Como Envelhecemos

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COMO ENVELHECEMOS? O motivo pelo qual se d o envelhecimento um tema que tem preocupado o homem desde os primeiros estudos mdicos conhecidos. A primeira referncia medicina entre os mesopotmios confunde-se ao aparecimento do prprio smbolo mdico: o caduceu. Nesta referncia j se expressa a expectativa do rejuvenescimento, representado pela troca peridica da pele das cobras. Uma das primeiras representaes grficas do envelhecer ligado debilidade encontra-se no Egito, no hierglifo que significa "velho" ou "envelhecer", encontrado a partir dos anos 2800-2700 AC e que representa uma imagem humana deitada, com ideograma representativo de fraqueza muscular e perda ssea. Durante o perodo hipocrtico da histria grega, aproximadamente 500 anos antes de Cristo, a teoria predominante de envelhecimento referia-se ao calor intrnseco, um dos elementos essenciais, e o principal deles relacionado vida. Esta teoria postulava que, a princpio, cada pessoa possua uma quantidade limitada de matria, inclusive calor, para ser usada durante toda a vida. A taxa de utilizao e o tempo necessrio mesma variariam de um indivduo para outro. O calor intrnseco poderia ser reforado ou restaurado, mas nunca ao nvel inicial; assim, a reserva total diminuiria at a morte. Aristteles, um sculo mais tarde, exps de maneira detalhada sua teoria do envelhecimento nos livros: "Sobre a Juventude e a Velhice", "Sobre a Vida e a Morte" e "Sobre a Respirao". Segundo esta teoria a alma seria combinada, ao nascer, ao calor intrnseco e dele dependente para se manter unida ao corpo. A vida consistiria na manuteno deste calor e de sua relao com a alma que se localizaria no corao. Para continuar aquecido o calor intrnseco exige combustvel. medida que este combustvel vai sendo consumido, o calor intrnseco diminuiria sobrevindo o envelhecimento. Toda a chama dbil pode ser extinta com mais facilidade que uma chama vigorosa (juventude), mas, deixada por si, esta chama poderia perdurar at o total consumo do combustvel. As teorias de Hipcrates, posteriormente assumidas por Galeno, o mais famoso mdico romano, foram aceitas como verdadeiras por quase 2000 anos. S no incio do Renascimento um famoso mdico alemo: Paracelsus props que as doenas e o envelhecimento poderiam ser causados pelo acmulo de substncias nocivas no organismo. Como podemos ver, estas culturas milenares davam como motivo do envelhecimento a progressiva perda de elementos vitais e a incapacidade do organismo repor estas perdas , bem como o acmulo de agravos e substncias nocivas, o que, com as devidas ressalvas, pode ser dito ainda hoje.

Todos sabemos que algumas condies de vida parecem estar associadas a uma vida mais longa; assim, o viver em ambiente tranquilo, sem estresse, o ar no poludo, a alimentao saudvel o no fumar, etc., so, geralmente, relacionados maior expectativa de vida. No entanto, estes fatores externos e agresses acumuladas no esto relacionados propriamente velhice. O fato de um fumante morrer mais cedo que um no fumante, devido a doenas circulatrias ou pulmonares no significa, em si, que ele envelhea de maneira diferente. Na verdade, o motivo do envelhecimento de um organismo parece estar definido, em nvel celular, pelas informaes genticas contidas nos cromossomos existentes no ncleo das clulas. Estas informaes, a partir de certa idade, passam a sofrer alteraes, podendo comear a gerar informaes errneas que originaro protenas anmalas, levando a um acmulo de problemas orgnicos, estes sim relacionados ao processo do envelhecimento. Por outro lado, parece haver uma determinao gentica, para cada espcie, do nmero de vezes que a clula consegue se dividir, definindo assim uma expectativa mxima de vida para aquela espcie. A esta teoria, aqui muito simplificada, d-se o nome de teoria do relgio biolgico e parece ser, at o momento, a mais plausvel explicao para o fenmeno do envelhecimento. interessante notar que, a partir do nmero de vezes que uma clula humana pode se dividir, seria de esperar para nossa espcie, uma expectativa mxima de vida prxima aos 130 anos, que poderia ser atingida se se resolvessem todos os outros problemas ambientais e de sade. Se ns perguntarmos a diversas pessoas o que ficar velho, provavelmente teremos muitas respostas diferentes. A simples contagem do nmero de anos no parece ser um critrio seguro, de vez que pessoas de mesma idade frequentemente tm caractersticas orgnicas distintas. Alguns so mais fortes, outros mais fracos, alguns tm memria melhor que outros, etc. Todos os nossos rgos tm uma grande capacidade de reserva. Assim, s usamos aproximadamente 30% da capacidade de nossos rins para uma vida saudvel, sendo os outros 70% reserva orgnica. Com pequenas variaes podemos dizer o mesmo dos pulmes, corao, fgado, etc. medida que envelhecemos vamos perdendo esta capacidade de reserva dos rgos, que, em si, continuam funcionando normalmente. Assim, perfeitamente possvel encontrar pessoas muito idosas que tenham vida diria normal, praticando esporte e vivendo como seus concidados 50 anos mais jovens; no entanto, num momento de necessidade como uma doena, uma cirurgia, um esforo fsico ou psquico extraordinrio, estas pessoas, por terem perdido, no decorrer dos anos, grande parte de suas reservas , podem vir a entrar em situao de falncia orgnica, o que no sucederia se fossem mais jovens. Uma comparao que poderia ajudar a entender este fato seria a do motorista que vai viajar sem estepe. Enquanto tudo corre bem ele indistinguvel dos demais motoristas daquela estrada; sendo a diferena percebida quando ocorre um incidente (furar um pneu), que torna patente

que, diferentemente dos outros motoristas , aquele no tinha reserva e, portanto, no conseguiu se adaptar a uma situao nova. Nestes termos , talvez o melhor indicador seja o referido por Confort que relaciona o envelhecimento diminuio da capacidade de adaptao do organismo. Como pudemos ver acima, nossa capacidade de adaptao depende, em grande parte, de nossa disponibilidade de reserva. Assim, o idoso, que vai progressivamente perdendo reservas orgnicas , vai progressivamente perdendo sua capacidade de adaptao a estresses orgnicos ou psicolgicos , bem como s mudanas e variaes do dia a dia. Este fato conhecido da populao. Todos sabem que os idosos geralmente se agasalham mais que os jovens , pela menor capacidade de conviver com as mudanas de temperatura; que sentem muito mais que os jovens dificuldade a se adaptar, mesmo psicologicamente, a mudanas de casa ou mesmo de quarto; que tm um risco muito maior de complicaes de infeces , desidrataes ou diversas outras situaes que os mais jovens enfrentam com relativa facilidade, pelo fato de terem maiores reservas orgnicas . Podemos pois repetir que: "Envelhecer , essencialmente, perder reservas e, consequentemente, capacidade de adaptao." ESTUDO LONGITUDINAL SOBRE O ENVELHECIMENTO BALTIMORE LONGITUDINAL STUDY ON AGING Foi realizado em Baltimore, Marland (USA), no Centro de Pesquisas em envelhecimento um estudo com mais de 1500 pessoas saudveis, voluntrias com idade compreendida entre 17 e 96 anos, com alto nvel de escolaridade (trabalhadores ou aposentados em cargos de alto nvel) o estudo teve como metodologia a avaliao de 2 dias e meio em mais de 100 procedimentos e a cada 2 anos com o objetivos de analisar os efeitos fsicos, mentais e emocionais do envelhecimento na populao em estudo, o enfoque na realizao dos procedimentos e testes teve como principal direcionamento para a funo pulmonar, o metabolismo basal a acuidade visual e auditiva e a coordenao motora. Os resultados encontrados por esse grupo de pesquisa foram os seguintes: 1 - Quanto a aparncia fsica (medidas antropomtricas) - Constatou-se a reduo gradual da Estatura aps os 30 anos (0,15 mm/ano em ambos os sexos) - O tronco mais grosso e extremidades mais finas (dimetros : > 40 anos - diminuio da panturrilha no homem e > 60 anos diminuio do antebrao) 2 - Quanto a arcada dentria - Mudana nos hbitos de mastigao - Aumento das cries - Aumento das doenas periodental.

3 - Quanto ao peso e mudanas metablicas - O peso aumenta ate os 55 anos e em seguida comea a diminuir, isto devido perda de tecido magro, massa muscular, gua e massa ssea (> nas mulheres) - Nmero de calorias - 30 anos - necessita 12/cal dia a menos, 40 anos 120/cal dia a menos - Gordura corprea permanece mas muda sua distribuio, devido perda do tnus muscular, maior concentrao nas coxas e no abdmen 4 - Quanto ao sistema cardiovascular - Colesterol aumenta no incio da idade adulta at os 60 56 anos e em seguida diminu - Problemas coronarianos aumenta com a idade (fumo, hipertenso arterial, aumento do colesterol, lipoprotenas de baixa densidade, baixa capacidade vital, obesidades e diabetes so alguns dos fatores de riscos que colaboram para sua evoluo) - Funo cardaca mxima diminui com a idade - Estreitamento da parede cardaca 5 - Mudana do tempo de reao - Diminuio da capacidade de detectar e relatar - Aumenta o tempo de reao ao barulho aps os 60 anos - Diminuio das respostas estmulos e as vezes imprecisas 6 - Mudanas cognitivas - Diminuio da memria - Diminuio do desempenho em teste de lgica (> 70 anos) - Diminuio aprendizado de matrias orais (> 70 anos) - Aumento do nmero de erros em tarefas verbais (> 70 anos) - Diminuio da memria visual entre 50 - 60 anos e acentuadamente aps os 70 anos - No muda o desempenho relacionado ao vocabulrio 7 - Mudana de Personalidade - No constatou-se alteraes com a idade 8 - Atividade sexual - Diminuio da taxa de hormnios sexuais, portanto diminuio da atividade sexual - Tamanho do testculo no muda - Aumento do tamanho da prstata (> 70 anos) - Diminuio das fantasias sexuais (desaparecem aps os 65 anos) 9 - Mudanas nos sentidos - Viso - diminui com a idade - Audio - diminui com a idade - Paladar - diminui com a idade para substncias amargas ou salgadas

- Odor - diminui com a idade

10 - Mudanas Fisiolgicas - Diminuio da funo renal - Diminuio da capacidade dos linfcitos e neutrfilos

11 - Mudanas na Fora - Diminuio da fora no antebrao e msculos do dorso (> 65 anos) - Atividade fsica diminui - Diminui o desempenho mximo durante o exerccio - Diminui a fora muscular nas mos em funo da diminuio da massa muscular

Diferenas entre os sexos constados pela pesquisa - Maior diminuio da densidade ssea aps a menopausa (mulheres) - Nmero de clulas brancas do sangue maior em homens do que nas mulheres - Consumo mximo de oxignio 20 % em mdia maior em homens do que em mulheres, provavelmente devido massa muscular - Aumento da gordura abdominal aps a menopausa nas mulheres e no homens aumento no incio da puberdade ate a meia idade - Perda auditiva maior 2 vezes nos homens do que nas mulheres - Diminuio da capacidade de identificar odores e mais rpida nos homens Concluses do estudo - No temos apenas um relgio responsvel pelo envelhecimento de todos os rgos. - Idade cronolgica no um agente eficaz para previso de desempenho.