COMARCA DE PONTALINA GO PROMOTORIA DE JUSTIÇA§ão... · FÁBIO MEDINA OSÓRIO O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, pelo Promotor de Justiça subscritor, com fundamento art

COMARCA DE PONTALINA – GO

PROMOTORIA DE JUSTIÇA

1/27 Av. Comercial, s/n, Edifício do Fórum, Residencial Aeroporto, Pontalina-GO, CEP. 75620-000, Fone: 064-3471-1109

GUILHERME VICENTE DE OLIVEIRA

Promotor de Justiça

EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO DA COMARCA DE

PONTALINA/GO.

“Combater duramente a impunidade daqueles que se locupletam

ilicitamente à custa dos cofres públicos, lutar pela moralidade

administrativa, pelo resgate de princípios éticos de lealdade, honestidade e

probidade no trato da coisa pública e no exercício das funções públicas, eis

o desafio difícil, complicado, porém inafastável, daqueles que resultam

vinculados a um objetivo fundamental: a promoção concreta de justiça e a

implementação da igualdade e dos valores constitucionais superiores que

devem nortear o convívio humano em sociedade”. FÁBIO MEDINA

OSÓRIO

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, pelo

Promotor de Justiça subscritor, com fundamento art. 129, inciso III, da Constituição Federal, nos arts

5°, inciso I, da Lei n.º 7.347/85 e no art. 17 da Lei n° 8.429/92, vem respeitosamente, perante Vossa

Excelência, propor a presente:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATOS

DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Indicando para figurar no polo passivo:

JURANDIR AUGUSTO DA SILVA (JURANDIR AUGUSTO),

brasileiro, casado, empresário, ex-prefeito de Pontalina (gestão 2009/2012);

NEILSON ANTÔNIO DE OLIVEIRA (NEILSON ANTÔNIO),






brasileiro, casado, enfermeiro, atualmente trabalhando no Hospital Regional do Gama/DF,

concursado do governo do Distrito Federal, natural de Piumhi/GO;

MARCOS DIVINO FERREIRA URZÊDA (MARCOS URZEDA),

brasileiro, solteiro, farmacêutico, natural de Pontalina/GO;

LIFE MÉDICA DISTRIBUIDORA DE MEDICAMENTOS LTDA

(LIFE), pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CPNJ sob o nº 13.480.129/0001-96, com sede

na Rua Hilário Sebastião de Figueiredo, nº 706, quadra 17, lote 15, sala 01, Santo Hilário, Goiânia,

neste ato representada pelos sócios BRUNO JOSÉ DOS REIS; LAISA MARIA RODRIGUES

CARDOSO; MARIA CRISTINA RODRIGUES GOMES;

FARMA PRODUTOS HOSPITALARES LTDA (FARMA), pessoa

jurídica e direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº 26.929.778/0001-73, com sede na Av. Goiás

Norte nº 4041, sala 01, Qd. 25, Lt. 02, nº 880, Setor Crimeia Oeste representada pelos sócios -

AMARILDO COSTA SILVA, Sócio, CRISTIANO SILVA RODRIGUES, sócio administrador,

CRISTIANO SILVA RODRIGUES JÚNIOR, sócio, WAITSON CAMPOS DE OLIVEIRA,

sócio administrador.

Pelos fatos e fundamentos a seguir expostos:

1) DOS FATOS

1.1) DA IMPUTAÇÃO

Consta dos inclusos autos de INQUÉRITO CIVIL de nº

201400385270, que os requeridos, dolosamente, de forma organizada, arquitetaram e executaram um






esquema de corrupção na Secretaria de Saúde do Município de Pontalina, nos anos de 2011 e 2012,

consistente em simulação de compra de medicamentos e insumos hospitalares, que resultou em um

dano de R$ 4.102.031,10 (quatro milhões, cento e dois mil e trinta e um reais e dez centavos), ao

erário municipal.

1.2) DETALHAMENTO

A partir de representação efetivada pela atual gestão do Município de

Pontalina, teve início investigação do MINISTÉRIO PÚBLICO acerca de um esquema de

corrupção capitaneado pelos requeridos JURANDIR AUGUSTO, então prefeito de Pontalina e

NEILSON ANTÔNIO, então Secretário de Saúde, com a participação de MARCOS URZÊDA,

então responsável pela farmácia do Hospital Municipal, e das empresas LIFE E FARMA.

A investigação se justificou pelo evidente gasto abusivo com

medicamentos e insumos hospitalares nos anos de 2011 e 2012, os quais se mostraram amplamente

desproporcionais ao patamar de um Município com cerca de 20 mil habitantes.

Dando início a instrução do inquérito, foi requisitada ao

DEPARTAMENTO NACIONAL DE AUDITORIA DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

(DENASUS) auditoria nos contratos públicos para aquisição de medicamentos para o Hospital

Municipal de Pontalina, nos anos de 2011 e 2012 (fls. 182/184).

Assim foi realizada a auditoria nº 15348, cujo relatório final anota que

no período sob investigação foram gastos R$ 4.941.642,67 (quatro milhões, novecentos e quarenta e

um mil, seiscentos e quarenta e dois reais e sessenta e sete centavos), sem a comprovação de entrega

dos medicamentos e insumos o que levou aos auditores do SUS a recomendar a devolução do dinheiro

pago indevidamente. Veja-se o indicativo do relatório de inspeção (fls. 197/255):

Primeiro: R$ 624.192,87 referente a não comprovação de recebimento de

medicamentos e insumos adquiridos com recursos municipais, no ano de 2011;






CONSTATAÇÃO nº 380095 (fl. 201/201v);

Segundo: R$ 3.856.524,34 referente a não comprovação de recebimento de

medicamentos e insumos adquiridos com recursos municipais, no ano de 2012;

CONSTATAÇÃO nº 380074 (fl. 201v/202);

Terceiro: R$ 158.324,83 referente a não comprovação de recebimento de

medicamentos e insumos adquiridos com recursos federais, no ano de 2011;

CONSTATAÇÃO nº 376629 (fl. 203);

Quarto: R$ 302.600,62 referente a não comprovação de recebimento de

medicamentos e insumos adquiridos com recursos federais, no ano de 2012;

CONSTATAÇÃO nº 376970 (fl. 202/202v);

Por questões de divisão de competência (art. 109, inciso I da CF/88),

este Órgão remeteu ao Ministério Público Federal documentação necessária ao acionamento dos

requeridos pelo dano ao Fundo Federal, de modo que, a presente busca reparação ao prejuízo causado

aos combalidos cofres do Município de Pontalina (Fundo Municipal).

1.2.1) DETALHAMENTO DAS OPERAÇÕES DE COMPRA E

VENDA SIMULADA DE MEDICAMENTOS E INSUMOS HOSPITALARES POR

EMPRESA – NOTAS EMITIDAS E PAGAS SEM ENTREGA DOS PRODUTOS que totalizam

R$ 4.102.031,10.

FARMA – ANO DE 2011

Consoante relatório de auditoria em 2011 a empresa FARMA

PRODUTOS HOSPITALARES, recebeu dos cofres municipais a quantia de R$ 565.868,39, sem

entregar a mercadoria correspondente, consoante se vê pela especificação abaixo: data, número da

ordem de pagamento ou recibo, valor e folha dos autos correspondente.






DATA EMPRESA OP/RECIBO VALOR fls.

01/03/2011 Farma Produtos Hospitalares 16080 R$ 12.534,33 362















29/07/2011 Farma Produtos Hospitalares 170 R$ 466,78 637





05/10/2011 Farma Produtos Hospitalares 21156 R4 30.531,20 921

























27/12/2011 Farma Produtos Hospitalares 23084 9.743,46 1129

TOTAL 565.868,39

FARMA – ANO DE 2012.

Já em 2012, a FARMA recebeu os surpreendentes R$ 2.911,139,00,

dos cofres do Município de Pontalina, sem entregar a mercadoria correspondente. Veja-se a

especificação abaixo:

DATA EMPRESA OP/RECIBO VALOR fls.





























































































04/05/2012 Farma Produtos Hospitalares 26046 R$ 3.122,79































































































































TOTAL 2.911.139,00

Pela especificação acima vê-se que a empresa FARMA recebeu do

fundo municipal nos anos de 2011 e 2012 a quantia de R$ 3.477,007,39, sem entregar a mercadoria

correspondente.






Chama a atenção que somente no mês de dezembro de 2012, último da

gestão do requerido JURANDIR AUGUSTO, foram pagos a FARMA a quantia de R$ 625.023,82.

Não obstante isso, no início de 2013, não havia medicamentos e insumos na farmácia e Hospital

Municipal o que levou a Administração atual a fazer uma contratação emergencial.

EMPRESA LIFE – ANO DE 2012.

Já a empresa LIFE, no ano de 2012, recebeu dos cofres do Município

de Pontalina, a quantia de R$ 882.597,61, sem entregar a mercadoria correspondente. Veja-se a

especificação abaixo.

23/02/2012 Life Med. Distr. de Med. Ltda-Me 24376 R$ 3.450,00 1587







11/06/2012 Life Med. Distr. de Med. Ltda-Me 26937 R$ 450,00 2145






















03/10/2012 Life Med. Distr. de Med. Ltda-Me 29313 R$ 450,00 2852





16/10/2012 Life Med. Distr. de Med. Ltda-Me 29540 R$40.000,00 2856





























TOTAL 882.597,61

Diante disso chega-se a conclusão que juntas a FARMA E LIFE,

empresas operantes do esquema de corrupção, geraram um dano de R$ 4.102.031,10, aos cofres da

Saúde do Município de Pontalina.

Os demais valores para se chegar ao patamar do prejuízo total indicado

no relatório de auditoria (R$ 4.941.642,67) dizem respeito ao prejuízo ao Fundo Federal (remetido

ao Ministério Público Federal) e diversas outras pequenas empresas da cidade, tais como farmácias e

drogarias, as quais, por conveniência da instrução e pela natureza dos gastos (que não evidenciam

cifras a indicar esquema de corrupção) estão sendo investigadas em outro procedimento.

Vale destacar que em investigações com alto grau de complexidade, a

exemplo desta, recomenda-se a divisão dos trabalhos em fases, sob pena de se inviabilizar a

responsabilização dos envolvidos. Assim, concluída a instrução no que diz respeito a revelação do

esquema ímprobo que ora se detalha, de autoria dos agentes públicos e das empresas ora requeridas,

mister a deflagração da responsabilidade em juízo.

1.3) DO COTEJO DA PROVA PERICIAL COM A PROVA

DOCUMENTAL E TESTEMUNHAL

A vista da prova pericial produzida pelo Órgão Federal de combate a

corrupção no Sistema Único de Saúde, foram requisitados pelo MINISTÉRIO PÚBLICO






documentos relativos aos processos de pagamento de despesas dos anos de 2011 e 2012 (contendo

notas fiscais; notas de empenho, ordens de pagamento); bem como quadro comparativo com os gastos

dos anos de 2013, 2014 e 2015.

Os documentos em questão confirmam a existência dos vultuosos

pagamentos detalhados acima, sem a comprovação de entrega das mercadorias, bem como a notória

desproporção de gastos. Veja-se:

a) 2011 (gestão dos investigados): R$ 2.876.443,79.

b) 2012 (gestão dos investigados): 4.704.137,62.

c) 2013 (atual gestão): R$ 875.433,46 (relatório de fls. 263/264);

d) 2014 (atual gestão): R$ 977.340,94 (relatório de fls. 263/264);

e) 2015 (atual gestão): R$ 1.018.587,81 (relatório de fls. 263/264);

Desses números observa-se que a atual gestão do Município de

Pontalina, nos 04 (quatro) anos não alcançará o valor gasto pelos investigados apenas no ano de 2012.

A partir destes dados, foram feitas pesquisas comparativas com gastos

de outros municípios, no sítio do Tribunal de Contas dos Municípios (anexo), números que

confirmaram a notória desproporção estratosférica dos gastos de 2011 e 2012.

Veja-se:

a) Município de Edéia (11.266 habitantes

Gasto em 2012 – R$ 310.374,11

Gasto em 2011 R$ 636.487,87;

b) Município de Rubiataba (23.156 habitantes);






Gasto em 2012 – R$ 805.492,25;

Gasto em R$ 2011 – R$ 627.832,26;

c) Município de Sanclerlândia ( 7.550 habitantes)

Gasto em 2012 – R$ 288.720,43

Para findar a instrução do inquérito civil, foi colhida prova testemunhal

(fls. 265; 266/267; 269/270; 272/273 e 292).

A prova testemunhal corroborou a prova documental. Com efeito,

constatou-se que:

a) Não foram entregues o grande volume de medicamentos e insumos

conforme notas fiscais;

b) O estoque de medicamentos na farmácia Municipal em janeiro de

2013 era praticamente zero, não obstante os pagamentos de cerca de R$ 670.000,00 só no mês de

dezembro de 2012, quando JURANDIR AUGUSTO, NEILSON ANTÔNIO E MARCOS

URZEDA deixaram a prefeitura (dois destes pagamentos feitos a FARMA no dia 28/12/2012,

totalizam aproximados R$ 100.000,00;

c) Que não houve nenhuma espécie de epidemia em Pontalina, a

justificar tamanho gasto com medicamentos e insumos;

d) Que os gastos geralmente seguem um padrão anual de valores;

e) Não havia transparência. NEILSON ANTÔNIO E MARCOS

URZEDA, centralizavam a “conferência” dos produtos, de modo que ninguém tinha acesso as notas






fiscais para conferência com a mercadoria entregue;

f) Que JURANDIR AUGUSTO era empresário do ramo de venda de

medicamentos insumos hospitalares;

g) Que as compras eram concentradas nas duas empresas ora requeridas;

h) Que após a saída dos requeridos da Prefeitura, as empresas em

questão não mais participaram de licitações nesta cidade.

Assim, as provas pericial, documental e testemunhal se entrelaçam

entre si e expõem com clareza o esquema de corrupção que ora se busca responsabilização em juízo.

2) DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

2.1) DA LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO.

A legitimidade ativa ad causam do Ministério Público para a presente

demanda decorre do art. 127, caput c/c art. 129, inciso III, da Constituição Federal, dos arts. 1º, inciso

IV e 5º, inciso I, da Lei n° 7.347/85 e, notadamente, da Lei n.º 8.429/1992, que, além de definir as

sanções aplicáveis aos agentes públicos pela prática de atos de improbidade (arts. 9°, 10 e 11), prevê

expressamente a legitimidade do Ministério Público para a propositura de ação de improbidade

administrativa (art. 17).

A matéria, inclusive, encontra-se sumulada, consoante se depreende do

verbete sumular n° 329, oriundo da Corte Especial do c. Superior Tribunal de Justiça, que contém o

seguinte enunciado, a saber: “O Ministério Público tem legitimidade para propor ação civil pública

em defesa do patrimônio público”.






2.2) DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

2.2.1) DA PAPEL DE CADA REQUERIDO NO ESQUEMA DE

CORRUPÇÃO.

A) JURANDIR AUGUSTO DA SILVA, ex-prefeito de Pontalina.

Gestão – 2009/2012.

JURANDIR AUGUSTO - idealizador e comandante do esquema.

Empresário do ramo de venda de medicamentos e insumos hospitalares, portanto com conhecimentos

no ramo, na condição de prefeito de Pontalina, coordenou o maior esquema de corrupção já visto

nesta cidade interiorana.

Contando com a fiel coautoria de NEILSON ANTÔNIO, secretário de

saúde da gestão (executor dos atos) e MARCOS URZEDA (responsável pelo recebimento e

conferência dos produtos) e a colaboração imprescindível das empresas FARMA E LIFE, ordenava

os pagamentos de gastos estratosféricos e inexistentes, recebendo das referidas empresas as notas

fiscais para justificar a saída do dinheiro dos cofres da secretaria.

O esquema criminoso ficou ainda mais evidente a partir do momento

em que JURANDIR AUGUSTO foi derrotado nas eleições municipais de 2012, quando concorria a

reeleição. De outubro até dezembro de 2012, JURANDIR ordenou os pagamentos de R$ 1.511,779,30

em notas fiscais frias as empresas FARMA E LIFE, sendo que deste valor R$ 625.023,82, somente

no mês de dezembro de 2012, gasto mais que suficiente para todo ano.






Estes dados, revelam, sem sombra de dúvida, o dolo de JURANDIR

AUGUSTO em lesar os cofres públicos, através de pagamentos milionários de compras fictícias de

medicamentos e insumos hospitalares. O destino final destas quantias que ingressaram nas contas das

empresas requeridas é objeto de outra investigação de cunho criminal em curso, pois existem indícios

veementes do rateio entre os requeridos e prática de lavagem de capitais.

Anote-se, como elemento de convicção, a demonstrar a má-fé de

JURANDIR AUGUSTO a frente da Administração Municipal, que ele já foi acionado judicialmente,

em âmbito cível (ações de improbidade), criminal e na Justiça Eleitoral, onde possui inclusive

condenação com trânsito em julgado, por atos de corrupção durante o exercício do mandato, havendo,

ainda, contra ele diversas investigações em curso, acerca de esquemas de desvio de dinheiro público

(cujos documentos comprobatórios serão juntados ao longo da instrução em juízo).

B) NEILSON ANTÔNIO DE OLIVEIRA, ex-secretário de Saúde

de Pontalina, gestão 2009/2012;

Pessoa de confiança do chefe do esquema criminoso (JURANDIR

AUGUSTO), NEILSON era responsável por negociar os contratos fraudulentos com as empresas,

de modo a obter as notas fiscais frias que justificavam a saída do dinheiro dos cofres públicos, além

de cuidar para que ninguém fora do esquema criminoso, a exemplo de funcionários da farmácia,

tivesses acesso as notas para conferência.

Assim como JURANDIR AUGUSTO, NEILSON também é

investigado por ser um dos destinatários de parte da quantia desviada da Secretaria de Saúde.






D) MARCOS URZEDA – responsável pela farmácia, peça essencial

na engrenagem criminosa pois a ele cabia a conferência da mercadoria que chegava com as notais

fiscais, de modo que sua participação no esquema era decisiva, pois ao lado de NEILSON, cuidava

para que ninguém tivesse acesso as notas frias.

E) LIFE MÉDICA e FARMA – Peças essenciais na engrenagem

criminosa, pois responsáveis pelo núcleo econômico. Recebiam os pagamentos do Município,

ordenados por JURANDIR AUGUSTO e NEILSON ANTÔNIO, emitindo notas fiscais de

conteúdo ideologicamente falso, que representavam vendas simuladas.

O destino dado ao dinheiro público ilicitamente recebido ainda não é

conhecido, pois objeto de investigação criminal em curso. Entretanto, não há dúvidas de que os

valores em questão, conforme detalhadamente especificado no campo dos fatos desta petição, foram

recebidos ilicitamente.

Desta forma, os agentes públicos ora requeridos JURANDIR

AUGUSTO, NEILSON ANTÔNIO e MARCOS URZEDA, estão legitimados a figurar no pólo

passivo da presente ação de improbidade, por força dos arts. 1º1 e 2º2 da Lei 8429/92 e as empresas

1Art. 1° Os atos de improbidade praticados por qualquer agente público, servidor ou não, contra a administração

direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios,

de Território, de empresa incorporada ao patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou custeio o erário

haja concorrido ou concorra com mais de cinqüenta por cento do patrimônio ou da receita anual, serão punidos na

forma desta lei.

2 Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou

sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou

vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades mencionadas no artigo anterior.






requeridas (extraneus), por força do art. 3º3 do mesmo diploma Legal.

2.2.2 – DA ROTULAÇÃO LEGAL DO ATOS

A presente descreve pormenorizadamente um esquema de corrupção

arquitetado e executado pelos requeridos que gerou um dano de R$ 4.102.031,10 (quatro milhões,

cento e dois mil e trinta e um reais e dez centavos), ao erário municipal.

Dispõe o art. 10 da Lei 8429/92 (Lei de Improbidade Administrativa):

Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao

erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda

patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos

bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e

notadamente:

Logo, sem prejuízo das ações penais inerentes ao caso, cometeram ato

de improbidade administrativa que causou prejuízo milionário aos combalidos cofres públicos.

3) DA INDISPONIBILIDADE DE BENS

Como cediço, para o deferimento de pedido liminar exige-se, além da

legitimidade da parte e interesse de agir, os requisitos do fumus boni iuris e do periculum in mora,

de modo a caracterizar a plausibilidade aparente da pretensão aviada e o perigo fundado de dano,

antes do julgamento da ação.

3 Art. 3° As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber, àquele que, mesmo não sendo agente público, induza

ou concorra para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta.






No presente, o fumus boni iuris ressai do sólido conjunto probatório que

serve de base à presente ação, o qual aponta detalhadamente a ocorrência de ato de improbidade

administrativa, em decorrência do esquema de corrupção desmantelado, o qual gerou um dano de

R$ 4.102.031,10 (quatro milhões, cento e dois mil e trinta e um reais e dez centavos), ao erário

municipal.

Por sua vez, periculum in mora consiste na grande possibilidade de os

requeridos se desfazerem de seu patrimônio com o escopo de evitar o cumprimento da sentença a ser

prolatada no tocante ao ressarcimento ao erário.

É cediço que, segundo as regras ordinárias de experiência, a pessoa que

se encontra em situação de litígio não preserva espontaneamente seu patrimônio, salvo se houver

determinação judicial no sentido de indisponibilizar os bens necessários até o julgamento final da

ação.

Em se tratando especificamente da medida constritiva de

indisponibilidade de bens, o interesse público predomina sobre o interesse particular, já que a lesão

de difícil reparação é evidente, pois de nada adiantaria a condenação, se ao final da tramitação da

demanda seus bens já tiverem sido alienados.

O fato narrado na inicial é extremamente sério e está embasado em

documentos que demonstram, com clareza solar, a prática de atos de improbidade administrativa.

Ademais, a medida de indisponibilidade de bens encontra amparo no artigo 7° da Lei n° 8.429/92,

que estabelece:

“Art. 7° Quando o ato de improbidade causar lesão ao patrimônio público ou

ensejar enriquecimento ilícito, caberá a autoridade administrativa responsável

pelo inquérito representar ao Ministério Público, para a indisponibilidade dos

bens do indiciado. Parágrafo único. A indisponibilidade a que se refere o

caput deste artigo recairá sobre bens que assegurem o integral ressarcimento

do dano, ou sobre o acréscimo patrimonial resultante do enriquecimento

ilícito.






Calha acrescentar que a concessão do pedido liminar de

indisponibilidade de bens não depende de prova de que a parte esteja efetivamente dilapidando seu

patrimônio ou na iminência de fazê-lo4, uma vez que o periculum in mora está implícito no comando

legal. Deve prevalecer aqui o in dubio pro societate.

Na lição de HUMBERTO THEODORO JÚNIOR, o dano potencial

significa "um risco que corre o processo principal de não ser útil ao interesse demonstrado pela parte,

em razão do periculum in mora, risco esse que deve ser objetivamente apurável, sendo que a

plausibilidade do direito substancial consubstancia-se no direito invocado por quem pretenda

segurança, ou seja, o fumus boni iuris". (in Curso de Direito Processual Civil, I/366).

Assim, urge que seja concedido o pedido liminar de indisponibilidade

de bens, o qual é autorizado por lei e visa garantir o cumprimento de futura e provável sentença

condenatória, sendo dispensável, como visto, a demonstração de início de dilapidação de patrimônio

ou de sua iminência, podendo ser concedido antes mesmo da oitiva da parte contrária.

Nessa linha, o MP pugna pela decretação da indisponibilidade de bens

dos requeridos da seguinte forma:

a) JURANDIR AUGUSTO DA SILVA - R$ 4.102.031,10 (quatro

milhões, cento e dois mil e trinta e um reais e dez centavos);

b) NEILSON ANTÔNIO DE OLIVEIRA - R$ 4.102.031,10 (quatro

milhões, cento e dois mil e trinta e um reais e dez centavos);

c) MARCOS URZEDA - R$ 4.102.031,10 (quatro milhões, cento e

dois mil e trinta e um reais e dez centavos);

4Precedentes: STJ, 1a. Turma, AgRg no Ag 1423420/BA, Relator Ministro BENEDITO GONÇALVES, publicação DJe 28/10/2011; STJ,

REsp 1115452/MA, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, 2a. Turma, julgado em 06/04/2010, DJe 20/04/2010; STJ, REsp 1194045/SE,

Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, 2a. Turma, julgado em 19/10/2010, DJe 03/02/2011.






d) FARMA - R$ 3.477,007,39 (três milhões quatrocentos e setenta e

sete mil e sete reais e trinta e nove centavos), valor correspondente as compras simuladas.

e) LIFE – 882.597,61 (oitocentos e oitenta e dois mil quinhentos e

noventa e sete reais e sessenta e um centavos) valor correspondente as compras simuladas.

Para arremate, por tratarem de empresas que se prestam a subsidiar

esquemas milionários de corrupção, o MPGO requer seja decretada liminarmente a proibição de

referidas empresas em celebrar contratos com a Administração Pública, até julgamento final da ação.

4) DOS PEDIDOS

Pelo exposto, comprovados os atos de improbidade administrativa

praticados pelos réus, o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS requer:

a) Seja a presente petição recebida, autuada e processada na forma e no

rito preconizado no artigo 17 da Lei n° 8.429/92, juntando para tanto os documentos que acompanham

essa inicial (ICP anexo);

b) Seja os requeridos notificados para oferecerem manifestação por

escrito, instruindo-a, se assim lhes aprouver, com documentos e justificações, dentro do prazo de

quinze dias;

c) Seja recebida a presente petição e citados os requeridos para,

querendo, apresentar contestação no prazo legal, sob pena de aplicação dos consectários jurídicos

legais da revelia, devendo ser facultado ao oficial de Justiça, para a comunicação processual, a

permissão prevista no artigo 172, § 2°, do Código de Processo Civil;






d) Seja o pedido julgado procedente em todos os seus termos para

CONDENAR os requeridos nas sanções previstas nos artigos 12, incisos II e III;

e) Para os fins de aplicação da penalidade de multa, deverá o

MUNICÍPIO DE PONTALINA, informar o valor da remuneração percebida pelo réu nos três meses

finais de sua gestão.

f) a produção de todas as provas necessárias à demonstração do alegado;

g) a decretação da indisponibilidade nos termos seguintes: g.1)

JURANDIR AUGUSTO DA SILVA - R$ 4.102.031,10 (quatro milhões, cento e dois mil e trinta e

um reais e dez centavos); g.2) NEILSON ANTÔNIO DE OLIVEIRA - R$ 4.102.031,10 (quatro

milhões, cento e dois mil e trinta e um reais e dez centavos); g.3) MARCOS URZEDA -

R$ 4.102.031,10 (quatro milhões, cento e dois mil e trinta e um reais e dez centavos); g.4) FARMA -

R$ 3.477,007,39 (três milhões quatrocentos e setenta e sete mil e sete reais e trinta e nove centavos),

valor correspondente as compras simuladas. g.5) LIFE – 882.597,61 (oitocentos e oitenta e dois mil

quinhentos e noventa e sete reais e sessenta e um centavos) valor correspondente as compras

simuladas.

h) Que sejam as empresas LIFE E FARMA, liminarmente, proibidas de

contratar com o poder público;

i) Seja os requeridos condenados, também, ao pagamento das custas e

emolumentos processuais, como ônus da sucumbência.

j) A notificação do Município de Pontalina, para integrar a lide.

Dá-se a causa o valor de R$ 4.102.031,10 (quatro milhões, cento e dois






mil e trinta e um reais e dez centavos).

Pontalina, 14 de outubro de 2016.


PROMOTOR DE JUSTIÇA

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