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Coleção Exame Oab Vol 13 - Direito Do COnsumidor 2014

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OAB direito do consumidor

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  • ? A EDITORA MTODO se responsabiliza pelos vcios do produtono que concerne sua edio (impresso e apresentao a fimde possibilitar ao consumidor bem manuse-lo e l-lo). Os v-cios relacionados atualizao da obra, aos conceitosdoutrinrios, s concepes ideolgicas e referncias indevidasso de responsabilidade do autor e/ou atualizador.Todos os direitos reservados. Nos termos da Lei que resguardaos direitos autorais, proibida a reproduo total ou parcial dequalquer forma ou por qualquer meio, eletrnico ou mecnico,inclusive atravs de processos xerogrficos, fotocpia egravao, sem permisso por escrito do autor e do editor.Impresso no Brasil Printed in Brazil

    ? Direitos exclusivos para o Brasil na lngua portuguesaCopyright 2014 byEDITORA MTODO LTDA.Uma editora integrante do GEN | Grupo Editorial NacionalRua Dona Brgida, 701, Vila Mariana 04111-081 So Paulo SPTel.: (11) 5080-0770 / (21) 3543-0770 Fax: (11) [email protected] | www.editorametodo.com.br

    ? Capa: Danilo Oliveira? Produo Digital: Geethik

    ? CIP Brasil. Catalogao-na-fonte.Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.

    Gonalves, Renato AfonsoComo se preparar para o Exame de Ordem, 1. fase : direito

    do consumidor / Renato Afonso Gonalves. 5. ed. - Rio deJaneiro : Forense ; So Paulo : MTODO, 2014.

  • (Resumos ; v. 13)Contm exercciosInclui bibliografia

    ISBN 978-85-309-5188-71. Ordem dos Advogados do Brasil - Exames - Guias de estudo.2. Defesa do consumidor I. Ttulo. II. Ttulo: Direito do consum-idor. III. Srie.

    10-1760 CDU: 34:366(81)

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  • Para Andrea Luiza e Joo Pedro.Meus alicerces. Luzes do meu caminho

    que me do o doce gosto de viver.

  • AGRADECIMENTOS

    Estas singelas linhas sintetizam os meus quinze anos de magistrio. Porisso agradeo aos meus queridos alunos da Pontifcia UniversidadeCatlica de So Paulo, da Universidade Paulista, da Faculdade de DireitoJa, dos cursos preparatrios para concursos e dos cursos de ps-graduao, pelas inmeras contribuies dadas ao longo desses anos,sobretudo para a elaborao desta obra didtica.

    No poderia deixar de agradecer do fundo de minha alma aos meusqueridos, inesquecveis e insuperveis professores Celso AntonioBandeira de Mello, Jos Geraldo Brito Filomeno, Nelson Nery Junior eMaria Helena Diniz. Em seus ensinamentos procuro me esmerar, tendo acerteza de que a cada lio tomada visualizo o infinito do conhecimentoque habita cada um de meus mestres.

    Agradeo tambm ao Dr. Thiago Bortotto de Oliveira, amigo e Ad-vogado, que com extrema dedicao contribuiu na anlise da jurisprudn-cia e dos testes para a presente edio.

    Por fim, agradeo Editora Mtodo pela importante misso que meconfiou.

  • Maria, MariaMe do silncio

    Me da humanidadeEm Teu seio o meu senhor se gerou

    E Tu o contemplasteCheia de amor e ternura

    Teu filho desejadoe por ti muito amado

    Minha Senhora e minha MeEnsina-me a amar

    E arriscarA saber ser maior

    (Mafalda Arnauth)

  • NOTA SRIE

    com enorme satisfao que apresentamos aos candidatos ao Exame daOAB a Srie Resumo: como se preparar para o Exame de Ordem 1.fase, composta por quinze volumes, a saber: Constitucional, Comercial,Administrativo, Tributrio, Penal, Processo Penal, Civil, Processo Civil,Trabalho, tica Profissional, Ambiental, Internacional, Consumidor, LeisPenais Especiais e Direitos Humanos.

    Esta srie mais um grande passo na conquista de nosso sonho deoferecer aos candidatos ao Exame de Ordem um material srio para umapreparao completa e segura.

    Sonho esse que teve incio com a primeira edio de Como se prepararpara o Exame de Ordem 1. e 2. fases, prontamente acolhido pelopblico, hoje com mais de 100.000 exemplares vendidos, trabalho que sefirmou como o guia completo de como se preparar para as provas. Maisadiante, lanamos a srie Como se preparar para a 2. fase do Exame deOrdem, composta, atualmente, por seis livros opo PENAL, CIVIL,TRABALHO, TRIBUTRIO, CONSTITUCIONAL e TCNICAS DEREDAO APLICADAS PEA PROFISSIONAL , obras que tambmforam muito bem recebidas por aqueles que se preparam para a prova prt-ica nas respectivas reas.

    A srie tem como objetivo apresentar ao candidato o contedo exigvel,estritamente necessrio, para aprovao na 1. fase do Exame de Ordem,numa linguagem clara e objetiva.

    Para tanto, foi elaborada por professores especialmente selecionadospara este mister, e estudiosos do tema Exame de Ordem, que acompanhamconstantemente as tendncias e as peculiaridades dessa prova.

  • Os livros trazem, ao final de cada captulo, questes pertinentes aotema exposto, selecionadas de exames oficiais, para que o candidato possaavaliar o grau de compreenso e o estgio de sua preparao.

    Vauledir Ribeiro Santos([email protected])

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  • Nota da Editora: o Acordo Ortogrfico foi aplic-ado integralmente nesta obra.

  • SUMRIO

    1. PANORAMA DA MATRIA

    1.1 Breve abordagem defesa do consumidor1.2 Aspectos constitucionais1.3 Natureza jurdica do Cdigo de Defesa do Consumidor1.4 Questo

    2. A RELAO JURDICA DE CONSUMO

    2.1 Identificao dos sujeitos e do objeto das relaes jurdicas deconsumo

    2.2 O consumidor2.2.1 Consumidor: coletividade de consumidores2.2.2 Consumidor: vtimas de acidente de consumo2.2.3 Consumidor: pessoas expostas s prticas comerciais

    2.3 O fornecedor, o produto e o servio2.4 Questes

    3. DOS DIREITOS DOS CONSUMIDORES

    3.1 A poltica nacional das relaes de consumo3.2 Dos direitos bsicos dos consumidores3.3 Cdigo de Defesa do Consumidor e integrao3.4 Alguns aspectos importantes sobre a defesa do consumidor em juzo

    3.4.1 O consumidor possui foro privilegiado3.4.2 O polo passivo das referidas aes. Regra geral de solidar-

    iedade e a regra geral de responsabilidade civil

  • 3.5 Da qualidade de produtos e servios, da preveno e da reparaodos danos

    3.6 Questes

    4. DA RESPONSABILIDADE DOS FORNECEDORES POR SEUSPRODUTOS E SERVIOS

    4.1 Introduo4.2 Da responsabilidade dos fornecedores pelo fato de produtos e

    servios4.3 Da responsabilidade dos fornecedores pelo vcio de produtos e

    servios4.4 Dos prazos de garantia pelos vcios de produtos e servios e do

    prazo de reclamao por danos decorrentes de acidentes de consumo4.5 Do estado fornecedor4.6 Disposies gerais aplicveis responsabilizao dos fornecedores4.7 Desconsiderao da personalidade jurdica4.8 Questes

    5. DAS PRTICAS COMERCIAIS

    5.1 Introduo5.2 Consumidor exposto s prticas comerciais (art. 29)5.3 Da oferta5.4 Da publicidade5.5 Das prticas abusivas5.6 Da cobrana de dvidas5.7 Dos bancos de dados e cadastros de consumidores

    5.7.1 Os bancos de dados no Brasil e o Cdigo de Defesa doConsumidor

    5.7.2 Bancos de dados de crdito e relaes de consumo5.7.3 Os bancos de dados nas relaes de consumo5.7.4 Bancos de dados e cadastros de consumidores: espcies do

    gnero arquivos de consumo

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  • 5.7.5 O carter pblico dos bancos de dados e cadastros deconsumidores

    5.7.6 O art. 43 do Cdigo de Defesa do Consumidor5.7.6.1 Os direitos de comunicao, acesso e retificao5.7.6.2 Pressupostos de legitimidade dos arquivos de

    consumo5.7.7 Os cadastros de rgos pblicos5.7.8 O posicionamento mais recente do STJ

    5.8 Questes

    6. DA PROTEO CONTRATUAL

    6.1 Introduo6.2 Das clusulas abusivas6.3 Dos contratos sucessivos e clusulas penais6.4 Dos contratos de compra e venda e consrcios6.5 Dos contratos de adeso6.6 Dos contratos eletrnicos6.7 Questes

    7. DAS SANES ADMINISTRATIVAS

    7.1 Introduo7.2 Questo

    8. A DEFESA DO CONSUMIDOR EM JUZO

    8.1 Introduo8.2 A jurisdio civil coletiva8.3 Dos direitos coletivos lato sensu8.4 Aspectos da defesa do consumidor em juzo8.5 Das aes coletivas para a defesa de interesses individuais

    homogneos8.6 Das aes de responsabilidade do fornecedor de produtos e servios8.7 Da coisa julgada8.8 Da conveno coletiva de consumo

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  • 8.9 Questes

    BIBLIOGRAFIA

    GABARITOS

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  • PANORAMA DA MATRIA

    1.1 BREVE ABORDAGEM DEFESA DOCONSUMIDOR

    At 1990, o adquirente de produtos e servios no mercado de consumobrasileiro contava, fundamentalmente, para a defesa de seus direitos, com aLei 3.071, de 1. de janeiro de 1916 o antigo Cdigo Civil , e com a Lei1.521, de 26 de dezembro de 1951 Crimes contra a economia popular. Deoutro lado, o prprio mercado brasileiro assistia s inovaes introduzidasnas dcadas anteriores com a industrializao do pas, o avano nas novasformas de comunicao e o grande desenvolvimento cientfico e tecnolgi-co, que possibilitaram o acesso a uma infinidade de novos bens e serviosprestados por fornecedores cada vez mais bem dotados de estrutura tcnicae econmica com prticas comerciais em todo territrio nacional a atingirmilhares de brasileiros.

    Nesse cenrio surgia uma grande contradio: como as novas relaesdo mercado de massas brasileiro poderiam ser reguladas pelo Cdigo Civilde 1916 de Clvis Bevilqua, j que se tratava de um diploma inspirado noliberalismo econmico do sculo XIX, voltado para relaes

  • individualizadas marcadas pelo equilbrio entre os sujeitos contratantes queem tese exerciam a plenitude da vontade?

    Esse quadro exigiu tambm uma profunda transformao do sistemajurdico brasileiro e da cincia jurdica que tradicionalmente esteve di-vidida entre o direito pblico e o direito privado. Os novos tempos troux-eram a necessidade de reviso desse modelo com a instituio de legis-laes cada vez mais especficas. No Brasil, esse processo foi desen-cadeado com o advento da Constituio Federal de 1988, que originou osurgimento de importantes diplomas normativos como o Estatuto da Cid-ade, o Estatuto da Criana e do Adolescente, o Estatuto do Idoso e a Lei8.078, de 11 de setembro de 1990 Cdigo de Defesa do Consumidor(CDC).

    Assim, nasce o novel direito do consumidor, como disciplina transvers-al1 entre o direito pblico e o direito privado. Nele, a doutrina brasileiraenxerga a expresso de um novo direito privado solidrio. Nesse sentido,Claudia Lima Marques ensina que certos esto aqueles que consideram aConstituio Federal de 1988 como o centro irradiador e o marco de recon-struo de um direito privado brasileiro mais social e preocupado com osvulnerveis de nossa sociedade, um direito privado solidrio. A Constitu-io seria a garantia e o limite de um direito privado construdo sob seu sis-tema de valores e incluindo a defesa do consumidor2.

    Nessa esteira, certo que o CDC provocou importantes transform-aes no sistema brasileiro, j que expressa um microssistema moderno,adequado s demandas de nosso tempo, mormente pelos instrumentos dajurisdio coletiva, entendendo o consumidor como parte de uma coletivid-ade de pessoas, a categoria de consumidores3.

    Este novo microssistema das relaes de consumo, de carter tutelar,veio equilibrar os pratos da balana, tomar partido na questo defendendo aparte mais frgil na relao consumidor e fornecedor. No visa simples-mente regular as relaes de consumo, mas proteger o consumidor. O CDCveio, diante das relaes nas quais o campo de autonomia da vontade deix-ou de existir, controlar os chamados contratos de adeso; reprimir os con-tratos com clusulas de excluso da responsabilidade contratual que doprevalncia do fornecedor sobre o consumidor; reprimir a propaganda en-ganosa e abusiva; controlar os bancos de dados e impor os cadastros de r-gos pblicos; positivar os direitos de informao, sade, segurana dos

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  • consumidores; implementar a moderna jurisdio coletiva, dentre outras in-meras inovaes, como a inverso do nus da prova.

    Produto da incansvel luta do movimento consumerista brasileiro4 e dahabilidade da comisso de juristas que o elaboraram (dentre eles os ilustresprofessores Nelson Nery Junior, Ada Pellegrini Grinover, Antnio HermanBenjamin, Jos Geraldo Brito Filomeno e Kazuo Watanabe), o Cdigo fezcom que o Brasil seguisse a mesma esteira que os pases de capitalismoavanado como a Alemanha, Frana, Japo, EUA e Itlia.

    O CDC toma partido na questo enfatizando a defesa do consumidorpara o equilbrio no mercado, em perfeita consonncia com a ConstituioFederal de 1988, seja como direito individual e coletivo (art. 5., XXXII),seja como princpio da atividade econmica (art. 170, V).

    No obstante os inmeros abusos que ainda so cometidos nas relaesde consumo, muita coisa mudou. O fornecedor est socialmente mais re-sponsvel; respeita mais seu consumidor, compreendendo que sem esse re-speito no existe livre iniciativa, no existe atividade lucrativa, sendo,ainda, um diferencial no mercado.

    O CDC exemplo de lei que pegou, que, com o esforo dos consum-idores, de rgos como o Procon-SP, de entidades como o IDEC e de op-eradores do direito atentos ao seu tempo, como inmeros advogados, pro-motores e juzes espalhados pelo Brasil, prova de que o direito pode ser ej instrumento de transformao social.

    1.2 ASPECTOS CONSTITUCIONAIS

    O texto da Carta de 1988 faz vrias referncias figura do consumidor.Inicialmente, o inciso XXXII do art. 5. prescreve que o Estado pro-mover, na forma da lei, a defesa do consumidor. Adiante, o inciso V doart. 170 introduz como princpio da ordem econmica a defesa do consum-idor, e o art. 48 do Ato das Disposies Constitucionais Transitrias pre-screvia que o Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promul-gao da Constituio, elaborar cdigo de defesa do consumidor.Saliente-se, ainda, que outros dois dispositivos constitucionais tambmfazem meno figura do consumidor. Trata-se do 5. do art. 150 que, aotratar das limitaes do poder de tributar, preconiza que a lei determinar

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  • medidas para que os consumidores sejam esclarecidos acerca dos impostosque incidam sobre mercadorias e servios, e do inciso II do pargrafonico do art. 175 que, ao tratar dos servios pblicos prestados diretamenteou sob o regime de concesso ou permisso, determina que a lei compet-ente dever dispor sobre os direitos dos usurios.

    Atente-se tambm que os incisos V e VIII do art. 24 da ConstituioFederal dispem, respectivamente, que compete Unio, aos Estados e aoDistrito Federal legislar concorrentemente sobre consumo e sobre re-sponsabilidade por dano ao consumidor. Isto no exclui a possibilidade deo municpio legislar sobre a matria, j que, nos termos dos incisos I e II doart. 30 da Constituio Federal, compete aos municpios legislar sobre as-suntos de interesse local e suplementar, no que couber, a legislao federale estadual5.

    Destacados os dispositivos constitucionais atinentes matria, faz-semister conjug-los luz de alguns princpios constitucionais que so de pe-culiar importncia para a defesa do consumidor e que encontram corres-pondente normativo no prprio CDC.

    Como ensina Carmem Lcia Antunes Rocha, no princpio repousa aessncia de uma ordem, seus parmetros fundamentais e direcionadores dosistema normado6.

    Nessa esteira, lembramos que pode-se concluir que a ideia de princ-pio ou sua conceituao, seja l qual for o campo do saber que se tenha emmente, designa a estruturao de um sistema de ideias, pensamentos ounormas por uma ideia mestra, por um pensamento-chave, por uma balizanormativa, donde as demais ideias, pensamentos ou normas derivam, se re-conduzem e/ou se subordinam7.

    Desta feita, nos princpios temos o caminho seguro para a correta in-teleco das normas jurdicas e a consequente subsuno aos fatos con-cretos, j que, como destaca Celso Antnio Bandeira de Mello, princpiovem a ser o mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele,disposio fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o esprito e servindo de critrio para sua exata compreenso e in-teligncia8.

    Alis, a defesa do consumidor enquanto princpio constitucional da or-dem econmica no incompatvel com a base da livre iniciativa9. No

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  • entanto, como ensina Nelson Nery Junior10, por estarmos diante de princ-pios constitucionais, preciso haver harmonizao, pois conflitos podemsurgir. Atente-se ainda que em relao aos demais princpios da ordem eco-nmica, como a livre concorrncia, a soberania nacional e a propriedadeprivada, no h hierarquia, pois no poder haver preterio entre eles11.

    Passemos, ento, anlise:Dignidade da Pessoa Humana. Inscrito no inciso III do art. 1. da

    Constituio Federal, fundamento de todo sistema jurdico. No se tratada dignidade enquanto valor individual que se aproxima da honra subjetiva,mas sim da dignidade enquanto pressuposto da vida humana, ou seja, vidadigna que se concretiza com a realizao dos mandamentos do art. 6. ecaput do art. 225 da Constituio Federal. A dignidade da pessoa humanano mero instrumento de retrica, mas sim o direito de toda pessoa deviver num meio ambiente ecologicamente equilibrado, tendo garantido odireito educao pblica e de qualidade, sade, ao trabalho, moradia,ao lazer, segurana, previdncia social, proteo maternidade e in-fncia e assistncia social. No CDC este princpio evidencia-se no caputde seu art. 4., j que a Poltica Nacional das Relaes de Consumo tem porobjetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito sua dignidade, sade e segurana, a proteo de seus interesses econmicose a melhoria da sua qualidade de vida. Alis, o prprio caput do art. 170 daConstituio Federal estabelece que a ordem econmica tem por fim asse-gurar a todos a existncia digna.

    Igualdade. Indaga-se se a Lei 8.078/1990 inconstitucional por es-tabelecer a defesa de um dos entes das relaes de consumo ferindo, porconseguinte, o princpio constitucional da isonomia. A resposta negativa.Pelo contrrio, o CDC cumpre fielmente o mandamento da isonomia. Oque se busca a igualdade real e no a formal. O CDC nada mais faz doque cumprir as determinaes do art. 5., XXXII (O Estado promover, naforma da lei, a defesa do consumidor), do art. 170, V, da ConstituioFederal, e do art. 48 do Ato das Disposies Constitucionais Transitrias.O Cdigo trata os desiguais (consumidor e fornecedor) de forma desigual(protegendo o consumidor), na exata medida de suas desigualdades. Aoproteger e instituir instrumentos de defesa do consumidor, o CDC estreequilibrando os pratos da balana, e estabelecendo a igualdade real12.

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  • Note-se que o texto constitucional utiliza a expresso Defesa doConsumidor. Trata-se, assim, de comando que o texto Maior destina aoEstado na matria, qual seja, o de proteger a parte mais frgil da relaojurdica (favor debilis). Assim, em matria de consumo a ConstituioFederal adotou o dirigismo econmico, ou seja, a interveno estatal para oestabelecimento da igualdade real. Desta feita, a vulnerabilidade do con-sumidor estatuda como princpio da Poltica Nacional das Relaes deConsumo, inscrita no inciso I do art. 4. do CDC, encontra fundamentoconstitucional e guarda relao com o princpio constitucional daigualdade.

    Liberdade (arts. 1., IV; 3., I; 5., IV, VI, IX, LIV, LXVIII; e 170 daConstituio Federal). O princpio constitucional da liberdade aplicvelsob diversos aspectos nas relaes de consumo. Aos fornecedores dada aliberdade para empreender atividade por vezes lucrativa (livre iniciativa),mas tendo como um de seus limites a defesa do consumidor (art. 170, V, daCF), consubstanciada principalmente no dever de garantir preo/qualidade/segurana. Por isso, dizemos que o Estado nas relaes de consumo optoupelo dirigismo econmico, intervindo nas relaes de consumo para pro-teger o consumidor. Com isso o CDC indiretamente cobe a concorrnciadesleal, servindo de instrumento protetor da livre concorrncia. Nesse sen-tido a prescrio do inciso VI do art. 4. do CDC, que cobe todos osabusos praticados no mercado de consumo, inclusive a concorrncia des-leal e utilizao indevida de inventos e criaes industriais das marcas enomes comerciais e signos distintivos, que possam causar prejuzos aosconsumidores. Ao consumidor dada a liberdade de contratar produtos eservios, embora essa liberdade seja restrita. Por isso, o CDC prescreve aproteo contratual do consumidor em seus arts. 51 a 54.

    Informao. Assim como a liberdade, o princpio da informao temampla aplicao nas relaes de consumo. Os fornecedores tm o direito deinformar, divulgar seus produtos e servios (art. 5., IX, e 220 da CF). Aoconsumidor dado o direito de se informar (art. 5., XIV, da CF) e de serinformado, direito fundamental para municiar a manifestao de sua vont-ade na aquisio de produtos e servios. Como decorrncia deste princpio,que, como veremos, est presente em diversos dispositivos do CDC, temoso princpio do Controle da Publicidade.

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  • Controle da Publicidade. Como veremos, a publicidade formasofisticada de oferta, principal instrumento dos fornecedores para apresent-arem ao mercado a sua produo. No mercado de massas global, no qualest inserida a sociedade brasileira, a publicidade ferramenta obrigatria.Por trabalhar com sofisticadas tcnicas de imagem e som, com alta tecnolo-gia, a publicidade possui alto poder persuasivo atingindo e orientando avontade dos consumidores. Por essa razo, a Constituio Federal preceituaque compete lei federal estabelecer os meios legais que garantam pess-oa e famlia a possibilidade de se defenderem de programas ou pro-gramaes de rdio e televiso que veiculem propaganda de produtos, prt-icas e servios que possam ser nocivos sade e ao meio ambiente.Consigne-se que, pelo texto constitucional, a propaganda comercial detabaco, bebidas alcolicas, agrotxicos, medicamentos e terapias estarsujeita a restries legais, e conter, sempre que necessrio, advertnciasobre os malefcios decorrentes de seu uso art. 220, 3., I e II, e 4., daConstituio Federal. A referida restrio legal feita pela Lei 9.294, de 15de julho de 1996, regulamentada pelo Decreto 2.018, de 1. de outubro de1996, e pelos arts. 36 a 38 do CDC.

    Princpio da Eficincia. Como veremos, o Estado um dos principaisfornecedores no mercado de consumo. Este princpio presente inicialmenteno CDC foi introduzido em nossa Carta Maior pela Emenda Constitucional19, de 4 de junho de 1998, e encontra-se positivado em seu art. 37. NoCDC ele se encontra no inciso VII de seu art. 4., prevendo como princpiogeral da poltica nacional das relaes de consumo a racionalizao e mel-horia dos servios pblicos.

    Como visto, no texto constitucional a defesa do consumidor direitofundamental (art. 5., XXXII) e, portanto, clusula ptrea (art. 60, 4.,IV), sendo, ainda, princpio da ordem econmica (art. 170, V). Assim,como nos ensina Claudia Lima Marques, a chamada fora normativada Constituio (expresso de Konrad Hesse), que vincula o Estado e os in-trpretes da lei em geral (...) que devem aplicar este novo direito privado deproteo dos consumidores13.

    O CDC cumpre sua misso advinda da Constituio Federal consistentena defesa do consumidor, instituindo um microssistema que constitui umpiso vital mnimo de proteo. Qualquer outra norma jurdica ou inter-pretao que represente a diminuio do espectro de proteo introduzido

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  • pelo CDC deve ser afastada em respeito aos mandamentos constitucionaisda matria. Nesse sentido, Rizzatto Nunes leciona que o carter principi-olgico especfico do CDC apenas e to somente um momento de con-cretizao dos princpios e garantias constitucionais vigentes (...). Como leiprincipiolgica entende-se aquela que ingressa no sistema jurdico, fazendoum corte horizontal, indo, no caso do CDC, atingir toda e qualquer relaojurdica que possa ser caracterizada como de consumo e que esteja tambmregrada por outra norma jurdica infraconstitucional. Assim, por exemplo,um contrato de seguro de automvel continua regulado pelo Cdigo Civil epelas demais normas editadas pelos rgos governamentais que regulamen-tem o setor (Susep, Instituto de Resseguros etc.), porm esto tangenciadospor todos os princpios e regras da Lei 8.078/90, de tal modo que, naquiloque com eles colidirem, perdem eficcia por tornarem-se nulos de plenodireito14.

    Por derradeiro, por sua origem constitucional e ampla incidncia no sis-tema brasileiro, a aplicao do CDC pode ensejar a ocorrncia de conflitoscom outras leis. Nesse sentido, a aplicao da Teoria do Dilogo dasFontes, criada por Erik Jayme e introduzida no Brasil por Claudia LimaMarques, mostra-se adequada s solues dessas colises ante a modernid-ade introduzida pelo novo sistema constitucional brasileiro. Assim, ClaudiaLima Marques nos ensina que se trata de um conceito de aplicao simul-tnea e coerente de muitas leis ou fontes de direito privado sob a luz daConstituio de 1988. Leciona a Mestre gacha que a expresso dilogo utilizada porque h influncias recprocas, dilogo porque h aplicaoconjunta das duas normas ao mesmo tempo e ao mesmo caso, seja comple-mentarmente, seja subsidiariamente, seja permitindo a opo pela fonteprevalente ou mesmo permitindo uma opo por uma das leis em conflitoabstrato uma soluo flexvel e aberta, de interpenetrao, ou mesmo asoluo mais favorvel ao mais fraco da relao (tratamento diferente dosdiferentes)15. Assim, entre o CDC (lei especfica para os desiguais) e oCdigo Civil (lei geral para os iguais) h trs formas de dilogo: dilogosistemtico de coerncia, no qual a lei geral serve de base conceitual para alei especfica; dilogo sistemtico de complementaridade e subsidiar-iedade, quando houver a necessidade de aplicao complementar de nor-mas, respeitados os princpios inerentes matria central em anlise; e di-logo de coordenao e adaptao sistemtica, no qual h influncia do sis-tema especial no geral e do geral no especial, respeitados tambm os

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  • princpios inerentes matria central em anlise16-17. O mesmo ocorre nodilogo entre o CDC e demais leis especficas18.

    Recordemo-nos, tomando as lies de Jos Geraldo Brito Filomeno,que antes de 1990 havia um verdadeiro cipoal de normas esparsas, e semqualquer sistematizao19. Com o surgimento do CDC tambm muito sefalou sobre as alteraes que a lei consumerista teria causado no direitocivil. A verdade que com o passar do tempo, a doutrina e jurisprudnciafirmaram entendimento de que o Cdigo Civil e o CDC devem conviverharmonicamente, na medida em que este lei especial (microssistema),regulando as relaes entre consumidores e fornecedores vinculados porum produto ou servio, e aquele lei geral (sistema).

    Observa-se curiosamente que o CDC, no que pese ser lei especial, pro-vocou gradativamente uma transformao no mundo negocial e impulsion-ou um novo olhar sobre o direito civil (ainda sob a gide do Cdigo de1916, inspirado no Cde Napoleon de 1803). Assim, verificamos que oCDC, embora inserido num microssistema, terminou atuando, decisiva-mente, para influir sobre o prprio sistema20. Na verdade, esse fenmenoocorreu pelo fato de que vrios instrumentos j consagrados no CDC, emespecial os da proteo contratual, foram inspirados em parte no avano dodireito civil europeu do sculo XX, sobretudo do direito civil alemo efrancs. Como nos ensina Antunes Varela, o tema das clusulas con-tratuais gerais produto duma iniciativa geral de raiz europeia, historica-mente nascida do apelo que o Conselho das Comunidades lanou em 14 deabril de 1976 aos membros da Unio Europeia, no sentido da criao de umregime to uniforme quanto possvel de combate s clusulas abusivas doscontratos, cada vez mais frequentes nos pases comunitrios21-22.

    Essa alterao substancial do direito privado, de certa forma adotadapelo direito do consumidor, como observa Joaquim de Sousa Ribeiro,deve-se ao fato de que, perante os dados reais de disparidade de natureza ede poder dos sujeitos operantes no mercado que o processo de con-centrao empresarial no fez mais do que acentuar a faculdade de autor-regulao dos interesses prprios, reconhecida a todos por igual, traduz-se,como a prtica demonstrou, num privilgio de alguns, dotando-os de uminstrumento eficaz de prossecuo unilateral de benefcios e ganhos, nas re-laes sociais de cooperao e de troca. Deixada sua lgica prpria, semcontrolo nem limites internos, a autonomia privada conduz, em certas

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  • reas, a desequilbrios notrios de ordenao, no como resultado ocasionale isolado de um acto abusivo, mas escala colectiva, como efeito progra-mado da actividade conformadora dos sujeitos em posio de superiorid-ade23. Da a necessidade da ordem pblica de proteo propugnada peladoutrina francesa24, ou de uma ordem pblica contratual suscitada por An-tonio Pinto Monteiro, e destinada a preservar princpios bsicos de justiacontratual, postos em causa sobretudo quando se negocia atravs de con-tratos de adeso25.

    Assim, com a edio do novo Cdigo Civil, cujo projeto remonta aosidos de 1975, houve uma aproximao principiolgica entre o direito doconsumidor e o direito civil, sobretudo quanto aos pilares da eticidade, op-eracionalidade e sociabilidade, sempre lembrados por Miguel Reale. Aboa-f objetiva, a vedao ao abuso do direito e s clusulas abusivas, afuno social e reviso dos contratos e a objetivao da responsabilidadecivil so aspectos que reforam essa aproximao, no obstante o direito doconsumidor resguardar princpios particulares como o da vulnerabilidade,defesa do hipossuficiente, igualdade real e controle da publicidade.

    Por isso, faz-se necessrio enfatizar novamente que no limiar do sculoXXI imprescindvel o estabelecimento de uma relao de subsidiariedadee complementaridade entre os diplomas em questo, para a consolidao doj citado dilogo das fontes propugnado por Erik Jayme e desenvolvidomagistralmente por Claudia Lima Marques.

    1.3 NATUREZA JURDICA DO CDIGO DEDEFESA DO CONSUMIDOR

    Como visto, o CDC instituiu um microssistema prprio de intervenono mercado de consumo, cujas regras, nos termos de seu art. 1., so de or-dem pblica e interesse social, visando proteo e defesa do consumidor,j que, nesse campo, notrio o desequilbrio existente e percebidomesmo em pocas primitivas em razo da fora de que dispem asempresas, que usam seu poderio econmico no mundo negocial, gerandopreocupaes luz da preservao dos interesses dos consumidores, ouseja, dos destinatrios finais de seus produtos (como adquirentes ou usuri-os de bens ou de servios)26.

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  • Assim, o CDC de natureza jurdica cogente, ou seja, de aplicao in-dependentemente da vontade de seus destinatrios27. Tais normas denatureza cogente, que Maria Helena Diniz denomina normas de imper-atividade absoluta ou impositivas, so as que determinam, em certas cir-cunstncias, a ao, a absteno ou o estado das pessoas, sem admitirqualquer alternativa, vinculando o destinatrio a um nico esquema de con-duta28. So tambm denominadas de ordem pblica por tutelarem in-teresses fundamentais ligados ao bem comum29.

    Assim, dizemos que o CDC motivado pela convico de que determ-inadas relaes no caso as de consumo ou estados da vida social nopodem ser deixados ao arbtrio individual, o que acarretaria graves pre-juzos para a sociedade30. O CDC imperativo na defesa do consumidorpara estabelecer o equilbrio nas relaes de consumo. Essa misso con-stitucional no poderia ser desempenhada sem a sua natureza cogente quelhe permite atingir as relaes contratuais e extracontratuais. Assim, oCDC tem prevalncia sobre os contratos e as declaraes unilaterais devontade e deve ser aplicado de ofcio pelo juiz independentemente de re-querimento do consumidor.

    1.4 QUESTO

    1. (OAB-MT Exame 02/2005) O CDC um conjunto denormas:

    (a) De ordem pblica e interesse social e, portanto, denatureza relativa.

    (b) De ordem pblica e interesse social e, portanto, denatureza cogente.

    (c) Cuja aplicao pode ser excluda por clusula contratual.(d) Cuja aplicao pode ser excluda por vontade do

    consumidor.

    GABARITO: Encontra-se no final do livro.

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  • __________1 Expresso cunhada por Claudia Lima Marques, Manual de

    direito do consumidor, p. 23.2 Manual de direito do consumidor, p. 27.3 Embora alguns doutrinadores, como Guido Alpa, entendam a

    impossibilidade dos consumidores serem integrantes de umaclasse homognea, pela heterogeneidade das classes sociais.Tutela del consumatore e controlli sullimpresa, Societ Editriceil Mulino, Bolonha, 1977.

    4 Jos Geraldo Brito Filomeno retrata com primor a grande cam-inhada do movimento consumerista brasileiro at a edio doCDC. Manual de direitos do consumidor, p. 22-29.

    5 Distrito Federal: competncia legislativa para fixao detempo razovel de espera dos usurios dos servios de cartri-os. 1. A imposio legal de um limite ao tempo de espera emfila dos usurios dos servios prestados pelos cartrios no con-stitui matria relativa disciplina dos registros pblicos, masassunto de interesse local, cuja competncia legislativa a Con-stituio atribui aos Municpios, nos termos do seu art. 30, I. 2.A LD 2.529/2000, com a redao da LD 2.547/2000, no estem confronto com a Lei Federal 8.935/1990 que disciplina asatividades dos notrios, dos oficiais de registro e de seus pre-postos, nos termos do art. 236, 1., da Constituio portratarem de temas totalmente diversos. 3. RE conhecido e de-sprovido (Recurso Extraordinrio 397.094/DF, Rel. Min.Seplveda Pertence, j. 29.08.2006). Ver tambm: Recurso Ex-traordinrio. Constitucional. Consumidor. Instituio bancria.Atendimento ao pblico. Fila. Tempo de espera. Lei municipal.Norma de interesse local. Legitimidade. Lei Municipal n. 4.188/2001. Banco. Atendimento ao pblico e tempo mximo de es-pera na fila. Matria que no se confunde com a atinente satividades-fim das instituies bancrias. Matria de interesselocal e de proteo ao consumidor. Competncia legislativa doMunicpio. Recurso extraordinrio conhecido e provido (RecursoExtraordinrio 432.789/SC, Rel. Min. Eros Grau, j. 14.05.2005).

    6 Princpios constitucionais dos servidores pblicos, p. 21.7 ESPNDOLA, Rui Samuel. Conceito de princpios constitucionais,

    p. 47.

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  • 8 Curso de direito administrativo, p. 450.9 [...] 1. A interveno do Estado na ordem econmica, fundada

    na livre iniciativa, deve observar os princpios do direito do con-sumidor, objeto de tutela constitucional fundamental especial(CF, arts. 170 e 5., XXXII) (STJ, REsp 744.602/RJ, Rel. Min.Luiz Fux, 1. Turma, j. 1..03.2007, DJ 15.03.2007 p. 264).

    10 Os princpios gerais do cdigo de defesa do consumidor, p. 52.11 Essa a lio de COMPARATO, Fbio Konder. A proteo do

    consumidor na constituio brasileira de 1988.12 [...] 4. O ponto de partida do CDC a afirmao do Princpio

    da Vulnerabilidade do Consumidor, mecanismo que visa agarantir igualdade formal-material aos sujeitos da relaojurdica de consumo, o que no quer dizer compactuar com ex-ageros que, sem utilidade real, obstem o progresso tecnolgico,a circulao dos bens de consumo e a prpria lucratividade dosnegcios. [...] (STJ, REsp 586.316/MG, Rel. Min. Herman Ben-jamin, 2. Turma, j. 17.04.2007, DJe 19.03.2009).

    13 Manual de direito do consumidor, p. 27.14 Curso de direito do consumidor, p. 66.15 Manual de direito do consumidor, p. 87-88.16 Manual de direito do consumidor, p. 91.17 Ver tambm artigo de nossa autoria no qual traamos o panor-

    ama dos contratos de adeso nas relaes privadas e a exper-incia consumerista, publicado na obra coletiva Cdigo Civil: an-lise doutrinria e jurisprudencial, pela Editora Mtodo.

    18 Direito do Consumidor. Lei n. 8.078/1990 e Lei n. 7.565/1986.Relao de consumo. Incidncia da primeira. Servio de entregarpida. Entrega no efetuada no prazo contratado. Dano materi-al. Indenizao no tarifada. I No prevalecem as disposiesdo Cdigo Brasileiro de Aeronutica que conflitem com o Cdigode Defesa do Consumidor. II As disposies do CDC incidemsobre a generalidade das relaes de consumo, inclusive as in-tegradas por empresas areas. III Quando o fornecedor fazconstar de oferta ou mensagem publicitria a notvel pontualid-ade e eficincia de seus servios de entrega, assume os even-tuais riscos de sua atividade, inclusive o chamado risco areo,com cuja consequncia no deve arcar o consumidor. IV Re-curso especial no conhecido (REsp 196.031/MG, Min. Antniode Pdua Ribeiro, j. 24.04.2001).

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  • 19 Manual de direitos do consumidor, p. 70.20 AGUIAR JNIOR, Ruy Rosado de. O novo cdigo civil e o cdigo

    de defesa do consumidor pontos de convergncia. Revista deDireito do Consumidor, RT, n. 48, p. 56.

    21 Discurso proferido no encerramento do 1. curso de ps-graduao em direito do consumo da Faculdade de Direito deCoimbra, publicado na Revista de Estudos de Direito do Con-sumidor do Centro de Direitos do Consumo da Faculdade deDireito de Coimbra, n. 1, p. 397-398.

    22 Nessa mesma publicao Antunes Varela lembra a importnciado relatrio elaborado por Guestin e I. Marchessaux denom-inado Lapplicazione in Francia della Direttiva rivolta ad elimarele clausole abusive constante de coletnea de estudos organiz-ados por Bianca e Guido Alpa na Itlia intitulado La clausoleabusive nei contratti stipulati con i consumatori Cedam. OProfessor Catedrtico da Universidade de Coimbra relembraainda as importantes reflexes de Karl Larenz sobre as clusu-las gerais dos contratos tratadas no diploma alemo AGB de 9de Dezembro de 1976 Allgemeiner Teil des deutschen Burger-lichen Rechts, Munchen, 1980.

    23 O problema do contrato as clusulas contratuais gerais e oprincpio da liberdade contratual. Coleo Teses. Ed. Almedina,p. 103.

    24 SAVATIER, Ren. La thorie des obligations Paris 1974, eCARBONNIER, Jean. Droit civil 4, Paris 1979.

    25 Clusulas limitativas e de excluso de responsabilidade civil, p.50-51.

    26 BITTAR, Carlos Alberto. Os direitos do consumidor, p. 2.27 Embora o art. 107 do CDC permita a conveno coletiva re-

    lativa a interesses de ordem patrimonial.28 Compndio de introduo cincia do direito, p. 376.29 [...] As normas de proteo e defesa do consumidor tm n-

    dole de ordem pblica e interesse social. So, portanto, in-disponveis e inafastveis, pois resguardam valores bsicos efundamentais da ordem jurdica do Estado Social, da a im-possibilidade de o consumidor delas abrir mo ex ante e noatacado. [...] (STJ, REsp 586.316/MG, Rel. Min. Herman Ben-jamin, 2. Turma, j. 17.04.2007, DJe 19.03.2009). Em face daatual Constituio, para conciliar o fundamento da livre

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  • iniciativa e do princpio da livre concorrncia com os da defesado consumidor e da reduo das desigualdades sociais, em con-formidade com os ditames da justia social, pode o Estado, porvia legislativa, regular a poltica de preos de bens e de ser-vios, abusivo que o poder econmico que visa ao aumentoarbitrrio dos lucros (STF, ADI 319-QO, Rel. Min. MoreiraAlves, j. 03.03.1993, Plenrio, DJ 30.04.1993).

    30 NERY JNIOR, Nelson. Princpios gerais do cdigo de defesa doconsumidor, p. 376.

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  • A RELAO JURDICA DECONSUMO

    2.1 IDENTIFICAO DOS SUJEITOS E DOOBJETO DAS RELAES JURDICAS DECONSUMO

    Superada a anlise dos princpios constitucionais, faz-se imprescindvela identificao dos polos de interesse (consumidor/fornecedor) e do objetodas prestaes (produto ou prestao de servio) inerentes s relaes deconsumo. Para tanto, preciso delimitar o conceito de consumidor,fornecedor, produto e servio. Com isso, identificaremos as relaes sub-metidas ao CDC, resolvendo de forma segura a sempre cogitada questo docampo de aplicao da Lei 8.078/19901. Vejamos.

  • 2.2 O CONSUMIDOR

    Nosso primeiro objetivo estabelecer o conceito de consumidor. Comoveremos, no se trata de fcil tarefa, uma vez que o CDC determinou umaestrutura ampla de aplicao da noo.

    Pretende o Cdigo abranger no somente as relaes contratuais, mastambm o espectro extracontratual. Por isso, definiu dois campos, quais se-jam, o do consumidor individualmente considerado, consumidor strictosensu ou standard, e o dos consumidores equiparados.2

    Nesse sentido andou bem, pois o nosso Cdigo, que afastou, desdelogo, a possibilidade de abarcar, num conceito nico, a figura daquele quebuscava proteger3.

    Iniciemos nosso estudo pelo campo do consumidor individualmenteconsiderado. Prescreve o caput do art. 2. do CDC, in verbis: Consumidor toda pessoa fsica ou jurdica que adquire ou utiliza produto ou serviocomo destinatrio final.

    Trs so os elementos constantes da redao supracitada. O primeirodeles o subjetivo (pessoa fsica ou jurdica), o segundo o objetivo(aquisio de produtos ou servios), e o terceiro o teleolgico (a finalid-ade pretendida com a aquisio de produtos ou servios) caracterizado pelaexpresso destinatrio final4. Com essa redao, o cdigo fez cessarqualquer discusso acerca da possibilidade de a pessoa jurdica ser con-sumidora. Assim, o texto normativo aponta ser consumidora toda pessoa(fsica ou jurdica) destinatria final, de produtos ou servios. Pois bem,destinatrio final passa a ser um dos critrios para a identificao dosujeito consumidor. No entanto, como esse critrio no est objetivado noCDC, a doutrina vem trabalhando para estabelecer seu sentido e alcance.Tal esforo traduzido pelo duelo existente entre as correntes finalista emaximalista5.

    Pela primeira vertente, tambm chamada de teoria subjetiva6, que re-cebe as influncias da doutrina belga e francesa, em decorrncia dos princ-pios dos arts. 4. e 6., especialmente da vulnerabilidade do consumidor narelao de consumo, e para garantir especial proteo aos que efetivamentenecessitam da tutela do CDC, a noo de consumidor deve ser interpretadade forma restritiva, no sentido de que destinatrios finais so aqueles que

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  • adquirem o bem ou servio para uso prprio ou de sua famlia, excluindo-oda cadeia produtiva. A aquisio feita para uso no profissional e, port-anto, sem a obteno de lucro. Nesse sentido, s poderiam ser consumidor-as as pessoas fsicas no profissionais e as pessoas jurdicas cuja atividadeno possua fins lucrativos7.

    Para a segunda vertente, a partir de uma interpretao extensiva, o CDCcaracteriza-se por ser norma reguladora das relaes de consumo em geral,nas quais os sujeitos podero alternadamente figurar como consumidor oufornecedor, em que o consumidor o destinatrio ftico do produto ou ser-vio, no importando se sua utilizao ou no profissional.

    Diante das demandas impostas pela sociedade, parece-nos correto o en-tendimento que se alinha mais corrente finalista, que pretende garantirmaior potencialidade de aplicao do cdigo, porm flexibilizando-se o es-pectro do consumidor stricto sensu8. O multifacetrio mercado do sculoXXI pressupe a atuao de um amplo leque de profissionais liberais, bemcomo a constituio do setor de pequenas e mdias empresas efornecedores. Destaque-se que com o advento do Cdigo Civil de 2002 aconcepo finalista foi reforada, na medida em que os fornecedores pas-saram a no precisar mais reivindicar a aplicao do CDC para a tutela deseus interesses com outros fornecedores, sobretudo pela presena, no m-bito da legislao civil, das figuras da boa-f objetiva, coibio ao abuso dodireito, funo social do contrato e responsabilidade objetiva para osempresrios quanto circulao de seus produtos Art. 931. Ressalvadosoutros casos previstos em lei especial, os empresrios individuais e asempresas respondem independentemente de culpa pelos danos causadospelos produtos postos em circulao.

    Nesse diapaso, alm do critrio destinatrio final, isto , aquele queadquire produto ou servio sem a inteno de obter lucro por meio da suareposio no mercado, devemos, conforme o sistema do CDC, analisar emcada caso concreto a relao de equilbrio entre as partes, independente-mente de serem profissionais ou no, pois o critrio destinatrio final no o nico para caracterizar o consumidor como sujeito na relao jurdica.

    De sorte, o profissional pode se encontrar na condio de consumidor,ou seja, na condio de adquirente que sem possuir qualquer poder de bar-ganha sobre seu fornecedor, estando a aceitar as clusulas contratuais im-postas sem que lhe fosse conferida a possibilidade de discutir seu contedo;

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  • enfim, encontrar-se-ia revestido com a mesma vulnerabilidade quequalquer pessoa comum encontraria ao realizar aquele mesmo contrato,apresentando-se, nessa relao de consumo, o mesmo desequilbrio que seapresentaria se fosse realizado por qualquer outro consumidor vulnervel9.

    Assim, para definir se o sujeito de determinada relao jurdica ouno consumidor, faz-se imprescindvel a verificao de sua posio na re-lao, ou seja, se h de fato um desequilbrio relacional a tornar esse sujeitovulnervel. Alis, esse o mandamento do art. 4., I, do CDC, que recon-hece a vulnerabilidade do consumidor como princpio das relaes de con-sumo. Se h vulnerabilidade e a aquisio do servio ou produto se d semo objetivo de lucro, sem o objetivo de reintegr-lo no mercado, ento osujeito consumidor10. Em outras palavras, o CDC no veio para revogar oCdigo Comercial ou o Cdigo Civil no que diz respeito a relaesjurdicas entre partes iguais, do ponto de vista econmico. Uma grandeempresa oligopolista no pode valer-se do CDC da mesma forma que ummicroempresrio. Este critrio, cuja explicitao na lei insuficiente, , noentanto, o nico que d sentido a todo o texto. Sem ele, teramos um semsentido jurdico11.

    A vulnerabilidade do consumidor na relao com seu fornecedor, es-tatuda pela tutela especial do CDC, se d sob trs aspectos, quais sejam, otcnico, o jurdico e o ftico12.

    O consumidor tecnicamente vulnervel perante seu fornecedorquando ignora as informaes tcnicas (domnio), ou seja, conhecimentosparticulares, no estando em condies de entender o grau de perfeio dosprodutos e servios que est adquirindo.

    Estar juridicamente vulnervel13 quando carente das informaes econhecimentos no s legais, mas tambm econmicos. Saliente-se quenesse caso a presuno dirigida para os sujeitos no profissionais e paraas pessoas fsicas. Quanto aos profissionais e pessoas jurdicas vale a pre-suno em contrrio, isto , que devem possuir conhecimentos jurdicosmnimos e sobre a economia para poderem exercer a profisso, ou devempoder consultar advogados e profissionais especializados antes de obrigar-se14.

    O consumidor ainda poder ser vulnervel na relao do ponto de vistaftico, o que implica diretamente a condio de seu fornecedor quanto ao

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  • aspecto econmico ou essencial do servio prestado ou do produto. Trata-se da situao de superioridade do fornecedor.

    A proteo estabelecida pelo CDC parte vulnervel na relao de con-sumo vem esculpida como concretizao do princpio da igualdade. Essa alio de Nelson Nery Junior: (...) devem os consumidores ser tratados deforma desigual pela lei, a fim de que se atinja, efetivamente, a igualdadereal, em obedincia ao dogma constitucional da isonomia (art. 5., caput,CF), pois devem os desiguais ser tratados desigualmente na exata medidade suas desigualdades (isonomia real, substancial e no meramente form-al)15.

    Destarte, pelo exposto, entendemos que para a caracterizao do sujeitoconsumidor ser necessria a verificao da funo da aquisio do servioou produto, ou seja, se ela ocorreu para satisfazer uma necessidade, ou se oservio ou produto adquirido integrar sua cadeia produtiva, independente-mente de o sujeito ser profissional ou no. Como exemplo, citamos aempresa que adquire celulose para a produo de artefatos de papel. Oproduto adquirido integrar diretamente o processo produtivo da empresa,para sua atividade-fim. No h a sua caracterizao como destinatria final.Tal relao ser regulada pelo direito empresarial ou pelo direito civil, con-forme o aspecto abordado. Em outra relao, essa mesma empresaprodutora de artefatos de papel contrata outra empresa para o fornecimentode refeies dirias aos seus funcionrios. Neste caso, est presente a vul-nerabilidade (tcnica pois a rea de alimentos no sua atividade-fim),bem como a acepo de destinao final do produto e servio, j que nointegra a cadeia produtiva de artefatos de papel. Esta ltima relao, comode consumo, dever ser regulada pelo Cdigo de Defesa do Consumidor. Oraciocnio se coaduna com o ensinamento de Fbio Konder Comparato, aoafirmar que Consumidor de modo geral aquele que se submete ao poderde controle dos titulares de bens de produo, isto , os empresrios. claro que todo produtor, em maior ou menor medida, depende por sua vezde outros empresrios, como fornecedores de insumos ou financiadores,por exemplo, para exercer sua atividade produtiva; e, nesse sentido, tam-bm consumidor. Quando se fala, no entanto, em proteo do consumidorquer-se referir ao indivduo ou grupo de indivduos, os quais, ainda queempresrios, se apresentem no mercado como simples adquirentes ou

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  • usurios de servio, sem ligao com a sua atividade empresarial pr-pria16.

    Por fim, por essa vertente pode-se concluir que nem toda pessoa naturalfigura como consumidora. o que ressalta Luiz Antonio Rizzatto Nunes aoapontar que em contrapartida, mesmo a pessoa natural pode no ser con-siderada consumidora se estiver, por exemplo, adquirindo produtos nocom o ttulo de consumi-los, mas com a inteno de revend-los. O import-ante para o Cdigo que o adquirente do produto ou servio faa aaquisio com o fim de consumo prprio. O intermedirio, portanto, no considerado consumidor e no tem a proteo do cdigo. J uma grandeempresa que compra um caminho para uso prprio atravs de um consr-cio ou diretamente na concessionria considerada consumidora e tem suarelao negocial protegida17.

    Vejamos algumas decises do Egrgio Superior Tribunal de Justia:Agricultor Pessoa Fsica. (...) I Aplica-se o Cdigo de Defesa do

    Consumidor aos contratos firmados entre instituies financeiras e agri-cultor, pessoa fsica, ainda que para viabilizar o seu trabalho como produtorrural (...) (AgRg nos EDcl no REsp 866.389/DF, Rel. Min. Sidnei Beneti,3. Turma, j. 19.06.2008, DJe 1..07.2008).

    Produtor Agrcola. (...) 1. A expresso destinatrio final, constanteda parte final do art. 2. do Cdigo de Defesa do Consumidor, alcana oprodutor agrcola que compra adubo para o preparo do plantio, medidaque o bem adquirido foi utilizado pelo profissional, encerrando-se a cadeiaprodutiva respectiva, no sendo objeto de transformao ou benefi-ciamento. 2. Estando o contrato submetido ao Cdigo de Defesa do Con-sumidor a prescrio de cinco anos. (...) (REsp 208.793/MT, Rel. Min.Carlos Alberto Menezes Direito, 3. Turma, j. 18.11.1999, DJ 1..08.2000,p. 264).

    Produtor Agrcola. (...) I O agricultor que adquire bem mvel coma finalidade de utiliz-lo em sua atividade produtiva, deve ser consideradodestinatrio final, para os fins do artigo 2. do Cdigo de Defesa do Con-sumidor. II Aplica-se o Cdigo de Defesa do Consumidor s relaesjurdicas originadas dos pactos firmados entre os agentes econmicos, asinstituies financeiras e os usurios de seus produtos e servios. (...)(REsp 445.854/MS, Rel. Min. Castro Filho, 3. Turma, j. 02.12.2003, DJ19.12.2003, p. 453).

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  • Pessoa jurdica. (...) Insere-se no conceito de destinatrio final aempresa que se utiliza dos servios prestados por outra, na hiptese em quese utilizou de tais servios em benefcio prprio, no os transformando paraprosseguir na sua cadeia produtiva. Estando a relao jurdica sujeita aoCDC, deve ser afastada a clusula que prev o foro de eleio diverso dodomiclio do consumidor. Recurso especial conhecido e provido (REsp488.274/MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3. Turma, j. 22.05.2003, DJ23.06.2003, p. 367).

    Empresa de pescados. (...) 1. H relao de consumo no forneci-mento de gua por entidade concessionria desse servio pblico a empresaque comercializa com pescados. 2. A empresa utiliza o produto como con-sumidora final. 3. Conceituao de relao de consumo assentada pelo art.2., do Cdigo de Defesa do Consumidor. 4. Tarifas cobradas a mais. De-voluo em dobro. Aplicao do art. 42, pargrafo nico, do Cdigo de De-fesa do Consumidor. 5. Recurso provido (REsp 263.229/SP, Rel. Min.Jos Delgado, 1. Turma, j. 14.11.2000, DJ 09.04.2001, p. 332).

    Produtor Agrcola. Cdigo de Defesa do Consumidor. Incidncia.Responsabilidade do fornecedor. de consumo a relao entre o vendedorde mquina agrcola e a compradora que a destina a sua atividade nocampo. Pelo vcio de qualidade do produto respondem solidariamente ofabricante e o revendedor (art. 18 do CDC) (REsp 142.042/RS, Rel. Min.Ruy Rosado de Aguiar, 4. Turma, j. 11.11.1997, DJ 19.12.1997, p.67.510).

    Aquisio de Equipamentos Hospitalares. Processual Civil. Com-petncia. Foro de eleio. Contrato para aquisio de modernosequipamentos mdico-hospitalares. Hipossuficincia no configurada. Pre-cedente da 2. Seo. Deciso agravada confirmada. Agravo regimental de-sprovido (AgRg nos EDcl no REsp 561.853/MG, Rel. Min. Antnio dePdua Ribeiro, 3. Turma, j. 27.04.2004, DJ 24.05.2004, p. 270).

    Atividade Notarial. Processual. Administrativo. Constitucional. Re-sponsabilidade civil. Tabelionato de Notas. Foro competente. ServiosNotariais. A atividade notarial no regida pelo CDC (Vencidos a MinistraNancy Andrighi e o Ministro Castro Filho). O foro competente a ser aplic-ado em ao de reparao de danos, em que figure no polo passivo da de-manda pessoa jurdica que presta servio notarial o do domiclio do autor.Tal concluso possvel seja pelo art. 101, I, do CDC, ou pelo art. 100,

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  • pargrafo nico, do CPC, bem como segundo a regra geral de competnciaprevista no CPC. Recurso especial conhecido e provido (REsp 625.144/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3. Turma, j. 14.03.2006, DJ 29.05.2006, p.232).

    Arrendamento Mercantil. Contrato de arrendamento mercantil.Aplicao do Cdigo de Defesa do Consumidor. Competncia de vara es-pecializada do consumidor. Precedentes da Corte. 1. A jurisprudncia daCorte assentou que o Cdigo de Defesa do Consumidor aplica-se aos con-tratos de arrendamento mercantil. 2. A distribuio da competncia previstanas leis de organizao judiciria em virtude da matria deve ser imper-ativamente observada, devendo, no caso, o feito ser processado e julgadoem vara especializada do consumidor. 3. Recurso especial conhecido eprovido (REsp 664.351/BA, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito,3. Turma, j. 07.05.2007, DJ 29.06.2007, p. 579).

    Previdncia Privada. Agravo regimental. Entidade de PrevidnciaPrivada. Cdigo de Defesa do Consumidor. Incidncia. Restituio da in-tegralidade das contribuies pessoais pagas. Necessidade. Negativa deseguimento a recurso especial em confronto com smula ou jurisprudnciadominante desta corte. Julgamento monocrtico. Possibilidade. Agravo im-provido. 1. As entidades de previdncia privada esto sujeitas s normas deproteo do consumidor. 2. Em homenagem vedao do enriquecimentoilcito, a restituio das contribuies pessoais pagas entidade de previd-ncia privada deve ser feita de forma integral em favor do ex-associado. 3.Consoante o art. 557 do CPC, permitido o julgamento monocrtico de re-curso especial quando este veicular matria a respeito da qual a jurispru-dncia desta Corte j se pacificou. 4. Agravo regimental improvido (AgRgno REsp 938.535/RN, Rel. Min. Massami Uyeda, 3. Turma, j. 10.06.2008,DJe 20.06.2008).

    Escritrio de Advocacia. Processo Civil. Ao de conhecimento pro-posta por detentor de ttulo executivo. Admissibilidade. Prestao de ser-vios advocatcios. Inaplicabilidade do Cdigo de Defesa do Consumidor.O detentor de ttulo executivo extrajudicial tem interesse para cobr-lo pelavia ordinria, o que enseja at situao menos gravosa para o devedor, poisdispensada a penhora, alm de sua defesa poder ser exercida com maioramplitude. No h relao de consumo nos servios prestados por ad-vogados, seja por incidncia de norma especfica, no caso a Lei n. 8.906/

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  • 1994, seja por no ser atividade fornecida no mercado de consumo. Asprerrogativas e obrigaes impostas aos advogados como, v. g., a ne-cessidade de manter sua independncia em qualquer circunstncia e avedao captao de causas ou utilizao de agenciador (arts. 31/ 1. e34/III e IV, da Lei n. 8.906/1994) evidenciam natureza incompatvel coma atividade de consumo. Recurso no conhecido (REsp 532.377/RJ, Rel.Min. Cesar Asfor Rocha, 4. Turma, j. 21.08.2003, DJ 13.10.2003, p. 373).

    Superada a anlise do campo consumidor stricto sensu, passemos paraa abordagem do campo consumidor equiparado. Assim, o consumidorpode ser pessoa fsica ou jurdica. O Cdigo contm quatro conceitos deconsumidor: a) o conceito padro ou standard (art. 2., caput), segundo oqual consumidor a pessoa fsica ou jurdica que adquire produto ou utilizaservio como destinatrio final; b) a coletividade de pessoas, ainda que in-determinveis, que haja intervindo nas relaes de consumo (art. 2., par-grafo nico), a fim de possibilitar a propositura da class action prevista noart. 81, pargrafo nico, III; c) as vtimas do acidente de consumo (art. 17),a fim de que possa valer-se dos mecanismos e instrumentos do CDC na de-fesa de seus direitos; d) aquele que estiver exposto s prticas comerciais(publicidade, oferta, clusulas gerais dos contratos, prticas comerciais ab-usivas etc.) (art. 29)18 (grifos nossos).

    Como vimos, apesar do prprio CDC apontar o conceito de consum-idor, ele no se esgota no art. 2., abrangendo sua aplicao para aquelaspessoas que, mesmo sem serem destinatrias finais de produtos ou ser-vios, preenchem as qualidades objetivas e subjetivas do consumidorstricto sensu.

    Assim, o CDC ampliou seu espectro para as seguintes situaes:

    2.2.1 Consumidor: coletividade de consumidores

    Prescrito no pargrafo nico do art. 2. do CDC, esse conceito apontapara a proteo dos interesses difusos e coletivos dos consumidores,equiparando-os ao consumidor individualmente considerado no caput domesmo dispositivo. Assim, a coletividade de pessoas, determinadas ou in-determinadas, receber a tutela especial: (...) o que se pretende conferir

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  • universalidade ou grupo de consumidores os devidos instrumentosjurdicos-processuais para que possam obter a justa e mais completa pos-svel reparao dos responsveis19.

    2.2.2 Consumidor: vtimas de acidente deconsumo

    Pelo caput do art. 17, todas as pessoas, independentemente de figurar-em na relao de consumo, que vierem a sofrer leso decorrente de vciosna prestao de servios ou na qualidade de produtos (responsabilidadepelo fato do produto e do servio arts. 12 a 16), so equiparadas ao con-sumidor individualmente considerado. o chamado bystander, apontadopor Arruda Alvim Netto, ao ressaltar que o art. 17 pretende preencher,completar o espectro de abrangncia do conceito de consumidor, es-tendendo a proteo deste Cdigo a uma gama maior de situaes ondepossa ocorrer dano, visando desta forma, precipuamente, a proteo ao de-nominado bystander, ou seja, aquelas pessoas (fsicas ou jurdicas, j que alei no restringe) que mesmo sem serem partcipes da relao de consumoforam atingidas em sua sade ou segurana em virtude do defeito doproduto20.

    2.2.3 Consumidor: pessoas expostas s prticascomerciais

    Com esse dispositivo ampliou-se ainda mais o rol de pessoas protegidaspelo sistema do Cdigo de Defesa do Consumidor, ou seja, aquelas determ-inveis ou no, que estejam expostas s prticas comerciais. A disposiodo art. 29 do CDC aplicvel, portanto, s sees de oferta, publicidade,prticas abusivas, cobrana de dvidas, bancos de dados e cadastros de con-sumidores, e matria da proteo contratual. Deve ser interpretada emconsonncia com o inc. IV do art. 6., ou seja, sob a tica de que princ-pio bsico do direito do consumidor a coibio e represso eficientes de

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  • todos os abusos praticados no mercado de consumo, inclusive a concorrn-cia desleal e utilizao indevida de inventos e criaes industriais das mar-cas e nomes comerciais e signos distintivos, que possam causar prejuzoaos consumidores.

    Trata-se de um dos mais importantes dispositivos do cdigo, pois ex-pressa uma linha poltica e legislativa que inspirou o diploma em tela.

    Com essa regra o CDC tem em vista que, para harmonizar os in-teresses presentes no mercado de consumo, para reprimir eficazmente osabusos do poder econmico, para proteger os interesses econmicos dosconsumidores finais, o legislador concedeu um poderoso instrumento nasmos daquelas pessoas (mesmo agentes econmicos) expostas s prticasabusivas. Estas, mesmo no sendo consumidores stricto sensu, poderoutilizar das normas especiais do Cdigo de Defesa do Consumidor, de seusprincpios, de sua tica de responsabilidade social no mercado, de sua novaordem pblica, para combater as prticas comerciais abusivas21.

    Basta a simples exposio prtica comercial, mesmo que no se con-siga apontar, concretamente, um consumidor que esteja em vias de adquirirou utilizar o produto ou servio22, para que o CDC entre em ao.

    Por fim, ressaltamos: A viso do Estado, como mediador dos in-teresses envolvidos, vai determinar a relevncia jurdica ou no destes atos,a incluir ou excluir determinado grupo de indivduos do mbito das novasleis tutelares dos consumidores. De certa forma, o legislador do CDC pre-via a passividade do consumidor stricto sensu, a prevalncia do fornecedormonopolista e a possibilidade de que talvez o consumidor equiparadoviesse a instigar resposta do sistema, o combate efetivo das prticas abu-sivas, com diretos e indiretos reflexos positivos para o consumidor,forando a instituio de um mercado mais harmnico e menos abusivo.De certa forma, o art. 29 agora valorizado renova o sistema, legitimando aatuao de novos agentes econmicos em virtude do dado comum de vul-nerabilidade, verdadeiro status anlogo ao de consumidor, renova, princip-almente, ao instituir instrumentos mais geis e sanes mais rgidas do queas conhecidas no direito da concorrncia, de parcos efeitos no Brasil23.

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  • 2.3 O FORNECEDOR, O PRODUTO E OSERVIO

    Cumpre-nos, nesse momento, abordar o outro polo da relao de con-sumo, qual seja, o representado pelo fornecedor. De qualquer forma, comoveremos, o fornecedor toda pessoa cuja atividade esteja relacionada aprodutos ou servios que sero objeto da relao jurdica a ser firmada como consumidor.

    O CDC caracterizou o fornecedor como uma pessoa profissional cujaatividade geradora de lucro, ainda que de forma irregular, como ocorre,por exemplo, com os vendedores ambulantes que praticam, em sua maioria,atividade ilegal, mas sujeita s normas de consumo24.

    Destarte, a remunerao elemento indispensvel caracterizao dofornecedor, pois indica o carter profissional da atividade. Isto serve paraisolar o conceito de relao de consumo. Do contrrio, toda operao prat-icada por um fornecedor se confundiria, desaparecendo a especialidade datutela25. No entanto, destaque-se que o fornecedor que oferece produtos eservios gratuitamente no est isento das regras do CDC. A gratuidade apenas um instrumento para seduzir o consumidor. assim no caso dasamostras grtis e servios gratuitos como os de estacionamentos de bancos,lojas, restaurantes e shoppings centers. Incide o CDC nessas relaesmesmo que o servio seja terceirizado e mesmo que o fornecedor se isentede qualquer responsabilidade, j que, como visto, o CDC um conjunto denormas de ordem pblica e aplicao obrigatria. Nas hipteses exempli-ficadas o fornecedor responder objetivamente por qualquer dano sofridopelos consumidores, como por exemplo, o furto de objetos pessoais deixa-dos no interior de seus veculos.

    Note-se tambm que o Cdigo no fez qualquer exceo s pessoas quepodem ser fornecedoras. Referiu-se, independentemente da nacionalidade,a toda pessoa fsica, e a toda pessoa jurdica, seja qual for a sua natureza.

    Portanto, podem ser fornecedores todas as pessoas jurdicas de direitoprivado e todas as pessoas jurdicas de direito pblico. Inovou tambm aoelencar os entes despersonalizados, ou seja, o grupo organizado que nopossui as condies formais para a caracterizao da pessoa jurdica. Taiscondies so determinadas pela affectio societatis, ou inteno expressa

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  • de manter vnculo associativo. Encontram-se entre estes a famlia, a massafalida, as heranas jacente e vacante, o esplio e o condomnio26.

    Vejamos como a lei trata essa relao no caso de produtos e servios.Prescreve o caput do art. 3. do Cdigo de Defesa do Consumidor:

    Art. 3. Fornecedor toda pessoa fsica ou jurdica, pblica ou privada,nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desen-volvem atividades de produo, montagem, criao, construo, transform-ao, importao, exportao, distribuio ou comercializao de produtosou prestao de servios.

    1. Produto qualquer bem, mvel ou imvel, material ou imaterial. 2. Servio qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, medi-

    ante remunerao, inclusive as de natureza bancria, financeira, de crdito e se-curitria, salvo as decorrentes das relaes de carter trabalhista.

    Como se nota, o texto em apreo estabeleceu um amplo leque de situ-aes (produo, montagem, criao, construo, transformao, im-portao, exportao, distribuio e comercializao) para aquelas pessoascuja atividade est relacionada com produtos.

    Como frisado, a atividade deve ser relacionada com produtos, ou seja,bens mveis ou imveis, materiais ou imateriais. Nessa linha, os produtos,como bens que so, caracterizam-se por serem o complexo de relaesjurdicas de uma pessoa, apreciveis economicamente27.

    Consigne-se a distino existente entre os bens ora enfocados e os de-nominados bens jurdicos. Estes esto a referir-se aos de natureza patrimo-nial e no patrimonial, ou seja, os elementos morais da personalidade, in-apreciveis economicamente, como a vida, a honra, o nome, a liberdade, adefesa etc.28.

    Assim, temos que todo bem econmico jurdico, mas a recproca no verdadeira, pois nem todo bem jurdico econmico29.

    Deve ainda o produto ter idoneidade para satisfazer um interesse econ-mico, ter gesto econmica autnoma, ou seja, permitir uma utilizao eum valor econmico, e ser subordinado juridicamente ao seu titular, ouseja, que possa ser suscetvel de apropriao pelo homem.30

    No entanto, a lei relacionou os produtos aos bens imveis, isto ,aqueles que no se podem transportar, sem destruio, de um lugar para o

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  • outro31 ou que assim sejam definidos pela norma jurdica, e aos bens m-veis, os que, sem deteriorao na substncia ou na forma, podem ser trans-portados de um lugar para outro, por fora prpria ou estranha32, ou queassim sejam definidos pela norma jurdica.

    Saliente-se que os produtos tambm podero ser os bens materiais, deexistncia fsica/material, ou imateriais, que no possuem existncia fsica,mas sim jurdica, como, por exemplo, os direitos reais, obrigacionais ouautorais. Tal relao (mveis e imveis, materiais e imateriais) objetivouatingir o maior leque de bens possvel, de forma que a tradicional divisodo direito civil, alis extensa, no traz utilidade para a aplicao da lei doconsumidor.

    Em relao aos servios, o texto foi menos minucioso e incluiu no roldos fornecedores todos os prestadores de servios, ou seja, todas as pessoasque fornecem atividade no mercado, incluindo taxativamente a hiptesedaquelas de natureza bancria e financeira, j prevendo a tentativa dessasentidades de serem excludas da aplicao do Cdigo33.

    Sobre os servios, aponta Maria Antonieta Z. Donato que, vale dizer,o objeto da relao jurdica no est restrito apenas s coisas, mas abrangeainda as atividades ou aes humanas, desde que algum deva fazer ou nofazer ou obrigue-se a dar alguma coisa. A essa atividade fsica ou intelec-tual praticada pelo homem (atravs de seu trabalho), possuidora de con-tedo econmico, denomina-se prestao34.

    E continua a professora trazendo baila a lio de Jean Calais-Auloy,lembrando que a noo de servio mais vaga (...), designa toda prestaoque pode ser fornecida a ttulo oneroso, no sendo, todavia, um bemcorpreo. Um servio pode ser material (reparao, hotelaria, transporte,etc.), financeiro (seguro, crdito, etc.), ou intelectual (mdico, assessoriajurdica, etc.)35.

    Por fim, no h dvida quanto aplicao do CDC aos serviosbancrios36. Toda vez que presentes os requisitos j apontados para a carac-terizao do sujeito consumidor, a instituio bancria ser responsabiliz-ada objetivamente pelos vcios e defeitos de seus produtos e servios, e oscontratos bancrios sero regulados segundo os preceitos consumeristas.

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  • 2.4 QUESTES

    1. (OAB-SP Exame 110) De acordo com o CDC (Lei n8.078/90), consumidor toda a pessoa fsica:

    (a) Que adquire ou utiliza produto ou servio como destin-atrio final e fornecedor toda a pessoa jurdica privada,nacional, que desenvolve atividades de produo e forneci-mento de bens em sentido amplo e de prestao deservios.

    (b) Brasileira que adquire ou utiliza produto ou servio comodestinatrio final e fornecedor toda a pessoa fsica oujurdica privada, nacional, que desenvolve atividades deproduo e fornecimento de bens em sentido amplo e deprestao de servios.

    (c) Ou jurdica que adquire ou utiliza produto ou servio comodestinatrio final e fornecedor toda a pessoa fsica oujurdica, nacional ou estrangeira, de direito pblico ouprivado, que desenvolve atividades de produo e forneci-mento de bens em sentido amplo e de prestao deservios.

    (d) Brasileira ou naturalizada, ou jurdica nacional, de direitoprivado, com seus atos constitutivos devidamente registra-dos e fornecedor toda a pessoa jurdica, nacional ou es-trangeira, de direito privado, que desenvolve atividades deproduo e fornecimento de bens em sentido amplo e deprestao de servios.

    2. (OAB-MG Exame de Dezembro/2007) Considerando oque determina o Cdigo Civil sobre a boa-f objetiva, incorreto afirmar:

    (a) Implica a observncia de deveres anexos ao contrato, taiscomo informao e segurana.

    (b) Significa a ignorncia de vcio que macula o negciojurdico.

    (c) Aplica-se aos contratos do Cdigo Civil e do Cdigo de De-fesa do Consumidor.

    (d) Implica o dever de conduta probo e ntegro entre aspartes contratantes.

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  • 3. (OAB-MG Exame de Abril/09) Em qual das alternativasabaixo no h relao de consumo:

    (a) Paciente e dentista em tratamento dentrio.(b) Mecnico e loja de peas em compra e venda de peas

    automotivas para os carros em conserto na oficina.(c) Correntista e instituio financeira na relao de guarda e

    depsito de dinheiro em conta-corrente.(d) Cliente e restaurante na compra e venda de marmitas

    para o almoo de uma famlia.4. (OAB Exame unificado 2007.3) No que se refere ao

    campo de aplicao do Cdigo de Defesa do Consumidor(CDC), assinale a opo correta.

    (a) O conceito de consumidor restringe-se s pessoas fsicasque adquirem produtos como destinatrias finais da comer-cializao de bens no mercado de consumo.

    (b) O conceito de fornecedor envolve o fabricante, o con-strutor, o produtor, o importador e o comerciante, os quaisrespondero solidariamente sempre que ocorrer dano in-denizvel ao consumidor.

    (c) O conceito de produto definido como o conjunto de benscorpreos, mveis ou imveis, que sejam oferecidos pelosfornecedores para consumo pelos adquirentes.

    (d) O conceito de servio engloba qualquer atividade oferecidano mercado de consumo, mediante remunerao, salvo asdecorrentes das relaes de carter trabalhista.

    5. (OAB Exame unificado 2008.3) No tocante s relaesde consumo, correto afirmar que

    (a) A pessoa jurdica no sofre dano moral indenizvel.(b) isento de responsabilidade o fornecedor que no tenha

    conhecimento dos vcios de qualidade por inadequao deprodutos e servios de consumo.

    (c) A reparao do dano moral coletivo est prevista noCdigo de Defesa do Consumidor.

    (d) A interpretao das clusulas contratuais deve ocorrer deforma a no favorecer nem prejudicar o consumidor.

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  • 6. (OAB 2011.1 FGV) No mbito do Cdigo de Defesa doConsumidor, em relao ao princpio da boa-f objetiva, correto afirmar que

    (a) importa em reconhecimento de um direito a cumprir emfavor do titular passivo da obrigao.

    (b) no se aplica fase pr-contratual.(c) para a caracterizao de sua violao imprescindvel se faz

    a anlise do carter volitivo das partes.(d) sua aplicao se restringe aos contratos de consumo.

    7. (X Exame de Ordem Unificado FGV) Elisabeth e Mar-cos, desejando passar a lua de mel em Paris, adquiriramjunto Operadora de Viagens e Turismo X um pacotede viagem, composto de passagens areas de ida e volta,hospedagem por sete noites, e seguro sade e acidentespessoais, este ltimo prestado pela seguradora Y. Apschegar cidade, Elisabeth sofreu os efeitos de uma gast-rite severa e Marcos entrou em contato com a operadorade viagens a fim de que o seguro fosse acionado, sendoinformado que no havia mdico credenciado naquelalocalidade. O casal procurou um hospital, que manteveElisabeth internada por 24 horas, e retornou ao Brasil noterceiro dia de estadia em Paris, tudo s suas expensas.Partindo da hiptese apresentada, assinale a afirmativacorreta.

    (a) O casal poder acionar judicialmente a operadora de tur-ismo, mesmo que a falha do servio tenha sido da se-guradora, em razo da responsabilidade solidria aplicvelao caso.

    (b) O casal somente poder acionar judicialmente a se-guradora Y, j que a operadora de turismo responderia porfalhas na organizao da viagem, e no pelo seguro,porque esse foi realizado por outra empresa.

    (c) O casal ter que acionar judicialmente a operadora de tur-ismo e a seguradora simultaneamente por se tratar dahiptese de litisconsrcio necessrio e unitrio, sob pena deinsurgir em carncia da ao.

    (d) O casal no poder acionar judicialmente a operadora deturismo j que havia liberdade de contratar o seguro-sade

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  • viagem com outra seguradora e, portanto, no se tratandode venda casada, no h responsabilidade solidria nahiptese.

    GABARITO: Encontra-se no final do livro.

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  • __________1 Ver a obra de LIMA, Rogrio Medeiros Garcia de. Aplicao do

    cdigo de defesa do consumidor, So Paulo: RT, 2003.2 Em outros pases, como os EUA, no h um conceito nico para

    consumidor, variando de acordo com as especificidades das nor-mas reguladoras. Sobre a matria, ver BENJAMIN, Antnio Her-man V. O conceito jurdico de consumidor, passim.

    3 LUCCA, Newton de. Direito do consumidor, p. 38.4 NERY JNIOR, Nelson. CDC comentado..., p. 430.5 Sobre o assunto, ver MARQUES, Claudia Lima. Contratos..., p.

    140-163.6 Nesse sentido: STJ, Conflito de Competncia 92.519/SP, Rel.

    Min. Fernando Gonalves, 2. Seo, j. 16.02.2009, DJe04.03.2009.

    7 Claudia Lima Marques relata o embate existente entre belgas efranceses. A jurisprudncia francesa, a partir de 1987, alargou oespectro da Lei 78-23, de 10.01.1978, destinada aos contratosfirmados entre os profissionais e no profissionais, para que aproteo contra clusulas abusivas fosse tambm estendida aoscontratos estabelecidos pelos profissionais liberais e pequenas emdias empresas, por compreender a vulnerabilidade tcnicaexistente, j que nessas relaes essas pessoas encontram-sefora da sua rea de comrcio. A posio da jurisprudnciafrancesa foi duramente criticada pela doutrina belga, quemantm a tendncia de uma definio restrita.

    8 pacfica a jurisprudncia do Superior Tribunal de Justia nosentido de adotar a referida teoria para a conceituao de con-sumidor. A respeito, decidiu recentemente aquela EgrgiaCorte: [...] 1 A jurisprudncia desta Corte sedimenta-se nosentido da adoo da teoria finalista ou subjetiva para fins decaracterizao da pessoa jurdica como consumidora em even-tual relao de consumo, devendo, portanto, ser destinatria fi-nal econmica do bem ou servio adquirido (REsp 541.867/BA).2 Para que o consumidor seja considerado destinatrio econ-mico final, o produto ou servio adquirido ou utilizado nopode guardar qualquer conexo, direta ou indireta, com aatividade econmica por ele desenvolvida; o produto ou servio

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  • deve ser utilizado para o atendimento de uma necessidade pr-pria, pessoal do consumidor. 3 No caso em tela, no se veri-fica tal circunstncia, porquanto o servio de crdito tomadopela pessoa jurdica junto instituio financeira de certo foiutilizado para o fomento da atividade empresarial, no desenvol-vimento da atividade lucrativa, de forma que a sua circulaoeconmica no se encerra nas mos da pessoa jurdica, so-ciedade empresria, motivo pelo qual no resta caracterizada,in casu, relao de consumo entre as partes. [...] (Conflito deCompetncia 92.519/SP, Rel. Min. Fernando Gonalves, 2.Seo, j. 16.02.2009, DJe 04.03.2009).

    9 DONATO, Maria Antonieta Zanardo. Proteo ao consumidor...,p. 104.

    10 A respeito, o STJ j proferiu deciso exteriorizando um en-tendimento um pouco diverso. Para aquela Corte Superior, avulnerabilidade se afigura, na verdade, como uma mitigao daregra da destinao final. Reconhece, pois, a importncia davulnerabilidade para a caracterizao da figura do consumidor,mas de maneira a ampliar o campo de incidncia do conceitotrazido pelo art. 2., caput, do CDC. Aqui, aproxima-se da cor-rente maximalista, sem, contudo, adot-la. Confira-se: [...] A jurisprudncia consolidada pela 2. Seo deste STJ entendeque, a rigor, a efetiva incidncia do CDC a uma relao de con-sumo est pautada na existncia de destinao final ftica eeconmica do produto ou servio, isto , exige-se total desvin-culao entre o destino do produto ou servio consumido equalquer atividade produtiva desempenhada pelo utente ou ad-quirente. Entretanto, o prprio STJ tem admitido o tempera-mento desta regra, com fulcro no art. 4., I, do CDC, fazendo alei consumerista incidir sobre situaes em que, apesar doproduto ou servio ser adquirido no curso do desenvolvimentode uma atividade empresarial, haja vulnerabilidade de umaparte frente outra. Uma interpretao sistemtica e teleol-gica do CDC aponta para a existncia de uma vulnerabilidadepresumida do consumidor, inclusive pessoas jurdicas, visto quea imposio de limites presuno de vulnerabilidade implicariarestrio excessiva, incompatvel com o prprio esprito de facil-itao da defesa do consumidor e do reconhecimento de sua hi-possuficincia, circunstncia que no se coaduna com o princ-pio constitucional de defesa do consumidor, previsto nos arts.5., XXXII, e 170, V, da CF. Em suma, prevalece a regra geral

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  • de que a caracterizao da condio de consumidor exige des-tinao final ftica e econmica do bem ou servio, mas a pre-suno de vulnerabilidade do consumidor d margem incidn-cia excepcional do CDC s atividades empresariais, que s seroprivadas da proteo da lei consumerista quando comprovada,pelo fornecedor, a no vulnerabilidade do consumidor pessoajurdica. Ao encampar a pessoa jurdica no conceito de con-sumidor, a inteno do legislador foi conferir proteo empresa nas hipteses em que, participando de uma relaojurdica na qualidade de consumidora, sua condio ordinria defornecedora no lhe proporcione uma posio de igualdadefrente parte contrria. Em outras palavras, a pessoa jurdicadeve contar com o mesmo grau de vulnerabilidade que qualquerpessoa comum se encontraria ao celebrar aquele negcio, desorte a manter o desequilbrio da relao de consumo. A parid-ade de armas entre a empresa-fornecedora e a empresa-con-sumidora afasta a presuno de fragilidade desta. Tal consider-ao se mostra de extrema relevncia, pois uma mesma pessoajurdica, enquanto consumidora, pode se mostrar vulnervel emdeterminadas relaes de consumo e em outras no. Recursoprovido (STJ, Recurso Ordinrio em Mandado de Segurana27.512/BA, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3. Turma, j. 20.08.2009,DJe 23.09.2009).

    11 LOPES, Jos Reinaldo de Lima. Responsabilidade civil do fabric-ante e a defesa do consumidor, p. 79.

    12 Processo civil e Consumidor. Resciso contratual cumuladacom indenizao. Fabricante. Adquirente. Freteiro. Hipossufi-cincia. Relao de consumo. Vulnerabilidade. Inverso do nusprobatrio. Consumidor a pessoa fsica ou jurdica que ad-quire produto como destinatrio final econmico, usufruindo doproduto ou do servio em beneficio prprio. Excepcional-mente, o profissional freteiro, adquirente de caminho zeroquilmetro, que assevera conter defeito, tambm poder serconsiderado consumidor, quando a vulnerabilidade estiver cara-cterizada por alguma hipossuficincia quer ftica, tcnica oueconmica. Nesta hiptese est justificada a aplicao dasregras de proteo ao consumidor, notadamente a concesso dobenefcio processual da inverso do nus da prova. Recurso es-pecial provido (STJ, REsp 1.080.719/MG, Rel. Min. NancyAndrighi, 3. Turma, j. 10.02.2009, DJe 17.08.2009 grifonosso). No mesmo sentido, reconhecendo os aspectos tcnico,

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  • jurdico e econmico da vulnerabilidade: STJ, REsp 661.145/ES,Rel. Min. Jorge Scartezzini, 4. Turma, j. 22.02.2005, DJ28.03.2005, p. 286.

    13 A noo de vulnerabilidade jurdica foi estabelecida pela cortesuprema alem nos casos de contratos de emprstimo bancrioe financiamento, conforme lembra Claudia Lima Marques, Con-tratos..., p. 148, nota 26.

    14 Ibidem, p. 148.15 Nelson Nery Junior, Os princpios gerais do cdigo de defesa do

    consumidor, p. 53.16 A proteo do consumidor, p. 435.17 Curso prtico de direito do consumidor, p. 19.18 NERY JNIOR, Nelson. Os princpios gerais do cdigo de defesa

    do consumidor, p. 53.19 GRINOVER, Ada Pellegrini. CDC comentado..., p. 28.20 Cdigo do consumidor comentado, p. 140.21 MARQUES, Claudia Lima. Contratos no cdigo..., p. 157.22 GRINOVER, Ada Pellegrini, op. cit., p. 30.23 MARQUES, Claudia Lima. Contratos..., p. 159.24 MARINS, James. Responsabilidade..., p. 108.25 PASQUALOTTO, Adalberto. Os servios pblicos no cdigo de

    defesa do consumidor, p. 22.26 MARINS, James. Cdigo..., p. 18.27 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, p. 188.28 Ibidem, mesma pgina.29 GOMES, Orlando. Introduo ao direito civil, p. 200.30 DINIZ, Maria Helena. Curso..., p. 189.31 BEVILQUA, Clvis. Comentrios ao cdigo civil, p. 267.32 Ibidem, mesma pgina.33 Ver comentrios ao dispositivo em tela feitos por FILOMENO,

    Jos Geraldo Brito. Cdigo..., p. 39-51.34 Proteo..., p. 133.35 Apud Proteo..., p. 133.36 Nesse sentido, STF, ADI 2.591, Rel. Min. Carlos Velloso, Rel. p/

    Acrdo Min. Eros Grau, Tribunal Pleno, j. 07.06.2006, DJ29.09.2006, p. 31; e Smula 297 do STJ, com o seguinte teor:

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  • O CDC aplicvel s instituies financeiras. Ainda sobre otema, convm analisar o verbete sumular 321, tambm do STJ:O CDC aplicvel relao jurdica entre a entidade de previd-ncia privada e seus participantes.

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  • DOS DIREITOS DOSCONSUMIDORES

    3.1 A POLTICA NACIONAL DAS RELAESDE CONSUMO

    A Poltica Nacional de Relaes de Consumo introduzida pelo art. 4.da Lei 8.078/1990 visa o atendimento das necessidades dos consumidores,o respeito sua dignidade, sade e segurana, a proteo de seus interesseseconmicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transfern-cia e harmonia das relaes de consumo. Para a consumao dessa poltica,o CDC elencou alguns princpios fundamentais. So eles (art. 4.):

    a) Princpio da vulnerabilidade. O reconhecimento da vulnerabilidadedo consumidor no mercado de consumo (inciso I);

    b) Princpio da defesa do consumidor pelo Estado. A imperatividadeda ao governamental no sentido de proteger efetivamente o con-sumidor por iniciativa direta, por incentivos criao e desenvolvi-mento de associaes representativas, pela presena do Estado no

  • mercado de consumo, e pela garantia dos produtos e servios compadres adequados de qualidade, segurana, durabilidade e desem-penho (inciso II);

    c) Princpio da boa-f objetiva e do equilbrio nas relaes. A har-monizao dos interesses dos participantes das relaes de con-sumo e compatibilizao da proteo do consumidor com a ne-cessidade de desenvolvimento econmico e tecnolgico, de modo aviabilizar os princpios nos quais se funda a ordem econmica (art.170, da Constituio Federal), sempre com base na boa-f eequilbrio nas relaes entre consumidores e fornecedores (incisoIII). As relaes jurdicas firmadas entre consumidores e fornece-dores devem observar o princpio do inc. III, do art. 4. e inc. IV doart. 51, do CDC. Assim, o princpio da boa-f, equidade eequilbrio deve ser sempre observado, visando harmonizao dosinteresses inerentes s relaes de consumo. A boa-f de quetrata o CDC denominada boa-f objetiva, ou seja, condutaobrigatria a ser observada pelas pessoas que pretendem estabele-cer relao de consumo1. Luiz Antonio Rizzatto Nunes denominade comportamento fiel, leal, na atuao de cada uma das partescontratantes a fim de garantir respeito outra2. Desta feita, no setrata da tradicional boa-f subjetiva no sentido de desconheci-mento de fato que venha violar, modificar ou estabelecer impedi-mento a direito. De outro lado, este dispositivo determina a obser-vncia dos fundamentos da ordem econmica e dentre eles o da de-fesa do meio ambiente. Trata-se, assim, do chamado ConsumoSustentvel3 estabelecido pela Resoluo 53/1995 da ONU, quedispe sobre a necessidade de se difundir o consumo responsvel,sobretudo pela esgotabilidade dos recursos naturais. Vale dizer quese de um lado o mercado de consumo fundamental para o desen-volvimento econmico, na gerao de empregos, recolhimento detributos e at de divisas para o pas, por outro lado essa atividadedeve se dar com a responsabilidade da defesa e preveno do meioambiente, para garantir a todos, inclusive para as futuras geraes,a sadia qualidade de vida;

    d) Princpio da informao e educao. A necessidade de incentivo educao e informao de fornecedores e consumidores, quanto aos

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  • seus direitos e deveres, com vistas melhoria do mercado de con-sumo (inciso IV);

    e) Princpio da confiana. O incentivo criao pelos fornecedores demeios eficientes de controle de qualidade e segurana de produtos eservios, assim como de mecanismos alternativos de soluo deconflitos de consumo (inciso V);

    f) Princpio do combate ao abuso. A coibio e represso eficientesde todos os abusos praticados no mercado de consumo, inclusive aconcorrncia desleal e utilizao indevida de inventos e criaes in-dustriais das marcas e nomes comerciais e signos distintivos, quepossam causar prejuzos aos consumidores (inciso VI);

    g) Princpio da eficincia dos servios pblicos. A racionalizao emelhoria dos servios pblicos (inciso VII);

    h) e o Princpio do estudo constante das modificaes do mercado deconsumo (inciso VIII).

    Os princpios elencados no art. 4. do CDC encontram correspondnciaem diversos outros dispositivos do cdigo, como no captulo dos direitosbsicos do consumidor e das prticas comerciais. Claudia Lima Marqueslembra que este dispositivo legal uma norma narrativa de uma lei de fun-o social que o CDC, estabelecendo princpios que devem ser obed-ecidos no mercado de consumo4.

    No sentido de estabelecer instrumentos eficazes para a concretizao daPoltica Nacional das Relaes de Consumo (art. 5.), o Cdigo determinaque o Poder Pblico mantenha assistncia jurdica integral e gratuita para oconsumidor carente, medida raramente encontrada nos Estados brasileiros.Determina ainda a instituio de Promotorias de Justia de Defesa do Con-sumidor, no mbito do Ministrio Pblico, o que de fato viu-se implantadoem quase todo o pas e que se revelou fundamental para o desenvolvimentoe consolidao dos direitos do consumidor. Por fim, o Poder Pblico deveempreender esforos para criar delegacias de polcia especializadas noatendimento de consumidores vtimas de infraes penais de consumo,Juizados Especiais de Pequenas Causas e Varas Especializadas para asoluo de litgios de consumo. Deve ainda o Poder Pblico conceder in-centivos para o surgimento e desenvolvimento das Associaes de Defesado Consumidor.

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  • 3.2 DOS DIREITOS BSICOS DOSCONSUMIDORES

    Assim como a Poltica Nacional das Relaes de Consumo, os direitosdos consumidores inscritos no art. 6. do CDC se manifestam tambm emoutros dispositivos do cdigo para tratamento mais especfico.

    Destarte, analisaremos cada uma das hipteses de direitos bsicos doconsumidor, positivadas no art. 6. e cujo rol meramente exemplificativo.

    a) O direito proteo da vida, sade e segurana contra os riscosprovocados por prticas no fornecimento de produtos e serviosconsiderados perigosos ou nocivos (inciso I). Tal previsocoaduna-se com os princpios gerais da Poltica Nacional dasRelaes de Consumo e com o princpio constitucional da dignid-ade humana.

    b) O direito educao e divulgao sobre o consumo adequado dosprodutos e servios, asseguradas a liberdade de escolha e aigualdade nas contrataes (inciso II). Tal direito refora a missodo CDC de estabelecer o equilbrio nas relaes de consumo para aconcretizao do princpio constitucional da igualdade. Por estedispositivo, no poder haver discriminao para com osconsumidores.

    c) O direito informao adequada e clara sobre os diferentesprodutos e servios, com especificao correta de quantidade, ca-ractersticas, composio, qualidade, tributos incidentes e preo,bem como sobre os riscos que apresentem (inciso III). Trata-se dodever que os fornecedores tm de informar, reforando a trans-parncia como princpio das relaes de consumo. Sem a corretainformao e transparncia, o consumidor no pode exercer a liber-dade de contratar. A Lei 12.741, de 8 de dezembro de 2012, quepassou a vigorar 6 meses aps a sua publicao, dispe sobre asmedidas de esclarecimento ao consumidor previstas no 5 do art.150 da Constituio Federal. Assim, nos documentos fiscais ouequivalentes emitidos ao consumidor, devero constar as inform-aes do valor aproximado correspondente totalidade dos tributosfederais, estaduais e municipais, cuja incidn