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1 A INVOCAÇÃO DO INTERESSE PÚBLICO COMO FATOR RELEVANTE PARA A ANÁLISE DO ANTIDUMPING Regina Zélia Urias Pinto 1 RESUMO O presente trabalho procura demonstrar, no que tange à seara do Direito Internacional, mais especificamente, às relações internacionais de comércio, o instituto do “Interesse Público”, a sua invocação, definição e importância como justificativa para não aplicar ou suspender o antidumping. Palavras-chave: Dumping; Comércio Desleal; Antidumping; Interesse Público; Direito Internacional. 1 INTRODUÇÃO A partir da globalização, o comércio mundial entre os Estados viveu um processo de liberalização. Nessa nova condição, havia países que agiam de forma honesta, como também havia nações que tinham como característica a deslealdade. Como exemplo de comércio desleal, tem-se a prática do dumping, que ocorre quando um país oferece produtos a outro para serem vendidos no comércio doméstico do importador, tendo como base um preço bem aquém do seu valor normal. Porém, não se considera danoso todo dumping, mas apenas quando se constatam o dano e a sua ligação com, por exemplo, o fechamento de uma sociedade empresária nacional, isto é, o nexo de causalidade entre o encerramento das atividades empresariais domésticas e o comércio praticado de forma desleal. Como antídoto contra essa prática comercial danosa, em contrapartida, tem-se o antidumping, proveniente de um acordo assinado em 1995, configurando- se como uma medida de defesa comercial, exceção ao princípio do livre comércio. O antidumping tem o condão de barrar importações a preço de dumping, contudo, há momentos em que o antidumping se mostrará prejudicial a um país como um todo. Embora seja uma medida de defesa, situações haverá em que essa medida, usada 1 [email protected]. Bacharelanda em Direito pela Faculdade Promove – BH/MG.

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1

A INVOCAÇÃO DO INTERESSE PÚBLICO

COMO FATOR RELEVANTE PARA A ANÁLISE DO ANTIDUMPING

Regina Zélia Urias Pinto1

RESUMO

O presente trabalho procura demonstrar, no que tange à seara do Direito Internacional, mais especificamente, às relações internacionais de comércio, o instituto do “Interesse Público”, a sua invocação, definição e importância como justificativa para não aplicar ou suspender o antidumping.

Palavras-chave: Dumping; Comércio Desleal; Antidumping; Interesse Público; Direito Internacional.

1 INTRODUÇÃO

A partir da globalização, o comércio mundial entre os Estados viveu um

processo de liberalização. Nessa nova condição, havia países que agiam de forma

honesta, como também havia nações que tinham como característica a deslealdade.

Como exemplo de comércio desleal, tem-se a prática do dumping, que ocorre

quando um país oferece produtos a outro para serem vendidos no comércio

doméstico do importador, tendo como base um preço bem aquém do seu valor

normal. Porém, não se considera danoso todo dumping, mas apenas quando se

constatam o dano e a sua ligação com, por exemplo, o fechamento de uma

sociedade empresária nacional, isto é, o nexo de causalidade entre o encerramento

das atividades empresariais domésticas e o comércio praticado de forma desleal.

Como antídoto contra essa prática comercial danosa, em contrapartida,

tem-se o antidumping, proveniente de um acordo assinado em 1995, configurando-

se como uma medida de defesa comercial, exceção ao princípio do livre comércio. O

antidumping tem o condão de barrar importações a preço de dumping, contudo, há

momentos em que o antidumping se mostrará prejudicial a um país como um todo.

Embora seja uma medida de defesa, situações haverá em que essa medida, usada 1 [email protected]. Bacharelanda em Direito pela Faculdade Promove – BH/MG.

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para defender o comércio de um Estado, poderá ser suspensa ou até mesmo não

aplicada, se restar provado o motivo de interesse público.

É proposta de membros da OMC – Organização Mundial do Comércio

que se considere o interesse público nas investigações do antidumping. Necessário

se faz, outrossim, definir, de forma clara e transparente, o que vem a ser “interesse

público”, pois há grande dificuldade na compreensão desse conceito. O presente

artigo ainda tem o escopo de apresentar os critérios usados no teste de análise do

interesse público, que são: o emprego, a concorrência e o desenvolvimento

tecnológico e industrial. A presença de tais critérios demonstrará, portanto, a

necessidade de se aplicar ou suspender uma medida antidumping, com vistas à

segurança jurídica do país.

2 CONTEXTO HISTÓRICO

Segundo Felipe Hees,2 para melhor entender o dumping, é necessário

fazer menção ao processo de transição do feudalismo para o capitalismo, marco da

vida econômica nos séculos XV e XVI. Houve um acúmulo de riquezas estatais, o

que levou ao Mercantilismo. Já nos séculos XVI e XVII, estrangeiros foram taxados

por vendas prejudiciais a Grã-Bretanha, e holandeses realizavam vendas com

redução excessiva de preços, com o intuito de acabar com a concorrência francesa.

Ainda no século XVIII, durante a Revolução Industrial, houve diversas queixas

quanto ao comércio desleal.

Consoante Leonor Cordovil,3 a história da legislação antidumping passa

pela Primeira e Segunda Guerras, quando países se empenhavam para negociar as

primeiras legislações internacionais, o que levou, em 1995, ao “Acordo contra o

dumping da OMC – Organização Mundial do Comércio”, sua assinatura, seguindo

até os dias de hoje.O pioneiro na adoção de uma legislação exclusiva de dumping,

2 HEES, Felipe. Dumping, subsídios e salvaguardas: revisitando aspectos técnicos dos instrumentos de defesa comercial. In: HEES, Felipe; CASTAÑON, Marília Penha Valle (Orgs.). O dumping ao longo da história e seus efeitos para o comércio. São Paulo: Singular, 2012. p.25-53. Felipe Hees é atual diretor do Departamento de Defesa Comercial do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Decom/MDIC). 3 CORDOVIL, Leonor. Antidumping: interesse público e protecionismo no comércio internacional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. p.31.

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de acordo com Hees,4 foi o Canadá, em 1904. Seu objetivo era proteger a indústria

siderúrgica doméstica da forma agressiva de concorrência da US Steel Corporation

(United States Steel Corporation).5

Pairava no ar, conforme Cordovil,6 uma carência de transparência e um

exagero no ato discricionário por parte das autoridades nacionais na aplicação do

antidumping. Necessário era conter a forma de interpretar de cada país, acerca das

determinações e condições que permitiriam o uso da medida, consenso era o que se

procurava. Surgiu a ideia da criação da OIC – Organização Internacional do

Comércio, posteriormente rejeitada, optando-se pela assinatura de um acordo que

recebeu o nome de GATT – Acordo Geral Sobre Tarifas e Comércio, de 1947, cujo

artigo VI preconizava que :

Art. VI. As partes contratantes reconhecem que o dumping, que permite a introdução de produtos de um país no mercado de outro país, a um preço inferior a seu valor normal, é condenável se causa ou ameaça causar dano importante a uma indústria estabelecida no território da parte contratante ou se materialmente retarda o estabelecimento da indústria doméstica.7

Ainda segundo Leonor Cordovil,8 não se proibia o dumping por si só, mas

sim o que causasse dano, pois havia países que defendiam o interesse de algumas

de suas indústrias, cuja sobrevivência dependia da importação de produtos a baixos

preços. Desse raciocínio, aparecem as primeiras análises que abrem discussão

sobre o tema do interesse público. A celebração desse acordo foi marcada por

muitas dificuldades, constantes negativas de comissões europeias e dos Estados

Unidos, pois eles entendiam que teriam menos benefícios, sendo mais

inconveniente para eles a assinatura do acordo.

4 HEES, Felipe. Dumping, subsídios e salvaguardas: revisitando aspectos técnicos dos instrumentos de defesa comercial. In: HEES, Felipe; CASTAÑON, Marília Penha Valle (Orgs.). O dumping ao longo da história e seus efeitos para o comércio. São Paulo: Singular, 2012. p.25-53. 5 “A United States Steel Corporation é uma produtora integrada de aço com operações nos EUA, Canadá e Europa Central [...]. A empresa produz diversos tipos de aço e produtos tubulares utilizados nas indústrias de automóvel, maquinaria industrial, construção, petrolífera e de aparelhos domésticos, entre outras. A US Steel emprega cerca de 24 mil trabalhadores [...]” (ALMAÇA, 2012). 6 CORDOVIL, Leonor. Antidumping: interesse público e protecionismo no comércio internacional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. p.32. 7 GATT – Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio de 1947, art. VI. 8 CORDOVIL, Leonor. Antidumping: interesse público e protecionismo no comércio internacional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. p.33-55.

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3 PRINCÍPIOS QUE NORTEIAM O DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

Conforme Paulo Henrique Gonçalves Portela,9 os princípios gerais do

Direito Internacional Público caracterizam-se como regras cujo caráter se apresenta

de forma globalizada e intangível, fundamentando e dando nexo ao ordenamento

jurídico internacional e servindo como um norte, tanto para a feitura e imposição dos

preceitos internacionais, quanto para a ação de todos os sujeitos do Direito

Comunitário.

Há um rol de princípios gerais do Direito Internacional, dentre eles,

indicam-se: a soberania nacional; a não intervenção; a igualdade jurídica entre os

Estados; a autodeterminação dos povos; a cooperação internacional; a solução

pacífica das controvérsias internacionais; a proibição da ameaça ou do uso da força;

e o esgotamento dos recursos internos antes do recurso a tribunais internacionais.

Sem perder estes sua importância, outro princípio há, com maior relevância, que boa

parte da doutrina considera de maior destaque: trata-se do princípio da prevalência

dos direitos humanos nas relações internacionais.

4 CONCEITO DE DUMPING E MEDIDAS ANTIDUMPING

O conceito de dumping, conforme Roberto Caparroz,10 expressão assim

mesmo adotada pelo ordenamento jurídico brasileiro, por não haver tradução para

nenhum idioma do planeta, é preconizado pelo artigo 2.1 do Acordo sobre a

Implementação do Artigo VI do GATT, a saber:

Art. 2.1. Para as finalidades do presente Acordo, considera-se haver prática de dumping, isto é, oferta de um produto no comércio de outro país a preço inferior a seu valor normal,11 no caso de o preço

9 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito internacional público e privado. Incluindo noções de direitos humanos e de direito comunitário. 5.ed. Bahia: JusPodivm, 2013. 10 CAPARROZ, Roberto. Comércio internacional esquematizado. Coord. Pedro Lenza. São Paulo: Saraiva, 2012. 11 “Art. 8 - Considera-se ‘valor normal’ o preço do produto similar, em operações comerciais normais, destinado ao consumo no mercado interno do país exportador” (Decreto nº 8.058/13. Disponível em:

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de exportação do produto ser inferior àquele praticado, no curso normal das atividades comerciais, para o mesmo produto quando destinado ao consumo no país exportador.12

Em conformidade com o artigo 7º, do Decreto nº 8.058/13, dumping é

uma prática pela qual se introduzem produtos no mercado doméstico, no caso, o do

Brasil. “Art. 7º. Para os efeitos deste Decreto, considera-se prática de dumping a

introdução de um produto no mercado doméstico brasileiro, [...] a um preço de

exportação inferior ao seu valor normal”.13

Nesse mesmo sentido, também o Professor Sebastião José Roque

lembra que, no código antidumping, a definição relativa ao dumping teve a seguinte

redação:

Um produto deve ser considerado como caracterizador de um dumping, isto é, como introduzido no mercado de um país importador a preço inferior ao seu valor normal, se o preço de exportação desse produto, quando exportado de um país para outro, é inferior ao preço comparável, praticado no curso de operações comerciais normais, por um produto similar destinado ao consumo do país exportador.14

O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC

conceitua, exemplificando o que seja dumping:

Considera-se que há prática de dumping quando uma empresa exporta para o Brasil, por exemplo, um produto a preço (preço de exportação) inferior àquele que pratica para produto similar nas vendas para o seu mercado interno (valor normal). Dessa forma, a diferenciação de preços já é por si só considerada como prática desleal do comércio.15

Especificando ainda mais, de acordo com o MDIC:

[…] se a empresa A, localizada no país X, vende um produto neste país por US$ 100 e exporta-o para o Brasil, em condições comparáveis de comercialização (volume, estágio de

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Decreto/D8058.htm. Acesso em: 26 jul. 2013). 12 ACORDO sobre a Implementação do Artigo VI do GATT, art. 2.1. 13 Decreto nº 8.058/13, art. 7º. 14 ROQUE, Sebastião José. Direito internacional público. São Paulo: Ícone, 2010. (Col. Elementos de Direito). 15 MINISTÉRIO do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior - MDIC. Disponível em: http://www.mdic.gov.br/sitio/interna/interna.php?area=5&menu=229. Acesso em: 06 ago. 2013.

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comercialização, prazo de pagamento), por US$ 80, considera-se que há prática de dumping de US$20.16

Para Caparroz,17 a partir da definição jurídica, acima citada, pode-se

inferir que a existência de dumping não é, em si mesma, condenável. Para que um

Estado possa aplicar medidas de defesa contra a utilização de dumping por

empresas estrangeiras, sua atuação deverá estar condicionada, ainda, à presença

de dano à indústria nacional ou, ao menos, à real ameaça a um setor de produção

do país, instalado ou com projeto de instalação.

Ademais, não basta a existência do comércio baseado na deslealdade e o

dano, necessário, outrossim, que haja uma relação de causalidade. O que se

pretende é que seja verificado até que ponto as importações objetos do dumping

responsabilizam-se pelo dano sofrido pela indústria interna.

O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior lembra

que: “[...] dano é entendido no sentido de dano material ou ameaça de dano material

à indústria doméstica já estabelecida, ou ainda retardamento na implantação de uma

indústria”.18

Ainda de acordo com o sítio do MDIC, entende-se como indústria

doméstica: “[...] a totalidade dos produtores nacionais de produto similar ao

importado, ou o conjunto de produtores, cuja produção do produto doméstico similar

constitua parcela significativa da produção nacional”.19

Para o MDIC, são considerados fatores relevantes, entre outros:

[...] o volume e preço de importação que não se vendam a preços de dumping, impacto do processo de liberalização das importações sobre os preços domésticos, contração na demanda ou mudanças nos padrões de consumo, práticas restritivas ao comércio pelos produtores domésticos e estrangeiros, e a concorrência entre eles, progresso tecnológico, desempenho exportador e produtividade da indústria doméstica.20

16 MINISTÉRIO do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior - MDIC. Disponível em: http://www.mdic.gov.br/sitio/interna/interna.php?area=5&menu=229. Acesso em: 06 ago. 2013. 17 CAPARROZ, Roberto. Comércio Internacional esquematizado. Coord. Pedro Lenza. São Paulo: Saraiva, 2012. 18 MINISTÉRIO do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior - MDIC. Disponível em: http://www.mdic.gov.br/sitio/interna/interna.php?area=5&menu=229. Acesso em: 06 ago. 2013. 19 MINISTÉRIO do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior - MDIC. Disponível em: http://www.mdic.gov.br/sitio/interna/interna.php?area=5&menu=229. Acesso em: 06 ago. 2013. 20 MINISTÉRIO do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior - MDIC. Disponível em: http://www.mdic.gov.br/sitio/interna/interna.php?area=5&menu=229. Acesso em: 06 ago. 2013.

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Larry John Rabb Carvalho21 lembra que, desse modo, conclui-se que o

dumping, quando preenchidos esses três requisitos, o próprio dumping, dano e

nexo, é um ilícito jurídico-econômico. Jurídico porque é um fato regulado por leis e

tratados que impõem sanções, claras e objetivas. Econômico, porque a medida

tomada contra essa prática visa à proteção do mercado interno.

Com o intuito de remediar as consequências de um dano sofrido pela

prática do comércio desleal, ainda que seja a ameaça de dano, as indústrias

domésticas de um país podem aplicar os chamados direitos antidumping. É um dos

tipos de medidas tomadas para a defesa comercial. São, segundo os autores

Fernando de Magalhães Furlan e Thomas Benes Felsberg,22 restrições de ordem

legal, definidas na OMC e usadas pelas autoridades nacionais contra importações

que, de alguma forma, estejam fora dos padrões adotados naquele organismo. Tais

direitos têm como objetivo evitar que os produtores nacionais sejam prejudicados

por importações realizadas a preços de dumping.

Conceituam-se direitos antidumping como sendo o direito que se aplica a

importações de determinado bem de uma parte específica, a fim de eliminar o

prejuízo causado pelo dumping à indústria doméstica da parte importadora. É

permitida, portanto, pelo artigo VI do GATT 1994,23 a imposição de direitos

antidumping a mercadorias objeto de dumping, se o dumping prejudicar produtores

de países concorrentes na parte importadora.24

5 FUNDAMENTOS A FAVOR E CONTRA A APLICAÇÃO DAS MEDIDAS

ANTIDUMPING

21 CARVALHO, Larry John Rabb. Medidas antidumping e a segurança jurídica. 2010. Disponível em: http://www.promare.adv.br/2010/10/medidas-antidumping-e-seguranca.html. Acesso em: 08 ago. 2013. 22 FURLAN, Fernando de Magalhães; FELSBERG, Thomas Benes (Orgs.). Brasil – China: comércio, direito e economia. São Paulo: Lex Editora, 2011. 23 Acordo Antidumping – Acordo relativo à Implementação do Artigo VI do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio, 1994, no Anexo 1 A do Acordo da OMC – acordo da OMC oriundo da Rodada Uruguai que implementa o Artigo VI do GATT 1994, que trata do tema sobre direitos antidumping (SICE. 2013. Disponível em: http://www.sice.oas.org/dictionary/GT_p.asp#GT. Acesso em: 09 ago. 2013). 24 SICE. 2013. Disponível em: http://www.sice.oas.org/dictionary/GT_p.asp#GT. Acesso em: 09 ago. 2013.

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A base jurídica na qual se fundamenta a aplicação da medida

antidumping se encontra enquadrada no Acordo Relativo à Aplicação do Artigo VI do

Acordo Geral sobre Tarifas Alfandegárias e Comércio de 1994, que foi incorporado

pelo Brasil por meio do Decreto nº 1.355, de 30 de dezembro de 1994, e

regulamentado pelo Decreto nº 1.602, de 23 de agosto de 1995, revogado pelo

Decreto nº 8.058, de 26 de julho de 2013, que, hoje, regulamenta os procedimentos

administrativos relativos à investigação e à aplicação de medidas antidumping, além

de dar outras providências.25

São igualmente observáveis, juntamente com o Decreto nº 8.058/13, que

trata das medidas antidumping, a Resolução Camex nº 13, de 29/02/2012, que

institui o Grupo Técnico de Avaliação do Interesse Público – GTIP, a Resolução

Camex nº 38, de 11/06/2012, que altera a Resolução Camex nº 13/2012, acerca do

prazo de proposição de Regimento Interno; e, por último, a Resolução nº 50, de

05/07/2012, que adota roteiro para pedidos de suspensão ou alteração de medidas

antidumping definitivas ou a não aplicação das medidas provisórias.

Conforme Felipe Hees,26 adotam-se medidas antidumping com o escopo

de proteger a indústria doméstica da concorrência desleal estrangeira. Ele ressalta

as justificativas mais utilizadas para que se solicite a proteção através de adoção

daquelas medidas de defesa. Dentre elas, incluem-se as seguintes: o dumping

representa manifestação de preço predatório, ao conquistar o mercado nacional, os

preços dos produtos serão aumentados, pois os produtores estrangeiros objetivam a

recuperação do lucro; a discriminação entre os preços apresentados no mercado de

origem e no importador representa um fato econômico negativo; há um afastamento

de investimentos no mercado importador diante da prática de dumping; e, ainda, a

justiça social justifica a aplicação da medida antidumping, com o intuito de se

protegerem empresas nacionais e seus trabalhadores contra a concorrência

estrangeira.

Consoante Fabrizio Panzini e Lucas Spadano,27 embora se deva levar em

conta a importância das medidas para protegerem as indústrias nacionais, quando 25 LIMA, Mônica Elisa de. 2010. Disponível em: http://www.comexdata.com.br/principal.php?home=principal&frame=set&page=index.php?PID=1000000157. Acesso em: 09 ago. 2013. 26 HEES, Felipe. Dumping, subsídios e salvaguardas: revisitando aspectos técnicos dos instrumentos de defesa comercial. In: HEES, Felipe; CASTAÑON, Marília Penha Valle (Orgs.). O dumping ao longo da história e seus efeitos para o comércio. São Paulo: Singular, 2012. p.25-53. 27 PANZINI, Fabrizio; SPADANO, Lucas. Defesa comercial versus interesse público. 2012. Disponível em: http://www.ibrac.org.br/Noticias.aspx?id=2038. Acesso em: 10 ago.2013.

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há importações a preço de dumping, ou, como já ressaltado, práticas do comércio

desleal, infringindo regras internacionais e prejudicando tais indústrias, de outra

banda, é imprescindível que se atente que há momentos em que infligir medidas de

defesa, como direitos antidumping, pode causar sérios e lesivos efeitos sobre os

parques industriais e sobre a economia do país, afetando o interesse público.

A atual redação do Acordo Antidumping, recorda Leonor Cordovil,28

dispõe que, após analisados todos os requisitos para a aplicação do antidumping

(sendo identificados o dumping, o dano e o nexo causal), a autoridade pode (e, não,

deve) aplicar a medida. Fica a critério do membro da OMC a aplicação da medida. O

motivo pelo qual os membros não aplicam as medidas de defesa reside em,

exatamente, ser contrária ao interesse público.

Conclui Cynthia Kramer29 que necessário se faz aplicar o antidumping,

mas que não seja prejudicial à economia brasileira. Tem interesse o Estado na

aplicação da medida de defesa, porém é preciso observar regras da OMC, sem

somente visar à arrecadação de recursos para simplesmente abastecer os cofres

públicos.

Em que pese alguns estudiosos serem a favor, mas com algumas

restrições, à medida de defesa comercial em comento, há também aqueles que

concluem que as medidas antidumping não são ideais para a defesa do mercado e

das indústrias nacionais, é exatamente o que frisam Roberto Di Sena Júnior e

Scheron Dal Pizzol,30 por acharem que o seu caráter é protecionista, dificultando o

comércio internacional. Por isso, os países apresentam, durante as negociações,

propostas que visam a restringir a utilização distorcida desse recurso de defesa. Os

termos descritos são vagos, e as normas e procedimentos, complexos, por isso, os

países que não dispõem de recursos técnicos e financeiros têm dificuldades na

aplicação.

28 CORDOVIL, Leonor. Antidumping: interesse público e protecionismo no comércio internacional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. p.56. 29 Cynthia Kramer é advogada de LOB-SVMFA, especialista em comércio internacional. Entrevista por telefone e e-mail concedida à autora deste artigo. 30 SENA JÚNIOR, Roberto Di; PIZZOL, Scheron Dal. Dumping e comércio internacional: uma perspectiva em prol do multilateralismo. Org. Osvaldo Agripino de Castro Jr. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2005.

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De acordo com Sena Jr. e Pizzol,31 ao utilizar as medidas antidumping

como forma de controlar a concorrência dos produtos estrangeiros, o Estado

beneficia determinadas indústrias ou setores ineficientes, e o custo dessa proteção

recai sobre a sociedade. Porém, se utilizadas de forma correta e somente quando

necessário pelas autoridades nacionais, defendem os autores, as medidas

antidumping irão apenas reequilibrar o mercado que sofreu influências enganosas

causadas por importações com dumping e seus danos (quando comprovados). Se

há intenção de criar regras para liberalizar o comércio, os países devem também

buscar aplicá-las de forma correta para que o benefício advindo do comércio

internacional seja percebido por todos.

6 NOVO ACORDO ANTIDUMPING E A CLÁUSULA DO INTERESSE PÚBLICO

Como já mencionado, o Decreto nº 1.602, de 23 de agosto de 1995, foi

revogado pelo Decreto nº 8.058, de 26 de julho de 2013, que foi publicado no dia 29

de julho deste ano, passando a valer, em 1º de outubro de 2013, as novas regras

para o processo de investigação antidumping. O novo decreto, de acordo com André

Diniz,32 incorpora mudanças importantes para enfrentar os desafios contemporâneos

do comércio exterior brasileiro. Antes, o prazo para investigações de existência de

dumping era de 15 meses, e, hoje, tais investigações são concentradas em 10

meses, dentre várias outras mudanças. Tais alterações têm como objetivo fazer com

que as investigações sejam mais céleres, transparentes e eficientes, motivo pelo

qual foi feita uma consulta pública.33

Além de pilares positivos que são destaques no novo acordo, como

celeridade das investigações, eficácia das medidas e a previsibilidade para o setor

privado, este, evidente na descrição detalhada dos procedimentos, diferencia o

decreto atual do anterior. Das várias modificações trazidas pelo novo decreto, a

31 SENA JÚNIOR, Roberto Di; PIZZOL, Scheron Dal. Dumping e comércio internacional: uma perspectiva em prol do multilateralismo. Org. Osvaldo Agripino de Castro Jr. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2005. 32 Compõe a Assessoria de Comunicação Social do MDIC. 33 FIESP/CIESP. Panorama Defesa Comercial. 2013. Disponível em: http://www.fiesp.com.br/wp-content/uploads/2013/08/Panorama-DC-%E2%80%93-Edi%C3%A7%C3%A3o-Especial-%E2%80%93-Agosto.2013.pdf. Acesso em: 08 out.2013.

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cláusula de interesse público, a que se refere este trabalho, é uma das mais

importantes. Tal cláusula é prevista pela Resolução Camex nº 13/2012, instrumento

normativo que torna pública a aplicação da medida de defesa comercial, submetida

diretamente à aprovação da Câmara de Comércio Exterior – Camex, à qual compete

aplicar medidas de defesa comercial, sendo, portanto, as investigações iniciadas

pela Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e

Comércio Exterior – Socex e conduzidas pelo Departamento de Comércio – Decom.

No acordo anterior, não havia delimitação no prazo para suspensão de

direitos antidumping; já pelo novo decreto, os ministros da Camex podem suspender

direitos antidumping definitivos por até um ano, com prorrogação desse prazo por

uma única vez, por igual período, além de tomar outras providências, em nível

excepcional, em razão de interesse público. Conforme o art.3º do Decreto nº

8.058/13:

Art. 3 Em circunstâncias excepcionais, o Conselho de Ministros poderá, em razão de interesse público: I - suspender, por até um ano, prorrogável uma única vez por igual período, a exigibilidade de direito antidumping definitivo, ou de compromisso de preços, em vigor; II - não aplicar direitos antidumping provisórios; [...].34

7 DISCUSSÕES SOBRE O INTERESSE PÚBLICO

Leonor Cordovil35 ressalta que, na Constituição da República Federativa

Brasileira, os primeiros valores a serem perseguidos pelo Estado encontram-se

descritos já no art. 3º, a seguir. Esses valores são desdobramentos do interesse

público no rol de objetivos fundamentais a serem perseguidos pelos poderes.

Também a representação popular e a separação dos poderes são a manifestação

da necessária intervenção popular na escolha do que será considerado interesse

público.

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

34 DECRETO nº 8.058/13, art.3º. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Decreto/D8058.htm. Acesso em: 10 set. 2013. 35 CORDOVIL, Leonor. Antidumping: interesse público e protecionismo no comércio internacional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.

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I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.36

Diz Celso Antonio Bandeira de Mello37 que o interesse público ou primário

é o pertinente à sociedade como um todo.

Segundo Leonor Cordovil,38 a expressão “interesse público” carrega,

entretanto, um peso muito grande, significa que a autoridade de defesa comercial

deverá desvendar o interesse nacional, um interesse de todas as pessoas, um

interesse maior e indiscutível que trará a resposta que o país busca em relação às

importações. Além disso, “interesse público” remete o negociador e a autoridade

nacional à esfera do bem comum, da discussão político-social, que ultrapassa as

fronteiras de uma simples discussão antidumping (de natureza econômica).

O interesse público pode ser definido, no âmbito da legislação de defesa

comercial, como uma análise do impacto da imposição de medidas para defesa do

comércio do país importador, tomando-se vários interesses em conjunto. Portanto, o

interesse público seria a soma de todos os interesses privados da economia.39

Para Leonor Cordovil,40 definir o interesse público no antidumping causa,

sem dúvida, um embaraço, e isso se deve à própria expressão. Nenhuma outra

poderia trazer mais apelo ao clamor de soberania dos países. Se os países tivessem

optado por negociar apenas aspectos econômicos relativos aos efeitos provocados

pelas medidas, por exemplo, seria mais fácil chegar a um acordo. Essa

indeterminação em se definir o interesse público traz dificuldades, outrossim, na sua

análise e em uma consequente possibilidade de invocá-lo com o escopo de

suspender ou não aplicar medidas de defesa.

36 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 18. ed. rev. ampl. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. (Coleção RT Códigos). 37 MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Malheiros, 2008. 38 CORDOVIL, Leonor. Antidumping: interesse público e protecionismo no comércio internacional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. 39 SEAE. 2013. Disponível em: http://www.sice.oas.org/dictionary/GT_p.asp#GT. Acesso em: 12 out.2013. 40 CORDOVIL, Leonor. Antidumping: interesse público e protecionismo no comércio internacional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.

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Consoante Cynthia Kramer,41 interesse público deve ser interpretado

como interesse ‘macro’. Não se trata, por exemplo, de apenas oferecer mercadoria

por preço menor, é muito mais que isso. É lidar com assuntos como inflação, cesta

básica, enfim, cadeia produtiva afetada, levando em consideração a economia como

um todo.

Cordovil42 chama a atenção no sentido de ser fundamental que sejam

definidos parâmetros claros, que devem ser seguidos por todos os membros da

OMC, no caso de a definição do interesse público ser considerada obrigatória, no

campo das negociações do comércio internacional. De acordo com essa autora, o

interesse público serve de justificativa para a não aplicação das medidas de defesa

comercial quando se entender que os benefícios gerados, por essas medidas, à

indústria doméstica são menores que os prejuízos provocados aos agentes

diversamente afetados (consumidores, usuários industriais do produto,

importadores, sociedade em geral, etc.).

Em um trabalho de pesquisa desenvolvido pela Secretaria de

Acompanhamento Econômico - SEAE/Ministério da Fazenda acerca do assunto,

Andrea Macera43 explica o que é o interesse público e assevera que envolve duas

vertentes, ou seja, em primeiro lugar, questões políticas mais gerais, por exemplo,

preocupação com as relações comerciais, com o país exportador ou com políticas

setoriais específicas, e, em segundo lugar, estão questões de natureza econômica,

isto é, desabastecimento ou impacto sobre os custos da indústria intermediária,

também chamada de usuária. Macera44 ressalta que os poucos precedentes

envolvendo a aplicação dessa cláusula no Brasil não permitem uma definição clara

do que possa ser interesse nacional (ou interesse público). Na verdade, a vagueza

do termo e as dúvidas quanto aos critérios de uso estão presentes em praticamente

todos os países que a adotam em suas legislações.

Conquanto tal provisão já exista no arcabouço normativo de diversos

países, como os da União Europeia e Canadá, seu uso não é frequente. No âmbito

41 Cynthia Kramer. Entrevista por telefone e e-mail concedida à autora deste artigo. 42 CORDOVIL, Leonor. Antidumping: interesse público e protecionismo no comércio internacional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. 43 MACERA, Andrea. Interesse público e defesa comercial: considerações gerais. Revista Brasileira do Comércio Exterior, Rio de Janeiro, n.114, p.12-19, jan./mar. 2013. Disponível em: http://www.funcex.org.br/publicacoes/rbce/material/rbce/114_APM.pdf. Acesso em: 01 nov. 2013. 44 MACERA, Andrea. Interesse público e defesa comercial: considerações gerais. Revista Brasileira do Comércio Exterior, Rio de Janeiro, n.114, p.12-19, jan./mar. 2013. Disponível em: http://www.funcex.org.br/publicacoes/rbce/material/rbce/114_APM.pdf. Acesso em: 01 nov. 2013.

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da Organização Mundial de Comércio, continua Andrea,45 o Acordo Antidumping não

proíbe nem obriga a consideração do interesse público. Ainda assim, argumenta-se

que a cláusula do interesse nacional exerce importante papel para contrabalançar os

efeitos adversos das medidas antidumping. Para Felipe Hees,46 apesar da

relevância do assunto, é limitada a literatura nacional devotada à análise do

interesse público na aplicação de medidas antidumping. Hélène Ruiz Fabri47 ressalta

que a autora Leonor Cordovil48 conseguiu mostrar, em sua obra, que os membros da

OMC, notadamente, os países em desenvolvimento que fazem uso crescente do

antidumping, parecem ter percebido que devem desenvolver e utilizar, de uma forma

melhor, a ferramenta do interesse público.

8 A INSTITUIÇÃO DO GRUPO TÉCNICO DE AVALIAÇÃO DE INTERESSE

PÚBLICO – GTIP

O GTIP – Grupo Técnico de Avaliação de Interesse Público foi instituído

com o objetivo de analisar a suspensão ou alteração de medidas antidumping e

compensatórias definitivas, bem como a não aplicação de medidas antidumping e

compensatórias provisórias, por razões de interesse público. Conforme o artigo 1º da

Resolução nº 13 da Camex:

Art. 1º Instituir o Grupo Técnico de Avaliação de Interesse Público – GTIP com o objetivo de analisar a suspensão ou alteração de medidas antidumping e compensatórias definitivas, bem como a não aplicação de medidas antidumping e compensatórias provisórias, por razões de interesse público.

45 MACERA, Andrea. Interesse público e defesa comercial: considerações gerais. Revista Brasileira do Comércio Exterior, Rio de Janeiro, n.114, p.12-19, jan./mar. 2013. Disponível em: http://www.funcex.org.br/publicacoes/rbce/material/rbce/114_APM.pdf. Acesso em: 01 nov. 2013. 46 HEES, Felipe. Interesse público e a aplicação de medidas antidumping no Brasil. Revista Brasileira do Comércio Exterior, Rio de Janeiro, n.114, p.6, jan./mar. 2013. 47 FABRI, Hélène Ruiz. Prefácio. In: CORDOVIL, Leonor. Antidumping: interesse público e protecionismo no comércio internacional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. p.15-16. 48 CORDOVIL, Leonor. Antidumping: interesse público e protecionismo no comércio internacional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.

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De acordo com Fabrizio Panzini e Lucas Spadano,49 ao grupo

interministerial, secretariado pela Secretaria de Acompanhamento Econômico

(SEAE) do Ministério da Fazenda, compete analisar os casos em que seja prudente,

por razões de interesse público, recomendar à Camex a suspensão ou redução da

aplicação de medida antidumping. O GTIP é um órgão consultivo, não delibera, suas

conclusões são levadas ao Comitê Executivo de Gestão (Gecex) ou ao Conselho de

Ministros da Câmara de Comércio Exterior (Camex). Não se pode utilizar o GTIP

como foro para que se realizem investigações de infrações à ordem econômica.50

Se, após as investigações, for possível suspender a exigibilidade de um direito

definitivo, com base na cláusula do interesse público, o prazo será de até um ano,

prorrogável uma única vez. Ao final desse período, o direito antidumping se

extinguirá, caso não haja reaplicação do direito, por decisão da Camex, ou caso não

esteja expressamente prevista sua retomada no ato da sua suspensão. Podem,

igualmente, não ser aplicados direitos provisórios ou direito definitivo.51

O GTIP tem como pontos positivos estar em consonância com propostas

de organismos internacionais e com a experiência internacional, representar um

avanço na institucionalização da cláusula do interesse público, separar as instâncias

técnica e política e lidar com mais transparência no processo decisório.52

Das mais atuais resoluções, uma delas se destaca: a Resolução Camex

nº 35/13 instituiu, por razões de interesse público, a suspensão da cobrança de

direitos antidumping definitivos e a não aplicação de direitos antidumping

provisórios, dentre outras medidas, nas importações destinadas aos eventos da

Copa das Confederações Fifa 2013 e Copa do Mundo Fifa 2014. A medida

relaciona-se à garantia concedida pelo Brasil à Fifa para a realização dos eventos

sob comento. Somente os importadores habilitados pela Receita Federal, nos

49 PANZINI, Fabrizio; SPADANO, Lucas. Defesa comercial versus interesse público. Disponível em: http://www.ibrac.org.br/Noticias.aspx?id=20382012. Acesso em: 14 out. 2013. 50 FIESP/2012. Grupo Técnico de Avaliação de Interesse Público. Coordenação Andrea Macera. Disponível em: http://www.fiesp.com.br/wp-content/uploads/2012/11/Andrea-Macera-COGCI-MF.pdf. Acesso em: 08 out. 2013. 51 FIESP. Guia Antidumping. 2013. Coord. Jacqueline Spolador Lopes. Disponível em: http://www.fiesp.com.br/indices-pesquisas-e-publicacoes/guia-antidumping/. Acesso em: 08 out. 2013. 52 SEAE. Interesse Público e Defesa Comercial. 2013. Coordenadoria-Geral SEAE/MF. Secretaria de Acompanhamento Econômico. Disponível em: http://www.ibrac.org.br/Uploads/Eventos/13SeminarioComercio/apresenta%C3%A7%C3%B5es/P4/ANDREA%20MACERA.pdf. Acesso em: 05 nov.2013.

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termos do Decreto nº 7.578/11, poderão usufruir da nova regra, que já está em vigor

e perdurará até julho de 2014.53

9 O TESTE DO INTERESSE PÚBLICO

Consoante Leonor Cordovil,54 as negociações sobre o teste do interesse

público no antidumping são antigas, para ela, não se trata de um tema novo.

Contudo, pouco se avançou no sentido de torná-lo obrigatório, ou, de alguma forma,

tentar harmonizar os entendimentos e a aplicação pelos membros. Há, para alguns

deles, a previsão da cláusula em seus ordenamentos, trazendo contribuições

relevantes às discussões nos grupos de negociação do GATT e OMC. Outros,

contudo, seguem afirmando que a imposição de uma cláusula que obrigue o

membro a observar o interesse público, definindo o que é esse interesse, seria uma

violação à soberania, já que a definição do que é interesse público cabe ao próprio

membro.

Vários membros da OMC aderiram e entraram nas negociações sobre o

teste do interesse público, houve, sobre o assunto, várias indagações, até se chegar

ao objetivo que, segundo Cordovil,55 deveria ser diminuir ou eliminar direitos

antidumping em razão de considerações de um interesse público mais amplo. Seria

necessário examinar, durante o curso das investigações, os outros interesses

(consumidores, importadores, etc.) também afetados se as medidas forem impostas

no todo ou em parte. Outros membros, como os Estados Unidos e Austrália, foram

contrários; o primeiro fez indagações sobre a liberdade do membro para determinar

os critérios para utilizar a invocação do interesse público; o segundo foi contrário por

entender que a consideração do interesse público depende da maneira como cada

membro se relaciona com sua própria lei, e enfatizou a necessidade de

previsibilidade, transparência e respeito ao devido processo.

53 FIESP/CIESP. Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior – Derex da Fiesp. Panorama Defesa Comercial, São Paulo, n.9, p.4-5, maio 2013. 54 CORDOVIL, Leonor. Antidumping: interesse público e protecionismo no comércio internacional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. 55 CORDOVIL, Leonor. Antidumping: interesse público e protecionismo no comércio internacional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.

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Para Cordovil,56 havia uma preocupação dos membros com a aplicação

da cláusula, que girava em torno de o conceito de interesse público ser muito

subjetivo, objetivando fazer do teste apenas uma diretriz a ser seguida e não uma

obrigatoriedade.

Consoante Cordovil,57 a Comunidade Europeia é um dos poucos

membros que aplica o teste do interesse público, mesmo que se conclua que as

importações a preço de dumping estejam causando dano à indústria doméstica,

como dispõe o Regulamento Básico europeu: “[...] as medidas antidumping podem

não ser aplicadas se a autoridade concluir que não é do interesse comunitário

aplicá-las”. Tal teste é criticado pela insegurança e opacidade. A experiência

brasileira, nessa matéria, diz Cordovil,58 não permite alcançar conclusões acerca do

entendimento das autoridades brasileiras sobre o interesse público no antidumping.

Não houve, ainda, um posicionamento uniforme, a formação de um precedente

importante, nas decisões brasileiras, que indicasse a posição do país.

No que tange ao procedimento, enfatiza ela, de acordo com a legislação

brasileira, explica, em resumo, a Camex pode, diante de circunstâncias

excepcionais, decidir em favor do interesse nacional, deixando de aplicar medidas

antidumping mesmo quando demonstrado o dano, o dumping e o nexo causal. O

teste não é obrigatório e não é feito em todos os casos, ademais, a Camex não é a

autoridade que conduz a investigação (e sim o Decom), há, portanto, um

distanciamento substancial entre os responsáveis pela definição do interesse público

e aqueles que pesquisaram o mercado, investigaram os produtos e verificaram as

informações. Por não existirem critérios, há dificuldade em se analisar o interesse

público no caso concreto, havendo muita pressão de grupos interessados e poucas

condições para uma boa decisão pela câmara.

10 CRITÉRIOS ADOTADOS NA ANÁLISE DO INTERESSE PÚBLICO

56 CORDOVIL, Leonor. Antidumping: interesse público e protecionismo no comércio internacional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. 57 CORDOVIL, Leonor. Antidumping: interesse público e protecionismo no comércio internacional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. 58 CORDOVIL, Leonor. Antidumping: interesse público e protecionismo no comércio internacional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.

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Três são os critérios, consoante Leonor Cordovil,59 que são objeto de

análise frequentemente pelas autoridades que aplicam o teste do interesse público e

exprimem o desejo de buscar a decisão mais adequada e que melhor espelhe o

interesse público nacional; são, a saber:

a) A concorrência, incluindo os interesses do consumidor por preços

baixos e opções de compra - uma boa análise concorrencial, preocupada com a

influência do comércio internacional sobre a concorrência, e vice-versa, já é o

primeiro passo para a realização do interesse público, entendido como a busca do

bem-estar para consumidores e concorrentes em esfera mundial. A imposição de

uma medida pode provocar restrição à concorrência.

b) O emprego e a redução dos salários - fator quase sempre considerado

pelos membros que já aplicam o teste do interesse público é a análise das

condições para se chegar à proteção de empregos de algumas das partes

prejudicadas por uma investigação antidumping. Salvar empregos da indústria

doméstica é preocupação de toda investigação antidumping. Entretanto, preservar

os empregos dos produtores domésticos pode significar a perda dos empregos de

importadores e usuários industriais do produto, sendo preciso balancear essas duas

prováveis perdas. Na maior parte das decisões analisadas, a opção é pela indústria

que mais empregava ou demandava trabalho.

c) O desenvolvimento tecnológico e industrial - são comuns os casos em

que a autoridade nacional decide iniciar uma investigação antidumping, ou aplicar

medidas definitivas, baseando-se no fato de que a indústria doméstica é estratégica

ao desenvolvimento industrial e tecnológico do país. Esse é um requisito essencial,

pois está economicamente ligado ao interesse público e ao desenvolvimento

econômico do setor que busca a proteção. Contudo, há que se fazê-lo com cuidado

para não se tomar uma decisão errada, pois, talvez, o setor protegido possa não ser

mais interessante à economia do país, ou pode ser um setor que não tende a se

desenvolver, pela própria natureza da atividade. Necessário se faz observar pontos

como a capacidade de desenvolvimento da indústria, a capacidade de investimento,

o interesse nacional pelo desenvolvimento da indústria.

59 CORDOVIL, Leonor. Antidumping: interesse público e protecionismo no comércio internacional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.

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11 PARTES INTERESSADAS NA SUBMISSÃO DE CONSIDERAÇÕES DE

INTERESSE PÚBLICO

Segundo Leonor Cordovil,60 o acordo antidumping, na nova redação que

está sendo negociada pelos membros, deve prever quais são as partes interessadas

no teste do interesse público; grosso modo, são:

a) A indústria doméstica - O dumping produz consequências negativas

para o interesse dessas empresas, razão pela qual elas pedem ao governo do país

que abra investigações para analisar a existência de práticas desleais de comércio.

b) Os importadores - São raros os importadores que revendem apenas o

produto investigado. Usualmente, eles oferecem uma gama variada de produtos,

sendo possível desviar seus esforços, anteriormente despendidos com o produto

sob investigação, para outros produtos não investigados.

c) Usuários industriais - Economicamente, os usuários são a indústria

mais prejudicada pela aplicação de medidas antidumping. O usuário é o responsável

pela encomenda do produto ao importador ou ao exportador.

d) Consumidores e suas associações - Eles podem fornecer uma visão

realista da oferta, sob o ponto de vista da demanda. São capazes de relatar as

dificuldades encontradas no mercado do produto final, uma eventual existência de

práticas abusivas, infrações ao direito do consumidor, ou mesmo uma inaptidão da

indústria doméstica em fornecer o produto.

e) Os exportadores - Não se considera, geralmente, a sua manifestação

sobre interesse público. A justificativa é que essas empresas não estão localizadas

no território e não estão preocupadas com os desejos e necessidades locais. Esse

entendimento tende a mudar por causa da globalização.

12 JURISPRUDÊNCIAS RELACIONADAS AO INTERESSE PÚBLICO NO

ANTIDUMPING

60 CORDOVIL, Leonor. Antidumping: interesse público e protecionismo no comércio internacional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.

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A seguir, apresentam-se exemplos de jurisprudências brasileiras

relacionadas ao interesse público no antidumping de acordo com estudos de Leonor

Cordovil:61

a) Processo MDIC/Secex 52100.085489/2002-27, Importação de pneus

novos para bicicletas, Res. Camex 37, de 11.12.2003, publ. DOU 19.12.2003.2.

b) Processo MDIC/Secex 52100-017966/2003-11, Importação de ferro

cromo, Res. Camex 31, de 05.10.2004, publ. DOU 11.10.2004.3.

c) Processo MDIC/Secex 52500.007154/2005-16, Importação de cimento

portland, Res. Camex 36, de 22.11.2006, publ. DOU 27.11.2006.

13 CONCLUSÃO

Verificou-se, pelos registros, no presente artigo, que o dumping que não

tem cunho de dano é permitido, visto que há sociedades empresárias que dele

necessitam, ou seja, é, para elas, essencial a aquisição de produtos a baixos

preços, e, se não causa prejuízos a indústrias nacionais, não há por que proibir a

prática do dumping. Lado outro, na existência de tal prática e trazendo consigo um

dano juntamente a um nexo de causalidade entre este ato danoso adicionado a

consequências graves e prejudiciais àquela sociedade empresária, será, pois,

atacado pela medida de defesa comercial antidumping, que tem o poder de

agasalhar a indústria doméstica contra deslealdades nas práticas comerciais,

garantindo uma concorrência com mais justiça no mundo do comércio internacional

entre produtores domésticos e estrangeiros.

Mas há uma delicada situação que é imprescindível que seja vista com

mais atenção pelas autoridades em comércio internacional, como já fora relatado no

presente trabalho e novamente mencionado no parágrafo acima, seria aceitável,

dentro de uma normalidade nas situações adequadas para tal, a aplicação do

antidumping, porém por causa do “Interesse Público”, isto é, um interesse “macro”,

semelhante medida deixa de ser imposta.

Os estudos realizados levam a concluir que é fundamental que haja a

invocação de tal interesse, pois não contempla somente o interesse de uma ou outra

61 CORDOVIL, Leonor. Antidumping: interesse público e protecionismo no comércio internacional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.

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parte envolvida no processo das relações comerciais, mas um país como um todo.

Porém é mister reconhecer que há situações a serem melhoradas nessa

empreitada, uma delas é definir-se com precisão o que vem a ser “Interesse

Público”, há, entre os países-membros, muita insegurança com relação a isso.

Importante que estes se entendam no que tange a tal definição. Enfim, há

controvérsias sobre o entendimento, da cláusula do interesse público e de vários

pontos do Acordo Antidumping, que provocam divergência entre os países-membros

da Organização Mundial do Comércio. É essencial, para que haja menos

discricionariedade do país investigador e menos protecionismo às suas indústrias,

haver mais clareza e transparência, requisitos básicos para tal entendimento, e

ainda, maior consciência dos fatores que envolvem a medida de defesa comercial

aqui estudada.

Em suma, resta comprovada a importância do interesse público, assim

como também é preciso que possa ser garantida a todas as partes envolvidas em

relações internacionais comerciais a segurança jurídica, além do respeito ao

Princípio da Soberania. Infelizmente, nem todas as partes agem com honestidade

nessa seara. A globalização trouxe a liberalização comercial, muitos países

caminham ao encontro de soluções de controvérsias e análises em prol da utilização

consciente do interesse nacional nas várias situações com as quais se deparam,

nada obstante, há países que defendem seus lucros, desenfreadamente, em

detrimento do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, em detrimento de

negociações leais.

THE INVOCATION OF THE PUBLIC INTEREST AS A RELEVANT FACTOR FOR THE ANTI-DUMPING ANALYSIS

ABSTRACT

This present essay (thesis, dissertation) intends to show, into the framework of

International Civil Law, more specifically focusing foreign trade relations, the public

interest subject, its invocation, definition and importance as a justification in order not

to apply or lift antidumping.

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Keywords: International Low; Dumping; Antidumping, Interest Public.

REFERÊNCIAS

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