvolver a auto-expressao dos adolescentes que buscarao uma adaptayao dos
seus verdadeiros sentimentos. Trata-se de uma processo semelhante ao utilizado
pelo tealro grego e descrilo por Arisl6teles, a catarse, um processo de purifica9ao
31
das emoyoes.
Stanislavski descreve 0 processo utilizado pelo atar para S8 abler a verdade
cenica, explicando que hit dais tipos de verdade e sentimento de cren9a naquilo que
58 esla fazendo. Urn deles e criado automaticamente e no plano dos falas reais. Sua
emoyao e real pais asia acontecendo verdadeiramente. a segundo e 0 tipo cenico,
que tambem e verdadeiro, mas tern sua origem na ficg80 imaginativa e artfstica:
"Para alcanc;:ar este segundo senlimento da verdade e reproduzi-Io na cena, voces lem de usaf
uma alavanca que as eleve ao plano da vida imaginaria. La voces criam uma ficc;:ao analoga a
vivida na realidade. As devidas circunstancias dadas ajuda-Ios-ao a sentir e criar uma verdade
cenica na qual poderao crer enquanto esliverem em cenaM (1979, p.152).
Se nao podemos viver em cena com toda a intensidade que 0 papel exige,
pelo fato de nao 0 estarmos vivendo realmente, mas apenas 0 reproduzindo dia
ap6s dia, buscamos em nossas vidas emoyoes simi lares, ou as criamos na
imaginay8.o. Uma vez em cena recorreremos a essas emoyoes que nos darao base
para uma atuayao mais pr6xima da realidade. Com esta lecnica nao apenas se
con segue uma compreensao maior dos sofrimentos alheios bem como das
motivayoes e emoyoes experienciadas pelos pr6prios alunos.
Esta tecnica parte do prindpio de que 0 atraente para n6s e aquilo que nos
interessa profundamente e interessar-se pelos problemas alheios 56 e posslvel
quando conseguimos colocar-nos no lugar da pessoa. Assim, 0 Teatro sugerido par
Stanislavski apresenta a sua forma educativa, estimulando os alunos a compreensao
das atitudes alheias, 0 que ira desenvolver nos jovens uma maior observancia das
causa sociais. Para que a tecnica em questao seja realizada, "e sempre
aconselhavel que 0 alor procure algum paralelo entre a situay.3o do personagem e
algum detalhe semelhante em sua propria vida" (KUSNET, 1987, p. 31). Com 0
objetivo de facilitar a busca de sse paralelo entre 0 alor e 0 personagem, muitas
vezes e utHizada uma tecnica conhecida no Teatro como laborat6rio. Esta tecnica
consiste em exerdcios que VaG desenvolver emoyoes semelhantes as que devem
ser trabalhadas em cena. E urn referencial para 0 momento da atuayao.
Apesar de todo esse processo de identificayao, deve-se deixar bern claro que,
em momento algum, 0 alor abre mao de sua personalidade para "ser" apenas 0
personagem. "0 ator e seu personagem coexistem e interdependem" (KUSNET,
1987, p. 79). Considero ainda importante salientar que neste tipo de trabalho, 0
32
cantata e a comunica9ao com a plateia nao somente sao inevitciveis, como tambem
necessarios, mas nunca devem ser procurados por vaidade.
Trabalhar na escola com 0 metoda Stanislavski de interpretayao e importante
pais vai auxiliar 0 jovem aluno a lidar melher com as pr6prias emo90es e
compreender as reagoes alheias. 0 alunolator que utiliza esse metoda de trabalho
ira colocar-se sempre no lugar do personagem para compreender as motivQs que 0
levaram a agir de determinada maneira. E neste ponto que encontraremos a maior
utilidade desta tecnica em sala de aula.
2.2 - BERTOLT BRECHT E 0 DISTANCIAMENTO CRITICO
Bertolt Brecht foi escritor e diretor de Teatro. Nasceu em 1898 na Alemanha,
e morreu em 1956. Como autor e diretor, levou a efeito a tarefa de despertar a
consciencia do espectador para os problemas sociais e politicos de seu tempo. Seu
estilo continua exercendo grande influencia no trabalho dramaturgico em todo 0
mundo ate os dias de hoje.
A primeira fase de sua obra e inconformista e ligada ao expressionismo. A
segunda fase, de crltica anarquista a sociedade burguesa, desenvolvida em diversas
comedias saHricas. Mas foi a partir de 1933, quando abandonou a Alemanha nazista
e aderiu ao Marxismo, que desenvolveu a terceira fase de sua produ9ao, revelando
de maneira precisa suas teorias de Teatro epico e 0 famoso efeito de
distanciamento.
Segundo 0 site do Goethe Institut, Brecht "Claramente assumiu posi90es de
esquerda e procurou colocar a luta de classes no palco. Nunca de forma dogmatica.
Sempre buscando a duvida dialetica." E dessa forma, esse importante diretor foi
muito mais do que s6 mais um artista, ele tornou~se "0 nosso companheiro de
trabalho Brecht, ou b.b. como ele se assinava sempre em letras minusculas. Urn
companheiro de luta, uma luta longa e difjcil, que s6 tera fim quando nao mais
existirem classes sociais diferentes." (2003). E, pelo seu posicionamento politico,
sempre foi discutido, criticado, atacado e perseguido.
Brecht foi um dos primeiros estudiosos de Teatro a querer romper com a
identifica9.30 pSicol6gica proposta por Stanislavski. Ele procura ser imparcial para
que as pessoas nao se idenlifiquem com os personagens, mas questionem a
situa9Bo. Savini ressalta em seu Jamal Radcal, na Internet, que:
:'1
"Ao inves de sofrer e pensar como as figuras que vemos no palco. deveriamos. segundo
Brecht. vollar-Ihes urn olhar crilico, enxergar seus erros e acertos. Apenas assim. 0 Tealro
poderia ser ulil. alem de divertido, para ajudar os homens a 1utarcontra a opressao polftica ou
social. contra a guerra. as diladuras ou as injusli<;asdo mundo burgues" (2003).
Brecht busca a ironia e nao a piedade, porem sem perder a autenticidade. A
interpretayao ocorre como se fosse a narrativa de uma testemunha ocular que
apenas observa, mas nao se envolve emocionalmente. Para ele, as emoyoes
deixam as pessoas fracas, com dificuldades para raciocinar claramente e tomar a
atitude certa, quando age no calor das emoyoes. Neste ponto, Brecht se opoe ao
modelo Aristotelico, que sugeria uma purificayao das emoyoes atraves da catarse,
bem como ao de Stanislavski e sua proposta de uma interpretayao natural e
psicologicamente den sa.
o Teatro epico de Brecht e eminentemente politico. Nao de forma indireta,
mas aberta e declaradamente. Pode-se dizer: um Teatro a serviyo da causa
operaria, da revoluyao social. Oaf 0 seu carater epico e didatico, on de 0 espectader
aprende a pensar para tirar as suas proprias conclusoes. Este carater ira incentivar 0
aluno, tanto 0 atuante quanta 0 observador, a pensar par si, sem se deixar
influenciar pela opiniao dos outros, modismos ou padroes consumistas. A partir de
um desenvolvimento do raciocfnio, a pessoa aprende a buscar as proprias soluyoes
para as suas dificuldades, ao inves de estagnar-se e culpar os outros pelo seu
infortunio.
Em pesquisa na Internet fai passivel canstatar que no entendimento de
Siddartha •0 Teatro Epico de Bertoli Brecht:
"Baseia-se na oposi<;aoao teatro aristotelico; embora Arisl6teles tarnbem utilize politica emsua obra. 0 tealro epico nao tem apenas a finalidade de apresentar rela90es humanas, maslambem, alraves de criticas sociais e polilicas incentivar 0 publico a uma reflexao. E um lealrodidalico Que relrala as confiitos s6cio-politicos de modo cientffico; suscitando a plaleia a urnaa<;80Iransformadora. Ele e caracterizado peto distanciamenlo crilico, ou seja, inlerrup<;.3.odacatarse para a inlera<;aado atar criticamenle em comunicay.3.ocom 0 publico" (2003).
Brecht criou a seu teatm epico, com base nos princfpios fundamentais do
marxisma, que lama os indivfduos coma parte de uma saciedade que lhes da a
maneira de pensar e agir. Savini camenta no site da Internet que "a objetivo dessa
nava teo ria e pratica teatrais era tazer as pessaas serem mais crfticas em relayaa arealidade, percebendo que ela pode ser mudada para methor, ou pier, dependendo
34
das atitudes de cad a urn" (2003).
Compreendo que a atitude critica amplamente valorizada par Brecht deve ser
desenvolvida tambem em sala de aula, com 0 mesma objetivo. Islo significa que 0
Teatro na escola de Ensine Media ira despertar no atuno a consciencia de que 0
mundo em que vive pode ser melhor de acordo com a atitude que ele tomar. A
atitude de uma 56 pessoa pode desencadear urn fen6meno que resulta numa
revolu~ao social. Ao mesma tempo 0 professor de Teatro deve desenvolver no aluno
a percepyao de que as suas atitudes tern conseq0encias e 0 fato de naD as sentir8rn
diretamente naD lorna as atitudes melhores, muito menos eles, que as praticaram.
o Teatro epico de Brecht e didatico e caracteriza-se pelo cunho narrativo e
descritivo que deve apresentar os acontecimentos sociais em seu processo dialE~tico.
Desta forma incentiva, tanto os atores quanto 0 publico, alunos e educadores, a
observar a sociedade e refletir sobre os seus problemas. E uma tecnica que diverte
e faz pensar. Ela nao S8 limita a explicar 0 mundo, pois se dispoe a modifica-Io. Eum Teatro que atua, ao mesmo tempo, como ciemcia e como arte. Acredito que
trabalhando com 0 Teatro Epico na escola se busca justamente incentivar 0
questionamento reflexivo, nos alunos, incentivando-os a buscar alternativas para as
dificuldades tanto socia is quanto em suas proprias vidas.
o distanciamento trabalhado por Brecht e um distanciamento da identificayao.
Geralmente, quando ha um processo de identiticayao sotre-se uma interferencia das
emoyoes. 0 envolvimento emocional prejudica 0 processo da razao. As atitudes
tomadas nessas situayoes sao questionaveis. Por esse motiv~, muitas vezes,
quando se esta prestes a agir movido pela emoyao e normal ser incentivado a parar
e "esfriar a cabeya". A proposta de Brecht e analisar as situayoes com 0 minima de
interferencia da emoyao. Tanto os atores quanto 0 publico devem seguir esse
processo para facilitar uma analise mais critica, mais "fria" da situayao apresentada.
o papel do autor dramatico nao se reduz a reproduzir, em sua obra, a
sociedade de seu tempo. 0 principal objetivo, quer pelo conteudo, quer pela forma, e
o de exercer uma funyao transformadora, que atue revolucionariamente sobre 0
ambiente social. Neste aspecto, Duarte Jr. mostra 0 carater subversivo da
criatividade:
"A atitude criadora, pode-se afirmar que ela se constitui tambem num ata de rebeldia, namedida em que ° criador deve negar ° estabelecido, 0 existente, para propar um outrocaminho, uma outra forma, enfim, para propor a novo. 0 novo surge a partir de um
35
descontentamento com relayao ao estabelecido. Nesses termos qualquer ala criativo e sempresubversivQ, pais visa a alteray3.o, a modificat;:8.o do existente" (1988, p. 53).
Bertolt Brecht naseeu hit cern anos e transformou-se num dos maiores
homem de Teatro de nasso seculo. Com seus escritos teoricos, pegas, ensaios,
romances, operetas e poem as, ele reinventou a maneira como assistimos a urn
espetaculo - nao apenas nos divertindo, mas tambem, e principalmente, pensando
sabre 0 mundo a nossa volta. Uma vez que aperfeigoar 0 raciocfnio e a capacidade
crftica e investigativa dos alunos €I urn dos objetivos da escola, considero que
desenvolver urn trabalho com as alunos, baseado nos estudos de Bertolt Brecht ira
fazer com que este objetivo seja atingido de forma rapida e divertida.
2.3 AUGUSTO BOAL E 0 TEATRO DO OPRIMIDO
Augusto Boal, 0 unico diretor de Teatro brasileiro estudado aqui, nasceu no
Rio de Janeiro em 1931 e ocupa posigao de destaque na dramaturgia brasileira. Sua
concepgao social de Teatro leva-o a trabalhar com sindicatos, ligas camponesas e
entidades estudantis.
Augusto Boal e conhecido em todo 0 mundo como ator e diretor de um Teatro
radical. Um Teatro que vai ao fundo das coisas, faz experiencias e nao tem medo de
transformar 0 estabelecido. Mas e principalmente conhecido por ser 0 criador do
chamado Teatro do Oprimido, inspirado na pedagogia do oprimido de Paulo Freire.
Sabe-se que nao ha educagao neutra. 0 processo educativo deve ser um ate
politico, uma a9ao que resulta em rela9ao de dominic ou de liberdade entre as
pessoas. De um lado, esta a burguesia e, do outro, os operarios. Uma pedagogia
que liberta as pessoas oprimidas e deve passar por um intenso dialogo entre
professores e alunos pois, inde pendente do tema a ser trabalhado, 0 Teatro eeducacional em sua essencia.
Boal ve no Teatro um objeto tao politico quanto 0 ve Brecht. A grande
diferenga e que ele nao apenas apresenta 0 fato para que os espectadores
procurem mudar a pr6pria realidade, quanto ele dB.a oportunidade para a plateia
ensaiar essa mudanga, participando do espetaculo. Para Boal, "0 Teatro deve
modificar 0 espectador , dando-Ihe consciencia do mundo em que vive e do
movimento desse mundo. 0 Teatro da ao espectador a consciencia da realidade; e
36
ao espectador que cabe modifica-Ia" (1991, p. 22).
As atividades teatrais, independente de serem realizadas no palco em sala de
aula, devem oferecer situac;:oes e nao respostas. Estas, cabe ao publico, observador
e colaborador, encontrar atrav€s de suas proprias experiencias e conceitos. Baal
completa esle tern a fa lando da funyao do atar: "E necessaria que 0 atar tenha
sempre presente a missao progressista de sua tareta, 0 seu carater pedagogica, 0
seu carater combativo. 0 Teatro e uma arte e uma arma" (BOAL, 1991, p.92).
Com tal concepc;:ao, 0 atar sempre estara transmit indo alga, ensinando, de
alguma forma, as pessoas que 0 assistem. E ainda pode utilizar-s8 desta
caracteristica pedagogica do Teatro, para influenciar pessoas em determinados
sentidos. Par eSle motivo e que Baal afirma que 0 Teatro a uma arma, pode ser
utilizado para sugestionar conceitos em um publico despreparado. E tam bam por
este motivo e que 0 ator deve ter em mente a importancia do seu papel e sua
contribuivao social.
o Teatro do Oprimido procura utilizar-se de uma caracterfstica teatral que
todo homem traz dentro de si. Para Sabato Magaldi, a melhor defini9ao para este
tipo de Teatro seria a de que se trata do Teatro das classes oprimidas e de todos os
oprimidos, mesmo no interior dessas classes. As tecnicas para desenvolve-Io visam
a transformar 0 espectador em protagonista da ayao dramatica e, atravas dessa
transformayao, ajudar 0 espectador a preparar ayoes reais que 0 conduzam apropria libera9ao.
A tecnica a simples, 0 grupo apresenta urn tema polemico e interrompe a
avao em algum momento decisivo. E neste momenta que 0 espectador e convidado
a subir ao palco e apresentar, improvisando, 0 que considera a melhor soluyao para
o problema. Este metoda busca transformar 0 povo, "espectador", ser passiv~ no
fen6meno teatral, em sujeito, ator e transformador da ayao dramatica. Trata-se de
uma forma de desenvolver a noyao de atitude nos espectadores. Essa novao
tam bam a trabalhada em sala de aula quando os alunos sao convidados a
abandonar a inercia de suas cadeiras e participar de uma reproduyao da vida real.
Segundo Boal, em entrevista a Internet, "0 Teatro do oprimido nao tem uma
mensagem especffica. Nunca dizemos falta assim ou fava assado. E urn metoda de
descoberta do desejo e de ensaio de realiza9ao deste desejo" (FRAGA, 2003). Ou
seja, um constante desenvolver da criatividade.
o metodo surgiu em Sao Paulo, no infcio dos anos 70. Em sua primeira forma
37
chamava-se Teatro Jamal, era urn espetaculo que ao mesma tempo ensinava a
fazer Teatro a partir de jamal e que procurava dar ao espectador nao urn produto
acabado, mas os meios de produ~ao. Depois, na Argentina, surgiu 0 Teatro Invisfvel,
uma forma de utilizar 0 Teatro dentro da realidade sem revelar que e Teatro. Ou
seja, os espectadores intervem na cena como S8 ela fosse urn fato real. E, ap6s
varias pesquisas e experimentat;:oes, surge 0 Teatro do Oprimido, como e hoje.
Em 1973, Augusto Baal foi convidado pelo Governo Revolucionario Peruano
para participar de urn plano nacional de alfabetizayao Integral, 0 ALFIN, com 0
objetivo de erradicar 0 analfabetismo em urn prazo de aproximadamente 4 anos e
Baal participou desle projelo ulilizando a Poetica do Oprimido.
Este tipo de trabalho desenvolve a espontaneidade e uma forma de criticar a
sociedade de forma responsavel, nao apenas localizando os pontos frageis do
sistema, como buscando alternativas. Apenas este fato ja seria um motiv~ para
desenvolver a tecnica com 0 Ensino Medio, que e uma fase em que os alunos
comeyam a assumir mais responsabilidades e precisam estar preparados para tomar
decis6es importantes.
Em consulta a Internet, foi encontrada a explicayao do processo realizado,
pelo proprio Baal:
"0 Teatro dessa forma fica sendo um meio de a!fabetizayao onde 0 povo aprende uma novaforma de linguagem . Para 0 Teatro servir de meio, 0 povo precisa aprender a uti!iza-!o, issocompreende urn aprendizado que consiste em quatro etapas:
Primeira etapa: Conhecimento do corpo - Tern como primeiro objetivo fazer com queo participante se tome cada vez mais consciente do seu corpo.
Segunda etapa: Tomar a corpo expressivo - Pretende ajudar os participanles adesenvo!ver os recursos do corpa, como forma de expressao.
Terceira etapa: 0 Teatro como linguagem - Trata-se de fazer com que 0 espectadorse disponha a intervir na ayao, abandonando sua condiyao de objeto e assumindoplenamente 0 papel de sujeito.
Quarta etapa: 0 Teatro como discurso - e 0 espayo onde 0 publico busca urn dialogocom os alores em ayao, interrompendo a historia, pedindo explicayoes sem esperarque 0 espetacuJotermine.
Neste Teatro, 0 especlador deve ser tambem 0 sujeilo, urn alor, em igualdade de condiyoescom os atores. Todas eslas experilmcias de Teatro popular perseguem 0 mesmo objetivo: alibertayao do especlador, sobre quem 0 Teatro se habiluou a imper vis6es acabadas domundo.
A poelica do oprimido e essencialmente uma Poetica da Liberayao: 0 espectador ja nao delegapoderes aos personagens nem para que atuem em seu lugar. 0 espectador se libera: pensa eage por si mesmo! Teatro e ayao!" (TEATRO DE REPENTE, 2003)
38
Para Baal, "0 Tealro nao e uma atividade isolada do resto. Todo Teatro epolitico." (1991, p.1S), logo, nao ha como separa~lo de sua funcrao social e educativa.
o Teatro trabalha com a emot;ao. a Tealro como atividade politica, alia a razao a
emoyao: "A emocrao em si, desordenada e caotica, nao vale nada. 0 importante na
emoyao e 0 seu significado. Nao podemos falar de emoyao sem razao QU,
inversamente, de razao sem emayaa: uma e 0 caos e a Dutra matematica pura."
(1991, p. 46). Ao contrario de Brecht que pretendia reduzir ao maximo a emo<;ao, 0
teatro de Baal busca a emoc;ao. Ele procura compreender a emoyao para poder
trabalha-Ia aD lado da razao. Para Baal a emoc;:ao consciente pode impulsionar 0
individuo para atitudes que, sem ela, nao teriam sentido. 0 importante a lembrar eque a emolfao nunca deve ser caotica. A compreensao e 0 dominio dela e que
impelem 0 individuo, quando a aliamos a razao.
o Tealro popular pode ser leilo em qualquer espa,o, desde a sala de aula ale
nos Teatros convencionais. E tambem pode ser realizado por qualquer pessoa,
independente da classe social, padrao cultural ou nivel de escolaridade. Pode ser
leilo "ate mesmo por atores" (BOAl, 1991, p.14).
3 A FORMACAO DO CIDADAO
o cidadao e uma pessoa que esta inserida em determinado contexto social e
dele participa, at iva au passivamente, em busca de urn maior desenvolvimento do
todo. a objetivo deste topico e demonstrar que 0 ens ina do Teatro pode auxiliar
nesse processo de desenvolvimento.
Compreendo que toda a 89.3.0 humana modifica a sociedade e a natureza.
Porem, a arte e a ciencia modificam a natureza de uma forma organizada, nao-
epis6dica, segundo as suas pr6prias leis. No entanto, ha uma diferen/fa fundamental
entre a ciencia e a arte. A primeira, atua diretamente sabre a realidade, modificando-
a. A segunda, ao contrario, modifica os modificadores da sociedade, transforma os
transformadores. A 89.3.0 da arte e indireta e e exercida sabre a consciencia das
pessoas que vao atuar na vida real. Segundo Boal, "para que os transformadores da
sociedade possam transforma-Ia, precisam conhece-Ia atrav8s do estudo, da
participa,ao politica e tambem do Teatro" (BOAl, 1991, p.23). S6 se pode pensar
em uma mudan((a social se as pessoas dispostas a mudar conhecerem realmente a
sociedade na qual desejam agir. Tal conhecimento se adquire de varias formas, um
estudo hist6rico para acompanhar 0 desenvolvimento, a participa((8.o em
movimentos politicos que agirao diretamente na mudan((a e 0 Teatro, que representa
essa sociedade e mostra alternativas para que 0 publico pense e chegue as pr6prias
conclusoes.
Alem dessa condi((ao transformadora, 0 Teatro inserido na escola, no
processo de forma((ao da crian((a, cumpre uma fun((ao integradora, auxiliando no
relacionamento com os colegas. Aism disso, gera oportunidades para que os alunos
se apropriem crftica e construtivamente dos conteudos sociais e cutturais de sua
comunidade mediante tracas com os seus familiares e demais grupos de convfvio.
"0 ato de dramatizar esta potencial mente contido em cada urn, como uma
necessidade de compreender e representar uma realidade" (peN's, 2001, p.83),
resta ao professor fazer com que esse potencial seja desenvolvido e utilizado
criativamente com 0 objetivo de aperiei):oar as capacidades dos atunos em dire((ao a
uma melhoria social.
Uma fun,ao igualmente importante que 0 ensino da arte tem a cumprir, seja
qual for a modalidade, diz respeito a dimensao social das manifesta((oes artfsticas. A
40
arte de cada cullura revela 0 modo de perceber, sentir e articular significados e
valores que governam as diferentes tip os de relayao entre os indivfduos na
sociedade. A arte solicita a visao, a esc uta e os demais sentidos como portas de
entrada para uma compreensao mais significativa das quest6es socia is. Essa forma
de comunicay8.o e rapida e eticaz, pois atinge 0 interlocutor par meio de uma sintese
ausente na explica,ao dos fatos. Peixoto explica que:
"0 Tealro age direlamente sabre as homens e nao lao direlamente no processo de
transformayao social. 0 Tealro e capaz de criar fon;:as para provocar Iransformaqoes sociais
alraves do prazer. 0 PRAZER e a mais nobre lunQao da atividade teatral" (1985, p.13)
E, a partir da transformayao de cada indivfduo, pode-se mais facilmente se
buscar uma transformayao de toda a sociedade, fortalecendo a coletividade. Ao
contra rio de outras form as de ensino que geralmente sao recebidas com restriyoes,
o prazer que 0 Teatro proporciona taz com que 0 povo 0 receba abertamente e
disponha-se a aprender com esta manitesta((ao artfstica.
3.1- 0 TEATRO E 0 FORTALECIMENTO DA COLETIVIDADE
o ser humano e social por natureza, ele necessita de outros da mesma
especie para viver bem. No entanto, percebemos que cada vez mais 0 homem se
afasta de seus semelhantes. Fecha-se num mundo materialista onde s6 ele eimportante. Inclusive 0 mundo academico que se prop6em a estudar 0
desenvolvimento social se encontra repleto de pessoas techadas em seus livros e
teorias, cada vez mais distantes das pessoas rea is.
o Teatro e, par origem, uma arte coletiva. A unica que depende,
necessariamente, de mais de uma pessoa para existir de fato. E uma atividade em
grupo. Logo, urna das principais fun,5es do Teatro se encontra no fortalecirnento
das relac;:oes entre as pessoas, 0 fortalecimento da coletividade. Oiz Baal que "A
criac;:ao do alar deve ser, fundamental mente, a criayao de inter-relac;:ao com as
outros" (1991, p.47). Pode se concluir que 0 ator deve constanternente buscar essa
troca de informac;:oes com as outras pessoas envolvidas em seu trabalho e,
principalmente, com a plateia que vai ao Teatro buscando justamente essa troca de
energia e conhecimento.
41
Augusto Baal ainda enfatiza que 0 Teatro e uma forma de comunicatyao entre
as homens e "as formas teatrais nao S8 desenvolvem de maneira autenoma, antes
respondem sempre a necessidades sociais bern determinadas e a momentos
precisos. 0 espetaculo taz-se para 0 espectador" (1991, p.13). A pessoa que atua,
tanto profissionalmente quanta em sala de aula, deve sempre levar em consideracyao
a posiyao de quem assiste ao espetaculo, ou aD exercfcio teatra1. E para 85sa
pessoa que S8 atua. Todo 0 trabalho deve ser direcionado de forma que 0
observador compreenda a linguagem e 0 conteudo que S8 deseja transmitir. Deve-s8
falar sempre da forma que 0 publico esta disposto a ouvir. Nesse aspecto, 0 teatra esempre tatar de integra9ao, pois esta continuamente buscando comunicar algo. Ele
parte de uma pessoa para outra. Jamais aeonleee de forma individual, partindo de
urn unieo indivfduo para lugar algum.
o Ministerio da Educayao coloca 0 Tealro como produyao coletiva. Ele cita,
nos PCN's, algumas formas at raves das quais 0 Teatro desenvolve 0 processo
coletivo na escola. Entre elas, acho interessante mencionar:
"Reconhecimento e integra~ao com os colegas na elabora~ao de cenas e na
improvisa<;:ao teatral.
Reconhecimento e explorayao do espa<;:o de encena<;:ao com as oulros participantes do
jogo teatral.
Interacao ator-espectador na criacao dramalizada" (2001, p.8?)
Com estes itens pode-se observar que, atraves de jogos teatrais
desenvolvidos na escola, sempre havera uma integrayao entre os alunos, nao
apenas os que estao realizando urn trabalho conjunto, criando uma cena, como
tambem entre estes e os alunos que assistem ao trabalho. Acrescento que a
observayao, apreciayao e analise e urn detalhe importante quando se fala de Teatre
na escola. E sempre aconselhavel que, apos urn exercfcio de expressao com fins
didaticos, seja realizada uma avaliayao oral entre as pessoas que participaram e as
que assistiram ao trabalho realizado.
Ressalto que, a medida que os alunos realizam jogos de expressao, eles
ampliam os seus horizontes. Assim, aluno se posiciona na sociedade representando
situa90es cotidianas. Ele aprende a se observar melhor, assim como ao mundo a
sua volta. E e atraves desta observa9ao que ele ira descobrir novas caminhos para
tral'ar. Olga Reverbel enfatiza 0 tortalecimento da coletividade atrav';s do jogo teatral
42
realizado em grupos na escola, pois "a expressao coletiva permite ao aluno
dimensionar-se socialmente, ensejando a descoberta de si pr6prio, do Dutro e do
mundo que 0 rodeia" (2002, p. 152).
Vista que 0 Teatro e uma atividade que se realiza, necessariamente em
grupo, as jog os teatrais buscarao esse mesma desenvolvimento. Inclusive para as
atividades que nao tenham 0 palco como objetiva final, faz·se necessaria que todos
as integrantes do grupo trabalhem juntos, em unissono, para atingirem urn resultado
favoravel. Nesse contexto, as potencialidades dos alunos devem ser aproveitadas.
Sao diversas as atividades envolvidas num trabalho lealral, desde a concepgao de
cenariDs e figurines ate mesma ao rerat6ria final realizado peta equipe. 0 atuno que
tiver dificuldade para representar um papet podera criar em quatquer outra area
envolvida no trabalho. Desta forma ele poden3., atraves dos jogos dramaticos,
desenvolver coreografias, desenho, escrita, entre outras. Mas, principalmente, ele
estara desenvolvendo a sua capacidade de comunicayao. E, atraves do
desenvolvimento da comunicayao, e do conhecimento, proprio e do meio em que
vive, buscar·se-a uma maior tolerancia entre os colegas de turma, que se estendera
para a sua vida. Mais tolerantes e com maior fluidez para se comunicar, eles
atingirao, inevitavelmente, urn fortalecimento das relayoes entre os individuos, logo,
o fortalecimento da coletividade.
3.2 - 0 CONHECIMENTO NO PROCESSO EDUCACIONAL
Os processos educacionais devem conduzir a algum tipo de conhecimento,
mas a forma pera qual 0 Teatro pedagogico pode levar as alunos a urn maior
conhecimento de si proprios e do mundo que os rodeia, e 0 que irei mostrar aqui.
Uma vez que todo 0 Teatro tern urna funyao pedagogica, independente de ser
utilizado nas escolas, vou come<;ar falando do Tealro e dos artistas em si, para
depois analisa-Io no contexte educacional.
Em geral, 0 artista nao busca conceituar 0 que pretende dizer, posto que 0
seu trabalho esla em mostrar os sentimentos de formas harmonicas. Ele procura
concretizar, nas formas, aquila que e inefavel, inexprimivel pela linguagern
conceitual. Para Peixoto, "A arte do encenador e a de provocar duvidas,
perplexidades, incertezas. Nunca dar a resposta" (1985, p. 42). A arte e mais
43
sentimento do que razao. E, a partir deste sentimento, 0 artista busca chegar ao
mais fntima das pessoas. Ou seja, gerar reayoes, de identifica<;:8.o, repulsa au outra
qualquer, que iraQ conduzir 0 espectador a urn processo de conhecimento onde ele
pr6prio ira encontrar as respostas e definic;:oes procuradas.
Compreendo que a arte e uma tentativa de conerelizar, em formas, 0 mundo
dinamico do sentir humano. Arte nao e linguagem - ela nao comunica significados,
mas exprime sentidos. 0 sentido expresso na obra de arte e intraduzfvel.
Na experiemcia estetica suspendemos nossa "percepgao analitica", "racional",
para sentir mais plenamente 0 objelo. Deixamos fluir nossa corrente de sentimentos,
sem procurar transforma-Ia em conceitos, em palavras. Sentimos 0 objeto, e nao,
pensamos nele. E e atraves de sse "sentir" que as pessoas, atuantes ou
espectadores, vao conhecendo mais sobre as proprias emoc;oes e reac;oes delas
advindas.
Saliento que 0 conhecimento de si mesmo assim como a possibilidade de
distanciamento com rela-;:8.o ao vivenciado pelo grupo e indispensavel ao
observador. De outra forma, seu trabalho de analise seria realizado sob
constrangimento e angustia, estresse, pois 0 aluno que observa nao se senti ria a
vontade para comentar a trabalho assist ida e nem tao pouco teria referendal
suficiente para uma avaliaC;ao seria. Duarte Jr. salienta que "A obra de arte e aberta
para que a espectador complete a seu senti do; para que ele a vivencie segundo
suas proprias peculiaridades, sua propria condiyao existencial. Gada um a vivera
segundo a sua situayao particular" (1988, p. 61). Par este motivo e que nao compete
ao artista dar as respostas, porque elas devem se adaptar ao historico de vida de
quem recebe essa informac;ao. Se a obra e direcionada a determinado publico, e
este publico que devera recolhe-Ia, decodifica-Ia e interpreta-Ia de acordo com a sua
capacidade de compreensao. Quando a espontaneidade aumenta, decresce a
ansiedade, evidenciando assim, a importancia de se deixar 0 aluno, tanto quando
atua como quando observa, a vontade para realizar a trabalho. Desta forma, ele se
tamara mais receptivo as vivencias que serao realizadas com os jogos teatrais,
assimilando-as da melhor maneira posslvel.
Tendo consciencia das emo-;:oes envolvidas em situayao adversas do
cotidiano, certamente, 0 aluno estara mais preparado para interagir com elas.
Atraves da arte, vivencia e observa-;:ao, 0 aluno compreende melhor essas emoyoes
que ele proprio experiencia bern como as de pessoas com as quais se relaciona.
44
Neste casa, a arte pode possibilitar 0 acesso dos sentimentos a situaqoes distantes
do nosso cotidiano, forjando em nos as bases para que S8 possam compreende-Ias.
Toda atividade dramatica realizada na escola devera sensibilizar 0 aluno para
a descoberta de si pr6prio, do Dutro e do meio ambiente. "A improvisar;8.o, bern
orientada pelo professor, estimula 0 aluno a descoberta de seus pr6prios meies de
expressao" (REVERBEL, 1978, p. 54). Quando atua, 0 aluno esta constantemente
fazendo experiemcias que Ihe ajudarao nessas descobertas. Ele buscara alternativas
para sua movimentaqao, lingua gem gestual e falada. Dessa forma tamara uma maior
consciencia de suas aptid6es e ampliara os limites de suas capacidades. Reverbel
destaca que:
WAs atividades de expressao que demandam a SOIU98.0de problemas eslimulam 0 aluno a sua
descoberla alraves da ayao. Atuando, 0 aluno desenvolve suas capacidades de
relacionamenlo social, esponlaneidade, imaginay<lo,observayao e perceP9ao" (2002, p. 152).
Isto significa que os temas sugeridos para 0 trabalho em sala de aula devem
ser selecionados para que as tacnieas tenham um maior aproveitamento pelo aluno.
Qualquer tema pode ser desenvolvido. Poram, se as temas forem mais complexos e
sugerirem um problema a ser resolvido, exigirao mais da atenc;ao e habilidade dos
alunos, conseqOentemente serao mais eficientes para 0 desenvolvimento pessoal
dos mesmos. Para tanto, a importante a existencia de uma relac;ao harmoniosa entre
professor e aluno, para que haja uma aprendizagem significativa. Reverbel
conceitua 0 termo "descoberta de si mesmo", ao mesmo tempo em que salienta a
importancia do bam relacionamento aluno/professor no processo pedag6gico:
"Por descoberta de "si mesmo" entendemos a identificayao pelo aluno de suas tendencias edesejos. de sua sensibilidade e de suas capacidades de expressao; elementos esses, muilasvezes bloqueados pela timidez, pelo pud~r 0 medo do ridlculo e os preconceilos de seu meiofamiliar. Para que haja tal descoberta e preciso que 0 relacionamenlo professor· aluno seprocesse num clima de confianya e sinceridadeft (1978, p. 54)
E esla a mais uma das func;:oes do Tealro na eseola, auxiliar 0 aluno a veneer
os seus medos e bloqueios, a timidez que muitas vezes a decorrente de problemas
familia res ou de seus primeiros contatos com a mundo e que podem influencia·lo
durante toda a sua vida. Atuando em sala de aula, 0 aluno nao precisa se preocupar
com a resultado. Ele age livremente num jogo em que 0 processo a 0 mais
importante. Desta forma se sentini mais a vontade para agir e se soltar, livre do
45
compromisso estetico ou tecnico que urn trabalho voltado para 0 palco exigi ria.
Machado e Rosman nos explicam que "pelos jogos de expressao espontanea,
o professor, al8m de transmitir ao aluno uma maneira propria de ver 0 mundo, estara
descobrindo as tipos pSicol6gicos, podendo, assim, ajudar os alunos a S8
conhecerem melhor e, por conseguinte, a viverem melhor tambem" (1973, p. 5). 0
aluno, em sala de aula, conta com urn aliado precioso para 0 descobrimentoe
desenvolvimento de suas potencialidades, 0 professor. Esse profissional, al8m de
conduzir as temas de acordo com 0 que S8 deseja desenvolver na faixa eta ria em
questao, tern a fun«ao de observar atentamente as alunos e reconhecer
caracterfsticas de temperamento e conduta de cada urn. Atrav8S deste trabalho 0
professor podera direcionar as demais atividades visando estimular ou controlar
tendencias dos alunos.
Pon§m nao e apenas atuando que se da 0 desenvolvimento. "Atraves da
observac;ao de situac;oes dramaticas, 0 aluno tom a consciencia de sua
personalidade, de suas pr6prias reac;oes e tambem de suas responsabilidades"
(MACHADO E ROSMAN, 1973, p. 3). Consequentemente, todas as habilidades
desenvolvidas enquanto atua descompromissadamente em sala de aula, tambem
estarao sendo aperfeic;oadas pela observaC;ao de trabalhos realizados por outros
alunos.
Desta forma lembro que a avaliac;ao do que se passa faz parte do processo
de conhecimento - aprendizagem do aluno. Para que ela seja mais proveitosa para 0
grupo, e importante que seja feita pelos proprios alunos, atuantes e observadores,
logo apos cada pratica teatral, enquanto os conteudos ainda estao presentes na
memoria.
Porem, em todo este processo, 0 mais importante e sempre deixar que os
adolescentes manifestem suas opinioes de uma forma espontanea, isto e, sem
temores ou restric;oes. Para que isto acontec;a, segundo Reverbel, "devemos criar na
sala de aula um clima de confianc;a e sinceridade para que eles falem ou escrevam
livremente, sem impor-Ihes normas, nem exigir que captem no texto dramatico
aquelas ideias que queremos lor9';'-los a aceitar" (1978, p.117). Assim, com a
consciencia e a criatividade fluindo livremente, sem tentar faze-los seguir uma linha
de raciocfnio pre-estabelecida, mas permitindo-Ihes desenvolver as pr6prias ideias,
pode-se atingir resultados mais palpaveis para 0 conhecimento do aluno e do mundo
a sua volta, atraves das aulas de Teatro no Ensino Medio.
46
3.3 paR QUE UTILIZAR a TEATRa NA EDUCA<;;,iiQ?
a Teatro e urna rnanifestac;aoartistica que integra e faz pensar. Eo pedag6gico
desde a sua origem e, par mais descompromissada que a mantagem seja, mantem
ate hoje tal atribulo. Assim, quem atua, estuda as diversas caracteristicas das
pessoas e sociedades para camper as personagens. Desenvolve 0 g0510 pela
[eitura, a criatividade, a disciplina e uma consciencia social, e quem assiste a uma
apresentayao teatral, questiona, S8 emociona, tern cantata com outras realidades e
aspectos culturais de diversos lugares e sociedades.
A partir destas obs8rvac;6es, constata-se que 0 Tealra e educativ~,
independente de qual posiyao a pessoa tenha no espetaculo. Ele educa tanto a
quem atua quanta a quem assiste. Trata-se de uma pedagogia hJdica, informal e
divertida, que procura relacionar 0 ensina com 0 cotidiano. Uma educayao prazerosa
e de facil assimilayao. A pratica teatral na escola, ajuda a aliviar 0 estresse que os
jovens do Ensino Medio, adolescentes em busca de sua identidade, enfrentam quer
seja pela idade e necessidade de tomar decis6es, quer seja pela proximidade do
vestibular. Alem de auxiliar no processo de conhecimento dos proprios alunos
quanto do mundo que os rodeia. 0 Ministerio da Educayao em sua publicayao dos
PCN's afirrna que:
"Fazer arte e pensar sobre 0 trabalho artfstico que realiza, assim como sobre a arte que e e foiconcretizada na hist6ria, podem garanlir ao aluno uma siluayao de aprendizagem eonectadacom os valores e os modos de produyao artisHea nos meios s6cio eulturais.Assim. aprender com senlido e prazer esla associado a compreensao mais clara daquilo que eensinado. Para taniO, os conleudos da arte nao podem ser banalizados, mas devem serensinados por meio de silua90es e/ou proposlas que aleancem os modes de aprender do alunoe garantam a participaryao de cada um dentro da sala de aula" (2001, p. 47)
Considera-se que as atividades dramaticas realizadas na escola tem um
objetivo educacional definido, que e 0 de desenvolver a auto-expressao do aluno,
estimulando-Ihe a espontaneidade. 0 desenvalvimento do Teatro na escola deve ser
realizado de forma distinta dos trabalhos realizados profissionalmente ou mesmo por
grupos e cursos informais. A ligayao entre eles, segundo Reverbel, e que "Ao Teatro
adulto e tradicional, nossa escola prepara os futures espectadores, ricos de
sensibilidade, capazes de aplaudi-Io conscienternente" (1978, p. 94) Considero
importante ressaltar que na escola, denomina-se montagem cenica a atividade
47
dramcitica que permite aos alunos relacionarem a ficyao teatral com a realidade da
sua experiencia de aprendizagem, seja qual for a disci pi ina do currlculo.
Com eteila, as atividades teatrais podem ser desenvolvidas na escola com
diversos objetivos, entre os quais pode-s8 especificar 0 desenvolvimento da
capacidade de expressao, a identificayao de bloqueios, au ainda 0
acompanhamento dos alunos na descoberta de si proprios, do outro e do mundo que
os rodeia. Cabe ao professor, devidamente orientado e capacitado para a funy8.o,
acompanhar detalhadamente 0 desenvolvimento dos alunos durante 0 processo
pedagogico.
Para Schutzenberger, "A improvisa9ao dramatica e utilizada para S8 tenlar
resolver conflitos passados, conflitos presentes OU para 0 que S8 imagina como
conflitos au dificuldades futuras. Para se explorar situac;6es dificeis, como tambem
preparar-se para enfrenta-Ias" (1970, p. 38) Constata-se que a utiliza9ao de jogos
dramaticos auxilia na resoluc;ao de conflitos. No Ensino Media, onde a maioria dos
alunos sao adolescentes e passam par conflitos de diversas naturezas, a
improvisaC;ao dramatica torna as alunos mais preparados para enfrentar as
dificuldades que surgirao em suas vidas.
Enfatizo a importancia da tecnica na identificac;ao de bloqueios. Com relac;ao
a esses alunos que apresentam bloqueios, ou seja, dificuldade para exprimir em
linguagem verbal au gestual seus sentimentos, emoc;6es ou sensac;6es, pode-se
cansiderar que, a medida que se conhecem, conhecem 0 outro e a mundo que as
cerca, eles conscientizam-se de seu papel, do seu proprio corpa, relacionam
movimenta, espac;o, ritmo, e, pouco a pouco, expressam-se naturalmente. Em
sintese, 0 professor de Teatro vai proporcionar ao aluno a integrac;ao consigo
mesmo e com 0 mundo de forma saudavel e descontraida.
A arte tambem esta presente na sociedade em profissoes que sao exercidas
nos mais diferentes ramos de atividades. 0 conhecimento em artes e necessaria no
mundo do trabalho e faz parte do desenvolvimento profissional dos cidadaos. 0
conhecimento desta area cultural, independente de quais forem as ramos de
atuac;ao, ira ampliar a universo do cidadao e, consequentemente, torna-Io mais
pre parada para a desenvolvimento profissional e a futura colocac;ao no mercado de
trabalho.
Dentre tantos fatores que podem ser abordados para justificar a utilizac;ao do
Teatro na educac;ao, enumerei as tres que considero mais importantes e que
48
detalharei nos itens a seguir.
3.3.1 - Estimulo it leitura
Embora mais conhecidos e utilizados, os jog os teatrais e de expressao nao
sao as unicas atividades desenvolvidas em sala de aula. E importante tambem dar
enfase a parte tee rica e aos textos dramaticos, pratica pedag6gica esta, que
estimula 0 aluno a leitura, num processo de contextualiza9ao polltica, hist6rica e
cultural. Par meio do Teatra na escola, 0 adolescente tern aceSSD ao que foi
produzido de melhor na hist6ria da humanidade. E 0 que foi produzido de
importante, no casa especifico do Tealro, geralmente S8 encontra entre ricas
literaturas que, ah§m de retratar epocas e tendencias, contam a hist6ria desta
brilhante ramifica9ao artfstica. 0 Ministerio da Educac;ao argumenta que a formaya.o
em artes inclui 0 conhecimento do que e e foi produzido em diferentes comunidades
eque:
"deve favorecer a valorizaQao dos povos pelo reconhecimento de semelhanQas e contrasles,
qualidades e especilicidades, 0 que pode abrir 0 leque das mulliplas escolhas que 0 jovem tera
que realizar ao longo do seu crescimento. na consolidaQ.3o de sua idenlidade~ (2001, p.51)
Aproveitando-se do fascfnio produzido pelo Teatro, 0 professor deve
recomendar leituras para as alunos aprofundarem e enriquecerem suas obras.
Leituras de peyas teatrais e mesmo de hist6ria, antiga e contemporanea, para servir
de base na construyao de personagens. Vale ressaltar que tambem os livros
contendo peyas teatrais como noticiarios peri6dicos auxiliam no processo de
pesquisa teatral. E estas fontes devem ser encontradas na escola para que os
alunos possam realizar suas pesquisas. Segundo os peN's, "A escola deve viabilizar
o acesso do aluno a literatura especializada, aos videos, as atividades de Teatro de
sua comunidade. Saber ver, apreciar, comentar e fazer jufzo crftico devem ser
igualmente fomentados na ex peri en cia escolar" (2001, p.B4). 0 aluno deve encontrar
na escola as fontes de pesquisa que precisar para aperfeiyoar os seus trabalhos au
satisfazer a sua curiosidade. Da mesma forma, a escola deve proporcionar aos
alunos 0 acesso a atividades teatrais realizadas por outros grupos, incentivando
49
neles 0 reconhecimento artfstico e cultural produzido na sociedade em que vivem.
Com tal perspectiva, aluno ira adquirir 0 gosto pela literatura, alem de
desenvolver 0 espfrito investigativD, que vern sendo negligenciado nas escolas hi!.
muito tempo e deve passar a ser valorizado atraves de indicayoes e tecnicas
teatrais. Mais uma vez, 0 Ministerio da Educac;ao cola bora dizendo que:
"Levar para 0 aluno textos dramaticos e falos da evolw;:ao do Teatro sao importantes para que
ere adquira uma visao hisl6rica e contexlualizada em Que possa referenciar 0 seu proprio fazer.
E preciso estar conscienle da qualidade estelica e cultural da sua agao no Teatro. Os textos
devem ser lidos au reconlados para as alunos como estimulo na cria<;ao de situa<;:oese
patavras~(peN, p. 86).
Estimular 0 aluno a cria9ao e a auto-expressao e fundamental pois fazem com
que 0 aluno se liberte de tantos conceitos e pre-conceitos impostos pela mfdia e pela
sociedade. Quando a pessoa tem criatividade ela faz os seus proprios caminhos,
abre os olhos para as incoen3ncias do meio em que vive e busca alternativas para
uma vida melhor. Eo a relerencia do proprio tazer de que lala os PCN's. Estas
habilidades podem ser desenvolvidas atravss do Teatro, quando se incentiva 0
aluno a criar cenas, a reagir frente a situayoes improvisadas e inesperadas,
buscando soluyoes para problemas sugeridos.
Nesta pesquisa 0 en sino do Teatro esla voltado para 0 Ensino Medio.
Pessoas aproximadamente entre os 13 e 17 anos de idade. Adolescentes que
passam por conflitos e dramas. Nessa faixa eta ria as preocupat;:oes sao muitas e
parecem enormes. E uma fase de decisao. Acredito ser a transi9ao mais marcante
na vida da maioria das pessoas, a fase em que elas tornam as decisoes mais
importantes, como a profissao que seguirao. Harmonios e emoyoes explodem par
todo 0 corpo como pequenas bombas que podem alterar 0 humor em questao de
segundos. Sao pessoas que, a urn s6 tempo, se consideram adultos para algumas
coisas e despreparados para outras. Urn misto de imaturidade, alguma inocencia e
urn desejo de ter responsabilidade. Esle publico tao controverso, que nao e mais
crianya mas tambsm nao e adulto, merece um trabalho direcionado e indica90es
apropriadas que valorizem as suas caracterfsticas especfficas.
Reverbel aconselha que "0 repertorio selecionado para 0 adolescente deve
corresponder as expectativas desse espectador que e a urn tempo crianya e homem,
fantasioso e realista, mas sempre urn descobridor apaixonado do mundo que 0
50
rodeia." E ainda aponta algumas caracteristicas desta tase:
"Uma listagem de lemas adequados ao adolescenle seria limitada, js. que, nesta lase, lodas asalegrias e amarguras da vida sao as elementos com que 0 autor dramatico eria e enlrecha assuas peryas. 0 adolescenle e, de fato, a ~crise de idenlidade", que enseja a busca de modelos.E 0 momenta da eleiyao de her6is. 0 alar e a encarnayao do heroi, e a personagem que. aoagir, expressa atitudes, pensamentos e ideais que 0 adolescenle procura no espelaculon (1978,p.l09)
Penso, que uma pec;a apropriada para iniciar urn trabalho, de leitura au
encenayao, com adolescentes deva canter as caracterfslicas do pr6prio adolescente,
alem de modelos que possam trazer algumas respostas as suas tantas duvidas.
Peryas que ten ham a figura de um heroi, que de preferencia tenha caracterfsticas
bem humanas mas, que busque solu<;6es, encontre os caminhos e tenha jogo de
cintura para lidar com as situac;oes inusitadas. Pec;as que contenham situac;oes
similares as vividas pelos alunos, a partir das quais eles possam formular soluc;oes
para as pr6prias duvidas. Textos que mostram a realidade dos jovens de uma forma
burlesca sao particularmente interessantes po is remetem a uma identificac;ao
indireta sem gerar constrangimentos, mas, ao contrario, incitando a uma busca de
respostas.
Reverbel indica 0 teatro gregG e 0 elisabetano e os velhos mestres espanh6is,
na sugestao de repert6rio inicial para ser trabalhado com os adolescentes. A
importancia de se trabalhar com obras classicas no Teatro Educary8.o se encontra no
fato dessas obras conte rem valores que devem ser observados nessa fase de
transiC;ao pela qual passam os jovens alunos. Questoes sociais sao encontrados em
quase todos os textos referidos. Valores filos6ficos, politicos e religiosos. Temas
como 0 amor a pat ria, ou ate mesmo 0 tradicional romance que, neste caso sempre
sao recheados de questoes socia is. Valores enfim, que precisam ser trabalhados na
escola, vista a funC;ao s6cio-pedag6gica que possui. Alem de serem temas que
possuem uma eterna contemporaneidade e, por isso mesmo pode ser mediadora
numa pratica pedag6gica comprometida com 0 pensamento crftico e reflexive do
aluno.
Vale dar uma atenc;ao especial para os romances, uma vez que e exatamente
nessa faixa etaria que explodem as grandes paixoes, motivadoras de grandes atos
impensados e, geralmente com consequencias em longo prazo. Estudar esses
temas na escola ira auxiliar 0 alunos a analisar mais criticamente a situac;ao antes de
uma atitude precipitada. Ap6s 0 goslo pela leitura ter side instalado em seus
51
corayoes e cabecras, pode-s8 diversificar rna is os temas, sempre observando as
caracteristicas da faixa etiuia e seu respectivQ contexte social.
3.3.2 Criatividade
o Teatra e uma das muitas manifestac;oes artisticas e como tal, naG existe
sem criatividade. Toda obra de arte pressup6e uma criayao, case contrario deixa de
ser arte para ser objeto de mera reproduyao. Compreendo que as jogos teatrais sao
constantes exercfcios de criatividade 8, par meio deles, 0 Teatro na escola
oportuniza a auto-expressao do aluno, desenvolvenda-Ihe espontaneidade,
imaginacrao. observayao, percep9ao e, consequentemente a criatividade.
E not6rio que na realizay8.o de jogos dramaticos espontaneos, 0 aluno
atuante e a fonte de expressao, fazendo a jogo do autor~ator. Ele cria e desenvolve
a sua criayao, interpreta~a, colocando~se em con stante metamorfose - fen6meno
basico para a realizayao deste jogo. E atraves desta metamorfose que a aluno
con segue se distanciar da emoyao que a situa9ao gera. Quando ele apenas
representa urn conflito proposto, envolve-se emocionalmente no problema limitando
o seu poder de interferencia, de decisao. Em sua obra Duarte Jr. Diz que "A arte se
constitui num estfmulo permanente para que nossa imaginayao flutue e crie mundos
possiveis, novas possibilidades de ser e sentir-se" (1988, p. 67). Quando, alem de
atuar, a aluno e a autor do conflito, 0 criador da situayao, ele pode decidir entre 0
fazer ou 0 nao~fazer de forma muito mais racional, pois analisa a situa9ao por um
outro prism a e pode tomar uma atitude mais ligada a razao do que a simples e cega
emo9ao.
Contudo, para estimular a criatividade, 0 professor deve incentivar 0 aluno a
buscar suas pr6prias alternativas e soluyoes. Pode-se sugerir urn tema, incitar a
canflito sim, mas, a partir daf, deixar que as alunos busquem por si s6, as respostas
e solU90es para 0 problema sugerido. Os peN's ressaltam que "a qualidade da a980
pedag6gica que considera tanto as competencias relativas a perceP9ao estatica
quanta aquelas evolvidas no fazer artfstico podem contribuir para 0 fortalecimento da
consciencia criadora do aluno" (2001, p. 50). Ainda, permitir aos alunos que se
avaliem a si mesmos e aos demais grupos ap6s a realizayao dos trabalhos.
52
Argumentando, discutindo, questionando as solw;:oes dos companheiros e lan9ando
novas alternativas, so desta forma eles estarao exercitando a criatividade de fato e a
capacidade de se defenderem frente as situagoes inusitadas da vida.
oesta forma, 0 educador estara desenvolvendo em seu aluno a auto-
expressao, a originalidade e a espontaneidade. Quando 0 aluno recebe as
respostas, as formulas prontas, ele estara apenas reproduzindo, dando continuidade
a velhos sistemas, muitas vezes ultrapassados. "Se 0 professor mostrar a criany8
como se mover nao estara mais fazendo jogo dramatico infantil. Se a imaginaC;ao
falhar, de alguma sugestao sabre a que fazer, mas nao sabre como faze-I 0" (SLADE,
1978, p. 94). Esta pratica pedag6gica trata-se de uma antiga f6rmula para manter as
alunos apaticos e sem iniciativa. Pessoas que se conformam com a situac;ao em que
se encontram e jamais tent am progredir. A iniciativa necessaria a evoluc;ao nao einsuflada em alunos que nao tem a oportunidade de desenvolver a criatividade.
Uma vez que, em sua maioria, as jogos dramaticos reproduzem situac;oes
cotidianas, 0 aluno desenvolvera a criatividade nao somente para as express6es
artistic as. Ele estara exercitando a criatividade para as atividades de sua vida real e
os problemas dela resultantes. Considero importante este exercfcio criativo voltado
para a realidade de cada aluno. Quando este se propoe a pensar, construir
situac;oes similares a sua vida e a avaliar as reac;oes, no final do processo, estara
sen do estimulado a refletir sobre os assuntos referentes a propria realidade. E uma
forma de se compreender melhor as causas e consequencias de atitudes diarias
tomadas nao somente por eles quanto pelas pessoas que os rodeiam. oesta forma,
o aluno val compreender melhor 0 mundo a sua volta, a aluno estara mais bem
preparado para interagir e interierir nele, de forma mais consciente e responsavel.
Para um processo de arte-educar atraves de jogos dramaticos e necessario
partir do que e cotidiano, proximo, concreto, possivel de ser percebido e aprendido
pelo atuante, no caso 0 aluno do Ensino Medio. Para concretizar a atuac;ao do
professor, por um lado S8 deve ajudar ao aluno a destruir os condicionamentos, pois
todos os dias repetem-se as intenc;oes condicionadoras da sociedade. Esta
sociedade em que vivemos e que mantem um carater capitalista, introjetando nas
pessoas valores e talsas necessidades. "A ampla difusao, pela televisao, do que
acontece com os adolescentes e jovens no mundo inteiro influencia a produc;ao os
estilos em todos as niveis" (peN's, 1998, p. 120). Par todos as lad as encontramos
model os pre-fabricados que suprem a todas as necessidades e incentivam a
53
cansumir cada vez mais. Esses madelas, na maiaria das vezes impostos pela mfdia,
dizem como uma pessoa deve se vestir, comer, que tipo de musica deve gostar e,
principalmente, como deve se parecer. Tais padroes condicionadores cerceiam a
criatividade e a liberdade de expressao, transformando as pessoas em modelos
padronizadas, rob6s sem atitude ou vontade propria.
Emboraa maior parte dessa padroniza,ao seja imposta pela midia e demais
meios de comunica<;ao, eles nao devem ser encarados como inimigos. Deve-se
aproveitar a capacidade de alcance da midia e transfarma-Ia numa forte aliada para
uma pratica pedagogica significativa. " A midia tern se mostrado extremamente
eficaz e rapida na percep9ao e apropria<;ao de elementos culturais inovadores
produzidos por certos grupos juvenis, dando a falsa impressao de ser a aut ora das
inova,oes" (peN's, 1998, p. 120). Neste contexto, cabe ao professor auxiliar 0
impulso da criaqao que canstr6i, no atuante, a sua nova expressao e que nasce das
novas oportunidades de reflexao e percepc;ao. Partanta, a interferemcia do orientador
deve ser sistematizada para ampliar a informa9ao, 0 conhecimento, 0 sentir, 0
perceber e a atitude de participa<;ao. 0 resultado desse esfor90 comum, orientador x
orientado, se concretizara numa obra expressiva, criativa, fruto de uma indaga9ao
comum.
A partir do momenta em que ° aluno tern informa98.0, atraves da leitura e
demais meios de comunicac;8.o; desenvolve a criatividade e a espontaneidade para
agir e reagir as situa<;6es cotidianas; tera maior liberdade de a98.0, responsabilidade
e disciplina para 0 seu dia-a-dia.
3.3.3 Liberdade articulada com a disciplina
Desenvolver um trabalho sabre liberdade na area pedag6gica e uma tarefa de
grande responsabilidade. Afinal de contas, 0 que e liberdade? Talvez a resposta seja
poder fazer 0 que sente vontade sem precisar se preocupar com nada mais. Seria
simples se fosse passivel. Sim, quando se tala em liberdade existe a ideia de fazer 0
que se tern vontade. No entanto, e fundamental ter con sci en cia do que se faz e das
consequ€mciasgeradas pelos seus atos, pois estao inciusas no conceito de
liberdade as consequencias com as quais a pessoa tera de arcar apos ter agido.
54
Talvez por este motivo Ferreira cite em seu dicioniuio que 0 conceito de
liberdade e a "faculdade de praticar tudo aquila que nao e proibido por lei" (1971). A
partir desta defini9ao fica mais facil compreender quando se diz que "a sua liberdade
acaba aonde comerya a liberdade do proximo" (praverbio). Analisando por esse
ponto de vista, digo que nao ha liberdade sem responsabilidade e vice-e-versa.
Neste sentido, Vasquez coloca que "0 problema da responsabilidade moral
esta estreitamente relacionado, por sua vez, com a da necessidade e liberdade
humanas, po is so mente ad mit indo que 0 agente tem certa liberdade de oP9aO e de
decisao e que se pode responsabiliza-Io pelos seus atos" (1985, p.91). A pessoa s6
podenft ser considerada responsavel par algum ato, se ela for livre para agir. Caso
contnirio 0 responsavel sera 0 objeto que 0 incitou a tamar a atitude. Por este
prisma, e necessario que 0 agente nao ignore nem as circunstancias e nem as
consequencias da sua a98.0, isto 13, seja consciente. E ainda que a causa de seus
atos esteja nele proprio e nao em outro que a force a agir, que ele seja livre.
Ainda para Vasquez, a pessoa e livre se "decidir e agir sem coayao interna ou
externa, diante de uma determina9ao do proprio comportamento, num mundo
humane determinado, sujeito a relayoes de causa e efeilo" (1985, p.101) 0 agente,
para ser considerado livre, deve decidir e agir vencendo a coaryao externa ou
interna. Resistindo as formas de coaryao. Nos PCN's encontra-se a seguinte citay8.o:
"Ensinar arte em consonancia com os modos de aprendizagem do aluno, significa, entao, naoisolar a escola da informayao sabre a produyao hist6rica e social da arte e, ao mesmo tempo,garantir ao aluno a liberdade de imaginar e edificar propostas artfsticas pessoais ou grupaiscom base em intem;:6espr6prias. E tudo isso integrado aos aspectos ludicos e prazerosos quese apresentam durante a atividade artistica." (peN, p.47)
Para se trabalhar com Teatra, bern como com a maiaria das expressoes
artfsticas, e fundamental que 0 aluno sinta-se livre para criar, para expressar seus
anseias e emoryoes. 0 professor deve dar oportunidade para 0 aluno se expressar
livremente em classe para que 0 trabalho artistico aconte9a de fato. Sem liberdade
nao existe criatividade. 0 processo criativo fica enormemente prejudicado se houver
uma limita9aO excessiva das manifesta90es do aluno artista. Peixoto menciona que
"0 processo criativa mantem a esfor90 do hamem em sua batalha pela liberta9ao, au
pela cotidiana luta pela constru9ao de uma nova sociedade." (1985, p. 18). No
entanto e necessaria manter sempre no aluno a noyao de disciplina, que, neste
caso, esta diretamente relacionada com a responsabilidade. Os trabalhos de Teatro
55
devem ter uma sequencia, uma logica, para que possam cumprir com as suas
funcroes sociais e pedag6gicas. Para que os jogos dramaticos possam ser realizados
com eficiE§ncia, as professores precisam desenvolver nos alunos, simultaneamente
ao conceito de liberdade, a ideia de disciplina.
Ressalto 0 fata de que 0 homem 56 atua de forma positiva no mundo em que
vive atraves da disciplina, etica e responsabilidade. Eis 0 fato pelo qual tais aspectos
sao tao importante, embora venham sendo tao negligenciados pelas escolas. Os
alunos tern side tratados apenas como consumidores, as clientes que sempre tern
razaa podendo impor aos professores e ao proprio sistema educacional a seu ritma,
suas vontades e caprichos.
o hom em cria e e criado pela natureza, continuamente. Atraves de inumeras
experiencias e de lutas sociais que e obrigado a travar para sobreviver e que surgern
as ideias, as representayoes da racionalidade do mundo. A consciencia que a tara
agir desta ou daquela forma criando ou destruindo a natureza ao seu redor. Para
Pinto, a cultura e a "criayao humana resultante da resoluyao da contradiyao principal
do homem, aquela existente entre ele e a natureza" (1969, p.119). A cullura nasce
das inter-relayoes entre a homem e a natureza e a arte nasce da cultura de urn
povo. Entao acha justa que se trabalhe a arte nas salas de aula para resgatar a
disciplina necessaria a preservayao do mundo em que vivemos. Pinto ainda coloca
que:
~ohom em s6 se constitui no animal que mais se destaca da natureza, e por isso se torna 0
seu soberano, modilica-o a seu gOSIO e conforme seus inleresses, porque e 0 animal que mais
adere a natureza, que se fez capaz de Iraz6-la em si, de inlerioriza-Ia sob a forma de ideias
que a representam. 56 se desprende da natureza porque a absorve" (1969. p.S30).
Porem se 0 homem continuar negligenciando a sua responsabilidade para
com este mundo em que vive, um dos dois inevitavelmente sera destrufdo, no caso
de ser a natureza, 0 homem 0 sera logo em seguida.
o teatro, par desenvolver uma consciencia global e buscar tamar 0 aluno
familiarizado com os fenomenos a sua volta, apto para interagir com eles, pode ser a
forma ideal para se trabalhar as no,oes de disciplina, responsabilidade e respeito
que se perderam em algum lugar das escolas.
Se, por um lado, alguns padroes aprendidos anteriormente, na escola ou na
vida dos alunos, podem auxiliar no ensino, outros podem e devem ser mais
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elaborados em sala de aula. Para esta afirmal,(ao, parto do principia de que nern
tudo 0 que S8 aprende nas ruas e ate mesma em casa, pode ser considerado
educativ~, do ponto de vista pedag6gico. Com tal concepc;ao considero a escola de
fundamental importemcia no processo educacional do aluno. Neste sentido, Dutra
explica a importimcia do ensina das artes na escola:
"A medida que a crian9a cresee e Ille sao injelados e mesma impostos conceilos e
precanceilas, entao a pratica das artes passa a ser tambem terapeulica, liberadora e de auto e
socia-critica, constituindo-se sempre na forma permissiva do cultivo da citada liberdade natural.
(harmonia ser -ambienle)n (1982, p. 5).
Exercitando as artes na escola, 0 aluno tern a oportunidade de se deparar
com uma forma diferente de vislumbrar 0 mundo a sua volta. Ele se coloca na
posiyao de observador, de onde ele pode analisar e questionar os padroes e
conceitos vividos ate entao. E 0 espac;o para conhecer e procurar compreender 0
que existe alem das cercas de sua casa. No jogo de improvisayao, 0 atuante passa
por uma metamonose autor - atar, que €I caracterfstica deste tipo de trabalho. E a
metamonose a na totalidade uma vivenciac;ao que as vezes parte do pr6prio
imaginario do aluno. Desta vivenciayao, 0 indivfduo atuante extrai, conscientemente
mergulhado no processo criativo, a compreensao essencial e necessaria para
trabalhar a sua condic;ao de ser comunicante, seja na dimensao estatica ou nas
relac;oes do cotidiano. Atravas do jogo dramatico espontaneo 0 atuante liga a
dimensao estatica da vida a todas as outras que definem seu papel e func;ao social.
"No exercfcio dramatico, a metamorfose como fenomeno basico requer um
crescimento da capacidade de abstrac;ao, conceituay8.o e descentraliza<;ao
individual, ou seja, urn crescimento em direyao a comunicayao" (LOPES, 1981, p.
40). Atrav8s de jogos dramaticos, executados em grupos, ele tera oportunidade para
se aproximar dos cOlegas e suas formas diferenciadas de observar 0 mundo, assim
como de se colocar no lugar deles, experienciando e analisando as sensayoes
decarrentes de tal posiC;ao.
Existem varias formas de trabalhar a liberdade, de forma disciplinada, em sala
de aula. A maioria dos jogos teatrais pode ser caracterizada como faz-de-conta. E 0
momento em que 0 aluno "faz-de-conta" que e uma determinada pessoa, realizando
alguma tarefa em algum tempo fora da realidade do momento. 0 aluno utiliza a sua
liberdade para criar situac;oes e assumir func;oes sociais. Se, de alguma forma, a
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disciplina e a responsabilidade nao forem encaixadas nas atitudes de algum
personagem, este aspecto sera discutido no momenta da avaliayao. Lopes
apresenta uma definiyao para esse tipo de faz-de-conta:
"Ato que provoca 0 estremecimento social, na medida em que 0 dinamismo teatral corresponde
a realidade social, pais tem, entre oulras, a liberdade de colocar em cena as papeis que a
propria sociedade condena, como: ladr6es, loucos, assassinos ou ditadores sanguinarios"
(1981,46).
Para que se haja um realismo na ayao estabelecida e, urn consequente
aprendizado a cerca do mundo em que se vive, e necessario que todos os tipos
socia is possam ser representados no jogo dramatico. Nao se trata de um estfmulo a
tais comportamentos, ao contrario, representando-os os alunos poderao observar
melhor as consequencias desses procedimentos e se preparar para situayoes de
confronto social. A esse respeito, Peter Slade acrescenta:
"Quando as crianyas inventam seus proprios jogos dramaticos, permita a representayao de
muitos personagens e temas que voce nao aprova. Desta forma, aliviam-se problemas
pessoais e familiares e os efeilos de assislir a filmes anti-sociais e ouvir radio violento podem
ser descarregados". (1978, 52).
E como uma valvula de escape. A violencia se encontra em quase todos os
lugares de nossa sociedade. Evita-Ia, como se nao existisse, nao fara com que os
jovens se tornem menos agressivos, ira apenas faze-los reprimir esse impulso que
podera ser descarregado ao primeiro conflito com que eles se depararem. Se, ao
contrario, tais comportamentos forem observados e trabalhados dramaticamente,
eles estarao descarregando essa agressividade em aula, de forma controlada e sob
a observayao e intervenyao de um professor qualificado que ira conduzir a ayao
evitando consequencias na vida do aluno. Ele passa a compreender melhor a
propria realidade e as reayoes que podera ter frente a situa90es adversas.
No entanto, deve-se lembrar que ha varias formas de se trabalhar com 0
Teatro em sala de aula. Os proprios jogos dramaticos pod em ser realizados de
acordo com as mais variadas tecnicas de interpreta9ao que ja foram desenvolvidas
no decorrer da historia do Teatro, tanto como espetaculo quanta pedagogico e ja
abordadas anteriormente nesta pesquisa.
CONCLUSAO
o ser humane e social per natureza, ele necessita de Quiros da mesma
especie para viver bern. No entanto, as pessoas estao cad a vez mais distantes
urnas das Qutras, cercadas apenas pelos bens que podem acumular. Cada vez
evitando mais 0 cantato com as seus semelhantes numa atitude extremamente
individual.
Atraves de jogos teatrais realizados na propria escola, 0 aluno passa a
observar 0 mundo de uma forma mais acolhedora, pois, caleca-s8 no lugar dos
Quiros indivfduos e experiencia as suas viv€mcias, taman do consciencia de que
todos fazem parte de urn unico mecanismo que precisa estar bem para continuar
evoluindo. Com esla nova visao, sle estara mais aberto inclusive para as
informac;:oes que ira receber nas demais matarias.
o Teatro a ideal para trabalhar essa consciencia de cidadania, de
coletividade, pois a a arte que mais se assemelha a sociedade, que nao existe se
um indivfduo estiver sozinho. Todos os participantes, independente da fun gao que
ocupem, tem igual importancia no processo. Um ator e tao importante num
espetaculo quanto 0 puxador de cortinas ou 0 bilheteiro da casa. Da mesma forma, 0
madico sera igualmente necessario numa sociedade quanto 0 lixeiro. Todos sao
seres humanos fundamentais para 0 desenvolvimento da coletividade.
Adequadamente desenvolvido pelo professor habilitado na area, 0 Teatro em sala de
aula, auxilia os alunos na sua compreensao e interagao com a totalidade do seu
mundo pessoal e do meio circundante. Por isso, enfatizo a importancia de uma
pratica de Teatro pedagogica na qual se valorize 0 processo de trabalho e nao
apenas um dia de apresentagao.
Entendo que dramatizar nao e somente uma realizag8.o da necessidade
individual em interagao simb61ica com a realidade, que proporciona condigoes para
urn crescimento pessoal, mas a tambem uma atividade coletiva em que a expressao
individual e acolhida. Ao participar de atividades teatrais, 0 adolescente tem a
oportunidade de se desenvolver dentro de urn determinado grupo social de maneira
responsavel, legitimando os seus direitos dentro desse contexto, estabelecendo
rela90es entre a individual e a coletivo. 0 Teatro na Escola desenvolve 0 gosto pela
leitura e informag8.o, possibilitando 0 acesso do aluno aos varios conteudos culturais,
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ampliando a sua compreensao sobre a realidade.
A partir desta pesquisa constatei que 0 ensina do Teatro na Escola, para
adolescentes, auxilia 0 desenvolvimento de sua capacidade critica, reflexiva e
construtora, e tambern amplia a sua auto-expressao. Fator de grande importancia
para 0 processo de cidadania do aluno, que desde ceda passui deveres e direitos na
sociedade em que ViV8.
Por outro lado considero que sem qualificayao especifica e a devida
valorizaqao profissional, as professores nao terao condil,(oes sequer de acompanhar
o desenvolvimento de seus jovens alunos, tao bern informados atraves dos meios de
comunicayao, muito menos de conduzi-Ios no caminho do aprendizado e
desenvolvimento pessoal. Ou seja, as escolas nao podem hcar a margem deste
processo de mudant;:a, do contra rio, elas nao passarao de antiquados
estabelecimentos aonde pretende-se condicionar os alunos a seguir padr6es
previamente definidos, gerando rebeldia, insatisfa9ao e desprezo.
Sugiro entao que as escolas , tanto as publicas quanto as privadas, coloquem
em pratica 0 que as leis nacionais ha muito ja evidenciam, que e 0 reconhecimento
profissional. Este reconhecimento se da quando as escolas se preocupam em
contratar apenas profissionais devidamente qualificados na area em que atuam, e
em manter 0 nfvel de qualificat;:ao desse profissional, facilitando 0 seu acesso a
projetos de pesquisa, cursos e demais formas de atualizat;:ao profissional. Alem
disso, a valorizat;:ao profissional esta diretamente ligada a remunerat;:ao desse
profissional cuja fun9ao imp6e a formaryao continuada.
Enfim, sugiro que, tambem observando as sugest6es do proprio Ministerio da
Educat;:ao do Brasil, as escolas se preocupem mais em preparar os alunos para a
vida, ensinando-os a compreender melhor as emot;:6es e consequentemente
domina-las. Recomendo urn maior investimento, no sentido pedagogico, para que
esse aluno possa conhecer e interagir com 0 mundo em que vivem, desenvolvendo
a observa9ao e a livre-expressao vinculada a consci€mcia que se deve ter das
consequencias de suas atitudes. Como foi demonstrado nesta pesquisa, tais
caracterlsticas sao desenvolvidas atraves do Teatro no Ensino Media, logo, a minha
sugestao e para que essa materia seja respeitada como qualquer outra area de
conhecimento humano, que consta na grade curricular.
Ressallo ainda que os elementos basicos do Teatro aplicado na Escola, favorecem
o aluno na conquista do mercado de trabalho, garantindo assim a sua plena cidadania.
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