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Como Casar-se Com um Marquês (Agents of the Crown #2)

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Argumento

Inglaterra, 1815

Ela estava tentando seguir as regras...

Quando Elizabeth Hotchkiss depara com um livro intitulado Como se Casar com um Marquês nabiblioteca da casa de sua patroa, ela acha que aquilo só pode ser uma brincadeira de mau gosto. Comtrês irmãos mais novos para sustentar, Elizabeth sabe que terá de se casar por conveniência, e nãopor amor, mas quem mais poderia saber disso? Bem, um manual de regras de sedução pode serjustamente o que ela está precisando... De qualquer forma, que mal pode haver em dar apenas umafolheada...?

...Mas ele tem as suas próprias!

James Sidwell, o marquês de Riverdale, foi requisitado por sua tia para tentar salvá-la de umachantagem; uma incumbência que requer que ele se faça passar por um recém-contratadoadministrador da propriedade da condessa. As suspeitas de James logo recaem sobre Elizabeth, adama de companhia da tia, Intrigado pela beleza da jovem e com o interesse dela naquele estranholivro, ele galantemente se oferece para ajudá-la a encontrar um marido... praticando seusestratagemas de sedução com ele. Mas quando ela começa a se aperfeiçoar demais, James decide quesó há uma regra que vale a pena seguir: que Elizabeth, finalmente, se case com seu marquês!

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Capítulo 1

Surrey, Inglaterra, agosto de 1815.

Quatro, mais seis, mais oito, mais sete, mais um, mais um, mais um; vinte e nove, ponha novee leve dois... Elizabeth Hotchkiss repassou desde o começo a coluna de números pela quarta vez,conseguindo a mesma soma que as três vezes anteriores, e grunhiu.

Quando levantou a vista, três sombrios rostos a olhavam; os rostos de seus três irmãos pequenos.

—O que é isso, Lizzie? —perguntou Jane, de nove anos.

Elizabeth sorriu fracamente enquanto tentava calcular como conseguiria dinheiro suficiente paracomprar carvão para esquentar sua pequena cabana esse inverno.

—Nós, ah..., não temos muito dinheiro, temo.

Susan, que só tinha quatorze meses menos que Elizabeth, franziu o cenho.

—Está segura? Devemos ter algo. Quando papai vivia, sempre...

Elizabeth a silenciou lhe cravando um olhar urgente. Havia muitas coisas que tinham quando seupai vivia, mas ele os abandonou sem nada ao que agarrar-se exceto uma pequena conta bancária.Nenhuma renda, nenhuma propriedade. Nada, exceto lembranças. E essas ao menos, as que Elizabethconservava, não eram das que esquentavam o coração.

—As coisas são diferentes agora — disse com firmeza, esperando pôr fim ao tema. —Não podeas comparar.

Jane fez uma careta.

—Podemos usar o dinheiro que Lucas, esteve guardando em sua caixa de soldados de brinquedo.

Lucas, o único menino do clã Hotchkiss, grunhiu.

—O que fazia bisbilhotando em minhas coisas? —voltou-se para Elizabeth com o que se poderiadenominar "um olhar áspero", o qual não favorecia o rosto de um menino de oito anos.

—Será que não há privacidade nesta família?

—Aparentemente não — disse Elizabeth em tom ausente, olhando fixamente para os númerosdiante dela. Fez algumas marcas com o lápis, enquanto tentava imaginar novos métodos deeconomizar.

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—Irmãs! —exasperou-se Lucas, parecendo excessivamente sufocado. —Estou infestado delas.

Susan olhou fixamente o livro de contas de Elizabeth.

—Não temos nem um pouco de dinheiro? Algo que possamos estirar um pouco?

—Não há nada que estirar. Graças a Deus, o aluguel da cabana está pago, ou jogariam-nos achutes.

—De verdade estamos tão mal? — sussurrou Susan. Elizabeth assentiu.

—Temos suficiente para o resto do mês, e depois um pouco mais quando receber meu salário deLady Dambury, e então... —Sua voz se foi apagando e desviou o olhar, não queria que Lucas e Janevissem as lágrimas que lhe ardiam nos olhos. Ela cuidou deles durante cinco anos, desde que tinhadezoito. Dependiam dela para o alimento, o casaco e, o mais importante, a estabilidade.

Jane deu uma cotovelada em Lucas, e quando não reagiu, beliscou-o no sensível ponto entre opescoço e os ombros.

—O que? —perguntou bruscamente, —isso dói.

—Que não é cortês—corrigiu-o Elizabeth automaticamente. —É preferível perdão. A pequenaboca de Lucas se abriu ultrajada.

—Não é cortês me beliscar como ela o fez. E te asseguro que não vou pedir seu perdão. Janerevirou os olhos e suspirou.

—Deve recordar que só tem oito anos. Lucas sorriu falsamente atrás dela.

—Você só tem nove.

—Sempre serei mais velha que você.

—Sim, mas logo eu serei maior, e o sentirá.

Os lábios da Elizabeth se curvaram em um agridoce sorriso, enquanto os ouvia discutir.

Vira a mesma discussão um milhão de vezes antes, mas também vira Jane deslizar-se nas pontasdos pés até o quarto do Lucas para lhe dar um beijo de boa noite na testa. Podiam não ser a típicafamília, só estavam os quatro, depois de tudo, e eram órfãos há anos, mas o clã Hotchkiss eraespecial. Elizabeth conseguiu manter a família unida fazia cinco anos, quando seu pai faleceu,emaldita fosse, se deixasse que sua atual escassez de recursos os separasse agora. Jane cruzou osbraços.

—Deveria dar a Lizzie seu dinheiro, Lucas. Não está bem que o esconda.

O afirmou solenemente e abandonou a sala, sua pequena e loira cabeça inclinada humildemente.Elizabeth jogou uma olhada a Susan e Jane. Também eram loiras, e com os brilhantes olhos azuis de

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sua mãe.

E Elizabeth era como o resto deles, um pequeno exército loiro, sem dinheiro para comida.Suspirou de novo e olhou fixa e seriamente à suas irmãs.

—Vou ter que me casar. Não posso fazer outra coisa.

—Oh, não, Lizzie! — gritou Jane, saltando de sua cadeira e virtualmente subindo pela mesa até ocolo de sua irmã. —Isso não! Tudo menos isso!

Elizabeth olhava a Susan com expressão confusa, lhe perguntando silenciosamente se sabia porque Jane se pôs assim. Susan sacudiu a cabeça e deu de ombros.

—Não é tão mau, — disse Elizabeth, revolvendo o cabelo de Jane. —Se me casar, entãoprovavelmente tenha um bebê, e você poderá ser uma titia. Não seria bonito?

—Mas a única pessoa que lhe tem proposto isso é o fazendeiro Nevins. E é horrível!Simplesmente horrível!

Elizabeth sorriu pouco convincente.

—Estou segura de que poderemos encontrar a alguém mais, além do fazendeiro Nevins. Alguémmenos, ah... horroroso.

—Não quero viver com ele — disse Jane, cruzando amotinadamente os braços. —Não quero.Prefiro ir a um orfanato. Ou a uma dessas horríveis casas de trabalho.

Elizabeth não a culpava. O fazendeiro Nevins era velho, gordo e mesquinho. E sempre olhou aElizabeth de uma forma que lhe provocava suores frios. E a verdade seja dita, tampouco gostava decomo olhava a Susan, além disso. Ou a Jane, se refletisse sobre isso.

Não, não podia casar-se com o fazendeiro Nevins.

Lucas retornou à cozinha trazendo uma pequena caixa de metal. A estendeu a Elizabeth.

—Economizei uma libra e quarenta em moedas de um centavo— disse—Pensava utilizá-lopara... —deteve-se e tragou. —Não importa. Quero que você o tenha. Para a família.

Elizabeth tomou silenciosamente a caixa e olhou em seu interior. Ali estavam a libra e quarentacentavos do Lucas, quase tudo em centavos e meios centavos.

—Lucas, carinho— disse-lhe suavemente. —Estas são suas economias. Levou-te anos juntartodas estas moedas.

O lábio inferior de Lucas tremeu, mas de algum jeito conseguiu endireitar seu pequeno peito atéque ficou firme como o de um de seus soldados de brinquedo.

—Agora sou o homem da casa. Preciso prover para ti.

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Elizabeth assentiu solenemente e transpassou o dinheiro à caixa onde ela guardava os recursosfamiliares.

—Muito bem. Podemos usá-lo para comprar comida. Possivelmente queira me acompanhar acomprar na próxima semana, e possa escolher algo que você goste.

—Minha horta deve começar a produzir verduras logo— disse Susan esperançosamente. —Suficientes para nos alimentar, e, possivelmente sobre algo que possamos vender na aldeia ou trocar.

Jane começou a retorcer-se no colo de Elizabeth.

—Por favor, me diga que não plantaste mais nabos. Odeio os nabos.

—Todos odiamos os nabos, —replicou Susan. —Mas são muito fáceis de cultivar.

—Mas não tão fáceis de comer—resmungou Lucas.

Elizabeth exalou com força e fechou os olhos. Como chegaram a isto? Eles eram uma antiga ehonorável família, o pequeno Lucas inclusive era baronete! E, entretanto, viam-se reduzidos acultivar nabos, os quais todos detestavam, em uma horta.

Falhara. Pensou que podia criar a seu irmão e irmãs. Quando seu pai faleceu, foi a época maishorrível de toda sua vida, e a única coisa que a manteve em pé foi o pensamento de que precisavaproteger a seus irmãos, mantê-los felizes e cuidados. Juntos. Enfrentou a tias, tios e primos, todos quese ofereceram para cuidar de uma das crianças Hotchkiss, geralmente Lucas, que com seu título debaronete, eventualmente podiam esperar casar com uma moça de considerável dote.

Mas Elizabeth recusou. Mesmo quando seus amigos e vizinhos a aconselharam a deixá-lo ir. Elaqueria manter a sua família unida, disse-lhes. Era isso pedir muito?

Mas falhara. Não havia dinheiro para lições de música, ou tutores, nem para nenhuma das coisasque Elizabeth dera por certeza quando ela era pequena. Só Deus sabia como conseguiria enviarLucas a Eton. E precisava ir. Todos os varões Hotchkiss, durante quatrocentos anos, estudaram emEton. Nem todos se graduaram, mas todos foram.

Teria que casar-se. E seu marido teria que ser muito rico. Era tão simples.

—Abraham gerou Isaac, e Isaac gerou a Jacob, e Jacob gerou a Judas...

Elizabeth clareou com cuidado a garganta e levantou o olhar com olhos esperançados. Dormiu jáLady Dambury? Inclinou-se para diante e estudou o ancião rosto da dama. Era difícil de dizer.

—...e Judas gerou a Phares e Zara de Tamar, e Phares gerou a Esrom...

Os olhos da idosa senhora estavam fechados um bom momento já, mas ainda assim devia sercuidadosa.

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—...e Esrom gerou a Aram, e...

Era isso um ronco? A voz da Elizabeth desceu a um sussurro.

—...e Aram gerou a Aminadbab, e Aminadbab gerou a Nason, e...

Elizabeth fechou a Bíblia e começou a retirar-se do salão nas pontas dos pés. Normalmente nãolhe importava ler a Lady Dambury; de fato, era uma das melhores parte de sua posição comoacompanhante da idosa condessa. Mas hoje precisava ir a casa. Sentia espantosamente ao haverpartido enquanto Jane estava ainda tão alterada ante a perspectiva de que o fazendeiro Nevins fizesseparte de sua pequena família. Elizabeth lhe assegurou que não se casaria com ele mesmo que fosse oúltimo homem da terra, mas Jane seguia insegura e...

THUMP!

A Elizabeth quase lhe parou o coração. Ninguém sabia fazer mais ruído golpeando com umabengala que Lady Dambury.

—Não estou adormecida! —trovejou a voz de Lady D. Elizabeth girou e sorriu fracamente.

—Sinto muito.

Lady Dambury riu entre dentes.

—Não o sente absolutamente. Retorna aqui.

Elizabeth abafou um gemido e retornou a sua cadeira de respaldo reto. Gostava de LadyDambury. Realmente gostava. De fato, esperava o dia em que pudesse usar a idade como desculpa eexpressar-se com a característica franqueza de Lady D.

Só que realmente ela precisava voltar para casa, e...

—É uma enganadora— disse Lady Dambury.

—Perdão?

—Todos esses "gerou" escolhidos a propósito para fazer dormir.

Elizabeth sentiu que suas faces se esquentavam com um rubor de culpabilidade e tentou dar asuas palavras um tom de inocência.

—O que quer dizer?

—Deste um salto na leitura. Deveríamos estar ainda na parte do Moisés e o grande dilúvio, nãona parte das gerações.

—Parece-me que não era Moisés o do dilúvio, Lady Dambury.

—Tolices. É obvio que era.

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Elizabeth pensou que Noé entenderia seu desejo de evitar enredar-se em uma prolongadadiscussão de referências bíblicas com Lady Dambury, e fechou a boca.

—De qualquer maneira, não importa a quem pegou o dilúvio. O ponto em questão é que saltasteessa parte para me fazer dormir.

—Eu... ah...

—Oh, só admite, menina. —Os lábios de Lady Dambury se distenderam em um conhecedorsorriso. —Em realidade, admiro-te por isso. Eu teria feito o mesmo a sua idade.

Elizabeth revirou os olhos. Se este não era um claro caso de, mau se não o fizer, então não sabiaque era. Assim simplesmente suspirou, tomou de novo a Bíblia, e disse:

—Que parte deseja que leia?

—Nenhuma. É um maldito aborrecimento. Não temos nada mais interessante na biblioteca?

—Estou segura de que sim. Poderia comprová-lo, se quiser.

—Sim, faça-o. Mas antes, poderia me alcançar esse livro de contas? Sim, que está sobre a mesa.

Elizabeth se levantou, caminhou até a mesinha, e agarrou o livro encadernado em couro.

—Aqui tem— disse, entregando-lhe a Lady Dambury.

A condessa tomou o livro e o abriu com precisão militar, antes de voltar a olhar a Elizabeth.

—Obrigado, pequena. Hoje vai chegar um novo administrador e quero ter memorizados estesnúmeros, assim estarei segura de que não me oculta nada durante meses.

—Lady Dambury— disse Elizabeth, com extremada sinceridade, —até mesmo ao diabo lhefaltaria coragem para tentar extorqui-la.

Lady Dambury golpeou o chão com sua bengala a modo de aplauso e riu.

—Bem dito, pequena. É agradável ver uma jovem com cérebro na cabeça. Meus própriosfilhos... Bom, ora, não quero entrar nesse assunto agora, exceto para te contar que a única coisa queconseguiu fazer meu filho com sua cabeça foi que ficasse presa entre os barrotes da grade que rodeiao Castelo de Windsor.

Elizabeth tampou a boca com a mão em um esforço por sufocar a risada.

—Oh, adiante, ria—suspirou Lady Dambury. —Tenho descoberto que a única forma de aguentara frustração maternal é contemplá-la como fonte de diversão.

—Bem— disse Elizabeth cuidadosamente, —essa parece uma inteligente linha de conduta...

—Seria uma estupenda diplomática, Elizabeth Hotchkiss—soprou alegremente Lady Dambury.

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—Onde está meu bebê?

Elizabeth não se alterou. As abruptas mudanças de tema de Lady D. eram legendários.

—Seu gato—enfatizou, —esteve dormindo sobre o divã durante a última hora— disse,assinalando através do quarto.

Malcom levantou sua peluda cabeça, tentou enfocar seus sonolentos olhos azuis, decidiu que oesforço não valia a pena, e claudicou.

—Malcom—arrulhou Lady Dambury, —vem com mamãe. Malcom a ignorou.

—Tenho uma guloseima para ti.

O gato bocejou, reconheceu a Lady D. como sua fonte principal de alimentação, e saltou do divã.

—Lady Dambury—repreendeu-a Elizabeth, —sabe que o gato está muito gordo.

—Tolices.

Elizabeth sacudiu a cabeça. Malcom pesava, pelo menos, uma tonelada, embora uma boa partedesse peso fosse pelo. Ela passava um bom momento cada tarde, depois de retornar a casa,escovando sua roupa. O que era, realmente, extraordinário, posto que a presumida besta não sedignou nunca a deixá-la aproximar-se em cinco anos.

—Gatinho bonito— disse Lady D. estendendo os braços.

—Gato estúpido— murmurou Elizabeth, quando o listrado felino a olhou fixamente paracontinuar depois com seu caminho.

—É uma coisinha muito doce. —Lady D. esfregou sua mão sobre seu peludo ventre. —Umacoisinha muito doce.

O gato se estirou no colo de Lady Dambury, recostado de costas, com as patas estendidas sobresua cabeça.

—Isso não é um gato— disse Elizabeth. —É um pobre arremedo de tapete. Lady D. arqueou umasobrancelha.

—Sei que não o diz a sério, Lizzie Hotchkiss.

—Sim o faço.

—Tolices. Adora ao Malcom.

—Tanto como a Atila o Huno.

—Bom, Malcom te adora.

O gato levantou a cabeça e Elizabeth juraria que lhe mostrara a língua. Elizabeth levantou-se

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soltando um grito indignado.

—Esse gato é uma ameaça. Vou à biblioteca.

—Boa ideia. Encontra um livro novo. Elizabeth se dirigiu à porta.

—Nenhum que contenha "gerou" !

Elizabeth riu de si mesma e se dirigiu através do corredor à biblioteca. O som de seus passos,desapareceu ao mesmo tempo que caminhava sobre o tapete, e suspirou. Por Deus, havia um montãode livros! Por onde começar? Selecionou alguns romances, depois acrescentou uma coleção decomédias de Shakespeare. Um pequeno volume de poesia engrossou a pilha de livros, e, justo quandoestava a ponto de cruzar o corredor para retornar ao salão junto a Lady Dambury, outro livro chamousua atenção.

Era muito pequeno, e encadernado em brilhante couro vermelho. Mas o mais estranho, era queestava caído de lado na estante em uma biblioteca que dava um novo significado à palavra "ordem".Nem sequer o pó se atrevia a posar nas prateleiras, e certamente nenhum livro estava fora de seulugar. Elizabeth apoiou o montão de livros que levava nas mãos, e endireitou o volume caído. Estavacom a lombada para o interior, assim precisou tirá-lo da estante para ler o titulo.

"Como casar-se com um Marquês"

Deixou cair o livro, meio esperando que um raio a fulminasse, justo ali, na biblioteca.Certamente aquilo era algum tipo de brincadeira. Ela acabava de decidir essa tarde que precisavacasar-se, e bem...

—Susan? —chamou em voz alta. —Lucas? Jane?

Sacudiu a cabeça. Estava sendo ridícula. Seus irmãos, apesar de quão atrevidos podiam ser, nãoentrariam furtivamente na casa de Lady Dambury e poriam um livro falso em sua biblioteca, e...

Bom, pensou dando voltas na mão ao fino volume vermelho, considerando bem, o livro não tinhaaspecto de ser falso. A encadernação parecia robusta, e o couro das tampas parecia da mais altaqualidade. Jogou uma olhada ao redor para assegurar-se de que não havia ninguém vendo-a, emboranão estava muito segura de porquê se sentia tão envergonhada, e cuidadosamente o abriu na primeirapágina.

A autora era uma tal Senhora Seeton e o livro foi impresso em 1792, o ano de nascimento deElizabeth. Uma divertida coincidência, pensou Elizabeth, embora ela não fosse uma pessoasupersticiosa.

E certamente, não necessitava que um pequeno livro lhe dissesse como viver sua vida.

Além disso, em realidade, o que é que essa tal Senhora Seeton sabia realmente? Depois de tudo,

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se tivesse casado com um marquês, não se chamaria Lady Seeton...

Elizabeth fechou de um golpe o livro, com decisão, e o voltou a pôr na estante, de lado, namesma posição em que o encontrara. Não queria que ninguém pensasse que esteve olhando essatolice. Agarrou sua pilha de livros e cruzou o corredor até o salão, onde Lady Dambury continuavasentada, acariciando a seu gato e olhando através da janela fixamente, como se esperasse a alguém.

—Encontrei alguns livros— disse Elizabeth em voz alta. —Não acredito que encontre nenhum"gerou" neles, embora possivelmente sim nos do Shakespeare.

—Não as tragédias, espero.

—Não, pensei que em seu atual estado de ânimo acharia as comédias mais entretidas.

—Boa garota— disse Lady Dambury, de maneira aprovadora. —Algo mais? Elizabeth piscou ebaixou a vista aos livros que sustentava nos braços.

—Alguns romances, e um pouco de poesia.

—Queima a poesia.

—Perdão?

—Bom, não a queime; os livros são mais valiosos que o carvão. Mas, realmente, não desejoescutá-la. Meu último marido deve ter comprado isso. Tamanho sonhador.

—Já vejo— disse Elizabeth, sobretudo porque pensou que esperava que dissesse algo. Com umrepentino movimento, Lady Dambury clareou a garganta e agitou a mão no ar.

—Por que não vai hoje cedo para casa?

A boca de Elizabeth se abriu da surpresa. Lady Dambury nunca a despedira cedo.

—Preciso tratar com esse maldito administrador, e, certamente, não te necessito para isso. Alémdisso, se gostar das jovenzinhas bonitas nunca conseguirei que me empreste atenção contigo aqui.

—Lady Dambury, não acredito...

—Tolices. É uma coisinha bastante atraente. Os homens adoram o cabelo loiro. Eu sei. O meuestava acostumado a ser tão bonito como o teu. Elizabeth sorriu.

—Ainda é bonito.

—É branco; isso é o que é— disse Lady Dambury com um sorriso. —É uma doçura. Não deveriaestar aqui, comigo. Deveria estar fora, encontrando um marido.

—Eu... ah... — O que responder a isso?

—É muito nobre de sua parte sua devoção a seus irmãos, mas você também tem uma vida que

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viver.

Elizabeth só pôde permanecer olhando fixamente a sua patroa, horrorizada pelas lágrimas quecoalhavam seus olhos. Ela permanecera com Lady Dambury durante cinco anos, e nunca falaram detais temas.

—Eu... eu partirei então, posto que diz que posso partir antes.

Lady Dambury assentiu, parecendo estranhamente decepcionada. Esperava que Elizabethcontinuasse com o tema?

—Mas devolve o livro de poesia a seu lugar—mandou-lhe. —Estou segura de que não o vou ler,e não posso confiar em meus criados para manter meus livros ordenados.

—Muito bem. —Elizabeth deixou o resto dos livros em um extremo de uma frágil mesinha,recolheu suas coisas, e se despediu. Quando estava saindo do salão, Malcom saltou silenciosamentedo colo de Lady Dambury e a seguiu.

—Vê? —cantarolou Lady D. —Eu disse que ele te adorava.

Elizabeth olhou ao gato receosamente, enquanto se dirigia ao corredor.

—O que quer, Malcom?

O gato estalou a cauda, descobriu os dentes, e sibilou.

—OH! —exclamou Elizabeth, deixando cair o livro de poesia. —É uma besta me seguindo aquifora só para me desaprovar...

—Vais lançar o livro em meu gato? —perguntou gritando Lady D.

Elizabeth decidiu ignorar a pergunta e em seu lugar agitou seu dedo em direção a Malcom,enquanto segurava o livro erguido.

—Retorna com Lady Dambury, criatura horrível.

Malcom elevou orgulhosamente sua cauda no ar e deu meia volta.

Elizabeth respirou profundamente e caminhou para a biblioteca. Dirigiu-se para a seção depoesia mantendo-se escrupulosamente afastada do pequeno livro vermelho. Não queria pensar nele,não queria olhá-lo...

Demônios, mas essa coisa virtualmente desprendia calor. Jamais em sua vida se sentiu Elizabethtão consciente de um objeto inanimado.

Voltou a colocar o volume de poesia e começou a caminhar com fortes passos para a porta,começando a sentir-se realmente incômoda consigo mesma. Esse tolo livro não deixava de afetá-lade uma forma ou outra.

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Ao evitá-lo como uma praga, de fato, outorgava-lhe um poder que não tinha, e...

—Oh, pelo amor de Deus! —explodiu finalmente.

—Disse algo? —perguntou Lady Dambury do quarto contíguo.

—Não! Eu só... uh, é que tropecei com o tapete. Isso é tudo. —Resmungou outro Por Deus! eretornou nas pontas dos pés junto ao livro. Estava convexo e para surpresa da Elizabeth sua mão saiudisparada e o endireitou de um puxão.

"Como casar-se com um Marquês"

Ali estava igual à antes. Olhando-a fixamente, burlando-se dela ali sentado, como dizendo quenão tinha a sensatez suficiente para lê-lo.

—É só um livro— murmurou. —Só um estúpido e chamativo livrinho vermelho.

E, entretanto...

Elizabeth necessitava dinheiro desesperadamente. Lucas precisava ser enviado a Eton, e Jane sequeixou durante semanas de que gastou a última de suas aquarelas. E ambos estavam crescendo maisrapidamente que a erva daninha em um dia de verão. Jane podia passar com os velhos vestidos daSusan, mas Lucas necessitaria roupa adequada com sua posição social.

O único caminho à riqueza era o matrimônio, e esse descarado livrinho afirmava ter todas asrespostas. Elizabeth não era tão tola para acreditar que podia capturar o interesse de um marquês,mas possivelmente um pequeno conselho a ajudasse a apanhar a um cavalheiro rural, um com umaconfortável renda. Até se casaria com um comerciante. Seu pai se revolveria em sua tumba ante opensamento de aparentar com alguém que tivesse um negócio, mas uma garota precisava ser prática,e Elizabeth apostava que havia um grande número de ricos comerciantes aos que não lhes importariacasar-se com a empobrecida filha de um baronete.

Além disso, era culpa de seu pai que se visse neste apuro. Se ele não...

Elizabeth sacudiu a cabeça. Agora não era o momento de engajar-se no passado. Precisavaconcentrar-se em seu atual dilema.

Considerando-o bem, ela não sabia muito a respeito dos homens. Não tinha nem ideia do que sesupunha que precisava lhes dizer ou como se supunha que precisava atuar para fazer que caíssemapaixonados por ela.

Olhou fixamente o livro. Dificilmente.

Olhou ao redor. Não vinha ninguém...

Inspirou profundamente e rápido como um raio, o livro encontrou seu caminho para o interior de

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sua bolsa. E saiu correndo da casa.

James Sidwell, Marquês de Riverdale, gostava de passar inadvertido. Não havia nada quegostasse mais que mesclar-se com a multidão, como incógnito, e descobrir feitos e complôs.

Provavelmente foi por isso que desfrutou tanto de seus anos de trabalho a serviço do Ministériode Defesa. E foi malditamente bom nisso. A mesma cara e o mesmo corpo que monopolizavam tantaatenção nos salões de baile de Londres, desapareciam entre a multidão com alarmante êxito.

James, simplesmente, eliminava o brilho de segurança em si mesmo de seus olhos, encurvava osombros, e ninguém suspeitava que pertencesse à aristocracia. É obvio, o cabelo castanho e os olhosmarrons ajudavam. Sempre era bom possuir uma tonalidade comum. James duvidava que houvessemuitas operações ruivas com êxito.

Mas um ano antes, seu disfarce foi descoberto quando um espião napoleônico revelou suaidentidade aos franceses. E agora o Ministério de Defesa se negava a lhe atribuir qualquer missãomais excitante que alguma ocasional jogada a rede de contrabandistas.

James aceitou seu aborrecido destino com um pesado suspiro de resignação. Provavelmente erahora de dedicar-se a suas propriedades e seu título, de toda forma. Em algum momento precisavacasar-se, por desagradável que a perspectiva lhe parecesse, e produzir um herdeiro para omarquesado. Então dirigiu sua atenção ao cenário social londrino, onde um marquês, especialmenteum tão jovem e tão arrumado, não passava inadvertido.

James se sentira alternativamente desgostoso, aborrecido, e divertido.

Aborrecido porque as jovenzinhas, e suas mães, o viram simplesmente como uma grande presa,pronta para ser capturada.

Desgostoso, porque depois de anos de intriga política, a cor das perucas, e o corte dos coletesnão lhe pareciam fascinantes tema de conversação.

E divertido, porque, para ser franco, se não se obstinasse a seu senso de humor para submeter-sea esta dura prova, teria ficado desesperado.

Quando a nota de sua tia chegara através de mensageiro especial, esteve perto de gritar dealegria. Agora, enquanto se aproximava da casa de sua tia, em Surrey, tirou a nota do bolso e a releu.

Riverdale

Necessito sua ajuda urgentemente. Por favor, te apresente em Dambury House com a maiorrapidez possível. Não viaje em sua melhor carruagem. Direi a todo mundo que é meu novoadministrador. Seu novo nome é James Siddons.

Ágata, Lady Dambury.

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James não tinha nem ideia do que era tudo isto, mas sabia que era justo o que necessitava paraaliviar seu aborrecimento e que lhe permitia partir de Londres sem sentir-se culpado por abandonarsuas obrigações.

Viajou em um carro de aluguel, posto que um administrador não possuiria cavalos tão finos comoos seus e caminhou a ultima milha, do centro do povoado até Dambury House.

Tudo o que precisava estava empacotado em uma bolsa de viagem.

Aos olhos do mundo se convertera no simples James Siddons, um cavalheiro, é obvio, maspossivelmente alguém com poucos recursos. Suas roupas provinham do fundo de seu armário, bemcortadas, mas um pouco gastas nos cotovelos e de um estilo de uns dois anos. Alguns recortes nocabelo com as tesouras de cozinha danificaram eficazmente o perito corte de cabelo que fizera nasemana anterior.

Para todo propósito, o Marquês de Riverdale desaparecera e James não poderia sentir-se maissatisfeito. É obvio, o plano de sua tia tinha um importante defeito, mas era de esperar, quando a gentedeixa que um aficionado trace os planos. James não visitara Dambury House em quase uma década;seu trabalho para o Ministério de Defesa não lhe deixou muito tempo para visitar a família, e,corretamente, não quis pôr a sua tia em nenhum tipo de perigo. Mas certamente ficava alguém, muitoidoso, o mordomo possivelmente, que o reconheceria, depois de tudo ele passou a maior parte de suainfância aqui.

Mas uma vez mais, as pessoas viam o que esperavam ver, e quando James atuava como umadministrador as pessoas viam, de fato, a um administrador. Estava perto de Dambury House,virtualmente nos degraus da entrada principal, de fato, quando as portas de entrada se abriram derepente e uma pequena mulher loira as atravessou, a cabeça abaixada, os olhos olhando ao chão, emovendo-se só um pouco mais lenta que uma égua trotando rapidamente. James não teve nenhumaoportunidade de adverti-la, antes que ela se lançasse em sua direção.

Seus corpos se chocaram em uma torpe trombada, e a moça deixou escapar um feminino grito desurpresa enquanto ricocheteava contra ele e aterrissava, pouco elegantemente, no chão. Umaforquilha, ou cinta, ou o que fosse que as mulheres usassem, voou de seu cabelo, causando que umagrossa mecha de pálido cabelo dourado se deslizasse de seu penteado e caísse desordenadamentesobre seu ombro.

—Peço-lhe perdão— disse James, estendendo uma mão para ajudá-la a levantar-se.

—Não, não— respondeu ela, sacudindo suas saias. —Foi completamente culpa minha. Nãoolhava por onde ia.

Ela não se incomodou em pegar sua mão para levantar-se, e James se encontrou estranhamente

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decepcionado. A moça não usava luvas, e tampouco ele, e sentia uma estranha compulsão de sentir otato de sua mão na sua.

Mas não podia dizer semelhante coisa em voz alta, assim em seu lugar, agachou-se para ajudá-laa recuperar seus pertences. Sua bolsa voara aberta quando caiu a terra, e seus pertences estavamagora esparramados ao redor de seus pés. Estendeu-lhe as luvas, o que fez que se ruborizasse.

—Faz muito calor— explicou ela, olhando as luvas com resignação.

—Não o terei em conta — disse ele com um pequeno sorriso. —Como pode ver, eu tambémescolhi usar o bom tempo como desculpa para não pôr as minhas.

Ela olhou fixamente suas mãos, antes de sacudir a cabeça e murmurar.

—Esta é a mais estranha conversa. —Ajoelhou-se para seguir recolhendo suas coisas e Jamescontinuou ajudando-a. Recolheu um lenço e estava a ponto de alcançar um livro quando,repentinamente, ela emitiu um estranho ruído, um pouco parecido a um grito estrangulado, e oarrebatou de entre os dedos.

James, de repente, encontrou-se profundamente interessado em saber o que continha esse livro.

Ela pigarreou umas seis vezes antes de dizer: —É muito amável ao me ajudar.

—Não é nenhum incômodo, o asseguro— murmurou James, tentando descaradamente jogar umaolhada ao livro. Mas ela já o empurrara dentro de sua bolsa.

Elizabeth lhe sorriu nervosamente, deixando escorregar sua mão no interior da bolsa, só paraassegurar-se de que o livro realmente estava ali oculto, a salvo de seu olhar. Se a pegassem lendoalgo semelhante se sentiria mortificada além de toda palavra. Era sabido que todas as mulheressolteiras procuravam marido, mas só as mais patéticas fêmeas seriam agarradas lendo um manualsobre o tema.

Ele não disse nada, apenas a percorreu com um especulativo olhar, que a pôs ainda maisnervosa. Finalmente perguntou abruptamente: —É você o novo administrador?

—Sim.

—Já vejo. —Clareou a garganta. —Bem, suponho que devo me apresentar, já que estou segurade que nossos caminhos se cruzarão frequentemente. Sou a senhorita Hotchkiss, a acompanhante deLady Dambury.

—Ah. Eu sou James Siddons, recém-chegado de Londres.

—Encantada de conhecê-lo, Sr. Siddons— disse Elizabeth, com um sorriso que James achouestranhamente atraente. —Lamento muitíssimo o acidente, mas é que não olhava por onde ia.

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Esperou sua inclinação de cabeça em reconhecimento, e imediatamente se lançou caminhoabaixo, agarrando sua bolsa como se sua vida dependesse disso. James apenas pôde olhar como seafastava à carreira, estranhamente incapaz de afastar seus olhos de sua retirada.

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Capítulo 2

—James! —Lady Ágata não gritava frequentemente, mas James era seu sobrinho preferido. Em

realidade, gostava mais que qualquer de seus próprios filhos. Ele, ao menos, era o bastante elegantepara não ser pego com a cabeça encaixada entre as barras de uma grade de ferro. —Que encantadorver-te!

James se inclinou respeitosamente e ofereceu sua face para um beijo.

—Quão encantador ver-me? —perguntou. —Quase parece surpreendida de minha chegada.Vamos, já sabe que me é impossível ignorar teu requerimento, muito mais que um do PríncipeRegente.

—Oh, isso.

James entrecerrou os olhos ante sua evasiva resposta.

—Ágatha, não estará praticando joguinhos comigo, não?

Ela se endireitou rapidamente em sua cadeira, como um fuzil.

—É isso que pensa de mim?

—De todo coração— disse ele, com um fácil sorriso enquanto se sentava. —Aprendi meusmelhores truques de ti.

—Sim, bom, alguém precisava tomar sob sua asa—respondeu-lhe ela. —Pobre menino. Se eunão houvesse...

—Ágatha— disse James bruscamente. Não tinha nenhum desejo de envolver-se em umadiscussão sobre sua infância. Ele devia tudo a sua tia, até mesmo a sua alma, inclusive. Mas nãoqueria entrar nisso agora.

—Dá a casualidade — disse ela com um desdenhoso bufo, —de que não estou jogando. Estousendo chantageada.

James se inclinou para diante. Chantageada? Ágatha era uma matreira idosa, mas honesta porcima de tudo, e não podia imaginá-la fazendo nada que pudesse justificar uma chantagem.

—Pode acreditá-lo? —exigiu ela. —O que alguém se atreveria a me chantagear? Hmmph, ondeestá meu gato?

—Onde está seu gato? —repetiu ele.

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—Mallllllllllllllcommmmmmm!

James piscou e viu como um monstruoso felino entrava no salão. Caminhou até James, o cheiroue lhe saltou ao colo.

—Não é o mais amistoso dos gatos? —perguntou Ágatha.

—Odeio os gatos.

—Adoraste ao Malcom.

James decidiu que tolerar ao Malcom era mais fácil que discutir com sua tia.

—Tem ideia de quem pode ser o chantagista?

—Nenhuma.

—Posso te perguntar por que está sendo chantageada?

—É muito embaraçoso— disse ela, seus pálidos olhos azuis começando a brilhar de lágrimas.James começou a inquietar-se. Tia Ágatha nunca chorava. Houve poucas coisas em sua vida quefossem total e completamente constantes, mas uma dela foi Ágatha. Era afiada, tinha um incisivosenso de humor, amava-o além de toda mesura, e nunca chorava. Nunca.

Fez gesto de aproximar-se a ela, mas se deteve. Ela não quereria que a consolasse. Veria-o sócomo um reconhecimento de sua momentânea exibição de debilidade. Além disso, o gato não mostrounenhuma inclinação a abandonar seu colo.

—Tem a carta? —perguntou-lhe suavemente. —Presumo que recebeu uma carta.

Ela assentiu, tomou um livro que havia em uma mesinha ao lado dela, e extraiu dentre suaspáginas uma só folha de papel. Silenciosamente a estendeu.

James, com suavidade, empurrou ao gato para o tapete e ficou em pé. Deu uns passos em direçãoa sua tia, e agarrou a carta. Ainda de pé, olhou para o papel que tinha em suas mãos e o leu.

"Lady D Conheço seu segredo. E conheço o segredo de sua filha. Meu silêncio lhe custarádinheiro.”

James levantou a vista.

—Isto é tudo? —Ágatha sacudiu a cabeça e lhe estendeu outra folha de papel. —Também recebiesta.

James a agarrou.

"Lady D Quinhentas libras por meu silêncio. As deixe em um saco simples atrás Da Bolsa dePregos, na sexta-feira a meia noite. Não diga a ninguém. Não me decepcione.”

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—A Bolsa de Pregos? —perguntou James arqueando uma sobrancelha.

—É o botequim local.

—Deixou o dinheiro?

Ela assentiu, envergonhada.

—Mas somente porque sabia que não estaria aqui na sexta-feira.

James fez uma pausa enquanto decidia a melhor maneira de formular sua seguinte pergunta.

—Acredito— disse devagar, —que o melhor seria que me contasse o segredo. Ágatha sacudiu acabeça.

—É muito embaraçoso. Não posso.

—Ágatha, sabe que sou discreto. Já sabe que te amo como a uma mãe. Tudo que me diga nãosairá jamais dentre estas paredes. —Quando ela não fez outra coisa, mais que morder o lábio, eleperguntou. —A que filha afeta o segredo?

—Melissa — sussurrou Ágatha. —Mas ela não sabe.

James fechou os olhos e deixou escapar um comprido suspiro. Sabia o que vinha a seguir edecidiu economizar a sua tia a vergonha de dizê-lo ela mesma.

—É ilegítima, não? Ágatha assentiu.

—Tive um affaire. Só durou um mês. Oh, era tão jovem e tão tola então.

James lutou para que a comoção não se refletisse em seu rosto. Sua tia sempre foi extremamenterigorosa com o decoro e a conveniência; era inconcebível que pudesse flertar fora de seumatrimônio. Mas, como ela dissera, foi jovem, e possivelmente, um pouco amalucada, e depois detudo o que havia feito por ele em sua vida, não se sentia com direito a julgá-la.

Ágatha foi sua salvadora, e caso houvesse a necessidade, daria sua vida por ela sem duvidá-lonem um segundo.

Ágatha sorriu tristemente.

—Não sei o que vou fazer.

James sopesou suas palavras cuidadosamente antes de falar.

—Seu temor, então, é que o chantagista revele publicamente isto e envergonhe a Melissa?

—Importa-me um figo a sociedade— disse Agatha com um bufo. —A metade deles sãobastardos. E provavelmente dois terços deles não são legítimos. Meu temor é pela Melissa. Ela estáa salvo casada com um conde, assim o escândalo não a salpicará, mas estava muito unida a Lorde

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Dambury. Ele sempre dizia que ela era sua favorita especial. Romperia seu coração inteirar-se deque não era seu verdadeiro pai.

James não recordava que Lorde Dambury estivesse mais unido a Melissa que ao resto de seusoutros filhos. De fato, não recordava nenhum período em que Lorde Dambury estivesse perto de seusfilhos. Foi um homem cordial, mas distante. Definitivamente do tipo: crianças devem permanecer emseus quartos e devem descer não mais de uma vez ao dia. Não obstante, se Agatha sentia queMelissa era a favorita especial de Lorde Dambury, quem era ele para discuti-lo?

—O que vamos fazer, James? —perguntou Agatha. —É a única pessoa em quem confio para queme ajude nesta desgraça. E com seus antecedentes...

—Recebeste mais notas? —interrompeu-a James. Sua tia sabia que trabalhou um tempo para oMinistério de Defesa. Não havia perigo nisso, agora que já não estava ativo, mas Agatha era muitocuriosa, e sempre lhe perguntava por suas façanhas. E havia certas coisas que não desejava discutircom sua tia. Por não mencionar o fato de que James podia ser enforcado por divulgar algumas dasinformações que descobriu durante esses anos.

Agatha sacudiu a cabeça.

—Não. Nenhuma.

—Farei um pouco de investigação preliminar, mas suspeito que não descobriremos nada útil atéque receba outra carta.

—Acredita que haverá mais? James assentiu severamente.

—Os chantagistas não sabem quando parar. Esse é seu defeito fatal. Enquanto isso, fingirei serseu novo administrador de imóvel. Mas me pergunto como esperas que o faça sem ser reconhecido.

—Pensava que não ser reconhecido era seu particular talento.

—É—replicou rapidamente, —mas a diferença da França, Espanha e mesmo a Costa Sul, eucresci aqui. Ou quase, pelo menos.

Os olhos da Agatha se desfocaram rapidamente. James sabia que estava pensando em suainfância, em todas às vezes em que enfrentou silenciosamente a seu pai, amargos enfrentamentos,insistindo em que James estaria melhor permanecendo com os Dambury.

—Ninguém te reconhecerá, assegurou-lhe finalmente.

—Cribbins?

—Morreu o ano passado.

—Oh. Sinto muito. Sempre gostei do idoso mordomo.

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—O novo é adequado, suponho, embora o outro dia teve o descaramento de me pedir que ochamasse Wilson.

James não sabia por que se incomodava, mas lhe perguntou.

—Pode ser porque esse é seu nome, não acredita?

—Suponho— disse ela com um pequeno bufo. —Mas como vou recordar?

—Simplesmente faça. Ela o olhou severamente.

—Se é meu mordomo, chamarei-o Cribbins. Na minha idade é perigoso fazer muitas mudanças.

—Agatha— disse James, com mais paciência do que sentia, —podemos voltar para o problemaque temos entre mãos?

—A respeito de ser reconhecido?

—Sim.

—Não ficou ninguém que te reconheça. Não me visitaste em quase dez anos. James ignorou seutom acusador.

—Vi-te muitas vezes em Londres e sabe.

—Isso não conta.

Rechaçou perguntar por que. Sabia que morria por explicar-lhe.

—Há algo em particular que precise saber antes de assumir meu papel como administrador?—perguntou.

Ela sacudiu a cabeça.

—O que pode precisar saber? Criei-te corretamente. Deveria saber todo o necessário sobre aadministração de um imóvel.

Isso era muito certo, embora James preferira deixar a seus administradores a tarefa deencarregar-se de suas propriedades desde que assumiu o título. Era mais fácil assim, posto que nãoachava particularmente entretido perder tempo no Castelo de Riverdale.

—Muito bem, então — disse, ficando em pé. —Já que Primeiro Cribbins não está entre nós,Deus o tenha em sua glória sua paciente alma.

—Que se supõe que significa isso?

James adiantou a cabeça e a inclinou levemente para um lado de um modo extremamentesarcástico.

—Alguém que tenha trabalhado para ti durante quarenta anos merece ser canonizado.

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—Maldito impertinente, — murmurou ela.

—Agatha!

—Do que serve conter a língua a minha idade? James sacudiu a cabeça.

—Como tentava dizer antes, já que Cribbins nos abandonou, ser seu administrador é tão bomdisfarce como qualquer outro. Além disso, me agrada passar algum tempo fora da cidade, enquantotemos bom tempo.

—Londres está sufocante?

—Muito.

—O ar ou a gente? James fez uma careta.

—Ambos. Agora, simplesmente me diga onde me instalo. Oh, e tia Agatha —se inclinou e abeijou na face, —é malditamente agradável ver-te.

Ela sorriu.

—Eu também te amo, James.

Quando Elizabeth chegou a sua casa, estava sem respiração e coberta de barro. Esteve tãoansiosa por partir de Dambury House, que virtualmente correu durante o primeiro quarto de milha.

Infelizmente, foi um verão particularmente úmido em Surrey, e Elizabeth nunca foi muitocoordenada. E quanto a essa protuberante raiz de árvore, não houve forma de evitá-la, e assim, comum chapinho, Elizabeth viu seu melhor traje arruinado. Não é que seu melhor vestido estivesse emcondições particularmente boas. Não havia suficiente dinheiro nos cofres dos Hotchkiss paracomprar roupa nova, até que a velha estivesse totalmente gasta. Mas, mesmo assim, Elizabeth tinhacerto orgulho, e embora, não podia vestir a sua família a ultima moda, pelo menos se assegurava quetodos fossem asseados e limpos.

Agora havia barro seco em sua saia de veludo e, pior ainda, realmente roubara um livro dabiblioteca de Lady Dambury. E não qualquer livro. Roubara o que tinha que ser o mais estúpido etolo livro de toda a história dos livros impressos. E tudo porque ia leiloar-se ao melhor comprador.

Tragou as lágrimas que coalhavam seus olhos. O que aconteceria não houvessem compradores?O que faria então?

Elizabeth golpeou o chão com os pés frente à cabana para sacudir o barro, e depois se apressouatravés da porta de sua pequena casa. Tentou escapulir através do vestíbulo, escada acima, até seuquarto sem que ninguém a visse, mas Susan era muito rápida.

—Deus bendito! O que te aconteceu?

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—Escorreguei—grunhiu Elizabeth, sem afastar os olhos das escadas.

—Outra vez?

Isso foi suficiente para fazê-la girar e fulminar a sua irmã com um sanguinário olhar.

—O que quiseste dizer com isso?

Susan tossiu.

—Nada.

Elizabeth deu meia volta com intenção de partir escada acima, mas golpeou a mão com umamesinha.

—Owwwww—gritou.

—Ooh! — disse Susan, fazendo uma careta de simpatia. —Isso deve ter doído. Elizabeth apenasa olhou fixamente, os olhos convertidos em estreitas frestas.

—Sinto muitíssimo— disse Susan rapidamente, reconhecendo imediatamente o mau humor desua irmã.

—Vou ao meu quarto— disse Elizabeth, pronunciando espaçadamente cada palavra, como seuma cuidadosa dicção pudesse, de alguma forma, fazê-la chegar a seu quarto mais rapidamente. —Eentão vou deitar-me e tirar uma sesta. E se alguém me incomoda, não respondo pelas consequências.

Susan assentiu.

—Jane e Lucas estão brincando lá fora no jardim. Assegurarei-me que não incomodem seentrarem em casa.

—Bem, eu. Owwwwwwwww! Susan deu um pulo.

—O que acontece agora?

Elizabeth se agachou e recolheu um pequeno objeto de metal. Um dos soldados de brinquedo doLucas.

—Há alguma razão— disse, —para que isto esteja no chão, onde qualquer um possa pisá-lo?

—Não me ocorre nenhuma— respondeu Susan, com uma débil tentativa de sorriso. Elizabethsimplesmente suspirou.

—Não estou tendo um bom dia.

—Não, isso pensava.

Elizabeth tentou sorrir, mas tudo o que conseguiu foi esticar os lábios. Mal tinha forças paraarrastar-se escada acima.

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—Quer que te suba uma xícara de chá? —perguntou Susan amavelmente. Elizabeth assentiu.

—Seria estupendo, obrigado.

—Faço-o encantada. Vou a... o que leva na bolsa?

—O que?

—Esse livro.

Elizabeth amaldiçoou baixinho e empurrou o livro sob um lenço.

—Não é nada.

—Pediste um livro emprestado a Lady Dambury?

—É uma maneira de dizê-lo.

—OH, bem. Tenho lido todos os que temos. Embora não tenhamos muitos. Elizabeth apenasassentiu e tentou rodeá-la.

—Sei que te partiu o coração vender os livros— disse Susan, —mas com isso pagamos as liçõesde latim do Lucas.

—De verdade, devo ir...

—Posso ver o livro? Eu gostaria de lê-lo.

—Não! —exclamou Elizabeth, com voz mais forte do que teria gostado. Susan se arredou.

—Perdão.

—Preciso devolvê-lo amanhã. Isso é tudo. Não te dará tempo para lê-lo.

—Posso lhe jogar uma olhada?

—Não. Susan insistiu.

—Quero vê-lo.

—Disse que não. —Elizabeth saltou para a direita, conseguindo logo evitar a sua irmã e lançar-se para as escadas. Mas justo quando seu pé se apoiava no primeiro degrau, sentiu a mão da Susanagarrando-a pela saia.

—Tenho-te—grunhiu Susan.

—Me solte!

—Não, até que me mostre o livro.

—Susan, sou sua tutora e te ordeno...

—É minha irmã, e estou segura de que me oculta algo.

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Raciocinando não o conseguiria, decidiu Elizabeth, assim agarrou sua saia e deu um forte puxão,com o único resultado de que escorregou do degrau e sua bolsa caiu ao chão.

—Ahá! —exclamou Susan, triunfalmente, segurando o livro. Elizabeth grunhiu.

—Como casar-se com um Marquês? —Susan levantou o olhar com expressão perplexa e aomesmo tempo bastante divertida.

—É só um livro tolo. —Elizabeth sentiu como suas faces começavam a arder. —Só pensei...isso, só pensei que eu...

—Um marquês? —perguntou Susan, em dúvida. —Pomo-nos metas altas, não?

—Pelo amor de Deus—explodiu Elizabeth. —Não vou casar-me com um marquês. Mas pode serque o livro contenha algum tipo de conselho útil, posto que preciso me casar e ninguém me temproposto isso.

—Exceto o fazendeiro Nevins— murmurou Susan, olhando as páginas do livro.

Elizabeth tragou bílis. O só pensamento de que o fazendeiro Nevins a tocasse, beijasse-a... fezque lhe gelasse o sangue. Mas se era a única forma em que podia salvar a sua família... Fechou osolhos com força. Precisava haver algo nesse livro que pudesse lhe ensinar a conseguir um marido.

Qualquer coisa!

—Realmente, isto é bastante interessante— disse Susan, deixando cair-se sentada no tapete,junto à Elizabeth. —Escuta isto: Decreto Numero Um...

—Decreto? —repetiu Elizabeth. —Há decretos?

—Aparentemente sim. Parece-me que este negócio de encontrar marido é mais complicado doque pensava.

—Só me diga o que diz o decreto. Susan piscou e sob a vista.

—Seja única. Mas não muito.

—Que demônios significa isso? —explodiu Elizabeth. —É o mais ridículo que ouvi em minhavida. Amanhã devolvo o livro. Quem é essa senhora Seeton, de toda forma? Certamente não umamarquesa, assim não tenho por que escutar...

—Não, não— disse Susan, agitando a mão sem olhar a sua irmã. —Isso era só o titulo doDecreto. Agora vem a explicação.

—Não estou segura de querer escutá-la—queixou-se Elizabeth.

—É realmente interessante.

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—Me dê isso. —Elizabeth arrebatou o livro da sua irmã e leu em silêncio.

"É indispensável que você seja uma mulher totalmente única. Seu feitiço deve fascinar a seuLorde até o ponto de que seja incapaz de ver algo além de seu rosto."

Elizabeth soprou.

—Seu feitiço? Não ver a além de seu rosto? Onde aprendeu esta mulher a escrever? Em umafarmácia?

—Pois eu acredito que a parte de além e seu rosto é muito romântica— disse Susan, com umencolhimento de ombros.

Elizabeth a ignorou.

—Onde esta a parte de não ser muito única? Ah, aqui.

“Deve esforçar-se por conter seu encanto de modo que ele seja o único que o perceba. Develhe demonstrar que você será vantajosa como esposa. Nenhum Lorde do reino deseja ser exposto aconstrangimentos e o escândalo.”

—Acredita que conseguirá não salpicá-lo com algo? —perguntou Susan. Elizabeth a ignorou econtinuou lendo.

“Em outras palavras, deve se destacar em um grupo, mas só em seu grupo. Para ele, é a únicacoisa que importa.”

Elizabeth levantou a vista.

—Há um problema.

—Há?

—Sim. —deu-se leves golpes na fronte com o indicador, como era seu costume habitual sempreque pensava profundamente em um problema. —Em todos os decretos se pressupõe que depositeiminhas esperanças em um só homem.

A Susan lhe exageraram os olhos.

—Não pode te fixar em um homem casado!

—Refiro-me a um homem em particular—replicou Elizabeth, golpeando a Susan com força emum ombro.

—Já vejo. Bem, a senhora Seeton tem razão. Não pode te casar com dois homens de uma vez.

Elizabeth fez uma careta.

—É obvio que não. Mas acredito que devo me fixar em mais de um se quero me assegurar uma

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oferta de matrimônio. Não te lembra de que mamãe sempre nos dizia que não devíamos colocar todosnossos ovos em uma só cesta?

—Hmmm—refletiu Susan, —aí, tem sua razão. Terei que investigar o problema esta noite.

—Perdão?

Mas Susan já se pôs em pé, e estava subindo as escadas.

—Lerei o livro esta noite—gritou-lhe do patamar, —e te informarei pela manhã.

—Susan!—Elizabeth usou o tom mais severo. —Desça e me devolva esse livro imediatamente.

—Não me dá medo! Terei resolvida nossa estratégia pelo café da manhã! —E o seguinte queElizabeth ouviu foi o som de uma chave girando em uma fechadura enquanto Susan se entrincheiravano quarto que compartilhava com Jane.

—O café da manhã? — murmurou Elizabeth. —Não pensa descer para jantar, então?Aparentemente assim era. Ninguém viu o cabelo de Susan, nem ouviu o mínimo ruído de seu quarto.Essa noite, o clã Hotchkiss, contou apenas com três membros para o jantar, e a pobre Jane, inclusive,ficou sem lugar onde dormir e teve que compartilhar a cama com a Elizabeth.

A Elizabeth não pareceu divertido. Jane era um encanto, mas lhe roubou todas as mantas. QuandoElizabeth desceu a tomar o café da manhã no dia seguinte, Susan estava já sentada à mesa, com opequeno livro vermelho em suas mãos. Elizabeth observou severamente que a cozinha não mostravanenhum sinal de uso.

—Não poderia ter começado a preparar o café da manhã? —perguntou irritada, procurando noarmário dos ovos.

—Estive muito ocupada—replicou Susan. —Muito ocupada.

Elizabeth não replicou. Maldição. Só restavam três ovos. Teria que ficar sem tomar o café damanhã e rezar para que Lady Dambury tivesse planejado um copioso almoço para este dia.

Colocou a frigideira de ferro sobre o tripé em cima do fogo e jogou os três ovos abertos nela.Susan captou a indireta e começou a cortar o pão em fatias para as torradas.

—Algumas dessas regras não são tão difíceis— disse enquanto trabalhava. —Acredito quemesmo você pode as seguir.

—Estou aflita por sua confiança— disse Elizabeth secamente.

—De fato, deveria começar a praticar já. Não vai dar Lady Dambury uma festa este verão?Certamente haverá possíveis maridos entre os convidados.

—Eu não estarei entre os convidados.

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—Será que Lady Dambury não vai te convidar? —indignou-se Susan, claramente ultrajada.

—Não posso acreditar nisso! Pode ser que seja sua acompanhante, mas também é a filha de umbaronete, e assim...

—É obvio que me convidará—replicou Elizabeth, sem entonação. —Mas recusarei o convite.

—Mas por quê?

Elizabeth não respondeu imediatamente, apenas ficou contemplando como se coalhavam os ovosna frigideira.

—Susan, disse finalmente, —me olhe. Susan a olhou.

—E?

Elizabeth agarrou um punhado do gasto e descolorido tecido verde de seu vestido e o sacudiu.

—Como vou a uma luxuosa festa vestida como estou? Pode ser que esteja desesperada, mastenho meu orgulho.

—Podemos cruzar essa ponte quando chegarmos a ela—decidiu Susan com firmeza. —Isso nãoimporta, de toda forma. Não se seu futuro marido não pode ver nada além de seu rosto.

—Se voltar a ouvir essa frase uma vez mais...

—Enquanto isso—interrompeu-a Susan, —devemos aprimorar suas habilidades. Elizabeth lutoucontra o impulso de esmagar as gemas dos ovos.

—Não comentou que Lady Dambury tinha um novo administrador?

—Não o fiz!

—Não foi você? Oh. Bom, então seria Fanny Brinkley, que deve ter ouvido de sua criada, quedeve ter ouvido...

—Vá direto ao ponto, Susan— disse Elizabeth, rangendo os dentes.

—Por que não pratica com ele? A menos que seja horrorosamente repulsivo, claro.

—Não é repulsivo—resmungou Elizabeth. Suas faces começaram a arder, e manteve a cabeçabaixa, para que Susan não visse seu rubor. O novo administrador de Lady Dambury estava longe deser repulsivo.

De fato, era um dos homens mais arrumados que viu. E seu sorriso causou os mais estranhosefeitos em seu estômago. Desgraçadamente não tinha montanhas de dinheiro.

—Bem! — disse Susan, com uma excitada palmada. —Tudo o que precisa fazer é que seapaixone por ti.

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Elizabeth retirou os ovos de um puxão.

—E então o quê? Susan, é um administrador de propriedades. Não vai ter suficiente dinheiropara enviar ao Lucas a Eton.

—Boba, não vais casar-te com ele. Só vais praticar com ele.

—Isso soa bastante insensível— disse Elizabeth, com o cenho franzido.

—Bom, não tem outra pessoa sobre a que provar suas habilidades. Assim escutacuidadosamente. Selecionei várias regras com as quais começar.

—Regras? Acreditava que eram decretos.

—Decretos, regras, tudo é o mesmo. Bem, depois de...

—Jane! Lucas! —chamou Elizabeth. —O café da manhã está preparado.

—Como estava dizendo, penso que deveríamos começar com os decretos, dois, três e cinco.

—E o que acontece com o quatro? Susan teve o detalhe de ruborizar-se.

—É que esse se refere a se vestir à última moda. Elizabeth resistiu ao impulso de lhe jogar umovo frito.

—Em realidade— disse Susan, franzindo o cenho—deveria começar praticando principalmenteo decreto número dois.

Elizabeth sabia que não devia perguntar, mas algum demônio interno a forçou a dizer.

—E qual é esse? Susan leu.

—Seu encanto deve surgir sem esforço.

—Meu encanto deve surgir sem esforço. E que demônios me faz falta praticar? Ow!

—Penso que pode significar que não agite os braços de tal forma que você golpeie a mão com amesa. —Se as olhadas matassem, possivelmente Susan estaria jazendo agonizante nesse momento.Susan elevou o nariz altivamente. —Só digo a verdade, disse com um bufo.

Elizabeth continuou fulminando-a com o olhar, ao mesmo tempo que chupava o dorso da mão,como se pressionando os lábios contra o lugar onde se golpeou fosse conseguir que deixasse de doer.

—Jane! Lucas! —chamou de novo, quase gritando desta vez. —Venham já! O café da manhã vaiesfriar!

Jane entrou saltando na cozinha e se sentou. A família Hotchkiss há tempo tinha prescindido daformalidade de servir o café da manhã na sala de jantar, tomava sempre na cozinha. Além disso, noinverno todos gostavam de sentar-se perto do fogão. E no verão, bom, os hábitos eram difíceis de

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romper, supunha Elizabeth.

Sorriu a sua irmã menor.

—Parece um pouco desalinhada esta manhã, Jane.

—Isso é porque alguém me deixou fora do meu quarto ontem à noite— disse Jane, dirigindo umamotinado olhar para a Susan. —Nem sequer pude me pentear.

—Poderia ter usado a escova de Lizzie— respondeu Susan.

—Eu gosto de minha escova—objetou Jane. —É de prata.

Não de verdadeira prata, pensou Elizabeth ironicamente, ou teria tido que vendê-la como todo oresto.

—Serve para o mesmo.

Elizabeth pôs fim à discussão com um grito.

—Lucas!

—Há leite? —perguntou Jane.

—Temo que não, carinho— respondeu Elizabeth, deslizando um ovo em seu prato. — Apenas osuficiente para o chá.

Susan pôs de supetão um pedaço de pão no prato de Jane e disse a Elizabeth.

—Sobre o decreto numero dois?

—Agora não—chiou Elizabeth, com um intencionado olhar para Jane, que, graças a Deus, estavamuito ocupada afundando um dedo na fatia de pão, para emprestar atenção a suas irmãs.

—Minha torrada está crua— disse Jane.

Elizabeth não teve tempo de admoestar a Susan por esquecer-se de torrar o pão, antes que Lucasentrasse na cozinha.

—Bom dia! — disse alegremente.

—Parece especialmente contente— disse Elizabeth, lhe revolvendo o cabelo antes de lhe serviro café da manhã.

—Hoje vou pescar com o Tommy Fairmont e seu pai. —Engoliu três quartos do ovo antes deadicionar. —Esta noite jantaremos bem.

—Isso é estupendo, querido— disse Elizabeth. Jogou uma olhada ao pequeno relógio sobre alareira, e disse. —Devo ir. Certifica-se de que a cozinha fique limpa?

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Lucas assentiu.

—Eu fiscalizarei.

—Também poderia ajudar.

—Isso também—grunhiu ele. —Posso pegar outro ovo? O estômago de Elizabeth grunhiu emsolidariedade.

—Não há mais— disse-lhe. Jane a olhou com suspeita.

—Não comeste nenhum, Lizzie.

—Tomarei o café da manhã com Lady Dambury—mentiu Elizabeth.

—Toma o meu. —Jane empurrou o que restava de café da manhã, dois bocados de ovo e umpedaço de pão tão destroçado, que teria tido que estar muito, muito mais faminta, apenas para cheirá-lo através da mesa.

—Termine isso você, Jane, — disse Elizabeth. —Comerei com Lady Dambury. Prometo-lhe isso.

—Vou ter que capturar um peixe enorme—ouviu que Lucas sussurrava a Jane.

E aquela foi a gota que encheu o copo. Elizabeth esteve resistindo a aquela caça de marido;odiava quão mercenária se sentia apenas por considerá-lo. Mas já não mais. Que tipo de mundo eraesse que um menino de oito anos se preocupava com capturar um peixe, não por esporte, a não serpara poder encher os estômagos de suas irmãs?

Elizabeth jogou os ombros para trás e partiu para a porta.

—Susan— disse asperamente, —posso falar um momento contigo? Jane e Lucas trocaramolhadas.

—Vai brigar com ela porque esqueceu de torrar o pão.

—Torradas cruas— disse Lucas turvamente, sacudindo a cabeça. —Isso é contrário à naturezado homem.

Elizabeth revirou os olhos enquanto saía. De onde tirava essas coisas?

Quando estavam a salvo, a uma distância segura, voltou-se para Susan e disse.

—O primeiro de tudo, não quero nenhuma menção do “caça de marido”, diante das crianças.

Susan levava o livro da senhora Seeton na mão.

—Então vais seguir seus conselhos?

—Não vejo que tenha outra escolha— murmurou Elizabeth. —Só me leia essas regras.

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Capítulo 3

Elizabeth resmungava para si mesma quando entrou no Dambury House aquela manhã. A bem daverdade, ela esteve resmungando para si mesma todo o caminho.

Prometera a Susan que tentaria pôr em prática os decretos da senhora Seeton com o novoadministrador de Lady Dambury, mas ela não via como poderia fazer isto sem romper o DecretoNúmero dois:

"Não procure nunca a um homem. Obrigue-o sempre a vir atrás de você."

Elizabeth supôs que esta era uma regra que ia ter que romper. Também se perguntava comoreconciliar os Decretos Três e Cinco, que eram:

"Nunca deve ser grosseira. Um cavalheiro necessita uma dama que seja o epítome da graça, adignidade e as boas maneiras."

E:

"Não converse nunca com um cavalheiro durante mais de cinco minutos. Se for você quemfinaliza a conversação, ele fantasiará com o que você poderia ter dito a seguir. Desculpe-se edesapareça, vá ao quarto toalete, se for necessário. Sua fascinação por você aumentará se elepensar que você tem outras possibilidades matrimoniais."

Isto era o que deixara a Elizabeth realmente aturdida. Pareceu-lhe que ainda se ela sedesculpasse, era bastante grosseiro finalizar uma conversação depois de só cinco minutos. E segundoa senhora Seeton, um cavalheiro necessitava uma senhora que nunca fosse grosseira. E isto, sem nemsequer começar a considerar todas as outras regras que Susan lhe gritara quando saiu de casa essamanhã. Seja encantadora. Seja doce. Deixe que ele seja quem fala. Não deixe que note que você émais esperta que ele.

Com todas estas tolices com as quais preocupar-se, Elizabeth se expôs rapidamente a ideia deconverter-se na senhorita Hotchkiss, uma velha solteirona, indefinidamente.

Quando entrou em Dambury House, encaminhou-se imediatamente ao salão, como era seucostume. Lady Dambury estava ali, sentada em sua cadeira favorita, rabiscando a correspondência eresmungando para si mesma enquanto o fazia. Malcolm estava estirado sobre um amplo batente.Abriu um olho, julgou a Elizabeth indigna de sua atenção, e voltou a dormir.

—Bom dia, Lady Dambury— disse Elizabeth com uma inclinação de cabeça. —Quer que eu faça

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isso por você? —A senhora Dambury sofria de dor nas articulações, e Elizabeth com frequênciaescrevia a correspondência para ela.

Mas Lady Dambury apenas empurrou o papel em uma gaveta.

—Não, não, não faz falta. Meus dedos se sentem bastante bem esta manhã. —Dobrou-os e osagitou no ar para Elizabeth, como uma bruxa jogando algum tipo de sortilégio.—Vê?

—Me alegro que se encontre tão bem— respondeu Elizabeth vacilante, perguntando-se seacabava de ser enfeitiçada.

—Sim, sim, um dia muito bom. Muito bom em efeito. A condição de que, certamente, não comecea me ler a Bíblia outra vez.

—Não sonharia fazê-lo.

—Realmente, há algo que pode fazer para mim. Elizabeth arqueou suas loiras sobrancelhasinterrogante.

—Preciso ver meu novo administrador. Trabalha em um escritório adjacente aos estábulos.Poderia trazê-lo aqui?

Elizabeth conseguiu se impedir no ultimo segundo de ficar com a boca aberta. Estupendo!

Conseguiria ver o novo administrador e não teria que romper o Decreto Número dois ao fazê-lo.

Bem, tecnicamente supôs que ia buscá-lo, mas em realidade não contava já que lhe ordenarafazê-lo assim sua patroa.

—Elizabeth! — disse Lady Dambury em voz alta. Elizabeth piscou.

—Sim?

—Preste atenção quando te falo. É bastante descortês por sua parte sonhar acordada. Elizabethnão pôde evitar uma careta ante a ironia. Ela não fantasiava a cinco anos. Uma vez sonhou com oamor e o matrimônio, e ir ao teatro, e viajar a França. Mas todos estes sonhos se detiveram quandoseu pai morreu e suas novas responsabilidades deixaram óbvio que seus pensamentos secretos erammeros sonhos impossíveis, destinados a não realizar-se nunca.

—Sinto-o terrivelmente, milady— disse.

Os lábios de Lady Dambury se franziram de tal modo que Elizabeth soube que não estavarealmente zangada.

—Simplesmente traga-o— disse Lady D.

—Imediatamente— disse Elizabeth afirmando com a cabeça.

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—Ele tem o cabelo castanho e olhos negros e é bastante alto. Assim já sabe a quem procurar.

—Ah, conheci senhor Siddons ontem. Tropecei com ele quando partia a casa.

—Sim? —Lady Dambury a olhou perplexa. —Ele não mencionou nada. Elizabeth inclinou acabeça confusa.

—Por que razão o faria? Certamente não terá efeito sobre seu emprego aqui.

—Não. Não, suponho que não. —Lady Dambury franzia a boca outra vez, como se estivesseconsiderando algum enorme e irresoluto problema filosófico. —Vá até ele então. Requererei suacompanhia uma vez que tenha terminado com o J... er..., o senhor Siddons. Ah, e enquanto consultocom ele, pode ir e me trazer meu bordado.

Elizabeth sufocou um gemido. A ideia da senhora Dambury de bordar consistia em olhar comoElizabeth bordava e lhe dar copiosas instruções enquanto fiscalizava o trabalho. E Elizabeth odiavabordar. Ela já tinha costura mais que suficiente em casa, com toda a roupa que precisava ser cerzida.

—A capa de travesseiro verde, parece-me, não a amarela—acrescentou Lady Dambury.Elizabeth assentiu distraidamente e partiu para a porta.

—Seja única — sussurrou para si mesma, —mas não muito única. —Sacudiu a cabeça.

O dia que ela entendesse o que isso significava seria o dia que o homem caminharia pela lua. Emoutras palavras, nunca.

Quando chegou à área dos estábulos, repetiu as regras a si mesma ao menos dez vezes cada umae tinha a cabeça tão turvada com todas elas que de boa vontade teria empurrado à senhora Seeton poruma ponte se a senhora em questão estivesse no local. Certamente não havia nenhuma ponte no local,de toda forma, mas Elizabeth preferiu passar por cima aquele ponto.

O escritório e o lar do administrador era uma construção situada diretamente à esquerda dosestábulos. Era uma pequena casinha de campo de três ambientes com uma pesada chaminé de pedra eum teto coberto com palha. A porta de rua se abria a uma pequena sala, com um dormitório e umescritório na parte de trás. O edifício tinha uma aparência limpa e ordenada, o que Elizabeth supôsfazia sentido, já que uma das obrigações dos administradores era se preocupar da boa manutenção deedifícios. Permaneceu de pé ante a porta durante aproximadamente um minuto, respirandoprofundamente várias vezes e recordando-se que ela era uma jovem razoavelmente atraente e deaparência agradável. Não havia nenhuma razão pela qual este homem, em quem ela não estavainteressada, em realidade devesse desdenhá-la.

Era engraçado, pensou Elizabeth ironicamente, que ela nunca anteriormente tivesse se sentidoinquieta ao conhecer gente nova. Tudo isto era culpa dessa maldita caça de marido e desse livro

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duplamente maldito.

—Poderia estrangular à senhora Seeton—resmungou ela enquanto levantava a mão para bater naporta. —De fato, poderia fazê-lo facilmente.

A porta não estava fechada corretamente e se abriu de repente uns centímetros quando Elizabetha golpeou. Chamou em voz alta.

—Senhor Siddons? Está você aí? Senhor Siddons? Nenhuma resposta.

Empurrou a porta que se abriu uns quantos centímetros mais e colocou um pouco a cabeça.

—Senhor Siddons?

O que devia fazer agora? Evidentemente não estava em casa. Elizabeth suspirou, apoiando oombro esquerdo contra o marco da porta enquanto sua cabeça se deslizava por inteiro no quarto.Supôs que ia ter que ir procurá-lo, e o céu sabia onde podia estar. Era uma propriedade bastantegrande, e não se sentia particularmente excitada ante a perspectiva de explorá-la por inteiroprocurando o errante senhor Siddons, nem sequer embora o necessitasse desesperadamente para pôrem prática os decretos da senhora Seeton.

Enquanto estava ali parada, deixou seus olhos vagar sobre o conteúdo do quarto. Ela estevedentro da pequena casinha de campo antes e sabia que objetos pertenciam a Lady Dambury. Nãoparecia que o senhor Siddons houvesse trazido muitos pertences com ele. Somente uma pequenabolsa de viagem no canto, e... Elizabeth ofegou. Um pequeno livro vermelho. Justo ali, sobre a mesado fundo. Como diabos conseguira o senhor Siddons uma cópia de Como casar-se com umMarquês? Não podia imaginar que esta era o tipo de livro que um homem comprava em uma livraria.Com a boca aberta da surpresa cruzou o quarto a passo longos e rapidamente agarrou o livro.

ENSAIOS de Francis Bacon? Elizabeth fechou os olhos e amaldiçoou. Deus querido, estavaobcecada. Pensava que via esse pequeno livro estúpido detrás de cada canto.

—Estúpida, estúpida, estúpida, resmungou ela, voltando-se rapidamente para deixar o livrosobre a mesa. —A senhora Seeton não sabe tudo. Precisa parar. Ow!

Uivou quando sua mão direita se chocou com a lanterna de cobre apoiada sobre a mesa.

Agarrando o livro com sua mão esquerda, sacudiu a direita, tentando mitigar a aguda dor.

—Ah ah ah ah ah! —Grunhiu.

Isto era pior que golpear um dedo do pé, e o Senhor sabia que ela tinha suficiente experiêncianisso. Fechou os olhos e suspirou.

—Sou a moça mais tola de toda a Inglaterra, a cabeça de vento maior de toda Grã-Bretanha.

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Ouviu um rangido.

Elevou a cabeça. O que era isso? Tinha soado como um pé pisando em seixos soltos. E haviaseixos fora da casinha do administrador.

—Quem está aí? —chamou, com uma voz que soou bastante estridente a seus ouvidos. Nenhumaresposta.

Elizabeth estremeceu, mau sinal, considerando que foi um mês inoportunamente quente. Elanunca acreditara na intuição, mas definitivamente algo ia mau.

E Elizabeth temeu que seria ela a única que sofreria as consequências.

James passou a manhã montando a cavalo pela propriedade. Ele a conhecia de cima abaixo,certamente; quando era um menino ele passou mais tempo aqui, em Dambury House, que em suaprópria casa, Riverdale Castle. Mas se devia continuar com sua farsa como o novo administrador,precisava inspecionar as terras.

Era um dia quente e quando finalizou seu passeio de três horas, suas sobrancelhas estavammolhadas pela transpiração e sua camisa de linho se aderia a sua pele. Um banho teria sido perfeito,mas em sua condição de administrador não tinha direito a ordenar que os criados de Dambury Houselhe enchessem uma tina, assim teria que conformar-se refrescando-se com a bacia de água que tinhaem seu dormitório.

Não esperava encontrar a porta de sua casinha de campo aberta.

Ajustou seu passo para fazer suas pegadas tão silenciosas como foi possível e se aproximou daporta. Olhando atentamente dentro, viu as costas de uma mulher. A acompanhante de tia Agatha, seseu pálido cabelo loiro e sua pequena figura serviam de indicação.

Ele se sentiu intrigado por ela no dia anterior. Não dera conta de quanto até este momento, emque a via inclinada sobre sua cópia dos ENSAIOS de Francis Bacon.

Francis Bacon? Para alguém ser uma ladra, tinha uns gostos bem intelectuais quanto a leitura.

Olhá-la era quase hipnótico. Seu rosto estava de perfil, e seu nariz se enrugou de uma formamuito divertida enquanto ela examinava o livro. Sedosos fios de cabelo loiro escaparam de sua toucae se frisavam sobre seu pescoço. Sua pele parecia cálida.

James conteve o fôlego, tentando não fazer caso do calor que se enroscava em seu ventre.Inclinou-se tanto como pôde sobre o marco da porta sem delatar-se. Que demônios estava dizendo amoça? Obrigou-se a concentrar-se em sua voz, o que não era fácil, já que seus olhos seguiampercorrendo a suave curva de seus seios, e aquele ponto em sua nuca onde...

James se beliscou. A dor geralmente atuava como um antídoto contra a necessidade de beijar a

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alguém.

A senhorita Hotchkiss murmurava algo, e soava bem zangada.

—...estúpida...

James estava de acordo com isso. Revistar seu quarto a plena luz do dia não era um movimentomuito inteligente por sua parte.

—...senhora Seeton...

Quem demônios era essa?

—Ow!

James olhou mais de perto. Ela sacudia a mão e fulminava com o olhar a sua lanterna. Teve quesorrir. Parecia tão furiosa que ele não se surpreenderia se a lanterna tivesse explodidoespontaneamente em chamas. E deixava escapar alguns gemidos de dor que causavam estranhosespasmos a seu estômago. Seu primeiro instinto foi precipitar-se a ajudá-la. Seguia sendo umcavalheiro, depois de tudo, sob qualquer disfarce que tivesse escolhido. E um cavalheiro sempre iaajudar a uma mulher ferida.

Mas vacilou. Ela não estava gravemente ferida depois de tudo, e que demônios fazia ela em suacasinha de campo, de todo modo? Poderia ser ela a chantagista?

E se fosse, como podia saber que ele estava aqui para investigar? Porque se ela não estavainvestigando a ele, por que revistava seus pertences? As boas garotas, do tipo que trabalhavam comoacompanhantes de idosas condessas, não faziam aquele tipo de coisas.

Certamente ela podia não ser mais que uma pequena ladra, esperando que o novo administradorfosse um cavalheiro vindo ao menos com algumas pequenas relíquias de família em seu poder. Umrelógio, uma pequena peça de joalheria de sua mãe, o tipo de coisa que um homem fosse resistente aseparar-se, ainda se suas circunstâncias o tivessem obrigado a procurar emprego.

Ela fechou os olhos e suspirou, virando-se.

—Sou a moça mais tola de toda a Inglaterra, a cabeça de vento maior de toda Grã-Bretanha.James se aproximou mais, arqueando o pescoço enquanto tentava captar todas suas palavras.

Ouviu um rangido.

—Maldição—articulou James silenciosamente, movendo-se rapidamente de modo que suascostas ficassem pressionadas contra a parede exterior da casinha de campo. Fazia anos que não davaum passo tão descuidado.

—Quem está aí? —chamou ela.

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Ele já não podia ver se tinha se movido muito longe da porta. Mas soava cheia de pânico. Comose fosse correr a qualquer momento.

James correu, situando-se rapidamente a meio caminho entre os estábulos e a casinha de campo.Quando ouvisse a acompanhante de tia Agatha sair da casinha, começaria a caminhar para a casa, adescoberto, olhando a um e outro lado como se acabasse de chegar. Uns segundos depois, ouviu oestalo da porta fechando-se. Uns passos seguiram ao som, e James entrou em cena.

—Bom dia, senhorita Hotchkiss—saudou-a em voz alta, seus largos passos o situaram justo emfrente dela.

—Ah! —grasnou Elizabeth, dando um salto. —Não o vi. James sorriu.

—Peço-lhe perdão se a assustei.

Elizabeth agitou a cabeça, suas faces começaram a tornar-se rosadas.

James pressionou um dedo contra sua boca para ocultar um triunfante sorriso. Ela era culpada dealgo. Um rubor assim não surgia sem motivo.

—Não, não, está bem—gaguejou ela. —Eu, ah, eu, em realidade deveria aprender a olhar poronde vou.

—O que lhe traz por aqui? —perguntou-lhe James. —Tinha a impressão de que a maior parte desuas obrigações requeriam sua presença na casa.

—Faço-o. Quero dizer, fazem-no. Mas em realidade me enviaram para lhe buscar. LadyDambury gostaria de falar com você.

Os olhos do James se estreitaram. Não duvidou da moça; obviamente era muito inteligente paramentir sobre algo que poderia ser facilmente comprovado. Mas por que, então, revistara sua casa?

O bate-papo podia lhe revelar algo. E pelo bem de sua tia, ele precisava averiguar o que. Eleteve que interrogar anteriormente a mulheres, e sempre era capaz de lhes surrupiar o que precisavasaber. De fato, seus superiores no Ministério de Defesa brincavam frequentemente de queaperfeiçoara a arte de interrogar às mulheres.

As mulheres chegou à conclusão fazia tempo, eram de natureza diferente dos homens. Eles erambasicamente introvertidos. Tudo que alguém precisava fazer era perguntar a uma mulher sobre elamesma, e provavelmente contaria sua vida por completo. Havia uma ou duas exceções a esta regra,certamente, Lady Dambury, por exemplo, era uma, mas...

—Vai algo mal? —perguntou a senhorita Hotchkiss.

—Desculpe?

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—Estava tão calado—indicou ela, mordendo logo o lábio.

—Simplesmente distraído, —mentiu James. —Confesso que não posso pensar em por que LadyDambury requer minha presença. A vi a primeira hora esta manhã.

Elizabeth abriu a boca, mas não tinha nenhuma resposta.

—Não sei, — disse finalmente. —Tenho descoberto que é melhor não se perguntar pelosmotivos de Lady Dambury. Esgota-me o cérebro tentar entender como trabalha sua mente.

James riu entre dentes a seu pesar. Não queria que gostasse desta moça, mas ela pareceu encarara vida com estranha graça e humor. E certamente descobriu o melhor modo de tratar com sua tia.

—Aceite a tudo o que diga e faça o que você quer—isso sempre funcionara com ele.

James estendeu o braço, e se dispôs a encantá-la até que lhe revelasse todos seus segredos.

—Acompanhar-me-á à mansão? É obvio, sempre que não tenha nada mais que fazer aqui fora.

—Não.

James elevou as sobrancelhas interrogante.

—Quero dizer que não, não tenho nada mais que fazer. —Elizabeth sorriu fracamente. —E sim,estaria encantada de lhe acompanhar.

—Excelente— disse James suavemente. —Não posso esperar a aprofundar nossa relação.Elizabeth respirou profundamente enquanto deslizava seu braço no dele. Ela metera o pé com suaúltima declaração, mas pelo resto, pensou que se manteve às regras da senhora Seeton comadmirável diligencia. Inclusive as tinha arrumado para fazer sorrir ao senhor Siddons, o qualprecisava figurar em alguma parte daqueles decretos. E se não figurava, deveria fazê-lo.

Certamente os homens apreciavam a uma mulher que sabia como dar uma resposta engenhosa.

Elizabeth franziu o cenho. Possivelmente isto ficava incluído na parte de ser única...

—Parece bastante séria— disse James.

Elizabeth deu um salto. Maldição! Precisava manter a mente enfocada neste cavalheiro. Nãodizia em alguma parte do livro algo sobre emprestar a um cavalheiro completa atenção? Teria que serdurante cinco minutos, antes que alguém cortasse a conversação, certamente.

—Quase—continuou ele, —como se estivesse profundamente concentrada em algo. Elizabethquase gemeu em voz alta. Era muito para que seu encanto aparecesse com facilidade. Ela não estavamuito segura de como isto se aplicava à presente situação, mas estava bastante segura que, realmente,não devia dar a impressão de que seguia uma guia.

—Certamente—prosseguiu o senhor Siddons, obviamente inconsciente de sua angústia, — eu

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sempre achei que as mulheres sérias eram as mais fascinantes.

Podia fazê-lo. Ela sabia que poderia. Era uma Hotchkis, caramba, e poderia fazer tudo secolocasse seu empenho nisso. Precisava encontrar um marido, mas mais importante ainda, primeiroprecisava aprender a encontrar marido. E quanto ao senhor Siddons, pois estava à mão, e talvez fosseum pouco desumano usá-lo como cobaia, mas uma mulher precisa fazer o que uma mulher precisafazer. E ela era uma mulher desesperada.

Girou, com um brilhante sorriso em seu rosto. Ia encantar a este homem até que... até que... bem,até que ele estivesse encantado. Abriu a boca para deslumbrá-lo com algum comentário inteligente esofisticado, mas antes que ela pudesse sequer formar um som, ele se inclinou mais perto, seus olhosquentes e perigosos, e disse:

—Sinto-me insuportavelmente curioso sobre este sorriso.

Elizabeth piscou. Se não estivesse segura de que era impossível, teria pensado que ele tentavaencantá-la. Não, pensou ela, com uma sacudida mental de cabeça. Era impossível. Ele mal aconhecia, e embora ela não fosse a moça mais feia de todo Surrey, tampouco não era nenhuma sereia.

—Peço-lhe perdão, senhor Siddons— disse ela encantadoramente.—Como você, sou propensa ame perder em meus próprios pensamentos. E certamente não quis ser grosseira.

Ele negou com a cabeça.

—Não foi grosseira.

—Mas, você... —O que leu Susan no livro? Convide sempre a um homem a falar dele mesmo.Os homens estavam basicamente abstraídos em si mesmos.

—Senhorita Hotchkiss?

Ela clareou a garganta e estampou outro sorriso em seu rosto.

—Correto. Bem, veja, eu em realidade me perguntava sobre você. Houve uma breve pausa, elogo ele disse: —Sobre mim?

—Certamente. Não é todo dia que temos uma pessoa nova aqui, em Dambury House. De onde évocê?

—Daqui e ali— respondeu James evasivamente. —Ultimamente, Londres.

—Que excitante— respondeu ela, tentando manter sua voz apropriadamente emocionada. Elaodiava Londres. Era suja, fedorenta e abarrotada. —E sempre foi um administrador de imóveis?

—Não— disse ele devagar. —Não há muitas grandes propriedades rurais em Londres.

—Oh, sim—resmungou ela. —Certamente.

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Ele inclinou a cabeça e a olhou fixa e calidamente.

—Você viveu sempre aqui? Elizabeth assentiu.

—Minha vida inteira. Não posso imaginar viver em outro lugar. Não há nada, realmente, tãoencantador como o campo inglês na primavera. E certamente não pode... —Ela se deteve.

Ela, supunha-se, não devia falar de si mesma.

Os instintos de James saltaram, alerta. O que esteve a ponto de dizer? Ela bateu suas pestanas.

—Mas você não quer saber sobre mim.

—Ah, mas sim quero— respondeu ele, obsequiando-a com seu mais intenso e ardente olhar. Asmulheres gostavam que as olhassem fixamente.

Não esta mulher, pelo visto. Ela sacudiu a cabeça e tossiu.

—Acontece algo? —perguntou ele.

Ela negou com a cabeça rapidamente, mas parecia como se acabasse de engolir uma aranha.Então, e embora não fizesse sentido, ele poderia jurar que o viu, ela endireitou seus ombros como sepreparasse para enfrentar a alguma horrível tarefa, e disse com uma doçura impossível:

—Estou segura de que você levou uma vida muito mais interessante que a minha, senhorSiddons.

—Ah, mas estou seguro que isso não é verdade.

Elizabeth clareou a garganta, tentada a bater o pé contra o chão pela frustração. Isto nãofuncionava absolutamente. Supunha-se que os cavalheiros preferiam falar deles mesmos, e tudo o queele fazia era perguntar sobre ela. Elizabeth tinha a rara impressão que ele jogava a algum tipo dejogo com ela.

—Senhor Siddons— disse, esperando ter sido capaz de eliminar todo rastro de frustração de suavoz, —vivi em Surrey desde que nasci. Como poderia ter sido minha vida mais interessante que asua?

Ele estendeu a mão e lhe roçou o queixo.

—De algum jeito, senhorita Hotchkiss, tenho o pressentimento de que você poderia me fascinarindefinidamente se você assim o escolhesse.

Elizabeth ofegou e logo deixou totalmente de respirar. Nenhum homem jamais a tocara dessaforma, e ela era, provavelmente, o pior tipo de desavergonhada por pensar assim, mas havia algoquase hipnótico no calor de sua mão.

—Você não crê? — sussurrou ele.

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Elizabeth se balançou por volta dele durante uns segundos eternos, e logo ouviu a voz da senhoraSeeton, que, a propósito, soava notavelmente como Susan, em sua cabeça.

“Se for você quem finaliza a conversação, ele fantasiará sobre o que poderia haver dito depois”.

Assim Elizabeth, que nunca havia sentido a embriagadora felicidade de saber a um homeminteressado, voltou a endireitar a coluna pela segunda vez essa manhã e disse com notável firmeza.

—Realmente devo ir, senhor Siddons.

Ele negou com a cabeça devagar, sem afastar nunca seus olhos de seu rosto.

—Quais são seus interesses, senhorita Hotchkiss? —perguntou-lhe. —Suas afeições? Suasinquietações? Você me parece uma senhorita extraordinariamente inteligente.

Ah, definitivamente estava enrolando-a. Não a conhecia tempo suficiente para haver formadouma opinião sobre seu intelecto. Seus olhos se entrecerraram. Queria saber o que lhe interessava,verdade?

Bem, então, o diria.

—O que realmente eu gosto— disse ela com os olhos muito abertos e brilhantes, —é cultivarmeu pomar.

—Seu pomar? —ele engasgou.

—Oh, sim. Nossa primeira colheita deste ano é de nabos. Muitos nabos. Gosta dos nabos?

—Nabos? —repetiu ele.

Ela assentiu energicamente com a cabeça.

—Nabos. Alguns os acham aborrecidos, bastante insípidos, em realidade, mas é o tubérculomais fascinante que jamais encontrará.—James olhou alternativamente a um e outro lado procurandouma via de escape. De que demônios falava esta moça? —Cultivou alguma vez nabos?

—Ah... não, nunca.

—É uma pena— disse ela com grande sentimento. —A gente pode aprender muito sobre a vidados nabos.

A cabeça de James avançou um pouco com incredulidade. Isto precisava ouvi-lo.

—De verdade? E o que, me conte, pode alguém aprender?

—Uh...

Sabia. Ela o estava enganando. O que estava tramando? Ele sorriu inocentemente.

—Dizia você?

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—Diligência! —exclamou ela. —A gente pode aprender muito sobre a diligência.

—De verdade? E como é isso? Elizabeth suspirou dramaticamente.

—Senhor Siddons, se tiver que perguntá-lo, então, temo, não entenderá nunca.—enquanto Jamestentava digerir aquela declaração, ela gorjeou. —Oh, olhe, já estamos de volta a Dambury House.Por favor diga a Lady Dambury que estarei no jardim de rosas se por acaso me necessita.

E logo, sem nem sequer despedir-se, escapou.

James permaneceu ali, de pé, durante um momento, tentando encontrar sentido ao que devia tersido a conversação mais estranha de toda sua vida. E quando se deu conta, a sombra dela dobrava aesquina do edifício.

Um jardim de rosas, uma ova. A maldita moça estava à espreita à volta da esquina, aindaespiando-o. Averiguaria o que ela tramava, mesmo que fosse a última coisa que fizesse.

Dez horas mais tarde, Elizabeth arrastou seus cansados pés através da porta da casinha dosHotchkiss. Susan a esperava, o que era pouco surpreendente, sentada sobre o primeiro degrau daescada do fundo, com, Como casar-se com um Marquês, ainda agarrado em sua mão.

—O que aconteceu? —exclamou Susan, ficando de pé de um salto. —Conta-me tudo! Elizabethlutou contra o impulso de sofrer um colapso devido a um ataque de mortificante risada.

—Oh, Susan— disse Elizabeth, com um lento assentimento. —Dominamos o Decreto NúmeroUm. Ele, definitivamente, pensa que sou única.

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Capítulo 4

—Não faz um dia precioso?

Elizabeth olhou através da mesa de café da manhã o alegre rosto de sua irmã. O sorriso da Susansó era eclipsada pelo sol, que prometeu outro dia de extraordinário bom tempo.

—Não é? —insistiu Susan.

Elizabeth simplesmente a ignorou e seguiu apunhalando seu pãozinho com uma faca.

—Se não for comer, posso fazê-lo eu? —perguntou Lucas.

Elizabeth começou a empurrar seu prato através da mesa.

—Espera! Eu quero um pouco, também—pediu Jane.

Elizabeth retirou o prato, partiu pela metade os restos do brutalmente tratado pãozinho, eempurrando-o de novo se recostou.

—Está bastante resmungona esta manhã— disse Jane enquanto agarrava sua parte.

—Sim. Sim estou.

Como se de uma coreografia se tratasse, os três Hotchkiss mais jovens retrocederam e trocaramolhares. Era raro que Elizabeth ficasse de mau-humor, mas quando ela estava assim...

—Acredito que sairei fora a brincar— disse Lucas, levantando-se tão rapidamente que derrubousua cadeira.

—E eu acredito que vou contigo— disse Jane, empurrando o resto do pãozinho em sua boca. Asduas crianças saíram disparadas pela porta da cozinha. Elizabeth cravou um olhar bastante insolenteem direção a Susan.

—Eu não vou a nenhuma parte— disse Susan. —Temos muito do que falar.

—Possivelmente não notaste que não estou de humor para conversar? —Elizabeth pegou suaxícara de chá e lhe deu um gole. Estava morno. Deixou a xícara na mesa e pôs mais água a esquentarsobre o fogão.

Ontem foi um fiasco total. Um completo desastre. No que esteve pensando? Supunha-se quedeveria estar praticando suas habilidades sociais e em troca ela se dedicou a conversar sobre nabos.

Nabos! Ela odiava os nabos.

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Tentou se dizer que não teve outra opção. Havia mais no senhor Siddons do que se via a primeiravista, e ele, claramente, esteve praticando seu próprio jogo com ela. Mas nabos? Por que teve elaque escolher os nabos? E por que dissera que tinham algo que ver com a diligência? Meu Deus!Como poderia explicar isso?

Ele, provavelmente, já teria falado a toda Dambury House sobre sua estranha fascinação com ocultivo de raízes comestíveis. Quando ela chegasse ao trabalho essa manhã, a história, certamenteteria circulado dos estábulos à cozinha e mais. Todos estariam rindo dela. E embora poucoimportasse a perda do senhor Siddons como um fingido marquês, ia ter que trabalhar com o homemdurante meses, anos talvez! E ele provavelmente pensava que ela estava louca.

Elizabeth deu um passo em direção à escada.

—Vou ficar doente.

—Oh, não, não o fará! —exclamou Susan, deslizando-se ao redor da mesa e agarrando o braçoda Elizabeth. —Vai a Dambury House esta manhã mesmo que acabe contigo.

—Acabará comigo. Me acredite.

Susan plantou sua mão livre em seu quadril.

—Nunca pensei que fosse uma covarde, Elizabeth Hotchkiss. Elizabeth liberou seu braço efulminou com o olhar a sua irmã.

—Não sou uma covarde. Só que sei quando é uma batalha perdida. E acredite, esta tem Waterlooescrito por toda parte.

—Ganhamos em Waterloo—indicou Susan com um sorriso satisfeito.

—Esta vez somos os franceses—exclamou Elizabeth. —Digo-te que o senhor Siddons não é umaboa opção.

—O que tem de mau nele?

—O que tem de mau nele? O que tem de mau nele? —A voz de Elizabeth se elevou pelafrustração. —Não há nada mau nele. Tudo está mal com ele.

Susan coçou a cabeça.

—Possivelmente é minha tenra idade, ou possivelmente que meu cérebro não está tãodesenvolvido como o teu.

—Oh, por favor, Susan.

—Mas não tenho nenhuma ideia do que está falando. Se não há nada mau nesse homem...

—Esse homem é perigoso. Jogava comigo.

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—Está segura?

—Seduziu a centenas de mulheres. Estou segura disso.

—Um administrador de imóveis? —perguntou Susan suspeitosamente. —Não são geralmentebaixos e gordos?

—Este é tão bonito como o pecado. Ele...

—Tão bonito como o pecado? De verdade? —Os olhos da Susan se abriram como pratos. —Que aspecto tem?

Elizabeth fez uma pausa, tentando não ruborizar quando o rosto do senhor Siddons flutuou em suamente. O que tinha aquele homem que era tão irresistível? Algo sobre sua boca, possivelmente.

Seus lábios sutilmente moldados tinham tendência a torcer-se ligeiramente, como se tivessem achave de uma brincadeira secreta. Ou possivelmente, talvez eram seus olhos. Em realidade eram umacor castanha bastante normal, da mesma cor que seu cabelo, e deveriam ter parecido ordinários, maseram tão profundos, e quando a olhavam, sentia-se...

—Elizabeth?

Quente. Ela se sentia quente.

—Elizabeth?

—O que? —ela perguntou distraidamente.

—Que aspecto tem?

—Oh. Ele? Oh, Deus, como posso descrevê-lo? Ele tem aspecto de homem.

—Muito descritivo— disse Susan em tom de brincadeira. —Me recorde de te aconselhar quenunca procure trabalho como escritora.

—Não poderia inventar, possivelmente, uma história mais ridícula que a que estou vivendoagora mesmo.

Susan ficou séria.

—De verdade que estamos tão mal?

—Sim— disse Elizabeth com um suspiro que constava de duas partes de frustração e uma deirritação. —Estamos quase a ponto de esgotar o dinheiro que nos deixo papai, e meu salário de LadyDambury não é suficiente para nos manter, sobretudo uma vez que o arrendamento da casinha finalize.Preciso me casar, mas o único homem disponível no distrito além do Fazendeiro Nevins é o novoadministrador de Lady D, e ele, além de ser muito bonito e perigoso e pensar que estoucompletamente louca, possivelmente não ganha o bastante para ser considerado como um candidato

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conveniente. Assim lhe pergunto—acrescentou, subindo a voz de tom e volume, —já que indicasteque não vou fazer uma fortuna como escritora, o que propõe que faça?

Cruzou os braços, bastante contente com seu discurso.

Susan se limitou a piscar e perguntou: —por que pensa ele que estas louca?

—Isso não importa—grunhiu Elizabeth. —O que importa é que estou metida em uma completaconfusão.

—Ante esta pergunta, — disse Susan com um lento e profundo sorriso, —tenho a resposta.Elizabeth viu que sua irmã procurava algo atrás de suas costas e sentiu que a cólera explodia em seuinterior.

—Ah, não, não te atreva a mostrar esse maldito livro outra vez. Mas Susan já tinha o pequenolivro vermelho aberto.

—Escuta isso— disse com excitação. —Decreto Número Dezessete...

—Já vamos pelo dezessete?

—Tranquila. Decreto Número Dezessete: "A Vida é só um ensaio até que você encontre aohomem com o qual se casará".—Susan assentiu de maneira entusiasta com a cabeça. —Vê?

Silêncio.

—Elizabeth?

—Brinca, verdade?

Susan olhou ao livro, e depois voltou a olhar a sua irmã.

—Nãoo— disse devagar, —eu...

—Me dê isso! —Elizabeth agarrou rapidamente o livro e leu:

"A vida é um mero ensaio até que encontre ao homem com o qual casar-se. Assim devepraticar todo o tempo, com qualquer homem com quem tropece. Não importa se não tiver intençãode casar-se com ele; deve ser tratado por você como se fosse um Marquês, porque se abandonar ohábito de seguir meus Decretos, esquecerá seu conteúdo quando finalmente encontrar umaverdadeira perspectiva matrimonial. Afine suas habilidades. Esteja preparada. Seu Marquês podeestar virando a esquina."

—Tornou-se completamente louca? —exigiu Elizabeth. —Isto não é um conto de fadas. Não hánenhum marquês virando a esquina. E francamente, acho tudo isto bastante insultante.

—Que parte?

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—Tudo. Escuta o que diz esta mulher, não tenho valor até que encontre um marido. É absurdo. Setão pouca importância tiver, então o que estive fazendo estes cinco anos? Como consegui manter aesta família junta? Certamente não fazendo girar meus polegares e esperando que algum amávelsenhor se dignará a casar-se comigo!

A boca da Susan se abriu silenciosamente surpresa. Finalmente disse.

—Não acredito que queria dizer...

—Sei que não quis. —Elizabeth interrompeu suas palavras, um pouco envergonhada pelaviolência de seu arrebatamento. —Sinto muito. Não quis... Por favor esquece o que disse.

—Está segura? —perguntou Susan com voz tranquila.

—Não é nada— disse Elizabeth rapidamente, dando a volta e olhando pela janela. Lucas e Janebrincavam no jardim. Imaginaram algum jogo que implicava um pedaço de tecido azul atado a um paue davam gritos de alegria.

Elizabeth tragou saliva, o amor e o orgulho transbordando em seu interior. Passando a mão pelocabelo e seus dedos pararam quando alcançou o alto de sua trança.

—Sinto muito—, disse a Susan.

—Não deveria ter sido tão mordaz contigo.

—Não me importa— disse Susan compassivamente. —estiveste sob muita pressão. Sei.

—É só que estou tão preocupada. —Elizabeth esfregou a testa. De repente se sentiu muitocansada e muito velha. —Do que me serve praticar minhas artimanhas com o senhor Siddons quandoaqui não há verdadeiras perspectivas de matrimônio?

—Lady Dambury tem convidados quase todo o tempo— disse Susan com voz alentadora. —Não? E me disse que todos seus amigos são ricos e com título.

—Sim, mas ela me concede meus dias livres então. Diz que não necessita de minha companhiaquando tem convidados na mansão.

—Simplesmente terá que encontrar uma forma de evitar isto. Inventa alguma razão para queprecise visitá-la então. E esta festa de final de mês? Não disse que sempre a convida a essesacontecimentos?

—Em realidade é um baile a fantasia. Disse-me isso ontem.

—É até mesmo melhor! Não sabemos o bastante para te costurar um traje de festa na moda, maspodemos fazer uma fantasia. Cada um se fantasia como quer.

Susan movia suas mãos animadamente enquanto falava, e durante um raro instante Elizabeth

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pensou que via a si mesma, aos quatorze anos quando pensava que tudo era possível, antes que seupai tivesse morrido e a tivesse abandonado com montanhas de responsabilidades, antes de morrer elevar a inocência de sua infância junto com ele.

—Somos tão parecidas, você e eu— disse ela em um pequeno sussurro.

Susan piscou.

—Perdão?

—Não é nada. Só... —Elizabeth fez uma pausa e deu a sua irmã um sorriso pensativo. —É sóque às vezes nossa semelhança me recorda a como estava acostumado a ser.

—E já não o é?

—Não, em realidade não. Só às vezes, um pouquinho, entretanto. —inclinou-se impulsivamente ebeijou a sua irmã na face. —Esses são meus momentos preferidos.

Susan piscou para ocultar algo que se parecia suspeitosamente a lágrima antes de assumir seuhabitual gesto sério.

—Temos que voltar para o assunto que temos em mãos. Elizabeth sorriu.

—Quase o esqueci.

—Quando—perguntou Susan com um impaciente suspiro, —espera os seguintes convidadosLady Dambury? Não para o baile de fantasias. Só convidados.

—Isso, oh— disse Elizabeth em tom grave. —Espera convidados para o final da semana.Acredito que vai ser uma pequena recepção ao ar livre. Mais uma reunião, realmente, que uma festaformal. Eu escrevi os convites.

—Quantos virão?

—Não mais de dez ou doze, acredito. É só para essa tarde. Estamos muito perto de Londres,depois de tudo, por isso eles podem fazer a viagem de ida e volta em um só dia.

—Deve assistir.

—Susan, não me convidaram!

—Certamente é só porque ela não acredita que aceitaria. Se lhe disser...

—Não vou mendigar um convite— disse Elizabeth apaixonadamente. —Tenho mais orgulho queisso.

—Não poderia simplesmente esquecer algo ali por acaso na sexta-feira? Então teria que voltarno sábado para recolhê-lo. —Susan tinha uma expressão que era mais esperançada que de

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convencimento. —Talvez lhe convidem a ficar.

—E não acredita que Lady Dambury o achará um pouco estranho? —mofou-se Elizabeth. — fuisua acompanhante durante cinco anos, e até agora não esqueci nunca nenhum de meus pertences.

—Possivelmente o faça. Possivelmente não. —Susan deu de ombros. —Mas não saberá até queo tente. E seguro que não encontrará marido aqui escondida durante todo o dia.

—Oh, muito bem— disse Elizabeth com grande relutância. —Farei. Mas só depois decomprovar a lista de convidados, e, além disso, só se estiver segura de que haverá um homemsolteiro entre os convidados. Não vou envergonhar-me diante de Lady Dambury só para descobrirque todos os seus convidados estão casados.

Susan aplaudiu alvoroçada.

—Excelente! E enquanto isso, deve praticar com o senhor...

—Não! — disse Elizabeth, elevando a voz. —Não o farei.

—Mas...

—Hei dito que não. Não perseguirei a esse homem.

Susan elevou as sobrancelhas inocentemente.

—Bem. Não há nenhuma necessidade de que o persiga. A senhora Seeton diz que se supõe queninguém deve fazer essa classe de coisas, de todos os modos. Mas se lhe encontrasse isso poracaso...

—Não é provável, já que decidi evitá-lo como se fosse uma praga.

—Mas no caso...

—Susan! —Elizabeth cravou um gelado olhar em sua irmã.

—Bom, bem. Mas se...

Elizabeth elevou uma mão.

—Nenhuma palavra mais, Susan. Vou a Dambury House agora mesmo, onde me ocuparei de LadyDambury, e unicamente de Lady Dambury. Expliquei-me com clareza?

Susan assentiu, mas obviamente não estava de acordo.

—Então, bom dia. Estou segura de que não terei nada do que informar quando voltar a casa.

—Elizabeth caminhou decidida até a porta da rua e a abriu de um puxão.—Hoje será um diaaborrecido.

Completa e malditamente aborrecido. Estou segura disso. De fato, provavelmente nem sequer

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verei o senhor Siddons nem de longe.

Estava equivocada. Muito, muito, muito equivocada. Ele a esperava na porta principal.

—Senhorita Hotchkiss— disse com uma voz tão amável que Elizabeth não confiou nela nem uminstante, —é um prazer vê-la de novo.

Elizabeth se encontrou presa entre o desejo de fugir da mansão e o impulso de apagar o confiadosorriso de seu rosto. Ganhou o orgulho. Ela elevou uma de suas loiras sobrancelhas em um arrogantegesto que aprendera de Lady Dambury e disse, bastante acidamente:

—É?

Uma comissura da boca de James se elevou, mas a gente não podia dizer que realmente fosse umsorriso.

—Não parece me acreditar.

Elizabeth deixou escapar um comprido suspiro entre os lábios franzidos. Que demônios,supunha-se que devia fazer agora? Jurou a si mesma que não ia praticar mais os decretos de Comocasar-se com um Marquês com este homem. Era evidente que estava muito versado na arte do flertepara ser enganado por alguma de suas patéticas tentativas.

E depois do fracasso dos nabos, ontem, ele provavelmente pensava que era uma completa idiota.Que pedira a seguinte questão: Que demônios queria então dela agora?

—Senhorita Hotchkiss—começou ele, depois de esperar em vão a que ela fizesse algumcomentário, —esperava que pudéssemos desenvolver algum tipo de amizade. Depois de tudo,trabalharemos juntos aqui em Dambury House durante algum tempo. E ambos ocupamos uma posiçãointermédia, similar a de uma instrutora, muito bem educados para nos mesclar com os criados, e nãoo suficiente para fazê-lo com a família.

Ela considerou suas palavras ou, para ser mais precisa, seu tom, que era de amistoso receio.Depois fez o mesmo com seu rosto, que parecia igualmente amável e afável. Exceto seus olhos.Havia algo à espreita naquelas profundidades de cor chocolate. Um pouco... experiente e conhecedor.

—Por que é tão amável comigo? —espetou-lhe. Ele se sobressaltou, soltando uma pequenatosse.

—Não estou seguro de saber o que quer dizer. Ela apontou com o dedo e o moveu devagar.

—Sei o que pretende, assim não tente me enganar.

Isto o fez arquear uma sobrancelha, o que a zangou, porque, evidentemente, dominava melhor queela a arte de parecer arrogante.

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—Desculpe?

—Você é encantador, já sabe.

Seus lábios se separaram ligeiramente, e logo, depois de um breve momento de silêncio, disse:

—Não encontro nada que dizer, exceto "obrigado."

—Não era um elogio.

—Mas poderia ter sido? —perguntou ele, brincando. Ela sacudiu a cabeça.

—Você quer algo de mim.

—Só sua amizade.

—Não, você quer algo, e tenta me enrolar para consegui-lo.

—Está funcionando?

—Não!

Ele suspirou.

—Lástima. Geralmente funciona.

—Admite, então?

—Suponho que devo fazê-lo. —Elevou suas mãos em um gesto de derrota. —Mas se quiser queresponda a suas perguntas, terá que me agradar e passear comigo durante uns minutos.

Ela negou com a cabeça. Ir a qualquer lugar sozinha com este homem era um grande engano.

—Não posso. Lady Dambury me espera. Ele abriu seu relógio de bolso.

—Não até dentro de um quarto de hora.

—E como sabe você isso? —exigiu ela.

—Possivelmente recorda que fui contratado para dirigir seus assuntos?

—Mas não é seu secretário. —Elizabeth cruzou os braços. —Os administradores de imóveis nãolevam a agenda de atividades de seus patrões.

Possivelmente o estava imaginando, mas seus olhos pareceram aumentar em ardor e intensidade.

—Sempre acreditei— disse ele, —que não há nada tão poderoso como a informação. LadyDambury é uma mulher exigente. Pareceu-me prudente estar informado de sua agenda cotidiana paranão interrompê-la.

Elizabeth apertou os lábios. Tinha razão, maldito homem! A primeira coisa que ela mesma fizeraao começar a trabalhar para Lady D foi aprender sua rotina.

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—Posso ver que está de acordo comigo, embora pouco disposta a me elogiar admitindo. Ela ofulminou com o olhar. Realmente, este homem estava além da arrogância.

—Venha, — disse simpaticamente. —Certamente pode perder uns minutos para ajudar a umrecém-chegado.

—Muito bem— respondeu Elizabeth, incapaz de negar-se quando ele expressou seu pedidocomo uma súplica de ajuda. Nunca foi capaz de dar as costas a alguém necessitado. —Passearei comvocê. Mas só tem dez minutos.

—Que dama mais generosa— murmurou ele, e a puxou pelo braço.

Elizabeth tragou quando sua mão se enroscou ao redor de seu cotovelo. Sentiu de novo essaestranha e entrecortada consciência que a envolvia sempre que ele estava perto.

E o pior era que ele parecia tão fresco e composto como sempre.

—Possivelmente poderíamos dar um curto passeio pelo Jardim de rosas? —sugeriu ele.

Ela assentiu, incapaz de dizer algo mais. O calor de sua mão se estendia por seu braço, e elaparecia inclusive ter esquecido como respirar.

—Senhorita Hotchkiss?

Tragou saliva e encontrou sua voz.

—Sim?

—Espero não tê-la feito sentir-se incômoda ao procurá-la.

—Absolutamente—grasnou ela.

—Bem— disse James, com um sorriso. —Simplesmente é que não sabia a quem mais recorrer.—Jogou-lhe uma olhada. Suas faces estavam deliciosamente rosadas.

Não falaram enquanto seus pés os levavam através do arco de pedra que conduzia ao jardim derosas. James a levou para a direita, para diante das famosas Rosas Escocesas de Dambury House,que floresciam em um brilhante desdobramento de rosa e amarelo. Ele se inclinou a cheirar uma,detendo um momento enquanto planejava como proceder a partir daqui.

Pensou nela toda a noite e parte da manhã. Ela era inteligente, e definitivamente tramava algo.Passou muito tempo desentranhando complôs secretos para saber quando uma pessoa atuavasuspeitosamente. E todos seus instintos lhe diziam que a senhorita Hotchkiss se comportou de ummodo pouco usual no dia anterior. A princípio lhe resultou estranho que pudesse ser a chantagista,depois de tudo, não podia ter muito mais de vinte anos. Certamente não era mais velha que Melissa,que tinha quase trinta e dois.

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Assim não podia ter conhecimento de primeira mão da aventura de Lady Dambury.

Mas vivera toda sua vida na região; o dissera ela mesma. Possivelmente seus pais o contaram.Os segredos podiam permanecer ocultos em um pequeno povoado durante anos. Sem mencionar que asenhorita Hotchkiss tinha livre acesso a Dambury House. Se Tia Agatha tivesse deixado qualquerprova incriminatória à vista, ninguém tinha maiores probabilidades de encontrar-se com isso que suadama de companhia. Não importava que caminho tomasse, todos conduziam à senhorita ElizabethHotchkiss. Mas se queria averiguar seus segredos, precisava conseguir que confiasse nele. Ou pelomenos, fazer que baixasse a guarda o bastante para deixar escapar alguma ocasional confidência porentre aqueles deliciosos lábios rosados. Pareceu-lhe que o melhor modo de conseguir isto era pedirsua ajuda. Este tipo de mulheres eram corretas e corteses além do dever. Não havia modo de que senegasse se lhe pedisse ajuda para conhecer e informar-se da vizinhança. Mesmo se ela fosse achantagista - e portanto de coração egoísta- ela precisava manter as aparências. A senhorita ElizabethHotchkiss, acompanhante da Condessa de Dambury, não podia permitir-se ser considerada como algomenos que uma dama cortês e amável.

—Possivelmente se deu conta de que sou novo no lugar—começou ele. Ela assentiu devagar,com olhos cautelosos.

—E você me disse ontem que viveu neste povoado toda sua vida...

—Sim...

Ele sorriu calidamente.

—Encontro-me na necessidade de uma espécie de guia. Alguém que me mostre os pontosturísticos. Ou, pelo menos, que me fale sobre eles.

Elizabeth piscou.

—Quer ver os pontos turísticos? Que pontos turísticos?

Maldição. Aí o tinha pego. Não é que o povoado transbordasse cultura e história.

—Possivelmente "os pontos turísticos" não foi a melhor escolha de palavras—improvisou ele.—Mas cada povoado tem suas próprias e pequenas peculiaridades, e se quero ser eficaz como oadministrador da propriedade maior do distrito, devo conhecer tais coisas.

—Isso é certo— disse ela, assentindo pensativamente. —Certamente, não sei com certeza o quevocê teria que saber, posto que nunca administrei uma propriedade. E alguém pensaria que vocêtampouco, posto que depois de tudo, nunca administrou uma antes.

Ele girou a cabeça bruscamente para olhá-la.

—Eu nunca disse isso. Ela deixou de andar.

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—Não o fez? Ontem você disse que era de Londres.

—Disse que não tinha administrado imóveis em Londres. Eu não disse que não havia feito issoantes.

—Já vejo. —Girou o rosto para ele e o olhou fixamente. —E onde administrou propriedades, senão foi em Londres?

Estava-o pondo a prova, a condenada menina, por que, não estava seguro, mas definitivamente oestava pondo a prova. Mas não ia deixar que o fizesse tropeçar. James Sidwell se introduziu em umpersonagem mais vezes das que podia contar, e não teve nunca nem um deslize.

—Buckinghamshire— disse. —É onde cresci.

—Ouvi que aquilo é muito formoso, — disse ela cortesmente. —por que partiu?

—Os motivos habituais.

—Quais são?

—Por que sente tanta curiosidade? Ela deu de ombros

—Sou muito curiosa. Pergunte a qualquer um. Ele fez uma pausa e arrancou uma rosa.

—São formosas, verdade?

—Senhor Siddons— disse ela, com um suspiro exagerado, —temo que há algo que não sabesobre mim.

James esticou o corpo, à espera de sua próxima confissão.

—Tenho três irmãos mais jovens.

Ele piscou. Que demônios tinha isso que ver?

—Daí—prosseguiu ela, sorrindo-lhe de tal modo que parecia que apenas mantinha umacorriqueira conversação para passar o tempo, —que seja bastante competente em reconhecer quandouma pessoa tenta fugir de uma pergunta. De fato, meus irmãos me qualificariam de alarmantementecompetente.

—Estou seguro disso—resmungou ele.

—Entretanto,—prosseguiu imperturbável —você não é um de meus irmãos, e evidentemente nãotem obrigação de compartilhar seu passado comigo. Todos temos direito a nossa privacidade.

—Er, sim— disse ele, perguntando-se se talvez ela não seria nada mais que o que aparentava,uma bonita e jovem senhorita rural.

Ela sorriu de novo.

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—Tem algum irmão, senhor Siddons?

—Eu? Não, nenhum. Por quê?

—Como o disse sou imensamente curiosa. A família de uma pessoa pode revelar muito sobre seucaráter.

—E o que revela sua família sobre seu caráter, senhorita Hotchkiss?

—Que sou leal, suponho. E que faria tudo por meu irmão e minhas irmãs.

Inclusive chantagem? Ele se inclinou para ela, apenas um centímetro, mas suficiente para fazerque seu lábio inferior tremesse. James sentiu uma primitiva satisfação ante isto. Ela ficou olhando-o,obviamente muito inexperiente para saber como dirigir a um depredador macho. Tinha uns olhosenormes, e do mais puro e profundo azul que James tivesse visto jamais.

Seu coração começou a pulsar mais rápido.

—Senhor Siddons? Sua pele ficou quente.

—Senhor Siddons?

Ia ter que beijá-la. Simplesmente. Era a ideia mais estúpida e pouco aconselhável que teve emanos, mas parecia que não havia nada que pudesse fazer para deter-se. Aproximou-se, cortando adistância entre ambos, saboreando por antecipação o momento que seus lábios conseguiriam posar-sesobre os dela, e...

—Eep!

Que demônios? Ela soltou algo parecido a um nervoso gorjeio e se afastou, com uma revoada debraços. E então escorregou... com o que?, James não sabia, já que a terra estava seca como o deserto,mas ela agitou os braços como uma louca para impedir de cair ao chão, e no processo o golpeou noqueixo. Com força.

—Ow! —uivou ele.

—Oh, o sinto! — disse ela rapidamente. —A ver, me deixe vê-lo. Pisou-lhe no pé.

—Ouch!

—Sinto muito, sinto muito. —Parecia terrivelmente preocupada, e normalmente ele teriasuportado isto com menos dramalhões, mas, caramba!, realmente lhe doía o pé.

—Estarei bem, senhorita Hotchkiss, Tudo o que preciso é que desça de cima de meu dedo do pé,e...

—Oh, o sinto! — disse ela, o que parecia pela centésima vez. Retrocedeu um passo. James fezuma careta quando flexionou os dedos do pé.

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—Sinto muito— disse ela. Ele estremeceu.

—Não diga outra vez.

—Mas...

—Insisto.

—Ao menos me deixe ver seu pé. —Ela se inclinou.

—Por favor, não o faça. —Havia poucas situações nas quais James considerava que eraapropriado suplicar, mas esta era uma delas.

—Bem— disse ela, endireitando-se. —Mas eu deveria...

Soou um golpe.

—Oh, minha cabeça! —grunhiu ela, esfregando a cabeça.

—Meu queixo! —mal pôde exclamar James.

Seus olhos azuis se encheram de preocupação e vergonha.

—Sinto muito.

—Excelente golpe, senhorita Hotchkiss— disse ele, fechando os olhos em sua agonia. — Justoonde me golpeou faz um momento com a mão.

Ouviu como ela tragava.

—Sinto muito.

E foi então quando ele cometeu seu fatal engano. Nunca mais manteria os olhos fechados perto deuma fêmea com propensão à estupidez, sem importar quão cativante ela fosse. Não sabia comoconseguiu, mas ouviu sua exclamação de surpresa, e logo depois de alguma maneira se chocou contraele, com todo o corpo, atirando-o ao chão.

Bem, acreditou que caíra ao chão.

Se tivesse imaginado que algo assim poderia lhe ocorrer, o normal era esperar aterrissar sobre ochão. Mas quando de fato lhe ocorreu, o que deveria ter feito era rezar por aterrissar sobre o chão.Teria sido bem mais agradável que fazê-lo sobre a roseira.

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Capítulo 5

—Sinto muito!

—Não diga isso—grunhiu James, tentando decidir que parte dele estava mais danificada.

—Mas é que o sinto! —lamentou-se ela. —Espere, me deixe lhe ajudar.

—Não—gritou ele freneticamente, prosseguindo em tom mais calmo, —não me toque. Por favor.

Elizabeth abriu a boca em um gesto de mortificante horror e começou a piscar rapidamente, e porum instante James pensou que ia chorar.

—Tudo está perfeito—obrigou-se a mentir. —Não estou ferido.—Ante seu incrédulo olhar,acrescentou: —Perfeito.

Ela tragou.

—Sou tão tola. Inclusive Susan se nega a dançar comigo.

—Susan?

—Minha irmã. Tem quatorze anos.

—Ah—ele disse, acrescentando entre dentes, —garota esperta. Ela mordeu o lábio inferior.

—Está seguro de que não quer que lhe ajude?

James, que esteve tentando desenredar-se discretamente de sua espinhosa prisão, finalmenteconfrontou a realidade de que em um combate entre ele e a roseira, esta última sairia vencedora.

—Vou lhe dar a mão—instruiu-a, mantendo um tom lento e calmo, —e então você vai me puxarpara cima e para fora. Está claro?

Ela assentiu.

—Não é para o lado, não é para frente, não...

—Está claro! —explodiu ela. Antes mesmo que ele tivesse possibilidade de reagir, agarrou-opela mão e o tirou da roseira.

James ficou olhando-a um instante, um pouco sobressaltado pela força que se escondia atrás desua pequena figura.

—Sou atrapalhada, — disse ela. —Não idiota.

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De novo, deixou-o mudo. Duas vezes em um minuto. Devia ser um novo record.

—Está ferido? —perguntou-lhe Elizabeth bruscamente, lhe tirando um espinho do peitilho dajaqueta e logo outra da manga. —Arranhou as mãos. Deveria ter colocado as luvas.

—Faz muito calor para usar luvas— murmurou James, olhando como lhe tirava mais espinhos.Devia ser completamente inocente nenhuma dama com um pouco de experiência, mesmo que só fossecom o flerte, estaria de pé tão perto de um homem, percorrendo com suas mãos seu corpo de cimaabaixo...

Muito bem, admitiu para si mesmo, estava deixando que sua imaginação e sua libidotransbordassem. Ela não estava exatamente movendo suas mãos de cima abaixo por seu corpo, masbem poderia estar fazendo pelo modo em que ele reagia. Estava tão perto. Só bastava estender a mãoe poderia tocar seu cabelo, sentir quão sedoso era em realidade, e... Oh, Deus, podia cheirá-la.

Seu corpo se endureceu em um segundo.

Ela retirou a mão e o olhou com seus inocentes olhos azuis.

—Fiz algo mal?

—Por que diz isso? —perguntou ele, com voz estrangulada.

—Ficou rígido.

James sorriu sem humor. Se ela soubesse...

Ela eliminou outro espinho, desta vez do colarinho de sua jaqueta.

—E para ser sincera, soa bastante estranho.

James tossiu, tentando ignorar a forma em que seus nódulos acariciavam acidentalmente suamandíbula.

—Engasguei-me— disse com voz áspera.

—Oh. —Ela se afastou e examinou seu trabalho. —Oh, Senhor, deixei uma. Ele seguiu seuolhar... para baixo, até sua coxa.

—Eu a tirarei— disse ele rapidamente. Ela ruborizou.

—Sim, será o melhor, mas...

—Mas o que?

—Há outra— disse ela, com uma embaraçosa tosse e assinalando com um dedo.

—Onde? —perguntou ele, só para fazê-la ruborizar um pouco mais.

—Aí. um pouco mais acima. —Assinalou-o com um dedo e deu meia volta, vermelha como uma

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beterraba.

James sorriu amplamente. Tinha esquecido quão divertido era fazer ruborizar a uma senhorita.

—Já está. Estou limpo de espinhos?

Ela se voltou, revisou-o, e assentiu com a cabeça.

—Realmente sinto terrivelmente sobre, ah, a roseira— disse com uma arrependida inclinação decabeça. —Sinto-o muitíssimo.

No instante em que James ouviu a frase "sinto muito" outra vez, teve que lutar contra o impulsode agarrá-la pelos ombros e sacudi-la.

—Sim, acredito que isso já ficou claro.

Uma de suas delicadas mãos se elevou até sua face com expressão de preocupação.

—Sei, mas arranhou o rosto, e realmente deveríamos lhe pôr um bálsamo, e... porque estáaspirando?

Tinha-o pegado.

—O fazia?

—Sim.

James lhe dedicou seu sorriso mais infantil.

—Cheira a rosas.

—Não— disse ela, com um sorriso divertido, —você cheira a rosas.

James começou a rir. Doía-lhe o queixo justo onde ela o golpeara duas vezes, seu pé palpitavano ponto onde ela caminhou por cima, e sentia todo o corpo como se tivesse nadado em uma roseira,o que não estava muito longe da verdade. E ainda assim seguiu rindo.

Olhou à senhorita Hotchkiss, que mordiscava o lábio inferior e o olhava de forma suspeita.

—Não me tornei louco, se for isso o que lhe preocupa— disse com um sorriso divertido, —embora eu gostaria de aceitar sua oferta de tratamento médico.

Ela assentiu energicamente com a cabeça.

—Cuidarei melhor de você lá dentro, então. Há um pequeno quarto perto da cozinha onde asenhora Dambury guarda os remédios. Estou segura de que haverá algum tipo de bálsamo ou loçãoque possamos aplicar em suas feridas.

—Você vai... ah... a ver... ah...

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—Seus arranhões? —terminou ela por ele, com os lábios curvados em um sorrisoautodepreciativo. —Não se preocupe, sou bastante hábil para curar esses arranhões sem provocar umdesenlace mortal. Limpei muito mais cortes e raspões dos que eu gosto de recordar.

—Seus irmãos são mais jovens que você, então? Ela assentiu.

—E aventureiros. Ontem mesmo Lucas e Jane me informaram que planejam construir umafortaleza subterrânea. —Soltou uma risada incrédula.—Disseram-me que preciso cortar nossa únicaárvore para prover as toras de madeira para escorá-la. De onde tiram estas ideias, não sabereijamais, mas... Oh, sinto muito. É muito grosseiro de minha parte falar sem parar de minha família.

—Não— disse James, surpreso pela rapidez de sua resposta. —Desfruto ouvindo-a falar de suafamília. Parecem encantadores.

Seus olhos se suavizaram, e James teve a impressão de que sua mente foi muito longe a algumlugar, a julgar por seu sonhador sorriso, que era muito, muito agradável.

—São— respondeu ela.—É obvio, brigamos e discutimos como todas as famílias, mas... Oh,veja. Estou fazendo outra vez. A única coisa que pretendia era lhe assegurar que tenho bastanteexperiência com feridas leves.

—Nesse caso— disse ele, animadamente, —confio completamente em você. Alguém que tenhacuidado de meninos pequenos é o bastante experiente para curar estas ínfimas feridas.

—Alegra-me ouvir que conto com sua aprovação— disse ela ironicamente. Ele estendeu a mão.

—Podemos declarar uma trégua? Amigos? Ela assentiu com a cabeça.

—Trégua.

—Bem. Então voltemos para a mansão.

Riam e conversavam enquanto abandonavam o jardim de rosas, e só quando James estava nametade do caminho a Dambury House, recordou que a considerava suspeita de chantagem. Elizabethempapou seu lenço no bálsamo de forte aroma.

—Isto pode arder um pouco—advertiu-lhe. O senhor Siddons sorriu amplamente.

—Acredito que sou suficientemente homem para não. Oww! O que leva isso?

—Eu disse que poderia arder um pouco.

—Sim, mas não me disse que tinha dentes. Elizabeth aproximou o pote até seu nariz e o cheirou.

—Acredito que contém um pouco de álcool. Cheira como brandy. Pode ser? Poriam brandy emalgo assim?

—Não, —resmungou ele, —a menos que essa gente quisesse fazer inimigos. Ela o cheirou outra

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vez e deu de ombros.

—Não posso assegurar. Poderia ser brandy. Ou possivelmente algum outro licor. Eu não fiz amescla.

—Quem a fez? —perguntou ele, olhando-a como se temesse a resposta.

—Lady Dambury. James gemeu.

—Temia isso.

Elizabeth o olhou com curiosidade.

—Por quê? Você mal a conhece.

—Certo, mas nossas famílias foram amigas durante anos. Acredite quando lhe digo que é umalenda entre a geração de meus pais.

—Oh, acredito. —Elizabeth riu. —É uma lenda entre minha geração. Tem a todos os meninos dopovoado atemorizados.

—Isso— disse o senhor Siddons com secura, —acredito.

—Não sabia que conhecia lady Dambury antes que o empregasse— disse ela, inundando o lençono bálsamo outra vez.

—Sim. Acredito—estremeceu quando lhe aplicou um pouco mais na sua testa—que foi por issopelo qual me contratou. Provavelmente pensou que eu seria de mais confiança que alguém enviadopor uma agência.

—Que estranho. O dia que você chegou, Lady Dambury me despediu cedo para poder revisar oslivros de contas e memorizar as cifras e assim estar segura de que não tentaria enganá-la.

James dissimulou um sorrisinho com uma tosse.

—Disse isso?

—Mmm-hum. —inclinou-se para diante, com os olhos entrecerrados de concentração enquantoexplorava seu rosto. —Mas não deve tomar como algo pessoal. Diria isso sobre qualquer um,inclusive sobre seu próprio filho.

—Sobretudo sobre seu próprio filho. Elizabeth riu.

—Então a conhece realmente bem. Sempre está se queixando dele.

—Contou-lhe a vez que prendeu a cabeça...

—No Castelo de Windsor? Sim. —Ela sorriu amplamente, tampando-os lábios com os dedosquando lhe escapou uma risada. —Nunca ri com tanta vontade.

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James lhe devolveu o sorriso, achando sua proximidade desarmante, sentia-se quase tonto.

—Você o conhece?

—Ao Cedric? —Ela retrocedeu ligeiramente para que ambos pudessem dialogar a uma distânciamais cômoda. —Oh, suponho que deveria lhe chamar Lorde Dambury agora, verdade?

Ele levantou o ombro em um gesto de despreocupação.

—Pode chamá-lo como gosta em minha presença, por minha parte, eu gosto de chamá-lo um...

Ela sacudiu um dedo em sua direção.

—Parece-me que tem uma veia muito travessa, senhor Siddons. E está tentando me enrolar paraque diga algo que poderia lamentar.

Ele sorriu esfaimadamente.

—Preferiria empurrá-la a fazer algo que poderia lamentar.

—Senhor Siddons— disse ela, reprovadoramente. Ele deu de ombros.

—Me perdoe.

—Acontece que conheço o novo Lorde Dambury— disse ela, elevando o queixo enquanto oolhava para indicar que o tema de conversa foi oficialmente mudado. —Não muito bem, certamente.Ele é um pouco mais velho que eu, assim não brincamos juntos quando crianças. Mas retorna paravisitar sua mãe de vez em quando, assim nossos caminhos se cruzam ocasionalmente.

Ao James ocorreu que se Cedric decidisse visitar sua mãe em um momento próximo, seu disfarceficaria completamente arruinado. Mesmo que ele ou Tia Agatha conseguissem lhe advertir dasituação a tempo, Cedric não era absolutamente confiável para manter a boca fechada. O homem nãotinha noção alguma de discrição e menos ainda de sentido comum. James sacudiu a cabeçaimpulsivamente.

A estupidez, graças a Deus, não abundava na família.

—O que acontece? —perguntou a senhorita Hotchkiss.

—Nada. Por quê?

—Sacudiu a cabeça.

—Eu?

Ela assentiu.

—Provavelmente não estava sendo o bastante suave. Sinto muito. Ele pegou a mão dela e amanteve cativa com um olhar fixo e faminto.

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—Um anjo não poderia ter sido mais suave.

Os olhos dela se alargaram, e por um breve instante lhe sustentou o olhar, antes de voltá-la parasuas mãos unidas. James esperou que ela objetasse, mas não o fez, e então ele deixou um rastro aolongo de seu pulso com seu polegar enquanto a liberava.

—Peço-lhe perdão— murmurou. —Eu não sei o que me deu.

—Está bem—gaguejou ela. —Sofreu um choque. Não é todo dia que alguém encontra-seempurrado em uma roseira.

James não disse nada, só girou o rosto para que ela atendesse um arranhão perto da orelha.

—Assim, mantenha-a inclinada— disse ela, com voz suave. —Preciso aplicar o bálsamo sobreeste arranhão tão profundo.

Ele fechou a boca, e Elizabeth conteve o fôlego quando se inclinou muito perto dele. O corteestava no lado esquerdo e perto da boca, e se prolongava até o vão sob seu lábio inferior.

—Há um pouco de sujeira aqui— murmurou ela.—Eu... Oh, resista um momento mais.Necessito... —Ela mordia o lábio inferior e dobrou os joelhos para ficar ao mesmo nível que o rostode James. Pôs seus dedos sobre seu lábio e suavemente o estirou para cima para ter melhor acesso aoarranhão. —Já está — sussurrou quando terminou de limpar a ferida, assombrada de ser capaz deemitir um som apesar da palpitação de seu coração. Nunca esteve de pé assim perto de um homemantes, e este em particular a fazia sentir as coisas mais estranhas. Sentia um absurdo desejo de deixarque seus dedos se deslizassem sobre os esculpidos ossos de sua face, e logo alisar o elegante arco desuas escuras sobrancelhas.

Obrigou-se a expulsar o ar que reteve e baixou o olhar a seu rosto. James a contemplava comuma expressão estranha, meio divertida e meio outra coisa. Seus dedos estavam ainda sobre seuslábios, e de algum jeito ver-se tocando-o pareceu mais perigoso que tocá-lo realmente.

Com um pequeno grito abafado ela afastou a mão.

—Terminou? —perguntou ele. Ela assentiu.

—Espero... espero não lhe ter feito muito dano. Seus olhos se obscureceram.

—Não senti dor absolutamente.

Elizabeth sorriu timidamente, e deu outro passo atrás algo para recuperar o equilíbrio.

—Você é um paciente muito diferente do meu irmão— disse, tentando dirigir a conversação paraum tema mais ameno.

—Provavelmente não estremeceu nem a metade que eu—brincou o senhor Siddons.

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—Não— disse Elizabeth, com risada entrecortada, —mas grita muito mais forte.

—Disse que se chamava Lucas? Ela assentiu.

—Parece-se com você?

Os olhos de Elizabeth, que estavam estudando um quadro da parede em um esforço por não olharao senhor Siddons, voaram de repente a seu rosto.

—Essa é uma pergunta estranha. Ele deu de ombros.

—Eu, igual a você, sou dos curiosos.

—Oh. Bem, então, sim, parece. Somos muito parecidos. Meus pais eram muito loiros os dois.

James permaneceu silencioso um momento enquanto considerava suas palavras. Era difícil nãonotar que ela falou deles no passado.

—Faleceram, então? — disse suavemente.

Ela assentiu, e a ele não escapou a leve rigidez de seu rosto quando girou a cabeça a um lado.

—Faz mais de cinco anos. Estamos acostumado a nos arrumar sós agora, mas de toda formasegue sendo —tragou saliva —difícil.

—Sinto muito.

Ela permaneceu imóvel um momento, e depois deixou escapar uma pequena e forçada risada.

—Acreditei que acordamos não pronunciar mais essas palavras.

—Não, —brincou ele, tentando introduzir um pouco de humor na conversa. Respeitava seudesejo de não compartilhar sua pena. —Acordamos que você não as pronunciaria. Eu, por outrolado...

—Muito bem— disse ela, evidentemente aliviada porque ele não ia bisbilhotar, —se realmentedeseja desculpar-se, estarei encantada de lhe proporcionar por escrito uma lista de suastransgressões.

Ele se inclinou para frente, descansando os cotovelos sobre seus joelhos.

—Poderia?

—Oh, em efeito. É obvio, só tenho três dias de transgressões que documentar, mas estou bastantesegura de que posso encher ao menos uma página.

—Só uma página? Terei que me esforçar mais em...

—Senhorita Hotchkiss?

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Todo seu corpo se esticou e fulminava com o olhar a porta.

—Fuja— sussurrou ela.

James ficou de pé para poder olhar por cima da bancada. O gato de Tia Agatha estava sentado naentrada, descansando sobre seus peludos quartos traseiros.

—Há algum problema? —perguntou James. Ela não afastou os olhos do animal.

—Esse gato é uma ameaça.

—Malcolm? —Ele sorriu amplamente e caminhou para o animal. —Não faria mal a uma mosca.

—Não o toque, —advertiu-lhe Elizabeth. —É maligno.

Mas James simplesmente o levantou do chão em seus braços. Malcolm soltou um sonoro ronronoe sepultou sua cara no pescoço de James em um comprido e preguiçoso roçar.

Elizabeth ficou boquiaberta.

—Esse pequeno traidor, tentei me fazer amiga durante três anos!

—Acreditei que trabalhava aqui há cinco anos.

—Certo. Mas me rendi depois de três. Uma mulher pode suportar receber bufos só certo númerode vezes.

Malcolm a olhou, elevou o nariz no ar, e voltou a esfregar-se contra o pescoço de James comfelina adoração. James riu entre dentes e voltou para sua cadeira.

—Estou seguro de que me vê como um desafio. Odeio aos gatos. A cabeça da Elizabeth adotou amais sarcástica das inclinações.

—Estranho, mas não parece dos que odeiam aos gatos.

—Bem, já não odeio a este.

—São um para o outro—resmungou ela. —Um homem que odeia a todos os gatos exceto a um, eum gato que odeia a todas as pessoas exceto a uma.

—Duas, se tiver em conta a Lady Dambury. —James sorriu e se recostou, sentindo-serepentinamente muito satisfeito com sua vida.

Estava longe de Londres, longe das debutantes de sorriso afetado e suas mães interesseiras, e dealgum jeito, encontrou-se em companhia desta jovem e encantadora mulher, que provavelmente nãoestava chantageando a sua tia, e ainda se estivesse bem, seu coração não palpitara tão forte em anos,como quando ela havia tocado com seus dedos seus lábios. Considerando que não conseguira sentirnenhum pingo de interesse por qualquer das perspectivas matrimoniais que desfilam por Londres,

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isto precisava significar algo.

E talvez, pensou com um melancólico otimismo que não sentira durante anos, estavachantageando a sua tia bom, talvez tinha uma boa razão para isso. Talvez tivesse um parente doente,ou estava sendo ameaçada com o despejo. Talvez necessitava o dinheiro por uma razão importante enobre, e realmente nunca teve a intenção de envergonhar a Agatha fazendo públicos os rumores.

James lhe sorriu, decidindo que a teria em seus braços antes do fim de semana, e se resultava tãoestupendo como pensava que resultaria, começaria a pensar em persegui-la.

—Com o incentivo apropriado—brincou ele, —poderia deixar cair um par de comentáriosaduladores sobre você a nosso peludo amigo aqui presente.

—Não estou interessada absolutamente no... Oh, Meu Deus!

—O que?

—Que horas são?

James tirou seu relógio de bolso, e para sua surpresa ela se precipitou sobre ele e o arrebatoudos dedos.

—Oh, Senhor! —exclamou. —Precisava me reunir com Lady Dambury em seu salão há vinteminutos. Leio para ela todas as manhãs, e...

—Estou seguro de que não lhe importará, depois de tudo, —James assinalou os arranhões de seurosto —tem muitas provas de que assistia a alguém ferido e necessitado.

—Sim, mas não entende, supõe-se que eu não... Ou seja, supunha-se que estava praticando —seus olhos se encheram de horrorizada vergonha, e tampou com a mão a boca.

James ficou em pé, elevando-se em toda sua altura e abatendo-se sobre ela com intenção deintimidá-la.

—O que ia dizer?

—Nada—gritou ela. —Jurei que não ia fazer isto mais vezes.

—Jurou que não ia fazer o que mais vezes?

—Não é nada. Juro. Estou segura de que o verei mais tarde. E antes de que ele pudesse agarrá-la, escapuliu da sala.

James contemplou a porta pela qual ela desaparecera durante um minuto completo antes de reagirfinalmente. A senhorita Elizabeth Hotchkiss era muito estranha. Justo quando começara finalmente aatuar como ela mesma ele estava convencido de que a mulher suave, amável e de sardônico e agudohumor era a verdadeira Elizabeth começou a atuar de forma assustadiça e a gaguejar e a balbuciar

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todo tipo de tolices.

O que dissera que precisava fazer? Ler para a sua tia? Também dissera algo sobre praticar, elogo jurou que não ia fazer mais que demônios significava isso?

Colocou a cabeça no corredor e olhou ao redor. Tudo parecia tranquilo. Elizabeth, quandocomeçou ele a pensar nela como Elizabeth e não apropriadamente como senhorita Hotchkiss?

—Não a via em nenhuma parte, provavelmente estaria na biblioteca selecionando material deleitura para a Tia.

Isso era! O livro. Quando a tinha descoberto em suas habitações ela estava encurvada sobre suacópia dos ENSAIOS de Bacon. Uma lembrança cintilou em sua memória, e se viu tentando recolherdo chão um pequeno livro de capa vermelha o primeiro dia que tropeçaram. Ela estava atemorizada,virtualmente saltou por diante dele para conseguir agarrá-lo primeiro. Deve pensar que de algumjeito ele conseguira esse livro.

Mas que demônios havia no livro?

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Capítulo 6

Vigiou-a durante todo o dia. Sabia como seguir a pista de uma pessoa, deslizando-se peloscantos e escondendo-se em quartos vazios. Elizabeth, que não tinha razão alguma para pensar quealguém poderia segui-la, não suspeitou nada. James escutou enquanto ela lia em voz alta para sua tiae a observou enquanto ela ia de um lado a outro através do corredor, trazendo objetos desnecessáriospara sua tia.

Tratava a Agatha com respeito e afeto. James seguiu escutando, procurando sinais deimpaciência ou de cólera, mas sempre que sua tia atuava de modo não razoável e caprichoso,Elizabeth reagia com uma divertida indulgência que James achou encantadora. Sua moderação anteos caprichos de sua tia era assustadora. James teria perdido a paciência antes de meio-dia. Asenhorita Hotchkiss ainda conservava o sorriso quando partiu de Dambury House às quatro da tarde.

James a olhou através da janela quando ela caminhou no passeio abaixo. Sua cabeça sebalançava ligeiramente de um lado a outro, e teve o estranho e regozijante pressentimento de que elaia cantando para se mesma. Inconscientemente, ele começou a assobiar.

—Que melodia é essa?

Ele elevou a vista. Sua tia estava parada na porta do salão, apoiando-se pesadamente em suabengala.

—Nenhuma da que queira conhecer a letra— disse ele com um sorriso libertino.

—Tolices. Se for picante, então seguro que quero sabê-la. James riu entre dentes.

—Tia Agatha, não confessei a letra quando me pegou cantarolando aquela cantiga de marinheirosquando tinha doze anos, e certamente não vou confessar esta agora.

—Hmmph. —Ela golpeou o chão com sua bengala e girou. —Vem e me faça companhia enquantotomo o chá.

James a seguiu a sua saleta e tomou assento frente a ela.

—Realmente—começou, —estou contente de que me tenha convidado a te acompanhar. Estavapensando em falar contigo sobre sua dama de companhia.

—A senhorita Hotchkiss?

—Sim— disse James, tentando soar indiferente. —Pequena. Loira. Agatha sorriu sagazmente,

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seus pálidos olhos azuis agudos como nunca.

—Oh, então a notou. James se fez de tolo.

—Que seu cabelo é loiro? É difícil não dar-se conta, Tia.

—Queria dizer que é tão bonita como um botão de rosa e você sabe.

—A senhorita Hotchkiss é certamente atraente— disse ele—mas...

—Mas não é seu tipo de mulher—terminou ela por ele. —Sei. —Elevou a vista. —Esquecicomo você gosta do chá.

James entrecerrou os olhos. Tia Agatha nunca esquecia nada.

—Com leite, sem açúcar— disse com receio. —E por que acredita que a senhorita Hotchkissnão é meu tipo de mulher?

Agatha encolheu delicadamente os ombros e expôs.

—Ela possui um encanto sutil, depois de tudo. James calou um segundo.

—Acredito que acaba de me insultar.

—Bom, deve confessar que aquela outra mulher era um tanto... ah, como diríamos... —Deu-lhesua xícara de chá. —Chamativa?

—Que outra mulher?

—Já sabe. Aquela com o cabelo vermelho e o... —Levantou as mãos ao nível de seu peito e fezuns vagos e circulares movimentos. —Já sabe.

—Tia Agatha, era uma cantora de ópera!

—Bem—soprou ela. —Certamente não deveria ter me apresentado.

—Não o fiz— disse James rigidamente. —Lançou-te rua abaixo sobre mim com a mesmasutileza que uma bala de canhão.

—Se for me insultar...

—Tentei te evitar—interrompeu-a ele. —Tentei escapar, mas não, não tinha intenção de mepermitir isso.

Ela colocou dramaticamente uma mão sobre seu peito.

—Me perdoe por ser uma parente preocupada contigo. Afinal, estávamos esperando há anos oseu casamento, e simplesmente me interessei por sua acompanhante.

James respirou profundamente para tranquilizar-se, tentando relaxar os músculos dos ombros.

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Ninguém tinha a habilidade de fazê-lo sentir de novo como um moço de dezesseis, como sua tia.

—Acredito— disse com firmeza, —que falávamos da senhorita Hotchkiss.

—Oh, sim! —Agatha tomou um gole de chá e sorriu. —A senhorita Hotchkiss. Uma garotaencantadora. E tão equilibrada. Não como essas moças frívolas de Londres que sigo encontrando noAlmacks. Depois de passar uma tarde ali a gente pensa que a inteligência e o sentido comum foramcompletamente eliminados da população britânica.

James estava completamente de acordo com ela sobre aquele ponto, mas agora, em realidade,não era o momento de falar disso.

—A senhorita Hotchkiss...? —recordou-lhe.

Sua tia elevou a vista, piscou uma vez, e disse: —Não sei o que faria sem ela.

—Possivelmente ser quinhentas libras mais rica? —sugeriu ele. A xícara de chá da Agathagolpeou com força o prato.

—Certamente não consideraste suspeita a Elizabeth.

—Tem acesso a seus bens pessoais—indicou ele. —Poderia ter guardado algo que pudesse serincriminatório... Pelo que se sabe, ela pôde estar bisbilhotando entre suas coisas durante anos.

—Não— disse ela em um tom suave que gotejava segurança. —Elizabeth não. Jamais faria talcoisa.

—Me perdoe, Tia, mas como pode estar tão segura? Ela o atravessou com o olhar.

—Eu acredito que você está ciente de que sou boa julgando caráteres, James. Como prova, issodeveria bastar.

—É obvio que é muito boa nisso, Agatha, mas...

Ela elevou uma mão.

—A senhorita Hotchkiss é toda bondade, amabilidade e honestidade, e me nego a escutar uma sópalavra mais de menosprezo.

—Muito bem.

—Se não me acredita, passa um pouco de tempo com a moça. Verás que tenho razão. James serecostou, satisfeito.

—Isso farei.

Sonhou com ela essa noite.

Estava inclinada sobre o condenado livro vermelho, seu cabelo, comprido e loiro, solto e

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brilhante como a luz da lua. Usava uma virginal camisola branca que a cobria da cabeça aos pés, masde algum jeito ele sabia exatamente como era ela por baixo, e desejava tão desesperadamente...

Então pôs-se a correr diante dele, rindo por cima de seu ombro e com seu cabelo derramando-sedetrás dela e fazendo cócegas em seu rosto sempre que ele conseguia aproximar-se. Mas cada vezque se estirava para alcançá-la, evitava-o. E sempre que acreditava que estava o bastante perto paraler o título de seu pequeno livro, as letras douradas trocavam e se desfocavam, e se encontravacaindo enquanto ofegava em busca de ar.

Que foi exatamente como se sentiu James quando se ergueu de repente em sua cama até ficarsentado, enquanto a primeira luz da manhã começava a aparecer pelo horizonte. Sentia-se vagamenteenjoado, respirava com força, e só tinha uma coisa em mente.

Elizabeth Hotchkiss.

Quando Elizabeth chegou a Dambury House essa manhã, franzia o cenho. Tinha jurado que nemsequer ia jogar uma olhada à capa de Como casar-se com um Marquês, mas quando chegou a casa nodia anterior, encontrou o livro sobre sua cama, com sua brilhante encadernação vermelha quevirtualmente a desafiava a abri-lo.

Elizabeth se havia dito que só jogaria uma olhada; quão único queria era ver se dizia algo sobreser inteligente e fazer rir a um homem, mas antes de dar-se conta, estava sentada na borda de suacama, absorta na leitura. E agora ela tinha tantas normas e regras flutuando ao redor de sua cabeçaque estava verdadeiramente enjoada. Não devia paquerar com homens casados, supunha-se que nãodevia tratar de dar um conselho a um homem nem pretender saber mais que ele, mas devia romperimediatamente com um pretendente se ele esquecesse seu aniversário.

—Graças a Deus pelos pequenos favores— murmurou para si mesma enquanto entrava noenorme vestíbulo de Dambury House. Seu aniversário não era até dentro de nove meses, o bastantelonge no futuro para não interferir com os possíveis noivados que...

Oh, pelo amor de Deus. No que estava pensando? Disse a si mesma que não ia deixar que asenhora Seeton lhe ditasse o que fazer, e aqui estava...

—Parece bastante séria esta manhã. Elizabeth ergueu a vista sobressaltada.

—Senhor Siddons— disse, com voz um pouco rouca ao pronunciar a primeira sílaba de seunome. —Que encantador encontrá-lo.

Ele se inclinou.

—O sentimento, asseguro, é mútuo.

Ela sorriu rigidamente, sentindo-se repentinamente muito tola na presença deste homem. Eles

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conversaram estupendamente bem no dia anterior, e Elizabeth sentira até quase que podiam chamar-se amigos, mas foi antes de... Pigarreou. Antes de ela passar a metade da noite pensando nele.

Ele estendeu imediatamente seu lenço. Elizabeth sentiu como se ruborizava e rezou para que nãofosse muito óbvio.

—Não é necessário— disse rapidamente. —Somente clareando a garganta.

THUMP!

—Será Lady Dambury— murmurou o senhor Siddons, sem incomodar-se em voltar-se para osom.

Elizabeth sufocou um sorriso de condolência e girou a cabeça. Efetivamente, Lady Damburyestava no outro extremo do corredor, golpeando com sua bengala. Malcolm estava no chão ao ladodela, sorrindo com satisfação.

—Bom dia, Lady Dambury— disse Elizabeth, encaminhando-se imediatamente para a idosa.

—Como se encontra?

—Como se tivesse setenta e dois anos—replicou ela.

—Bem, é uma pena— respondeu Elizabeth, com o rosto muito sério —desde que sei que namelhor das contas não tem mais que sessenta e sete anos.

—Menina impertinente. Sabe muito bem que tenho sessenta e seis anos. Elizabeth escondeu seusorriso.

—Necessita ajuda para voltar para o salão? Tomou o desjejum esta manhã?

—Comi dois ovos e três pedaços de torrada, e não quero me sentar no salão esta manhã.Elizabeth piscou surpresa. Ela e Lady Dambury passavam todas as manhãs no salão. E entre osmuitos discursos de Lady D, seu favorito era o que versava sobre as qualidades preservadoras darotina.

—Decidi me sentar no jardim—anunciou Lady D.

- Oh— disse Elizabeth. —Já vejo. É uma ideia encantadora. O ar é bastante fresco esta manhã, ea brisa bem...

—Vou dormir uma sesta.

Aquele anúncio privou completamente a Elizabeth da fala. Lady Dambury frequentementecochilava, mas jamais admitia, e certamente nunca usava a palavra "sesta".

—Necessita que a ajude a chegar ao jardim? —perguntou o senhor Siddons. —Estaria encantadode acompanhá-la.

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Elizabeth deu um salto. Esqueceu-se completamente de sua presença.

—Não faz falta— disse Lady D. secamente. —Não me movo muito rápida ultimamente, mas nãoestou morta. Vem, Malcolm. —E com isto se afastou andando com dificuldade e com Malcolmtrotando a seu lado.

Elizabeth simplesmente ficou olhando fixamente como se afastavam, com uma mão colada a suaface em estado de choque.

—É realmente notável quão bem treinou a seu gato— disse James. Elizabeth girou, comexpressão atônita.

—Pareceu-lhe doente?

—Não, por quê?

Ela agitou as mãos torpemente em direção à figura cada vez mais longínqua de Lady Dambury,incapaz de expressar com palavras seu grau de surpresa.

James a contemplou com expressão divertida.

—Tão estranho é que possa desejar dormir uma sesta no jardim? O tempo está bom.

—Sim! — disse ela, com tom elevado pela preocupação. —É muito estranho.

—Bom, estou seguro de que ela...

—Digo-lhe que é muito estranho. —Elizabeth sacudiu a cabeça. —Eu não gosto disto. Eu nãogosto nem um pingo.

Ele inclinou a cabeça e lhe dirigiu um olhar de avaliação.

—O que propõe que façamos? Ela quadrou os ombros.

—Vou espiá-la.

—Vai olhar como dorme? —perguntou ele, de forma suspeita.

—Tem alguma ideia melhor?

—Melhor que espiar o sono de uma idosa? Bem, sim, realmente, se me apressa acredito quepoderia pensar em um ou dois passatempos que seriam...

—Oh, silêncio! — disse ela com irritação. —Não necessito de sua ajuda, de todo modo. Jamessorriu.

—Tinha-a solicitado?

—Como tão amavelmente você indicou— disse ela elevando o queixo, —não é tão difícil vigiaro sono de uma idosa. Estou segura que tem outros deveres mais importantes. Bom dia.

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James abriu a boca surpreso quando ela começou a afastar-se com passo majestoso.Condenação, não quis ofendê-la.

—Elizabeth, espere!

Ela parou e girou, provavelmente surpresa pelo uso de seu primeiro nome mais do que com odesabafo. Infernos, ele ficara surpreso. Era só que ela tinha ocupado seus pensamentos durante dias,e ele começara a pensar nela como Elizabeth, e...

—Sim? — disse ela finalmente.

—Irei com você.

Ele lhe dirigiu um olhar bem zangado.

—Sabe ser realmente silencioso, verdade? Não quero que nos pegue espiando-a.

James mordeu os trementes lábios; era a única coisa que podia fazer para não tornar a rir.

—Pode estar segura de que não nos delatarei— disse ele com gravidade. —Sinto-me orgulhosode ser um espião muito bom.

Ela franziu o cenho.

—Essa é uma declaração muito estranha. E... encontra-se bem?

—Estupendamente, por quê?

—Parece como se estivesse a ponto de espirrar.

Ele vislumbrou um vaso com flores próximo e mentalmente se agarrou a ele.

—As flores sempre me fazem espirrar.

—Não espirrou ontem no jardim de rosas. Ele clareou a garganta e pensou com rapidez.

—Estas não são rosas— disse, apontando para o jarro.

—Nesse caso, não posso deixá-lo vir— disse ela com um desdenhoso gesto da cabeça. —Háflores de um ao outro extremo do jardim. Não posso lhe ter espirrando a cada dois minutos.

—Ah, não o farei— disse ele rapidamente. —Só as flores cortadas para decoração me produzemesse efeito.

Seus olhos se entrecerraram com desconfiança.

—Nunca ouvi falar de tal afecção.

—Eu tampouco. Nunca conheci a ninguém mais que reaja da mesma forma. Deve ser algo noscaules. Algo que... né... se libera quando o caule é cortado.

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Ela lançou outro olhar duvidoso, e então ele adornou a mentira acrescentando.

—Isto me dá um montão de malditos problemas quando cortejo a uma senhora. Deus me ajude setento lhe oferecer flores.

—Muito bem— disse ela energicamente.—Venha. Mas se arruinar isto...

—Não o farei, —assegurou-lhe ele.

—Se arruinar isto—repetiu ela, mais forte desta vez,—não lhe perdoarei nunca.

Ele baixou ligeiramente a cabeça e tentou dar uma inclinação arrependida a seus ombros.

—Me mostre o caminho, senhorita Hotchkiss.

Ela deu uns passos e então se deteve e girou, seus olhos azuis com uma expressão um pouquinhosuspeita.

—Antes, chamou-me Elizabeth.

—Me perdoe— murmurou ele. —Ultrapassei-me.

James olhou o jogo de emoções que atravessaram seu rosto. Não estava segura se deveria lhepermitir a liberdade de chamá-la por seu primeiro nome. James podia ver como sua naturezanaturalmente amistosa lutava com sua necessidade de mantê-lo a distância. Finalmente ela franziu ascomissuras de sua boca e disse: —Não tem maior importância. Os criados não são muito formaisaqui, em Dambury House. Se o cozinheiro e o mordomo me chamam Elizabeth, você pode fazê-lotambém.

James sentiu que seu coração se enchia de uma satisfação bastante absurda.

—Então deve me chamar James, respondeu.

—James. —Ela provou a deixá-lo deslizar-se por sua língua, e logo acrescentou. —Não devome referir nunca a você como tal, certamente, se alguém perguntar por você.

—É obvio que não. Mas se estivermos sozinhos, não há nenhuma necessidade de sermos tãoformais.

Ela assentiu.

—Muito bem, senhor. —Sorriu envergonhada. —James. Deveríamos nos pôr em marcha. Ele aseguiu por um labirinto de vestíbulos; ela insistiu em seguir uma tortuosa rota para não despertar assuspeitas de Lady Dambury. James não entendia como a presença de ambos no salão de baile, ouquarto do café da manhã, e a estufa toda em uma só manhã não iriam despertar nada, exceto suspeitas,mas guardou seus pensamentos para si. Elizabeth evidentemente experimentava uma tranquilasatisfação em sua posição como líder, e além disso, ele desfrutava da vista que lhe oferecia sua

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posição às costas dela.

Quando finalmente saíram, estavam na parte leste da casa, perto da fachada da mansão, e tãolonge do jardim como era possível.

—Poderíamos ter saído pelas portas francesas do quarto de música— explicou Elizabeth, —mas desta forma podemos nos deslizar por detrás daquelas sebes e contorná-los para chegar aojardim.

—Uma ideia excelente— murmurou ele, seguindo-a ao redor da parte detrás das sebes. Osarbustos tinham uns doze pés de altura, ocultando-os completamente da vista da casa. Para suasurpresa, logo que Elizabeth virou a esquina ao redor da parte traseira das sebes, começou a correr.Bem, possivelmente não a correr, mas certamente se movia a meio caminho entre um passo enérgicoe um trote.

Suas pernas eram muito mais longas que as dela, entretanto, e tudo o que teve que fazer paramanter seu ritmo foi alargar seu passo longo.

—É realmente necessário tanta pressa? —perguntou. Ela se voltou, mas sem deixar de andar.

—Estou muito preocupada com Lady Dambury— disse, e logo reatou seu passo apressado.James viu esta ocasião de estar a sós com Elizabeth como uma excelente oportunidade para estudá-la, mas seu pragmatismo o obrigou a comentar.

—Certamente a vida em Dambury House não é tão aborrecida que o acontecimento maisexcitante do verão seja que uma mulher de sessenta e seis anos durma uma sesta.

Ela girou outra vez.

—Lamento se acha minha companhia aborrecida, mas se o recorda, não lhe obriguei a meacompanhar.

—Oh, sua companhia é tudo, exceto aborrecida— disse ele, deslumbrando-a com seu sorrisomais lisonjeador. —Simplesmente não entendo a gravidade da situação.

Ela se deteve bruscamente, plantou as mãos sobre seus quadris, e cravou nele um severo olhar.

—Com essa postura, seria uma instrutora endemoniadamente boa— disse maliciosamente.

—Lady Dambury nunca dorme a sesta— disse ela com os dentes apertados e fulminando-o com oolhar por esse último comentário. —Ela vive e respira rotina. Dois ovos e três pedaços de torradapara tomar o café da manhã. Todos os dias. Trinta minutos de bordado. Todos os dias. Acorrespondência é classificada e respondida às três da tarde. Todos os dias. E...

James elevou uma mão.

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—Já entendi.

—Ela nunca dorme uma sesta.

Ele assentiu lentamente, perguntando-se o que podia dizer a estas alturas da conversa.

Ela soltou um "hmmphing" final, e logo dando meia volta, voltou a caminhar a toda velocidade.James a seguiu, caminhando com amplos e fáceis passos. A distância entre ambos se foi alongandoligeiramente, e ele acabava de admitir para si mesmo a necessidade de aumentar sua velocidade a umligeiro trote quando percebeu uma protuberante raiz de árvore um pouco mais adiante.

—Cuidado com...

Ela aterrissou sobre a terra, com um braço revoando para trás qual ave voadora, e o outroestirado para diante para deter sua queda.

—Raiz, —terminou ele. Precipitou-se para ela. —Se machucou? Ela sacudiu a cabeça eresmungou.

—É obvio que não, mas tremia enquanto o dizia, assim James não se sentia muito inclinado aacreditá-la.

Se agachou a seu lado e puxou a mão que ela tinha estendido para amortecer sua queda.

—Como está a mão?

—Estou bem—insistiu ela, retirando a mão, e sacudindo a terra e o cascalho que estava em suapele.

—Temo que devo insistir em verificá-lo por mim mesmo.

—De algum jeito—queixou-se ela, —isto tem que ser por sua culpa. Ele não pôde conter umsorriso surpreso.

—Por minha culpa?

—Não estou segura de como ou por que, mas se houver justiça neste mundo, isto é por sua culpa.

—Se for por minha culpa— disse ele com o que pensou era a máxima gravidade, —entãorealmente devo compensá-la me ocupando de suas feridas.

—Não tenho...

—Raramente aceito um não por resposta.

Com um ruidoso suspiro, lhe estendeu a mão, murmurando um bastante descortês: —Aqui. Jamesgirou seu pulso suavemente. Ela não reagiu até que ele cautelosamente dobrou sua mão para trás.

—Oh! —exclamou Elizabeth, evidentemente irritada com ela mesma por demonstrar dor.

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—Não doeu muito— disse rapidamente. —Estou segura de que não o torci.

—Estou seguro de que tem razão—concordou ele. Não havia nenhum sinal de inchaço. — Masdeveria usar mais a outra pelo menos um dia. E talvez poderia voltar para a casa e conseguir umpouco de gelo ou um pedaço cru de carne para colocar sobre o pulso.

—Não tenho tempo— disse ela energicamente, ficando em pé. —Devo comprovar que LadyDambury está bem.

—Se em efeito está, como teme, dormindo uma sesta, então me inclino a pensar que seu temor deque fuja é um pouco exagerado.

Elizabeth o fulminou com o olhar.

—Em outras palavras, —ele disse, tão suavemente como pôde —não há nenhuma necessidade deque arrisque sua vida e sua integridade física precipitando-se.

Podia vê-la meditar sobre suas palavras, mas finalmente se limitou a sacudir a cabeça e disse.

—É livre de tomar suas próprias decisões. —E dando meia volta, saiu correndo.

James soltou um gemido, tentando recordar por que continuava indo atrás dela, de todo o modo.Tia Agatha, recordou-se. Tudo isto era por Tia Agatha. Precisava averiguar se Elizabeth era achantagista.

Sua intuição lhe dizia que não era, ninguém que exibisse o tipo de preocupação que ela mostravapor uma autoritária e, bastante frequentemente, incrivelmente fastidiosa idosa, a chantagearia. Aindaassim James não tinha a nenhum outro suspeito, assim saiu correndo atrás dela. Quando Elizabethdobrou a esquina, perdeu-a de vista, mas seus longos passos fizeram que logo a encontrasse, ainda sãe salva, de costas para sebe, com a cabeça voltada de modo que espiava por cima de seu ombro.

—O que vê? —perguntou ele.

—Nada—confessou ela, —mas me parece que consegui uma cãibra horrível no pescoço. Jamesdominou o sorriso que sentiu borbulhando dentro dele e manteve o tom sério quando disse.

—Importaria-lhe se eu olhar?

Ela voltou a cabeça à frente e logo, com uma careta de desconforto, inclinou-a a um lado e avoltou a erguer. James se estremeceu quando ouviu um ruidoso rangido.

Ela esfregou o pescoço.

—Acredita que pode fazê-lo sem ser visto?

Imagens de suas antigas missões na França, na Espanha, e também aqui, na Inglaterra, passarampor sua mente. James era um perito em não ser visto.

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—Oh— disse com desenvoltura, —acredito que conseguirei isso.

—Muito bem. —Ela retrocedeu. —Mas se você suspeitar, embora só seja por um segundo, queela pode lhe ver, retroceda.

James sorriu amplamente e fez uma saudação militar.

—Você manda.

Naquele momento, Elizabeth esqueceu tudo.

Esqueceu que não tinha nem ideia de como ia sustentar seus irmãos menores. Esqueceu que LadyDambury atuava de forma muito estranha e que temia que sua patroa pudesse estar gravementedoente. Até esqueceu cada maldito decreto do pequeno livro da senhora Seeton, e, sobretudo,esqueceu que este homem para quem seu estomago dava um salto cada vez que elevava assobrancelhas.

Esqueceu tudo exceto a ligeireza do momento e o ardente sorriso no rosto de James Siddons.Com uma pequena risada, adiantou-se e o golpeou brincando no ombro.

—Oh, pare já— disse, quase sem reconhecer sua própria voz.

—Para o que? —perguntou ele, com expressão absurdamente inocente. Ela imitou sua saudaçãomilitar.

—Esteve repartindo ordens com grande facilidade e frequência—indicou ele. —É natural que acompare a...

—Simplesmente comprove como está Lady Dambury—interrompeu-o ela. James sorriuconscientemente e deslizou agachado até a esquina da sebe.

—Vê algo? — sussurrou Elizabeth. Ele voltou atrás.

—Vejo lady Dambury.

—Isso é tudo?

—Não acredito que estivesse interessada no gato.

—Malcolm?

—Está sobre seu colo.

—Não me importa o que faz o gato.

James lhe dirigiu um olhar vagamente condescendente inclinando apenas a cabeça.

—Não acreditei que lhe importasse.

—O que faz Lady Dambury? —grunhiu-lhe Elizabeth.

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—Dorme.

—Dorme?

—É o que disse que faria, verdade? Olhou-o com o cenho franzido.

—Queria dizer se dorme normalmente. Respira com dificuldade? Move-se?

—Enquanto dorme? —perguntou ele, duvidoso.

—Não seja estouvado. A gente se move em sonhos todo o... —Seus olhos se entrecerraram.

—Por que sorri?

James tossiu para encobrir seus traidores lábios, e tentou recordar a última vez que uma mulherlhe chamou estouvado. As damas que conheceu em sua recente estadia em Londres foram do tipo dasque sorriem com afetação, elogiando-o por sua roupa, seu rosto ou seu aspecto. Quando uma chegouao extremo de elogiar a curvatura de sua testa, soube que era o momento de escapar.

Jamais teria suspeitado, entretanto, quão divertido poderia resultar ser insultado por ElizabethHotchkiss.

—Por que sorri? —repetiu ela, com impaciência.

—Estava sorrindo?

—Sabe que sim.

Ele se inclinou para diante, o suficiente para conseguir que ela prendesse a respiração.

—Quer saber a verdade?

—Er, sim. A verdade é quase sempre preferível.

—Quase?

—Bem, se essa opção vai ferir desnecessariamente os sentimentos de outro—, explicou ela,

—então... Espere um momento! supõe-se que é você quem vai responder a minha pergunta.

—Oh, sim—o sorriso, disse ele. —Foi por me chamar estouvado, em realidade.

—Sorri porque lhe insultei?

Ele deu de ombros e estendeu as mãos no que esperou ser um gesto encantador.

—Não sou insultado pelas mulheres muito frequentemente.

—Então esteve acompanhado pelo tipo errado de mulheres—resmungou ela. James soltou umagargalhada.

—Não faça ruído, — sussurrou ela, arrastando-o longe da sebe. —Ela lhe ouvirá.

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—Ronca o bastante forte para despertar a um morto— respondeu ele. —Duvido que nossaspequenas palhaçadas vão despertá-la.

Elizabeth sacudiu a cabeça e franziu o cenho.

—Eu não gosto disto. Ela nunca dorme a sesta. Sempre diz que é pouco natural.

James lhe dirigiu um sorriso, dispondo-se a gracejá-la outra vez, mas se conteve quando viu aansiedade em seus olhos azul escuro.

—Elizabeth— disse suavemente, —o que é que realmente teme? Ela soltou um compridosuspiro.

—Pode estar doente. Quando a gente de repente se sente cansada... —Tragou. —Pode ser umsinal de enfermidade.

Ele ficou em silêncio uns segundos ante sua tácita pergunta.

—Seus pais estavam doentes antes de morrer?

Elevou o olhar bruscamente para ele, e James notou que ficou surpresa por sua pergunta.

—Não— disse ela, piscando. —Minha mãe morreu em um acidente de carruagem, e meu pai...—Fez uma pausa, olhou ao longe, e sua expressão se foi tornando cada vez mais angustiada até quefinalmente disse. —Ele não estava doente.

O que mais desejava era seguir perguntando, averiguar por que ela não falava da morte de seupai. De maneira surpreendente, deu-se conta de que queria saber tudo sobre ela. Queria conhecer seupassado, seu presente, e seu futuro. Saber se falava francês, se gostava de chocolate, se leu a Moer. Esobre tudo, conhecer os segredos que se ocultavam atrás de cada diminuto sorriso que cruzava seurosto.

James quase retrocedeu um passo ante tal revelação. Nunca sentira este tipo de ardentenecessidade de examinar todos e cada um dos cantos mais distantes da alma de uma mulher.

Elizabeth encheu o torpe silêncio perguntando.

—Vivem ainda seus pais?

—Não— respondeu James. —Meu pai morreu repentinamente, em realidade. O doutor disse quefoi seu coração. —Deu de ombros. —Ou a carência do mesmo.

—Oh, querido—balbuciou ela.

—Não acontece nada— disse ele com um desdenhoso gesto da mão. —Não era um bom homem.Não sinto falta dele, e não me causa pena.

Ela apertou os lábios, mas James viu a sombra de algo, empatia, possivelmente?, em seus olhos.

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—Minha mãe morreu quando eu era bastante jovem—acrescentou ele repentinamente e não muitoseguro de por que lhe contava isso. —Mal a lembro.

—Sinto muito— disse Elizabeth suavemente. —Espero que não tenha sido muito doloroso.James temeu não saber ocultar a resposta de seus olhos, porque ela só tragou e disse, sinto muito,outra vez. Ele assentiu em reconhecimento a sua compaixão, mas não disse nada. Os olhos deElizabeth capturaram os seus durante um fugaz momento, e depois girou o pescoço para jogar outraolhada a Lady Dambury.

—Morreria se Lady D estivesse sofrendo. Sei que ela não diria nunca a ninguém. Pode serinsuportavelmente orgulhosa. Não reconheceria o afeto e a preocupação pelo que são. Tudo que veriaseria a compaixão.

James a olhou observar a sua tia e subitamente o golpeou perceber quão miúda Elizabeth era. Oscampos de Dambury House se estendiam atrás dela em um interminável extensão de verde, e elaparecia terrivelmente pequena e só contra a vasta extensão de terra. A brisa de verão escolheudiminutas e sedosas mechas de cabelo loiro de sua touca, e sem pensar, James estendeu a mão eagarrou um, pondo-o atrás de sua orelha.

Ela conteve a respiração, e imediatamente levantou uma mão. Seus dedos se roçaram contra osnódulos dele, e James lutou contra o louco desejo de prender sua mão na sua. Só era necessário omais diminuto movimento de seus dedos, e se sentia esquisitamente tentado, mas retirou a mão emurmurou.

—Me perdoe. O vento despenteou seu cabelo.

Seus olhos se aumentaram e seus lábios se separaram como se fosse a dizer algo, mas finalmente,ela só disse.

—Lady Dambury foi muito boa comigo—com voz rouca. —Não há nenhum modo em que possalhe reembolsar alguma vez toda sua bondade.

James nunca ouvira antes que sua brusca e autoritária tia fosse qualificada de bondosa. A altasociedade a respeitava, temia, inclusive ria de suas brincadeiras cortantes, mas nunca anteriormentevira o amor que ele sentia por essa mulher, que possivelmente salvara sua alma, refletido nos olhosde outra pessoa.

E então seu corpo se fez completamente independente dele e se sentiu avançar. Não controlava omovimento; era quase como se um poder superior se apossasse dele, fazendo-o estender a mão eembalar com ela a parte posterior da cabeça de Elizabeth, seus dedos deslizando-se entre a seda deseu cabelo enquanto a puxava aproximando-a, mais perto, mais perto, e então...

E por fim seus lábios estavam sobre os dela, e qualquer que fosse a desconhecida força que

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fizera que ele a beijasse fugira, e tudo o que ficou era uma imperiosa necessidade de possuí-la decada uma das maneiras em que um homem pode possuir a uma mulher.

Quando uma de suas mãos se afundou mais profundamente em seu cabelo, a outra se enroscou aoredor dela, posando-se na delicada curva da parte baixa de suas costas. Podia sentir o começo de suaresposta. Ela era inexperiente, mas se estava abrandando, e seu coração começava a pulsar maisrápido, e depois começou a palpitar.

—Meu Deus, Elizabeth—ofegou ele, mudando sua boca a sua face, e logo a sua orelha. —Quero... Quero...

Sua voz deve ter despertado algo dentro dela, porque ficou rígida, e a ouviu sussurrar.

—Oh, não.

James quis aferrar-se a ela. Deslizá-la até o chão e beijá-la até que perdesse a razão, mas deviaser mais honrado do que imaginou, porque a deixou ir no instante em que ela começou a separar-se.

Elizabeth permaneceu de pé em frente a ele vários segundos, parecendo mais impressionada queoutra coisa. Tinha sua pequena mão sobre sua boca, e seus olhos estavam enormemente abertos, sempiscar.

—Nunca pensei... — murmurou ela, contra sua mão. —Não posso acreditar...

—Não pode acreditar no que? Ela negou com a cabeça.

—Oh, isto é horrível.

Isso era um pouco mais do que seu ego podia suportar.

—Bem, um momento, eu não diria...

Mas ela já havia escapado.

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Capítulo 7

Elizabeth chegou a Dambury House na manhã seguinte com um só objetivo em mente: manter-setão longe de James Siddons como fosse humanamente possível.

Ele a beijara. Realmente a beijara. Pior, ela deixara. E ainda pior, escapara como uma covardepara casa. Só uma vez em todos seus anos como acompanhante de Lady Dambury partiu antes dotempo a casa, e foi quando teve uma febre pulmonar. E inclusive então, tentou permanecer em seuposto, partindo só quando Lady Dambury a ameaçou cuidar dela ela mesma em pessoa. Mas destavez bastou o beijo de um homem, e ela choramingava como uma tola. Elizabeth se sentira tãomortificada por suas ações, que ela enviara Lucas a Dambury House com uma nota para Lady D emque lhe explicava que se sentia bastante doente. Não era completamente mentira, raciocinouElizabeth. Estava quente e sufocada, e sentia algo muito estranho no estômago.

Além disso, a alternativa à mentira era morrer de vergonha. Assim Elizabeth levou muito poucotempo para decidir que sua pequena mentira estava completamente justificada.

Passou toda a tarde escondida em seu quarto, estudando de forma obsessiva e minuciosa Comocasar-se com um Marquês. Não havia muitas referências aos beijos. Obviamente a senhora Seetonpensou que alguém que fosse bastante inteligente para comprar seu livro era também bastanteinteligente para saber que, evidentemente, não se beijava a um cavalheiro com quem não tinha umaprofunda e potencialmente duradoura relação.

E certamente, não deveria desfrutá-lo.

Elizabeth gemeu, recordando tudo isto. Até agora o dia se desenvolvia como qualquer outro,salvo que ela olhou por cima de seu ombro tantas vezes que Lady Dambury lhe perguntou sedesenvolveu um tic nervoso. A vergonha a obrigou a deixar de virar o pescoço, mas ainda saltavasobressaltada sempre que ouvia passos.

Tentou convencer-se de que não devia ser tão terrivelmente difícil evitá-lo. O senhor Siddonsdevia ter milhares de deveres como administrador, novecentos dos quais, certamente, requeriam suapresença fora da casa. Assim se Elizabeth simplesmente se encerrasse dentro de Dambury House,estaria a salvo. E se ele decidia realizar alguma das poucas tarefas que requeriam sua presençadentro da casa... bem, então estava segura de que poderia encontrar alguma razão para sair damansão e desfrutar do quente sol Inglês.

E então começou a chover.

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A testa de Elizabeth golpeou o vidro da janela da sala de estar com um baque surdo.

—Isto não pode estar acontecendo—resmungou.—Simplesmente não pode estar acontecendo.

—O que não pode acontecer? —perguntou energicamente Lady Dambury. —A chuva? Não sejacabeça de vento. Isto é a Inglaterra, portanto, deve chover.

—Mas não hoje—suspirou Elizabeth. —Estava tão ensolarado esta manhã quando cheguei.

—Desde quando supõe que isso faça alguma diferença?

—Desde... —Fechou os olhos e tragou um gemido. Alguém que tinha vivido toda sua vida emSurrey deveria saber que não podia confiar em uma manhã ensolarada. —Oh, não importa. Tanto faz.

—Está preocupada com a volta a sua casa? Não o faça. Farei que alguém te leve em casa. Nãodeveria te expor aos elementos tão logo depois de uma enfermidade. —Os olhos de Lady Dambury seentrecerraram. —Embora deva dizer que parece notavelmente recuperada.

—Não me sinto notavelmente recuperada— disse Elizabeth, com bastante honestidade.

—O que me disse que tinha?

—O estômago—resmungou ela. —Acredito que foi algo que comi.

—Hmmph. Ninguém mais caiu doente. Não posso imaginar o que comeu. Mas se passou toda atarde jogando até as tripas...

—Lady Dambury! —exclamou Elizabeth. Não passou toda tarde anterior jogando até as tripas, ede todo modo, não havia nenhuma necessidade de falar de tais funções corporais.

Lady D sacudiu a cabeça.

—Que pudica. Desde quando se tornaram as mulheres tão dissimuladas?

—Quando decidimos que o vômito não era um tema agradável de conversação—replicou

Elizabeth.

—Bem dito! —riu Lady Dambury, aplaudindo. —Afirmo, Elizabeth Hotchkiss, que a cada diasoa mais e mais parecida comigo.

—Deus me ajude—gemeu Elizabeth.

—Muito bem. Exatamente o que eu teria dito. —Lady Dambury se recostou, tocou o dedoindicador, e franziu o cenho. —Agora, bem, do que falava eu? Ah, sim, queríamos nos assegurar deque não teria que partir para casa sob a chuva. Não tema, encontraremos a alguém que te leve. Meunovo administrador, se for necessário. Ele sabe que lhe vai ser impossível fazer algo com este tempo.

Elizabeth tomou ar.

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—Estou segura de que a chuva vai parar logo.

Um relâmpago cruzou o céu, só para lhe contrariar, estava segura, seguido por um trovão tãoestrondoso que Elizabeth ficou em pé de um salto.

—Ow! —gritou.

—O que aconteceu agora?

—É só o joelho— respondeu ela, com um sorriso evidentemente falso. —Não me doeu quasenada.

Lady Dambury bufou de incredulidade.

—Não, de verdade—insistiu Elizabeth. —É engraçado que nunca percebi que essa mesinhaestava ali, entretanto.

—Ah, esta. Pus ontem ali. Sugestão do senhor Siddons.

—Podia ter ficado calado—resmungou Elizabeth.

—Perdão?

—Nad—, disse ela, um pouco alto.

—Hmmph—foi a resposta de Lady Dambury. —Tenho sede.

Elizabeth imediatamente se animou ante a perspectiva de ter algo que fazer além de olharfixamente para fora da janela e preocupar-se pela perspectiva de que o senhor Siddons aparecesse.

—Gostaria de um chá, Lady Dambury? Ou possivelmente melhor, poderia dizer à cozinheira queprepare um pouco de limonada.

—Muito cedo para a limonada—resmungou Lady D. —E muito cedo também para o chá, de fato,mas tomarei um de todo modo.

—Não tomou chá com o café da manhã? —indicou Elizabeth.

—Era o chá do café da manhã. É completamente diferente deste.

Ah. Algum dia—pensou Elizabeth—receberia a santidade por isso.

—Te assegure de que a cozinheira coloque também um prato de biscoitos na bandeja. E nãoesqueça de lhe pedir que acrescente algo para o Malcolm. —Lady D estirou o pescoço e olhou aoredor. —Onde está esse gato?

—Tramando seu último plano de tortura para mim, sem dúvida— murmurou Elizabeth.

—Né? O que diz?

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Elizabeth deu a volta para a porta, olhando ainda por cima de seu ombro a Lady Dambury.

—Nada absolutamente, Lady Dambury. Vou a...

Qualquer outra coisa que pudesse dizer se perdeu quando seu ombro golpeou contra algo grande,quente, e decididamente humano.

Elizabeth gemeu. O senhor Siddons. Seguro. Nunca foi uma mulher particularmente afortunada.

—Cuidado—ouviu-o dizer, uma fração de segundo antes que suas mãos a agarrassem suavementepela parte superior de seus braços.

—Senhor Siddons! —gorjeou Lady Dambury. —Que encantador vê-lo tão cedo.

—Em efeito—resmungou Elizabeth.

—Se unirá a nós para o chá? —prosseguiu Lady D. —Justamente Elizabeth ia trazer umabandeja.

Elizabeth ainda se negava por princípio, embora não estivesse muito segura de que princípio aolhá-lo, mas, entretanto, pressentiu seu sorriso lupino.

—Estaria encantado— disse ele.

—Excelente— respondeu Lady Dambury. —Vê então, Elizabeth. Necessitaremos chá para três.

—Não posso ir a nenhuma parte— disse Elizabeth, fazendo ranger os dentes, —enquanto osenhor Siddons siga me segurando os braços.

—O fazia? — disse ele, ingenuamente, liberando-a de seu aperto. —Não me dei conta.

Se tivesse um só centavo, decidiu Elizabeth gravemente, o teria apostado nesse mesmomomento a que mentia.

—Precisava fazer umas perguntas a nossa querida senhorita Hotchkiss — disse o senhorSiddons. —Os lábios da Elizabeth se entreabriram de surpresa.—Embora possam esperar até quevolte, estou seguro.

A cabeça da Elizabeth girou alternativamente entre o senhor Siddons e Lady Dambury enquantotentava entender a estranha tensão que surgiu na sala.

—Se estiver seguro— disse ela. —Estaria encantada de...

—Ele acredita que está me chantageando— disse Lady Dambury sem rodeios.

—Acredita que estou fazendo o que? —quase gritou Elizabeth.

—Agatha! —exclamou o senhor Siddons, soando como se desejasse enviar à dama idosa aoinferno. —Conhece a palavra "sutileza"?

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—Hmmph. Nunca funcionou comigo.

—Já vejo—resmungou ele.

—Acaba de chamá-la Agatha? —perguntou Elizabeth. Olhou a Lady Dambury surpresa. Estevecuidando da condessa durante cinco anos e nunca se atreveu a usar seu primeiro nome.

—Conhecia a mãe do senhor Siddons— disse Lady Dambury, como se isso explicasse tudo.Elizabeth plantou as mãos nos quadris e olhou carrancuda ao atraente administrador.

—Como se atreve a pensar que eu chantagearia a esta doce e idosa dama!

—Doce? —repetiu o senhor Siddons.

—Idosa? —gritou Lady Dambury.

—Eu jamais desceria tão baixo— disse Elizabeth, respirando profundamente—Nunca. E deveriaenvergonhar-se por tê-lo pensado.

—Isso é o que eu disse—falou Lady D com um encolhimento de ombros. —Realmente vocênecessita do dinheiro, certamente, mas não é do tipo de...

A mão do senhor Siddons se fechou ao redor de seu braço de novo.

—Necessita dinheiro? —exigiu. Elizabeth revirou os olhos.

—Não o necessitamos todos?

—Eu tenho em abundância— disse Lady D.

Seus dois empregados giraram a cabeça em uníssono e a fulminaram com o olhar.

—Bom, é a verdade— disse ela, resmungando.

—Por que necessita dinheiro? —perguntou suavemente o senhor Siddons.

—Não é assunto dele!

Mas Lady Dambury obviamente pensou que era, porque disse.

—Tudo isto começou quando...

—Lady Dambury, por favor! —Elizabeth lhe dirigiu um olhar suplicante. Já era suficientementedifícil estar tão necessitada de recursos. Que a condessa além disso a envergonhasse diante de umestranho...

Lady Dambury pareceu dar-se conta por uma vez de que ultrapassou os limites e fechou a boca.

Elizabeth fechou os olhos e soltou o fôlego.

—Obrigado — sussurrou.

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—Tenho sede, —declarou Lady D.

—Perfeito— disse Elizabeth, para ela mesma, embora suas palavras fossem audíveis para todos.—O chá.

—O que esta esperando? —exigiu Lady Dambury, golpeando o chão com sua bengala.

—A santificação—resmungou Elizabeth, baixinho.

Os olhos do senhor Siddons se arregalaram. Oh, maldição, a ouvira. Estava tão acostumada aestar a sós com Lady Dambury que esquecera de vigiar o que ela murmurava para si mesma.

Mas o senhor Siddons, para grande surpresa dela, soltou repentinamente seu braço e começou atossir. E depois, quando qualquer pessoa normal teria parado, dobrou-se, bateu contra a parede, ecomeçou a tossir ainda mais violentamente.

O antagonismo de Elizabeth cedeu passagem à preocupação enquanto se inclinava.

—Encontra-se bem?

Ele assentiu com a cabeça apressadamente, sem tirar a mão da boca.

—Engasgou-se com algo? —gritou Lady Dambury.

—Não posso imaginar com o que— respondeu Elizabeth. —Não estava comendo nada.

—Golpeia-o nas costas— disse Lady D. —Golpeia-o com força. O senhor Siddons sacudiu acabeça e saiu disparado da sala.

—Possivelmente deveria segui-lo—sugeriu Lady Dambury. —E não esqueça de golpeá-lo.Elizabeth piscou duas vezes, deu de ombros, e abandonou a sala, pensando que golpeá-lo com forçanas costas poderia resultar um esforço bastante satisfatório.

—Senhor Siddons? —Olhou a esquerda e a direita, mas não o viu. —Senhor Siddons?

E então o ouviu. Grandes rugidos de risada que provinham de detrás da esquina. Fechou a portacom prontidão. Quando virou a esquina, o senhor Siddons estava sentado sobre um bancoalmofadado, ofegando por tomar ar.

—Senhor Siddons? James?

Ele ergueu a vista, e de repente não pareceu tão perigoso como no dia anterior.

—A santificação—exclamou. —Deus bendito, sim, sim que a merecemos.

—Bom, você esteve aqui só uns dias—indicou Elizabeth—Terá que passar ao menos um par deanos mais em sua companhia, acredito, antes que possa ser sequer considerado para mártir.

O senhor Siddons tentou conter a risada, mas esta explodiu como um grande globo. Quando

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recuperou o controle de si mesmo, disse.

—São os quietos como você os mais perigosos e ardilosos.

—Eu? —perguntou Elizabeth com incredulidade. —Não sou quietinha absolutamente.

—Possivelmente não, mas realmente escolhe suas palavras com cuidado.

—Bem, sim— disse ela com uma inclinação inconsciente de sua cabeça. —Já sou bastanteatrapalhada com meu corpo sem necessidade de acrescentar minha boca à combinação.

James decidiu nesse mesmo momento que ela não podia ser a chantagista. Oh, sabia que ele nãoreunira dados suficientes para fazer esta declaração, mas seus instintos estavam lhe dizendo durantedias que ela devia ser inocente.

Ele, simplesmente, não foi o bastante inteligente para escutá-los. Avaliou-a durante um momento,e logo lhe perguntou.

—Ajudo-a a trazer o chá?

—Certamente tem coisas mais importantes que fazer do que acompanhar a acompanhante de umasenhora à cozinha.

—Notei frequentemente que as acompanhantes das senhoras são as mais necessitadas decompanheirismo.

Seus lábios se torceram em um contrariado sorriso.

—Vamos, Lady Dambury é uma boa pessoa.

James olhou sua boca com descarado interesse. Queria beijá-la, deu-se conta. Isto não erasurpreendente em si mesmo ele tinha pensado um pouco mais no dia anterior, além de nos beijosdela. O estranho era que quis fazê-lo justo nesse mesmo momento, no corredor.

Ele, em geral, era muito mais discreto.

—Senhor Siddons?

Ele piscou, um pouco envergonhado por ter sido apanhado contemplando-a ensimesmado.

—Quem está chantageando a Lady Dambury?

—Se soubesse, não teria acusado a você.

—Hmmph. Não creia que o perdoei por isso.

—Deus santo— disse ele, assustado. —Começa a falar como ela. Os olhos de Elizabeth searregalaram horrorizados.

—Lady Dambury?

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Ele assentiu e soltou um "hmmmph"em uma perfeita imitação de Elizabeth de Lady D. Elaofegou.

—Não fiz isso, verdade?

Ele assentiu outra vez, com a diversão bailando em seus olhos. Ela gemeu.

—Vou pegar chá.

—Então me perdoou por suspeitar que era o chantagista?

—Suponho que devo fazê-lo. Não é como se me conhecesse o bastante para me descartar comosuspeita imediatamente.

—Muito tolerante por sua parte.

Ela lançou um olhar que lhe disse que não apreciava muito seu impertinente comentário.

—Mas o que não entendo é, que demônios pode ter feito Lady Dambury para converter-se emobjeto de chantagem?

—Não cabe a mim revelá-lo, — disse ele, suavemente. Elizabeth assentiu.

—Trarei o chá.

—Vou com você.

Ela estendeu o braço com a mão erguida.

—Não. Não venha.

Ele pegou seus dedos e beijou as pontas.

—Sim. Sim vou.

Elizabeth afastou a vista de sua mão. Deus querido, este homem a beijou outra vez! Justo ali, nocorredor. Muito atordoada para retirar a mão, olhou a ambos os lados, aterrorizada se por acaso umcriado tropeçava com eles.

—Nunca a beijaram antes de ontem— murmurou ele.

—É obvio que não!

—Nem sequer na mão. —Ele soltou seus dedos, agarrou-lhe a outra mão e lhe beijou os nódulos.

—Senhor Siddons! —ofegou ela. —Está louco? Ele sorriu.

—Me alegro de que não a tenham beijado antes.

—Está louco. Completamente louco. —E, acrescentou à defensiva, —é obvio que me beijaramna mão.

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—Seu pai não conta.

Nesse momento, o que Elizabeth mais desejou foi que a terra se abrisse e a tragasse. Sentiu quelhe ardiam as faces, e sabia que não precisava dizer nenhuma palavra para que ele soubesse que tinharazão. Não havia muitos cavalheiros solteiros em seu pequeno povoado, e certamente nenhum delesera o bastante sofisticado para beijá-la na mão.

—Quem é você? — sussurrou Elizabeth.

Ele a olhou de uma maneira estranha, entrecerrando seus olhos negros.

—James Siddons. Já sabe. —Ela sacudiu a cabeça.

—Você nunca foi antes administrador de imóveis. Apostaria minha vida nisso.

—Quer ver minhas referências?

—Não se comporta como tal. Um criado...

—Ah, mas eu não sou exatamente um criado—interrompeu-a ele. —Como você tampouco. Tenhoentendido que pertence à pequena nobreza local.

Ela assentiu.

—A minha também é uma antiga família—prosseguiu ele. —Nosso orgulho, infelizmente, nãodesapareceu junto com nosso dinheiro.

—Infelizmente?

Uma comissura de sua boca se elevou ligeiramente.

—Causa incômodos em alguns momentos.

—Como este— disse Elizabeth firmemente. —Deve voltar para o salão neste instante. LadyDambury estará ali, perguntando-se, estou segura, por que diabos fechei a porta, e o que estamosfazendo, e embora não me gabo de conhecer sua mente, não desejo dar explicações.

James ficou olhando-a, perguntando-se por que, de repente, sentia-se como se tivesse sidorepreendido por seu instrutor. Sorriu amplamente.

—É muito boa nisto.

Elizabeth conseguira dar três passos em direção à cozinha. Bufou de frustração e girou.

—No que?

—Em falar com um homem adulto como se fosse um menino. Sinto-me bastante posto em meulugar.

—Não é certo—replicou ela, agitando sua mão para ele. —Apenas olhe-se. Não parece nenhum

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pouco arrependido. Sorri amplamente como um idiota.

Ele ergueu a cabeça.

—Sei.

Elizabeth elevou as mãos exasperada.

—Preciso ir.

—Você me faz sorrir.

Suas palavras, suaves e intensas, detiveram seus passos.

—Dê a volta, Elizabeth.

Havia algum tipo de conexão entre ambos. Elizabeth não sabia nada do amor, mas sabia quepoderia apaixonar-se por este homem. Sentia-o profundamente no coração, e isto a aterrorizou. Elenão era um homem com o qual ela poderia casar-se. Não tinha dinheiro; dissera-o ele mesmo. Comoia enviar Lucas a Eton com um administrador de imóveis como marido? Como ia alimentar e vestir aSusan e a Jane? Susan só tinha quatorze anos agora, mas logo ia querer fazer sua estreia. Londresficava fora de consideração, mas até uma pequena estreia local custava dinheiro. E isto era algo quenem Elizabeth nem o homem que estava de pé atrás dela possivelmente o único homem que poderiacapturar alguma vez seu coração possuíam.

Deus querido, pensou que a vida a tratou injustamente antes, mas isto... isto era pura agonia.

—Dê a volta, Elizabeth.

Ela seguiu caminhando. Foi a coisa mais difícil que jamais havia feito.

Mais tarde, essa noite, Susan, Jane, e Lucas Hotchkiss se agruparam sobre o frio chão dovestíbulo superior, justo diante da porta do quarto de sua irmã mais velha.

—Acredito que está chorando, — sussurrou Lucas.

—É obvio que está chorando — sussurrou Jane. —Qualquer idiota poderia dizer que estáchorando.

—A questão é—interrompeu Susan, —por que está chorando? Ninguém tinha resposta para isto.

Um momento depois estremeceram, quando ouviram um soluço ligeiramente mais forte que osanteriores, e tragaram incomodamente quando foi seguido de um ruidoso sorver de mucos.

—Esteve muito preocupada com o dinheiro ultimamente— disse Lucas hesitantemente.

—Sempre está preocupada com o dinheiro—replicou Jane.

—É natural—acrescentou Susan. —A gente que não tem dinheiro sempre está preocupada com

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isso.

Os dois Hotchkiss mais jovens assentiram.

—Não temos realmente nada? — sussurrou Jane.

—Temo que não, — disse Susan.

Os olhos de Lucas começaram a reluzir.

—Não vou poder ir a Eton, verdade?

—Não, não— disse Susan rapidamente, —é obvio que vai. Só temos que economizar.

—Como vamos economizar quando não temos nada? —perguntou ele. Susan não respondeu.

Jane lhe deu uma cotovelada nas costelas.

—Acredito que um de nós deveríamos consolá-la.

Antes de que Susan pudesse começar a assentir com a cabeça, ouviram um sonoro golpe, seguidodo incrivelmente terrível som dos gritos de sua irmã mais velha.

—Maldição, vá para o inferno! Jane ofegou.

Susan ficou boquiaberta.

—Não posso acreditar que disse isso—ofegou Lucas reverentemente. —Me pergunto a quemamaldiçoa.

—Não é algo do que estar orgulhoso—exclamou Jane, lhe dando uma palmada na nuca.

—Ow!

—E não diga "maldito," —acrescentou Susan.

—Sim, é algo do que estar orgulhoso. Nem sequer eu disse isso. Jane revirou os olhos.

—Homens.

—Deixem de discutir— disse Susan distraidamente. —Acredito que deveria entrar e vê-la.

—Sim— respondeu Jane, —justo como eu estava dizendo...

—Por que tudo tem que ser tua ideia? — disse Lucas, asperamente. —Você sempre...

—Foi minha ideia!

—Basta! —virtualmente ladrou Susan. —Para baixo, os dois. E se averiguar que algum medesobedeceu, dobrarei a dose de goma em sua roupa interior durante um mês.

Os dois pequenos assentiram com a cabeça e correram escada abaixo. Susan suspirou e bateu naporta da Elizabeth. Nenhuma resposta.

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Chamou outra vez.

—Sei que está aí.

Soaram passos, seguidos de uma mordaz e brusca abertura da porta.

—É obvio que sabe que estou aqui—espetou-lhe Elizabeth. —Provavelmente podem me ouvirdesde Dambury House.

Susan abriu a boca, fechou-a, e logo a voltou a abrir outra vez para dizer, ia perguntar se algo foimau, mas me dei conta do ridículo que soava, assim, em troca, que tal se perguntar o que aconteceu?

A resposta de Elizabeth não foi verbal. Girou a cabeça e fulminou com o olhar a um vultovermelho que estava em um canto do chão do quarto.

—Santo Deus! —exclamou Susan, apressando-se através do quarto. —Este foi o ruído que ouvi?

Elizabeth jogou uma desdenhosa olhada a "Como casar-se com um Marquês", cuidadosamentesustentado entre as mãos de sua irmã.

—Este livro pertence a Lady Dambury! — disse Susan. —Você mesma me fez prometer nãomarcar nem sequer a lombada ao lê-lo. E o lança através do quarto?

—Minhas prioridades mudaram. Não me preocupa se arde no inferno. Não me preocupa se asenhora Seeton arde com ele.

A boca da Susan formou um "o" perfeito.

—Estava mandando à senhora Seeton ao inferno?

—Possivelmente o fazia— disse Elizabeth, com voz insolente. Susan levou uma mão à faceconsternada.

—Elizabeth, não parece você mesma.

—Não me sinto como eu mesma.

—Precisa me dizer o que aconteceu que te deixou tão transtornada. Elizabeth soltou um curto esuperficial suspiro.

—Esse livro arruinou minha vida. Susan piscou.

—Nunca foste dada ao melodrama.

—Possivelmente mudei.

—Possivelmente— disse Susan, um tanto irritada, evidentemente, ante as evasivas de sua irmã.—Você gostaria de me explicar como este livro arruinou sua vida.

Elizabeth olhou para o outro lado, assim Susan não pôde ver como estremecia seu rosto.

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—Eu não teria flertado com ele. Nunca me teria aproximado dele se não tivesse metido nacabeça...

—Deus meu! —interrompeu-a Susan. —O que te fez? Desonrou-te de algum modo?

—Não! —gritou Elizabeth. —Nunca o faria.

—Então o que aconteceu?

—Oh, Susan— respondeu Elizabeth, com silenciosas lágrimas rolando por seu rosto. — Poderiame apaixonar por ele. Poderia amá-lo de verdade.

—Então o que está errado? —perguntou Susan em um suave sussurro.

—Susan, ele não tem nem um centavo! É um simples administrador!

—Será que não poderia ser feliz com uma vida simples?

—É obvio que poderia—explodiu Elizabeth. —Mas e a educação do Lucas? E sua estreia? E asaquarelas de Jane? Não escutaste nenhuma palavra do que estive dizendo durante toda a semana?Acredita que procurava marido porque me divertia com isso? Necessitamos dinheiro, Susan.Dinheiro.

Susan não pôde olhar a sua irmã aos olhos.

—Sinto muito, se sente que precisa te sacrificar.

—O engraçado é que não pensei que isto fosse sacrifício. Muitas mulheres se casam com homensaos que não amam. Mas agora... —Fez uma pausa e secou os olhos. —Agora é difícil. Isso é tudo.Difícil.

Susan tragou e suavemente disse.

—Talvez deveria devolver o livro. Elizabeth assentiu.

—Farei amanhã.

—Podemos... podemos decidir como proceder mais tarde. Estou segura de que pode encontrarum marido sem necessidade de praticar com...

Elizabeth elevou uma mão.

—Não quero falar disso agora.

Susan assentiu e sorriu fracamente enquanto embalava o livro.

—Irei tirar lhe o pó. Pode devolvê-lo amanhã.

Elizabeth não se moveu enquanto via a sua irmã abandonar o quarto. Depois avançou lentamenteaté sua cama e começou a chorar. Mas esta vez manteve o travesseiro sobre sua cabeça, amortecendo

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o som de seus soluços.

A última coisa que queria era mais compaixão.

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Capítulo 8

Elizabeth chegou a Dambury House antes que de costume à manhã seguinte, esperando poderentrar na biblioteca e devolver o livro antes de que Lady Dambury terminasse de tomar o café damanhã. A única coisa que queria era afastar o maldito livro de sua vista e de suas mãos para sempre.

Visualizou a cena em sua mente cem vezes. Deslizaria "Como casar-se com um Marquês" emsua correspondente prateleira e fecharia a porta da biblioteca firmemente atrás dela. Mas como,rezou, seria tudo.

—Não me causaste mais que aflição — sussurrou a sua bolsa.

Santo céu, estava se convertendo em uma verdadeira idiota. Estava falando com um livro.

Um livro! Isso não tinha nenhum poder, não ia mudar sua vida, e certamente não ia responder-lheainda quando ela fosse o bastante estúpida para lançar palavras em sua direção. Era só um livro. Umobjeto inanimado. O único poder que possuía era o que ela decidisse lhe conceder. Só seriaimportante em sua vida se ela assim decidisse.

É obvio, isso não explicava por que sempre meio que esperava que brilhasse na escuridãoquando ela olhava atentamente sua bolsa. Caminhou nas pontas dos pés pelo corredor, pela primeiravez em sua vida malditamente agradecida pela firme adesão de Lady Dambury à rotina.

A condessa estaria aproximadamente a meio caminho do café da manhã agora mesmo, o quesignificava que Elizabeth teria mais ou menos vinte minutos antes de que sua patroa aparecesse nasaleta. Dois minutos para deslizar de novo o livro na biblioteca, e dezoito para acalmar-se. Elizabethtinha a mão dentro de sua bolsa e começou a pegar o livro enquanto girava a esquina. A porta dabiblioteca estava entreaberta. Perfeito. Menos ruído que fazer, menos probabilidades de que alguémse topasse com ela. Não é que houvesse muita atividade nesta parte da casa antes de que Lady Dterminasse seu café da manhã, mas de todo modo, nunca se era muito cuidadoso.

Deslizou de lado pela abertura da porta, o olhar cravado na prateleira onde ela encontrara olivro no princípio da semana. Tudo o que precisava fazer era cruzar o quarto, pôr o livro em seulugar, e sair. Sem desvios e sem paradas desnecessárias.

Tirou o livro, com os olhos enfocados na prateleira. Dois passos mais, e...

—Bom dia, Elizabeth. Gritou.

James retrocedeu ligeiramente da surpresa.

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—Minhas mais profundas desculpas por assustá-la.

—O que faz aqui? —exigiu ela.

—Está tremendo— disse ele com uma voz preocupada. —Realmente a assustei, verdade?

—Não— disse ela, com voz muito alta. —É só que não esperava encontrar a ninguém. Abiblioteca está acostumada estar em geral vazia a estas horas da manhã.

Ele deu de ombros.

—Eu gosto de ler. Lady Dambury me disse que podia fazer uso livremente de sua coleção. E, oque leva na mão?

Elizabeth seguiu seu olhar até sua mão e ofegou. Deus santo, ainda tinha o livro na mão.

—Não é nada—soltou, tentando voltar a colocá-lo em sua bolsa.

—Nada. —Mas seus nervos deixaram torpes seus dedos, e o livro caiu ao chão.

—É o livro que tentava me ocultar o outro dia— disse ele com um brilho triunfante nos olhos.

—Não é! —virtualmente gritou ela, atirando-se ao chão para cobri-lo. —É só uma novela tolaque tomei emprestada, e...

—É boa? —perguntou ele arrastando as palavras. —Eu gostaria de lê-la.

—Odiaria, — disse ela rapidamente. —É um romance.

—Eu gosto de romance.

—É obvio, todo mundo gosta de romance— disse ela, absurdamente —mas, realmente quer lersobre isso? Acredito que não. É muito melodramático. Se aborreceria enormemente.

—Você crê? — murmurou ele, esboçando um meio sorriso com a comissura de sua boca. Elaassentiu freneticamente.

—Como se está acostumado a dizer, é um livro para mulheres.

—Isso é bastante discriminatório, não crê?

—Tento só lhe economizar tempo. Ele ficou de cócoras.

—Isso é muito considerado por sua parte.

Ela trocou de posição de modo que pudesse sentar-se diretamente sobre o livro.

—Está bem ser considerado.

Ele se aproximou, seus olhos brilhavam.

—Esta é uma das coisas que mais eu gosto de você, Elizabeth.

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—Qual? —grasnou ela.

—Sua consideração.

—Duvido—replicou ela, mordendo virtualmente as palavras. —Só ontem pensava que euchantageava a Lady Dambury. Como de considerado é isso?

—Tenta mudar de tema—repreendeu-a, —mas só para que conste, já decidira que você não era ochantagista. É certo que era a principal suspeita, depois de tudo, tem bastante acesso aos pertencesde Lady Dambury, mas não é preciso passar muito tempo em sua companhia para fazer uma exataavaliação de seu caráter.

—Que considerado por sua parte— disse ela, sarcasticamente.

—Saia do livro, Elizabeth—ordenou ele.

—Não.

—Saia do livro.

Ela gemeu audivelmente. Era impossível que sua vida tivesse chegado a este ponto."Mortificação" não começava, nem sequer, a descrever o estado de sua mente. E "beterraba" nãopodia começar a descrever o estado de suas faces.

—Só está piorando. —Estirou uma mão, e de algum jeito conseguiu agarrar um canto do livro.

Ela imediatamente fez mais força para baixo.

—Não vou mover-me.

Ele a olhou com lascívia e meneou os dedos.

—Não vou tirar a mão.

—Você é um libertino— disse ela, sem fôlego. —Acariciando o traseiro de uma senhora. Ele seinclinou para diante.

—Se eu estivesse acariciando seu traseiro, teria no rosto uma expressão decididamentediferente.

Ela o golpeou no ombro. Era provavelmente quão mínimo merecia, pensou James, mas que ocondenassem se abandonaria a biblioteca sem conseguir jogar uma boa olhada em seu pequeno livrovermelho.

—Pode me insultar tudo o que queira— disse ela, em tom altivo, —mas não sortirá efeito. Nãome movo.

—Elizabeth, começa a parecer uma galinha tentando incubar um livro.

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—Se fosse um cavalheiro...

—Oh, mas há um tempo e um lugar para o cavalheirismo, e este não é um deles. — Empurrou osdedos mais para baixo dela, conseguindo agarrar uns centímetros mais do livro com a mão. Umempurrão mais, e ele deveria ser capaz de enganchar com o polegar a borda do livro. E então seriadele!

Elizabeth apertou a mandíbula.

—Tire sua mão de debaixo de mim— disse ela, rangendo os dentes.

Ele fez o contrário, agitando os dedos até conseguir agarrar outro centímetro.

—É uma façanha notável, realmente, que possa dizer isso com os dentes apertados.

—James!

Ele elevou sua mão livre.

—Só um momento, por favor. Estou me concentrando.

Enquanto ela o fulminava com o olhar, ele enganchou com o polegar a borda superior do livro.Seus lábios se estenderam em um letal sorriso.

—Está acabada, senhorita Hotchkiss.

—Que está... Aaaaaaaaccccccck!

Com um grande puxão, ele liberou o livro de debaixo dela, atirando-a de costas.

—Nãooooooooooo! —gritou ela, soando como se o destino do mundo dependesse de suacapacidade de recuperar seu livro.

James correu pela sala, sustentando o livro alto, triunfalmente. Elizabeth era muito menor queele; nunca seria capaz de alcançá-lo.

—James, por favor—rogou ela.

Ele negou com a cabeça, desejando não sentir-se tão canalha; a expressão do rosto de Elizabethera das que rompiam o coração. Mas esteve intrigado pelo livro durante dias, e ele chegou tão longe,que girou a cabeça, endireitou o livro, e leu o título.

"Como casar-se com um Marquês".

Piscou. Certamente ela não sabia... não, não podia conhecer sua verdadeira identidade.

—Por que teve que fazer isto? — disse ela com voz embargada. —Por que teve que fazê-lo? Eleinclinou a cabeça para ela.

—O que é isto?

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—O que parece que é? —espetou ela.

—Eu... ah... Não sei. —Sustentando ainda o livro em alto, ele o abriu e folheou umas páginas. —Parece um guia, na realidade.

—Então isso é o que é—replicou. —Agora por favor, dê-me isso. Preciso devolver a LadyDambury.

—Este pertence a minha... a Lady Dambury? —perguntou ele, com incredulidade.

—Sim! Agora me devolva isso.

James sacudiu a cabeça, girando a cabeça para o livro, e logo voltando seu olhar para Elizabeth.

—Mas por que necessitaria ela um livro como este?

—Não sei— disse ela, quase chorando. —É velho. Talvez o comprou antes de casar-se comLorde Dambury. Mas por favor, me deixe simplesmente pô-lo sobre sua prateleira antes que elaretorne do café da manhã.

—Em um momento. —Ele voltou outra página e leu:

"Não deve separar nunca os lábios quando sorrir. Um sorriso sem dentes é imensamente maismisterioso, e sua tarefa é fascinar a seu Marquês."

—É por isso que elas sempre fazem isso? — murmurou ele. Jogou uma olhada a Elizabeth. — ODecreto número doze explica muito.

—O livro—grunhiu ela, estendendo a mão.

—No caso de estar interessada— disse ele com um expressivo gesto da mão, —prefiro umamulher que sabe sorrir. Isto —estirou os lábios apertados em uma zombadora paródia de sorriso —mal pode qualificar-se como tal.

—Não acredito que a senhora Seeton quisesse que fizesse isto. —Ela imitou sua exageradaexpressão. —Acredito que se referia a algo assim. —Esta vez ela curvou os lábios em um delicadomeio sorriso, que enviou um calafrio ao longo da espinha dorsal de James, direto para seu...

—Sim—ele disse, com uma tosse, —isso é muito mais eficaz.

—Não posso acreditar que esteja falando disto com você— disse ela, mais para si mesma quepara ele. —Podemos simplesmente, por favor, devolver o livro a seu lugar?

—Temos ao menos dez minutos antes que Lady Dambury termine seu café da manhã. Não sepreocupe. —devolveu sua atenção ao pequeno livro vermelho. —Acho isto fascinante.

—Eu não—grunhiu ela.

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James voltou sua atenção para Elizabeth. Estava de pé tão rígida como um cabo de vassoura,com as mãos apertadas em punhos aos lados. Suas faces vermelhas de indignação.

—Está zangada comigo— disse ele.

—Seu poder de observação é assombroso.

—Mas eu só estava brincando. Deve saber que nunca foi minha intenção ser insultante. Seu olharse endureceu um pouco mais.

—Vê-me rir ?

—Elizabeth— disse ele, aplacadoramente, —era só sã diversão. Certamente não tomará estelivro a sério.

Ela não respondeu. O silêncio no quarto se tornou denso, e James viu um brilho de dor naquelesolhos de safira. As comissuras de seus lábios tremeram, então ela os apertou, e ela olhou ao longe.

—Oh, Deus—exalou ele, pequenas pontadas de culpa abrindo-se em seu peito. —Sinto muito.

Ela ergueu o queixo, mas ele podia ver como se esforçava por suprimir a emoção de seu rostoquando disse.

—Podemos deixá-lo já?

Silenciosamente, ele baixou os braços e lhe deu o livro. Ela não agradeceu, só tomou e osustentou perto de seu peito.

—Não sabia que procurava um marido— disse ele suavemente.

—Você não sabe nada sobre mim.

Ele gesticulou torpemente para o livro.

—Foi de utilidade?

—Não.

O tom monocórdio de sua voz foi como um soco direto em seu estomago. James de repente sedeu conta de que ia ter que fazê-lo muito melhor. Precisava apagar a expressão sem vida de seusolhos, devolver a melodia a sua voz. Precisava ouvir sua risada, ouvi-la rir de alguma pequenabrincadeira dela. Não sabia por que. Só sabia que era algo que precisava fazer.

Clareou a garganta e perguntou.

—Há alguma forma em que pudesse auxiliá-la?

—Desculpe?

—Posso ajudá-la de algum modo? Ela o olhou com receio.

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—O que quer dizer?

Os lábios de James se entreabriram ligeiramente enquanto tentava imaginar como diabosresponder.

—Só que... bem, resulta que sei uma ou duas coisas sobre encontrar um marido ou melhor, emmeu caso, uma esposa.

Os olhos de Elizabeth quase saíram de suas órbitas.

—Está casado?

—Não! — disse ele, surpreendendo inclusive ele mesmo pela força de sua resposta. Ela relaxouvisivelmente.

—Oh, graças a Deus. Porque você... você...

—Por que a beijei?

—Sim—resmungou ela, com as faces ruborizando-se sobre o rubor anterior.

Ele estendeu a mão e posou os dedos sob seu queixo, obrigando-a a elevar a vista para ele.

—Se eu estivesse casado, Elizabeth, pode estar segura de que não perderia tempo com outramulher.

—O que... é considerado de sua parte.

—Quão único queria dizer era que se verdadeiramente está procurando marido, sentiria-me felizde lhe dar uma mão de qualquer modo possível.

Elizabeth simplesmente o contemplou, incapaz de acreditar na ironia do momento. Aqui estavaela, de pé em frente ao homem pelo qual passou toda a noite anterior chorando, e ele se oferecia aajudá-la a encontrar outro homem com o qual casar-se?

—Isto não pode estar ocorrendo— disse para si mesma. —Simplesmente não pode estarocorrendo.

—Não vejo por que não— disse ele suavemente. —Considero-a uma amiga, e...

—Como diabos poderia me ajudar? —inquiriu ela, perguntando-se que demônios lhe aconteciapara continuar com o tema. —É novo no distrito. Não pode me apresentar a nenhum candidatoconveniente. E—acrescentou, gesticulando para ele, —evidentemente não está muito versado na artede vestir elegantemente e na moda.

Ele deu um par de passos para trás.

—Perdoe!

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—Suas roupas são de qualidade, mas evidentemente são de vários anos.

—Também o são as suas— disse ele com um sorriso satisfeito.

—Sei— disse ela, com irritação. —Por isso necessito a ajuda de alguém que saiba do queestamos falando.

James inclinou a cabeça tensamente a um lado e logo a endireitou, tentando suprimir uma réplica.A impertinente menina deveria ver seu armário em Londres. Cheio em abundância de trajes, todosimpecavelmente cortados e à última moda, e nada desses trajes de "petimetre{1}" cheios de riscas,volantes e ridículos estampados.

—Por que tem tanta vontade de casar-se? —perguntou-lhe, decidindo que era mais importanteclarificar sua situação que defender seu traje.

—Isso não é de sua incumbência.

—Não estou de acordo. Se for ajudá-la, tem que ser de minha incumbência.

—Não permiti que me ajudasse—replicou ela. Seus olhos se fixaram no livro.

—Precisa ser um marquês?

Ela piscou, perplexa.

—Perdão?

—Precisa ser um marquês?—repetiu ele. —Deve ter um título? É isso muito importante paravocê?

Ela retrocedeu um passo e disse em tom estridente.

—Não!

James sentiu que seus músculos se relaxavam. Não percebera quão tenso estava, ou de quãoimportante sua resposta negativa era para ele. Durante toda sua vida, foi dolorosamente conscienteque era sua posição o que importava, não sua personalidade. Seu pai nunca o chamara seu filho, sóseu herdeiro. O anterior marquês não sabia relacionar-se com uma criança; tratava a James como umadulto em miniatura. Qualquer transgressão infantil era vista como um insulto ao título, e Jamesaprendera rapidamente a ocultar sua personalidade, normalmente exuberante, encoberta sob umamáscara de sossegada obediência quando estava em companhia de seu pai.

Na escola foi popular os meninos com seu encanto e sua capacidade atlética, mas lhe tinhalevado algum tempo distinguir os verdadeiros amigos daqueles que o viam como um meio paramelhorar de vida e posição social. E logo em Londres... Deus bendito! Poderia ter duas cabeças ecorcunda no que dizia respeito a todas aquelas senhoras. “O marquês, o marquês” ouvia que

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sussurravam. “É um marquês. Tem uma fortuna. Vive em um castelo”. Seu aspecto e sua juventudeforam ressaltados como uma bênção, mas nunca, nem uma vez, ouvira alguém fazer menção de suainteligência, seu senso de humor, ou sequer a seu sorriso.

Pensando bem, Elizabeth Hotchkiss era a primeira mulher com quem topou em muito tempo queparecia gostar dele por ele mesmo.

Voltou a vista a ela.

—Nada de marqueses? — murmurou. —Por que, então, o livro?

Suas mãos, convertidas em punhos, tremeram a seus flancos, e o olhou como se fosse dar umpontapé no chão a qualquer momento.

—Porque estava aqui. Não tenho nem ideia de porque não o titularam Como casar-se com umcavalheiro sem título, mas com um pouco de fortuna e razoavelmente bom caráter.

James teve que rir disso.

—Mas, duvido que eu pudesse atrair a um cavalheiro com título em primeiro lugar—,acrescentou ela. —Não tenho nenhum dote, e certamente não sou um diamante da melhor qualidade.

Discordava nisso, mas ele suspeitou que ela não acreditaria mesmo que o dissesse.

—Tem alguns candidatos em mente? —perguntou.

Ela fez uma pausa durante um comprido e revelador instante antes de responder.

—Não.

—Então tem um homem em mente— disse ele, com um sorriso.

Outra vez, ela permaneceu silenciosa durante vários segundos antes de responder, em um tom quelhe disse que sua vida estaria em perigo se insistisse no tema.

—Não é adequado.

—E no que consiste ser adequado? Ela suspirou cansadamente.

—Não quero sofrer maus tratos, nem que me abandone...

—Vá, vá, somos ambiciosos.

—Esqueça que disse algo—explodiu ela. —Não sei por que estou falando de tudo isto comvocê, de todo modo. Obviamente não tem nem ideia do que é sentir-se desesperado, carecer deopções, saber que não importa o que faça...

—Elizabeth— disse ele, suavemente, estendendo a mão e agarrando seus dedos. —Sinto muito.

—Precisa ter dinheiro— disse ela, apagadamente, baixando o olhar a suas mãos agarradas.

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—Necessito o dinheiro.

—Já vejo.

—Duvido que o faça, mas provavelmente é suficiente para você saber que sou pobre.

—Lady Dambury não lhe paga o bastante para manter-se? —perguntou-lhe, com calma.

—Sim o faz, mas não é bastante para manter meus irmãos menores. E Lucas deve ir a Eton.

—Sim— disse ele, distraidamente —o moço deve ir. É baronete, não me disse isso?

—Não, não disse, mas sim, é.

—Mas deve ter dito isso Lady Dambury.

Ela deu de ombros e exalou um grande suspiro misturado com uma risada zombadora.

—Isso é de conhecimento geral. Somos o exemplo oficial do distrito da pequena nobrezaempobrecida. Assim já vê, não sou precisamente casadoira. Tudo o que tenho que oferecer é alinhagem de minha família. E nem sequer esta é terrivelmente impressionante. Não é como se fossedos mais elevados da nobreza.

—Não—refletiu ele, —mas a gente pensaria que muitos homens estariam desejosos de casar-see aparentar com a pequena nobreza local, sobre tudo com um ramo titulado. E tem a bonificação deser bastante formosa.

Ela elevou a vista bruscamente.

—Por favor, não seja condescendente.

Ele sorriu com incredulidade. Evidentemente ela não tinha nem ideia de seus encantos.

—Me disseram que sou razoavelmente bonita —começou ela. Bem, possivelmente alguma ideiasim.

—Mas formosa é um verdadeiro exagero. Ele agitou a mão, desprezando seu protesto.

—Terá que confiar em mim neste aspecto. Como dizia, estou seguro de que devem haver várioshomens no distrito que gostariam de casar-se com você.

—Há um— disse ela, com desagrado. —Um fazendeiro local. Mas é velho e gordo, emesquinho. Minha irmã menor já me disse que fugirá a um orfanato se me casar com ele.

—Já vejo. —James esfregou o queixo, procurando uma solução para seu dilema. Era um crimeque tivesse que casar-se com algum velho fazendeiro asqueroso que lhe triplicasse a idade.

Possivelmente havia algo que ele pudesse fazer. Ele tinha bastante dinheiro para enviar a seuirmão a Eton mil vezes. Ou melhor, o Marquês de Riverdale tinha. James Siddons, um Simples

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Cavalheiro, supunha-se que tinha pouco mais que a roupa que vestia. Mas possivelmente pudessearrumar algum tipo de doação anônima. Certamente Elizabeth não seria tão orgulhosa para rechaçarum inesperado golpe de sorte. Não duvidou que rechaçaria um presente por seus princípios, mas nãoquando o bem-estar de sua família estava em jogo.

James tomou nota mental de entrar em contato com seu advogado o quanto antes.

—Deste modo— disse ela, com uma risada incômoda, —a menos que você tenha uma fortunaescondida, realmente não vejo como pode me ajudar.

—Bem, —ele disse, evitando mentir rotundamente. —Pensei em ajudar de uma maneiradiferente.

—O que quer dizer?

Ele escolheu suas palavras com cuidado.

—Conheço um pouco a arte do flerte. Antes de procurar emprego, eu era... bem, não exatamenteparte, mas sim intervim na cena social.

—Em Londres? —perguntou ela, com suspeita. —Com a alta sociedade?

—Não entenderei jamais as complexidades de uma temporada de Londres— disse ele,enfaticamente.

—Oh. Bom, isso não importa, suponho, porque careço dos recursos necessários para umatemporada. —Olhou-o e lhe ofereceu um sorriso pesaroso. —E embora os tivesse, de todo modo,seriam para a educação de Lucas.

Ele a contemplou, atrasando-se na visão daquele delicado rosto ovalado e os grandes olhosazuis. Ela devia ser a pessoa menos egoísta que conhecera.

—É uma boa irmã, Elizabeth Hotchkiss— disse ele, enfaticamente.

—Em realidade não— disse ela, com voz triste. —Às vezes me sinto tão ressentida. Se fossemelhor pessoa...

—Tolices—interrompeu-a ele. —Não há nada mau em sentir raiva pela injustiça. Ela riu.

—Isto não é injustiça, James, é simples pobreza. Estou segura de que entende.

Em toda sua vida nunca faltara dinheiro ao James. Quando seu pai estava vivo, lhe concederamuma enorme atribuição. E depois, quando herdou o título, este levava consigo uma ainda maismonstruosa fortuna.

Elizabeth inclinou a cabeça e olhou fixamente para fora, através da janela, onde uma suave brisaagitava as folhas do olmo favorito de Lady Dambury.

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—Às vezes — sussurrou, —desejo...

—O que deseja? —perguntou James, com interesse. Ela sacudiu ligeiramente a cabeça.

—Não importa. E realmente devo ir ver lady Dambury. Chegará a saleta a qualquer momento eestou segura de que me necessitará.

—Elizabeth! —ouviu-se um ruidoso bramido mais à frente do corredor.

—Vê? Vê o bem que a conheço?

James inclinou a cabeça respeitosamente e murmurou.

—É impressionante.

—Elizabeth!

—Pelo amor do céu— disse Elizabeth, —o que necessita?

—Companhia— respondeu James. —É tudo o que realmente necessita. Companhia.

—Onde estará esse ridículo gato quando o necessito? —Deu volta e fez gesto de partir.

—Elizabeth! —chamou-a James. Ela se voltou.

—Sim?

—O livro. —Apontou o pequeno volume vermelho, ainda metido sob seu braço. —Não iráquerer entrar com isso na saleta, verdade?

—Oh! Não! —- Ela o empurrou em suas mãos. —Obrigado. Esqueci completamente que osegurava.

—Eu o guardarei por você.

—Vai naquela prateleira dali— disse ela, apontando através da sala. —Na lateral. Voltado parabaixo. Deve assegurar-se de que o deixa exatamente como lhe digo.

Ele sorriu indulgentemente.

—Sentiria-se melhor se o puser você mesma? Ela fez uma pausa, e logo disse.

—Sim, realmente—e agarrou o livro. James a olhou enquanto se lançava através da sala e comcuidado colocava o livro sobre a prateleira apropriada. Inspecionou sua obra manual durante ummomento, logo lhe deu um toque sobre a lombada, movendo-o ligeiramente à esquerda. Franzindo aboca pensativamente, ela o contemplou outro momento, e então lhe deu um toque para trás à direita.

—Estou seguro de que Lady Dambury não notará se esta um centímetro ou dois mais à frente.

Mas ela o ignorou, cruzando o quarto à carreira com apenas um até mais tarde em sua direção.

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James colocou a cabeça pela porta, olhando como ela desaparecia na saleta da Agatha. Entãofechou a porta da biblioteca, cruzou a sala, agarrou o livro, e começou a ler.

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Capítulo 9

—O que quer fazer?

Elizabeth estava de pé diante de Lady Dambury, com a boca aberta da surpresa.

—Já lhe disse, vou tirar uma sesta.

—Mas você nunca dorme sesta.

Lady Dambury elevou uma sobrancelha.

—Dormi uma faz só dois dias.

—Mas, mas...

—Fecha a boca, Elizabeth. Começa a te parecer com um peixe.

—Mas você me disse, —protestou Elizabeth, —muitíssimas vezes, que o rastro da civilização éa rotina.

Lady D deu de ombros e emitiu um desdenhoso gorgojeio.

—Será que uma dama não pode tomar a liberdade de trocar ocasionalmente sua rotina? Todas asrotinas necessitam um reajuste.

Elizabeth, que esteve lançando aturdidas olhadas ao redor da sala, respondeu.

—Um ventríloquo. É impossível que estas palavras estejam saindo de sua boca.

—Asseguro-te que sim. Acho que a sestas vespertinas são prodigiosamente refrescantes.

—Mas a que você dormiu o outro dia, sua única sesta desde a infância, poderia acrescentar foipela manhã.

—Hmmph. Talvez sim. Talvez não.

—Foi.

—Teria sido melhor pela tarde.

Elizabeth não teve nem ideia de como responder a algo tão ilógico, assim simplesmente elevouos braços e disse.

—Deixarei-a dormir, então.

—Sim. Faça. E fecha a porta atrás de ti. Estou segura de que necessitarei silêncio absoluto.

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—Não posso imaginar que requeira algo menos.

—Menina impertinente. De onde provém todo este descaramento? Elizabeth lançou a sua patroaum olhar de repreensão.

—Sabe muito bem que provém de você, Lady Dambury.

—Sim, estou fazendo um trabalho bastante bom te moldando, verdade?

—Deus me ajude—resmungou Elizabeth.

—Ouvi isso!

—Não tenho suposto que haja alguma possibilidade de que a audição seja o primeiro sentido queperca.

Lady Dambury riu em voz alta ante seu comentário.

—Sabe verdadeiramente como entreter a uma velha senhora, Elizabeth Hotchkiss. Não pense quenão aprecio isso. Realmente sinto um grande carinho por ti.

Elizabeth piscou surpresa ante a incomum amostra de sentimentalismo de Lady D.

—Oh, obrigado.

—Não sou sempre totalmente descortês. —Lady Dambury olhou o pequeno relógio que tinhapendurado ao redor do pescoço. —Acredito que eu gostaria de ser despertada dentro de setentaminutos.

—Setenta minutos? —Como complicações ocorriam a Lady D essas estranhas cifras?

—Uma hora não é realmente bastante, mas estou muito ocupada para desperdiçar uma hora emeia. Além disso—acrescentou Lady Dambury com um olhar ardiloso, —eu gosto de te manteralerta.

—Disso—resmungou Elizabeth, —não tenho a menor duvida.

—Setenta minutos, então. E nem um minuto antes.

Elizabeth sacudia a cabeça assombrada, enquanto se dirigia para a porta. Antes de sair,entretanto, virou-se e perguntou.

—Está segura de que se sente bem?

—Todo o bem que uma mulher de cinquenta e oito anos tem direito a sentir.

—O que é verdadeiramente uma bênção— disse Elizabeth ironicamente, —já que você temsessenta e seis anos.

—Menina impertinente. Saia daqui antes que eu atrase seu salário. Elizabeth arqueou as

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sobrancelhas.

—Não se atreveria.

Lady Dambury sorriu para si mesma quando viu sua acompanhante fechar a porta atrás dela.

—Estou fazendo um bom trabalho— disse a si mesma, com tom cheio de ternura e possivelmenteapenas uma insinuação de autofelicitacão. —Parece-se mais a mim cada dia.

Elizabeth soltou um comprido suspiro e se deixou cair sobre um banco almofadado do corredor.Que se supunha que ia fazer agora? Se soubesse que Lady Dambury ia converter o dormir a sesta emum costume regular, teria trazido um pouco de costura, ou possivelmente as contas da casa. O Senhorsabia que as finanças dos Hotchkiss sempre podiam ser repassadas um pouco mais.

É obvio, sempre ficava "Como casar-se com um Marquês". Jurou que não ia olhar o malditolivro de novo, mas talvez deveria jogar uma olhada à biblioteca para assegurar-se de que James nãoo moveu, ou derrubou, ou agitou as páginas, ou... ou, bom, que não lhe fez algo.

Não, disse-se com firmeza, agarrando-se ao veludo castanho do banco para impedir-se delevantar. Não ia ter nada mais que ver com a senhora Seeton e seus decretos. Ia ficar ali sentada,como se a tivessem pregado ao banco, até que decidisse como empregar seus setenta minutos livres.

Sem entrar na biblioteca. Independentemente do que fosse a fazer, não ia entrar na biblioteca.

—Elizabeth?

Elevou a vista e se encontrou com James, ou melhor, com a cabeça do James, que aparecia pelaporta da biblioteca.

—Poderia vir um momento? Ficou de pé.

—Aconteceu algo ruim?

—Não, não. Ao contrário, em realidade.

—Soa prometedor— murmurou ela. Há muito tempo que ninguém a chamava para lhe dar boasnotícias. "Poderia vir um momento?"

Podia ser um modo cortês de dizer, "Sua conta está atrasada e se não pagar imediatamente tereique notificar as autoridades."

Ele fez gestos com a mão.

—Preciso falar com você.

Ela se juntou a ele na biblioteca. Olhe onde ficava sua firme resolução.

—O que aconteceu?

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Ele mostrou "Como casar-se com um Marquês" e franziu o cenho.

—Estive lendo isto.

Oh, não.

—É realmente fascinante.

Ela gemeu e tampou os ouvidos com as mãos.

—Não quero ouvi-lo.

—Estou convencido de que posso lhe ajudar.

—Não estou escutando.

Ele lhe agarrou as mãos e puxou até que Elizabeth ficou estendida como uma estrela de mar.

—Posso lhe ajudar— disse ele outra vez.

—Estou além de toda ajuda.

Ele riu, um rico som que esquentou a Elizabeth até os dedos dos pés.

—Vamos, vamos — disse ele, —não seja pessimista.

—Por que está lendo isto? —perguntou-lhe. Pelo amor do céu, o que poderia este ou qualqueroutro homem tão arrumado e encantador encontrar interessante em tal livro? Para ser brutalmentesincero, isto não era mais que um tratado para mulheres desesperadas. E não equiparavam os homensas mulheres desesperadas com a cicuta, a intoxicação alimentar, e a peste bubônica?

—Atribua-o a minha curiosidade insaciável— respondeu ele. —Como poderia resistir, tendosido obrigado a adotar tais medidas heroicas para recuperá-lo esta manhã?

—Medidas heroicas? —exclamou ela. —Tirou-o de um puxão de debaixo de mim!

—A palavra "heroica" está sempre aberta à interpretação— disse ele alegremente, lhe dirigindooutro daqueles sorrisos perigosamente masculinos.

Elizabeth fechou os olhos e soltou um cansado e desconcertado suspiro. Esta devia ser aconversação mais estranha de sua vida, e, entretanto, de algum jeito parecia bastante natural. O maisestranho era que ela não se sentia realmente envergonhada. Oh, certamente suas faces estavam umpouco rosadas, e não podia acreditar algumas das palavras que saíam de sua boca, mas para sersincera, não corria o risco de perecer de um ataque de mortificação aguda por enquanto.

Era James, descobriu. Algo nele a tranquilizava. Tinha um sorriso tão natural, uma risada tãoreconfortante. Poderia ter um lado perigoso e mesmo misterioso, e às vezes realmente a olhava deuma forma tão ardente, de uma maneira tão estranha que o ar ficava espesso, mas apesar disto era

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quase impossível sentir-se incômoda em sua companhia.

—No que pensa? —o ouviu perguntar. Ela abriu os olhos.

—Pensava que não posso recordar a última vez que me senti tão ridícula.

—Não seja tola.

—Às vezes— disse ela, com um autodepreciativo gesto da cabeça, —simplesmente não possoevitar.

Ele não fez caso de seu comentário e elevou o livro, sacudindo-o com pequenos giros de seupulso.

—Isto tem inconvenientes.

—Como casar-se com um Marquês?

—Muitos inconvenientes.

—Estou desejando ouvi-los. Devo dizer que parece prodigiosamente difícil cumprir os decretos.

James começou a passear de um lado a outro, seus ardentes olhos negros evidentementeconcentrados em seus pensamentos.

—É óbvio para mim—anunciou ele, —- que essa senhora Seeton se este for em efeito seuverdadeiro nome nunca, nem uma vez consultou a um homem para preparar seus decretos.

Elizabeth achou isto tão interessante que se sentou.

—Pode oferecer tantas regras e regulações como gosta—expôs ele, —mas sua metodologia éerrônea. Afirma que se seguir seus decretos, se casará com um marquês.

—Por "marquês," penso que ela simplesmente queria dizer um bom partido—interrompeuElizabeth. —Imagino que só aspirava à aliteração no título do livro.

Ele sacudiu a cabeça.

—Não marca nenhuma diferença. Marquês, bom partido todos somos homens.

—Sim, — disse ela, devagar, resistindo a duras penas ao impulso de verificar este fato deixandoque seu olhar vagasse de cima abaixo pelo corpo dele, —suponho que sim. James se inclinou,olhando a atentamente no rosto.

—E eu o pergunto: Como, rogo-lhe que me diga, pode a senhora Seeton se este for em efeito seuverdadeiro nome julgar se suas regras são efetivas?

—Bem—Elizabeth parou, —suponho que ela poderia ter trabalhado de acompanhante dealgumas senhoritas e...

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—Lógica defeituosa—interrompeu-a ele. —A única pessoa que pode julgar realmente se suasregras forem verdadeiramente adequadas é um marquês.

—Ou um bom partido—demarcou ela.

—Ou um bom partido—concedeu, com um ligeiro assentimento da cabeça. —Mas posso lheassegurar, como cavalheiro moderadamente elegível, que se uma mulher se aproximasse de mimseguindo todos estes decretos...

—Mas ela não se aproximaria de você—interrompeu-o Elizabeth. —Não se seguisse asinstruções da senhora Seeton. Iria contra as regras. Uma senhora deve esperar até que um senhor seaproxime dela. Não posso recordar que decreto o diz, mas sei que está no livro.

—O qual só deve demonstrar quão néscio é a maior parte disto. O ponto que eu tratava deressaltar, entretanto, é que se encontrasse a uma protegida de nossa querida senhora Seeton se estefor em efeito seu verdadeiro nome...

—Por que segue dizendo isso?

James pensou um momento. Deviam ser todos esses anos como espião. Tudo o que disse,entretanto, foi.

—Não tenho a menor ideia. Mas como dizia, se conhecesse uma de suas protegidas, sairiafugindo em direção contrária.

Depois de um instante de silêncio, Elizabeth disse, com um indício de sorriso travesso.

—Não fugiu de mim.

A cabeça do James girou bruscamente.

—O que quer dizer?

O sorriso dela se alargou, e quase parecia um gatinho ronronando agradada por havê-losurpreendido.

—Não leu o decreto que fala sobre a prática dos decretos? —Ela se inclinou para diante paraolhar atentamente entre as páginas de Como casar-se com um Marquês, as quais estava saltando, embusca do decreto mencionado. —Eu acho que era o número dezessete.

Ele a contemplou com incredulidade durante ao menos dez segundos completos antes de inquirir.

—Você praticou comigo?

—Soa um pouco frio, e senti realmente uma ou duas pontadas de remorso por isso, masrealmente não tinha nenhuma outra opção, depois de tudo, se não fosse você, quem seria?

—Quem, em efeito— murmurou James, não muito seguro de por que estava irritado. Não era

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porque ela esteve praticando com ele; era bastante divertido, em realidade. Mas bem, pensou quepodia ser porque não se deu conta de que ela esteve fazendo.

Para um homem que estava orgulhoso de si mesmo por seu instinto e percepção, era bastantemortificante, em efeito.

—Não o farei mais—prometeu ela. —Provavelmente foi bastante injusto por minha parte. Elecomeçou a marcar o passo de um lado a outro, dando ligeiros toques com seu dedo contra suamandíbula enquanto tratava de decidir como tirar vantagem desta situação.

—James?

Ahá! Ele girou velozmente, com os olhos acesos de emoção ante uma nova ideia.

—Para quem praticava você?

—Não entendo.

Ele se sentou a seu lado e deixou que as mãos pendurassem entre suas coxas com os antebraçosapoiados neles enquanto se inclinava para diante. Essa manhã, mais cedo, jurou que fariadesaparecer o olhar de desespero dos olhos da Elizabeth. Em realidade, aquele olhar não estava aliagora, mas sabia que voltaria assim que ela recordasse aos três famintos irmãos que a esperavam emcasa. Mas agora ele encontrara um modo de ajudá-la e desfrutar fazendo-o.

Ia lhe dar aulas particulares. Ela queria fazer cair na armadilha do matrimônio a algum incautobem, ninguém podia saber mais sobre tais armadilhas que o Marquês de Riverdale.

Foi objeto de cada um dos truques, desde debutantes de tolas risadas perseguindo-o por escuroscantos, passando por cartas amorosas horrivelmente explícitas, até viúvas nuas que penetravam emsua cama. Pareceu sensato supor que se ele aprendera tão bem como evitar o matrimônio, deveria sercapaz de aplicar seu conhecimento em direção contrária. Com um pouco de prática, Elizabethdeveria ser capaz de prender a qualquer homem sobre a face da terra.

Era essa parte a da prática a que fazia que seu pulso se acelerasse, e certas partes menosmencionáveis de sua anatomia, se inflamassem. Qualquer tipo de tutoria implicaria ao menos umexame superficial das artes amorosas.

Nada, certamente, que comprometesse à moça, mas...

—Senhor Siddons? James?

Ele elevou a vista, consciente de que se distraiu. Deus santo, mas é que ela tinha o rosto de umanjo. Achou quase impossível acreditar que pensasse que necessitava ajuda para encontrar ummarido. Mas realmente acreditava, e isto o brindava com a oportunidade mais esplêndida...

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—Quando praticava comigo—perguntou com voz profunda e concentrada, —quem era seuobjetivo final?

—Quer dizer para casar-me?

—Sim.

Ela piscou e moveu ligeiramente a boca antes de dizer.

—Eu... não sei, em realidade. Não cheguei tão longe em meus pensamentos. Simplesmenteesperava poder assistir a uma das reuniões de Lady Dambury. Parecia um lugar tão bom comoqualquer outro para encontrar um bom partido.

—Vai celebrar uma logo?

—Uma reunião? Sim. No sábado, acredito. Uma pequena recepção ao ar livre.

James se recostou. Maldição. Sua tia não lhe dissera que esperava companhia. Se qualquer deseus convidados fosse conhecido dele, teria que escapulir rapidamente. A última coisa que precisavaera que algum almofadinha de Londres lhe aplaudisse as costas diante de Elizabeth e se dirigisse aele como Riverdale.

—Não acredito que ninguém fique a passar a noite, entretanto—acrescentou ela. James assentiupensativamente.

—Então esta será uma excelente oportunidade para você.

—Já vejo— disse ela, sem soar tão iludida como ele teria esperado.

—Tudo o que precisa fazer é averiguar que homens estão solteiros e escolher ao melhor dogrupo.

—Já revisei a lista de convidados, e há vários cavalheiros livres. Mas —soltou uma risadafrustrada —esqueceu uma coisa, James. O cavalheiro em questão deve me escolher também.

Ele ignorou seu protesto.

—O fracasso não é uma possibilidade. Quando tivermos terminado com você...

—Eu não gosto de como isso soa.

—Será impossível de resistir.

Uma das mãos da Elizabeth posou inconscientemente em sua face quando o contemplou comassombro. Estava se oferecendo a treiná-la? A torná-la casadoira? Não sabia por que estava tãosurpresa por isso, depois de tudo, ele nunca dera a menor indicação exceto por um doce beijo de queestivesse interessado nela para ele. E além disso, deixou claro que não podia casar-se com umadministrador sem dinheiro.

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Então, por que estava tão deprimida por ele parecer tão impaciente por casá-la com o cavalheirorico e bem relacionado que lhe dissera que queria e necessitava?

—O que implica essa educação? —perguntou com receio.

—Bem, não temos muito tempo—refletiu ele, —e não há nada que possamos fazer sobre suavestimenta.

—Que amável por sua parte indicá-lo—resmungou ela. Ela lhe dirigiu um olhar ligeiramenterepreensivo.

—Se bem me lembro, você criticou meu vestuário antes.

Aí a tinha pegado, admitiu ela. As boas maneiras a obrigaram a dizer, a contra gosto.

—Suas botas são muito agradáveis.

Ele sorriu amplamente e contemplou seu calçado, que, embora velho, parecia muito bem feito.

—Sim, são, verdade?

—Só um pouco arranhadas—acrescentou ela.

—Polirei-as amanhã—prometeu ele, olhando-a como se lhe dissesse que não ia morder a isca.

—Sinto muito— disse ela, baixinho. —Não devia dizê-lo. Os elogios deveriam ser dadoslivremente, sem restrições nem condições.

Ele a olhou com uma estranha expressão avaliadora durante um momento antes de perguntar:

—Sabe o que eu gosto de você, Elizabeth? Ela não tinha nem ideia.

—É você uma pessoa amável e boa— disse, —mas a diferença da maioria das pessoas amáveise boas, não enjoa, ou tenta fazer que todos os outros sejam amáveis e bons. —Ficou boquiaberta.Esta era a declaração mais incrível.—E por debaixo de toda essa bondade e gentileza, parecepossuir um malvado senso de humor, não importa com quanta força tente, de vez em quando, suprimi-lo.

Oh, Senhor, se dissesse algo mais, cairia loucamente apaixonada por ele ali mesmo.

—Não há nada mau em brincar com um amigo enquanto não o faça com malícia— disse ele, suavoz convertida em uma suave carícia. —E acredito que você não saberia ser malévola nem quealguém lhe oferecesse uma dissertação sobre o tema.

—Então suponho que isso nos faz amigos— disse ela, com voz ligeiramente rouca. Ele sorriu, eseu coração deixou de pulsar.

—Realmente não tem nenhuma outra opção que ser amiga minha— disse ele, aproximando-se

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mais. —Depois de tudo, conheço seus mais embaraçosos segredos.

Uma risada nervosa lhe escapou dos lábios.

—Um amigo que vai encontrar-me marido. Que pitoresco.

—Bom, penso que eu poderia fazer melhor trabalho que a senhora Seeton se este for seu nomeem efeito.

—Não diga, —advertiu-lhe ela.

—Considere-o não dito. Mas se quiser um pouco de ajuda... —Olhou-a fixamente. —Quer ajuda,verdade?

—Er, sim. Creio.

—Teremos que começar em seguida.

Elizabeth jogou uma olhada ao ornamentado relógio de mesa que Lady Dambury trouxeimportado da Suíça.

—Preciso estar na saleta em menos de uma hora.

James olhou umas quantas páginas de Como casar-se com um Marquês, sacudindo a cabeçaenquanto lia.

—Um! isto não nos deixa muito tempo, mas —Ele elevou a vista bruscamente. —Comoconseguiu escapar de Lady Dambury a esta hora do dia?

—Está dormindo uma sesta.

—Outra vez? —Seu rosto mostrou claramente sua surpresa.

Ela deu de ombros.

—Achei tão incrível como você, mas ela insistiu. Exigiu absoluto silêncio e me disse que nãodespertasse durante setenta minutos.

—Setenta?

Elizabeth fez uma careta.

—Isso deve me manter alerta. Cito-a textualmente, a propósito.

—De algum jeito não me surpreende. —James tamborilou com os dedos sobre a mesa principalda biblioteca, e depois elevou a vista. —Podemos começar quando terminar com ela esta tarde.Necessitarei algum tempo para traçar um plano de estudo, e...

—Um plano de estudo? —repetiu ela.

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—Temos que ser organizados. A organização faz acessível qualquer objetivo. Ficou boquiaberta.

Ele franziu o cenho.

—Por que me olha assim?

—Soa exatamente como Lady Dambury. De fato, ela utiliza a mesma frase.

—De verdade? —James tossiu, e logo clareou a garganta. Maldição, acabava de escorregar.Algo em Elizabeth e naqueles olhos azuis de anjo o fez esquecer que estava incógnito. Nunca deveriater usado uma das máximas favoritas de Tia Agatha. Foram martelado em sua cabeça com tantafrequência quando era um menino que agora eram também suas máximas. Esqueceu que se dirigia auma pessoa que conhecia cada um dos matizes do caráter da Agatha tão bem como ele.

—Estou seguro de que é só uma coincidência— disse, em tom firme.

Segundo sua experiência, as pessoas tendiam a acreditar em algo que dissesse enquanto soassecomo se soubesse do que falava.

Mas, pelo visto, Elizabeth não.

—Ela o diz ao menos uma vez por semana.

—Bem, então, estou seguro que devo tê-la ouvido em algum momento.

Ela pareceu aceitar aquela explicação, já que abandonou o tema e em troca disse: —Dizia algosobre traçar um plano de estudos...

—Correto. Necessitarei uma tarde para planejá-lo, mas possivelmente poderíamos nos encontrarquando tiver acabado com Lady Dambury. Acompanharei-a a casa, e podemos conversar pelocaminho.

Ela sorriu fracamente.

—Muito bem. Encontrarei-me com você na porta principal às quatro e trinta e cinco. Acabo àsquatro e meia— explicou ela, —mas me levará cinco minutos chegar à porta.

—Não podemos simplesmente nos encontrar aqui? Ela negou com a cabeça.

—Não, a menos que queira que todos os criados de Dambury House mexeriquem sobre nós.

—Um raciocínio excelente. Na porta principal, então.

Elizabeth saudou com a cabeça e deixou a sala, suas pernas trementes mal conseguiram voltarpara o banco almofadado. Deus querido, em que maldita confusão se colocou?

Miado. Olhou para baixo. Malcolm, o gato do demônio, estava sentado a seus pés,contemplando-a como se ela fosse um camundongo.

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—O que quer?

O gato deu de ombros. Elizabeth não sabia que um gato pudesse fazê-lo, mas claro, tampoucoacreditara jamais que se encontraria alguma vez sentada no grande vestíbulo de Dambury House,falando com seu felino nêmeses.

—Pensa que sou ridícula, verdade? Malcolm bocejou.

—Concordei deixar que o senhor Siddons me treine para encontrar marido. As orelhas do gatose ergueram.

—Sim, já sei que você gosta mais que de mim. Todo mundo você gosta mais que de mim.

O gato deu de ombros outra vez, evidentemente pouco inclinado a contradizer sua declaração.

—Acredita que não posso fazê-lo, verdade?

Malcolm moveu sua cauda riscando um circulo. Elizabeth não tinha nem ideia de como traduziristo, mas dado a bem documentada aversão do gato para ela, possivelmente pensava que significava,"Tenho maiores probabilidades de encontrar marido que você."

—Elizabeth?

Ficou vermelha como uma beterraba e voltou a cabeça para um lado. James colocara a cabeçapela porta da biblioteca e a olhava zombeteiro.

—Esta falando com o gato?

—Não.

—Poderia ter jurado que a ouvi dirigindo-se ao gato.

—Bem, pois não o fiz.

—Oh.

—Por que ia falar com o gato? Odeia-me. Os lábios do James tremeram.

—Sim. Disse-me isso.

Tentou fingir que não se deu conta de que suas faces ardiam.

—Não tem nada que fazer?

—Oh, sim, o projeto de lições. Verei-lhe um pouco mais tarde que às quatro e meia. Elizabethesperou até que ouviu o estalo da porta da biblioteca ao fechar-se.

—Deus santo—exalou. —Tornei-me louca. Completamente louca. Acrescentando o insulto àferida, o gato assentiu com a cabeça.

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Capítulo 10

James se apresentou na trilha que conduzia à porta principal às quatro e quinze, sabendo quechegava ridiculamente cedo, mas incapaz de deter seus pés que o levavam ao lugar de reuniãoacordado.

Sentiu-se agitado durante toda a tarde, tamborilando constantemente sobre as mesas e passeandomarcando o passo através dos quartos. Tentou sentar-se e escrever o plano de estudos do qual segabou, mas as palavras não lhe vinham. Não tinha nenhuma experiência sobre a educação de umasenhorita para sua apresentação em sociedade. A única senhorita que realmente conhecia era aesposa de seu melhor amigo, Blake Ravenscroft.

E Caroline não foi educada precisamente para ser apresentada em sociedade ela mesma. Quantoa todos seus outros conhecidos de sexo feminino todas elas eram justo do tipo de mulheres em que asenhora Seeton tentava moldar Elizabeth. Justamente do tipo de fêmeas que o fizeram soltar umsuspiro de alivio ao poder escapar de Londres.

O que era que queria em uma mulher? Sua busca para ajudar a Elizabeth pareceu que começavapor aqui. O que era que queria em uma esposa? Precisava casar-se; neste sentido não havia discussãopossível. Mas foi condenadamente duro imaginar passar o resto de sua vida com uma tímida flor quetivesse medo de expressar uma só opinião.

Ou pior, uma tímida flor que não possuísse nem sequer uma opinião.

E o pior era que aquelas senhoritas sem opinião invariavelmente vinham acompanhadas de mãesextremamente obstinadas. Não estava sendo justo, obrigou-se a reconhecer. Conhecera a algumassenhoritas interessantes. Não muitas, mas algumas. Até poderia ter-se casado com uma ou duas delassem temor a que lhe arruinassem a vida.

Pode ser que não tivesse sido um matrimônio por amor, e não teria havido nada de magníficapaixão, mas ele poderia ter sido passavelmente feliz. Assim, o que era que estas senhoritas as queatraíram fugazmente sua atenção possuíam? Uma certa alegria de viver, amor pela vida, um sorrisoque parecia sincero, uma luz nos olhos.

James estava seguro de que ele não era o único homem que notara estas coisas todas assenhoritas em questão foram rapidamente pedidas em matrimônio, em geral por homens que gostava eaos que respeitava. Amor pela vida. Talvez isso era tudo. Passou toda a manhã lendo "Como casar-secom um Marquês", e com cada decreto, imaginou como se apagava um pouquinho mais cada vez

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aquela incomparável luz de safira nos olhos de Elizabeth.

Não queria que a moldassem como algum predeterminado ideal de jovem mulher inglesa. Nãoqueria que andasse com olhos abatidos, tentando ser misteriosa e recatada. Queria que fosse elamesma.

Elizabeth fechou a porta de Dambury House atrás dela e pôs-se a correr estrada abaixo. Seucoração pulsava acelerado, tinha as mãos úmidas, e embora, exatamente, não se sentisseenvergonhada que James tivesse descoberto seu desesperado segredo, estava extremamente nervosa.Passou toda a tarde se reprovando por aceitar sua oferta. Não passou toda a noite anterior soluçandoaté dormir, e tudo porque pensava que poderia amá-lo a um homem com o qual não podia casar-senunca? E agora, deliberadamente, colocou-se em sua companhia, lhe permitindo brincar com ela, eflertar, e, Deus santo, e se quisesse beijá-la outra vez? Disse que ia treiná-la para atrair a outroshomens. Implicava isso beijos? E se fosse sim, deveria lhe deixar fazê-lo?

Gemeu. Como se fosse capaz de pará-lo. Sempre que estavam na mesma sala juntos, seus olhosvagavam até sua boca, e recordava o que experimentou ao sentir aqueles lábios sobre os seus.

E Deus lhe ajudasse, queria senti-lo de novo.

Um último vislumbre de felicidade. Talvez isso era o que era tudo isto. Ia ter que casar-se comalguém a quem não amava, talvez mesmo alguém que não gostasse muito. Era tão ruim desejar unsúltimos dias de risada, de olhadas secretas, deste embriagador zumbido de desejo recém descoberto?

Enquanto caminhava para a porta principal suspeitava que estava expondo-se voluntariamente aque lhe rompessem o coração ao aceitar reunir-se com o James, mas seu coração não lhe permitiafazer outra coisa. Leu bastante ao Shakespeare para confiar no Bardo, e se ele dizia que era melhorter amado e ter perdido que não ter amado nunca - ela acreditava.

Ele a esperava, justo fora da vista de Dambury House, e seus olhos se iluminaram quando a viu.

—Elizabeth—chamou-a, caminhando a passos longos para ela.

Ela fez uma pausa, detendo-se para olhar como se aproximava, com a ligeira brisa agitando seucabelo escuro. Nunca conheceu a ninguém que parecesse mais cômodo em sua pele que JamesSiddons. Caminhava de forma relaxada, com elásticos passos longos. Pensou nas inumeráveis vezesem que ela caíra sobre um tapete ou golpeou a mão contra uma parede e suspirou de inveja.

Ele chegou a seu lado e simplesmente disse.

—Está aqui.

—Pensou que não estaria?

—Pensei que possivelmente o teria pensado duas vezes.

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—Certamente que o pensei várias vezes. Isto é a coisa mas incomum que já fiz.

—Que admirável, — murmurou ele.

—Mas não importa se pensei duas, três ou até mesmo quatro vezes. —Sorriu impotente. —Preciso passar diretamente por aqui para chegar em casa, assim não podia evitar encontrá-lo mesmoque tentasse.

—Uma sorte para mim.

—Tenho a sensação de que a sorte lhe sorri frequentemente. Ele inclinou a cabeça.

—Vá, por que diz isso?

Ela deu de ombros.

—Não sei. Só que parece o tipo de pessoa que sempre aterrissam de pé.

—Suspeito que você também é uma sobrevivente.

—Em certo sentido, suponho. Poderia me ter dado por vencida com minha família faz anos,sabe? Nossos parentes se ofereceram realmente a acolher ao Lucas.

—Mas não ao resto de vocês? Ela sorriu ironicamente.

—O resto de nós não está em posse de um título.

—Já vejo. —Tomou seu braço e apontou para o sul. —É naquela direção? Ela assentiu.

—Sim, aproximadamente uma milha estrada abaixo, e depois aproximadamente um quarto demilha pela vereda lateral.

Andaram uns passos, e então ele se virou e disse.

—Disse que era uma sobrevivente em certo sentido. O que quis dizer com isso?

—É mais fácil ser um sobrevivente para um homem que para uma mulher.

—Isso não tem sentido.

Ela lhe dirigiu um olhar compassivo. Possivelmente nunca entenderia o que quis dizer, mas supôsque lhe devia explicar, entretanto.

—Quando um homem passa por tempos difíceis, existem muitas coisas que pode fazer, opçõesque ele pode escolher para investir em sua situação. Pode juntar-se ao exército, ou arrolar-se em umnavio pirata. Pode procurar trabalho, como você fez. Ele pode usar seu encanto e sua sedução —sacudiu sua cabeça e sorriu a contra gosto —como imagino que você também o fez.

—E uma mulher não pode fazer estas coisas?

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—Uma mulher que procura trabalho não tem muitas opções se não desejar abandonar sua casa.Um posto de instrutora poderia estar ligeiramente melhor pago que o de acompanhante de umasenhora, mas duvido que muitos patrões se sentissem amáveis com respeito a mim levando a Susan,Jane, e Lucas comigo a viver na ala dos criados.

—Touché—ele disse com uma cabeçada de entendimento.

—E quanto ao encanto e a sedução, pois uma mulher pode usar isto para três coisas. Pode entrarno teatro, pode converter-se na amante de um homem, ou pode casar-se. Quanto a mim, não tenhonenhuma inclinação ou talento para a interpretação e nenhum desejo de envergonhar a minha famíliainiciando uma relação ilícita. —Elevou a vista para ele e deu de ombros. —Minha única opção é omatrimônio. Isto, suponho, é o que significa para uma mulher ser uma sobrevivente. —Fez uma pausa,e lhe tremeram as comissuras da boca, como se não soubesse se tentar um sorriso ou franzir o cenho.—Bastante desagradável, não crê?

James não respondeu imediatamente. Gostava de pensar em si mesmo como em um indivíduotolerante, mas nunca parou a pensar como seria estar na apertada e restringida pele de uma mulher.Ele dera sua vida, com suas inumeráveis opções, por certa.

Ela inclinou a cabeça.

—Por que esta me olhando tão atentamente?

—Por respeito. Ela pulou surpresa.

—Perdão?

—Admirava-a antes. Pareceu-me uma mulher extraordinariamente inteligente e uma jovem muitodivertida. Mas agora me dou conta de que merece meu respeito tanto como minha admiração.

—Oh. Eu... eu... —Ela ruborizou, obviamente sem palavras. Ele fez um gesto com a cabeça.

—Não quis fazê-la sentir-se incômoda.

—Não o fez— respondeu ela, o tom de sua voz delatava a mentira.

—Sim, o fiz, e certamente não quis que esta fosse uma tarde tão séria. Temos trabalho que fazer,assim não há nenhuma razão para que isto nos entretenha.

Ela clareou a garganta.

—O que tem em mente?

—Não temos muito tempo, assim nos veremos obrigados a priorizar— disse ele. —Devemos nosconcentrar só nas habilidades mais importantes.

—Quais são?

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—Beijos e boxe.

Elizabeth deixou cair sua bolsa.

—Parece surpresa.

—Não posso decidir qual destes dois me surpreende mais. Ele se agachou abruptamente erecolheu sua bolsa para ela.

—É perfeitamente sensato se meditar sobre isso. Um cavalheiro vai querer beijar a uma damaantes de lhe oferecer uma petição de mão.

—Não se a respeita—indicou ela. —Sei pelas mais altas autoridades na matéria que os homensnão beijam às mulheres solteiras que respeitam.

—Eu a beijei.

—Bem... isso foi... diferente.

—E acredito que esclarecemos que eu a respeito. Mas do que o suficiente. —Ele descartou seusprotestos. —Deve confiar em mim quando lhe digo que nenhum cavalheiro com um mínimo desentido comum na cabeça vai casar-se com uma mulher sem provar primeiro.

—Dito assim—resmungou ela, —é muito poético.

—Entretanto, isto pode lhe pôr em uma situação violenta.

—Ah, se deu conta disso? —perguntou ela sarcasticamente.

Ele lançou um olhar claramente irritado, por suas constantes interrupções.

—Alguns senhores carecem de julgamento e um básico sentido comum, e poderiam não deter obeijo no momento apropriado. Por isso devo lhe ensinar a boxear.

—E vai fazer tudo isto em uma tarde?

James tirou seu relógio de bolso e o abriu, seu rosto uma perfeita máscara de despreocupação.

—Não, pensei começar pelos beijos esta tarde. Podemos ver o boxe amanhã.

—E você esta treinado no esporte do pugilismo?

—É obvio.

Ela o olhou com receio.

—Não são as lições terrivelmente caras? Ouvi que só há um punhado de instrutores em Londresque são considerados de qualidade superior.

—Sempre há modos de obter o que alguém necessita— disse ele. Contemplou-a com uma

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sobrancelha arqueada. —Acredito que disse que sou do tipo de homem que sempre aterrissa de pé.

—Suponho que agora vai dizer me que também é do tipo que aterrissa de pé com os braçosestendidos e preparado para boxear?

Ele riu e lançou uns quantos murros ao ar.

—Não há nada como o boxe para manter a circulação ativa. Ela franziu o cenho de formasuspeita.

—Isto não parece uma habilidade muito feminina.

—Acreditei que tínhamos decidido que não íamos circunscrever-nos à noção de feminilidade dasenhora Seeton.

—Não—replicou ela, —mas tentamos me encontrar um marido.

—Ah, sim, seu marido— disse ele enigmaticamente.

—Não posso acreditar que haja um homem na Inglaterra que queira casar-se com uma damaboxeadora.

—Não tem que converter-se em uma pugilista. Só precisa ser capaz de golpear bastante bempara demonstrar que não se podem aproveitar de você.

Ela encolheu os ombros e fez uma tentativa.

—Assim?

—Deus, não. Não coloque dentro o polegar. Assim o quebraria seguramente. Elizabeth tirou opolegar fora de seu punho.

—Assim?

Ele assentiu com aprovação.

—Exatamente. Mas hoje íamos estudar os beijos.

—Não, vamos seguir com isto. —Ela estendeu o braço golpeando o ar várias vezes. —Estou medivertindo.

James gemeu, sem estar exatamente seguro do que mais o incomodava o ter que postergar obeijá-la a outro dia ou que ela tivesse o gancho mais frouxo que já vira em sua vida.

—Não, não, assim não— disse, colocando-se atrás dela. Deixou que sua bolsa caísse ao chãoenquanto punha sua mão sobre seu cotovelo e reajustava o ângulo de seu ombro. —Golpeia comouma moça.

—Sou uma moça.

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—Bem, isso sempre foi óbvio, mas não tem porque golpear como uma.

—E como—perguntou ela, imitando uma voz profunda e masculina para burlar-se, — golpeia umhomem?

—As garotas, fixe-me, golpeiam assim. —Ele fechou a mão em um punho e moveu o braço atráse adiante, sem separar nunca o cotovelo longe de seu flanco. —Os homens, por outro lado, dão umpouco de oscilação a isso.

—Me faça uma demonstração, por favor.

—Muito bem. Retroceda, então. Eu não gostaria de feri-la.

Elizabeth lhe ofereceu um seco sorriso e retrocedeu uns quantos passos.

—É isto espaço suficiente para um homem?

—Não se zangue. Só olhe. —Ele retirou o braço. —Terei que mostrar-lhe na metade davelocidade habitual já que não vou golpear nada realmente além do ar. O ímpeto provavelmente mepuxaria com o golpe.

—É obvio, então— disse ela com um magnânimo gesto de sua mão.—Na metade da velocidade.

—Preste a atenção. Está vendo um mestre.

—Disso— disse ela secamente—não tenho dúvida.

Ele jogou todo seu braço para trás, um movimento que começava no centro de suas costas elevantava seu punho por cima de seu ombro. Se ele estivesse movendo-se a velocidade normal, etivesse alguém de pé diante dele, James pensou que poderia tê-lo deixado pasmado.

—O que lhe parece? —perguntou, profundamente satisfeito consigo mesmo.

—Faça-o outra vez.

Ele elevou as sobrancelhas, mas obedeceu, pondo inclusive mais balanço nisso esta vez. Estudouseu rosto; ela havia entrecerrado os olhos e o estudava como se fosse uma valiosa cabeça de gado.

Elevando a vista brevemente, lhe pediu.

—Uma vez mais?

—Está prestando atenção ou somente tenta me fazer parecer um idiota?

—Oh, definitivamente presto atenção. Se parece um idiota, isso não tem nada que ver comigo.

James lançou seu braço para trás uma última vez.

—Em resumo— disse ele, —uma mulher que dá um murro o lança do ombro, sem usar osmúsculos de suas costas.

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Elizabeth imitou seu golpe feminino.

—Assim.

—Exatamente. Um homem, por outro lado, utiliza tanto a força de suas costas como a de seubraço.

—Estes músculos daqui? —Ela levantou o braço direito e usou a mão esquerda para fazer gestosaos músculos que rodeavam a parte direita de seu tórax.

A boca de James secou. O vestido se esticava sobre ela na maior parte dos lugares estratégicos.

—Os daqui, James? —exigiu ela, roçando-as costas. —Ou os daqui? —Esta vez ela tocou ascostas dele, exceto que falhou, e o roçou no flanco, perto da cintura.

—Correto a primeira vez— disse ele, afastando-se de seu dedo. Se ela falhava em tocar suascostas por outro centímetro ou dois em direção sul, não seria responsável por suas ações.

—Então se parece um pouco a isto. —Ela lançou um murro a meia velocidade, movendo-se sóligeiramente mais rápido do que ele esteve fazendo.

—Sim. Mas necessita um pouquinho mais de movimento lateral. Me olhe uma vez mais. — Elelançou outro golpe. —Vê?

—Acredito que sim. Quer que tente?

—Sim. —Ele cruzou os braços. —Me golpeie.

—Oh, não, não poderia.

—Sim, quero que o faça.

—Não poderia. Nunca causei dano intencionalmente a outra pessoa antes.

—Elizabeth, o único objetivo desta lição é ver se pode golpear a outra pessoa caso se veja nessanecessidade. Se você não pode obrigar-se a golpear a um ser humano, isto foi uma perda total detempo.

Ela pareceu duvidosa.

—Se insiste.

—Insisto.

—Muito bem. —Sem nem um segundo para que qualquer um dos dois se preparasse, elaretrocedeu e lançou seu braço. Antes que James tivesse ideia alguma do que acontecia, estavaestirado sobre o chão, e seu olho direito palpitava.

Elizabeth, mais que mostrar qualquer tipo de machucado ou preocupação por sua saúde, dava

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saltos, gritando de regozijo.

—Fiz! Realmente o fiz! Viu você? Viu você?

—Não—resmungou ele, —mas senti.

Ela plantou suas mãos sobre os quadris e resplandeceu, olhando-o como se acabasse de sercoroada rainha do mundo.

—Oh, foi estupendo! Façamos outra vez.

—Melhor não—queixou-se ele.

Ela deixou de sorrir e se agachou.

—Não lhe fiz mal, verdade?

—Absolutamente—mentiu ele.

—Nenhum? —soou decepcionada.

—Bom, talvez só um pouquinho.

—Oh, Deus, eu... —Conteve o que fosse que pensava dizer. —Não queria dizer como soou. Juro.Não queria machucá-lo, mas realmente utilizei toda minha força nesse golpe, e...

—Notarão os efeitos amanhã, não tema. Ela ofegou, alegremente horrorizada.

—Deixei um olho arroxeado?

—Acreditei que não queria me machucar.

—E não quero— disse ela rapidamente, —mas devo admitir que nunca fiz nada remotamenteparecido a isto antes, e me satisfaz tê-lo feito bem.

James não acreditava que seu olho, em um esporte como este, fosse a resultar uma contusão tãoesplêndida como ela obviamente esperava, mas, entretanto, sentia-se irritado consigo mesmo por tê-la subestimado tanto. Ela era uma coisa tão diminuta; nem sonhando acreditou que lhe acertasse como primeiro golpe. E até então, calculou que possivelmente apenas possuía força suficiente para fazeralgo mais que atordoar a seu oponente. A única coisa que realmente esperava era lhe ensinar obastante para desarmar temporariamente a um homem enquanto ela fugia.

Mas, pensou tristemente, roçando cautelosamente o olho, parecia que seus murros eram algo masque temporários. Elevou a vista para ela; parecia tão condenadamente orgulhosa de si mesma queteve que sorrir e dizer: —criei um monstro.

—De verdade? —Seu rosto se iluminou até um ponto que James não acreditara possível. Eracomo se o sol fluísse de seus olhos. Elizabeth começou a lançar seus punhos ao ar. — Possivelmente

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poderia me ensinar algumas técnicas avançadas.

—Já avançou o bastante, obrigado.

Ela deixou de saltar e seu rosto ficou sério.

—Não deveríamos pôr algo sobre esse olho? Não vai inchar se pusermos algo frio sobre ele.

—James quase se negou.

Seu olho realmente não estava tão mal foi a surpresa mais que qualquer outra coisa o que oderrubou. Mas Elizabeth acabava de convidá-lo a sua casa, e esta era uma oportunidade que deviaaproveitar.

—Algo frio seria melhor— murmurou ele.

—Me siga, então. Necessita ajuda?

James olhou sua mão estendida com desgosto. Quão débil pensava que estava?

—Golpeou-me no olho— disse com voz seca. —O resto de mim funciona muito bem, obrigado.

Ela retirou a mão.

—Simplesmente pensava... Realmente golpeou o chão com bastante força, depois de tudo.

Maldição. Outra oportunidade perdida. Seu orgulho estava se convertendo em algocondenadamente incômodo. Poderia ter-se apoiado nela durante todo o caminho a casa.

—Por que não tento sozinho e vemos como vai? —sugeriu. Talvez ele poderia fingir que torceuum tornozelo. Podia coxear vinte jardas mas ou menos.

—Parece uma boa ideia. Mas procure não exceder-se.

James pôs extremo cuidado, tentando recordar de que lado tinha golpeado o chão. Não queriacoxear do lado incorreto.

—Está seguro de que não está ferido?

Terei que ser um completo canalha para aproveitar-me da preocupação de seus olhos, masevidentemente sua consciência se achava em paradeiro desconhecido, porque James suspirou e disse:

—Acredito que seja o quadril.

Ela jogou uma olhada para seu quadril, o que lhe ocasionou uma pontada de dor em outrasregiões próximas.

—Está machucado?

—Pode ser— respondeu ele. —Estou seguro de que não é nada, mas...

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—Mas lhe dói ao andar— disse ela com uma maternal inclinação de cabeça. — Provavelmentese sentirá melhor amanhã, mas parece tolo que faça um esforço excessivo. —Ela franziu assobrancelhas pensativa. —Possivelmente seria melhor se simplesmente retornasse a Dambury House.Se caminhar até minha casinha, teria logo que retornar, e...

—Oh, estou seguro de que não esta tão mal assim— disse ele rapidamente. —E disse que aacompanharia a casa.

—James, volto sozinha a casa todos os dias.

—Ainda assim, devo manter minhas promessas.

—Estarei encantada de lhe liberar desta. Depois de tudo, não esperava ser derrubado no chão.

—Em realidade, não é que seja doloroso. Simplesmente não posso andar a minha velocidadehabitual.

Ela pareceu dúbia.

—Além disso—acrescentou ele, pensando que devia reforçar sua posição, —ainda temos muitodo que falar a respeito da recepção ao ar livre de Lady Dambury no sábado.

—Muito bem, —ela disse a contra gosto. —Mas deve prometer que me dirá se a dor se fizerinsuportável.

Uma promessa fácil de manter, já que não estava dolorido absolutamente. Bom, não da forma aque ela se referia. Deram só uns poucos passos quando Elizabeth girou para ele e lhe perguntou.

—Está bem?

—Perfeitamente—assegurou-lhe ele. —Mas agora que dominou a arte da defesa pessoal,acredito que deveríamos nos dedicar a outros aspectos de sua educação.

Ela ruborizou.

—Quer dizer...

—Precisamente.

—Não acredita que seria melhor começar pelo flerte?

—Elizabeth, não acredito que tenha nada de que preocupar-se nesse aspecto.

—Mas não tenho a mais leve ideia de como se faz!

—Tão somente posso dizer que em você é um dom natural.

—Não! —ela disse energicamente. —Não é. Não tenho nem a mínima ideia do que dizer a umhomem.

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—Pois pareceu saber o que me dizer. Quer dizer—emendou ele, —quando não tentava seguir osdecretos da senhora Seeton.

—Você não conta. Ele tossiu.

—E por que não?

—Não sei— disse ela com uma pequena sacudida de cabeça, —simplesmente não o faz. Você édiferente.

Ele tossiu outra vez.

—Não tão diferente de outros membros de meu gênero.

—Se insiste em sabê-lo, é muito mais fácil falar com você.

James meditou sobre isto. Antes de conhecer a Elizabeth, sentia-se orgulhoso de ser capaz dedeixar às suspirantes debutantes e a suas avaras mães completamente muda com um simples olharfixo. Este sempre era o instrumento mais eficaz uma das poucas coisas realmente úteis que aprenderade seu pai.

Por curiosidade, cravou seu olhar mais arrogante, o de "Eu-sou-o-Marquês-de-Riverdale"fixamente sobre ela o que rotineiramente conseguia que homens feitos e direitos se apressassem abuscar uma longínqua esquina e disse: —E se a olhasse deste modo?

Ela pôs-se a rir.

—Oh, basta! Basta! Parece ridículo.

—Desculpe?

—Basta, James. Oh, deixe-o já. Parece um menino pretendendo ser um duque. Sei, porque meuirmão pequeno tenta comigo o mesmo truque todo o tempo.

Picado em seu orgulho, ele disse.

—E que idade tem seu irmão?

—Oito anos, mas... —O que tivesse pensado dizer se perdeu em um novo ataque de risada.James não podia recordar a última vez que alguém riu dele, e não se sentiu particularmente agradadoao ser comparado a um menino de oito anos.

—Posso lhe assegurar— disse ele, em um tom que era puro gelo, —que...

—Não diga nada mais— disse ela, rindo.—Realmente, James, a gente não deveria comportar-secomo um aristocrata se a gente não pode levá-lo até o final.

Nunca, em toda sua carreira como agente para o Ministério de defesa, se sentira mais tentado de

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revelar sua identidade. Ardiam-lhe as palmas das mãos do desejo de agarrá-la, sacudi-la e lhe gritar.” Sou um maldito marquês, pequena tola! Posso ser um perfeito esnobe quando me ponho a isso.”Mas por outro lado, havia algo encantador em sua ingênua risada. E quando ela virou e disse.

—Oh, por favor, não se sinta insultado, James. Era um elogio, em realidade. É uma pessoa muitoagradável para ser um aristocrata.

Ele decidiu que este podia ser, de fato, o mais encantador momento de sua vida. Seu olhar secravou sobre uma minúscula partícula de sujeira, assim que ela se viu obrigada a inclinar-se paraficar em sua linha de visão.

—Perdoa-me? —brincou ela.

—É possível que encontre em meu coração...

—Se não me perdoar, então pode ser que precise pôr em pratica meus conhecimentos depugilismo de novo.

Ele estremeceu.

—Neste caso, definitivamente a perdoo.

—Pensei que o faria. Vamos para casa.

E ele se perguntou por que, quando ela disse casa, de fato, pensou que isso poderia aplicar-se aele também.

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Capítulo 11

Elizabeth estava surpresa de como estava despreocupada com o estado de sua casa quando ela eJames chegaram à sua porta. As cortinas de damasco verdes estavam descoloridas, e as moldurasnecessitavam uma nova pintura. O mobiliário era de boa qualidade, mas estava desgastado, comalmofadas estrategicamente colocadas sobre as zonas com mais necessidade de reparação. Emconjunto, a casa tinha um ligeiro ar frugal. Haviam poucas coisas de valor; algo com um mínimo devalor foi penhorado ou vendido a um comerciante ambulante.

Em geral sentia a necessidade de explicar que sua família sofrera um reverso da fortuna, eesclarecer que eles viveram em uma casa muito maior antes que seus pais morressem. Lucas era umbaronete, depois de tudo, e era embaraçoso que eles se vissem reduzidos a tais circunstâncias.

Mas com James ela simplesmente abriu a porta com um sorriso, segura de que ele veria suapequena casinha da mesma forma que ela, como um quente e confortável lar. Ele aludira a queprocedia de uma boa família, mas também dissera que sua família perdera a fortuna que haviampossuído uma vez, assim entenderia sua incapacidade para comprar novas coisas e sua necessidadede economizar.

A casa, graças a Deus, estava ordenada, e o ar cheirava a biscoitos quentes.

—Tem sorte, — disse Elizabeth com um sorriso—Susan deve ter decidido fazer bolos.

—Cheira delicioso— disse James.

—Biscoitos de gengibre. Bem, por que não me segue à cozinha? Somos terrivelmente informais,temo. —Ela abriu de um empurrão a porta da cozinha e entrou nela. Quando ele não se sentouimediatamente, repreendeu-o e disse. —Não faz falta que permaneça de pé por mim. Golpeou oquadril e deve lhe doer terrivelmente. Além disso, é uma tolice que esteja aí de pé enquanto preparoo chá.

Ele puxou uma cadeira e se sentou, perguntando logo.

—São aqueles no jardim seus irmãos?

Elizabeth afastou uma cortina e olhou através da janela.

—Sim, são Lucas e Jane. Não estou segura de onde está Susan, embora esteve aqui recentemente.Os biscoitos estão ainda quentes. —Com um sorriso, depositou um prato cheio diante dele. —Chamarei Lucas e Jane. Estou segura de que vão querer lhe conhecer.

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James olhou com interesse enquanto ela golpeava três vezes sobre o cristal de uma janela. Unssegundos depois, a porta da cozinha se abriu velozmente e apareceram dois pequenos marotos.

—Oh, é você, Elizabeth— disse o moço—Pensei que fosse Susan.

—Não, só eu, temo. Têm ideia de aonde foi?

—Foi ao mercado— respondeu o moço. —Com um pouco de sorte alguém nos dará um pouco decarne para acompanhar esses nabos.

—Com um pouco de compaixão, mas bem—resmungou a menina. —Por que alguémdesperdiçaria um pedaço perfeitamente bom de carne para um nabo absolutamente miserável, estáalém de minha compreensão.

—Odeio os nabos— disse James.

Três Hotchkiss giraram suas loiras cabeças em sua direção. James acrescentou.

—Uma amiga me disse uma vez que alguém pode aprender muito sobre a diligência de um nabo,mas nunca pude entender o que quis dizer.

Elizabeth começou a tossir sem fôlego.

—Isso soa como um montão de lixo— disse a menina.

—Lucas, Jane—interrompeu Elizabeth em voz alta. —Eu gostaria que conhecessem o senhorSiddons. É meu amigo, e também trabalha em Dambury House. É o novo administrador de LadyDambury.

James ficou de pé e estreitou a mão do Lucas com a mesma gravidade que utilizava paraestreitar-lhe ao primeiro-ministro. Depois girou para Jane e beijou sua mão.

Ruborizou-se dos pés à cabeça, mas o mais importante, quando ele levantou a vista até aElizabeth para sua aprovação, ela estava radiante.

—Como estão vocês? — murmurou.

—Muito bem, obrigado— disse Lucas.

Jane não disse nada. Estava muito ocupada olhando fixamente a mão que ele beijou.

—Convidei ao senhor Siddons a tomar o chá e biscoitos— disse Elizabeth. —Vocês gostariamde unir-se a nós?

Normalmente James teria lamentado perder um tempo a sós com a Elizabeth, mas havia algoreconfortante na reunião, aqui na cozinha, com este pequeno grupo de três, os quais obviamente sabiao que significava ser uma família.

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Elizabeth deu um biscoito a cada um de seus irmãos e lhes perguntou.

—O que fizeram hoje? Terminaram as lições que lhes preparei? Jane assentiu.

—Ajudei ao Lucas com a aritmética.

—Não o fez! —chispou Lucas, com farelos voando de sua boca.—Posso fazê-lo tudo sozinho.

—Talvez possa, — disse Jane com um encolhimento de superioridade, —mas não o fez.

—Elizabeth! —protestou Lucas. —Ouviste o que me disse?

Mas Elizabeth não fez caso da pergunta, em troca cheirou o ar com óbvia repugnância.

—O que é esse cheiro?

—Fui pescar outra vez— respondeu Lucas.

—Deve ir lavar-te imediatamente. O senhor Siddons é nosso convidado, e não é cortês...

—Não me importa um pouco de cheiro de pescado—interrompeu James. —Pegou algo?

—Quase tinha a um que era assiiiiiim de grande— disse Lucas, estendendo seus braços quasetanto como compridos eram, —mas escapou.

—Outra vez conseguirá— murmurou James com simpatia.

—Apanhei dois de tamanho médio, entretanto. Deixei-os em uma vasilha lá fora.

—São bastante asquerosos—interpôs Jane, tendo perdido o interesse por sua mão. Lucas seacendeu instantaneamente.

—Não diz o mesmo quando pode comer no jantar.

—Quando os preparam para jantar—contra-atacou ela, —não têm olhos.

—Isso é porque Lizzie corta as cabeças, cabeça de vento.

—Lucas, — disse Elizabeth, elevando a voz—acredito que deveria sair e te tirar um poucodesse cheiro.

—Mas o senhor Siddons...

—Simplesmente estava sendo cortês, —cortou-o Elizabeth. —Faça-o já, e aproveita para trocarde roupa.

Lucas se queixou, mas fez o que lhe diziam.

—É um pouco imaturo às vezes— disse Jane com um suspiro cansado. James teve que tossirpara evitar rir.

Jane tomou isto como aceitação e seguiu explicando.

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—Só tem oito anos.

—E que idade tem você?

—Nove, — respondeu ela, como se isso significasse um mundo de diferença.

—Jane— disse Elizabeth, da lareira, onde estava pondo a água para o chá, —posso falar contigoum momento?

Jane se desculpou cortesmente e foi junto a sua irmã. James fez que não via que Elizabeth seagachou e sussurrou algo ao ouvido de sua irmã. Jane assentiu e escapou correndo.

—O que foi tudo isso? —teve que perguntar.

—Pensei que também lhe viria bem uma lavagem, mas não quis envergonhá-la dizendo-lhe diantede você.

Ele inclinou ligeiramente a cabeça.

—De verdade acredita que se sentiria envergonhada por isso?

—James, é uma menina de nove anos que acredita que tem quinze. Você é um homem arrumado.É obvio que se sentiria envergonhada.

—Bem, você sabe melhor que eu, — respondeu ele, tentando não deixar transparecer seu prazerao saber que o julgava arrumado.

Elizabeth fez gestos para o prato de biscoitos.

—Não vai provar um?

Ele pegou um e o mordeu.

—Delicioso.

—Verdade? Não sei como o faz Susan. Jamais consegui que os meus saiam tão bons. — Pegouum e lhe deu uma mordida.

James a olhou, incapaz de arrancar seus olhos da vista do espetáculo de seus dentesmordiscando-o. Sua língua saiu velozmente para apanhar um miolo errante, e...

—Já estou aqui!

James suspirou. Um dos momentos mais inesperadamente eróticos de sua vida, interrompido porum menino de oito anos.

Lucas lhe sorriu amplamente.

—Gosta de pescar?

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—É um de meus esportes favoritos.

—Eu gostaria de caçar, mas Elizabeth não me deixa.

—Sua irmã é uma mulher muito sábia. Um menino de sua idade não deveria levar uma arma sema supervisão apropriada.

Lucas fez um gesto de contrariedade.

—Sei, mas não é por isso que não me deixa fazê-lo. É porque é muito sensível.

—Se não quero ver como assassinas a um pobre e inocente coelho—interrompeu-o Elizabeth, —significa que sou muito sensível, então...

—Mas come coelho—argumentou Lucas. —Vi. Elizabeth cruzou os braços e resmungou.

—É diferente quando tem orelhas. James riu.

—Soa como a jovem Jane com sua aversão aos olhos de pescado.

—Não, não, não, —insistiu Elizabeth, —é completamente diferente. Se recorda, sou eu quemcorta sempre a cabeça dos peixes. Assim evidentemente não sou delicada.

—Então qual é a diferença? —cravou-a ele.

—Sim, — disse Lucas, cruzando os braços e inclinando a cabeça em uma perfeita imitação deJames, —qual é a diferença?

—Não tenho que responder a isso!

James virou para o Lucas e disse por trás de sua mão.

—Sabe que não tem argumentos com os quais nos refutar.

—Ouvi isso!

Lucas apenas soltou uma tola risada.

James trocou um masculino olhar com o moço.

—As mulheres tendem a ficar fastidiosamente sentimentais com tudo o que tem que ver compequenas e peludas criaturas.

Elizabeth manteve os olhos fixos sobre a lareira, fazendo como que vigiava o chá. Há muito queLucas não tinha a um homem a quem pudesse respeitar e admirar. Preocupava-lhe estar privando-o dealgo importante educando-o ela mesma, com apenas a irmã como companhia. Se tivesse permitidoque qualquer de seus parentes o acolhesse, seguiria sem ter um pai, mas ao menos teria a um varãoadulto em sua vida.

—Qual é o peixe maior que já apanhou? —perguntou Lucas.

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—Em terra ou no mar?

Lucas chegou a lhe dar um ligeiro empurrão no braço quando lhe disse.

—Não se pode apanhar a um peixe em terra!

—Quis dizer em um lago.

Os olhos do moço se fizeram enormes.

—Pescou no mar?

—É obvio.

Elizabeth o olhou perplexa. Seu tom era tão normal.

—Estava em um navio? —perguntou Lucas.

—Não, era mais um veleiro.

Um veleiro? Elizabeth sacudiu sua cabeça enquanto tirava alguns pratos do armário. James deviater amigos muito bem situados.

—De que tamanho era o peixe?

—Oh, não sei. Talvez assim de grande. —James separou as mãos aproximadamente uns oitentacentímetros.

—Maldição! —exclamou Lucas.

A Elizabeth quase deixou cair um prato.

—Lucas!

—Sinto muito, Elizabeth— disse Lucas sem muita convicção, e sem olhá-la. Sua atenção não seseparava de James enquanto seguia lhe perguntando. —Teve que lutar muito contra ele?

James se inclinou e lhe sussurrou algo ao ouvido. Elizabeth estirou o pescoço e as orelhas, masnão pôde ouvir o que disse. Lucas assentiu um pouco desanimado, levantou-se, cruzou a sala até aElizabeth, e lhe fez uma pequena inclinação. Elizabeth ficou tão surpresa que esta vez deixou cair oque sustentava. Graças a Deus, só era uma colher.

—Sinto muito, Elizabeth— disse Lucas. —Não é cortês usar tal linguagem diante de uma dama.

—Obrigado, Lucas. —Ela olhou de esguelha ao James, que lhe ofereceu um misterioso sorriso.Fez um gesto com a cabeça para o moço, e então ela se inclinou e deu ao Lucas um prato debiscoitos, dizendo.

—Por que não vão você e Jane a procurar a Susan? Podem comer estes biscoitos a caminho dopovoado.

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Os olhos do Lucas se acenderam ante a vista dos biscoitos, e rapidamente os agarrou e saiu doquarto, deixando a Elizabeth com a boca aberta ante seu veloz desaparecimento.

—O que disse? —perguntou assombrada. James deu de ombros.

—Não posso dizer-lhe.

—Mas deve fazê-lo. Independentemente do que foi, foi terrivelmente eficaz. Ele se recostou,parecendo enormemente contente consigo mesmo.

—Algumas coisas é melhor que fiquem entre homens.

Elizabeth franziu o cenho divertida, tentando decidir se deveria pressioná-lo um pouco mais,quando notou uma sombra que se obscurecia perto de seu olho.

—Oh, esqueci completamente! —exclamou. —Seu olho! Devo encontrar algo que pôr nele.

—Estará bem, estou seguro. Tive feridas muito piores às quais prestei muito menos atenção. Masela não o escutava, enquanto ela brincava de correr apressadamente por sua cozinha em busca dealgo frio.

—Não precisa se incomodar—tentou de novo.

Ela elevou a vista, o que o surpreendeu. Pensava que estava tão entretida em sua busca paraescutá-lo, por não mencionar lhe responder.

—Não vou discutir isto com você—declarou ela. —Assim pode economizar o fôlego.

James se deu conta de que o dizia a sério. Elizabeth Hotchkiss não era do tipo de mulheres quedeixava projetos inacabados ou evitava uma responsabilidade. E se estava determinada a ocupar-sede seu olho machucado, havia muito pouco que ele um par do reino, um homem com duas vezes seutamanho podia fazer para detê-la.

—Se se empenhar— murmurou ele, tentando soar ao menos um pingo incômodo por seuscuidados.

Ela escorreu algo com as mãos na pia, e virando-se o ofereceu.

—Pegue.

—O que é isto? —perguntou ele, com receio.

—Só é um trapo molhado. O que pensou... que ia depositar a captura do dia do Lucas sobre seurosto?

—Não, não está hoje o bastante zangada para isso, embora...

Ela elevou as sobrancelhas enquanto cobria seu olho machucado com o trapo.

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—Se está insinuando que acredita que poderia me zangar um dia o bastante para que...

—Não estou dizendo nada semelhante. Deus, odeio ser mimado excessivamente. Vocêsimplesmente... Não, é um pouco mais à direita.

Elizabeth ajustou o trapo, inclinando-se ao fazê-lo.

—Melhor assim?

—Sim, embora pareça que isto esquentou um pouco. Ela retrocedeu uns centímetros e seendireitou.

—Sinto muito.

—Não importa— disse ele, incapaz da nobreza suficiente para afastar o olhar do que estavasituado diretamente diante dele. Não estava seguro se ela se deu conta de que estava olhandofixamente seus seios, mas soltou um pequeno.

—Oh! —e se afastou de um salto. —Posso esfriá-lo outra vez. —Fez, e logo lhe estendeu o trapomolhado.—Melhor que você o faça.

Ele deslocou seu olhar até seu rosto, com expressão tão inocente como a de um cachorrinho.

—Mas eu gosto quando você o faz.

—Acreditei que não gostava de ser excessivamente mimado.

—Isso acreditava eu também.

Isto lhe valeu um olhar meio exasperado, meio sarcástico de Elizabeth, ao mesmo tempo quecolocava as mãos na cintura. Parecia bastante ridícula, e, ao mesmo tempo, ameaçadora,permanecendo ali de pé com um trapo de cozinha pendurado em sua mão.

—Se está tentando me convencer de que sou seu anjo da guarda, vindo do céu a...

Seus lábios se estenderam em um lento e cálido sorriso.

—Exatamente.

Ela lançou o trapo, deixando uma mancha de umidade no meio de sua camisa.

—Não acredito nem um segundo.

—Para ser um anjo da guarda—resmungou ele, —tem muito mau caráter. Ela gemeu.

—Simplesmente coloque o trapo sobre o olho.

Fez o que lhe ordenou. Longe dele desobedecê-la quando estava de semelhante humor.Permaneceram de pé um em frente ao outro durante um momento, e então Elizabeth lhe disse.

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—Tire um segundo.

Ele levou a mão ao olho.

—O trapo?

Ela assentiu uma vez.

—Não acaba de me ordenar que o pusesse sobre meu olho?

—Sim, mas quero jogar uma olhada ao tamanho da contusão.

James não viu nenhuma razão para não obedecer, assim se inclinou para diante, levantando oqueixo e girando a cara de modo que ela pudesse ver facilmente seu olho.

—Hmmph— disse ela. —Não esta arroxeado como teria esperado.

—O disse que não era uma ferida séria. Ela franziu o cenho.

—Atirei-o ao chão.

Ele estirou um pouco mais o pescoço, desafiando-a silenciosamente a pôr sua boca à distânciade um beijo outra vez.

—Possivelmente se o olhar mais de perto. Ela não ia cair na armadilha.

—Vou ser capaz de ver melhor a cor de seu golpe me aproximando? Hmmph. Não sei o que estátramando, mas sou muito perspicaz para qualquer de seus truques.

Que fosse muito inocente para dar-se conta de que ele tentava lhe roubar um beijo o divertiutanto como ele adorou. Entretanto, depois de pensá-lo um momento, caiu na conta de que também ohorrorizava. Se era tão ignorante sobre seus verdadeiros motivos, que demônios ia ela ia fazerquando se enfrentasse com libertinos cujas intenções eram muito menos nobres que a sua?

E podia acontecer, sabia. Pode ser que ele possuísse reputação de libertino, mas tentava viversua vida com um mínimo de honra, que era mais do que poderia dizer da maior parte dos membros daalta sociedade.

E Elizabeth, com aquele cabelo de raio de luar dela, por não mencionar seus olhos, e essa boca,e... Inferno, não tencionava ficar ali sentado e fazer inventário de seus atributos. A questão era queela não tinha nenhuma família para defendê-la, e portanto os cavalheiros tentariam aproveitar-sedela, e quanto mais pensava nisso, menos convencido estava de que ela fosse capaz de chegar aoaltar com sua pureza e sua alma intactas.

—Vamos ter que ter outra lição de boxe amanhã—soltou ele.

—Acreditei que disse...

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—Sei o que disse, —interrompeu-a com brutalidade, —mas depois comecei a pensar.

—Que diligente de sua parte— murmurou ela.

—Elizabeth, deve saber defender-se. Os homens são uns canalhas. Uns descarados. Uns idiotas,todos eles.

—Incluindo você?

—Sobretudo eu! Tem ideia do que tentava fazer faz um momento enquanto me inspecionava oolho?

Ela negou com a cabeça.

Seus olhos arderam de fúria e necessidade.

—Se tivesse tido um segundo mais, somente um bendito segundo mais, teria rodeado seu pescoçocom minha mão, e antes que pudesse dizer "Jesus", estaria sentada em meu colo.

Ela não disse nada, o que, por alguma néscia razão não podia entender, enfureceu-o.

—Entende o que lhe digo? —exigiu-lhe.

—Sim— disse ela, com tranquilidade. —E considerarei esta lição como uma parte crucial deminha educação. Sou muito confiada.

—É condenadamente razoável a respeito—queixou-se ele.

—É obvio, isto apresenta um interessante dilema com respeito à lição de amanhã. —Ela cruzouos braços e o avaliou.—Depois de tudo, disse-me que devia estudar os, er, aspectos amorosos docortejo.

James tinha o pressentimento de que não ia gostar do que vinha a seguir.

—Disse-me que devo aprender a beijar, e aqui —lhe lançou um olhar extremamente duvidoso —disse-me que devia ser você quem me ensinaria.

James não podia pensar nada que o fizesse aparecer sob uma luz elogiosa, assim manteve a bocafechada e tentou manter a dignidade franzindo o cenho.

—E agora me diz—seguiu ela, —que não devo confiar em ninguém. Assim, por que deveriaconfiar em você?

—Porque desejo o melhor para você de coração.

—Há!

Como ponto final, era conciso, direto, e notavelmente eficaz.

—Por que está me ajudando? — sussurrou ela. —Por que fez esta estranha oferta de seus

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serviços? Porque é estranho, sabe. Certamente deve ter percebido isso.

—Por que aceitou você? —respondeu-lhe ele.

Elizabeth fez uma pausa. Não havia forma de responder sua pergunta. Ela era uma mentirosaterrível, e definitivamente não podia lhe dizer a verdade. Oh, ele estaria encantado de escutar quecom a aprendizagem ela iria conseguir passar uma semana, ou se fosse afortunada uma quinzenacompleta, em sua companhia. Queria ouvir sua voz, e respirar seu aroma, e capturar sua respiraçãoenquanto pudesse o ter perto. Queria apaixonar-se e fingir que poderia durar para sempre.

Não, a verdade não era uma opção.

—Não importa por que aceitei— respondeu finalmente. Ele ficou de pé.

—Não?

Sem nem dar-se conta, ela retrocedeu um passo. Era muito mais fácil dar falsas bravatas quandoele estava sentado. Mas completamente de pé, era o espécime masculino mais intimidante que já vira,e toda sua recente divagação sobre sentir-se tão cômoda em sua presença parecia bastante tola eprematura. Agora era diferente. Estava aqui. Estava muito perto. E a queria.

O sentimento de segurança escapou - o que lhe permitiu estar tão cômoda em sua companhia, edizer o que lhe passasse pela cabeça sem temor a sentir-se envergonhada. Foi substituído por algoimensamente mais excitante, algo que lhe roubou o fôlego, a razão e sua própria alma.

Seus olhos não abandonaram os dela. Seu profundo tom castanho ardia e se obscureceu quandoele reduziu a distância entre ambos. Ela não podia piscar, nem sequer podia respirar quando ele seaproximou ainda mais. O ar se esquentou, eletrificou-se, e então ele se deteve.

—Vou beijá-la, — sussurrou.

Ela não pôde emitir uma palavra.

Uma de suas mãos se posou na parte baixa de suas costas.

—Se não desejar, diga-me agora, porque se não o faz...

Ela acreditou que não se moveu, mas seus lábios se separaram em silencioso assentimento. Suaoutra mão deslizou detrás de sua cabeça, e ela acreditou ouvi-lo murmurar algo quando seus dedos seafundaram na seda de seu cabelo. Seus lábios se roçaram contra os seus, uma vez, duas vezes, depoisse transladaram à comissura de sua boca, onde sua língua gracejou a sensível pele da borda de seuslábios até obrigá-la a ofegar de prazer. E todo o tempo, suas mãos se moviam acima e abaixo,acariciando suas costas, roçando delicadamente a parte posterior de seu pescoço. Sua boca se moveua sua orelha, e quando sussurrou, ela o sentiu tanto como o ouviu.

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—Vou aproximá-la mais. —Seu fôlego, e suas palavras, sentiam-se ardentes contra sua pele. Aparte ainda consciente da Elizabeth percebeu que a tratava com um respeito pouco comum, econseguiu encontrar a voz o tempo suficiente para dizer.

—Por que me diz isso?

—Para lhe dar a possibilidade de dizer que não. —Seu olhar duro, ardente, e muito masculinodesceu sobre o seu. —Mas não quer dizê-lo.

Ela odiou sua arrogância, não estava equivocado, odiava não poder lhe negar nada quando asustentava entre seus braços. Mas adorava a crepitante percepção que percorria seu corpo a estranhasensação de que pela primeira vez em sua vida, entendia seu próprio corpo. E quando a apertoucontra ele, adorou que seu coração galopasse tão rápido como o dela.

Seu calor a abrasou, e não sentiu nada mais que a ele, não ouviu nada exceto o latejar de seupróprio sangue, e um brandamente articulado, —"Maldição".

Maldição?

Ele a soltou bruscamente.

Maldição. Elizabeth cambaleou para trás, fazendo plaf em uma cadeira que estava atrás dela.

—Ouviu isso? — sussurrou James.

—O que?

Murmúrio de vozes. —Isso — sussurrou ele. Elizabeth se ergueu como um raio.

—OH, não—gemeu. —É Susan. E Lucas e Jane. Estou apresentável?

—Er, quase, —mentiu ele. —Talvez poderia querer... —Fez um vago gesto de recolher o cabeloao redor de sua cabeça.

—O cabelo? —ofegou ela. —Meu cabelo! O que fez a meu cabelo?

—Não tanto quanto eu teria gostado—resmungou ele.

—Oh Deus, Oh Deus, Oh Deus. —apressou-se até a pia, fazendo apenas uma pausa para olharpor cima de seu ombro e dizer. —Preciso ser um exemplo. Jurei a Deus faz cinco anos que seria umexemplo. E me olhe.

Esteve fazendo pouco mais durante toda a tarde, pensou James com desânimo, e tudo queconseguiu foi sentir-se frustrado. A porta da rua se fechou de repente. Elizabeth deu um salto.

—Tenho o cabelo muito desordenado? —perguntou freneticamente.

—Bom, não tem o mesmo aspecto que quando chegamos—reconheceu ele. Ela passou as mãos

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pela cabeça com movimentos rápidos e nervosos.

—Não dá tempo de prender.

Ele decidiu não responder. Segundo sua experiência, era ser sábio não interromper a toalete deuma dama.

—Só posso fazer uma coisa— disse ela.

James olhou com interesse como molhava as mãos em um pequeno balde de água que havia sobreo balcão. Era o mesmo balde que utilizou para molhar o trapo para seu olho. As vozes de crianças seouviram mais perto. E então, Elizabeth, a quem considerava como um ser humano sóbrio e racional,levantou as mãos, salpicando água por toda as partes, por sua cabeça, sua blusa, e, por todo ele.

A prudência dela, decidiu enquanto, devagar, sacudia a água de suas botas, era uma presunçãoque obviamente precisava ser revisada.

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Capítulo 12

—Pelas chaves de São Pedro—exclamou Susan. —O que aconteceu?

—Um pequeno acidente— respondeu Elizabeth. Sua mentira deveria ter sido melhor, porqueSusan revirou os olhos imediatamente e suspirou de incredulidade. Lançar a água foi um planodefeituoso, mas certamente inspirado. Se não podia conseguir que seu cabelo tivesse bom aspecto,então podia danificá-lo de todo. Ao menos, então ninguém suspeitaria que sua desarrumação eradevido aos dedos de James.

A pequena cabeça loira de Lucas girou e contemplou o desastre.

—Parece como se tivéssemos sido visitados pela grande inundação. Elizabeth tentou não franziro cenho ante sua interferência.

—Estava preparando um pano molhado para o senhor Siddons, que machucou o olho, e entãoderrubei o balde, e...

—Como é que está o balde em pé ainda? —perguntou ele.

—Porque eu o endireitei— disse Elizabeth, abruptamente. Lucas piscou, e retrocedeu um passo.

—Provavelmente deveria partir— disse James.

Elizabeth jogou uma olhada em sua direção. Ele sacudia a água das mãos, e parecia notavelmentesereno, considerando que ela acabava de empapá-lo sem aviso prévio.

Susan pigarreou. Elizabeth a ignorou. Susan pigarreou outra vez.

—Poderia ter primeiro uma toalha? — murmurou James.

—Oh, sim, certamente.

Susan limpou a garganta. Elizabeth a ignorou. Ela pigarreou de novo.

—O que acontece, Susan? —chiou Elizabeth.

—Poderia me apresentar?

—OH, sim. — Elizabeth sentiu que suas faces se acendiam ante este óbvio descuido doprotocolo. —Senhor Siddons, permite-me lhe apresentar a minha irmã menor, a senhorita SusanHotchkiss? Susan, este é...

—Senhor Siddons? —ofegou Susan.

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Ele sorriu e inclinou sua cabeça com boas maneiras.

—Parece como se tivesse ouvido falar de mim.

—Oh, de maneira nenhuma— respondeu Susan, com tal rapidez que qualquer idiota podia verque mentia. Ela sorriu, muito, em opinião de Elizabeth e logo rapidamente mudou de assunto.

—Elizabeth, fez algo novo a seu cabelo?

—Está molhado—espetou-lhe Elizabeth.

—Sei, mas ainda assim, parece...

—Molhado.

Susan fechou a boca, mas de algum jeito conseguiu dizer.

—Sinto muito—sem separar os lábios.

—Senhor Siddons, deveria estar já a caminho— disse Elizabeth desesperadamente. Deu umpasso adiante e o agarrou pelo braço. —O acompanharei à porta.

—Foi um prazer conhecê-la, senhorita Hotchkiss— disse ele a Susan por cima de seu ombro,não podia ter sido de nenhuma outra forma, já que Elizabeth o havia arrastado, passando por diantedos três Hotchkiss mais jovens e nesse momento o empurrava pela porta ao vestíbulo. —E a você,também. Lucas! —chamou-o. —Devemos ir pescar um dia!

Lucas gritou com regozijo e entrou correndo no vestíbulo atrás deles.

—Oh, obrigado, senhor Siddons. Obrigado!

Elizabeth tinha ao James virtualmente nos degraus dianteiros quando ele de repente parou edisse.

—Há uma coisa mais que preciso fazer.

—Que mais fica por fazer? —exigiu ela. Mas ele se soltou já de seu aperto e caminhou a passoslongos para a porta da cozinha. Quando pensou que ele estava fora do alcance do ouvido, resmungou.

—Parece-me que já fizemos de tudo hoje.

Ele sorriu com picardia por cima de seu ombro.

—De tudo não.

Ela chispou e balbuciou, tentando dar com uma réplica apropriadamente mordaz, quando elearruinou completamente o momento derretendo seu coração.

—Oh, Jane—chamou-a, apoiando-se no batente da porta.

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Elizabeth não podia ver o interior da cozinha, mas podia imaginar perfeitamente a cena, comosua irmãzinha levantava a cabeça, seus olhos azuis escuros abrindo-se assombrados de par em par.

James enviou um beijo à cozinha.

—Adeus, doce Jane! Lamento verdadeiramente que não seja um pouco maior.

Elizabeth suspirou angelical e se afundou em uma cadeira. Sua irmã sonharia com aquele beijodurante o resto de sua infância.

Seu discurso estava ensaiado, mas o sentimento era indubitavelmente sincero. Elizabeth sabiaque precisava enfrentar a James por seu escandaloso comportamento, e esteve toda a noite e até amanhã seguinte imaginando a conversa em sua cabeça. Ainda estava recitando suas palavras quandopartiu penosamente através da lama chovera a noite anterior para Dambury House.

Este plano este raro, estranho e incompreensível plano que, supunha-se, ia levá-la ao altarnecessitava regras. Máximas de comportamento, diretrizes, esse tipo de coisas. Porque se não tivessealguma ideia do que podia esperar em companhia de James Siddons, ia voltar-se louca.

Por exemplo, seu comportamento na tarde anterior era claramente um sinal de uma menteconfusa. Em um ataque de pânico se molhou inteira. Por não mencionar sua licenciosa resposta aobeijo do James. Teria que adotar um mínimo de controle. Negava-se a ser um caso de caridade paraseu entretenimento. Insistiria em lhe retribuir por seus serviços, e acabou. Além disso, ele não podiaagarrá-la e abraçá-la quando ela não o esperasse. Mesmo que soasse absurdo, seus beijos teriam quepermanecer puramente acadêmicos. Era a única forma de conseguir sair deste episódio com a almaintacta. Quanto a seu coração, bom, provavelmente era já uma causa perdida.

Mas não importa quantas vezes ensaiou o pequeno discurso que preparou, soava errado.Primeiro muito autoritário, depois muito fraco. Muito estridente, e logo muito lisonjeiro. Mas onde sesupõe que podia uma mulher procurar conselho? Talvez deveria jogar outra olhada a

"Como casar-se com um Marquês". Se necessitava regras e decretos, certamente os encontrariaali. Possivelmente a senhora Seeton incluíra algo sobre como convencer a um homem sem insultá-lomortalmente. Ou como conseguir que um homem fizesse o que alguém queria fazendo acreditar quetudo foi ideia dele. Elizabeth estava segura de que vira algo a respeito em suas leituras.

E se não o havia, seguro como que existe o céu, que deveria havê-lo. Elizabeth não podiaimaginar uma habilidade mais útil.

Foi um dos poucos conselhos femininos que sua mãe lhe dera antes de morrer.

—Nunca te atribua o mérito—lhe dissera Claire Hotchkiss.—Conseguirá muito mais se deixarque acredite que ele é o homem mais preparado, mais valente e mais poderoso de todo o mundo.

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E pelo que pôde observar Elizabeth, funcionava. Seu pai esteve total e loucamente apaixonadopor sua mãe. Anthony Hotchkiss não foi capaz de ver nada mais nem sequer a seus filhos quando suaesposa entrava em uma sala.

Infelizmente para Elizabeth, quando sua mãe lhe dera o conselho sobre que fazer com um homem,nunca viu a necessidade de lhe explicar como levá-lo a cabo. Talvez isto fosse intuitivo para algumasmulheres, mas certamente não para Elizabeth. Céus! se era forçada a consultar um guia para que lheindicasse que dizer a um homem, como ia poder lhe fazer acreditar que suas ideias eram emrealidade dele.

Até estava tentando dominar as regras mais básicas do cortejo. Esta parecia uma técnica muitoavançada. Elizabeth sacudiu a lama de seus pés sobre os degraus exteriores de Dambury House,entrou pela porta principal e correu pelo vestíbulo, entrando na biblioteca. Lady D estaria aindatomando o café da manhã e esta parte da casa estava em silêncio, e esse maldito livro a esperava...

Andou pelo elegante tapete que cobria quase todo o vestíbulo. Algo no silêncio lhe pareciasagrado é obvio, pode ser que tivesse algo que ver com a interminável discussão que teve quesuportar durante o café da manhã quando Lucas e Jane brigaram por quem devia limpar. No momentoem que seus pés tocaram o chão, soaram como um terrível estrondo, retumbando pelo vestíbulo, efazendo em migalhas seus já crispados nervos.

Correu para a biblioteca, inalando o aroma de madeira polida e livros velhos. Como desfrutavadestes breves momentos de isolamento. Com um movimento lento e cuidadoso, ela fechou a portaatrás dela e examinou as estantes. Ali estava, posto de lado na mesma prateleira onde ela o encontrousó uns dias antes.

Uma olhadinha não faria mal. Sabia que era um livro estúpido, e que a maioria das coisas quenele se diziam eram tolices, mas se pudesse encontrar qualquer pequeno conselho que a ajudasse comseu presente dilema... Agarrou o livro e começou a folheá-lo, seus hábeis dedos passando as páginascom agilidade enquanto olhava as palavras da senhora Seeton. Pulou a parte do vestuário, e astolices sobre praticar.

Talvez para o final houvesse algo?

—O que está fazendo?

Levantou a vista, dolorosamente consciente de que sua expressão era a de uma corsa olhandopara o buraco do rifle de um caçador.

—Nada...

James cruzou a sala a passos longos, suas longas pernas levando-o a justo ao lado dela em sócinco passos.

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—Está lendo esse livro outra vez, verdade?

—Não lendo-o, exatamente—gaguejou Elizabeth. Era uma completa imbecil por sentir-se tãoenvergonhada, mas não podia evitá-lo, como se tivesse sido surpreendida fazendo algo muitodesagradável.—Estava mas bem jogando uma olhada.

—Não estou interessado em sutilezas semânticas.

Elizabeth decidiu rapidamente que o melhor curso de ação era uma mudança de tema.

—Como sabia que eu estava aqui?

—Ouvi seus passos. A próxima vez que queira entrar no jogo do subterfúgio, caminhe sobre otapete.

—O fiz! Mas o tapete tem um final, como bem sabe. Precisa andar uns passos sobre o chão parapoder entrar na biblioteca.

Seus olhos negros se voltaram de uma cor estranha, com um brilho quase acadêmico, quandodisse.

—Há maneiras de amortecer. Oh, não importa. Não é o tema em questão. —Estendeu a mão e lhearrebatou "Como casar-se com um Marquês". —Acreditei que tínhamos acordado que isto não erammais que tolices. Uma coleção de besteiras e burradas desenhadas para converter às mulheres emdescerebradas e choronas idiotas.

—Tinha a impressão de que os homens já pensavam que somos umas descerebradas e choronasidiotas.

—A maioria o são—grunhiu ele, assentindo. —Mas você não tem que sê-lo.

—Bom, senhor Siddons, surpreende-me. Acredito que isso foi um elogio.

—E diz que não sabe flertar—queixou-se ele.

Elizabeth não podia conter o sorriso que brotava de seu interior. De todos seus cumprimentos, osfatos a contra gosto eram os que mais lhe afetavam. Ele a olhou com o cenho franzido e sua expressãose voltou para uma juvenil petulância ao colocar de repente o livro sobre a prateleira.

—Que não a encontre outra vez olhando este livro.

—Só estava procurando um pouco de conselho— explicou ela.

—Se necessitar conselho, eu o darei.

Seus lábios se franziram durante um segundo breve antes que ela respondesse.

—Não acredito que isso seja o apropriado neste caso.

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—Que demônios significa isso?

—Senhor Siddons?

—James. —interrompeu-a bruscamente.

—James. —corrigiu-se ela. —Não sei o que o deixou de tão mau humor, mas não aprecio sualinguagem. Nem seu tom.

Deixou sair um comprido suspiro, horrorizado por como seu corpo tremia ao fazê-lo. Suasvísceras permaneceram retorcidas em um nó durante quase vinte e quatro horas e tudo por culpadesta menina.

Por Deus, se só lhe chegava ao ombro.

Tudo começou com esse beijo. Não, pensou sombriamente, começou muito antes, com aantecipação, o desejo, o sonhar com como seriam seus lábios sob os seus. E certamente não foisuficiente. Nem de longe. Na tarde anterior conseguiu aparentar despreocupação bastante bem - coma ajuda de seu providencial balde de água, que, é obvio, aplacara sua necessidade.

Mas a noite o deixara a sós com sua imaginação. E James tinha uma imaginação muito ativa.

—Estou furioso—respondeu-lhe, finalmente, evitando mentir totalmente ao acrescentar, —porque ontem à noite dormi mal.

—Oh. —Estava assombrada por sua simples resposta. Abriu a boca para seguir interrogando-o,mas a fechou sem dizer nada.

Melhor para ela, pensou com dureza. Se expressasse, mesmo que fosse o menor interesse emsaber porquê não dormiu bem, jurou-se que o diria. Descreveria-lhe explicitamente seu sonho, até omais mínimo detalhe.

—Sinto que sofra de insônia— disse ela, finalmente—mas acredito que realmente deveríamosfalar de sua oferta de me ajudar a encontrar marido. Estou segura de que compreenderá que é muitopouco convencional.

—Pensei que tínhamos decidido que não íamos deixar que isso guiasse nossas ações. Ela oignorou.

—Necessito uma certa estabilidade em minha vida, senhor Siddons.

—James.

—James. —Ela repetiu seu nome e a palavra saiu como um suspiro. —Não posso estarconstantemente em guarda, temendo que se equilibre sobre mim em qualquer momento.

—Me equilibrar? —No canto de sua boca se insinuou um sorriso. Gostou da imagem que a

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palavra equilibrar fizera que lhe viesse à mente.

—E certamente não pode ser benéfico para nós ser tão, ah...

—Íntimos? —facilitou-lhe, só para zangá-la.

Funcionou. O olhar que lhe lançou poderia ter talhado o vidro.

—A questão é— disse ela elevando a voz, como se assim pudesse sossegar suas intervenções,—que nosso objetivo é me encontrar um marido, e...

—Não se preocupe— disse ele, gravemente. —Encontraremo-lhes um marido. —Mas justoenquanto dizia as palavras, ele foi vagamente consciente de um estranho gosto em sua boca. Podiaimaginar suas lições particulares com a Elizabeth imaginar todos e cada um dos perfeitos minutosmas o pensar em que realmente pudesse conseguir seu objetivo de contrair matrimônio, o fazia sentirdoente.

—Isso me leva a outro ponto— disse ela.

James cruzou os braços. Um ponto mais e teria que amordaçá-la.

—Sobre este plano, e sua disposição a me ajudar a encontrar marido não estou segura de mesentir cômoda estando em dívida com você.

—Não o estará.

—Sim, — disse Elizabeth, com firmeza, —estarei. E insisto em lhe retribuir.

O sorriso que lhe dedicou foi tão potentemente masculino que lhe tremeram as pernas.

—E como— disse, arrastando as palavras, —tem a intenção de me retribuir?

—Chantagem.

Ele piscou surpreso. Sentiu-se orgulhosa disso.

—Chantagem? —repetiu.

—Lady Dambury me disse que a está ajudando a desmascarar a seu chantagista, eu gostaria delhe ajudar.

—Não.

—Mas...

—Disse que não.

Fulminou-o com o olhar, e quando ele não acrescentou nada mais, ela disse:

—Por que não?

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—Porque poderia ser perigoso, por isso.

—Você o faz.

—Sou um homem.

—Oh! —exclamou, convertendo suas mãos em dois punhos a seus flancos. —É um hipócrita!Tudo que disse ontem sobre me respeitar, e pensar que sou mais inteligente que a maioria dasmulheres era tudo uma fileira de tolices para conseguir que confiasse em você assim poderia...poderia...

—O respeito não tem nada que ver com isto, Elizabeth. —fincou as mãos sobre os quadris, e elaautomaticamente deu um passo atrás ao perceber a estranha expressão de seus olhos. Era quase comose transformasse em outro homem ali mesmo, em cinco segundos um que fez coisas perigosas,conhecido a gente perigosa.

—Parto-me— disse ela. —Pode ficar aqui, por tudo que me importa. Agarrou-a pelo laço de seuvestido.

—Não acredito que tenhamos concluído com esta conversa.

—Não estou muito segura de desejar sua companhia. Ele soltou um comprido e frustrado suspiro.

—Respeito não significa que esteja disposto a pô-la em perigo.

—Encontro difícil de acreditar que o chantagista de Lady Dambury seja um indivíduo perigoso.Não é como se a estivesse chantageando por ter segredos de Estado ou algo parecido.

—Como pode estar tão segura disso? Olhou-o boquiaberta.

—Está?

—Não, é obvio que não—espetou-lhe ele. —Mas isso não o pode saber, verdade?

—É obvio que sim! trabalhei para ela durante mais de cinco anos. Crê realmente que LadyDambury poderia ter-se comportado de forma suspeita sem que eu o notasse? Santo céu, só olhecomo reagi quando ela começou a dormir a sesta.

Ele a fulminou com o olhar e seus olhos escuros não admitiam argumentos.

—Não vai se unir à investigação de chantagem, e ponto. Ela cruzou os braços em resposta e nãodisse nada.

—Elizabeth?

Uma mulher mais cautelosa poderia ter prestado atenção à dura advertência de sua voz, masElizabeth não se sentia muito prudente naquele momento.

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—Não pode me impedir que tente ajudar a Lady Dambury. Ela foi como uma mãe para mim, e...—Engasgou-se com suas palavras quando ele a empurrou contra uma mesa, suas mãos agarrando-apelos braços com desmesurada intensidade.

—Amarrarei-te, amordaçarei-te. Atarei a uma maldita árvore se for preciso para que nãocoloque o nariz onde não deve.

Elizabeth tragou ar. Nunca vira um homem tão furioso. Seus olhos faiscavam, sua mão tremia, eseu pescoço estava tão tenso que pareceu que o menor roçar poderia separá-lo de seu torso.

—Bom, bem—gritou ela, tentando liberar-se. Ele não parecia ter ideia do fortemente que asegurava - ou nem sequer de que a estava segurando. —Não disse que ia interferir exatamente, só quelhe ajudaria de alguma forma, uma forma completamente segura, e...

—Prometa-me isso, Elizabeth. —Sua voz era baixa e intensa, e era quase impossível nãoderreter-se ante a ferocidade do sentimento contido naquela única palavra.

—Eu... ah... Oh, onde estava a senhora Seeton quando a necessitava? —Elizabeth tentou enrolá-lo para aliviar sua fúria —estava quase segura de que isso se mencionava o Decreto Número vinte eseis, —mas não funcionou. James seguia furioso, suas mãos ainda se fechavam ao redor de seusbraços como tenazes, e que Deus lhe ajudasse, mas Elizabeth não podia afastar seus olhos da bocadele.

—Prometa-me isso, Elizabeth—repetiu ele, e a única coisa que ela podia fazer era contemplarcomo seus lábios formavam as palavras.

Suas mãos se apertaram mais forte ao redor de seus braços, o que, combinado com alguma forçacelestial, tirou-a do transe, e moveu seus olhos até encontrar os dele.

—Não farei nada sem lhe consultar primeiro, sussurrou.

—Isso não é suficiente.

—Terá que ser. —estremeceu. —James, está me machucando.

Baixou o olhar a suas mãos como se fossem objetos estranhos, então abruptamente a liberou.

—Sinto muito— disse distraidamente. —Não me dei conta. Ela deu um passo para trás,esfregando os braços.

—Está bem.

James a olhou durante um comprido momento antes de xingar baixinho e se afastar. Esteve tenso,e se sentira frustrado antes, mas nunca esperou sentir a violenta inundação de emoções que eladesatara. A mera ideia da Elizabeth em perigo, e se convertia em um idiota falador.

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A ironia era deliciosa. Justamente o ano passado riu de seu melhor amigo quando ele esteve emuma situação similar. Blake Ravenscroft se tornou completamente desenquadrado quando sua futuraesposa tentara participar de uma operação do Ministério de Defesa, James achou toda a situaçãoimensamente divertida. Era claro que Caroline não corria verdadeiro perigo, e pensou que Blake eraum asno loucamente apaixonado por armar tal alvoroço. James podia ver a situação atual com asuficiente objetividade para saber que Elizabeth corria até mesmo menos perigo aqui, em DamburyHouse. E ainda assim, seu sangue fervia de medo e fúria ante a só a menção de que se envolvesse noassunto da chantagem. Tinha a sensação de que isto não era bom sinal.

Isto devia ser algum tipo de obsessão doentia. Não fez outra coisa que pensar em ElizabethHotchkiss desde que chegou a Dambury House a princípios da semana. Primeiro teve que investigá-la como possível chantagista, e depois se encontrou assumindo a desafortunada posição de mestrepara lhe encontrar marido. Em realidade, ele mesmo se ofereceu para aquele papel, mas decidiu nãoaprofundar muito nesse ponto. A questão era, que era muito natural que temesse por sua segurança.Ele se havia autonomeado seu protetor, e ela era uma coisinha tão diminuta; qualquer homem sesentiria protetor.

E quanto a essa necessidade, essa que roia suas vísceras e disparava seu pulso, bom, ele era umhomem, depois de tudo, e ela uma mulher, e estava aqui, e era realmente muito formosa, ao menos emsua opinião, e quando sorria-lhe fazia sentir coisas estranhas em seu...

—Maldição—resmungou, —vou ter que beijá-la.

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Capítulo 13

Elizabeth só teve tempo de tomar ar antes que seus braços se fechassem ao redor dela. Sua bocaencontrou a dele com uma atordoante mescla de poder e ternura, e ela se derreteu, totalmente, em seuabraço. De fato, seu último pensamento coerente foi que a palavra "derreter-se" surgia em sua mentecom bastante frequência. Algo neste homem lhe provocava isso. Um desses seus intensos olhares dotipo que insinuavam coisas sombrias e perigosas, coisas sobre as que ela não sabia nada e estavaperdida.

Sua língua se introduziu entre seus lábios, e sentiu sua boca abrir-se debaixo da dele. Explorou-acompletamente, acariciando-a profundamente, convertendo seu fôlego no seu.

—Elizabeth— disse com voz áspera. —Me diga que o necessita. Diga-me.

Mas ela estava além das palavras. Seu coração pulsava desenfreadamente, seus joelhos tremiam,e uma pequena parte dela sabia que se dizia as palavras, não haveria como voltar atrás. Assim tomoua saída covarde, e arqueou o pescoço para outro beijo, convidando-o silenciosamente a prosseguircom sua sensual exploração.

Sua boca deslizou pela linha de sua mandíbula, depois brincou com sua orelha, e logo setransportou a sensível pele de seu pescoço, e a todo o momento suas mãos se moviamincessantemente. Uma deslizou para baixo à curva de suas nádegas, cavando-se sobre elas comdeliciosa ternura enquanto atraía e pressionava suavemente seus quadris contra sua excitação.

E a outra se deslocava para cima, sobre suas costelas, para...

Elizabeth deixou de respirar. Cada nervo em seu corpo se estremecia de antecipação, doendocom uma dilaceradora necessidade que nunca imaginara que existisse. Quando sua mão envolveu seuseio, não importou que houvesse duas capas de malha entre sua pele e ele. Sentiu-se arder, marcada,e ela soube que acontecesse o que acontecesse, uma parte de sua alma pertenceria a este homem parasempre.

James murmurava algo, palavras de amor e necessidade, mas ela não entendia nada mais que oforte desejo de sua voz. E então sentiu que caía lentamente. Sua mão em suas costas a segurava, masela descia para o suave atapetado chão da biblioteca.

James gemeu algo que soava como seu nome e era mais uma prece que outra coisa. E então seencontrou deitada sobre suas costas, e a ele cobrindo-a. Seu peso era emocionante e seu calorvertiginoso. Mas então ele arqueou seus quadris e notou a verdadeira extensão de seu desejo por ela,

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e seu transe sensual se rompeu.

—James, não — sussurrou. —Não posso. —Se não parasse isto agora, não seria capaz de detê-lo depois. Não sabia como tinha esse conhecimento, mas era tão certo quanto se chamava Elizabeth.

Seus lábios se detiveram, mas sua respiração era irregular, e ele não saiu de cima dela.

—James, não posso. Desejaria... —Calou-se no último segundo. Meu Deus, esteve a ponto delhe dizer que quase lamentava não poder fazê-lo? Elizabeth ruborizou de vergonha. Que tipo demulher era ela?

Este homem não era seu marido e nunca seria.

—Espera só um momento— disse ele, com voz rouca. —Necessito um momento.

Ambos esperaram enquanto sua respiração se estabilizava. Depois de uns segundos, ele ficou empé e, sempre como um cavalheiro (ainda sob circunstâncias mais adversas), ofereceu-lhe a mão.

—Sinto muito— disse ela, permitindo que a ajudasse a levantar—mas se devo me casar... meumarido esperará...

—Não diga—grunhiu ele. —Não diga nenhuma maldita palavra. —Soltou sua mão eviolentamente girou.

Cristo. A deitara sobre o chão. Esteve a ponto de fazer amor com ela, de tomar sua inocênciapara sempre. Sabia que era errado, sabia que era mais que errado, mas não foi capaz de conter-se.Sempre se sentiu orgulhoso de ser capaz de controlar suas paixões, mas agora... Agora era diferente.

—James? —Sua voz soava atrás dele, doce e vacilante.

Ele não disse nada, não se atrevia a falar. Sentiu sua indecisão; mesmo quando lhe estava dandoas costas, podia sentir como se debatia tentando decidir se dizia ou não algo mais.

Mas que Deus lhe ajudasse, se ela mencionasse a palavra "marido" uma vez mais...

—Espero que não esteja zangado comigo— disse ela, com ligeira dignidade. —Mas se tiver queme casar com um homem por seu dinheiro, o mínimo que posso fazer em troca é chegar a eleinocente. —Uma breve risada explodiu em sua garganta, era um som amargo. —Faz com que todoesse assunto seja um pouco menos sórdido, não acredita?

Manteve sua voz tão suave e firme como pôde quando disse.

—Encontrarei-te um marido.

—Pode ser que não seja boa ideia. Você...

Ele deu a volta e explodiu.

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—Disse que te encontraria um maldito marido!

Elizabeth retrocedeu uns passos para a porta. Sua mãe dizia sempre que não havia maneira deraciocinar com um homem quando estava furioso, e agora que o pensava, a senhora Seeton escreveuo mesmo.

—Falarei contigo deste assunto mais tarde— disse baixinho. James deixou sair um comprido etremente suspiro.

—Por favor, aceite minhas desculpas. Não queria dizer...

—Esta bem— disse ela rapidamente. —De verdade. Embora possivelmente devêssemos deixaras lições por hoje, considerando...

Ele lançou um olhar quando suas palavras se foram apagando.

—Considerando o que?

Maldito homem, ia obrigá-la a dizê-lo. Suas faces ruborizaram quando respondeu.

—Considerando que já beijei tudo o que provavelmente poderia se considerar apropriado antesdo matrimônio.—Quando ele não fez nenhum comentário, ela resmungou. — Provavelmente muitomais.

Ele assentiu bruscamente com a cabeça.

—Tem a lista dos convidados que chegam amanhã?

Ela piscou, surpresa pela repentina mudança de assunto.

—Tem-na Lady Dambury. Posso lhe entregar isso pela tarde.

—Conseguirei-a por minha conta.

Seu tom não convidava a mais comentários, assim ela abandonou a sala.

James passou toda a manhã franzindo o cenho. Franziu o cenho aos criados, franziu o cenho aMalcolm, inclusive franziu o cenho ao maldito jornal.

Seu passo normalmente suave se tornou em forte e marcado, e quando retornou a Dambury Housedepois de um par de horas nos campos, suas botas faziam ruído suficiente para despertar aos mortos.O que realmente precisava era a maldita bengala de sua tia. Era infantil por sua parte, sabia, mashavia algo muito satisfatório em descarregar sua frustração sobre o chão. Mas o simples tamborilarde seus pés não era o bastante. Com a bengala, ele poderia fazer um maldito buraco.

Caminhou pelo grande vestíbulo, aguçando seus ouvidos ao passar pela porta ligeiramente abertado salão. Estaria Elizabeth ali dentro? E o que pensava de que andasse por ali? Devia saber que eleestava ali. Devia estar surda como uma porta para não ter ouvido todo o ruído que ele fez.

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Mas em vez da melodiosa voz de Elizabeth, escutou a rouca voz de sua tia.

—James!

James soltou um gemido quase inaudível. Se sua tia o chamava James, significava que Elizabethnão estava com ela. E se Elizabeth não estava com ela, significava que Agatha queria falar com ele.

O que nunca pressagiava nada bom.

Deu um par de passos para trás e colocou a cabeça pela porta.

—Sim?

—Preciso falar contigo.

James não soube como conseguiu não grunhir.

—Sim, isso imaginava.

Ela golpeou com sua bengala.

—Não precisa soar como se fosse a caminho de uma execução.

—Isso depende da execução de quem falemos—resmungou ele.

—Né? O que disse? —Golpe, golpe, golpe.

Entrou na sala, seus olhos fazendo uma rápida exploração se por acaso estava Elizabeth. Nãoestava ali, mas Malcolm sim, e rapidamente saltou do batente e trotou a seu lado.

—Disse—mentiu James, —que quero um desses bastões. Os olhos da Agatha se entrecerraram.

—O que acontece com suas pernas?

—Nada. Só quero fazer um pouco de barulho.

—Não podia simplesmente bater a porta?

—Já o fiz— disse ele, com voz suave. Ela riu entre dentes.

—De mau humor, né?

—O pior.

—Você gostaria de falar do por quê?

—Não, a menos que me aponte uma arma ao coração. Isto fez que ela elevasse as sobrancelhas.

—Não deveria provocar assim minha curiosidade, James.

Ele sorriu sem humor e se sentou em uma cadeira frente a ela. Malcolm o seguiu e se sentou aseus pés.

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—Necessitava algo, Agatha? —perguntou.

—O prazer de sua companhia não é suficiente?

Ele não estava de humor para jogos, assim se levantou.

—Se isso for tudo, então parto. Minhas obrigações como teu administrador me reclamam.

—Sente-se.

Sentou-se. Sempre obedecia a sua tia quando usava aquele tom de voz. Alguns hábitos erammuito difíceis de romper. Agatha clareou a garganta, isso nunca era bom sinal. James se resignou aescutar um longo bate-papo.

—Minha acompanhante esteve agindo de uma forma muito estranha ultimamente— disse ela.

—OH?

Ela tamborilou com as pontas dos dedos.

—Sim, não é normal nela. Notaste-o?

De maneira nenhuma ia explicar a sua tia os acontecimentos dos últimos dias. Nem por todos osinfernos.

—Não posso dizer que conheça muito bem à senhorita Hotchkiss— respondeu ele, —assim nãoposso oferecer uma opinião.

—De verdade? —perguntou ela, com tom suspeitosamente casual. —Pensava que vocês dois, emcerto modo, desenvolveram uma relação de amizade.

—E a temos. Em certo modo. Ela é uma jovem muito amável. —Começou a sentir arder aspontas de suas orelhas. Se o rubor se estendia a suas faces, pensou que teria que abandonar o país.Não ruborizava a uma década.

Mas por outro lado, tampouco foi interrogado por sua tia em todo esse tempo.

—Entretanto—continuou, sacudindo ligeiramente a cabeça de modo que o cabelo lhe cobrisse asorelhas, —só foram uns dias. É obvio, não o tempo suficiente para emitir um julgamento sobre seucomportamento.

—Hmmph. —Houve um momento de interminável silêncio, e então a expressão da Agatha mudouabruptamente e perguntou. —Como anda sua investigação?

James piscou uma só vez. Estava acostumado às repentinas mudanças de tema de sua tia.

—Não avança— disse sem rodeios. —Há pouco que possa fazer até que o chantagista não façaoutra ameaça. Já te interroguei sobre os criados, e me asseguraste que todos eles são ou muito leais

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ou muito analfabetos para ter tramado este plano.

Seus frios olhos azuis se entrecerraram.

—Não segue suspeitando da senhorita Hotchkiss, verdade?

—Se sentira feliz de ouvir que a eliminei como suspeita.

—Que mais tem feito?

—Nada—confessou James. —Não há nada mais que fazer. Como te disse, temo que o seguintemovimento corresponde ao chantagista.

Lady Dambury deu uns leves golpes com a ponta de seus dedos.

—Ou seja, o que me está dizendo é que te vê obrigado a permanecer aqui, em Dambury House,até que o chantagista faça outra ameaça?

James assentiu.

—Já vejo. —Ela se recostou mais comodamente em sua poltrona. —Então parece que a únicacoisa que pode fazer é seguir trabalhando como meu administrador para que ninguém suspeite de suaverdadeira identidade.

—Agatha, — disse ele, com voz ameaçadora, —não me trouxe aqui só para conseguir umadministrador grátis? —Ante seu olhar ofendido, acrescentou. —Sei o miserável que pode chegar aser.

—Não posso acreditar que pense isso de mim—bufou ela.

—Isso e mais, querida tia. Ela sorriu com muita doçura.

—Sempre é agradável ser respeitada por sua inteligência.

—Sua astúcia é algo que não subestimaria jamais. Ela riu.

—Oh, eduquei-te bem, James. Realmente te amo.

Ele suspirou enquanto ficava de pé. Era uma velha ardilosa, e não sentia remorso algum porentremeter-se em sua vida e convertê-la de vez em quando em um inferno, mas a queria de verdade.

—Então retorno a minhas obrigações. Não queremos que ninguém pense que sou umadministrador incompetente.

Ela o fulminou com o olhar. Agatha nunca apreciava o sarcasmo proveniente de qualquer um quenão fosse ela.

James lhe disse.

—Terá que me avisar se receber outra nota do chantagista.

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—Assim que a receba—assegurou-lhe ela. Ele fez uma pausa na porta.

—Soube que tem uma reunião planejada para amanhã?

—Sim, uma pequena recepção ao ar livre, por quê? —Mas antes de que ele pudesse responder,ela disse. —Oh, é obvio. Não quer ser reconhecido. Me deixe te dar a lista de convidados. —Assinalou com a mão ao outro lado do salão. —Me traga essa caixa com papéis que está sobre aescrivaninha.

James fez o que lhe ordenou.

—Fiz bem em te trocar o nome, né? Não seria bom que algum dos criados mencionasse aosenhor Sidwell.

James assentiu com a cabeça enquanto sua tia revolvia entre seus papéis.

Geralmente era conhecido como Riverdale, e foi assim desde que acessou ao título à idade devinte anos, mas seu sobrenome familiar era de conhecimento comum.

Agatha soltou um —Ahá! e tirou uma folha de papel de cor creme. Antes de entregar-lheexaminou-a e murmurou.

—Oh, querido. Acredito que conhece ao menos a uma destas pessoas.

James leu rapidamente os nomes, fazendo acreditar a sua tia que seu interesse na lista radicavaem seu desejo de preservar em segredo sua identidade. A verdade, entretanto, era que queria ver quehomens figuravam nela, dentre os quais se supunha que ele ia escolher um maldito marido para aElizabeth.

Sir Bertram Fellport. Bêbado.

Lorde Binsby. Jogador contumaz.

Daniel, Lorde Harmon. Casado.

Sir Christopher Gatcombe. Casado.

Doutor Robert Gifford. Casado.

Senhor William Dunford. Muito libertino.

Capitão Cynric Andrien. Muito militar.

—Estes não servirão—grunhiu James, resistindo com muita dificuldade a tentação de enrugar opapel até convertê-lo em uma diminuta e insignificante bola.

—Há algum problema? —perguntou Agatha.

Elevou a vista surpreso. Esquecera completamente que Agatha estava na sala.

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—Importa-te se fizer uma cópia?

—Não me explicou para que pode querer uma.

—Só para meus arquivos—improvisou ele. —É muito importante manter arquivos fidedignos. —Em realidade, James era da crença de que quanto menos figurasse por escrito, melhor. Não havianada como um documento escrito para incriminar a uma pessoa.

Agatha deu de ombros e lhe estendeu um pedaço de papel.

—Encontrará pena e tinta na escrivaninha junto a janela.

Um minuto mais tarde, James copiara com esmero a lista de convidados e esperava a que a tintasecasse. Retornou junto a sua tia, dizendo.

—Sempre cabe a possibilidade de que o chantagista esteja entre seus convidados.

—Resulta-me bastante difícil acreditar, mas você é o perito. Isto fez que ele elevasse assobrancelhas assombrado.

—Você está realmente deferindo a minha opinião sobre o assunto? Os milagres nunca cessam.

—O sarcasmo não te cai bem, jovenzinho.—Agatha estirou o pescoço para ver o papel que tinhaem suas mãos. —Por que omitiste os nomes das mulheres?

Mais improvisação.

—Elas são menos factíveis como suspeitas.

—Tolices. Você mesmo passou os primeiros dias ofegando atrás da senhorita Hotchkiss,acreditando...

—Não ofegava atrás dela!

—Falava metaforicamente, é obvio. Simplesmente queria indicar que a princípio suspeitou dela,assim não entendo por que agora descarta a todas estas outras mulheres como suspeitas.

—Ocuparei-me delas uma vez que tenha terminado com os homens—resmungou James comirritação. Ninguém tinha tanta capacidade para encurralá-lo como sua tia. —Realmente devo voltarpara meu trabalho.

—Vá, vá. —Agatha agitou a mão no ar, desdenhosamente. —Embora seja surpreendente ver oMarquês de Riverdale apressando-se a desempenhar um humilde trabalho com tal diligência.

James só sacudiu a cabeça.

—Além disso, Elizabeth chegará de um momento a outro. Estou segura de que ela será melhorcompanhia do que você foi.

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—Sem dúvida.

—Vá.

Foi. Para ser sincero, não gostaria de absolutamente encontrar-se com a Elizabeth nessemomento. Necessitava tempo para repassar primeiro a lista, e preparar seus argumentos a respeito dequão inconvenientes a maior parte, quer dizer, todos os homens eram. E isso lhe levaria um pouco detrabalho, já que dois deles eram homens aos que James sempre chamou de amigos.

Elizabeth ia retornando a sua casa pela tarde quando se chocou com James, que saía de suapequena moradia. Se sentira tentado de tomar uma rota alternativa ao caminho principal, mas adescartara como uma covardia. Sempre passava por diante da moradia do administrador quando elaretornava a casa, e não ia desviar-se de seu caminho se por acaso James pudesse estar em casa emvez de nos campos ou visitando um arrendatário, ou cumprindo com qualquer das mil obrigaçõespara as quais foi contratado.

E então ali estava ele, saindo pela porta de sua moradia, justo quando ela passava por diante.

Elizabeth tomou nota mental de não voltar a depender nunca de sua sorte.

—Elizabeth—virtualmente chamou ele. —Estive te buscando.

Um olhar a sua expressão colérica e decidiu que era um momento excelente para inventar umaemergência de "vida ou morte" em sua casa.

—Eu gostaria de conversa— disse ela, tentando escapulir-se por diante dele, —mas Lucas estádoente, e Jane...

—Ele não parecia doente ontem.

Ela tentou sorrir docemente, mas era difícil fazê-lo com os dentes apertados.

—As crianças podem adoecer muito rapidamente. Se me desculpar. Ele a agarrou pelo braço.

—Se estivessem realmente doentes, não teria vindo trabalhar hoje.

Oh, demônios. Aí a tinha pego.

—Não disse que estivessem terrivelmente doente—resmungou, —mas eu gostaria de lhesatender, e...

—Se não esta muito doente, então certamente pode me dedicar uns minutos. —E então, antes queela tivesse oportunidade sequer de negá-lo, tinha-a agarrado pelo cotovelo e puxado para sua casa.

—Senhor Siddons! —chiou ela.

Ele deu um chute à porta, fechando-a.

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—Pensei que já tínhamos superado o senhor Siddons.

—Tornamos a retroceder—gritou ela. —Me solte.

—Deixa de agir como se estivesse a ponto de te violar. Ela o fulminou com o olhar.

—Não acredito que seja tão impossível.

—Santo Deus— disse ele, passando uma mão pelo cabelo. —Quando desenvolveste esta veiatão melodramática?

—Quando me obrigou a entrar em sua casa!

—Não o faria se você não tivesse mentido sobre seu irmão. Elizabeth ficou boquiaberta, e lheescapou um gemido ultrajado.

—Como te atreve a me acusar de mentir!

—Não mentiste?

—Bom, sim—confessou ela, com irritação,—mas só porque é um bárbaro grosseiro e arroganteque não aceita um não por resposta.

—Negar-se a aceitar uma negativa em geral garante um resultado positivo— respondeu ele, comvoz tão condescendente que Elizabeth teve que agarrar a saia para não lhe dar um bofetão.

Com a voz e os olhos convertidos em puro gelo, ela disse.

—Parece ser que minha única possibilidade de escapatória consiste em te permitir falar. O quedesejava me dizer?

Ele agitou um papel diante dela.

—Obtive isto de Lady Dambury.

—Sua carta de demissão, espero—resmungou ela. Ele o deixou passar.

—É a lista de convidados de Lady Dambury. E lamento te informar que nenhum destescavalheiros é aceitável.

—Oh, e suponho que os conhece todos eles pessoalmente—mofou-se ela.

—De fato, sim.

Ela arrancou o papel da mão, rasgando um canto no processo.

—Oh, por favor— disse maliciosamente. —Há dois Lordes e um Sir. Como pode conhecê-los?

—Seu irmão é um Sir—recordou-lhe ele.

—Sim, pois seu irmão não—replicou ela.

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—Isso você não sabe. Elizabeth sacudiu a cabeça.

—Quem é?

—Meu irmão não é um Sir— disse ele, com voz zangada. —Nem sequer tenho um irmão.Simplesmente queria ressaltar o fato de que tem o desafortunado hábito de chegar a conclusões semcomprovar os fatos.

—O que— disse ela, tão devagar que ele soube que seu gênio pendia de um fio, —têm de mauestes homens?

—Três deles estão casados.

Sua mandíbula tremeu, provavelmente de ranger os dentes.

—O que acontece com os convidados solteiros?

—Bem, em primeiro lugar. Este —assinalou ao Sir Bertram Fellport —é um bêbado.

—Está seguro?

—Não posso permitir, em consciência, que te case com um homem que abusa do álcool.

—Não respondeste a minha pergunta.

Maldição, ela era tenaz.

—Sim, estou seguro de que é um bêbado. E além disso, mesquinho. Ela olhou novamente para opapel rasgado que sustentava em sua mão.

—E Lorde Binsby?

—É um jogador.

—Em excesso?

James assentiu, começando a divertir-se com isto.

—Muito. E é gordo. Ela assinalou a outro.

—E o que me diz de...

—Casado, casado, e casado. Ela elevou a vista bruscamente.

—Os três? Ele assentiu.

—E um deles até felizmente.

—Bem, isso certamente contraria a tradição—resmungou ela. James recusou fazer comentárioalgum.

Elizabeth soltou um comprido suspiro, e ele notou que seus suspiros estavam a meio caminho

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entre a irritação e o cansaço.

—Isto ainda nos deixa com o senhor William Dunford e o Capitão Cynric Andrien. Suponho queum é disforme e o outro um simplório?

Sentiu-se profundamente tentado de estar de acordo com ela, mas um olhar a Dunford e aocapitão e ela saberia imediatamente que ele a esteve enganando.

—Ambos são considerados, pelo que sei, atraentes e inteligentes—admitiu ele.

—Então qual é o problema?

—Dunford é um libertino.

—E?

—Seguro que te será infiel.

—Não sou precisamente um prêmio, James. Não posso esperar a perfeição. Seus olhosrelampejaram.

—Deveria esperar fidelidade. Deveria exigi-la. Ela o olhou incrédula.

—Seria bom, estou segura, mas não parece tão importante como...

—Seu marido, —grunhiu ele, —será-te fiel ou responderá ante mim.

Os olhos de Elizabeth se arregalaram, lhe afrouxou a mandíbula, e então paralisou em um ataquede risada. James cruzou os braços e a fulminou com o olhar. Não estava acostumado a que rissem deseu cavalheirismo.

—Oh, James—ofegou ela, —sinto muito, e foi encantador de sua parte. —Quase, enxugou osolhos, —o suficientemente encantador para lhe perdoar por ter me sequestrado.

—Não te sequestrei— disse ele asperamente.

Ela agitou a mão.

—Como demônios espera defender minha honra uma vez que esteja casada?

—Não vais casar com o Dunford—resmungou ele.

—Se você diz— disse ela, tão séria e tão cuidadosamente que ele soube que morria por rir outravez. —- Muito bem, por que não me diz o que acontece com o Capitão Andrien?

Houve uma longa pausa. Verdadeiramente longa. Finalmente James soltou.

—Anda curvado. Outra pausa.

—Deixa-o de fora só porque anda curvado? —perguntou ela incredulamente.

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—É um sinal de debilidade interior.

—Já vejo.

James se deu conta de que Andrien ia ter que fazer algo mais que andar curvado.

—Por não mencionar—acrescentou, fazendo uma pausa enquanto imaginava uma mentiraconveniente, —que lhe vi uma vez gritar a sua mãe em público.

Elizabeth, evidentemente, não pôde dar uma resposta. James não sabia se era devido a seusesforços por conter sua risada ou a uma completa estupefação.

E não estava muito seguro de querer averiguá-lo.

—Er, foi muito desrespeitoso—acrescentou.

Sem advertência prévia, ela estendeu a mão e lhe roçou a fronte.

—Tem febre? Parece-me que tem febre.

—Não tenho febre.

—Age como se tivesse febre.

—Vais colocar-me na cama e a me cuidar bondosamente se tiver febre?

—Não.

—Então não tenho febre. Ela deu um passo para trás.

—Nesse caso, deveria ir.

James se recostou contra a parede, completamente esgotado. Ela causava esse efeito nele,compreendeu. Quando não o tinha sorrindo amplamente como um idiota, punha-o furioso. E quandonão estava furioso, então estava invadido pela luxúria. E quando estava invadido pela luxúria...

Bem, essa era uma questão à parte.

Observou-a enquanto abria a porta, hipnotizado pela delicada curva de sua mão enluvada.

—James? James? —Sobressaltado, levantou a cabeça.—Está seguro de que o Capitão Andriencaminha curvado?

Ele assentiu, sabendo que no dia seguinte ficaria como um mentiroso, mas com a esperança deimaginar então outra mentira mais inteligente que remendasse esta.

Ela franziu os lábios.

Ele encolheu o estomago e logo deu um tombo.

—Não te parece estranho? Que um militar ande curvado? Ele deu de ombros.

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—Já te disse que não te case com ele. Ela emitiu um gorjeio divertido.

—Posso melhorar sua postura. Ele só pôde sacudir a cabeça.

—É uma mulher incrível, Elizabeth Hotchkiss.

Ela fez uma inclinação com a cabeça como despedida e saiu pela porta. Antes que se fechasse,entretanto, voltou a introduzir a cabeça.

—Oh, James? Ele elevou a vista.

—Caminhe direito.

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Capítulo 14

À tarde seguinte encontrou Elizabeth rondando perto da entrada de Dambury House,amaldiçoando-se primeiro por sua estupidez, logo por sua covardia, e finalmente porque sim.

Ela seguira o conselho de Susan e deixara seu livro de contabilidade no qual anotava os gastosde casa em Dambury House no dia anterior. Como o livro era tão essencial para seu dia a dia, eraimprescindível que ela o recuperasse durante a recepção ao ar livre.

—Não há nada suspeito em minha presença aqui— disse a si mesma—Esqueci meu livro decontas. Necessito meu livro de contas. Não posso passar sem ele até segunda-feira.

É obvio, isto não explicava por que trouxe o livro o qual nunca saíra antes da casinha dosHotchkiss com ela, em primeiro lugar. Esperou até quase às quatro, quando os convidados,provavelmente, estariam desfrutando no exterior da cálida luz do sol da campina. Lady Damburymencionou o tênis e um chá sobre a grama do jardim sul. Não era precisamente a rota que Elizabethdevia seguir a fim de recuperar seu caderno, mas não havia nenhuma razão pela que não pudessetomar esse caminho para procurar lady Dambury e lhe perguntar se vira seu livro de contas.

Nenhuma razão exceto seu orgulho.

Deus, Elizabeth odiava isto. Sentia-se tão desesperada, tão ambiciosa. Sempre que o ventosoprava, estava segura de que eram seus pais do céu, sentindo náusea de vê-la rebaixar-se.Sentiriam-se horrorizados de vê-la assim, inventando débeis desculpa somente para assistir a umafesta a qual não a haviam convidado.

E tudo isto só para conhecer um homem que provavelmente caminhava curvado.

Gemeu. Permaneceu de pé ante a grade dianteira, com a fronte apoiada contra a grade durantevinte minutos. Se ficasse ali muito mais, acabaria por colocar a cabeça entre os barrotes e ficarenganchada, justo como aconteceu ao Cedric Dambury no Palácio de Windsor.

Não podia retardar mais. Elevando o queixo e enquadrando os ombros, avançou, rodeandoresolutamente a zona próxima à moradia de James. A última coisa que necessitava nesse momento eraencontrar-se com ele.

Deslizou pela porta principal de Dambury House, seus ouvidos atentos a qualquer somproveniente da festa, mas tudo o que escutou foi o silêncio. O livro de contas estava na biblioteca,mas ela fingia que não sabia, assim perambulou pela casa até as portas francesas que conduziam para

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o terraço de trás. Efetivamente, uma dúzia mais ou menos de senhoras elegantemente vestidas e decavalheiros estavam dispersos sobre a grama. Um par deles levavam raquetes de tênis, outrosbebiam o ponche, e todos riam e conversavam.

Elizabeth mordeu o lábio. Mesmo suas vozes soavam elegantes.

Saiu ao terraço. Tinha a sensação de que parecia tão tímida como um camundongo, mas emrealidade não importava muito. Ninguém esperaria que a dama de companhia de Lady Dambury seintroduziria com descaramento na festa.

Lady D presidia a festa sentada no extremo mais longínquo do terraço, sentada em umaacolchoada poltrona azul, que Elizabeth reconheceu como pertencente ao quarto azul. Amonstruosidade estofada de veludo era a única peça do mobiliário interior que foi transportada aoterraço, e definitivamente se assemelhava a um trono, a qual, imaginou Elizabeth, foi a intenção deLady D. Duas senhoras e um cavalheiro estavam sentados junto a ela. As senhoras assentiamatentamente com a cabeça a cada palavra dela e os olhos do cavalheiro estavam frágeis; ninguémparecia sentir se importar que Malcolm estivesse deitado sobre o colo de Lady D, pança acima comsuas patas estendidas para fora como um X. Pareceu um cadáver, mas Lady Dambury tinhaassegurado a Elizabeth inumeráveis vezes que sua espinha era incrivelmente flexível e que realmentegostava dessa posição.

Elizabeth se deslocou um pouco mais perto, tentando captar as palavras de Lady D de modo quepudesse interromper no momento menos inoportuno. Não era difícil seguir a conversação; era maisum monólogo que outra coisa, com Lady Dambury de estrela principal.

Estava a ponto de dar um passo adiante com a intenção de chamar a atenção de Lady Damburyquando sentiu que alguém a agarrava pelo cotovelo. Virando-se, ela se encontrou cara a cara com ohomem mais bonito que vira jamais.

Cabelo dourado, olhos azul celeste, bonito não O DESCREVIA. Este homem tinha a cara de umanjo.

—Mais ponche, por favor— disse-lhe estendendo sua taça.

—Oh, não, sinto muito, não entende. Eu...

—Agora. —Deu-lhe um golpe no traseiro.

Elizabeth notou que ruborizava, e lhe deu um empurrão ao copo rechaçando-o.

—Confunde-se. Se me perdoar.

Os olhos do homem loiro se entrecerraram perigosamente, e Elizabeth sentiu um estremecimentode cautela percorrer sua coluna. Este não era um homem ao qual contrariar embora as pessoas

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pensassem que nem sequer a mais colérica das pessoas se zangasse tanto por um copo de ponche.

Com um pequeno encolhimento de ombros, ela apagou o incidente de sua mente e entrou emcaminho para Lady Dambury, que a olhou com surpresa.

—Elizabeth! —exclamou. —O que faz você aqui?

Elizabeth compôs uma expressão que esperava que resultasse encantadora, pedindo desculpascom um sorriso. Depois de tudo, tinha audiência.

—Sinto terrivelmente incomodá-la, Lady Dambury.

—Tolices. O que acontece? Tem algum problema em casa?

—Não, não, não é nada tão terrível. —Jogou uma olhadinha ao cavalheiro parado junto a LadyDambury. Seu aspecto era parecido ao de James quanto a cor de cabelo e olhos, e pareciam ser deuma idade similar, mas seus olhos de alguma forma, viam-se muitos anos mais jovens. James viracoisas. Coisas terríveis. Estava aí em seus olhos, quando ele acreditava que ela não o olhava. Masprecisava deixar de fantasiar sobre James. Não havia nada errado neste cavalheiro. Olhando-oobjetivamente, teve que confessar que era extraordinariamente formoso. E definitivamente nãoparecia curvado. Só que não era James.

Elizabeth se repreendeu mentalmente.

—Temo que esqueci meu livro de contas aqui— disse, olhando de novo para Lady Dambury.

—Viu-o você? É que o necessito antes da segunda-feira.

Lady D negou com a cabeça enquanto afundava sua mão na abundante pelagem do Malcolm eesfregava seu ventre.

—Não posso dizer que o tenha visto. Está segura de que o trouxe? Nunca te vi trazer algo assimantes.

—Estou segura. —Elizabeth tragou, perguntando-se por que a verdade soava como uma mentira.

—Lamento não poder te ajudar— disse Lady Dambury, —mas tenho convidados. Espero que nãote importe em buscá-lo você mesma. Não podem haver mais de cinco ou seis salas onde possa estar.E os criados sabem que pode andar por onde queira nesta casa.

Elizabeth se endireitou e assentiu. Foi despedida.

—Irei olhar agora mesmo.

De repente o homem que estava de pé ao lado de Lady Dambury se adiantou de um salto.

—Estaria encantado de ajudá-la.

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—Mas não pode partir—choramingou uma das senhoras.

Elizabeth contemplou a cena com interesse. Estava claro por que as senhoras pareciam tãointeressadas em permanecer junto a Lady D.

—Dunford, —ladrou Lady Dambury. —Estava a ponto de te contar minha audiência com aCondessa Russa.

—AH, eu já a conheço— disse ele com um sorriso malicioso.

Elizabeth ficou boquiaberta. Jamais conhecera a ninguém que não se sentisse intimidado porLady Dambury. E esse sorriso. Deus santo, ela nunca vira nada semelhante. Estava claro que essehomem quebrara muitos corações.

—Além disso—continuou ele, —gosto mais de brincar de caça ao tesouro. Lady Damburyfranziu o cenho.

—Suponho que devo apresentá-los, então. Senhor Dunford, esta é minha dama de companhia, asenhorita Hotchkiss. E estas duas damas são a senhorita e senhora Corbishley.

Dunford rodeou com seu braço o de Elizabeth.

—Excelente. Estou seguro de que encontraremos em pouco tempo o errante livro de contas.

—Em realidade, não tem que...

—Tolices. Não posso resistir a uma donzela em apuros.

—Tampouco está em apuros— disse a senhorita Corbishley com voz irritada. —Pelo amor deDeus, só extraviou um livro.

Mas Dunford já levava a Elizabeth longe, através das portas do terraço para o interior da casa.

Lady Dambury franziu o cenho. A senhorita Corbishley fulminou com o olhar as portas como seela desejasse incendiar a toda a casa. A senhora Corbishley, que nunca pensava que houvesse razãoalguma para refrear sua língua, disse.

—Eu em seu lugar despediria dessa mulher. É muito descarada. Lady Dambury a olhoumordazmente.

—E em que baseia essa hipótese?

—Bom, só olhe de que maneira...

—Conheço a senhorita Hotchkiss faz muito mais tempo do que a conheço, senhora Corbishley.

—Sim— respondeu ela, com os cantos de sua boca apertados de forma pouco atraente, — maseu sou uma Corbishley. Você conhece minha família.

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—Sim— disse bruscamente Lady Dambury, —e eu nunca gostei de sua família. Me dê minhabengala.

A senhora Corbishley estava muito chocada para obedecer, mas sua filha teve a suficientepresença de ânimo para agarrar a bengala e pô-la nas mãos de Lady Dambury.

—Bom, em minha vida... —balbuciou a senhora Corbishley. Golpe! Lady Dambury levantou.

—Aonde vai? —perguntou a senhorita Corbishley. Quando Lady Dambury respondeu, sua vozsoou distraída.

—Preciso falar com alguém. Preciso falar com alguém imediatamente.

E então se afastou com dificuldade, embora movendo-se mais rápido do que o fizera em anos.

—Deu-se conta— disse o senhor Dunford, —de que estarei em dívida com você até o dia emque morra?

—Isso é fazer uma promessa muito longa, senhor Dunford— respondeu Elizabeth, com voz cheiade diversão.

—Simplesmente Dunford, se não lhe importar. Não me chamam senhor durante anos.

Não podia por menos que sorrir. Havia algo extraordinariamente amistoso neste homem.Segundo a experiência de Elizabeth, aqueles abençoados com uma beleza extraordinária tendiam aser amaldiçoados com um caráter terrível, mas Dunford pareceu ser a exceção que confirmava aregra. Seria um estupendo marido, decidiu, se pudesse conseguir que o propusesse.

—Muito bem, — disse. —Só Dunford. E de quem tentava escapar? De Lady Dambury?

—Deus bendito, não. Agatha sempre é boa para entreter uma tarde.

—Da senhorita Corbishley? Parecia realmente interessada...

Dunford estremeceu.

—Nem a metade de interessada que sua mãe.

—Oh.

Ele arqueou uma sobrancelha.

—Deduzo que está familiarizada com o tipo.

Uma pequena gargalhada de espanto lhe escapou dos lábios. Deus santo, ela era daquele tipo.

—Daria um guinéu por seus pensamentos— disse Dunford.

Elizabeth sacudiu a cabeça, sem estar muito segura de seguir rindo ou cavar um buraco... e saltardentro.

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—Meus pensamentos estão longe de valer algo. —Sacudiu a cabeça. Era a cabeça de James aque vira aparecer na sala azul?

Dunford seguiu seu olhar.

—Acontece algo?

Ela agitou uma mão impaciente.

—Um momento, por favor. Parece-me que vi...

—O que? —Seus olhos negros se voltaram agudos. —Ou a quem? Ela sacudiu a cabeça.

—Devo estar confusa. Acreditei ver o administrador. Ele a olhou sem expressão.

—E isso é tão estranho?

Elizabeth moveu lentamente a cabeça. De maneira nenhuma ia tentar explicar sua situação.

—Eu... ah... acredito que poderia ter deixado o livro no salão. É onde Lady Dambury e eu,geralmente, passamos o dia juntas.

—Me guie, então, minha senhora.

Ele a seguiu ao salão. Elizabeth dissimulou abrindo gavetas e outras coisas parecidas.

—Pode ser que algum servente o tenha confundido com as coisas de Lady Dambury— explicouela, —e o tenha guardado.

Dunford ficou a seu lado enquanto procurava, evidentemente muito cavalheiro para bisbilhotarnos pertences de Lady Dambury. Não importava muito se olhava, pensou Elizabeth ironicamente.Lady D guardava em lugar seguro suas posses verdadeiramente importantes fechadas longe, eevidentemente ele não ia encontrar o caderno, que estava escondido na biblioteca.

—Possivelmente está em outra sala—sugeriu Dunford.

—Poderia ser, embora...

Uma discreta chamada na porta aberta a interrompeu, e Elizabeth, que não tinha nem ideia decomo ia terminar a frase, deu rápida e silenciosamente as graças ao criado que estava de pé naentrada.

—É você o senhor Dunford? —perguntou o lacaio.

—Sou.

—Tenho uma nota para você.

—Uma nota? —Dunford estendeu a mão e pegou o envelope de cor creme. Enquanto seus olhosliam as palavras, seus lábios se foram franzido.

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—Espero que não sejam más notícias, — disse Elizabeth.

—Devo voltar para Londres.

—Imediatamente? —Elizabeth não foi capaz de ocultar a desilusão de sua voz. Ele não fazia seusangue ferver como James, mas Dunford era, sem dúvida, um bom candidato para o matrimônio.

—Temo que sim. —Sacudiu a cabeça. —vou matar ao Riverdale.

—A quem?

—Ao Marquês de Riverdale. Um bom amigo meu, mas pode ser tão impreciso. Olhe isto! —Agitou a nota no ar, sem lhe dar nenhuma oportunidade de vê-la. —Não posso saber se é umaverdadeira emergência ou se simplesmente quer me mostrar seu novo cavalo.

—Oh. —Não parecia ter muito mais que dizer.

—E eu gostaria de saber como me encontrou—continuou Dunford. —O homem desapareceu derepente a semana passada.

—Parece importante— murmurou Elizabeth.

—Ou vai ser— disse ele, —quando o estrangular.

Ela tomou ar para evitar rir, o qual, pressentiu, seria muito inadequado.

Ele levantou a cabeça, fixando seus olhos em seu rosto pela primeira vez em vários minutos.

—Confio que possa continuar sem mim.

—Oh, é obvio. —Ela sorriu ironicamente. —Estive fazendo durante mais de vinte anos. Seucomentário o pegou de surpresa.

—É você uma boa pessoa, senhorita Hotchkiss. Se me desculpar. E se foi. Uma boa pessoa,imitou-o Elizabeth.

—Uma boa pessoa. Uma condenada boa pessoa. —gemeu. —Uma aborrecida boa pessoa. Oshomens não queriam casar-se com uma boa pessoa. Eles queriam beleza e fogo e paixão.

Queriam, em palavras da infernal senhora Seeton, a uma mulher única. Bom, não muito única.

Elizabeth se perguntou se iria ao inferno por amaldiçoar à Senhora Seeton.

—Elizabeth.

Levantou a cabeça e viu James sorrindo-lhe amplamente da porta.

—O que faz? —perguntou-lhe.

—Refleti sobre o doce amanhã—resmungou ela.

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—Um nobre empenho, estou seguro.

Olhou-o bruscamente. Sua voz lhe soou muito amistosa. E por que era que seu sorriso lhe parouo coração, quando Dunford que, objetivamente falando, era a combinação mais explosiva de lábios edentes de toda a criação só despertava nela o desejo de lhe dar um fraternal tapinha no braço?

—Se não abrir logo a boca— disse James, com tom fastidiosamente suave —vais converter seusdentes em pó.

—Conheci seu senhor Dunford — disse ela.

—Não me diga? — murmurou ele.

—Achei-o bastante agradável.

—Sim, é um tipo muito agradável. Colocou os braços na cintura.

—Disse-me que era um libertino—acusou-o ela.

—E é. Um agradável libertino.

Algo não ia bem aqui. Elizabeth estava segura disso. James parecia muito indiferente ante o fatode que ela tivesse conhecido a Dunford. Não estava segura de que tipo de reação esperava, mas umacompleta falta de emoção não era, definitivamente, uma delas. Estreitando o olhar, perguntou-lhe.

—Não conhece o marquês de Riverdale, verdade? James teve um ataque de tosse.

—James? —precipitou-se a seu lado.

—Foi só um pouco de pó—ofegou ele.

Ela lhe deu um distraído golpe nas costas, e logo cruzou os braços, muito imersa em suaspróprias deliberações para lhe dedicar mais atenção.

—Acredito que este tipo, Riverdale, é parente de Lady Dambury.

—Não me diga.

Ela tamborilou com um dedo sobre a face.

—Estou segura de que ela o mencionou. Quero dizer que é seu primo, ou talvez ele é umsobrinho. Ela tem um monte de irmãos.

James obrigou a um canto de sua boca a elevar-se em um sorriso, mas duvidou que fosseconvincente.

—Poderia lhe perguntar sobre ele. Provavelmente deveria perguntar por ele. Precisava mudar deassunto, e rápido.

—Depois de tudo—continuou Elizabeth, —ela quererá saber por que Dunford partiu tão

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repentinamente.

James duvidava. Agatha foi quem o tinha açoitado e lhe exigira que mantivesse aquele libertinosem escrúpulos, assim o chamara, longe da Elizabeth.

—Possivelmente deveria ir procurá-la agora mesmo.

Sem perder um segundo, ele começou a tossir outra vez. A única outra maneira de lhe impedir deabandonar a sala era agarrá-la e seduzi-la sobre o chão, e suspeitava que ela não consideraria talcomportamento apropriado. Bom, possivelmente não era a única forma, mas certamente era a que oconsiderava mais atraente.

—James? —perguntou ela, a preocupação escurecia seus olhos de safira. —Está seguro de quete encontra bem?

Ele assentiu, deixando escapar umas quantas tosses mais.

—Pois não soa bem. —Posou uma cálida e suave mão sobre sua face.

James conteve o fôlego. Ela estava perto dele, muito perto, e pôde sentir que seu corpo seendurecia. Ela moveu a mão a sua fronte.

—Parece bastante esquisito— murmurou ela, —embora não esteja quente. Ele disse:

—Estou bem—mas soou mais como um ofego.

—Posso pedir chá.

Negou com a cabeça rapidamente.

—Não é necessário. Estou... —Tossiu. —Estarei bem. —Sorriu fracamente. —Vê?

—Está seguro? —Ela retirou a mão e o estudou. Com cada piscada, o olhar nublado e desfocadoia desaparecendo dos olhos dela, para ser substituído por um enérgico ar de competência.

Lástima. Um olhar nublado e desfocado era o melhor prelúdio para um beijo.

—Está seguro? —reiterou ela. James assentiu.

—Bem, nesse caso— disse ela, com uma voz que James encontrou notavelmente carente depreocupação, —vou para casa.

—Tão logo?

Encolheu um ombro em um gesto simpático.

—Não vou fazer nada mais por hoje. O senhor Dunford foi chamado de volta a Londres por essemisterioso marquês, e duvido que vá receber uma oferta do Adonis loiro que me confundiu com umacriada.

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—Adonis? —Deus bendito, essa era sua voz? Não sabia que podia soar tão mal-humorada.

—A cara de anjo— explicou ela. —As maneiras de um boi. Ele assentiu, sentindo-se muitomelhor.

—Fellport.

—Quem?

—O senhor Bertram Fellport.

—Ah. que bebe muito.

—Exatamente.

—Como é que conhece esta gente?

—Já lhe disse, estava acostumado a me mover nos círculos mais altos.

—Se for tão amigo desta gente, não quer lhes saudar?

Essa era uma boa pergunta, mas James tinha uma boa resposta.

—E lhes deixar ver o baixo que tenho caído? De maneira nenhuma.

Elizabeth suspirou. Sabia exatamente como se sentia. Ela suportara todas as falações do povo,que a assinalassem com o dedo e as risadas dissimuladas. Cada domingo levava a sua família àigreja, e cada domingo se sentava no banco rígida como uma tábua, tentando atuar como se gostassede vestir a seus irmãos com vestes antiquadas e calças perigosamente desgastadas nos joelhos.

—Temos muito em comum, você e eu— disse ela suavemente.

Algo cintilou nos olhos de James, algo parecido à dor, ou talvez à vergonha. Elizabethcompreendeu que devia partir, porque a única coisa que queria fazer era rodear com seus braços seusombros e consolá-lo como se uma mulher tão pequena como ela pudesse proteger de algum jeito aeste homem tão grande e forte das misérias do mundo.

Era absurdo, é obvio. Ele não a necessitava.

E não necessitava a ele. As emoções eram um luxo que não podia permitir-se neste momento desua vida.

—Vou, — disse rapidamente, horrorizada pela tangível rouquidão de sua voz.

Passou apressadamente por diante dele, estremecendo-se quando seu ombro roçou seu braço.Durante um segundo breve pensou que ele estenderia a mão e a deteria. Sentiu-o vacilar, sentiu-omover-se, mas ao final ele só disse:

—Verei-te na segunda-feira?

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Ela assentiu saindo rapidamente pela porta.

James contemplou durante vários minutos a entrada vazia. O aroma de Elizabeth ainda flutuavano ar, uma vaga mescla de morangos e sabão. Um aroma inocente, sem dúvida mas suficiente paraque seu corpo se endurecesse e lhe doesse de desejar senti-la entre seus braços.

Em seus braços, uma ova. A quem tentava enganar? Desejava-a em baixo dele, rodeando-o.

Desejava-a em cima dele, a seu lado. Simplesmente a desejava. Ponto. Que demônios ia fazercom ela?

Já arrumara que se expedisse um cheque para sua família anonimamente, é obvio. Se nãoElizabeth nunca o aceitaria. Isso deveria ser suficiente para deter todas essas tolices sobre casar-secom o primeiro homem disponível e endinheirado que a pedisse em matrimônio.

Mas isso não solucionava a confusão no que estava metido. Quando sua tia o procurou esta tardee lhe dissera que Elizabeth partiu com Dunford, havia sentido uma onda de ciúmes como jamaisimaginara. Lhe oprimira o coração, envenenara seu sangue, e o converteu em um ser irracional,incapaz de pensar em outra coisa que não fosse afastar Dunford de Surrey e fazê-lo retornar aLondres.

Londres, uma ova. Se tivesse encontrado um modo de enviar Dunford a Constantinopla o teriafeito. Tentava convencer-se de que ela era como qualquer outra mulher. Mas pensar nela nos braçosde outro homem o fazia sentir-se fisicamente doente, e não ia ser capaz de continuar com esta farsade lhe encontrar um marido muito mais tempo. Não, quando cada vez que a olhava quase o vencia odesejo de arrastá-la até o armário mais próximo e lhe fazer amor.

James gemeu com resignação. Era mais evidente a cada dia que ia ter que casar-se com a garota.Certamente esta era a única solução que brindaria um pouco de paz a sua mente e a seu corpo. Masantes de poder casar-se com ela, ia ter que lhe revelar sua verdadeira identidade, e não podia fazerisso até que ele tivesse deixado resolvido todo o assunto da chantagem de Agatha.

O devia a sua tia.

Seguro que podia colocar de lado suas próprias necessidades durante uma miserável quinzena.

E se não fosse capaz de solucionar este enigma em duas semanas - bom, então, não sabia quedemônios ia fazer. Sinceramente, duvidava de poder aguentar mais de duas semanas em seu atualestado de miséria. Com uma forte e pouco aduladora maldição, deu meia volta e saiu.

Necessitava ar fresco.

Elizabeth tentou não pensar em James enquanto escapulia por diante de sua pequena e acolhedoramoradia. É obvio, não teve êxito, mas ao menos não teve que preocupar-se de tropeçar com ele. Ele

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estava no salão, provavelmente, rindo do modo em que ela fugira.

Não, teve que admitir para si mesma, não estaria rindo dela. As coisas seriam mais fáceis se ofizesse. Então ela poderia odiá-lo.

Como se o dia não estivesse sendo o bastante ruim, Malcolm, pelo visto, decidira que torturar aElizabeth era mais divertido que escutar a Lady Dambury exortando às Corbishley, e o imenso gatotrotava nesse momento junto a ela, bufando com regularidade.

—É isto realmente necessário? —exigiu Elizabeth. —seguir só para me bufar? A resposta doMalcolm foi outro bufo.

—Besta. Ninguém acredita que me bufa. Só o faz quando estamos sozinhos.

O gato sorriu com satisfação. Elizabeth teria jurado.

Ainda discutia com o maldito gato quando passou junto aos estábulos. Malcolm grunhia e bufavacom total despreocupação, e Elizabeth o assinalava com o dedo e lhe exigia que se calasse, que foi,provavelmente, pelo que não ouviu os passos que se aproximavam.

—Senhorita Hotchkiss.

Levantou a cabeça bruscamente. Sir Bertram Fellport, o Adonis loiro, com cara de anjo, estavaparado justo diante dela. Muito perto, em sua opinião.

—Oh, bom dia, sir. —Deu um discreto e, esperou, inocente passo atrás.

Ele sorriu, e Elizabeth quase esperou ver aparecer sobre sua cabeça um coro de querubins,cantando como os anjos.

—Sou Fellport— disse ele.

Ela fez uma inclinação de cabeça saudando-o. Já sabia, mas não encontrou nenhuma razão parafazer saber.

—Encantada de conhecê-lo.

—Encontrou seu livro?

Deve ter escutado sua conversa com Lady Dambury.

—Não— respondeu ela, —não o encontrei. Mas estou segura de que logo aparecerá. Estascoisas sempre acontecem assim.

—Sim— murmurou ele, com seus olhos celestes estudando-a com incomoda intensidade. —Leva muito tempo trabalhando para Lady Dambury?

Elizabeth retrocedeu lentamente outro passo.

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—Cinco anos.

Ele estendeu a mão e acariciou sua face.

—Deve ser uma existência solitária.

—Absolutamente— disse ela, muito rígida. —Se me desculpar.

Sua mão saiu disparada e se fechou sobre seu pulso com dolorosa intensidade.

—Não a desculpo.

—Sir Bertram— disse ela, de algum jeito, conseguindo manter a voz firme apesar do forte quelhe pulsava o coração, —posso lhe recordar que é você um convidado em casa de Lady Dambury?

Ele deu um puxão a seu pulso, obrigando-a a aproximar-se.

—E posso lhe recordar eu que é uma empregada de Lady Dambury, e, portanto, está obrigada apreocupar-se pela comodidade de seus convidados?

Elizabeth olhou diretamente aqueles olhos incrivelmente azuis e viu algo muito feio e frio. Seuestômago se retorceu, e compreendeu que devia escapar já. A puxava para os estábulos, e uma vezque a tivesse fora da vista, não haveria escapatória possível.

Soltou um grito, mas foi abafado pelo cruel estreitamento de sua mão sobre sua boca.

—Vais fazer o que te diga—chiou ele em seu ouvido, —e depois, dirá, "Obrigado".

Elizabeth viu como seus piores temores se faziam realidade quando sentiu que a arrastava paradentro dos estábulos.

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Capítulo 15

James passeava com as mãos nos bolsos em direção aos estábulos. Estava desfrutando em umraro ataque de abatimento; não estava acostumado a ter que renunciar a algo que realmente desejava,e ter que postergar sua perseguição da Elizabeth o tinha posto de muito mau humor. O ar fresco nãoconseguiu nada, assim decidiu levar a ideia ao seguinte nível e ir cavalgar. Uma vertiginosa einfernal cavalgada, das que o vento o açoita e converte o cabelo em um matagal de nós.

Como administrador da Agatha tinha livre acesso aos estábulos, e se era irregular que umadministrador galopasse como um selvagem, bom, James tencionava ir muito rápido para que alguémpudesse reconhecê-lo.

Mas quando chegou aos estábulos, Malcolm estava erguido sobre suas patas traseiras,arranhando como um louco a porta e miando como um louco.

—Deus santo, gato. O que te possuiu?

Malcolm uivou, retrocedeu uns passos, e investiu na porta com a cabeça.

Foi então quando James notou que as portas dos estábulos estavam fechadas, o que era estranho aestas horas do dia. Inclusive ainda quando os cavalos dos convidados tivessem sido terminados deescovar, e os moços de tivessem partido provavelmente ao botequim a tomar um pouco de cerveja, aspessoas acreditariam que as portas deveriam estar abertas. Era um dia caloroso, depois de tudo, e oscavalos necessitariam de qualquer brisa que lhes chegasse.

James empurrou as portas as abrindo, estremecendo-se ante o ruidoso rangido de uma dobradiçaenferrujada. Supôs que era uma de suas obrigações ocupar-se de coisas assim. Ou ao menosencarregar-se de que alguém o fizesse. Deu-se uns tapinhas contra a coxa com a mão enluvada, eentão se dirigiu ao armário de ferramentas para procurar algo com o que engordurar a dobradiça.Não lhe levaria muito tempo fazê-lo, e além disso, pensou, um pouco de trabalho sujo e manual lheviria bem nestes momentos.

Não obstante, quando estava chegando à porta do armário ouviu um som estranho.

Algo parecido a um rangido, em realidade, mas que não soou como originado por um cavalo.

—Há alguém aqui? —gritou James.

Soaram mais ruídos, e esta vez pareciam mais rápidos e frenéticos, acompanhados por umestranho grunhido tingido de pânico.

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O sangue de James congelou.

Havia dúzias de baias. O ruído podia proceder de qualquer delas. Mas de alguma forma elesoube de qual. Seus pés o levaram a mais afastada, e com um grito selvagem que lhe saiu diretamenteda alma, arrancou a porta das dobradiças.

Elizabeth soube que aspecto tinha o inferno. Olhos azuis, cabelo loiro, e um sorriso malvado ecruel. Lutou contra Fellport com todas suas forças, mas com pouco mais de quarenta e cinco quilos,poderia ter sido também uma pluma para o pouco esforço que lhe custou arrastá-la através doestábulo.

Esmagou sua boca contra a dela, e Elizabeth lutou para manter seus lábios fechados. Ele podialhe roubar a dignidade e o controle, mas manteria ao menos uma parte dela a salvo dele. Ele separoua cabeça e a apertou contra um poste, lhe cravando os dedos sobre a parte superior dos braços.

—Acabo de beijá-la—senhorita Hotchkiss, disse ele, com voz enjoativa. —Me agradeça. Ela oolhou rebeldemente.

Ele a puxou e logo voltou a empurrar contra o poste, sorrindo amplamente quando sua cabeça segolpeou contra a dura e áspera madeira.

—Acredito que queria me dizer algo—ronronou ele.

—Vá-se ao diabo—cuspiu-lhe ela. Sabia que não deveria provocá-lo; fazendo-o, só conseguiriaque arremetesse contra ela, mas, maldito fosse, não lhe permitiria que controlasse suas palavras.

Ele a fulminou com o olhar, e durante um bendito momento, Elizabeth pensou que não a castigariapor seu insulto. Mas então, com um furioso grunhido, separou-a do poste e a lançou dentro de umabaia vazia. Aterrissou de costas sobre o feno e tentou ficar em pé, mas Fellport era muito rápido, emuito grande, e caiu sobre ela com tal força que a deixou sem fôlego.

—Me deixe em paz, você...

Sua mão lhe tampou com força a boca, e lhe torceu dolorosamente a cabeça a um lado. Sentiu ofeno rangente cravando-se em sua face, mas não sentiu nenhuma dor. Não sentiu... nada.

Começava a distanciar-se de seu corpo; de algum jeito sua mente soube que o único modo depassar por este horror era separar-se, olhá-lo de cima, fingir que aquele corpo de que estavaabusando Fellport, não era o seu próprio.

E então, justo quando a separação estava quase completada, ouviu um ruído.

Fellport o ouviu também. Sua mão apertou ainda mais sua boca e ficou completamente quieto.

Era o chiado da porta dos estábulos. O chefe do estábulo teve a intenção de arrumá-lo ontem,

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mas o enviaram a dar um tolo recado, e todos os outros estiveram ocupados hoje com tantosconvidados. Mas o rangido significava que chegara alguém.

E se alguém chegara, então Elizabeth tinha uma oportunidade.

—Há alguém aqui? A voz de James.

Elizabeth começou a revolver-se como nunca antes. Encontrou forças que jamais sonharapossuir, grunhindo e chiando sob a mão do Fellport.

O que ocorreu a seguir foi impreciso. Houve um furioso grito que não pareceu humano e então aporta da baia se abriu de repente. Fellport desapareceu de cima dela, e Elizabeth engatinhou para umcanto.

James era um homem possuído. Golpeou a Fellport com punhos brutais, e seus olhos tinham umolhar selvagem e enlouquecido enquanto segurava sua cara contra o feno.

—Você gosta de feno? —chiou James. —Você gosta de ter a cara esmagada contra o chão?Elizabeth contemplou aos dois homens com horrorizada fascinação.

—Faz-te sentir poderoso dominar e abusar de alguém da metade de seu tamanho? É isso? Fazercom alguém o que lhe da vontade, só porque é maior e mais forte? —James empurrou a cabeça deFellport mais baixo, esmagando sua cara contra o feno e a sujeira. —Ah, mas eu sou maior e maisforte que você. Como se sente, Fellport? Como se sente estando sob minha mercê? Poderia te partirem dois.

Houve um áspero silêncio, só interrompido pela abafada e desigual respiração do James. Olhavaintensamente ao Fellport, mas seus olhos pareciam estranhamente distantes quando sussurrou.

—Estive esperando este momento. Estive esperando durante anos para fazer lhe pagar isso.

—A mim? —gritou Fellport.

—A ti—resmungou James. —Até a última polegada de ti. Não pude salvar... —Engasgou-se comsuas palavras, e ninguém respirou enquanto lhe contraíam os músculos do rosto.—Posso salvar aElizabeth — sussurrou. —Não te deixarei roubar sua dignidade.

—James? — sussurrou Elizabeth. Deus santo, ia matá-lo. E Elizabeth, Deus tivesse piedade desua alma, quis olhar. Quis que James partisse o homem em dois.

Mas não queria que enforcassem James, o qual seria, sem dúvida, o resultado. Fellport era umbaronete. Um simples administrador não podia matar a um baronete e sair ileso.

—James— disse ela, em voz mais alta, —deve te deter.

James fez uma pausa, apenas o tempo suficiente para que Fellport pudesse lhe jogar uma boa

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olhada em seu rosto.

—Você! —grunhiu Fellport.

O corpo do James tremia, mas manteve a voz firme e controlada quando disse.

—Pede perdão à senhora.

—A essa vadia?

A cabeça do Fellport golpeou contra o chão.

—Pede perdão à senhora.

Fellport não disse nada. Então, com um movimento tão veloz que Elizabeth não podia acreditarno que seus olhos viam, James tirou uma arma. Elizabeth conteve a respiração, e tampou a boca commãos tremente. Soou um forte estalo, e James pressionou a boca do cano contra a cabeça de Fellport.

—Pede perdão à senhora.

—Eu... eu... —Fellport começou a tremer incontrolavelmente, e não lhe saíam as palavras.

James moveu lentamente a pistola, quase amorosamente, contra a têmpora de Fellport.

—Pede perdão à senhora.

—James— disse Elizabeth, com evidente terror em sua voz, —deve parar. Está bem. Nãonecessito...

—Não está bem!—rugiu ele. —Nunca estará bem! E este homem te pedirá perdão ou eu...

—Sinto muito! —As palavras brotaram da boca de Fellport, agudas e aterradas.

James o agarrou pela gola da camisa e o levantou do chão. Fellport ofegou ao sentir que o tecidolhe cravava na pele.

—Irá embora da festa— disse James com voz mortal. Fellport emitiu um som abafado. James sevoltou para Elizabeth, sem afrouxar seu aperto sobre Fellport. —Em seguida volto.

Ela assentiu timidamente, com as mãos apertadas em uma tentativa de conter seus tremores.

James arrastou Fellport para o exterior, deixando Elizabeth a sós no estábulo. A sós com milperguntas. Por que levava James uma arma? E onde aprendera a lutar com semelhante e letalprecisão? Os murros de James não se pareciam com os de um combate amistoso; foram desenhadospara matar. E havia perguntas mais horrendas, aquelas que impediam que seu coração deixasse depulsar e que seu corpo deixasse de tremer.

E se James não tivesse descoberto a tempo? E se Fellport tivesse reagido brutalmente? E se...

A vida não podia ser vivida apoiando-se em e se? e Elizabeth sabia que apenas prolongava sua

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agonia ao pensar no que poderia ter acontecido em vez de no que aconteceu, mas não podia deixar derepassar em sua mente o ataque uma e outra vez. E sempre que chegava ao momento em que James asalvava, ele não aparecia, e Fellport a maltratava ainda mais, lhe arrancando a roupa, lhemachucando a pele, tomando...

—Basta— disse em voz alta, pressionando-as têmporas com os dedos enquanto se deixava cairao chão. Seus tremores se converteram em espasmos, e os soluços que não permitira evidenciarcomeçaram a brotar de sua garganta. Respirou profundamente, a grandes baforadas, tentandocontrolar seu corpo traiçoeiro, mas não era o bastante forte para conter as lágrimas.

Deixou cair a cabeça entre suas mãos, e começou a chorar. E então, ocorreu o mais estranho.Malcolm avançou lentamente até seu colo e começou a lamber suas lágrimas. E por alguma razão istoa fez chorar mais.

O bate-papo de James com sir Bertram Fellport foi breve. Não necessitou muitas palavras paraexplicar o que ocorreria ao baronete se alguma vez voltasse a pôr um pé na propriedade de LadyDambury. E enquanto Fellport tremia de medo e ressentimento, James ampliou sua ameaçadetalhando o que lhe aconteceria se alguma vez se encontrava a mais de vinte jardas de Elizabeth,sem importar onde estivesse.

Depois de tudo, se James conseguisse levar a cabo seu projeto de fazê-la sua esposa, sem lugar adúvidas seus caminhos se cruzariam em Londres.

—Entendemo-nos? —perguntou James, com voz espantosamente calma. Fellport assentiu.

—Então largue-se da propriedade.

—Preciso recolher minhas coisas.

—As enviarei— disse James, com a mandíbula apertada. —Trouxe carruagem? Fellport negoucom a cabeça.

—Vim com o Binsby.

—Bom. O povoado está apenas a uma milha de distância. Ali pode contratar a alguém que lheleve a Londres.

Fellport assentiu.

—E se disser uma palavra disto a alguém— disse James com voz letal, —se tão só mencionarminha presença aqui, matarei-lhe.

Fellport assentiu de novo, com aspecto de não desejar nada tanto como acatar as ordens deJames e partir, mas James ainda o tinha agarrado pelo pescoço.

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—Uma coisa mais— disse James. —Se me mencionar, como já lhe disse, matarei-o, mas semencionar à senhorita Hotchkiss...

Ao Fellport lhe descontrolou a bexiga.

—Farei-o devagar.

James soltou a gola de Fellport, e o baronete tropeçou uns passos antes de escapar. Jamesobservou como desaparecia pela suave ondulação da colina, e logo retornou a passos longos aosestábulos.

Não gostou de sair deixando Elizabeth a sós depois de uma experiência tão traumática, mas nãoteve outra opção. Precisava encarregar-se de Fellport, e não acreditou que Elizabeth queria estar nomesmo lugar que o descarado mais tempo que o estritamente necessário. Por não mencionar queFellport poderia ter revelado a verdadeira identidade de James a qualquer momento.

No instante em que James entrou nos estábulos, ouviu seu pranto.

—Maldito seja — sussurrou, dando um meio tropeço enquanto corria para ela. Não sabia comoconsolá-la, não tinha a mínima ideia do que fazer. A única coisa que sabia era que ela o necessitava,e rezou a Deus para não lhe falhar.

Chegou até a última baia, a porta ainda pendurava oscilante de suas dobradiças. Elizabeth estavaaconchegada contra a parede, seus braços rodeando suas pernas e sua fronte descansando sobre seusjoelhos.

O gato penetrou no vão entre as coxas de Elizabeth e seu torso, e, para assombro do James,parecia tentar consolá-la.

—Lizzie? —James sussurrou. —Oh, Lizzie.

Ela se balançava ligeiramente de um lado a outro, e ele podia ver como subiam e baixavam seusombros com cada tremente respiração. Ele conhecia esse tipo de respiração. Era a que alguémpraticava quando tentava conter com todas suas forças seus sentimentos, mas simplesmente não era obastante forte.

Aproximou-se rapidamente a seu lado, sentando-se junto a ela no feno. Passando seu braço aoredor de seus estreitos ombros, sussurrou.

—Foi-se.

Ela não disse nada, mas ele sentiu como seus músculos se esticavam.

James a olhou. Sua roupa estava suja, mas não rasgada, e embora estava bastante seguro de queFellport não conseguira violá-la, rezou para que seu ataque não tivesse ido além de um beijo brutal.

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Beijo! Quase cuspiu a palavra. Independentemente do que Fellport lhe tivesse feito, por mais que eletivesse forçado sua boca contra a dela, isso não teria sido um beijo.

Os olhos de James vagaram por cima de sua cabeça. Seu pálido cabelo dourado estavaemaranhado com palha, e mesmo que não pudesse ver seu rosto, a via desamparada. Sua mão seapertou em um punho. Voltava a senti-lo, o familiar sentimento de impotência. Podia sentir seu terror.Atravessou-o, enroscou-se em seu ventre.

—Por favor, — sussurrou. —Me diga o que posso fazer.

Ela não emitiu nenhum som, mas se aconchegou mais perto dele. James intensificou seu abraço.

—Não te incomodará outra vez, — disse ferozmente. —Prometo-lhe isso.

—Tento ser forte—ofegou ela. —A cada dia, tento tanto...

James girou e a agarrou pelos ombros, obrigando-a a levantar seus olhos chorosos até os seus.

—É forte— disse ele—É a mulher mais forte que conheço.

—Tento— disse ela outra vez, como tentando tranquilizar-se. —A cada dia. Mas não fui obastante forte. Não fui...

—Não diga isso. Não foi tua culpa. Os homens como Fellport... —James calou-se para respirarprofundamente. —Eles machucam às mulheres. É a única maneira em que sabem sentir-se fortes.

Ela não disse nada, e ele podia ver como lutava para conter os soluços que lhe acumulavam nagarganta.

—Isto, esta violência... é devido a um defeito na pessoa dele, não na tua. —Moveu a cabeça efechou os olhos descarnado um segundo. —Você não lhe pediu que te fizesse isto.

—Sei. —Moveu a cabeça, e seus trêmulos lábios esboçaram o sorriso mais triste que ele vira.—Mas não pude pará-lo.

—Elizabeth, ele é duas vezes seu tamanho!

Ela soltou um comprido suspiro e se separou dele, recostando-se contra a parede.

—Estou cansada de ser forte. Estou tão cansada. Desde o dia em que morreu meu pai...

James a olhou, examinando seus olhos enquanto se voltavam inexpressivos, e uma estranhapremonição o assaltou, lhe espremendo o coração.

—Elizabeth—perguntou cuidadosamente, —como morreram seus pais?

—Minha mãe morreu ao tombar sua carruagem— respondeu ela, com voz vazia. —Todos ovimos. A carruagem ficou destroçada. Eles cobriram seu corpo, mas todos vimos como morreu.

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Ele esperou que dissesse algo sobre seu pai, mas não o fez. Finalmente, ele sussurrou.

—E seu pai?

—Se suicidou.

James abriu a boca surpreso, e o invadiu uma feroz e incontrolável ira. Não tinha nem ideia doque acontecido para que o pai de Elizabeth se sentisse tão desesperado, mas sir Hotchkiss tomara asaída mas covarde, deixando a sua filha mais velha a cargo de sua família.

—O que aconteceu? —perguntou ele, tentando ocultar a ira de sua voz. Elizabeth elevou o olhar,um som amargo e fatalista escapou de seus lábios.

—Foi seis meses depois do acidente de mamãe. Ele sempre... —Engasgou-se com as palavras. -—Sempre a amou muito.

James começou a dizer algo, mas as palavras começaram a brotar dos lábios de Elizabeth comouma corrente. Foi como se ele tivesse aberto uma represa, e agora ela não podia conter o caudal deemoções.

—Ele simplesmente não pôde seguir adiante— disse ela, seus olhos começaram a brilharfuriosos. —Cada dia se afundava mais e mais em algum lugar secreto de seu interior que nenhum denós podia alcançar. E o tentamos! Juro-te por Deus que tentamos.

—Sei que você o fez— murmurou ele, apertando seu ombro. —Conheço-te. Sei que tentou.

—Inclusive Jane e Lucas. Subiam a seu colo, como antes, mas ele os afastava. Não nos abraçava.Não nos tocava. E no final, nem sequer nos falava. —Respirou profundamente, um par de vezes, masisso não conseguiu acalmá-la. —Eu sempre soube que ele não nos amava tanto como a ela, mas agente acreditaria que ao menos nos amava o bastante.

Suas mãos se converteram em um punho, e James olhou impotente como o pressionava com forçacontra sua boca. Ele estendeu a mão e roçou seus dedos, sentindo-se estranhamente aliviado quandose fecharam ao redor de sua mão.

—A gente acreditava, — disse ela, sua voz era o sussurro mais diminuto e de causar pena domundo, —que nos amava o bastante para seguir vivendo.

—Não precisa me contar nada mais — sussurrou James, sabendo que sempre se sentiriaatormentado por este momento. —Não faz falta.

—Não. —Ela sacudiu a cabeça. —Quero fazê-lo. Nunca disse em voz alta. Ele esperou enquantoela reunia coragem.

—Matou-se com um tiro— disse, as palavras mal foram audíveis. —Encontrei-o no jardim.

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Havia tanto sangue. —Tragou convulsivamente. —Nunca vi tanto sangue. —James se mantevesilencioso, desejando poder dizer algo para consolá-la, mas sabendo que não havia palavras quepudessem ajudá-la. Ela riu amargamente. —Tentei me dizer que isso era seu último ato de carinho,disparar-se fora de casa. Fiz uma infinidade de viagens ao poço, mas ao menos o sangue se fundiu naterra. Se tivesse disparado dentro da casa, sabe Deus como o teria podido limpar.

—O que fez? —perguntou suavemente James.

—Fiz parecer um acidente de caça — sussurrou ela. —Arrastei seu corpo até os bosques. Todomundo sabia que era caçador. Ninguém suspeitou de nada, ou se o fizeram, nunca disseram nada.

—Você o arrastou? —perguntou com incredulidade. —Seu pai era um homem pequeno?

Quero dizer, é bastante miúda, e...

—Era mais ou menos de sua altura, embora um pouco mais magro. Não sei de onde tirei asforças— disse ela, sacudindo a cabeça. —Suponho que do puro medo. Não quis que as criançassoubessem o que fizera. —Levantou os olhos, com expressão repentinamente insegura. —Elesseguem sem sabê-lo. —Ele deu um suave aperto em sua mão.—Tentei não falar mal dele.

—E levaste essa carga sobre seus ombros durante cinco anos— disse ele suavemente. —Ossegredos se fazem pesados, Elizabeth. São duros de conduzir a sós.

Deu de ombros cansadamente.

—Talvez me equivoquei. Mas estava aterrada. Não sabia que mais fazer.

—Parece que fez exatamente o que devia.

—Foi sepultado na terra consagrada— disse ela, com voz átona. —Para a igreja... para todomundo menos para mim... não foi um suicídio. Todos nos deram os pêsames, qualificando detragédia, e foi a única coisa que pude fazer para não gritar a verdade. —Ela virou a cabeça paraolhar para frente. Seus olhos estavam úmidos e brilhantes, da mesma cor das violetas. —Odiei que ofizessem parecer um herói. Eu fui a que ocultou seu suicídio, e ainda assim, queria gritar aos quatroventos que era um covarde, que me abandonou para recolher seus pedaços. Quis sacudi-los e sacudi-los e sacudi-los e fazê-los deixar de dizer o bom pai que era. Porque não era. —Sua voz se tornourouca e feroz. —Não era um bom pai. Nós fomos um aporrinho. Ele só queria a mamãe. Nunca nosquis.

—Sinto muito — sussurrou James, tomando sua mão.

—Não é tua culpa.

E lhe sorriu, tentando surrupiar um sorriso em troca.

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—Sei, mas ainda assim o sinto.

Seus lábios tremeram quase em um sorriso.

—Não é irônico? A gente pensaria que o amor é algo bom, verdade?

—O amor é algo bom, Elizabeth. —E o sentia de verdade. Tão verdadeiramente como jamaissonhou ser capaz de senti-lo.

Ela negou com a cabeça.

—Meus pais se amaram muito um ao outro. Simplesmente não ficou suficiente para o resto denós. E quando mamãe morreu, bem, simplesmente não pudemos ocupar seu lugar.

—Não é tua culpa, — disse James e seus olhos procuraram os dela com uma intensidade quasehipnotizante. —Não há limite para amar. Se o coração de seu pai não era o bastante grande para darcapacidade a toda sua família, isso significa que era ele quem tinha um defeito, não você. Se tivessesido outro tipo de homem, teria compreendido que seus filhos eram uma milagrosa extensão de seuamor por sua mãe. E teria forças para continuar sem ela.

Elizabeth digeriu suas palavras, as deixando afundar-se devagar em seu coração. Sabia que eletinha razão, sabia que a debilidade de seu pai era só dele, não dela. Mas era tão condenadamenteduro aceitá-lo.

Olhou ao James, que a contemplava com os olhos mais quentes e amáveis que ela jamais viu.

—Seus pais devem ter se amado muito— disse suavemente. James recuou surpreso.

—Meus pais... — disse devagar. —A sua não foi uma união por amor.

—Oh— disse ela, suavemente. —Mas talvez isto fosse o melhor, depois de tudo, meus pais...

—O que seu pai fez—interrompeu-a James, —foi um equívoco e era débil e covarde. O que meupai fez...

Elizabeth viu a dor em seus olhos e lhe apertou a mão.

—O que meu pai fez — sussurrou ele grosseiramente, —lhe deu um lugar no inferno. Elizabethsentiu que lhe secava a boca.

—O que quer dizer?

Houve um comprido silêncio, e quando James finalmente falou, sua voz soava muito estranha.

—Tinha seis anos quando minha mãe morreu. Ela se manteve em silêncio.

—Disseram-me que caiu pelas escadas. Quebrou o pescoço. Uma tragédia, diziam todos.

—Oh, não. —As palavras escaparam dos lábios da Elizabeth. James girou a cabeça

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repentinamente para olhá-la no rosto.

—Ela sempre me dizia que era desajeitada, mas eu a vira dançar. Estava acostumada acantarolar enquanto dançava sozinha a valsa pela sala de música. Era a mulher mais formosa e cheiade graça que jamais vi. Às vezes me agarrava em seus braços e dançava a valsa comigo descansandosobre seu quadril.

Elizabeth tentou consolá-lo com um sorriso.

—Eu estava acostumada a fazer isso com o Lucas. James sacudiu a cabeça.

—Ela não era desajeitada. Nunca tropeçou em um móvel ou derrubou uma vela. Ele a maltratava,Elizabeth. Maltratou-a cada maldito dia.

Ela tragou, mordendo o lábio inferior. De repente sua incontrolável raiva com o Fellportadquiria sentido. Duas décadas de cólera contida. Esteve cozendo-se lentamente muito tempo.

—Ele... machucou a ti? — sussurrou ela. Ele negou levemente com a cabeça.

—Nunca. Eu era seu herdeiro. Estava acostumado a recordar-lhe todo o tempo. Ela já não valianada agora que já me teve. Ela era sua esposa, mas eu era seu sangue.

Um tremor percorreu a coluna de Elizabeth, soube que utilizava as mesmas palavras que escutoumuitas vezes.

—E me usava—seguiu James. Seus olhos se tornaram inexpressivos, e suas grandes e fortesmãos tremiam. —Usava-me para expressar sua raiva contra ela. Nunca estava de acordo com suaforma de me educar. Se a via me abraçar ou me consolar quando chorava, tornava-se uma fúria. Elame mimava e ele gritava. Dizia-lhe que me ia converter em um homem débil.

—Oh, James. —Elizabeth estendeu a mão e lhe acariciou o cabelo. Não podia conter-se. Nuncaconheceu a ninguém tão necessitado de consolo humano.

—Então, aprendi a não chorar. —Moveu a cabeça com desespero. —E depois a prescindir deseus abraços. Se não podia pegá-la me abraçando, talvez deixaria de golpeá-la.

—Mas não se deteve, verdade?

—Não. Sempre encontrava outra razão pela qual devia ser castigada. E finalmente... —Seufôlego escapou em uma crua e instável exalação. —Finalmente decidiu que seu lugar estava aos pésda escada.

Elizabeth sentiu algo quente sobre suas faces, e só então descobriu que estava chorando.

—O que aconteceu contigo?

—Isso— respondeu James, com tom que pareceu ganhar força, —é possivelmente a única coisa

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boa de toda a história. Minha tia, a irmã de minha mãe veio e me levou com ela. Acredito que sempresuspeitou que minha mãe era maltratada, mas nunca sonhou que chegasse a tal extremo. Muito maistarde, disse-me que a condenariam antes de deixar a meu pai começar a fazer o mesmo comigo.

—Acredita que ele o faria?

—Não sei. Eu era ainda valioso para ele. Seu único herdeiro. Mas necessitava a alguém de quemabusar, e minha mãe morta... —Deu de ombros.

—Sua tia deve ser uma mulher muito especial.

Ele a contemplou, querendo sobre todas as coisas lhe contar a verdade, mas não podia. Aindanão.

—É— disse, com voz rouca de emoção—Ela me salvou. Tão certo como se me tivesse tirado deuma moradia em chamas, salvou-me.

Elizabeth lhe roçou a face.

—Ela te ensinou a ser feliz.

—Tentava me abraçar— disse ele. —O primeiro ano, tentou me demonstrar seu amor, e euseguia fugindo. Pensava que meu tio a golpearia se me abraçasse. —passou a mão pelo cabelo e umarisada breve e zangada escapou de seus lábios.—Pode acreditá-lo?

—O que outra coisa ias pensar? —perguntou Elizabeth com tranquilidade. —Seu pai era o únicoexemplo que conhecia.

—Ela me ensinou a amar. —Com um breve e entrecortado suspiro acrescentou. —Ainda nãoestou preparado para perdoar, mas sei amar.

—Seu pai não merece o perdão— disse ela. —Sempre tentei seguir os mandamentos de Deus, esei que devemos dar a outra face, mas seu pai não o merece.

James calou um momento, e logo se voltou e disse.

—Morreu quando tinha vinte anos. Não assisti ao enterro.

Este era o insulto mais grave que um pai podia receber de um filho. Elizabeth assentiu comsevera aprovação.

—Viu-o enquanto crescia?

—Em ocasiões devia vê-lo. Era inevitável. Eu era seu filho. Legalmente, minha tia não tinhapoder algum. Mas era forte, e o intimidava. Ele nunca conheceu a uma mulher que lhe fizesse frente.Não tinha nem ideia de como tratá-la.

Elizabeth se inclinou para diante e lhe deu um suave beijo na fronte.

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—Incluirei a sua tia em minhas orações esta noite. —Sua mão vagou por sua face, e ficouolhando com melancólico pesar, desejando que houvesse algum modo de poder retroceder o tempo,algum modo de abraçar a aquele pequeno moço e lhe mostrar que o mundo poderia ser um lugarseguro e de amor.

Ele afundou seu rosto em sua mão. Seus lábios se apertaram contra sua palma, procurando ocalor de sua pele e honrando a calidez de seu coração.

—Obrigado — sussurrou.

—Por quê?

—Por estar aqui. Por escutar. Por ser você.

—Então, obrigada — sussurrou ela em correspondência. —Pelo mesmo.

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Capítulo 16

Enquanto James acompanhava Elizabeth a casa, sentiu como sua vida adquiria um rumo. Desdeque se vira forçado a abandonar seu trabalho para o Ministério de Defesa, esteve flutuando à deriva.

Sentia-se inquieto, sabendo que precisava continuar com sua vida, mas descontente com asopções que lhe apresentavam. Era consciente que devia casar-se, mas sua resposta ante as mulheresque conheceu em Londres foi quase unanimemente morna. Também devia empreender umaparticipação mais ativa em suas terras e seus investimentos, mas lhe era difícil chamar a RiverdaleCastle seu lar quando via a sombra de seu pai em cada canto.

Mas no transcurso de uma semana, sua vida dera um tombo. Pela primeira vez em mais de umano, queria algo.

Queria a alguém.

Queria Elizabeth.

Se sentira atraído por ela antes desta tarde, atraído e obcecado até o ponto que decidira que secasaria com ela. Mas algo muito estranho e mágico ocorreu no interior dos estábulos quando tentouconsolar a Elizabeth.

Encontrou-se lhe contando coisas que guardara em segredo durante anos. E enquanto lhe saíam aspalavras, sentira que um vazio dentro dele se enchia. E soube que não era que se sentisse enfeitiçadopor Elizabeth.

Não era que o atraísse, e o obcecasse. Necessitava-a.

E sabia que ele não encontraria a paz até que não a fizesse dele, até que não conhecesse cadapolegada de seu corpo e cada curva de sua alma. Se isto era amor, rendia-se a isso de bom grado.

Mas não podia abandonar suas responsabilidades, e não romperia a promessa feita a sua tia.Solucionaria o mistério desse maldito chantagista, depois de tudo o que Agatha fez por ele quandoera um menino, ele resolveria este mistério para ela.

Elizabeth amava a Agatha. Ela o entenderia.

Mas isso não significava que fosse ficar ocioso. Dissera a Agatha que o melhor modo deencontrar ao chantagista era esperar receber outra nota, e era certo, mas estava cansado de esperar.Contemplou o rosto de Elizabeth, olhou aqueles olhos imensamente azuis e sua pele impecável, etomou uma decisão.

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—Preciso ir a Londres amanhã— disse repentinamente. Ela o olhou imediatamente.

—A Londres? —repetiu. —Por quê?

—Alguns desagradáveis assuntos de família— respondeu ele, odiando-se por não poder lhedizer toda a verdade, mas reconfortando-se pelo fato de que suas palavras não eram uma completamentira.

—Entendo— disse ela, suavemente.

É obvio que não entendia, pensou ele zangado. Como poderia fazê-lo? Mas não podia dizer-lhe.Era improvável que o chantagista da Agatha se tornasse violento, mas James não podia descartartotalmente aquela possibilidade. O único modo de proteger totalmente a Elizabeth era mantê-la naignorância.

—Retornarei logo, — disse ele. —Espero que em uma semana.

—Não planeja perseguir o Fellport, verdade? —perguntou ela, franzindo o cenho compreocupação. —Porque se for...

Ele pressionou suavemente o dedo indicador contra seus tenros lábios.

—Não estou planejando perseguir o Fellport. Sua expressão permaneceu duvidosa.

—Se o voltar a atacar, lhe enforcarão—insistiu ela. —Certamente sabe? James a fez calar comum beijo que foi breve mas cheio de promessas.

—Não se preocupe por mim, — murmurou ele contra os cantos de sua boca. Retrocedeu,tomando as mãos entre as suas.

—Há coisas que preciso fazer, assuntos dos que devo me ocupar antes de...

Suas palavras se detiveram, e viu em seus olhos uma silenciosa pergunta.

—Estaremos juntos—jurou ele. —Prometo-lhe isso. Ao final, teve que beijá-la uma vez mais.

—Espera-nos um maravilhoso futuro — sussurrou as suaves e doces palavras contra seus lábios.—Maravilhoso, em efeito.

Elizabeth entesourava aquelas palavras perto de seu coração dez dias depois, mesmo que nãoteve notícias de James. Não estava segura de por que era tão otimista com respeito ao futuro; elacontinuava sendo dama de companhia e James um simples administrador, e nenhum deles possuía umcentavo, mas de algum jeito confiava na capacidade de ambos de fazer que o futuro, como eledissera, fosse maravilhoso.

Talvez, ele esperava receber uma herança de um parente longínquo. Talvez, conhecesse algumdos mestres de Eton e pudesse arrumar que Lucas assistisse a um custo reduzido. Talvez...

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Talvez, talvez, talvez. A vida estava cheia de incertos talvez, mas de repente, talvez soava muitoprometedor. Depois de tantos anos carregando responsabilidades, sentia-se quase enjoada aoabandonar seu constante sentimento de preocupação. Se James dizia que podia solucionar seusproblemas, ela acreditava. Talvez fosse tola, acreditando que um homem podia irromper em sua vidae fazer que tudo fosse perfeito, depois de tudo, seu pai não foi precisamente um modelo deconfiabilidade e retidão. Mas, certamente, ela merecia um pouquinho de magia em sua vida. Agoraque encontrara a James, ela não podia expor-se a armadilhas e perigos. Sentia o coração mais leveque em muitos anos, e ela se negava a pensar que algo pudesse estragar aquela felicidade.

Lady Dambury confirmou que ao James concedeu uma breve permissão para visitar sua família.Isto era algo excepcional para concedê-lo a um administrador, mas Elizabeth assumiu que James eratratado com maior consideração devido à antiga relação de sua família com os Dambury.

O estranho, entretanto, era o constante estado de irritação de Lady Dambury. Pode ser que lhetivesse concedido tempo para atender seus assuntos pessoais, mas, evidentemente, não o fez de bomgrado. Elizabeth não podia enumerar a quantidade de vezes que pegou a Lady D queixando-se por suaausência. Ultimamente, entretanto, Lady Dambury esteve muito preocupada com seu próximo baile demáscaras para caluniar ao James. Ia ser o maior baile celebrado em Dambury House em anos, e todoo pessoal, mais os cinquenta criados extras contratados unicamente para o evento, zumbiam deatividade. Elizabeth mal podia caminhar do salão à biblioteca (que estava só a três portas dedistância) sem tropeçar com um ou outro servente, que devia assediar a lady Dambury com perguntassobre a lista de convidados, ou o menu, ou as lanternas chinesas, ou as fantasias, ou...

Fantasias. No plural. Para surpresa da Elizabeth, Lady Dambury encomendara duas. Um deRainha Elizabeth para ela, e outro de pastora para Elizabeth.

Elizabeth estava muito contente.

—Não vou levar esse cajado toda a noite—jurou ela.

—Cajado, já! Isto não é nada—riu Lady D. —Só espera para ver as ovelhas.

—O quéééééé?

—Brincava. Santo céu, moça! precisa desenvolver seu senso de humor. Elizabeth balbuciou ummonte de bobagens antes de conseguir resmungar.

—Desculpe!

Lady D agitou a mão desdenhosamente.

—Sei, sei. Agora vais dizer-me que alguém que sobreviveu cinco anos trabalhando para mimprecisa estar em posse de um excelente senso de humor.

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—Algo assim, —resmungou Elizabeth.

—Ou talvez que se não possuísse um brilhante senso de humor, a tortura de ser minha dama decompanhia teria acabado contigo.

Elizabeth piscou.

—Lady Dambury, acredito que é você quem está desenvolvendo o senso de humor.

—Uf. Na minha idade alguém precisa o ter. Isto é o único modo de aguentar o dia. Elizabethsimplesmente sorriu.

—Onde está meu gato?

—Não tenho nem ideia, Lady Dambury. Não o vi esta manhã.

Lady D olhou em todas direções, falando enquanto explorava a sala procurando Malcolm.

—De todo o modo—pontificou, —poderia pensar que ao menos seria tratada com mais respeito.

—Não sei o que quer dizer com semelhante comentário. A expressão de Lady Dambury erasardônica.

—Entre você e James, nunca consigo me sair confiante.

Antes que Elizabeth pudesse replicar, Lady D deu a volta e disse.

—Na minha idade, tenho direito de ser arrogante.

—E que idade é essa hoje?

Lady D a admoestou com o dedo.

—Não seja tão ardilosa. Sabe muito bem que idade tenho.

—Faço todo o possível por me manter a par dela.

—Hmmph. Onde está meu gato?

Já que respondera essa pergunta anteriormente, Elizabeth, em troca perguntou:

—Quando, ah, espera você que retorne o senhor Siddons?

Os olhos de Lady Dambury pareciam muito perspicazes quando perguntou.

—Meu errante administrador?

—Sim.

—Não sei, maldito homem. Tudo está convertendo-se em ruínas.

Elizabeth jogou uma olhada pela janela aos intermináveis e antigos jardins de Dambury House.

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—Poderia estar exagerando ligeiramente.

Lady D começou a dizer algo, mas Elizabeth elevou a mão e disse.

—E não me diga que na sua idade está em seu direito de exagerar.

—Bom, pois assim é. Hmmph. Malcom!

Os olhos de Elizabeth foram para a porta. O rei de Dambury House entrava no salão, suasgorduchas patas movendo-se silenciosamente sobre o tapete.

—Aqui estas, doçura—arrulhou-o Lady Dambury. —Vem com mamãe.

Mas Malcolm nem sequer moveu sua cauda cor café com leite para ela. Enquanto Lady D ocontemplava horrorizada, seu gato trotou diretamente até Elizabeth e saltou sobre seu colo.

—Gatinho bom—ronronou Elizabeth.

—O que acontece aqui?—exigiu Lady D.

—Malcolm e eu chegamos a um entendimento.

—Mas se te odeia!

—Mas, Lady Dambury, disse Elizabeth, fingindo-se sobressaltada. - Se durante todos estes anosvocê insistiu em que ele é um gatinho muito amistoso.

—É obvio que é um gatinho muito amistoso—resmungou Lady D.

—Por não mencionar todas a vezes que me disse que tudo eram minhas fantasias.

—Menti!

Elizabeth bateu a mão contra a face com fingida incredulidade.

—Não!

—Quero que devolva o meu gato.

Elizabeth deu de ombros. Malcolm ficou de costas e se estirou com as patas sobre sua cabeça.

—Felino miserável e traidor.

Elizabeth sorriu ao gato enquanto lhe coçava a pele sob o queixo.

—A vida é boa, né, Malcolm? A vida é muito, muito boa.

Malcolm ronronou de acordo, e Elizabeth soube que devia ser certo.

De volta a Londres, James sentia uma frustração de mil demônios. Esbanjara mais de umasemana investigando a vida da Agatha e não dera com nada. Não pôde encontrar nem uma alma queconhecesse alguém que sentisse ao menos um pouco de rancor contra sua tia. Oh, muita gente tinha

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muito que dizer sobre seu mordaz gênio e suas bruscas maneiras, mas ninguém realmente a odiava.

Além disso, não havia nem o mais leve indício de escândalo em seu passado. Por isso se referiaa Londres, Agatha, Lady Dambury, levou uma vida exemplar. Honrada e fiel, era laureada como operfeito exemplo da impecável dama inglesa.

Para ser sincero, não podia recordar haver realizado alguma vez uma investigação tãoaborrecida. Sabia que era improvável que encontrasse algo substancioso; depois de tudo, ochantagista procurou a sua tia em Surrey. Mas não encontrou nenhuma pista em Dambury House, eLondres lhe pareceu o seguinte passo lógico.

Se o inimigo de Agatha descobriu algo sobre seu passado secreto através dos brilhantes eintensamente eficientes círculos de fofoca da alta sociedade londrina, então era razoável supor quealguém em Londres saberia algo.

James ficou amargamente decepcionado.

Não havia nada mais que fazer agora exceto retornar a Dambury House com a esperança de que ochantagista houvesse feito outra demanda. Isto, entretanto, parecia improvável; certamente sua tia oteria notificado se tivesse acontecido. Sabia onde localizá-lo; lhe dissera exatamente onde ia e o queesperava conseguir. Agatha se havia oposto veementemente a que partisse. Estava convencida queseu chantagista seria encontrado em Surrey, rondando Dambury House. Quando James partiufinalmente, Agatha se comportara segundo seu estilo, resmungona, mal-humorada e mais irritável queseu gato.

James estremeceu ao pensar na pobre Elizabeth, encadeada à áspera companhia de sua tiadurante toda a semana passada. Mas se alguém podia tirar a Agatha de seu mau humor, ele estavaconvencido de que era Elizabeth.

Três dias mais. Não dedicaria mais que esse tempo a sua investigação em Londres. Três dias evoltaria para Dambury House, anunciaria seu fracasso a sua tia e suas intenções a Elizabeth.

Três dias mais e poderia começar sua vida de novo.

Chegada à sexta-feira pela tarde, Dambury House estava sitiada. Elizabeth se encerrou nabiblioteca durante uma hora só para escapar das hordas de criados que davam os últimos retoques àmansão para a celebração do baile daquela noite. Não havia modo de escapar da frenética atividade,entretanto; Lady Dambury insistira em que Elizabeth se vestisse em Dambury House. Isto era umaproposta sensata, eliminando a necessidade de Elizabeth de retornar a sua casa para trocar-se e logovoltar de novo para a mansão.

Mas também era impossível escapulir durante uns minutos em busca de um pouco de paz. Omomento na biblioteca não contava. Como podia contar quando não menos de cinco criados

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esmurraram a porta, solicitando sua opinião sobre os mais corriqueiros assuntos.

Finalmente Elizabeth se rendeu e gritou.

—Perguntem a Lady Dambury!

Quando a primeira das carruagens apareceu pelo caminho, Elizabeth fugiu escada acima aoquarto que Lady Dambury lhe atribuíra para essa tarde. O temido traje de pastora pendurado noarmário, acompanhado do cajado que se apoiava contra a parede. Elizabeth se deixou cairpesadamente sobre a cama. Não tinha nenhum desejo de chegar cedo. Esperava passar a maior parteda noite sozinha. Não lhe desagradava sua própria companhia, e a última coisa que queria era chamara atenção. Chegar quando a festa estivesse em seu apogeu significava que poderia mesclar-se com amultidão. Para então, os convidados de Lady Dambury deveriam estar muito imersos em suaspróprias conversações para lhe prestar atenção.

Mas os convidados chegaram como uma inundação mais que como um lento fluxo, e Elizabethconhecia lady Dambury o bastante bem para saber que a condessa a arrastaria abaixo pelo cabelo seela demorasse muito mais sua aparição. Assim colocou a fantasia de pastora, colocou a máscaraemplumada que Lady D. comprara também para ela, e se olhou ao espelho.

—Pareço ridícula— disse ela a seu reflexo. —Completamente ridícula. —Seu vestido brancoera uma massa de pregas e babados, adornado com mais renda do que qualquer pastora poderiapermitir-se, e o sutiã, embora não fosse indecente, estava talhado mais baixo que qualquer outro queela tivesse usado anteriormente.—Como se uma pastora pudesse caminhar pelos campos tendo postoisto—resmungou, puxando o decote para cima. Certamente também era improvável que uma pastoralevasse posta uma máscara emplumada, mas isso não tinha importância em comparação com aextensão do seio que mostrava.

—Ah, não me importa—declarou. —Ninguém saberá quem sou, de todo modo, e se alguém tentaralgo indecente, ao menos tenho o maldito cajado.

Com isto, Elizabeth o agarrou e o balançou no ar como uma espada. Satisfatoriamente armada,ela saiu do quarto e caminhou pelo corredor. Antes que alcançasse a escada, entretanto, uma porta seabriu de repente, e uma mulher vestida como uma abóbora saiu disparada, colidindo com Elizabeth.

Ambas caíram sobre o tapete com um ruído surdo e uma rajada de maldições. Elizabeth ficou empé e depois olhou para a abóbora, que ainda estava caída.

—Necessita que a ajude? —perguntou Elizabeth.

A abóbora, que segurava uma máscara verde em sua mão, assentiu.

—Obrigada. Estou um pouco desajeitada ultimamente, temo.

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Elizabeth levou um par de piscadas para perceber que a abóbo... a dama! devia deixar de pensarnela como uma abóbora.

—OH, não! — disse Elizabeth, ficando de joelhos a seu lado. —encontra-se bem? Esta seu...

—Assinalou o centro de sua figura, embora resultasse difícil discernir onde se encontrava ocentro sob a fantasia de abóbora.

—Estou bem, —assegurou-lhe a dama. —A única coisa que sofreu foi meu orgulho, asseguro.

—Bem, me deixe ajudá-la. —Era difícil manobrar com a fantasia, mas finalmente Elizabethconseguiu colocá-la de pé.

—Sinto terrivelmente ter me chocado contra você—desculpou-se a dama. —É só que chegavabastante tarde, e sei que meu marido estará lá embaixo batendo o pé, e...

—Não acontece nada. O asseguro— disse Elizabeth. E como a dama era uma abóbora tãosimpática, acrescentou. —De fato lhe estou bastante agradecida. Esta pode ser a primeira vez quenão fui eu a causadora do acidente. Sou terrivelmente desajeitada.

A nova amiga da Elizabeth riu.

—Já que nos conhecemos assim, por favor, me permita ser terrivelmente descarada e que meapresente. Sou a esposa de Blake Ravenscroft, mas me sentirei insultada se não me chamesimplesmente Caroline.

—Eu sou a senhorita Elizabeth Hotchkiss, dama de companhia de Lady Dambury.

—Meu Deus, de verdade? ouvi que pode ser um autentico dragão.

—No fundo é realmente muito doce. Mas eu não gostaria de despertar seu mau gênio. Carolineassentiu e afagou seu cabelo castanho claro.

—Estou muito desarrumada? Elizabeth negou com a cabeça.

—Não mais do que alguém esperaria de uma abóbora.

—Sim, suponho que às abóboras são permitidas um maior relaxamento no esmero de seupenteado.

Elizabeth riu de novo, gostando desta mulher enormemente. Caroline estendeu seu braço.

—Descemos?

Elizabeth assentiu, e andaram para as escadas.

—Definitivamente me desmascaro ante você— disse Caroline com um sorriso, levantando suamáscara em uma saudação. —Meu marido passou bastante tempo aqui quando era menino, e me

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assegura que ainda se sente aterrorizado por Lady Dambury.

—Seu marido era amigo de seus filhos?

—De seu sobrinho, em realidade. o Marquês de Riverdale. Espero vê-lo esta noite. Deve estarconvidado. Conheceu-o?

—Não. Não, não o conheço. Mas escutei algo sobre ele a semana passada.

—De verdade? —Caroline começou a descer cuidadosamente a escada.—No que está metido?Não tive notícias dele há mais de um mês.

—Não sei, em realidade. Lady Dambury celebrou uma pequena recepção ao ar livre a semanapassada, e enviou uma nota pedindo a um de seus convidados que se reunisse com ele em Londresimediatamente.

—Oooh. Que intrigante. E que próprio do James.

Elizabeth sorriu ante o nome. Ela tinha seu próprio James, e não podia esperar para vê-lo denovo. Caroline se deteve em um degrau e girou para Elizabeth com uma expressão muito própria deuma irmã, e muito curiosa.

—O que foi isso?

—O que?

—Esse sorriso. E não diga que não estava sorrindo. Vi.

—Ah. —Elizabeth sentiu que suas faces ruborizavam. —Não é nada. Tenho um pretendente cujonome é também James.

—De verdade? —Os olhos verde mar de Caroline brilharam com o brilho de uma casamenteiranata. —Me deve apresentar ele.

—Não está aqui, temo. É o novo administrador de Lady Dambury, mas recentemente foi chamadoa Londres. Algum tipo de emergência familiar, acredito.

—É uma lástima. Já sinto que somos as melhores amigas. Gostaria de tê-lo conhecido. Elizabethsentiu que seus olhos se empanavam.

—Foi encantador por sua parte dizer isso.

—Isso acredita? Estou tão contente de que não me ache muito descarada. Não fui educada emsociedade, e tenho o terrível costume de dizer as coisas sem as pensar primeiro. Isso deixa meumarido louco.

—Estou segura de que a adora.

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Os olhos de Caroline brilharam, e Elizabeth soube que o seu casamento foi por amor.

—Chego tão tarde que ele provavelmente arrancará minha cabeça, —confessou Caroline.

—Pode ser tão preocupado.

—Então será melhor que nos ponhamos em marcha.

—Mal posso esperar a lhe apresentar ao Blake.

—Eu adoraria. Mas primeiro preciso encontrar a Lady Dambury e me assegurar de que nãonecessita nada.

—O dever a chama, suponho. Mas deve me prometer que nos encontraremos mais tarde.

—Caroline sorriu ironicamente e fez um gesto para o seu traje. —Sou bastante fácil de encontrar.Elizabeth alcançou o final das escadas e soltou seu braço do de Caroline.

—É uma promessa. —Depois, com um sorriso e uma saudação da mão, escapou para o salão debaile. Lady Dambury estaria na porta principal recebendo a seus convidados, e seria mais fácilchegar até ela rodeando a casa por fora que tratar de batalhar contra a multidão que havia dentro.

—Que demônios? —À exclamação do James seguiram uma série de maldições mais criativas efortes enquanto guiava seu cavalo ao redor da aglomeração de carruagens que lentamente seguiampara Dambury House.

O baile de máscaras. O maldito, incômodo e inoportuno baile de máscaras. Esqueceu-secompletamente disso. Planejara a noite até o último detalhe. Ia ver sua tia, lhe dizer que falhara, quenão foi capaz de descobrir a seu chantagista, e lhe prometer que o seguiria tentando, mas que nãopodia deixar sua vida em suspense enquanto o fizesse.

Depois cavalgaria até a casinha de Elizabeth e lhe pediria que se casasse com ele. Estevesorrindo amplamente como um idiota durante toda a volta a casa, planejando cada palavra. Tinhapensado em levar ao Lucas à parte e lhe pedir a mão de sua irmã. Não é que James planejassepermitir que um menino de oito anos governasse sua vida, mas de algum jeito pensar em envolver aopequeno moço lhe enternecia o coração. Além disso, tinha o pressentimento de que Elizabeth sesentiria encantada pelo gesto, o qual era provavelmente o verdadeiro motivo de todo o assunto.

Mas não lhe ia ser possível escapar de Dambury House esta noite, e evidentemente não ia serpossível uma entrevista a sós com sua tia. Frustrado com a obstrução de carruagens, guiou a seucavalo fora da estrada principal e cavalgou através da extensão de grama ligeiramente arborizadaque discorria junto a estrada principal de Dambury House.

Havia lua cheia, e uma grande quantidade de luz se filtrava pelas muitas janelas da mansão parailuminar seu caminho, assim não teve que diminuir excessivamente sua marcha enquanto se dirigia

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aos estábulos. Encarregou-se de seu cavalo e caminhou lentamente para sua pequena moradia,sorrindo quando recordou o momento em que pegou Elizabeth bisbilhotando ali semanas antes. Aindanão o contara.

Não importava; teria toda uma vida para compartilhar com ela e criar lembranças juntos. Tentouignorar o ruído da festa, preferindo a paz e o isolamento de sua moradia temporária, mas ele nãopodia fazer caso omisso do rugido de seu estômago vazio. Retornara precipitadamente a Surrey,impaciente por ver a Elizabeth, e não se deteve nem para pegar um bocado de pão. Em sua casa nãohavia nada comestível, assim se permitiu uma sonora maldição, e retornou cansativamente aoexterior. Com um pouco de sorte, poderia chegar à cozinha sem ser reconhecido ou abordado por umfarrista bêbado.

Manteve a cabeça abaixada enquanto ziguezagueava entre a multidão que saía em turba aojardim. Se agia como um criado, os convidados de Agatha veriam um criado e, com um pouco desorte, deixariam no em paz.

O Senhor sabia que não esperariam tropeçar com o Marquês de Riverdale tão desalinhado ecoberto de pó. Conseguiu esquivar a maior parte da multidão, e estava a meio caminho de seudestino, quando pela extremidade do olho viu uma pastora loira golpear uma rocha, agitar o braçoesquerdo desesperadamente para manter o equilíbrio, e finalmente endireitar-se apoiando seu cajadona terra.

Elizabeth. Devia ser ela. Nenhuma outra loira pastora podia ser tão encantadoramentedesajeitada. Parecia estar fugindo ao longo de Dambury House, em direção à entrada. James trocouligeiramente de planos e foi em sua direção, seu coração retumbando com a certeza de que ela logoestaria em seus braços.

Quando se convertera em um tolo romântico?

Quem sabia? A quem importava? Estava apaixonado. Finalmente encontrara a mulher quecompletava seu coração, e se isso o convertia em um tolo romântico, que assim fosse.

Enquanto ela se dirigia para a parte dianteira, se aproximou sigilosamente por detrás, e antes deque ela pudesse ouvir o rangido de suas pegadas sobre o cascalho, estendeu a mão e a agarrou pelopulso. Ela girou com um grito sufocado de sobressalto. James viu com prazer como o pânico de seusolhos se convertia em alegria.

—James! —gritou, agarrando com sua mão livre a dele. —Retornaste. Ele levou suas mãos aoslábios e as beijou.

—Não podia permanecer longe.

O tempo que tinham separados a havia tornado tímida, e não pôde olhá-lo aos olhos quando

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sussurrou.

—Te senti falta.

Ao inferno o decoro. Estreitou-a em seus braços e a beijou. E quando finalmente pôde obrigar-sea arrancar seus lábios dos dela, sussurrou.

—Veem comigo.

—Onde?

—A qualquer parte. E ela foi.

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Capítulo 17

A noite estava cheia de magia. A lua refulgia, o ar estava impregnado do delicado aroma deflores silvestres, e o vento era um romântico sussurro contra a pele.

Elizabeth se sentia como uma princesa. A mulher que corria através do campo, com o cabeloondeando como uma fita dourada, não podia ser a ordinária e simples Elizabeth Hotchkiss. Só poruma noite, transformou-se. Só por uma noite, seu coração não albergava preocupações nemresponsabilidades. Estava banhada em risadas e paixão, envolta em pura alegria.

De mãos dadas, correram. Dambury House se perdeu de vista, embora os sons da festaflutuassem no ar. As árvores ao redor se fizeram mais densas, e finalmente James se deteve, com arespiração ofegante pelo esforço e de excitação.

—OH, meu Deus—ofegou Elizabeth sufocada, quase chocando-se contra ele. —Não corri tãorápido desde...

Seus braços se enroscaram ao redor dela, e ficou sem fôlego.

—Me beije—ordenou-lhe.

Elizabeth estava perdida no encanto da noite, e qualquer indecisão que tivesse podido sentir,qualquer noção do que era apropriado e o que era escandaloso, desvaneceu-se. Arqueou o pescoço,lhe oferecendo os lábios, e ele tomou, a boca dele capturou a sua com uma doce mescla de ternura eprimitiva necessidade.

—Não tomarei. Não agora, não ainda—jurou ele sobre sua pele. —Mas me deixe te amar.Elizabeth não sabia a que se referia, mas seu sangue corria ardente e veloz por suas veias, e nãopodia lhe negar nada. Elevou o olhar, viu o fogo em seus olhos cor chocolate, e tomou sua decisão.

—Me ame — sussurrou. —Confio em ti.

Os dedos de James tremeram quando os aproximou reverentemente a suave pele de suastêmporas. Sob seus dedos seu cabelo era como seda dourada, e parecia tão dolorosamente pequena efrágil sob suas grandes, e de repente, desajeitadas mãos. Deu-se conta de que poderia machucá-la.Era pequena e delicada, e era sua responsabilidade protegê-la.

—Serei suave — sussurrou, quase sem reconhecer sua própria voz. —Jamais te faria mal.Jamais.

Ela confiava nele. Isto era um poderoso presente, um intercâmbio de almas.

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Deixou vagar seus dedos suavemente pelos ângulos de suas faces até a nua pele de seu pescoço.Sua fantasia não se parecia com nada que ela tivesse usado antes, provocando-o com a insinuação deseus ombros nus, ameaçando cair só com o mais leve empurrão. Podia enganchar seu dedo ao redordo suave tecido branco e revelar um delicado ombro, e logo o outro, e logo podia puxar um poucomas para baixo, expondo-a...

O sangue se amontoou nas virilhas. Deus santo, se só pensando em despi-la tinha semelhanteereção, que demônios ia acontecer quando a tivesse realmente nua e disposta em seus braços? Comoconseguiria fazer amor com a gentileza e o cuidado que merecia?

Prendeu o fôlego, quando lentamente deslizou o vestido por um ombro, sem separar os olhos dapele que ia expondo. Ela reluzia à luz da lua como a pérola mais preciosa, e quando inclinou acabeça para acariciar com os lábios a cálida e sedutora curva onde o pescoço se encontrava com oombro, foi como chegar em casa por fim. Enquanto a beijava, sua mão tecia a mesma magia com ooutro ombro, e ouviu seu ofego quando o tecido pouco a pouco escorregou, revelando a suavecurvatura das cúpulas de seus seios.

Ela murmurou algo, pensou que podia ter sido seu nome, mas não o deteve, assim desabotoou obotão que se aninhava entre seus seios, soltando o decote de seu vestido o suficiente para permitirque se abrisse. Suas mãos se elevaram para cobrir-se, mas ele as agarrou entre as suas e as manteveafastadas enquanto se inclinava para depositar um beijo leve como uma pluma sobre seus lábios.

—É preciosa — sussurrou James, a calidez de sua voz invadindo sua boca. —Tão formosa.Segurando ainda as mãos dela com uma das suas, estirou a outra mão e suavemente a colocou sobreum de seus seios, deixando que lhe enchesse a palma. Ela era surpreendentemente exuberante e firme,e James não pôde evitar um gemido de prazer quando notou endurecer-se seu mamilo contra a palmade sua mão.

Olhou-a no rosto, precisava ver sua expressão, precisava saber que gostava de sua carícia. Seuslábios estavam entreabertos e brilhantes como se os acabasse de umedecer com a língua. Seus olhosestavam aturdidos e desfocados, e sua respiração brotava em entrecortados ofegos.

Deslizou uma de suas mãos sobre seu traseiro, segurando-a enquanto se deslizavam ao chão. Agrama formava um suave e fresco tapete debaixo deles, o cabelo de Elizabeth se estendia como umleque dourado. James a contemplou durante um momento, murmurando um doce obrigado para o Deusque o guiara até esse momento, e então baixou sua cabeça a seus seios, amando-a com sua boca.

Elizabeth soltou um surpreso:

—Oh! —quando os lábios de James se fecharam ao redor de seu mamilo. Sentia seu quentefôlego sobre seu seio, e seu sangue ardia por sua carícia. Seu corpo se voltou estranho, quase como

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se quisesse sair de sua própria pele. Sentia a imperiosa necessidade de mover-se, de estirar os dedosdos pés e esfregar as solas contra a erva, de flexionar as mãos e logo as afundar em seu grossocabelo castanho. Arqueou as costas debaixo dele, consumida por algum demônio apaixonado que ainsistia a tomar o que quer que lhe oferecesse. —James—ofegou, e logo sussurrou outra vez.

Seu nome foi a única palavra que veio a seus lábios, e soou como uma súplica e uma oração.Baixou-lhe a parte superior do vestido todo o possível, assim levou uma de suas mãos a sua perna,lhe acariciando a panturrilha antes de seguir subindo pela parte exterior de seu joelho. E depois, tãolentamente que ela agonizou de antecipação, sua mão abandonou seu joelho para apertar a suave pelede sua coxa. Gemeu seu nome outra vez, mas a boca dele estava sobre a sua, e suas palavras seperderam em seu beijo. A mão dele seguiu subindo ao longo de sua perna, alcançando a suave peledo interior de sua coxa. Ela se esticou, sentindo que se aproximava da borda de algo, que se dirigia aalgum lugar secreto do qual não havia volta.

James levantou a cabeça e a olhou. Ela teve que piscar várias vezes antes de poder enfocar suasqueridas feições, e então, com um sorriso libertino, James lhe perguntou.

—Mais?

Que o céu a ajudasse. Assentiu, e viu como seu sorriso se alargava justo antes que sua bocadescesse até a pele sob seu queixo, empurrando-a até que seus lábios puderam explorar a totalidadede seu pescoço. E então sua mão se deslocou mais acima.

Estava quase no mais alto de sua coxa agora, quase roçando seu núcleo mais íntimo. Aproximidade era desconcertante, e suas pernas começaram a tremer de antecipação.

—Confia em mim — sussurrou ele. —Só confia em mim. Prometo que farei que o desfrute. Seutremor não se deteve, mas suas pernas se separaram ligeiramente, permitindo que seu corpo seacomodasse entre suas coxas. Até esse momento não se deu conta de que ele esteve mantendo-seafastado dela, usando seus poderosos braços para aguentar seu peso. Mas tudo isso mudou quandoacomodou o corpo dele sobre o seu. Seu peso era excitante, o comprimento e o calor. Era muitomaior que ela; ela nunca percebera a verdadeira magnitude de seu poder e força até que foipressionado tão intimamente contra ela.

Sua mão se estendeu, abrangendo a largura de sua coxa e seu polegar ficou perigosamente pertodos cachos que protegiam sua feminilidade. Apertou e brincou. E então a tocou.

Elizabeth não estava preparada para a descarga de pura eletricidade que percorreu sua coluna.Nunca imaginou que pudesse sentir-se tão quente, tão estremecida, tão desesperada pelo contato deoutro ser humano.

Seus dedos brincaram com ela até que esteve segura de que não poderia aguentar mais, e então

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ele insistiu. Sentia seu quente fôlego contra sua orelha até que esteve segura de que incendiaria, eentão ele começou a sussurrar; palavras de amor e palavras de paixão. Cada vez que acreditava teralcançado seu limite, ele a levava mais alto, conduzindo-a a um novo nível de paixão. Aferrava-se àgrama, temerosa de que se punha os braços ao redor de James, rasgaria sua camisa em duas. Masentão, quando seu dedo se deslizou em seu interior, ele sussurrou.

—Me toque.

Vacilante, assustada de sua própria paixão, levantou as mãos até a gola de sua camisa. O botãosuperior estava desabotoado; deslizou rapidamente o seguinte pela casa em seu afã de tocar sua pele.

—Deus santo, Elizabeth—ofegou James. —Vais matar-me. Ela se deteve e seus olhos seergueram para os dele.

—Não— disse ele, rindo. —Está tudo bem.

—Está seguro? Porque Ohhhhhhhhh!

Não tinha nem ideia do que ele fez, como moveu exatamente seus dedos, mas a pressão queesteve acumulando-se dentro dela de repente explodiu. Seu corpo se esticou, logo se arqueou,tremeu, e quando finalmente, estremecida, deslizou-se de novo ao chão, estava segura de haver-sedesfeito em mil pedaços.

—Oh, James—suspirou. —Faz-me sentir tão bem por dentro.

Seu corpo estava ainda tão duro como uma rocha, e estava tão tenso de desejo que sabia queficaria insatisfeito essa noite. Seus braços começaram a tremer sob o peso de seu corpo, assim rodoupara um lado, acoplando-se junto a ela sobre a grama. Apoiou a cabeça sobre um cotovelo,recreando-se na deliciosa visão de seu rosto. Tinha os olhos fechados, os lábios entreabertos, e eleestava seguro de não ter visto nunca nada tão formoso em toda sua vida.

—Há tantas coisas que preciso te dizer — sussurrou, lhe retirando o cabelo da testa. Elizabethentreabriu os olhos.

—O que?

—Amanhã, — prometeu ele, subindo docemente o sutiã. Era uma maldade cobrir uma beleza tãoperfeita, mas sabia que ela sentia ainda acanhamento sobre sua nudez. Ou a sentiria, quandorecordasse que estava nua.

Ela ruborizou, confirmando sua teoria de que, depois da paixão, esquecera seu estado de nudez.

—Por que não me pode dizer isso esta noite? —perguntou-lhe ela.

Isso era uma boa pergunta. Tinha na ponta da língua lhe revelar sua verdadeira identidade e lhe

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pedir que se casasse com ele, mas algo o continha. Só ia propor matrimônio a uma mulher uma vezem sua vida, e queria que fosse perfeito. Nunca sonhou que encontraria a uma mulher que capturassesua alma por completo. Ela merecia rosas e diamantes, e a ele de joelho. E sentia que devia a Agathalhe dizer que dava por terminada sua farsa antes de finalizá-la de fato.

—Amanhã, —prometeu outra vez. —Amanhã.

Pareceu ficar satisfeita, já que suspirou e se sentou.

—Suponho que deveríamos retornar. Ele deu de ombros e sorriu amplamente.

—Não tenho nenhum encontro urgente. Isso lhe rendeu uma careta.

—Sim, mas a mim esperam. Lady Dambury passou toda a semana me chateando para que vissesua fantasia. Se não aparecer, nunca me deixará esquecê-lo.—Lançou-lhe um irônico olhar derelance. —Ela está a um passo de me deixar louca. Um interminável sermão por minha ausênciaprovavelmente acabaria com minha prudência.

—Sim— murmurou James, —é muito hábil dirigindo a culpabilidade.

—Por que não vem comigo? —perguntou Elizabeth.

Uma má ideia. Inumeráveis pessoas poderiam reconhecê-lo.

—Eu gostaria—mentiu ele, —mas não posso.

—Por quê?

—Er, estou bastante poeirento da viagem, e...

—Escovaremo-lhe.

—Não tenho fantasia.

—Ora! A metade dos homens se negam a usar fantasia. Estou segura de que podemos te encontraruma máscara.

Desesperado, soltou.

—Simplesmente não posso me mesclar com a gente em meu atual estado.

Isso fez que ela engolisse qualquer resposta que tivesse pensado. Depois de vários segundos deembaraçoso silêncio, finalmente perguntou.

—A que estado te refere?

James grunhiu. Será que ninguém lhe explicara como funcionavam os homens e as mulheres?Provavelmente não. Sua mãe morreu quando ela só tinha dezoito anos, e lhe resultava difícil imaginara sua tia encarregando-se de uma tarefa tão delicada.

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Olhou a Elizabeth. Seus olhos o olhavam espectadores.

—Suponho que não se conformaria se eu dissesse que o que eu gostaria seria me lançar decabeça a um lago gelado e deixá-lo assim— disse ele.

Ela negou com a cabeça.

—Já supunha que não—resmungou ele.

—Você não... ah...

Ele se agarrou a seu balbucio.

—Exatamente! Eu não.

—O problema— disse ela, evitando seus olhos, —é que não sei exatamente o que você não...

—Ensinarei-lhe isso mais tarde—prometeu ele. —Que Deus me ajude, se não lhe ensinar issomais tarde, estarei morto antes que acabe o mês.

—Um mês inteiro?

Um mês? Estava louco? ia ter que conseguir uma licença especial.

—Uma semana. Definitivamente uma semana.

—Já vejo.

—Não, não o faz. Mas o fará. Elizabeth tossiu e ruborizou.

—Independentemente do que te refira—resmungou ela, —tenho a sensação de que deve serbastante atrevido.

Ele levou sua mão aos lábios.

—Ainda é virgem, Elizabeth. E eu me sinto infernalmente frustrado.

—OH! Eu... —Sorriu timidamente. —Obrigado.

—Poderia te dizer que não importa absolutamente— disse, tomando-a pelo braço, —salvo queseria uma descarada mentira.

—E suponho—acrescentou ela, de maneira travessa, —que também mentiria se dissesse que foium prazer para ti.

—Seria uma enorme mentira. De imensas proporções. Ela riu.

—Se não começar a me mostrar o devido respeito—resmungou ele, —pode ser que tenha que teatirar ao lago comigo.

—Certamente pode suportar uma pequena provocação.

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—Parece-me que por esta noite suportei toda a provocação que meu corpo pode aguentar. Elasoltou outras quantas risadas.

—Sinto muito—ofegou. —Minha intenção não é rir de ti, mas...

—Sim é. —Tentou não sorrir, mas não teve êxito.

—Muito bem, sim. Mas é só porque... —Deixou de caminhar e elevou a mão até roçar seuquerido rosto. —É só que me faz sentir tão feliz e livre. Não posso recordar a última vez que mesenti capaz de simplesmente rir.

—E quando está com sua família? —perguntou ele. —Sei que os adora.

—Adoro-os. Mas ainda quando nos estamos rindo e brincando e nós estamos passando bem,sempre há uma nuvem escura pendendo sobre mim, me recordando constantemente que poderiaperder tudo isso. Que tudo isso me poderia ser arrebatado no momento em que não possa ser capazde apoiá-los.

—Não terá que preocupar-se nunca mais disso— disse ele, sua voz era uma feroz promessa.

—Jamais.

—Oh, James— disse ela, melancólica. —É encantador por dizer isso, mas não sei comopoderia...

—Terá que confiar em mim—interrompeu-a ele. —Tenho alguns truques sob a manga. Alémdisso, acreditei que havia dito que quando estás comigo essa nuvem desaparecia.

—Quando estou contigo esqueço todos os meus problemas, mas isso não significa quedesapareceram.

Ele acariciou a mão dela.

—Pode ser que te surpreenda, Elizabeth Hotchkiss.

Caminharam para a casa em amistoso silêncio. Conforme se aproximavam, os sons da festaforam aumentando e a música, mesclada com inumeráveis conversas, e o ocasional estrépito deruidosas gargalhadas.

—Soa como se houvesse uma multidão—comentou Elizabeth.

—Lady Dambury não aceitaria menos—replicou James. Jogou uma fugaz olhada para a mansão,que já estava à vista. Os convidados saíram ao jardim, e sabia que precisava retirar-seimediatamente. —Elizabeth— disse, —Preciso ir já, mas vou te visitar amanhã.

—Não, por favor, fique. —Sorriu-lhe, seus olhos azul escuros angustiosamente abertos. —Nunca dançamos.

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—Prometo-te que o faremos. —Não perdia de vista às pessoas mais próximas da multidão. Nãovia ninguém conhecido, mas nunca se era o suficientemente cuidadoso.

—Buscarei te uma máscara, se isso for o que o preocupa.

—Não, Elizabeth, simplesmente não posso. Deve aceitá-lo. Ela franziu o cenho.

—Não vejo por que precisa...

—Simplesmente é assim. Eu Ooof! —Algo enorme e fofo se chocou contra as costas de James.Evidentemente não estavam tão afastados da multidão como pensava. Virou-se para chamar a atençãoao desajeitado farrista...

E se encontrou olhando diretamente para os olhos água-marinha de Caroline Ravenscroft.Elizabeth contemplou a cena que se desenvolvia em frente a seus olhos com uma crescente sensaçãode incredulidade e horror.

—James? —perguntou Caroline, seus olhos se abriram com prazer. —Oh, James! É estupendover-te!

Os olhos de Elizabeth viajaram de James a Caroline, tentando entender como é que estas duaspessoas se conheciam. Se Caroline conhecia James, então devia saber que ele era o administradorque Elizabeth mencionara ao princípio dessa noite.

—Caroline— respondeu James, com voz incrivelmente tensa. Caroline tentou abraçá-lo, mas suafantasia de abóbora dificultava.

—Onde estiveste? —exigiu. —Blake e eu estamos muito desgostosos. Ele esteve tentando telocalizar para... Elizabeth?

James ficou gelado.

—Como é que conhece Elizabeth? —perguntou, lenta e cuidadosamente.

—Conhecemo-nos esta noite— respondeu Caroline, descartando-o com a mão antes de virar-separa sua nova melhor amiga. —Elizabeth, estive te buscando toda a noite. Onde te colocaste? E comoconhece o James?

—Eu... eu... —a Elizabeth não saíam as palavras, não podia verbalizar o que cada vez era maisóbvio.

—Quando conheceste a Elizabeth? —Caroline se virou para enfrentar a James, sua trançacastanho claro ficou sobre seu ombro. —Falei-lhe de ti esta noite e me disse que não te conhecia.

—Falou-me dele? — sussurrou Elizabeth. —Não, não o fez. Não mencionou ao James. A únicapessoa de quem me falou foi de...

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—James, —interrompeu-a Caroline, olhando-a. —O Marquês de Riverdale.

—Não— disse Elizabeth, com voz trêmula, sua mente de repente repleta de imagens de umpequeno livro vermelho e intermináveis decretos. "Como casar-se com um Marquês". Não, eraimpossível. —Ele não é...

Caroline se voltou para James.

—James? —Abriu muito os olhos quando compreendeu que, sem querer, tinha descoberto umsegredo. —Oh, não. Sinto muito. Jamais imaginei que estivesse trabalhando incógnito aqui, emDambury House. Disse-me que já terminara com tudo isso.

—Com tudo o que? —perguntou Elizabeth, com voz ligeiramente estridente.

—Isto não tem nada que ver com o Ministério de Defesa— disse James, com os dentesapertados.

—Então o que?—perguntou Caroline.

—O Marquês de Riverdale? —repetiu Elizabeth. —É um marquês?

—Elizabeth— disse James, ignorando a Caroline. —Me dê um momento para lhe explicar isso.

Um marquês. James era um marquês. E deve ter rido dela durante semanas.

—Bastardo, sibilou.

E então, pondo em prática cada uma das lições de boxe que lhe dera, mais todos seus instintosassassinos, jogou seu braço direito para trás e lhe deu um murro.

James cambaleou. Caroline gritou. E Elizabeth se afastou com passo majestoso.

—Elizabeth! —trovejou James, caminhando a passos longos atrás dela. —Volta aqui agoramesmo. Me vais escutar.

Sua mão se fechou sobre seu braço.

—Me solte! —gritou ela.

—Não antes que me escute.

—Oh, você deve ter rido muito às minhas custas—espetou-lhe. —Tão divertido pretendendo meensinar como me casar com um marquês. Bastardo. Asqueroso bastardo.

Ele quase se estremeceu pelo veneno de sua voz.

—Elizabeth, nem uma vez...

—Riu-te de mim com seus amigos? Burlou-te da pobre senhorita de companhia que pensava queia ser capaz de casar-se com um marquês?

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—Elizabeth, tinha meus motivos para manter minha identidade em segredo. Está tirandoconclusões precipitadas.

—Não seja condescendente—cuspiu-lhe, tentando soltar seu braço. —Nem sequer volte a medirigir a palavra.

—Não te deixarei partir sem me escutar até o final.

—E deixei-te me tocar — sussurrou ela, o horror claramente visível em seu rosto. —Deixei-teme tocar e tudo era uma mentira.

Ele a agarrou pelo outro braço também e a apertou contra ele, até que seus seios ficaramesmagados contra suas costelas.

—Jamais —sibilou ele, —volte a chamar a isso uma mentira.

—Então o que foi? Você não me ama. Nem sequer me respeita bastante para me dizer quem é.

—Sabe que isso não é verdade. —Elevou o olhar e viu que uma pequena multidão começara aajuntar-se perto de Caroline, que continuava ainda ali de pé, boquiaberta a alguns metros dedistância. —Vem comigo—ordenou-lhe, arrastando-a para o canto de Dambury House. — Falaremosdisto em privado.

—Não vou contigo a nenhuma parte. —Cravou os calcanhares no chão, mas não era páreo parasua força superior. —Vou para casa, e se alguma vez tentar falar comigo de novo, não respondo pelasconsequências.

—Elizabeth, está sendo irracional. Ela explodiu.

Se foi por sua voz ou por suas palavras, nunca saberia, mas simplesmente explodiu.

—Não me diga o que sou! —gritou, lhe golpeando o peito com seus punhos. —Não me diganada!

James simplesmente ficou ali parado, deixando que o golpeasse. Estava tão imóvel quefinalmente seus punhos, ao não sentir nenhuma resistência, tiveram que parar. Retrocedeu um passo,com o corpo sacudido por profundas e violentas inspirações enquanto o olhava no rosto.

—Odeio-te— disse em voz baixa. Ele não disse nada.

—Não tem nem ideia do que fez, — sussurrou, movendo a cabeça incrédula. —Nem sequeracredita que fez algo errado.

—Elizabeth. —Nunca imaginou que pudesse requerer tal esforço ao pronunciar uma simplespalavra.

Seus olhos brilharam com um brilho de compaixão, como se tivesse compreendido de repente

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que estava por debaixo dela, que nunca seria digno de seu amor e seu respeito.

—Parto para casa. Pode informar a Lady Dambury que demiti.

—Não pode se demitir.

—E por que não?

—Ela te necessita. E você necessita...

—O dinheiro? —cuspiu. —É isso o que ia dizer?

Ele sentiu que suas faces avermelhavam, e soube que ela podia ver a resposta em seus olhos.

—Há algumas coisas que não faria por dinheiro— disse-lhe, —e se pensa que vou voltar aqui etrabalhar para sua tia. Oh, Meu deus! —ofegou, como se acabasse de compreender o que havia dito.—Ela é sua tia. Devia saber. Como pôde me fazer isto?

—Agatha não tinha nem ideia do que acontecia entre nós. Independentemente de sobre quemfosse recair a culpa, não pode atribuir nenhuma a ela.

—Confiava nela — sussurrou Elizabeth. —Foi como uma mãe para mim, por que deixou que istoacontecesse?

—James? Elizabeth?

Ambos deram volta e viram como uma tímida abóbora colocava a cabeça pelo canto, seguidapor um bastante irritado pirata de cabelo negro, que agitava os braços em direção contrária, gritando.

—Partam! Todos! Não há nada que ver.

—Não é bom momento, Caroline— disse James, com tom cortante.

—Em realidade— respondeu Caroline suavemente, —parece-me que é. Possivelmentepoderíamos ir todos para dentro? A algum lugar privado?

Blake Ravenscroft, o marido de Caroline e melhor amigo de James, se aproximou.

—Ela tem razão, James. Os falatórios já estão circulando. A metade da festa vai aparecer pordetrás desta esquina em uns minutos.

Caroline assentiu.

—Temo que vai ser um escândalo terrível.

—Estou segura de que já é—replicou Elizabeth. —Não é que me importe. Seguro que não vouvoltar a ver nenhuma destas pessoas outra vez.

James sentiu como as unhas lhe cravavam nas palmas da mão. Estava se fartando da teimosia deElizabeth. Nem uma vez lhe dera a oportunidade de explicar-se. O que eram todas aquelas tolices

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que dissera sobre que confiava nele? Se verdadeiramente confiasse nele, lhe teria deixado explicar.

—Verá essa gente outra vez, — disse em tom perigoso.

—Oh, e quando será? —burlou-se ela. —Não sou de sua classe, como tão hábil, emboradiscretamente, deixaste claro.

—Não— disse ele suavemente, —é melhor.

Isso a emudeceu. Tremeram-lhe os lábios, e sua voz era trêmula quando finalmente disse.

—Não. Não pode me fazer isto. O que fez é imperdoável, e não pode te valer de doces palavraspara obter o perdão.

James apertou os dentes e deu um passo para ela, sem se importar do modo em que Caroline eBlake os olhavam.

—Darei te um dia para que supere seu aborrecimento, Elizabeth. Tem até amanhã a esta mesmahora.

—E então o que acontecerá?

Seus olhos ardiam quando se inclinou para ela, intimidando-a de propósito com seu tamanho.

—E então te casas comigo.

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Capítulo 18

Elizabeth o golpeou de novo, desta vez pegando-o de surpresa, assim caiu ao chão.

—Dizer isso é algo horrível! —gritou.

—Elizabeth, — disse-lhe Caroline, agarrando-a pelo pulso e arrastando-a a seu lado. — Parece-me que acaba de te pedir que te case com ele. Disse algo muito formoso. Algo precioso. — virou-separa seu marido, que olhava a James e tentava não rir.—Não é algo precioso?

—Não queria dizer isso, —explodiu Elizabeth. —Só o diz porque se sente culpado. Sabe que oque fez está errado e...

—Espera um momento, —interrompeu Blake. —Acreditei que disse que nem sequer sabia quefez algo errado.

—Não sabia. Não sabe. Não sei! —Elizabeth se voltou rapidamente, entrecerrando os olhos ecravando-os sobre o enigmático e arrumado cavalheiro. —E você nem sequer estava ali. Como sabeo que disse? Estava escutando às escondidas?

Blake, que trabalhou junto a James para o Ministério de Defesa por muitos anos, deu de ombros.

—É como uma segunda natureza, temo...

—Bem, pois é um hábito desprezível. Eu —Parou-se em seco, assinalando-o com um gestoimpaciente. —Quem é você?

—Blake Ravenscroft, — disse, com uma elegante reverência.

—Meu marido, —adicionou Caroline.

—OH, sim, que esteve confabulado com ele. —Elizabeth assinalou ao James, que estava sentadono chão, apertando o nariz —durante anos. Desculpe-me se essa conexão não o faz muitorecomendável.

Blake simplesmente sorriu.

Elizabeth moveu a cabeça, sentindo-se estranhamente exposta. Seu mundo desmoronava ao seuredor com uma vertiginosa rapidez, todos falavam ao mesmo tempo, e a única coisa ao que pareciaser capaz de aferrar-se para manter-se em pé era a sua cólera contra James.

Ela sacudiu o dedo em sua direção, fulminando ainda com o olhar ao Blake.

—É um aristocrata. Um maldito marquês.

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—É isso tão mau? —perguntou Blake, arqueando as sobrancelhas.

—Deveria ter me dito isso!

—James, — disse Caroline, ajoelhando-se junto a ele na medida que sua fantasia o permitia.

—Está sangrando?

Sangrando? Elizabeth se odiou por preocupar-se, mas não pôde abafar uma exclamação, e ovirar-se imediatamente para James. Nunca o perdoaria pelo que fez, e, é obvio, não queria voltar avê-lo nunca mais, mas tampouco queria vê-lo ferido.

—Não estou sangrando, —resmungou James. Caroline olhou a seu marido e lhe disse.

—Ela o golpeou duas vezes.

—Duas vezes?—Blake sorriu amplamente. —De verdade?

—Não é engraçado, — disse Caroline. Blake olhou para James.

—Deixou que te golpeasse duas vezes?

—Demônios, eu a ensinei.

—Isso, querido amigo, demonstra uma incrível falta de previsão por sua parte. James o olhoucarrancudo.

—Tentava ensiná-la a proteger-se.

—De quem? De ti?

—Não! Do... Oh, pelo amor de Deus, o que importa, eu... —James procurou com o olhar aElizabeth, viu-a tentando retroceder inadvertidamente e ficou imediatamente de pé.

—Você não vai a nenhuma parte, —grunhiu, segurando-a pela faixa da sua fantasia.

—Me solte! Ai! —revolveu-se como um peixe fora da água, tentando, sem êxito, virar-se parapoder fulminá-lo com o olhar. —ME SOLTE!

—Nem em um milhão de anos.

Elizabeth olhou para Caroline suplicante. Certamente outra mulher a apoiaria em sua prementesituação.

—Por favor, lhe diga que me solte.

Caroline olhou para James e para Blake e depois outra vez a Elizabeth. Evidentemente divididaentre sua lealdade a seu velho amigo e sua compaixão por Elizabeth, gaguejou.

—E-eu não sei o que esta ocorrendo, exceto que ele não te disse quem era.

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—E não é suficiente?

—Bom, — respondeu evasivamente Caroline, —James raramente diz às pessoas quem é.

—O que? —gritou Elizabeth, retorcendo-se como uma fera para poder golpear James em seuaristocrático ombro. —Fez isto antes? É um desprezível, um amoral.

—Basta! —rugiu James.

Seis cabeças fantasiadas apareceram no canto.

—Realmente acredito que deveríamos ir para dentro, — disse Caroline fracamente.

—A menos que prefira ter uma plateia, —acrescentou Blake.

—Quero ir para casa, —declarou Elizabeth, mas ninguém fez conta. Não sabia por que sesurpreendia; ninguém lhe fez caso em toda a noite.

James assentiu bruscamente para Blake e Caroline e logo fez um brusco gesto para a casa com acabeça. Seu aperto sobre a faixa do vestido de Elizabeth se intensificou, e quando ele começou acaminhar para dentro, ela não pôde fazer outra coisa que segui-lo.

Algum momento mais tarde se encontrava na biblioteca, o cúmulo da ironia. "Como casar-secom um Marquês" seguia em sua prateleira, justo onde ela o deixara. Elizabeth suprimiu umirracional impulso de rir. A senhora Seeton tinha razão; havia um marquês atrás de cada esquina. Aaristocracia estava em toda parte, à espreita para humilhar a pobres e confiadas mulheres.

E isso foi o que James fez. Cada vez que lhe deu um conselho sobre como caçar a um marido -um marquês, maldito fosse a humilhou. Cada vez que tentou lhe ensinar como sorrir ou como flertar, amenosprezou. E quando a beijou, pretendendo não ser nada mais que um humilde administrador, asujou com suas mentiras. Se James não a tivesse puxado pela faixa, provavelmente agarraria omaldito livro e o jogaria pela janela e logo, provavelmente jogaria a ele.

Elizabeth notou seu olhar sobre seu rosto, lhe queimando a pele, e quando levantou os olhos paraele, deu-se conta de que ele seguiu seu olhar até o livro da senhora Seeton.

—Não diga nada, — sussurrou ela, dolorosamente consciente da presença dos Ravenscroft.

—Por favor, não me vás mortificar assim.

James assentiu de maneira cortante, e Elizabeth sentiu que todo seu corpo se relaxava de alívio.Não conhecia Blake, e ela mal conhecia Caroline, mas não podia suportar que se inteirassem de queera tão patética que teve que recorrer a um livro para encontrar marido.

Blake fechou a porta da biblioteca atrás dele, e depois olhou aos ocupantes da sala comexpressão neutra.

Page 228: Como Casar-se Com um Marquês (Agents of the Crown #2)

—Er— disse, olhando alternativamente a Elizabeth e James, —prefeririam que nós partíssemos?

—Sim, —grunhiu James.

—Não! —virtualmente gritou Elizabeth.

—Acredito que deveríamos partir, — disse Blake a sua esposa.

—Elizabeth quer que fiquemos, —replicou Caroline, —não podemos deixá-la aqui só com ele.

—Não seria apropriado, —apressou-se a acrescentar Elizabeth. Não queria ficar a sós comJames. Se ficassem sozinhos, a enrolaria e a faria esquecer sua cólera. Usaria suaves palavras etenras carícias, e ela perderia a noção da realidade e do que era correto. Sabia que ele exercia essepoder sobre ela, e se odiava por isso.

—Acredito que estamos mais à frente do decoro, —respondeu-lhe James. Caroline desabousobre a borda de uma mesa.

—Oh, querido.

Blake lhe lançou um olhar divertido.

—Desde quando se preocupa tanto com o decoro?

—Desde... Oh, cale-se. —E depois, quase em um sussurro acrescentou. —Não quer que secasem?

—Se não sabia nem sequer que ela existia até dez minutos.

—Não vou me casar com ele, —declarou Elizabeth, tentando ignorar que sua voz se quebrava aopronunciar as palavras. —E lhes agradeceria que não falassem como se eu não estivesse na sala.

Caroline baixou o olhar ao chão.

—Lamento—resmungou. —Eu também odeio quando as pessoas fazem isso.

—Quero ir para casa, — disse Elizabeth outra vez.

—Sei, querida, — murmurou Caroline, —mas realmente deveríamos resolver isto, e...

Alguém começou a golpear a porta.

—Parta, —gritou Blake.

—Sentira-se muito melhor pela manhã se solucionarmos isto agora, —- continuou Caroline.

—Prometo-te que...

—SILÊNCIO!

A voz de James ressonou na sala com tal poder que Elizabeth se sentou. Infelizmente, a mão dele

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seguia segurando sua faixa, assim acabou ofegando em busca de ar quando o tecido se afundou emsuas costelas.

—James— disse, respirando com dificuldade, —me solte. Soltou-a, embora provavelmente seudesejo fosse sacudi-la.

—Pelo amor de Deus, —trovejou. —Como acreditam que pode um homem pensar com todo essebarulho? Seria possível que mantivéssemos uma só conversa? Só uma, que todos pudéssemos seguir?

—De fato, —interveio Caroline, um tanto imprudentemente, —e no sentido mais estrito, sóestávamos falando de um assunto. Embora certamente falávamos todos ao mesmo tempo e...

Seu marido a apertou contra seu flanco com força suficiente para lhe arrancar um pequenogemido. Ela não emitiu um som depois disso.

—Preciso falar com Elizabeth, — disse James. —A sós. A resposta de Elizabeth foi rápida eterminante.

—Não.

Blake começou a caminhar para a porta, arrastando Caroline com ele.

—É hora de partir, querida.

—Não podemos deixá-la aqui contra sua vontade, —protestou Caroline. —Não é correto, e parafalar a verdade, não posso...

—Ele não vai machucá-la, —interrompeu-a Blake.

Mas Caroline se limitou a enganchar um de seus pés ao redor do pé de uma mesa.

—Não a abandonarei, — disse teimosamente.

Elizabeth articulou um silencioso e sentido obrigado da outra ponta da sala.

—Blake... — disse James, com um breve e significativo olhar para Caroline, que se aferravacom seus braços de abóbora ao respaldo de uma poltrona.

Blake deu de ombros.

—Logo aprenderá, James, que há momentos em que simplesmente não pode discutir com suaesposa.

—Bom, que aprenda com outra esposa, —declarou Elizabeth, —porque não me casarei com ele.

—Já chega! —explodiu James zangado, com um gesto da mão para Blake e Caroline. — Fiqueme escutem. Provavelmente escutariam através da porta, de todo modo. E quanto a ti... — Moveu seufurioso olhar para Elizabeth. —Me vais escutar e te vais casar comigo.

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—Vê? — sussurrou Caroline ao Blake. —Sabia que ao final repensaria e nos deixaria ficar.James girou lentamente, com o pescoço tão tenso que sua mandíbula tremia.

—Ravenscroft— disse ao Blake, com voz perigosamente controlada, —não sente alguma vez oimpulso de estrangulá-la?

—Oh, todo o tempo, — disse Blake alegremente. —Mas, em geral, me alegro de que se casassecomigo em vez de contigo.

—O que? —gritou Elizabeth. —Pediu-te que te casasse com ele? —Meneou a cabeçaincredulamente durante vários segundos antes de conseguir deter-se e fixar seus olhos em Caroline—Pediu-te que te casasse com ele?

—Sim, — respondeu Caroline, com um desdenhoso encolhimento de ombros. —Mas não o diziaa sério.

Elizabeth lançou um duro olhar ao James. - Tem o costume de efetuar insinceras propostas dematrimônio?

James olhou ainda mas duramente para Caroline.

—Não está melhorando a situação.

Caroline dirigiu um implorante olhar a seu marido.

—A mim não olhe para que te ajude, — disse ele.

—Teria se casado comigo se eu lhe houvesse dito que sim, — explicou Caroline com um sonorosuspiro. —Mas só me propôs isso para aguilhoar ao Blake a que me pedisse isso. Foi muitoconsiderado por sua parte. Será um marido maravilhoso, Elizabeth. Prometo-lhe isso.

Elizabeth contemplou aos três com incredulidade. Vê-los relacionar-se entre si a esgotava.

—Estamos lhe confundindo, verdade? —perguntou Caroline. Elizabeth ficou sem palavras.

—Em realidade é uma história bastante extraordinária, — disse Blake com um encolhimento deombros. —Escreveria um livro sobre isso, exceto que ninguém acreditaria.

—Você acredita? —perguntou Caroline, com olhos acesos de prazer. —Como o titularias?

—Não estou seguro, — disse Blake, esfregando o queixo. —Possivelmente algo assim como"Como capturar uma herdeira".

James aproximou seu rosto furioso ao do Blake.

—E por que não "Como voltar completa e irremediavelmente loucos a seus amigos"? Elizabethsacudiu a cabeça.

Page 231: Como Casar-se Com um Marquês (Agents of the Crown #2)

—Estão todos loucos. Estou convencida. Blake deu de ombros de novo.

—A metade das vezes eu também estou convencido disso.

—Posso, por favor, falar com Elizabeth? —explodiu James.

—Sinto muito, — disse Blake, com um tom evidentemente concebido para zangar. —Tinhaesquecido para o que estávamos aqui.

James afundou sua mão esquerda em seu cabelo e deu um puxão; esta lhe pareceu a únicamaneira de impedir de fincar as mãos ao redor do pescoço de Blake.

—Começo a compreender —grunhiu, —por que os noivados devem levar-se a cabo em privado.

Blake arqueou uma sobrancelha.

—E isso o que significa?

—Significa que arruinaste tudo.

—Por quê? — respondeu Elizabeth. —Por que por descuido revelou sua identidade?

—Ia contar isso tudo amanhã.

—Não te acredito.

—Não me importa se me acredita! —gritou James. —É a verdade.

—Perdoa minha interrupção, —interveio Caroline, —mas não deveria preocupar-se de se elaacredita ou não? Depois de tudo, pediste-lhe que seja sua esposa.

James começou a tremer, desesperado por estrangular a alguém nessa sala, mas sem estar segurode com quem estava mais furioso. Estava Blake, com seus irônicos olhares; Caroline, que devia ser amulher mais intrometida de toda a história do mundo; e Elizabeth...

Elizabeth. Sim, ela era a que verdadeiramente o desenquadrava, porque só o pensar em seu nomefez que sua temperatura se elevasse uns quantos graus. E não devido precisamente à paixão. Estavafurioso. Tinha a coluna reta, os dentes apertados, e os músculos tão tensos que quase lheatravessavam a pele por causa da fúria.

E seus três companheiros presentes evidentemente não perceberam o perigo a que se expunhamcada vez que soltavam outra néscia ocorrência.

—Agora vou falar eu, — disse, mantendo a voz dolorosamente lenta e controlada. —E opróximo que me interromper atiro pela janela. Está claro?

Ninguém disse nada.

—Está claro?

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—Acreditei que queria que permanecêssemos calados, — disse Blake.

O qual resultou ser todo o incentivo que Caroline necessitou para abrir a boca e dizer.

—Acredito que se deu conta de que a janela não está aberta?

Elizabeth tampou a boca com a mão. James a fulminou com o olhar. Que Deus tivesse piedadedela se risse. Inspirou profundamente e a olhou fixamente em seus olhos azuis.

—Não lhe disse quem era pois me chamaram aqui para investigar uma chantagem a minha tia.

—Alguém chantageia a sua tia? —inquiriu Caroline sem fôlego.

—Deus santo! —exclamou Blake. —Esse cretino deve ter desejos de morrer. —Olhou aElizabeth. —A mim, certamente, aterroriza-me a velha dragona.

James olhou aos Ravenscroft, lançou uma significativa olhada para a janela, e depois voltou acravar o olhar em Elizabeth.

—Não teria sido prudente te informar de meu verdadeiro objetivo aqui em Dambury House,porque, se por acaso esqueceste, você foi a principal suspeita.

—Suspeitava da Elizabeth? —interrompeu-o Caroline. —Está completamente louco?

—Fez, —afirmou Elizabeth. —E está. Louco, quero dizer.

James tomou ar para acalmar-se. Estava a dois passos da combustão espontânea.

—Rapidamente eliminei Elizabeth como suspeita, — disse através dos dentes apertados.

—Era então quando deveria me haver dito quem era,— disse Elizabeth. —Antes... —Interrompeu-se e olhou resolutamente para o chão.

—Antes do que? —perguntou Caroline.

—A janela, querida, — disse Blake, lhe acariciando o braço a sua esposa. —Recorda a janela.Ela assentiu e voltou a concentrar sua atenção em James e Elizabeth, com expressão expectante.

James a ignorou resolutamente, concentrando-se por inteiro em Elizabeth. Estava sentada em umapoltrona, com as costas rígidas como um pau, e seu rosto parecia tão tenso que pensou que a maisleve carícia poderia fazê-la em pedacinhos. Tentou recordar seu aspecto só uma hora antes,ruborizada de paixão e prazer. Para seu horror, não pôde.

—Não lhe contei isso então, —continuou, —porque sentia que meu primeiro dever deve ser paracom minha tia. Ela foi... —Procurou palavras que pudessem explicar a profundidade de sua lealdadepara sua idosa e excêntrica tia, mas então recordou que Elizabeth conhecia seu passado. De fato, elaera a única pessoa a quem contou toda a história de sua infância. Mesmo Blake só sabia algumaspartes. —Ela foi muito importante para mim durante muitos anos, — disse finalmente. —Não podia...

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—Não tem que explicar seu amor por Lady Dambury, — disse Elizabeth calmamente, semlevantar o olhar.

—Obrigado. —Clareou a garganta. —Não sabia e ainda não sei a identidade do chantagista.Além disso, não tenho modo de determinar se esse indivíduo pode resultar perigoso ou não. Não vinenhuma razão para te envolver ainda mais neste assunto.

Elizabeth elevou a vista de repente, e a expressão em seus olhos era dilaceradora.

—Sem dúvida sabe que eu jamais faria algo para machucar a Lady Dambury.

—É obvio que sei. Sua lealdade para ela é evidente. Mas a questão é que não tem experiênciaem tais assuntos, e...

—E suponho que você sim? —perguntou ela, com evidente mas não odioso sarcasmo.

—Elizabeth, passei a maior parte da última década trabalhando para o Ministério de Defesa.

—A pistola, — sussurrou ela. —A forma em que atacou a Fellport. Sabia que algo nãoenquadrava.

James jurou em voz baixa.

—Minha briga com Fellport não teve nada que ver com minha experiência no Ministério deDefesa. Por Deus, Elizabeth, esse homem te atacou.

—Sim, — respondeu ela, —mas você parecia muito familiarizado com a violência. Foi bastantefácil para ti. O modo em que tirou a pistola... Tinhas muita experiência nisso.

Ele se inclinou para ela, com seus ardentes olhos cravados nos seus.

—O que senti naquele momento estava longe de me resultar familiar. Era ira, Elizabeth, pura eprimitiva ira, e muito diferente de qualquer outra coisa que alguma vez tenha passado por minhasveias.

—Você jamais... alguma vez sentiu raiva antes? Ele negou com a cabeça devagar.

—Assim não. Fellport se atreveu a atacar o que era meu. Tem sorte de que o deixasse com vida.

—Não sou tua, — sussurrou ela. Mas sua voz carecia de convicção.

—Não?

Do outro lado da sala, Caroline suspirou.

—James, — disse Elizabeth. —Não posso te perdoar. Simplesmente não posso.

—Que demônios não pode perdoar? —explodiu ele. —Não te dizer que tinha um maldito título?Acreditei que havia dito que não queria um maldito marquês.

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Ela se retraiu ante sua cólera, e murmurou.

—A que te refere?

—Não te lembra? Foi nesta mesma sala. Estava segurando o livro, e...

—Não mencione esse livro, — disse ela, em voz baixa e furiosa. —Não o volte a mencionar.

—Por que não? —burlou-se ele, sua cólera e sua dor o fizeram ser mesquinho.—Por que nãoquer que lhe recordem quão desesperada estava? Ou ávida e ambiciosa?

—James! —exclamou Caroline. —Já basta.

Mas ele estava muito doído, além de toda contenção.

—Não é melhor que eu, Elizabeth Hotchkiss. Prega sobre a honestidade, mas quis apanhar aalgum pobre tolo crédulo no matrimônio.

—Isso não é verdade! Nunca teria casado com alguém sem me assegurar primeiro de quesoubesse de minha situação. E você sabe.

—Sei? Não recordo que mencionasse tão nobres princípios. De fato, a única coisa que recordo écomo praticava suas artimanhas sobre mim.

—Você me pediu isso!

—James Siddons, o administrador, era o bastante bom para flertar, —mofou-se ele, —mas não obastante bom para casar-se. É isso?

—Amava a James Siddons! —exclamou ela. E logo, horrorizada pelo que dissera, ficou em péde um salto e saiu à carreira para a porta.

Mas James foi mais rápido. Bloqueou-lhe o caminho, sussurrando.

—Amava-me?

—Amava a ele, —gritou ela. —Não sei quem é você.

—Sou o mesmo homem.

—Não, não é. O homem que eu conhecia era uma mentira. Ele não teria zombado de uma mulherda maneira que você fez. E, entretanto... —Sua voz se rompeu, e uma risada horrorizada brotou deseus lábios. —E, entretanto, sim o fez, verdade?

—Por Deus, Elizabeth, que demônios fiz que seja tão malvado e rasteiro? Ela o contemplouincrédula.

—Nem sequer sabe, verdade? Dá-me asco.

Os músculos de sua garganta tremeram espasmodicamente de raiva, e necessitou de cada grama

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de seu autocontrole para não agarrá-la pelos ombros e sacudi-la até que recuperasse a sensatez. Seuaborrecimento e sua dor eram tão primitivas, estavam tão perto da superfície que temeu que a mínimaamostra de emoção desencadearia em sua totalidade a horripilante corrente de sua fúria. Finalmente,com um autocontrole que não podia acreditar que possuía, conseguiu cuspir entrecortadamente:

—Te explique.

Ela permaneceu imóvel um instante mais, e logo, com um chute no chão, cruzou a sala e tirou deum puxão o exemplar de "Como casar-se com um Marquês" que descansava em sua prateleira.

—Recorda isto? —gritou-lhe ela, sacudindo o pequeno livro vermelho no ar. —Recorda-o?

—Acredito recordar que me pediste faz um momento não mencionar esse livro diante dosRavenscroft.

—Não importa. Já me humilhaste profundamente diante deles, de todo modo. Eu poderia muitobem terminar o trabalho.

Caroline depositou uma reconfortante mão sobre o braço de Elizabeth.

—Acredito que é muito valente, — disse suavemente. —Por favor não pense que fosteenvergonhada de maneira nenhuma.

—Oh, você não acredita? —arremeteu Elizabeth, engasgando-se com cada palavra. —Bom,então, olhe isto. —Pôs o livro nas mãos de Caroline.

Estava de cabeça para baixo, assim Caroline murmurou sua incompreensão até que deu a volta eleu o título. Um pequeno grito de alarme escapou de seus lábios.

—O que acontece, querida? —perguntou-lhe Blake.

Em silêncio, passou-lhe o livro. Blake o estudou, lhe dando umas quantas voltas em suas mãos.Então ambos olharam para James.

—Não estou segura do que aconteceu, — disse Caroline, com cautela —mas minha imaginaçãome faz conceber todo tipo de desastres.

—Ele me encontrou com isto, — disse Elizabeth. —Sei que é um livro ridículo, mas precisavame casar e não tinha ninguém a quem pedir conselho. E então ele me encontrou com o livro, e temique zombasse de mim. Mas não o fez. —Fez uma pausa para recuperar o fôlego, e apressada enxugouuma lagrima. —Foi tão amável. E depois, depois se ofereceu a me dar aulas. Esteve de acordo emque não podia aspirar a me casar com um marquês.

—Jamais disse isso! —assegurou James com paixão. —Isso o disse você. Não eu.

—Ofereceu-se para me ajudar a entender o livro para que...

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—Ofereci-me a queimar o livro, se por acaso não o recorda. Você disse que era uma completatolice. —Olhou-a enfurecido, e ao não conseguir intimidá-la, fulminou com o olhar a Blake e aCaroline. Tampouco pareceu sortir algum efeito, assim se voltou para Elizabeth e gritou.

—Pelo amor de Deus, mulher, só há uma regra nesse maldito livro que vale a pena seguir.

—E essa é? —perguntou Elizabeth desdenhosamente.

—O que te case com seu maldito marquês!

Ficou calada um comprido momento, seus olhos azuis cravados nos dele, e logo, em um gestoque foi como um direto a seu estomago, lhe deu as costas.

—Disse-me que me ajudaria a aprender como caçar a um marido, — disse aos Ravenscroft.

—Mas nunca me disse quem era ele. Nunca me disse que era um maldito marquês. —Ninguémdisse uma palavra, assim Elizabeth soltou um amargo suspiro e disse, —e agora já conhecem toda ahistória. Como zombou de mim e de minhas desafortunadas circunstâncias.

James cruzou a sala em menos de um segundo.

—Nunca ri de ti, Elizabeth, — disse, com os olhos fixos em seu rosto. —Deve acreditá-lo.Nunca tive intenção de te fazer mal.

—Bom, pois me tem feito isso, — disse ela.

—Então te case comigo. Me deixe passar o resto de minha vida te compensando. Uma grossalágrima escapou da extremidade de seu olho.

—Você não quer se casar comigo.

—Pedi isso repetidas vezes, — disse ele, com um bufo de impaciência. —Quantas mais provasnecessita?

—Não me permite ter um pouco de orgulho? Ou é uma emoção reservada para a elite?

—- Será que sou uma pessoa tão terrível? —A pergunta foi rematada por um vagamentedesconcertado suspiro. —Bem, não lhe disse quem era. Sinto muito. Me perdoe por desfrutar não,por me deleitar no fato de que te apaixonou por mim, não por meu título, nem de meu dinheiro, nemde nenhuma outra coisa. Só por mim.

Um som estrangulado surgiu de sua garganta.

—Era uma prova?

—Não! —virtualmente gritou ele. —É obvio que não era uma prova. Já lhe disse isso, tinhaimportantes motivos para ocultar minha identidade. Mas... mas... —Procurou as palavras adequadas,sem saber como expressar os sentimentos que enchiam seu coração. —Mas me fazia sentir bem. Não

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tem nem ideia, Elizabeth. Nem ideia...

—Não, — disse ela, calmamente,—não tenho.

—Não me castigue, Elizabeth.

Sua voz estava rouca e carregada de emoção, e Elizabeth sentiu que seu cálido tom de barítonose afundava diretamente em sua alma. Precisava sair daqui, precisava escapar antes que ele pudessetecer mais mentiras ao redor de seu coração.

Soltando suas mãos de um puxão, correu para a porta.

—Preciso ir, — disse, o pânico fez que elevasse a voz. —Não posso estar contigo agora mesmo.

—Aonde vai? —perguntou James, seguindo-a devagar.

—Para casa.

Seu braço se estendeu para lhe impedir de partir.

—Não irás para casa sozinha. Está escuro, e a zona esta cheia de bêbados e farristas.

—Mas...

—Não me importa se me odeia, — disse ele, em um tom de voz que não admitia protesto.

—Não permitirei que saia desta sala sem acompanhante. Ela olhou suplicante para Blake.

—Então pode fazê-lo você. A acompanhe até sua casa? Por favor?

Blake permaneceu imóvel, e seus olhos se cruzaram com os de James um segundo antes deassentir.

—Será uma honra.

—Cuida dela, — disse James bruscamente. Blake assentiu de novo.

—Sabe que o farei. —Pegou Elizabeth pelo braço e a escoltou para fora da sala.

James os olhou sair, e logo se apoiou contra a parede, com todo o corpo tremendo das emoçõesque tentou manter controladas durante toda a noite. Fúria, dor, exasperação, inclusive a malditafrustração depois de tudo não tinha conseguido sua própria liberação no bosque, com Elizabeth.Todas elas ebuliam em seu interior, devorando-o por completo, lhe dificultando a respiração.

Escutou um pequeno cacarejo e elevou a vista. Demônios, esqueceu-se completamente de queCaroline ainda seguia na sala.

—Oh, James, —suspirou ela. —Como pôde?

—Economize isso Caroline, —espetou-lhe bruscamente. —Simplesmente deixa estar.

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E logo, partiu furioso, chocando-se indiferentemente com a multidão do corredor. Tinha umagarrafa de uísque em sua casinha e prometia ser a melhor companhia para essa noite.

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Capítulo 19

Elizabeth não demorou muito em decidir que Blake Ravenscroft, apesar de ser o amigo do peitode James, era um homem muito sábio. Não fez, enquanto a acompanhava a casa, nenhuma só tentativade manter uma conversa, ou de efetuar perguntas indiscretas, nem de nenhuma outra coisa exceto lheoferecer um carinhoso e consolador tapinha no braço e lhe dizer:

—Se necessitar a alguém, estou seguro que Caroline estaria encantada de falar com você. Erapróprio de um homem inteligente, em efeito, saber quando devia manter a boca fechada.

O trajeto para casa foi feito em silêncio, exceto pelas ocasionais indicações de Elizabeth decomo chegar a seu lar. Entretanto, quando chegaram à morada dos Hotchkiss, Elizabeth ficou surpresaao ver a pequena estrutura transbordante de luz.

—Céus— murmurou. —Devem ter aceso cada uma das velas que temos em casa.

E então, pela força do costume, começou a calcular mentalmente o custo daquelas velas e a rezarpara que não tivessem usado nenhuma das caras velas de cera de abelha que normalmente reservavapara quando tinham visita.

Blake afastou os olhos do caminho para olhá-la.

—Ocorre algo?

—Espero que não. Não posso imaginar o que...

A carruagem se deteve, e Elizabeth saltou sem esperar a ajuda de Blake. Não havia nenhumarazão para sua casa zumbir com tal atividade, nenhuma razão absolutamente. Da casa brotavasuficiente barulho para despertar a um morto, e embora o ruído soasse alegre e feliz, Elizabeth nãopôde conter uma pontada de pânico.

Lançou-se através da porta e seguiu os ruidosos gritos e as risadas até o salão. Susan, Jane, eLucas estavam de mãos dadas e giravam, rindo e cantando canções a pleno pulmão. Elizabeth estavaestupefata. Nunca vira seus irmãos comportar-se assim. Queria acreditar que conseguira carregarsobre seus ombros a maior parte das preocupações durante os cinco últimos anos, e que eles tiveramuma infância feliz e razoavelmente despreocupada, mas nunca os vira tão completamente embebidosde felicidade.

Sentiu Blake de pé a seu lado, e quando ele sussurrou.

—Sabe o que acontece? —não pôde articular uma resposta.

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Depois de aproximadamente cinco segundos, Susan divisou a sua irmã parada na soleiracontemplando-os atônita, e abruptamente parou de girar, fazendo que Jane e Lucas se chocassem emum risonho enredo de fracos braços e cabelo loiro.

—Elizabeth!—exclamou Susan. —Já está em casa? Elizabeth assentiu devagar.

—O que aconteceu? Não esperava que estivessem ainda acordados.

—Oh, Elizabeth! —gritou Jane. —aconteceu algo maravilhoso. Não vais acreditar!

—Estupendo, — respondeu Elizabeth, suas emoções estavam ainda muito maltratadas para poderinsuflar um pouco de animação à palavra. Mas tentou. Não sabia o que aconteceu que havia trazidosemelhante felicidade a seus irmãos, mas devia apagar um pouco da dor de seus olhos e ao menostentar parecer excitada.

Susan se precipitou para ela, sustentando um pedaço de papel que pegou de cima daescrivaninha.

—Olhe o que chegou enquanto estava fora. Trouxe-o um mensageiro.

—Um mensageiro com libré, —acrescentou Jane. —Era terrivelmente arrumado.

—Era um criado, — disse-lhe Lucas.

—Isso não significa que não fosse arrumado, —replicou ela.

Elizabeth sorriu a seu pesar. Escutar Lucas e Jane discutir era tão maravilhosamente normal. Nãocomo o resto desta terrível noite. Tomou o papel que Susan lhe estendia e o leu.

E então suas mãos começaram a tremer.

—Não é fabuloso? —perguntou Susan, e seus olhos azuis brilhavam maravilhados. —Quem oteria pensado?

Elizabeth não disse nada, lutando contra a onda de náuseas que assaltava seu estômago.

—Quem pensa que pode ser? —perguntou Jane. —Deve ser alguém encantado. A mais amável eadorável pessoa do mundo inteiro.

—Posso? — murmurou Blake.

Silenciosamente, lhe deu o papel. Quando elevou a vista, Susan, Jane, e Lucas a contemplavamcom expressão desconcertada.

—Não está contente? — sussurrou Jane.

Blake lhe devolveu o papel e o leu outra vez, como se uma releitura pudesse mudar a ofensivamensagem.

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Sir Lucas Hotchkiss,

Senhorita Elizabeth Hotchkiss,

Senhorita Susan Hotchkiss,

Senhorita Jane Hotchkiss,

É um imenso prazer lhes informar que sua família é a destinatária deste generoso e anônimocheque, pela quantidade de 5000 libras esterlinas. Serão realizados acertos adicionais por seubenfeitor para a assistência do Sir Lucas a Eton.

Deve apresentar-se no colégio a começos do próximo trimestre.

Sinceramente,

G. Shillingworth

Shillingworth e Filho, Advogados

Era de James. Devia ser, se voltou para Blake, incapaz de ocultar a dureza de seus olhos.

—Ele só tenta te ajudar, — disse Blake suavemente.

—É insultante, —mal conseguiu dizer. —Como posso aceitar isto? Como poderia...

Ele colocou sua mão em seu braço.

—Está alterada. Possivelmente se o reconsidera pela manhã...

—É obvio que estou alterada! —Elizabeth percebeu os afligidos rostos de seus irmãos e tampoua boca com a mão, horrorizada por seu arrebatamento.

Três pares de olhos azuis alternavam entre seu rosto e o do senhor Ravenscroft, a quem eles nemsequer conheciam, e... O senhor Ravenscroft. Deveria apresentar-lhe as crianças. Deviam estarbastante desgostados por sua reação, e pelo menos deveriam saber quem estava de pé em seu salão.

—Susan, Jane, Lucas, — disse, tentando que sua voz soasse calma, —este é o senhorRavenscroft. É um amigo de —tragou. Quase havia dito o senhor Siddons, mas esse não era seuverdadeiro nome, verdade? —é um amigo de Lady Dambury, —finalizou. —E foi o bastante amávelpara me acompanhar a casa.

Seus irmãos resmungaram uma saudação, e Elizabeth girou para o Blake e disse.

—Senhor Ravenscroft, estes são: —Deixou de falar e entrecerrou os olhos. —É senhorRavenscroft, verdade? Não esconderá algum título também, não?

Blake negou com a cabeça, e um esboço de sorriso roçou os cantos de seus lábios.

—Sou um mero senhor, temo, embora se for necessário revelar tudo, meu pai é um visconde.

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Elizabeth quis sorrir, sabendo que seu comentário estava destinado a diverti-la, massimplesmente não pôde reunir as forças necessárias para isso. Em troca se voltou para seus irmãos, ecom o coração cheio de pesar lhes disse, —não podemos aceitá-lo.

—Mas...

—Não podemos. —Elizabeth não sabia qual de seus irmãos tinha expresso a objeção, já quecortou rapidamente o protesto. —É muito. Não podemos aceitar este tipo de caridade. Jane pelovisto discordava.

—Mas não acredita que quem quer que nos tenha doado o dinheiro queria que o tivéssemos?

Elizabeth tentou desfazer o nó que sentia na garganta. Quem sabia o que James desejou? Era istooutra parte de algum magnífico plano para zombar dela? Depois do que ele fizera, quem sabia comotrabalhava sua mente?

—Estou segura de que o queria, — disse, cautelosa, —se não, não seriam nossos nomes os quefigurariam no princípio da missiva. Mas isso é irrelevante. Não podemos aceitar esse dinheiro de umestranho.

—Talvez não seja um estranho, — disse Susan.

—Então é ainda pior! —replicou Elizabeth. —Meu Deus, você pode imaginar isso? Algumahorrível pessoa nos tratando como marionetes, puxando as cordas, pensando que pode controlarnosso destino? Está doente. Doente.

Fez-se silêncio, quebrado por um som dilacerador. Era Lucas, aguentando as lágrimas. Olhou aElizabeth, seus olhos angustiosamente abertos.

—Significa que não irei a Eton? — sussurrou.

A respiração de Elizabeth ficou presa na garganta. Tentou dizer a Lucas que não podia ir, sabiaque devia lhe dizer que não podiam aceitar o dinheiro de James, mas as palavras simplesmente nãosaíam. Ficou ali de pé, olhando o tremente rosto de seu irmão. Com todas suas forças estava tentandomanter seu lábio superior firme e não mostrar sua desilusão. Seus pequenos braços eram dois rígidospaus a seus lados, e seu queixo se sobressaía, como se esticando a mandíbula pudesse segurar suaslágrimas.

Elizabeth o olhou e viu o preço de seu orgulho.

—Não sei sobre Eton, — disse ela, inclinando-se para abraçá-lo. —Talvez possamos conseguir.

Mas Lucas se afastou.

—Não nos podemos permitir isso. Tenta ocultá-lo, mas eu sei a verdade. Não posso ir. Nunca

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poderei ir.

—Isso não é verdade. Talvez isto... —fez um vago gesto para à carta. —Signifique algodiferente. —Sorriu fracamente. Suas palavras careciam de convicção, e até um menino de oito anospodia ver que mentia.

Os olhos de Lucas se cravaram nos seus durante o instante mais agônico e comprido de sua vida.E depois, simplesmente tragou e disse.

—Vou à cama.

Elizabeth não tentou detê-lo. Não havia nada que pudesse dizer.

Jane o seguiu sem uma palavra, sua pequena trança loira parecia decididamente murcha.Elizabeth olhou a Susan.

—Odeia-me?

Susan negou com a cabeça.

—Mas não te entendo.

—Não podemos aceitar isto, Susan. Ficaríamos endividados com nosso benfeitor para o resto denossas vidas.

—Mas o que importa isso? Não sabemos nem sequer quem é!

—Não ficarei em dívida com ele, — disse Elizabeth ferozmente. —Não o farei. Susanretrocedeu um passo abrindo muito os olhos.

—Você sabe quem é, — sussurrou. —Você sabe quem enviou isto.

—Não, — disse Elizabeth, mas ambas sabiam que ela mentia.

—Você sabe. E por isso não aceita.

—Susan, não vou seguir discutindo isto.

Susan retrocedeu, segurando-se ao marco da porta quando chegou ao corredor.

—Vou consolar ao Lucas, — disse. —Necessita um ombro para chorar. Elizabeth estremeceu.

—Um golpe bastante direto, — murmurou Blake, uma vez que Susan começou a subir as escadas.

Elizabeth deu a volta. Esqueceu-se completamente que estava ali.

—Perdão?

Ele negou com a cabeça.

—Não vale a pena repeti-lo.

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Ela se deixou cair sobre o sofá, afundando-se contra o respaldo, suas pernas se negavam asustentá-la um segundo mais.

—Parece que foi testemunha de todas minhas conversas privadas esta noite.

—Não todas.

Ela sorriu sem humor.

—Suponho que voltará junto ao marquês e contará tudo.

—Não. Contarei tudo a minha esposa, mas não a James. Elizabeth o olhou confusa.

—Então o que lhe dirá?

Blake deu de ombros enquanto se dirigia à porta.

—Que é um idiota se a deixar escapar. Mas suspeito que isso já sabe.

Elizabeth despertou a manhã seguinte, consciente de que ia ser um dia horrível. Não havianinguém a quem queria ver, absolutamente ninguém com quem queria falar, e isso incluía a si mesma.Não queria enfrentar a seus irmãos e a seus rostos decepcionados. Não queria ver os Ravenscroftestranhos que foram testemunhas de sua total e completa humilhação. Negava-se a visitar ladyDambury; não acreditava ser capaz de passar o dia em companhia da condessa sem converter-se emmuita lágrimas e lhe perguntar como pôde participar do engano de James.

E, é obvio, não queria ver James.

Levantou-se, vestiu-se, e depois simplesmente ficou deitada na cama. Um estranho mal-estar aenvolvia. O dia anterior foi tão exaustivo em todos os sentidos. Seus pés, sua mente, seu coraçãotudo se negava a funcionar agora. Seria feliz se simplesmente pudesse permanecer ali estirada sobrea cama, sem ver ninguém e sem fazer nada, durante uma semana. Bom, feliz não. Isso era um exagero.Mas certamente se sentiria melhor, assim se alguém batesse na porta e...

Knock, knock, knock. Elizabeth ergueu a vista.

—Só por uma vez, —queixou-se em direção ao teto, —só por uma vez não poderia me concederum pequeno favor? —ficou de pé, deu um passo, e logo voltando a olhar para cima, suas feiçõesadquiriram uma expressão decididamente descontente. —No que se refere à concessão de favores,este teria sido diminuto.

Abriu a porta de repente. Susan estava no corredor com a mão levantada para golpear outra vez.Elizabeth não disse nada, sobretudo porque tinha a impressão de que não se sentiria orgulhosa de seutom de voz se o fizesse.

—Tem uma visita, — disse Susan.

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—Não quero vê-lo.

—Não é um homem.

O rosto de Elizabeth se desencaixou pela surpresa.

—Não?

—Não. —Susan lhe estendeu um cartão de visita. —Ela parece uma dama bastante agradável.

Elizabeth olhou para o cartão, notando distraidamente que parecia feito com o mais fino e carodos papéis.

"Sra Blake Ravenscroft."

—Deduzo que é a esposa do homem que conhecemos ontem? —perguntou Susan.

—Sim. Seu nome é Caroline. —Elizabeth passou uma mão pelo cabelo, que não havia prendidoainda. -—É uma pessoa muito agradável, mas realmente, não estou para visitas neste momento, e...

—Perdoa, —interrompeu-a Susan, —mas me parece que ela não partirá.

—Desculpa?

—Acredito que suas palavras exatas foram, "imagino que não terá vontade de receber visitas,mas estarei encantada de esperar até que mude de opinião." E então se sentou, tirou um livro...

—Deus querido, não será "Como casar-se com um Marquês", verdade?

—Não, era negro, e acredito que deve ser algum tipo de diário, porque começou a escrever nele.Mas como te dizia, —acrescentou Susan, —então elevou o olhar até mim e me disse, "Não precisapreocupar-se por mim. Posso me entreter sozinha."

—Disse isso?

Susan assentiu e deu de ombros.

—Assim não me preocupei. Parece totalmente feliz rabiscando em seu livro. Entretanto, pus umbule ao fogo, por não perder as boas maneiras.

—Não vai partir, verdade? Susan negou com a cabeça.

—Parece uma mulher muito obstinada. Não acredito que parta até que te veja. Não mesurpreenderia que houvesse trazido uma muda de roupa.

—Suponho que deveria arrumar o cabelo e descer, — disse Elizabeth com um suspiro. Susan seaproximou da pequena penteadeira de Elizabeth e agarrou a escova.

— Te ajudarei.

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Elizabeth supôs que era um estratagema para lhe surrupiar informação; Susan nunca se ofereceu alhe arrumar o cabelo antes. Mas a ouriçada escova resultava tão agradável sobre seu couro cabeludo,que Elizabeth decidiu deixar-se conduzir.

Era algo raro que alguém esperasse a ela.

Elizabeth contou as passadas da escova por seu cabelo antes que Susan começasse a lhe fazerperguntas. Uma passada, duas, três, quatro ah, Susan fez uma ligeira pausa antes da quinta, deviaestar preparando-se...

—Tem a visita da senhora Ravenscroft algo a ver com os acontecimentos de ontem à noite? —perguntou Susan.

Cinco passadas. Elizabeth estava impressionada. Nunca pensou que Susan duraria mais de três.

Susan passou a escova pelo cabelo da Elizabeth de novo.

—Lizzie? Ouviste-me?

—A verdade é que não sei a razão da visita da senhora Ravenscroft, —mentiu Elizabeth.

—Hmmph.

—Ow!

—Sinto muito.

—Me dê isso! —Elizabeth lhe arrebatou a escova. —E os grampos também. Não confio em tiquando tem objetos agudos.

Susan retrocedeu, cruzou os braços, e franziu o cenho.

—É difícil concentrar-se contigo me franzindo o cenho assim, —resmungou Elizabeth.

—Bem.

—Susan Mary Hotchkiss!

—Não me fale como se fosse minha mãe.

Elizabeth soltou um comprido e cansado suspiro, esfregando uma sobrancelha com a mão. Justoo que precisava essa manhã.

—Susan— disse tranquilamente, —contarei o que precise saber quando me vir capaz. Susan acontemplou durante vários segundos, aparentemente sopesando suas palavras.

—É a única coisa que te posso dizer, —acrescentou Elizabeth, cravando o último grampo em seupenteado. —Assim poderia ceder um pouco e tentar entender minha posição.

Susan assentiu, seus olhos obscurecendo-se com um pingo de contrição. Ficou a um lado quando

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Elizabeth saiu do quarto, e depois a seguiu escada abaixo.

Caroline estava sentada no sofá do salão, rabiscando em um livro encadernado em couro quandoElizabeth entrou. Ao ouvir o som de passos, Caroline ergueu a vista.

—Espero que não esteja muito surpresa de ver-me. Elizabeth sorriu ligeiramente.

—Não te esperava, mas agora que está aqui, não, não posso dizer que esteja surpresa. Carolinefechou seu livro.

—Blake me contou tudo.

—Sim, disse que o faria. Eu... —Elizabeth se deteve, girou o pescoço para olhar por cima de seuombro, e fulminou com o olhar a Susan, que vadiava na entrada. Susan se apressou a partir depois desemelhante olhar, mas Elizabeth, voltando-se de novo para sua convidada lhe disse, entretanto. —Gostaria de dar um passeio ao longo da vereda? Não posso antecipar a natureza de sua visita, mas sedesejas privacidade, sugiro-te encarecidamente que saiamos.

Caroline riu.

—Adoro as famílias. São tão fofoqueiras. —Ficou em pé, com uma mão nas costas. —Estousegura de que desejaria que a tua estivesse na Grécia agora ou mais longe! mas eu nunca tive umafamília com a que crescer, e posso te dizer que é encantador ter a alguém tão preocupado por ti que écapaz de escutar às escondidas.

—Suponho que depende do humor que se esteja, —concedeu Elizabeth. Caroline se acariciou oestômago.

—Isso é em parte a razão pela que penso com tanta ilusão neste menino. Não tenho uma famíliaem meu passado, assim criarei uma para o futuro.

Saíram pela porta de rua e passearam afastando-se da casa, Caroline ainda levava seu pequenolivro negro. Quando estavam fora da vista da casinha, Caroline se voltou para Elizabeth e disse.

—Espero que não se sinta insultada pelas ações de James quanto ao cheque.

—Não sei de que outra forma poderia me sentir.

Caroline a olhou como se tivesse uma sugestão, mas fechou a boca, sacudiu levemente a cabeça,e logo continuou em uma linha diferente.

—Possivelmente deu o cheque porque não quis que se sentisse obrigada a te casar contra seucoração.

Elizabeth não disse nada.

—Não conheço toda a história, —prosseguiu Caroline, —mas estive tentando juntar as peças que

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possuo o melhor possível, e acredito que sentiu que devia te casar bem para apoiar a sua família.

Elizabeth assentiu tristemente.

—Não temos nada. Mal posso alimentá-los.

—Estou segura de que James só quis te dar a liberdade de escolher a quem você quisesse.Talvez até para escolher a um humilde administrador.

A cabeça de Elizabeth girou velozmente para lhe enfrentar.

—Não— disse com voz baixa e tremente, —ele nunca quis isso.

—Não? Quando falou comigo antes da festa, parecia como se você e seu administradorestivessem chegando a um acordo.

Elizabeth mordeu o lábio inferior. Quando James simplesmente era o senhor Siddons, nuncamencionou o matrimônio, mas lhe jurou que encontrariam um modo de estar juntos. Elizabeth assumiuque suas palavras eram sinceras, mas como podia confiar em tais palavras quando sua própriaidentidade foi uma mentira?

Caroline clareou a garganta.

—Não acredito que deva aceitar a caridade de James.

—Então entende como me sinto.

—Acredito que deveria te casar com ele.

—Deixou-me em ridículo, Caroline.

—Não acredito que fosse essa sua intenção.

—Pois certamente foi o resultado.

—Por que acredita nisso? —E logo antes que Elizabeth pudesse responder, Carolineacrescentou. —Não acredito que seja uma tola. E sei que Blake tampouco acredita. E Jamescertamente.

—Podemos por favor, deixar de falar do James?

—Muito bem. Suponho que também podemos voltar para sua casa, então. —Caroline levou amão as costas e se esticou. —Parece ser que careço de minha energia habitual estes dias. —Estendeu-lhe seu livro e lhe pediu. —Importaria em segurar isto?

—Absolutamente. É um diário?

—Em certa maneira. É meu dicionário pessoal. Quando me encontro com uma nova palavra, eugosto de apontá-la, junto com sua definição. É obvio, então, devo usá-la em seu contexto, ou

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certamente a esquecerei.

—Que interessante, — murmurou Elizabeth. —Eu deveria tentá-lo. Caroline assentiu.

—Escrevi sobre ti ontem à noite.

—Fez?

Assentiu outra vez.

—Está aí mesmo, na última página. A última página em que tenho escrito, é obvio. Adiante. Nãome importa se lhe joga uma olhada.

Elizabeth folheou as páginas até que chegou à última entrada. Leu:

"In-exo-ra-vel (adjetivo). Implacável; inflexivel; tenaz. Temo que James se mostre inexorávelem sua busca da senhorita Hotchkiss."

—Eu também temo, —resmungou Elizabeth.

—Bem, "temo" era realmente só uma forma de falar, —apressou-se a explicar Caroline. —Evidentemente não temo. De fato, para ser completamente honesta, deveria ter escrito que esperavaque James se mostrasse inexorável.

Elizabeth olhou a sua nova amiga e lutou contra o impulso de gemer.

—Talvez devêssemos voltar para casa.

—Muito bem, mas se posso fazer uma última observação...

—Se tiver que ver com James, preferiria que não a fizesse.

—Pois sim, mas prometo que é a última. Verás... —Caroline fez uma pausa para esfregar oqueixo, sorriu envergonhada, e logo disse, —faço isto quando tomo um momento.

Elizabeth fez um gesto com a mão para a casa, e começaram a andar.

—Estou segura de que vais dizer que James é um homem totalmente encantador, e...

—Não, não ia dizer isso absolutamente, —interrompeu-a Caroline. —Ele é absolutamenteinsuportável, mas terá que confiar em mim quando te digo que é da melhor classe de homem.

—Da classe com a qual não se pode viver?

—Não, dos que não pode se viver sem eles. E se o ama...

—Não o amo.

—Sim o faz. Posso vê-lo em seus olhos.

—Não o amo.

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Caroline desfez seu protesto.

—Sim que o ama. Só que inclusive não te deste conta.

—Caroline!

—O que eu tentava te dizer é que embora James fez algo absolutamente horrível ao não terevelar sua verdadeira identidade, ele tinha seus motivos, e nenhum deles teve nada com te humilhar.É obvio, —acrescentou Caroline com uma inclinação de cabeça, —compreendo que é fácil para mimdizê-lo, já que não sou eu quem tomou lições para casar-se com um marquês de um marquês...

Elizabeth fez uma careta.

—Mas suas intenções eram honradas, estou segura. E uma vez que te passe o aborrecimento, umaborrecimento muito válido e com toda a razão do mundo —Caroline jogou uma olhada a Elizabethpara assegurar-se de que escutava esta parte. —Compreenderá que se sentirá miserável se nãoformar parte de sua vida.

Elizabeth tentou ignorar suas palavras, porque suspeitava que eram mais exatas do que teriagostado.

—Por não mencionar, —continuou Caroline alegremente, —que eu me sentiria muito triste se nãoformasse parte de minha vida. Não conheço muitas mulheres de minha idade além da irmã do Blake,e ela vive nas Antilhas com seu marido.

Elizabeth não pôde fazer menos que sorrir, mas se salvou de responder quando notou que a portada rua de sua casinha estava aberta. Voltou-se para Caroline e lhe perguntou.

—Não fechamos a porta quando saímos?

—Acredito que o fizemos. Então ouviram o golpe.

Seguido de um bramido reclamando o chá. Seguido de um uivo decididamente felino.

—Oh, não, —gemeu Elizabeth. —Lady Dambury.

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Capítulo 20

Lady Dambury raramente viajava sem seu gato. Malcolm, entretanto, tinha dificuldade paraapreciar os aspectos mais refinados da vida fora de Dambury House. Oh, ele fazia ocasionaisviagens aos estábulos, geralmente em busca de um gordo e enorme camundongo, mas tendo sidocriado entre a nobreza, evidentemente se considerava um deles, e não desfrutava sendo arrastado àforça para longe de seus cômodos domínios.

Para fascinação de Lucas e Jane, Malcolm decidiu expressar sua ira com um lúgubre e acusadormiado. Repetia-o em intervalos de dois segundos, com uma regularidade que teria resultadoimpressionante se o som não fosse tão monstruosamente molesto.

—Miaaaaaau,—gemeu Malcom.

—O que é esse som? —perguntou Caroline. POMM!

—O miado ou o golpe? —Elizabeth retornou, deixando cair a cabeça entre as mãos. —O miado.

—Ambos.

POMM!

Elizabeth esperou o seguinte —Miaaaau—do Malcolm, e respondeu, —É o gato de LadyDambury, e —POMM! —essa é Lady Dambury.

Antes que Caroline pudesse responder, ouviram outro som, o de uns pés que se apressavamcorrendo pela casa.

—Mas como, imagino,— disse Elizabeth com secura, —é minha irmã Susan, preparando o chápara Lady Dambury.

—Nunca conheci a Lady Dambury,— disse Caroline. Elizabeth a agarrou pelo braço e a arrastoupara fora. —Então está a ponto de te dar um espetáculo.

—Elizabeth! —A voz de Lady D retumbou da sala. —Ouvi-te! —Ouve tudo,—resmungouElizabeth.

—Também ouvi isso!

Elizabeth elevou as sobrancelhas e vocalizou em silêncio, —Vê?—em direção a Caroline.

Caroline abriu a boca, mas antes de dizer algo se deteve lançando um olhar de pânico para asala. Arrebatou seu caderno das mãos de Elizabeth, agarrou uma pluma do escritório do corredor, e

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rabiscou algo. Elizabeth olhou para baixo e leu:

Aterroriza-me.

Assentiu com a cabeça.

—Tem esse efeito na maioria das pessoas. —Elizabeth!

—Miaaaaaau.

Elizabeth sacudiu a cabeça.

—Não posso acreditar que trouxe seu gato. —Elizabeth!

—Acredito que deveria entrar e vê-la, — sussurrou Caroline.

Elizabeth suspirou, caminhando para a sala com o passo mais lento possível. Certamente LadyDambury teria uma opinião sobre os humilhantes acontecimentos de na tarde anterior, e seguro queElizabeth teria que permanecer imóvel enquanto os expunha. Seu único consolo era que arrastava aCaroline junto com ela.

—Esperarei aqui, — sussurrou Caroline.

—Oh, não, não o fará,—espetou-lhe Elizabeth. —Ouvi seu sermão. Agora vai escutar o seu. Aboca de Caroline se abriu de consternação.

—Vem comigo,— disse Elizabeth entre dentes, segurando com força o braço de Caroline, — nãofale mais.

—Mas...

—Bom dia, Lady Dambury,— disse Elizabeth, sorrindo com os dentes apertados quando colocoua cabeça na sala. —É uma surpresa.

—Onde estiveste? —exigiu Lady Dambury, removendo-se na gasta poltrona favorita deElizabeth. —estive esperando durante horas.

Elizabeth elevou uma sobrancelha.

—Só estive fora quinze minutos, Lady Dambury.

—Hmmph. Está mais descarada cada dia, Elizabeth Hotchkiss. —Sim— disse Elizabeth comuma ameaça de sorriso, —estou, verdade? —Hmmph. Onde está meu gato?

—Miaaaauuuuu!

Elizabeth olhou ao redor e viu cruzar o vestíbulo um brilho de pelagem castanha listrada,seguido de dois meninos que chiavam.

—Acredito que atualmente está ocupado, Lady Dambury.

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—Hmmph. Que moléstia de gato. Tratarei com ele mais tarde. Tenho que falar contigo, Elizabeth.

Elizabeth empurrou Caroline dentro da sala. —Conhece a senhora Ravenscroft, Lady Dambury?—A esposa do Blake, né?

Caroline assentiu.

—Bastante bom moço, suponho,—concedeu Lady D. —O amigo de meu sobrinho. Veio de visitaquando era menino.

—Sim,— respondeu Caroline. —Tinha-o aterrorizado. —Hmmph. Menino preparado. Vocêtambém deveria está-lo. —Oh, absolutamente.

Os olhos de Lady Dambury se entrecerraram. —Está zombando de mim?

—Como se ela se atrevesse,—interrompeu Elizabeth. —À única que não aterroriza é a mim,Lady Dambury.

—Bem, pois vou fazer minha melhor tentativa agora mesmo, Elizabeth Hotchkiss. Tenho quefalar contigo, e é urgente.

—Sim,— disse Elizabeth cautelosamente, sentando-se no ponta do sofá. —Isso eu temia. Vocênunca visitou nosso humilde lar antes.

Quando Lady Dambury clareou a garganta, Elizabeth exalou um comprido suspiro, esperando osermão que estava segura que ia receber. Lady Dambury tinha uma opinião sobre tudo, e Elizabethestava segura de que os acontecimentos da noite anterior não eram uma exceção. Já que James eraseu sobrinho, ela certamente ficaria de seu lado, e obrigaria a Elizabeth a suportar uma larga lista desuas muitas virtudes, ocasionalmente pontuada pela menção das virtudes de Lady Dambury.

—Você,— disse dramaticamente Lady D, assinalando com seu dedo em direção a Elizabeth, —não assistiu a meu baile a fantasia ontem à noite.

A mandíbula da Elizabeth desabou. —É isso sobre o que queria me falar?

—Estou muito desgostada. A ti — moveu seu dedo em direção a Caroline —vi-te. A abóbora,não? Uma fruta exótica.

—Acredito que é uma verdura,— murmurou Caroline.

—Tolices, é uma fruta. Se tiver sementes na polpa, é uma fruta. Onde aprendeu biologia, moça?

—É uma cabaça,—exclamou Elizabeth. —Podemos deixá-lo assim? Lady Dambury agitou a mãodesdenhosamente.

—Independentemente do que seja, não cresce na Inglaterra. Portanto não me serve para nada.

Elizabeth sentiu como começavam a afundar-se o os ombros. Lady Dambury era exaustiva. A

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condessa girou a cabeça para enfrentá-la.

—Não terminei contigo, Elizabeth. —Elizabeth teria gemido, mas antes de ter tempo de fazê-loLady D acrescentou bruscamente, —sente-se erguida.

Elizabeth se endireitou.

—Bem, agora,—seguiu Lady Dambury, —esforcei-me muito para te convencer de que assistissea minha festa. Consegui-te uma fantasia muito favorecedora, poderia acrescentar e me agradece issosem nem sequer apresentar seus respeitos na linha de recepção? Senti-me muito insultada. Muito...

—Miaaaauuuuu!

Lady Dambury elevou a vista bem a tempo de ver Lucas e Jane passar gritando pelo vestíbulo.

—O que eles estão fazendo a meu gato? —exigiu. Elizabeth estirou o pescoço.

—Não estou segura se eles perseguem o Malcolm ou se é ele quem os persegue. Caroline sereanimou.

—Estaria encantada de ir investigar.

Elizabeth deixou cair pesadamente uma de suas mãos sobre o braço de Caroline. —Por favor—,disse com muita doçura, —fique.

—Elizabeth,—ladrou Lady Dambury, —vais responder-me? Elizabeth piscou confusa.

—Havia-me feito uma pergunta? —Onde estava? por que não assistiu?

—Eu... Eu... —Elizabeth se agitou procurando as palavras. Não podia dizer a verdade —quetinha permanecido fora, sendo seduzida por seu sobrinho.

—Bem? Toc, toc, toc.

Elizabeth saiu do quarto como uma bala.

—Devo abrir a porta,—gritou por cima do ombro.

—Não escapará de mim, Lizzie Hotchkiss! —ouviu que gritava Lady Dambury. Tambémacreditou ouvir murmurar a Caroline a palavra —traidora—entre dentes, mas para então Elizabethestava já consumida pela preocupação de que pudesse ser James quem estava de pé ao outro lado dapesada porta de carvalho.

Suspirou. Se era assim, não havia nada que ela pudesse fazer a respeito. Abriu de repente aporta.

—Oh, bons dias, senhor Ravenscroft.— Vá, por que se sentia tão decepcionada?

—Senhorita Hotchkiss. —saudou-a ele, com uma inclinação de cabeça. —Está minha esposa

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aqui?

—Sim, no salão com Lady Dambury. Blake estremeceu.

—Possivelmente deveria voltar mais tarde....

—Blake? —ouviram como chamava Caroline, em tom bastante desesperado de voz. —É você?

Elizabeth deu uma cotovelada no Blake no braço. —Muito tarde.

Blake entrou arrastando os pés no salão, com a expressão de um moço de oito anos que acabassede ser repreendido por uma travessura que incluía uma rã e uma capa de travesseiro.

—Blake. —A voz de Caroline virtualmente cantava de alívio. —Lady Dambury,— murmurouele.

—Blake Ravenscroft! —exclamou Lady Dambury. —Não vi a você desde que tinha oito anos. —Estive me escondendo.

—Hmmph. Todos vocês se tornaram muito atrevidos a minha velhice. —E como está você estesdias? —perguntou Blake.

—Não trate de mudar de assunto,—advertiu-lhe Lady D.

Caroline girou para a Elizabeth e sussurrou, —É que há algum assunto?

A senhora Dambury entrecerrou os olhos e sacudiu um dedo em direção a Blake.

—Ainda não terminei que falar com você sobre a ocasião que pôs aquela rã na capa detravesseiro da pobre senhorita Bowater.

—Era uma instrutora espantosa,— respondeu Blake, —e além disso, foi tudo ideia do James. —Estou segura de que foi, mas você deveria ter tido a retidão moral — Lady Dambury se interrompeuabruptamente, e lançou um pouco característica olhar de pânico a Elizabeth, quem então recordou quesua patroa não sabia que ela já tinha descoberto a verdadeira identidade de James.

Elizabeth, não querendo converter isto em uma potencial fonte de conversação, voltou a cabeça eexaminou as unhas diligentemente. Depois de um momento, ela elevou a vista, piscou, com fingidasurpresa, e perguntou:

—Falava comigo?

—Não,— respondeu Lady D, com voz desconcertada. —Nem sequer mencionei seu nome. —OH,— disse Elizabeth, pensando que talvez teria exagerado o ato —não estava prestando atenção.

—Vi-a me olhar, e...

—Não importa,— disse rapidamente Lady Dambury. Voltou-se para Blake e abriu a boca,

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presumivelmente para seguir repreendendo-o, mas não saiu nenhum som.

Elizabeth mordeu o lábio para impedir de rir. A pobre Lady Dambury desejaria poder seguirrepreendendo a Blake durante aproximadamente as duas próximas décadas pela velha travessurainfantil, mas não podia, porque isto conduziria a mencionar James, sobre quem ela pensava queElizabeth não conhecia a verdade, e...

—Alguém gostaria de um chá? —Susan entrou na sala cambaleando sob o peso de umasobrecarregada bandeja com o jogo de chá.

—Justo o que necessitamos! —Lady Dambury parecia disposta a saltar de sua cadeira em suapressa por mudar de assunto.

Esta vez Elizabeth riu. Deus querido, quando tinha conseguido encontrar senso de humor nestefiasco?

—Elizabeth? — sussurrou Caroline. —Está rindo? —Não. Tusso.

Caroline murmurou algo baixinho que Elizabeth não compreendeu.

Susan deixou o jogo de chá sobre uma mesa de um seco golpe, e então foi interceptada por LadyDambury, quem aproximou sua cadeira de um puxão e anunciou, —Eu servirei.

Susan retrocedeu, tropeçando com o Blake, quem então se aproximou furtivamente a sua esposa elhe sussurrou, —O único que falta a esta encantadora cena é James.

—Remoa-a língua,—resmungou Elizabeth, sem desculpar-se por escutar às escondidas. —LadyDambury não sabe que Elizabeth sabe, — sussurrou Caroline.

—O que estão vocês três cochichando? —ladrou Lady D.

—Nada! —Teria sido difícil determinar quem do trio gritou a palavra mais forte.

O silêncio reinou enquanto Lady Dambury dava uma xícara de chá a Susan, então Blake seinclinou e sussurrou:

—ouvi bater na porta?

—Deixa de brincar,—repreendeu-lhe Caroline. —Era o gato,— disse Elizabeth firmemente. —Tem um gato? —perguntou Blake.

—É o gato de Lady Dambury.

—Onde está meu gato? —perguntou Lady D. —Ouve tudo,—resmungou Elizabeth. —Ouvi isso!

Elizabeth revirou os olhos.

—Parece de bom ânimo hoje,—comentou Blake.

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—É muito exaustivo sentir-se aturdido. Decidi voltar para meu anterior costume de ver o melhorde cada situação.

—Me alegro de ouvir isso,— murmurou Blake, —porque acabo de ver chegar ao James. —Oque? —Elizabeth foi voando a olhar pela janela. —Não o vejo.

—Já rodeou a casa.

—De que estão falando vocês três? —exigiu Lady Dambury. —Acreditei que havia dito queouvia tudo,—mencionou Caroline. Lady Dambury se voltou para a Susan e disse:

—Sua irmã tem aspecto de estar a ponto de sofrer um ataque de apoplexia. —Tem esse aspectodesde ontem a noite,— disse Susan.

Lady D ululou de risada.

—Eu gosto de sua irmã, Elizabeth. Se alguma vez te casar, quero-a como minha novaacompanhante.

—Não vou casar-me,— disse Elizabeth, mais por costume que por outra coisa.

O que fez com que ambos os Ravenscrofts dessem a volta para olhá-la com expressão duvidosa.

—Não vou fazer!

Foi então quando começaram a bater na porta principal. Blake elevou uma sobrancelha.

—E diz que não se casará,— murmurou ele.

—Elizabeth! —ladrou Lady Dambury. —Não deveria abrir a porta? —Tinha pensado ignorá-lo,—resmungou Elizabeth.

Lucas e Jane escolheram esse momento para aparecer na porta do salão. —Quer que eu abra aporta? —perguntou Jane.

—Acredito que perdi o gato de Lady Dambury,—acrescentou Lucas. Lady D deixou cair suaxícara de chá.

—Onde está meu pobre Malcolm?

—Bom, entrou correndo na cozinha, e logo saiu para o jardim, e então correu para trás daplantação de nabos, e...

—Poderia ir valsando até a porta,—acrescentou Jane. —Tenho que praticar. —Malcolm! —uivou Lady D. —Aqui, gatinho, gatinho!

Elizabeth girou para franzir o cenho a Caroline e Blake, que tremia de incontrolável risadasilenciosa.

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Lucas disse:

—Não acredito que vá lhe ouvir daqui, Lady Dambury.

Os golpes à porta principal soaram mais forte. Pelo visto Jane tinha decidido dar umas voltas devalsa antes de chegar à porta da rua.

E então James começou a bramar o nome de Elizabeth, seguido de um irritado: —Abram estaporta imediatamente!

Elizabeth se afundou em uma banqueta estofada, lutando contra o absurdo impulso de rir. Se atemperatura do quarto subisse só alguns graus mais, ela juraria que estava no inferno.

James Sidwell, Marquês de Riverdale, não estava de bom humor. Seu temperamento não podiaser qualificado nem sequer como passavelmente cortês. Esteve subindo pelas paredes toda a manhã,virtualmente encadeando-se a sua cama para impedir-se de ir ver Elizabeth.

Ele quis visitá-la a primeira hora, mas não, tanto Caroline como Blake tinham insistido que lhedesse um pouco de tempo. Estaria superexcitada, haviam dito. Melhor esperar até que suas emoçõesnão estivessem tão alteradas. Assim tinha esperado. Contra seu bom julgamento, e, mais importanteainda, contra seu caráter e seu instinto, tinha esperado. E logo, quando finalmente tinha ido àhabitação dos Ravenscrofts a lhes perguntar se acreditavam que já tinha esperado o bastante, tinhaencontrado uma nota de Caroline para o Blake, lhe explicando que ela partiu a casa dos Hotchkiss.

E depois tinha encontrado uma nota do Blake para ele, dizendo o mesmo.

E finalmente, para aumentar o insulto, quando tinha atravessado rapidamente pelo enormevestíbulo de Dambury House, o mordomo o tinha parado para mencionar que a condessa partiu a casados Hotchkiss.

A única maldita criatura que não tinha percorrido a milha que separava ambas as casas era omaldito gato.

—Elizabeth! —bramou James, esmurrando seu punho contra a porta surpreendentemente robusta.—me deixe entrar neste instante ou te juro que vou a...

A porta se abriu repentinamente. James olhou o vazio frente a ele, logo baixou o olhar várioscentímetros. A pequena Jane Hotchkiss estava de pé na entrada, olhando-o radiante.

—Bom dia, senhor Siddons,—piou, estendendo a mão. —Estou aprendendo a dançar a valsa.James aceitou a contra gosto o fato que ele não podia passar por diante de uma moça de nove anosignorando-a e viver com sua consciência.

—Senhorita Jane,—respondeu. —É encantador vê-la de novo. Ela meneou os dedos.

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James piscou.

Ela os meneou outra vez.

—Ah, certo,— disse ele, rapidamente, inclinando-se para beijar sua mão. Pelo visto uma vezque beijava a mão de uma menina, estava obrigado a repetir o gesto o resto de sua infância.

—Faz um dia estupendo, não acha? —perguntou Jane, assumindo seu acento mais adulto. —Sim,eu... —Suas palavras se atrasaram quando ele jogou uma olhada por cima do ombro dela, tratando devislumbrar o que causava tal escândalo no salão. Sua tia bramava sobre algo, Lucas gritava algomais, e logo saiu Susan apressadamente, escapulindo através do vestíbulo até a cozinha.

—Encontrei-o! —gritou Susan.

E então, para assombro de James, o obeso barril pequeno peludo apareceu trotando da cozinha,cruzou o vestíbulo, e entrou no salão.

Maldição. Inclusive o maldito gato tinha conseguido chegar aqui antes que ele. —Jane,— disse,com o que pensou que era uma paciência desmesurada, —realmente preciso falar com sua irmã. —Elizabeth?

Não, Susan.

—Sim, Elizabeth,— disse devagar.

—Oh. Está no salão. Mas devo lhe advertir —Jane inclinou a cabeça coquetemente —que estámuito ocupada. Tivemos muitos convidados esta tarde.

—Sei,—resmungou James, esperando que Jane se movesse de modo que não a atropelasse emseu caminho para o salão.

—Miauuu!

—Esse gato não é muito educado,— disse Jane delicadamente, sem mostrar nenhum indício demovimento agora que tinha um novo tema de conversação. —esteve gemendo assim todo o dia.

James notou que tinha as mãos apertadas em punhos impaciente.

—De verdade? —perguntou, tão cortesmente como foi capaz. Se usasse um tom de voz querefletisse como sentia realmente, a menina provavelmente sairia correndo.

E o caminho para o coração da Elizabeth não incluía, definitivamente, fazer chorar a sua irmãpequena.

Jane assentiu.

—É um gato horroroso.

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—Jane,— disse James, agachando-se para ficar a seu nível, —poderia falar com a Elizabethagora?

A menina se apartou.

—Certamente. Só tinha que perguntá-lo.

James resistiu o impulso de fazer algum comentário. Em troca, agradeceu a Jane, beijou sua mãode novo com grande mesura, e logo andou a passos longos até o salão, onde, para sua grandesurpresa e diversão, encontrou Elizabeth de quatro.

—Malcolm, — sussurrou Elizabeth, —sai debaixo desse móvel agora mesmo. Malcolm bufou.

—Agora mesmo, pequeno gato miserável.

—Não referirá a meu gato como pequeno miserável,—retumbou Lady Dambury.

Elizabeth estendeu a mão e tratou de agarrar a recalcitrante besta peluda. Esta respondeu lhemostrando as garras.

—Lady Dambury,—anunciou Elizabeth, sem levantar a cabeça, —este gato é um monstro. —Nãoseja ridícula. Malcolm é o gatinho mas perfeito do mundo, e sabe. —Malcolm,—resmungouElizabeth, —é um filho do demônio.

—Elizabeth Hotchkiss! —Certo.

—Apenas a semana passada disse que era um gato maravilhoso.

—A semana passada foi agradável comigo. Se não recordar mau, chamou-o traidor. LadyDambury bufou enquanto olhava a Elizabeth tratar de agarrar ao gato outra vez.

—Obviamente está sobressaltado porque aqueles meninos bestiais o perseguiam ao redor dacasa.

Isso era muito! Elizabeth ficou em pé, fixou um mortal olhar em direção a Lady Dambury, egrunhiu:

—Ninguém chama o Lucas e Jane bestas diante de mim!

O que seguiu não foi um completo silêncio. Blake ria audivelmente tampando a boca com a mão,e Lady Dambury jogava faíscas, fazendo estranhos ruídos gorjeantes, e piscando com tanta força queElizabeth poderia jurar que ouvia como movia as pálpebras.

Mas nada a tinha preparado para o som de uns lentos aplausos que vieram de detrás dela.Elizabeth girou devagar, para ficar frente à porta.

James. Ali parado, com um impressionado meio sorriso e uma sobrancelha arqueada. Ele moveua cabeça para sua tia, dizendo:

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—Não posso recordar a última vez que ouvi alguém te falar dessa forma, Tia.

—Exceto você! —replicou Lady D. Então, precaveu-se de que ele acabava de chamá-la “tia”, ecomeçou a jogar faíscas de novo, sacudindo a cabeça em direção a Elizabeth.

—Não passa nada,— disse James. —Ela sabe tudo. —Desde quando?

—Desde ontem à noite.

Lady Dambury se voltou para a Elizabeth e explodiu, —E não me disse?

—Você não perguntou!—Elizabeth se voltou para James e grunhiu, —Desde quando está aí depé?

—Vi-te avançar de quatro sob o móvel, se isso for ao que te refere.

Elizabeth lutou contra um gemido interior. Tinha pedido a Jane para entreter James, e tinhaesperado que pudesse mantê-lo entretido no vestíbulo ao menos até que ela tivesse conseguidodevolver o corpulento gato a Lady Dambury. Não queria que a primeira visão que tivesse James deladepois do fracasso da passada noite fosse seu traseiro.

Quando conseguisse pôr as mãos em cima desse gato...

—Por que—exigiu Lady Dambury em tom estridente, —não me informou ninguém da mudança daidentidade pública de James?

—Blake,— disse Caroline, puxando braço de seu marido, —este poderia ser um bom momentopara partir.

Ele sacudiu a cabeça.

—Não perderia isto por nada do mundo.

—Bem, pois vais ter que fazê-lo,— disse James energicamente. Cruzou o quarto e agarrou aElizabeth pela mão. —Todos vocês estão convidados a ficar e desfrutar de seu chá, mas Elizabeth eeu partimos.

—Espera um momento,—protestou ela, com uma frustrada tentativa de recuperar sua mão. —Não pode fazer isto.

Ele a olhou sem expressão. —Não posso fazer o que?

—Isto! —replicou ela. —Não tem nenhum direito sobre mim...

—Terei,— disse ele, dirigindo-a um sorriso cheio de confiança e muito masculina. —Máestratégia por sua parte, — sussurrou Caroline a Blake.

Elizabeth retorceu as mãos, tratando desesperadamente de conter sua cólera.

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—Esta é minha casa,— disse, com os dentes apertados. —Se alguém for convidar a minhasvisitas a ficar e desfrutar, serei eu. —Então faça,—replicou James.

—E não pode me ordenar que vá contigo.

—Não o fiz. Disse a sua coleção de convidados todos os quais, conjeturo, não foram convidadosque partíamos.

—Está estragando tudo, — sussurrou Caroline ao Blake. Elizabeth cruzou os braços.

—Não vou a nenhuma parte.

A expressão de James se tornou realmente ameaçadora.

—Se só tivesse pedido amavelmente... — sussurrou Caroline a Blake. —Blake,— disse James,—amordaça a sua esposa.

Blake riu, o que lhe fez ganhar um golpe no braço, bem doloroso, de sua esposa.

—E você,— disse James a Elizabeth. —aguentei tudo o que minha paciência me permite. Temosque falar. Podemos fazê-lo fora ou fazê-lo aqui, diante de minha tia, seus irmãos, e— assinalou como polegar para Caroline e Blake —estes dois.

Elizabeth tragou nervosamente, petrificada pela indecisão. James se inclinou mais perto.

—Você decide, Elizabeth.

Ela não fez nada, estranhamente incapaz de obrigar a sua boca a dizer uma palavra. —Muitobem, então,— explodiu James. —Eu decidirei por ti. —E sem mais preâmbulos, agarrou a Elizabethpela cintura, lançou-a sobre seu ombro, e a tirou da sala.

Blake, que esteve contemplando o drama que se desenvolvia ante seus olhos com um sorrisodivertido na rosto, girou para sua esposa e disse: —Realmente, querida, tenho que discordar devocê. Em geral, acredito que dirigiu a situação bastante bem.

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Capítulo 21

Enquanto James a levava para a porta da rua, ela se retorcia como uma enguia. Uma enguiafuriosa. Mas James fora modesto quando descrevera suas capacidades como boxeador; suaexperiência era bastante ampla, e tomou muito mais que umas poucas lições.

Quando estava em Londres, realizava excursões diárias ao Estabelecimento de Boxe do SenhorJackson, e quando estava fora de Londres, com frequência alarmava e divertia a seus criadossaltando elegantemente sobre um e outro pé e golpeando fardos de feno. Por conseguinte, seus braçostinham sólidos músculos, seu corpo era forte, e Elizabeth, apesar de todos seus retorcimentos, não iaa nenhuma parte.

—Coloque-me no chão! —gritou ela. Ele não se incomodou em responder.

—Milorde! — disse ela, em protesto.

—James, —explodiu ele, afastando-se da casa com longos e firmes passos.—Usaste meuprimeiro nome bastante frequentemente.

—Isso foi quando pensava que era o senhor Siddons, —replicou ela. —E me coloque no chão.

James seguiu andando, seu braço lhe rodeando as costelas como uma barra de aço.

—James! Ele grunhiu.

—Muito melhor.

Elizabeth se retorceu um pouco mais forte, obrigando-o a rodeá-la com o outro braço também.Ela se acalmou quase imediatamente.

—Finalmente te deste conta de que a fuga é impossível? —perguntou-lhe James suavemente.

Ela o olhou carrancuda.

—Interpretarei isso como um sim.

Finalmente, depois de outro minuto de silenciosa viagem, ele a colocou no chão perto de umaenorme árvore. As costas de Elizabeth estavam presas ao tronco, e seus pés ficaram encaixados entreas grossas e nodosas raízes. James permaneceu de pé diante dela, com pose calma e os braçoscruzados. Elizabeth o fulminou com o olhar e cruzou seus braços em correspondência. A colocarasobre a terra elevada que rodeava o tronco da árvore, assim a diferença entre suas estaturas não eratão grande como de costume. James trocou seu peso ligeiramente, mas não disse nada.

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Elizabeth elevou o queixo e apertou a mandíbula. James arqueou uma sobrancelha.

—Oh, pelo amor do céu! —exclamou Elizabeth. —Só diga o que quer dizer.

—Ontem, — disse ele, —pedi-te que casasse comigo. Ela tragou.

—Ontem recusei.

—E hoje?

Tinha na ponta da língua a resposta.

—Não me perguntou isso hoje, —mas as palavras morreram antes de sair de seus lábios. Esseera o tipo de comentário que ela poderia ter feito ao homem que conhecia como James Siddons. Estehomem o Marquês era alguém completamente diferente, e não tinha nem ideia de como agir frente aele. Não é que não estivesse familiarizada com as peculiaridades da nobreza; passou anos emcompanhia de Lady Dambury, depois de tudo.

Mas se sentia como se estivesse presa em alguma pequena e estranha farsa, e não conhecesse asregras. Toda sua vida lhe ensinaram como comportar-se; a toda moça inglesa decorosamente educadaensinavam tais coisas. Mas ninguém lhe dissera o que fazer quando alguém se apaixonava por umhomem que trocava de identidade com a mesma facilidade que outros trocavam de botas.

Depois de um longo minuto de silêncio, ela disse.

—Não deveria ter enviado aquele crédito. Ele fez uma careta.

—Chegou?

—Ontem à noite.

Ele jurou entre dentes, murmurando algo sobre a maldita inoportunidade. Elizabeth piscou paraafastar a umidade que se formava em seus olhos.

—Por que fez isso? Pensou que aceitaria caridade? Que era uma patética e indefesa...

—Pensei,—interrompeu-a, energicamente, —que era um crime que tivesse que te casar comalgum velho libidinoso com gota para manter a seus irmãos. Além disso, quase me rompe o coraçãover-te fazer todo o possível para tentar cumprir com a ideia da senhora Seeton de feminilidade.

—Não quero sua compaixão, — disse ela em voz baixa.

—Não é compaixão, Elizabeth. Você não necessita esses malditos decretos. A única coisa queeles fizeram foi sufocar seu espírito. —Passou uma cansada mão pelo cabelo. —Não podia suportarque perdesse essa faísca que te faz tão especial. Esse fogo repousado em seus olhos ou seu sorrisomisterioso quando algo te diverte, ela teria apagado isso de ti, e eu não podia consenti-lo.

Ela tragou, incômoda pela amabilidade de suas palavras.

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Ele se aproximou, reduzindo pela metade a distância entre eles.

—O que fiz, foi por amizade.

—Então por que o segredo? — sussurrou ela. Elevou as sobrancelhas olhando-a duvidoso.

—Está-me dizendo que teria aceito o dinheiro? —Esperou só um segundo antes de adicionar. —Pensei que não. Além disso, ainda se supunha que eu era James Siddons. De onde ia tirar um simplesadministrador tanto dinheiro?

—James, tem a mínima ideia de quão degradada me senti ontem à noite? Quando cheguei emcasa, depois de tudo o que aconteceu, para encontrar uma Carta de crédito anônima?

—E como, — respondeu ele. —Como te sentiria se tivesse chegado dois dias antes? antes quesoubesse quem era eu em realidade. Antes que tivesse alguma razão para suspeitar que eu poderia tê-lo enviado?

Ela mordeu o lábio. Provavelmente teria suspeitado, mas também ficado alegre. E certamenteteria aceitado o presente. O orgulho era o orgulho, mas seus irmãos precisavam comer. E Lucasprecisava ir à escola. E se aceitasse a oferta de James...

—Tem a mínima ideia de quão egoísta é? —exigiu ele, interrompendo, graças a Deus, seuspensamentos, que a conduziam em uma direção muito perigosa.

—Não te atreva, —replicou ela, com voz tremente de raiva. —Não te atreva a me chamar isso.Aceitarei outros insultos possivelmente verdadeiros, mas esse não.

—Por quê? Por que passaste os últimos cinco anos trabalhando como uma escrava para o bem-estar de sua família? Por que lhes deste tudo e não tomaste nada para ti? Sua voz era zombadora, eElizabeth se sentia muito furiosa para responder.

—Oh, fez tudo isso, — disse ele, com grande crueldade, —mas à primeira verdadeirapossibilidade que tem de melhorar realmente sua situação, a única oportunidade de acabar com suaspreocupações e lhes dar a vida que sei que pensa que merecem, a rechaça.

—Tenho meu orgulho, —grunhiu ela. James riu asperamente.

—Sim, tem. E está bastante claro que o valoriza mais do que valoriza o bem-estar de sua família.

Ela levantou uma mão para esbofeteá-lo, mas ele a agarrou facilmente.

—Mesmo se não te casasse comigo, — disse ele, tentando ignorar o espasmo de dor que essasimples frase causou em seu peito. —Mesmo que não te casasse comigo, poderia ter aceito odinheiro e me ter jogado de sua vida.

Ela sacudiu sua cabeça.

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—Teria muito controle sobre mim.

—Como? O dinheiro seria teu. Um crédito. Não teria modo algum de me lançar atrás.

—Teria me castigado por aceitá-lo, — sussurrou ela. —Por aceitá-lo e não me casar contigo.Ele sentiu que algo morria em seu coração.

—Esse é o tipo de homem que acredita que sou?

—Não sei que tipo de homem é! —exclamou ela. —Como poderia sabê-lo? Nem sequer seiquem é.

—Tudo o que precisa saber sobre o tipo de homem que sou e o marido que seria, já o conhece.—Roçou sua face, permitindo que cada emoção, até o último grama de seu amor, saísse à superfície.Tinha despido sua alma frente a seus olhos, e sabia. —Conhece-me melhor que ninguém, Elizabeth.

Viu sua vacilação, e naquele instante, odiou-a por isso. Lhe devotara tudo, cada fragmento de seucoração, e a única coisa que fazia era vacilar! Lançou uma maldição e girou para partir. Mal deradois passos quando ouviu Elizabeth chamá-lo.

—Espera! Devagar, virou-se.

—Me casarei contigo, — murmurou ela. Seus olhos se entrecerraram.

—Por quê?

—Por quê? —repetiu ela, sendo deliberadamente obtusa. —Por quê?

—Rechaçaste-me repetidamente durante dois dias, —indicou ele. —Por que esta mudança deopinião?

Os lábios de Elizabeth se separaram, e ela sentiu que a garganta lhe fechava pelo pânico. Nãoconseguia dizer uma palavra, nem sequer podia formar um pensamento. De todas as coisas, a últimacoisa que esperava era que a interrogasse sobre os motivos de sua aceitação. Ele se aproximou, ocalor e a força de seu corpo a afligiram, embora não fez nenhum movimento para tocá-la. Elizabethencontrou-se esmagada contra a árvore e sem fôlego quando elevou o olhar a seus olhos escuros, quebrilhavam com cólera.

—Você... você me pediu isso, —conseguiu logo o que dizer. —Você me pediu isso e digo quesim. Não é isso o que queria?

Ele negou devagar com a cabeça e apoiou suas mãos contra a árvore, a ambos os lados de suacabeça.

—Me diga por que aceitaste. —Elizabeth tentou afundar-se mais profundamente contra o troncoda árvore. Algo em sua calma e mortífera resolução a aterrorizou. Se estivesse gritando, ou

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repreendendo-a, ou qualquer outra coisa, saberia o que fazer. Mas esta fúria tranquila acovardava, ea rodeada prisão constituída por seus braços contra a árvore fez que lhe ardesse o sangue nas veias.

Ela sentiu que seus olhos exageravam, e sabia que a expressão que ele veria ali a assinalariacomo uma covarde.

—Você me deu algumas ideias muito boas, — disse, tentando aferrar-se a seu orgulho umaemoção que ele a acusou de permitir-se muito. — Eu... eu não posso dar a meus irmãos a vida quemerecem, e você sim, posto que ia ter que me casar, de todo modo, bem poderia ser com alguémque...

—Esquece-o, —cuspiu ele. —A oferta fica rescindida.

O fôlego abandonou seu corpo em uma curta e violenta exalação.

—Rescindido?

—Não te terei dessa forma.

Lhe afrouxaram os joelhos, e se agarrou ao amplo tronco da árvore atrás dela para apoiar-se.

—Não o entendo, — sussurrou.

—Não me casarei por meu dinheiro, —jurou ele solenemente.

—Oh! —exclamou ela, sentindo renascer sua energia e seu ultraje. —Quem é o hipócrita agora?Primeiro me dá aulas particulares para que possa me casar com algum outro pobre e crédulo tolo porseu dinheiro, depois me repreende por não usar seu dinheiro para manter a meus irmãos. E agora...agora tem o descaramento de rescindir sua oferta de matrimônio um ato muito descortês de sua parte,poderia acrescentar porque fui o suficientemente honesta para admitir que necessito de sua riqueza esua posição para minha família. O qual —exclamou mordendo as palavras, —é exatamente o que temusado como argumento para tentar conseguir que me case contigo em primeiro lugar!

—Terminaste? —perguntou ele, com voz insolente.

—Não, —replicou ela. Estava zangada e doída, e quis que ele sofresse também. —Vais acabar tecasando por seu dinheiro finalmente. Não é assim como funcionam as coisas em seu mundo?

—Sim, — disse ele, com calma glacial, —provavelmente sempre estive destinado a ummatrimônio de conveniência. Foi o que meus pais tiveram, e meus avós, e meus tataravós antes deles.Poderia tolerar um matrimônio frio, apoiado no dinheiro. Fui criado para isso. —Inclinou-se até queseus lábios ficaram a um milímetro dos dela. —Mas não poderia tolerar algo assim contigo.

—Por que não? — sussurrou ela, incapaz de afastar os olhos dos dele.

—Porque nós temos isto.

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Ele se moveu rapidamente, rodeando com sua mão a parte posterior de sua cabeça enquanto seuslábios encontravam os dela. No último segundo coerente antes que ele a esmagasse contra seu corpo,Elizabeth pensou que este seria um beijo de castigo, um abraço furioso. Mas embora seus braços asustentassem fortemente contra ele, sua boca se moveu contra a sua perturbadoramente, derretendo-acom suavidade. Era a classe de beijo pela qual uma mulher morreria, um beijo ao que alguém nãoporia fim nem que as chamas do inferno lhe estivessem lambendo os calcanhares. Elizabeth sentiuque suas vísceras se contraíam, e seus braços se liberaram da firme sujeição do James para enroscar-se ao redor de seu corpo. Acariciou seus braços, seus ombros, seu pescoço, para finalmente enredaras mãos em seu grosso cabelo.

James sussurrou palavras de amor e desejo através de sua face, até que alcançou sua orelha.Mordiscou o lóbulo, murmurando sua satisfação quando a cabeça de Elizabeth caiu para trás,revelando o longo e elegante arco de seu pescoço. Havia algo no pescoço de uma mulher, no modoque o cabelo dava passagem à suavidade da pele, que nunca deixava de acendê-lo.

Mas esta, além disso, era Elizabeth, era especial, e James estava completamente perdido. Seucabelo era tão loiro que parecia quase invisível onde se encontrava com sua pele. E o aroma dela oatormentava, uma mescla suave de sabão e rosas, e algo mais, algo que era único dela.

Arrastou sua boca para baixo por seu pescoço, detendo-se para render homenagem à delicadalinha de sua clavícula. Os botões superiores de seu vestido foram desabotoados; ele não tinhalembrança alguma de tê-los aberto, mas o fez, e se deleitou na pequena parte de pele que ficouexposta. Ouvia sua respiração, sentia-a sussurrar através de seu cabelo quando se moveu para dianteaté beijar a parte oculta de seu queixo. Ela ofegava agora, gemendo entre suspiros, e o corpo doJames se esticou ainda mais ante a evidência de seu desejo.

Ela o desejava. Desejava-o mais do que acreditava e entendia, mas ele sabia a verdade. Era algoque ela não podia ocultar.

A contra gosto, separou-se, obrigando-se a pôr um passo de distância entre eles embora suasmãos descansassem sobre seus ombros. Ambos tremiam, respirando com força, e ainda precisavamapoiar-se um no outro.

James não estava seguro de poder confiar em seu próprio equilíbrio, e ela não parecia muitomelhor. Seus olhos se arrastaram sobre ela, tomando nota de cada polegada de sua desarrumação.Seu cabelo escapara dos limites de sua touca, e cada fio parecia tentá-lo, pedindo ser desenhado porseus lábios. Seu corpo se converteu em um nó de tensão, e lhe custou cada grama do autocontrole quepossuía não estreitá-la contra ele.

Queria lhe arrancar a roupa do corpo, tombá-la sobre a suave erva, e reclamá-la como sua do

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modo mais primitivo possível. E logo, quando o tivesse feito, quando não ficasse dúvida alguma deque lhe pertencia completa e irrevogavelmente, queria fazê-lo de novo, esta vez devagar, explorandocada centímetro dela com suas mãos, e depois com seus lábios, e então, quando ela estivesse ardendoe arqueando-se de necessidade.

Retirou de repente as mãos de seus ombros. Não podia tocá-la quando sua mente entrava emterritório tão perigoso.

Elizabeth se deixou cair contra a árvore, levantando seus enormes olhos azuis para encontrar osdele. Sua língua umedeceu seus lábios, e James sentiu esse pequeno gesto diretamente em sua virilha.Afastou-se outro passo. Com cada movimento que ela fazia, com cada diminuto fôlego que exalava,mal audível, ele perdia outro fragmento de autocontrole. Não confiava em suas mãos; formigavampor estirar-se e pegá-la.

—Quando admitir que é isto pelo que me quer,— disse mordendo as palavras, com voz ardente eintensa, —então me casarei contigo.

Dois dias mais tarde, a lembrança daquele último beijo ainda fazia que Elizabeth seestremecesse. Ficou apoiada na árvore, aturdida e atordoada, e o olhou afastar-se. Então ficaraimóvel no mesmo lugar durante outros dez minutos, seus olhos fixos no horizonte, olhando semexpressão o último ponto onde o vira. E logo, quando sua mente finalmente despertara da apaixonadacomoção de seu contato, ela se deixou cair e chorou.

Mentira quando lutou para convencê-lo de que só queria casar-se com ele porque era ummarquês rico. Era irônico, em realidade. Passou o mês anterior resignando-se ao destino de casar-sepor dinheiro e não por amor; e agora estava apaixonada, e ele era o bastante rico para dar a suafamília uma vida melhor, mas tudo estava errado.

Ela o amava.

Ou melhor, amava a um homem que tinha o mesmo aspecto. Elizabeth não acreditava o que LadyDambury e os Ravenscroft lhe disseram; o humilde James Siddons não podia ser, interiormente, omesmo homem que o elevado Marquês de Riverdale. Simplesmente não era possível. Cada um tinhaseu lugar na sociedade britânica; isto era algo que as pessoas aprendiam desde pequenas, sobretudopessoas como Elizabeth, filha da nobreza menor que pertencia ao extremo mais afastado da altasociedade. Parecia como se pudesse solucionar todos seus problemas indo e lhe dizendo que oqueria, embora não por seu dinheiro. Estaria casada com o homem que amava, e disporia de amplosrecursos para cuidar de sua família.

Mas não podia sacudir a fastidiosa suspeita de que, em realidade, não o conhecia.

Sua veia pragmática lhe recordou que provavelmente não conheceria nenhum homem com quem

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decidisse casar-se, ou ao menos não o conheceria bem. Os homens e as mulheres raramente levavamo noivado mais à frente do nível superficial. Mas com o James, era diferente. Ele disse que nãopodia suportar uma união de conveniência com ela, mas Elizabeth não acreditava que ela pudessesuportar uma união sem confiança. Talvez com outro, mas não com ele.

Elizabeth fechou com força os olhos e se deixou cair de costas na cama. Passou a maior partedos dois dias anteriores escondida em seu quarto. Depois de umas quantas tentativas, seus irmãosdesistiram de tentar falar com ela e se limitaram a deixar bandejas com comida à porta de seu quarto.Susan preparou todos os pratos favoritos de Elizabeth, mas a maior parte do alimento ficou sem sertocado. A angústia, pelo visto, não era boa para abrir o apetite.

Uma batida soou hesitante na porta, e Elizabeth girou a cabeça para olhar pela janela. A julgarpela posição do sol, devia ser a hora do jantar. Se ela ignorasse, simplesmente deixariam a bandeja epartiriam. Mas os golpes persistiram, assim Elizabeth suspirou e se obrigou a levantar.

Cruzou o pequeno quarto em três passos e abriu a porta de repente, encontrando-se com os trêsHotchkis mais jovens.

—Isto chegou para ti,— disse Susan, lhe estendendo um envelope creme. —É de Lady Dambury.Quer ver-te.

Elizabeth arqueou uma sobrancelha.

—Tem lido minha correspondência?

—Claro que não! O lacaio que ela enviou me disse.

—É certo, —interpôs Jane. —Eu estava lá.

Elizabeth estendeu a mão e o pegou. Olhou a seus irmãos. Eles lhe devolveram o olhar.

—Não vais ler? — disse Lucas, finalmente.

Jane deu em seu irmão uma cotovelada nas costelas.

—Lucas, não seja grosseiro. —Jogou uma olhada a Elizabeth. —Não vais fazê-lo?

—Agora quem é o grosseiro? — respondeu Elizabeth.

—Poderia abri-lo, — disse Susan. —Ao menos, afastará sua mente.

—Não diga, —advertiu-lhe Elizabeth.

—Bem, certamente não pode te derrubar na autocompaixão para sempre. Elizabeth fez um somchiado por cima de um suspiro.

—Não tenho direito a fazê-lo ao menos um ou dois dias?

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—Certamente,— disse Susan, conciliadoramente.—Mas mesmo assim está acabando o tempo.

Elizabeth gemeu e abriu o envelope. Perguntou-se quanto saberiam seus irmãos de sua situação.Ela não lhes dissera nada, mas se convertiam em pequenos furões quando se tratava de descobrirsegredos, e apostaria que conheciam mais da metade da história no momento.

—Não vais terminar de abri-la? —perguntou Lucas, com excitação. Elizabeth elevou assobrancelhas e olhou a seu irmão. Quase saltava.

—Não posso imaginar por que está tão excitado por ouvir o que Lady Dambury tem a dizer, —disse.

—Eu tampouco posso imaginar—grunhiu Susan, deixando cair de repente uma mão sobre oombro do Lucas para mantê-lo quieto.

Elizabeth sacudiu a cabeça. Se os Hotchkis discutiam, então a vida voltava para a normalidade, eisso devia ser algo bom. Sem fazer caso dos grunhidos de protesto que Lucas fazia ao ser maltratadopor sua irmã, Elizabeth tirou o papel do envelope e o desdobrou. Levou apenas uns segundos para leras linhas, e um surpreso.

—Vá —escapou de seus lábios.

—Acontece algo errado? —perguntou Susan. Elizabeth sacudiu a cabeça.

—Não exatamente. Mas Lady Dambury quer que vá vê-la.

—Acreditei que já não trabalhava para ela, — disse Jane.

—E não o faço, embora imagine que terei que engolir o orgulho e voltar a lhe pedir que mecontrate. Não vejo, se não, como vamos ter dinheiro suficiente para comer.

Quando Elizabeth elevou a vista, os três Hotchkiss mais jovens mordiam seus lábios inferiores,obviamente morrendo por dizer que (A) Elizabeth poderia ter se casado com o James, ou (B) poderiater aceito ao menos a carta de crédito em vez de rasgá-la em quatro pulcros pedaços.

Elizabeth se apoiou sobre suas mãos e joelhos para tirar suas botas de debaixo da cama, onde asjogou de um chute no dia anterior. Encontrou sua bolsa ao lado delas, e a agarrou rapidamente,também.

—Vai agora mesmo? —perguntou Jane.

Elizabeth assentiu enquanto se sentava sobre a manta que cobria sua cama para calçar as botas.

—Não me esperem, — disse. —Não sei quanto demorarei. Imagino que Lady Dambury fará queuma carruagem me traga para casa.

—Poderia inclusive passar a noite, — disse Lucas. Jane lhe pegou forte no ombro.

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—Por que ia fazer isso?

—Fica mais fácil se estiver escuro, e... —ele retornou com um olhar.

—De qualquer forma, — disse Elizabeth em voz alta, achando a conversa estranha, —não devemme esperar.

—Não o faremos, —assegurou-lhe Susan, agarrando ao Lucas e a Jane e tirando-os da frentequando Elizabeth saiu ao corredor. Olharam-na descer as escadas velozmente e abrir de repente aporta da rua. —Divirta-se! —gritou-lhe Susan.

Elizabeth lhe lançou um olhar sarcástico por cima do ombro.

—Estou segura de que não, mas lhe agradeço isso.

Fechou a porta atrás de si, deixando a Susan, Jane, e Lucas de pé no alto da escada.

—Oh, pode ser que te surpreenda, Elizabeth Hotchkiss, — disse Susan com um sorriso. — Podeser que te surpreenda.

Os últimos dias não figurariam entre os melhores de James Sidwell. Qualificar seu humor comode cão, seria uma enorme subestimação, e os criados de Lady Dambury começaram a tomar rotastortuosas pela casa só para evitá-lo.

Sua primeira inclinação foi pegar uma boa bebedeira, mas já fizera isso uma vez, a noite queElizabeth descobrira sua verdadeira identidade, e tudo o que isto lhe reportara foi uma ressacaabrasadora. Assim o copo de uísque que se serviu quando retornara de sua visita à casa de Elizabethainda estava sobre a escrivaninha da biblioteca, só lhe dera um par de goles. Geralmente, os bemtreinados criados de sua tia teriam retirado o copo meio cheio; nada transtornava tanto suasensibilidade como um copo usado posto diretamente sobre uma polida mesa. Mas a feroz respostade James a primeira vez que alguém se atreveu a bater na porta fechada da biblioteca assegurou seuisolamento, e agora, seu refúgio, e seu copo de uísque, eram todo deles.

Estava, é obvio, derrubando-se na autocompaixão, mas lhe pareceu que um homem mereciapoder ter um ou dois dias de comportamento antissocial depois do que passou. Teria sido mais fácilse pudesse ter se decidido com quem estava mais furioso: com Elizabeth ou com ele.

Agarrou o copo de uísque pela centésima vez nesse dia, olhou-o, e o voltou a deixar sobre amesa. No outro lado da sala, "Como casar-se com um Marquês" estava posado sobre sua prateleira,com sua lombada de couro vermelho desafiando-o silenciosamente a lhe jogar uma olhada mais.James fulminou com o olhar ao livro, mal suprimindo o impulso de lhe lançar o uísque.

Era uma ideia... se o empapasse com o uísque, e depois o aproximasse da lareira... o infernoresultante seria dos mais satisfatórios. Estava, de fato, considerando a ideia, tentando calibrar quão

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altas seriam as chamas resultantes, quando soou um murro na porta, este muito mais poderoso que asdébeis tentativas dos criados.

—James! Abre esta porta imediatamente.

Gemeu. Tia Agatha. Ficou em pé e cruzou a sala até a porta. Bem podia acabar com isto.Conhecia aquele tom de voz; esmurraria a porta até que lhe sangrasse o punho.

—Agatha, —ele disse muito docemente, —que encantador ver-te.

—Tem um aspecto infernal, —ladrou ela, e logo o empurrou para instalar-se em uma daspoltronas da biblioteca.

—Sempre tão discreta, — murmurou ele, apoiando-se contra uma mesa.

—Estas bêbado?

Ele negou com a cabeça e fez gestos para o uísque.

—Servi um copo, mas não o toquei. —Baixou o olhar ao líquido ambarino.—Hmmm. Asuperfície começa a ficar poeirenta.

—Não vim aqui discutir sobre bebidas alcoólicas, — disse Agatha arrogantemente.

—Perguntaste por minha sobriedade, —indicou ele. Ela não fez caso de seu comentário.

—Não percebi que te fez amigo do jovem Lucas Hotchkiss.

James piscou e se ergueu. De todos os assuntos ilógicos que sua tia poderia ter escolhido, e elaera uma mestra em mudar de assunto sem advertência prévia, ele certamente nunca esperou este.

—Lucas? —repetiu. —O que acontece ao Lucas?

Lady Dambury lhe estendeu um pedaço dobrado de papel.

—Ele te enviou esta carta.

James pegou, notando a caligrafia infantil do papel.

—Suponho que o tem lido, — disse.

—Não estava selado.

James decidiu não insistir no assunto e desdobrou a nota.

—Que estranho, — murmurou.

—Que queira ver-te? Não acredito que isso seja estranho absolutamente. O pobre moço não teveum homem em sua vida desde que tinha três anos e seu pai morreu naquele acidente de caça.

James ergueu a vista bruscamente. Pelo visto a estratégia de Elizabeth funcionou. Se Agatha não

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conseguiu descobrir a verdade sobre a morte do senhor Hotchkiss, então o segredo estava a salvo.

—Provavelmente queira te perguntar algo,—seguiu Agatha. —Algo que lhe dá muita vergonhaperguntar a suas irmãs. Os meninos são assim. E estou segura de que está confuso sobre o queaconteceu estes últimos dias. —James a olhou com olhos curiosos. Sua tia mostrava uma notávelsensibilidade frente à difícil situação do pequeno moço. E então Agatha disse, suavemente. —Recorda a ti quando tinha a mesma idade.

James conteve a respiração.

—Oh, não pareça tão surpreso. Ele é, certamente, muito mais feliz do que você foi então. —agachou-se e recolheu a seu gato, que tinha deslizado no quarto. —Mas tem essa expressão perdidaque põem os moços quando alcançam uma certa idade e não têm um homem perto para orientá-los. —Acariciou a grossa pele do Malcolm. —Nós as mulheres somos, é obvio, extremamente capazes e,além disso, muito mais sábias que os homens. Mas devo confessar que há algumas coisas que nãopodemos fazer.

Enquanto James digeria o fato de que sua tia confessara que existia uma tarefa além de suascapacidades, ela acrescentou.

—Irás vê-lo, verdade?

James se sentiu insultado que tivesse que perguntá-lo. Só um monstro insensível não faria casode tal pedido.

—Certamente que vou vê-lo. Embora sinta bastante curiosidade, entretanto, sobre sua escolha delugar de encontro.

—O pavilhão de caça de Lorde Dambury? —Agatha deu de ombros. —Não é tão estranho comoacredita. Depois que ele morreu, ninguém o usou. Cedric não é aficionado à caça, e já que nuncadeixa Londres, de todo modo, o ofereci a Elizabeth. Ela não aceitou, é obvio.

—É obvio, —James murmurou.

—Oh, sei que a acredita muito orgulhosa, mas a verdade é que tem um contrato de arrendamentode cinco anos de sua casinha, assim que a mudança não lhe teria economizado nada de dinheiro. Enão quis perturbar a sua família.—Lady Dambury levantou o Malcolm de sua permanente posiçãosobre seu colo e lhe deixou beijar o nariz. —Não é o gatinho mais adorável?

—Depende de sua definição de "adorável", — disse James, mas só à nuca de sua tia. Devia aogato eterna gratidão por levá-lo junto à Elizabeth quando Fellport a atacara.

Lady D lhe franziu o cenho.

—Como dizia, Elizabeth se negou, mas acessou a mudar-se ali quando seu aluguel finalizasse,

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assim levou a toda a família para uma visita. O jovem Lucas estava encantado com o lugar. —Elafranziu o cenho pensativamente. —Creio que foi pelos troféus de caça. Os meninos jovens gostamdesse tipo de coisas.

James jogou uma olhada a um relógio que era usado como suporte de livros. Teria que partir emaproximadamente um quarto de hora se queria chegar pontual à reunião solicitada pelo Lucas.

Agatha bufou e ficou em pé, deixando o Malcolm sobre uma prateleira para livros vazio.

—Abandonarei a sua própria companhia, — disse, inclinando-se sobre sua bengala. —Direi aoscriados que não esperem para o jantar.

—Estou seguro de que isto não me levará muito tempo.

—A gente nunca sabe, e se está preocupado, poderia ter que passar algum tempo com ele. Alémdisso —fez uma pausa quando chegou à entrada e girou—não é como se tivesse adornado a mesacom sua ilustre presença estes últimos dias, de todo modo.

Uma cortante réplica danificaria sua magnífica saída, assim James só sorriu ironicamente e aolhou cruzar devagar o vestíbulo, sua bengala golpeando suavemente ao compasso de seus passos.Aprendera a muito tempo que todos eram mais felizes se Agatha conseguisse ter a última palavra aomenos na metade das vezes.

James voltou devagar para a biblioteca, recolheu o copo de uísque, e atirou o conteúdo pelajanela aberta. Deixando de novo o copo sobre a mesa, ele jogou uma olhada ao redor da sala, e seusolhos recaíram sobre o pequeno livro vermelho que esteve atormentando-o durante dias.

Andou a passos longos até a prateleira e o agarrou, passando o fino volume de uma mão a outra.Não pesava quase nada, o que pareceu irônico, dado o muito que mudou sua vida. E então, em umadecisão repentina que jamais entenderia, introduziu-o no bolso de sua jaqueta. Apesar do muito quedetestava o livro, de algum jeito o fazia sentir-se mais próximo a ela.

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Capítulo 22

Enquanto Elizabeth se aproximava do pavilhão de caça do anterior Lorde Dambury, mordianervosamente o lábio inferior, e fez uma pausa para reler a inesperada missiva de Lady Dambury.

Elizabeth,

Como sabe, chantageiam-me. Acredito que você poderia ter informação para desmascarar aobandido que me escolheu como seu objetivo. Por favor, encontre-se comigo no pavilhão de caça deLorde Dambury às oito desta tarde.

Tua,

Agatha, Lady Dambury

Elizabeth não fazia ideia de por que Lady Dambury pensava que ela possuía informaçãopertinente, mas tampouco tinha nenhuma razão para recear da autenticidade da nota. Ela conhecia aletra de Lady D tão bem como a sua, e esta não era nenhuma falsificação.

Propositalmente não compartilhou o conteúdo da nota com seus irmãos menores, preferindo lhesdizer que Lady Dambury precisava vê-la e deixá-lo assim. Eles não sabiam nada do complô dechantagem, e Elizabeth não desejou preocupá-los, sobretudo já que a Senhora D quis encontrar-secom ela a uma hora tão tardia. Havia ainda bastante luz às oito, mas ao menos que a condessapudesse concluir seu assunto em uns poucos minutos estaria escuro quando Elizabeth voltasse paracasa.

Elizabeth fez uma pausa com a mão sobre a maçaneta. Não havia nenhuma carruagem à vista, e asaúde de Lady Dambury não lhe permitia percorrer a pé tais distâncias. Se a condessa não chegaraainda, então, provavelmente a porta estaria fechada, e...

A maçaneta girou sob sua mão.

—Que estranho, — murmurou, e entrou no pavilhão.

Havia um fogo ardendo na lareira, e um elegante jantar estava servido sobre a mesa. Elizabethentrou mais na sala, girando lentamente em círculo enquanto ela tomava nota dos preparativos. Porque Lady Dambury...

—Lady Dambury? —chamou. —Está aqui?

Elizabeth sentiu uma presença a suas costas, na entrada e deu meia volta.

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—Não, — disse James. —Só estou eu. A mão de Elizabeth voou a sua boca.

—O que faz aqui? —ofegou. Seu sorriso era torcido.

—O mesmo que você, imagino. Recebeu uma nota de seu irmão?

—Do Lucas? —perguntou, assustada. —Não, de sua tia.

—Oh. Então todos eles estão confabulados contra nós. Aqui tenho... —Estendeu-lhe um pedaçoenrugado de papel. —Lê isto.

Elizabeth desdobrou a nota e leu:

Milord.

Antes de que deixe o distrito, rogo-lhe que me conceda uma audiência. Há um assunto umtanto delicado sobre o qual eu gostaria de lhe pedir conselho. Não é algo do que um homemgostaria de falar com suas irmãs. A menos que me diga outra coisa, esperarei me encontrar comvocê no pavilhão de caça de Lorde Dambury esta tarde às oito.

Sinceramente,

Senhor Lucas Hotchkiss

Elizabeth mal pôde sufocar uma risada horrorizada.

—É a letra do Lucas, mas as palavras saíram diretamente da boca da Susan. James sorriu.

—Pensei que soava um tanto precoce.

—Ele é muito inteligente, é obvio.

—É obvio.

—Mas não posso o imaginar usando a frase "um assunto um tanto delicado."

—Por não mencionar, —acrescentou James, —que à idade de oito anos, é improvável que eletenha problemas desse tipo.

Elizabeth assentiu.

—Oh! Estou segura de que quererá ler isto. —Deu-lhe a carta que ela recebeu de Lady Dambury.

Ele jogou uma olhada e disse.

—Não me surpreende. Cheguei uns minutos antes de você e encontrei isto. —Estendeu-lhe doisenvelopes, um rotulado como Ler imediatamente e outro rotulado como Ler depois de que tenham sereconciliado.

Elizabeth conteve uma risada horrorizada.

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—Exatamente minha reação, — murmurou ele, —embora duvide que tivesse um aspecto ametade de encantador.

Seus olhos voaram a seu rosto. Ele a olhava com repousada e ardente intensidade que a deixousem fôlego. E então, sem afastar seu olhar do dela, nem um segundo, ele perguntou.

—Abrimo-los?

Elizabeth levou uns segundos saber do que falava.

—Oh, os envelopes. Sim, sim. —lambeu os lábios, que ficaram repentinamente secos. — Masambos?

Ele levantou a titulada como Ler depois que tenham se reconciliado e a sacudiu ligeiramente noar.

—Posso excetuá-la, se acredita que teremos fundamentos para lê-la dentro de pouco. Ela tragouconvulsivamente e evadiu a pergunta dizendo:

—Por que não abrimos a outra e vemos o que diz?

—Muito bem. —Ele assentiu cortesmente e deslizou o dedo sob a aba do envelope. Tirou umcartão, e ambos inclinaram a cabeça e leram:

Para os dois.

Tentem, se puderem, não ser uns completos idiotas.

A nota não estava assinada, mas não havia dúvida de quem a escreveu. A letra alongada e cheiade graça era familiar a ambos, mas, definitivamente, era as palavras que apontavam a Lady Damburycomo a autora. Ninguém mais podia ser tão delicadamente grosseiro.

James inclinou a cabeça.

—Ah, minha carinhosa tia.

—Não posso acreditar que me enganou assim, —queixou-se Elizabeth.

—Não pode? —perguntou ele, incrédulo.

—Bom, sim, certamente que posso acreditá-lo. O que não posso acreditar é que usasse achantagem como isca. Estava muito preocupada com ela.

—Ah, sim, a chantagem. —James examinou o envelope sem abrir, que estava rotulado como Lerdepois de que se reconciliassem. —Tenho a suspeita de que encontraremos algo sobre isso aqui.

Elizabeth ofegou.

—Acredita que ela o inventou?

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—Certamente nunca pareceu muito preocupada com minha falta de progressos na solução docrime.

—Abre-o, —ordenou Elizabeth. —Imediatamente. Já.

James começou a fazê-lo, mas então parou e fez um gesto negativo com a cabeça.

—Não, — disse, com voz preguiçosa—acredito que esperarei.

—Quer esperar?

Ele sorriu, lenta e sensualmente.

—Ainda não nos reconciliamos.

—James... — disse ela, com uma voz que era metade advertência e metade desejo.

—Conhece-me, — disse ele. —Conhece melhor minha alma que qualquer outra pessoa viva,talvez melhor que eu mesmo. Se a princípio não soube meu nome... bom, a única coisa que possodizer é que sabe por que não lhe revelei isso imediatamente. Tinha obrigações para com minha tia, elhe devo mais do que poderia lhe pagar algum dia.

Esperou que ela dissesse algo, e quando não o fez, sua voz se voltou mais impaciente.

—Conhece-me, —repetiu, —e acredito que o faz suficientemente bem para saber que nunca farianada para te ferir ou te humilhar. —Suas mãos pousaram pesadamente sobre seus ombros, e Jameslutou contra o impulso de sacudi-la até que estivesse de acordo. —Porque se não estás segura disso,então não há nenhuma esperança para nós.

Seus lábios se entreabriram da surpresa, e James vislumbrou a sedutora ponta de sua língua. E dealgum jeito, enquanto contemplava o rosto que o esteve atormentando durante semanas, soubeexatamente o que devia fazer. Antes que ela tivesse oportunidade de reagir, ele estendeu a mão eagarrou a dela.

—Sente isto? — sussurrou, colocando-a contra seu coração. —Pulsa por ti.

—Sente isto? —repetiu, levantando sua mão a seus lábios. —Respiram por ti. E meus olhos, elesolham para ti. Minhas pernas andam para ti. Minha voz fala para ti, e meus braços...

—Para, — disse ela sem fôlego, vencida. —Para.

—Meus braços... — disse ele, sua elegante voz rouca pela emoção. —Eles anseiam te estreitar.

Ela deu um passo avançando só um centímetro ou dois e ele pôde ver que estava perto, seucoração estava assim de perto de admitir o inevitável.

—Amo-te, — sussurrou ele. —Amo-te. Vejo seu rosto quando acordo pela manhã, e é o únicocom o que sonho de noite. Tudo o que sou, e tudo o que quero ser.

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Ela se precipitou em seus braços, sepultando seu rosto no quente refúgio de seu peito.

—Nunca o disse, —falou, a voz quase estrangulada pelos soluços que esteve aguentando durantedias. —Nunca o disse antes.

—Não sei por que, —ele disse contra seu cabelo. —Me dei conta, mas esperava o momentoadequado, e nunca parecia o correto, e...

Ela pôs um dedo contra os lábios.

—Shhhh. Só me beije.

Durante um segundo, James ficou congelado, seus músculos pareciam incapazes de mover-seante tal supremo alívio. E então, vencido pelo medo irracional de que ela pudesse desaparecer deseus braços, esmagou-a contra ele, sua boca devorando a dela com uma mescla de amor e desejo.

—Espera, — murmurou James, afastando-se ligeiramente dela. E enquanto ela o olhava confusa,ele levou suas mãos a seu cabelo e tirou a presilha. —Nunca o vi solto, — disse.—Vi-o revolto ecom mechas soltas, mas nunca totalmente solto, brilhando sobre seus ombros.

Uma atrás de outra, despojou-a de todas as presilhas, cada uma liberando uma longa mecha decabelo pálido e loiro como ouro. Finalmente, quando todo o cabelo se derramava livre como umacascata por suas costas, ele a sustentou pela mão e a girou devagar, em uma volta completa.

—É o mais formoso que já vi, — disse sem fôlego. Ela ruborizou.

—Não seja tolo, —resmungou. —Eu...

—O mais formoso, —repetiu ele. Agarrou entre seus dedos uma fragrante mecha e o levou sobreseus lábios. —Pura seda. Quero sentir isto quando me deitar de noite.

Elizabeth pensou que sentia a pele quente antes, mas esse comentário a levou diretamente aolimite. Suas faces arderam, e teria usado seu cabelo para esconder seu rubor, mas James a pegou peloqueixo e ergueu a cabeça para poder examinar seus olhos.

Inclinou-se e beijou o canto de sua boca.

—Logo não te ruborizará mais. —Beijou-lhe o outro lado. —Ou talvez, se tiver sorte, manterei-te ruborizada todas as noites.

—Amo-te,—soltou ela, sem saber por que o dizia, só agora convencida que precisava dizê-lo.

O sorriso de James se fez mais amplo e seus olhos arderam de orgulho. Mas em vez de dizeralgo em resposta, ele cavou as mãos ao redor de seu rosto e a atraiu contra ele para outro beijo, estemais profundo e mais íntimo que qualquer outro antes. Elizabeth se derreteu contra ele, e seu calor sefiltrou em seu corpo, abastecendo de combustível um fogo que já ameaçava estar fora de controle.

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Seu corpo vibrava de excitação e necessidade, e quando ele a pegou em seus braços e a levou para odormitório, não fez nem um só som de protesto.

Segundos mais tarde caíram na cama. Ela sentiu que sua roupa desaparecia, peça a peça, até queficou vestida só com sua fina camisa interior de algodão. O único som era o de suas respirações atéque James disse com voz áspera.

—Elizabeth... Não vou a... Não posso...

Ela ergueu o olhar para ele, perguntando-o tudo com seus olhos.

—Se quiser que pare, —James conseguiu dizer, —diga-me isso agora. Ela se estirou e lheacariciou o rosto.

—Precisa ser agora, — disse ele com voz rouca, —porque em um minuto não serei capaz de...

Ela o beijou.

—Oh, Deus, —gemeu ele. —Oh, Elizabeth.

Deveria tê-lo feito parar, sabia. Deveria ter saído correndo da habitação e não lhe ter permitidoaproximar-se a mais de vinte pés dela até que estivesse de pé junto a ele em uma igreja como maridoe mulher. Mas o amor, descobriu, era uma emoção poderosa, e a paixão era ainda mais veloz. E nada,nem a compostura, nem um aliança de casamento, nem sequer causar um dano eterno a sua reputaçãoe bom nome, poderiam dissuadi-la de aferrar-se a este homem agora mesmo e animá-lo a fazê-la sua.

Com dedos trementes alcançou os botões de sua camisa. Nunca tinha tomado antes um papel tãoativo em sua relação sexual, mas o Céu a ajudasse, ansiava tocar a pele quente de seu peito.Desejava roçar com seus dedos seus músculos poderosos e sentir seu coração que palpitava dedesejo. Suas mãos se arrastaram para baixo, a seu abdômen e se atrasaram ali um momento antes depuxar suavemente sua camisa de linho e tirá-la do cinturão de suas calças.

Com um tremor de orgulho, olhou como seus músculos tremiam e se esticavam sob seu suaveroçar, e soube que o desejo dele era muito grande para que pudesse contê-lo.

Este homem, que perseguiu criminosos através de toda a Europa, e, segundo CarolineRavenscroft, foi perseguido por inumeráveis mulheres, ficava desarmado por seu roçar. Elizabethsentiu que lhe comovia o coração. Sentiu-se tão... tão feminina enquanto ela olhava sua pequena mãoriscar círculos e corações sobre os lisos planos de seu peito e seu ventre. E quando ele conteve ofôlego e gemeu seu nome, sentiu-se imensamente poderosa.

James permitiu que ela o explorasse dessa maneira durante um minuto inteiro antes que umáspero grunhido escapasse do mais profundo de sua garganta, girasse para ficar de costas,arrastando-a junto com ele.

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—Suficiente, —ofegou. —Não posso... Não...

Elizabeth tomou isto como um elogio e curvou os lábios em um sorriso misterioso e sensual. Massua emoção por sentir-se em vantagem foi efêmera. Mal James a fez rodar a seu lado e já a fez ficarde costas, e antes que pudesse completar uma respiração, ele estava sentado escarranchado sobre seucorpo, contemplando-a fixamente com crua necessidade e um masculino olhar de antecipação.

Seus dedos encontraram os cinco diminutos botões que desciam entre seus seios, e comalarmante destreza e velocidade, os abriu.

—Ah— murmurou, deslizando a fina camisa sobre seus ombros—isto era o que necessitávamos.

Deixou expostas as cúpulas de seus seios, e seus dedos fazerem cócegas na fenda entre ambos,antes de seguir seu caminho para baixo.

Elizabeth se agarrou aos lençóis para impedir de cobrir-se. Ele a contemplava com tal ardenteintensidade que se sentiu úmida e quente entre as pernas. Ele permaneceu assim durante quase umminuto, sem nem sequer levantar um dedo para acariciá-la, só olhando fixamente seus seios elambendo os lábios quando viu seus mamilos alcançar seu ponto máximo e endurecer-se.

—Faz algo, —ofegou ela, finalmente.

—Isto? —perguntou ele, suavemente, esmagando uma das pontas com a palma de sua mão. Elanão disse uma palavra, só ofegou em busca de ar. —Isto? —Ele moveu a mão ao outro seio, esuavemente lhe beliscou o mamilo entre o polegar e o indicador.

—Por favor, —rogou ela.

—Ah, deve querer dizer isto, — disse ele asperamente, e suas palavras se perderam quando seinclinou e introduziu um mamilo na boca.

Elizabeth soltou um pequeno chiado. Uma de suas mãos se enroscou ao redor do lençol em umpunho apertado enquanto a outra se afundava no grosso cabelo de James.

—Oh, não era isto o que queria? —brincou ele. —Talvez devo prestar mais atenção ao outrolado. —E então ele o fez outra vez, e a única coisa que Elizabeth podia pensar era que morreria seele não fizesse algo para liberar a incrível tensão que crescia dentro dela.

James se separou dela o tempo suficiente para tirar de um puxão a camisa pela cabeça, e,enquanto abria seu cinto, Elizabeth se cobriu com o fino lençol.

—Não poderá te esconder por muito tempo, — disse ele, com voz rouca pelo desejo.

—Sei. —ruborizou-se. —Mas é diferente quando estás a meu lado. Ele a olhou com curiosidadeenquanto voltava a meter-se na cama.

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—O que quer dizer?

—Não posso explicá-lo. —encolheu impotente os ombros. —É diferente quando pode ver-meinteira.

—Ah, — disse ele, devagar, —isso significa que posso te olhar assim? —Com um olharbrincalhão, puxou o lençol até que descobriu um ombro sedoso, que começou a beijar meigamente.

Elizabeth se retorceu e riu tolamente.

—Já vejo, — disse ele, adotando um exagerado acento estrangeiro só para diverti-la. —Eassim? —estirou-se e levantou o lençol de seu pé, lhe fazendo cócegas nos dedos.

—Para! —gritou ela.

Ele voltou a deitar-se e lhe dirigiu seu olhar mais diabólico.

—Não fazia nem ideia de que sentia tantas cócegas. —Fez-lhe um pouco mais. —Isto,evidentemente, é um conhecimento muito importante.

—Oh, —ofegou ela, —por favor, para. Não posso aguentá-lo. James a contemplou com todo oamor de seu coração.

Era muito importante para ele fazer que esta primeira vez fosse perfeita para ela. Vinha sonhandocom isso durante semanas, como o mostraria quão delicioso o amor entre um homem e uma mulherpodia ser. E embora não se imaginou precisamente lhe fazendo cócegas nos dedos dos pés, aimaginou com um sorriso no rosto.

Exatamente como agora.

—Oh, Elizabeth, — murmurou, inclinando-se para pressionar sua boca com um breve beijosuave, —amo-te tanto. Deve acreditar.

—Acredito, — disse ela suavemente, —porque vejo em seus olhos, o que sinto em meu coração.

James sentiu que os olhos lhe umedeciam com lágrimas, e não tinha palavras para expressar acorrente de emoção que sua simples declaração desatara.

Beijou-a de novo, esta vez remontando o contorno de seus lábios com sua língua enquantodeslizava a mão para baixo, pelo flanco de seu corpo. Sentiu-a ficar rígida de antecipação, seusmúsculos saltando sob seu roçar. Mas quando alcançou o centro de sua feminilidade, suas pernas sesepararam ligeiramente para recebê-lo. Brincou com seus cachos, e logo, quando ele ouviu que suarespiração ficava áspera e superficial penetrou com o dedo ainda mais. Já estava pronta para ele,graças a Deus, porque não estava seguro de poder esperar um segundo mais.

James introduziu o joelho entre suas pernas para as abrir ainda mais e se colocou entre elas.

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—Isto pode doer, — disse, notando a pena em sua voz. —Não há outra forma, mas logo melhora,prometo-lhe isso.

Ela assentiu, e ele notou que seu rosto se esticou ligeiramente por suas palavras. Maldição.

Talvez não deveria tê-la prevenido. Não tinha nenhuma experiência com virgens; não tinha amenor ideia do que fazer para diminuir a dor.

A única coisa que podia fazer era ser suave e lento o que resultava difícil quando estavapossuído pelo desejo mais selvagem que sentira e rezar para que fosse o melhor.

—Shhhh, — sussurrou em seu ouvido, lhe acariciando com a mão a testa. Avançou um centímetromais ou menos, até que o extremo de sua virilidade pressionou contra ela. —Vê? — sussurrou. —Não sou nada extraordinário.

—É enorme, —replicou ela.

Para completa surpresa dela, uma gargalhada lhe escapou dos lábios.

—Oh, meu amor, normalmente tomaria isto como o maior elogio.

—Mas agora... —ela incitou.

Seus dedos se deslizaram meigamente sobre sua têmpora até sua mandíbula.

—Agora a única coisa que desejo é que não se preocupe. Ela sacudiu ligeiramente a cabeça.

—Não estou preocupada. Um pouco nervosa, possivelmente, mas não preocupada. Sei que faráque seja maravilhoso. Faz que tudo seja maravilhoso.

—Farei, — disse ele, fervorosamente contra seus lábios. —Prometo-te que será.

Elizabeth ofegou quando ele empurrou entrando nela. Tudo isto parecia muito estranho, e, aomesmo tempo, tão correto, como se ela tivesse nascido para este momento, criada para receber emseu interior a este homem apaixonado. As mãos de James rodearam a curva de suas nádegas, e ainclinou ligeiramente. Elizabeth ofegou ante a mudança de posição que fez que ele se deslizassefacilmente até alcançar a prova de sua inocência.

—Depois disto, — disse ele, com voz cálida contra sua orelha, —será minha. —E sem esperaruma resposta, ele empurrou profundamente, capturando seu surpreso —Oh! —com um profundobeijo.

Com suas mãos ainda rodeando seu traseiro, ele começou a mover-se. Elizabeth ofegou comcada penetração, e logo, inconscientemente, começou a mover-se também, unindo-se a ele em umritmo antigo. A tensão que esteve vibrando em seu interior se fez mais forte, mais urgente, e ela sentiucomo se esticasse contra sua própria pele. E então algo mudou, e se sentiu como se caísse por um

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escarpado, e o mundo explodisse ao redor dela.

Um segundo mais tarde, James deu um rouco grito, e suas mãos agarraram seus ombros comincrível força. Durante um instante a olhou como se estivesse morrendo, e logo seu rosto adquiriu umaspecto de absoluta felicidade, e sofreu um colapso em cima dela.

Passaram-se vários minutos, e o único som era o de suas respirações disparadas enquanto seacalmavam até voltar para a normalidade, e então James rodou por cima dela, ficando de lado,abraçando-a contra ele e acoplando-se contra ela como duas colheres em uma gaveta.

—Isto é, — disse ele com voz sonolenta. —Isto é o que estive procurando toda minha vida.Elizabeth aconchegou suas costas contra seu peito assentindo, e dormiram.

Várias horas mais tarde, Elizabeth despertou pelo som dos pés de James caminhando através dochão de madeira do pavilhão de caça. Não o sentiu deixar a cama, mas ali estava, cruzando odormitório, tão nu como o dia que nasceu.

Ela se sentiu dividida entre o impulso de afastar a vista e a tentação de olhar fixa edesavergonhadamente. Terminou por fazer um pouco de ambos.

—Olhe o que esquecemos, — disse James, agitando algo no ar. —Encontrei-a no chão.

—A carta de Lady Dambury!

Ele elevou as sobrancelhas e lhe dando de presente seu sorriso mais libertino.

—Devo tê-la deixado cair em minha pressa por fazer amor com você.

Elizabeth pensava que com tudo o que aconteceu, ele já não seria capaz de fazê-la ruborizar, maspelo visto se equivocava.

—Só abre-a, —resmungou.

Ele pôs uma vela sobre a mesinha de noite e se introduziu lentamente na cama a seu lado.Quando não se moveu o bastante rápido para abrir o envelope, Elizabeth o tirou e o rasgouapressadamente ela mesma.

Dentro encontrou outro envelope, com as seguintes palavras escritas no fronte:

Estão trapaceando, não é mesmo?

Realmente querem abrir este envelope antes de se reconciliarem?

Elizabeth levou uma mão à boca, e James não se incomodou em conter a risada que borbulhavaem sua garganta.

—Desconfiada, não? — murmurou.

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—Provavelmente com razão, —confessou Elizabeth. —Quase o abrimos antes que nós...

—Reconciliássemo-nos? —sugeriu ele com um sorriso diabólico.

—Sim, —resmungou ela, —exatamente. Ele apontou o envelope em suas mãos.

—Vai abrir?

—Oh, sim. É obvio. —Com um pouco mais de decoro desta vez, Elizabeth levantou a aba doenvelope e tirou uma folha delicadamente perfumada de papel branco, dobrada com esmero pelomeio. Elizabeth o desdobrou, e, aproximando juntos a cabeça à luz da vela, leram:

Meus mais queridos meninos,

Sim, é certo. Meus mais queridos meninos. Assim é como penso em vós, depois de tudo. James,não esquecerei nunca o dia em que te trouxe para Dambury House pela primeira vez.

Foi tão receoso, tão incapaz de acreditar que eu poderia te amar por ti mesmo. Abracei-tetodos os dias, tentando te mostrar o que significa ser família, e então, um dia, devolveu-me oabraço, e me disse: —Amo-te, Tia Agatha. —E a partir daquele momento, foi como um filho paramim. Daria minha vida por ti, mas suspeito que já sabe disso.

Elizabeth, você entrou em minha vida quando o último de meus filhos se casou e meabandonou. Desde o primeiro dia, ensinaste-me o que significa ser valente, leal e fiel às crenças.Durante estes últimos anos foi um prazer para mim ver-te florescer e crescer.

Quando veio pela primeira vez a Dambury House, era tão jovem, e inexperiente e fácil deaturdir. Mas em algum momento com o passar do caminho, desenvolveste um equilíbrio interior euma inteligência que qualquer jovem mulher invejaria. Nunca me adulou, e nunca permitiu que teintimidasse; é provavelmente o maior elogio que a mulher de meu filho pode receber. Daria tudo oque possuo por te chamar minha filha, mas suspeito que já sabe.

Assim seria tão estranho que sonhasse com que vós, minhas duas pessoas favoritas seconhecessem? Sabia que não podia fazê-lo de forma convencional. James, com segurança, oporia-se a qualquer tentativa de minha parte de me fazer de casamenteira.

É um homem, depois de tudo, e portanto tolamente orgulhoso. E sabia que jamais convenceriaa Elizabeth para viajar a Londres e ter uma temporada a minhas custas. Ela nunca participaria denada que a afastasse tanto tempo de sua família.

E assim nasceu minha pequena armação. Começou com uma nota ao James. Você semprequeria me resgatar tal e como eu resgatei a ti uma vez, meu menino. Foi bastante fácil imaginarum complô de chantagem. (Devo me desviar um momento para te assegurar que o complô foi umacompleta mentira, e todos meus filhos são legítimos e foram, é obvio, engendrados pelo anterior

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Lorde Dambury. Não sou o tipo de mulher que se desvia de seus votos matrimoniais.)

Estava bastante segura de que se conseguisse que se conhecessem, apaixonariam-se(raramente me equivoco neste tipo de coisas), mas só para plantar a ideia na cabeça de Elizabeth,localizei minha velha cópia de "Como casar-se com um Marquês". Um tolo livro que nuncadeveria ter sido escrito, mas não sabia de que outra forma fazê-la começar a pensar nomatrimônio. (Em caso de que esteja se perguntando sobre isso, Lizzie, perdoo-te por roubar o livrode minha biblioteca. Estava destinada a fazê-lo, é obvio, assim pode guardá-lo como umalembrança de seu noivado.)

Esta é minha confissão. Não lhes peço perdão, é obvio, não tenho nada pelo que pedi-lo.Suponho que poderiam se sentir ofendidos com meus métodos, e normalmente não sonhariaorquestrar uma situação tão comprometedora, mas estava claro que ambos são muito obstinadospara reconhecer a verdade de outra forma. O amor é um presente precioso, e fariam bem em nãodesperdiçá-lo por um pouco de tolo orgulho.

Espero realmente que desfrutem do pavilhão de caça; verão que tive em conta cada uma desuas necessidades. Por favor sintam-se livres de passar a noite; contra a crença popular, nãodomino o clima, mas rezarei ao Senhor para que desate uma violenta tormenta com chuvatorrencial, do tipo de tormentas que nunca se aventurariam a sair.

Podem me agradecer isso em suas bodas. Já lhes consegui uma licença especial.Afetuosamente,

Agatha, Lady Dambury.

Elizabeth ficou boquiaberta.

—Não posso acreditá-lo, —ofegou. —Ela tramou tudo. James revirou os olhos.

—Eu sim posso acreditá-lo.

—Não posso acreditar que pôs o maldito livro na biblioteca sabendo que eu o pegaria. Jamesassentiu.

—Também posso acreditar nisso.

Elizabeth girou a cabeça para ele, com lábios ainda entreabertos do assombro.

—E até tem uma licença especial.

—Isso, —confessou ele, —sei que não posso acreditá-lo. Mas só porque eu também obtive uma,e estou um pouco surpreso de que o arcebispo fizesse uma cópia.

A carta de Lady Dambury escorregou da mão de Elizabeth e revoou caindo sobre os lençóis.

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—Fez isso? — sussurrou.

James tomou uma de suas mãos e a levou aos lábios.

—Quando estava em Londres, procurando o falso chantagista de Agatha.

—Quer te casar comigo, —ofegou ela. Suas palavras eram uma declaração, não uma pergunta,mas soaram como se não pudesse as acreditar realmente.

James lhe lançou um sorriso divertido.

—Só lhe pedi isso uma dúzia de vezes nos últimos dias. Elizabeth sacudiu sua cabeça, como sedespertasse de um sonho.

—Se me pedir isso outra vez, —ela o incitou, —poderia te dar uma resposta diferente.

—De verdade? Ela assentiu.

—Definitivamente.

Ele percorreu com um dedo o flanco de seu pescoço, seu sangue acelerando-se quando viu omodo que seu roçar a fez tremer.

—E o que te fez mudar de opinião? — murmurou.

—Alguns poderiam pensar, —ofegou ela, quando seu dedo seguiu descendo, —que tem algo aver com que me tenha comprometido, mas se realmente quer a verdade...

Ele se inclinou, sorrindo perversamente.

—Oh, definitivamente quero a verdade.

Elizabeth permitiu que ele cortasse a distância entre eles a um mero centímetro antes de dizer:

—Foi pelo livro. Ele congelou.

—O livro?

—"Como casar-se com um Marquês".—Ela arqueou uma de suas sobrancelhas. —Pensoescrever uma edição corrigida.

Ele empalideceu.

—Brinca?

Ela sorriu e se ondulou debaixo dele.

—Acha?

—Por favor, me diga que estás brincando. Ela se recostou um pouco mais na cama.

—Obrigarei-te a confessar que brinca, —grunhiu James.

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Elizabeth o alcançou e o rodeou com os braços, sem notar sequer o trovão que fez que as paredestremessem.

—Faça-o, por favor. E James a obedeceu.

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Epílogo

Nota da Autora: é convencionado universalmente por todos os peritos em Protocolo do séculodezenove que os copiosos garranchos encontrados nas margens deste volume único são trabalho doMarquês de Riverdale.

Extratos De "Como Casar-Se Com Um Marquês" Por Marquesa De Riverdale

Decreto Número Um:

NUNCA PONHA TODAS SUAS ESPERANÇAS EM UM CAVALHEIRO ATÉ NÃO ESTARCOMPLETAMENTE SEGURA DE SUA IDENTIDADE. COMO QUALQUER SENHORITAJUDICIOSA, DEVE SABER: OS HOMENS SÃO SEMPRE MENTIROSOS.

'Deus Santo, Lizzie, não me perdoaste ainda por isso?'

Decreto Número Cinco:

OS CONVENCIONALISMOS DITAM QUE VOCÊ NÃO DEVE PASSAR MAIS DE DEZMINUTOS CONVERSANDO COM UM CAVALHEIRO EM PARTICULAR. ESTA AUTORADISCORDA. SE VOCÊ SENTIR QUE ESTE HOMEM PODERIA SER UM CANDIDATO PARA OMATRIMÔNIO, CONVÉM-LHE CONHECER SUA MENTE ANTES QUE VOCÊ SECOMPROMETA EM UM VOTO TÃO SACROSSANTO.

EM OUTRAS PALAVRAS, MEIA HORA DE CONVERSAÇÃO PODE SALVÁ-LA DOENGANO DE SUA VIDA.

'Nenhum argumento contra.'

Decreto Número Oito:

NÃO IMPORTA O MUITO QUE AME A SEUS PARENTES, OS NOIVADOS SE LEVAMMELHOR SEM A PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA.

'Oh, mas não esqueça o pavilhão de caça...'

Decreto Número Treze:

TODA MULHER DEVE SABER DEFENDER-SE DE CUIDADOS NÃO DESEJADOS. ESTAAUTORA RECOMENDA O BOXE. ALGUNS PODERIAM CONSIDERAR TAL CONDUTAATLÉTICA IMPRÓPRIA PARA UMA DELICADA DAMA, MAS VOCÊ DEVE ESTARPREPARADA PARA DEFENDER SUA REPUTAÇÃO.

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SEU MARQUÊS PODE NEM SEMPRE ESTAR À MÃO. PODE HAVER MOMENTOS EMQUE PRECISE PROTEGER-SE.

'Eu SEMPRE te protegerei.'

Decreto Número Quatorze:

SE OS CUIDADOS JÁ MENCIONADOS SÃO DESEJADOS, ESTA AUTORA NÃO PODEOFERECER NENHUM CONSELHO QUE POSSA SER LEGALMENTE IMPRESSO NESTELIVRO.

'Te encontre comigo em nosso quarto e EU te aconselharei.'

Decreto Número Vinte:

(O Único que Realmente Precisa Recordar)

ACIMA DE TUDO, SER HONESTA COM SEU CORAÇÃO. QUANDO VOCÊ SE CASA, NÃOIMPORTA SE FOR COM UM MARQUÊS OU COM UM ADMINISTRADOR DE IMÓVEIS (oucom ambos!), SERÁ PARA TODA A VIDA. VOCÊ DEVE IR ONDE SEU CORAÇÃO A LEVE ENÃO ESQUECER NUNCA QUE O AMOR É O PRESENTE MAIS PRECIOSO DE TODOS.

O DINHEIRO E A POSIÇÃO SOCIAL SÃO UM POBRE SUBSTITUTO DE UM CÁLIDO ETENRO ABRAÇO, E HÁ POUCO NA VIDA QUE COMPLETE MAS QUE A ALEGRIA DE AMARE O CONHECIMENTO DE QUE TAMBÉM LHE AMAM.

'Eu te amo Elizabeth. Até que o último fôlego abandone meu corpo, e por toda a eternidadedepois disso...'

Fim

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A Autora

Julia Quinn começou a trabalhar em seu primeiro romance um mês depois de terminar a faculdade enunca mais parou de escrever. Seus livros já atingiram a marca de 8 milhões de exemplaresvendidos, sendo 3,5 milhões da série Os Bridgertons. É formada pelas universidades Harvard eRadcliffe. Seus livros já entraram na lista de mais vendidos do The New York Times e foramtraduzidos para 26 idiomas. Foi a autora mais jovem a entrar para o Romance Writers of America’sHall of Fame, a Galeria da Fama dos Escritores Românticos dos Estados Unidos, e atualmente moracom a família no Noroeste Pacífico.

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{1} Petimetre: Homem vaidoso, preocupado com a aparência.