Clóvis Cavalcanti

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DESENVOLVIMENTO E NATUREZA:

BIBLIOTECA VIRTUAL DE CIENCIAS SOCIALES DE AMERICA LATINA Y EL CARIBE, DE LA RED DE CENTROS MIEMBROS DE CLACSOhttp://www.clacso.org/wwwclacso/espanol/html/biblioteca/fbiblioteca.htmlComo citar este documentoClvis Cavalcanti (Org.) Andr Furtado, Andri Stahel, Antnio Ribeiro, Armando Mendes, Celso Sekiguchi, Clvis Cavalcanti, Dlia Maimon, Darrell Posey, Elson Pires, Franz Brseke, Geraldo Rohde, Guilherme Mammana, Hctor Leis, Henri Acselrad, Josemar Medeiros, Jos Luis D'Amato, Maria Lcia Leonardi, Maurcio Tolmasquim, Oswaldo Sev Filho, Paula Stroh, Paulo Freire, Peter May, Regina Diniz, Antnio Rocha Magalhes. DESENVOLVIMENTO E NATUREZA: Estudos para uma sociedade sustentvel. INPSO/FUNDAJ, Instituto de Pesquisas Sociais, Fundacao Joaquim Nabuco, Ministerio de Educacao, Governo Federal, Recife, Brasil. Octubre 1994. p. 262. Disponible en la World Wide Web: http://168.96.200.17/ar/libros/brasil/pesqui/cavalcanti.rtf" http://168.96.200.17/ar/libros/brasil/pesqui/cavalcanti.rtf

DESENVOLVIMENTO E NATUREZA: Estudos para uma sociedade sustentvel

Clvis Cavalcanti (Org.)

Andr Furtado, Andri Stahel, Antnio Ribeiro, Armando Mendes, Celso Sekiguchi, Clvis Cavalcanti, Dlia Maimon, Darrell Posey, Elson Pires, Franz Brseke, Geraldo Rohde, Guilherme Mammana, Hctor Leis, Henri Acselrad, Josemar Medeiros, Jos Luis D'Amato, Maria Lcia Leonardi, Maurcio Tolmasquim, Oswaldo Sev Filho, Paula Stroh, Paulo Freire, Peter May, Regina Diniz, Antnio Rocha Magalhes

DESENVOLVIMENTO E NATUREZA:Estudos para uma sociedade sustentvel

AGRADECIMENTOS

A publicao deste livro se tornou possvel graas ao apoio financei- ro proporcionado pela Superintendncia de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), uma instituio que reconheceu o significado da temtica abordada no livro, a economia da sustentabilidade, ou desenvolvimento sem desrespeitar a natureza e a quem se destinam nossos primeiros agradecimentos.O trabalho de digitao e reviso da obra muito deve atuao de Cludia Braga, assistente administrativa do Instituto de Pesquisas Sociais da Fundao Joaquim Nabuco (INPSO/FUNDAJ). Com ela colaboraram diversos setores da FUNDAJ. No prprio INPSO, pessoal administrativo, com destaque para Ftima Barroca Medeiros, Ana Arruda, Ariane Colao, Ida Pires e Uiara Wanderley. No Instituto de Computao Cientfica e Cultural (INCOM) da instituio, onde parte da tarefa de produo dos textos se processou, contou-se com o suporte de tcnicos e pessoal administrativo. A todos os agradecimentos do organizador da obra.Finalmente, os autores dos diversos trabalhos includos no volume so tambm credores de nossa gratido, por haverem aceitado colaborar na consecuo desta empreitada coletiva. Fica para os leitores a ressalva de que o livro contm momentos do processo de produo cientfica dos diversos autores aqui reunidos, os quais prosseguem em suas pesquisas empreendidas em diversos campos do saber visando identificar os contornos e requisitos da sociedade sustentvel que interessa sobretudo ao bem-estar das geraes futuras. No h nada de definitivo, portanto, nesta obra de ensaios.

Recife, outubro de 1994

Clvis Cavalcanti

Sumrio

1. Breve Introduo Economia da SustentabilidadeClvis Cavalcanti17

Parte I - A Economia da Sustentabilidade: Princpios2. O Problema do Desenvolvimento SustentvelFranz Josef Brseke293. Mudanas de Paradigma e Desenvolvimento SustentadoGeraldo Mrio Rohde414. Envolvimento & Desenvolvimento: introduo simpatia de todas as coisasArmando Dias Mendes545. O Ambientalismo como Movimento Vital: Anlise de suas Dimenses Histrica, tica e VivencialHctor Ricardo Leis e Jos Luis D'Amato776. Capitalismo e Entropia: Os Aspectos Ideolgicos de uma Contradio e a Busca de Alternativas SustentveisAndri Werner Stahel1047. Externalidade Ambiental e Sociabilidade CapitalistaHenri Acselrad1288. A Idia de Corpo: Suas Relaes com a Natureza e os Assuntos HumanosAntnio Ribeiro de Almeida Jr.1399. Sustentabilidade da Economia: paradigmas alternativos de realizao econmicaClvis Cavalcanti153

Parte II - A Economia da Sustentabilidade: Desafios10. Conseqncias ecolgicas da presena do ndio Kayap na Amaznia: recursos antropolgicos e direitos de recursos tradicionaisDarrell A. Posey17711. A Sociedade Global e a Questo AmbientalMaria Lcia Azevedo Leonardi19512. Agenda para uma Economia Poltica da Sustentabilidade: Potencialidades e Limites para o seu Desenvolvimento no BrasilCelso Sekiguchi e Elson Luciano Silva Pires20813. Economia Ecolgica e o Desenvolvimento Eqitativo no BrasilPeter H. May23514. Opes Tecnolgicas e Desenvolvimento do Terceiro MundoAndr Furtado25615. As Cincias Sociais na Relao Interdisciplinar do Planejamento Ambiental para o Desenvolvimento SustentvelPaula Yone Stroh27616. Gesto Patrimonial de Recursos Naturais: Construindo o Ecodesenvolvimento em Regies LitorneasPaulo Freire Vieira29317. Economia do Meio Ambiente: Foras e FraquezasMaurcio Tiomno Tolmasquim323

Parte III - A Economia da Sustentabilidade: Aplicaes18. Renovao e Sustentao da Produo EnergticaArsnio Oswaldo Sev Filho, Josemar Xavier de Medeiros, Guilherme Pelegrini Mammana e Regina Helena Lima Diniz34519. Aspectos Econmico-Ecolgicos da Produo e Utilizao do Carvo Vegetal na Siderurgia BrasileiraJosemar Xavier de Medeiros36620. Responsabilidade Ambiental das Empresas Brasileiras: Realidade ou Discurso?Dlia Maimon39921. Um Estudo de Desenvolvimento Sustentvel do Nordeste Semi-ridoAntnio Rocha Magalhes417Perfil dos Autores

Andr Furtado: graduao e ps-graduao em economia pela Universidade de Paris I; pesquisador do CEBRAP, 1981-85; desde ento exerce atividades docentes no Departamento de Poltica Cientfica e Tecnolgica do Instituto de Geocincias da UNICAMP. Dedica-se a estudar temas relacionados com a economia da energia e da inovao.

Andri Werner Stahel: professor do Departamento de Economia da Universidade So Francisco (USF/Bragana Paulista). Professor e coordenador do Curso de Ps-Graduao em Cincias Ambientais da Universidade So Francisco (USF/Itatiba e So Paulo). Graduado em Economia pela USP e em Administrao Pblica pela EAESP/FGV-SP. Mestre em Relaes Internacionais pelo Instituto Universitrio de Altos Estudos Internacionais (IUHEI-Genebra/Sua). Doutorando do Instituto de Filosofia e Cincias Humanas da UNICAMP (IFCH-UNICAMP).

Antnio Ribeiro de Almeida Jr.: engenheiro agrnomo pela ESALQ Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/USP e doutorando em Sociologia pelo Depto. de Sociologia da FFLCH/USP. Leciona Administrao na ESPM-Escola Superior de Propaganda e Marketing e na FAAP Fundao Armando lvares Penteado, em So Paulo, e participa das discusses e trabalhos do Grupo de Estudos em Economia e Meio Ambiente.

Armando Dias Mendes: professor universitrio (UFPA/aposentado). Estuda e pratica, de h muito, a questo regional. Amazonlogo, publicou entre outros livros A inveno da Amaznia e O mato e o mito. E pela via amaznica foi levado a embrenhar-se na discusso ambiental. Foi relator, no Conselho Federal de Educao, do currculo mnimo de Cincias Econmicas. Seu itinerrio tem sido o da economia ecologia e desta tica. Bordeja, por isso (mas com temor respeitoso), a filosofia e a teologia.

Celso Sekiguchi: economista pela FEA/USP e ps-graduando em sociologia no Departamento de Sociologia da FFLCH/USP. Atua h trs anos como Assistente Executivo do Programa de Desenvolvimento de Lideranas em Meio Ambiente e Desenvolvimento LEAD/Brasil, programa este coordenado pela ABDL Associao Brasileira para o Desenvolvimento de Lideranas, no Brasil, e pelo LEAD International, Inc., a nvel internacional. Atua tambm como pesquisador no NAMA Ncleo de Apoio Pesquisa da USP e membro fundador da Associao Brasileira de Economia Ecolgica ECO-ECO.

Clvis Cavalcanti: economista, mestre pela Universidade de Yale, pesquisador snior da Fundao Joaquim Nabuco, professor adjunto da Universidade Federal de Pernambuco (licenciado), tem especializao em desenvolvimento econmico, economia do trabalho e problemas regionais do Nordeste. Paralelamente, sempre se dedicou a questes ecolgico-econmicas, adotando princpios da anlise termodinmica e da lei da entropia na compreenso do processo econmico. membro fundador da Sociedade Internacional de Economia Ecolgica (ISEE), com sede nos Estados Unidos, e faz parte do Conselho Editorial da revista Ecological Economics. Publicou vrios livros e artigos, os ltimos dos quais sobre a questo da sustentabilidade. Pratica ainda agricultura ecolgica em 30 ha de terra que possui em Pernambuco.

Dlia Maimon: doutora em Economia pela Ecole des Hautes Etudes en Sciencies Sociales, Paris. Coordenadora e professora do Ncleo de Economia Agrcola e do Meio Ambiente do IEA/UFRJ. Coordenadora da Associao de Ensino e Pesquisa em Ecologia e Desenvolvimento APED. Membro da Comisso do Follow-up of UNCED da UNESCO. Consultora do Banco Mundial. Autora do livro Ensaios sobre Economia do Meio Ambiente e organizadora de Ecologia e Desenvolvimento e Meio Ambiente e as Cincias Sociais Rumo Interdisciplinaridade.

Darrell Addison Posey: Ph.D., pesquisador titular do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq) no Museu Goeldi (Belm do Par). Atualmente professor visitante no Instituto de Antropologia Social, fellow do Oxford Centre for the Environment, Ethics, and Society, e fellow snior associado no St. Anthony's College, Universidade Oxford. Foi presidente fundador da Sociedade Internacional de Etnobiologia e presidente da Global Coalition for Bio-Cultural Diversity. Recebeu o primeiro Prmio Chico Mendes para Bravura Destacada na Defesa do Meio Ambiente e um dos contemplados com o prmio Global 500 das Naes Unidas.

Elson Luciano Silva Pires: economista e mestre pela Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade da USP e doutorando em Sociologia pela FFLCH/USP. Trabalha tambm como pesquisador no CEBRAP Centro Brasileiro de Anlise e Planejamento e como docente nos Departamentos de Geografia e de Ecologia da Universidade Estadual de So Paulo UNESP, Campus de Rio Claro/SP, onde ministra aulas de Economia do Meio Ambiente. Participa tambm, juntamente com outros pesquisadores, do Grupo de Estudos em Economia e Meio Ambiente, em So Paulo.

Franz Josef Brseke: nascido em 1954 na Alemanha, mestre em Sociologia (1977), doutor em Sociologia Poltica (1982), publicou os livros: Caos e Ordem no Processo de Industrializao (1991, Mnster/Hamburg: LIT) e A Crtica da Razo do Caos Global (1993, Belm: UFPA), vrios artigos sobre desenvolvimento e questes epistemolgicas e, desde 1989, professor da UFPA/NAEA em Belm do Par.

Geraldo Mrio Rohde: gelogo pela UFRGS, trabalha na Fundao de Cincia e Tecnologia CIENTEC (Porto Alegre), onde chegou a ocupar o cargo de Gerente do Programa de Tecnologia Ambiental (1991-1992). Dedica-se questo ambiental desde formado, tendo realizado viagens de estudo a vrios pases: EUA, Rssia, Frana, Alemanha e Inglaterra. Tem participao em vrios livros de temtica ambiental, destacando-se RIMA (UFRGS, 1992) e Manual de Avaliao de Impactos Ambientais (IAP, 1992 e 1994). Publicou A irreversvel aventura do planeta Terra (FEPLAN, 1992), j em 2 edio.

Hctor Ricardo Leis: argentino-brasileiro, cientista poltico, professor do Mestrado em Sociologia Poltica e do Doutorado em Sociedade e Meio Ambiente da Universidade Federal de Santa Catarina; autor de numerosos trabalhos nas reas de meio ambiente e poltica internacional, poltica nacional e teoria poltica.

Henri Acselrad: doutor em Economia pela Universidade de Paris I, professor-adjunto do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro e organizador do livro Meio Ambiente e Democracia (IBASE, Rio de Janeiro, 1992).

Josemar Xavier de Medeiros: engenheiro agrnomo, mestre em Energia Nuclear na Agricultura pelo CENA/USP e doutorando em Planejamento de Sistemas Energticos na FEM/UNICAMP. Atualmente trabalha como professor-adjunto do Departamento de Engenharia Agronmica da Universidade de Braslia e Analista de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico do CNPq.

Jos Luis D'Amato: argentino, psiclogo e escritor ambientalista, autor de numerosos trabalhos na rea da ecologia vivencial; presidente da Fundao Ecolgica San Marcos Sierra.

Maria Lcia Azevedo Leonardi: sociloga, doutoranda em Cincias Sociais da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP/SP). Pesquisadora do Ncleo de Estudos e Pesquisas Ambientais da UNICAMP (NEPAM). reas de interesse e atuao: Sociologia Urbana; Globalizao e a Questo Ambiental; Educao Ambiental.

Maurcio Tiomno Tolmasquim: professor-adjunto dos Mestrados em Planejamento Energtico e em Planejamento Ambiental da Coordenao dos Programas de Ps-Graduao em Engenharia (COPPE) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Possui graduao em Engenharia de Produo pela UFRJ e Economia pela UFRJ. Tem os ttulos de Mestre em Cincias Sociais (MSc) em Planejamento Energtico pela COPPE/UFRJ e Doutor em Economia (Dr) pela Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales (EHESS), em Paris. Publicou cerca de 40 artigos em peridicos, captulos de livros e anais de seminrios nacionais e internacionais sobre energia e meio ambiente. Alm disso trabalhou tambm no Departamento de Energia da FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos) e no Departamento de Economia da Universidade Federal Fluminense. Neste ltimo fez parte do Colegiado de implantao do Mestrado e Doutorado em Cincias Ambientais.

Arsnio Oswaldo Sev Filho: engenheiro mecnico (EPUSP-1971), Mestre em Engenharia de Produo (UFRJ, 1974), Doutor em Geografia (Universidade de Paris I, 1982). Atualmente, professor livre-docente do Depto. de Energia da FEM/UNICAMP. Linha de pesquisas em Energia, Sociedade e Ambiente e Riscos Tecnolgicos.

Paula Yone Stroh: sociloga graduada pela USP, mestre pela PUC-SP e doutoranda do Departamento de Sociologia da UnB, atua h vrios anos em atividades de consultoria em planejamento ambiental e avaliao de impacto ambiental para agncias estaduais de desenvolvimento, rgos pblicos ambientais e ONG's ambientalistas, desenvolvendo metodologias participativas de pesquisa social e estudos para orientao de planejamento de projetos ambientais.

Paulo Freire Vieira: doutor em Cincia Poltica pela Universidade de Munique, Alemanha, professor titular na UFSC (Programa de Ps-Graduao em Sociologia Poltica) e pesquisador do CNPq. Tem realizado estgios de ps-doutorado em meio ambiente e desenvolvimento na Frana. Coordenou o Grupo de Trabalho Ecologia, Poltica e Sociedade da ANPOCS e atualmente responsvel pela implantao do Programa Institucional de Meio Ambiente da UFSC. autor de vrios artigos e co-organizador de vrias coletneas sobre pesquisa inter-disciplinar na rea cincias sociais e a questo ambiental.

Peter H. May: mestre em Planejamento Regional e Doutor em Economia de Recursos Naturais pela Universidade de Cornell, EUA, Dr. May Professor de Economia Ecolgica e Polticas Agrrias no Curso de Ps-Graduao em Desenvolvimento Agrcola da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, e Presidente da Associao Brasileira de Economia Ecolgica. Anteriormente, foi Assessor do Programa de Pobreza Rural e Recursos Naturais da Fundao Ford no Brasil e Oficial Florestal (Produtos Florestais No-Madeirveis) pela FAO em Roma. co-autor de The Subsidy from Nature: Palm Forests, Peasantry and Development on an Amazonian Frontier (Columbia University Press, 1991) e Valorando a Natureza: Anlise Econmica para o Desenvolvimento Sustentvel (Editora Campus, 1994).

Antnio Rocha Magalhes: Nascido no Cear. Doutor em economia pela Universidade de So Paulo. Ex-Secretrio Executivo do Ministrio do Planejamento, ex-Secretrio de Planejamento do Estado do Cear e ex-Professor de Economia da Universidade Federal do Cear. Tem vrios livros e artigos publicados no Brasil e no exterior, sobre desenvolvimento regional, desenvolvimento sustentvel, meio ambiente e impactos climticos. Recebeu o Prmio Mitchell Internacional sobre Desenvolvimento Sustentvel, em Houston, Texas, aps participar de competio a nvel mundial. Membro da Academia de Cincias de Nova Iorque e da Sociedade de Pesquisa Cientfica Sigma-xi. Atualmente coordena o Projeto ridas.

Guilherme Pellegrini Mammana: administrador de empresas, mestre em Planejamento Energtico/AIPSE/UNICAMP.

Regina Helena Lima Diniz: jornalista, com especializao em Divulgao Cientfica, ECA/USP.

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BREVE INTRODUO ECONOMIA DA SUSTENTABILIDADEClvis Cavalcanti

Expresso surgida no contexto das discusses sobre o desenvolvimento sustentvel, economia da sustentabilidade pode soar a muitos como esotrica; a outros, como mais uma adio ao rol de termos inacessveis aos leigos; a outros mais, como uma expresso do modismo desencadeado pela nfase sobre o verde ; a outros ainda, como uma inovao vocabular de esttica discutvel. Talvez ela seja tudo isso, mas seu sentido claro. Trata-se de uma preocupao justificada com o processo econmico na sua perspectiva de fenmeno de dimenso irrecorrivelmente ecolgica, sujeito a condicionamentos ditados pelas leis fixas da natureza, da biosfera. uma forma de exprimir a noo de desenvolvimento econmico como fenmeno cercado por certas limitaes fsicas que ao homem no dado elidir. Isto equivale a dizer que existe uma combinao suportvel de recursos para realizao do processo econmico, a qual pressupe que os ecossistemas operam dentro de uma amplitude capaz de conciliar condies econmicas e ambientais. Em outras palavras, no se pode aceitar que a lgica do desenvolvimento da economia entre em conflito com a que governa a evoluo da biosfera, tal como tem ocorrido na experincia dos ltimos cinqenta anos o que induziu o fsico Henry Kendall (prmio Nobel de Fsica), do MIT, a afirmar que os seres humanos e o mundo natural esto numa rota de coliso (ISEE, 1994).Ao se falar de rota de coliso entre homem e natureza, no se est pregando catastrofismo. Muito ao contrrio, realar a noo de uma economia da sustentabilidade diz respeito ao fato de que as funes ecossistmicas so parmetros que no se podem modificar impunemente, necessitando de estabilidade diante de perturbaes suscitadas pelas aes do homem. A natureza, como se sabe, orienta-se pelo princpio da homeostase (Branco, 1989), o que garante a capacidade dinmica dos ecossistemas de consertarem seus desvios do equilbrio mediante processos naturais preservadores da complexa rede de ciclos biogeoqumicos que sustentam a vida no planeta. Assim, necessita-se de uma anlise multidimensional, multidisciplinar, que d conta, no processo econmico, das referncias fsicas biolgicas, geolgicas, qumicas dentro do que se encaixam as estruturas da economia. Essa a essncia do esforo intelectual que tem dado forma disciplina de economia da sustentabilidade ou economia ecolgica. Subjacente s idias a esta ligadas encontra-se o senso de responsabilidade que as presentes geraes devem ter relativamente s futuras, o que obriga o cientista a pesquisar de que maneira o uso dos recursos disposio do homem deve ser feito para se preservar a capacidade de sustentao do ecossistema. Trata-se de deslocar a nfase no crescimento contnuo da economia para o compromisso com a preservao do meio ambiente, esforo que tem levado a proposies de um tipo de sistema econmico ajustado s condies determinadas pela base fsica em que est apoiado, como o caso da economia do Estado firme ou estvel (steady-state economy, em ingls, s vezes tambm chamada de economia do Estado estacionrio, o que no exatamente a idia do conceito) (Daly, 1980).A economia no pode ser vista como um sistema dissociado do mundo da natureza, pois no existe atividade humana sem gua, fotossntese ou ao microbiana no solo. A comparao, nesse contexto, do sistema econmico com um mecanismo no das mais felizes, pois isto lhe retira o sentido da irreversibilidade prpria das mudanas qualitativas que o processo econmico desencadeia (Georgescu-Roegen, 1974) e o afasta de sua dimenso ecolgica. Introduzindo-se a coordenada de sustentao da vida como parte da explorao dos recursos da natureza pelo homem, a economia da sustentabilidade remete formulao de princpios que impeam a seqncia sugerida pela identificao de um conflito que se agrava entre o homem e a natureza (a rota de coliso de Kendall). Ora, como a natureza inflexvel nos seus parmetros bsicos e o ecossistema no cresce afinal, pela primeira lei da termodinmica, matria e energia no so criadas, uma troca sustentvel entre a sociedade e o meio ambiente envolve alguma forma de restrio das atividades societais (Eriksson, 1992). Ou seja, no se pode extrapolar aquilo que um economista chamaria de curva de transformao ou de possibilidades de produo da natureza. A economia da sustentabilidade, assim, implica considerao do requisito de que os conceitos e mtodos usados na cincia econmica devem levar em conta as restries que a dimenso ambiental impe sociedade. Do mesmo modo, a sociedade deve estar de tal modo organizada que sua troca de matria e energia com a natureza no viole certos postulados. Na viso desenvolvimentista tradicional, a natureza se percebe como uma cornucpia fornecedora inexaurvel de recursos e, ao mesmo tempo, como um esgoto de infinita capacidade de absoro de dejetos. Tal viso de um fluxo entre dois infinitos, o que implica que sua vazo possa crescer ilimitadamente (Lutzemberger, 1984) incompatvel com o modelo dos ciclos de materiais do ecossistema, regidos pela bssola da homeostase e por predicados frugais. A moderna sociedade industrial se caracteriza, por sua vez, por fluxos de sentido nico, em que matria e energia de baixa entropia se convertem continuamente em matria e energia de alta entropia, no integrados nos ciclos materiais da natureza. No se pode ter sustentabilidade dessa forma. Um modelo sustentvel tem que se basear em fluxos que sejam fechados dentro da sociedade ou ajustados aos ciclos naturais (Eriksson, 1992). Este um desafio pondervel para a compreenso cientfica das relaes entre o homem e seu referencial ecolgico, entre sociedade e natureza.O mundo atual, apesar do reconhecimento da importncia do conceito de desenvolvimento sustentvel, que levou Conferncia Rio-92, caminha concretamente por rumos que desafiam qualquer noo de sustentabilidade. No possvel, por exemplo, aceitar projees de taxas de crescimento da economia que supem um ritmo anual de aumento do PIB de, digamos, 8% ao ano. Seguir nessa suposio equivaleria a admitir, por exemplo, que a economia brasileira, em 32 anos, atingiria a dimenso atual da economia americana. Isso pode ser desejvel de um ponto de vista puramente quantitativo (ser mesmo?), mas irrealizvel como meta de longo prazo consistente. Pensar que a economia chinesa possa crescer a mais de 10% a.a., sustentavelmente, por mais uma dcada, sonhar acordado. So evidentes em toda parte que os caminhos trilhados esto esbarrando em barreiras intransponveis. Entre 1975 e 1990, por exemplo, o PIB global cresceu de 56% em termos reais, mas o emprego subiu apenas de 28% (prev-se que as tendncias continuaro nesse tom nos prximos anos) (PNUD, 1993). Clculos para o Brasil do conta de que, nas quinhentas maiores empresas do pas, cada novo posto de emprego custa um investimento adicional de 97 mil dlares, enquanto no mesmo segmento empresarial dos Estados Unidos o valor de 231 mil dlares (Melhores e Maiores, Exame, edio anual, 1994). So duas cifras que denotam a impotncia do desenvolvimento em satisfazer necessidades sociais mnimas. Tudo isso sinaliza para uma inevitvel crise de insustentabilidade ecolgica e social, que se arma nos diversos cantos do planeta.Com tais preocupaes em mente que se convocou um encontro de trabalho (workshop) em Pernambuco, em setembro de 1994, sob a gide da Fundao Joaquim Nabuco, para discutir A Economia da Sustentabilidade: Princpios, Desafios, Aplicaes como se intitulou o evento. Para ele foram convidados os pesquisadores e estudiosos que, de vrias perspectivas disciplinares e diversas posies terico-doutrinrias, trabalham hoje no Brasil sobre a temtica proposta. A motivao para tanto foi um evento semelhante, em setembro de 1993, em So Paulo, organizado pelo Projeto Eco-Eco, Economia Ecolgica para o Desenvolvimento Eqitativo, sob a coordenao de Peter H. May, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, onde se discutiu de forma sistemtica, no Brasil, pela primeira vez, o sentido e a aplicabilidade de conceitos da economia ecolgica. Querendo aprofundar tal discusso que se chegou ao encontro de setembro de 1994 na Fundao Joaquim Nabuco, de que os trabalhos reunidos neste livro so contribuies. Na verdade, no se trata de todas as contribuies apresentadas no workshop, mas das que estavam em verso mais definitiva e em condies de publicao. Assim, este livro no um volume de anais, mas de papers escritos em torno de um mesmo foco de investigao, seja no plano mais terico, seja no de aplicaes de conceitos relativos busca de sustentabilidade no uso dos recursos da natureza. conveniente assinalar como, a despeito do grande interesse que parece despertar a questo ambiental e das referncias que lhe fazem cada vez mais trabalhos de pesquisadores diversos, ainda muito reduzida a produo cientfica sobre a matria. Basta ver, por exemplo, como na 45 Reunio Anual da SBPC, no Recife, em julho de 1993 um evento de grandes propores, com 8 mil inscritos, de um total de 742 atividades listadas no programa oficial da reunio, apenas seis estavam de alguma forma ligadas economia da sustentabilidade. Situao ainda mais constrangedora a esse respeito a constatao de que, no XVII Encontro Anual da ANPOCS (Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Cincias Sociais), em Caxambu, MG, em outubro de 1993, no havia uma nica atividade sequer, das 58 programadas, que se reportasse ao assunto do desenvolvimento sustentvel. H, portanto, uma enorme lacuna a ser preenchida, uma vez que no se pode admitir que a atividade econmica prossiga em sua rota de coliso com a natureza. Algo tem que ser feito para isso no plano da investigao, da troca de informaes, da rotina dos pesquisadores. No basta alegremente supor que o mercado e os instrumentos usuais da cincia econmica estabelecida especialmente de sua verso neoclssica, muito apropriada para lidar com questes estticas de eficincia alocativa, ao lado do progresso tcnico, sero capazes de solucionar os impasses de modelos insustentveis de produo e consumo e do que se convencionou impropriamente chamar de gerao de riqueza. Uma nova filosofia, da humanidade como parte da natureza e sujeita a suas regras, deve substituir a viso corrente, do homem afastado do restante do mundo natural e como seu senhor e dominador. O grande desafio da economia da sustentabilidade exatamente desenvolver mtodos para integrar princpios ecolgicos e limites fsicos no formalismo dos modelos econmicos prevalecentes, entre tais princpios especial relevo cabendo s leis de conservao de massa e primeira e segunda leis da termodinmica (Mansson, 1992:198).Levar a cabo o empreendimento de integrao de princpios ecolgicos e limites fsicos no formalismo dos modelos da economia compreende no poucas dificuldades suscitadas pela necessidade de abordagens multidisciplinares, transdisciplinares, holsticas e sistmicas. Isto, inclusive, d origem a uma certa heterogeneidade, visvel, por exemplo, neste volume, o que pode at configurar, primeira vista, uma falta de rumo. Na verdade, no h uma economia da sustentabilidade nem uma nica forma de chegar aos predicados de uma vida sustentvel. Inexiste tampouco uma teoria nica do desenvolvimento ecologicamente equilibrado. O que h uma multiplicidade de mtodos de compreender e investigar a questo. No mbito da cincia econmica, vai-se da anlise biofsica, baseada na termodinmica, de Georgescu-Roegen (1971), proposta de ecodesenvolvimento, de Ignacy Sachs (1984), passando-se pelas verses neoclssicas da economia do meio ambiente (ver Norgaard, 1985), cada uma das quais com uma lista de seguidores que conferem suas prprias ticas anlise dos tpicos abordados. bvio que, em face de tal configurao do campo de trabalho, existe a necessidade de se interligarem os pesquisadores que a ele se dedicam, levando-os a descobrir seus espaos de interseo e as reas em que o desenvolvimento cientfico deve avanar preferencialmente. Este o pano de fundo que permitiu a realizao do workshop e a confeco desta obra coletiva, que tem como propsito espalhar os frutos do trabalho que se realiza sob a direo dos pesquisadores que oferecem contribuio ao livro.Os artigos aqui enfeixados compreendem matria que pode ser agrupada em trs segmentos: princpios, desafios e aplicaes da economia da sustentabilidade. esta a explicao para a diviso do livro em trs partes, cada uma abrangendo um desses trs segmentos. A primeira parte sobre princpios abre com o trabalho do socilogo da Universidade Federal do Par, Franz Josef Brseke, no qual este disseca o conceito de desenvolvimento sustentvel, a partir de vrias instncias de sua formulao como a que se associa tese dos limites do crescimento, do Clube de Roma, at chegar a uma reflexo sobre alternativas tericas e prticas do desenvolvimento sustentvel. Geraldo Mrio Rohde, no captulo seguinte, examina a questo da mudana de paradigma, abordando as contribuies de novos campos de trabalho cientfico como a ecologia energtica (emergia) de H. Odum, a teoria de Gaia etc. para identificar certos princpios cientficos para a sustentabilidade. No seu paper, de contedo mais filosfico, o pensador Armando Dias Mendes, do alto de sua experincia universitria, inclusive como economista e presidente do Banco da Amaznia no passado, perquire as inter-relaes e implicaes resultantes do envolvimento natural do ser humano pela natureza e as influncias humanas sobre esta ltima. O trabalho que aparece, a seguir, como Captulo 5 do livro, de Hctor R. Leis e Jos Luis D'Amato, trata do ambientalismo nos seus vrios sentidos, abordando tambm as dimenses histrica, tica e dos tipos psicolgicos (propostos por Jung) do movimento. Trata-se de buscar um caminho original no campo vivencial-psicolgico para repensar a evoluo do ambientalismo como movimento vital. Andri Werner Stahel discute adiante a sustentabilidade da economia capitalista ou a solubilidade do capitalismo na questo ecolgica, no dizer de Castoriadis, luz da importante concepo de Georgescu-Roegen acerca da entropia no processo econmico. A contribuio de Henri Acselrad, a seguir, no Captulo 7, procura mostrar que a noo de externalidade configura o buraco negro do individualismo metodolgico que fundamenta a economia neoclssica, evidenciando a incapacidade da ltima de equacionar as dimenses coletivas e no-mercantis da produo social. No Captulo 8, Antnio Ribeiro de Almeida Jnior questiona o fato de que, longe de serem consensuais, as concepes correntes sobre os corpos dos seres vivos e sobre o corpo humano so extremamente variadas. Desse posicionamento ele parte para uma discusso das concepes de corpo que orientam nossas reflexes sobre a natureza e sobre os assuntos humanos. O paper de Clvis Cavalcanti, falando da ndole insustentvel do moderno desenvolvimento econmico, e considerando-o como fenmeno nico na histria, levanta algumas questes sobre sustentabilidade, comparando dois paradigmas muito diferentes de relaes entre recursos e necessidades humanas: o dos ndios da Amaznia e o dos Estados Unidos.A segunda parte do livro, sobre desafios confrontados pela economia da sustentabilidade, compreende os Captulos 10 a 17, iniciando-se com uma anlise do antroplogo do Museu Goeldi, Darrell A. Posey, em torno de seus estudos acerca dos ndios Kayap. Posey evidencia aspectos da relao dos indgenas com o meio ambiente e mostra efeitos do contato intertnico com os europeus, finalizando por se referir ameaa que paira sobre os ndios da parte de interesses econmicos que olham com olhos de lucro para o patrimnio nativo. Ele invoca a questo dos direitos de recursos tradicionais como possibilidade de proteo de sociedades nativas e tradicionais. Maria Lcia Azevedo Leonardi reflete, a seguir, partindo dos traos caractersticos das sociedades contemporneas, sobre alguns aspectos da questo ambiental que exemplifiquem os limites, contradies e complexidade da sociedade global que se est construindo. Uma reviso de distintas perspectivas tericas de tratamento dos problemas suscitados pelo confronto entre economia e ecologia, com a proposio de uma economia poltica da sustentabilidade, enfatizando o caso brasileiro, oferecida no Captulo 12, de autoria dos economistas Celso Sekiguchi e Elson Luciano Silva Pires. O captulo seguinte, escrito por Peter H. May, contm um exame das perspectivas de aplicao dos conceitos da economia ecolgica s polticas de desenvolvimento, tomando como ponto de partida uma reviso das propostas metodolgicas de incorporao de externalidades ambientais na anlise de tais polticas. Andr Furtado, no Captulo 14, incursiona no campo de identificao e interpretao das grandes questes tecnolgicas e de desenvolvimento, assim como no novo paradigma tcnico-econmico, como ameaa sustentabilidade do desenvolvimento. nfase dada a ao caso brasileiro. Uma viso de desafios para a economia da sustentabilidade aportada ao livro por Paula Yone Stroh que, no Captulo 15, examina a discusso de paradigmas metodolgicos de formulao das polticas de desenvolvimento e de gesto da qualidade ambiental, apresentando princpios metodolgicos de orientao do planejamento ambiental sustentvel com base nas referncias terico-conceituais das cincias sociais. Adiante, Paulo Freire Vieira, associando as dificuldades de entendimento dos problemas ambientais s insuficincias das propostas avanadas nas ltimas duas dcadas para sua confrontao prtica, trata do novo campo de pesquisa cientfica voltado para a elucidao da questo ambiental e que tem como objeto central os aspectos estruturais e processuais envolvidos nas transformaes da ecosfera. Sua proposta seria a adoo, no trabalho cientfico, de uma diretriz preventiva e apta a balizar a concepo e a viabilizao poltica de estratgias com foco nos objetivos simultaneamente scio-econmicos, poltico-institucionais, culturais e ambientais da evoluo planejada dos sistemas ecossociais. Vieira conclui com a exemplificao da aqicultura como instrumento do ecodesenvolvimento. No seu texto, Captulo 17 do livro, Maurcio Tolmasquim, retirando lies do trabalho que executa como economista ambientalista, discute conceitos da economia do meio ambiente, tais como valor de opo, anlise de custo-benefcio com internalizao de externalidades ecolgicas, avaliao de impactos ambientais etc., para evidenciar suas foras e deficincias.Algumas aplicaes da economia da sustentabilidade, ainda de forma incipiente, so mostradas na terceira parte do livro. O primeiro captulo desta parte, dcimo oitavo da obra, um texto didtico do engenheiro mecnico Arsnio Oswaldo Sev Filho e outros, em que, a partir de conceitos fsicos e tecnolgicos, se efetuam questionamentos de propostas para uma reforma energtica e ambiental no Brasil. Josemar Xavier de Medeiros, numa linha anloga, aborda empiricamente e com elaborao analtica tpicos sobre a produo e utilizao do carvo vegetal na siderurgia brasileira, considerando as possibilidades de apropriao dos custos scio-econmicos e ambientais envolvidos. Sua concluso de que h necessidade de mecanismos de reinvestimentos compensatrios na rea de meio ambiente para se chegar a uma forma sustentvel de realizao da atividade econmica do emprego do carvo vegetal em usinas siderrgicas, especialmente em Minas Gerais. Dlia Maimon se detm no Captulo 20 sobre esforos de incorporao, pelas empresas brasileiras, dentre suas responsabilidades internas, das externalidades por elas geradas. Dlia Maimon trata dos chamados ecobusiness e ecoprodutos, sublinhando atitudes que tendem a tomar corpo dentro do setor privado, no plano internacional, como forma de mitigao de efeitos desastrosos de atividades industriais sobre o meio ambiente. Ela termina por indagar at onde o que as empresas dizem fazer mais retrica, at onde isso representa ao efetiva. Fechando o livro, o economista Antnio Rocha Magalhes, partindo de um histrico das recentes polticas voltadas para o desenvolvimento do Nordeste, com destaque no tocante regio semi-rida, elabora cenrios regionais, bem como a definio de uma estratgia de gesto de polticas sustentveis. Trata-se de um esforo concreto de dirigir a ao pblica sob a restrio do desenvolvimento sustentvel no Nordeste brasileiro.

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Parte I

A ECONOMIA DA SUSTENTABILIDADE:PRINCPIOS

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O PROBLEMA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTVELFranz Josef Brseke

Desenvolvimento sustentvel, sustainable development ou nachhaltige Entwicklung um conceito aparentemente indispensvel nas discusses sobre a poltica do desenvolvimento no final deste sculo. Estaes importantes da discusso1 sobre um conceito alternativo de desenvolvimento foram:

A Contribuio do Clube de Roma: a Tese dos Limites do CrescimentoNo ano de 1972 Dennis L. Meadows e um grupo de pesquisadores publicaram o estudo Limites do crescimento2. No mesmo ano aconteceu a conferncia de Estocolmo sobre ambiente humano. Nem a publicao do Clube de Roma, nem a conferncia de Estocolmo caram do cu. Elas foram a conseqncia de debates3 sobre os riscos da degradao do meio ambiente que, de forma esparsa, comearam nos anos 60, e ganharam no final dessa dcada e no incio dos anos 70 uma certa densidade, que possibilitou a primeira grande discusso internacional culminando na Conferncia de Estocolmo em 1972. O estudo do Clube de Roma reconhece a importncia dos trabalhos anteriores e escreve: As concluses que seguem emergiram do trabalho que empreendemos at agora. No somos, de forma alguma, o primeiro grupo a formul-las. Nestes ltimos decnios, pessoas que olharam para o mundo com uma perspectiva global e a longo prazo, chegaram a concluses semelhantes (Meadows, 1972:19). As teses e concluses bsicas do grupo de pesquisadores coordenado por Dennis Meadows (1972:20) so:1. Se as atuais tendncias de crescimento da populao mundial industrializao, poluio, produo de alimentos e diminuio de recursos naturais continuarem imutveis, os limites de crescimento neste planeta sero alcanados algum dia dentro dos prximos cem anos. O resultado mais provvel ser um declnio sbito e incontrolvel, tanto da populao quanto da capacidade industrial.2. possvel modificar estas tendncias de crescimento e formar uma condio de estabilidade ecolgica e econmica que se possa manter at um futuro remoto. O estado de equilbrio global poder ser planejado de tal modo que as necessidades materiais bsicas de cada pessoa na Terra sejam satisfeitas, e que cada pessoa tenha igual oportunidade de realizar seu potencial humano individual.3. Se a populao do mundo decidir empenhar-se em obter este segundo resultado, em vez de lutar pelo primeiro, quanto mais cedo ela comear a trabalhar para alcan-lo, maiores sero suas possibilidades de xito.Para alcanar a estabilidade econmica e ecolgica, Meadows et al. propem o congelamento do crescimento da populao global e do capital industrial; mostram a realidade dos recursos limitados e rediscutem a velha tese de Malthus do perigo do crescimento desenfreado da populao mundial. A tese do crescimento zero, necessrio, significava um ataque direto filosofia do crescimento contnuo da sociedade industrial e uma crtica indireta a todas as teorias do desenvolvimento industrial que se basearam nela. As respostas crticas s teses de Meadows et al. surgiram conseqentemente entre os tericos que se identificaram com as teorias do crescimento. O prmio Nobel em Economia, Solow, criticou com veemncia os prognsticos catastrficos do Clube de Roma (Solow, 1973 e 1974). Tambm intelectuais dos pases do sul manifestaram-se de forma crtica. Assim Mahbub ul Haq (1976) levantou a tese de que as sociedades ocidentais, depois de um sculo de crescimento industrial acelerado, fecharam este caminho de desenvolvimento para os pases pobres, justificando essa prtica com uma retrica ecologista. Essa foi uma argumentao freqentemente formulada na UNCED no Rio, em 1992, mostrando a continuidade de divergncias e desentendimentos no discurso global sobre a questo ambiental e o desequilbrio scio-econmico.

Uma Nova Proposta: EcodesenvolvimentoFoi o canadense Maurice Strong que usou em 1973 pela primeira vez o conceito de ecodesenvolvimento para caracterizar uma concepo alternativa de poltica do desenvolvimento4. Ignacy Sachs formulou os princpios bsicos desta nova viso do desenvolvimento. Ela integrou basicamente seis aspectos, que deveriam guiar os caminhos do desenvolvimento: a) a satisfao das necessidades bsicas; b) a solidariedade com as geraes futuras; c) a participao da populao envolvida; d) a preservao dos recursos naturais e do meio ambiente em geral; e) a elaborao de um sistema social garantindo emprego, segurana social e respeito a outras culturas, e f) programas de educao. As idias do ecodesenvolvimento no podem negar a sua relao com a teoria do self-reliance, defendida nas dcadas anteriores por Mahatma Gandhi ou Julius Nyerere. Ul Haq (1973) e Dieter Senghaas (1977) radicalizaram a argumentao, defendendo a necessidade da dissociao entre os pases centrais e os pases perifricos, para garantir o desenvolvimento dos ltimos. A teoria do ecodesenvolvimento referiu-se inicialmente s regies rurais da frica, sia e Amrica Latina; ela ganhou cada vez mais uma viso das inter-relaes globais entre subdesenvolvimento e superdesenvolvimento. Uma crtica da sociedade industrial e conseqentemente uma crtica da modernizao industrial como mtodo do desenvolvimento das regies perifricas viraram parte integrante da concepo do ecodesenvolvimento. Podemos constatar, principalmente nos trabalhos de Ignacy Sachs, mas tambm de Glaeser & Uyasulu (1984), que os debates sobre o ecodesenvolvimento prepararam a adoo posterior do desenvolvimento sustentvel. Sachs usa hoje freqentemente os conceitos ecodesenvolvimento e desenvolvimento sustentvel como sinnimos.

A Declarao de CocoyokA Declarao de Cocoyok5 resultado de uma reunio da UNCTAD (Conferncias das Naes Unidas sobre Comrcio-Desenvolvimento) e do UNEP (Programa de Meio Ambiente das Naes Unidas) em 1974. Ela contribui para a discusso sobre desenvolvimento e meio ambiente, destacando as seguintes hipteses: a) a exploso populacional tem como uma das suas causas a falta de recursos de qualquer tipo; pobreza gera o desequilbrio demogrfico; b) a destruio ambiental na frica, sia e Amrica Latina tambm o resultado da pobreza que leva a populao carente superutilizao do solo e dos recursos vegetais; c) os pases industrializados contribuem para os problemas do subdesenvolvimento por causa do seu nvel exagerado de consumo. No existe somente um mnimo de recursos necessrios para o bem-estar do indivduo; existe tambm um mximo. Os pases industrializados tm que baixar seu consumo e sua participao desproporcional na poluio da biosfera.

O Relatrio Dag-Hammarskjld (1975)As posies de Cocoyok foram aprofundadas no relatrio final de um projeto da Fundao Dag-Hammarskjld com participao de pesquisadores e polticos de 48 pases. O UNEP e mais treze organizaes da ONU contriburam. Este relatrio aponta, e ultrapassa outros documentos at ento, para a problemtica do abuso de poder e sua interligao com a degradao ecolgica. Assim, ele mostra que o sistema colonial concentrou os solos mais aptos para a agricultura na mo de uma minoria social e dos colonizadores europeus. Grandes massas da populao original foram expulsas e marginalizadas, sendo foradas a usar solos menos apropriados. Isso levou na frica do Sul6, no Marrocos e em inmeros outros lugares devastao de paisagens inteiras. O Relatrio Dag-Hammarskjld divide com a Declarao de Cocoyok o otimismo que se baseia na confiana de um desenvolvimento a partir da mobilizao das prprias foras (self-reliance). O radicalismo dos dois documentos expressa-se na exigncia de mudanas nas estruturas de propriedade no campo, esboando o controle dos produtores sobre os meios de produo. Os dois relatrios dividem tambm o fato da sua rejeio ou omisso pelos governos dos pases industrializados e dos cientistas e polticos conservadores. O fracasso de vrias experincias com modelos de desenvolvimento base da self-reliance, como na Tanznia ou, de forma dramtica, no Camboja e a crescente relativizao da experincia chinesa fortaleceram ainda mais esta reao.

Sustentabilidade como Estratgia de Desenvolvimento: o Relatrio BrundtlandDesenvolvimento sustentvel desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as futuras geraes satisfazerem as suas prprias necessidades. O Relatrio Brundtland o resultado do trabalho da Comisso Mundial (da ONU) sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (UNCED). Os presidentes desta comisso eram Gro. Harlem Brundtland e Mansour Khalid, da o nome do relatrio final. O relatrio parte de uma viso complexa das causas dos problemas scio-econmicos e ecolgicos da sociedade global. Ele sublinha a interligao entre economia, tecnologia, sociedade e poltica e chama tambm ateno para uma nova postura tica, caracterizada pela responsabilidade tanto entre as geraes quanto entre os membros contemporneos da sociedade atual. O relatrio apresenta uma lista de medidas a serem tomadas no nvel do Estado nacional. Entre elas: a) limitao do crescimento populacional; b) garantia da alimentao a longo prazo; c) preservao da biodiversidade e dos ecossistemas; d) diminuio do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias que admitem o uso de fontes energticas renovveis; e) aumento da produo industrial nos pases no-industrializados base de tecnologias ecologicamente adaptadas; f) controle da urbanizao selvagem e integrao entre campo e cidades menores; g) as necessidades bsicas devem ser satisfeitas. O Relatrio Brundtland define tambm metas a serem realizadas no nvel internacional, tendo como agentes as diversas instituies internacionais. A ele coloca: h) as organizaes do desenvolvimento devem adotar a estratgia do desenvolvimento sustentvel; i) a comunidade internacional deve proteger os ecossistemas supranacionais como a Antrtica, os oceanos, o espao; j) guerras devem ser banidas; k) a ONU deve implantar um programa de desenvolvimento sustentvel.Em comparao com as discusses nos anos 70 (Declarao de Cocoyok, Relatrio Dag-Hammarskjld) mostra o relatrio da comisso Brundtlandt um grau elevado de realismo. Ele nem propaga a dissociao ou a estratgia da self-reliance nem a despedida do crescimento econmico. Interesses ele toca com cuidado e mantm sempre um tom diplomtico, provavelmente uma das causas da sua grande aceitao depois de ser publicado. Todavia, a crtica sociedade industrial e aos pases industrializados tem em comparao com os documentos internacionais anteriores (Cocoyok, Dag-Hammarskjld) um espao bastante diminudo. O Relatrio Brundtland define ou pelo menos descreve o nvel do consumo mnimo partindo das necessidades bsicas, mas omisso na discusso detalhada do nvel mximo de consumo (e de uso de energia etc.) nos pases industrializados. O Relatrio Brundtland quer crescimento tanto nos pases no-industrializados quanto nos pases industrializados. Alm do mais, ele torna a superao do subdesenvolvimento no hemisfrio sul dependente do crescimento contnuo nos pases industrializados. Como esta posio casa com a crtica do desenvolvimento do ponto de vista ecolgico fica mais do que duvidoso8.

A UNCED no Rio em 1992Em junho de 1992 reuniram-se no Rio mais de 35 mil pessoas, entre elas 106 chefes de governos, para participar da conferncia da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED). O Relatrio do Worldwatch Institute de 19939 critica os resultados dessa conferncia: Apesar do interesse mundial mais intensivo pelo futuro do planeta, a conferncia da ONU no correspondeu nem s esperanas e nem s expectativas com ela ligadas. Muitos problemas surgiram em conseqncia da presso da delegao dos Estados Unidos em favor da eliminao das metas e dos cronogramas para a limitao da emisso de CO2 do acordo sobre o clima; assim este foi degradado para uma declarao de boas intenes. Tambm a conveno sobre a proteo da biodiversidade teve alguns pontos fracos; o mais grave foi a falta da assinatura dos Estados Unidos. Apesar dessas restries, documentou a UNCED o crescimento da conscincia sobre os perigos que o modelo atual de desenvolvimento econmico significa. A interligao entre o desenvolvimento scio-econmico e as transformaes no meio ambiente, durante dcadas ignorada, entrou no discurso oficial da maioria dos governos do mundo.

Rumo a uma Nova Teoria do Desenvolvimento?O conceito de desenvolvimento sustentvel tem uma conotao extremamente positiva. Tanto o Banco Mundial, quanto a UNESCO e outras entidades internacionais adotaram-no para marcar uma nova filosofia do desenvolvimento que combina eficincia econmica com justia social e prudncia ecolgica. Esse trip virou frmula mgica, que no falta em nenhuma solicitao de verbas para projetos da natureza mais variada no campo eco-scio-econmico dos pases e regies do nosso velho Terceiro Mundo11. O conceito desenvolvimento sustentvel sinaliza uma alternativa s teorias e aos modelos tradicionais do desenvolvimento, desgastadas numa srie infinita de frustraes. E no eram poucas as teorias que queriam esclarecer as causas do subdesenvolvimento. Lembramo-nos rapidamente: a) da teoria do subconsumo (Luxemburgo); b) da teoria do exrcito industrial de reserva (Sternberg); c) da teoria dos monoplios mundiais (Lnin); das contribuies subseqentes de Baran, Bettelheim, Amin, Palloix, Sweezy; d) da teoria da dependncia12, representada de um lado por Sunkel, Furtado, Jaguaribe etc. e, por outro, por Frank, dos Santos, Crdova, Cardoso, Ianni etc.; lembremo-nos que nesse contexto desenvolveu-se a discusso da teoria do capitalismo perifrico (Senghaas) e da heterogeneidade estrutural13. No vamos ignorar tambm: e) a teoria da causao circular-cumulativa (Myrdal); f)a teoria da modernizao, respectivamente, do desenvolvimentismo (Hirschman, Prebish, Knakal, Pinto etc.); g) a teoria do cmbio desigual (Amin, Emmanuel, Mandel etc.) e, finalmente, h) a teoria do mercado mundial capitalista (Bosch, Schller).O julgamento sobre uma teoria do desenvolvimento depende essencialmente das expectativas com que ligamos teorias e sua aplicao emprica. Isto o ponto de partida que j pode separar os nimos. Ns esperamos e isso separa-nos de forma clara do pessimismo macroterico, que se confronta da mesma maneira com a crtica de ser modista como as tentativas recentes de uma reformulao de uma teoria do desenvolvimento global, apesar da perda de plausibilidade das grandes teorias sociais, o seguinte: uma teoria do desenvolvimento tem que: a) contribuir para a interpretao sistemtica do desenvolvimento social; b) tem que demonstrar seu valor heurstico nos estudos de casos; c) deve na base da sua coerncia interna servir para orientar a ao social com sentido numa situao que seria menos transparente sem a existncia dessa teoria.No pode ser o objetivo tentar provar a praticabilidade de uma perspectiva terica no exemplo da Amaznia ou dos Trpicos midos em geral. Tambm no pode ser o nosso objetivo defender uma teoria para a qual Brasil ou Amaznia possui meramente o papel de objeto de demonstrao. simplesmente impossvel desenvolver longe das realidades uma teoria que esperasse somente a sua prova. E isto porque a verificao de uma teoria impossvel14. Mas ela tem que ser construda de maneira que admita a sua falseabilidade. Para examinar-se uma teoria, ela tem que se confrontar com o procedimento de falsificao se ela sobrevive a este procedimento, e desdobra alm disso fora heurstica, mantemos a teoria. De nenhuma maneira podemos escapar do problema da deduo como no podemos evitar a necessidade de uma hiptese inicial ou pelo menos de uma idia brilhante. Entre a determinao dos princpios mximos atravs da escolha, da anlise da cincia ou de uma simples afirmao, no existe em relao funo do sistema terico ideal nenhuma diferena. Sem dvida, o cientista confronta com fatos emergentes suas teses mais ou menos gerais na forma de hipteses (Horkheimer, 1968:141).Quem acompanha as tentativas de interpretar os acontecimentos regionais na Amaznia base de teorias complexas, confronta-se com a inadequao aparente entre o esforo conceitual e a essncia emprica da anlise. Tanto Bunker (1985), como Altvater (1987) e Costa (1989), para mencionar os trabalhos que so no nosso contexto mais importantes, experimentam nas suas argumentaes com reflexes altamente tericas, que, muitas vezes, e sem prejudicar o valor do trabalho, contrastam com as passagens empricas.O contraste entre teoria e empiria nos trabalhos mais recentes sobre a Amaznia no vem por acaso; ele a expresso do movimento de procura de explicaes que as teorias conhecidas no mais fornecem. Qual a contribuio da teoria de dependncia para o entendimento da destruio da floresta tropical? Este problema, junto com a desestruturao scio-econmica, so, nessa grandeza, problemas novos e integrados em estruturas dinmicas com uma complexidade crescente, que as teorias conhecidas no mais alcanam. Elas somente aparentam ser teorias mais perto da realidade porque j entraram no panteo das teorias cientficas. Os tericos da dependncia do Brasil calaram-se h mais de uma dcada sobre a crise estrutural que est ameaando quebrar a espinha dorsal da sociedade brasileira. Menzel e outros discutem h anos abertamente sobre as lacunas das teorias do desenvolvimento dos anos 60 e 70. Propostas desenvolvidas no contexto da teoria da dependncia, como o conceito da dissociao, combinaram, numa certa fase histrica, mais com os interesses nacionais da fase ps-colonial depois da Segunda Guerra Mundial do que contriburam para a anlise do desenvolvimento real. So lacunas que se manifestaram com mais nitidez ainda depois do colapso do socialismo la Unio Sovitica e o fim da confrontao militar entre as superpotncias. Falar sobre imperfeies das teorias do desenvolvimento inclui obviamente a integrao de elementos tericos bem-sucedidos. A crise do endividamento, por exemplo, significa, sim, a transferncia de capital para as metrpoles. Teorias de acumulao e teorias sobre os desequilbrios da economia mundial tm a sua funo, devem ser mantidas e ampliadas15.Nas circunstncias atuais, marcadas pela tentativa secular e pelo fracasso da industrializao no-capitalista, o desdobramento de uma polmica apontando deficincias parece mais fcil do que a reconstruo de alternativas tericas e prticas do desenvolvimento. Governos e candidatos ao governo abraam ainda com a coragem dos desorientados a idia da modernizao, sem perceber que o modelo da industrializao tardia capaz de modernizar alguns centros ou setores da economia, mas incapaz de oferecer um modelo de desenvolvimento equilibrado da sociedade inteira. A modernizao, no acompanhada da interveno do Estado racional e das correes partindo da sociedade civil, desestrutura a composio social, a economia territorial, e seu contexto ecolgico. Por isso, necessitamos de uma perspectiva multidimensional, que envolva economia, ecologia e poltica ao mesmo tempo. Isso, no fundo, o ponto de partida da teoria do desenvolvimento sustentvel. Apesar da sua estrutura ainda inacabada, aponta este conceito na direo certa. Quem no quiser se perder no caminho, precisa mais do que boa vontade, ou financiamento externo: precisa de cincia.

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MUDANAS DE PARADIGMA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTADOGeraldo Mrio Rohde

1. IntroduoO sculo XX produziu eventos extraordinrios na teoria do conhecimento e nos paradigmas cientficos. Seu incio foi marcado pela invaso das desordens nas cincias ditas duras (ou ainda, deterministas, termodinmicas etc.) e a incluso das noes de probabilidade, incerteza e risco em diversas disciplinas. O findar de nosso sculo assiste ao definhamento do paradigma cartesiano-newtoniano, substitudo por uma viso de mundo integradora, sstica, conjuntiva e holstica. O mundo mecanicista-euclidiano hoje uma metfora de museu, uma ideologia que s se sustenta pela fora gerada pela tecnocincia instrumentalizadora, utilizada pelos detentores do poder poltico.As chamadas cincias ambientais se espremem em vazios epistemolgicos entre as cincias naturais e sociais, adjetivam disciplinas existentes e provocam a necessidade da interdisciplinaridade. Mesmo dentro da estreita viso economicista atual perfeitamente possvel discernir quatro fatores principais que tornam a civilizao contempornea claramente insustentvel a mdio e longo prazo:crescimento populacional humano exponencial;depleo da base de recursos naturais; sistemas produtivos que utilizam tecnologias poluentes e de baixa eficcia energtica;sistema de valores que propicia a expanso ilimitada do consumo material.Os cientistas que estudam o meio ambiente podem apontar fatos ainda bem mais graves e profundos sobre o sistema atual, insustentado, decorrente do dogma fundamental da teoria econmica vigente, a saber, o crescimento econmico a qualquer custo: o crescimento contnuo e permanente em um planeta finito; a acumulao, cada vez mais rpida, de materiais, energia e riqueza; a ultrapassagem de limites biofsicos; a modificao de ciclos biogeoqumicos fundamentais; a destruio dos sistemas de sustentao da vida; a aposta constante nos resultados da tecnocincia para minimizar os efeitos causados pelo crescimento.A passagem do atual mundo desintegrado para um em que o desenvolvimento seja sustentado (com sua implcita melhoria da qualidade de vida) exige radical migrao da situao presente de insustentabilidade planetria para outro modelo civilizatrio. Semelhante transio depende, em grande parte, de mudanas profundas na teoria do conhecimento e nas cincias em geral. Alm disso, os princpios, premissas e pressuposies bsicas das cincias seus paradigmas, enfim tm sinalizaes muito importantes em termos de direcionamento da abordagem econmica de uma sociedade sustentada.Desta maneira, a investigao das fronteiras das cincias, suas teorias e seus novos paradigmas emergentes constituem tarefa bsica, premissa fundamental para determinar a nova viso de mundo necessria para realizar o pretendido desenvolvimento sustentado (Ely, 1992), uma vez que a situao de insustentabilidade foi baseada e conseqncia, em grande parte, de paradigmas ultrapassados:1. cartesiano-newtoniano causalista;2. mecanicista-euclidiano reducionista;3. antropocentrista.

2. Mudanas de ParadigmasA abordagem das mudanas de paradigmas como objeto de investigao, tal como foi realizada no clssico A estrutura das revolues cientficas (Kuhn, 1975) tarefa desenvolvida por vrios autores, que estendem o conceito de paradigma como escala de cosmoviso, incluindo questes sociais e polticas.Dentre os vrios trabalhos que tematizam as mudanas de paradigmas, destacam-se pela fundamentao possvel da questo da sustentabilidade os seguintes:Os filsofos e as mquinas 1400-1700 (Rossi, 1989);O tao da Fsica (Capra, 1985);O ponto de mutao (Capra, 1986);Sabedoria incomum (Capra, 1990);A irreversvel aventura do planeta Terra (Rohde, 1992).Os diversos campos do conhecimento que realizaram importantes mudanas paradigmticas em perodo recente ou que tiveram teorias revolucionrias que apontam para paradigmas emergentes so registradas a seguir, tendo como referncia as obras mais importantes que lhes dizem respeito ou aquelas existentes em lngua portuguesa.

3. Campo da Teoria do Conhecimento3.1 Teoria da auto-organizacoA teoria da auto-organizao (Varela, 1979; Maturana & Varela, 1993; Thompson, 1990) subverte completamente a idia de causalidade mecnica, abrindo nova perspectiva para uma nova ontologia (Cirne-Lima, 1993), com viso alternativa sobre o problema da contingncia. De fato, esta tentativa filosfica pretende fazer frente situao intransponvel que Immanuel Kant (1724-1804) deixou na teoria do conhecimento, em termos de uma Razo unitria, autnoma e livre, que deve objetificar as coisas do mundo para poder conhec-las em suas relaes causais. A fundamentao das relaes na teoria da auto-organizao feita sempre tendo em vista a recursividade entre um sistema dinmico e seu ambiente.3.2 Um novo mtodoDecorridos 340 anos desde que o filsofo francs Ren Descartes (1596-1650) publicou o seu famoso Discurso do Mtodo (1637), um novo Mtodo (Morin, 1977, 1980, 1986 e 1991) aparece, com a proposta de um saber conjuntivo e articulador, com a necessidade da enciclopdia, o apreender a articular pontos de vista disjuntos do saber em um ciclo ativo. A viso deste novo paradigma parte da idia de organizao ativa como sinnimo de reorganizao permanente. A raiz re fsica representa uma categoria fundamental e mereceria, conforme Morin, ser conceitualizada do modo mais radical, pois est em autos e ikos, pois estes ltimos so reorganizadores, regeneradores e recorrentes: repetir, reorganizar, reproduzir, reciclar, retornar, rememorar, recomear, refletir, revolver, reusar etc.A obra (at setembro de 1994) composta pelos livros:O Mtodo I (Morin, 1977);O Mtodo II (Morin, 1980);O Mtodo III (Morin, 1986);O Mtodo IV (Morin, 1991).

3.3 Paradigma holsticoO paradigma holstico afirma a inseparatividade de todas as coisas e procura eliminar o discurso e a prtica dualistas. Apenas a holologia, ou seja, a obteno ou o desenvolvimento de uma compreenso clara e de uma interpretao correta da no-dualidade, pelos meios clssicos ligados ao pensamento discursivo (Weil, 1987a:7) passvel de ser abordada, uma vez que a holopraxia requer o acesso mediante experincia individual e particular. A bibliografia que apresenta o paradigma holstico, realizada aps o clssico O fantasma da mquina (Koestler, 1969), numerosa:A neurose do paraso perdido (Weil, 1987);Nova linguagem holstica (Weil, 1987a);Introduo viso holstica (Crema, 1988);Viver holstico (Pietroni, 1988);Holstica: uma nova viso e abordagem do real (Weil, 1990);A linguagem dos deuses (Farjani, 1991);O novo paradigma holstico (Brando & Crema, 1991);A arte de viver em paz (Weil, 1993).

4. Campo SistmicoEcologia energtica (EMERGIA)A ecologia energtica modeladora, baseando-se em conceitos cibernticos e sistmicos (White et al., 1992), desemboca, j na dcada de 70, na definio de emergia, ou seja, na quantidade de energia multiplicada por uma transformidade que se relaciona com a qualidade da energia em questo. Inicialmente ocupando-se de ecossistemas naturais, passando pelos agrossistemas, os modelos de emergia chegaram, em pouco tempo, a integrar as aes humanas e os seus imensos impactos ao meio ambiente, locais ou globais.A abordagem emergtica oferece subsdios revolucionrios no sentido de uma correta avaliao dos valores atribudos a processos e recursos naturais, tarefa que a chamada economia neoclssica nunca conseguiu desempenhar a contento, nem de maneira extremamente precria.Algumas obras bsicas disponveis no Brasil so as seguintes:Ambiente, energa y sociedad (Odum, 1980);Systems ecology (Odum, 1983);Energy basis for man and nature (Odum & Odum, 1981);Ecologia (Odum, 1988).

5. Campo Matemtico5.1 Caos e fractaisObservando a Natureza e o Cosmos pela geometria tradicional verifica-se que a simetria estrutural se d em todo o Universo, desde as partculas elementares at as estruturas csmicas mais complexas, como os buracos negros. Os observadores dualistas sempre opuseram ordem a desordem, o irregular, o caos. Ao contrrio, o caos no o lado irregular da Natureza, mas uma generalizao do comportamento universal da complexidade. Os fractais (Mandelbrot, 1977) so a geometria da Natureza, a simetria atravs das escalas de observao. A tese de Mandelbrot de que as complexidades s existem no contexto da geometria euclidiana tradicional. Como fractais, as estruturas ramificantes podem ser descritas com transparente simplicidade, com apenas algumas informaes (Gleick, 1990:104).A base informacional disponvel sobre o caos e os fractais est situada, principalmente, em:The fractal geometry of nature (Mandelbrot, 1977);The science of fractal images (Peitgen & Saupe, 1988);Caos, a criao de uma nova cincia (Gleick, 1990);Clima e excepcionalismo (Monteiro, 1991).

5.2 Teoria da catstrofeA teoria da catstrofe (Arnold, 1989) fornece um mtodo universal para o estudo de transies por saltos, descontinuidades e sbitas mudanas qualitativas, que a anlise newtoniana, baseada em processos suaves e contnuos, no possui capacidade de enfocar. Catstrofes so mudanas sbitas e violentas, representando respostas descontnuas de sistemas com variaes suaves nas condies externas (Arnold, 1989:19). At o presente momento, os resultados da teoria de Ren Thom j foram aplicados em campos como o estudo dos batimentos cardacos, tica fsica e geomtrica, embriologia, hidrodinmica, geologia, psicologia experimental, lingstica e s partculas elementares.

6. Campo FsicoHolograma e ordem implicadaO fsico David Bohm (1971) afirma que o holograma um ponto de partida para uma nova descrio da realidade: a ordem implicada (1991). A realidade convencional fsica (clssica) focaliza manifestaes secundrias explicadas das coisas e no a sua essncia ou fonte. Implicar explicar, implcito. A implicao faz parte, igualmente, da teoria da auto-organizao e da ontologia que a pe como premissa. O paradigma hologrfico e outros paradoxos (Wilber, 1991) mostra que a organizao do Universo, bem como a natureza da mente humana, pode ter sua realidade primria (implicada) como um domnio de freqncias um holograma, portanto em que qualquer pedao pode reconstituir a imagem inteira.

7. Campo GeolgicoTeoria da tectnica de placasA nova tectnica global constitui uma explicao coerente e sistmica da dinmica do planeta Terra e foi a nica revoluo paradigmtica do tipo kuhniano consciente de si mesma. Seus protagonistas sabiam o que estava acontecendo, o que levou J. Tuzo Wilson a proclamar a revoluo nas geocincias no Congresso Internacional de Geologia em Praga (1968). De fato, alm de a chamada tectnica de placas ser a primeira teoria a explicar o comportamento cinemtico, fsico e geolgico da crosta terrestre como um sistema coerente e unitrio, ela provocou verdadeira unificao epistemolgica no campo das geocincias.Algumas obras sobre a tectnica global:Deriva continental y tectnica de placas (Scientific American & Tuzo Wilson, 1974);The way the Earth works (Wyllie, 1976);A Terra nova geologia global (Wyllie, 1985);Geo-histria a evoluo global da Terra (Ozima, 1991).

8. Campo Biolgico8.1 Teoria de GaiaA chamada hiptese Gaia um novo olhar sobre o fenmeno precariamente chamado vida na Terra, com a idia de que a Terra est viva. A primeira afirmativa nesse sentido partiu do gelogo James Hutton, em 1785, em uma palestra efetuada na Royal Society de Edimburgo. O conceito de Gaia, ou Me-Terra, como diziam os gregos, na viso moderna a abreviatura da biosfera considerada como um mecanismo de regulao automtica, com a capacidade de manter saudvel nosso planeta, controlando o meio fsico e qumico.A grande mudana paradigmtica de Gaia frente evoluo biolgica clssica consiste em que, nesta ltima, a vida adapta-se, de maneira mais ou menos passiva, ao mundo fsico; j em Gaia a evoluo vital interage e literalmente molda o meio fsico, entrando em cena a parte biolgica responsvel pelo controle planetrio: os microorganismos.Os quatro principais livros que tratam sobre esta revoluo paradigmtica so os seguintes:Gaia (Lovelock, 1987);As eras de Gaia (Lovelock, 1988);Microcosmos (Margulis & Sagan, 1990);O despertar da Terra (Russel, 1991).8.2 Dois novos contratosDesde que Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) escreveu seu Contrato Social (1762) para regrar as relaes polticas entre os seres humanos, a Histria continuava cega Natureza. Mas agora os tempos histricos, tempos biolgicos (Tiezzi, 1988) impem nova situao de abordagem. A histria global entra na Natureza, a natureza global entra na Histria. Eis dois novos diplomas normativos necessrios, o contrato natural (Serres, 1991) e o contrato animal (Morris, 1990).O contrato natural prope uma nova tica que elimine o estado de guerra com a Natureza, um novo pacto, um novo acordo prvio, que devemos fazer com o inimigo objetivo do mundo humano: o mundo tal como est. Guerra de todos contra tudo (Serres, 1991:25).Partindo do fato de que no somos, os seres humanos, uma espcie rara, porm, sem sombra de dvida, somos uma espcie ameaada, possvel identificar o maior crime de lesa-humanidade: o rompimento do contrato animal. A base deste contrato que cada espcie deve limitar seu crescimento populacional o suficiente para permitir que outras formas de vida coexistam com ela (Morris, 1991:12). O aspecto humano do contrato animal que no h nada a ganhar na superpopulao, a no ser a misria.

9. Princpios Cientficos para a SustentabilidadeA possibilidade da construo de uma sustentabilidade deve levar em conta os princpios extrados dos recentes avanos nos paradigmas e teorias cientficas, uma vez que a insustentabilidade atual foi resultante, em grande parte, do conhecimento superado anterior, inadequado, de convivncia com o meio ambiente. Os princpios filosfico-cientficos, emergentes dos novos paradigmas e teorias, que podem tentativamente compor a base para a construo da sustentabilidade, so os seguintes:contingncia;complexidade;sistmica;recursividade;conjuno;interdisciplinaridade. importante ressaltar que estes princpios, conforme anteriormente registrado, so extrados da rea da teoria do conhecimento e dos novos paradigmas cientficos e, portanto, constituem parte do aparato conceitual disciplinar para uma abordagem sustentvel. Princpios ticos, sociais (por exemplo, ver Ely, 1992:199-200) e econmicos devero igualmente entrar na formao das novas propostas de desenvolvimento da Sociedade.

9.1. Princpio de contingnciaO princpio de contingncia refere-se possibilidade ontolgica do novo no-necessrio, do diferente contraditrio, constituindo o contexto filosfico da teoria da auto-organizao. No campo cientfico, a contingncia assume a forma das propriedades emergentes dos sistemas principalmente vivos que no esto previstas pelo somatrio particular das partes que os compem. A implicao est contida neste princpio, sendo contraponto explicao mecnica.

9.2. Princpio de complexidadeO princpio de complexidade atual ope-se ao reducionismo praticado de forma generalizada pelas cincias, tendo ainda que fornecer as bases para uma Razo aberta, que reformule a evoluo do fechamento racional simplificador anterior. A complexidade deve fazer frente irracionalidade e a racionalidade, s racionalizaes, incerteza e ambigidade.A complexidade traz embutida a necessidade de associar o objeto ao seu ambiente, de ligar o objeto ao seu observador e a desintegrao do elemento simples. Para uma abordagem detalhada do paradigma da complexidade, ver Morin (1982:248-50).

9.3. Princpio de sistmicaO princpio de sistmica engloba a perspectiva ciberntica, a abordagem holstica quanto totalidade, alm de incluir aspectos sobre autonomia e integrao. A sistmica tem relao com a complexidade, com a recursividade e com a emergia

9.4. Princpio de recursividadeO princpio de recursividade baseia-se no paradigma re e est presente nas cincias, na auto-organizaco, no novo mtodo, no holismo, na emergia e no caos-fractais. A recursividade pe a organizao ativa como sinnimo de reorganizao permanente.

9.5. Princpio de conjunoO princpio de conjuno o contraponto terico e prtico da disjuno mecnico-causalista anterior, ou seja, a articulao dos campos do conhecimento, dos saberes e das abordagens, permeando todos os paradigmas cientficos novos.

9.6. Princpio de interdisciplinaridadeO princpio de interdisciplinaridade permeia todos os novos paradigmas cientficos, desde o novo mtodo at os fractais. sobretudo na abordagem sistmica, na complexidade e na questo ambiental que a interdisciplinaridade possui maior relevncia. Muitos pesquisadores chegam a enfocar a interdisciplinaridade como espcie de correo para o estilhaamento da Razo nas diversas racionalidades hoje existentes e, no mnimo, como uma tentativa de minimizar a patologia do saber (Japiassu, 1976).

Referncias BibliogrficasARNOLD, Vladimir I. (1989). Teoria da catstrofe. Campinas, Unicamp.BOHM, David (1991). A totalidade e a ordem implicada: uma nova percepo da realidade. So Paulo, Cultrix.BRANDO, M. S. & CREMA, Roberto (orgs.) (1991). O novo paradigma holstico. So Paulo, Summus.CAPRA, Fritjof (1985). O tao da Fsica, um paralelo entre a Fsica moderna e o misticismo oriental. So Paulo, Cultrix.______ (1986). O ponto de mutao. So Paulo, Summus.______ (1990). Sabedoria incomum, conversas com pessoas notveis. So Paulo, Cultrix.CIRNE-LIMA, Carlos V. (1993). Sobre a contradio. Porto Alegre, EDIPUCRS.CREMA, Roberto (1989). Introduo viso holstica. So Paulo, Summus.ELY, Alosio (1992). Desenvolvimento sustentado: uma abordagem holstica e integrada da poltica, da economia, da natureza e da sociedade. Porto Alegre, FEPLAM.FARJANI, Antnio Carlos (1991). A linguagem dos deuses. So Paulo, Mercuryo.GLEICK, James (1990). Caos: a criao de uma nova cincia. Rio de Janeiro, Campus.JAPIASSU, Hilton (1976). Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro, Imago.KELLER, Edward A. (1992). Environmental geology. 6 ed. Columbus, Merrill.KOESTLER, Arthur (1969). O fantasma da mquina. Rio de Janeiro, Zahar.KUHN, Thomas S. (1975). A estrutura das revolues cientficas. So Paulo, Perspectiva.LOVELOCK, James (1987). Gaia: um novo olhar sobre a vida na Terra. Lisboa, Edies 70.______ (1988). As eras de Gaia: uma biografia do nosso planeta vivo. Mira-Sintra, Europa-Amrica.MANDELBROT, Benoit B. (1977). The fractal geometry of nature. Nova York, Freeman.MARGULIS, Lynn & SAGAN, Dorion (1990). Microcosmos: quatro bilhes de anos de evoluo microbiana. Lisboa, Edies 70.MATURANA R., Humberto & VARELA G., Francisco (1993). El rbol del conocimiento. 9 ed. Santiago, Universitaria.MONTEIRO, Carlos Augusto de Figueiredo (1991). Clima e excepcionalismo: conjecturas sobre o desempenho da atmosfera como fenmeno geogrfico. Florianpolis, UFSC.MORIN, Edgar (1977). O mtodo: 1. A natureza da natureza. Lisboa, Mira-Sintra, Europa-Amrica.______ (1980). O mtodo: 2. A vida da vida. Lisboa, Mira-Sintra, Europa-Amrica.______ (1982). Cincia com conscincia. Lisboa, Mira-Sintra, Europa-Amrica.______ (1986). O mtodo: 3. O conhecimento do conhecimento. Lisboa, Mira-Sintra, Europa-Amrica.______ (1991). O mtodo: 4. As idias. Lisboa, Mira-Sintra, Europa-Amrica.MORRIS, Desmond (1990). O contrato animal. Rio de Janeiro, Record.ODUM, Eugene P. (1988). Ecologia. Rio de Janeiro, Guanabara.ODUM, Howard T. (1980). Ambiente, energa y sociedad. Barcelona, Blume.______ (1983). Systems ecology: an introduction. Nova York, John Wiley & Sons.______ & ODUM, Elisabeth C. (1981). Energy basis for man and nature. 2 ed. Nova York, McGraw-Hill.OZIMA, Minoru (1991). Geo-histria: a evoluo global da Terra. Braslia, Universidade de Braslia.PEITGEN, Heinz-Otto & SAUPE, Dietmar (orgs.) (1988). The science of fractal images. Nova York, Springer.PIETRONI, Patrick (1988). Viver holstico. So Paulo, Summus.ROHDE, Geraldo Mrio (1982). Simetria. So Paulo, Hemus.______ (1992). A irreversvel aventura do planeta Terra. Porto Alegre, FEPLAM.ROSSI, Paolo (1989). Os filsofos e as mquinas 1400-1700. So Paulo, Companhia das Letras.RUSSEL, Peter (1991). O despertar da Terra; o crebro global. So Paulo, Cultrix.Scientific American & TUZO WILSON, J. (1974). Deriva continental y tectnica de placas. Barcelona, Blume.SERRES, Michel (1991). O contrato natural. Rio de Janeiro, Nova Fronteira.THOMPSON, William Irwin (org.) (1990). Gaia uma teoria do conhecimento. So Paulo, Gaia.TIEZZI, Enzo (1988). Tempos histricos, tempos biolgicos; a Terra ou a morte: os problemas da nova ecologia. So Paulo, Nobel.VARELA, Francisco J. (1979). Principles of biological autonomy. Nova York, North Holland.WEIL, Pierre (1987). A neurose do paraso perdido: proposta para uma nova viso da existncia. Rio de Janeiro, Espao e Tempo/CEPA.______ (1987a). Nova linguagem holstica. Rio de Janeiro, Espao e Tempo/CEPA.______ (1990). Holstica: uma nova viso e abordagem do real. So Paulo, Palas Athena.______ (1993). A arte de viver em paz. So Paulo, Gente.WHITE, I. D., MOTTERSHEAD, D. N. & HARRISON, S. J. (1992). Environmental systems: an introductory text. 2 ed. Londres, Chapman & Hall.WILBER, Ken (org.) (1991). O paradigma hologrfico e outros paradoxos. So Paulo, Cultrix.WYLLIE, Peter J. (1976). The way the Earth works: an introduction to the new global geology and its revolutionary development. Nova York, John Wiley & Sons.______ (1985). A Terra: nova geologia global. Lisboa, Fundao Calouste Gulbenkian.

4ENVOLVIMENTO E DESENVOLVIMENTO:INTRODUO SIMPATIA DE TODAS AS COISAS

Armando Dias Mendes

Todas as formas ainda se encontram em esboo,

Tudo vive em transformao:Mas o universo marchaPara a perfeita arquitetura. [...]Nada poder se interromperSem quebrar a unidade do mundo.

Murilo Mendes

Primeiro MovimentoO homem e suas circunstnciasPara os fins deste ensaio, defino desenvolvimento como a criao de condies tendentes produo do ser humano em sua integridade. , portanto, um processo e o sucesso resultante. Incorpora objetivos, destina-se a certos fins. E o desenvolvimento econmico e material visto como um elemento importante, mas em si insuficiente, para a promoo do desenvolvimento humano.Como envolvimento defino as articulaes do ser humano com o ambiente que o cerca: seu comprometimento e os cometimentos correspondentes. E, ao falar em ambiente, no falo s do meio natural, que precede, condiciona, e afinal sucede ao homem. Falo tambm do ambiente que procede do homem, fruto das relaes que ele entretece com o entorno e consigo mesmo.A categoria desenvolvimento proposta como insumo e produto do amor ao prximo, ao semelhante. o amor que no apenas move o sol e as outras estrelas, mas move, sobretudo, o ser humano em favor do ser humano o amor ao prximo como a si mesmo. E esse amor expressa-se de muitas maneiras, mas, em resumo, pelo atendimento s necessidades humanas: alimento, abrigo, educao, sade, lazer, e, por fim, mas no por ltimo, aprimoramento moral, elevao espiritual... Dar de comer e beber, vestir, instruir, justiar, pacificar, assistir ao prximo e, mais que tudo, elev-lo.A categoria envolvimento sugerida como resultante da simpatia do ser humano pelas coisas que o cercam, no apenas as que provm de suas artes & ofcios mas as que lhe foram doadas no bojo da criao, pela natureza as dotaes naturais. Mas no estarei me referindo mera fruio sentimental e sim a uma simpatia ativa, a ao de (res)guardar, acudir, (a)colher.A dicotomia eleita faz contrastar, no entanto, sentimentos e movimentos que, por correrem paralelos, apenas no infinito deveriam encontrar-se. Na prtica, descarrilam com freqncia e entram em rota de coliso. A utopia do desenvolvimento sustentvel tem a ver com a descoberta de meios e modos de evitar esses descarrilamentos. Mais do que isso: tem a ver com a inveno de meios e modos de fazer com que os efeitos do uso e da usura do oikos venham a confluir harmonicamente, no catastroficamente. Mas devem afluir meta final ainda dentro do horizonte da finitude humana, ou j no teriam sentido. Assumamos, pois, de partida, a definio do Nosso futuro comum:O desenvolvimento sustentvel aquele que atende s necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as geraes futuras atenderem a suas prprias necessidades (CMMA, 1988:46).Nessa definio se contm, com outras palavras, o duplo comprometimento com os seres humanos e com a ambincia dos seres humanos entendidos estes como os contemporneos e os sucedneos. Contm-se, alm disso, o reconhecimento das constries a que os processos esto submetidos, e, portanto, das restries impostas a seu sucesso. Para utilizar a terminologia do prprio texto oficial, a definio envolve dois conceitos-chave: o de necessidades, sobretudo as necessidades essenciais dos pobres do mundo, e o de limitaes, impostas pela tecnologia e pela organizao social atuais (CMMA, 1988:46).Costumo falar, alternativamente, em necessidades versus possibilidades. Mediando as duas, contestando aquelas, protestando por estas, situo as desejabilidades ou aspiraes, mais ou menos controladas conforme as submetemos, ou no, a valores. Enfim, para resumir, penso que vlido, numa parfrase de dito conhecido, chamar boca de cena o homem e suas circunstncias. Porque, em resumidas contas, disto que se trata.

InterldioCivilizao: natura e culturaA natura uma das circunstncias humanas. A cultura outra. O desenvolvimento somente ser sustentvel na medida em que sustentar, a um tempo, a natura e a cultura.A sustentao dinmica da cultura confunde-se com o processo civilizatrio, que tende a crescer e fazer-se complexo. Sua vocao a afluncia. A sustentao esttica da natura implica, ao contrrio, um retrocesso inibitrio, inclinado ao congelamento econmico, renncia ao progresso. Encarna uma fluncia tensional. E, no entanto, a confluncia dos dois o que est por trs da idia-motriz de desenvolvimento sustentvel: que a inibio seja superada pela civilizao, mas sem que a civilizao descarrilada gere, ao fim e ao cabo, a inibio letal. da natureza da civilizao empreender, ela assenta sobre empreendimentos, empresas: descobertas, conquistas, transformaes, invenes. Qualquer empresa humana consome a natureza, no a sustenta: atenta contra ela em maior ou menor grau. Mas se a natureza do mundo for destruda, j no poder continuar a ser construda a empresa do homem. Como fugir ao oxmoro?Mais do que perquirir o mpeto civilizatrio, h que eviscerar o esprito que o insufla. Por que motivo o homem desenvolvido se impe (e ope) natureza, se faz seu senhor de barao e cutelo, e submete-a aos seus desgnios at quase o perecimento final da mesma?Enfim, numa parfrase agora camoneana, digamos sbios da escritura que segredos so esses da cultura. Essa, a discusso na qual devemos agora deter-nos.

Segundo MovimentoA crise e suas razesA discusso trava-se, hoje, no s no plano tcnico, mas tambm no plano religioso e teolgico, literalmente com apelos Escritura. Por amor brevidade, vou passar por cima de fundamentos e fundadores do tema.Tal como se apresenta agora, o incio do debate datado. O que o deflagrou, h menos de trinta anos, foi a conferncia de Lynn White sobre As razes histricas de nossa crise ecolgica, no bojo do encontro anual da American Association for the Advancement of Science, sintomaticamente no dia seguinte ao Natal de 1966. A tese a de que:a ecologia humana encontra-se fortemente condicionada pelas crenas sobre nossa natureza e nosso destino, isto , pela religio. (Rodrguez & Casas, 1994:355)Lynn White faz o percurso inevitvel da investigaco sobre as diferenas entre as cristandades oriental e ocidental, esta ltima mais voluntarista e dinmica; a primeira, mais contemplativa e mstica. Outros fazem a anlise crtico-comparativa entre a cristandade como um todo e as religies ou filosofias orientais. No o meu propsito.O meu propsito retomar a linha de raciocnio de White, que chama So Francisco de Assis, o mais radical dos cristos, cena:De qualquer modo, apesar de [?] as razes de nossos problemas serem em grande parte religiosas, o remdio deve ser tambm substancialmente religioso [...] Eu proponho Francisco como o santo patrono dos ecologistas. (Rodrguez & Casas, 1994:355)Em 29.11.1979 Joo P