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Clipping imprensa 25-28 junho

Clipping de imprensa de 25 a 28 de junho

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Clipping imprensa 25-28 junho

Revista de Imprensa28-06-2016

1. (PT) - Correio da Manhã - Correio da Manhã Algarve, 28/06/2016, Hotel Pine Cliffs reabre após obras 1

2. (PT) - Correio da Manhã, 27/06/2016, Algarve, preocupação atinge o turismo 2

3. (PT) - Negócios, 27/06/2016, Brexit - E depois do adeus 4

4. (PT) - Jornal de Notícias, 26/06/2016, Europa já prepara saída do Reino Unido 31

5. (PT) - Diário de Notícias, 25/06/2016, Queda da libra é ameaça às exportações e ao turismo 37

6. (PT) - Correio da Manhã, 25/06/2016, "Quebra da libra reduz o poder de compra" - Entrevista a ElidéricoViegas

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7. (PT) - Diário de Notícias, 25/06/2016, Emigrantes: "Daqui até lá muita coisa pode mudar" 39

8. (PT) - Correio da Manhã - Correio da Manhã Algarve, 27/06/2016, Negócios com a China 41

9. (PT) - Sol, 25/06/2016, Hotéis esgotados no Algarve 42

10. (PT) - Dinheiro Vivo (DN + JN), 25/06/2016, "Ainda neste ano teremos os Tivoli no médio Oriente" -Entrevista a Dillip Rajakarier

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11. (PT) - Dinheiro Vivo (DN + JN), 25/06/2016, Impacto dos tailandeses nos hotéis já se sente e vai serainda maior

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12. (PT) - Expresso - Economia, 25/06/2016, Fundo da ECS vai acelerar a venda de hotéis recuperados 48

13. (PT) - Correio da Manhã, 25/06/2016, Nadadores fora dos hotéis 49

14. (PT) - Jornal de Notícias, 25/06/2016, Hotéis deixam de estar obrigados a ter nadadores 50

15. (PT) - Público - Golfe, 25/06/2016, Madeira já tem passaporte de golfe 52

16. (PT) - Público, 28/06/2016, Ministro da Cultura pretende revitalizar a Fundação Côa Parque 54

17. (PT) - Público, 28/06/2016, Museu Judaico de Lisboa avança com gestão da Associação de Turismo 55

18. (PT) - Expresso - Economia, 25/06/2016, Pestana quer marcar mais golos com o CR7 nos hotéis-Entrevista a Dionísio Pestana

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Correio da Manhã Algarve Tiragem: 140038

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Informação Geral

Pág: 30

Cores: Cor

Área: 4,32 x 3,79 cm²

Corte: 1 de 1ID: 65055456 28-06-2016

HOTEL PINE CLIFFS REABRE APÓS OBRAS GO hotel Pine Cliffs reabre, no próximo dia 2 de julho, depois de obras de renova-ção. Na ocasião também será inaugurado o Pine Cliffs Ocean Suites.

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Tiragem: 140038

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Informação Geral

Pág: 28

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Área: 25,70 x 32,00 cm²

Corte: 1 de 2ID: 65035864 27-06-2016

ECONOMIA BREXIT

SAIDA DO REINO UNIDO

PREOCUPAÇÃO ATINGE O TURISMO

Este ano não se preveem impactos negativos no turismo algarvio, em termos de procura pelos britânicos, uma vez que as reservas já estão feitas e os Indicadores são muito positivos

RECEIO O Empresários dizem que a região será afetada com uma grande desvalorização da libra face ao euro porque os turistas gastarão menos ALTERNATIVAS O Crescimento de outros mercados, como o francês e o alemão, pode reduzir o impacto JOSÉ CARLOS EtISÉBIO

E xiste preocupação, mas não dramatismo", afirma Desidério Silva, presiden-

te da Região Turismo do Algar-ve (RTA), em relação às conse-quências da saldado Reino Uni-do da União Europeia. O mer-cado britânico é responsável por mais de 30% das dormidas nos hotéis do sul de Portugal.

"Se a libra desvalorizar muito, isso é mau, porque o poder de compra dos ingleses fica mais baixo e, por isso, vão gastar me-nos, mas não vale a pena sermos pessimistas. Os ingleses gostam muito do Algarve", realça ao CM Desidério Silva.

Este responsável diz que "este ano não haverá impactos nega-tivos, porque as reservas já es-tão feitas e os indicadores são muito positivos para o turismo algarvio", acrescentando que, além disso, "existem outros

BRITÂNICOS GARANTEM MAIS DE 30% DO TOTAL DE DORMIDAS NOS HOTÉIS mercados externos que estão a subir, como o francês e o ale-mão".

Reinaldo Teixeira, adminis-trador de grupo dos setores imobiliário e turístico do Algar - ve, considera que os ingleses

1,8 MILHÕES CHEGAM DE AVIÃO A FARO 13 Desembarcam por ano 1,8 milhões de passageiros britânicos no aeroporto de Faro. Este mercado sempre foi o principal fornecedor de t uristas do Algarve. •

50 MIL TÊM SEGUNDA RESIDÊNCIA NA REGIÃO 13 Existem cerca de 50 mil residentes temporários no Algarve oriundos do Reino Unido, assumindo uma grande relevância no turis-mo residencial da região. •

"não vão deixar de viajar e de investir", considerando que apenas se houver "uma heca-tombe com a libra", em termos de desvalorização face ao euro, é que "se poderão sentir efeitos negativos".

CLIENTES INGLESES TÊM COMPRADO IMÓVEIS CAROS NA REGIÃO

"Nos últimos dois dias até tive dois clientes ingleses que me li-garam a dizer que não iam dei-xar de investir no Algarve", re-vela Reinaldo Teixeira, adian-tando que grande parte dos bri-tânicos tem alto poder de com-

pra, gastando "300 a 600 mil euros na compra de uma casa, ou até mais".

Roger Edmonde, de 76 anos, é um dos ingleses que têm casa no Algarve, próximo de Alvor, passando metade do tempo em Portugal. "Nada vai mudar para mim. Não estou nada preocu-pado", garante ao CM.

Segundo ele, o referendo para a saída do Reino Unido da União Europeia "não devia ter sido aberto aos reformados, porque os jovens é que vão sentir as consequências da decisão que foi agora tomada". • NOTICIA EXCLUSIVA DA EDIÇÃO EM PAPEI

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Tiragem: 140038

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Informação Geral

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Liderança de Jeremy Corbyn está a ser contestada no Partido Trabalhista

Nicola Sturgeon ameaça fazer tudo ao seu alcance para Impedir a saída da Escócia da União Europeia

pode bloquear o Brexit Parlamento da Escócia

0 A primeira-ministrada Escó-cia, Nicola Sturgeon, admite que o parlamento local possa bloquear a saída do Reino Unido da União Europeia (LIE), recu-sando dar aval ao referendo.

A efetivação do Brexit tem de ser aprovada pelo parla-mento britâ-nico, com o consenso das assembleias da Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte. On-tem, em declarações à BBC, Sturgeon explicou ser lógico que o governo britânico apre-sente uma moção para ratificar

MOÇÃO O Líder escocesa quer que deputados recusem aval ao referendo

E JP 3 If

JOHN HAVERY INGLES RESIDENTE NO ALGARVE

"Fiquei multo triste com o resultado do referendo" Vivo há 20 anos no Algarve e fiquei muito triste com o resultado do refe-rendo. Quando se faz parte de um grupo, não devemos sair, mas lutar para resolver os problemas por dentro. Em termos pessoais, nada muda na vida do dia a dia e não irei regressar a Inglaterra.

ANTHEA PORTHOCK TURISTA INGLESA

"Já venho de férias há 11 anos e vou continuar a vir" Não votei no refe-rendo porque es-tava de férias no Algarve, mas sou a favor da saída. Existem muitos imigrantes que não trabalham e recebem apoios. Já venho de férias para o Algarve há 11 anos e vou continuar a vir. Acredito que a libra vai estabilizar com o passar do tempo.

CHRISTIAN SOARES EMPRESÁRIO DA RESTAURAÇÃO

Se a libra desvalorizar, os turistas gastarão menos" O melhor seria que o Reino Unido tivesse permane-cido na União Eu-. ropeia. Se a libra desvalorizar mui-to, os turistas passam a gastar menos, o que terá consequén-cias negativas para o Algarve. Mas vamos ter de esperar para ver o que vai acontecer.

o referendo e, nesse caso, pedi rá aos deputados que recusem dar o "consentimento legislati vo". No entanto, acredita que o executivo de Londres tentará contornar esse pedido. Na Es - cócia, 62% da população votou

pela perma-nência na UE, mas o Brexit ganhou no Reino Unido

por uma margem de 52%. Stur geon admitiu também um novo referendo à independência da Escócia, a qual conta, segundo uma nova sondagem, com o apoio de 52% dos escoceses. •

Líder trabalhista Jeremy Corbyn enfrenta revolta G Oito dirigentes do Partido Trabalhista (oposição) apre-sentaram ontem a demissão, numa revolta interna contra o que afirmam ser a "falta de li-derança e empenho" do líder Jeremy Corbyn na campanha para o referendo. O porta-voz do partido para a política ex -terna já tinha sido afastado no sábado por dizer que "perdeu a confiança" em Corbyn. •

PORMENORES

UE recusa mais ofertas A UE não vai fazer novas pro-postas ao Reino Unido para que se mantenha no bloco europeu, garantiu ontem o vice-chance-ler alemão, Sigmar Gabriel.

Perda "catastrófica" Philip Hammond, ministro dos Negócios Estrangeiros britâni-co, admite que seria "catastró-fico" para o Reino Unido perder o acesso ao mercado único eu-ropeu após votar a saída da UE.

Liberais querem a UE Tim Faron, líder do Partido Libe-ral Democrata britânico, vai concorrer às próximas eleições com um programa baseado no regresso do país à UE.

Assinaturas falsas Cerca de 77 mil assinaturas fal-sas foram retiradas da petição que pede um segundo referendo e que já ultrapassou 3 milhões de assinaturas .

Ameaças a polacos A polícia britânica está a inves-tigar uma série de incidentes com mensagens racistas contra a comunidade polaca no Reino Unido, após a vitória do Brexit.

Theresa May pode avançar contra Boris Johnson 13 Vários setores do Partido Conservador estão a ponderar a possibilidade de fazer avan-çar a atual secretária do Inte-rior, Theresa May, como can-didata à sucessão de David Cameron no partido e na che-fia do governo como forma de tentar travar a vitória anun-ciada de Boris Johnson, tido como o grande responsável pela vitória do Brexit. May é vista como a única política conservadora capaz de fazer frente a Johnson numa eleição interna e unir o partido. •

O Boris Johnson é o favorito à su-cessão a Cameron O Theresa May pode avançar para unir o partido

Nigel Farage exigia novo referendo se Brexit perdesse G 0 líder do Partido da Inde-pendência do Reino Unido (UKIP), Nigel Farage, um dos rostos da campanha pelo Brexit, disse no mês passado que exigiria um novo referen-do se o 'não' à UE perdesse por uma curta margem. "Um resultado de 52% -48% quer dizer que a questão não está arrumada", disse Farage ao 'Daily Mirror'. •

62% DA POPULAÇÃO

ESCOCESA VOTOU PELA PERMANÊNCIA NA UE

DEPOIMENTOS

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Tiragem: 14968

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Economia, Negócios e.

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Cores: Preto e Branco

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PRIMEIRA LINHA A EUROPA DEPOIS DO BREXIT

Bancos centrais em alerta pós-Brexit reúnem em Sintra Draghi recebe em Sintra alguns dos mas poderosos banqueiros centrais do mundo num momento em que estão em alerta máximo para evitar turbulências na banca, nas moedas ou nos juros da dívida que possam prejudicar a economia e confiança dos investidores.

Reuters

Mario Draghi Presidente do BCE Janet Yellen Presidente da Reserva Federal Mark Carney Presidente do Banco de Inglaterra Taxa de juro 0% e está a comprar dívida Taxa de juro 0,25 a 0,5% Taxa de juro 0,5% Armas Mais liquidez e aumentar compras Armas Adiar subida de juros este ano Armas Cortar juros, retomar compra de dívida

RUI PERES JORGE rpjorgeianegocios.pt ANDRÉ TANQUE JESUS andrejesus4pnegocios.pt

s próximas se-manas serão decisivas para conter desen-volvimentos

financeiros que possam afectar de forma grave a confiança dos inves-tidores, das empresas e das famí-lias, que está abalada pela decisão

britânica de sair de União Europeia (UE) de que faz parte desde 1973.

As consequências de médio e longo prazo do Brexit são dificeis de antecipar e dependerão, em boa me-didas, das negociações entre o Rei-no Unido e UE nos próximos anos, e do eventual contágio do cepticismo britânico a outros países. Mas os ris-cos de curto prazo estilo já bem iden-tificados: é essencial que nenhuma instituição financeira relevante re-bente por falta de liquidez; é impor-tante que a depreciação da libra não resulte numa queda livre da moeda britânica; é vital para a Zona Euro

que os juros dos países mais frágeis da periferia não disparem para ní-veis insustentáveis; e finalmente, é desejável que os bancos continuem a conceder crédito. Só assim se con-seguirá mitigar os efeitos negativos da incerteza e da maior aversão ao riso que resultam do referendo.

As próximas duas a três semanas serão determinantes e o palco é dos banqueiros centrais, avaliaram nos últimos dias vários especialistas, en-tre eles Olivier Blanchard, o ex-eco-nomista-chefe do FMI: "Se, após uma semana ou duas parecer que ninguém fez nada demasiado estú-

pido e que os bancos centrais têm as coisas sob controlo, espero que a aversão ao risco decresça lentamen-te, que os mercados e as moedas re-cuperem e que os fogos fiquem limi-tados ao Reino Unido e, em menor escala, à UE", escreveu numa nota no Peterson Institute no sábado.

Os bancos centrais, de resto, já assumiram o seu papel. Perante a queda da libra (8% face dólar para o valorais baixo desde 1985 e de 6% face ao euro), o afundanço dos prin-cipais mercados bolsistas com per-das que chegaram aos 10%, e subidas nos juros da periferia da Zona Euro

(porcontraposição osjuros dos EUA e Alemanha que fundaram, levando as yields alemãs a 10 anos para valo-res negativos próximo dos -0,05%, contra os 3,36% de Portugal), os ban-queiros reagiram sexta-feira com pa-lavras e liquidez.

Mark Carney foi o primeiro:"es-tamos bem preparados para isto", afirmou o governador do Banco de Inglaterra (BoE) que reconheceu "esperarvolatilidade" nos próximos dias e injectou 250 mil milhões de li-bras (309 mil milhões de euros) no sistema financeiro, prometendo mais caso seja necessário. Vários

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Tiragem: 14968

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Economia, Negócios e.

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DESAFIOS DA REGULAÇÃO FINANCEIRA NO MUNDO

DOIS DESAFIOS E OITO FIGURAS DAS FINANÇAS MUNDIAIS QUE MARCAM NA PENHA LONGA

Pelo terceiro ano consecutivo, durante três dias o luxuoso hotel da Penha Longa em Sintra reúne

alguns dos mais poderosos banqueiros centrais do mundo com alguns dos mais Influentes espe-

cialistas e economistas da actualidade. O objectivo é analisar os desafios que se colocam à polí-

tica monetária e estabilidade financeira mundial. O tema deste ano do Fórum do BCE é "o futuro

da arquitectura financeira e monetária internacional".

DESAFIOS DA POLÍTICA MONETÁRIA INTERNACIONAL

analistas apontam já para urna pro-vável redução das exigências con-tracíclicas de capital nos bancos bri-tânicos no início de Julho e um cor-te de juros (actualmente em 0,5%) na reunião de 14deJulho. Um relan-ç=ento do programa de compra de dívida pública é também dado como provável mais para o final do ano. Já o BCE e a Fed garantiram estarem preparados para ceder liquidez adi-cional. Banco do Japão, Banco Na-cional da Suíça, Banco Central da Noruega e Banco da Índia também.

Quanto aos próximos meses, acrescentam várias análises, a subi-da de juros esperada nos EUA pode estar mais longe e ser mais peque-na; enquanto na Zona Euro - onde o BCE está no início de um novo programa de compra de títulos de dívida de empresas e de um segun-do programa de empréstimos de longo prazo aos bancos - admite-se um aumento do programa de com-pra de dívida pública

• Juntos em Sintra É neste contexto que, no âmbi-

to do 3° Fórum anual do BCE, se reúnem de segunda até quarta-fei-ra em Sintra alguns dos principais banqueiros centrais e especialistas em política monetária e sistemas fi-nanceiros. O encontro debaterá "o Futuro daArquitectura Financeira e Monetária Internacional", que di-ficilmente poderá ser alheio às con-sequências do anunciado desmem-bramento do Reino Unido da UE. O ponto alto ocorrerá na quarta-feira, num debate que junta Mario Draghi do BCE, Janet Yellen da Fed e, espe-rava-se, Mark Carney do Bo E que entretanto terá cancelado a vinda. Trata-se dos presidentes dos três bancos centrais mais poderosos do mundo, com jurisdição da política monetária e financeira sobre 44%

do PIB mundial e com balanços que, em conjunto, ascendem a 7,5 biliões de euros - 41 vezes o PIB nacional.■

MAURICE OBSTFELD Director de investigação do Fundo Monetário Internacional (FMI), participará no debate sobre os desafios monetários e macroecónomicos actuais. Maurice Obstfeld, que substitui Olivier Blanchard, é especialista em economia internacional.

CHARLES GOODHART Professor Emérito da London School of Economics, tem dedicado a sua carreira à política monetária. Foi conselheiro-chefe do Banco de Inglaterra e, mais tarde, membro do Comité de Política Monetária. É a cara da experiência académica e profissional.

ANNE KRUEGER Foi economista-chefe do Banco Mundial entre 1982 e 1986 e número dois do FMI entre 2001 e 2006. É uma mais proeminentes economistas norte-americanas, especializada em economia internacional e do desenvolvimento.

HYUN SONG SHIN Formado em Oxford, acabou por dar aulas em Princeton e na London School of Economics. Agora, é o super poderoso conselheiro económico e director de investigação no Departamento Económico e Monetário do BIS.

BARRY EICHENGREEN É um dos mais conhecidos historiadores económicos da actualidade, sendo especialista em sistemas financeiros internacionais. Ocupa um papel central no debate e contextualização da crises dos últimos anos.

STIJN CLAESSENS Nascido na Holanda, passou grande parte da carreira nos EUA. Primeiro no Banco Mundial, depois no FMI e. agora, na Fed, onde é conselheiro sénior. A sua investigação tem focado a política monetária, os mercados e o papel da regulação.

HÉLÈNE REY Com 45 anos é uma das jovens economistas que saltou para a primeira linha do debate sobre a política monetária internacional, avisando para os potentes efeitos nas economias emergentes das decisões dos grandes bancos centrais como a Reserva Federal.

CLAUDIA M. BUCH É a vice-presidente do Bundesbank e a responsável pelo departamento de Estabilidade Financeira. Esteve no reconhecido German Council of Economic Experts. A sua carreira tem sido marcada pela regulação e pelos mercados financeiros.

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País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Economia, Negócios e.

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floris Johnson, e ex-"Mayor" de Londres, foi um dos protagonistas da campanha pelo "Leave^.

PRIMEIRA LINHA A EUROPA DEPOIS DO BREXIT

Divórcio da UE sacode sistema político britânico

Nove dos "ministros sombra" do líder Trabalhista, Jeremy Corbyn, apresentaram a sua demissão. Entre os Conservadores prossegue uma guerra fraticida sobre quem será o sucessor de David Cameron e os pró-europeístas querem travar Boris Johnson.

EVA GASPAR

egasparOnegocios.pt

Depois do terramoto que ainda se sente em todas as capitais eu-ropeias, receosas de

que o voto da passada semana se repita em solo continental onde estão os alicerces da União Euro-peia (UE), e da sangria nos merca-dos financeiros, que poderão vol-tar a viver hoje um dia negro de pe-sadas perdas, a onda de choque provocada pelo Brexit estáagora a varrer o sistema político britânico e a testara integridade do próprio país, levando muitos a questionar se o Reino Unido não corre o risco de se desmembrar antes de estar concluído o seu processo de divór-cio da UE - que, à partida, deverá ser concluído até ao final de 2018.

Inconformados com a decisão de sair da União Europeia, mais de três milhões de britânicos assina-ram durante o fim-de-semana uma petição a apelar ao parlamen-to para qué repita o referendo. Nove dos "ministros sombra" de Jeremy Corbyn apresentaram, en-tretanto, a demissão para tentar forçar o afastamento do líder dos Trabalhistas, o maior na oposição, que muitos consideram ter sabo-tado a linha europeísta do partido.

Guerra entre os Conservadores No seio dos Conservadores, a

guerra fratricida prossegue, agora em torno de quem será o sucessor de David Cameron que, no rescal-do do Brexit, anunciou que sairá de cena em Outubro e que será o seu sucessora negociaro acordo de saí-da e, simultaneamente, uma nova parceria com países com quem

convive há 43 anos e paraos quais exporta metade do que produz. A linha mais europeísta quer travar a ascensão de Boris Johnson, ros-to incontornável da campanha do "Leave" e ex-"mayor" de Londres, onde o "Remain" ganhou por mais

de 70%. George Osborne, ministro das Finanças, pode ser uma alter-nativa A decisão só deverá ser to-mada em Outubro no congresso do partido. Com os Conservadores e os Trabalhistas rachados ao meio, o cenário de eleições antecipadas

começa a ganhar força, e o partido Liberal Democrata - que saiu re-duzido a pó nas eleições de Maio do ano passado -, dissejá que vai con-correr às próximas eleições com um programa acqPnte no regresso do Reino Unido à União Europeia.

O líder Tim Farron apelou aos britânicos insatisfeitos com o re-sultado do referendo de quinta-fei-ra para se unirem ao partido com a "promessa clara e inequívoca de restaurara prosperidade e o papel dos britânicos no mundo, com o

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Mary Turner/Reuters

PERGUNTAS A KIRSTY NAVES Embaixadora do Reino Unido em Lisboa

"Não vai mudar nada para os portugueses nos próximos dois anos"

Reino Unido dentro da União Europeia". Para Farron, mui-tos cidadãos votaram pela saí-da "com base cm mentiras".

Pelo meio, uma sondagem na Escócia revela que a maio-ria quer a independência e a

primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon, avisou neste domingo que vai dar indicações ao Parlamento escocês para que chumbe todas as leis cuja aprovação seja necessária para concretizar a saída do Reino Unido da UE.

Um referendo na Escócia Em entrevista à BBC, a

também líder do nacionalista SNP, garantiu ser "evidente" que dirá para os deputados es-coceses para não darem o seu "consentimento legislativo" às alterações necessárias. Logo na sexta-feira,Sturgeon reagiu aos resultados do referendo (na Es-cócia venceu com larga mar-gem o sim à permanência) di-zendo que estão criadas as con-dições para o país realizar ou-tro referendo, desta feita sobre a continuação na UE.

Em Setembro de 2015, os escoceses decidiram, também em referendo, continuara inte-grar o Reino Unido. Mas tal de-cisão pode agora ser diferente tendo em conta o europeísmo dos eleitores escoceses. Na Ir-landa do Norte e na Escócia, o sim venceu, com 62% e 55,7%, respectivamente. A primeira-ministra escocesa, NicolaStur-ge011, disse que vai começar a preparar a legislação necessá-ria para pôr em marcha um se-gundo referendo sobre a inde-pendência da Escócia, daqui a dois anos. O mais recente teve lugar há pouco mais de um ano.

Já o primeiro-ministro do País de Gales, Carwyn .1( )1, re-jeitou a ideia de bloquear saída, argumentando que tal só "pio-rará a actual crise política". Ao contrário da Escócia, Gales vo-tou maioritariamente "Brexit". por 52.5% dos votos.ffi

Inconformados com a decisão de sair da UE, mais de três milhões de britânicos assinaram uma petição a apelar à repetição do referendo.

Com os Conservadores e os Trabalhistas rachados ao meio, o cenário de eleições antecipadas começa a ganhar força.

A Escócia vai começar a preparar a legislação necessária para pôr em marcha um segundo referendo sobre a independência, daqui a dois anos.

Em entrevista ao Negócios, a em-baixadora do Reino Unido diz que a prioridade neste momento é tranquilizar pessoas e mercados.

Que instruções recebeu de Lon- dres para gerir este "day-after"? Como o primeiro-ministro David

Cameron disse, a nossa prioridade é respeitar a vontade do povo britâni-co mas também tranquilizar as pes-soas e os mercados internacionais. Essas são as instruções que temos e que estamos a seguir.

David Cameron disse que se de-mitirá em Outubro e que será o seu sucessor a formalizar o pedi-do de saida. ao passo que a UE pe-diu pressa para que, o quanto an-tes, se clarifique o novo quadro de relações. Porque é que David Ca-meron não tem pressa? A preparação do processo nego-

ciai que irá seguidamente ser aberto com a União Europeia é tema das reuniões que terão lugar na próxima semana em Bruxelas. Em relação a isso, o nosso entendimento é que. o mais importante. é permanecer se-reno e seguir um processo bem es-truturado.

O Reino Unido sempre foi um Es-tado-membro especial. Acha que será doravante um país associa-do também especial? Esse vai ser obviamente o tema

central das negociações que serão iniciadas depois de invocado o arti-go 50 dos Tratados. Embora nào pos-sa especular sobre a substância, por-que ainda é cedo e porque entrámos num terreno novo, tenho a certeza de que o relacionamento vai conti-nuar a ser especial com a UE e com Portugal. Com Portugal temos a aliança mais antiga do mundo, um re-

lacionamento muito intenso em ter-mos de negócios e nos dominios so-ciais e culturais, e devo salientar que fiquei muito grata com as palavras do primeiro-ministro e do Presidente da República quando ambos disseram querer uma abordagem construtiva nas negociações que se seguem e o prosseguimento da nossa aliança.

Como escocesa, teme que o resul-tado deste referendo possa ter posto em perigo o próprio Reino Unido? Não vou especular sobre esse as-

sunto, mas posso deixar claro que é intenção do governo britânico asse-gurar-se de que os governos regio-nais vão ter um papel central nas ne-gociações em Bruxelas sobre o pós-UE.

O que acontece agora aos portu-gueses que estão ou pensam ir vi-ver para o Reino Unido? Continua tudo igual, incluindo o acesso ao serviço nacional de saúde? É muito importante sublinhar que

nada vai mudar no curto prazo, ou até num prazo mais longo. Durante os próximos dois anos, ou até mais. o Reino Unido continua com todas as responsabilidades e direitos como qualquer outro Estado-membro, pelo que, tanto para os portugueses que estão no Reino Unido como para os britânicos que estão aqui, a situação continua exactamente como era ain-da ontem. Para trabalhar, para viver, para viajar, tudo continua igual. Não posso especular sobre como será a situação daqui a dois anos porque esse vai ser um tema central central nas negociações, e naturalmente que o governo português defenderá en-tão os interesses dos portugueses como o britânico fará em relação aos seus nacionais. ■

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PRIMEIRA LINHA A EUROPA DEPOIS DO BREXIT

resultado do referendo no Reino Unido foi surpreendente e faltam boas ideias sobre as suas consequências. Existem razões históricas e acontecimentos pas-sados que nos deveriam ter preparado para este desenlace. Casos em que te-mas europeus foram referendados, os resultados nunca foram inequivoca-mente favoráveis a avanços do projeto europeu. O Reino Unido não foi país fundador do projeto europeu. A Comu-nidade Económica Europeia (CEE) foi criada em 1957 com França, Alemanha, Itália e países do Benelux (Bélgica, Ho-landa e Luxemburgo). A União Euro-peia foi-se alargando. Porém, o alarga-mento nem sempre foi pacífico.

Depois de cerca de sessenta anos de esforço de expansão da UE, prepara-se o primeiro abandono. Pode-se tentar encontrar algumas pistas sobre as con-sequências na votação. Os mais jovens (com menos de cinquenta anos), mais pobres (Escócia e Irlanda do Norte) e mais globalizados (Londres) votaram a favor da permanência. Para qualquer um destes grupos, o seu país é o mundo. Dentro ou fora de portas, competem por postos de trabalho com profissionais qualificados de qualquer parte do mun-do.

O Reino Unido, a par da Alemanha, foram as duas economias que melhor responderam ao desafio da globalização e que hoje estão mais expostas aos mer-cados emergentes. Após anos de fraco desempenho económico, na década de 1980, os primeiros encerraram a maio-ria das fábricas e orientaram-se para serviços e para novas tecnologias de in-formação e comunicação. O mercado de trabalho foi reformado e o Estado So-cial repensado. Os segundos, igualmen-te no seguimento de vários anos de de-bilidade económica, na segunda meta-de da década de 90, reformaram o mer-cado de trabalho e redesenharam o Es-tado Social. Embora mantendo as in-dústrias tradicionais, a competitivida-de aumentou, buscando dinamismo nos mercados emergentes.

Olhando para a Europa de hoje,

constata-se que existe maior proxim i dadè, em temas económicos, entre Rei -no Unido e Alemanha que entre Alema-nha e França ou Itália, outros fundado-res. Não é por acaso que a maior parte dos movimentos de migrantes se orien-ta para estes dois espaços económicos, que oferecem maior dinamismo e maior abertura económica num mundo glo-balizado. Como consequência da crise da dívida soberana de 2010-2011, a evo-lução do projeto europeu avançou rapi-damente mas essencialmente na área do euro. As ações do BCE, os avanços da União Bancária e a discussão sobre par-tilha ou redução de riscos envolvem so-bretudo os membros do euro. Os gran-des temas europeus hoje revolvem em torno de preocupações da área do euro, que diretamente dizem menos ao Rei-no Unido ou à Dinamarca. Na medida em que, como o presidente do BCE re-

conhece, o crescimento económico fu-turo da Europa depende não exclusiva-mente da política monetária, mas da forma como os estados pensam a eco-nomia de molde a poder responder aos desafios do futuro, designadamente de forma a criar emprego e proporcionar uma distribuição mais equilibrada de rendimentos, possibilitando a integra-ção das populações mais jovens. A saí-da do Reino Unido pode ser encarada com preocupação, pelo exemplo em ter-mos de taxa de participação no merca-do de trabalho e desemprego, sobretu-do jovem.

Os desafios na UE não se circuns-crevem à componente política. Muitos acreditam que a crise económica forne-ce os argumentos para forjar uma mais forte união politica de estados europeus, podendo-se evoluir para um modelo de inspiração federalista. Qualquer proje-

CRISTINA CASALINHO Presidente do IGCP - Agência

de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública

Ralph Orlowski/Reuters

to político federalista carece de uma vertente militar. Ora, a UE observa ma-nifestas fragilidades a este respeito, so-bretudo com a saída do Reino Unido. As guerras no Médio Oriente e no Norte de Africa mostraram uma frente europeia muito pouco unida, colocando sérias in-terrogações ao projeto político europeu.

A gestão da crise na Geórgia ou na Ucrânia, pelo lado político, ou da crise da dívida soberana, pelo lado económi-co, suscitam dúvidas sobre a vitalidade do projeto europeu. O abandono do Rei-no Unido tenderá a ampliar o debate so-bre as vantagens políticas e económicas da UE, num momento em que o tradi-cional equilíbrio de forças entre França e Alemanha se encontra em risco. Este momento é uma oportunidade para re-pensar o modelo e torná-lo mais capaz de responder às necessidades de cresci-mento, rendimento e emprego. •

OPINIÃO

Na hora da despedida

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RICARDO PINHEIRO-ALVES Economista

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PRIMEIRA LINHA A EUROPA DEPOIS DO BREXIT

Comércio com Portugal: controlos alfandegários regressam mas sem tarifas

O Brexit vai ressuscitar os controlos alfandegários mas é pouco provável que as taxas aduaneiras regressem. Se o divórcio for bem negociado, não há razão para as relações comerciais entre Portugal e os britânicos saírem muito afectadas. 66 ELISABETE MIRANDA

emiranda©negocios.pt

No dia em que o Brexit for formalizado, ha-verá um regresso parcial a 1993 e ao

período de pré-adesão ao merca-do único. As mercadorias que en-tram e saem com destino a Ingla-terra voltarão a ser sujeitara con-trolos alfandegários, as barreiras não pautais serão reactivadas, mas dificilmente se recuperarão as ta-xas aduaneiras. Com a burocracia de volta, o comércio entre Portu-gal e o Reino Unido consumirá mais tempo e recursos mas, se o di-vórcio for negociado de forma pragmática, não é de esperar que as relações comerciais saiam mui-to prejudicadas. Esta é, pelo me-nos, a convicção dos especialistas ouvidos pelo Negócios.

Enquanto os líderes europeus não se sentarem à mesa das nego-ciações com os britânicos, os con-tornos do Brexit permanecerão imprevisíveis, mas, dentro da im-previsibilidade, há já alguns cená-rios que podem começar a dese-nhar-se em função da sua proba-bilidade. E na área comercial não é de crer, como um estudo do Te-souro Britânico chegou a admitir, que Inglaterra saia sem assegurar qualquer tipo de acordo comercial.

"O Reino Unido é tradicional-mente um defensor do comércio livre. É de esperar que um novo acordo substitua o actual", anteci-pa o economista Ricardo Pinhei-ro-Alves, numa posição que é

acompanhada porJosé Rijo. "Não temos na Europa um único País que não esteja integrado numa zona de comércio livre", diz o ad-vogado e especialista em direito aduaneiro.

O acordo de comércio livre, seja elequalfor;prefflupõeque os países europeus continuem a exportar e importar bens para o Reino Unido sem quaisquer direitos alfandegá-rios, e que os britânicos fiquem li-vres quanto à possibilidade de ne-gociarem com países terceiros.

É por esta razão que Ricardo Pinheiro-Alves está convencido de que, desde que haja bom sendo nas negociações, "não penso que vá ha-ver assim tanta instabilidade".

José Rijo também está relati-vamente seguro de que não se reer-guerão fortificações comerciais. Aliás, uni dos cenários que admite como provável é que o RU regres-se às origens e se reintegre na EFTA", a associação comercialen-tre a Islândia, Noruega,Sulça e Lie-chtenstein, que agora poderá ga-nhar novo fôlego.

Mais tempo e custos administrativos Se o regresso das tarifas é alta-

mente improvável, praticamente certo é oaurnentodabUrocraciaeo tempo das transacções. "A reintro-dução de controles alfandegários será uma inevitabilidada", antecipa José Rijo. E isto trachn-se em decla-rações aduaneiras, emissão de cer-tificados de origem, maior exposi-ção a controlos fisicos e o regresso das barreiras não pautais que exi-gem a certificação das condições de qualidade dos produtos, as normas de segurança, as regras sanitárias.

Segundo as estatísticas, o Rei-

no Unido é hoje em dia o quarto maior destino das exportações portuguesas, assumido sectorda maquinaria um peso especial. Em sentido contrário, e segundo o Banco de Portugal, somos o sexto destino de exportação dos britâni-cos. PosiçõeS relativas que estão dependentes, sobretudo, do pro-cesso negociai de saída, já que é também dele que dependem Os outros factores como a manuten-ção da City como uma praça finan-ceira de relevo, o valor da libra e a capacidade de atracção de investi-mento estrangeiro.

Mais incerto que o comércio de bens é o mercado de serviços, cm relação ao qual há um mercado co-mum, embora com limitações, e ao qual o Reino Unido também per-derá acesso. Mas, também aqui, a

Exportações .1.1 importações

15000 20000 25000

Fonte: Banco de Portugal

questão é mais política do que eco-nómica, entende Ricardo Pinhei-ro-Alves. "Se a lógica europeia e britânica de aprofundamento da liberalização se mantiver, não vejo razões para grandes impactos", diz o economista.

Sem a sujeição a qualquer res-trição negocia] com países tercei-ros,a Inglaterrapoderá,a prazo, tor-nar-se mais competitiva. "Os mais saudosistas poderão querer reatar a Commonwealth, e aí as relações comerciais poderiam serpotencia-das", diz José Rijo. Um acordo co-mercial com a Índia por exemplo, com quem a UE não tem acordos preferenciais, poderá colocaras ex-portações inglesas numa situação de vantagem. Mas até que o futuro comece a desenhar-se no papel, tudo não passam de cenários. ■

Não temos na Europa um único País que não esteja integrado numa zona de comércio livre. Um dos cenários que admito como provável é que o Reino Unido regresse às origens e integre a EFTA.

JOSÉ RIJO Advogado, especialista em direito aduaneiro

O Reino Unido é tradicionalmente um defensor do comércio livre. É de esperar que um novo acordo substitua o actual. Não penso que vá haver assim tanta instabilidade.

UM DOS PRINCIPAIS PARCEIROS COMERCIAIS Valores em milhões de euros

Em 2015, Portugal exportou sete mil milhões de euros para o Reino Unido (3,3 mil milhões em bens e 3,7 mil milhões em serviços), ocupando dessa forma o quarto lugar no ranking das economias mais importantes para as vendas ao exterior (9,5% do total). As importações no mesmo ano totalizaram 3,4 mil milhões de euros (4,8% do total), divididos quase pela metade entre bens e serviços.

Espanha

França

Alemanha

Reino Unido

EUA

Angola

Holanda

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~qui mamam me acad.& sakla, o gila polia danarik

PRIMEIRA LINHA A EUROPA DEPOIS DO BREXIT

1 Porque foi convocado este referendo? David Cameron chegou a afirmar que o seu Partido Conservador nunca poderia ambi-cionar chegar ao poder se confim irise a mal-dizer a Europa, depois prometeu fazer um referendo quando algum novo Tratado sur-gisse, mas perante a ascensão meteórica do UKIP, partido anti-UE, e sobretudo da pres-são da ala eurocéptica do seu partido - de-signadamente de próximos seus, como Bo-ris Johnson e Michael Gove, que acabaram por ser caras de primeira linha do "Leave" -cedeu. A promessa de um referendo "in or out" fez parte do programa de governo com que se reelegeu em Maio do ano passado. •

2 Quem liderou as campanhas pelo "Remain" e pelo "Leave"? Do lado do "Leave", ou sair, esteve um par-tido criado em 1991 precisamente comesse fim: o UKIP - UKlndependence Party - de Nigel Farage que, em Maio de 2014, foi mes-mo o mais votado nas eleições paro Parla-mento Europeu, onde tem actualmente 24 deputados, contra 20 dos Trabalhistas e19 dos Conservadores. Activamente presentes

na campanha pelo "Brexit" estiveram ain-da dois antigos aliados de David Cameron: Boris Johnson, antigo "mayor" de Londres, e Michael Gove, seu ministro da Justiça. Re-cuperar soberania e travar a imigração fo-ram as ideias-chave da campanha.

Do lado do "Remain", ou permanecer, es-tiveram os demais partidos. embora Jeremy Corbyn, o líder do maior partido da oposi-ção, o Trabalhista (Labour), só tenha surgi-do na recta final da campanha. Os principais sindicatos e associações empresariais apoia-ram igualmente a permanência do país, ar-gumentando que, dentro da UE, o Reino Unido será mais próspero e seguro. •

Qual foi o resultado da votação? Depois de semanas de sondagens contradi-tórias, mas sempre a apontar para um resul-tado muito disputado, a opção de deixar a UE - conhecida pela expressão Brexit (exit of Britain) - venceu com 51,9% contra 48,1%. David Cameron anunciou que vai de-mitir-se em Outubro e Jeremy Corbyn po-derá ver o seu lugar também desafiado à frente do Labour. •

4 O Reino Unido está em perigo? A curto prazo não, mas os governos da Ir-landa do Norte e da Escócia, onde o sim ven-ceu, assim como no País de Gales, deram in-dicações de que poderão ponderar referen-

dos para obter a independência de modo a manterem-se na UE. A primeira-ministra escocesa, NicolaSturgeon, disse que vai co-meçar a preparar a legislação necessária para pôr em marcha um segundo referendo sobre a independência da Escócia, daqui a dois anos. O mais recente teve lugar há pou-co mais de um ano.

Outro perigo à espreita para a coesão in-terna do país reside na clivagem geracional. Terão sido os mais velhos, aqueles que têm Mais de 50 anos, os que fizeram pender os pratos da balança para o "Brexit". •

5 E a União Europeia, vai colapsar ou nem por isso? A única certeza é que a pressão para a reali-zação de referendos noutros países euro-peus vai aumentar. Pouco depois de terem sido conhecidos os resultados da consulta no Reino Unido, vários partidos eurocépti-cos renovaram a intenção de os promover. Foi o caso na Holanda, na Suécia, na Finlân-dia e em França, onde Marine Le Pen, da Frente Nacional, é uma candidata forte à vi-tória das eleições presidenciais do próximo ano. •

6 Como vai processar-se este divórcio?

Perguntas e respostas sobre a saída do Reino Unido da UE

Depois do Brexit, a pressão para a realização de referendos noutros países europeus vai aumentar. As incertezas sobre o processo de saída do Reino Unido estão a agitar os mercados e poderão fazer com que os agentes económicos adiem decisões de investimento, mas ninguém antecipa uma recessão profunda. EVA GASPAR

O primeiro passo cabe ao governo britâni-co que, em face dos resultados do referen-do, terá agora de formalizar, invocando o ar-tigo 50 do Tratado de Lisboa, o pedido de saída voluntária do seu país ao Conselho Eu-ropeu (órgão que reúne os líderes dos de-mais Estados-membros). Tal só deve suce-der no Outono, porque David Cameron dis-se que sairá de funções em Outubro e que será já o seu sucessor a desencadear esse processo.

Com o pedido de divórcio entregue em Bruxelas, nada mudará no imediato. Até que se conclua um acordo de saída, o que pode demorar até dois anos e incluir um novo acordo de co-habitação com a UE (tipo Suí-ça ou Noruega, por exemplo), o casamento mantém-se, mas o Reino Unido fica sem di-reito a voto sobre as decisões que lhe respei-tem.

O facto de Londres ter ficado de fora do euro, de Schengen ou da união bancária - os projectos mais ambiciosos - facilita, e mui- _ to, a separação. Mas 43 anos depois, um sex-to da regulamentação britânica decorre da pertença à UE, e há ainda 12.295 regulamen-

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Neli Hall/Reuters

até dois anos e incluir um novo mecanismo de co-habitação, nada mudará no relacionamento entre o Reino Unido e a União Europeia.

tos comunitários de aplicação directa que co-brem áreas tão diversas como as,normas mentares, emissões poluentes ou exigências aplicáveis à banca, que caducarão com o abandono da União.

Nos cálculos do Governo biltánico, não será, por isso, viável sair no prazo de dois anos previsto nos tratados. "Teríamos urna década ou mais de incerteza», antecipa a aná-lise oficial, referindo-se à necessidade de pro-duzir legislação alternativa e de renegociar acordos bilaterais com os demais 27 parcei-ros e com mais de 50 países que têm relações estruturadas com a UE.■

7 Como reagiram os mercados? Como esperado, a reacção mais imediata e severa está a ter lugar nos mercados finan-ceiros, com impactos acentuados no sector

financeiro e nos activos de maior risco -como a dívida portuguesa cujos "juros" re-gistaram o maior agravamento desde a de-missão "irrevogável" de Paulo Portas. Face ao dólar, a cotação da libra chegou a sofrer a maior desvalorização em 30 anos enquan-to o euro registava o maior recuo de sempre. A acção concertada dos bancos centrais tra-vou entretanto a dimensão das perdas. ■

8 Vamos entrar em recessão? A incerteza sobre qual poderá ser o novo quadro jurídico como resto da UE pode le-var os agentes económicos a adiar decisões de consumo e de investimento e levar várias empresas e bancos a reduzir a sua presen-ça, deslocalizando pa'rte da sua actividade para outros países. Mas ninguém antecipa uma recessão profunda. O HSBC, o maior

banco do mundo com sede na City londri-na, espera que a taxa de crescimento seja 1% a 1,5% mais baixa èm 2017 do que em caso de "Bremain". O impacto nos demais países europeus também deverá ser moderado, mas muito depende do quanto a incerteza perdure. No caso mais extremo, o FM' cal-cula um impacto negativo no PIB português de 2017 de 0,5%.ffi

9 Como ficam os portugueses que vivem no Reino Unido? Nada se altera para quem já vive ou quer ir viver nos próximos dois anos no Reino Uni-do, mas o governo português tem vindo a su-blinhar que é conveniente pedirvistos de re-sidência de longa duração. Para quem che-

gou há pouco tempo ou trabalha sem con-trato ainda é mais urgente fazer prova de re-sidência, podendo depois inscrever-se nos cadernos eleitorais.

Segundo a associação Migration Watch UK - que defendeu o Brexit -, os cidadãos europeus já residentes no Reino Unido não serão afectados: os seus direitos e obrigações ficam preservados sob a Convenção de Vie-na do Direito dos Tratados de 1969.

Para os que chegarem pós-UE, a situação será mais complicada e dependerá do enqua-dramento que venha a ser negociado. Uma possibilidade é o Reino Unido sair da União, mas não do Espaço Económico Europeu (EEE) - situação semelhante à da Noruega. Neste caso, a situação não seealteraria de for-ma significativa para os imigrantes europeus porque o mercado comum também integra a liberdade de circulação de trabalhadores. Outra possibilidade, mais provável, é ia Rei-no Unido deixar também o EEE. Neste caso, poderia regulara situação dos imigrantes eu-ropeus através de tratados bilaterais com países ou com a União Europeia. É o mode-lo adoptado pela Suíça.■

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A comunidade portuguesa concentra-se no bairro de Lambeth. O madeirense Hugo Alves já não quer voltar a Londres.

PRIMEIRA LINHA A EUROPA DEPOIS DO BREXIT

REPORTAGEM

"Já fizemos as malas uma vez" A preocupação demonstrada junto do centro de apoio à comunidade lusa não vai correspondendo às conversas de rua em Little Portugal. Entre os emigrantes mais novos não há preocupação mas sim desânimo.

/ ondres reúne dois ti- pos de emigrantes

J portugueses. Uma pc;pulação vinda há

20 ou 30 anos, em muitos casos menos qualificadas e que acabou por se concentrar num triângulo já denominado Little Portugal.

Muitos restaurantes atestam isso mesmo. Muitos queriam ga-nhar dinheiro em Londres para enviar para Portugal, na esperan-ça de um dia voltarem. Mas a cri-se económica nacional acabou por, em alguns casos, fazer o con-trário. A família é que veio para Londres. Mas, claro, que há de tudo. Vivem nesse triângulo, no bairro Lambeth, que foi percen-tualmente em Londres, o que teve mais votos no "remain". Os portu-gueses não ponderam votar, mas as explicações saem facilmente.

Os londrinos, em particular neste bairro, estão habituados aos emigrantes. Em muitos casos são servidos por esses mesmos emi-grantes. E em sã convivência. Em Lambeth, o Remain obteve 78,6% dos votos, só superado pela ex-pressiva votação de 95,9% de Gi-braltar.

Esta é a poptilação que está ansiosa e que tem vindo a pedir mais esclarecimentos. Estão há muitos anos por cá. Também não acreditam que o pais vá correr com eles. A Bloomberg, um des-tes dias, ilustrava a questão da emigração: "quem nos vai servir café?". Muitos vão pensando em regressar. Outros até já o fizeram. Mesmo antes do referendo.

Hugo Alves, madeirense, em-brulhado na bandeira portugue-

sa, pede três libras por um boné de Portuga1.10 libras por uma ca-misola. "E está barata". Horas an-tes do jogo de Portugal, que vai ver junto da comunidade, tenta fazer negócio. Está em Londres. Mas já não vive cá. "Não quero vir mais", assegura, confiante tam-bém de que "este é o pior país para se viver". O custo é grande. O ar-rendamento de um TO pode atin-gir1000 libras. "os preços das ren-das pelo menos devem começar a baixar", diz um outro português, que diz que Londres "é urna vio-lência financeira".

Alcino Francisco, jornalista e

Em Londres o aluguer de um TO pode atingir as mil libras, ou seja, 1.229 euros.

editor do PalopNews, sabe o que é isso. Não é fácil manter um ne-gócio de comunicação social em Londres. Já houve para a comu-nidade portuguesa vários jornais: o Notícias, o Hora H, a Gazeta. 0 PalopNews mantém-se na inter-net. Alcino tem a meio um artigo sobre o Brexit, mas não é isso que os seus leitores procuram. Sobre o Brexit, as notícias surgiram nos jornais nacionais. E todos toma-ram partido neste referendo. Al-cino admite que essa tomada de posição tem influência.

Colados à televisão e agarra-dos ao telemóvel estiveram tam-

bém os jovens portugueses que estão em Londres a trabalhar e a estudar. É a nova emigração. E es-tes estão menos preocupados. Têm trabalho, muitos como en-fermeiros.

Não estão apreensivos. Já fi-zeram uma vez as malas, podem voltar a fazê-la, diz uma portu-guesa de pouco mais de 30 anos. Se não há muita preocupação, há, no entanto, muito desânimo. Como é que o Reino Unido lhes foi fazer uma coisa destas? Aca-bam pór concluir: "e se nos for-mos embora? Quem presta os cui-dados de saúde?". •

ALEXANDRA MACHADO [email protected]

ENVIADA ESPECIAL A LONDRES

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Raquel Oliveira emigrou para o Reino UNido há dois anos e melo.

Uma dose de calma para combater a ansiedade Raquel Oliveira, líder do Centro de Apoio à Comunidade Lusófona, conta que "têm chovido telefonemas". As pessoas querem saber como obter o cartão de residente.

O Centro de Apoio à Comunida-de Lusófona vai começar a fazer sessões de esclarecimento à po-pulação.

Perto de Little Portugal, em Londres, Raquel Oliveira acaba de ser eleita presidente do Centro de Apoio à Comunidade Lusófona. E já antecipa muito trabalho. Afinal, nos últimos dias "têm chovido imensos telefonemas". Em parti-cular para saberem como podem pedir o cartão de residente no Rei-no libido. A partir desta segunda-feira, o Centro vai começar afazer sessões de esclarecimento para as pessoas terem toda a informação, até porque o pedido requer o preenchimento de um formulário de 90 páginas em inglês e acarre-ta custos, diz Raquel Oliveira. Um agregado de quatro pessoas pode-rá pagar até 260 libras para obter esse cartão.

Quem está registado na segu-rança social há mais de seis meses e vive há dois anos pode pedir o cartão de residente provisório. Ao fim de cinco pode pedir o perma-nente. Se tiverem o cônjuge nal-guma dessas situações pode" também, pedir. Os pedidos são ex-tensíveis ao agregado directo.

Se até agora havia muita gen-te que não via necessidade em fa-zer essa mudança de residência, agora o caso pode mudar de figu-

ra, admite Raquel Oliveira que veio para o Reino Unido há dois anos e meio ter como marido, jun-tamente com os dois filhos meno-res. É arquitecta mas começou a prestar serviço voluntário no Cen-tro até chegar à presidência. Já está empregada. E admitiu ao Ne-gócios que alterou agora a mora-da, mas não pelo Brexit. Foram questões que apelidou de logísti-cas que a levou a isso.

"As pessoas têm de fazer con-tas, mas agora pode servantajoso requererem o cartão", diz Raquel Oliveira, salientando, no entanto, que cada caso será um caso. O que tem, no entanto, de ser feito para já é "acalmaras pessoas", ansiosas pela informação que recebem de todos os lados. E as mudanças acontecerão, acredita Raquel Oli-veira, só depois de dois anos.

Já a cidadania britânica, que pode ser pedida só depois de ter a residência permanente e median-te um teste sobre a história do país, escrito e falado. Os custos pode chegar às 1.500 libras. Não é frequente este pedido e Raquel Oliveira acrescenta também que "quando o RU sair da União Euro-peia, também não me parece que a cidadania inglesa possa interes-sas a muita gente", mas tudo de-pende "das regras do jogo". •

ALEXANDRA MACHADO, EM LONDRES

1. A diplomacia inglesa goza do prestígio de ser umadas melhores do mundo. E da fama de saber usar, quase como nenhuma outra, avelha máxima "dividir para reinar". Lem-bre-se que a França de De Gaulle opôs-se por duas vezes à adesão do Reino Unido à então Comunidade Económica Europeia. E, entre as várias razões inteligíveis, anda-va precisamente essa de que os britânicos quereriam entrar com "reserva mental", apenas e só para entravar e controlar (na medida do possível) o processo de integra-

ção. Mesmo no caso da velha aliança anglo-

lusa, a ideia foi sempre a de garantir° prin-cípio "uma península, dois Estados". Que ameaça maior haveria para a potência bri-tânica do que uma península ibérica unifi-cada num só Estado, com as vantagens es-tratégicas de visar o atlântico sul e o norte (e não só o norte) e de ter uma ligação fácil ao continente?Sósustentando um mino se-parado que dominasse a frente atlântica, os interesses geopolíticos britânicos estavam acautelados... Hélas: dividir para reinar.

2. Pois bem,é precisamenteafaltade na-cionalidade política da decisão de saída da União Europeiaquegera umaenormeper-plexidade e que parece pôr em causa essa contante da linha político-diplomática de Londres. Os resultados do referendo mos-tram que o referendo é internamente frac-turánte e estruturalmente divisor. A primei-ra grande divisão que trará feridas dificil-mente curáveis e que podem pôr em jogo a própria sobrevivência do Reino Unido é a divisão regional. O referendo separou a Es-cócia ea Irlanda do Norte da Inglaterra e do País de Gales. E dentro da Inglaterra aden-sou gravemente o fosso entre a Grande Lon-dres e o resto do país. A independência da Escócia tem um novo fôlego, com oportu-

O risco da "desEuropa" está nos umbrais de cada cimeira e de cada sessão de negociação.

PAULO RANGEL Eurodeputado eleito

pelo PSD

nidades de se mate rializarque pareciam di;sipadas nos próximos dez avinteanos.A perspectiva de reunificação das duas Irlan-das é, pela primeira vez, real e, se não ocor-rer, o desmantelamento do processo de paz da Sexta-Feira Santa estará em grave risco. Muitos foram os que se esqueceram que as queixas que Londres tinha de Bruxelas são menos do que os lamentos que Edimburgo e Belfast tinham de Londres.

3.0 segundo grande divisor é geracio-nal: apesar de ainda não haver estudos de sociologia eleitoral sérios, é jáevidente que a população jovem era largamente a favor da inserção na União Europeia e de que as camadas mais velhas eram fortemente apoiantes da saída. A ideia de que as gera-ções mais velhas sequestraram o futuro das mais novas vai deixar sequelas sérias na vida política britânica. A terceira fissura relevan-te

é social e cultural: antolha-se claro, nos

primeiros estudos, que quem tinha uma po-sição social e cultural privilegiada queria manter-se na União: as classes médias bai-xas e baixas dos subúrbios industriais já ca-ducos, com medo da globalização e da imi-gração, votaram maciçamente pela saída São o mesmo exército de Trump e de Le Pen...

4. De há muito que escrevo e que pero-ro sobre esta questão. O risco de aproveita-mento pelos populismos de extrema-direi-ta (França, Áustria, Holanda, Dinamarca) e até de extrema-esquerda (Grécia, Espa-nha e até Portugal) são notórios. O risco de expansão do secessionismo - Catalunha, País Vasco, Pad á'rlia, Flandres, só para dar os exemplos da Europa Ocidental - passa a ser real. A degradação económica e finan-ceira é já uma certeza, só indeterminada na profundidade, extensão e duração. O risco da4`desEuropa" está aos umbraisde cada ci-meira e de cada sessão de negociação.

5. Mas hoje só queria sublinhar um as-pecto e queria olhar mais para o interior do Reino Unido do que para o seu exterior. O Brexit só serviu para dividir dividir territo-rialmente, dividi r geracionalmente, dividir social e culturalmente. Mas desta feita, a di-visão não vai servir para reinar. Como em Hamlet, há algo de podre num Reino e não é - ou não é ainda - o da Dinamarca

OPINIÃO

Brexit: dividir para não reinar

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-6,82%

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350 53 1318

1284 51

49

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285,39 340,38 48,61 48,46 1227,21 1316,94 24.05.16 24.06 16 24 05 16 24.0616 24 05.16 24.06.16

Mibtel (Itália)

lbet-35 (Espanha)

Roo( 600 (Europa)

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1,4636 1,3767 24.05.16 24.06.16

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S&P 500 (EUA)

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PRIMEIRA LINHA A EUROPA DEPOIS DO BREXIT

Bomba rebentou. Onda de choque nas bolsas vai durar

Bolsas em mínimos de vários anos, juros da dívida soberana a disparar. Isto com a libra a tocar níveis de 1985 e o ouro a brilhar. Um efeito colateral do Brexit que, dizem os analistas, vai demorar a passar.

LIBRA ATINGE MINIMOS DE 1985 Evolução da moeda no último més

O surgimento das primeiras notícias de que o Brexit poderia ser o desfe-cho do referendo britânico tiveram na libra a primeira vitima, na madru-gada de sexta-feira. A moeda britâni-

ca caiu mais de 11% e atingiu os valo-res mais baixos em 31 anos face ao dó-lar. Ao longo da negociação travou as perdas, mas desceu mais de 7%.

BOLSA ITALIANA LIDEROU AS QUEDAS Variação na sessão de sexta-leira

Numa sessão de quedas generaliza-das entre as principais bolsas mun-diais, a italiana acabou por registar a queda mais expressiva. Cedeu 12,48%. Também a espanhola caiu

mais de 12% e registou a maior que-da diária de sempre. O português P5I--20 perdeu 7% e passou a negociar

em mínimos de 1996.

PRÉMIO DE RISCO DE PORTUGAL DISPARA Evolução do prémio de risco no último més

Depois do alívio registado nas sessões anteriores, à boleia das sondagens que apontavam para a permanência do Reino Unido na União Europeia, o prémio de risco da dívida portugue-

sa face à germânica disparou. Regis-tou a maior subida diária desde 29 de Junho do ano passado. Atingiu os

340,38 pontos.

PETRÓLEO AFUNDOU QUASE 7% Evolução do Brent no ultimo més

O petróleo não resistiu à fuga ao ris-co que marcou a última sessão da se-mana passada e partilhou a tendên-

cia negativa da maioria das matérias--primas. Depois da recuperação das

sessões anteriores, o Brent voltou às perdas e chegou a perder quase 7%. Caia 4,8% para os 48,46 dólares, à

hora de fecho desta edição.

OURQ VIVE MELHOR SESSAO DESDE 2008 Evolução do metal no ultimo mês

Com a fuga generalizada a activos de risco, acabaram por beneficiar os ac-tivos percepcionados como mais se-

guros. Foi o caso do ouro que chegou a avançar mais de 8% na sexta-feira

e viveu mesmo a melhor sessão des-de 2008. Tocou em máximos de Mar-ço de 2014. No último mês. o metal

apreciou mais de 7%.

Fonte: Bloomberg Fonte: 8100mberg Fonte: Bloomberg Fonte: Bloomberg Fonte: Bloomberg

PAULO MOUTINHO RAQUEL GODINHO ANDRÉ TANQUE JESUS

Brexit caiu que nem uma bomba nos mercados. Arrasou com a libra, afun-dou as bolsas mun-

diais e ditou perdas nas matérias--primas, trazendo à memória dos in-vestidores os piores dias da crise fi-nanceira. A fuga ao risco foi genera-lizada perante o desconhecido: uma saída do Reino Unido da União Eu-ropeia. Um cenário impensável que, ao tornar-se realidade, se prepara para ter ondas de choque intensas e,

dizem os analistas, duradouras. Enquanto a libra chegou a nego-

ciar em mínimos de 31 anos, nos mercados accionistas houve praças com perdas de dois dígitos - a bolsa espanhola sofreu a maior queda diá-ria de sempre. Em Lisboa, num dia em que os juros da dívida dos países da periferia dispararam, o PSI - 20 perdeu 6,99% para regressar ao pas-sado: recuou até 1996. A banca foi o detonador da bomba que rebentou nos mercados, dizimando também as matérias-primas.

"Sectores como o financeiro, mais alavancados à economia do Reino Unido poderão continuara re-gistar desempenhos inferiores aos do mercado", diz o UBS. Mas o Bre-xit, só por si, "levará a quedas nas ac-ções mundiais e noutros activos de

risco", refere a BlackRock. Isto por-que, nota o BofA/Merri II Lynch, o que estamos, e vamos continuar, a ver é "tun evento de venda generali-zada", com todos os investidores a fugirem de tudo o que apresente ris-co para as suas carteiras. "Prevemos que uni número de activos de refú-gio serão impulsionados pelo resul-tado do referendo do Reino Unido lio curto prazo", diz a Pictet. O Ouro viveu a melhor sessão desde 2008.

Continuará, neste sentido, a ha-ver "volatilidade nas moedas e nas acções", alerta o UBS, isto pelo me-nos "até haver uma melhor com-preensão acerca das consequências da decisão do Reino Unido". I ndefi-n ição que gera tensão, algo que os bancos centrais mundiais estão a tentar conter. Mas, "ainda que os

bancos centrais actuem rapidamen-te para manter o mercado a funcio-liar, as implicações nas cotações se-rão enormes, generalizadas e repen-tinas", alerta o Gold man Sachs.

Periferia na mira O cenário de "guerra" nos merca-

dos não deixa ninguém incólume, mas Fará mais baixa~ na periferia aler-tam os analistas. "O que é mau para as acções é normalmente mau para o crédito", diz a Allianz Global I nves-tors. Se na Alemanha os juros chega-ram a negativo a 15 anos, dispararam ruis restantes países. " Prevemos uma subida dos prémios de risco no mer-cado de dívida, especialmente entre os emitentes da periferia que são vis-tos como mais vulneráveis ao contá-gio ", diz a gestora alemã..

A instabilidade nos mercados deverá continuar, COM os investidores a evitarem especialmente os activos da periferia da Zona Euro.

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TOME NOTA

O que dizem os especialistas sobre o futuro dos mercados

BOLSA

PSI-20 de regresso a 1996, ano do "chapéu" de Poborsky

Contra as expectativas de investidores e especialistas, o Brexit venceu

e, por isso, a reacção imediata é de ajustamento de carteiras. O grande

toco está nas acções britânicas com dependência da libra, já que deve-

rão ambas liderar as quedas. Já a dívida alemã deverá sair beneficiada.

O PSI-20 atingiu na sessão de sexta-feira o valor mais baixo desde 1996. A última vez que o índice esteve tão baixo ainda se compravam e vendiam títulos de viva voz na sala de negociação da bolsa portuguesa.

ALLIANZ GI: PREPAREM--SE PARA QUEDAS A CADA MA NOTÍCIA A Allianz Global Investors aponta

que "algumas cotadas no Reino

Unido evoluirão razoavelmente

bem", mas não as que dependem

muito da libra. E diz que, "apesar de a salda de liquidez imediata

dos preços dos activos do Reino

Unido poder estabilizar após uma

ou duas semanas, os investidores

devem preparar-se para quedas

extremas sempre que houver da-

dos económicos desfavoráveis, ou

quando os desenvolvimentos po-líticos seguirem o seu curso".

BLACKROCK: VENDAS EM MASSA PODEM CRIAR OPORTUNIDADES A BlackRock prevê "um euro fra-

co e pressão nas acções euro-peias, no crédito e nas obrigações

da periferia". A maior gestora de

activos do mundo antecipa que o

Brexit "levará a quedas nas ac-ções mundiais e noutros activos

de risco". Ainda assim, a "venda indiscriminada poderá traduzir-

-se em oportunidades".

FIDELITY: BANCA E CONSTRUÇÃO ENTRE OS MAIS PENALIZADOS A Fidelity diz que o Brexit causa-rá "pressão negativa nas acções do Reino Unido, especialmente

choques no sector financeiro e nos que estão mais dependentes dos migrantes da União Euro-

peia", como é o caso da constru-ção e alojamento. Por outro lado,

diz a gestora britânica, "a pressão será menor nas empresas do Rei-

no Unido que têm maiores ganhos cambiais".

GOLDMAN SACHS: VOLATILIDADE CAMBIAL VAI CONTINUAR O Goldman Sachs acredita que "a

maior volatilidade cambial é pro-

vável que continue". A expectati-

va do Goldman Sachs é de fuga ao

risco em massa, o que beneficia-

rá o dólar, ao passo que a libra e

o euro desvalorizam. Refúgio se-

rão também o franco suiço e o

iene. Além disso, "a crescente convicção dos mercados, de que o

Reino Unido votaria para ficar na

UE, deverá espoletar uma imedia-

ta mudança para [dívida com

maior] segurança".

PICTET: BCE PODERÁ INTERVIR PARA • ESTABILIZAR A DÍVIDA A Pictet prevê que "a volatilidade

aumentará significativamente,

apesar das intervenções dos ban-

cos centrais, e os activos de risco ficarão sob pressão". Para a ges-

tora de activos suíça. "as taxas de juro das obrigações alemães de-

verão cair ligeiramente, acompa-

nhadas por uma subida dos juros

na periferia da Zona Euro". No en-tanto, conclui, "o BCE poderá in-

tervir para estabilizar o mercado

de dívida".

UBS: A ÚNICA CERTEZA É MAIS INCERTEZA

UBS aponta que "a reacção no mercado cambial, com a libra a

cair 9% no inicio da negociação, provavelmente será uma boa in-dicação da tendência nos próxi-mos dias". O banco suíço prevê

que continuará "a volatilidade nas moedas e nas acções, até haver

uma melhor compreensão acerca das consequências da decisão do Reino Unido", antecipando que a libra negociará em torno dos 1,30

dólares. Mas essa desvalorização deverá contrabalançar parte das

quedas das acções, com os secto-res financeiro e de consumo dis-

cricionário sob pressão. "A única certeza é mais incerteza", conclui o banco de investimento.

EM 1996, AINDA SE GRITAVA COMPRA E VENDE EM LISBOA A bolsa portuguesa de hoje é.muito

diferente do que era há duas décadas.

A negociação ainda se podia fazer de

viva voz no "trading floor". 1996 foi

o último ano em que foi possível ne-

gociar à antiga na bolsa portuguesa.

Nesse ano, o mercado de capitais por-

tuguês era composto por grandes em-

presas, entre elas PT, Cimpor, Sonae,

BCP, BPI, BES, Jerónimo Martins, Con-

tinente. E até conseguiu atrair novas cotadas, com a entrada da Telecel. Ac-

tualmente há menos cotadas de gran-de dimensão. E o PSI-20 tem apenas

18 cotadas. Em 1996, o índice ganhou

32,08%. Em 2016, leva uma perda de

17,9%.

SAMPAIO E CAVACO NA LUTA PELA PRESIDÊNCIA O antigo primeiro-ministro Cavaco

Silva candidata-se à Presidência da República após ter sido batido nas le-gislativas de 1995. Mas perde a elei-ção do início de Janeiro logo na pri-

meira volta, para Jorge Sampaio. Ca-vaco haveria de voltar a tentar con-quistar Belém, assumindo a presidên-

cia entre 2006 e 2016. E, nesse escru-tínio em 1996, houve outro candida-to que continua bem activo na vida política, o actual líder do PCP, Jeróni-mo de Sousa.

O MELHOR RESULTADO DE SEMPRE NA EUROVISÃO 1996 foi quase ano de glória para Por-

tugal no Festival Eurovisão da Canção.

A representante portuguesa foi Lúcia

Moniz, com a música "0 meu coração

não tem cor". Ficou em sexto lugar, a

melhor classificação de sempre de

Portugal na competição.

4.175 P51-20 O PSI-20 atingiu um mínimo de 4A75 pontos durante a sessão de sexta-feira. Um patamar que não se via desde 1996 e bem longe do máximo de 15 mil pontos alcançado em 2000.

O ANO DO ADEUS DO ESTORIL À FÓRMULA 1 Há 20 anos, realizou-se o último Gran-

de Prémio de Fl no Autódromo do Es-

toril. A corrida foi vencida por Jacques Villeneuve, da Williams-Renault, sen-

do que Pedro Lamy, na Minardi-Ford, ficou a cinco voltas.

O DIVÓRCIO REAL NO REINO UNIDO Após alguns anos de separação, o

príncipe Carlos e a princesa Diana ofi-cializaram o divórcio. Vinte anos de-pois, do Reino Unido veio mais uma noticia de choque. É o próprio pais que

decide divorciar-se da União Europeia.

O DESAPARECIMENTO DE FRANÇOIS MITTERRAND François Mitterrand, Presidente fran-

cês entre 1981 e 1995, chegou a ser

considerado pela Comissão Europeia

como um dos "mais influentes prota-

gonistas e defensores da causa euro-

peia". Vinte anos após o seu faleci-

mento, o projecto europeu recebe um

duro golpe com a decisão do Reino

Unido de sair da União Europeia.

O "CHAPÉU" DE POBORSKY A VÍTOR BAÍA NO EURO 96 Há vinte anos, Portugal regressou aos

grandes palcos do futebol mundial no

Europeu de... Inglaterra. A Selecção

deslumbrou na fase de grupos e che-

gou a bater a Croácia por três a zero.

Mas seria eliminada nos quartos-de--final frente à República Checa com

um "chapéu" de Karel Poborsky a Ví-tor Baia. o golo do extremo, que iria

assinar pelo Benfica, foi eleito o me-

lhor do torneio.

O ANO DO LANÇAMENTO DO DVD Há 20 anos, a última grande invenção

no armazenamento de dados era o DVD. A tecnologia foi lançada no Ja-pão pela Toshiba, mas tem vindo a perder popularidade e pode seguir o caminho do VHS.

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Mário Centeno garantiu que Portugal tem financiamento assegurado para um ano.

PRIMEIRA LINHA A EUROPA DEPOIS DO BREXIT

Dívida da periferia em estado de alerta com fuga ao risco

Portugal tem financiamento assegurado até meados de 2017

Abriram os mercados e os juros da periferia dispararam. O Brexit caiu com estrondo nos investidores, que fugiram do risco. Já a dívida alemã viu as taxas negativas chegarem até aos 15 anos.

Mário Centeno diz que o país está preparado para as perturbações de mercado. A Comissão Europeia alerta para a redução da "almofada".

Miguel Baltazar

ANDRÉ TANQUE JESUS [email protected]

oucos acreditavam

p que viesse a aconte-cer. Mas o Brexit ga-nhou o referendo e o resultado caiu com

estrondo entre os investidores. A fuga ao risco na dívida soberana foi imediata e penalizou sobretudo a periferia da Zona Euro. O alerta soou, por isso, em Portugal, Espa-nha e Itália, que lideraram as subi-das em flecha dos juros. Já a Ale-manha brilhou na procura por re-fúgio, com os juros negativos a alastrarem à dívida a 15 anos.

Durante a madrugada foi co-nhecido o que poucos queriam ou-vir do lado de cá do Canal da Man-cha: o "Leave" ganhou e, por isso, o Reino Unido vai sair da União Europeia E mal os mercados abri-ram, as ondas de choques espalha-ram-se. Em menos de meia hora, a taxa de juro das obrigações a dez anos de Portugal tocavam num máximo de 3,710%, traduzindo uma subida de 62 pontos base.

A tendência era semelhante em toda a periferia. As "yields" a dez anos de Espanha e Itália dispa-raram, respectivamente, um má-ximo de 36 pontos e 41 pontos. O decorrer da sessão trouxe mais cal-ma. mas mesmo assim ninguém escapou às fortes subidas. A taxa a dez anos de Portugal subiu 26,7 pontos para 3,357%, com o prémio de risco a disparar para 340,4 pon-tos. Já a "yield" de Espanha avan-çou 16,5 pontos para 1,632%, ao passo que a deltál ia fechou a subir 15,7 pontos para 1.557%.

Aganhar ficaram os países mais robustos da Zona Euro, com osju-ros da Alemanha a afundar. E não só a taxa a dez anos voltou para ne-gativo, como a dívida a 15 anos es-treou-se com o sinal de menos. Atingiu os -0,107%, a beneficiar da procura por refúgio. Também aqui a tendência amenizou e os títulos fecharam a cair 16,6 pontos para 0,023%. Já a "yield" a dez anos re-cuou 14,0 pontos para -0,0475%.•

62 JUROS DA DÍVIDA A taxa de Portugal a dez anos disparou um máximo de 62 pontos base. Fechou a subir 26,7 pontos para 3,357%.

Portugal não está preocupado com a tensão nos mercados de dívida Mário Centeno, o minis-tro das Finanças, estáconfiante na adequação do país para en-frentarperíodos de stress como o Brexit. Há dinheiro em caixa Há uma almofada, masa Comis-são Europeiaalertaque essa está a ficar mais pequena

"O Tesouro português tem um colchão, uma almofada fi-nanceira que cobre aproxima-damente metade das necessida-des de financiamento do próxi-mo ano." A afirmação foi feita por Mário Centeno, à TSF, an-tes de conhecidos os resultados do referendo em que os britâni-cos votaram pela saída do Rei-no Unido da União Europeia

Mas no mercado, os juros da dívida soberana portuguesadis-pararam em todas as maturida-des perante o Brexit. Os investi-dores fugiram em massa dos ac-tivos de risco.A dívida portugue-sa foi uma das mais penalizadas, com a taxa das obrigações a dez anos a disparar para 3,357%. Mas chegou a tocar nos 3,71%.

É a "formulação adequada para um país estar preparado para perturbações que possam acontecer nos mercados e que o afectem", acrescentou Cente-no. Portugal planeia fechar o ano com uma almofada de 6,6 mil milhões de euros, um valor que a Comissão Europeia con-siderou arriscado em Abril.

"A posição de caixa tem vin-do a reduzir-se desde o fim dase-gunda visita pós-programa e, no fim de 2016, a almofada de di-nheiro deverá ser muito menor que no final do programa", ava-liaram os técnicos da Comissão

66 O Tesouro português tem um colchão, uma almofada financeira que cobre aproximadamente metade das necessidades de financiamento do próximo ano.

É a "formulação adequada para um país estar preparado para perturbações que possam acontecer nos mercados e que o afectem". MÁRIO CENTENO Ministro das Finanças

Europeia no final da segunda vi-sita pós-programa. "Esta é uma almofada muito menor do que a do final do programa (cerca del5 mil milhões de euros), quando a dimensão da almofada cobria pelo menos12 meses de horizon-te de financiamento.A actual di-mensão reduzida da almofada poderá cobrir apenas seis meses de horizonte de financiamento", diz o relatório. • RPJ/CAP

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Neil Hall/Reuters

encontra a construção europeia faz lem-brar aqueles problemas de xadrez que os jornais costumam publicar, emqueas pe-ças surgem colocadas no tabuleiro apre-sentando urna situação aparentemente desequilibrada, de forma a colocar ao jo-gador um desafio complicado mas em que, bem vistas as coisas, é possível en-contrar um movimento ganhador: "as brancas jogam e ganham", é o que anun-ciam esses intrigantes problemas. Algo de semelhante se passa hoje com oproje-to europeu: embora o jogo pareça perdi-do, a União Europeia pode ter um futuro ganhador seus líderes europeus soube-rem responder com o movimento certo.

Deste ponto de vista, a negociação da saída do Reino Unido da União Europeia, ao abrigo do agora famoso Artigo 50.° do Tratado de Lisboa, embora importante. é uma parte menor da equação. Sem con-ferir ao Reino Unido um estatuto espe-

cial que funcionecomoincentivoaoutras • saídas, será preciso encontrar, com prag-

matismo, um quadrode relacionamento vantajoso para ambas as partes, poten-ciando os benefícios do Mercado Unico e acautelando os interesses dos cidadãos europeus (muitosdosquais portugueses) que residem do lado de lá do canal da Mancha. Porém, aquestão decisiva é ou-tra: o que é que a União Europeia tem a dizer sobre o seu próprio futuro?

Para corresponder aos anseios dos cidadãos, a resposta europeia precisa, antes de mais, de reencontrar e reafir-mar aquilo que une e dá sentido ao pro-jeto europeu: na base, os valores do hu-manismo e da democracia; nos desíg-nios, a tripla ambição de paz, de prospe-ridade e de convergência Uma Europa de regras rígidas, impostas por burocra-tas à força de sanções injustas e contra-producentes; uma Europa com uma

moeda única inacabada, geradora de no-vas assimetrias e apesar disso hesitante entre o fantasma do "risco moral" e asu-jeição à especulação financeira; uma Eu-ropa de credores e devedores, à medida do interesse de uns contra os interesses da periferia; urna Europa ainda de mãos atadas, oito anos depois do início da cri-se, para responder de forma drástica ao drama do desemprego - essa Europa precisa de mudar, e mudar bastante, se quiser superara sua atual crise de resul-tados e dar uma resposta adequada. A meu ver, essa resposta passa por um mo-vi mento duplo: por um lado, um novo impulso para a democracia nas institui-ções europeias; por outro, um novo im-pulso para a prosperidade e para a con-vergência nas políticas. Em breve sabe-remos se os líderes europeus têm a luci-dez suficiente para encontrara solução ganhadora ■

PRIMEIRA LINHA A EUROPA DEPOIS DO BREXIT

PEDRO SILVA PEREIRA f odiiputado

cio PS

O terramoto político do "Brocit" - que se anunciava desde a vitória do UKIP nas eleições europeias e se tomou iminente com a divisão no Partido Conservador -abalou profundamente os alicerces da construção europeia, mas nãoécertoque tenha provocado danos estruturais irre-paráveis. Perigosas, a sério, são as previ-síveis réplicas nos vários países europeus-onde se avolumam ondas populistasexe-nófobas, quasesempre lideradas pela ex-trema-direita nacionalista, porvezes em aliança objetiva com movimentos anti-sistema e uma certa esquerda soberanis-ta.

Ainda que mais pobre e mais fraca, uma União Europeia capaz de se reen-contrar com os seus valores e o seu pro-jeto pode certamente resistir à saída do mais renitente dos seus membros, mes-mo tratando-sede uma poderosa eéono-mia, com assento no G7 e direito de veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas, mas sem dúvida sucumbirá se, depois do terramoto britânico, for asso-lada por um Tsunami referendário ou eleitoral que, em nome das democracias nacionais, proporcione noutros países o triunfo das ilusões soberanistas e prote-cionistas - e com elas a vitória da lógica do egoísmo, com a qual não haverá futu-ro para o projeto europeu.

E por falar em futuro, não percamos de vista o passado: mais do que uma pre-cipitação, é um erro decretar, como al-guns já se apressam a fazer, que a União Europeia é "um projeto falhado", como se a construção europeia, apesar das múl-tiplas crises que hoje enfrenta, não tives-se dado a uma Europa dilacerada por guerras e horrores o bem inestimável de décadas de paz, cooperação solidária, prosperidade, proteção social e qualida-de devida para os seus cidadãos. Dito isto. é preciso dizer também que não menos errado seria pretender responder ao de-safio colocado pelo "Brexit" e pelas cres-centes pulsões nacionalistas apenas de li-vros de História na mão e entoando os acordes do "Hino daAlegria", como se não fosse preciso dar uma resposta política forte, que faça sentido para a vida dos ci-dadãos.

A complexa encruzilhada em que se

OPINIÃO

Depois do terramoto

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1,4885 23.06.2016 21h00

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LIBRA COM PIOR SESSÃO DE SEMPRE

A libra ainda valorizou na noite de quarta-feira, com a divul-

gação de sondagens que davam a vitória ao Bremain no re-

ferendo em que os britânicos foram chamados a dizer se que-

riam ficar ou sair da União Europeia. Mas à medida que se

percebeu que o resultado do referendo era o oposto a divi-sa britânica coiapsou, vivendo a pior sessão de sempre.

RUI BARROSO

[email protected]

izer que [o Brexit] foi um choque para os mer-cados finan-

ceiros é dizer pouco. E quem quiser um sumário numa única linha basta olhar para o desempenho da libra", referiram os analistas do Deustche Bank numa nota divulgada logo no início da sessão de sext4-feira.

E não foi caso para menos. "As-sistimos ao maior colapso diário da libra na era moderna", constataram os analistas do C.ommerzbank. A di-mensão da quebra foi maior do que em 1992, quando George Soros que-brou o Banco de Inglaterra ao apos-tar na quebra da libra, obrigando o Reino Unido a sair do mecanismo europeu de taxas de câmbio. Nessa

quarta-feira negra de 1992, a libra tinha descido cerca de 4%. Na pas-sada sexta-feira, a divisa britânica chegou a derrocar 11,08% face ao dólar, a maior queda de sempre e um mínimo de três décadas: 1985. Acabaria por refrear essa queda para 7,43% para 1,3771 dólares.

Mas a libra não protagonizou a única grande oscilação no mercado cambial, numa sessão de caos no mercado cambial. Os investidores procuraram refúgio no iene, no dó-lar norte-americano e no franco suí-ço. Em relação à moeda única, a di-visa nipónica avança 5,95%. Cada euro vale 114,03 ienes. Mas o iene esteve a valorizar mais de 10% e foi mesmo, entre as maiores divisas, a que mais avançou na última sessão da semana passada.

Antes de se conhecer° resultado do referendo, os analistas já anteci-pavam que em caso de Brexit o iene

saísse beneficiado. E mesmo a ameaça das autoridades japone-sas em intervir

66 Assistimos ao maior colapso diário da libra na era moderna. EQUIPA DE RESEARCH DO COMMERZBANK

para mineras subidas foram insufi-cientes para travar os ganhos.

Outro dos portos de abrigo cm tempos de instabilidade é o franco suíço. A moeda helvética ganhou 0,77% face à moeda única, nego-ciando em 0,9213 euros. Também o dólar valorizou, apesar da queda a pique da probabilidade da subida das taxas de juro por parte da Reser-va Federal dos EUA ainda este ano. A "nota verde" ganhou 2,01%, nego-ciando em 0,8962 euros. ■

Caos no mercado cambial. Libra colapsa, iene dispara

Em 1992, George Soros quebrou o Banco de Inglaterra. Mas a libra caiu bem mais na última sexta-feira do que quando foi alvo do ataque dos especuladores que derrotaram o banco central. Recuou a níveis de 1985.

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1985 MÍNIMO A libra atingiu o valor mais baixo desde 1985 na sessão de sexta-feira com a votação no referendo ditar a saída da UE.

LIBRA CHEGOU A PERDER 11% A libra chegou a perder 11,08% para 1,3229 dólares na passada sexta-feira. Foi quase o triplo da queda registada na quarta-feira negra de Setembro de 1992, quando o Banco de Inglaterra teve de abandonar o mecanismo europeu de taxas de câmbio.

1,3771 24-06-2016

17h50

Fonte: Bloomberg

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PRIMEIRA LINHA A EUROPA DEPOIS DO BREXIT

OPINIÃO

Many Thanks to the English Working Class JOÃO RODRIGUES

Professor Auxiliar da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, Investigador do Centro de

Estudos Sociais e co-autor do blogue Ladrões de Bicicletas.

P eço desculpa ao leitor pelo título em in-glês. Sei bem que o inglês e os anglicismos são uma praga evitáveL Trata-se apenas deuma singela homenagem à maioria do povo britaiico, que teve a coragem devo-tar pela mudança no referendo à União Europeia (UE). Urna homenagem aos mais velhos, aos mais pobres, às classes trabalhadoras, aos de baixo. É que não é preciso ser instruído para dar uma lição. Eque liçãoesta, a que foi dada às elites po-líticas, económico-financeiras, aos de cima, numa sociedadecausticada pelapo-larização social e regional, feita de vence-dores e de vencidos da globalização neo-liberal, o outro nome da UE realmente existente neste continente. Não creio que aprendam alguma coisa, no entanto, a.. avaliar por tantas reacções arrogantes.

Quem faz esta homenagem vive, como o leitor, na Europado Sul, neste rec-tângulo castigado pela austeridade im-posta por Bruxelas, numa moeda única que nunca nos serviu, comandada por Frankfurt vive numa economia estagna-da há quase duas décadas, e endividada externamente em montantes recorde, umaamnbinação sem precedentes histó-ricos. Tudo isto acontece também porque as elites portuguesas aderiram acritica-mente à ideia do pelotão da frente, abdi-cando de instrumentos de política econó-mica num processo nunca referendado. As elites portuguesas dominantes tive-ram um papel crucial em transformar Portugal num indicador avançado da cha-mada estagnação secular, fenómeno que marca o capitalismo nas suas fases mais desiguais e financeirizadas.

Repare o leitor que durante a campa-nha do referendo britânico, a Europa do Sul, com o seu desemprego de mascas, foi invocada por alguns defensores da saída, pelos que tinham boas razões para tal, como o melhor exemplo do que é a UE: uma ordem pós-democrática, que esva-ziou a soberania dos parlamentos e que não a substituiu por nada que fosse com-petente e decente. Os britânicos levam a sério este problema Chamam-lhe demo-cracia e quiseram recuperá-la de forma mais integral, quiseram ter um maior

controlo sobre a suavida colectiva. Não se esqueça o leitor que tiveram e

têm de enfrentar o chamado projecto medo, comandado por economistas, os mesmos que garantiam antes da crise fi-nanceira, iniciada em 2007-2008, que vi-víamos na grande moderação, que os mercados financeiros liberalizados eram o alfa e ómega do progresso e que o eum era aboa moeda para a UE (dois terços dos economistas britânicos inquiridos defen-deram tal posição em 1999). Este referen-do assinalou o merecido descrédito pú-blico da economia convencional. Garan-tiram e garantem que seria o caos. Esque-ceram-seque, para os de baixo, o caos é há muito o outro nome das suas vidas.

O leitor sabe que agora é "ai", que as agências vão descera notação; "ui", que a Grã-Bretanha vai ficar mais pobre por causa da desvalorização da libra As agên-cias de notação são irrelevantes para Es-tados monetariamente soberanos e que

estão endividados na sua própria moeda As taxas de juro relevantes são determi-nadas pelo Banco Central e nunca, repi-to, nunca, há problemas de insolvência para Estados deste tipo. Os que operam no« mercados no tinido sabem isso. Quanto à desvalorização da libra, desde que esta seja controlada, e sé-lo-á, tam-bém pelaacção dasfon;asde mercado, en-quadradas pela natural cooperação entre bancos centrais, pode ser um estímulo para a economia britânica, como foi du-rante a crise, ajudando-a num ajustamen-to há muito visto como necessário: desfi-nanceirizar, reduzindo o peso da City, e promover sectores mais produtivos. Para isso, ajudará a maior margem de mano-bra, por exemplo eni termos de política industrial, obtida, a prazo, graças à saída da UE. Mas isso não é o mais importante: mais liberal ou menos liberal, será ainda mais o parlamento a decidir formalmen-te. O leitor sabe que isso se chama demo-

Neil Hall/Reuters

cracia e ainda se lembra como foi por cá, num breve período, antes de as regras do mercado interno fazerem sentir todos os seus efeitos, e sobretudo antes do curo. Pelo menos nessa altura convergíamos oom as economias europeias.

E agora o leitor pergunta: e nós? Nós precisamos de aprendercomo nosso mais velho aliado. O quê? Que o pelotão dafren-te não nos serve: precisamos de sair do eum de forma negociada, idealmente, e, entre outras, obter excepções às regras do mercado interno. Em suma, recuperar instrumentos de política industrial, co-mercial, cambial ou orçamental. Tudo numa UE de geometria variável, de menu, com menos poder de Bruxelas e mais po-der dos Estados. Caso contrário, o nosso futuro será mais do mesmo: declínio das forças produtivas da nação, da energia vi-tal de um país esvaado. O lei tor não quer isso, eu sei. Tem, temos, é de ter a coragem de querer o caie tanta falta faz.ei

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PRIMEIRA LINHA A EUROPA DEPOIS DO BREXIT

REPORTAGEM

Cartão vermelho para a União Europeia, mas não para a Europa Os britânicos decidiram. Querem sair da União Europeia. O dia seguinte foi vivido com alegria e tristeza. Mas sem certezas quanto ao futuro

ALEXANDRA MACHADO

amachado©negocios.pt

ENVIADA ESPECIAL A LONDRES

44 D todos são á Europa que

bem- vindos". "0 Rei- no Unido não é anti-europa".

"Eu amo a Europa". A decisão esta-va tomada.Masaoonversacom uma jornalista portuguesa, membro da União Europeia (UE),acabava sem-pre no mesmo sítio.

Clare Dimyon, que orgulhosa-mente agita uma bandeira da UE com as estrelas pintadas com as co-res do arco-íris e que bate no peito onde tem a medalha da condecora-ção real - a primeira, diz, para uma defensoradosdireitos LGBT (lésbi-cas, gays, bissexuais e transexuais) - no diado Pride London,é talvezdas mais efusivas. "Sou europeia de alma e coração", diz aoNegócios,assumin-do que quando soube o resultado do referendo chorou. "Não queria acre-ditar", diz esta mulher que vive com uma polaca Vai dizendo que nãoes-pera a expulsão dos que vivem no Reino Unido, que, aliás, acrescenta, "tem beneficios por os ter cá". E pa-gou-lhes formação. Esse dinheiro não conta quando se faz o balanço económico de um Reino Unido na UE, questiona

A campanha do "Leave" bateu muito na tecla de que a UE custava 350 milhõesde euros porsernanaan Reino Unido, dinheiro, diziam, que será destinado ao sistema nacional

O sim ao Brexit teve reacções para

todos os gostos. Franue f alemã fala de uma dedslio horrível.

SIM« Rkhards (na foto ao centro)

presidente da Freedom assoclation,

pediu a demissão de Cameron e teve-a. Jacob Rety apoia o contestado lidar Trabalhista. Jimmy Corbyn.

de saúde. Depois da vitória do Lea-ve, Nigel Farage, o líder do Ukip, o partido eurocéptico,já admitiu que poderia não ter todo esse destino.

Mentiram? Os inglesesquestio-nam agora. Há uns anos, se um pri-meiro-ministro tivesse sido apanha-do nas malhas do Panama Papers ter-se-ia demitido na hora, dizem outros, mas expressar maisdesagra-do com o que dizem ser o "establishe-mem". Foi contra este que boa par-te votou. John (pode ser John, diz quando se pergunta pelo nome) vo-tou "Remain". Foge a grandes con-versas, mas também não tem dúvi-das de que "o jogo arriscado"que Ca-meron jogou "torna-nos fracos. Não temos líderes". Os dois principais partidos estão em guerra interna. Cameron demitiu-se, sairá em Ou-tubro. Corbyn não se demitiu até ao momento, mas a sua liderança está a ser questionada internamente.

Com os dois partidos divididos, falta saber quem vai negociar com Bruxelas o novo acordo e quem, an-tes, vai accionar o artigo 50 do Tra-

tado de Lisboa que admite a saída de um Estado-membro. Boris Johnson vai-se posicionando, mas nas ruas a sua figura não é consensual, mesmo paraaquelesquevotaram pelo"Lea-ve". Mas onde alguns vêem populis-mo, outros vêem autenticidade. E uma rupturacomo passado. Foi para isso que o Reino Unido votou pelo "Leave" diz Martin Branley, enfer-meiro, e que assume tervotado pelo "Leave", mesmo não sendo anti-eu-ropeu. Foi um voto de protesto con-tra o totalitarismo da UE. Uma ideia deixada por muitas pessoas que aca-bam pordizer, a uma jornalista por-tuguesa,queeste Brodtaté pode aju-dar países como Portugal, que sofre-ram a austeridade de Bruxelas.

É esta reforma da União que o Reino Unido já fora dela diz querer pressionar. Ninguém assume que-rer menos emigrantes, até elogiam o seu papel. Londres votou, maiori-tariamente, pelo "Remain". É uma cidade multicultural e diversa "Da-mos as boas-vindas aos estrangei-ros". Também é uma cidade com

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Corte: 18 de 27ID: 65035172 27-06-2016TOME NOTA

Os efeitos do Brexit

Além do impacto económico, os britânicos admitem

outras consequências da sua decisão de abandonar

a União Europeia. Veja quais.

muitos jovens, a franja que mais votou pela permanência Os mais velhos optaram pelo Leave.

Elizabeth saiu à rua, na noite do referendo, mesmo quando ain-da se acreditava que o Remain ga-nharia - Nigel Forage tinha ele pró-prio assumido derrota. Queria mostrar ao mundo: "Love Euro-pe, Leave the EU" (Amara Euro-pa, Deixar a UE). Os britânicos mostraram o cartão vermelho à União, com consequências impre-visíveis. Poucos arriscum traçar o futuro. Um futuro que registará. a contra gosto para muitos, o papel de David Cameron. Terá o seu lu-gar nos lims. O Reino Unido será

o primeiro país a sair da União,que ficará, até ver, a 27. Uns comemo-ram. Buzinam. Gritam. Outros fe-cham o semblante. Choram. Com-param o acontecimento à queda do Muro de Berlim. O "dayafter" foi de anestesia O processo está agora a começar. O choque nos mercados, diz iungestorfinancei-ro, vai perdurar. Não vai ser tão mau como dizem, contrapõe ou-tro. Para já o tombo foi grande. Mas foi, diz um estrangeiro que não vê no Brexit o apocalipse, uma demonstração de democracia "Todos os presidentes dos bancos, todos os presidentes das empre-sas cotadas na bolsa, todos czs

partidos, todos os líderes mundiais, o G10, os empresários com sucesso mundial falaram a fa-vor do "Remain". Apesar de todo o mundo ter dito que o Brexit ia ser uma desgfaça,o povo britânico vo-tou a favor da saída É um sinal de democracia".

Uma mensagem que muitos passam, apesar da petição a favor de um outro referendo ir já com mais de dois milhões de assinatu-ra. Clare Dimyon, apesar do seu apoio ao "Remain" não queroutro referendo, mas tem já um novo so-nho: "o regresso do Reino Unido à União Europeia durante a minha vida". •

PAÍS VAI A VOTOS A demissão de Cameron traz à baila a

realização de novas eleições gerais.

PAÍS FRAGMENTADO Uma das consequências mais faladas

em Londres do Brexit é a possibilida-

de de o Reino se desunir. Escócia que-

rerá novo referendo sobre indepen-

dência. A Irlanda do Norte também

votou pelo "Remain". E Gibraltar tam-

bém.

EUROPA REFORMADA

Os britânicos acreditam que a sua de- cisão pode possibilitar reformas ao

nível da união europeia, nomeada-

mente ao nível do exercício do poder

mais transparente.

OUTROS PAÍSES

"EXIT"?

A decisão do Reino Unido pode ter

como efeito a realização de outros re-

ferendos na Europa, nomeadamente nos países nórdicos, antevêem alguns

britânicos.

ACORDO ENTRE UE E RU

Ainda demorará para se saber o per-fil do novo acordo entre os dois blo-cos, mas muitos britânicos acreditam

que ambos os lados estão interessa-

dos num bom acordo.

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FILAI publicou há uma semana uma

estimativa dos impactos do Brexit

nas economias europeias. Portugal

está no grupo das economias que

poderá perder entre 0,2% e 0,5% do

PIB. As economias mais castigadas

serão a Irlanda a Holanda e a Bélgica

e as mais poupadas as de Leste.

RELAÇÕES DO REINO UNIDO COM POF

PRIMEIRA LINHA A EUROPA DEPOIS DO BREXIT

Exposição ao Reino Unido vale um terço do PIB

No curto prazo, a grande ameaça do Brexit sobre a economia portuguesa está nos juros da dívida e no acesso do país aos mercados. A médio e longo prazo, comércio, investimento e emigração são as variáveis fundamentais.

LEGENDA

Reduções no nível de PIB

com Brexi até 2018

-0,0 a -0,25

-0,26 a -0,5

• -0,6 a -1

-1,1 a -2

RUI PERES JORGE

[email protected]

erto de 56 mil mi-lhões de euros, ou seja, qualquer coisa como 31% do PIB na-

cional. Este era o valor, no final de Março, do "stock" de investimen-tos directos de Portugal em empre-sas do Reino Unido e do Reino Uni-do em Portugal, somado com o va-lor dos investimentos em dívida, acções e outros títulos detidos por residentes em ambos os países, e adicionadó ainda do valor anual das exportações e importações en-tre as duas economias.

Esta é uma medida da grande exposição de Portugal à economia britânica no momento em que o país decidiu sair da União Euro-peia (UE).0 valor não considera as remessas dos 175 mil portugueses residentes no Reino Unido e que constituem uma das mais impor-tantes comunidades nacionais no estrangeiro, adivinhando-se des-de já que a política de emigração seja um dos dossiês mais sensíveis nas negociações que decorrerão nos próximos anos para efectivar a saída do Reino Unido.

Não é fácil estimar o impacto a médio e longo prazodadecisãobri-tânicajá que tal depende de vários factores. Entreelesdestacam-seos resultados das negociações sobre as política de emigração e os acor-dos comerciais - com as respecti-vas tarifas e burocracias aduanei-ras. Os especialistas ouvidos pelo Negócios estão optimistas quanto aos resultados em termos de co-mércio, e acreditam que União Eu-ropeia e Reino Unido manterão em vigor grande parte das actuais

tarifas - embora antecipem mais burocracia.

O FMI, comoo Negócios avan-çou há uma semana, estima uma redução do PIB português entre 0,2% e 0,5% decorrente do Brexit

este é um valor no meio da tabela europeia, atrás da Irlanda, Holan-da, Bélgica e Dinamarca Nas suas contas, os economistas do Fundo levaram em conta as relações de co-mércio e investimento, e assumi-ram dois cenários: no melhorassu-mem que a actual incerteza nos mercados se dissipa rapidamente e que os novos acordos de comér-cio implicarão mais custos, mas bai-xos; no pior, agravam as perspecti-vas nestas duas dimensões.

Impactos nos juros são os mais temidos para já No médio e longo prazo serão

as alterações estruturais nocomér-cio, investimento e emigração que ditarão os efeitos do Brexit Mas no curto prazo há outros riscos, em particularnaparte financeira, com potenciais efeitos desastrosos.

Problemas em algum banco di-tados por uma elevada exposição ao Reino Unido ou à libra ou um aumento da aversão ao risco por

66 As economias europeias mais expostas a um contágio do Reino Undo são Grécia, Portugal, Espanha, Irlanda e Itália. ROYAL BANK OS SCOTL AND

parte de investidores que conside-rem que a saída do Reino Unido -e suas implicações políticas nou-tros países da união - ameaça o projecto europeu e a própria Zona Euro poderiam levar a subidas de juros na periferia Portugal como uma das economias endividadas e frágeis está na linha da frente das perdas. E é exactamente esse o avi-so deixado pelos economistas do Royal BankofScotland (RBS): "Na nossa perspectiva, as economias europeias mais expostas a um con-tágio relacionado com o Reino Unido são Grécia, Portugal, Espa-nha, I rlanda e I tália",o que resulta "da sua exposição subjacente à tur-bulência nos mercados e a dúvidas quanto ao futuro da União Euro-peia", escreveram numa nota en-viada a clientes após os resultados do referendo.

Na sexta-feira, os juros da dívi-da da periferia subiram, mas não demasiado: ayield al0 anos de Por-tugal subiu 0,25 pontos para 3,36%, a de Espanha escalou 0.163 pontos para 1.63%e a de Itália au-mentou 0,159 pontos para 1.56%. Estes são variações significativas. mas modestas dada a dimensão do choque, o que em parte resulta da presença do BCE nos mercados de dívida e das garantias que deu de estar preparado "para todas as con-tingências".

O M inistério das Finanças pro-curou descansar os observadores, relembrando que a almofada fi-nanceira do país tem assegurado meio avio de financiamento e su-blinhando que nos primeiros três meses de 2016 o défice públ ico caiu para 3,2% do PIB, o que cons ide-mu um exemplo de "rigor" que de-fende o país da turbulência. Mas se há indicador que Mário Centeno acompanhará com especial aten-ção nos próximos dias será, sem dúvida. os juros da dívida •

PORTUGAL PODE PERDER ATÉ 0,5% DO PIB

CRISE LEVOU PORTUGUESES

Em 2015 entraram no Reino Unido 32 mil portugueses, no que foi o ano com mais entradas de residentes na-cionais na Grã-Bretanha. O fluxo de Portugueses para o RU disparou com a crise de valores na casa dos 12 a 13

ao ano entre 2007 e 2010, para a asa dos 30 mil ao ano entre 2013 e 2015. No final do passado, residiam no Rei-

no unido 175 mil portugueses.

175 MIL EMIGRANTES O número de residentes portugueses no Reino Unido subiu significativamente nos últimos anos. Eram 175 mil no final de 2015.

IDE DE 9,4 MIL MILHÕES

Os portugueses têm 1,7 mil mihões de euros em investimento directo no Rei-no Unido (é o sexto país em que Por-tugal mais investe); e residentes no Reino Unido têm 7,7 mil milhões de eu-ros em IDE em Portugal (é o quinto país no ranking). Em acções, dívida e outros títulos os activos nacionais as-cendem a 6,2 mil milhões de euros e os passivos a 29,9 mil milhões.

Investimento directo 1729 no

Reino Unido

Investimento do Reino

Unido em Portugal

o 4000 8000

Fonte, Banco de Portugal

P

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Mais de 2.600 exportam. Vestuário desdramatiza Brexit

Os últimos dados da Unidade Técnica de Apoio Orçamental apontaram para um total de disponibilidades e aplica-ções de 10 mil milhões de euros no fi-nal de Março, dos quais 7,9 mil milhões estavam depositados no Banco de Por-tugal. O Governo garante que tem como objectivo ter seis meses de almo-fada financeira, apontando para 6.6 mil milhões no final do ano.

6,6 MIL MILHÕES O Governo estabeleceu como objectivo ter seis meses de almofada financeira. Comissão Europeia avisa que pode ser pouco.

O Reino Unido é o quarto maior com-prador de bens e serviços a Portugal, tendo adquirido cerca de 7 mil milhões de euros em 2015 (9,7% do total das exportações). É também um dos paí-ses a que Portugal compra mais: as im-portações do Reino Unido ascenderam no ano passado a 3,4 mil milhões de euros, ocupando o sexto lugar no ranking internacional (4,8% do total).

le Bens elServiços

3297,2 Exportações

3718,6

1917,7

Importações

1514,7

O 4000

Fonte: Banco de Portugal

UE PRESSIONARÁ MENOS PORTUGAL?

Há uma expectativa entre analistas po-líticos de que o choque do Brexit con-tribua para aliviar a pressão europeia sobre Portugal (e -Espanha), em parti-cular nas sanções que o país pode so-frer por não ter reduzido o défice or-çamental para menos de 3% do PIB até ao final do ano passado. É esperada uma decisão final da Europa na reu-nião do Eurogrupo de 11 de Julho.

11/07 EUROGRUPO A Comissão Europeia poderá pronunciar-se a 6 de Julho sobre as sanções que propõe para Portugal e Espanha. Eurogrupo decisivo a 11.

São quase 2.700 as empresas portuguesas que exportam para o Reino Unido, para as quais os efeitos da saída do país da União Europeia são neste momento imprevisíveis.

De acordo com dados da AICEP, o número dos exporta-dores para o Reino Unido tem vindo a aumentar nos últimos anos, passando de cerca de 2.300 em 2010 para 2.676 em 2014.0 Reino Unido é o quar-to maior cliente de Portugal.

As máquinas e aparelhos são osprodutos mais vendidos pelas empresas nacionais. Se-guem-se os veículos/material de transporte e o vestuário.

Só este último sector teve vendas de 430 milhões de eu-ros em 2015 para o Reino Uni-do. João Costa, presidente da

Os empresários do turismo no Algarve mostram-se "muito preocupados" com a decisão do Reino Unido em abandonar a União Europeia.A nacionalida-de representa cerca de 30% do total de turistas na região, um peso semelhante ao dos portu-

gueses.

A curto prazo, a desvalori-zação da libra é a principal preo-cupação. "Quanto mais forte a libra, mais a economia na região do Algarve floresce", ilustra De-sidério Silva, presidente da Re-gião de Turismo do Algarve. Eli-dérico Viegas, presidente da As-sociação dos Hotéis e Em-preendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), teme que os britânicos passem a viajar mais para a área da bacia do Mediter-râneo, mesmo com a instabili-dade política naquela zona.

Associação Têxtil de Portugal (ATP), salienta a importância deste mercado, mas desvalori-za o Brexit. "Não me parece que possa advir daqui uma grande modificação no relacio-namento comercial .entre o Reino Unido e Portugal no do-mínio do sector têxtil e vestuá-rio", diz.

Em sua opinião, o único efeito negativo no curto e mé-dio prazo para a indústria na-cional seria urna desvaloriza-ção acentuada da libra face ao euro. Para João Costa, o Brexit vai fazer com que o sector aposte cada vez mais na quali-dade dos produtos. "Temos de valorizar mais os produtos, porque não conseguimos com-petir com os preços", subli-nhou. IBACMPAJB

Gustavo Soares, director-geral da consultora imobiliária ingle-sa Sotheby's em Portugal, está menos pessimista. "A médio e longo prazo", acredita, e tendo em conta que os "cidadãos ingle-ses es tão perfeitamente integra-dos no espaço europeu","prova-velmente haverá vantagens acrescidas" no imobiliário em Portugal. Porcausa da compara-ção fiscal, mas também pelo acesso que um visto de residên-cia poderá implica em termos de "livre acesso ao espaço europeu" em contexto pás-Brexit.

A Sotheby's, que opera no segmento "premium", destacai) peso dos investidores ingleses "em termos de transacções e va-lor médio" no sector em Portu-gal, nomeadamente para lazer no Algarve e para negócios no Norte do país. ilwiLiiek

SEIS MESES QUARTO MAIOR DE ALMOFADA COMPRADOR

Turismo do Algarve treme, imobiliário nem por isso

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PRIMEIRA LINHA A EUROPA DEPOIS DO BREXIT

SARA ESTIMA MARTINS ADVOGADA ESPECIALISTA EM DIREITO EUROPEU

"Será difícil em dois anos negociar tudo o que é preciso"

O Reino Unido irá ter acesso ao mercado único? E o que fará com as inúmeras leis que hoje se aplicam na União Europeia? E o que acontecerá à liberdade de circulação de cidadãos, bens e serviços? Tudo isto irá estar sobre a mesa das negociações até que o Brexit seja oficial.

JOÃO MALTEZ [email protected]

referendo da semana passada foi apenas o primeiro passo para a saída do Reino Unido

da União Eumpeia.Segue-se agora um longo processo negociai em que aver-tente jurídica assume um papel cru-cial. Há um manancial de leis para re-ver e interesses de cidadãos e empre-sas para acautela; de ambos os lados. Dificilmente será possível dar o pro-cessoporterminado no espaço de dois anos, acredita aespecialistaem Direi-to Europeu, Sara Estima Martins.

Tendo por base os tratados euro-peus, que passos vão ter de ser da-dos até que ocorra a saída oficial do Reino Unido da União Europeia? Este referendo não tem um efei-

tovinculativo imediato. O que acon- tecerá, em princípio, e tal como diz o Artigo 50 do Tratado da União, éque o Reino Unido irá apresentar um pe-dido oficial de saída. O primeiro pas-so é essa notificação que abre o pro-cesso de negociações, masa saída só se materializará após aassinaturado acordo.

Que ~rias serão negociadas? Terá de ser negociado até que

ponto o Reino Unido irá ter acesso, ou não, ao mercado único; o que acontece á todo o manancial de le-gislação que hoje em dia se aplica a todos os Estados-membros; ou se a

legislação europeia continuará a aplicar-se ou se dará lugar a legisla-ção nacional

Por quanto tempo decorrerão as negociações? O processo negociai é bastante

complexo. O tratado prevê um pra-zo de dois anos para um desfecho deste processo. A saída materializa--se apósoactode assinatura do acor-do ou findo o prazo de dois anos. O que é muito pouco tempo.

As negociações podem prolon-gar-se depois desse período? O prazo de dois anos pode ser

prorrogado, mas só por acordo unâ- nime de todos os Estados-membros.

Os dois anos não serão sufi-cientes? Parece-me que será difícil em

dois anos negociar tudo o que é pre-ciso. Basta pensar na quantidade de legislação que é necessário ajustar. Além disso, estamos a navegar este barco pela primeiravez.

Quais serão as principais conse-quências jurídicas para Portugal? As consequências vão ficardefi-

nidas nesse acordo de saída, o que neste momento é diracil de definir.

NeçgP âmbito, o que é que tem de ficar definido nesse acordo?

Há várias coisas que têm de ficar definidas desde logo, como o que é queaconteceaos cidadãos portugue-ses e de outros Estados-membros que estão avivere a trabalhar no Rei-no Unido. Também o que acontece aos cidadãos britânicos que traba-

PERFIL

Europa e concorrência na mira

Especialista em Direito Europeu e da Concorrência, a advogada e só-cia da PLMJ Sara Estima Martins exerce a profissão desde há 12 anos. Licenciada pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra em 2002, está inscrita na Ordem dos Advogados Portuguesa desde 2004. Tem formação pós-graduada em Direito Comunitário, especialização que obteve através de um LL.M no Colégio da Europa, em Bruges, na Bélgica, em 2005. Sócia de PLMJ desde 2016, já foi advogada destaca-da desta sociedade na firma multinacional de advocacia Alien & Overy, no escritório de Madrid, onde trabalhou no departamento de Direito da Concorrência.

lham e vivem em Portugal. O que é que acontece em termos de liberda-de de bens e de serviços, nomeada-mente serviços financeiros. Ao nível das consequências jurídicasdo Bre-xi t, todas essas questões vão ter de fi-car bem definidas.

Que modelo jurídico poderá ser de-finido para o relacionamento entre a União Europeia e o Reino Unido? Vai depender das negociações.

Há um modelo mais aberto, que é o chamado modelo norueguês, que é o modelo do espaço económico eu-ropeu. Além dos paísesda União Eu-ropeia,oespaçioeconómico eumpeu engloba também a Noruega, a Islán- • dia e o Liec.htenstein. É um prolon-gamento do mercado únicoestendi-do a estes três países.

Será o caminho a seguir? Não acredito, porque este mode-

lo também tem os seus reveses. Os países do espaço económico euro-peu estão obrigados a cumprir as re-gras do mercado único, não partici-pam no processo decisório e estão desobrigados também a pagar o "cheque". O tal "cheque" que os in-gleses não querem pagar.

o modelo suíço poderá ser uma al-ternativa? A Suíça não está no espaço eco-

nómico europeu e tem de cumprir uma série de regras não participan-do também no processo decisório. O modelo foi feito à medida da Suíça.

Terá de haver um modelo para o Reino Unido? Os ingleses têm de saber o que

querem e partir daí para as nego-ciações. O relacionamento entre o Reino Unido e a União Europeia pode limitar-se a seguir as regras da Organização Mundial de Co-mércio. Mas isso traria conse-quências complicadas, porque o mercado europeu é muito impor-tante para o Reino Unido.■

"A saída da UE materializa-se após o acto de assinatura do acordo ou findo o prazo de dois anos previsto no Tratado."

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Reino Unido terá de cumprir,

manancial de normas para manter livre circulação

Que implicações de ordem jurídica terá o Brexit para cidadãos e empre-sas dos Estados-membros da União Europeia e do Reino Unido? Tudo depende das negociações.

Quais as principais consequências legais do Brssát para os portugue- ses que vivem no Reino Unido? Neste momento, para os portu-

gueses que estão no Reino Unido (RU) não mudou nada. Vão ter de acompanhar com toda a cautela os desenvolvimentos. Creio que uma das coisas que nas negociações se procurará assegurar de um lado e do outroé algum tipo de segurançapara os cidadãos da União Europeia (UE)

que já vivem no RU e cidadãos britâ-nicos que vivam noutros países

E depois de assinado o acordo? Consoante o acordo que venha a

ser assinado, é possível que haja al-gum tipo de diferença relativamen-te a situações futuras, que possa ha-ver algurnasalvaguardadoscidadãos

que já estão no RU, que já têm con-tratos de trabalho, que têm portan-to situações estabilizadas, pode ha-ver eventualmente um regime que garanta a situação dessas pessoas e preveja outro tipo de regras para si-tuação futura. Mas são suposições.

No campo empresarial, que impli-

cações jurídicas resultarão do Bre- xit para as empresas portuguesas? Há muitas implicações. Obvia-

mente que, mais uma vez, tudo vai depender das negociações. Até que ponto as empresas inglesas vão ter acesso ao mercado europeu para co-locaros seus produtos e para prestar osseusserviços?Nomeadamente as empresas do sector financeiro, uma vez que neste momento estão inte-gradas neste espaço único europeu onde prestam livremente os seus serviços e de futuro não se sabe o que vai acontecer, e se vão ter acesso a este mercado. Mas quando falamos nos serviços financeiros falamos de todos os outros sectores. Hoje em dia

os bens circulam livremente, as bar-reiras alfandegárias foram abolidas e isso possivelmente pode mudar.

No mercado único, as empresas es- tão sujeitas a toda uma série de normas e regras. Deixam de ser aplicadas às empresas britânicas? Alfflerdadedecirculaçãodebens

e serviços itnplicaoctunprimentode um manancial de normas ao nível ambiental, protecção de dados, pro-tecção de consumidores e o mesmo quanto à regulamentação dos pró-prios produtos. Consoante aquilo que for negociado, o RU pode estar obrigado manter determinado tipo de regras em vigor na UE.• Al

"Consoante o acordo, é possível que possa haver alguma salvaguarda dos cidadãos que já estão no Reino Unido."

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Na convenção do Bloco, a lidar, Catarina fdardns, falou na posdbilldade de um referendo ã 111E. Por parte do Ps pede-se calma.

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PRIMEIRA LINHA A EUROPA DEPOIS DO BREXIT

Esquerda a duas velocidades na reacção à votação britânica

O Bloco de Esquerda e o PCP admitem referendos em Portugal, mas o Governo diz que não é tempo para dar voz aos eleitores em matérias europeias. À direita, as reacções são de cautela.

Miguel Baltazar

MARTA MOITINHO OLIVEIRA martaoliveiraOnegocios.pt

O s partidos à esquerda em Portugal e o Go-verno a que dão apoio no Parlamentoestão a

ler os resultados do referendo no Reino Unido como uma oportuni-dade para forçara União Europeia a políticas mais próximas dos cidadãos e que não imponham regras orça-mentais tão rígidas. Mas há diferen-ças: àesquerdado PSfala-se já em re-ver tratados, sobretudo se Bruxelas aplicar sanções a PortugaL

Aopção pela saída do Reino Uni-do (RU) da União Europeia (UE) foi conhecida sexta-feira, quando fica-ram apurados os resultados do refe-rendo: 52% dos eleitores votaram pela saídae48%escolherarn ficar. "O caminho não é a desintegração", de-fendeu de imediato o chefe do Go-verno português e líder do PS, refe-rindo-se a uma "oportunidade" para responderaos anseios da população. O Presidente da República alinhou, ao falar na necessidade de uma "res-posta rápida, coesa e unida da UE" para "firmarvalores que são o patri-mónio europeu".

Ao longo do fim-de-semana, vá-rios membros do Governo intensifi-caram a mensagem. Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estran-geiros, afirmou que é preciso "pru-dência" e "bom senso" na negocia-ção da saída do RU, defendendo que "agora não precisamos de mais Eu-ropa, mas de uma Europa mais bem compreendida e assimilada pelos seus povos e nações".

O responsável pela política ex-terna portuguesa acrescentou que o Brexit (a palavra por que ficou co-nhecida a opção desaídado RU) deve darà UE a consciência de quea con-

Não nos parece que seja tempo para referendos.

PEDRO NUNO SANTOS Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares

O Bloco está disposto a pôr na ordem do dia um referendo para pôr fim à chantagem.

CATARINA MARTINS Coordenadora do Bloco de Esquerda

Esta é uma oportunidade para questionar todo o processo de integração capitalista da União Europeia.

JOÃO FERREIRA Eurodeputado do PCP

solidação orçamental e a estabilida-de financeira são "instrumentais" para acriaçãoe distribuição de rique-za "e não o contrário".

Ainda no rescaldo do referendo, João Ferreira, eurodeputado pelo PCP, considerou que esta é uma "oportunidade" para questionar todoo processo de "integração capi-talista"da UE. O eurodeputado con-cretizou quais os próximos passos que deviam ser dados. O encontro de líderes europeus, que começa esta segunda-feira, devia lançar as bases para umacimeira inte rgove rnamen-tal "com o objectivo de consagração de reversibilidade dos tratados, de suspensão imediata do Tratado Or-çamental e sua revogação bem como da revogação do Tratado de Lisboa".

Do Bloco de Esquerda, reunido durante o fim-de-semana em con-venção, saiu uma decisão: avançar com um referendo em Portugal "para pôr fim à chantagem" se Bru-xelas decidir aplicar sanções a Por-tugal por incumprimento da meta do défice em 2015. "Se apuniçãoeu-ropeia aplicar sanções a Comissão Europeiadeclaraguerra a Portugal", justificou acoordenadorabloquista. É por isso que Catarina Martins diz que "virá esse dia do referendo e virá em breve". Uma declaração em tom de avisóparaoGovemo de Costa que vai participar no Conselho Europeu. Atespuslado Executivoestavapron-ta: "Não nos parece que seja tempo para referendos", disse Pedro Nuno Santos,secretário de Estado dos As-suntos Parlamentares.

Àdireita,as reacções foram mais cautelosas. O líder do PSD, Pedro Passos Coelho, pedir que se evitas-sem "excessos de dramatização", não ignorando porém a decisão dos britânicos. Assunção Cristas, a pre-sidentedo CDS,afirrnou uma "cons-ternaçãoprofunda", lembrando que este éum momentode"inquietude" e "transformação" que exige "tran-quilidade". •

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Portugal poderá estar mais longe de sanções europeias

A decisão do Reino Unido, de abandonar a UE, fez virar os focos e o Tratado deixou de ser a prioridade. As preocupações agora são outras e dificilmente serão aplicadas sanções por défice excessivo, defendem os especialistas ouvidos pelo Negócios.

[ri( vidali Reuters

FILOMENA LANÇA

[email protected]

44M udou o Foco"; "ninguém está mini-

mamente preocupado coma apli-cação de sanções"; "há que esque-cer° Tratado orçamental e come-çar seriamente a tomar medidas para que a União não se desinte-gre". Ainda sob o choque da deci-são do Reino Unido de abandonar a União Europeia (UE), e comum mundo de decisões pela frente para tomar, é muito pouco prová-vel que a Comissão Europeia (CE) insista na aplicação de sanções a Portugal e Espanha, no âmbito dos procedimentos por défice ex-cessivo.

É essa, pelo menos, a leitura dos politólogos ouvidos pelo Ne-gócios. Na prática, sustentam, "valores mais altos se levantam". A questão, recorde-se, deverá ser avaliada no início de Julho e em causa está o facto de Portugal ter fechado o ano passado com um défice de 3,2% do PIB, o que im-pede a saída do Procedimento dos Défices Excessivos. E a mesma questão se coloca relativamente a Espanha. Tem havido apelos de vários quadrantes e a questão tem dividido os membros da Zona Euro, mas, com a turbulência que agora invadiu a Europa, essa de-verá mesmo passar a ser uma questão menor.

"Dada a magnitude do que se está a passar, ninguém neste mo-mentoestá minimamentepreocu-pado com isso", afirma Jorge Fer-nandes,politólogo da Universida-de de Bamberg, na Alemanha Car-los Jalali, investigador da Univer-

sidade de Aveiro, concorda: "O foco de atenção da UE muda radi-calmente com esta decisão do Rei-no Unido e o tempo de atenção para esta matéria vai ser muito me-nor. De repente, torna-se uma questão menos prioritária."Afinal,

Os especialistas acreditam que os líderes Europeus vão ter de se concentrar no futuro e menos na austeridade.

sublinha, como Brexit UE dá um passo atrás e vai ter, isso sim, de se concentrar no seu futuro, na sua continuidade e no enquadra-mento que dará ao Reino Unido".

Brexit "afecta equilíbrio de poderes" No final de Maio, a CE decidiu

adiar para o início de Julho uma decisão sobre as eventuais san-ções a Portugal e Espanha, admi-tindo que se tratava de uma deci-são também política, que tinha em conta, entre outros aspectos, a rea-lização de eleições em Espanha. O adiamento provocou críticas nas reuniões do Ecofin. Foi o caso de Wolfgang Schaublè, ministro das

, Finanças alemão, que considerou que "aliviaras regras não ajuda a aumentar a confiança".

Agora, a própria Alemanha terá "muitas outras coisas com o que se preocupa?', diz Jorge Fer-

nandes. A saída do Reino Unido, "que era um seu aliado estratégi-co, com a França cio outro lado, vai afectar fortemente o equilíbrio de poderes e a Alemanha talvezseja o país que mais perde". A França, é sabido, tem-se oposto à aplicação de sanções. É quase certo, acredi-ta Jorge Fernandes, que " as san-ções nunca irão acontecer dentro do que é neste momento o equilí-brio de poderes na UE".

"Se voltarmos a ouvir falar de sanções, então é sinal de que quem governa a Europa enlou-queceu por completo. Será como alguém que apanha um tiro e con-tinua a caminhar sem se aperce-ber do que lhe aconteceu", sinte-tiza Viriato Soromenho Marques. Para o politólogo e professor de fi-losofia, "a politica de austeridade vai ter de ser revista, sob pena de surgir uma verdadeira revolta so-cial". •

66 O foco de atenção da UE muda radicalmente com esta decisão do Reino Unido. De repente, [o tema das sanções] torna-se uma questão menos prioritária. CARLOS JALALI Politólogo, professor da Universidade de Aveiro

A saída do Reino Unido, que era um aliado estratégico da Alemanha, vai afectar fortemente o equilíbrio de poderes [na UE]. A Alemanha talvez seja o país que mais perde. JORGE FERNANDES Politólogo e investigador da Universidade de Bamberg.

Se voltarmos a ouvir falar de sanções, então é sinal de que quem governa a Europa enlouqueceu por completo. Será como alguém que apanha um tiro e continua a caminhar sem se aperceber do que lhe aconteceu. VIRIATO SOROMENHO MARQUES Politólogo e professor de Filosofia

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Vários ministros das Finanças da Euro, entre os quais o alemão Sdiauble, mantém a ideia da aplicação de sanções.

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Saída do Reino Unido da União Europeia deverá levar Banco de Portugal a deixar cair venda em bolsa. Na alienação a investidores estratégicos, ofertas têm de ser entregues até dia 30. Já se fala em adiamento.

O dosslé de venda do NOVO sanai DãO ara ~I ema acaba da flaw mak afiai. com a tUrbuiência nos mercados provocada pelo Brexit.

PRIMEIRA LINHA A EUROPA DEPOIS DO BREXIT

Brexit dificulta venda do Novo Banco

Banqueiros temem decisões políticas

MARIA JOÃO GAGO mjgagonegocios.pt

E m Portugal, o mais imediato efeitó da de- cisão do Reino Unido de sair da UniãoEurá

peia será o aumento da dificulda-de em vender o Novo Banco, pro-cesso que está em curso e que o Banco de Portugal pretende con-cluiraté ao finaldeJulho. O Brexit deverá levar os responsáveis des-ta alienação a deixar cair um dos modelos de venda - através do mercado -, possibilidade que foi posta em Lima da mesa desde que as sondagens começaram a dar força ao cenário de saída

Neste momento, ainda não terá sido tomada uma decisão quanto à desistência da alienação com recurso à bolsa. Maso facto de a própria CMVM já ter levantado dúvidas sobre este modelo de ven-da, pode funcionarcomo um argu-mento adicional para suportaresta opção.

Quando as sondagens come-çaram a colocar o Brexit como um cenário plausível, a equipa responsável pela alienação do Novo Banco, liderada por Sérgio Monteiro, passou a equacionar désistir do modelo de venda com recurso à dispersão embolsa, de-vido ao receio de fuga de investi-dores do mercado de acções, num cenário de saída da Grã-Bretanha da União Europeia. Na sexta-fei-ra, dia em que se soube que a maioria dos britânicos tinha vo-

tado a favor da saída, os índices bolsistas afundaram.

Outro dos impactos do refe-rendo britânico no dossiê do Novo Banco poderá ser um ajustamen-to do calendário de alienação da instituição a um investidor estra-tégico. O cronograma do processo de venda prevê que os candidatos que estão na corrida - BPI, BCP, Santander, Apolloe dois outros fundos de "private equity" norte-americanos - apresentem as suas ofertas de compra até 30 de Junho, ou seja, até ao final da próxima quinta-feira

Fontes financeiras admitem que o Banco de Portugal venha a alterar o prazo limite para a entre-ga das propostas, até porque este está marcado para uma semana depois do referendo no reino Uni-do. No entanto, ao que o Negócios

apurou, até sexta-feira, ainda não tinhasidocomunicado aos poten-ciais interessados qualquer adia-mento da data de apresentação dag ofertas de compra.

De acordo com os compro-missos assumidos pelas autori-dades portuguesas junto de Bru-xelas, Portugal tem um dever de esforço para tentar vender o Novo Banco até ao final de Julho.

- Este compromisso,cujo fracasso não implica qualquer sanção, re-sultou das negociações estabele-cidas com a Comissão Europeia para ganhar tempo para alienar o banco que resultou da resolu-ção do BES. Portugal conseguiu mais um ano para vendera insti-tuição que, no limite, tem de ser alienada até 3 deAgosto de 2017, data em que passam três anos so-bre a sua criação. ■

Mais do que o impacto econó-mico e financeiro do Brexit, as preocupações de vários respon-sáveis da banca portuguesa são as consequências que poderão vir das decisões políticas que serão tomadas pelos líderes eu-ropeus e pelos governantes dos estados-membros em resposta à saída da Grã-Bretanha da União Europeia.

"O impacto final vai depen-der de o Brexit ser, ou não, o iní-cio de novas vagas de turbulên-cia a nível político. O ajusta-mento político tem de conter efeitos de segunda onda, como novos referendos, sobretudo em países da Zona Euro. A res-posta política vai ser muito im-portante para evitar efeitos de segunda onda", acredita o nú-mero dois de um grande banco português.

Volatilidade e turbulência Esta visão é partilhada por

responsáveis de outras grandes instituições financeiras portu-guesas, para quem o efeito po-lítico é a principal preocupação, urna vez que acreditam que uma má resposta política pode gerar mais consequências para a economia portuguesa e curo-peia do que o resultado do refe-rendo britânico por si só. A saída da Grã-Bretanha da União Europeia não impedirá que Portugal e os restantes paí-ses europeus continuem a ex-portar para o mercado britâni-co, defende um dos responsá-veis contactados pelo Negó-cios.

Mas, neste momento, a in-certeza sobre o que se vai se-guir, sobretudo a nível político, está a criar "uma grande incer-teza que gera uma volatilidade e uma turbulência muito gran-des nos mercados", explica ou-tro dos banqueiros que, ainda assim, está confiante: "se as de- cisões políticas evitarem efei-tos de segunda onda, o merca- do tem capacidade para incor-porar o impacto do Brexit". ■

MARIA JOÃO GAGO

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Toby Melville /Reuters

OPINIÃO

E depois do adeus DIOGO FEIO Advogado e membro da comissão

política do CDS/PP

referendo no Reirio Unido suscitou, des-de a sua convocação, imensa atenção de-vido aos riscos que continha. Desde logo, pela poesibilidadedevir agerar a saída de um dos mais relevantes Estados da União Europeia. Apesar de não ser um dos membros da Zona Euro; de sei:muito co-nhecida a sua distância face aos movi-mentos de maior integração; de scr evi-dente e cristalino o ceticismo britânico perante a realidade da União Europeia o Reino Unido é o Reino Unido e a possi-bilidade da primeira saída de um mem-bro da União Europeia tornou-se uma realidade muito próxima.

Durante décadas essa era uma mera possibilidade teórica. Tão estranha que nem sequer estava prevista deforma ex-pressa nos Tratados. Ainda hoje o seu regime jurídico e forma de procedimen-to levantam dúvidas.Assim, era uma pótese que por várias razões sempre foi meramente teórica e que recentemen-te se foi apresentando como uma possi-bilidade bastante real. Apesar de nos úl-timos tempos a esperança num resulta-do de manutenção ter crescido, o risco estava lá. O resultado do referendo foi claro. Pela primeira vez, um Estado so-berano decidiu de forma democrática pela saída.

Assente este facto convém olhar para as suas consequências. Em todo este processo, sempre tive a perceção que o maior risco seria que tudo conti-nuasse ni mesma. Infelizmente, os pri-meiros sinais têm vindo a confirmar as minhas previsões. A generalidade dos dirigentes europeus têm centrado o seu discurso apenas na necessidade de en-contrara forma de a saída do Reino Uni-do ser muito rápida. Até agora não vi uma alma que apontasse um caminho para a Europa. Está tudo muito preocu-pado em apresentar um ar carregado e grave, afirmando•. "Vamos mas é tratar disto depressa".

Bem sei que a manutenção de um Estado-membro que já não o é se apre-senta como insustentável. Mas será que ninguém percebeu que estamos peran-te um fim de ciclo? Que é altura de to-

mar opções. Que se não se passa para outra fase tudo terminará. Que é neces-sário afirmar uma liderança clara. Que a falta de uni projeto político está a de-gradar a União Europeia. Que o Brexit é uma mera consequência de uma de-composição sustentada.

Esta é uma altura de tomar opções. A minha é europeia. Escolho outra Eu-ropa bem diferente das outras Europas que por ai têm sido cantadas. O lado eu-ropeu tem perdido sistematicamente discurso político quer perante os extre-mismos mais declarados, como peran-te os outros que clamam contra a auste-ridade, que quando praticada à direita é "ideologia" e quando praticada à es-querda é "imposta".

Esta referência é relevante na me-dida em que relembra a relevância da

prosperidade. As sociedades precisam de crescimento económico; este só se faz num clima de confiança; e a direção e estabilidade política é essencial para a conseguir.

Logo, hoje a resposta tem de ser po-lítica. Tem de ser imaginativa, flexível e adequada às circunstâncias. É altura de assumir que estas resultam na necessi-dade de ter uma Europa a duas ou mais velocidades. Uma primeira para todos aqueles que voluntariamente aderiram ao euro, uma segunda à luz do Tratado de Lisboa de um espaço comum de li-berdades de circulação.

Uma primeira que se deve federali-zar com uni Governo e parlamento pró-prios e regras muitos claras, exequíveis com a flexibilidade necessária. Unia se-gunda que não exige um compromisso

tão marcado, mas dá tim direito dees-colha e a aplicação de políticas comuns para além da económica, orçamental e monetária.

Esta Europa da nova fase vai exigir lideranças que percebam a sua respon-sabilidade. A margem de erro é quase nula. A fase dos "pais fundadores" ter-minou. Nesta nova é preciso fazer ago-ra o que décadas de líderes europeus não fizeram. É a hora de corrigir os er-ros crassos cometidos, desde logo na instituição da Zona Euro de forma in-completa. Se as novas lideranças não conseguirem ultrapassar os egoísmos nacionais no funcionamento do união económica, da união monetária e da união bancária, o fim estará ao virar da esquina Ainda tenho uma firme espe-rança que assim não será. ■

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E depois do adeus

Tudo o que precisa de saber sobre a saída do Reino Unido da União Europeia

Reportagem em Londres junto da comunidade portuguesa

A opinião de Cristina Casalinho, Pedro Silva Pereira, João Rodrigues, Paulo Rangel, Diogo Feio e Luís Marques Mendes

PRIMEIRA LINHA 4 a 31

KEEP CALM

VOTE FOR BREXIT

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, # Os mlnist dos Negócios Estrangeiro,tfos seis estados fundadores da Comunidade Europeia reuniram-'se de emergência em Berlim

Resultados O estranho caso do arrependimento

"Brexit", "Bremain", e algum "Bregret" ► Primeiro, foi o choque: a libra a cair para níveis históricos, o Banco Central britânico a ter de injetar liquidez "in extremis", os serviços eleitorais a receberem chamadas de cidadãos a perguntar se podiam mudar o voto e alguns a admitir publica-mente que pôr a cruz no "Brexit" (saída) foi um voto de pro-testo que valeria como isso, porque confiavam que o "Bre-main" (ficar) venceria. Depois, foi a admissão de mentiras nas quais a maioria acreditavam, a crer nas sondagens. Nigel Fara-ge, líder do Partido da Independência do Reino Unido (UKIP, eurocético), admitiu ter sido "uma asneira" da campanha pela saída prometer entregar os 350 milhões de libras que o Reino Unido dá à UE por semana seriam aplicados no sistema de saúde britânico. Não assumiu a paternidade da ideia, que cir-culou em folhetos e autocarros, mas disse ser impossível de garantir. A tudo isto soma-se a muito provável substituição de Cameron por Boris Johnson, o polémico conservador ex-mayor de Londres. E a incerteza quanto ao futuro. Nasceu uma nova palavra no léxico do terramoto: "Bregret".

Boris Johnson é o mais provável sucessor

de Cameron

Mundo

9 Brexit Escócia Sturgeon quer negociar com Bruxelas

A Escócia deu 62% dos votos à per-manência na UE. Foi a região mais claramente contrária ao Brexit, ainda que também fosse a que registou maior abstenção. Para lá de fazer imediatamente saber que não ficará de braços cruzados e que fará tudo para convocar um novo referendo à

pertença ao Reino Unido (o último, em novembro de 2014, vira 55% dos es-

coceses votar contra a independên-cia), a primeira-ministra Nicola Sturgeon anunciou ontem que vai pedir discussões "imediatas" dire-tamente com Bruxelas para "prote-ger o lugar (da Escócia) na UE". A ideia de Sturgeon é explorar solu-

ções alternativas ao estatuto de membro da União Europeia.

1,

leste Carneiro [email protected]

► Londres amanheceu ontem como sempre, cinzenta até, como se nada se passasse para lá da noti-cia de que a petição pedindo um novo referendo à manutenção do Reino Unido na União Europeia ia num crescendo absurdo - ao final da tarde, contava já dois milhões de rubricas. lá ao sol de Berlim, em emergência, os ministros dos Ne-gócios Estrangeiros dos seis países fundadores da então Comunidade Europeia (França, Alemanha, Itália, Bélgica, Holanda e Luxemburgo) acordavam um "ultimato" subli-nhando as tomadas de posição das lideranças institucionais comuni-tárias. Do dia sobrou um aviso: a saída britânica da UE não vai ser "um divórcio amigável".

Adiar seria "falta de respeito" A União Europeia não quer ficar num "período de limbo prolonga-do" e não vai esperar que Cameron seja substituído em outubro, ao que tudo indica, pelo ex-mayor de Lon-dres, Boris Johnson, à frente do par-tido Conservador, para ver o pro-cesso arrancar. Nem parece dis-posta a esperar por outubro para ter um novo interlocutor no N.° 10 de Downing Street. Adiar o proces-so seria "falta de respeito", disse o ministro do Interior francês Jean-Marc Ayrault, pedindo a ativação imediata do artigo 50.° do Tratado de Lisboa. Implica notificar Bruxe-las da intenção de sair, para então se encetarem negociações sobre as condições de saída e as relações fu-turas, discussão que conta com um prazo de dois anos.

Ora, mal soube o resultado do referendo (48,1% pela permanência contra 51,9% pelo Brexit), David Ca-meron anunciou a saída no con-gresso dos "tories", em outubro. O primeiro-ministro britânico "tem uma responsabilidade perante o

Reino Unido", avisou o ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Frank-Walter Steinmeier.

Esperar outubro, dissera antes o presidente da Comissão Europeia, lean-Claude Juncker, "não faz qual-quer sentido". É dele a declaração de divórcio litigioso. ao fim de uma relação que, na verdade, diz ele, nunca foi de amor profundo.

Sem perdas de tempo, foi já es-colhido o causídico que vai nego-ciar a separação pela parte dos 27. É o belga Didier Seeuws, adjunto do ex-presidente do Conselho Eu-ropeu Herman Von Rompuy, e já começou a preparar o caminho. O mal de toda esta pressa - que a chanceler alemã Angela Merkel fez questão de suavizar - é que a UE não dispõe de mecanismos para acelerar o processo, que, em últi-ma instância, está nas mãos de Londres. Nenhum outro membro pode invocar o artigo 50.° pelos bri-tânicos.

Consulta não vinculativa E é lá, na calma, que o futuro se vai discutindo. Argumentando com o facto de o resultado do referendo não ser vinculativo por não atingir os 60% e por ter envolvido menos de 75% dos eleitores, o autor da pe-tição por uma nova consulta, William Oliver Healey, conseguiu em dia e meio mais de dois milhões de seguidores - 15 vezes mais do que o necessário para o texto subir ao Parlamento.

Mas parece certo que não passa-rá disso. Porque, lembram politó-logos citados pelo "Telegraph", qualquer governo terá agora um cuidado extremo antes de convo-car uma consulta popular. Came-ron fê-lo e foi derrotado. E estará a UE disposta a brincar mais um pouco ao gato e ao rato? Pelo tom das reações, não...

E pelo tom dos dirigentes britâ-nicos tão pouco. Os partidos sofre-ram profundas divisões na questão e dificilmente quererão alimentar o fogo. E, ainda que o referendo não seja vinculativo (o Parlamento tem a última palavra e é maioritaria-mente pela permanência), Carne-ron nunca deu indicações de olhá-lo como apenas consultivo.

E de Bruxelas veio ontem a noti-cia de que lonathan Hill, comissá-rio europeu com a pasta das Finan-ças, abandonava o barco. Não esta-ria certo manter-se como se nada tivesse acontecido. Disse, ele que chegou a Bruxelas eurocético. E disse também que o que foi feito não pode ser desfeito. Sem volta. •

Reino Unido Mais de dois milhões de britânicos pedem novo referendo à permanência no clube dos 28

União Europeia já prepara saída

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Conselho Europeu Primeiro-ministro recebe hoje partidos com assento parlamentar. Ideia de referendo luso fora de agenda

Portugal deve querer rapidez na negociação

opinião :

Da democracia na Europa Do outro lado do Mundo, um grande amigo expri-miu, num emala que me endereçou, o seu contenta-mento pelo facto de os britânicos terem iniciado o caminho de saída da União Europeia. Esse amigo é uma pessoa responsável, a sua opinião não é "im-pressionista". Trata-se de alguém que está de boa-fé, que conhece muito bem o Reino Unido, que tem uma grande experiência da União Europeia, que olha para esta questão com uma prudente serenida-de e sem a menor acrimónia. E deixou clara, naque-la sua comunicação, que a sua atitude não relevava de qualquer resistência face ao crédito anual na conta de Londres do cheque compensatório da sua contribuição orçamental (o "rebate") ou do seu tro-pismo obsessivo por "exceções" ou "opt-out", com que os diferentes governos britânicos historicamen-te atenuam ás reticências da sua opinião pública face a Bruxelas.

O que irritava esse meu amigo - e que ele acha que o Brexit pode corrigir - é a atitude britânica de persistente denúncia do caráter não democrático da União, numa sobranceria afirmativa da superiorida-de representativa da sua ordem nacional. E, na sua ideia, mesmo que a UE não seja perfeita, ela não merece esse desprezo e desqualificação. Para ele, sem o Reino Unido, a União pode, com maior facilite` dade, encontrar um caminho menos turbulento para o seu futuro.

Que eu não estaria de acordo com a sua perspeti-va era uma dado adquirido por esse amigo, que leu ou ouviu muito do que eu disse nos últimos dias so-bre este assunto. Porém, com a lealdade frontal de quem sabe que eu só lhe agradeço o contraditório, ele quis transmitir-me o que pensava. E eu estou-lhe grato por isso.

De facto, não estamos de acordo. Também a mim me irrita, desde o primeiro momento, o sentimento britânico de que a Europa integrada tem deficiên-cias notórias na sua responsabilização (a expressão anglo-saxónica "accountability" é insubstituível). Não porque isso seja falso, mas porque o Reino Uni-do, ao autoexduir-se de muitas das suas políticas, acabou por ser corresponsável com a circunstância dessa deriva marcar hoje muito do funcionamento da União. Uma democracia tão poderosa como a britânica deveria, precisamente, ajudar-nos, colo-cando-se "hl the heart of Europe", a colmatar esse défice democrático. E é por isso que, ao invés de re-jubilar com este "opt-out" final, preferiria que os britânicos se tivessem mantido no projeto comum. Mesmo que parceiros relutantes, eles ajudar-nos-iam a reforçar a magnífica diversidade que é uma das forças da Europa. Sem os britânicos, estaremos mais fracos. E, sem nós, eles também. O que não é uma boa notícia para a democracia na Europa.

Salsas da Costa Embaixador

Brexit Mundo I»

António Costa recebe hoje os partidos

Mai( elo lirbehl

'13121,1+,11+1,, 3

Mudo Mala [email protected]

► O primeiro-ministro, António Costa, recebe hoje os partidos parla-mentares, para preparar o Conselho Europeu de terça e quarta feira, onde se vai discutir a saída do Reino Uni-do da União Europeia, que o PS quer célere.

"Fiquei preocupado com a ideia de que 'vamos esperar e deixar pas-sar o tempo' no discurso de David Cameron", diz o deputado Vitalino

MARCELO O presidente da Repúbli-ca considerou ontem que a situa-ção que existia na Europa antes do referendo que deu a vitória à saída do Reino Unido da União Europeia (UE) é diferente da que existe ago-ra.

"1-lá uma Europa antes da votação de ontem (quinta-feira), há uma Eu-ropa depois da votação e, portanto.

Canas, defendendo "negociações com desenvolvimento rápido". São necessárias uma "clarificação que permita tranquilizar os povos" e "previsibilidade e transparência nas relações económicas", diz, notando que Portugal deve "valorizar as rela-ções privilegiadas que já tínhamos antes da integração".

"A própria Inglaterra quererá en-contrar soluções para manter com a Europa relações económicas, políti-cas e culturais", diz o deputado Mi-guel Morgado (PSD). "A situação não

há em certos aspetos um Portugal antes da votação e um Portugal depois da votação". disse Marcelo Rebelo de Sousa aos jorna-listas, em Mafra, no final de uma homenagem ao general Ramalho Eanes.

Adiantando que tencio-na "oportunamente" falar aos

deve ser excessivamente dramatiza-da, porque terá consequências na negociação da desvinculação" e "não se deve ceder à tentação de retaliar, porque é uma decisão soberana".

Consenso há quanto à falta de oportunidade de um referendo em Portugal, proposto ontem pelo Parti-do Popular Monárquico, cujo presi-dente, Paulo Estêvão, diz, citado pela Lusa, que o pais "constitui uma ex-ceção chocante no contexto em que quase todos os povos europeus já fo-ram chamados a pronunciar-se so-bre o processo de integração".

Enquanto Pedro Mota Soares (CDS) diz que "a questão não se co-loca em Portugal", Vitalino Canas, sustenta que o assunto "é completa-mente absurdo. Fazer referendos é insistir na discussão sobre pontos ir-racionais" como "a imigração e os medos". Miguel Morgado dispensa-o porque os programas do PS, PSD e CDS contêm "compromissos com a construção europeia" e formam no Parlamento urna "clara maioria arit-mética europeísta".

"Este não é o momento de os paí-ses saltarem com cartadas de refe-rendos; este é o momento de pôr em cima da mesa alternativas pensadas, discutidas, para depois, sim, termos espaços que possam ter legitimida-de democrática", disse a líder do BE, citada pela Lusa. Para Catarina Mar-tins, "o euro e a União Europeia, hoje, não são uma solução" para todos os países, mas "não quer dizer que não resida na Europa uma solução de fu-turo para todos os países. O tempo não volta para trás, não vamos ser nações isoladas".

Para o PCP, o Conselho Europeu deve "lançar as bases para a convo-cação de uma cimeira intergovema-mental" para consagrar a reversibili-dade dos Tratados, a suspensão ime-diata e revogação do Tratado Orça-mental e a revogação do Tratado de Lisboa. Uma declaração de anteon-tem realça "a urgência e a necessida-de de Portugal se preparar e estar preparado para se libertar da sub-missão ao Euro". •

portugueses sobre o assunto, o pre-sidente escusou-se a comentar o facto de Portugal ter ficado de fora do conjunto de membros da União escolhidos para se reunirem com o

objetivo de encontrar uma solu- ção para a situação.

"Não se deve esperar de quem defende solidariedade europeia que contribua para, com a sua palavra, afetar, limi-tar ou condicionar a solidarie-dade europeia", referiu.

O fundamental, acrescentou Marcelo, é perceber-se que "a situação que existia antes" do referendo passou a ser "dife-rente depois". "E isso aplica-se à Europa,

aplica-se a Portugal, sem drama-tização, mas também sem iludir os problemas".

"Há uma Europa antes e há uma Europa depois"

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Luís Barreiros (esquerda), o único que não tem medo

Ricardo Mo-reira, José Pedro Cabral e Edgar Melo (em cima). "Eles que se entendam".

Maria Amaral (direita), em Londres há ano e meio

Mundo Brexit

Reino Unido Emigrantes em Little Portugal sentem-se sob o céu carregado do Brexit. Para já, ninguém manifesta vontade de sair, mas todos ou quas.e

"Isto não vai ter nada de bom, carago" José Miguel Gaspar Em Londres [email protected]

► Dois dias depois da hecatombe, há uma pequena mudança que os por-tugueses apontam a olhar para a rua: "Londres está muito mais silenciosa, não nota? É um silêncio meio estra-nho, acho que é de preocupação. Claro que tudo há de voltar ao nor-mal, mas isso será outra questão. É que agora não sabemos o que vai ser o normal".

Ricardo Moreira, 37 anos, vindo de Sintra, vive e trabalha em Londres

(numa empresa de construção) há nove anos e, para ele que apontou o silêncio surreal, este golpe de teatro ainda está a começar: "Ontem, acor-. dei em choque, acabou-se o status quo e isso traz muita incerteza. O maior medo que nos atravessa a to-dos é o medo do desconhecido, por-que aquilo que os ingleses fizeram foi dar um tiro no escuro. E nem nós nem eles sabemos se acertaram no alvo, se acertaram em nós ou se afi-nal acertaram neles mesmos".

234 mil portugueses no Reino O "nós" é "nós, os emigrantes", os

234 mil portugueses oficialmente re-gistados no Reino Unido ("Ui, somos muitos mais, há muitos não regista-dos, seremos para ai o dobro, no mí-nimo", diz Edgar Melo, 53 anos, urna glória dos juniores do Sporting vin-do de Aveiro, que se junta à mesa atrás de um cabrito que fumega bem assado) e que agora temem o aperto à malha da imigração.

"Essa foi a razão principal para eles votarem não à Europa, eles que-rem poder controlar as suas frontei-ras, não querem ter cá tanta imigra-ção, não querem que lhes roubem os empregos", continua Ricardo. "E a

segunda razão também é simples: os ingleses, como sabemos há séculos, não gostam que mandem neles como a Europa mandava. Foi por isso que se atiraram para a frente".

Na casa azul do Porto em Londres É um café extremamente portista, carregado de "memora bilia" , evi-dentemente azul e branco, fotos an-tigas dos Clérigos, das pontes, de Pinto da Costa quando era novo, um ecrã gigante onde a bola se ia jogar.

Chega o gerente, ainda há pouco andava de esfregona na mão, e ele há de contar a maior surrealidade do Café Porto de Londres, que ele ex., piora há quatro meses: "Sabe, eu sou do Benfica e o meu outro sócio é do . Sporting, talvez seja melhor não di-zer nada a ninguém". Chama-se Jo-sé Pedro Cabral, tem 48 anos, é ca-sado, dois filhos. Ele é de Mangualde, está aqui emigrado há U anos e já tra-balhou muitas vezes na construção. A mulher é professora, veio de lá de-sempregada, assim continua.

A política à mesa do café É de José Pedro a súmula emigrante que define o Brexit e toda esta con-fusão. Saiu-lhe a frase naturalmente pelo ar: "Ui, isto não vai ter nada de bom, carago", diz ele a tentar des-comprimir, mas a olhar para o cená-rio com apreensão.

"Acho que vamos atravessar aqui

um período de descolonização. O que é que eles vão agora fazer? Vão correr com os emigrantes? Vão fe-char as fronteiras? E a economia, vai piorar? E a libra vai desvalorizar? Pois não faço ideia, nem eu nem acho que ninguém, mas nada disto, nada disto é bom", diz ele a discutir com Ricar-do e Edgar os trâmites da transição. "Eles que se entendam, né? O que não queremos é que corram connos-co", sintetiza Edgar, há 27 anos a mo-rar em Londres e sem vontade ne-nhuma de se mudar.

Os ingleses estão fartos de ceder Mais à frente está o Sintra Café Snacic "É o estabelecimento português mais antigo daqui", diz orgulhoso Luis Bar-reiros, 65 anos. Velo de Vendas No-vas, há mais de três décadas que anda aqui, a apontar para a fachada verde da sua trindade, café, restaurante e supermercado.

Dos que ouvimos desde o referen-do, Barreiras é de todos (é o único?) o mais tranquilo, adjetivo que não é alheio à sua idade. "Nem receio, nem medo. Estou bem estabelecido, sou residente definitivo, daqui a cinco anos volto para a terra para ficar". anuncia ele atrás do seu avental, ele que quando veio, veio sozinho.

Mas. Luís Barreiras, por que é que os ingleses querem sair da Europa unida? "Por causa dos emigrantes, eles ficaram saturados. Foi por isso e

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em que para eles vai piorar

pelas leis europeias, eles estavam fartos de ceder. E para um inglês ter que ceder à Alemanha ou à França... bom, para eles é dose de mais".

180 libras à semana por um quarto Se os mais velhos estão mais sosse-gados, os mais novos não sabem o que pensar. É o que diz a cara de Ma-ria Amaral, viseense, 23 apos, unhas verdes, cabelo loiro, empregada de servir ali no meio de Little Poriugal. Veio do Porto para Londres há ano e meio, não tem filhos, veio de traba-lhar à mesa no My Palace. "Vim para compor a vida, pois, aqui ganha-se muito mais, claro".

Na altura, veio sozinha, mas Ma-ria, agora, já cá tem o namorado, o Carlos, 26 anos, de Cinfães do Dou-ro, ele chegou em agosto, trabalha na construção civil. Os dois dividem a renda por um quarto, pagam 180 li-bras por semana pelo quarto (são 221 euros, o que dá 884 euros de renda mensal), a cozinha e a sala de banho são a dividir por todos os habitantes de uma casa com cinco quartos. "Pois aqui ganha-se mais, mas não é fácil. Trabalha-se muito, sabe, e tam-bém é tudo mais caro do que lá, em Portugal". Não saberá dizer por que é que o Brexit a tolhe, Maria, sabe 'só que "vai ser pior, sobretudo para nós, os estrangeiros, e, claro, vai ficar tudo ainda mais caro. Só espero é que dê para aguentar". •

QUANTO TEMPO É QUE O REINO UNIDO VAI DEMORAR A SAIR DA UE? *0 primeiro passo é formalizar a vonta-de de sair, acionando o artigo 50 do Tra-tado de Lisboa. David Cameron vai re-nunciar até outubro, delegando a tarefa ao sucessor. A partir daí, as negociações devem demorar até dois anos, mas o Go-verno diz que pode seguir-se uma déca-da de incerteza. Os líderes da UE estão decididos a encerrar o assunto "o mais rápido possível".

E SE NÃO FOR CUMPRIDO O PRAZO DE DOIS ANOS? . *O Reino Unido pode pedir uma exten-são, que tem de ser concedida unanime-mente por todos os membros da UE . Caso contrário, sai sem acordo.

QUAL SERÁ A SITUAÇÃO DOS IMIGRANTES NO REINO UNIDO? *A mudança de políticas não é certeza adquirida, mas o mais provável é que os vistos de trabalho e residência sejam re-vistos. Especialistas dizem que a imigra-ção será um dos pontos-chave das ne-gociações. O presidente da Câmara de Londres, Sadiq Khan, garante a todos os cidadãos estrangeiros a viver na cidade que "são muito bem-vindos". Quanto ao programa Erasmus, os países do Reino Unido deixam de ser partida e chegada para estudantes.

HÁ RISCO DE RECESSÃO? *O presidente do Banco_Central

' da Inglaterra e o ministro da Eco-nomia alertaram para esse perigo, mas apoiantes do Brexit falaram em "exagero". O mais provável é que companhias e investidores comecem a retirar dinheiro do país ou a reduzir planos de expansão.

QUAL VAI SER O IMPACTO EM PORTUGAL? *Portugal está na zona de "impacto si-gnificativo". O abalo pode estimar-se em 400 milhões de euros entre 2017 e 2019: 200 em ex-portações, 100 em ser-viços (turis-mo e viagens) e 100 em inves-timento britânico.

PORQUE É QUE AS EXPORTAÇOES SAEM MAIS PENALIZADAS? *0 Reino Unido é o 4.° mercado das

exportações portuguesas. As barreiras alfandegárias, o abrandamento da eco-nomia britânica e a descida do valor da libra elevarão os custos para quem ex-porta e os preços para quem compra.

QUAL VAI SER O SETOR PORTUGUES MAIS AFETADO COM A SAÍDA? *A indústria automóvel será um dos mais afetados, em especial a AutoEuro-pa, que vende 12% da produção para o Reino Unido.

VAI SER PRECISO PASSAPORTE PARA VIAJAR PARA O REINO UNIDO? •Com a saída do país da UE, o mais pro-vável é que seja preciso passaporte e deixe de ser necessário apenas o cartão de cidadão.

PODERÁ HAVER UM SEGUNDO REFERENDO? *Mais de um milhão de pessoas pedem novo referendo porque o "sair" ganhou por menos de 60% e com base numa taxa de participação inferior a 75%, mas, segundo o especialista em direito consti-tucional Vernon Bogdanor, e as últimas declarações de Bruxelas, a repetição é pouco provável.

ALGUM DIA O REINO UNIDO PODERÁ VOLTARA UE?

*Sim. Segundo o Tratado de Lisboa, o Conselho Europeu teria de concordar

, unanimemente, depois de reunir com a Comissão e receber

permissão do Parlamento. A decisão teria ainda de

ser ratificada por to-. dos os estados-.

membros. RITA SALEMAS

Contados os votos, 51,9% dos votantes optaram pelo Brextt, enquanto 48,1% escolheram ficar

m aberto s

Os efeitos do Brexit fizeram-se sentir poucas horas depois, quando a moeda do Reino Unido registou a maior queda desde há 31 anos e forçou a descida da cotação do petróleo, do euro e das bolsas. Quanto a consequências a longo prazo, ainda não há respostas concretas.

Brexit Mundo f»

"Bola continua do lado do Reino Unido" Portugal pode lançar-se numa negociação com o Reino Unido, paralela à de Bruxelas? Quem vai negociar a saída é o Conselho Europeu, onde cada estado-membro está representando. Há todo um mundo jurídico a desmontar, além de direitos e garantias a serem estabelecidos. Só pode haver alguns acordos laterais entre o Reino Unido e outros países em áreas que não se-jam exclusivamente da competência da Comissão Euro-peia, como acordos aduaneiros, comerciais ou sobre o mercado interno.

Então, acordos bilaterais luso-britânicos, de modo a ga-rantir political aduaneiras ou sobre imigração, são para esquecer? Será completamente impensável. O acordo de saída será algo duramente negociado e pode durar até quatro anos.

O jornal inglês "The Telegraph" falou em 10 anos. Isto nunca foi experimentado. Dez anos parece ser excessi-vo. Mas poderá não ser dois anos. Pode acontecer nesse período fechar-se um acordo transitório.

Quando arrancam essas negociações? O referendo só por si não iniciou um processo de saída. Para que tal aconteça, é preciso que o Reino Unido notifi-que Bruxelas, o que se presume que aconteça nos próxi-mos tempos. O Tratado de Lisboa não prevê que seja uma iniciativa da União Europeia.

E se o Reino Unido, imaginemos, fechar as fronteiras? Nesse caso, há um incumprimento que pode originar sanções. Mas, como referi, a bola continua do lado do Reino Unido.

É possível que a Escócia e a Irlanda do Norte se mante-nham na UE, ao referendarem a sua permanência no Rei-no Unido? Mas serão sempre novos estados. A partir do momento em que esses novos países se separassem, passariam a ser paí-ses terceiros. Este referendo arrastou-os para a inevitabili-dade, porque é só um e único país. Só depois da indepen-dência poderiam iniciar um processo de adesão. E que fa-zer com esse pedidos de adesão, quando há países há tan-tos anos à espera, como a Turquia?

O Tratado de Lisboa criou a cláusula de saída de países a pensar no Reino Unido, um estado que foi sempre acusa-do de ter um pé de fora do projeto europeu e de nem se-quer se rever nele? Não havia grande previsão que isto viesse acontecer. Mas foi uma exigência de alguns estados que estivesse assegu-rado esse mecanismo. E verdade que o Reino Unido nunca fez parte do Espaço Schengen ou da união monetária, e houve áreas em que sempre se foi afastando, seguindo a uma velocidade própria.

Se o Reino Unido já tinha esse grau de autonomia e pe-rante o regime de exceção negociado em fevereiro, o por-quê desta vitória do Brexit? Sou advogada, não sou socióloga. Mas houve aqui um pro-cesso emocional, de grande faixa da população inglesa que, mal ou bem, se sentia desconfortável com a presença na União Europeia. Os partidos populistas e nacionalistas encontraram aí um terreno fértil para crescer e levaram a melhor nos seus intentos. MUNO MIGUEL ROPIO

flash : Sara Estima Martins Especialista em Direito Europeu da PLMJ

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Empresários algarvios - admitem procurar alter-nativa aos turistas ingle-

ses noutros mercados

quanto está em risco

o

milhões de euros é em quanto um estudo da consultora Euler Hermes estima o valor das per-das para as impresas exporta-doras entre 2017 e 2019

mil milhões de cures foi o mon-tante das exportações portugue-sas de bens, excluindó serviços, para o Reino Unido em 2015

é o peso das exportações portu-guesas para o Reino Unido. As importações representam 4,8%

Expectativas Turismo e exportações os mais afetados pela saída do Reino Unido

Empresários estão preocupados mas rejeitam pânico

O choque pelo mundo A opção britânica pela saída da UE ultrapassou larga-mente as frontei-ras europeias. Na índia, ex-colónia do Reino, compa-ram-na mesmo à primavera árabe.

Revista de Imprensa

EL Plifs elvodrp097,;;"::' bilitildei yd """1011411

Mundo 3rexit

Cátia Simões • catia.simõ[email protected]

i> "Estamos preocupados, mas não há razões para o país estar em pâ-nico." É desta forma que Jorge Ar-mindo, presidente da Amorim Tu-rismo, resume o sentimento face ao resultado do referendo no Reino Unido, que votou a saída da União Europeia com 51,9% dos votos.

"A Inglaterra é um dos grandes países emissores de turistas para Portugal e temos de ter um plano B, que já tinha sido considerado face

a uma eventual vitória da saída, mas não estamos em pânico".

O presidente do Turismo do Al-garve, Desidério Silva, refere, por seu lado, que será necessário apos-tar noutros mercados emissores -como o alemão, o francês ou o ho-landês - para "tentar compensar" uma eventual perda de turistas bri-tânicos. "A preocupação é grande", admitiu.

lá o presidente da Associação de Hotéis e Empreendimentos Turís-ticos do Algarve, Elidérico Viegas, frisa a "perda de competitividade"

face a outros destinos do Mediter-râneo, com consequências para as empresas e para a região, embora essa perda de competitividade não se vá sentir no imediato.

Do lado da Associação Portu-guesa de Agências de Viagens e Turismo, a atenção está focada no comportamento da libra. "A Ingla-terra é o nosso maior mercado. Es-tamos muito expostos", admite o dirigente Pedro Costa Ferreira. "Em sentido inverso, contudo, a desvalorização da libra permite uma maior emissão de turistas

portugueses para o Reino Unido. A Associação de Hotelaria de

Portugal tem uma visão menos pessimista. "Em termos de turismo em Portugal, não haverá nenhuma consequência", acredita o presi-dente, Raul Martins. "Os ingleses que são a favor da saída já não via-javam". O responsável admite a desvalorização da libra numa pri-meira fase, mas acredita que esta terá "tendência para recuperar".

Europa irrelevante Do lado das empresas. Eduardo Catroga, presidente não executivo da EDP e ex-ministro das Finanças, acredita que se abriu "uma caixa de Pandora cujo impacto não se sabe ainda milito bem qual será, mas. a médio prazo, tanto o Reino Unido como a Europa vão perder". Já António Costa e Silva, presiden-te da Partex e especialista em pe-tróleo, avisa que "por este caminho a Europa vai tornar-se irrelevante".

As associações empresariais também mostram preocupação com o resultado do referendo, já que Portugal é um mercado muito exposto ao Reino Unido: em 2015, as exportações de

bens (excluindo serviços) para o Reino Unido atingiram os 3,3 mil milhões de euros, sobretudo na área agroalimentar, têxtil e auto-móvel.

Paulo Nunes de Almeida, presi-dente da Associação Empresarial de Portugal, diz que "importa ter em conta que está em causa aque-le que, no ano passado, foi o quar-to maior mercado das exportações portuguesas de bens, com uma quota na ordem dos 7% do total, e o nosso sexto fornecedor, responsá-vel por cerca de 3% das nossas im-portações".

"Estes indicadores são ainda mais expressivos se considerarmos a balança de bens e serviços", com o peso das exportações a subir para 9,5% e o das importações a crescer para 4,8%. Esta dimensão leva a que a Confederação de Comércio e Ser-viços de Portugal se mostre preo-cupada com o impacto do Brexit, sobretudo a nível do projeto euro-peu. Uma visão em linha com a de-fendida por António Saraiva, da Confederação Empresarial de Por-tugal. A decisão "realça fragilidades e incertezas do projeto europeu". 'COM ANA BAPTISTA

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iffle Páginas 47a 52

Europa já prepara saída do Reino Unido • lek Sales de Medas pedes dm relereis • ~dada pespesa lê e te dna • Cada mãe partida paz Caseis Empem

1MeMigrel impar Em Londres

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O vinho do Porto é a exportação portuguesa mais antiga para Inglaterra. Joe Alvares Ribeiro, diretor executivo da Symington Family Estates, é um dos que mais vendem. Mas atualmente máquinas e aparelhos, veículos e materiais de transporte, vestuário e bens alimentares também estão na lista de exportações

2011 2012 2013 2014 2015

IMPORTAÇÕES 3500

3000

2500 2011 2012 2013 2014 201

2011 2012 2013 2014 2015

A Europa fica mais pequena

Obama garante que relação não vai mudar > O presidente dos Estados Unidos,

Barack Obama, disse ontem que o seu país respeita a decisão dos bri-tânicos e que a "relação especial" entre os dois países não será posta em causa. "O Reino Unido e a União Europeia continuarão a ser parcei-ros indispensáveis dos Estados

Unidos", disse Obama (foto), que aponta agora para negociações que "garantam estabilidade, segurança e prosperidade para a Europa, a Grã-Bretanha e Irlanda do Norte e o mundo". A declaração, feita cerca de 10 minutos após a abertura dos mercados nos Estados Unidos, não fez os britânicos esquecer o seu papel ativo em defesa da perma-nência na UE.

Farmacêuticas escapam na Bolsa > O dia em que o mundo soube que o

Reino Unido tinha decidido deixar a União Europeia não foi fácil nos mercados, com quedas generaliza-das em quase todas as praças euro-peias e mundiais. Mas nem todas as empresas saíram a perder (pelo menos muito) com a apreensão dos

investidores, lembra a Bloomberg. No setor farmacêutico - tradicional-mente considerado seguro em tem-pos de crise, porque as pessoas pre-cisam sempre de medicamentos-até houve quem fechasse o dia a ga-nhar. Foi o caso da britânica GlaxoSmithKline. A multinacional Johnson & Johnson também pro-vou a sua resiliência, caindo apenas 1% na Bolsa.

Queda da libra é ameaça às exportações e ao turismo

Risco. Prolongar o período de incerteza trará maior instabilidade e Portugal, país periférico, terá maior dificuldade em financiar-se

ANA MARGARIDA PINHEIRO

fil O Reino Unido é o qiiârto melhor cliente das exportações de Portu-gal. E o futuro das relações econó-micas terá, depois do brexi4 de pas-sar necessariamente por novos acordos bilaterais. O desafio é per-ceber quanto tempo vai demorar o processo de saída da UE, dizem os economistas contactados pelo DN / Dinheiro Vivo. O arrastar da incerteza poderá ter um efeito dominó e, Portugal, país perifé-rico, irá sentir os efei-tos negativos no in-vestimento e maiores dificuldades em fi-nanciar-se.

"Primeiro, porque a exposição de Portu- gal ao Reino Unido é relevante, em várias dimensões; em segundo lu-gar, porque já se percebeu que os ativos tidos como mais arriscados estão a ser penalizados", afirma Fi-lipe Garcia, economista da correto-ra IMF. As "taxas de juro da dívida dos países não cumpridores" vão aumentar por oposição à das

maiores economias, explica Pedro CosmeVieira, professor da Univer-sidade do Porto.

Ricardo Reis lembra também que "a incerteza é má para a eco-nomia porque leva as empresas a retraírem o investimento, à espera que o horizonte se torne mais cla-ro". É "sobretudo má para um país como Portugal, que tem uma enorme dívida externa e uma bai-xa taxa de poupança, que nos leva a dependermos de investimento e

capital externos" (ver suplemento Dinheiro Vivo).

Para já, o grande problema é a libra. Ontem, a moeda caiu 8,6%, tornando as ex-portações portugue-sas menos competiti-vas e deixando menos

dinheiro na carteira dos turistas britânicos que visitam Portugal.

É um cenário preocupante. No ano passado, Portugal vendeu pro-dutos no valor de 3,35 mil milhões para o Reino Unido e importou 1,88 mil milhões. E só nos primei-ros quatro meses deste ano, as ex-portações para Londres já cresce-

Balança comercial Portugal-Reino Unido EM MILHÕES DE EUROS

EXPORTAÇÕES 8000

7000

6000

5000

4000

INVESTIMENTO PORTUGUÊS NO REINO UNIDO DO REINO UNIDO EM PORTUGAL

800 700 600 500 400 300 200 100

ram 6,9%. Há 3713 empresas por-tuguesas a vender para o mercado britânico. .

Margarida Antunes, professora de Economia na Universidade de Coimbra, está menos pessimista. "O nível das tarifas alfandegárias é muito baixo, a UE tem uma pauta externa comum média de 5%. Ne-nhuma das partes terá interesse em pôr em causa as relações co-merciais de décadas."

Mas "há muito investimento eu-ropeu que já está aperder dinheiro com a desvalorização da libra", ga-rante Paulo Soares Pinho, professor da Universidade Nova de Lisboa.

Preocupados estão os operado-res turísticos doAlgarve. "O peso do mercado inglês é grande. É preciso criar as condições para minimizar esse impacto e fazer reajustamen-tos, procurando mercados que possam compensar a eventual di-minuição da procura e do poder de compra dos turistas britânicos", re-fere Desidério Silva, presidente do Turismo do Algarve.

Longo prazo preocupa

"Nos próximos 6-12 meses, Portu-gal pode ter uma nova crise de capi-

tais, exigindo novo apoio financeiro externa" Poderáhaverumafugade capitais para portos seguros, coma Europa a ser vista como um local ar-riscado para investir. Com os juros da dívida asubirem, os bancos terão maior dificuldade em financiar-se e, no limite, Portugal "pode falhar (mais uma vez) os objetivos do défi-ce e ir pedir mais tempo sem multas a Bruxelas", alerta Ricardo Reis.

O mesmo repete Muradalilbra-himo, professor no ISEG, referindo que "ao contrário do que é preten-dido, assistiremos provavelmente a uma desintegração da União Eu-ropeia, que trará consigo muita instabilidade. O caso do Reino Uni-do poderá fazer que outros países o sigam, como exemplo, e peçam também a saída".

Paulo Soares Pinho também as-sume que os maiores problemas estão no futuro. "Abriu-se uma cai-xa de Pandora que pode desinte-grar a UE. A Europa é cada vez me-nos importante e corre o risco de ser só a Alemanha e uns países mais pequenos." O risco de uma nova recessão mundial está agora acima dos 50%, alerta a gestora de ativos T. Rowe Price Group.

Queda da libra torna exportações

portuguesas menos competitivas

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DISCURSO DIRETO

Elidérico Viegas: Pres. Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve

"QUEBRA DA LIBRA REDUZ O PODER DE COMPRA" 13 CM: Quais as consequências da saída do Reino Uni-do da União Euro-peia para o turismo? Elidérico Viegas -Há uma preocupa-ção geral com a instabilidade do Reino Unido porque pode trazer implicações para os mercados turísticos que se podem refletir nos resulta-dos económicos na região. - A quebra da libra afeta o poder de compra dos turis-tas e residentes britânicos? - Sim, porque estamos a vi-ver a maior desvalorização da libra dos últimos 30 anos e isso tem como consequência direta a diminuição do poder de compra. Os reformados

recebem em libras, que têm de conver-ter em euros. Se vão ter menos euros, então vão gastar menos na região. - O setor hoteleiro

já está a ser afetado? - Os contratos com os ope-radores turísticos já estão assinados até ao final da época. Vamos começar a sentir na próxima época tu-rística, porque a tendência é para que os operadores ten-tem baixar os preços. - E qual a reação que o setor do turismo deve ter? - Não devemos abandonar o mercado britânico, pois será sempre estratégico (mais inf. págs. 27 a 30). •

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Peso do Reino Unido no PIB da União Europeia EM % DO TOTAL

20

16

12

6

o 95 98 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10

Reportagem. Portugueses a viver no Reino Unido esperam para ver o que virá agora que os britânicos votaram para sair da UE. São 200 mil os portugueses registados no consulado de Londres, poucos telefonaram ou enviaram um e-mail e à tarde nem havia fila para entrar no edifício

Emigrantes: "Daqui até lá muita coisa ainda pode mudar"

A Europa fica mais pequena

Europa perde uma das grandes potências > O Reino Unido é não só um dos prin-

cipais contribuintes para o orça-mento da União Europeia como um dos seus Estados membros com maior peso económico. De acordo com o Pordata (gráfico à direita) , em 2015 o país teve um peso supe-rior aos 16% no PIB da UE.

A Guerra dos Tronos em perigo?

> Entre as inúmeras teorias sobre as consequências do brexit, uma das mais originais foi avançada ontem no guia de televisão do jornal espa-nhol ABC. De acordo com este pe-riódico, a vitória dos que votaram pela saída da UE ameaça a continui-dade da popularíssima série da

HBO. A Guerra dos Tronos, nomea-damente a rodagem da sétima e (presumivelmente) última tempora-da da saga. Isto porque, explica o ABC, cada episódio da mais popular série televisiva de sempre custa a módica quantia de nove milhões de euros, sendo que os episódios com filmagens rodadas na Europa, no-meadamente em Espanha, benefi-ciavam de fundos comunitários.

SUSANA SALVADOR 4- enviada a Londres

As bicas continuam a sair com os "natas" mas a manhã de ontem ti-nha um sabor diferente na Patisse-de Lisboa e no Café O'Porto, em la-dos opostos da Rua Golbome, com o brexit a deixar um gosto meio amargo nas bocas dos portugueses deste cantinho de Londres. Não que os emigrantes, muitos há décadas a viver na capital britânica, estejam preocupados como resultado do re-ferendo sobre a UE. Simplesmente esperam para ver e questionam o que ai virá. E há até quem concorde com a decisão dos eleitores.

"Por um lado concordo com o que eles disseram, porque muita gente veio para aqui e já tem direito a tudo e mais alguma coisa sem nunca terem trabalhado", conta Ana Maria, de 60 anos, qtinsp meta-de deles em Londres. "Custa traba-lhar e ver os outros vadiar", desaba-fa ao lado a amiga. "Mas por outro discordo, por causa das conse-quências económicas. O poder de compra já vai ser menor", explica Ana Maria, numa mesa da Patisse-de Lisboa.

Tânia chegou há apenas quatro anos e confessa que a decisão a dei-xa indiferente. "Ainda não sei o que isso vai implicar para mim", explica, numa pausa do trabalho no café O'Porto. "Na altura, quando acon-

tecer, logo vejo o que acontece. Da-qui até lá muita coisa pode mudar", refere, admitindo que muitos clien-tes portugueses não estão felizes como brexit.

"Vai afetar as pessoas como eu, que têm negócios. Vamos voltar à burocracia de antigamente'3e,q)li-ca Carlos Gomes, proprietário do Lisboa Delicatessen, a primeira mercearia portuguesa a abrir no Reino Unido, já lá vão 46 anos. Mas diz isso sem preocupação. "Quan-do comecei tinha de ter autorização do departamento de agricultura

Quem votou no brexit não parece assustado com a queda da fibra

no dia seguinte

para importar os produtos e depois pedir mais um papel noutro sítio qualquer. Vai voltara ser assim, vou ter de voltar a pedir licenças, mas para o resto da malta não vai afetar nada, porque os que cá estão não vão ser expulsos", explica. "E até posso reformar-me e voltar à terra", desabafa.

São 200 mil os portugueses regis-tados no consulado de Londres, uma fração dos que vivem no país (há um segundo consulado a nor-te), já que muitos não estão regista-

dos. Poucos telefonaram ou envia-ram um e-mail com dúvidas sobre a situação e à tarde nem havia fila para entrar no edificio. "É óbvio que os portugueses vão estar com medo, agora não sabemos como é que fica a nossa situação cá. Mas eu estou tranquila", explica Ana Frei-tas, que trabalha e estuda há quatro anos na capital britânica, onde vive com o filho. A famflia ainda não li-gou de Portugal preocupada. "Se ti-vermos de voltar, voltamos, temos para onde voltar", diz, explicando que só não o faz porque a economia portuguesa não está boa. "A vida que tenho aqui com o meu filho é um bocadinho melhor, mais des-preocupada em relação ao dinhei-ro", explicou.

A última urna com os votos che-gou à câmara de Hammersmith e Fulham, na região de Londres, ain-da não eram 23.30.0 horário devo-tação tinha terminado uma hora e meia antes e, desde então, as equi-pas de voluntários debruçavam-se sobre as mesas cobertas com pano verde. Em grupos de três começa-ram por separar cis votos em mon-tes de 50, que atavam com elásticos, para efetuar uma primeira conta-gem e garantir que nenhum se ti-nha perdido pelo caminho.

À sua frente, os observadores do "ficar" e do "sai?' procediam a uma contagem rápida enquanto os vo-tos eram desdobrados e empilha-dos. Faltavam 20 minutos para a

uma da manhã quando se soube a participação. Dos quase 115 mil inscritos, tinham votado precisa-mente 70%. Começava a segunda ronda da contagem, com os votos a serem separados e havia um claro favorito, com os montes do "ficar" a subir a um ritmo mais elevado do que o brexit Mas, por esta altura, já tinham começado a pingar os pri-meiros resultadds nacionais... e o "sai?' estava a surpreender.

Entre os apoiantes do "ficar" os rostos iam ficando mais carrega-dos. Pelas 02.30 da manhã, quando foi anunciado oficialmente o resul-tado nesta circunscrição (69,3% a favor do ficar), o remara estava à frente do brexit, mas percebia-se que não era para durar. A festa não foi por isso calorosa, apenas alguns aplausos, porque os olhos já esta-vam centrados nos telemóveis, a tentar perceber o que acontecia nas outras circunscrições.

As televisões arriscaram declarar a vitória do brexitpelas 05.00, mas essa tendência já era clara desde

muito mais cedo. Emily optou por não ficar acordada a vero evoluir da contagem e, quando ainda ensona-da ligou a televisão, despertou em menos de nada quando viu que o brexit tinha ganho com 52%. "Fi-quei em choque, nem queria acre-ditar", contou na estação de com-boios de King's Cross. Com os olhos fixados nos monitores gigantes à espera que seja anunciada a plata-forma onde poderá seguir viagem para Aberdeen, esta escocesa expli-ca que o choque deu lugar à preo-cupação sobre o que vai acontecer e depois à raiva. "Devíamos ter vo-tado pela independência no nosso referendo", explica, recuando até 2014. Essa hipótese volta a estar em cima da mesa.

Escócia, tal como Londres e a Ir-landa do Norte, foram as únicas re-giões a votar maioritariamente no "ficar". No resto do país, o brexitfoi rei. De King's Cross partem diaria-mente dezenas de comboios para aquele que, ontem em Londres, quase parecia ser esse outro pais.

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Tiragem: 25986

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Informação Geral

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Contagem de votos demorou quase toda a noite de quinta para sexta--feira. Muitos foram os voluntários que ajudaram

Britânicos entopem Google com buscas > Na sequência da vitória do brexit, o

motor de buscas Google foi ontem posto à prova pelos cidadãos britâ-nicos, que se multiplicaram em per-guntas sobre as implicações da de-cisão que tinham acabado de tomar. A frase mais consultada foi mesmo : "0 que acontece se deixarmos a

União Europeia", que registou um aumento de 250% nas consultas, mas houve vários outros tópicos em alta, como a cotação da libra face ao dólar e ao euro, o preço das casas e "emigração". Presumivelmente, a maioria das consultas terão partido de eleitores que se tinham manifes-tado pela permanência já que os partidários da saída estariam dema-siado ocupados a celebrar.

10:56:48 """

NYSE

Desvalorização da libra agita e-comércio > A desvalorização da libra - que

ontem de manhã valia menos 12% na sequência do referendo sobre o brexit- motivou muitos internautas a tentarem aproveitar para ir às compras em sites como a Amazon britânica. Mas esta decidiu manter os preços à cotação da véspera.

TESTEMUNHOS Britânicos em Portugal confiam que a forte ligação entre os dois países permitirá manter intactas as relações bilaterais. Mas há muitas incógnitas e, se a libra cair muito, o turismo no Algarve acabará por ressentir-se

Ingleses no Algarve. Já há quem pense na dupla nacionalidade

Rob Paulson, que espera o comboio para Leeds, votou no brexit e é um dos poucos cujo sorriso não se transforma numa desculpa para não falar. "Apesar da queda da libra, acho mesmo que esta é a melhor coisa que aconteceu ao Reino Uni-do", explica o empregado de hotel, satisfeito até com o anúncio da saí-da do primeiro-ministro David Ca-meron. "Não podia ser ele a liderar um projeto que não defendeu na campanha." Sobre o eventual su-cessor não se quer pronunciar.

"A culpa é dos velhos racistas que se calhar já nem vão estar vivos quando esta situação estiver resol-vida e estão a estragar o nosso futu-ro." Essa era a mensagem da frase, carregada de asneiras, dita por um jovem na casa dos 20 anos que ou-via a conversa e que não se quis identificar. Segundo as contas feitas pelo The Guardian, 60% dos que têm mais de 65 anos votaram para "sair", enquanto quase três quartos dos que têm entre 18 e 24 anos vo-taram para "ficar".

A COMUNIDADE LUSA

Perto de 130 mil residentes > De acordo com dados esta-

tísticos britânicos, citados pelo Observatório da Emigração português, os ci-dadãos nacionais nascidos em Portugal e residentes no Reino Unido ascendiam aos 127 mil. Se incluir cidadãos com passaporte português nascidos noutros países este número sobe até aos 143 mil.

500000 > Lusodescendentes

Estima-se que mais de meio milhão de britânicos tenham antepassados de origem por-tuguesa.

1662 > Rainha Consorte

Ano da chegada a Portsmouth de Catarina de Bragança, que casou com Carlos II de Inglaterra.

Perfil do imigrante tem,mudado > Historicamente, o perfil do

imigrante português estava associado ao de trabalhado-res em empregos pouco qua-lificados, essencialmente na indústria, comércio e servi-ços. Mas, nos últimos anos, tem-se assistido a uma com-binação entre trabalhadores pouco qualificados e outros altamente qualificados, que trabalham em setores como a banca, a informática e a saúde.

156,22 > milhões de euros

Remessas enviadas para Portugal em 2013 pelos cida-dãos nacionais residentes no Reino Unido.

FILOMENA NAVES

Lotte Beedel vive há 17 anos em Por-tugal. Tinha apenas 13 quando veio com os pais, e por cá ficou, em Faro, onde agora vive e trabalha. Britâni-ca, bilingue, é professora de Inglês e tradutora profissional, e até ontem nunca tinha pensado em tornar-se também portuguesa. Mas o resulta-do do referendo alterou isso.

"Hoje [ontem] de manhã, quan-do soube da vitória do brexit, co-mecei a ponderar na dupla nacio-nalidade", diz. Não é que tenha re-ceio pelo seu futuro em Portugal, até porque acredita que os ingleses "que já cá vivem não terão de se preocupar". Mas, explica, "quero continuar a viajar sem problemas".

Para Lotte, não tem sentido o Reino Unido sair da União Euro-peia. "Foram 43 anos a trabalhar para uma união, não faz sentido desistir agora e fechar a porta às possibilidades da União Europeia", afirma. Por isso o resultado do refe-rendo "é triste", resume. Tendo a possibilidade de continuar cidadã da UE, tornando-se portuguesa, tenciona fazê-lo. E, na sua familia, não é a única a equacionar a hipó-tese. 'A minha irmã, que agora está em Inglaterra, mas que viveu mais de metade da vida dela em Portu-gal, também está a pensar pedir a nacionalidade portuguesa." -

Lotte não votou no referendo. Não pôde, "infelizmente", diz, por-que está há mais de 15 anos fora do seu país. "Se a maioria das pessoas que não têm direito a voto, incluin-do os jovens britânicos com menos de 18 anos, tivessem podido votar, talvez o resultado fosse diferente",

arrisca. De resto, lamenta também o resultado do referendo por esses jovens sem idade legal para votar, porque "trata-se do futuro deles", e não tiveram uma palavra a dizer.

O futuro está, afinal, cheio de in-cógnitas, sobretudo de carácter económico e financeiro. Brendan de Beer, chefe de redação do Portu-gal News, o maior jornal de língua inglesa publicado em Portugal, acredita que não haverá alterações nas relações entre Portugal e o Rei-no Unido. "Existe uma forte ligação entre os dois países, que é a mais antiga do mundo, e ambas as par-tes gostam dela e quererão mantê--la", afirma. 'A única preocupação é financeira", sublinha. "Se a libra desvalorizar demais, os turistas in-gleses virão menos e vão gastar me-nos dinheiro, e o turismo no Algar-ve vai ressentir-se."

O mesmo receio tem o empresá-rio britânico Mark Stillwell, que vive no Algarve, onde é coproprietário do Golfe do Vale do Milho, e cuja fa-mília está há mais de cem anos em Portugal. "Isto poderá criar proble-mas financeiros, porque 50% a 60% do turismo do Algarve depende dos ingleses e, se a libra cair muito, ha-verá consequências."

Mark Stillwell também não está propriamente satisfeito com o re-sultado do referendo. "Preferia que o Reino Unido ficasse e fizesse pres-são para que a UE se tornasse mais transparente e democrática", diz. Espera agora que isso tenha; pelo menos, "um bom efeito em Bruxe-las e leve os eurocratas a perceber que a UE precisa de mais transpa-rência e de criar uma relação mais próxima e democrática com os seus cidadãos".

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Correio da Manhã Algarve Tiragem: 140038

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Informação Geral

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ECONOMIA NEGÓCIOS COM A CHINA A Associação Jovens Empre-sário Portugal-China (AJEPC) e a Associação do Comércio e Serviços da Região do Algarve (ACRAL) assinam, a 4 de ju-lho, as 18h00, no ati&ório da RTA, um protocolo de colabo-ração tendo em vista o desen-volvimento de negócios en-tre o Algarve e a China.

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Tiragem: 27000

País: Portugal

Period.: Semanal

Âmbito: Informação Geral

Pág: 54

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Área: 23,30 x 28,60 cm²

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NOTEIS ESGOTADOS NO ALGARVE Sofia Martins Santos sofia.santos(q)sol.pt

Depois de anos de contenção, os por- tugueses estão a viajar mais. O des- tino de eleição é o sul do país, que tem procura até fora da época alta. Setor antecipa crescimento superior a 5%.

IWI arcar férias de verão no Algar-ve vai ser uma tarefa pratica-mente impossí-vel este verão, já

que os hotéis estão praticamen-te esgotados. As reservas inter-nacionais estão a subir e a pro-cura interna também aumentou. Elidério Viegas, presidente da Associação dos Hotéis e Em-preendimentos Turísticos do Al-garve (AHETA), garante ao SOL que a região está cheia até nos meses fora da época alta.

«No verão a taxa de ocupa-ção é igual a si mesma: o Al-garve está cheio. O que tem acontecido é um aumento da procura noutros meses. Tive-mos nos últimos meses o do-bro da procura que esperáva-mos. Além disso, a tendência é que isto se mantenha. A

perspetiva não podia ser me-lhor. Esperamos um cresci-mento de 5% em relação aos valores do ano passado», expli-ca, acrescentando que, antes, o Algarve ficava esgotado apenas no verão - mais precisamente entre 15 de julho e 25 de agosto. Uma realidade que parece ter mudado. «Estamos à espera que a procura continua a su-bir nos meses de setembro e até de outubro», afirma o pre-sidente da AHETA.

Depois de anos de contençao, as famílias parecem mais dispos-tas a ir de férias. A enchente no Algarve estava prevista deste o início do ano, mas Elidério Vie-gas admite que haverá impactos. «Este fenómeno é sempre es-perado, mas acontecer no Al-garve é fatal em algumas al-turas. Vai haver mais gente e não nos podemos esquecer

que o Algarve já está a 100%. Não há como crescer. Não po-demos estar a 120%».

Para o responsável pela AHE-TA é claro que haverá diferenças este ano, nomeadamente nas es-tradas: «Os turistas estrangei-ros viajam de avião. O que se vai notar é que, como vai ha-ver mais portugueses a procu-rar o Algarve e esses fazem a viagem de carro, vai haver mais carros no Algarve nesta altura».

Crescimento generalizado A tendéncia de crescimento não acontece apenas no Algarve. Ao SOL, Pedro Costa Ferreira, pre-sidente da Associação Portugue-sa das Agéncias de Viagens e Tu-rismo (APAVT), explica que «de-pois de uma descida muito significativa, provocada pelo ajustamento macroeconómi-co recente, o mercado de lazer começou a recuperar em 2014, tendo consolidado essa recu-peração em 2015, no segui-mento da subida dos índices de confiança dos consumido-res». Uma trajetória ascendente que tem tudo para se manter também este ano: «Os períodos mais significativos de venda

que este ano já aconteceram, nomeadamente a Páscoa, bem como o nível atual de reser-vas para o verão, permitem pensar que manteremos ao longo de 2016 uma tendência de crescimento, que estimaria entre 5% e 8 %».

De acordo com o estudo mais recente da Cetelem, os portugue-ses são dos cidadãos europeus que mais fazem férias. Os dados mostram que 49% dos portugue-ses com menos de 50 anos foram de férias no último ano, mais 12% do que a média dos países na Europa, um indicativo de que as gerações mais jovens, em Por-tugal, têm maior propensão para aproveitar bem os dias de des-canso. Outro um estudo, da Tri-

vago, mostra que os portugueses tendem a viajar cada vez mais `cá dentro'.

Férias 'oã dentro' De acordo com os dados recolhi-dos por este motor de busca de hotéis, Portugal revela uma per-centagem elevada de turismo in-

Associação de agências de viagens prevê crescimento este ano

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Tiragem: 27000

País: Portugal

Period.: Semanal

Âmbito: Informação Geral

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NÚMEROS

2014 foi o ano em que o mercado do lazer começou a recuperar. Uma tendência que se manteve em 2015 e se prevê que continue

49% dos portugueses com menos de 50 anos foi de férias no último ano, mais 12% do que a média dos países da Europa

68% é a percentagem de turismo interno, de acordo com um estu-do da Trivago. Ou seja, do total de pesquisas por destinos de férias, dois terços são para destinos nacionais. O Algarve continua a ser a jóia da coroa

Procura de outros destinos Viagens de portugueses para Cabo Verde, Espa-nha e Caraíbas estão a aumentar.

Com as férias a bater à porta, há também quem procure alternati-vas fora de Portugal, e esta procu-ra está também a aumentar face a anos anteriores.

Ao SOL, Alberto Machado, por-ta-voz da agência Abreu, explica que a empresa regista «um ligei-ro crescimento no volume de reservas face a igual período

do ano anterior, o que de resto já acontecera em 2015 compa-rando com 2014». Esse cresci-mento é válido tanto na procura interna - Portugal continua a ser o destino no topo das preferências dos portugueses - como na procu-ra externa.

E há destinos que ganham cada vez mais expressão quando che-ga a hora de escolher para onde apanhar o avião. «Há a subli-nhar Cabo Verde, Espanha -com relevo para Baleares e Ca-nárias— e Caraíbas», frisa.

E, reforçando a nota de que os

portugueses dão cada vez mais importância ao turismo cultural, o porta-voz indica também «as cidades europeias e os circui-tos europeus », com destaque para os «que contemplam a Eu-ropa Central e a Europa Medi-terr 'ártica».

Também o Brasil continua a ter expressão na hora de escolher, mas não só. Há quem prefira es-colher os cruzeiros, «sobretudo os que têm por cenário o Medi-terrâneo Oriental e Ocidental e o Norte da Europa».

S.M.S.

terno: 68,89% das pesquisas dos portugueses são para destinos nacionais. Espanha, que repre-senta 14,53% das pesquisas, con-quistaria o segundo lugar. Jun-tos representam mais de 80% das pesquisas dos portugueses. O Al-garve é o centro da procura e Al-bufeira lidera as preferências no momento de procurar soluções para o período de férias.

No entanto, desengane-se quem pensa que Albufeira é urna espécie de capital do sul do país. De acordo com Elidé-rio Viegas, todas as zonas do Algarve estão lotadas. «A dis-tribuição é igual. Só na épo-ca baixa é que há grandes di-ferenças com Monte Gordo a liderar a procura».

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País: Portugal

Period.: Semanal

Âmbito: Economia, Negócios e.

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Dillip Rajakarier "Ainda neste ano teremos os Tivoli no Médio Oriente' Grupo tailandês quer recuperar a marca em que "não se investiu durante anos". Vai gastar 6o milhões em renovações e vê o Porto como oportunidade Textos: Ana Baptista

O que motivou o grupo Minor a comprar os Tivoli? Primeiro a marca, que é uma da mais antigas, tem 85 anos, e depois porque no nosso plano estratégico sempre quisPmos entrar na Europa Temos muitos clientes europeus que nos vi-sitam nos hotéis que temos na Ásia, no Médio Oriente e em África e pen-sámos que podíamos usar estas in-fraestruturas para expandir a marca para outros destinos e também trazer as nossas marcas para a Europa. Tam-bém nos atraíram as propriedades, ou seja, os hotéis, que estão em boas lo-calizações e têm muito potencial, além da estrutura que os Tivoli têm, ou seja, as pessoas. Além disso, Portu-gal é, como país dentro da Europa, muito estável e seguro e um destino onde há uma boa relação qualidade preço. No geral, o serviço e os quartos de hotel são bons, as pessoas são sim-páticas, há múltiplas experiências que se podem ter e o custo de vida é relativamente baixo. Porque é tão importante para uma empresa tailandesa ter hotéis na Europa? É uma questão de diversificação e também porque temos muitos clien-tes europeus, e é simpático trazer as marcas e a experiência que se têm lá para cá, com a comida e os spa. Que marcas é que pode trazer? A nossa marca de luxo chama-se Anantara, que está muito bem esta-

www.dinheirovivo.pt Leia a entrevista na íntegra ao CEO do grupo Minor e ainda ao diretor dos Tivoli do Algarve em www.dinheirovívo.pr

belecida em todos os mercados e al-guns hotéis são de facto icónicos com essa marca. Temos a Avani, que está mais ou menos ao mesmo nível do que os Tivoli, e a Oaks, que são apar-tamentos com serviços de hotel. São estas as marcas que penso que fazem sentido em Portugal e na Europa. O processo de compra dos Tivoli foi complicado e longo, demorou qua-se dois anos, houve o risco da insol-vência e decisões dos tribunais que quase impediram o negócio. Não ti-veram vontade de desistir? Para nós, era um negócio importante e garantimos aos empregados que ía-mos fechar o negócio e que o faría-mos apesar de tudo. Porque todos os obstáculos que apareceram podiam ser resolvidos e já tínhamos feito ne-gócios que tinham sido complicados, estávamos habituados a isso. Temos paciência e sabemos lidar com dife-rentes personalidades, diferentes ins-tituições financeiras e, acima de tudo, sabemos lidar com pessoas. E por isso não iríamos desistir nunca. Fizeram um bom negócio? Um bom negócio é aquele que pode produzir bons resultados a longo pra-zo e foi isso que vimos nos Tivoli. Às vezes até podemos comprar barato, mas depois podem aparecer proble-mas com a infraestrutura, o pessoal, a propriedade ou as questões politicas do país e isso não queremos. Para nós, era importante o potencial futuro dos Tivoli, saber que podíamos expandir a marca e transformar algumas destas propriedades em hotéis icónicos. Pagaram quase 30o milhões de eu-ros. Foi barato? A aquisição dos Tivoli foi a maior que fizemos desde sempre e foi também a maior aquisição de hotéis em Portu-gal desde sempre. Quais são os vossos objetivos agora?

Estamos a estudar a abertura de ho-téis Tivoli noutros destinos e teremos novidades em breve. Esse é o nosso plano, expandir a marca para fora de Portugal. Já têm destinos definidos? Para destinos onde somos fortes, como o Médio Oriente, África, Aus-trália e Ásia. Mas inicialmente vamos levar os Tivoli para o Médio Oriente e para Ásia e talvez para alguns dos paí-ses africanos de língua portuguesa, como Moçambique ou Angola. Já te-mos cinco hotéis em Moçambique,

PERFIL

Dillip Rajakarier Entrou em 2007 no Minor Ho-tel Group, da empresa tailan-desa Minor Internacional, fun-dada em -1978 pelo americano William Heinecke. Em 2011 su-biu a CEO graças ao desempe-nho na expansão da marca e na compra de hotéis, chegan-do às atuais 145 unidades na Ásia, em África, no Médio Oriente e agora na Europa. Foi esse desempenho que o levou, em 2013, a acumular o cargo de CEO dos hotéis com o de administrador responsável pe-las operações do grupo todo. Agora tem outro objetivo ime-diato: chegar aos 190 hotéis.

das marcas Anantara e Avani, mas há potencial para ter a marca Tivoli, por ser uma empresa portuguesa. E quando é que isso acontecerá? Espero que no final deste ano ou no início do próximo possamos já ter al-guma coisa, talvez no Médio Oriente ou na Ásia. Em Portugal faz sentido abrir novos hotéis? A nossa tarefa principal é elevar os ho-téis, porque os Tivoli não eram o negó-cio principal dos anteriores proprietá-rios e para nós, que somos hoteleiros, é o negócio principal. O nosso foco é renovar e transformar os hotéis, por-que a estrutura é boa, mas não são re-novados há 15 ou 20 anos, ou, em al-guns casos, há 30 ou 40.

• Já começaram a renovação? Já renovámos os dois hotéis em São Paulo, no Brasil, e cá já fizemos os quartos do Oriente e do Marina Vila-moura e neste ainda vamos fazer, na época baixa, um centro de conferên-cias e vamos mexer na envolvente e na entrada exterior. Depois, até ao fi-nal do ano, vamos começar o Tivoli Jardim e o Tivoli Lisboa, que vai tor-nar-se o hotel de referência da marca, e vamos mexer no Victoria [em Vila-moura] e no Carvoeiro [Algarve]. Este é uma propriedade fabulosa, numa localização fantástica, e foi uma pena que não tenha sido renova-do nos últimos 20 a 25 anos, porque precisa de muito investimento e, quando acabarmos, vai disparar. O Carvoeiro é um dos hotéis onde vão gastar mais dinheiro? Sim, porque nada foi feito durante muitos anos. Penso que aí gastare-mos uns 15 a 16 milhões de euros. Quando estarão prontas as obras? Todas estas obras que referi estarão prontas antes de meados do próximo ano.

E quanto vão investir no total? Serão 60 milhões de euros em reno-vações nos próximos dois ou três anos. É um grande investimento para nós e adicional ao que já pagámos pela compra dos ativos, mas o panora-ma turístico aqui em Portugal é mui-to positivo e está a melhorar muito. Com essas renovações esperam que as receitas e a ocupação subam? Já estamos a crescer este ano, creio que entre 10% e 15%, e espero que continue. Mas vai ter mais impacto quando as renovações estiverem con-cluídas, porque teremos clientes que pagam mais. Temos de ser capazes de trazer o tipo de clientes que temos na Ásia para a Europa e para Portugal. São clientes que gastam mais? Vão aumentar os preços? Sim, mas como também vamos me-lhorar a qualidade dos quartos, dos serviços e da experiência, os clientes vão pagar mais porque existe uma boa relação qualidade preço. Portugal é a próxima grande cena na Europa ou no mundo? As pessoas vêm para aqui para se re-formar porque há incentivos fiscais, há grandes economias como a China que estão a investir por causa dos vis-tos gold. Do ponto de vista turístico, Portugal costumava ser um bom hub e acho que isso vai voltar. Porquê? Tem boas ligações aéreas e penso que no futuro, se Portugal conseguir abrir rotas para economias emergentes como a China e a Índia, isso vai trazer valor ao turismo. Um voo direto para a China seria ótimo. Porque vão mudar o nome do Tivo-li Victoria para Anantara, a vossa marca de luxo? Temos dois hotéis com a mesma mar-ca no mesmo local, o Marina e o Vic-toria. É quase como se estivessem a

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País: Portugal

Period.: Semanal

Âmbito: Economia, Negócios e.

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1 0 grupo Mínor vai gastar 16 milhões no Tivoti do Carvoeiro, um dos que mais pre-cisam de renovação. 2 0 Tivoti Lisboa co-meça a ser remodela-do neste ano e será a referência da marca. 30 Tivoli de Vilamou-ra renovou os quar-tos, mas vai ter um novo centro de confe-rências e obras no ex-terior. Tudo somado são 17 milhões.

competir um com o outro. E o Victo-ria é uma propriedade tão boa que pode ser facilmente transformado num hotel de seis ou sete estrelas sem muito investimento. Devemos investir uns quatro ou cinco milhões, porque o hotel só precisa de alguns retoques. E pensam mudar o nome do Tivoli Lisboa ou o do Carvoeiro? Não, de maneira alguma A marca é muito conhecida. No Brasil também querem abrir mais hotéis Tivoli? Estamos à procura e deveremos ter

novidades nos próximos meses. Mas no Brasil também há espaço para mais uma das nossas marcas. Há um outro empreendimento do Grupo Espírito Santo, e que está à venda, a Herdade da Comporta. Es-tão interessados? Conheço, mas esse é um projeto que vai demorar muito tempo a fazer, é muito grande e o nosso foco é no po-tencial que já existe. Ou seja, não pensamos nisso agora. Ter um resort está fora de questão? Não, isso não, mas preferíamos fazer, por exemplo, um Tivoli no Porto, por-

que acho que há lá muitas oportuni-dades. Há lá muitos turistas agora, até norte-americanos, por causa das liga-ções aéreas diretas para o Porto. Admitem apostar só imobiliário? Temos algumas coisas de uso misto, como casas ligadas aos hotéis, mas não fazemos só imobiliário e não queremos. As nossas casas são de grande luxo e precisam dos serviços de um hotel como a lavandaria, os serviço de quarto, os restaurantes, a segurança. Se for imobiliário puro e duro é mais dificil conseguir este ní-vel de luxo.

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Tiragem: 114574

País: Portugal

Period.: Semanal

Âmbito: Economia, Negócios e.

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Cores: Cor

Área: 7,43 x 6,39 cm²

Corte: 3 de 3ID: 65022084 25-06-2016

ENTREVISTA - P. 04-05

DiWp Rajakarier O CEO do grupo tailandês Minor, que comprou os hotéis Tivoli, diz em entrevista que a estratégia passa por levar a marca para o exterior e que o Porto tem "muitas oportunidades" no turismo.

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Tiragem: 114574

País: Portugal

Period.: Semanal

Âmbito: Economia, Negócios e.

Pág: 5

Cores: Cor

Área: 10,75 x 30,00 cm²

Corte: 1 de 1ID: 65022091 25-06-2016

Impacto dos tailandeses nos hotéis já se sente e vai ser ainda maior

São sete e meia da tarde de uma terça-feira de junho. Estão uns 26 graus e uma leve brisa morna. Numa das esplanadas do hotel Ti-voli Marina de Vilamoura não há lugares e há um corrupio de cocktails a chegar às mesas. Está cheia de turistas, alguns franceses e brasileiros, mas na maioria ingle-ses e americanos, e são todos hós-pedes do hoteL

"Hoje estamos com mais de 90% de ocupação", disse ao Di-nheiro Vivo o diretor dos cinco ho-téis Tivoli no Algarve, Jorge Belda-de. "E devemos fechar o mês pró-ximos dos 88%, o que já é superior ao que tínhamos previsto", acres-centa. E isto com os preços a subir. "Aumentámos os preços 20 a 80 euros, consoante a tipologia, mas em termos globais, no ano, conta-mos ter um aumento do preço médio de 20%, para 170 euros por noite", disse Jorge Beldade.

Para o gestor, o facto de conse-guirem manter a ocupação mesmo com os preços mais altos é um re-flexo da melhoria da economia e do bom momento que Portugal está a atravessar em termos turís-ticos, mas já é também o impacto da gestão dos novos donos.

Os tailandeses da Minor, que fe-charam a compra em fevereiro, já começaram a investir em renova-ções e, segundo Jorge Beldade, ha-vendo melhorias nos hotéis, "a es-

NÚMEROS

294 —milhões de euros Foi o valor pago pela Minor pelos 12 hotéis Tivoli em Portugal e mais dois no Brasil. Ainda vão investir mais 6o milhões em renovações.

20 —nulhães de euros É a receita esperada no Tivoli Ma-rina de Vilamoura este ano. Em causa, a subida de preços devido às obras já feitas pelo novo dono.

tratégia do grupo é agora privile-giar o preço em vez da ocupação, para assim aumentar as receitas".

"As remodelações eram necessá-rias para reposícionar o produto e nos reposicionar outra vez no topo da hotelaria, para podermos ven-der mais caro, que é o nosso gran-de objetivo: vender mais caro e au-mentar os resultados. Isso não era possível atendendo às dificuldades que o Grupo Espírito Santo tinha, mas agora tudo o que estava pre-visto vai ser feito", adiantou.

Além disso, adiantou Jorge Bel-dade, a partir do próximo ano os Ti-voli vão tirar "partido da força glo-bal de vendas do grupo Minor" e, portanto, a expectativa é de que o crescimento das receitas e da ocu-pação seja ainda maior. Também ajudará "quando aparecer um voo direto para a China", diz o gestor, confiante de que "essa ligação está para acontecer, penso que ainda neste ano. Estamos a contar com isso".

O comprador ideal O processo de compra dos Tivoli foi tudo ménos tranquila. Durante quase dois anos, os tailandeses ti-veram de lidar com um pedido de Processo Especial de Revita li7ação (PER), com a quase situação de in-solvência e com o arresto de alguns dos ativos que queriam comprar. Tudo por causa do colapso do Gru-po Espírito Santo, ao qual perten-ciam os Tivoli. Mas não desistiram e acabaram por fechar o negócio a 2 de fevereiro deste ano.

Ou seja, "até correu tudo bem", disse Jorge Beldade. Que acrescen-tou: "Alguém no país acreditava que, o BES ia colapsar? Ou que o Ri-cardo Salgado fazia aquelas malan-drices todas? Sempre o vimos como a fonte mais credível da ban-ca e foi uma surpresa total para to-dos. Mas conseguimos não entrar em insolvência e nos anos em que estávamos em perigo melhorámos os resultados, mantivemos as equipas e ainda conseguimos ser vendidos à empresa que queda-mos que nos comprasse." E por-quê? "Por ser uma cadeia hotelei-ra que gosta muito da marca, que está satisfeita com a gestão e quer desenvolver a marca e internada rializá-la e não acabar com ela."

—ANA BAPTISTA

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Tiragem: 94600

País: Portugal

Period.: Semanal

Âmbito: Informação Geral

Pág: 25

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RECUPERAR E VENDER HOTÉIS

“Temos mandatos de venda em curso para várias unidades hoteleiras e esperamos ter resultados em 2016. Portugal está a viver um momento único que nos traz uma proposta de valor interessante”

“É fácil vender um hotel ao desbarato, mas não podemos cometer o erro de nos desfazermos do portefólio sem gerar o valor adequado”FERNANDO ESMERALDO Presidente executivo da ECS Capital

Fundo da ECS vai acelerar a venda de hotéis recuperados

Investimento Ativos do maior fundo de reestruturação português atingem a fase madura para atrair investidores

Texto Conceição Antunes Foto José Caria

Depois da Herdade dos Salgados no Algarve, o Palácio do Gover-nador em Lisboa é o novo cartão de visita do fundo de turis-mo gerido pela ECS Capital. O hotel de cinco estrelas vai ser

oficialmente inaugurado a 30 de junho e resulta da recuperação do edifício que foi a residência do governador da Torre de Belém. O projeto envolveu investimentos de €5 milhões da ECS, e a decoração do hotel, assinada por Nini Andrade Silva, respeita o tema dos Descobrimentos portugueses.

“Este hotel resulta da nossa inter-venção num ativo do antigo grupo de Carlos Saraiva, e o edifício estava abandonado e muito vandalizado. É um bom exemplo do que se pode fa-zer em recuperação de ativos, quando se alinha um conjunto de stakehol-ders, desde os bancos ao turismo”, considera Fernando Esmeraldo, pre-sidente executivo da ECS Capital, adiantando que “os resultados têm sido interessantíssimos e só em maio a ocupação foi superior a 80%”.

O Palácio do Governador vai fun-cionar sob a marca Nau, criada pelo fundo de reestruturação (que integra 11 dos 21 hotéis que tem no porte-fólio). “Este hotel no futuro vai ser vendido pelo preço correto e ao com-prador certo”, frisa o presidente da ECS. “Nós continuamos a trajetória de recuperação de ativos e a respe-tiva venda. Temos um programa de desinvestimento de curto, médio e longo prazo, que está integralmente a ser executado”.

Na área de turismo, o responsável da ECS adianta ter “várias coisas em carteira e mandatos de venda em curso para uma série de unida-des hoteleiras e esperamos já ver resultados em 2016”. O fundo con-cretizou recentemente a venda de dois ativos: o hotel Vivamarina em Cascais, que foi comprado pela Uni-ted Investments Portugal, também proprietária do resort Pine Cliffs no Algarve (e que agora opera como Sheraton Cascais), e o hotel Vintage House no Douro (outro ex-ativo de Carlos Saraiva), que foi vendido à The Fladgate Partnership, dona de vinhos como a Taylor’s. “Estes ativos foram vendidos muito acima do valor de entrada no fundo, com importan-tes mais-valias, e a compradores que não são oportunistas”.

Segundo Fernando Esmeraldo, 2016 e os próximos anos perfilam-se um “período positivo” para conseguir

investidores e bons preços para ven-der ativos do seu portefólio.

ECS vai inaugurar hotéis em Vilamoura e na Praia da Salema

A fase pior de insolvências de hotéis que foram parar aos bancos já passou, e o fundo da ECS Capital está agora na fase de comprar e recuperar ativos turísticos por iniciativa própria.

“Existe hoje uma clara desacele-ração de ativos problemáticos, mas ainda há bastantes unidades em Por-tugal a precisar de recuperação”, refere Fernando Esmeraldo, dando o exemplo do Vilamoura Garden Ho-tel, que a ECS vai abrir oficialmente a 1 de julho. “É um projeto que es-tava parado há 20 anos, tomámos a iniciativa de o comprar e já o conse-guimos recuperar”. No Algarve, a ECS vai também inaugurar no segun-do semestre o hotel Salema Beach Village, junto à praia da Salema, em Vila do Bispo.

Sobre as críticas correntes no sec-tor, relativas ao facto de os fundos se ‘agarrarem’ aos ativos criando mar-cas hoteleiras, Fernando Esmeraldo

considera que “no caso da ECS são infundadas e estamos a provar por A mais B que estamos a contribuir para o desenvolvimento do turismo e a recuperação de ativos, e também estamos abertos a estudar propostas que criem valor”. O que se aplica aos hotéis da marca Nau, da ECS, cujas receitas deverão este ano subir 20% e atingir €100 milhões.

“Em Portugal, as empresas e os bancos precisam de tempo para im-plementar e estabilizar medidas, afastando-se do que foi uma crise muito profunda”, conclui Esmeraldo. “E isto também se aplica a nós, fun-dos de reestruturação. Precisamos de tempo para evoluir de processos de insolvência que foram muito com-plexos e tiveram de ser recuperados numa visão de entregar valor ao aci-onista. É fácil vender um hotel ao desbarato, mas não podemos come-ter o erro de nos querermos desfazer rapidamente do portefólio sem gerar o valor adequado. Neste campo, acho que estamos perante um ciclo de mé-dio prazo muito interessante para Portugal”.

[email protected]

Fernando Esmeraldo, presidente executivo da ECS Capital, no

hotel Palácio do Governador, em Belém, que vai ser oficialmente

inaugurado a 30 de junho

HOTÉIS NAU EM MARÉ ALTA

€100milhões é a faturação prevista no final de 2016 pela marca Nau Hotels & Resorts (que engloba 11 hotéis pertencentes aos fundos da ECS Capital, designadamente a Herdade dos Salgados no Algarve e outras ex-unidades insolventes do empresário Carlos Saraiva), o que representa um crescimento de 20% face ao ano passado. No volume de dormidas, que em 2015 se cifrou em 500 mil, é esperado este ano um aumento de 15%

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Tiragem: 140038

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Informação Geral

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Cores: Cor

Área: 5,34 x 6,36 cm²

Corte: 1 de 1ID: 65022749 25-06-2016

MEDIDA

Nadadores fora dos hotéis PA Associação de Hotelaria de Portugal congratulou-se ontem com a decisão do Governo de tornar facultativa á. presença de nadadores-salvadores nas pis-cinas dos empreendimentos tu-rísticos. Já a Federação Portu-guesa de Nadadores Salvado - res critica a medida. o

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Tiragem: 70887

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Informação Geral

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Cores: Cor

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Corte: 1 de 2ID: 65022121 25-06-2016

Jovem de 12 anos foi salvo este ano de um afogamento numa piscina de um hotel no Algarve. Temem-se outros casos

eia pormenor :

17 nadadores-salvadores estão li-cenciados pelo ISN para desem-penhar funções durante a pre-sente época balnear.

447 foram raddados • A lei permitiu que nadadores salvadores que tinham a licença caducada há mais de três anos realizassem o exame de aptidão técnica sem passar pelo curso.

Foram faltes 81 cursos • As entidades formadoras rea-lizaram 61 cursos de nadado-res-salvadores, mais três do que no ano passado.

1378 novos formados • Até ao dia 1 de junho, saíram das escolas de formação 1378 nadadores-salvadores, mais 135 do que no ano passado.

900 pisdnas de hotéis • Se a regra fosse mantida, se-riam precisos 2700 nadadores.

e Governo diz que anterior panaria estava mal feita O secretário de Estado da Defesa, Marcos Perestrello, já reconheceu que, perante a falta de nadadores-salvadores em número suficiente para todas as necessidades, o Governo teve de fazer opções e atribuiu prioridade à presença nas praias. "0 ante-rior Governo publicou uma portaria que não se adequa à realidade do pais", disse ao 1N.

Passa a ter de haver material certificado No caso das piscinas de hotéis e de alto rendimento, passa a ser obrigatório o material de salvamento, certificado pelo ISN, e a presença de um vigilante em permanência. Estão a ser estudadas novas opções para 2017, tendo em conta a inexistência de nadadores certi-ficados em número suficiente, revelou.

Recuo Governo alterou portaria por considerar que elementos afetos a 900 piscinas podem fazer falta nas praias. Federação fala em perigo

Piscinas de hotéis sem obrigação de nadadores R. Rates [email protected]

► O Governo recuou na intenção de obrigar as piscinas de empreendi-mentos turísticos a terem nadado-res-salvadores. A alteração à por-taria, publicada na semana passa-da, é justificada com o facto de não haver nadadores em número sufi-ciente para acudir às necessidades de todo o pais. Mas os representan-tes dos nadadores-salvadores acu-sam o Governo de estar a ceder aos empresários do turismo e a colocar em perigo a segurança dos utentes.

A portaria 168/2016 retirou as piscinas de hotéis, "quando utiliza-das exclusivamente pelos seus hós-pedes", bem como as de alto rendi-mento, do rol de locais onde a pre-sença de nadadores-salvadores é obrigatória. De acordo com núme-ros do Instituto de Socorro a Náu-fragos (ISN), esta medida vai colo-car à disposição das praias os nada-dores-salvadores que prestavam serviço nas 900 piscinas de em-preendimentos turísticos pelo país.

Paulo Sousa Costa, diretor do ISN, explicou ao IN razão desta mu-dança. 'Hoje um nadador-salvador numa praia tem um vinculo con-tratual que o obriga a cumprir oito horas por dia. Isto faz com que o

concessionário tenha de contratar mais profissionais, uma vez que a concessão está aberta mais de oito horas/dia". Ou seja, em cem me-tros de frente de praia, em vez de dois nadadores-salvadores a cum--prir dez horas/dia, são necessários três.

Para a Federação Portuguesa de

Nadadores Salvadores (Fepons), a medida não é mais do que um fa-vor do Governo ao setor hoteleiro.

Carlos Ferreira, dirigente da Fe-pons, recorda um incidente recen-te na piscina do hotel Yellow, em Albufeira, onde um rapaz de 12 anos foi salvo de se afogar, para im-putar no secretário de Estado Mar-

cos Perestreilo qualquer morte em piscinas este ano. "O Governo aproveitou a onda de alarmismo em abril sobre a falta de nadadores para agora retirar ao setor hotelei-ro a obrigatoriedade de ter nadado-res-salvadores", lamenta. A Fepons garante que não há falta de vigilan-tes para a época balnear.•

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Tiragem: 70887

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Informação Geral

Pág: 1

Cores: Cor

Área: 5,36 x 3,25 cm²

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Segui ra nça Hotéis deixam de estar obrigados a ter nadadores Página 10

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País: Portugal

Period.: Ocasional

Âmbito: Desporto e Veículos

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Cores: Preto e Branco

Área: 10,51 x 30,10 cm²

Corte: 1 de 2ID: 65021589 25-06-2016 | Golfe

FOTO

S: ©

D.R

.

Os campos de golfe da Ma-

deira alinharam estraté-

gias comerciais para es-

tabelecer finalmente a

região como destino de golfe, co-

locando o foco no cliente e indo ao

encontro do desejo dos operado-

res internacionais. Como? Criando,

sob a égide da Associação de Pro-

moção da Madeira, um passaporte

de golfe (mas não só) que dá livre-

-trânsito para jogar no 27 buracos

do Clube de Golfe do Santo da Ser-

ra (Machico) ou nos 18 do Palheiro

Golf (Machico).

“Os nossos visitantes de golfe po-

dem agora jogar em qualquer cam-

po sem custos acrescidos, escolhen-

do o que lhe apetecer de acordo com

a sua vontade ou com condições cli-

máticas, porque pode estar bom tem-

po num lugar e mau noutro”, expli-

ca Ricardo Abreu, director do CGSS,

cujo championship course recebeu

o Madeira Open BPI, do European

Tour, de 1993 a 2015, com excepção

das edições de 2009, 2010 e 2011, as

quais tiveram como palco o Porto

Santo Golfe, o mais recente percur-

so madeirense, com 18 buracos de

campeonato e um pitch & putt de 9.

Outra novidade, virada para o

mercado nacional, são os pacotes

de preços acessíveis (25, 30 euros

por volta) para grupos de golfistas

continentais, mas neste capítulo só

se esperam resultados em 2017, uma

vez que para 2016 grande parte de-

les já tem as suas férias marcadas.

“Há condições únicas na Madeira,

mas temos de estar unidos, e juntos

vamos atrair mais voltas para cada

do que individualmente”, considera

o director do Palheiro, Rodrigo Ul-

rich. O número de voltas anuais no

Palheiro e no Santo de Serra ronda

as 20 mil para cada. O Porto Santo

Golfe tinha já em vigor uma políti-

ca acessível de preços para grupos.

No primeiro trimestre do ano,

o número de voltas realizadas nos

campos de golfe da Madeira e do

Porto Santo aumentou 32,6% em

relação a período homólogo. O in-

quérito aos campos de golfe reve-

la a realização de 18.357 voltas nos

três campos entre Janeiro e Março

de 2016, tendo esta atividade gerado

cerca de 726,7 mil euros de receitas.

Os dados revelam ainda que 77,8%

das voltas foram realizadas por não

sócios dos referidos campos de gol-

fe, provenientes na sua maioria dos

países nórdicos, do Reino Unido e

da Alemanha.

Curioso verificar a influência dos

estabelecimentos hoteleiros e afins,

que venderam 61,4% das voltas. Os

operadores turísticos comercializa-

ram 24,8% e os restantes 13,8% fo-

ram vendidos pelos próprios cam-

pos de golfe. Em termos de turis-

mo na Madeira, 2015 registou 6,6

milhões de dormidas, mais de 1,2

milhões de turistas e €321 milhões

de receitas. ¬

TURISMO

Madeira já tem passaporte de golfeCG Santo da Serra e Palheiro Golf alinham estratégias comerciais

Os campos do Santo da Serra(em baixo) e do Palheiro Golfe

têm vistas de cortara respiração

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Tiragem: 32857

País: Portugal

Period.: Ocasional

Âmbito: Desporto e Veículos

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Corte: 2 de 2ID: 65021589 25-06-2016 | Golfe

TURISMO

Agora é mais fácil jogar na MadeiraPAG 03

FOTO: DR

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Tiragem: 32857

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Informação Geral

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Área: 15,85 x 30,12 cm²

Corte: 1 de 1ID: 65054296 28-06-2016

PAULO PIMENTA

Todas as partes convergem na defesa da fundação

O ministro da Cultura reuniu-se on-

tem em Foz Côa com o presidente

da administração da Fundação Côa

Parque, António Ponte (também Di-

rector Regional de Cultura do Nor-

te), o autarca Gustavo Duarte e a res-

ponsável da recém-criada Unidade

de Missão para a Valorização do In-

terior, Helena Freitas, e saiu deste

encontro de trabalho com a certeza

de que “todas as partes envolvidas

convergem na defesa da fundação”,

disse ao PÚBLICO uma assessora de

Luís Filipe Castro Mendes.

Como já tinha dado a entender,

o ministro não partilha da opinião

do seu antecessor, João Soares, que

pretendia extinguir a Fundação Côa

Parque e colocar este património da

humanidade sob a tutela directa da

Direcção-Geral do Património Cultu-

ral (DGPC), e prefere reestruturar o

modelo de fundação, que lhe parece

ser o que melhor permite congregar

esforços e recursos fi nanceiros.

Falta agora saber-se é em que exac-

tos moldes a fundação, em ruptura

fi nanceira e fortemente endividada,

irá ser reactivada. Mas o processo

não deverá passar por despedimen-

tos, assegurou Castro Mendes, que

aproveitou a visita ao Côa para se

encontrar com os trabalhadores.

Com as reuniões de trabalho a

prolongarem-se até ao fi nal da tar-

de, o ministro já não teve tempo de

espreitar a curiosa exposição que o

museu inaugurou no passado dia 18,

Ulsan. Bangudae no Museu do Côa,

dedicada à arte rupestre da Coreia

do Sul, país onde foi descoberta, no

início dos anos 70, uma rocha com

gravuras neolíticas que incluem as

mais antigas representações conhe-

cidas da caça à baleia, com cerca de

seis mil anos. Esta exposição é o se-

gundo momento de um diálogo que

se iniciou em 2015, quando o Museu

do Côa apresentou no Museu do Pe-

tróglifo de Bangudae, na cidade core-

ana de Ulsan, uma exposição da arte

rupestre do vale do Côa, visitada por

30 mil pessoas.

Périplo nortenhoA visita ao Côa encerra um périplo

nortenho do novo ministro da Cultu-

Ministro da Culturapretende revitalizara Fundação Côa Parque

Castelo, Vila Real, Lamego, Miranda

do Douro e Bragança.

Já a candidatura Mosteiros a Norte,

com um investimento que ronda os

2,5 milhões de euros, permitirá dar

continuidade às intervenções de con-

solidação nos mosteiros de Arouca,

Grijó, Rendufe, Tibães, Pombeiro e

Vilar de Frades.

Um montante semelhante foi

conseguido através da candidatura

Castelos a Norte, que prevê obras de

recuperação e iniciativas de promo-

ção cultural e turística nos castelos

de Montalegre, de Monforte de Rio

Livre (Chaves), do Outeiro, em Bra-

gança, de Mogadouro e de Miranda

do Douro.

Com quase dois milhões de euros

para obras de valorização e acções

de promoção, a igreja de Santa Clara

(Porto) é outro monumento que be-

nefi ciará deste conjunto de candida-

turas. Com uma decoração que a tor-

na um dos mais notáveis exemplos

da arte da talha dourada do período

do barroco joanino, a igreja, classifi -

cada como monumento nacional há

mais de cem anos, chegara a um esta-

do de degradação preocupante, com

infestações de térmitas e problemas

de humidade.

Também a candidatura Dias do

Património a Norte viu aprovado

um investimento de 400 mil euros

para o seu projecto de turismo cul-

tural, fi cando a aguardar aprovação

a candidatura Artes no Território a

Norte, que prevê outros 400 mil eu-

ros para a dinamização cultural de

vários espaços tutelados pela DRCN,

e o programa Museus a Norte, que

se candidata a 2,5 milhões de euros

para valorizar o Museu de Lamego,

o Paço dos Duques, em Guimarães,

o Museu da Terra de Miranda e o Mu-

seu dos Biscainhos, em Braga.

ra, que começou quinta-feira no Mu-

seu Nacional Soares dos Reis (MNSR),

no Porto, onde Castro Mendes pôde

apreciar os importantes núcleos de

Henrique Pousão ou Aurélia de Sou-

sa, mas também constatar in loco as

difi culdades provocadas por suces-

sivos cortes orçamentais. “É um mu-

seu de uma riqueza extraordinária”,

disse o ministro, que gostaria de ver

o MNSR “inscrever-se mais na rota

natural de quem visita o Porto”.

O ministro rumou no dia seguinte a

Guimarães, onde inaugurou a reaber-

tura do acesso à Torre de Menagem

do castelo vimaranense. Uma visita

que lhe serviu também para anunciar

a aprovação de cinco candidaturas a

fundos comunitários para salvaguar-

da e dinamização de património no

Norte do país, num valor total 8,2

milhões de euros.

Apresentadas ao Programa Opera-

cional Norte 2020 pela Direcção Re-

gional de Cultura do Norte (DRCN),

com a colaboração de autarquias,

dioceses e agentes culturais locais,

as candidaturas agora aprovadas in-

cluem um investimento de quase três

milhões de euros a ser utilizado, até

2018, em intervenções estruturais

de qualifi cação de sete igrejas, sés

e catedrais — Porto, Braga, Viana do

PatrimónioLuís Miguel Queirós

A possibilidade de o Museu e o Parque Arqueológico do Côa passarem para a tutela da DGPC está posta de parte

Falta saber-se em que moldes a fundação, fortemente endividada, será reactivada. Mas não estão previstos despedimentos

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Tiragem: 32857

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Informação Geral

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Área: 25,70 x 30,82 cm²

Corte: 1 de 1ID: 65054137 28-06-2016

Museu Judaico de Lisboa avança com gestão da Associação de Turismo

PEDRO CUNHA

O novo museu vai nascer no bairro de Alfama, junto ao Largo de São Miguel, num espaço antes ocupado por quatro imóveis

A Câmara de Lisboa discute amanhã

a criação do Museu Judaico de Lis-

boa, que representa um investimen-

to de 2,9 milhões de euros e cuja ges-

tão vai ser confi ada à Associação de

Turismo de Lisboa. Contar a história

dos 800 anos da presença judaica em

Portugal é o objectivo central deste

equipamento, que incluirá também

um centro de documentação.

Este novo museu vai nascer no

bairro de Alfama, junto ao Largo de

São Miguel, num espaço antes ocu-

pado por quatro imóveis. O projecto

a desenvolver prevê, como se lê no

Estudo Preliminar de Investimen-

to e Encargos de Funcionamento, a

“remodelação e ampliação da área

de construção existente”, operações

das quais resultarão dois edifícios

separados: um destinado ao museu e

outro ao centro de documentação.

Em relação ao edifício do museu,

a arquitecta Graça Bachmann fala

num “volume de gaveto, quase ce-

go, revestido a pedra lioz de cor cla-

ra e respeitando a proximidade de

um imóvel classifi cado”, a Igreja de

São Miguel. Na memória descritiva,

a autora do projecto destaca ainda

“a sobriedade de linhas e de acaba-

mentos adoptados” que, diz, “pre-

tendem antever a introdução num

bairro lisboeta tão tradicional como

o de Alfama”.

No piso -1, que estará “semienter-

rado”, haverá uma área reservada

para exposições temporárias, que

poderá ser também utilizada como

sala polivalente, com capacidade

para cerca de 50 pessoas sentadas.

No piso zero fi carão, além da recep-

ção, a loja e uma parte do espaço

museológico. Essa valência ocupa-

rá também os pisos 1 e 2, fi cando o

piso 3 reservado à direcção e a uma

cafetaria com terraço.

“A concepção da actual solução

teve como objectivo fi nal integrar

as características arquitectónicas da

envolvente, maioritariamente resi-

dencial, com uma parte edifi cada de

traçado distinto demarcando uma

identidade e funcionalidade de um

novo tipo de ocupação”, conclui a

arquitecta.

Quanto ao segundo edifício, ex-

plica-se no Estudo Preliminar de

Investimento e Encargos de Fun-

to sublinha-se ainda que o museu

“procurará estabelecer uma forte

integração no bairro de Alfama e na

cidade de Lisboa” e que terá “um

relacionamento privilegiado com a

Rede de Judiarias de Portugal”.

Para a criação deste equipamen-

to cultural prevê-se a realização de

um investimento de 2,9 milhões de

euros. Desse valor, um montante

máximo de 312,8 mil euros será pro-

veniente do Programa Espaço Eco-

nómico Europeu Grant’s, cabendo

à Associação de Turismo de Lisboa

(ATL) suportar uma contrapartida

nacional de até 55,2 mil euros.

No já citado documento diz-se

que a Câmara de Lisboa disponi-

bilizará um milhão de euros para

o Museu Judaico. Já a Fundação

Patrick & Lina Drahi (do patrão

da Altice, Patrick Drahi, dono da

Portugal Telecom) avançará com

1,2 milhões de euros, enquanto a

arquitecta Graça Bachmann doará

o projecto de arquitectura, que re-

presenta 75 mil euros.

Numa reunião camarária que se

realiza amanhã vai discutir-se a ce-

lebração de um protocolo triparti-

do “para a criação e funcionamen-

to” do museu, entre o município, a

Comunidade Israelita de Lisboa e

a ATL. Para a mesma reunião está

também agendada a constituição

de direitos de superfície sobre os

quatro imóveis que darão lugar ao

museu a favor da última dessas en-

tidades, à qual vai ser entregue a

gestão do equipamento cultural.

Numa das propostas que vão ser

apreciadas recorda-se que “no iní-

cio do presente ano” a Câmara de

Lisboa assumiu publicamente que

“a acção de reabilitação no edifi -

cado para fi ns municipais estaria

concretizada no primeiro semestre

de 2017”.

A Câmara de Lisboa vai contribuir com um milhão de euros e a Fundação Patrick & Lina Drahi, do dono da PT, com 1,2 milhões. O museu quer contar a história dos 800 anos da presença judaica em Portugal

ReligiõesInês Boaventura

blico-alvo, prevê-se, serão “todos os

interessados no judaísmo, nomea-

damente o público em geral, os es-

tudiosos, a comunidade educativa

nacional, a comunidade judaica na-

cional e estrangeira”, mas também

“os turistas que visitam Lisboa, na-

cionais ou estrangeiros”.

Do culto à HistóriaQuanto ao programa museológico,

explicita-se que a exposição perma-

nente será baseada em duas com-

ponentes: o percurso temático e o

histórico. O primeiro “abordará a

identidade religiosa através da ex-

posição de objectos de culto” e o se-

gundo “focará a história dos judeus

em Portugal”, incluindo também “o

regresso contemporâneo do judaís-

mo”. Além disso, haverá exposições

temporárias.

No Estudo Preliminar de Investi-

mento e Encargos de Funcionamen-

cionamento (desenvolvido pela

empresa Ofi cina Imobiliária), terá

entrada pelo Beco da Cardosa e no

piso zero haverá uma primeira sala

do centro de documentação. No pi-

so 1 haverá outra sala com o mesmo

fi m, enquanto os pisos 2 e 3 serão

para os serviços administrativos.

Nesse documento faz-se referên-

cia ao programa geral do Museu

Judaico (que foi desenvolvido por

Ester Mucznik), equipamento cujo

objectivo central é contar a história

dos 800 anos de presença judaica

em Portugal. “O museu funcionará

como um centro de recolha, preser-

vação e divulgação do património

material e imaterial judaico-portu-

guês”, acrescenta-se, frisando-se

que este equipamento “pretende

ter uma função essencialmente pe-

dagógica”.

Os bilhetes para visitar o museu

deverão custar 3,8 euros. O seu pú-

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Âmbito: Informação Geral

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“Hoje não falta dinheiro em Portugal para bons projetos”

Texto Conceição Antunes Foto João Lima

Com o grupo Pestana a pre-parar o “maior crescimento de sempre” — investimentos de €170 milhões em mais 20 hotéis nos próximos quatro anos — o seu presidente, Dio-nísio Pestana, fala do “salto de visibilidade” que vai trazer a marca CR7, dos hotéis que está a construir em parceria com Cristiano Ronaldo. O primeiro CR7 abre já na próxima sema-na na Madeira, terra natal do jogador de futebol e do hotelei-ro. Segundo Dionísio Pestana, os bancos portugueses estão abertos a financiar “bons pro-jetos turísticos”, porque sabem hoje “quem são os investidores sustentáveis que não os fizeram acumular prejuízos”.

PP OPquePserãoPosPhotéisPCR7PquePvaiPabrirPcomPoPCristianoPRonaldo?P

R É o oposto do que temos fei-to, o tradicional hotel de cinco estrelas português, com as leis do passado, grandes corredo-res e casas de banho com dois bidés. Estes vão ser hotéis te-máticos, ligados ao mundo do Cristiano Ronaldo, caracteriza-dos pela energia e um ambiente elétrico, imagens, tecnologia, wifi e muitas surpresas. Quem entra sente logo a força do lo-bby como ponto de encontro e de convívio, as suites vão ter camas redondas, é tudo mais informal e divertido. Os hotéis não serão todos iguais, como os Holiday Inn, e variam con-forme o local. Na Madeira, o CR7 vai ter um roof top com uma das vistas mais lindas so-bre o Funchal e uma piscina vermelha. O de Nova Iorque será diferente e o de Madrid também. No Funchal, come-çamos a receber clientes a 1 de julho, na baixa de Lisboa esta-mos a fazer pontaria para abrir no final de julho.

PP QueP contributoP darãoP osPhotéisPdoPRonaldoPaPumPgrupoPcomPaP‘ambição’PdePserPumaPdasPmaioresPcadeiasPaPnívelPinter-nacional?P

R Temos quatro hotéis CR7 para abrir, a começar por Fun-chal e Lisboa. O de Madrid será em 2017 e o de Nova Iorque no início de 2018. Mas isto é o pontapé de saída, como se diz em termos futebolísticos. O projeto não vai ficar por aqui e temos mais golos a marcar com o Ronaldo. Estamos ativa-mente à procura de um quinto hotel CR7, que será de certeza numa capital europeia, onde hoje o grupo está mais focado. O grupo Pestana tem 43 anos, conseguiu internacionalizar-se pelo caminho mais difícil, e as-sociar o nome do Ronaldo vai dar um salto de visibilidade. Es-tamos muito confiantes neste projeto: com ele a marcar golos e nós a fazer camas, vai ser uma boa parceria.

PP OPseuPgrupoPvaiPinvestirPnoPmaiorPcrescimentoPdePsemprePatéP2020,PaoPtodoP€170Pmilhões,PdentroP eP foraP deP Portugal.PComoPéPhojePconseguirPfinan-ciamento?P

R Tendo um bom projeto, ca-

pital próprio em 30% ou 40% e um parceiro com experiên-cia, não falta hoje dinheiro em Portugal para esses projetos. Houve um ciclo económico que correu mal, pela ganância, o dinheiro barato e a loucura dos bancos, que levou a muito dinheiro mal gasto, projetos mal feitos (de gente que nunca tinha feito um hotel na vida) e tudo à base de crédito. Esse

ciclo está agora a acabar, e passados oito anos os bancos começaram a perceber quem são os investidores sustentáveis e que não os fizeram acumu-lar prejuízos — e aprenderam a fazer a avaliação correta, a diferenciar os projetos para in-vestir. No caso do investimento português, os bancos hoje já têm benchmarking (comparati-vo) e sabem até onde podem ir.

TURISMO

Dionísio Pestana Presidente do grupo Pestana

PP EstaPéPumaPboaPalturaPparaPinvestirPemPPortugal?P

R O sector do turismo está a correr bem e as condições são favoráveis. Quem investir bem agora, e numa visão de longo prazo (neste sector o retorno demora sempre dez anos no mínimo), vai correr bem. Mas pode chegar uma altura em que as pessoas investem a pensar que isto não vai parar, porque o preço está a crescer muito e terá de estabilizar. Quem in-vestir a pensar que o preço vai continuar a subir como está, daqui a uns anos corre mal. É a lei da procura e da oferta, que é como a lei da vida. Mas Por-tugal parou o ciclo em 2008, muitos projetos ficaram pelo caminho, e passaram-se quase 10 anos sem produto novo.

PP AchaPquePfaltamPhotéisPemPPortugal?

R Falta produto, mas atual. Hoje não chega ter um hotel com piscina e ninguém quer ficar num resort com oito an-dares: as piscinas têm de ser dinâmicas, temáticas, ter tem-peraturas diferentes, hidro-massagem, tem de haver va-riedade. Aí a Turquia e o Egito levam dez anos à nossa frente, pois fizeram, e bem, hotéis temáticos e inovadores para esses novos clientes e a preços muito competitivos. Dentro de

anos esses destinos vão voltar ao mercado, e nós vamos agora aproveitar o momento, em que os turistas estão cá e adoram Portugal, antecipando e cons-truindo produto inovador para esses clientes. O novo ciclo tem de começar já em Portugal, porque senão daqui a uns anos vamos perder competitividade.

PP APvagaPdePrequalificaçõesPquePestáPaPhaverPnoPAlgarve,PnãoPéPsuficiente?P

R Não chega. O Algarve está a correr bem e este ano será ex-celente. Mas pensando no futu-ro é preciso atualizar o produto para a nova procura, como es-tamos a fazer nos hotéis CR7, em que a pessoa entra e sente o espírito de férias. Na minha geração também gostamos de coisas novas, e eu a última coisa onde quero ir é para um hotel Reid’s, apesar de haver um ni-cho de clientes que quer tudo impecável. Quando fazíamos um hotel de cinco estrelas na Madeira, o benchmarking era sempre o Reid’s ou o Savoy, e hoje já não é assim. As pessoas são mais informais, têm tecno-logia à mão para comunicar, e é essa dinâmica que temos de trazer para dentro do hotel.

PP OPquePdestacaPnosPnovosPho-téisPquePoPgrupoPPestanaPvaiPfazerPemPPortugal?P

R Troia é o nosso projeto em-blemático e é um bom exem-plo porque nasceu com a crise da troika, em que tivemos de reinventar o produto — em vez de Troia, o resort devia era cha-mar-se Troika (risos). A última etapa do projeto será um hotel com apartamentos, cuja obra arrancará no ano que vem. No Algarve o grupo já tinha alguns terrenos em carteira, e estamos

RECEITA A DISPARAR

€400 milhõesPfoiPoPvolumePdePnegóciosPquePoPgrupoPPestanaPatingiuPnoPanoPpassadoPcomPosPhotéisPePaPáreaPdePturismo,PrepresentandoPumPcrescimentoPdeP10%.PEmP2016PoPgrupoPprevêPumPnovoPaumentoPdePdoisPdígitos,PoPquePsignificaPreceitasPde,PnoPmínimo,P€440Pmilhões

HOTEL A BRASILEIRA VAI CONTAR A HISTÓRIA DO CAFÉ NoPPorto,PvãoPcomeçarPemPjulhoPasPobrasPparaPumPhotelPdePcincoPestrelasPquePvaiPserPgeridoPpeloPgrupoPPestanaPePresultaPdaPreabilitaçãoPdoPedifícioPdoPcaféPAPBrasileira,PnaPRuaPSáPdaPBandeira,PquePéPpropriedadePdePAntónioPOliveira,Pex-selecio-nadorPnacionalPdePfutebol.PAPperspetivaPéPoPhotelPpoderPabrirPasPportasPnoPfinalPdeP2017.P“VaiPserPumPhotelPmuitoPligadoPàPhistóriaPdoPcafé,PePsóPoPnomePjáPnosPvaiPajudarPaPvender”,PadiantaPDionísioPPestana,PlembrandoPquePoPfundadorPdePAPBrasileiraPfoiPumPemigrantePportuguêsPnoPBrasilPquePtrouxePaPtorrefaçãoPdoPcaféPdoPestadoPdePMinasPGeraisPparaPaPEuropa. Página 56

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Dionísio Pestana vai avançar com o maior

aumento de sempre do seu grupo até 2020

para atingir mais de 100 hotéis em 20 países

a trabalhar num novo projeto no Alvor. Em Porto Santo va-mos duplicar as camas e chegar às duas mil no verão de 2018, e era um destino que estava parado no tempo, que eu digo que são as Caraíbas do Atlân-tico. No Porto comprámos um terreno ao lado da Pousada do Freixo e vamos fazer um hotel Pestana com 120 quartos, todos com vista sobre o Douro, e tam-bém vamos fazer outro hotel no edifício do café A Brasileira (ver caixa). Temos ainda proje-tos nos Açores e na Madeira e estamos atentos a Lisboa, que explodiu nos últimos anos, mas neste momento está tudo caro.

PP ComoPhoteleiro,PePnestaPfasePboaPdoPturismo,PcomoPvêPaPevo-luçãoPdoPpaísPnestePsector?P

R Em Portugal somos poucos hoteleiros, devíamos ser mais. Gostava de ver uma geração nova de investidores a pen-sar no turismo a longo prazo, como já existe em Espanha. A geração nova tem mais mun-do, informação e contactos, e hoje há modelos financeiros que lhes permitiriam ter êxito. Se existe capital, tem de haver mais energia e ideias para a continuidade no sector. E quem começa agora, só se consegue tornar hoteleiro daqui a dez anos, não há milagres.

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TURISMO EM BOM CICLO

INVESTIRPEMPPORTUGAL

“Quem investir agora numa visão de longo prazo, vai correr bem. Quem pensar que o preço vai continuar a subir como está, daqui a uns anos corre mal. É a lei da procura e da oferta, que é como a lei da vida”

PESTANAPCR7PVAIPCRESCER

“Os quatro hotéis com o Cristiano Ronaldo são só o pontapé de saída. Com ele a marcar golos e nós a fazermos as camas, vai ser uma boa parceria”

FINANCIAMENTOPDAPBANCA

“Passados oito anos desde a crise, os bancos aprenderam a fazer a avaliação correta, e no caso do investimento português já sabem até onde podem ir”

INOVARPNOSPHOTÉIS

“Falta produto novo em Portugal, ter um hotel com uma piscina hoje não chega. Aí a Turquia e o Egito levam dez anos à nossa frente”

CONTINUIDADEPDOPSECTOR

“Gostava de ver em Portugal uma geração nova a investir nos hotéis. Se existe capital, tem de haver mais energia e ideias” Página 57

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Pestana quer “marcar mais golos” com o CR7 nos hotéis E14

FOT

O JO

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Dionísio Pestana em frente ao novo hotel Pestana CR7, uma parceria com Cristiano Ronaldo, em Lisboa

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