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1 I Coletânea da Academia Jovem de Letras de Lorena

Coletânea AJLL 2015

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Primeira coletânea da Academia Jovem de Letras de Lorena, com a compilação das obras dos acadêmicos atuais!

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1a Coletânea da

aCademia Jovem de

letras de lorena

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1a Coletânea da

aCademia Jovem de

letras de lorena

Vários autores

ACADEMIA

DE LETRASJOVEMDE LORENA

1ª edição

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Vários autores, 1ª Coletânea da academia jovem de letras de Lorena, 2015, 1ª edição.ISBN: 978-85-63859-06-8Academia de Letras de Lorena - ALL.Nº de páginas: 84Classificação: Miscelânea de escritos brasileiros.

Edição e diagramação: Camila Loricchio.

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Com a alma novaParece que foi ontem, mas já se passou um ano inteiro

desde que nossos nomes foram anunciados no extinto jornal Guaypacaré como os jovens escolhidos para compor o pri-meiro grupo de membros da Academia Jovem de Letras de Lorena, a primeira deste tipo na região, e quem sabe até do Estado de São Paulo.

Aproveitando-me das palavras do imortal Machado de Assis, em seu discurso na fundação da Academia Brasileira de Letras, digo que “Não é preciso definir esta instituição, iniciada por um moço, aceita e completada por moços, a Academia nasce com a alma nova, naturalmente ambiciosa”. Assim, somos muito gratos à Academia de Letras de Lorena pela incrível oportunidade de sermos intitulados “acadêmi-cos”, quando na verdade somos apenas aspirantes a alguma coisa. E gratos também somos ao tão querido Professor Nelson Pesciotta que, no vigor dos seus 90 e poucos anos, foi o moço que iniciou esta academia e que hoje é o nosso padrinho e homenageado.

Diferentemente das outras Academias, não seremos eternos por aqui. Em tese, temos até os 35 anos físicos para sermos acadêmicos jovens, mas, ainda que mentalmente não deixemos de ser jovens, temos que permitir que novas mentes renovem nosso quadro e também dar oportunidade a outros jovens que tenham compromisso com o constante aprendizado e o conseqüente compartilhamento dele, o que corresponde à nossa maior ambição e objetivo.

Quanto à nossa coletânea, é com imensa alegria que es-taremos lançando-a, para que assim possam nos conhecer melhor e apreciar nosso humilde trabalho. O formato ebook foi a melhor maneira que conseguimos fazê-la para termos

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um baixo custo, porém com a recompensa de um alcance de divulgação muito maior. Somos muito gratos à Graziela Staut e seu portal de notícias, O Lorenense, por tanto nos apoiar e fazer parte da realização dos nossos sonhos. E não podería-mos deixar de agradecer a toda atenção que temos recebido, tanto da população de Lorena e de outras regiões, como do governo municipal, por intermédio da Secretaria de Cultura.

Nossas diferentes personalidades e estilos é o que marca este livro, que contém um pouquinho de cada um de nós e que também mostra todo potencial do que ainda viremos a ser. E como disse o acadêmico sênior Adilson Gonçalves na V Coletânea da ALL “Aproveitem, compartilhem, divulguem a boa nova”.

Enfim, nunca imaginamos estar administrando uma aca-demia jovem de letras, mas aqui estamos, trocando opiniões e, acima de tudo, conhecimento. Ser um acadêmico jovem é saber mesclar o estilo clássico de uma academia de letras, com discussões sobre literatura e outros assuntos, à visão curiosa de um jovem, que tem o anseio insaciável de descobrir coisas novas, de abrir mentes.

É isto o que faremos, mostrar o clássico de formas diferen-tes, com novas lentes. E esperamos que entrem nessa onda conosco, para assim mantermos nossas almas sempre jovens, curtindo tudo o que é novo, de novo.

Julia Pinheiro

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Cadeiras e Patronos1 Julia Pinheiro Carolina Staut

2 Jéssica Carvalho Pe. Antônio Lages de Magalhães3 Heron Freitas (não definido)4 Camila Loricchio Consuelo Leandro5 Wagner Ribeiro Malba Tahan6 Beatriz Neves Ruth Capistrano7 Lucca Ferri Novaes

LatrofeMonteiro Lobato

8 Lelienne Ferreira Alves Pereira Calazans

Maria de Lourdes Borges Ribeiro

9 Samira Florêncio Tito Aluísio Azevedo10 Isnaldi Souza Valdomiro Silveira11 Gustavo Rodrigues Alves Miriam Sants12 Danilo Passos Gabriel Prestes13 Gabriela De Aquino

CostaPéricles Eugênio da Silva Ramos

14 Thiago J.S. Oliveira Antônio Gama Rodrigues15 Gustavo Diaz José Luiz Pasin16 Vânia Alves Hugo di Domenico

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sumário

Beatriz neves ...............................................................10Camila loriCChio ........................................................13danilo Passos .............................................................17GaBriela de aquino Costa ...........................................22(Gustavo diaz) tsukkiame .............................................26Gustavo rodriGues alves ............................................31heron Freitas ...............................................................36isnaldi rodriGues de souza Filho ...................................42JéssiCa Carvalho ........................................................46Julia Pinheiro ...............................................................50lelienne Ferreira alves Pereira Calazans .......................55luCCa Ferri novaes aranda latroFe .............................60samira FlorênCio tito ..................................................65thiaGo José de souza oliveira ......................................69vânia alves .................................................................73WaGner riBeiro ...........................................................78

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Beatriz Neves

Beatriz Neves tem apenas 16 anos de idade e, até o momento, é a acadêmica mais nova da AJLL. Está no ensino médio e cursa técnico em química. Pretende se formar em engenharia química e psicologia e fotografia e tudo mais o que ela conseguir pensar até o fim da semana. Escreve sobre tudo o que lhe vem à cabeça sempre com um ar melancólico, romântico e com um misto de exagero.

(Sem título)José, quem és tu, José? Teu sorriso jovial não combina com

as crueldades da tua vida, não combina com teu coração, vá-rias vezes partido, e não combina com teus sonhos guardados na gaveta.

José conheceu os prazeres da vida muito cedo, mas só foi ter educação muito tarde. Não tardou a ser chamado por outro nome, nome este que trazia responsabilidade maior que os magros ombros de José, agora pai. Seu magro corpo agora era usado, desprezado e escravizado por míseras moedas. Moedas estas que não deixariam seu filho chorar de fome. Mas José chorava. Chorava pela desgraça de sua vida, arruinada pela falta de instrução. Chorava pela desgraça de todos ao seu redor que pareciam ser cegos e não enxergar seu agonizar. Chorava ao olhar o menino e perceber que ele tinha os olhos da mãe. Ela, que muito antes, também chorava ao atirar-lhe

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palavras que lhe machucavam como facas e inundavam sua mente com os nunca esquecidos dizeres: “você arruinou mi-nha vida”. “Pobre menino”, pensava José, “não tem nada mais que seu nome, algumas roupas e um tanto de leite. Mas, meu filho, você não será mais um José. Não será fruto da falta de compaixão e justiça para com nosso povo. Vou lhe ensinar, meu filho, lhe ensinar que deves descobrir quem tu és, antes de lamentar por quem, um dia, quiseras ser”.

Beijo RoubadoCertificou-se de que ninguém, além da culpa e do medo

a seguisse e, então, virou a esquina. Seguiu até o fim da rua a passos rápidos. Sua silhueta sumia entre as sombras dos prédios. Era como ela não estivesse ali, era exatamente como ela queria que fosse. Cobriu o nariz com a gola da blusa, todavia sua respiração ofegante a denunciava: era culpada, não apenas culpada, mas também, uma fugitiva. Pensou em voltar, porém sabia que era isso o que todos esperavam. O culpado sempre volta à cena do crime. Seguiu em frente. Até quando amar seria um pecado?

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Guardanapo de HistóriasE, naquele guardanapo, escreveu sua vida. Aquela fina

e frágil folha de papel pareceu combinar com a perceptível fragilidade que ela demonstrava. Seus rabiscos, formados por letras miúdas e bagunçadas, remetiam ao turbilhão de pensamentos formados de maneira incessante em sua mente. Era incrível pensar que uma vida inteira coubesse ali, num simples guardanapo.

Parecia-me um desrespeito, sem dúvidas ela tinha muito mais histórias para contar. "Ah meu caro, se eu tenho mais histórias ou não, nem eu sei ao certo. Talvez isto sirva para outra história! Só que desta vez será um mistério." E pegou outro guardanapo e recomeçou a rabiscar.

Talvez, ela tivesse tantas histórias que nem se lembrasse. Talvez suas histórias fossem sobre outras histórias! Poeta é assim, já não sabe a diferença entre a realidade e a fantasia, entre o mocinho e o vilão. Qualquer simples cidadão transi-tando pela rua é motivo para poesia! E falando em poesia, até que um guardanapo agora não me parece má ideia! Mas deixe para lá, isto é assunto para outra história!

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Pitaya - A rainha dos dragões-planta

Dizem que há muito tempo, na época em que haviam somente vulcões e enormes planícies, dragões reinavam no meio do fogo e fumaça, justamente por só ter isso para reinar. Havia dragões de inúmeros tipos, de fogo, os de gelo, que começaram a aparecer conforme a temperatura começou a baixar nos pólos, de terra e de água. Tudo uma questão de adaptações e seleção natural, ainda não é sabido quem foi o dragão primordial, talvez não houvesse nenhum… mas isso é história para outro conto.

A rotina deles não variava muito. Reinar. Tentar pegar o reino do outro. Desistir e formar uma sociedade mais pacífica. Mas. Mudanças estavam a caminho… provavelmente todos já ouviram a frase “não se pode comer a semente da melancia senão uma melancia vai crescer na sua barriga”, e provavel-

Camila Loricchio

Camila Loricchio nasceu em 1992 em São Paulo, mas andou mudando de cidade desde essa época, forma-da em Design e atualmente fazendo um mestrado em Itajubá/MG. Cresceu entre livros e sempre gos-tou da ideia de uma dia poder colocar um próprio na sua estante, nem que para isso fossem histórias curtas escritas à mão e impressas em folhas sulfite em um computador antigo. Já lançou 2 livros da Trilogia das Cartas, o Dama e o Valete. Tem o blog Castelo de Cartas, onde escreve desde 2011.

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mente viveu o suficiente para arriscar ter comido uma semente de melancia e ver que isso não tem fundamento. Em humanos. Essa frase teve início na época dos dragões, por um motivo muito simples. As melancias que existiam na época deles eram diferentes, tinham características de sobrevivência extremas. Se um dragão comesse uma melancia com as sementes… bem, as consequências seriam imprevisíveis.

Era época de acasalamento, e um casal de dragões da terra estava pensando em ter filhotes, ainda mais com o incentivo do dragão líder na época… até aí, sem problemas. O problema estava em que a senhora dragão da terra havia comido uma salada de frutas antes. E engolido uma semente de melancia, que estava meio escondida, então não conseguiu vê-la para tirá-la. Mal sabiam os incautos pais dragões da terra que uma espécie completamente nova estava por surgir…

A gestação da mãe dragão foi comum, embora talvez com um excesso de desejos por vegetais, mas sem muitas diferen-ças. Chegada a hora do novo bebê dragão da terra nascer ela se retirou para um canto isolado. Para respeitar a privacidade e memória da mãe dragão, não será descrita a situação, então iremos direto para a parte após o parto. Ao olhar para o bebê dragão a mãe dragão já teve um mau pressentimento. Ele não era de nenhum tom de marrom comum à eles, mas de um verde clarinho hiper delicado, e com tons de rosa nos espinhos das costas. Levou a jovem bebê dragão correndo para o pai dragão ver e chamaram uma especialista em dragões para descobrir o que poderia ter acontecido.

Foi um momento difícil para os pais ouvirem que ninguém sabia o que havia de errado com a jovem bebê dragão. Então decidiram deixar levar e ver o que acontecia. A batizaram de Pitaya, que significava “escama” na língua deles, justa-mente pelas escamas rosadas estranhas com que ela nascera.

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Ela crescia rápido, com uma agilidade incrível que superava a do resto dos dragões da terra e um tom de verde que a permitia se camuflar nas plantas nas brincadeiras de esconde-esconde. Mesmo assim, não era bem aceita pelo resto dos dragões da terra e decidiu sair do reino.

Ela explorou o mundo todo, conheceu várias espécies di-ferentes de dragões, mas nenhuma como ela. E conversando com um velho dragão de água, ele a alertou sobre um possí-vel ataque ou sequestro dos dragões de fogo que poderiam querer usá-la para experimentos não muito aceitáveis ou agradáveis. Eles, afinal, adoravam mexer com fogo. E que era hora dela aprender a se defender se queria continuar a explorar o mundo.

Ela aprendeu. Com vários mestres de várias espécies. Sem-pre mudando de local, sempre indo explorar o desconhecido.

Em certo ponto, após milênios de estudos e treinamentos, ela chegou à conclusão que deveria ser de outra espécie. Uma nova. E por isso, não se submeteria a nenhum dos reinos, cria-ria o seu. Claro que seria solitário no começo, mas fazer o quê.

Enquanto procurava um pedacinho da enorme planície que era o mundo que fosse distante da água, mas não tan-to, e onde crescessem umas plantinhas meio estranhas que armazenavam água, que os dragões da terra chamavam de cactos, conheceu um jovem dragão da terra que havia saído do reino para explorar. Fora o primeiro dragão que realmente a olhara como um igual, então Pitaya, que se julgava uma moça dragão muito bem apanhada, começou a se interessar por ele. Também para manter a privacidade da jovem Pitaya, vamos pular seções da história para o momento em que o jovem moço dragão a pediu em casamento. Que foi bem simples, já que não havia mais ninguém no reino dela.

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Quando chegou um momento de decidirem ter filhotes, Pitaya teve o receio de que poderia criar outra nova espécie, mas arriscou mesmo assim, por sorte, ou apenas por conta de genes dominantes, todos os filhos de Pitaya e o Jovem senhor dragão nasceram verdinhos. Menos um que nasceu marrom, do mesmo jeito que um dragão da terra comum. Agora o reino da Rainha Pitaya começava de verdade.

Após mais alguns milênios e novos casais formados com diferentes espécies de dragões que foram explorar o mundo e acabaram parando e ficando no reino de Pitaya, várias varie-dades de dragões foram nascendo… mas, nesse ponto, Pitaya já havia decidido como chamaria sua espécie.

Os Dragões Planta.Com vários tipos de cores, de estilos, mas ainda sim

possuindo as características de Pitaya, seu reino foi sendo povoado, e ampliado. E ela reinou por muito, muito tempo. Até o fim da era dos dragões, que migraram para a Lua e para planetas adjacentes, para variar o ambiente. Os que não mi-graram, foram se tornando montanhas. Para esperar até que a próxima era dos dragões voltasse. Pitaya, como boa rainha, foi uma das que ficou. Suas sementes e raízes se espalhando por um pedaço da planície ocidental, e gerando um cacto que trazia uma linda fruta, algumas vermelhas, algumas amarelas e algumas brancas, mas todas com o lindo rosa da Rainha Dragão, e as sementes de kiwi que tinha comido antes de virar montanha.

E é por isso, até que hoje que há uma fruta chamada Pitaya, a fruta-dragão, em homenagem à Rainha dos Dragões Planta que reinou por tanto tempo, e serve de lembrete para que se espere a próxima era dos dragões e Pitaya possa voltar.

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Danilo Passos

Danilo Passos é escritor, roteirista e graduando em Letras pela FATEA e pesquisador do PIBIC – CNPq com pesquisas nas áreas de Estudos Literários e Educação. Algumas de suas pesqui-sas foram premiadas em congressos como na FATEA e na Universidade Federal de Itajubá – UNIFEI. Em 2014 ganhou o X Festival Gato Preto de Lorena com o curta-metragem “Álvares”, inspirado em fragmentos poéticos de Álvares de Azevedo.

Quarto 241Olhos acirrados. Pele branca transformando o brilho de

um diamante em um nada exorbitante. Pernas cruzadas e esmalte vermelho gritando na maciez do seu dedo. Sapatos dourados e vestido de cetim com uma cor indecifrável. Seus olhos carregam a sedução noturna e metaforizam as estrelas que insistem em enfeitar o céu friento e azulado de maio. Enxergo o reflexo da luz transbordando em seu olhar, mas suas pernas estão cruzadas. O restaurante é barulhento como a sinfonia de uma ópera das boemias de sexta, iguais àquelas que frequentávamos quando fui de encontro com a sua respi-ração ofegante em uma noite remota de Abril. Olhos acirrados e o vermelho dos dedos s locomovendo para ir em direção à taça de cristal sob a textura vintage da mesa.

Seus lábios se contorcem a medida que o licor importado se incorpora em seu tato labial e sua fisionomia seduz o

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garçom que passa próximo à sua mesa. Olhares que se trocam. Consigo observar a excitação do jovem homem de smoking com a bandeja prateada nas mãos carregando outras taças e um Moet & Chandon que tenta ofuscar o brilho do seu olhar. Você descruza as pernas e coloca a perna esquerda por cima da direita. Cruza novamente. Devolve a taça à mesa e volta as mãos para limpar o excesso do licor fincado nos lábios. O garçom prossegue o seu trabalho.

Suas costas vão de encontro ao encosto da cadeira e a sua inspiração é um pouco mais ofegante. De bandeja vazia, na outra mesa, o olhar dele insiste em te encontrar. Disfarces. Seus cabelos balançam com o vento do ambiente e seus ca-chos dourados tentam esconder os seus olhos se acirrando novamente, porém, seus lábios entornam um sorriso de meio canto, sua mão direita vai de encontro aos cabelos e o rímel dos seus olhos vira a linguagem da segunda excitação dele. O garçom vai a sua direção e a taça da sua mesa se encontra novamente com os seus lábios. O licor acaba.

Ele passa por você e lança um novo olhar. Brilho de dia-mante. Sua indiferença manifesta em seu rosto descruzando as pernas. Como uma analista severa, sua admiração pelo andar dele começa a se manifestar. O smoking infiltra em sua mente e o desejo arde em seu íntimo. Ajeitando o cabelo, você se levanta da mesa e segura um guardanapo da mesa próxima. Delicada, retira uma caneta fincada em um dos poucos bolsos do vestido e transcreve com a sua fina caligrafia um número de três algarismos. 241.

Números que não seguem sequência lógica, pois, a lógica está em seu olhar que se encontra novamente com o garçom, dessa vez do outro lado do restaurante com um Monti Del Soli em mãos. Joga o guardanapo próximo à taça sem licor e escolhe a saída da esquerda.

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Caminha com a indiferença e alarga os passos com ansie-dade. O frio da noite balança suavemente os seus cabelos e o branco dos seus dentes alargam um sorriso ao ver o porteiro do renomado hotel de luxo e seus esmaltes vermelhos ace-nam em um movimento delicado. O elevador decide subir calmamente, pois, a sua beleza está dentro dele. Sem nada em mãos, apenas retira a chave do 241 ao chegar na porta, destranca e caminha em direção à cama do quarto principal. Se joga vorazmente e retira com os próprios pés, os sapatos. O relógio da cabeceira se encontra com o seu olhar que começa a contar os segundos. Minutos. Uma hora.

Ele bate na porta. Dois toques e entra. Caminha em direção ao quarto e você observa o mesmo smoking, mas, sem a ban-deja prateada. Seu corpo não quer sair da cama e pede para ele retirar o seu vestido. Com sorrisos cafajestes, seus lábios se encontram e ardem em um beijo com gosto de licor misturado com um vinho tinto bordô. A noite estrelada começa.

Seus lábios dizem palavras maravilhosas e suas unhas in-sistem em retirar a calça dele. O ambiente começa a perceber que a sua ansiedade arde com o prazer e calor fincado em seu peito. Mas ele só retira a gravata e a camisa social e insiste em penetrar os lábios em seu corpo sendo despido. A noite estrelada de trinta segundos. Ele para no ar e seus olhos o fitam surpresos. Mas o garçom apenas sorri e retira do bolso a arma branca letal.

Não há tempo. Suas delicadas mãos tentam segurar a barba dele, porém, o corte é profundo. Seu vestido de cor indecifrá-vel começa a ficar vermelho. Com o peito nu ele te deixa fitar o teto do luxuoso quarto e ignora os seus gritos afobados do ar se perdendo.

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Veste o smoking e caminha até a portaria. Sem estampar um sorriso, sua fisionomia volta para mim que lhe entrego o bolo de dólares. Sorrio. Enquanto ele vai embora, termino de escrever em meu diário. E escrevo sobre os seus olhos, lembrando-me do seu sorriso de uma hora atrás.

Olhos acirrados, que jamais acordarão.

Verde“O que me matou?”. Ela foi delicada com as suas palavras quando me fez esta

sublime pergunta. Tentei desviar o olhar, ao passo que car-regava nas mãos uma modesta taça barata com um pouco de Martini e uma azeitona para enfeitar aquele tom esverdeado, que fazia jus ao frio do lado de fora e a solidão daquela sala. E as lágrimas decaiam dos olhos dela sem hesitar o brilho certei-ro dos seus lábios. Por ventura, o brilho que eles extraiam era do lustre acima de nós, que reluzia uma luz fraca, capaz de cegar quaisquer feições que me atentaria. Coloquei o Martini na mesa e continuei a fitá-la, ou assim dizendo, a assistir suas próprias feições enigmáticas.

Com suas unhas delicadas tocou no vidro barato da taça barata e desviou o olhar para as folhas verdes da árvore do jardim que carregavam o peso sereno da noite serena. A pe-quena escuridão só não era vasta, devido a luz que florescia o esverdeado. Ela atentou-se ao afora e tentou-se disfarçar o peso dos seus olhos.

“O que me matou?”. O soar das suas palavras ainda era monótono. Ela levou um gole da bebida aos seus doces lábios, lambeu-os e em seguida fitou o anel de esmeralda em seu dedo

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médio da mão esquerda. Não pude deixar de reparar em suas nuances e no silêncio que aquela sala começava a aplumar.

O canto da coruja não se fazia presente, assim como o som dos grilos sob a noite estrelada. A fraqueza da luz do lustre reluzia o brilho intenso de seu vestido simples que se tornara esverdeadamente bonito. Foram minutos de silêncio, olhares trocados para a copa das árvores, o Martini esquentando e o anel sendo o centro das atenções. Eu mantive o meu silêncio, enquanto ela manteve a sua seriedade sólida. Enquanto ela manteve o drama da solidão.

“O que me matou?”. A sua pergunta ainda era a incógnita que jamais pude decifrar minunciosamente. Ela desviou a sua atenção do anel e virou-se diretamente para mim. Foi rápido. Doloroso e rápido. Três cortes na garganta e observei os tons vermelhos se acoplando aos tons frios da mesa, enquanto o seu braço decaía sob a mesma, seus olhos fechavam e o Martini espatifava-se no chão.

O líquido esverdeado escorria sendo misturado com o avermelhado, formando uma cor indecifrável, porém, bela.

Mantive a seriedade e a fitei no seu fim. As mãos sujas desapegaram-se da faca. E a sua pergunta ainda perdurava em minha mente, como um zumbido sem fim.

“O que me matou?”. Ainda tentava responder ao que ela tanto queria.

Enxuguei os meus olhos verdes (que tanto fora elogiados) e contentei-me com:

“O que te matou foi o amor”.

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Gabriela de Aquino Costa

Gabriela de Aquino Costa, descendente do povo Munduruku, é graduanda em Medicina Veteri-nária pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e membro fundadora da Academia Jovem de Letras de Lorena. Nascida entre pais escritores e professores desenvolveu o gosto pela leitura e escrita desde muito nova. Recentemente, alguns de seus textos foram publicados, pela primeira vez, na Revista Leetra Indígena, da Universidade Federal de São Carlos.

Nascimento Ao meu anjo querido.

Era uma vez um anjo.Pequeno e lindo. Ingênuo, puro, não sabia nada do mundo.

De repente, caiu. Escorregou de bumbum e tudo. Deixou a fralda escapar, deixou a chupeta rolar, viu uma ultima vez o pote de ouro no final do arco-íris. Sentiu pela ultima vez o frescor do ar. Assustou-se. Caiu tão fundo, tão fundo, e não havia chão. Estava escuro. Teve medo. Quando finalmente sentiu algo, percebeu que era quente e acolhedor. Onde estaria? Não sentia fome; não tinha sede. Às vezes dormia. Outras sentia-se tão apertado que danava a espreguiçar-se e numa dessas, percebeu que algo o mantinha ali. Era macio e firme. Chutava com força, mas nada acontecia. Cansava-se e então dormia.

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Um dia acordou exausto, queria sair dali. Empurrou, em-purrou, empurrou. Chutava, espreguiçava-se, e por fim, saiu. A luz era forte, o ar era frio. Chorou.

Depois disso, não se lembra. No seu interior sabe que depois de um tempo, as crianças esquecem o que foram no passado para viver uma vida plena no presente. Não sabe como sabe disso. Mas sabe. Porém, não acredita. Cresceu sem acreditar. É uma criança em conflito. Um ser errante. Judiado, maltratado. Divertia-se pra depois chorar. Aprendeu a se proteger, aprendeu a se fechar. Protegeu as lembranças, criou amigos. Criou mundos. Refugiava-se dentro deles para escapar da dor. Não foi criança. Cresceu. Não conheceu Peter Pan, não quis ir para a Terra do Nunca. Matou Sininho e a Chapeuzinho Vermelho. Não conhece Lobo Mau, mas acre-dita nele. E tem medo. Odeia os homens, odeia a terra, odeia o lugar onde nasceu. Odeia Deus e o Diabo, sem nem mesmo acreditar neles. Odeia não acreditar em quase nada. Odeia desconfiar de todos. Odeia anjos e demônios, sem nem saber que já foi um deles. Pobre menino. Pobre anjinho. Não é mais uma criança. Já cresceu. E nem se deu conta.

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EsperançaAqueles olhos caídos que me conquistaram. Andaram

me perseguindo por um bom tempo e depois me deixaram a mercê do mundo. Aquela cor, aquele jeito. Ensinaram-me só pelo olhar que amar é muito mais do que eu imaginava e que a vida tem a cor que você pinta. Escolhi o vermelho para representar esse amor. Escolhi o vermelho pra representar a minha dor. Vermelho do sangue, da guerra; vermelho do amor e da terra. Vermelho que sou eu e você.

Aqueles olhos... Aqueles olhos vorazes. Foram a ultima coisa que eu vi. O profundo azul do mar que me puxava para si. O abismo perfeito para se jogar; ou o labirinto perfeito em que se perder. Chamavam-me para a fantasia, para o desejo, para a loucura. Eu já não sabia mais viver, só a sonhar. Meu mundo era o seu mundo. Minhas vontades eram suas vonta-des e seus tormentos eram os meus tormentos. Éramos um. E, como um, morreríamos juntos. E era para ser assim. Mas não foi.

Naquela hora, naquele momento. A vontade, o amor, a promessa. Tudo se quebrou, se rompeu e eu me senti vazio, mas cheio de vida. Eu vi que não devia ser assim. Mas não deu tempo. Você não ouvia mais a minha voz, se entregou a plena convicção que era o certo a fazer. Não entendia mais nada, só queria acabar com a dor. O cano na cabeça; as lagrimas a rolar pelo rosto; o pedido silencioso de perdão; e o som. Alto e forte. Você caiu; eu caí. Nos seus olhos o ultimo brilho de esperança desaparecia.

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O jardim do Amor. A brisa toca os meus cabelos e me arrepia. Serena, a manhã

chega, trazendo consigo todo o esplendor do dia. E carrega nas costas um significado ainda maior do que apenas "amanhecer o dia". Traz, em seu céu tão azul de imensas nuvens brancas e nos galhos de árvores tão verdes onde o sol insistentemente sua luz derrama, um significado único e intenso. Não, não para todos, mas para um; para dois. Duas pequenas criaturas que na imensidão do mundo são nada, mas que em seus próprios mundos são tudo. Cada um para si e para o outro.

Pobres mortais. Utilizam-se do terrível amor para juntar-se, e confiam a ele docemente suas alegrias e temores. Pobrezi-nhos, soubessem eles que Amor é um menino arteiro e muitas vezes arruma confusão.

Pensamento soltoVi o seu retrato na parede do meu quarto, vi o seu retrato.

Na parede do meu quarto eu vi o seu retrato. Seu retrato pendurado na parede do meu quarto eu vi, o seu retrato na parede pendurado no meu quarto. Eu vi. Sorri. Pensei. Seu retrato pendurado combina com a parede do meu quarto.

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(Gustavo Diaz) Tsukkiame

Gustavo Andrés Diaz (Tsukkiame), 18 anos, es-tudante. De nacionalidade argentina, precisou se adaptar à nova língua levando-o a ler desde pe-queno, o que fez o gosto pela leitura ser algo muito presente no seu dia-a-dia. Tenta colocar os pequenos detalhes diários no papel com um ponto de vista divertido e poético.

Coa dor Coador.Que ou aquilo que serve para coar.Queria eu que a dor não fosse líquida e sim sólida,Para que o coador que tenho no peito impedisseEssa mistura catastrófica de dor e alma.Deixasse a felicidade passar livre,A dor contida, para depois sóEsquecê-la.

Selecionados (mini-coletânea de sem títulos)

Talvez cada fio solto do moletomseja o motivo do teuf(r)io a mais.

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PierrotQuero ser teu palhaço.Mímico, dançarino, piadista...Em busca dos teus braçosAonde sei que dramaticamente me desfaço.

Quero ser bardo,Para citar-te em meus cantos.Com flauta e bandolimPor todos os cantos.

Quero ser menestrel,Para contar aos reis e rainhasA nossa história cheia de floreios Escrita num pedaço de papel.

Queria eu ser trovador,Sem rumo, sem preocupaçõesSó viajando e cantandoDe voz solta, um eterno sonhador.

Me deixe ser teu pierrotAquele que te faz sorrirSem preço, sem conceitoE com fé aqui encerro.

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UniversosLendo por aí me deparei com a seguinte afirmação:Muitos mundos podem ser possíveis.Parei imediatamente e comecei a pensar.Quantos eus existiriam?Em quantos deuses eu acreditaria?Ou será que eu ateu seria?Estranho.E meus amigos? De quem seriam?Falaria mandarim, alemão ou francês?Será que nasceria japonês?Não sei ao certo.Mas pensar em outros universos me hipnotiza, me fascina.Quantas constantes seriam quebradas?Novas leis surgiriam?A gravidade ainda existiria?Por mim, até numa nebulosa viveria.Assim fico.Sem chão, flutuante.Calculando as estatísticas e probabilidades invisíveis com

minha imaginação.Até chegar num outro mundo consigo, mas sempre volto

quando a fome de informação me chama de volta para por os pés no chão.

E volto a pensar, quase sóbrio: que livro estranho é esse que li?

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CicloCicloQuando não terminamos, é inacabadoJá concluído, chamam de infinitoSão tantos que mal sei citá-los.O da vida: nascer, viver, morrerUm dos mais importantes e polêmicos,Se recomeça, aonde iria a vida após a morte?Seríamos absorvidos?Um bocado de sorte.No fim o que se quer saber:Nos (re)ciclamos ou do pó ao pó voltamos?

Selecionados (mini-coletânea de sem títulos)

A vejo como linha curva.Linha. Traça.Linha. Cruza.Quando faz curva,Já não é mais linha.É minha.

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Selecionados (mini-coletânea de sem títulos)

Dama da noite. Ninguém vê. Só se sente, ouve. Um sorriso no escuro.

Sem título calorentoSuor. Consegue sentir o calor? Os movimentos são ofe-

gantes, olhares fixos. Prazer. A dança balbuciante transcorre noite adentro. A energia se dissipa em cada encontro de lábios. Carícia. O predador, incontrolado pelo desejo de prender sua presa no jogo, segue a coreografia pulsante. Murmúrios ao pé do ouvido. Espasmo. A velocidade aumenta, a inércia ilusória impede a percepção dos reais sentidos. Só sobraram os falsos: os sentimentos.

Perdeu-se a delicadeza. O uníssono de monovocábulos ecoa. As percepções se misturam. Noite agora é dia.

Pupilas se contraem.Ansiedade.Amor? Não, calor.Fadiga? Nua.No ápice: calaram-se.

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Gustavo Rodrigues Alves

Gustavo de P. Rodrigues Alves é um estudante amante da literatura e da política, autor do blog Recanto de Letras (desde 2010) e membro fundador da Academia Jovem de Letras de Lorena aos 18 anos. Começou sua escrita poética ainda muito jovem, aos 8 anos, tendo se dedicado mais profundamente a esta arte apenas aos 14 anos. Nesta mesma época recebeu o convite da Acadêmica Regina Rousseau (da ALL) para começar a frequentar as Reuniões Literárias. Neste contexto, apaixonou-se ainda mais pela escrita e desde então tem se dedicado a escrever tanto poesias quanto projetos de cunho social.

Inspiração dos CéusChegou a mim...Demasiado calmo e profundoTão sereno quanto a chuvaE tão passageiro quanto a vida...

Chegou a mim...Direto da perfeição a esta humilde realidadeFez das nuvens seu tapete vermelhoE a Terra tornou-se, rapidamente, o palco de seu admirável espetáculo...

Ó excêntrico e irônico sentimentoNão me venha ser efêmero como as rosasMas como as árvores do mundo, grandes e de profundas raízes

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Fixe aqui, em meu solo fértil que os próprios deuses areiamBrotar suas sementes de amor e paixão Neste coração embriagado pela maresia suave e perfeitaDos mares desconhecidos, que circundam, o paraíso dos sonhos...

És tu, VênusQue desce do céu todas as noitesA qual vencido, me rendo á teu brilho Entrego-me ao prazer e a pura perdição do desejoLeve-me contigo, a cantarolar pelo universoFaças de mim parte de teu brilhoEntão juntos, eternos amantes seremos;No paraíso dos sonhos, no mundo das floresno olhar profundo e apaixonado, de dois jovens corações entrelaçados...

Voo ao AmorSou um pássaro voando solto Rasgando ventos em meu voo. Vou procurando os sonhos meus E nos meus voos encontro os teus.

Voam juntos os amantes, Nesta linda odisseia... O infinito é o palco, e as estrelas, a plateia

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O sol é o regente desta orquestra sideral.

Neste voo de incertezas, são os anjos que me dão asasAh! Como estes voam calmos Plainam suavemente em seu voo Suave como seus perfumes... Ah! E tuas vestes brancas e compridas Sopradas pelos ventos brandos...

Ó, Poetisa minha, Se são dos anjos minhas asas Quero que sejas tuas, as minhas Poesias...

O Poder dos Sonhos (7.11.11)Suspiro lentamente como o marCrio minhas ondasAcalmo minha alma;Ouço o bater do meu coraçãoVejo ao horizonte do meu infinito ser, uma luzÉ o Farol guiando-me rumo às flores.

Acalmo meus olhos, enquanto minha imaginação se projetaAh ela imagina muitoEla é um livro eterno, sempre a mudar;

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Enquanto as pragas da natureza enxergam escuridão ao adormecer os olhosAs flores assim como os Poetas enxergam o clarear de um novo Paraíso.Percebes também, como vemos mais, quando nada vemos?

E foi assim de olhos fechados, que encontrei a PazPois quando nada se vê, tudo se pode, tudo se encontra.Nesse vazio imaginário, desenhei minha eternidadeComo forma de entender minha existência...Se um sorriso conquista Horizontes A Verdade coloriria meu arco-íris.

Infância Estou velho, mais velho que ontemE velho, sinto falta do ontem E se velho estou, saudades não me faltamE se velho eu acreditar estarMinha infância continuará a se perder.Certas vezes, me faço criançaPois, admito...Sinto falta de reviver e viverMinhas velhas lembranças.

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Natal! (15.12.2010)O Natal está chegando Junto dele todo espírito Natalino Preparativos já são realizados Para que este grande dia seja lembrado!

Natal, é o tempo de luz e emoção Natal, é o "futuro" inovador Para um novo ano, de Paz e Amor.

Noite de Natal, é noite de alegria Onde juntamos todos da familia E celebramos em harmonia.

Que a Paz reine neste dia abençoado Seja na cidade ou no sertão... Mas também em nosso coração!

Que o dia do nascimento, do menino Jesus Seja lembrado e festejado Pois foi ele quem nos trouxe Paz e Amor E livrou o mundo de toda dor!

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Heron Freitas

Heron de Freitas Santiago, lorenense, 26 anos e é membro fundador da AJLL. Com uma criação diversa e repleta de boa vontade, cresceu sendo estimulado à plu-ralidade e à integração de conceitos. Tendo as artes plásticas como expressão artística primária procura compor seus textos de forma libertária sem amarras de qualquer espécie para traduzir com propriedade o que transborda de si.

Engraçado como é tão fácil dar nome aos meus rabiscos, e tão difícil nomear meus textos.

Suponho que esse fenômeno aconteça por osmose. Pinturas carecem de palavras, textos não... Textos já são

cheios de palavrinhas. Não, a verdade é mais simples. Não gosto dar nomes aos bois que escrevo. Poderia até, quem sabe, desenhar um título pra cada um.

Não que eles sejam carentes de imagens, ao contrário, teria que pintar minha vida inteira, e nesse caso, a própria poesia se intitularia.

E como se ela nem acabou? Que sentido teria? Não. Títulos estão para os preconceitos assim como donze-

las inocentes estão para trilhos de trem. Seria um preço muito alto pela organização.

E convenhamos, azar dos acostumados e preguiçosos.

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Um livro sem títulos e sem índices é um livro novo o tempo todo.

Meus índices são livres. E mais, quem for ler (se alguém ler) que se coce com sua busca. E não numero páginas também. Já é bondade de mais elas permitirem que tatue minhas

ideias em algo tão pronto e puro quanto o nada de suas existências. Não é justo encabresta-las com números tão pe-nitenciários.

Livros não são prisões, são garimpos... Quem lê, peneira... Bobagem numerar as águas.-Quando um dia estiver sem referência Seja de grandeza ou miudeza Tente contar as linhas da palma de uma mão Ou palmas nos aplausos de uma multidão

Oferecer é coisa besta Toda fruta tem seu tempo Quando este chega ela pede pra cair, não é o chão que se oferece pra abraçar O chão nada enjeita nem refuga ninguém Tudo isso oferecendo nada além de sua plena existência Pobre homem a coitadizer se Que nosso tempo de chão chegue -

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A gente sabe que o dia foi bom depois que ele passarinha e vemos a quintanada de coisas que fizemos!

-Segundo minha gula Gullar: arte, porque a vida não basta.

Meus calcanhares me aguentam enquanto eu viver Mas minha arte vive mais... Minha arte vai viver enquanto existir alguém desinteressado o suficiente pra olhar pra ela sem se importar com os pilares em que me apoiei pra concebê-la Arte é mais que antropofagia, arte é aboporunica.

-Um sol inteiro pra fazer chover. Mares de ossos virgens pra sustentar as carnes batidas que

se misturam como se nem matéria fossem. Euforia sublimável em todo poro destampado pela intimi-

dade de viver e de morrer nos braços um do outro. Só o toque apaga o toque. Só o carinho entre árvore e gravidade gera amor tão sem

vergonha a se apagar e renovar a cada folha que voa. Toda despreocupada de incomodar os quintais e com

tempo infinito pra flertar com as vassouras.

Quando não podemos nos alcançar O mais próximo do toque é a gente mesmo As linhas tremem, o garrancho é fato Mas me ensinaste que em linhas tortas também se escreve certo Mais que isso, me ensinou a escrever a duas mãos Somos coautores, hora das linhas, hora dos garranchos De mim De ti

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De nós dois Criamos um ritmo próprio O contraste nos harmoniza As pausas fortalecem o timbre das pautas, cordas de um

violão infinito Até o que parece ser vácuo é escrito, é suado, é soado E nunca paramos, pois estamos juntos a estrelar um espetácu-

lo para nós mesmos e nada é tão pleno quanto escrever, dirigir, estrelar, vaiar e aplaudir ao mesmo tempo sem nunca atuar.

-Não é carne, é a carne dela.Lento o calor divaga. O suor seca na pele mantendo densa a atmosfera da ausência. O ar pesa sem cessar a gula de cheirar a ela. O cheiro dela. O calor abraça, desconforta, mas não cala. Calo eu em todo

verão daquele corpo porque entendo que não haverá um mo-mento em que nele não queira repousar. Parar. Me embrenhar.

Ânsia préamar, próamar, paramar. A suculência do toque morde, lambe e absorve cada tonto

ponto do nosso mal passado amor. Essência ao ponto. Os olhos abrem, o calor continua. Já é hora dela chegar... Já é hora d'eu chegar. Porque não é a carne, não é carnal é apenas o sinal para

que os anjos corem sorrindo para as próprias borboletas no estômago.

Queria te dar uma flor antes de qualquer dor. Queria te dar cor depois do amor e sempre mais amor entre cada calor.

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Kalho pavor. Amor...Fogos de artifício pulsam vitais em nosso corpo. Nos derramamos pelas veias do universo percolando

cada fresta nossa. Desembocamos no mar que nos contém enquanto contemos o mar da vontade eterna. A Vontade de me meter dentro de você, de você me lambuzar de calor, de nos amarrarmos de ardor.

À vontade Amor. Amor...Lindo né? Cósmico e tal. Mas a verdade é que eu queria

te comer e te enrabar da maneira mais imunda do mundo, te foder com a força de todos os superlativos, diminutivos, intermediários, palavrões, calões e silêncios. E o mais lindo disso tudo? Que só é possível porque você quer o mesmo. Ser santo é fácil, mas se entregar ao ponto de ser o verme do suíno é foda. Literalmente foda.

E sabe o que mais? Deus tem um portfólio que serve pra ser mostrado a cada página dele mesmo exaltando a brusca igualdade entre o tudo e o todo. Quando meu amor me faz amor Deus me mostra nossas páginas e eu nos leio em cada linha apagada do universo.

Então o respeito só diz respeito a mente que habitamos e ao tanto que sonhamos, porque lá no fundo somos santos suínos chafurdando na lavagem da pureza que nós mesmos criamos e descartamos.

-Arte é a percepção da utilidade da vida. Útil é tudo aquilo

que pode ser usado para uma finalidade. Fim é o ente virtual de separação entre um e outro agir. Ação é do que se chama a

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arte que não sagrou-se arte. Sagrado é emoldurar cada divisa do todo. Moldura é o que todos os sentidos se esquecem de ser.

Ser é ser mesmo.

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Isnaldi Rodrigues de Souza Filho

Isnaldi Rodrigues de Souza Filho é engenheiro de materiais e atualmente é aluno de mestrado na universidade de São Paulo com atividades desen-volvidas no Instituto de tecnologia de Karlsruhe (Alemanha). Tem se dedicado exclusivamente à escrita científica voltada para os trabalhos que desenvolve profissionalmente. Também escreve poesias como forma de descrever suas observações e experiências do cotidiano

Mais um outono europeuAs folhas amarelas das árvores, o sol num ângulo agudo no céuO vento frio que por ser tão fraco nada esfriaParques, praças, cafésJá diria uma amiga, cenário bucólicoAndar sozinho pelas ruas é ser devolvido para mim mesmoDevolvido para as lembranças de outroraQue pareciam tão distantesMas agora emergem com uma força impetuosaSaudade o mais intenso e traiçoeiro dos sentimentosDeliciosamente viciante como uma drogaQue não me consome o físicoA única consequência: o encarceramento nostálgico da alma

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Eu não me importo, já sou prisioneiro dos meus pensamentosDas minhas paixões, das minhas ideias, não das minhas atitudesAtitudes simples como andar olhando para o chão ouTrocar olhares com uma linda moça, que cruza por mim na ruaUma paixão de dois segundos, eternos. Resumidos em dois passosO primeiro me escraviza na paixãoO segundo, lá se foi tudoE eu nunca mais a verei-Como um alquimistaDilui parte da minha vida em uma bebida caribenha.Não gostei do resultado, então, joguei tudo fora pelo ralo.Do restante da minha vida, Metade queimei ao longo do comprimento de um cigarroe o que sobrou da minha vida foi você.Sobrou você, a parte mais bonita e pura do meu ser.

Simplesmente você, que não me ama, que não me amou, não me aceitou, não me quis.hoje com minha vida se findando eu percebique você é a força da minha doençaé o alimento da minha tristezaé a vida da minha morte.

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Manter você viva em mim foi matar a mim mesmo,pois ao contrário do que pensava,Você não é a parte bonita de mim.A bonita?Foi-se pelo ralo e sublimou durante a queima do cigarro.-Decidi ser poetaNão por ser um amante da naturezaDecidi ser poetaNão por ter o hábito de me perder à noiteNas ruas, na companhia de uma garrafa vazia.Decidi ser poetaNão por amar uma mulher que não me quer.Decidi ser poeta,pois ser poeta é viver na sutiliza alegre das pequenas coisas da vida.-Acordei com saudades, vó.Levantei assustadoO coração acelerado rompia o peito.Corri para a cozinha e lá não te encontreiSala, quarto, quintal. Nada!No jardim, somente suas flores.

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Mas de repente um vento calmo cortou meu rostoOlhei para o céu,Azul como o manto de Maria.Só então percebipercebi que sua presença em mim é eternaComo para sempre o céu será azul.

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Jéssica Carvalho

Jéssica Carvalho é uma eterna sonhadora que se aventura pelo mundo sublime das palavras. Bacha-rela em direito pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo - U. E. Lorena (UNISAL); estudante de pós-graduação em direito material e processual do trabalho pela mesma instituição; membro fundador da Academia Jovem de Letras de Lorena (AJLL), tendo como Patrono Padre António Lages de Magalhães; autora de artigos científicos. “Aquilo que está na mente e no coração torna-se eterno quando é cuidadosamente exposto em uma folha de papel”.

Um barquinho e seu sonho ...Era uma vez um barquinho...Um barco cheio de sonhos, firme e ousado. Um barquinho sabedor das inúmeras dificuldades que

o rodeava, mas que muito se esforçava para realizar tudo o que aspirava. Sonhando encontrava toda força necessária para seguir.

Esse barquinho sabia que para substancializar seus sonhos precisava navegar em águas mais profundas, inclusive contra a maré.

E então, em um dia, como em um súbito, percebeu que navegava em mares desconhecidos.

O barquinho começava a concretizar os seus sonhos. Conse-guia vislumbrar o que até então estava apenas no seu íntimo.

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Nesse momento, outros barquinhos pararam para vislum-brá-lo. Tinham certeza de que ele voltaria em pouco tempo; acreditavam no rápido esgotamento e que se renderia a saudade.

Mas outros, tantos outros, o ajudaram e, muitas vezes, acreditaram nele mais do que ele próprio, e isso o fortalecia.

O barquinho partiu, mas sempre retornava para rever os outros barquinhos.

Ao longo da construção dos sonhos, o barquinho conheceu outros barquinhos que sonhavam igual a ele, e passaram a compartilhar as vitórias e as lutas de cada escolha.

O barquinho lutou muito pela realização dos sonhos, pas-sou por grandes tempestades, e seu casco acabou ficando mais resistente e preparado para as altas correntezas.

O barquinho sabia, mais que tudo, que um capitão, senhor dos mares, o guiava e o fortalecia. Tinha nele o seu porto seguro.

Nessa travessia, o barquinho foi criando sonhos além daqueles que o fizeram sair do seu conforto. Muitos foram se realizando.

O barquinho navegou tanto que não conseguia mais avis-tar o ponto de onde saíra, mas sabia retornar. Sabia que suas raízes eram o maior aconchego que poderia ter.

O barquinho estava convicto de que não dava mais para voltar.

Nesse momento, o barquinho está em meio a águas pro-fundas, ao lado de barcos grandiosos.

Sabe que há ainda muito para navegar; mas que pode ir muito além de onde já chegou.

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O barquinho sabe que as realizações podem advir não ape-nas das águas calmas, límpidas, mas, também dos momentos de desesperos, que devem ser vistos como possibilidade de crescimento.

Esse barquinho pode ser um pouquinho de cada um de nós.Às vezes, nos sentimos tão fracos e pequenos que paramos

para apreciar a vida sem qualquer perspectiva de crescimen-to. Em outros momentos nos vemos com tantos sonhos, mas sentimos incapazes de dar azo a eles.

Há circunstâncias que mesmo dando passos na construção dos sonhos, nos sentimos fracos ao longo do caminho, e se algo não acontece da forma como desejávamos, sentimo-nos fracassados e sem razões aparentes para seguir.

O certo é que nem sempre o mar estará calmo, as águas não estarão eternamente tranquilas, as tempestades e os ventos fortes virão... A vida é assim...

Mas o que importa é a oportunidade de sonhar e de realizar os desejos do coração.

É certo que sempre haverá uma plateia cuidando de cada barquinho que dispõe a lançar-se em águas mais profundas.

E acima de tudo, há um capitão que independentemente de qualquer situação, rege toda travessia. Abençoa os planos, possibilita ou não a realização, em prol de algo maior, e ama. Há um capitão que ama incondicionalmente cada barquinho sonhador.

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Um sonho que se realizaSua chegada não me pegou de surpresa; mas não sei dizer

se estou preparada para o que me espera. Não sei se estou pronta para ver a concretização do que sonhei.

Tudo aconteceu rápido. O tempo passou tão veloz, mas os sonhos foram sonhados devagar.

Tudo parecia tão impossível, tão distante e inatingível. Mas as dificuldades não venceram e deram lugar ao belo.

E agora, tudo estando tão iminente, só posso dizer que não dá mais para voltar.

O barco já está muito distante do seu porto seguro, e querer voltar seria arriscado. Muito mais do que avançar.

Chegou o momento de viver o que há de mais belo. Não como o fim simplesmente, mas como possibilidade de ir além do que pode ser imaginado. Aliás, como sempre aconteceu...

O barco está cheio. Lotado de passageiros com papéis grandiosos. E seguirão juntos.

Há ainda, muitas escolhas a se fazer. Várias metas a atingir.Também há o desejo de que todas a preocupações sejam

enterradas. O tempo é belo demais para ser confundido com mesquinharias.

As forças estão renovadas, as redes estão lançadas.E hora de colher com carinho tudo o que foi plantado.O Sonho se realiza.

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Julia Pinheiro

Julia Pinheiro é estudante de Engenharia Química, Técnica em Química, autora do blog “Espelho da Julia” e membro fundador da Academia Jovem de Letras de Lorena. Sua trajetória literária iniciou-se aos 8 anos, quando ganhou uma bicicleta num concurso de redação promovido pela cidade de Lorena. Apaixona-da por livros e por falar da vida criou o blog em julho de 2011 e desde então nunca mais parou de escrever, sendo hoje uma das colunistas do portal de notícias “O Lorenense”. “Minha vida não é um livro aberto, mas abro meu coração para ajudar o próximo, para as pessoas que amo e minha mente para tudo aquilo que é novo e torna o meu mundo mais feliz”.

Amada Carolina(Poema em homenagem a Carolina Staut)

Mulher virtuosa, seu valor excede ao de rubisMulher guerreira, de verdadeMulher destemida, segura no seu DeusMulher amada, por muito amar também.

Nada superará sua ausência físicaNem a dor no coração dos que deixouMas seu exemplo de vida e seu legadoSerão lembrados por muitas gerações com louvor.

Não precisei conhecê-la para saber que é lindaSua beleza está estampada em tudo o que fezE nunca precisarei questionar seu caráter

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Pois tem a admiração e o respeito até de quem não a conheceu.Sou agradecida pela oportunidade de resgatar um pouco

da sua históriaFalar de seu amor, humanismo e perseverançaMulher que soube viver a maré da vidaE que encheu nosso mundo de alegria e esperança.

Posso ajudar?Eis que ouço essa bendita saudação assim que pus meu pé

esquerdo num certo estabelecimento lorenense. Isso porque a vendedora estava bem na porta da loja, atrapalhando a en-trada e assustando os clientes. E eu, que ainda nem sabia se queria entrar ou não, só não saí correndo porque o impulso consumista falou mais alto.

Então eu disse logo: “Queria saber se vocês têm fones de ouvido com...”. Óbvio que nem terminei a frase quando ela berrou para a colega que parecia estar a duas quadras de dis-tância: “Ô fulana, mostra pra ela os fones que têm aí”. Para não ser indelicada, fui até o fundo da loja, onde me apresentaram apenas uma opção do produto desejado. “É tanto”, “Mas têm outros modelos?”, “Têm aqueles ali...”.

Eu mereço isso, produção? É verdade que sou o tipo de cliente chata, que pesquisa e pergunta bastante antes de comprar. Gosto de ver todas as opções para então decidir o melhor custo-benefício. E não gosto de atendentes na minha cola, como se eu fosse roubar alguma coisa. As pessoas pre-cisam de espaço!

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Por favor, vendedoras e vendedores, dirijam-se aos clientes de forma calma e atenciosa. E mais: que os colegas fiquem espertos caso o cliente já tenha sido atendido, pois não é le-gal quando, dos 1000 vendedores da loja, 999 perguntam se o cliente precisa de ajuda, sendo que ele já disse não a pelo menos 998 e queria apenas olhar a vitrine e esquecer a vida por uns instantes.

E tratem bem os clientes! Pode ser que eles comprem hoje, ou não. A aparência diz o quanto a pessoa pode gastar? Não, nem sempre. Um pouco de simpatia e um tom de voz agra-dável não fazem mal a ninguém e podem garantir a venda de hoje, ou não.

Escritora, eu?Se escritora é quem escreve então sim, sou escritora, assim

como boa parte da população também o é. Mas não, não sou somente escritora. Sou aquela que fala da vida como ela é, com seus amores e tragédias. Sou aquela que escreve o que pensa, mas que não pensa o que fala, e que muitas vezes não fala o que escreve.

Usando-me um pouco de Clarice Lispector, “Sei que o que escrevo aqui não se pode chamar de crônica nem de coluna nem de artigo”. Mas o que seria então? Não sei. E acho que gosto dessa indefinição. Sinto-me mais livre.

Quisera eu ser contadora de histórias e de romances proibidos, desvendar um mistério, ou quem sabe até fazer uma grande des-coberta científica. Ainda não desenvolvi nenhum desses incríveis talentos. Quem sabe um dia.

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É diferente aquele que escreve para si do que o que escreve para os outros. Quando eu escrevo para mim, é meu verdadeiro eu que está ali, o que todos deveriam ver. Mas quando escrevo para os outros, parte de mim é escondida ou melhorada para que todos possam apreciar a leitura. Não gosto dessa diferença. Queria que ela não existisse, mas ainda não chegamos nesse nível.

Enfim, tudo isso foi para dizer que as expectativas são gran-des, mas que eu ainda não escrevo de forma proporcional ao número de ideias na minha cabeça. Isso porque tem dias que elas nem aparecem. Como hoje. Mas nem por isso deixo de, pelo menos, tentar escrever sobre o que estou sentindo ou sobre o que vi na rua.

Como hoje, em que vi um bebê sorrindo no colo de sua mãe que estava subindo uns 40 degraus da passarela do viaduto. Se eu também estivesse sendo carregada estaria sorrindo, mas a criança não sorria por isso. Ela sorria pela brisa em seu rosto, a mesma que eu quase esqueci de agradecer por estar focada de-mais no meu lamento subindo os mesmos degraus. Foi quando ergui a cabeça, olhei para o lado e sorri. Não tinha por que eu não estar feliz.

Querido ProfessorQuerido Professor,Por que a sua voz é tão mansa?Acho que faz parte da ementa nos motivar a dormir na aula.Contas, contas e mais contasJá conto os degraus da escada, as calorias do que como e meu salário no fim do mês

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Poderíamos contar uma história de amor pra variar?

Mas ainda bem que o senhor é uma pessoa boaResponde com clareza as nossas dúvidas e não nos trata com desprezoQue tal dar umas dicas pros seus colegas?Alguns gostam de nos fazer sofrer!

Um dia eu quis ser professoraPois admiro muito a arte de ensinarSeria como minha "tia" no jardim de infânciaDando beijos vermelhos nos alunos e ensinando-os a amar.

Querido professor,Sei que seu trabalho não é fácil,Mas não desista de nós.Nossa vida já é uma luta constanteEntão não complique a prova.E nem pense que não é ouvido. Não!É que estamos atentos ao sinal de ir embora.

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Lelienne Ferreira Alves Pereira Calazans

Lelienne Ferreira A. P. Calazans tem 18 anos, nasceu em Lorena, São Paulo. É técnica em Química, for-mada no COTEL, e possui uma sede insaciável de aprender coisas novas, o que a torna um ser muito curioso. Delicada e tímida são características que constantemente a descrevem, mas não se julga um livro pela capa. Ama ler, chocolate, viajar, sair com a família ou com os amigos.

PaisagemUma cadeia de montanhas em terceiro plano. No topo delas

ainda há neve e uma neblina densa cobre partes dos cumes mais altos. Graças à distância, sua cor não é distinta, pairando entre tons de verde, azul, branco e cinza.

Dá para ver uma cachoeira que se forma entre as montanhas, com as águas cristalinas correndo, gélidas e suaves, formando um rio que abre caminho, tortuoso, por entre a floresta de ár-vores altas e folhadas. Troncos grossos e cobertos de musgo, folhas nos mais diversos verdes, as mais claras no topo, lutando por um espaço com raios de sol.

Céu azul, parado. Nuvens, sem formas definidas. Nenhuma brisa, mas ainda sim, uma atmosfera fresca e aconchegante de um começo de dia. Raios de sol atravessam, com certa dificul-dade, as folhas das árvores, tocando o solo.

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Sob um desses feixes de luz, há uma menina lendo, delicada, trajando um vestido florido em tons pastel, muito simples, mas ainda bela. Seus cabelos, presos em um coque frouxo, estavam protegidos por um chapéu de palha decorado com pequenas margaridas silvestres. Embaixo da maior árvore da floresta, ela repousava imersa em suas aventuras, aquelas que só os livros podem proporcionar. Cheias de ação, mistérios, romances e tudo mais onde só a imaginação humana pode levar.

Não muito longe, vê-se outra menina, menor que a primeira, mas com roupas e traços muito semelhantes. Ela estava em pé, olhando fixamente, com um semblante sereno, um ponto que não se consegue identificar. Segurando uma cesta cheia de flores das mais variadas cores.

E ao seu lado... um borrão de tinta...Em um mundo distante, numa cidade urbana, roteada por

barulhos de eletrônicos, vizinhos brigando, buzinas e cheiro de poluição, uma garota tenta consertar, com lágrimas no rosto e um pincel na mão, o seu borrão de tinta.

A menina no espelhoO cômodo estava escuro, mas podia-se ver um pouco dos

móveis antigos e caros no quarto abandonado, o que me sur-preendia era o fato deles estarem tão bem conservados sendo que não morava ninguém naquela casa.

Minhas pernas fraquejaram ao entrar no quarto.Este lugar...Tinha certeza que nunca havia vindo aqui, mas

a sensação de nostalgia era quase palpável. Era assustador.

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I Coletânea da Academia Jovem de Letras de Lorena

A grande janela permitia que a lua iluminasse o quarto, mas ao mesmo tempo em que a luz prateada me permitia enxergar, também dava uma atmosfera misteriosa e nada convidativa ao local. O ar estava denso.

Dentre os móveis luxuosos, um em particular me chamou a atenção. Era um espelho. Ele estava no canto mais escuro do quarto, longe do resto da mobília, mas brilhava como se refletisse a luz do sol. Ele era muito grande, com o acaba-mento em madeira formando desenhos de espirais, estava extremamente polido e brilhante, era demasiado majestoso e belo. Sem mesmo notar dei um passo em sua direção. Meu coração pulsou forte.

É uma armadilha! A parte mais profunda do meu cérebro gritava. Eu sabia, mas não consegui parar. Dei outro passo em sua direção, quando cheguei mais perto, a luz refletida nele machucava meus olhos, me impedia de olha-lo diretamente. Porem logo sua luminescência foi amenizando até que con-segui ver meu reflexo.

Não pode ser...A menina era muito parecida comigo, mas não era eu...

Suas feições eram semelhantes as minhas: rosto pequeno e muito pálido, cabelos negros, mesma altura e corpo. Todavia o que me mortificou foram seus olho. Eles eram os meus olhos! Nunca vira antes alguém com olhos exatamente da mesma cor que os meus. Olhos violeta. E também nunca imaginei ver "meus olhos" tão sombrios e macabros em feições tão delicada quanto as minhas. Ela sorriu, mas não foi nem um pouco amigável.

Queria fugir, mas não conseguia, estava paralisada de medo. Quando ela percebeu isso, seu sorriso aumentou. Tentei desviar o olhar, mas minha visão estava presa naqueles "meus

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olhos". Não sei se ficamos horas ou segundos nos encarando até eu conseguir desviar a minha visão para baixo. Não foi uma boa ideia. Suas roupas eram iguais as minhas, o mesmo uniforme escolar com aquele terninho marinheiro ridículo, a saia e as meias 3/4. Entretanto, não havia sido isso que me deixou aterrorizada e sim o fato dela estar segurando uma faca ensanguentada nas mãos. Olhei para seu rosto novamente, seu sorriso demoníaco aumentara e virara um riso pavoroso.

— Q... Quem...?Ela parou de rir e olhou séria para mim.— Você sabe a resposta...Não consegui responder. Estava assustada demais.— Você sabe a resposta...lá no fundo você sempre soube... — Nã...— Quem?... Quem sou eu?!... - Seu tom baixo e intimidador

foi aumentando, cada vez mais furioso e macabro. Ela estendeu a faca e avançou em minha direção com o

resto distorcido de ódio. Foi então que o espelho se quebrou.Me joguei de joelho no chão, tão aturdida que nem me

incomodei com os cacos de vidro entrando em minha pele. Não conseguia me mover, a voz da menina ainda ecoava em minha mente. Ela ainda não se foi.

Eu levantei, olhei para a faca em minha mão e sai do quarto. Lá fora estava chovendo agora, porém, eu não me importava. Saí da casa e andei pela rua deserta, não tinha para onde ir, nem pensava no que iria acontecer.

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Não sei se foi a chuva, mas achei ter ouvido seu riso atrás de mim. Será que ela me seguira? Será que é minha imaginação? Ou ela estava da janela me observando?

Eu não tive coragem de olhar.

Sentido mortoChuva.Ouço pingos de chuva que caem no chão, nas folhas das

árvores, nas telhas da casa. Ouço o passarinho que voa para se abrigar no seu ninho, e o “piu” dos filhotinhos, ansiando por comida, seu canto alegra meus ouvidos. O barulho da TV da sala, distante, no jornal da tarde.

Terra.Sinto cheiro de terra molhada e do escapamento do carro

do vizinho, cheiro de chuva, doce e ameno, invade meu nariz causando cócegas. Cheiro de bolo caseiro da vovó. Quase pos-so sentir o sabor dele, quentinho e fofinho, derretendo na boca.

Vento.Sinto o vento me acariciando levemente, brincando com

meus cabelos, me causando arrepios, às vezes. Sinto os respin-gos da chuva em minha pele. Sinto o meu ir e vir na cadeira de balanço.

Tudo ao meu redor tem vida. É inconstante, porém belo. Todavia, é escuro, já não enxergo.

Apena ouço, apenas sinto...

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Lucca Ferri Novaes Aranda Latrofe

Lucca Ferri N. A. Latrofe é advogado, autor do blog Cunhos e Rascunhos e membro fundador da AJLL. Sua trajetória literária iniciou-se aos 11 anos, ocasião em que fora premiado pelo colégio Fênix pela redação denominada “Guapo Guanunbi". A partir de então envolveu-se em diversos projetos sociais e culturais. Com 17 anos publicou, em conjunto com dois amigos, um pequeno livro de poesias: "Heterogenia, confusa perfeição". Fora convidado para compor banca ava-liadora de concurso de poesias (promoção pela ONG Sítio do Juca de Guaratinguetá). Na sequência integrou a antologia poética do Vale do Paraíba (convite do poeta Tonho França).

Não me fale de amorPreâmbulo:

Há, sem sombra de dúvidas, uma infinidade de definições ou construções em torno do amor. Pequenina que é, a palavra tem potência inversamente proporcional ao lógico, abstrato ou leviano. Desafia o pensamento, sobressalta o coração e ma-chuca, escarnece – ao mesmo tempo que acalenta. É, repetidas e insistentes vezes, a maior contradição, antítese e paradoxo. É contrassenso, mistura, lavagem, redenção, amargura e se-dução. É poder, dever, saliva e sal. É fúria, ressaca e carnaval. É vida e é morte. É eterno e enterro. É sorte e é tentação. É, continuará a ser simplesmente por ele, pela plenitude e pelo mito, a soberania que emana de todo o resto. Todo o sensorial reunido dos estilhaços sangrentos, sangrados de cada senti-mento. Sagrado em toda sua manifestação. Safado em todos os seus favores. Consequente absoluto. Resoluto. Maldito.

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Dispositivo:

Está definido, decretado. Todas as disposições anteriores ficam revogadas. Está estipulado, sentenciado. Não há vali-dade no contrato trazido aos autos, porquanto não provado. Está transitado, consumado. Não há, outrossim, direitos rema-nescentes – todo o teor do quanto aqui disposto fica resolvido, intime-se. Está publicado, realizado.

Apélo! Meu apelo, meu pleito consigna o todo necessário que sobra do peito de cá – por meio dele, inclusive – e pelo amor de Deus! Amor… bagagem extraviada, contrabandeada dos rincões da solidão, perdida em planetas maiores ou menores, transmutada em bobagens e em sacanagem, valiosíssima, devidamente declarada. Faça esse favor: encontre essa mala, meus pertences! Sem prejuízo à clandestinidade, não prospera terrorismo ou marginalização. Permissa venia, o caso é outro. In casu o ensimesmado amor é corolário, consectário do absurdo, mas o é! E, por sê-lo, não se deve simplesmente escorrer em ilusionismos perfumados.

Não se deve, não se cobra e não se paga. Sem prejuízo às outras correntes, também não se apaga, eis que transforma-se em transformador automático e austero do próprio hospedeiro.

Contamina, dado que é viral, mas não extermina, não ex-tingue ou sobrestá. Suspensa resta a alma na pendência do incerto e não sabido.

Não me fale de amor. Amor é veneno camaleônico e religio-so. Nossas doses pertencem ao carcereiro de nossas próprias torpezas. Com esmero e devoção há, diariamente, novas admi-nistrações, afetas e indissociáveis ao conjunto de sua obra. De acordo e nos estreitos limites de sua bula. Como num tabuleiro,

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traçam as estratégias e jogadas exclusivas, individuais, irrever-sível e lamentavelmente subjetivas. Únicas.

É bem verdade que existem lugares comuns, postulados fundamentais, absolutos, ressonantes e, hora ou outra, irritan-tes. Não se aplicam. Não implicam. Nada, na realidade, fixará qualquer conceito.

O fio da faca é mais embaixo, pode me rasgar.

RetalhosParto do suposto padrão de que não posso me perder.

Lembro que arrasto comigo antídotos poderosos, contra os quais veneno nenhum ousaria guerrear.

Carrego, de outra banda, estruturas brutas, pesadas, reforça-das, afinadas, prontas para o uso.

Mesmo que maliciosamente disfarçadas, tenho pratas rarís-simas também, ainda que pretejadas pelo tempo.

Tenho guardado verdadeiras jóias embrulhadas pra presente. Fúria e doce Flauta encadernadas e minuciosamente organizadas por assunto.

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Não uso nada. Nada disso. Ninguém nunca sequer fez men-ção a essas coisas.

(-Convenhamos, não é? Imaginem-se caminhando na rua e alguém, de supetão, lhe interpela: “Passa as pratas pretejadas que eu sei que você tem aí, disfarçadinhas!” A-ta-bom.)

Suspiro hipoteticamente traçando o itinerário mais econô-mico.

Esqueci de um lugar. Preciso ir até lá hoje.

(- Sou expulsa da cama todos os dias – mas soco o desper-tador e olho o relógio – por mais que eu saiba que horas são, abobalhada construo o figurino do dia: delicadamente jogo tudo na cama, na cadeira e na mesa, no chão. Era pra amassar, ta bom, mas não amassa, que inferno, não amassa! Abro o chuveiro [tem gente que liga, eu não].

Algumas vezes a água morna escorre pelo ralo e, junto dela, minha cabeça escorrega por entre tubulações e turbi-nas de ideias. Lembro de frases idiotas que ouvi, de homens idiotas que conheci e nessas vezes, quando fecho o chuveiro, tenho a impressão de que fiquei muito tempo dentro do box, imagino que me atrasei, me sinto idiota, saio correndo, es-corrego, molho o chão, confiro a hora e penso: eu sabia que não estava atrasada: “o tempo não para, no entanto ele nunca envelhece”. Sorrio secretamente para aquele cara esquisito e idiota que conheci.

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Termino de me secar, coloco a toalha no lugar errado. Olho pra ela e me viro. Impávida, austera, disparo: HOJE você vai ficar aí! VAI SIM! Só que não consigo. É muito mais forte do que eu. Pego, vencida, a toalha vadia e coloco no lugar certo. Saio de cena mas percebo que ela zomba de mim. Toalha babaca! Babaca e gorda! Não, gorda babaca. É isso que ela é: Vadia, GORDA e babaca. Mas, apesar da minha autoestima fragilizada por ser MANIPULADA por uma toalhinha de 5ª, é a partir daí que meu dia começa. Arrumar a toalha é como arrumar a minha vida. Acho que no dia em que eu não arrumar a toalha a coisa toda não vai funcionar. Ela provavelmente se vingará de mim – rancorosa. Mas, se todos os dias eu me lembrar do lugar da toalha, também me lembrarei do meu e fim. Serei feliz. A-ta-bom.)

O comum esmaecido perfura meus tímpanos com sua fala renitente (e como irrita!).

Fico surdo para o que não é comum.

É o vento que invade meu carro, suja a minha roupa e fuma meu cigarro.

Sorte a minha que eu cortei o cabelo – não deve ter bagunçado muito.

Nem o meu cigarro é meu.Nem o meu cigarro eu fumo.

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Samira Florêncio Tito

Samira, nasceu em 9 de Abril de 1991. Mora na cidade de Guaratinguetá no Vale do Paraíba. Está cursando Letras na FATEA - Faculdades Integradas Teresa D´Avila. A jovem acadêmica adora escre-ver contos, ficções e poemas.

A beleza da naturezaEra final de tarde, o sol se pondo, lá estava eu sentada no

alto da montanha assistindo ao espetáculo da natureza. Não existe nada mais belo do que o pôr do sol; fiquei até escurecer, depois voltei para minha casa de campo, acendi a lareira e fiz um chocolate quente para me aquecer do frio.

No dia seguinte, acordei cedo e fui caminhar pela a flores-ta, encontrei flores lindas e pássaros extraordinários, fiquei encantada com tanta beleza ao meu redor, fui andando até que encontrei uma bela cachoeira, sentei sobre a pedra para ouvir o som das águas.

Foi um final de semana incrível que se eu pudesse viveria de novo cada minuto do encanto da natureza.

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Como escrever contosOs contos variam de assuntos e modos de contar, e sur-

giram por volta de quatro mil A.C.. Geralmente, são textos escritos em prosa menores que um romance. Se formos enumerar as fases dos contos percorreríamos a história para identificarmos cada uma. Ao longo do tempo os contos foram aperfeiçoando-se até chegar aos dias de hoje, onde há novas tendências “de novas direções: liberdade e forma”, ou seja, os contos podem ser escritos da maneira que o autor preferir sem precisar seguir regras que normalmente são usadas para este gênero textual.

Muitos têm dificuldade de explicar o que é conto por ser uma coisa de ideia abstrata, mas o conto nada mais é que uma estória inventada do que vivemos no nosso cotidiano ou algo mágico que só existe em nossa imaginação.

Logo, para se escrever um conto só é preciso de imaginação, deixar a mente criar personagens, lugares e acontecimentos e o clímax acontece no final da estória.

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Outros SignificadosFelicidade

É o felizDa cidade.

Gentileza

É o gentil Da ileza.

Amigável

É o amigo do ável.

VerãoVerão radiante com sol brilhante,Onde todos saem para brincar na água fresca que alegra.Verão que esquenta e nos livra do inverno.Verão, ora com sol e ora com chuva E que nos encanta com tanta beleza.Estação da alegria e de lazeres.Verão coisa que encanta e alegra todos os ambientes.

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Natureza (Original)Ó natureza tão belaCom seu verde que encantaE o sol que irradia e brilhaÉs tão formosa como a luaAo cair a noite tudo se escureceFicando a leve brisa Passeando por entre as floresÉ uma noite calma e tranquilaÓ natureza como és bela.

Natureza (modificado) Ó natureza tão belaCom seu verde que encantaE o sol que brilhaÉs tão formosa como a luaAo cair a noite tudo se escureceFicando a leve brisa que estremece Passeando por entre as floresÉ uma noite calma e tranquilaÓ natureza como és bela.

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Thiago José de Souza Oliveira

Jovem Historiador, Bacharelando em Direito, Corin-thiano apaixonado aos momentos simples da vida. Pesquisador em Direito Ambiental pelo CNPQ. A boa música o acompanha nos dias corridos. A literatura o encanta, dos estudos científicos mais complexos as mazelas frágeis de um poema rabis-cado sem qualquer responsabilidade num rascunho, das escritas difíceis da física quântica entornadas aos mistérios da construção do multiverso as aventuras de um herói inventado.

O discurso do silêncioE tudo aquilo que não foi perguntado fica implicitamente

a mercê da própria sorte da verdade...

A estranheza do estranharDisseram certa vez que era tamanha a estranheza com que

compunham canções no leito de morte...Respondi...Quão mais estranho que procurar desenhos em nuvens

sendo que nem mesmo aos desenhos elas se permitem con-ceituar....

Estranho como procurar sentido em músicas sendo que elas nem mesmo necessitam de sentido para existir...

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Estranho como relativizar o relativo quando nos pergun-tam sobre algo....

É tão estranho como a estranheza do estranhar.

Ao abrir os olhos me vi de plástico

Ao abrir os olhos ela percebeu a frieza do acordar do não receber um bom dia sorridente.

Ao se levantar ela compreendeu a solitária vontade do não ter fome ao abandonar o café da manhã.

Ao ligar o chuveiro lhe caiu o ínfimo desejo do não se ba-nhar, da mínima necessidade ao se dar certa essência.

Ao se vestir pressentiu o vazio do sentimento virtuoso do estar bela.

Ao se olhar no espelho ela percebeu, com espanto, como era não ser humana. Sentiu o vazio orgânico de sua biologia, transformada em plástico.

Restou a ela dar-lhe as boas-vindas à nova mulher de plástico.

Neutra, sem conteúdo, sentimento, ou qualquer outro fator que a trouxesse lembranças do que um dia se chamou humana.

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O mundo em preto e brancoNuma tela qualquer delineei o mundo na mais variada

tonalidade de cores que conhecia.Dentre as várias, escolhi o azul; cansado, transportei os

olhos para o rosa; não mais me sentindo apaixonado adentrei--me ao cinza.

Atingindo minha zona de conforto, não modifiquei nem possibilitei a variabilidade infinita de interpretações do mun-do em cores.

Sentei-me, triste, a observar todas as transformações já feitas. Quando lá ao longe, no brilhar de algo, percebi que de fato o mundo não era colorido, pois, o simples preto e branco lhe bastava.

A PortaLá está ela como sempre,Preparada, estática, parada.Sempre lá está.Em busca do que, ou de que, não sei. Mas lá está.Nunca, jamais foge de seu carma, de sua calma, de sua triste

espera pelo primeiro trouxa que de lá para cá a atravessará.A vi como todos os dias está, aberta, escancarada, arrega-

nhada, à espreita da triste alma que ousara passa-la.Talvez um dia ela se canse e de vez se feche e nunca mais

olhe o abobalhado a encarar face a face.

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Gosto dela, mas a tenho como algo não muito confiável nem mesmo agradável.

Sempre lá, olhando, à espera do primeiro idiota. Talvez agora, talvez nunca, talvez por hora.

Essa é a tal, a tal porta.

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Vânia Alves

Vânia Alves é engenheira química por profissão, embora sua grande curiosidade seja mesmo as relações humanas. Faz das poesias seu refúgio desde a infância. Pensa em vários projetos ao mesmo tem-po e se pergunta por onde começar... na verdade entende que deve dar um passo de cada vez e que o limite não existe.

Cantiga do VioleiroO violão, hoje calado,está desencantado com qualquer canção.Pois o violeiro anda desanimadoao ver rechaçado o seu coração.

Recolhe suas notas, esconde sentimentosEngole os momentos, outrora canções.Só olha pra dentro, procura um alentoPara aliviar suas contradições.

Relê seus rascunhos, e com eles em punhosRefaz velhas trilhas guardadas de corBuscando, quem sabe, galgar novas ilhas- Mas para que ilhas se ele vive só?

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Refaz um discurso composto num impulsoPapel redobrado, coberto de pó.Como se pudesse mudar o seu curso- Mas pra onde migrar se ele vive só?

Bem-vindoPoemas nascem de dentroSeu parto é como qualquer partoTão romântico e esperançosoQuanto sujo e melequento.Seu fruto pode não ser o mais belo,O mais esperto ou o mais bem sucedido.Mas existe.E existindo, pode conquistar o mundo.Ou apenas você.Ou ninguém.Ao filho garanto experimentações,Ao poema, divulgação.Para que filho e poema Semeiem interpretações.

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Sobre pérolas aos porcosNão atireis pérolas aos porcos!Pérolas são duras, intransigentes, intragáveis.Pérolas descem redondo, mas só descem.Pérolas entalam na cloacaE machucam os porcos que se arriscam a conhecê-las.Ah! Esses porcos...Experimentam de tudo, Self service e à la carte.Sabem ser artistas, sabem ser arte!Pertencem ao mundo, e dele tomam parte!

Marchinha do Bloco da Física[ou sobre a tentativa de criá-lo nas vésperas do Carnaval de 2011]

Sou físico e não tenho sindicato!Trocado por um químico, Hoje vivo com um gato. (2x)

Pela manhã, logo que amanheceu,Procuro pelo gatoOnde foi que se escondeu? (2x)

O danado ‘tava no prédio da frente

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Lá mora o engenheiro Que nem cumprimenta a gente... (2x)

Ultimamente o gato andava diferente:Se via o engenheiro, ele miava mais contente! (2x)Voltou em casa, pegou a areia e o WhiskasBateu porta com força e sumiu das minhas vistas! (2x)

Einstein do céu, o que foi que aconteceu?Ih! Mais uma vez, o físico se... Fon fon fon fon fon…

ArquétiposEla é uma fraude! [Não há nada igual]Ela é uma fraude! [Símbolo sexual?]Ela é uma fraude! [Desejo nacional]

Sem peito, sem boca, sem coxa, sem bunda...Devia viver em tristeza profunda...E para a surpresa de todos responde:Que ela é mulher e que não se esconde!

Na cachoeira ou na beira da praiaLarga pra trás o que a atrapalhaEm seu sorriso se mostra ariscaE míope refez seu exame de vista

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Ela é uma fraude! [Não há nada igual]Ela é uma fraude! [Símbolo sexual?]Ela é uma fraude! [Desejo nacional]Diz que seu corpo só lhe diz respeito.- Irão para o túmulo coxas e peito.E que por isso seria o cúmuloCeder a qualquer pressão:- Pressão é eterna, eu não!

Ela é uma fraude! [Não há nada igual]Ela é uma fraude! [Símbolo sexual?]Ela é uma fraude! [Desejo nacional]

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Wagner Ribeiro

Wagner Ribeiro nasceu em Lorena – SP, no dia 18 de fevereiro de 1998 e hoje mora em Piquete –SP. Tem 16 anos e está cursando o 2º ano do ensino médio e do ensino de técnico em Química pelo Colégio Técnico de Lorena, colégio que pertence a USP e está inserido na Escola de Engenharia de Lorena – EEL/USP. Gosta da área de Química, a qual pretende seguir carreira, mas também supre paixão por Filosofia, Sociologia, além de Literatura, Astronomia e encanta-se por Metafísica. Escreve desde os 8 anos de idade, adora projetos sociais, MPB e Renascimento.

Eu vazioEu sou aquilo que me definema escultura mal formada da política da coordenação às avessasnão sou artista, sou o crítico das peças teatrais já programadas.O artista que nunca viu as falasum reflexo distorcido deste vitral que provenho.

A representação mísera da discórdia de uma má formação;sou o barro das mãos dos oligarcas;A argamassa destes construtores sou lama hipócrita da barra das calças dos controladores.

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Da apoteose tecnológica, eu sou o sacerdócio da adoração ao vazioo reflexo das coisas infernais. Embora veja tudo, não sei nadaPensando que sente tudo, sentido algum possuo.Aos meus pés, o universo possuo,em minhas mãos, a vidaE, por assim dizer, eu sou o centro de tudoQuando o tudo é nada.

AmigoE veja o riso. Ah, o riso. Sorriso bem dito e bem feito que a gente tem que demostrar

quando se gosta de alguém.Sorrir sem jeito, com jeitode um jeito que só a gente tem e identifica para amar.Amar. Amar é bom, é com jeito, é diferente,é mutante, é amigo, é companheiro... Sempre bem-vindo.E a Amizade?É linda, é sagaz,é bem dita, irrita,seca a lágrima maldita e marca o coração bobão,de um coitado sem noção que, no mundo, tenta aos poucos

e vivencia com alegria e simpatia.É união receptiva que está na gente tanto quanto o sangue

vermelho que corre e escorre. É tão boa, grandiosa e cheirosa que gruda e nunca solta, Sara, cura e marca de maneira que o João e Maria

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Dia e noite, noite e diaSe divertem no sorriso de amor, que afaga e dá calorAma e não guarda rancor, Dando a cada vez mais um pouco de saborNessa amizade que, pra falar toda a verdadeÉ linda, sem nenhum contraditorPra criticar e tirar esse sabor.

As lágrimas de um olimpiano contemporâneo

Desde um simples e súbito suspiroA vós dado foi o ato do amormatéria que não se vê, mas se apalpano ímpeto sombrio estrago que a alma triste causaentreguei-a a Deus, para que dela cuidastea ti, espero revê-la nas profundas florestas aquelas que somente nós, jovens intrínsecos em pensamentos,sabemos do que se tratade todas as amarguras vividas,são teus olhos o que mais me machucam:vê-los caídos, por que não fui capaz de dizer-lhesque ainda não estava preparado para enxergaro que tu, Vênus eterna, me entregava

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Alma negraCostumava todas as noites a observar aqueles pontos no

céu escuro onde eu morava. Eles pareciam pessoas presas que brilhavam muito, lá, no firmamento. Perguntava-me quando eu iria brilhar. Até questionei vovó, e ela disse que “nossos orixás sabiam a hora certa, só precisávamos ser bons”. Toda a noite, eu corria para ajudá-la no preparo das oferendas e agradecimento aos deuses. Papai era forte e me ensinou ca-poeira. Eu jogava muito bem, era o melhor entre os irmãos. Jogávamos a nossa dança até que a bola amarela aparecesse no céu e pudéssemos ir descansar. Eu corria, caçava, um dia até vi um tigre, um leão e uma girafa em uma corrida divertida. Mas o leão comeu todo mundo e eu fiquei assustado. Corri e perguntei a vovó porque as coisas eram daquele jeito, e ela disse que homem nenhum da cor dos deuses fariam aquilo. “Ser do barro era ser bom, Iemanjá há de proteger-nos”, era o que ela dizia, e já gritava para eu ir buscar madeira para comi-da. E que comida, dava gosto de comer. À noite, quando ela queria, chamava todo mundo embaixo da Grande Árvore da Aldeia de Iemanjá, fritava os peixes na gordura dos animais e contava-nos a história da Criação, que vínhamos do barro dos deuses. Éramos puros. A gente se divertia, ria e logo depois pulava no rio, ela brigava demais, mas tudo bem, depois era gostoso ir deitar na cabana junto dela. Vovó era minha deusa. E me ensinou a rezar. Cresci, virei homem, graças a ela e aos meus pais.

Um dia, houve uns barulhos bem estranhos. Ardiam o ouvido. A bicharada toda correu para todo canto. Meus tios e meus irmãos estavam desesperados. Eu tinha sonhado com o firmamento, com eu, vovó e nossa família partilhando da mesa farta dos Orixás. Tinha muito peixe e Iemanjá me fazia

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comer de todo tipo. Mas o barulho era bagunça, doía a minha alma, cortava o meu ser. Sai da minha cabana e vi um mar de tortura e tristeza. O meu chão de barro, duro, puro da terra que me dava a vida, estava negro, negro de tristeza e o firmamento chorava – minha aldeia tinha sido tomada. Uns vultos brancos, de roupa esquisita que nenhum mulato usa, cheios de pano e falando um som que nunca vi bicho produzir, mandaram todos para dentro de um navio. Andei naquele mar vermelho respigado pelo choro das estrelas, vi meus pais ali, presos pelos braços, sem se defender. Do peito deles, brotava tinta vermelha. Vovó foi levada comigo.

Era um barco barulhento, a paz ali nunca chegava. Rezei aos deuses pela minha família, pela proteção e eles não me atendiam mais. Estava fora da sua casa, eles não tinham mais poder. Deitávamos sobre nossa própria carne, comíamos e dormíamos em cima dos nossos dejetos. Meu coberto era o meu choro e as mãos franzinas e fracas da mulher que me criou e que agora mal pronunciava. Eu vi sua morte ao longo daquela terra azulada sem fim.

Quando pisei em solo de novo, já não era mais eu. Nem minha casa. Tudo era diferente – as árvores ali não dançavam pela brisa divina. O firmamento não era belo a noite, nem a deusa Lua tão resplendorosa. Ela já não sorria como antes. Eu rejeitava aquela vida, aquele homem branco produzindo aqueles sons estranhos e me machucando. Fui para um tronco no meio do pátio. Ali, chicotearam-me e tiraram tudo o que eu poderia sonhar. Minha pele escura como a noite, já era vermelha e a cada gota, um sonho meu escorria para o pranto e para a morte. Tudo se esvaia, exceto eu, ali. Morri a cada instante naquela terra. O Novo Mundo não me pertencia. Na minha pele, era conhecida a dor diária do chicote. Tiravam minha fé, meu sonho.

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Queria ter virado estrela lá, com meus Orixás. Nem eles me salvariam, a brutalidade com a criação era demais. Eram espíritos maus, destruidores. Eu jamais cintilaria lá no firma-mento, porque eu fora violado, destroçado. Eu era a morte, em um corpo que andava e sentia.

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