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Edição Especial do jornal Leopoldinense, contendo um resumo histórico do projeto de pesquisa sobre o Centenário da Colônia Constança, fundada no município de Leopoldina aos 12 de abril de 1910.
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A Igrejinha da Onça� A escolha da “Capela da Onça” ou, Igreja de Santo Antonio de Pádua, como símbolo de nossos estudos sobre o Centenário da Colônia Agrícola daConstança deve-se ao fato de ser esta a imagem a que sempre se referem os entrevistados, quando abordados sobre a vida dos mais antigos. Para a maioriadeles, além da religiosidade propriamente dita, a Capela representava muito mais porque era em torno dela que se realizavam quase todas as festividadesde que participavam.
Quase todos os entrevistados se referem, com um misto de saudade e orgulho, às animadas festas anuais dedicadas ao padroeiro. Reuniam um grandenúmero de participantes oriundos das propriedades da redondeza, além de pessoas que vinham da sede e de outras regiões do município.
Para a construção da Capela da Onça, foi importante a participação e o trabalho de muitos habitantes da Colônia Agrícola da Constança e imediações.A escritura pública lavrada pelo 2º Ofício de Notas de Leopoldina, datada de 21.08.1912, é um bom exemplo a confirmar estas colocações.Esse documento trata da venda realizada por Jesus Salvador Lomba (Colono do lote nº 4) e sua mulher Maria Magdalena Lomba, de uma quarta ou, centoe vinte e um ares de terreno, que fora adquirido do Tenente Francisco Pimenta de Oliveira e sua mulher, confrontando com as terras da Colônia e as quepertenciam a Lino Gonçalves e sua mulher Maria das Dores Netto. Pela escritura ficamos sabendo que os compradores foram Luciano Borella, Otavio deAngelis, Luigi Giuseppe Farinazzo, Ferdinando Zaninello, Agostino Meneghetti e Fausto Lorenzetto, além da esclarecedora informação de que pagaramquatrocentos mil réis pelo imóvel para nele ser edificada uma Capela consagrada a Santo Antonio de Pádua. Parece evidente que estas pessoas foramapenas os líderes de um grupo que se dispôs a investir na aquisição do terreno e na construção da igrejinha de Santo Antonio de Pádua.
ed
itori
al
T
A imigração como sobrevivência, odistanciamento da terra querida...a saudade
Tanto tempo se
passou desde que
eles aqui
chegaram
trazendo na pequena
bagagem grandes
esperanças, doses
homeopáticas de alegria,
saudades da terra e uma
força imperiosa que fez de
cada imigrante um
batalhador, um
desbravador. A vida dura,
o sofrimento, nada os
desviou de seus propósitos.
Foram os pilares de
sustentação desta região
carente de braços fortes e
mãos que além de semear
os campos souberam
plantar o amor que até
hoje norteia seus
descendentes. Inúmeras
são as famílias
imigrantes que para
nossa felicidade
escolheram esta região
como seu segundo lar. O
tempo inexorável passou
depressa e muitos tiveram
condições de voltar à
pátria. Outros, porém,
curvaram-se ao peso dos
anos, criaram filhos,
Luiz Otavio Meneghite e Maria José Baia Meneghite
A vida dura, o sofrimento,
nada os desviou de seus
propósitos. Foram os
pilares de sustentação
desta região carente de
braços fortes e mãos que
além de semear os campos
souberam plantar o amor
que até hoje norteia seus
descendentes. Inúmeras
são as famílias
imigrantes que para nossa
felicidade escolheram esta
região como seu segundo
lar. O tempo inexorável
passou depressa e muitos
tiveram condições de
voltar à pátria. Outros,
porém, curvaram-se ao
peso dos anos, criaram
filhos, netos, rugas
sulcaram suas faces,
sentiram o olhar embaçar-
se pela saudade, e aqui
permaneceram. Quando
ela doía, enxugavam as
lágrimas uns dos outros
mas continuavam sua
missão de tirar da terra o
sustento e dar o melhor de
si pelo chão que os
acolheu. Abençoadas
mãos!Benditas lágrimas!
“
GRUPO LEOPOLDINENSE DE NOTÍCIAS LTDACNPJ.: 05.763.041/0001-53 - INSCRIÇÃO MUNICIPAL 15057
EDIÇÃO ESPECIAL DE 100 ANOS DA COLÔNIA CONSTANÇAPesquisa: Nilza Cantoni e José Luiz Machado Rodrigues
Rua Rafael Ienaco, 100 - Bairro PirineusCep.: 36.700-000 - Leopoldina/MG
E-mail: [email protected]: (32) 3441-7125
Diretor-editor: Luiz Otávio MeneghiteDiretora Social: Maria José Baia MeneghiteAssinaturas e Publicidades: João Gabriel Baia MeneghiteArte: Luciano Baia MeneghiteProjeto Publicitário: Sérgio Barbosa França e João Gabriel BaiaMeneghiteSupervisão: Luiz Otávio Meneghite e Maria José BaiaMeneghite
Tiragem: 2.000 exemplares
O Jornal não mantém vínculo de qualquer espécie com seuscolaboradores, sendo da responsabilidade de cada um deles o
conteúdo de seus textos.
Programação Visual: Giovanni N. R.Celular: 8841-3015
Impressão: Editora Jornal de Muriaé LtdaCNPJ.: 00.104.415/0001-05
Av. Comendador Freitas, 125A - CentroMuriaé - MG - Cep.: 36.880-000
netos, rugas sulcaram
suas faces, sentiram o
olhar embaçar-se pela
saudade, e aqui
permaneceram. Quando
ela doía, enxugavam as
lágrimas uns dos outros
mas continuavam sua
missão de tirar da terra o
sustento e dar o melhor de
si pelo chão que os
acolheu. Abençoadas
mãos!Benditas lágrimas!
Cem anos se passaram e
para homenageá-los nada
melhor que um sincero
agradecimento e nossa
eterna gratidão por terem
sido eles os responsáveis
pela introdução de seus
hábitos e costumes, de sua
alegria e coragem. Nossa
eterna homenagem a esse
povo desbravador, povo
lindo, com uma cultura
diversificada e de grande
valor histórico. Esses
valores foram
amplamente ressaltados
nas publicações feitas por
Luja Machado e Nilza
Cantoni, nos últimos 10
anos, a partir de 23 de
outubro de 1999, ainda na
Gazeta de Leopoldina e
depois nas páginas do
jornal Leopoldinense.
Uma gama de
informações sobre os
imigrantes que aportaram
em Leopoldina, jamais
vista em outros
documentos da mesma
natureza. O cuidado com
a pesquisa e o carinho
com os textos enviados em
capítulos à redação pelos
dois vem chamando ao
longo dos anos, a atenção
dos leitores, notadamente
os descendentes de
italianos. Luja e Nilza
trataram do assunto como
se garimpassem pedras
preciosas num riacho:
com extrema atenção,
olhos atentos que
enxergavam brilho em
cada descoberta,
valorizadas por cada
palavra, por cada data,
cada foto, cada registro,
cada entrevista com os
descendentes. Minuciosos
em seus estudos sobre a
imigração italiana para a
região da Mata Mineira,
particularmente para
Leopoldina, eles
entraram numa espécie
de máquina do tempo e
a cada relato publicado
a história foi se
compondo. As
descrições de todo o
processo desde a saída
da Itália, a viagem em
navios superlotados, a
chegada ao Brasil, a
quarentena nas
hospedarias do Rio e
Juiz de Fora e,
finalmente, a chegada
ao lote de terras na
Colônia Agrícola da
Constança. Daí em
diante, a formação de
uma comunidade onde
os entrelaçamentos
familiares aconteceram
e foram objetos de
pesquisa e estudo pelos
nossos dois
historiadores. Tudo isso
está relatado neste
tablóide, que mais do
que um jornal,é um
documento histórico
para ser lido e
guardado para as
futuras gerações de
oriundis. �
100 anos da Colônia Agrícola Constança 3
RESGATANDO A HISTÓRIA DA IMIGRAÇÃOJúlio César Vanni
Jornalista e historiador de Pequeri
Velho provérbiotoscano nos alerta:“quem não tem
história para con-
tar, é melhor que não tives-
se nascido”. Outro, colhidopor aqui mesmo, creio deautoria do grandefluminense Oliveira Viana,é mais categórico: “Povo que
não tem bandeira e nem
tradição, não é povo, mas
um aglomerado de gente que
não sabe porque existe”.
No meu tempo de estu-dante em Leopoldina(1941-1945), quando estacidade tinha menos de 15mil habitantes, aprendi aamá-la e a me interessarpela sua história, por contadas lições de civismo quelevavam os jovens à cidada-nia consciente, a interessar-se pela cultura geral e à pre-servar os valores morais.No fim, todos que termina-vam suas etapas de estu-dos, partiam amando estacidade e sentido saudadesde um período em que eramfelizes e não sabiam.
Ainda jovem, por influên-cia paterna e das lições decivismo, eu gostava de co-nhecer a história dos luga-res e a origem de famíliascujos cognomes não se iden-tificavam como sendo deorigem portuguesa. Filho de
italiano da Toscana, eranatural a minha curiosida-de pelos sobrenomes daspessoas e a origem dostopônimos de lugares pormenores que fossem. Recor-do-me de uma festa na Igre-jinha da Onça e da referên-cia do velho Matola de queaquele modesto templo ti-nha uma origem muito sig-nificativa. Era o que resta-va de uma velha colônia de imigrantes que existiu nolugar. Perguntei-lhe pedin-do para que me respondes-se baixinho no ouvido - esta-va o pais em guerra contra oeixo - se havia chegado mui-tos italianos para aquelacolônia. Sorrindo, respon-deu-me, que não sabia o exa-to, mas que alem de italia-nos, a colônia havia recebi-do, também, muitos sírio-libaneses, alemães, espa-nhóis e portugueses.
Dias depois, comecei aprocurar nos livros de cha-mada de aulas, os sobreno-mes de estudantes comcognomes estrangeiros. Osaudoso professor Alziro deAzevedo Carvalho, diantedo meu interesse, facilitou-me a pesquisa e, então, fi-quei conhecendo muitos so-brenomes de colegas e con-temporâneos, não só de ori-gem italiana, também, deoutras origens. Hoje, no es-plendor dos meus 83 anosde idade, ainda me lembro
de Cumani, Maragna,Carminatti, Gesualdi,Lamarca, Nichini, Matola,Schettini, Lagrota,Tomasco, Magri, Garani,Barbuto, Celidonio,Martinelli, Eutrópio,Parisi, Perillo, Carone,Lorandi, Campagna,Bellotti, Bosco, Balbi, DeLuca, Biagio, Riani, Vitoi,Meneghite, Menicucci,Canabrava, Trezza, Trecce,Favero, Damasceno, Flora,Maciello, etc, entre os itali-anos: Heizer, Rubach, Auer,Gribel, Korn, Rauch, Grau,Olney, Kaiser, Himmel, etc,entre os de origemgermânica; Alibert, Gibrat,Capdeville, Richier, Sodrè,de origem francesa; eHaddad, Reche, Buhid,Salomão, Balaban, entre osde origem sirio-libanesa.
Os anos passaram. Já re-alizado na vida e próximoda aposentadoria, foi quan-do comecei a me dedicar,mais a fundo, às pesquisase, no decorrer dos últimos30 anos, tornar-me histori-ador de fato, embora limi-tado à Zona da Mata e, emconseqüência da proximi-dade, também, ao estadodo Rio de Janeiro, por ondeentraram os imigrantes quese fixaram nestes sertões dosudeste mineiro.
O destino me levou a co-nhecer os valorosos histori-adores Nilza Cantoni e José
Luiz Machado Rodriguesque, com paixão e responsa-bilidade, levantaram ospródromos da Colônia deConstanza, um capítulo glo-rioso do passado deLeopoldina que estaria irre-mediavelmente perdido seeles não tivessem se empe-nhado tanto nesse mister.
Cem anos são passadosda criação da colônia quedeu a Leopoldina um lugarde destaque na história daimigração em Minas Ge-rais, sem que a maioria dosleopoldinenses se dessemconta disso. Mas aí estãoos historiadores fazendo oseu papel. Alertaram as au-toridades, procuraramconscientizar a população aresgatar este importantecapítulo da história que,mais do que muitos outros,merece ter o seu centenáriocomemorado em alto nível,como autêntica manifesta-ção de uma Leopoldina que
tem prestígio sócio-culturale político no cenário de Mi-nas Gerais.
Vejamos o exemplo dePequeri, pequena cidade deapenas 4 mil habitantes, amenos de hora e meia deLeopoldina, por estrada as-faltada, e que no passadofoi um sólido núcleo da imi-gração italiana, tendo rece-bido cerca de 630 famílias,numa época em que era umdinâmico distrito de Mar deEspanha. Ali já foram come-morados os 120 anos e, noano passado, o 130º aniver-sário da chegada dos pri-meiros imigrantes italia-nos. O mapa da Itália, es-culpido em mármore deCarrara, é o monumentoque simboliza a gratidão dacidade e dos descendentesde italianos aos seus ante-passados.
A cidade, graças ao em-penho de um prefeito desólida base cultural e ao
empenho de seus habi-tantes, ganhou projeçãocultural e turística aoponto de ser consideradaa mais culta das peque-nas cidades de Minas. Ejá se prepara para umnovo Carnevale em setem-bro próximo, quando es-pera receber mais de5.000 visitantes.
Leopoldina tem estru-tura e padrões sócio-cul-turais de alto nível parafestejar o centenário daColônia Constanza quelhe deu habitantes e mui-tos descendentes da me-lhor qualidade e que mui-to contribuíram para oseu progresso e prestígiopolítico. É importanteque as autoridades muni-cipais, a imprensa, asemissoras de rádio, ospolíticos, os clubes, as as-sociações de serviços, asescolas, colégios, faculda-des, o bispado, enfim,toda a sociedade se con-gregue num esforço cole-tivo para que não fiquenos anais da cidade, o re-gistro negativo de umevento que alto toca àsensibilidade dos brasi-leiros descendentes deitalianos, alemães, portu-gueses, sírios, etc, queajudaram na construçãodos alicerces, não só deLeopoldina, mas de Mi-nas e do Brasil.
... Recordo-me de uma festa na
Igrejinha da Onça e da referência do
velho Matola de que aquele modesto
templo tinha uma origem muito
significativa. Era o que restava de
uma velha colônia de imigrantes que
existiu no lugar....
4 100 anos da Colônia Agrícola Constança
AO IMIGRANTE ITALIANO – GRATIDÃO E AFETORosalina Pinto Moreira
Professora e Historiadora de Astolfo Dutra
Neste ano de 2010,quando quatro“Núcleos Coloni-ais Agrícolas”, re-
ceptores dos “ImigrantesItalianos”, completam cemanos de criação, deixamosregistrado todo o nossomais profundo sentimentode gratidão e afeto.“Colônias Agrícolas” que seentremeiam numa históriasemelhante, movida pelasmesmas causas que as fi-zeram nascer. É“Constança”, é “Santa Ma-
ria”, é “Barão de Ayuroca”,
é “Inconfidentes”.
Histórias que se mes-clam... que se harmoni-zam... que se tornam focosde análises... Historiadorese pesquisadores apaixona-dos que estudam, solicitame trocam informações! Umaparceria indivisível!“Constança” e “Santa Ma-
ria” vivenciam esta saga!Mas, por que o italiano
emigrou?A vinda do imigrante italia-
no para a América é fato am-plo e complexo. Duas forçasantagônicas polarizam suasaída: “expulsão e atração”.
Fatores diversos caracte-rizam “a força de expulsão”dos italianos de sua terra:
fuga da miséria que asso-lava algumas regiões ruraisdo norte da Itália; recusa erevolta em viver sob opres-são; dificuldades dentro dopróprio espaço geográfico,possuidor de montanhas oucolinas, com grandes varia-ções climáticas; áreas insu-ficientes para se cultivar;carência de tecnologia naagricultura; drenagens difí-ceis, etc. Todos esses moti-vos os obrigaram a procu-rar soluções, migrando nopróprio país e continente ouvindo para a América. “Fa-zer a América” foi o sonhode milhares de camponesesitalianos.
Paralelas a essas dificul-dades, acrescenta-se a che-gada do capitalismo nomeio rural, provocando aconcentração da terra nasmãos de grandes proprietá-rios o que fez acarretar au-mento de impostos sobre amesma; contração de em-préstimos e o conseqüenteendividamento.
Como se não bastasse,sofria a concorrência dosgrandes proprietários comseus produtos agrícolas, jáque não se podia fazer fren-te ao preço imposto por eles.
Voltar-se para a indús-tria não seria solução poisesta se instalava de formalenta e com poucas perspec-
tivas de crescimento imedi-ato. A solução para comba-ter tal situação de misériafoi oficializar e incentivar oprocesso emigratório.
Teria sido o crescimentodemográfico um outro ele-mento também provocadorda saída transoceânica?Nesse prisma aceita-se opensamento de E. Sereniquando descarta a possibi-lidade da Itália tersuperpopulação ou ser inca-paz de proporcionar traba-lho a todos: “não é a terraque falta, não são as condi-ções naturais que empur-ram (...) milhões de traba-lhadores agrícolas. A causaestá na forma capitalistada economia, nas condiçõese nas relações sociais. A ex-ploração capitalista sobreo camponês é aviltante”.
Pela complexidade da ques-tão achamos que todos estesfatores são evidentes comomotivação para emigrar.
“A força de atração dositalianos para a Américaconsistia na promessa deoportunidades de sucessosnas áreas novas”, que é ca-racterizada, entre outros fa-tores, pela existência de es-paços vazios no Novo Mun-do. E mais: fronteiras aber-tas; notícias de avanço dalavoura cafeeira no sudestee sul brasileiro; clima seme-
lhante ao europeu; mudan-ça da forma de governo bra-sileiro, de monarquia pararepública, desencadeadacom a abolição dos escra-vos... Tudo tornou-se solu-ção para os problemas eco-nômicos e financeiros queos afligiam.
O interesse dos italianospelo Brasil na última déca-da do século XIX foi acentu-ado também em decorrênciado retrocesso econômico emque os Estados Unidos e Ar-gentina se encontravam,nossos maiores concorrentesna recepção de imigrantes.
Maria Tereza SchorerPetrone, em seus estudossobre “Imigração”, eviden-cia também a questão da
liberdade como força deatração: “a liberdade demigrar e mudar de residên-cia, uma conquista da Re-volução Francesa, envolvemuitos aspectos: os liamesfeudais entram em decom-posição, a posse da terra érevolucionada e, o que tal-vez seja mais significativo,desenvolve-se a ruptura dasolidariedade entre os cam-poneses de uma comunida-de e de uma família, tornan-do-se o elemento humanolivre para se dirigir ondemais facilmente pudesseencontrar soluções paraseus problemas de sobrevi-vência. (...) “A emigração éproblema de liberdade”.
Cem anos são decorridos
da fundação dos “NúcleosColoniais Agrícolas” emLeopoldina e Astolfo Dutra!O italiano se instalou e seadaptou à cultura local.Honradez e abnegação des-medida ao trabalho são ca-racterísticas que os defi-nem! Miscigenou-se e é ele-mento de evidência no cená-rio deste País!
Sua vinda para esta Pá-tria é motivo de pesquisasinfindas...
A propósito, a partir dejunho/2009, Nilza Cantonie José Luiz Machado têmoferecido, aos leitores virtu-ais, o excelente “vinho” da -“Contagem Regressiva” -
Boletim sobre o Centenário
da Colônia Agrícola da
Constança” .
“Degustamos” preciosa be-bida arquivada nos tonéis dotempo! E, saiba prezado lei-tor, acrescentou vida à histó-ria da saga italiana na Colô-nia “Santa Maria”! Um ou-tro “Renascimento”! Deram-nos a conhecer, entre tantasinformações, a origem dos“Franzoni”. Afinal, tínhamospouquíssimas notas sobre o“patriarca” “Francesco”...
Estas são pinceladas so-bre a tela da Imigração Ita-liana cujos assentos se fize-ram em terras brasileiras e,entre elas, Leopoldina,Astolfo Dutra...
...Cem anos são decorridos da
fundação dos “Núcleos Coloniais
Agrícolas” em Leopoldina e
Astolfo Dutra! O italiano se
instalou e se adaptou à cultura
local. Honradez e abnegação
desmedida ao trabalho são
características que os definem!
Miscigenou-se e é elemento de
evidência no cenário deste País!...
5100 anos da Colônia Agrícola Constança
Joana Capella
Pesquisadora da Colônia Major Vieira
CENTENÁRIO DA COLÔNIA CONSTANÇA
A
“Per questo fummocreati: Per ricordare edessere ricordati...”[Por isso fomoscriados: para recordare ser recordados...](Poema de Natale:Vinicius de Morais)
comemoração do“Centenário daC o l ô n i aConstança” vemdar um destaque
ainda maior ao excelentetrabalho de pesquisa reali-zado, em conjunto, pelosleopoldinenses NilzaCantoni e José Luiz Macha-do, cujo objetivo não é ape-nas tirar do esquecimento,mas reviver e reacender o
importante capítulo da his-tória local, que é a imigra-ção em Leopoldina.
Ao descobrir e revelar ahistória de vida, o dia-a-dia,as lutas e conquistas detantas famílias, a maioriaitalianas, que aqui chega-ram em busca do sonho de“fazer a América”, consta-tamos que este sonho se re-alizou através de um tra-balho sempre árduo, sobre-tudo na agricultura.
- Por que italianos? - Porque Leopoldina?
No final dos anos 1.800, aItália vivia graves proble-mas econômicos e sociais,gerando, inclusive, o desem-prego e a fome.
A cobrança de elevados im-postos sobre a produção agrí-cola levou os pequenos agri-cultores ao endividamentocom a consequente perda desuas terras.
Por outro lado, MinasGerais buscava na imigra-ção a saída para substi-tuir a mão-de-obra escra-va na agricultura, então asua principal atividadeeconômica.
Leopoldina, particular-mente, bem como toda aZona da Mata eram impor-tantes centros produtoresde café, o principal produtode exportação do estado.
Então, estimulados a dei-xarem o país pelo governoitaliano, bem como atraí-dos pela sedutora propa-ganda feita pelo governobrasileiro que acenava coma possibilidade de um futu-ro certo e com a doação deterras, além da passagempaga, milhares de pessoasromperam laços familiares,abandonaram sua pátria epartiram nos naviossuperlotados para uma
nova vida no Brasil.Do porto do Rio de Janei-
ro, onde desembarcavam,vinham para a Hospedariados Imigrantes, em Juiz deFora, de onde seguiam paraas fazendas de café, contra-tados pelos fazendeiros.
Outros se fixaram nos nú-cleos coloniais, criados pelogoverno do Estado de Minas,em fazendas adquiridas aosfazendeiros arruinados e di-vididas em lotes que o imi-grante pagavaparceladamente com o frutodo trabalho familiar, sendoque recebiam, ainda, semen-tes e utensílios agrícolas.
Assim, surgiram em nos-sa região as centenárias Co-lônias Constança, emLeopoldina, “Santa Maria”,em Astolfo Dutra, ambascriadas em 1910, e a “Ma-jor Vieira”, em Cataguases,criada em 1911.
Com o coração aberto, osimigrantes adotaram mui-tos dos hábitos culturais danova pátria e nos legaramum pouco da cultura do ve-lho mundo.
Hoje, é reconhecida a con-tribuição do imigrante queaqui fincou raízes, tão im-portante na formação donosso povo, bem como nodesenvolvimento econômi-co, social e cultural de Mi-nas Gerais, mais especifi-camente da nossa região.
Não eram aventureiros...Assim, é preciso torná-los
conhecidos das novas geraçõesque deles hão de se orgulhare neles hão de se reconhecer!
100 anos da ColôniaConstança!
Nosso respeito aos imi-grantes e aos seus descen-dentes, a quem homenage-amos através das emocio-nadas palavras de Pedro
Nava, em sua majestosaobra “Baú de Ossos”.
“Gosto de saber na minha
hora de bom ou de mau, na
de digno ou indigno, nobre ou
ignóbil, bravo ou covarde,
veraz ou mentiroso, audaz
ou fugitivo, circunspecto ou
leviano, saudável ou doente
quem sou. Quem é que está
na minha mão, na minha
cara, no meu coração, no meu
gesto, na minha palavra:
quem é que me envulta e gri-
ta – estou aqui de novo, meu
filho, meu neto! Você não me
conhecu logo porque eu esti-
ve escondido cem, duzentos,
trezentos anos.”
À comunidade deLeopoldina, à Nilza e aoJosé Luiz, que se mobilizampara a comemoração destatão importante data, vol-tando os seus olhos no pas-sado, mas mirando seu pro-missor futuro, parabéns!
DEBULHANDO O PASSADOLucimary Sangalli Vargas
Leopoldinense, descendente dosBorella, Sangalli, Lorenzetto e
Sangirolami
Debulhar o passa-do, fazer desper-tar os fatos atéentão adormeci-
dos, não é tarefa simples.Intervir contra a ação do
tempo nas fontes documen-tais que, na maioria dasvezes, estão condenadas àdestruição total por ação defungos, traças, intempériesou, ainda, pelo próprio ho-mem, não é nada fácil.
É muito frequente o des-carte irresponsável de ver-dadeiras preciosidades porparte daqueles que ainda asconsideram “arquivo morto”ou um monte de “papel ve-
lho” e sem serventia, que sóocupa espaço nas “pratelei-ras da vida”.
É tarefa hercúlea, que ra-ros são os que se propõem aenfrentá-la, a tomá-la comoprojeto de toda uma vida,numa espécie de devoçãomisturada ao ideal único deresgatar o passado de todoum povo, uma história, umprincípio de tudo.
Por quê e para quê issotudo? Vaidade pessoal? Inte-resse político? Propósitos fi-nanceiros? Afirmo-lhes, carosleitores, com absoluta propri-edade, que não é nada disso.
Feliz a região, a cidade, queconta com a bravura dessesverdadeiros guerreiros que,silenciosamente, por anos afio, enfrentam esta batalha
de trazer à tona toda a histó-ria de um povo, de um lugar.
Felizes nós, leopoldinenses,que contamos com estes ra-ros guerreiros, que tanto de sideram e dão para manterviva a história de nossa ama-da terra, de nossas raízes, doque realmente somos.
Somos os frutos do plantiodos nossos antepassados, queabraçaram, amaram esterincão onde hoje vivemos epodemos desfrutar do que foiconstruído por eles, à custado suor de seus rostos, de suasmãos calejadas pelos cabosde enxada que empunharam,pelas muitas lágrimas querolaram em seus rostos devi-do à saudade do que deixa-ram para trás. Sim, deixa-ram para trás um país em
crise e vieram “fazer a Améri-ca”, alimentados por sonhose desejos de uma vida melhor,de construírem aqui o que jánão encontravam por lá.
Será que nós teríamos amesma coragem dos nossosancestrais?
Deixaram tudo para trás,enfrentando uma longa via-gem a bordo de um vapor abar-rotado de gente e na bagagemalguns poucos pertences. Nocolo, filhos, na maioria dasvezes, e no peito a incerteza ea esperança mescladas, fren-te ao que iriam encontrar.
Como a maioria dosleopoldinenses, o sangue des-ta brava gente corre em mi-nhas veias e é motivo de orgu-lho poder homenageá-los jun-tamente às comemorações do
centenário de fundação daColônia Agrícola daConstança, tendo a certezaque sua história de vida nãoficará esquecida, nos braços daeternidade.
Muitas foram as tentati-vas, no decorrer destes anos,de colocar em prática o pro-jeto de resgate da históriade Leopoldina, principal-mente de implantá-lo juntoà rede municipal de Ensino.Enfim, a concretização doprincipal objetivo do “Proje-to Conhecendo suas Raízes”começa a ganhar forma, como apoio da municipalidade ede tantos outros “filhos daterra” que também abraça-ram esta ideia.
Ao abraçarmos esta idéia,recebemos muito mais do
que o conhecimento da nossahistória: recebemos a respon-sabilidade da preservação econtinuação deste tão impor-tante trabalho.
Parabéns aosleopoldinenses, de nascimen-to ou de coração, que soma-ram esforços a este nobre ide-al e “arregaçaram as mangas”juntamente com nossos rarosguerreiros, que nunca esmo-receram perante as inúmerasvicissitudes que encontraramnesta longa caminhada.
À Nilza Cantoni e ao JoséLuiz Machado, raros e bravosguerreiros, o nosso mais pro-fundo respeito e admiraçãopelo trabalho ímpar que hátanto realizam, com afinco,esmero e tanto amor à nossaamada terra: Leopoldina.
O texto de Nilza e Zé Luiz resgata uma história que ainda nãotinha sido contada, estava dispersa nos muitos arquivos deste“Mundão de Meu Deus”. Agora conhecemos a saga dosimigrantes italianos para orgulho de seus descendentes e detodos nós que formamos a comunidade leopoldinense.
Serginho França, Filomena Gorrado, Vivian Gorrado
COLÔNIA CONSTANÇA memória e história6
Memória e Históriaoda pesquisa é planejada a partir de um tema que desperta o interesse.No nosso caso, trata-se da memória coletiva a respeito das profundasalterações que permearam a entrada da sociedade leopoldinense no sécu-lo XX. Como memória coletiva entendemos, conforme ensinou Pierre Norano artigo Entre memória e história: a problemática dos lugares, tudo aqui-
lo que ficou do passado e que nortea o modo de vida contemporâneo.A memória coletiva dá oportunidade ao sujeito de desenvolver o processo de for-
mação da identidade. Para melhor compreender onde se forma esta memória, par-timos da conceituação de Pierre Nora para os “lugares da memória”. Podem serlugares materiais, funcionais ou simbólicos.
Como lugares materiais teríamos, por exemplo, os monumentos nos quais a me-mória social se alimenta através dos sentidos. É aquele momento em que, diante deuma estátua, por exemplo, nós nos lembramos do personagem ou da cena ali retra-tada. Lugares funcionais de memória são as celebrações, como um desfile cívico ouuma festa de casamento. Ambos nos fazem refletir sobre o motivo que gerou acerimônia. Já os lugares simbólicos são, por exemplo, aquelas situações em quereclamamos uma providência ou uma decisão, com base na memória que guarda-mos do que são nossos direitos e obrigações.
Os lugares da memória respondem à necessidade de reconstituição do sujeito,sendo formados através de ligação do passado com o presente, num misto de memó-ria e história. O passado é o outro tempo, do qual aparentemente estamos desliga-dos. Entretanto, é nele que vamos encontrar os elementos constitutivos de nossaidentidade. Usando as palavras de Nora, os “restos” do passado que podemosalcançar fazem parte da nossa identidade.
Não há memória sem história e o ser humano tem necessidade de identificar umaorigem, um nascimento, algo que lhe permita situar-se na sociedade. Entretanto, ahistória tradicional não favorecia o movimento do sujeito para encontrar-se, umavez que se dedicava especialmente aos grandes personagens do passado. PierreNora esclarece que não há memória espontânea, sendo necessário criar arquivos,festejar aniversários e organizar celebrações, para que todos possamos ter um“lugar de memória”, ou seja, um lugar onde nos encontraremos com o passado. Masa construção destes lugares depende de escolhas.
Houve um tempo na trajetória da sociedade leopoldinense em que se fabricaramheróis para o culto popular. Estes heróis foram escolhidos por quem detinha o poderde elegê-los e, consequentemente, muitos personagens e fatos de nossa históriaforam silenciados. Muitos são os teóricos que abordam estes “silêncios da história”como causadores de uma certa perda de identidade nas populações. Um dele, JacquerLe Goff, declara no livro História e Memória que a arte de escrever história, ou seja,a historiografia, nasceu de uma nova visão sobre o passado que demanda revisõespara recuperar perdas e falhas na memória. Para este autor, existem pelo menosduas histórias: a da memória coletiva e a dos historiadores. A primeira relaciona-secom o vivido e está povoada de mitos, necessitando da segunda na medida em queos historiadores busquem corrigir esta “história tradicional falseada”, esclarecen-do a memória e retificando os desvios.
Ciro Flamarion Cardoso, no artigo Um historiadorfala de teoria e metodologia, recorda que os his-toriadores frequentemente se dedicama desmistificar as memórias co-letivas dominantes, ofici-
Tais e construídas pelo poder, que permitem facilmente a identificação das escolhasde quem as produziu.
No nosso caso não se trata exatamente de desmontar uma história oficial, mas deresgatar a memória de uma fatia da sociedade leopoldinense que ainda não foiregistrada. Nós trabalhamos com o “silêncio” da história oficial, ou seja, com a faltade referências sobre a imigração em Leopoldina.
Nossa responsabilidade, portanto, é levantar o véu de um passado próximo embusca de conhecê-lo. Neste movimento, vamos montando um “lugar de memória” quequeremos colocar à disposição de todos. A memória na qual cresce a história que, porsua vez a alimenta, procura salvar o passado para servir ao presente e ao futuro.
Todos devemos lutar pela democratização da memória social, através da pesqui-sa da memória do homem comum. Lembrando ainda Le Goff, o conhecimento nãooficial, não institucionalizado, não se cristaliza como tradição. No entanto, é atradição que representa a consciência coletiva de grupos inteiros em oposição aoconhecimento privatizado e monopolizado por interesses constituídos.
A memória é um instrumento de poder na medida em que passam a fazer parte datradição de uma sociedade apenas os eventos selecionados pelo produtor dos docu-mentos e monumentos. O que sobrevive não é o conjunto daquilo que existiu nopassado, mas uma escolha efetuada quer pelas forças que operam no desenvolvi-mento temporal do mundo e da humanidade, quer pelos que se dedicam à ciência dopassado e do tempo que passa, os historiadores.
Para ficar num exemplo muito próximo a nós, como forças do desenvolvimentotemporal poderíamos incluir aquelas que escolheram os nomes dos logradourospúblicos de uma cidade ou as que decidiram quais seriam as celebrações oficiaisnum município. Tais forças foram construtoras de um dos lugares de memóriacitados no início deste texto. Pelo lado dos historiadores, citaríamos o “silêncio” queproduziram sobre a Colônia Agrícola da Constança. Esta ausência é também umlugar: o de falta de memória.
Mas nenhum ser humano é capaz de atender a todas as necessidades. Vivemosnuma sociedade composta de múltiplos sujeitos, cada um com habilidades especí-ficas. No nosso caso, somos aprendizes de uma especialidade que tem uma caracte-rística definida por Lucien Febvre como a habilidade de fabricar mel a partir detudo o que o homem faz, exprime e demonstra.
Mas é preciso ficar atento, como sugere Marc Bloch em Apologia da História, paraa ilusão de imaginar que existe um tipo especial de fonte para cada problema depesquisa. Aliás, as fontes não surgem por efeitos miraculosos e sua existência ouausência depende de causas humanas. Nós buscamos referências numa grandevariedade de fontes para construir nosso estudo que passa a constituir um lugar damemória da Imigração em Leopoldina e da Colônia Agrícola da Constança.
Voltando a Le Goff, documentos são também monumentos, na medida em quefuncionam como um inconsciente cultural. O monumento é uma roupagem, umsuporte onde a memória coletiva se sustenta, ou, um lugar de memória comodefiniu Pierre Nora. Mas nem todos os monumentos estão disponíveis nas praçaspúblicas ou são apresentados em eventos oficiais, conforme temos visto em
Leopoldina em relação à história da Colônia Constança. Ao apresentar aopúblico uma parte dos nossos estudos, nossa intenção é estimular o
conhecimento e criar um monumento à memória de umgrupo de moradores que mudou a fisionomia da
nossa cidade. �
7
A IMIGRAÇÃO EM LEOPOLDINA VISTA ATRAVÉSDOS ASSENTOS PAROQUIAIS DE MATRIMÔNIO
ontes privilegiadasem nossos estudos,os Livros Paroquiaisforam indicados porGilberto Freyre, no
prefácio da primeira edição deCasa Grande & Senzala, em1930, como necessários paraestudos sobre a família. Acre-ditamos que se o período de ob-servação for anterior a 1931,poucas fontes serão tão infor-mativas quanto aquelas que seencontram nos arquivos eclesi-ásticos. Isto porque, embora oregistro civil tenha sido implan-tado ainda ao tempo do Impé-rio, seus custos mostravam-sesuperiores aos praticados pelaigreja. Esta situação só se modi-ficou com o Decreto nº 19.710,de 18.02.1931, que liberou demulta os registros em atraso.Sendo assim, qualquer estudosobre antigas famílias ficaria in-completo se não considerasse osassentos paroquiais.
Entretanto, nosso projeto nãose destinava a analisar a famí-lia, quer seja pelo conceito am-plo que interessa aos sociólogos,através das noções de parentes-co e compadrio, nem tampoucopelo sentido restrito que se vol-ta para a família nuclear, for-mada pelos progenitores e seus
filhos. Na verdade nós iniciamospor um recorte sobre observa-ções realizadas ao longo do le-vantamento de dados nos livrosparoquiais de Leopoldina, rela-tivos ao período de 1861 a 1930,especialmente da Igreja Matrizda sede municipal. Segundo Ma-ria Beatriz Nizza da Silva, emSistema de Casamento no Bra-sil Colonial, página 85, “contrairesponsais significava, no Brasilcolonial, [...] seguir um rito, umcerimonial, com data marcadacomo um casamento, assistidotambém por testemunhas”. Nósfomos buscar tais indícios e aforma como apareciam no finaldo século XIX, coletando infor-mações nos livros paroquiais dematrimônios. Deste trabalhoressaltou um aspecto que dizrespeito à representa-tividadedos imigrantes na composiçãoda sociedade leopoldinense, noperíodo de transição que vai dofim do Império à consolidaçãoda República.
Quantos teriam sido estesimigrantes? Esta foi a ques-tão que nos propusemos,com o objetivo de ampliar oconhecimento sobre o perí-odo em que foi fundada aColônia Agrícola daConstança.
FATOS NORTEADORESPara além da coleta mecâ-
nica de dados, os livros paro-
quiais permitem perceber
que “os sistemas de
nupcialidade não eram idên-
ticos”, como ressalta Mary
del Priore em História do
Amor no Brasil, página 63.
Abordando o período coloni-
al, a autora informa que ha-
via diferenças entre os casa-
mentos de livres e de escra-
vos, sendo que aqueles podi-
am escolher livremente o mo-
mento da união, embora ob-
servando o “tempo proibido”,
ou seja, períodos de penitên-
cia nos quais a Igreja
desaconselhava festivida-
des. Ainda assim, apenas nas
áreas mais afastadas dos
centros populosos o número
de casamentos entre pesso-
as livres era reduzido dras-
ticamente no Advento, na
Semana Santa e na Quares-
ma. Já para os escravos, ha-
via uma outra imposição:
durante o período de semea-
dura ou de colheita eles não
recebiam permissão de seus
senhores para realizarem os
rituais religiosos.
Embora se refiram ao pe-
ríodo colonial, não é difícil ob-
servar que as diferenças per-
maneciam, um pouco suavi-
zadas, no final do Império. E
talvez acrescidas de um ou-
tro problema relatado por
Nizza da Silva em relação à
permissão de casamentos
entre mancípios. Trata-se,
neste caso, das provisões
exigidas pela igreja para a
realização do matrimônio.
Lembra a autora que as
Constituições Primeiras do
Arcebispado da Bahia, que
regiam no Brasil as normas
exaradas pelo Concílio
Tridentino, não esclarecem
quais documentos eram
enfeixados no conceito de pro-
visões, sendo possível supor
que fossem exigidas certi-
dões de batismo, atestado de
residência e certidão de óbi-
to do primeiro cônjuge quan-
do o contraente fosse viúvo.
O processo de casamento,
portanto, envolvia o dispên-
dio de somas consideráveis
nos casos em que os
nubentes tivessem nascido
em outro local.
Este complicador para os
casamentos de escravos fa-
zia-se presente para os imi-
grantes. Para estes, o proces-
so poderia estender-se por
longo tempo diante da neces-
sidade do imigrante provar
ser batizado e solteiro. A al-
ternativa era a apresentação
de fianças e cauções que não
estavam ao alcance da popu-
lação mais pobre. Um pes-
quisador que se debruce so-
bre as massas e não sobre
as elites, precisa verificar a
incidência destas e de outras
práticas para diminuir o ris-
co de contaminação de uma
pesquisa. Uma interpreta-
ção parcial pode resultar em
conclusões superficiais que
não condizem com a realida-
de e que, infelizmente, estão
presentes em antigas obras
de referência para a nossa
história.
ANÁLISE DAS INFORMAÇÕESO levantamento dos dados
foi realizado nos livros de ma-trimônios da Paróquia de SãoSebastião da Leopoldina doperíodo de 1861 a 1930. O es-tado de conservação é diferen-te entre as várias unidades doacervo e nem todos são livrosoriginais. Entre outros riscos,o encapamento com materialplástico, inadequado à conser-vação, poderá antecipar o fimda vida útil do material.
Realizamos uma análisecomparativa e excluímos osdados que apresentam diver-gências significativas, especi-almente no que tange ao des-vio padrão para a quantidadede eventos anuais. Decidimos,ao final, pelo recorte tempo-ral que vai de maio de 1890 adezembro de 1930.
Lembramos que o grandefluxo de imigração paraLeopoldina ocorreu entre 1888e 1898, sendo que os casamen-tos entre os estrangeiros che-gados em 1888 começarampartir de 1890, já que poucoseram os jovens solteiros, comidade para contrair matrimô-nio, que passaram ao Brasilcom suas famílias. Desta for-
ma, a data inicial reúne o mo-mento em que as informaçõesestão mais bem dispostas noslivros de assentos e o inícioefetivo de casamentos entreeles.
Quanto à data final, foi de-finida com base na constataçãode que após 1930 os casamen-tos já envolviam a segundageração de descendentes e oobjetivo era registrar amesclagem na população deLeopoldina entre os naturaisde outros países e seus filhos.
A destacar, ainda, a dificul-dade de identificação dos na-turais de Portugal e Espanha,cuja origem nem sempre apa-rece nos registros transcritospelo Padre Aristides. Conside-rando que esta ausência podeter acontecido também comimigrantes árabes, cujos no-mes foram mais intensamen-te aportuguesados, é necessá-rio um certo cuidado no senti-do de considerar estas conclu-sões tão somente como a vi-são da população deLeopoldina com base nos re-gistros paroquiais de casa-mentos da Paróquia de SãoSebastião de Leopoldina.
CONCLUSÃOAlém de confirmarmos a pre-
sença de várias nacionalidadesvivendo em Leopoldina, o re-sultado deste trabalhou indicouque, entre 1890 e 1930, 10% dapopulação local era compostapor estrangeiros, sendo 9% ita-lianos e 1% das demais nacio-nalidades (portugueses, espa-
nhóis, sírios, açorianos, france-ses, canarinos e egípcios).
Sendo assim, nossa hipóte-se sobre o peso dos imigrantesna formação da sociedadeleopoldinense que adentrou oséculo XX encontrou, nesteestudo, a sustentação que bus-cávamos. �
F
100 anos da Colônia Agrícola Constança
Altar da Capela de Santo Antônio de Pádua, igreja da Colônia
100 anos da Colônia Agrícola Constança8
LOTE 01
João Batista de Almeida Paula instalou-se na Co-lônia Agrícola da Constança a 01 jul 1909. Casado comMessias de Rezende Guimarães. Pais de: Maria
Aparecida Guimarães de Paula e Corina.
LOTE 02
PRIMEIRO OCUPANTE
Manoel José dos Passos instalou-se na Colônia Agríco-la da Constança a 15 ago 1910
SEGUNDO OCUPANTE
Manoel Gomes Pardal nasceu em Portugal. Instalou-seno dia 25 nov 1911 na Colônia Agrícola da Constança. Ca-sou-se com Maria Ilidia de Rezende. Pais de: Maria
Eliza; Avelino (1899); Roza (1902); Izabel (1906);Mariana (1908); Francisco (1910); Almerinda (1910) eIgnacia Pardal (1919).
LOTE 03
Francisco Carneiro de Macedo nasceu em Portugal.Imigrou em 1888. Instalou-se no dia 05 jul 1910 na ColôniaAgrícola da Constança. Casado com Albina Rodrigues
da Costa, pais de: Maria de Jesus Macedo (1881);Piedade dos Anjos; Felicio da Costa Macedo eHermelinda Macedo (1897).
LOTE 04
Jesus Salvador Lomba nasceu em San Ciro, Espanha.Instalou-se na Colônia Agrícola da Constança no dia 20jul 1910. Casou-se com Maria Madalena Lorenzetto
em 28 nov 1903 em Leopoldina, onde ela nasceu.
LOTE 05
PRIMEIRO OCUPANTE
Demetrio de Lorenzi nasceu na Itália. Instalou-se nodia 26 fev 1911 na Colônia Agrícola da Constança, de ondesaiu aos 30 mai 1911.
SEGUNDO OCUPANTE
Carlo Meccariello nasceu na Itália. Imigrou em agostode 1896. Instalou-se no dia 26 ago 1911 na Colônia Agríco-la da Constança. Era casado com Maria Antonia
Ciovonelli, também italiana. Pais de: Maria Beatriz;
Mariana (1880); Andrea (1882); Vittoria;
Pasqualina; Nicolao (1896); Fioravanti (1898) eDeolindo Meccariello (1900).
LOTE 06
Felice Antonio Campagna nasceu na Itália. Instalou-seaos 21 de jun de 1911 na Colônia Agrícola da Constança.Casado com a italiana Carmina Marzilio. Pais de:Giuseppe; Nicola (1893); Roque (1897); Lucia (1899);Margarida (1902); Maria (1904); João (1906);Fortunata (1908); Maria (1908); Thomaz (1910) e Ge-
raldo Campagna (1911).
LOTE 07
Vittorio Carraro imigrou em outubro 1888 da Itália. Ins-talou-se 25 nov 1911 na Colônia Agrícola da Constança.Casou-se com Elisabetta Carraro. Foram pais de: Elizia
(1899); Angelina (1900); Maximiano (1903); E m i l i a
(1906); Maria (1908); Amélia (1912) e Rosa (1914).
LOTE 08Paschoal Domenico Fofano nasceu em MoglianoVeneto, Treviso. Instalou-se aos 14 jun 1910 na ColôniaAgrícola da Constança. Era casado com Oliva
Meneghetti. Pais de: Maria Carolina (1899); Ama-
lia Luiza (1900); Arminda (1901); Rosalina (1903);Francisco (1906); Ernestina (1909); Luiza (1911); José
Bernardo (1914); Idalina (1917); Violanda Lucia
(1920) e João Amaro (1922).
LOTE 09
Felice Augusto Meneghetti nasceu em 07 ago 1873em Campolongo Maggiore, Venezia. Imigrou em outubro1888. Em 14 jun 1910 instalou-se na Colônia Agrícola daConstança. Casou-se com Ida de Angelis com quem teveos filhos: Antonio (1902); Pierina (1904); Paschoa
(1907); Rafael (1912); Maria (1915) e José
Meneghetti (1917).
LOTE 10
Augusto Santos instalou-se aos 14 de jun de 1910 naColônia Agrícola da Constança.
LOTE 11
Pietro Balbini nasceu na Itália. Instalou-se na ColôniaAgrícola da Constança em 28 dez 1910.
LOTE 12
Francesco Colle nasceu em Cesarolo, S.Michelle alTagliamento, Venezia, Veneto, Itália. Instalou-se na Colô-nia Agrícola da Constança em 28 dez 1910. Casado comPierina Galasso teve os seguintes filhos: Santina
(1899); Marcelina (1901); Regina (1904); Angelo
(1907); Antonio José (1915); Francisco João (1918) eCecilia Colle (1910).
LOTE 13
Giuseppe Pittano nasceu na Itália. Instalou-se naColônia Agrícola da Constança em 28 dez 1910. Casadocom Antonia Bergamasso foi pai de Rosa (1912).
LOTE 14
Giovanni Sampieri nasceu na Itália. Imigrou em 1895.Instalou-se na Colônia Agrícola da Constança em 28 dez1910. Casado com Clotilde, teve os seguintes filhos:Margherita (1887); Luigi (1889); Teresa (1892) ePietro (1894).
LOTE 15
Modesto Pumpemayer instalou-se na ColôniaAgrícola da Constança em 11 jan 1911.
LOTE 16
Auriel de Rezende Montes nasceu em 02 nov 1874 emPiacatuba, Leopoldina, MG. Em 15 jul 1910 instalou-se naColônia Agrícola da Constança. Casado com Ambrosina
Francisca Coelho dos Santos foi pai de: Tereza (1901);Sebastião (1903); Arina (1906) e Graziela (1908)
LOTE 17Francisco Antonio Reiff Júnior instalou-se naColônia Agrícola da Constança em 15 jul 1910.
LOTE 18
Jeronimo José da Silva instalou-se em 15 jul 1910 naColônia Agrícola da Constança. Foi pai de Maria (1914).
LOTE 19
João Pacheco de Carvalho nasceu em Providência. Instalou-se em 15 jul 1910 na Colônia Agrícola da Constança. Casadocom Emilia Vasconcelos Pereira teve os filhos: Joaquim
(1910); Pedro (1913); Paulo (1915) e Maria Aparecida (1920).
LOTE 20
Luigi Marcatto nasceu em Pianiga, Venezia, Veneto,Italia. Imigrou em 1896. Instalou-se em 28 dez 1910 naColônia Agrícola da Constança. Casado com Anna
Maria Ceoldo foi pai de: Antonio (1914).
LOTE 21
PRIMEIRO OCUPANTE
Angelo Bucciol instalou-se em 28 dez 1910 na ColôniaAgrícola da Constança, abandonando-a em 30 jun 1911.
SEGUNDO OCUPANTE
Francesco Abolis instalou-se em 26 out 1911 naColônia Agrícola da Constança. Casado com Maria,falecida em Leopoldina em 6 abr 1912 logo após perdero filho nascido em março daquele ano.
LOTE 22
PRIMEIRO OCUPANTE
João Simão Raipp.instalou-se em 20 out 1910 na Colô-nia Agrícola da Constança. Casado com Francisca Ma-
ria de Aguiar teve os filhos: Maria da Luz (1911) eTomé Raipp (1912).
OUTRO OCUPANTE
Antonio Augusto Rodrigues nasceu em 30.08.1881 emLeopoldina, MG. Instalou-se na Colônia Agrícola da Constançaem 04 jun 1924. Casado com Maria Antonia de Oliveira
teve os seguintes filhos: Sebastião (1907); Mariana (1909);João (1911), Lucia (1913); Balbina (1916); Bárbara
(1916); Geraldo (1921) e Madalena (1918).
100 anos da Colônia Agrícola Constança 9
LOTE 23
Fortunato Bonini nasceu em 13 jul 1855 na Itália. Imi-grou em 1885. Em 25 nov 1911 instalou-se na Colônia Agrí-cola da Constança. Casado com Maria Darglia foi paide: Paschoa (1886); Jacinto; João (1890); Maria
(1892); Regina (1893); Maria (1894); Antonio (1895);Josefina (1897); Felomena (1900) e Ana Bonini (1903).
LOTE 24
Eugenio Travain instalou-se em 11 jan 1911 na ColôniaAgrícola da Constança.
LOTE 25
Luigi Meneghetti nasceu em Campolongo Maggiore,Venezia, Veneto, Itália. Imigrou em 1888. Em 14 jun1910 instalou-se na Colônia Agrícola da Constança.Casado com Maria Verona teve os filhos: Felice
(1872); Oliva (1877); Domenico (1880); Giuseppe;Agostino e Maria Maddalena Meneghetti (1888).
LOTE 26
Giovanni Battista Gottardo nasceu em 26 out 1872em Vigonza, Padova, Veneto, Itália. Imigrou em 1888.Em 14 jun 1910 instalou-se na Colônia Agrícola daConstança. Casado com Costantina Meneghetti teveos filhos José; Fortunato (1906); Maria Zulmira
(1907); Pasquina (1911); João Batista (1913) eArcangela Micaela (1916).
LOTE 27
Carlo Batista Fofano nasceu em Mogliano Veneto,Treviso, Veneto, Itália. Em 14 jun 1910 instalou-se naColônia Agrícola da Constança. Casado com Amabile
Stefani teve os filhos: Antonio Carlos (1904);Alberto Carlos (1906); José (1909); Maria (1913);Alfredo (1916); Eugenio (1918) e Virginia Fofano.
LOTE 28
PRIMEIRO OCUPANTE
Leopoldo Abolis instalou-se em 11 jan 1911 na Colô-nia Agrícola da Constança. Casado com Camila
Locatelli teve os filhos: Akires; Antonia; Domingos;José; Orlando; Rosa; Sebastião; Enrico; Narciso
Pedro; Baptista Narciso e Arlindo Abolis nascidoapós a família se transferir para Mimoso do Sul, ES.
OUTRO OCUPANTE
Antonio Montagna nasceu em Rovigo, Veneto, Itália.Instalou-se na Colônia Agrícola da Constança antes de1920. Era casado com Josefina da Silva com quemteve os filhos: Luiz (1909); João Batista (1911);Virginia (1913); Valentim (1918) e Rosa (1920).
LOTE 29
Giovanni Boller instalou-se na Colônia Agrícola daConstança em 26 fev 1911. Casado com Maria, com
quem teve o filho Victorino Boller nascido em 25 mar1912 em Leopoldina.
LOTE 30
PRIMEIRO OCUPANTE
Henrique Mihe instalou-se em 05 out 1910 na ColôniaAgrícola da Constança.
SEGUNDO OCUPANTE
Giovanni Lupatini nasceu em 1856 em Castrezzato,Brescia, Lombardia, Itália. Imigrou em 1895. Em 10 ago 1911instalou-se na Colônia Agrícola da Constança. Casado comMaria Zanetti teve os filhos: Santina (1885); Giulia
Francesca (1887); Ema Metilde (1890); Giuseppe
Pietro (1897); Vincenzo Pietro (1900) e João (1902).
LOTE 31
PRIMEIRO OCUPANTE
Herman Krause instalou-se em 27 jan 1910 na ColôniaAgrícola da Constança, abandonando-a em 30 jun 1910.
SEGUNDO OCUPANTE
Luigi Boller instalou-se em 26 fev 1911 na ColôniaAgrícola da Constança.
LOTE 32
PRIMEIRO OCUPANTE
Bruno Troche instalou-se em 27 jan 1910 na ColôniaAgrícola da Constança, abandonando-a em 06 jun 1910.
SEGUNDO OCUPANTE
Giuseppe Boller instalou-se em 26 fev 1911 na ColôniaAgrícola da Constança. Casado com Mellonia Boller
com quem teve os filhos Ema (1909) e Ida Boller (1911).
LOTE 33
Fritz Zessin instalou-se em 10 dez 1909 na ColôniaAgrícola da Constança.
LOTE 34
Eugenio Stefani nasceu em 24 ago 1887 em Rovigo,Veneto, Itália. Imigrou em 1888. Em 15 jun 1910 instalou-se na Colônia Agrícola da Constança. Casado com Carolina
Catterina Bolzoni com quem teve os filhos: Antonio
(1910); Ernestina (1914); Vicente (1926); Antonina
(1929); Olivia (1930) e Alzira Stefani (1932).
LOTE 35
Giuseppe Casadio nasceu em 31 mai 1885 em MassaLombarda, Ravenna, Emilia Romagna, Itália. Imigrou em1897. Em 15 jun 1910 instalou-se na Colônia Agrícola daConstança. Casado com Carlota Maria da Conceição
teve os seguintes filhos: Sebastião (1909); Maria da
Glória (1913); Antonio (1917); Gabriel (1927);Arminda (1929) e João Casadio.
LOTE 36
Francisco Dias Ferreira instalou-se em 15 jun 1910na Colônia Agrícola da Constança.
LOTE 37
Manoel da Cruz Cartacho instalou-se em 30 jan 1910 naColônia Agrícola da Constança. Casado com MariaCândida de Jesus teve os filhos: Antonio (1883); Júlia(1885); Manoel (1890) e Rosa Maria de Jesus.
LOTE 38
Angelo Secanelli instalou-se em 30 mar 1911 naColônia Agrícola da Constança.
LOTE 39
Giovanni Lupatini já mencionado no lote 30 daColônia Agrícola da Constança.
LOTE 40
José Manoel da Costa instalou-se em 25 nov 1910na Colônia Agrícola da Constança.
LOTE 41
Augusto Mesquita instalou-se em 04 dez 1909 naColônia Agrícola da Constança.
LOTE 42
Pasquale Ferrari instalou-se em 26 fev 1911 na Colô-nia Agrícola da Constança. Foi pai de Concettina
Ferrari nascida em 1896, quando ainda morava emProvidência, Leopoldina.
LOTE 44
PRIMEIRO OCUPANTE
Franz Schaden instalou-se em 27 jan 1910 na ColôniaAgrícola da Constança, abandonando-a em 30 mar 1910.
SEGUNDO OCUPANTE
Rudolf Rottemberg instalou-se em 19 out 1910 naColônia Agrícola da Constança. E em 1914, emLeopoldina, casou-se com Wilhelmine.
LOTE 45
PRIMEIRO OCUPANTE
August Schill instalou-se em 28 nov 1909 na ColôniaAgrícola da Constança, abandonando-a em 20 jun 1911.
SEGUNDO OCUPANTE
Gustav Fischer instalou-se em 26 ago 1911 na ColôniaAgrícola da Constança. Casado com Claire Burghart
com quem teve os filhos: Luiza; Maria e Alfredo Fischer.
LOTE 46
Franz Ketterer instalou-se em 28 nov 1909 na ColôniaAgrícola da Constança.
100 anos da Colônia Agrícola Constança10
LOTE 47
Julio Teixeira Figueiredo nasceu em Portugal. Instalou-se em 16 jun 1910 na Colônia Agrícola da Constança.
LOTE 56
Candido Giuliani nasceu na Itália. Imigrou em 1894. Em20 jul 1910 instalou-se na Colônia Agrícola da Constança.Casado com Maria Casella teve os filhos: Luigi;Domenico; Angela; Amabile; Luigia e José (1896).
LOTE 62
Pedro Pacheco de Carvalho Filho nasceu emPortugal. Instalou-se no dia 18 dez 1911 na ColôniaAgrícola da Constança. Casou-se com Manoela
Rodrigues de Moraes com quem teve os filhos:Honorina (1902); Enedina (1909); Dolores; Dinah;Castelar; Odete; Vicentina; Emerenciana (1915) eSebastiana (1917).
LOTE 48
PRIMEIRO OCUPANTE
Franz Negedlo instalou-se em 08 dez 1909 na ColôniaAgrícola da Constança, abandonando-a em 15 ago 1910.
SEGUNDO OCUPANTE
João Jorge Klaiber instalou-se em 19 out 1910 naColônia Agrícola da Constança.
LOTE 49
Wilhelm Zessin instalou-se em 28 nov 1909 na ColôniaAgrícola da Constança.
LOTE 50
PRIMEIRO OCUPANTE
August Krauger instalou-se em 28 nov 1909 na ColôniaAgrícola da Constança, abandonando-a em 20 jun 1910.
SEGUNDO OCUPANTE
Pietro Beatrici nasceu em Trento, Trento, Trentino-Alto Adige, Itália. Instalou-se em 26 fev 1911 na ColôniaAgrícola da Constança. Casado com Erminia Matteoti
com quem teve os filhos: Pedro Vitorio (1907) eAugusto Pietro Beatrici.
LOTE 51
Ernest Lang instalou-se em 27 jan 1910 na ColôniaAgrícola da Constança.
LOTE 52
Mathias Hensel nasceu em Magdeburg, Sachsen-Anhalt, Germany. Instalou-se em 28 nov 1909 na ColôniaAgrícola da Constança. Casado com Ida Blücher comquem teve os filhos: Elza; Otto; Franz; Willi; Frida
e Ana Elisabeth Hensel.
LOTE 53
PRIMEIRO OCUPANTE
LOTE 54
Hermann Richter instalou-se em 15 jan 1910 na ColôniaAgrícola da Constança.
LOTE 55
Giovanni Ottavio Anzolin nasceu em 23 mar 1878 emPortogruaro, Venezia, Veneto, Itália. Instalou-se em 11 jan1911 na Colônia Agrícola da Constança. Casado com Rosa
Pasianot com quem teve os filhos: Genoveva; Geraldo; Ota-
vio (1902); Maria (1904); Antonia (1906); Costantino
João (1914) e Eleonor Veronica Anzolin (1917).
LOTE 57Basilio Anzolin nasceu em 03 jun 1881 em Portogruaro,Venezia, Veneto, Itália. Em 11 jan 1911 instalou-se na ColôniaAgrícola da Constança. Com a primeira esposa, Antonia
Ramanzi, teve os filhos: Maria (1912); Antonio (1913);José Luiz (1915) e Maria Luiza (1916). Casou-se asegunda vez com Luiza Gallito com quem teve os filhos:Carmita Isabel; Donatila Julieta; Germano Lucas;Carolina Regina; Maria Santina e Faustino
Secondiano Anzolin.
LOTE 58 e 59
Giovanni Carminatti nasceu em Ghisalba, Bergamo,Lombardia, Itália. Imigrou em 1896. Em jun 1910 instalou-se na Colônia Agrícola da Constança. Casado com Angela
Pagano com quem teve os filhos: Maria Dalia (1888);Guglielmo; Arturo; Gregorio; Pietro Silvio; Assunta;Belmira e Conceição Carminatti.
LOTE 60
PRIMEIRO OCUPANTE
Sante Sellani nasceu em 05 mar 1864 em Parrano,Perugia, Umbria, Itália. Imigrou em 1898. Em 11 jun 1910instalou-se na Colônia Agrícola da Constança. Casado comAna Bisciaio, teve os filhos: Ottorino (1893); Enrico
(1895); Cecilia (1898); Oliva; Santina (1903) e Alfredo
Sellani. Transferiu-se para o município de Muriaé.SEGUNDO OCUPANTE
Giuseppe Sangalli imigrou em 1894. Foi contratado pelaCâmara Municipal de Leopoldina para trabalhar naColônia Santo Antônio. Com a saída de Sante Sellani,instalou-se no lote 60 da Colônia Agrícola da Constança.Casado com Rosa Vigarò, teve os filhos: Angelo Giulio;Arturo e Gioconda Sangalli nascida em 10 nov 1889em Brughério, Milano, Lombardia, Itália.
LOTE 61
Braz Brando instalou-se em 31 out 1911 na ColôniaAgrícola da Constança. Provavelmente trata-se do maridode Vittoria Meccariello, filha de Carlo Meccariello,segundo ocupante do lote 5, da mesma Colônia.
LOTE 63 e 64
Manoel Gomes Pardal, já citado no lote 2 da ColôniaAgrícola da Constança.
LOTE 66
Antônio Augusto Rodrigues, já citado no lote 22 daColônia Agrícola da Constança.
Karl Thier instalou-se em 08 dez 1909 na Colônia Agrícola daConstança, abandonando-a em 20 jun 1911.
SEGUNDO OCUPANTE
Felicio Beatrici nasceu em Trento, Trento, Trentino-Alto Adige,Itália. Instalou-se em 26 fev 1911 na Colônia Agrícola da Constança.
100 anos da Colônia Agrícola Constança 11
EVOLUÇÃO DO NOSSO TRABALHOO Iníciorequentemente usamos o termo pesquisa quan-do abordamos uma de suas fases: a coleta dedados. Uma atitude muito comum entre nós,leigos ou amadores. Sabemos, porém, que esta é
apenas uma etapa do processo que habitualmente ante-cede à análise que, por sua vez, permite a composição dotexto da pesquisa em si.
A propósito, ao declarar que a história tem “a sorte oua infelicidade de poder ser feita convenientemente pelosamadores”, Jacques Le Goff ressalta, no livro História eMemória, que os não profissionais são necessários paraampliar a possibilidade de vulgarização da história, ocu-pando um espaço nem sempre assumido pelos historia-dores profissionais. O autor denomina porsemiprofissionais aos que se dedicam por prazer à pes-quisa histórica e que contribuem pela disseminação desteconhecimento que é um ramo fundamental do saber.
Para nos adequarmos à classificação sugerida por estemestre francês, procuramos nos aproximar dele e de ou-tros teóricos através de leituras intensivas, com vistas aproduzir um bom trabalho de resgate da memória daimigração em Leopoldina. Aprendemos que uma pesqui-sa nem sempre obedece rigorosamente às etapas plane-jadas porque diversos fatores podem sugerir a retoma-da de um passo anterior e mesmo uma readequação docronograma estabelecido.
Este é mais ou menos o retrato do que foi nosso traba-lho. Decidimos que utilizaríamos base de dados coletadosantes do início do projeto e o resultado de nossos estudosseria paulatinamente publicado num jornal de Leopoldinae em página na rede mundial de computadores.
Desde o início sabíamos que não contemplaríamos atotalidade dos lotes, uma vez que seria difícil encontrarfontes que mencionassem a todos eles. Apostamos, en-tão, na colaboração de nossos leitores que nos permitiri-am descobrir novas pistas e realizar um trabalho maisabrangente. Foi justamente o que aconteceu.
Para conhecer a história daquela boa gente que veio daEuropa para “fazer a América” nas terras leopoldinenses,encontramos as dificuldades comuns a qualquer pesqui-sa da espécie. No início, houve uma certa dificuldadepara abordar os moradores de Leopoldina que demons-travam naturais desconfianças quanto aos nossos pro-pósitos. Com o passar do tempo os entrevistados, namaioria descendentes dos imigrantes, começaram a com-preender as razões do nosso interesse pelo assunto. Atra-vés de coluna publicada em um jornal de Leopoldina naépoca dos 90 anos da Colônia Agrícola da Constança, aspessoas foram conhecendo a história da imigração e pas-saram a compreendê-la melhor e a sentirem o quanto éapaixonante escrever sobre o tema.
Os ColaboradoresApós cinco anos de pesquisas, fizemos um balanço do
que até então fora encontrado e tivemos grande satisfaçãoem comprovar o crescente número de colaboradores e inte-ressados. Pessoas da Colônia, da cidade e de lugares dis-tantes, muitos comentando a descoberta de parentes atra-vés dos nossos textos ou falando da felicidade de poderreatar laços de família que foram perdidos quando seusparentes foram buscar novos meios de vida em outros lu-gares, por lá permanecendo e criando suas proles. Alguns,contando a alegria de pais e avós ao lerem sobre os hábi-tos e costumes de seus antepassados, da emoção deles aoreviverem a história das viagens realizadas por seus pa-rentes até chegarem à Colônia Agrícola da Constança.
Assim surgiu a ideia de conclamar os moradores a pro-moverem um evento comemorativo do centenário da Colô-nia, em 2010. A cidade de Leopoldina deve muito à imigra-ção. A transição ocorrida entre o final do século XIX e oinício do século XX, desencadeada pela mudança entre omodo de produção baseado na mão de obra escrava e otrabalhador dito livre, refletiu-se evidentemente no modode vida de todos os cidadãos. Em Leopoldina, a entrada deum novo elemento de composição da sociedade acrescen-tou novos matizes à cultura local. Confirmando o que ensi-nam os antropólogos, uma cultura sofre profundas e ime-diatas modificações por assimilação de hábitos e costumestrazidos pelos imigrantes. De modo geral estas alteraçõesnão são percebidas no momento em que ocorrem. Só maistarde, ao olhar para o passado, podemos percebê-las comalguma clareza. É isto que temos observado: novas formasde geração de riqueza nasceram das mãos dos colonos que,trabalhando pelo desenvolvimento da nossa cidade enri-queceram a nossa cultura, o nosso modo de viver.
Em momento de reflexão, nós nos perguntamos: o que pre-tendíamos com a “mania” de escrever sobre a imigração eespecialmente sobre a Colônia Agrícola da Constança? Existi-ria algo que justificasse o gasto do tempo e do espaço ocupadono jornal para publicação de extratos de nossos estudos?
Como o periódico ainda não dispunha de meios para co-leta de dados que fornecessem subsídios para esta análi-se, principalmente sobre aaceitação e o interesse dosleitores, recorremos entãoàs estatísticas do site.
Por tais números verifica-mos que os textos nainternet receberam, emmédia, 125 visitas diáriasno ano de 2008. Ou seja,mais de uma centena depessoas mundo afora leu,
diariamente, alguma coisa sobre a Colônia Agrícola daConstança.
Este número levantou algumas curiosidades. A pri-meira delas é que, dentre os textos mais visitados,destacou-se o que abordou a localização da Colônia,recebendo média de 54 visitas/dia, num claro indíciode que esse contingente deveria ser majoritariamenteformado por leitores que se interessam pelo assuntomas são estranhos à Colônia. Dois outros aspectosinteressantes são observados na estatística: aproxi-madamente 50% dos leitores internautas leram oupesquisaram mais de uma das colunas; um poucomenos de 10% dos visitantes se dispôs a comentar oque foi lido ou solicitou mais informações através demensagens aos autores.
Estes números e percentuais são positivos do nossoponto de vista. Acreditamos que demonstram, clara-mente, que há interessados em conhecer a saga dosimigrantes, motivo suficiente para continuar com o tra-balho. Mas um outro motivo de semelhante importân-cia reforça esse entendimento. É o fato de tratar-se deum resgate histórico bastante específico, se considera-do a sua abrangência, e que mesmo assim desperta emvários leitores o desejo de saber um pouco mais sobreuma Colônia que era desconhecida até mesmo por ou-tros estudiosos da imigração para Minas Gerais.
O silêncio da Históriae o barulho do Progresso
Walter Benjamin sugeriu que o historiador deveriainterromper a história que se conta, com conhecimentode causa, para nela inscrever os “silêncios” encontra-dos. Por silêncios entenda-se o que tenha sidodesconsiderado pela história tradicional/oficial. Não nossentimos à altura do título de historiadores. Somosapenas dois apaixonados pela nossa Leopoldina, quepesquisamos sua história e temos a ousadia de escre-ver sobre os “silêncios” que descobrimos.
A propósito, segundo Michel Foucault em Arqueolo
A propósito, segundo Michel Foucault em Arqueologia do
Saber, a forma tradicional de história se dispunha a
memorizar os monumentos do passado, transformando-os em
documentos. Agora, a história transforma os documentos em
monumentos que sustentam a memória da sociedade.
F
100 anos da Colônia Agrícola Constança12
gia do Saber, a forma tradicional de história se dispu-nha a memorizar os monumentos do passado, transfor-mando-os em documentos. Agora, a história transfor-ma os documentos em monumentos que sustentam amemória da sociedade.
Escolhemos uma via que se contrapõe à história tra-dicional, a qual se concentrava em acontecimentos di-tos importantes, relegando ao esquecimento o que clas-sificava como desnecessário perpetuar. Entendemos porinviável tal posição, na medida em que os historiado-res do passado determinaram o que seria importante apartir de uma visão particular de mundo que não émais aceitável. Nossa escolha fundamenta-se, entreoutras, nas palavras de Fernand Braudel em Escritossobre a História, quando declara que não existe “indi-víduo encerrado em si mesmo”. Para ele, todas as aven-turas individuais se fundem na realidade social. Opta-mos pela reação contra “a história arbitrariamentereduzida ao papel dos heróis quinta-essenciados” comodisse este pensador, porque realmente acreditamos quea história modula o destino dos homens.
Na medida em que pudermos dar voz aos que foramdesconsiderados pela história tradicional, estaremoscontribuindo para um novo lugar de memória, onde osleopoldinenses poderão obter outros componentes de suaidentidade. Não basta mencionar os silêncios da histó-ria tradicional, declarou Jacques Le Goff; é preciso ques-tionar os documentos, interrogar-se sobre as lacunas epreencher os espaços em branco da história.
Nossos estudos sobre a presença de estrangeiros emLeopoldina envolveram informações sobre diversos mu-nicípios vizinhos, com vistas a conhecer o ambiente emque os fatos ocorreram. Para este aspecto, estabelece-mos como ponto de partida a década de 1870, por repre-sentar o início das modificações estruturais importan-tes no processo de urbanização da região, desencadeadascom a abertura da Estrada de Ferro Leopoldina.
O impulso desenvolvimentista promovido pela estra-da de ferro pode ser analisado a partir das primeirasestações ferroviárias, instaladas em comunidades ur-banas que logo depois passaram a contar com os servi-ços de água encanada, esgoto e energia elétrica.
Concluímos que, ao lado da estrada de ferro, o café tevegrande importância no desenvolvimento da região. En-tretanto, permitimo-nos discordar da afirmação maisou menos geral de que, nesse período, foi unicamente aexploração de cafezais que sustentou o progresso destaparte da mata mineira.
Esta afirmativa é uma simplificação perigosa, umavez que o café não foi a única riqueza do lugar. Até por-que, segundo a memória documental, nem todas as pro-priedades dedicavam-se exclusivamente aos cafezaisquando os imigrantes aqui chegaram. Sabemos quemuitas fazendas contavam com extensos plantéis de gadobovino, por exemplo.
Nosso questionamento se refere a algumas interpre-tações apressadas, dando conta de que todos os braços e
As mudançasQuer nos parecer que, para entendermos o que ocorreu com a
economia e com a sociedade da nossa região no início do séculoXX, precisamos analisar a grande mudança ocorrida no modode produção das nossas fazendas.
Para nós, o problema deve ser analisado pela ótica marxistade organização sócio-econômica, por onde se vê que o desenvol-vimento decorre da forma como as forças produtivas são em-pregadas nas relações de produção. Isto é, para compreender-mos os fatos sociais e políticos dependemos da análise domodo de produção de riquezas daquela sociedade. Ou, confor-me ensina Marc Bloch em Apologia da História, “nunca seexplica plenamente um fenômeno histórico fora do estudo deseu momento”. Fugir da ignorância do passado, acrescentaBloch, é romper com um limite que nos impede de comprendero presente e, por consequência, a ação do homem no presente.
Sabemos que a escravidão desenvolveu-se em solo brasilei-ro em função da estrutura econômica e social do regimecolonialista. A atividade agrícola tinha por objetivo suprir anecessidade de alimentos da população local e a formação deestoques a serem comercializados na metrópole e que, no casoespecífico de Leopoldina, era feito através do entreposto co-mercial localizado na Corte.
A mentalidade escravocrata do período imperial desvalori-zava o trabalho manual, herança sócio-cultural de épocasimemoriais. Por conta disso, a elite dominante não atuavadiretamente. Os donos das terras apenas supervisionavamseus feitores, eximindo-se e a seus filhos e parentes de qual-quer atividade que pudesse denegrir sua posição social.
Neste panorama, o mercado consumidor era bastante fe-chado. Os bens de consumo necessários à manutenção daspropriedades, bem como de seus habitantes, eram adquiri-dos de fontes restritas. Uns poucos comerciantes, de confor-midade com os fazendeiros, concentravam o poder de nego-ciar bens de natureza variada, adquirindo-os diretamentedo produtor rural – um fazendeiro de grande lastro ouentrepostos do Rio de Janeiro. Com esta prática, ao consu-midor não era dado o direito de buscar outros fornecedores,quer pela imposição velada dos detentores do poder políti-
todo o capital disponível destinava-se exclusivamente aplantar ou manter os cafezais. Isto porque, segundo docu-mentos de arrecadação estadual, das 889 propriedades ru-rais de Leopoldina, com renda anual superior a 500$000 naprimeira década do século XX, apenas 435 eram dedicadasà cafeicultura.
Insurgimos-nos contra a idéia de que nossa região produziaapenas café, o que nos obrigaria a crer numa “hipotética”brusca mudança para a produção leiteira. E o fazemos por-que depoimentos dos descendentes nos mostram que haviaoutros tipos de produção nas fazendas onde trabalharam osimigrantes e que exatamente essa diversidade de funções foia grande responsável pela inserção desses estrangeiros nasociedade local. Foi o grande número de atividades ligadas àagricultura, à pecuária e às demais práticas humanas quefacilitou a inserção dos profissionais imigrantes e modificoutotalmente o “retrato da região”.
co, quer pela dificuldade de locomoção. Comprava-se econsumia-se o que o “coronel permitia”.
A grande mudança veio, então, com a chegada do imi-grante. Embora não tenhamos uma fonte segura de dadospara o período, baseando-nos na contagem populacional de1872 temos que 40% dos habitantes de Leopoldina naque-le ano pertencia à classe dos escravos. Dezoito anos depoiso município abrigava pelo menos 8,5% de moradores deorigem estrangeira (imigrantes). E já no início do séculoseguinte este número crescia de forma significativa.
Fácil se torna concluir que o impacto desta nova força detrabalho modificou profundamente a economia do muni-cípio. No início, através do sistema de colonato implan-tado nas fazendas que ainda fazia com que a circulaçãode mercadorias continuasse sob o poder dos mesmoscomerciantes do período escravista. Mas não tardoumuito e vieram as primeiras mudanças de postura, for-çadas pela demanda do imigrante que chegara com ou-tros valores e outra socialização.
A partir de então, verificamos que não era mais somen-te o feitor que se dirigia ao ponto de venda em busca dossuprimentos. Agora com trabalhadores remunerados, osfazendeiros não podiam mais determinar a aquisição decertos produtos de fornecedores previamente acordados.
O imigrante passou a decidir onde e quando comprar.Em sua ânsia de fare l’America, impunha todo tipo desacrifício para sua família, tendo por catecismo a neces-sidade de poupar sempre, todos os dias, em todos osmomentos da vida. Se o preço cobrado ou as condições donegócio lhe pareciam inadequadas, era o imigrante quedecretava o fim do consumo daquele produto, o que obri-gava o comerciante e rever seus conceitos.
Outra mudança que trouxe grande contribuição foi ado sistema de contratação. Em entrevistas com descen-dentes dos primeiros imigrantes, descobrimos que a rendacontratada com o fazendeiro independia de eventos danatureza. Assim, uma quebra de safra não afetava oganho da família colona. Por outro lado, os trabalhado-res realizavam um sem número de tarefas extras, sem-pre remuneradas à parte. Soubemos de casos em que ochefe da família imigrante alugava sua própria força detrabalho para atividades extraordinárias como a derru-bada da mata, o fabrico de móveis ou a construção decasas. Enquanto isso, a esposa e os filhos cuidavam damanutenção das tantas “ruas de café” pelas quais assu-mira compromisso com o proprietário da fazenda.
Além disto, ao ser contratado o colono passava a terdireito a um pedaço de terra onde podia plantar os víve-res de que necessitasse. Soubemos do exemplo de umafamília italiana que conseguiu tão grande produção demilho em seu “quintal” que, no ano seguinte, vendeufubá para a própria cozinha da fazenda.
Para nós, foram estas atitudes, estas novas formas deencarar o trabalho e esta ferrenha vontade de vencer doimigrante que fizeram modificar substancialmente a eco-nomia do município. Mudanças com reflexos evidentes,principalmente, no modo de produção e nas relações de
Leopoldina, terra de passado, presente e futuro! Nossa homenagem ao Centenário daColônia Agrícola da Constança e pelos 130 anos da Imigração italiana em Leopoldina.
Júlio Cesar Martins, Radialista e Historiador
100 anos da Colônia Agrícola Constança 13
O comércio
No final do século XIX, alguns italianos já não traba-
lhavam em propriedades particulares, mas numa colô-
nia organizada pela Câmara Municipal de Leopoldina.
Para este núcleo colonial, denominado Santo Antônio,
dirigimos nossos esforços no sentido de compreender
como se deu a mudança de atividade dos imigrantes. Se
no início eram colonos lavradores, logo passaram a atu-
ar como pequenos artesãos e comerciantes de verduras,
legumes e frutas. A conseqüência desta modificação no
sistema de produção parece ter se refletido na cidade,
abrindo novos mercados de trabalho e oportunidades
para o estabelecimento de uma relação de emprego e
renda que influenciou diretamente a economia local.
Quando buscamos literatura sobre os últimos decê-
nios do século XIX, observamos que a atividade econô-
mica baseava-se num sistema bastante simples de
trocas. As fazendas produziam insumos que eram
comercializados nos grandes centros e ali eram adqui-
ridos os demais produtos necessários à vida nos núcle-
os mais afastados. O funcionamento do ciclo comercial
completava-se com um pequeno entreposto existente
em todo arraial e em vias de ligação entre as fazendas
e o núcleo povoado: eram as “vendas”, destinadas a
negociar gêneros da terra com os moradores locais. Os
proprietários destes pontos comerciais geralmente
eram vinculados aos grandes fazendeiros que lhes per-
mitiam adquirir pequena parte da produção local para
oferecer aos moradores que necessitassem daqueles
produtos, além de formar seus estoques também com
bens adquiridos nos grandes centros.
Assim é que, em autores que estudaram o século XIX,
é comum encontrarmos referências às viagens de com-
pras que levavam os fazendeiros mais abastados até a
Corte – o Rio de Janeiro, onde vendiam a produção agrí-
cola e adquiriam produtos para consumo de suas famí-
lias e para serem comercializados nos “armazéns” das
pequenas cidades. Norma Góes Monteiro declarou que,
no estado de Minas, duas regiões absorveram mais for-
O crescimento da cidadeNão são poucas as obras publicadas sobre o desenvolvi-
mento urbano dos grandes centros brasileiros. Para não
tornar cansativa nossa exposição, delas retiramos apenas
um elemento diretamente ligado ao nosso tema: o cresci-
mento das periferias, promovido pela migração interna
conhecida como êxodo rural. Por diversas razões, inclusive
econômicas, a família que deixa a área rural vai residir
em áreas no entorno do núcleo do povoado. Dali passa a
atender às necessidades dos moradores locais, exercendo
atividades tão variadas quanto a construção de pequenos
artefatos em madeira, o plantio e venda de frutas e verdu-
ras, atividades da construção civil etc. Assim o confirmam
os descendentes que temos entrevistado. Muitos deles in-
formam que, quando seus pais ou avós deixaram as fazen-
das, estabeleceram-se na periferia da cidade de Leopoldina
e toda a família passou a exercer alguma atividade remu-
nerada. Um dos casos relata que, nos primeiros anos do
século XX, seus avós transformaram a cozinha de uma
casa em uma padaria, no início da Rua Manoel Lobato.
Ali, enquanto os adultos cuidavam da massa e do forno, os
menores ficavam encarregados do balcão, além da horta e
de levar as verduras e legumes para vender nas portas das
trabalho e consumo que resultaram, nos anos seguintes, em
profunda alteração na vida sócio-econômica de Leopoldina e,
acreditamos, de todas as cidades que receberam grande
número de trabalhadores livres naqueles últimos anos do
século XIX.
Olhar para o passado nos ajuda a compreender suas con-
seqüências que, em última análise, configuram o contexto
em que nós vivemos na atualidade. No caso de Leopoldina,
analisar sua gente nos permite conhecer aspectos talvez
insuspeitos da nossa história. Ao reunir informações sobre a
presença dos imigrantes, aos poucos fomos compreendendo
que havia um divisor de águas na história econômica do
município e que este marco passava pelos colonos. Donde
levantamos uma hipótese: o pólo irradiador de convivência,
gerando interações entre estrangeiros e nacionais, teria sido
o caminho mais tarde conhecido como Estrada de Tebas.
temente as práticas de estados vizinhos: o sul do estado
voltado às práticas das lavouras paulistas e a Zona da Mata,
vinculada economicamente ao Rio de Janeiro.
Esclareça-se que o sistema gerou também a figura do “co-
missário”, pessoa encarregada de realizar os negócios de
interesse dos fazendeiros que não podiam ou não queriam
se deslocar até a Corte. Em Leopoldina, observamos que
estes comissários eram, quase sempre, agregados das fa-
mílias de maior poder econômico, tanto quanto o eram os
proprietários das “vendas”.
Estes pontos de comércio, que durante muitos anos man-
tiveram a denominação de “venda de secos e molhados”,
estão na origem de grande parte do comércio de cidades
como Leopoldina, bem como neles se localizam as primei-
ras mudanças de atividade econômica do período imediata-
mente posterior à libertação dos escravos.
Para o funcionamento dos antigos estabelecimentos co-
merciais, eram necessários alguns funcionários tais como
o “moleque de recados”, o “entregador de compras”, o bal-
conista ou caixeiro e uma pessoa que se ocupasse do rece-
bimento e pagamentos na ausência do proprietário. E se
num primeiro momento todo o ciclo era exercido pela espo-
sa e filhos daquele personagem que teve permissão do
fazendeiro para estabelecer-se com uma casa comercial,
na última década dos anos oitocentos já vamos encontrar
os filhos dos imigrantes ocupando alguns destes postos.
Por esta razão, interessa-nos estudar o percurso que ti-
rou o imigrante da lavoura e o trouxe para o núcleo urbano,
bem como resgatar os elementos facilitadores para sua
fixação na cidade. Para este trabalho contribuíram, em
grande parte, as entrevistas concedidas por descendentes
dos imigrantes. E aqui cabe uma digressão.
casas próximas.
Ao compararmos informações de diversas fontes, ob-
servamos a junção de vários fatores que promoveram,
no caso de Leopoldina, o crescimento de áreas como o
bairro Ventania ou Quinta Residência, que surgiu às
margens do antigo leito da Rio-Bahia, desenvolveu-se
com a instalação da Residência do DER-MG e transfor-
mou-se num bairro bastante populoso.
Mas antes mesmo da abertura da antiga rodovia, ali
já estavam residindo diversas famílias de imigrantes.
Para melhor explicar nossa hipótese de ocupação da-
quela área da cidade, precisamos voltar um pouco no
tempo.
Duas antigas fazendas existiam nas proximidades
do que hoje é o bairro Ventania: Palmeiras e Santo
Antônio do Onça. Nesta última a Câmara Municipal
de Leopoldina tinha instalado um núcleo colonial na
última década do século XIX.
Na então Colônia Santo Antônio trabalharam diver-
sos imigrantes que, posteriormente, foram engajados
nos serviços de formação da Colônia Agrícola da
Constança. Ao que parece, muitos não conseguiram o
financiamento do estado para adquirirem lotes na Co-
lônia fundada em 1910. Em consequência, alguns fo-
ram viver como agregados nos lotes, enquanto outros
migraram para a periferia do núcleo urbano e se fixa-
ram principalmente no atual bairro Ventania.
Esclareça-se, para finalizar, que a ocupação inicial des-
te bairro deu-se no percurso que serviu de base para a
Estrada com destino a Tebas que, pelas fontes consulta-
das, vinha sendo desenhada desde 1881, embora Mário
de Freitas afirme que em 1926 veio para Leopoldina
com o objetivo de trabalhar nas obras da estrada que,
partindo da atual Rua Joaquim Guedes Machado, liga-
ria a cidade de Leopoldina ao distrito de Tebas. �
Um dos casos relata que, nos
primeiros anos do século XX,
seus avós transformaram a
cozinha de uma casa em uma
padaria, no início da Rua
Manoel Lobato. Ali, enquanto
os adultos cuidavam da massa e
do forno, os menores ficavam
encarregados do balcão, além
da horta e de levar as verduras
e legumes para vender nas
portas das casas próximas.
AS COLÔNIAS EM MINAS GERAISorganização de
colônias
agrícolas em
Minas Gerais foi
determinada pela
necessidade de se
oferecer atrativos que
fixassem os imigrantes
no estado. O caminho
encontrado pelos nossos
dirigentes foi, então, criar
e incentivar a criação de
núcleos agrícolas em
terras devolutas e no
entorno das estradas que
se abriam, inclusive a
ferrovia.
Como parte dessa
política ocorreu a criação
da Colônia Agrícola da
Constança, que tinha por
objetivo o
desenvolvimento da
agricultura do município,
aproveitando o braço
imigrante e as
facilidades para o
escoamento da produção
através dos trilhos da
Estrada de Ferro da
Leopoldina.
Por outro lado é
importante reafirmar que
desde a década de 1880
havia uma intensa
movimentação política no
sentido de facilitar a
entrada de estrangeiros,
de modo a atender a falta
de braços para a lavoura.
Assim, quando da criação
da Colônia, Leopoldina
contava com um bom
número de imigrantes
espalhados por diversas
fazendas, algumas em
decadência, o que levou o
povoamento inicial da
Constança a ser
constituído
principalmente por
imigrantes chegados antes
da sua criação, ocorrida
em 12.04.1910, pelo
Decreto Estadual nº 2801.
Recuperamos um
trecho da mensagem do
Presidente Bias Fortes,
em 1895, dando conta de
que a situação da
lavoura mineira era
preocupante,
especialmente porque a
alta do preço do café
estava atraindo a grande
maioria dos
proprietários que não se
ocupavam mais do
plantio de cereais. Sendo
assim, o preço dos
gêneros alimentícios era
muito alto e a solução
seria incentivar culturas
intensivas que não
demandavam a
necessidade de muitos
trabalhadores nem
muitos recursos
financeiros.
Havia uma
preocupação dos
dirigentes em ampliar a
produção de gêneros de
subsistência, tendo sido
este um fator a
direcionar o projeto de
implantação das
colônias agrícolas em
Minas Gerais. Entre
1893 e 1900, foram
instalados sete núcleos
coloniais, sendo 5 nos
arredores de Belo
Horizonte, um em Pouso
Alegre e outro em
Lambari.
Em 1907, já com novas
orientações do executivo
estadual, surgiu mais
um núcleo em Belo
Horizonte e um em
Itajubá. Em 1908 a
União implantou uma
colônia em Sete Lagoas.
Em 1910 foi a vez de
Leopoldina, Astolfo
Dutra, Mar de Espanha e
Ouro Fino. Nos anos
subsequentes, outras
colônias foram
instaladas em Minas.
Em 1911, um ano após
sua fundação, a
Constança ocupava a 7ª
posição em número de
habitantes, superando 4
núcleos mais antigos.
Em 1912 já era a 2ª,
tendo à frente a Rodrigo
Silva, de Barbacena. No
ano seguinte a Santa
Maria, de Astolfo Dutra,
alcançou a segunda
posição, ficando a
Constança em 3º lugar
no número de habitantes
e na produtividade. Nos
anos seguintes a Rodrigo
Silva manteve-se como a
de maior número de
habitantes mas sua
produção foi caindo,
cedendo a posição para a
Constança e a Santa
Maria alternadamente.
A partir de 1915 a
Constança manteve-se
como a segunda maior
colônia do estado em
número de habitantes.
Ao serem emancipadas,
as colônias agrícolas
sofriam pequena
mudança administrativa,
especialmente no que se
refere ao fornecimento de
equipamentos e
sementes. Mas de acordo
com a mensagem do
presidente Fernando de
Mello Vianna em 14 de
julho de 1926, “apesar de
emancipadas e com vida
autônoma, permaneciam
subordinadas às leis
gerais do Estado e do
país”.
As despesas de
manutenção da
estrutura foram
mantidas até a extinção
de cada colônia, não
tendo havido um prazo
previamente
determinado para que
fossem dispensados os
funcionários
administrativos e
vendido o lote reservado
pelo estado para
moradia do
administrador e
funcionamento do serviço
burocrático. Em diversas
mensagens presidenciais
foram mencionadas
despesas de manutenção
das casas-sede, limpeza
de córregos, reparo de
pontes e outros serviços
nas estradas internas
dos núcleos, por longo
tempo após a
emancipação.
Acreditamos que tais
serviços fossem
realizados pelos
próprios colonos,
representando uma
renda adicional para
além do cultivo da terra.
Analisando as falas
anuais do dirigente
estadual até 1930, é
possível supor que a
extinção só ocorria após
todos os lotes terem
sido quitados e emitidos
todos os títulos
definitivos de posse. �
A
Grupo de imigrantes comdestino a Minas Gerais,
década de 1890
100 anos da Colônia Agrícola Constança 15
AS HOSPEDARIASlguns dos imigran-
tes que se instala-
ram em
Leopoldina não vi-
eram diretamente do país
de origem. Um bom núme-
ro esteve em outros núcleos
de colonização, da mesma
forma que colonos
leopoldinenses foram tentar
a vida noutras localidades,
num deslocamento que ter-
minou por provocar a forma-
ção de grupos de um mes-
mo sobrenome em terras
distantes. Mas a regra ge-
ral era passarem por uma
hospedaria e de lá saírem
contratados por fazendeiros
ou, estimulados por alguma
razão especial, partirem
para um endereço certo.
De acordo com documentos
relativos à Divisão de Terras
e Colonização, em 1888 es-
tava sendo construída a Hos-
pedaria Provincial em Juiz
de Fora, posteriormente de-
nominada Hospedaria Hor-
ta Barbosa. Segundo Nor-
ma de Góes Monteiro no li-
vro Imigração e Colonização
em Minas 1889-1930, esta
Hospedaria foi inagurada
em maio de 1889 e pratica-
mente abandonada seis
meses depois, com a mudan-
ça no sistema de governo.
Antes da existência da
Horta Barbosa, os imigran-
tes eram acolhidos no Rio
de Janeiro, num sistema
que não obedeceu a um úni-
co modelo. De modo geral,
muitos descendentes se re-
ferem à Ilha das Flores
como local em que obriga-
toriamente ficaram seus
antepassados. Pelo que pu-
demos apurar, nem todos
passaram por ali.
Em 1898, o serviço de imi-
gração e colonização estava
a cargo das províncias, fi-
cando por conta da União
apenas o recebimento e hos-
pedagem dos espontâneos,
que eram em número rela-
tivamente pequeno. O Re-
latório do Ministério da
Agricultura deste ano apre-
senta um histórico das duas
principais hospedarias que
funcionaram por conta da
União no período do maior
fluxo de imigrantes ao país.
A propriedade da Ilha das
Flores fora adquirida em
1882 e no ano seguinte pro-
cedeu-se à instalação de alo-
jamentos compostos de dor-
mitórios coletivos, salas
para enfermaria e consultó-
rio médico, escritórios, quar-
tos para os empregados e
sala de arrecadação. Segun-
do o relatório do Ministro
da Agricultura de 1883, a
Hospedaria da Ilha das Flo-
res começou a receber imi-
grantes no dia 01 de maio
daquele ano, num total de
7.402 indivíduos, sendo que
987 foram encaminhados
para Minas Gerais. Em
1884 foram realizadas
obras de melhoramento,
com destaque para o depó-
sito de bagagens, servido
por uma linha de trilhos e
ponte com guindaste. Nos
anos de 1885 e 1886 foram
feitas algumas obras, espe-
cialmente de reparo em ins-
talações deterioradas pelo
uso. Em 1888, com o crescen-
te movimento imigratório,
houve necessidade de au-
mentar os alojamentos, tor-
nando-os capazes de compor-
tar até 2.000 pessoas. Ao
mesmo tempo, a União in-
dicava a necessidade das
províncias cuidarem da ma-
nutenção de suas hospeda-
rias, de modo a que os imi-
grantes fossem encaminha-
dos por linha férrea tão logo
liberados da Agência Nacio-
nal dos Portos, ou seja, do
Serviço de Imigração.
Uma análise comparati-
va entre os livros de matrí-
cula na Hospedaria da Ilha
das Flores e os registros na
Hospedaria de Juiz de Fora
demonstra que entre junho
de 1888 e maio de 1889 os
nossos imigrantes não pas-
saram pela Ilha das Flores.
Em 1890, com a Hospeda-
ria de Juiz de Fora
desativada, a hospedaria
fluminense passara por no-
vas obras, como a constru-
ção de dois novos alojamen-
tos e um novo refeitório. No
ano seguinte ocorreram pro-
blemas no porto de Santos,
tendo o movimento sido dis-
tribuído entre Rio e Vitória.
Em 1893 os imigrantes
destinados a Minas Gerais,
que chegaram entre agosto
e novembro, foram encami-
nhados diretamente para a
Hospedaria Horta Barbosa.
Em dezembro daquele ano,
informa o Ministro da Agri-
cultura, uma epidemia de-
senvolveu-se no Vale do
Paraíba, determinando a
suspensão do tráfego na
Estrada de Ferro Central e
por este motivo, a pedido do
governo de Minas, os imi-
grantes que se destinavam
à Horta Barbosa foram re-
colhidos na Ilha das Flores
entre 11 e 25 de dezembro
de 1893. Logo depois, 630
deles foram encaminhados
para a Hospedaria do Pi-
nheiro por conta de uma
epidemia que se alastrou
pela congênere mineira,
causando recusa dos fazen-
deiros em contratar colonos
que poderiam infectar-se na
instituição de Juiz de Fora.
No final de 1894, o enca-
minhamento dos imigran-
tes contratados pela pro-
víncia de Minas Gerais te-
ria voltado a funcionar
como no período anterior, ou
seja, do porto eram encami-
nhados para a estação fer-
roviária, sendo embarcados
no trem que os levariam
para Juiz de Fora. Prova-
velmente esta regulariza-
ção foi um reflexo do Decre-
to nº 752, de 03 de agosto
de 1894, que reestruturou
a Hospedaria Horta Barbo-
sa. Entretanto, o ministro
Antonio Olinto dos Santos
Pires declarou que no ano
de 1895 a Hospedaria do
Pinheiro recebeu imigran-
tes provenientes da hospe-
daria de Juiz de Fora, em
função de epidemia que ali
se desenvolveu.
Segundo o Relatório do
Ministro da Agricultura, em
1893 já não ocorreram
obras específicas para o ser-
viço de acolhimento dos imi-
grantes na Ilha das Flores
que no ano seguinte foi ocu-
pada pelas forças militares,
por conta da Revolta da Ar-
mada. Ressalte-se que, se-
gundo o Decreto nr. 644, de
09 de setembro de 1893, o
governo mineiro havia fir-
mado convênio com o do Es-
pírito Santo para que os
imigrantes que chegassem
naquele período, com via-
gem subvencionada por Mi-
nas Gerais, fossem recebi-
das na Hospedaria da capi-
tal daquele estado.
Em junho de 1894 a Hos-
pedaria da Ilha das Flores
voltou a servir à Inspeto-
ria de Terras, órgão que até
dezembro de 1896 foi en-
carregado do acolhimento
dos imigrantes, sendo en-
tão extinto e seus serviços
transferidos para a Dire-
toria Geral da Indústria.
Entretanto, segundo deter-
minou o Decreto nº 612, de
06 de março de 1893, foi
criado no Rio de Janeiro
um ponto de desembarque
dos passageiros destina-
dos a Minas Gerais. Pelo
que foi possível apurar, esta
agência fiscal esteve locali-
zada no próprio porto do Rio,
não sendo necessário hos-
pedar os imigrantes na Ilha
das Flores.
Ainda assim, e conside-
rando a possibilidade de va-
riações nos procedimentos,
lembramos que um
normativo federal, o Decre-
to nº 696, de 23 de agosto de
1890, declarou “de utilida-
de pública a desapropriação
da Fazenda do Pinheiro, na
Estação da Estrada de Fer-
ro Central do Brasil”, que
passou a servir ao Ministé-
rio da Agricultura, Comér-
cio e Obras Públicas como
hospedaria de imigrantes a
partir de 28 de março de
1891. A Hospedaria do Pi-
nheiro ali funcionou até ju-
lho de 1897, sendo extinta
pelo decreto nº 2598, de 31
de agosto de 1897.
Em 1897, ao desativar a
Hospedaria do Pinheiro, o
Ministério da Agricultura
emitiu o aviso número 115,
datado de 29 de outubro,
determinando que a partir
de então as instalações se-
riam transferidas para o Mi-
nistério da Guerra, razão
pela qual os moradores, ar-
rendatários, e meeiros que
ali se estabeleceram a par-
tir de janeiro de 1895 se-
riam indenizados ao pre-
ço de “2 reaes por metro
quadrado de terras” que
ocupavam.
No Relatório apresen-
tado pelo Ministro Anto-
nio Francisco de Paula
Souza em 1893, ao Vice
Presidente da República,
informa-se que a Hospe-
dar ia do Pinheiro fo i
inaugurada no dia 01 de
março de 1891, localiza-
da à margem da Estra-
da de Ferro Central do
Brasil, na antiga fazen-
da do Pinheiro, com o ob-
jetivo de receber os imi-
grantes doentes que não
A
Ancoradouro e Prédio Principal daHospedaria da Ilha das Flores nadécada de 1890
A ConstruturaCherem parabenizaa todas as famíliasdescendentes dositalianos que muitofizeram para odesenvolvimentodesta nobre terra deLeopoldina.
100 anos da Colônia Agrícola Constança16
deveriam ficar junto com osdemais na Hospedaria daIlha das Flores. Entretanto,os números apresentados norelatório ministerial para oano de 1892 demonstramque para ali não eram trans-feridos apenas os doentes.
Por oportuno, informa-mos que esta Hospedariado Pinheiro foi fundada emterras da antiga fazendaSão José do Pinheiro,construída em 1851 porJosé Gonçalves de Moraes,futuro Barão de Piraí. Apósseu falecimento, foitransferida para o genroJosé Joaquim de Souza Bre-ves que não deixou descen-dentes. Depois de ter sidoocupada pelo Serviço de Imi-gração (1891-1897) e peloMinistério da Guerra (1897-1898), foi transformadanuma Escola Zootécnica quedeu origem à Escola de Agro-nomia e Veterinária de Pi-nheiro e desde 1985 é o Co-légio Agrícola Nilo Peçanha,da Universidade FederalFluminense. Em 1995 o ter-ritório onde se encontra foialçado a município com onome de Pinheiral, estado doRio de Janeiro.
A Hospedaria do Pinheiropode estar na origem de in-formações de nossos entre-vistados, dando conta de queantepassados compraramlotes ao lado da hospedaria,na margem do rio Paraíbado Sul. Como foi dito, para aocupação pelo Ministério daGuerra foi necessário inde-nizar os agricultores insta-lados no terreno desde 1895.É possível, portanto, que al-guns imigrantes tenhamdeixado a hospedaria e sefixado nas suas imediações,conforme consta no históri-co da Prefeitura Municipalde Pinheiral.
Um outro aspecto a con-siderar é o fato da estaçãodo Pinheiro, inaugurada em1871 no município de Bar-ra do Piraí, ser importantetronco, como declara HelioSuêvo Rodriguez no livro A
Formação das Estradas deFerro no Rio de Janeiro, li-gando o Rio de Janeiro aMinas e a São Paulo.
Além dos núcleos acimamencionados, imigrantes quese dirigiam para a zona damata mineira eram encami-nhados para a hospedaria deUbá ou para a Jacareacanga,em Leopoldina. Não localiza-mos documentos referentes àhospedaria leopoldinense.Apenas sabemos que BiasFortes, em mensagem de ju-lho de 1896, declarou que se-ria inútil todo o esforço pelodesenvolvimento da correnteimigratória se o recebimentodos imigrantes não fosse fei-to com todo o cuidado. Paratanto, determinou a execuçãode obras na hospedaria deJuiz de Fora e a construçãode outras nas zonas agríco-las de Minas Gerais. Infor-mou, então, que estava emconstrução uma hospedariana nova capital – Belo Hori-zonte, e tinham sido iniciadosos trabalhos para instalaçãode duas outras: uma emLeopoldina, na Estação deVista Alegre, e outra na Es-trada Sapucahy, emSoledade, hoje município dePouso Alegre.
Em 1898 foi feito umaporte financeiro pela pre-sidência do Estado paraconclusão do processo deextinção da Jacareacanga,nome dado à Hospedaria deImigrantes em Leopoldina.No ano seguinte foram ex-tintas as hospedarias deSoledade e de Leopoldina.Desta forma, suspeitaría-mos que a Jacareacanga ti-vesse funcionado por umperíodo muito curto.
É possível, entretanto,que a hospedaria deLeopoldina existisse desdea época da construção daEstrada de Ferro, na déca-da de 1870. Através da Leinº 32, de 18 de julho de1892, foi permitido às Câ-maras Municipais que cui-dassem de introdução detrabalhadores, inclusive
imigrantes .Por esta épo-ca funcionavaa ColôniaSanto Antô-nio, instaladapela CâmaraMunicipal naFazenda daOnça, de suapropriedade.Reunindo di-versas infor-mações ecomparando-as com depo-imentos dedescendentesde imigran-tes, observa-se que pode ter existido umprédio, à margem do ramalque ligava a estação de Vis-ta Alegre à do centro da ci-dade de Leopoldina, desti-nado a acolher inicialmen-te os trabalhadores da fer-rovia. Descendente de umimigrante alemão informouque seus antepassados tra-balhavam na construção daEstrada de Ferro Pedro II ese transferiram paraLeopoldina, trabalhandonas obras daquele ramal.Acrescentou que a famíliaresidiu, inicialmente, nasproximidades da Estaçãode Vista Alegre, até que aCâmara de Leopoldina pro-moveu a ocupação de lotesna Fazenda da Onça.
Outra indicação para aHospedaria Jacareacangavem de entrevista com des-cendente de imigrante itali-ano que trabalhou na Fazen-da Paraíso. Neste caso, a in-formação é de que ficaramnuma hospedaria perto daEstação de Vista Alegre, atéchegar a bagagem e então se-rem transferidos para a fa-zenda de destino. Esta decla-ração encontra respaldo emcorrespondência pertencenteà coleção de documentos daFazenda Paraíso.
A existência da hospeda-ria em Ubá foi indicada emalguns processos de regis-tro de estrangeiros, na dé-
cada de 1940, nos quais osimigrantes declararam terpassado por tal instituição.Além disso, no início do fun-cionamento da HospedariaHorta Barbosa, em 1888,Relatório da Presidência daProvíncia informa que paraali foram transferidos osimigrantes que se encontra-vam na Hospedaria de Ubá.
Seriam necessários outrosestudos para que pudésse-mos mapear com mais cla-reza o percurso de nossosimigrantes entre o porto eLeopoldina. Para o ano de1888, temos indicações umtanto precisas que, entretan-to, não devem ser generali-zadas para todo o período.
Em novembro de 1888 aCâmara Municipal deLeopoldina enviou emissá-rio à Hospedaria HortaBarbosa, em Juiz de Fora,para contratar colonos. Se-gundo descendentes de al-guns italianos, seus ante-passados foram instaladosprovisoriamente na Fazen-da da Onça, para aguardarque os fazendeiros fossematé lá convidar quem osquisesse servir. Como fize-ram, por exemplo, emissá-rios da Fazenda Paraíso.
A propósito, segundo oDecreto nº 626, de 31 demaio de 1893, o então Pre-sidente do Estado de Minascriou cinco distritos de imi-
gração, sendo que o 2º tinhasede em Leopoldina.
Para cada distrito foi no-meado um Fiscal, funcioná-rio público que se encarre-gava dos trâmites necessá-rios ao encaminhamentodos colonos ao destino. Já oDecreto nº 806, de 22 de ja-neiro de 1895, reduziu osdistritos fiscais para qua-tro, mantendo o deLeopoldina. O Fiscal doDistrito noticiava o movi-mento na Hospedaria Hor-ta Barbosa, como demons-tra notícia do jornal O Me-diador, edições de março eagosto de 1896.
Conforme já foi dito, a Hos-pedaria Horta Barbosa es-teve em pleno funcionamen-to entre o segundo semestrede 1888 e junho de 1889,quando teve as atividadessuspensas por conta dasmás condições denunciadasà presidência da província.Segundo os livros preserva-dos, somente em 1892 voltoua funcionar normalmente.
Esta situação se compro-va por carta de Costa Mano& Cia, do Rio de Janeiro,datada de 28 de agosto de1889 e enviada para a Fa-zenda Paraíso, informandoque o emissário FredericoDausckivardt contratara di-versos colonos no Porto doRio. Pelo que se depreende,os imigrantes haviam segui-
do viagem com destino àEstação de Vista Alegre e abagagem não tinha seguidojunto porque “o vapor chegouàs 3 horas” e não foi possí-vel contratar “a catraia parafazer seguir para o trapicheda Gamboa, onde será des-pachada amanhã”.
O número de imigrantesque chegou a Leopoldina apartir de 1900, vindo dire-tamente da Europa, é bempequeno. No resumo feitopor Norma de GóesMonteiro com a entrada deimigrantes na HospedariaHorta Barbosa, consta queem 1904 ali se encontravamapenas retirantes vindos doRio Grande do Norte, daParaíba e de Pernambuco.Segundo mensagem do pre-sidente Francisco Antoniode Sales, em virtude da pa-ralisação do serviço de imi-gração a partir de 1897, osfuncionários da HospedariaHorta Barbosa foram dis-pensados através de decre-tos assinados a 10 de outu-bro de 1902 e 23 de janeirode 1903. Como não locali-zamos livros daquela insti-tuição após 1901, tentamoslocalizar os nossos imigran-tes tardios nos livros dispo-níveis no Arquivo Nacional,no Rio, mas não tivemossucesso. Apenas confirma-mos a informação de Nor-ma de Góes Monteiro paraa existência de funcionáriopúblico do estado de Minasque atuava, na hospedariada Ilha das Flores, selecio-nando candidatos às colôni-as mineiras.
Reiteramos que nossosestudos demonstraram afalta de regularidade notrajeto seguido pelos imi-grantes radicados emLeopoldina. Além de mui-tos terem ido para outraslocalidades mineiras aochegarem ao Brasil, ospontos de acolhimentofuncionaram irregular-mente durante o período,gerando situaçõesdiversificadas. �
Ilha das Flores: Vista da Hospedaria da Ilha das Flores na década de 1890
100 anos da Colônia Agrícola Constança 17
A origem da Fazenda Constançaabemos que as pri-meiras concessõesde sesmarias a ci-tarem o Feijão Cru
foram requeridas em 1817.Nos dias 13 e 14 de outubrodaquele ano, os irmãosFernando Afonso e JerônimoPinheiro Corrêa de Lacerdareceberam duas sesmariasde meia légua, que eles nun-ca ocuparam. Ambas, segun-do se sabe, foram loteadas evendidas por seus sobrinhosRomão e Francisco PinheiroCorrêa de Lacerda.
Quanto ao tamanho des-sas sesmarias, o ProfessorLuiz Paulo CostaFernandes nos ensina quemeia légua de terras equi-vale a 1.089 hectares ou10,89 km². Considerandoque o atual território deLeopoldina tem 942 km² deextensão e que na metadedo século XIX era significa-tivamente maior, cremosser lícito supor que o núme-ro de sesmarias concedidasna região foi bem maior doque o mencionado nasobras até aqui publicadas.Entretanto, como a identi-ficação daquelas primeiraspropriedades demandariaestudos bem maisaprofundados, optamos poranalisar a documentaçãopossível sobre algumaspartes de nosso território,a partir de indicações pre-sentes no Registro de Ter-ras realizado em conformi-dade com o que dispôs a Leinº. 601 de 18 de setembrode 1850, conhecida comoLei de Terras, para chegar-mos à área que nos interes-sava buscar a origem.
Desse modo descobrimosque em 1856 a FazendaConstança era propriedadede José Augusto Monteiro
de Barros. Verificamos queum tio paterno de JoséAugusto, José MariaMonteiro de Barros, reque-reu uma sesmaria na re-gião em 1818, tendo a cartaconcessória sido assinada a2 de maio daquele ano. As-sim como ocorreu comFernando Afonso eJerônimo Corrêa Pinheirode Lacerda, também estebeneficiário não ocupou apropriedade e em 20 de ou-tubro de 1834 transferiu-apara seu irmão, AntonioJosé Monteiro de Barros,pai do citado José Augusto.
Por esta época, AntonioJosé adquiriu de BernardoJosé Gonçalves Montes, asesmaria que este receberapor dote de sua esposa,Maria Antonia de Jesus. Oprimeiro proprietário foraAntonio Francisco TeixeiraCoelho que, junto com suamãe de criação, HipólitaJacinta Teixeira de Melo,requereu duas sesmariasno então denominado Ser-tão do Paraíba, no caminhopara Cantagalo, concessõesdatadas de 27 e 28.03.1818.Antonio Francisco era sol-teiro quando teve uma filhacom Maria Umbelina deSanta Brígida, também be-neficiada com sesmaria namesma localidade.
Antonio Francisco sempreviveu em Prados (MG), nasua Fazenda da Ponta doMorro. Recebeu o título deBarão da Ponta do Morro eprovavelmente nunca este-ve nas terras aqui do Fei-jão Cru. Em 18.09.1822 suafilha casou-se comBernardo José em Prados,onde ambos nasceram, re-cebendo então o dote etransferindo-se para o Fei-jão Cru. Esclareça-se, por
oportuno, que MariaAntonia foi a segunda es-posa de Bernardo José eque nada sabemos sobre osfilhos do primeiro casamen-to dele que podem estar,também, entre os primeiroshabitantes de Leopoldina.
Pelo testamento de Anto-nio Francisco, a filha Ma-ria Antonia recebeu as duassesmariase vendeuuma de-las a An-t o n i oJ o s éMonteirode Bar-r o s .BernardoJosé, porsua vez,realizoucomprase trocasde terrasc o mFelicianoRodriguesMoreira e Manoel Gonçal-ves Valins, ampliando suapropriedade até a divisacom Manoel José Monteirode Castro - Fazenda União.Segundo análise do inven-tário de Bernardo José,
além da sesmaria vendidaa Antonio José provavel-mente foram realizadasoutras vendas, já que foidividida apenas uma pro-priedade de cerca de 225alqueires. Ainda no campodas hipóteses, é possívelque a Fazenda da Onça te-nha sido formada tambémem terras que pertenceram
aos genitores da esposa deBernardo José.
Não nos foi possível desco-brir qual sesmaria foi vendi-da a Antonio José Monteirode Barros. Descobrimos ape-nas que o comprador, em
duas sesmarias com exten-são aproximada de 450alqueires mineiros, formouas fazendas Constança, Sau-dade e Paraíso.
Em 1859, José AugustoMonteiro de Barros vendeua Fazenda Constança aJosé Teixeira Lopes Guima-rães. Posteriormente a pro-priedade passou às mãos
do então Ba-rão de Mes-quita que pro-vavelmente ar e v e n d e u ,uma vez quena partilha deseus bens em1888, somen-te a FazendaParaíso foitransferidapara seu filho,futuro Barãode Bonfim.
Segundo aedição número40 do jornal OMediador, de
16.08.1896, nesta época aFazenda Constança era umcondomínio com diversos pro-prietários, entre eles GustavoAugusto de Almeida Gama,provavelmente um dos her-deiros da vizinha Fazenda
Floresta.Importante destacar que a
Fazenda Constança, no finaldos oitocentos, encontrava-sena mesma situação de duasoutras propriedades vizi-nhas, cujos formadores fale-ceram antes de 1875. Trata-se das fazendas Feijão Cru eOnça. Da primeira, sabemosque foi dividida entre os her-deiros após o falecimento damatriarca Rita Esméria deJesus a 20 de janeiro de 1865,sendo mencionada como divi-sa de uma situação da Fazen-da da Onça, em venda reali-zada em 1886. Por este docu-mento ficamos sabendo queuma das partes da Fazendada Onça pertencia a AntonioRodrigues Campos, que avendeu a José Soares de Mes-quita. Apesar do sobrenome,o comprador não seria da fa-mília de Jerônimo José deMesquita, sendo citado noFormal de Partilha como umseu empregado. A propósito,parece que esta situação daFazenda da Onça foi vendidapor José Soares de Mesquitaantes do falecimento de seupatrão, o Conde de Mesqui-ta. De todo modo, o históricoda Fazenda Paraíso demons-tra que a Fazenda da Onçatambém já estava bastantedividida e os herdeiros dasduas antigas propriedades, aFeijão Cru e a Onça, vende-ram suas partes na herançaa partir de 1875.
É possível que a antigacolônia ocupada por imi-grantes em Leopoldina,denominada Santo Anto-nio, tenha sido implanta-da em territóriodesmembrado destasduas fazendas. Posterior-mente, quando a ColôniaMunicipal Santo Antoniodeu lugar à Colônia Agrí-cola da Constança, criadapelo governo do Estado em1910, as partes voltarama ser reunidas para ampli-ar o núcleo que foi loteadoe vendido aos colonos. �
Importante destacar que a Fazenda Constança, no final dosoitocentos, encontrava-se na mesma situação de duas outraspropriedades vizinhas, cujos formadores faleceram antesde 1875. Trata-se das fazendas Feijão Cru e Onça. Daprimeira, sabemos que foi dividida entre os herdeiros apóso falecimento da matriarca Rita Esméria de Jesus a 20 dejaneiro de 1865, sendo mencionada como divisa de umasituação da Fazenda da Onça, em venda realizada em 1886.Por este documento ficamos sabendo que uma das partesda Fazenda da Onça pertencia a Antonio Rodrigues Campos,que a vendeu a José Soares de Mesquita.
S
Fazenda Paraíso, onde trabalharam muitos imigrantes que viveram em Leopoldina
100 anos da Colônia Agrícola Constança18
Criação, localização e funcionamentosurgimento de
uma instituição
produz reflexos na
sociedade onde se
insere, antes e depois de
sua criação. Em Reflexões
sobre a História, Jacques
Le Goff declara que para
compreender as mudanças
é preciso analisar os acon-
tecimentos anteriores que
lhe deram causa. Em rela-
ção às modificações ocorri-
das em Leopoldina, perce-
bemos que não foi a criação
da Colônia Agrícola da
Constança que as produziu,
mas que a sociedade encon-
trava-se num estágio tal
que demandava mudanças
estruturais, resultando no
surgimento daquele núcleo.
Portanto, tivemos oportuni-
dade de verificar o que o
autor francês ensinou ao
declarar que o acontecimen-
to não cria a mudança, ape-
nas a evidencia.
Acreditamos que o estu-
do destes organismos que
passam a fazer parte de
uma comunidade, além do
conhecimento específico so-
bre a instituição, permite
nos aproximarmos das prá-
ticas sociais em seu entor-
no. Ou, conforme declarou
John Beattie em Introdução
à Antropologia Social, uma
instituição provoca altera-
ções nas outras já existen-
tes e seu funcionamento
depende das crenças e valo-
res das pessoas que a fa-
zem funcionar. Portanto,
estudar a história da Colô-
nia Agrícola da Constança
implica buscar conhecimen-
to sobre o que estava acon-
tecendo naquela sociedade
para compreender os fato-
res que determinaram a
promulgação do Decreto
número 2801, no dia 12 de
abril de 1910, que a criou.
A organização de colônias
agrícolas em Minas Gerais
foi determinada pela neces-
sidade de oferecer atrativos
que fixassem os imigrantes
em seu território. Em 1895,
o Presidente da Província
estava preocupado com a
dificuldade em manter os
imigrantes trabalhando na
agricultura. Nos anos
subsequentes, muitas ten-
tativas foram sendo realiza-
das. No caso de Leopoldina,
a colônia aqui fundada teve
seu povoamento inicial cons-
tituído por imigrantes che-
gados bem antes.
A localização certamente
ocorreu em função da dis-
ponibilidade de terras a
preço adequado. A visão pa-
norâmica do local onde foi
instalado o núcleo causava
boa impressão nos mora-
dores, conforme expresso
em um texto sem autoria
incluído no Almanaque de
Leopoldina, de 1886, pági-
na 81:
Até 1887 carissimos lei-
tores, emquanto não raia o
seculo XX em cuja aurora
prometto-vos escrever não
um artigo, mas um livro
bastante para uma cidade
de 200,000 almas, cuja ser-
ra offerece já perspectivas
encantadoras, e na elevada
casa do finado capitão José
Teixeira Lopes um panora-
ma superior ao do Corvado,
dominando verdadeiro oce-
ano de selva virgem.
Interessante analisar
esta declaração, tendo em
vista algumas informações
adicionais. Como todo obje-
to cultural, o Almanaque
merece nossa análise cuida-
dosa. Precisamos ter em
mente que foi produzido em
outra época e reflete outras
práticas sociais. O autor
despede-se do ano de 1886
prometendo um livro para
o início do século seguinte,
deixando entrever que con-
siderava o artigo escrito
como uma produção de me-
nor importância. Na conti-
nuidade da frase ele infor-
ma que a cidade tem
200,000 almas, provavel-
mente por um erro tipográ-
fico. Segundo a contagem
populacional de 1872, a
Paróquia de Leopoldina
atendia cerca de 8 mil al-
mas e no Recenseamento de
1890 o número de habitan-
tes do município atingia 35
mil pessoas. Sendo assim,
acreditamos que o autor te-
nha tido a intenção de in-
formar que a cidade conta-
va com 20 mil habitantes.
O ufanismo do autor fica
evidente logo em seguida,
ao comparar uma serra de
Leopoldina ao morro do
Corcovado, no Rio de Ja-
neiro. Embora a estátua
do Cristo Redentor tenha
sido escolhida em 2007
como uma das sete mara-
vilhas do mundo atual,
não era ao monumento que
o autor se referia porque
este só passou a existir em
1931. Nosso cronista falou da
paisagem vista do topo da
serra e concordamos que é
mesmo bela. Quando
estamos nos aproximando de
O
Professora e alunos da Escola existente na Boa Sorte em 1923 (Acervo de José do Carmo Machado Rodrigues)
O Restaurante Linguiça no Pãosaúda os descendentes dositalianos que vieram formar aColônia Agrícola daConstânça, um povo valorosoque contribuiu para ocrescimento eengrandecimento de nossacidade.
100 anos da Colônia Agrícola Constança 19
Leopoldina pela BR 116, umpouco antes do belvedere noinício da descida da Serra daVileta, sentimos uma forte einexplicável sensação ao vis-lumbrar a paisagem. Prova-velmente todo leopoldinensepassa pela mesma emoção,especialmente se já não vivemais na cidade.
Esta visão deslumbrantetem seu melhor ponto de ob-servação no limite da Colô-nia Agrícola da Constança.Entretanto, não conseguimosdescobrir onde se localizou asede da fazenda que deunome ao núcleo. Conforme jáinformado, a propriedade foitransferida em 1858 paraJoão Teixeira da FonsecaGuimarães, filho de JoséTeixeira Lopes Guimarães,falecido a 2 de fevereiro de1884. Considerando que oautor refere-se explicitamen-te à “elevada casa do finadoJosé Teixeira Lopes”, é bemprovável que a sede estives-se localizada bem próximo dolocal onde, cerca de 40 anosdepois, foi definido o leito darodovia que conhecida comoRio-Bahia.
Aproveitamos a oportuni-dade para acrescentar umainformação concernente aoobjeto de nossos estudos.Na época da publicação doalmanaque, a família erareferida apenas comoTeixeira Lopes, sem a adiçãodo Guimarães que se refereao berço em Portugal. Ogenearca era imigrante comoaqueles que o sucederam naocupação daquele espaço.
O Relatório de 1909, assi-nado por Guilherme Pratesa 20 de março de 1910, in-forma que a Colônia ficariaa 4 km da sede do municí-pio, instalada em17.437.500,00 metros qua-drados de terras adquiridaspelo Estado. Inicialmente foidividida em 60 lotes, comcerca de 25 hectares cadaum e um logradouro públicoque ocupava 1.317.500,00metros quadrados.
A medida dos lotes apre-sentava pequenas varia-ções, em função das condi-ções do terreno. Segundo oadministrador, a distânciada estação ferroviária fica-va entre 4 e 10 km, depen-dendo do ponto de partida.Mudanças ocorridas no pri-meiro ano de efetiva existên-cia daquele núcleo agrícolademonstram que a áreapassou a 18.797.500 metrosquadrados, divididos em 65lotes e 2 logradouros públi-cos. Logo depois o Estadoconcluiu pela mudança dadestinação dos espaços pú-blicos e os incorporou à áreaagricultável, na forma detrês novos lotes.
Mais tarde, com o propósi-to de aumento do número delotes, foi adquirida uma “si-tuação” da fazenda Palmei-ras. Com redivisões e acrés-cimos, o núcleo agrícola pas-sou a contar com 73 lotes. Aofinal do exercício de 1912,apenas 64 estavam ocupa-dos, sendo que apenas um portítulo definitivo. Já em 1919,o núcleo contava com 75 lo-
tes ocupados por colonos, 1vago e 1 destinado à admi-nistração do núcleo.
No que se refere à ocupa-ção dos lotes, descobrimosque nove famílias de imi-grantes tinham desistido dofinanciamento e abandona-do a Colônia nos dois primei-ros anos de seu funciona-mento. Outro colonos desis-tiram nos anos seguintes.Numa confrontação das in-formações obtidas em vári-as fontes originais com osrelatos das entrevistas rea-lizadas com descendentesdos colonos, tomamos conhe-cimento de razões que leva-ram alguns imigrantes ale-mães e austríacos a deixa-rem nossa cidade.
Dentre estes motivos so-bressaem a dificuldade deadaptação ao nosso clima ea falta de apoio religiosopara os imigrantes de cren-ça protestante. Mas alémdestes motivos, outros bemmais elementares podemser apontados como causa-dores de muitos abandonos.Nossos colaboradores infor-
maram que alguns dessescolonos desistiram simples-mente porque tinham vindopara Leopoldina sem nadasaberem sobre a cidade e, àsvezes, pensando que esta-vam se dirigindo para Colô-nias do sul do Brasil. Há atéum caso de imigrante que veiopara o Brasil a convite de umparente que vivia na ColôniaLeopoldina, no Espírito San-to e, sem o saber, veio pararna Constança.
Os Relatórios da adminis-tração da Colônia abordamas desistências mas não sereferem aos motivos, limitan-do-se a informar o valor dadívida deixada pelo colono.
É importante observar queos lotes variavam de tama-nho. O menor deles, o de nú-mero 41, foi financiado aAugusto Mesquita e pos-suía uma área de 210 milmetros quadrados. O maior,de número 28, com 355 milmetros quadrados, tinhasido financiado a LeopoldoAbolis em 1911 mas possi-velmente terá sido dividido,já que no mesmo ano o nú-
mero deste lote aparececomo tendo sido vendido aAntonio Montagna.
Sem a precisão de locali-zação por instrumentos so-fisticados, pode-se informarque as terras da Colônia se-riam as que contornam portodos os lados o chamado“trevo de Juiz de Fora”. Apartir dali, do entroncamen-to da rodovia Rio – Bahiacom a BR-267, pelas duasmargens desta última estra-da e até as proximidades dodistrito de Tebas. Os lotesda margem esquerda daBR-267 teriam seus fundosou divisas no alto da serrada Vileta. Pela margem di-reita, no sentido Leopoldina- Juiz de Fora, o loteamentose aprofundava até próximodas propriedades denomi-nadas Bonfim e Taquaril, lo-calizadas bem próximo daatual estrada paraCataguases. Deste ponto, enuma linha mais ou menosparalela à BR-267, seguiaaté encontrar novamente aBR-116 nas proximidadesda Igreja de Santo Antonio,
no bairro rural da Onça, nolimite do atual perímetrourbano de Leopoldina. Den-tro desse quadrilátero, qua-se todas as terras pertence-ram à Colônia.
Hoje esta área é geralmen-te conhecida como bairro ru-ral da Boa Sorte, na partemais próxima à sede do mu-nicípio, local atualmente cor-tado por estrada municipalde boa conservação e com li-nha regular de ônibus muni-cipal. Por bairro rural daConstança é hoje conhecidaa região que vai do entronca-mento das rodovias 116 e267 – o trevo de Juiz de Fora,até às proximidades do dis-trito de Tebas.
Atualmente, nos dois bair-ros encontram-se lotes queforam subdivididos e, em al-guns deles, formaram-se pe-quenas vilas de casas comares de comunidade urbana,verdadeiros sub-bairros.Noutros, boas casas de vera-neio demonstram a prospe-ridade de alguns descenden-tes ou adquirentes daquelesimigrantes do passado. �
Entrada da primeira escola quefuncionou na Colônia Agrícola da
Constança, no prédio da SedeAdministrativa
Acervo Arquivo Público Mineiro
Parte do Território da ColôniaAgrícola da Constança,
proximidades da sede municipal
O Super Nutri Supermercados (Rede Opa) parabeniza as famíliasdescendentes de italianos que domaram o solo bruto e fizeram assementes florescerem em Leopoldina.
100 anos da Colônia Agrícola Constança20
Pelos caminhos da Colôniauando pensamosno mapa e na loca-lização dos lotes daColônia Agrícola
da Constança, via de regraos consideramos em funçãodas principais estradashoje existentes: BR 116, BR267 e a estrada municipaldo bairro da Boa Sorte.
Esquecemos que a Colônia,criada no início de 1910, ébem anterior à Rio-Bahia,aberta pelo Presidente Getú-lio Vargas no final da déca-da de 30 e anterior, também,à estrada Leopoldina-Juizde Fora, sobre a qual o enge-nheiro e escritor Mário deFreitas, no livro Leopoldinado Meu Tempo, confessa terestudado o traçado para ven-cer a serra de Argirita em vi-agem à cavalo, realizada porvolta de 1926.
Esta confusão no tempo éque nos leva à frequente di-ficuldade de entender, porexemplo, porque a Colônia,que herdou o nome da fazen-da Constança, teve sua sedeinstalada na fazenda BoaSorte. Isto pode ser explica-do pelo fato de que se che-gava com mais facilidade àBoa Sorte do que àConstança, antes da aber-tura da Rio-Bahia, estradaque sanou o problema detransposição do vale dosPuris, que os tebanos maisantigos chamavam de “Bu-raco do Cubu”, e do alagadoda antiga “Água Espalha-da”, no local onde está hojeo “Restaurante Seta”. Alémdo que, pela estrada da BoaSorte se chegava, com ascondições possíveis na épo-ca, às terras da Constança.
A visão do traçado da Co-lônia, a partir da realidadedas novas rodovias, é tam-bém um dos complicadorespara entender a localizaçãode alguns lotes que atual-
mente estão com difícilacesso hoje. Muitos deles,na verdade, quando foramdemarcados eram servidospor estrada de trânsito nor-mal ou até intenso.
Um outro fato que hoje pa-rece estranho, mas que podeser explicado com facilidade,é o número de excolonos dafazenda Paraíso que adqui-riram lotes na Colônia Agrí-cola da Constança. É que, naaquisição de partes de fazen-das para formar o territórioda Colônia, ficou determina-do que ela abrigaria, tam-bém, colonos daquelas pro-priedades. E se considerar-mos o caminho hojeinexistente, que descia daParaíso nas imediações da“Água Espalhada”, a distân-cia entre a Colônia e a citadafazenda não era grande, ain-da mais para os padrões da-quela época.
Além dos lotes, pelos ca-minhos da Constança pode-mos encontrar também aigrejinha de Santo Antonio,na Onça, construída em1915, localizada no percur-so natural do imigrante, vi-esse ele da Boa Sorte ou daConstança em direção à ci-dade ou, simplesmente paraorar ao seu Santo Protetor.
Em nosso trabalho sobreos logradouros públicos deLeopoldina, registramosque o bairro da Onça her-dou o nome da antiga fazen-da ali existente. Esta fazen-da pertencia, em 1856, aManoel Lopes da Rocha eJosé Lopes da Rocha, ir-mãos que foram casadoscom filhas do formador dapropriedade, o pioneiroBernardino José Machado.Nessa época os seus vizi-nhos eram, pela ordem ci-tada nos registros, Maria doCarmo Monteiro de Barros(fazenda Desengano), Joa-
quim Antônio de AlmeidaGama (fazenda Floresta),Antônio José Monteiro deBarros (fazenda Paraíso),Manoel Rodrigues da Silva(fazenda Pury), José AugustoMonteiro de Barros (fazen-da Constança), Manoel Joa-quim Thebas, Carlos de AssisPereira, João Ribeiro, ManoelAntônio de Almeida (fazendaFeijão Cru), Antônio José Pin-to de Almeida e Felisberto daSilva Gonçalves.
Já em 1886, a Fazenda daOnça estava dividida entrevários proprietários. Umdeles era Antonio RodriguesCampos que, no dia 25 demaio daquele ano, vendeu38 hectares e 72 ares a JoãoSoares Mesquita, emprega-do de Jerônimo José deMesquita, então proprietá-rio da Fazenda Paraíso. Asituação vendida por Cam-pos tinha sido comprada deManoel Antonio deAlmeida, um dospovoadores de Leopoldina eque formou a Fazenda doFeijão Cru. As divisas dos
cerca de 8 alqueires vendi-dos a João Soares de Mes-quita eram a estrada deLeopoldina para o Rio Par-do (hoje Argirita) e as pro-priedades de Pedro Macha-do Neto, Joviniano Augustoda Fonseca e Manoel Fran-cisco Vieira. Pelo documen-to analisado, ficamos sa-bendo que a Fazenda daOnça fazia divisa com asfazendas Pury e Caxoeira,sendo esta última uma pe-quena propriedadedesmembrada da Paraíso.
Já sobre o Bairro da Onça,uma edição do jornalLeopoldinense, de maior de1882, informa que o empre-sário Francisco Gonçalvesda Rocha Andrade ficou res-ponsável pelo preparo deraias para a corrida de ca-valos que seria ali realiza-da. A notícia do jornal OLeopoldinense ressalta, in-clusive, que seriam planta-das palmeiras nas margensdessas raias. É do mesmoperiódico a informação deque “no arrabalde da Onça
ocorreu o ensaio das corri-das de cavalo que se efetu-arão no próximo dia 25 dejunho”, promovidas porJosé Jeronymo de Mesqui-ta, Otávio Otoni e o Capi-tão Santa Maria.
O bairro compreende asterras que ficam nas mar-gens da rodovia BR-116, apartir do posto fiscal daPolícia Rodoviária Federalaté as terras da antiga fa-zenda Pury, logo após a en-trada para o bairro da BoaSorte. Do lado direito da BR116, no sentido de quem saide Leopoldina em direçãoao distrito de Tebas, faz di-visa com o bairro rural BoaSorte, onde estava localiza-da a sede da Colônia Agrí-cola da Constança.
No pátio fronteiro à Igreji-nha da Onça existiu umaescola singular rural muni-cipal à qual a Lei Municipalnº 936, de 17.10.1973, deu onome de “Carlos deAlmeida” em homenagem aeste ruralista que, em con-junto com os imigrantes que
então habitavam a Colônia,foi um dos que trabalharamna construção da Igreja.
Mas importa lembrar,também, que o trânsito daprodução da Colôniatrazida para a cidade erarealizado por antiga viaque teve alguns de seustrechos aproveitados notraçado da BR 116, a Rio-Bahia, construída no finaldos anos de 1930.
Neste percurso, numa re-modelação da rodovia emmeados do século XX, al-guns trechos permaneceramcom menor utilização. Den-tre eles está a ligação entrea Igreja de Santo Antônio eo ponto em que a estradada Boa Sorte encontra-secom a BR 116 e que hojeconsideramos uma via im-portante. Não só por serusada por pedestres, ciclis-tas e cavaleiros que, proce-dentes da Boa Sorte diri-gem-se à Igreja de SantoAntonio do Onça, ao pontofinal do ônibus urbano emposto próximo ou, buscama rodovia no ponto fronteiroàquela Igreja, onde os ris-cos do trânsito são signifi-cativamente menores. Masporque historicamente foisempre o Caminho dos Imi-grantes que habitaram aColônia Agrícola daConstança.
Por tudo isto, em 2008sugerimos à Câmara deVereadores que transfor-masse em Lei uma justahomenagem aos imigran-tes, num projeto preferen-cialmente assinado por to-dos os Vereadores, conce-dendo o nome de CAMI-NHO DOS IMIGRANTES aesta via ainda sem denomi-nação e solicitando ao Pre-feito Municipal as provi-dências necessárias àrevitalização do local. �
Q
Caminho dos ImigrantesFonte: estudo de José Luiz
Machado e Nilza Cantoni
100 anos da Colônia Agrícola Constança 21
O SONHO DE SER PROPRIETÁRIOara os imigrantes,
principalmente os
italianos, ter terra
era sinônimo de
liberdade e, para isto, não
poupavam esforços.
Levavam uma vida difícil e
modesta, trabalhavam
muito, controlavam suas
economias e até abriam
mão de pequenas coisas em
prol de juntar dinheiro para
a realização do sonho maior
que era o adquirir um
pedaço de terra. E, via de
regra, quando já haviam
adquirido o primeiro lote o
sonho se expandia no
sentido de conquistar
outros, preferencialmente
nas proximidades, para
acolher os descendentes e
demais agregados.
Certo é que, num espaço
de tempo relativamente
curto, transformaram-se de
simples colonos em
lavradores independentes e
passaram a formar uma
nova classe de pequenos e
médios proprietários. Não
demorou muito para quem
chegou como empregado da
fazenda se tornar meeiro e
depois proprietário.
Foi com muito trabalho e
uma dedicação ímpar que
muitas famílias galgaram
os degraus mais elevados
da escala social, a partir de
atuarem como eficientes
lavradores.
Foram colonos num
sistema onde a relação de
trabalho não poderia ser
classificada como de
simples parceria, nem
como um colonato na forma
conhecida. Em Leopoldina
prevaleceu a forma mista
de contratação em que
fazendeiros e imigrantes
encontraram formas de
estabelecerem parcerias
favoráveis às duas partes,
principalmente porque os
subsídios concedidos pelo
governo cobriam as
despesas com a vinda do
imigrante.
Adquiriram pequenas
glebas de terra, de algum
lote na Colônia Agrícola da
Constança ou em outro
lugar por onde foram
surgindo as pequenas
propriedades, passando a
fazer parte da própria
dinâmica da economia do
município. Muitas dessas
propriedades eram
retalhos de terras
esgotadas vendidos pelos
fazendeiros que viam
nessa prática uma forma
de o imigrante ver
realizado o seu sonho de se
tornar sitiante e, ao
mesmo tempo, a fazenda
garantia uma reserva de
mão de obra nas suas
proximidades. Geralmente
eram propriedades de
terras exauridas, casas
precárias de pau a pique
ou meia água, capoeiras
por desbravar e pouca ou
nenhuma assistência
governamental, conforme
as descrições feitas pelos
descendentes.
Destacamos, a propósito,
informação de um
descendente sobre compra
de uma “situação” em
antiga propriedade que
não conseguimos
identificar. Segundo nosso
entrevistado, após a morte
do patriarca os herdeiros
decidiram “lotear” a
fazenda e diversos
compradores foram
imigrantes ainda com
pouquíssimo domínio da
língua portuguesa. Para
eles, fazenda era o local
onde se instalava a casa de
moradia do proprietário,
tendo nas proximidades os
equipamentos comuns
naquela época, como a
tulha, o curral, o barracão,
os terreiros para secagem
do café e as casas de
colonos. Ou seja, não era a
propriedade rural em si,
mas a sede. Para os
colonos italianos, seria o
equivalente à fattoria que,
segundo os dicionaristas
Devoto e Oli, é o complexo
administrativo de um
núcleo agrícola,
compreendendo a
residência do fattore, vale
dizer, administrador ou
proprietário. Sendo assim,
o imigrante que adquiriu o
terreno onde se localizava
a sede passou a ser
denominado pelos outros
como fazendeiro.
De todo modo, aquelas
pequenas propriedades se
transformaram num
modelo que prosperou pelo
município, funcionando
pela formidável
capacidade de trabalho do
imigrante e pela grande
prole da maioria deles. E,
principalmente, uma
situação que era
considerada pelos
patriarcas como muito
melhor do que a que
deixaram na Itália.
Os estudos de Leone
Carpi, publicados no livro
Delle Colonie e delle
Emigracioni em 1874,
mencionam uma carta do
cônsul italiano do Rio, em
1872, relatando que a
tendência do emigrante
italiano era ficar no Brasil
por um período entre 3 e 6
anos, acumulando uma
poupança que permitisse
voltar à terra natal e lá
adquirir seu próprio
pedaço de terra. Dos casos
que estudamos parece que,
chegando aqui com a ideia
de retornar no período
indicado pelo cônsul
mencionado por Carpi,
outros fatores convenceram
os imigrantes de que seria
melhor adotar o Brasil
como pátria de seus
descendentes.
Sobre esta decisão, há
uma expressão utilizada
em estudos norte
americanos para justificá-
la. Trata-se do Ascetismo
da Poupança que,
entretanto, é tido por
muitos como um fator
negativo já que, ao
retornarem ao país de
origem, os imigrantes
estavam em boas
condições econômicas e
extremamente debilitados
fisicamente.
De fato, não são poucas
as referências dos
entrevistados à dureza
imposta pelos imigrantes
a si e à família, tendo em
vista amealhar uma
poupança que permitisse
adquirir um pedaço de
terra. Mas se no início
poderiam pensar em voltar
para a terra natal e se
estabelecerem em
melhores condições, a
partir da poupança feita
aqui no Brasil, a boa
adaptação à nova pátria
pode ter sido determinante
para a fixação em
definitivo de muitos que
aqui chegaram na época da
Grande Imigração. No
grupo que pesquisamos,
não encontramos dados
que indiquem decréscimo
da condição física em
função dos sacrifícios a que
se submeteram.
Em literatura são
encontradas referências a
óbitos causados pela
mesma situação, ou seja,
determinados pelo excesso
de trabalho em condições
adversas. No que toca a
Leopoldina, temos um caso
de óbito considerado como
resultado de trabalho no
brejo, cultivando arroz.
Entretanto, analisando a
trajetória do falecido,
descobrimos que no final
de todas as tardes ele se
dirigia para a “venda”, um
estabelecimento comercial
próximo do local de
residência. Ali o imigrante
passava muitas horas
bebendo, indo para casa já
com noite fechada. Quase
sempre chegava com o
vestuário bastante úmido
pelo sereno. E, bêbado, não
cuidava de trocar a
vestimenta e aquecer-se
adequadamente.
Tampouco permitia que a
mulher interferisse. Nos
primeiros tempos, quando
ela insistia em fazê-lo
trocar de roupa e tomar um
chá quente, o imigrante
costumava agredi-la verbal
e fisicamente.
Passados alguns anos,
este imigrante começou a
apresentar características
de tuberculose mas não
buscou tratar-se. Pelo
contrário, mudou-se para o
sítio do sogro onde foi
plantar arroz. Ao fim de
10 anos de casado, foi a
óbito. Na memória
familiar, ficou a
informação de que a causa
foi o trabalho no brejo. �
P
100 anos da Colônia Agrícola Constança22
ATIVIDADES
LABORATIVASColônia tinha como padrão médio de tamanhodos seus lotes uma gleba de aproximadamentecinco alqueires ou, 25 hectares de terra, que nãopassava de uma pequena propriedade rural se
consideramos os padrões da época.Poucas máquinas estavam ao alcance dos proprietári-
os destas terras, não só pelo fato de ser a mecanizaçãoda lavoura quase que totalmente desconhecida na re-gião como, principalmente, pela impossibilidade finan-ceira de investir na aquisição de implementos agríco-las. Para algumas atividades o estado colocava à dispo-sição dos colonos umas poucas máquinas e equipamen-tos além de lhes fornecer sementes. Com a emancipaçãoda Colônia Agrícola da Constança em 1921, os agricul-tores que não tinham investido em adquirir implementostiveram maior dificuldade para manter o nível de pro-dutividade.
Alguns colonos contavam com carro de bois, carroça,arado e grade rústica puxada por animais. Poucos colo-nos utilizavam plantadeiras de grãos e debulhadoresde milho, acionados pela mão do homem. Os moinhos defubá e monjolos, geralmente movidos a água, não pas-savam de dois ou três em toda a Colônia.
Assim, o mais comum nos lotes da Colônia Agrícolada Constança, no que se referia ao trato da terra parao cultivo e manutenção das lavouras e hortas, era autilização de machados, foices, enxadas, “cacumbus” eenxadões, manuseados indistintamente por toda a mãode obra disponível na família (pai, mãe, filhos e agre-gados).
As entrevistas permitiram observar uma natural eperfeita divisão de tarefas, comum na maioria dos lo-tes. Eram reservados aos homens principalmente os tra-balhos mais pesados e os mais distantes da casa, taiscomo a derrubada de árvores para o aproveitamento damadeira, o destocar as áreas a serem cultivadas e opreparo dos brejos e alagados para o plantio do arroz.Isto, sem prejuízo de outros trabalhos menos árduos,que eram realizados em parceria com os demais famili-ares. Aos homens também estavam reservados os tra-balhos de confecção de móveis e utensílios e até mesmoa construção de casas, suas e de vizinhos, além das de-mais acomodações que iam se tornando necessárias como desenvolvimento da propriedade.
Neste aspecto vale ressaltar o surgimento, dentre oscolonos da Constança, de excelentes profissionais mar-ceneiros, carpinteiros, “carapinas”, serradores (hábeisno manejo do golpeão, ou “gurpião”), pedreiros e mes-tres de obras que emprestaram os seus conhecimentos etécnicas para muitos outros vizinhos e parentes. Umentrevistado informou que seu avô era um bom artesão
em latoaria, fazendo tachas e demais utensílios de usocotidiano.
Mas se cabia aos homens todas essas tarefas, às mu-lheres competiam os muitos afazeres da casa e do ter-reiro, além de cuidar dos filhos. As mulheres que vive-ram na Colônia Agrícola da Constança bordavam pouco,costuravam o necessário para atender a toda a famíliae cozinhavam muito e, via de regra, bem. Além da cozi-nha e do cuidado com a casa, elas eram ainda responsá-veis pela horta, jardim, galinheiro, chiqueiro, limpezado terreiro (em geral com enormes vassouras de ramosou de galhadas de bambu) e, em muitos casos, até peloretiro do leite. Isto sem falar nos muitos casos de mu-lheres que dividiam, em igualdade de condições com osseus maridos e filhos, todas as tarefas que surgiam napropriedade.
Os colonos adotaram, ainda nas fazendas em que tra-balharam antes de adquirirem um lote na colônia, osistema de mutirão. Assim é que são freqüentes as refe-rências ao trabalho conjunto quando necessário conser-tar, por exemplo, a casa de morada.
Sobre o processo de industrialização agrícola, lembre-mos que o assunto é mencionado de forma contrastanteem algumas fontes. De um lado o processo é visto comoampliação do mercado de trabalho, absorvendo a mãode obra ociosa dos jovens provenientes das lides agríco-las. Por outro lado, é considerado como estímulo à emi-gração por retrair o mercado, já que a mecanização di-minui a necessidade do emprego de muitos braços antesnecessários em algumas tarefas.
Buscando compreender como se deu a adaptação doscolonos aos implementos disponíveis na Constança, pro-curamos informações sobre como estava o processo naItália, no período de nosso interesse. Encontramos refe-rência a uma revista quinzenal publicada em Milão, naúltima década do século XIX, que teria sido criada comoórgão de informação no meio industrial, sob o títuloL’industriale. No único número que tivemos oportunida-de de ver, há publicidade de máquinas e equipamentosaparentemente rudimentares, além de um comentáriosobre uma nova técnica de aplicação de adubos. Seriainteressante encontrar outras fontes a respeito, já que aadulteração de produtos agrícolas e adubos é citada, emNotizie Intorno alle Condizione della Agricoltura,publicada em 1886, como uma das preocupações noMinistero di Agricoltura, Industria e Commercio naque-le momento.
O diretor da mencionada revista era Carlo Gobbi eeste nome chamou a atenção. Isto porque em Leopoldinaviveu Amalia Luigia Gobbi, nascida por volta de 1848em Mantova. Era casada com Agostino Cosini com quempassou ao Brasil em 1888. Uma das filhas do casal -Maria Augusta, casou-se com José Matola de Miranda efoi mãe de Ranulfo Matola, personagem de destaque emLeopoldina, sendo homenageado em nome de rua no bair-ro São Luiz, nas proximidades da Colônia Agrícola daConstança. E Maria Augusta era cunhada de CarloCosini, que até 1942 vivia na Colônia Agrícola daConstança e é referido por alguns entrevistados comoespecialista na aplicação de adubos. �
A
Plantio de Cana na Colônia Agrícola da Constança, 1910-1920 (Acervo Arquivo Público Mineiro)
100 anos da Colônia Agrícola Constança 23
O LAZER
ssim como em mui-tas outras culturas,os italianos costu-mavam homenage-
ar seus antepassados atra-vés do nome que escolhiampara os filhos. Em muitas fa-mílias, o primeiro descen-dente do sexo masculino re-cebia o nome do avô paterno,o segundo homenageava oavô materno e os seguintesrecebiam o nome de um tioou amigo. De modo geral, ospadrinhos de batismo eramparentes próximos, o queeventualmente acarreta ge-neralizações inadequadas,como julgar que o nome dacriança seria sempre home-nagem ao padrinho ou ma-drinha.
Um de nossos informantesapresentou um relato inte-ressante. Segundo ele, as cri-anças nascidas no oitavo mêsdo ano civil homenageavamum antepassado que tivesseAugusto em seu próprionome ou acrescentavam estenome ao primeiro nome deum avô. Descobrimos, porexemplo, que um neto deFelice Meneghetti, nascidono dia 7 de agosto, foi bati-zado como Felice Augusto.Outros casos sugerem o mes-mo procedimento, seja entreos nascidos no Brasil e que
receberam o nome de Agosti-nho ou Agostino quando nas-cidos na Itália.
O mês de agosto tinhagrande simbologia para osagricultores pagãos, que de-dicavam os primeiros dias domês à colheita e nos dias se-guintes comemoravam o re-sultado obtido, numa espé-cie de despedida dos diasensolarados que brevemen-te dariam lugar ao períodooutonal. Acreditamos que,com datas vinculadas à ati-vidade agrícola, e especial-mente por ser o mês em queos trabalhadores descansa-vam por alguns dias, natu-ral que festejassem as féri-as também no nome dos fi-lhos, pensando diretamenteem quem instituiu o descan-so: o Imperador Augusto.
Mas quando passaram aoBrasil, os italianos tiveramque se adaptar a outro calen-dário. No século XIX as festi-vidades já não eram pagãs,estando incorporadas ao ca-lendário católico com algu-mas adaptações. Tendo for-te influência religiosa, natu-ral que os colonos elegessemum templo como local de fes-tas. Além da religiosidadepropriamente dita, a Cape-la de Santo Antonio muito re-presentou na vida dos imi-
grantes que se instalaramna Colônia Agrícola daConstança. Era em tornodela que se realizavam qua-se todas as festividades.
A regra na Colônia era otrabalho. O cantar do galo jáencontrava a maioria doshabitantes no batente diá-rio. Ali, em praticamente to-dos os lotes, colonos e agre-gados se dedicavam com afin-co às tarefas em casa, no ter-reiro ou nas lavouras, sem sepreocuparem com diversão.Nos poucos momentos dedi-cados ao lazer, as alternati-vas não eram muitas.
As mulheres se divertiamprincipalmente nas festasreligiosas e nas visitas aosparentes, vizinhos econterrâneos. Os colonos par-ticipavam ativamente dasfestas promovidas na igreji-nha, construída em 1915 pe-los colonos e demais habi-tantes das terras da antigafazenda da Onça. Principal-mente a animada festa anu-
al dedicada ao padroeiroSanto Antonio, que reuniaum grande número de parti-cipantes oriundos das propri-edades da redondeza e, emnúmero bastante significati-vo, pessoas que vinham dasede do município. Com suasbarraquinhas a servir osmais variados quitutes e osdisputados leilões de pren-das oferecidas pela comuni-dade e apregoadas pelo se-nhor Carlos (Carrito)Almeida, a “Festa da Onça”,como ficou conhecida, atraíagente de todas as idades.
A confirmar a importânciadesta festa, famílias resi-dentes na estrada daLajinha programavamlongamente o passeio. Asmoças se preparavam comafinco, costurando novos ves-tidos ou reformando algummais antigo, sempre com aintenção de apresentar-secondignamente. No dia dafesta, vinham em carro de boida fazenda até a cidade, car-
regando vestes e calçados emum grande embornal. Depoisde tomar banho e vestir-seem casa de algum parente ouamigo, punham-se a cami-nhar, descalças, até o local dafesta. Nas proximidades, la-vavam os pés e calçavamseus sapatos que, na maio-ria das vezes, causavam-lhes supliciantescalosidades.
Divertidos, também, embo-ra bastante raros, eram osbailes e reuniões em que secomemoravam os casamen-tos. Um descendente infor-mou que a festa do casamen-to de sua tia foi promovidapelos padrinhos da noiva, ar-ranjando-se um grande “sa-lão de arrasta-pé” no terrei-ro da casa dos pais da noiva.Após a cerimônia religiosa,os convidados foram cami-nhando até a casa, muitosdeles com os sapatos nasmãos. A noiva, toda anima-da, ia na frente da verdadei-ra procissão de parentes eamigos.
A outra atividade de lazerdas mulheres era a visita aosparentes e conterrâneos, ge-ralmente nos finais de sema-na. Já os homens, emborafreqüentemente realizassemas mesmas visitas e muitasvezes desacompanhados,
buscavam diversão tambémnas raias destinadas ao jogode malha, nas várzeas ondese demarcavam campos paraa prática do jogo de futebol, enas mesas de carteadosmontadas na “venda” ou nacasa de amigos. Alguns apre-ciavam as caçadas ao tatu eà paca, geralmente realiza-das nas noites de lua cheia,assim como a apreensão depassarinhos como o canárioda terra, o coleiro, opintassilgo, o melro e o curió,apreciados pela beleza daplumagem e pelo canto.
De um tempo posterior àemancipação oficial da Colô-nia, há notícias relativas aotime de futebol denominadoBoa Sorte Futebol Clube,que chegou a disputar cam-peonatos amadores na cida-de. Durante muitos anos, apartir do meado dos anos de1900 e até o início do séculoXXI, o Boa Sorte FutebolClube foi estruturado emantido por João Bonin(Bonini), proprietário dasterras onde ficava a sede dafazenda Boa Sorte, tendo acasa servido de sede admi-nistrativa do Clube. Seusherdeiros, muitos dos quaisex-jogadores do time, aindapreservam os troféus e obje-tos do Boa Sorte F.C. �
A
100 anos da Colônia Agrícola Constança24
A MORADIA
DOS COLONOS
Casa de colonos - Colônia Constança-APM
m 1876, dois pes-quisadores italia-nos publicaram oresultado de um
extenso levantamento so-bre as condições políticas eadministrativas no sul daItália. Este livro nos permi-te conhecer um pouco da si-tuação dos italianos que re-solveram deixar a terra na-tal em busca de melhorescondições de vida. LeopoldoFranchetti e SidneuSonnino declararam que aquestão da habitação daclasse pobre, que vivia dotrabalho braçal, era umadas mais graves da época.
Os autores nos fazem re-fletir sobre os sonhos quepossam ter nascido entreaqueles que, não podendooferecer um mínimo de con-forto aos seus familiares,optaram por um país cha-mado Brasil, tão distante edo qual provavelmente pou-co sabiam. Acreditamos quetodos quantos se dedicamao estudo da imigração ita-liana para o Brasil já tive-ram oportunidade de consi-derar que nossas ColôniasAgrícolas ofereciam muitomais conforto para aquelesitalianos que, em sua pá-tria, eram submetidos esubmetiam suas famílias aum modo de vida deplorá-vel aos olhos dos própriositalianos que os estuda-ram. Nas palavras de nos-sos entrevistados, percebe-mos que aqui encontraramuma habitação convenientecomo queriam Franchetti eSonnino. Vejam algumasdeclarações:
“Eu conheci a fazendaonde eles moravam antes.Era uma construção antiga.Tinha 9 dormitórios, umacozinha grande com um fo-gão grande. Tinha um lugaradequado para lavar as pa-nelas de ferro, era um tipode tanque com água quenteque vinha do grande fogão.
Mas a casa que eles mora-vam não existe mais. Minhatia contava que a casa daColônia era muito pequena,com chão de barro. Criançanão podia engatinhar por-que ficava gripada. Chão frioe úmido.” (neto de colono)
“Antes de ir prá Colôniaeles moravam num casarãobem grande, uma fazendavelha. Mas lá não tinhauma casa prá cada família.Era todo mundo numa casasó. Então quando foi práColônia, minha avó gostoude ter uma cozinha só práela.”(neta de colono)
“Eles pegavam amadame, com duas carrua-gens, botava as mulheresdireitinho e pegavam o ca-minho. Eles passavam per-to da nossa casa. E a genteficava olhando, né? Aquela
“mulherzada”, gente tudobacana. A gente ficavaolhando, né? Olha, passoua Baronesa! A Baronesa jávai prá fazenda. Naquelecasarão, onde tinha lugarprá tudo. Na nossa casa....tudo muito pequeno.... Lá naColônia também.... Não ti-nha lugar nem prá guardaros trem de cozinha.”(filha deagregado da Colônia)
Estes três depoimentos dedescendentes de imigrantesmostram como foi a vidadessa gente ao chegar aLeopoldina. A maioria doshabitantes da Colônia jáestava na região quando fo-ram demarcados e entre-gues os primeiros lotes. Se-gundo a Ata da reunião doClub da Lavoura, de28.12.1887, ficou estabele-cido que o fazendeiro ficavaobrigado a fornecer uma
casa com 40 palmos sobre20, coberta de telhas, com12 palmos de pé direito e 7de ponto, com duas portasde 4 1/2 palmos de largurasobre 10 1/2 palmos de al-tura, e duas janellas de 2palmos de largura sobre 41/2 de altura. A mesma fon-te informa que as casas de-veria ser barreadas, ficandoos revestimentos de cal adi-ados para ocasião futura.
Na maioria destas casas,as paredes eramconstruídas com a técnicaconhecida como pau a pique,taipa ou estuque. É um tipode construção em que sãoutilizados esteios e vigas demadeira tosca dispostasverticalmente. Nestas peçassão cravados, em furos pró-prios, fasquias (lascas demadeira) ou bambus finosno sentido horizontal, for-mando retângulos como
uma tela. Estes retângulossão então preenchidos combarro preparado para tal fi-nalidade, também chamadode estuque.
Por ser uma construção ba-rata e que utilizava materialdisponível nas proximidadesda obra, foi muito difundidana região. Geralmente o pisoera de terra batida e não ha-via divisão interna.
As casas que foramconstruídas na Colônia Agrí-cola da Constança eram umpouco melhores. Obedeciama um modelo trazido da Co-lônia Vargem Grande, queficava nas proximidades deBelo Horizonte e ofereciamum pouco mais de conforto.Possuíam paredes de tijoloscom revestimento e caiação,inclusive nas divisórias in-ternas. A cobertura era detelha tipo canal. O piso dasala e dos quartos era detábua e o da cozinha, em ge-ral, de terra batida ou tijolo.A água chegava ao terreiroatravés de regos e bicas debambus ou então era colhi-da em fonte natural das pro-ximidades. Os banheiros, emgeral, eram separados dacasa, o que gerou a vulgar de-nominação de “casinha”. Ailuminação era à base dequerosene, em lamparinas elampiões. Embora a maio-ria esteja bastante altera-da e algumas bem deterio-radas, ainda existem unspoucos exemplares dessascasas em antigos lotes daColônia.
O interior das antigas re-sidências é outro aspectoque precisa ser melhor es-tudado. Algumas pessoastendem a se referir aos mu-seus como sendo um localonde se expõem peças deouro e mobiliários rebusca-dos. Entretanto estes espa-ços, por definição, objetivamguardar e preservar o pas-sado que não deveria ser se-pultado e que pode ser lem-brado até num móvel rústi-
co que por ventura aindaexista numa casa simples,cravada nas terras de qual-quer dos lotes da Colônia.
É a ideia de resgate e pre-servação da história da Co-lônia Agrícola da Constançaque nos faz trazer estetema à baila. Obviamentesem ver nisto demérito al-gum e sem considerar quequalquer dos imigrantesaceitaria o tratamento de“coitadinho” por esta colo-cação. Pelo contrário, nós ofazemos porque reconhece-mos nessa gente o valor dequem criou e, criou muito.Plantou fábricas de taman-cos, tijolos e telhas, a par-tir do material disponível,para gerar renda e não ficardeitado à espera de um“bolsa-qualquer- coisa” ou,da esmola que vicia. E o fa-zemos porque reconhece-mos que trouxeram o ladoempreendedor que os fezvencer todas as dificulda-des, incluindo a língua. Nopeito ou em meio à baga-gem, trouxeram ainda umainsuperável disposiçãopara lutar destemidamen-te contra tudo e contra to-dos, para construir um lu-gar para chamar de seu.Não importando se sobra-va apenas um catre rústicopara o repouso diário ou umpouco mais do que isto, quese misturava às roupastrazidas da distante Itália.
Para o italiano que esco-lheu a nossa Leopoldinapara seu habitat, não pode-mos deixar de informar quena época da chegada o mo-biliário era escasso e rudi-mentar. Pouco mais que umbaú e alguns sacos com per-tences de uso pessoal, alémde algumas poucas ferra-mentas trazidas da Itália.Na nova pátria, construí-ram o catre que se juntavaao baú para equipar o quar-to de dormir. As roupas usu-ais eram penduradas naparede do quarto, enquanto
E
Por muitos anos Leopoldina omitiu ou minimizou o papel do povo em suahistória.Sejam os índios que foram “desaparecidos”, os negros escravos ouos imigrantes. Aqui também sempre se preferiu exaltar as grandes figuras, oscoronéis, os líderes políticos. As pesquisas de Nilza Cantoni e Zé LuizMachado rompem com essa visão preconceituosa e elitista que infelizmenteainda vemos por aí e registram na nossa história nomes que não devem serapagados.
Luciano Baía Meneghite
100 anos da Colônia Agrícola Constança 25
as melhores eram guarda-das no baú, pois não haviaguarda roupas. Com o pas-sar do tempo e a melhoriadas condições econômicas,os quartos recebiam ca-mas e, às vezes, mesinhasde cabeceira, toucadores eberços.
O “catre” era composto deum conjunto de tábuas ser-radas ou lavradas quasesempre por eles mesmos,sobre um quadrado de ré-guas mais resistentes, comquatro pés e sem cabeceira.Mais tarde, quando encon-
travam material adequado,vez por outra embelezavamo catre com uma cabeceiracontendo trabalhos de enta-lhes, para os quais conta-vam com a habilidade dasmãos femininas, com conhe-cimento e técnica muitasvezes herdada e repassadapara gerações seguintes.
Quanto a este fato, lem-bramos depoimento deuma descendente que noscontou sobre um tio dela,irmão de sua mãe, queaprendeu com a nona aentalhar madeira:
Ele fazia gaiolas de pas-
sarinho lindíssimas. Tudo
o que fazia era com um sis-
tema de encaixe que dis-
pensava pregos. Algumas
peças levavam um ‘amar-
rado’ em cipó bem fino. Ele
descascava o cipó e, assen-
tado na cerca do curral e
munido de um canivete e
um pedaço de madeira,
moldava diversos objetos:
faquinhas, garfos, carri-
nhos e diversos outros brin-
quedos. Embora eu não me
lembre da cama onde a
bisnona dormia, dizem que
a cabeceira tinha sido fei-
ta por ela e que tinha
florões entalhados na ma-
deira. Eu vi meu tio fazer
algo do gênero.
Outro “móvel” era o cabi-de de parede, igual a muitosque ainda encontramos naslojas de móveis. Aqueletrançado de madeira, tiposanfona, com pinos parapendurar roupas e chapéus.Importante também era oguardacomida. Tão rústicoquanto os demais móveis,apresentava, como novida-
de para os locais, o fato deter pedaços de couro no lu-gar das dobradiças.
Geralmente as tábuas dosmóveis eram serradas ma-nualmente com os chama-dos golpeões ou, grandesserras, puxados por duaspessoas de forma cadencia-da. Pela raridade dos pregos,as peças de madeira se jun-tavam pelo sistema de en-caixes chamado de“malhete” e cavilhas de fi-xação. Nas camas, o estra-do que hoje se constrói deripas era feito de tábuas um
pouco mais finas ou de las-cas de algumas madeiras defibras mais longas, porqueera praticamente impossí-vel serrar manualmente pe-ças mais delicadas.
Como se pode concluireram moradias de poucosmóveis e limitado conforto.Mas tudo realizado com fi-bra inigualável. Por umpovo determinado a vencer.Por um povo que, acima detudo, soube vencer todos osobstáculos e hoje seus des-cendentes se destacam nocenário leopoldinense. �
REGIÕES DE ORIGEM DOS NOSSOS ITALIANOSLeopoldina recebeu
imigrantes procedentesde 14 regiões da Itália:Lombardia, Friuli-Venezia Giulia, Veneto,Piemonte, EmiliaRomagna, Toscana,Umbria, Marche,Abruzzo, Campania,Basilicata, Calabria,Sicilia e Sardegna. É di-fícil afirmar, com segu-rança, de que localidadevieram mais imigrantese de que região são aspessoas que mais contri-buíram para a modifica-ção de aspectos sociais eeconômicos da cidade.Sem dúvida este fato re-presenta uma primeiradificuldade para se tra-çar um perfil do cidadãoque veio para o nossomunicípio e tambémpara determinar de queregião é a influência pre-dominante. Acrescente-se a isto os problemasadvindos dos desloca-mentos, ainda na Itália,de famílias provenientesde uma região e que aquichegaram após obteremo passaporte em outra.
No período de maior inci-dência da imigração de ita-lianos para Leopoldina,acontecida entre 1888 e1896, percebemos que doVeneto era a maioria dos quechegaram em 1888. A partirde 1894 começaram a che-gar os lombardos. Os meri-dionais, ou seja, procedentesda região sul da Itália, che-garam em diferentes épocas.Cada qual com os seus prin-cípios e comportamentosque foram transmitidos aosdescendentes e agregados.
Uma outra dificuldadepara fazer um estudo sobre oconjunto desses imigrantesreside na maior ou menor fa-cilidade na reunião de dadossobre as suas famílias. Nemsempre é fácil conseguirpesquisar em algumas regi-ões de origem. No caso de pro-víncias do norte da Itália, en-contramos uma certa facili-dade até para fazermos pes-quisas via Internet. Nestecaso a nossa preocupação foinão nos deixarmos levar pelaconclusão inadequada de quea maioria dos imigrantes re-sidentes em Leopoldina veiodaquela região. �
Imigrantes desembarcando na Ilha das Flores (Acervo Arquivo Nacional, Rio)
Destino dos imigrantes italianos no período 1876 a 1945Fonte: 2º Seminário de Imigração Italiana em Minas Gerais
Imigrantes italianos no Brasil, porregião de origem, entre 1876 e 1920Fonte: Instituto Brasileiro de Geografiae Estatística, Contagens Populacionais
Região de Origem Quant. de ImigrantesAbruzzo .................................................. 93.020Basilicata .............................................. 52.888Calabria ................................................. 113.155Campania .............................................. 166.080Emilia-Romagna ................................... 59.877Lazio ....................................................... 15.982Liguria .................................................... 9.328Lombardia ............................................. 105.973Marche ................................................... 25.074Piemonte ................................................ 40.336Puglia ..................................................... 34.833Sardegna ................................................ 6.113Sicilia ..................................................... 44.390Toscana .................................................. 81.056Umbria ................................................... 11.818Veneto .................................................... 365.710Total ....................................................... 1.225.633
Estrangeiros em Leopoldina � Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia eEstatística, Censos de 1872 e 1890
Localização ........................ 1872 .................. 1890Sede .................................... 435 .................... 431Piacatuba ........................... 146 .................... 7Tebas .................................. sem dados ......... 103Conceição da Boa Vista .... sem dados ......... 276Rio Pardo (Argirita) .......... 280 .................... 73
Homens Mulheres Total380 ...................................... 402 .................... 782
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100 anos da Colônia Agrícola Constança26
ALIMENTAÇÃO DOS COLONOSuando se pensa em alimentação dos italianos, écomum lembrar de mesa farta, suculentos pra-tos de massas regados a molhos variados ecanecos com os melhores vinhos. A culinária ita-
liana à disposição de todos! Mas os depoimentos colhi-dos de pessoas mais velhas, descendentes dos imigran-tes que se fixaram na Colônia Agrícola da Constança enos demais roçados de Leopoldina, apontam para umquadro um pouco diverso.
Antes de passarem ao Brasil, os colonos tinham hábi-tos alimentares concernentes à possibilidade de produ-ção na região em que viviam. No que se refere ao Veneto,Emilio Franzina relata, na página 140 do livro A GrandeEmigração, que a agricultura era ali praticada no siste-ma de “cultura mista, centrada na tríade produtiva devinho, trigo e milho”. Segundo este autor, os proprietári-os das terras dividiam-nas em três campos, sendo umpara milho e dois para trigo, entremeados por fileirasde videiras. Desta forma, tinham assegurada a polentae a lenha para cozinhá-la.
Já para Renzo Grosseli, conforme páginas 33 e 34 deseu livro Colônias imperiais na terra do café, o pão e apolenta eram indispensáveis na alimentação dos colo-nos trentinos e lombardos que se estabeleceram no Es-pírito Santo. A batata, muito cultivada na região emque se estabeleceram aqui no Brasil, era utilizada pe-los italianos para alimentar os porcos. Especialmenteos trentinos, informa o autor, procuraram desenvolvercultura de cereais como milho e trigo, além de legumes ehortaliças.
Do que apuramos, pelo menos nas gerações mais anti-gas o vinho e o macarrão não freqüentavam as mesasdiárias de nossos colonos. Mesas, aliás, na maioria dasvezes montadas na própria cozinha e geralmenterodeadas de bancos de madeira. Tampouco havia ma-carrão nos caldeirões levados com o trabalhador para olocal do trabalho. Vinhos e massas eram comuns ape-nas quando o almoço era servido na mesa da sala emdias de visitas, nos “jantarados” dos finais de semana enas comemorações de algum acontecimento significati-vo. E são compreensíveis as razões para esta prática.
O clima quente de Leopoldina não se prestava ao plan-tio do trigo e da uva. Faltavam os mais elementaresrecursos para o seu cultivo e preparo nas terras monta-nhosas da nossa região. Por outro lado, adquirir os pro-dutos deles derivados nem sempre estava ao alcancedaqueles colonos. Não só pelo preço mas, também, peladificuldade de se deslocar da roça para a cidade e fazera compra e até de encontrar no armazém estes produ-tos. Assim, tornou-se muito mais fácil ao colono imi-grante adaptar-se à realidade dos que por aqui viviam eaderir aos costumes vigentes.
É bem verdade que existiu, ainda, um outro fator im-portante e que também precisa ser considerado. Algunsdepoimentos dão conta de que muitos imigrantes já ha-
viam substituído a massa de suas mesas ainda na Itá-lia, onde o trigo escasseava e atingia altas cotações.Com isto o talharim, os rissoles e pães, ainda na Itáliajá haviam perdido a concorrência para a polenta (salga-da ou doce), os bolos, as broas, as cavacas (bolachasendurecidas), o cubu, o milho cozido ou assado e demaisderivados desse grão de cultivo e manejo mais fácil e demercado bem mais simples.
Decorre daí o hábito de substituir o pão e outros ali-mentos por fubá cozido em água e sal. Seja no caldeirãodo almoço ou, depois de frio, cortado em pedaços paraacompanhar o jantar, o café da manhã ou a merendavespertina, o angu com melado de cana era tambémmuito apreciado.
Substituindo-se o sal por açúcar mascavo (açúcar pre-to), obtinha-se um angu doce que era despejado em por-ções na chapa do fogão à lenha e consumido com diferen-tes acompanhamentos, dependendo do tempo em quepermanecia assando. Ainda mole, num prato de ágata,com leite; mais consistente, transformava-se em bola-chas muito apreciadas; e, mais endurecido, tomava aforma conhecida como “cavaca”, que substituía o pão.
Ao ser retirado da panela, o angu deixava uma grossacamada que se denominava raspa e que era consumidacom leite nas refeições intermediárias. Fatiada e umpouco mais tostada, esta raspa era consumida ao estilode petiscos. Se salpicada com açúcar, era saboreada comobiscoitos.
Mas não há como falar de alimentação de italianos semum comentário sobre as massas. Um entrevistado infor-mou que sua mãe “preparava a massa de talharim, esti-cava-a na mesa da cozinha e cortava as fitas com umafaca, cozinhando-as em água com sal e preparando o mo-lho à parte. Quando a massa cozida era jogada no molho, ocheiro forte atraía a todos, principalmente as crianças”.
Outro informante lembrou que a massa era colocada asecar numa peneira forrada com um pano e mais tardeera enrolada como um rocambole e cortada em fatiaspara serem cozidas em água quente temperada com gor-dura de porco.
Na Colônia e nas pequenas propriedades da região, asespigas de milho eram guardadas no paiol, um cômodogeralmente coberto com sapé ou telha do tipo canal, comparedes e assoalho de bambu, pau roliço ou ripa de ma-deira lavrada, com frestas que facilitavam a ventilação eevitava a proliferação de caruncho. De modo geral, o paiolera construído junto à casa do colono e, em alguns casos,debaixo dele ficava o chiqueiro onde se engordava o porco.
Era no paiol que se retirava a palha da espiga e debu-lhava-se (retirar o caroço do sabugo) o milho. Os grãoseram soprados, selecionados em peneiras de taquara eensacados para serem levados para moagem. Alguns co-lonos utilizavam o pilão para socar e transformar o mi-lho em canjiquinha. O mais comum, porém, era a utili-zação de moinhos de pedra movidos a água, que existi-
am pela redondeza, onde o colono entregava o milho erecebia o fubá, descontado de um percentual do peso queera deixado como pagamento pelo beneficiamento.
A palha do milho também era aproveitada. Uma par-te era deixada de molho n’água pura por algum tempo edepois, colocada para cozinhar com banha de boi e sodacáustica, em tacho apropriado, até formar uma pastahomogênea. Esta pasta, despejada em superfície lisa,depois de fria era cortada em barras, dando origem aosabão utilizado na limpeza em geral.
Rasgada em tiras, a mesma palha servia como enchi-mento dos colchões para os catres (camas) da família edos travesseiros, conhecidos pelos imigrantes por“gancilão”, talvez por uma forma dialetal de “guanciale”,ou seja, almofada. Limpa e trabalhada pelo canivete oufaca, servia como suporte para o fumo de rolo ou desfia-do, na confecção dos cigarros. E se nenhuma dessas uti-lizações a consumia, era então jogada para o gado quedela se deliciava, principalmente na época da seca.
O sabugo, outro subproduto do milho, além de atenderaos meninos na confecção de brinquedos como juntas-de-bois para os seus carrinhos, tinha como utilizaçãogeral facilitar o acender do fogão à lenha, por ser decombustão fácil e estar quase sempre guardado ao abri-go da umidade.
Ao lado do milho, outros produtos faziam parte dos“roçados” dos colonos. Um deles, o tomate, era ingredi-ente que não podia faltar no preparo final da massa. Epara que pudesse ser utilizado o ano todo, o comum eraguardá-lo desidratado. Colhido quando começava a ama-durecer, era partido ao meio e colocado ao sol para secar.Posteriormente era guardado em potes. No momento desua utilização era imerso em água morna para re-hidratação.
Os entrevistados mencionaram, também, o café que es-tava sempre no canto do fogão ou levado para a roça emgarrafas de vidro arrolhadas com sabugo de milho. Seupreparo era todo doméstico. Colhido e seco, o grão eralevado ao pilão para a retirada da casca. Depois de penei-rado para limpar as impurezas, era torrado em panelasde ferro. Posteriormente, os grãos torrados eram passa-dos em peneiras de taquara que os transformava em pó.Chama a atenção nos depoimentos o fato de não ter sidomencionada a utilização de moinhos de café, geralmenteencontrados em boa parte das casas da zona rural.
As principais refeições - almoço e jantar, eram compos-tas do tradicional arroz com feijão, uma ou outra verdurada horta, batata doce, mandioca, ovos e alguma carne deporco, boi ou caça, geralmente conservada em grandeslatas ou panelas cheias de gordura (banha) de porco.
Algumas conservas à base de frutas faziam parte dadispensa da casa. Mas uma das faltas mais sentidaspelos imigrantes, segundo depoimentos, era a azeitonaque por aqui não se plantava e que deveria fazer partedos molhos das massas ou ser consumida pura. �
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