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PROVA APLICADA EM 05/2012 PARA O CONCURSO DO(A) OAB -
2012 - VII EXAME DE 0RDEM UNIFICADO, REALIZADO PELO
ÓRGÃO/INSTITUIÇÃO ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL,
ÁREA DE ATUAÇÃO JURÍDICA, ORGANIZADA PELA BANCA FGV,
PARA O CARGO DE EXAME DE ORDEM UNIFICADO, NÍVEL
SUPERIOR , ÁREA DE FORMAÇÃO DIREITO .
Questão 59
Baco, após subtrair um carro esportivo de determinada concessionária
de veículos, telefona para Minerva, sua amiga, a quem conta a
empreitada criminosa e pede ajuda. Baco sabia que Minerva morava em
uma grande casa e que poderia esconder o carro facilmente lá. Assim,
pergunta se Minerva poderia ajudá-lo, escondendo o carro em sua
residência. Minerva, apaixonada por Baco, aceita prestar a ajuda. Nessa
situação, Minerva deve responder por.
A) participação no crime de furto praticado por Baco.
B) receptação.
C) favorecimento pessoal.
D) favorecimento real.
Resposta: (D).
COMENTÁRIO: a questão é relativamente simples, na medida em que a
hipótese ora versada se subsume ao tipo penal constante do artigo 349
do Código Penal: “Prestar a criminoso, fora dos casos de co-autoria ou
de receptação, auxílio destinado a tornar seguro o proveito do crime:
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.”
Em se tratando de favorecimento real, deve se verificar a estrutura do
crime antecedente a fim de aquilatarmos se já se consumaram os atos
executórios de modo a não caracterizar a participação (de Minerva) no
crime antecedente (praticado por Baco), que, no caso, é o crime de furto.
Com efeito, tirando a res furtiva do domínio da vítima, fica caracterizado
a consumação do crime. Em outra abordagem, verifica-se que a Minerva
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praticou o crime de modo a burlar a administração da justiça, não
caracterizando o crime de receptação tipificado no artigo 180 do Código
Pnal, vejamos: “Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em
proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir
para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte: Pena -
reclusão, de um a quatro anos, e multa.”
O Elemento subjetivo do delito é o dolo, vale dizer, a vontade livre e
consciente de prestar auxílio a criminoso a fim de assegurar que ele
usufrua do produto do crime.
Por fim, é importante registrar que os bens jurídicos tutelados são a
administração da justiça e penitenciária e o sujeito ativo é qualquer
pessoa que realizar a conduta típica ao passo que o sujeito passivo é o
Estado.
Questão 60
John, cidadão inglês, capitão de uma embarcação particular de bandeira
americana, é assassinado por José, cidadão brasileiro, dentro do aludido
barco, que se encontrava atracado no Porto de Santos, no Estado de
São Paulo. Nesse contexto, é correto afirmar que a lei brasileira:
A) não é aplicável, uma vez que a embarcação é americana, devendo
José ser processado de acordo com a lei estadunidense.
B) é aplicável, uma vez que a embarcação estrangeira de propriedade
privada estava atracada em território nacional.
C) é aplicável, uma vez que o crime, apesar de haver sido cometido em
território estrangeiro, foi praticado por brasileiro.
D) não é aplicável, uma vez que, de acordo com a Convenção de Viena,
é competência do Tribunal Penal Internacional processar e julgar os
crimes praticados em embarcação estrangeira atracada em território de
país diverso.
Resposta: (B)
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Comentário: essa questão não apresenta maiores dificuldades uma vez
que nosso Código Penal prevê expressamente que se aplica o princípio
da territorialidade quando o crime é praticado em embarcação
estrangeira de propriedade privada situada em nosso mar territorial em.
Vejamos: Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções,
tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território
nacional. (...)
§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo
de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada,
achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em vôo no
espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do
Brasil.
É importante registrar que o princípio da territorialidade, pelo qual se
aplica a lei do Brasil aos fatos puníveis praticados no território nacional,
independentemente da nacionalidade dos sujeitos ativo e passivo e do
bem jurídico vulnerado, é adotado pelo nosso sistema jurídico penal,
ainda que de modo mitigado. A lei penal nacional só é afastada na
medida em que o país ratifique tratados ou convenções internacionais.
No caso do mar territorial, o Brasil ratificou o tratado de Mondego Bay, e
foi promulgada a Lei nº 8.617/93 em que foi fixado a extensão do mar
territorial em 12 milhas.
Questão 61
Assinale a alternativa correta.
A) Aquele que, desejando subtrair ossadas de urna funerária, viola
sepultura, mas nada consegue obter porque tal sepultura estava vazia,
não pratica o crime descrito no art. 210 do Código Penal: crime de
violação de sepultura.
B) O crime de infanticídio, por tratar-se de crime próprio, não admite
coautoria.
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C) O homicídio culposo, dada a menor reprovabilidade da conduta,
permite a compensação de culpas.
D) Há homicídio privilegiado quando o agente atua sob a influência de
violenta emoção.
Resposta: (A)
Comentário: o bem jurídico protegido pelo tipo penal mencionado nesta
questão é o respeito aos mortos e não a sepultura em si. Com efeito, em
consonância com o princípio da lesividade, pelo qual o direito penal só
deve ser empregado quando efetivamente violado o bem jurídico que se
quer proteger, para que se aperfeiçoe o crime ora tratado faz-se
necessário que esteja presente no sepulcro os restos mortais do falecido.
Uma vez ausente a ossada, incide a regra do artigo 17 do Código Penal,
sendo crime impossível por impropriedade absoluta do objeto (sepultura
ou urna funerária).
Questão 62
Filolau, querendo estuprar Filomena, deu início à execução do crime de
estupro, empregando grave ameaça à vítima. Ocorre que ao se preparar
para o coito vagínico, que era sua única intenção, não conseguiu manter
seu pênis ereto em virtude de falha fisiológica alheia à sua vontade. Por
conta disso, desistiu de prosseguir na execução do crime e abandonou o
local. Nesse caso, é correto afirmar que
A) trata-se de caso de desistência voluntária, razão pela qual Filolau não
responderá pelo crime de estupro.
B) trata-se de arrependimento eficaz, fazendo com que Filolau responda
tão somente pelos atos praticados.
C) a conduta de Filolau é atípica.
D) Filolau deve responder por tentativa de estupro.
Resposta: (D)
Comentário: essa questão também não apresenta maiores dificuldades,
porquanto expressamente menciona que o coito não se consumou por
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circunstâncias alheias à vontade do agente consubstanciada na falha
fisiológica padecida por Filolau. Com efeito, fica caracterizada a tentativa,
nos termos do artigo 14, inciso II do Código Penal, não se podendo falar
em desistência voluntária (artigo 15 do Código Penal), posto que, como
dito, a vontade do agente não se tornou fato devido à falha fisiológica.
(Art. 14 - Diz-se o crime: ... II - tentado, quando, iniciada a execução, não
se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente).
Questão 63
Pitágoras foi definitivamente condenado, com sentença penal
condenatória transitada em julgado, à pena de 6 (seis) anos de reclusão
a ser cumprida, inicialmente, em regime semi-aberto. Cerca de quatro
meses após o início do cumprimento da pena privativa de liberdade,
sobreveio nova condenação definitiva, desta vez a 3 (três) anos de
reclusão no regime inicial aberto, em virtude da prática de crime anterior.
Atento ao caso narrado, bem como às disposições pertinentes ao tema
presentes tanto no código penal quanto na lei de execuções penais, é
correto afirmar que
A) Pitágoras poderá continuar a cumprir a pena no regime semiaberto.
B) Pitágoras deverá regredir para o regime fechado.
C) Pitágoras deverá regredir de regime porque a nova
condenação significa cometimento de falta grave.
D) prevalece o regime isolado de cada uma das condenações, devendo-
se executar primeiro a pena mais grave.
Resposta: (D)
Comentário: essa questão exige do candidato o conhecimento dos
textos legais. De início, deve saber que o artigo 33, §2º, a, do Código
Penal, estabelece o regime fechado para o cumprimento das penas
fixadas em patamares superiores a oito anos (Art. 33 - A pena de
reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A
de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de
5
transferência a regime fechado ... 2º - As penas privativas de liberdade
deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o mérito do
condenado, observados os seguintes critérios e ressalvadas as hipóteses
de transferência a regime mais rigoroso: a) condenado a pena superior a
8 (oito) anos deverá começar a cumpri-la em regime fechado; b) fixa o
regime de cada ...). Depois deverá conhecer o fenômeno da unificação
das penas previsto no artigo 75 do Código Penal e do artigo 111 da Lei
nº 7210/84 (Lei de Execução Penal). Chegar-se-á a uma pena superior a
oito anos, de acordo com os dados mencionados na questão, após a
unificação da penas, em razão da superveniência de outra condenação
no curso do cumprimento de uma da pena, conforme expressamente
prevê o §2º do artigo 75, do Código Penal. Após a unificação dessas
penas ensejando uma pena superior a oito anos dever-se-á suceder a
regressão para o regime mais gravoso, nos termos do artigo 118, II da
Lei nº 7210/84 .
Questão 64
Zenão e Górgias desejam matar Tales. Ambos sabem que Tales é
pessoa bastante metódica e tem a seguinte rotina ao chegar no trabalho:
pega uma xícara de café na copa, deixa-a em cima em sua bancada
particular, vai a outra sala buscar o jornal e retorna à sua bancada para
lê-lo, enquanto degusta a bebida. Aproveitando-se de tais dados, Zenão
e Górgias resolvem que executarão o crime de homicídio através de
envenenamento. Para tanto, Zenão, certificando-se que não havia
ninguém perto da bancada de Tales, coloca na bebida 0,1 ml de
poderoso veneno. Logo em seguida chega Górgias, que também verifica
a ausência de qualquer pessoa e adiciona ao café mais 0,1 ml do mesmo
veneno poderoso. Posteriormente, Tales retorna à sua mesa e senta-se
confortavelmente na cadeira para degustar o café lendo o jornal, como
fazia todos os dias. Cerca de duas horas após a ingestão da bebida,
Tales vem a falecer. Ocorre que toda a conduta de Zenão e Górgias foi
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filmada pelas câmeras internas presentes na sala da vítima, as quais
eram desconhecidas de ambos, razão pela qual a autoria restou
comprovada. Também restou comprovado que Tales somente morreu
em decorrência da ação conjunta das duas doses de veneno, ou seja,
somente 0,1 ml da substância não seria capaz de provocar o resultado
morte. Com base na situação descrita, é correto afirmar que
A) caso Zenão e Górgias tivessem agido em concurso de pessoas,
deveriam responder por homicídio qualificado doloso consumado.
B) mesmo sem qualquer combinação prévia, Zenão e Górgias deveriam
esponder por homicídio qualificado doloso consumado.
C) Zenão e Górgias, agindo em autoria colateral, deveriam responder por
homicídio culposo.
D) Zenão e Górgias, agindo em concurso de pessoas, deveriam
responder por homicídio culposo.
Resposta: (A)
Comentário: agindo em concurso com a prévia combinação de tarefas
entre os agentes ou com a aderência de um agente à conduta do outro
fica caracterizado o crime de homicídio doloso consumado e qualificado
por emprego de veneno, nos termos do artigo 157, §2º, III, do Código
Penal. A quantidade de veneno tornou-se apta a matar a vítima em razão
da união de desígnios e esforços dos agentes.
A questão seria passível de anulação, uma vez que o item (B) também
contém uma assetiva aparentemente correta. Conquanto Zenão e
Górgias ignorassem os propósitos homicidas de cada qual, não atuando,
dessa forma, em coautoria, ainda assim responderiam por homicídio
doloso qualificado e consumado, posto que, mesmo que não tivesse
previamente combinado, o resultado só foi obtido pela soma dos esforços
individuais de cada um. Deve-se utilizar aqui o método hipotético para a
busca da causa adequada ao resultado (“teoria dos antecedentes
causais”). Analisando o caso, verifica-se que se Zenão ou Górgias não
tivessem ministrado as doses do veneno, o resultado morte não teria
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ocorrido. Desta feita, a morte apenas adveio porque o veneno fora
ministrado por ambos, o que configura uma concausa relativamente
independente: eliminado-se uma delas, o resultado pretendido por ambos
individualmente não teria ocorrido. A questão informa explicitamente que
a perícia atestou como fator determinante para a morte de Tales a soma
da dose exata ministrada por cada um. Via de consequência, não há
como se falar em autoria incerta.
PROVA APLICADA EM 07/2011 PARA O CONCURSO DO(A) OAB -
2011 - 1, REALIZADO PELO ÓRGÃO/INSTITUIÇÃO ORDEM DOS
ADVOGADOS DO BRASIL, ÁREA DE ATUAÇÃO JURÍDICA,
ORGANIZADA PELA BANCA FGV, PARA O CARGO DE EXAME DE
ORDEM UNIFICADO, NÍVEL SUPERIOR, ÁREA DE FORMAÇÃO
DIREITO .
Questão 59
Com relação aos critérios para substituição da pena privativa de
liberdade por restritiva de direitos, assinale a alternativa correta.
(A) A substituição nunca poderá ocorrer se o réu for reincidente em crime
doloso.
(B) Somente fará jus à substituição o réu que for condenado a pena não
superior a 4 (quatro) anos.
(C) Em caso de descumprimento injustificado da pena restritiva de
direitos, esta será convertida em privativa de liberdade, reiniciando-se o
cumprimento da integralidade da pena fixada em sentença.
(D) Se superior a um ano, a pena privativa de liberdade pode ser
substituída por uma pena restritiva de direitos e multa ou por duas
restritivas de direitos.
Resposta: (D)
Comentário: a questão não oferece maiores dificuldades, posto que se
resolve apenas pelo conhecimento por parte do candidato do texto legal.
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Com efeito, a questão versa sobre as hipóteses de substituição da pena
privativa de liberdade por restritivas de direitos e multa, nos termos do
artigo 44 do Código Penal o qual transcrevo na sequência: Art. 44. As
penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de
liberdade, quando:
I - aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o
crime não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou,
qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo;
II - o réu não for reincidente em crime doloso
III - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade
do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que
essa substituição seja suficiente.
§ 1o (VETADO)
§ 2o Na condenação igual ou inferior a um ano, a substituição pode ser
feita por multa ou por uma pena restritiva de direitos; se superior a um
ano, a pena privativa de liberdade pode ser substituída por uma pena
restritiva de direitos e multa ou por duas restritivas de direitos.
§ 3o Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição,
desde que, em face de condenação anterior, a medida seja socialmente
recomendável e a reincidência não se tenha operado em virtude da
prática do mesmo crime.
§ 4o A pena restritiva de direitos converte-se em privativa de liberdade
quando ocorrer o descumprimento injustificado da restrição imposta. No
cálculo da pena privativa de liberdade a executar será deduzido o tempo
cumprido da pena restritiva de direitos, respeitado o saldo mínimo de
trinta dias de detenção ou reclusão.
§ 5o Sobrevindo condenação a pena privativa de liberdade, por outro
crime, o juiz da execução penal decidirá sobre a conversão, podendo
deixar de aplicá-la se for possível ao condenado cumprir a pena
substitutiva anterior.
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Questão 60
À luz da lei que dispõe sobre os Juizados Especiais Criminais (Lei
9.099/95), assinale a alternativa correta.
(A) A competência do juizado será determinada pelo lugar em que se
consumar a infração penal.
(B) A citação será pessoal e se fará no próprio juizado, sempre que
possível, ou por edital.
(C) O instituto da transação penal pode ser concedido pelo juiz sem a
anuência do Ministério Público.
(D) Tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada, não
sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a
aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser
especificada na proposta.
Resposta: (D)
Comentário: também se resolve essa questão conhecendo-se a letra da
lei. Com efeito, a assertiva (A) está errada, pois a competência dos
Juizados Especiais é determinada pelo lugar em for praticada (teoria da
atividade), e não o local onde se consumou (teoria do resultado) a
infração penal. Nesse sentido, veja-se o artigo 63 da Lei n.º 9.099/95: “A
competência do Juizado será determinada pelo lugar em que foi
praticada a infração penal.”
A assertiva (B) está errada em sua parte final, posto que a citação será
pessoal e se dará no próprio juizado, sempre que possível. No entanto,
se não for possível, a citação deverá ser feita por mandado, não havendo
a previsão da citação por edital. Se o réu não for encontrado na citação
por manado dever-se-á remeter-se os autos ao juízo comum. Nesse
sentido, veja-se o artigo 66 da Lei n.º 9.099/95: (“A citação será pessoal
e far-se-á no próprio Juizado, sempre que possível, ou por mandado.
Parágrafo único. Não encontrado o acusado para ser citado, o Juiz
encaminhará as peças existentes ao Juízo comum para adoção do
procedimento previsto em lei.”)
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A assertiva (C) está errada, pois é prerrogativa legal do Ministério Público
o oferecimento da transação penal. O juiz deve apenas apreciar a
proposta oferecida pelo MP ao autor da infração, podendo acolhê-la ou
rejeitá-la, não podendo, no entanto, concedê-la sem a anuência do MP.
Nesse sentido, veja-se o artigo 76 da Lei n.º 9.099/95: “Havendo
representação ou tratando-se de crime de ação penal pública
incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público
poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou
multas, a ser especificada na proposta. (....)
§ 3º Aceita a proposta pelo autor da infração e seu defensor, será
submetida à apreciação do Juiz. § 4º Acolhendo a proposta do Ministério
Público aceita pelo autor da infração, o Juiz aplicará a pena restritiva de
direitos ou multa, que não importará em reincidência, sendo registrada
apenas para impedir novamente o mesmo benefício no prazo de cinco
anos.”)
A assertiva (D) é a certa, nos termos explicitados no artigo 76 da Lei n.º
9.099/95.
Questão 61
Tício praticou um crime de furto (art. 155 do Código Penal) no dia
10/01/2000, um crime de roubo (art. 157 do Código Penal) no dia
25/11/2001 e um crime de extorsão (art. 158 do Código Penal) no dia
30/5/2003. Tício foi condenado pelo crime de furto em 20/11/2001, e a
sentença penal condenatória transitou definitivamente em julgado no dia
31/3/2002. Pelo crime de roubo, foi condenado em 30/01/2002, com
sentença transitada em julgado definitivamente em 10/06/2003 e, pelo
crime de extorsão, foi condenado em 20/8/2004, com sentença
transitando definitivamente em julgado no dia 10/6/2006.
Com base nos dados acima, bem como nos estudos acerca da
reincidência e dos maus antecedentes, é correto afirmar que
11
(A) na sentença do crime de furto, Tício é considerado portador de maus
antecedentes e, na sentença do crime de roubo, é considerado
reincidente.
(B) na sentença do crime de extorsão, Tício possui maus antecedentes
em relação ao crime de roubo e é reincidente em relação ao crime de
furto.
(C) cinco anos após o trânsito em julgado definitivo da última
condenação, Tício será considerado primário, mas os maus
antecedentes persistem.
(D) nosso ordenamento jurídico-penal prevê como tempo máximo para
configuração dos maus antecedentes o prazo de cinco anos a contar do
cumprimento ou extinção da pena e eventual infração posterior.
Resposta: (B)
Comentário: a reincidência tecnicamente só ocorre quando o agente
pratica outra conduta típica após o trânsito em julgado de sentença
condenatória pela prática de outro crime, nos exatos termos do artigo 63
do Código Penal: “Verifica-se a reincidência quando o agente comete
novo crime, depois de transitar em julgado a sentença que, no País ou no
estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior.” Assim, na hipótese
de haver a prática de crime após a de outros em relação aos quais a
sentença condenatória não transitara em julgado, não fica caracterizada
a reincidência. A prática desse delito posterior pode, no entanto, ser
considerada pelo julgador na primeira fase fixação da pena
(circunstâncias judiciais) a título de maus antecedentes. No entanto,
embora esse tenha sido o entendimento tradicional na doutrina e na
jurisprudência, mais recentemente tem-se entendido que nem como
maus antecedentes esses fatos praticados podem ser considerados. É
que, diante do princípio da presunção de inocência ou de não-
culpabilidade, previsto no artigo 5º, LVII da Constituição, não se pode
considerar como antecedente um fato não atestado de modo definitivo
12
em uma sentença condenatória. Nesse sentido, veja-se o que dispõe o
seguinte julgado:
(...) PENA-BASE - CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS -
MAUS ANTECEDENTES - PROCESSOS EM CURSO E
PROCESSOS EXTINTOS PELA PRESCRIÇÃO DA
PRETENSÃO PUNITIVA - CONSIDERAÇÃO -
IMPROPRIEDADE. Conflita com o princípio da não-
culpabilidade - "ninguém será considerado culpado até o
trânsito em julgado de sentença penal condenatória"
(artigo 5º, inciso LVII da Constituição Federal) - evocar
processos em curso e outros extintos pela prescrição da
pretensão punitiva a título de circunstâncias judiciais
(artigo 59 do Código Penal), exacerbando a pena-base
com fundamento na configuração de maus antecedentes.
PENA-BASE - MAUS ANTECEDENTES -
INEXISTÊNCIA. Constatada a erronia na fixação da pena-
base, no que ocorrida a partir de processos extintos pela
prescrição da pretensão punitiva, ou ainda em curso, bem
como ausentes circunstâncias judiciais contempladas no
arcabouço normativo, impõe-se a observância da pena
mínima prevista para o tipo. (...) (STF -RHC 80071 RS.
Relator Min. Marco Aurélio. 2ª T. Publicação: DJ 02-
04-2004 PP-00027 EMENT VOL-02146-03 PP-
00679.) (negritos meus)
No caso em tela, o examinador seguiu o entendimento tradicional,
razão pela qual, há reincidência na sentença do crime de extorsão em
relação ao crime de furto e maus antecedentes em relação ao crime de
roubo.
Questão 62
13
Osíris, jovem universitária de Medicina, soube estar gestante. Todavia,
tratava-se de gravidez indesejada, e Osíris queria saber qual substância
deveria ingerir para interromper a gestação. Objetivando tal informação,
Osíris estimulou uma discussão em sala de aula sobre o aborto. O
professor de Osíris, então, bastante animado com o interesse dos alunos
sobre o assunto, passou também a emitir sua opinião, a qual era
claramente favorável ao aborto. Referido professor mencionou, naquele
momento, diversas substâncias capazes de provocar a interrupção
prematura da gravidez, inclusive fornecendo os nomes de inúmeros
remédios abortivos e indicando os que achava mais eficazes. Além disso,
também afirmou que as mulheres deveriam ter o direito de praticar aborto
sempre que achassem indesejável uma gestação.
Nesse sentido, considerando-se apenas os dados mencionados, é
correto afirmar que o professor de Osíris praticou
(A) a contravenção penal prevista no art. 20 do Decreto-Lei 3.688/41, que
dispõe: “anunciar processo, substância ou objeto destinado a provocar
aborto”.
(B) o crime previsto no art. 286 do Código Penal, que dispõe: “incitar,
publicamente, a prática de crime”.
(C) o crime previsto no art. 68 da Lei 8.078/90, que dispõe: “fazer ou
promover publicidade que sabe ou deveria saber ser capaz de induzir o
consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde
ou segurança”.
(D) fato atípico.
Resposta: (D)
Comentário: da questão se extrai que o professor não age com intenção
de incentivar a prática de crime. De outro giro, a conduta do professor
não configura nenhuma das condutas criminosas previstas nos itens
apresentados. O professor sequer anunciou “processo, substância ou
objeto destinado a provocar aborto” ao expressar sua opinião com
relação ao assunto, porquanto a discussão se deu no âmbito de exercício
14
do magistério, albergado ainda pela liberdade de expressão e de opinião
de jaez constitucional. Com efeito, o fato é atípico, nos termos da
alternativa (D).
Questão 63
Em relação ao cálculo da pena, é correto afirmar que
(A) a análise da reincidência precede à verificação dos maus
antecedentes, e eventual acréscimo de pena com base na reincidência
deve ser posterior à redução pela participação de menor importância.
(B) é defeso ao juiz fixar a pena intermediária em patamar acima do
máximo previsto, ainda que haja circunstância agravante a ser
considerada.
(C) o acréscimo de pena pela embriaguez preordenada deve se feito
posteriormente à redução pela confissão espontânea.
(D) é possível que o juiz, analisando as circunstâncias judiciais do art. 59
do Código Penal, fixe pena-base em patamar acima do máximo previsto.
Resposta: (B)
Comentário: o cálculo da pena obedece ao sistema trifásico nos termos
do artigo 68 do Código Penal (“A pena-base será fixada atendendo-se ao
critério do art. 59 deste Código; em seguida serão consideradas as
circunstâncias atenuantes e agravantes. por último, as causas de
diminuição e de aumento.”) A transposição dos limites míninos e
máximos previstos nos preceitos secundários dos tipos penais só é
possível na 3ª fase, ou seja, quando da incidência de causa de aumento
ou de causa de diminuição.
15