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COMO ENFRENTAR A CRISE E O DESEMPREGO? pag. 2 O QUE ESTÁ POR TRÁS DO DISCURSO DE QUALIDADE DO ENSINO PÚBLICO? pag.6 DIPLOMACIA E GUERRA: DOI SINSTRUMENTOS DE DOMNAÇÃO DOIMPERILAISMO pag.7 ENCONTRO DE BASE NO ABC: AGORA É FORTALECER O COMITÊ pag. 5 DERROTA NA EMBRAER: OS LIMITES DE UM SINDICALISMO IMEDIATISTA pag.4 CRISE EXPÕE BARBÁRIE CAPITALISTA: AVANÇO DA XENOFOBIA pag.9 ESPAÇO SOCIALISTA Publicação Revolucionária Marxista de Debates COMO L COMO L COMO L COMO L COMO LUT UT UT UT UTAR AR AR AR AR CONTRA A CRISE E CONTRA A CRISE E CONTRA A CRISE E CONTRA A CRISE E CONTRA A CRISE E O DESEMPREGO? O DESEMPREGO? O DESEMPREGO? O DESEMPREGO? O DESEMPREGO? Ano IX - N° 30 abril de 2009 Contribuição: R$ 1,50 150 ANOS DO DARWINISMO: A EVOLUÇÃO ENTRE O MITO E A CIÊNCIA pag.11

COMO LUTAR CONTRA A CRISE E O DESEMPREGO?espacosocialista.org/portal/wp-content/uploads/2013/01/... · 2013-01-23 · E O DESEMPREGO? pag. 2 O QUE ESTÁ POR TRÁS DO ... que deram

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COMO ENFRENTAR A CRISEE O DESEMPREGO?

pag. 2

O QUE ESTÁ POR TRÁS DODISCURSO DE QUALIDADE

DO ENSINO PÚBLICO?pag.6

DIPLOMACIA E GUERRA: DOISINSTRUMENTOS DE

DOMNAÇÃO DOIMPERILAISMOpag.7

ENCONTRO DE BASE NOABC: AGORA É

FORTALECER O COMITÊpag. 5

DERROTA NA EMBRAER:OS LIMITES DE UM

SINDICALISMO IMEDIATISTApag.4

CRISE EXPÕE BARBÁRIECAPITALISTA: AVANÇO DA

XENOFOBIApag.9

ESPAÇO SOCIALISTA Publicação Revolucionária Marxista de Debates

COMO LCOMO LCOMO LCOMO LCOMO LUTUTUTUTUTARARARARARCONTRA A CRISE ECONTRA A CRISE ECONTRA A CRISE ECONTRA A CRISE ECONTRA A CRISE EO DESEMPREGO?O DESEMPREGO?O DESEMPREGO?O DESEMPREGO?O DESEMPREGO?

Ano IX - N° 30 abril de 2009Contribuição: R$ 1,50

150 ANOS DO DARWINISMO:A EVOLUÇÃO ENTRE O MITO

E A CIÊNCIApag.11

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Como lutar contra a crise e o desemprego?Enquanto no mundo todo a crise

segue se aprofundando, no Brasil,podemos dizer que já estamos em umarecessão, cujo início ficou patente coma primeira grande leva de mais de 2milhões de demissões ocorridas entre ofim de 2008 e o início de 2009 – entreelas as 4.200 demissões na EMBRAER.Isso sem falar na quantidade de empresasque deram licenças sem remuneração,reduziram salários e direitos.

O desemprego segue aumentando,embora em um ritmo menor, e novaslevas de fechamento de postos detrabalho estão por vir com terríveisconseqüências sociais.

GOVERNO LULA, CUT E FORÇA

SINDICAL: DO LADO DOS PATRÕESA inversão rápida do ciclo anterior

de crescimento econômico para umarecessão pegou os trabalhadores desurpresa pois, de uma hora para outra,viram sua situação decair.

Pior ainda, todos aqueles que teriammaior poder para fazer alguma coisa,como o governo Lula, e as grandescentrais como a CUT e a ForçaSindical, estão em conluio com ospatrões para convencer os trabalhadoresde que não há mesmo outra saída a nãoser preservar a saúde (leia-se grandelucratividade) das empresas.

Assim, realizam Fóruns como o doABC, onde se reuniram, nos dias 11 e 12de março, representantes das empresas,do governo (na pessoa da Dilma Ruseff)e das Centrais. O objetivo: encontrar“saídas criativas” para crise na região. Mastodos sabemos quais saídas são essas:dinheiro para as empresas, demissões,corte de salários e direitos para nós.

Empresários e governo tentamconvencer os trabalhadores de que asdemissões e o corte de salários e direitossão males inevitáveis, mas passageiros.Dizem que assim que a economiamelhorar, os trabalhadores serãochamados de volta. Uma grande mentira.

A crise atual é extremamenteprofunda e a reestruturação que asempresas estão fazendo será aindamais intensa que a dos anos 90. Amaioria dos postos de trabalho fechadosnão serão mais reabertos, nem os

direitos devolvidos.O Estado entra para assumir as

perdas da iniciativa privada. Para isso,pretende-se que haja cortes substanciaisnos gastos com saúde e educaçãopúblicas, com o funcionalismo, bemcomo sobrecarga de trabalho eresponsabilidades dos servidores.

O governo Lula já direcionou maisde R$300 bilhões para as empresas ebancos, e Serra, que por sua vezpretende se mostrar como melhor alunoainda, destinou um pacote de R$20bilhões. Esse dinheiro sairá doorçamento público, das áreas sociais, dasaúde, da educação e dos salários dofuncionalismo.

Agora Lula lança o pacote dahabitação de R$ 32 bilhões com o motede incentivar a construção de casaspopulares. Mas ao invés de usar nessepacote o dinheiro que está indo para osempresários, pretende tirar essemontante do FGTS, dos cortes noorçamento da saúde e da educação, alémdo funcionalismo público.

Ou seja, o governo tira dinheiro dospróprios trabalhadores para sustentar asgrandes construtoras em crise, e tentarpreservar sua popularidade, quecomeçou a cair.

Porém, essas medidas não serãosuficientes para fazer a economiavoltar a crescer no ritmo anterior,muito menos servirão para revertero desemprego. Ao contrário, estas sãomedidas que visam fortalecer asempresas e ajudá-las a se reestruturar,demitindo e precarizando ascontratações. O caso da EMBRAER éemblemático pois, como se viu, ogoverno já sabia das demissões emesmo assim deixou a empresa de mãoslivres para fazer o que quis.

Assim, a perspectiva burguesa egovernista de saída para a crise já estásendo encaminhada: um processo brutalde ataques ao emprego, aos salários edireitos da classe trabalhadora, nosentido de impor uma super-exploraçãoe recompor sua margem de lucro, apartir do atendimento a uma demandamenor. Isso sem falar das possíveisguerras, repressões e intervençõesmilitares contra os pobres em geral,

como as intervenções nas favelas do Rioe de São Paulo.

É dentro desse marco que a CUT eForça Sindical atuam, reforçando ospreconceitos de que o lucro é sagrado,que fora do capitalismo não há alternativa,que deve-se dar mesmo dinheiro eisenções de impostos para grandesempresas transnacionais, reduzir saláriose direitos, como se mesmo depois detudo isso os empresários nãocontinuassem demitindo...

“UNIDADE” COM A CUT E A FORÇA

SINDICAL... MESMO ELAS DEFENDENDO OS

PATRÕES E O GOVERNO?Em janeiro, por ocasião do

Seminário de Esquerda contra a Crise noFórum Social 2009, foi tirado um dia deluta contra o desemprego e a crise. Essainiciativa partia da avaliação correta deque tanto a CUT quanto a Força Sindicalnão iriam impulsionar mobilizaçõescontra a crise, ao contrário, estariamdefendendo medidas a favor dos patrões,o que de fato vem acontecendo.

No entanto, faltando 15 dias para amanifestação, no final de semana de 14/15 de março, a direção da CONLUTASresolveu, por orientação do PSTU(corrente hegemônica) modificar ocalendário tirado em Belém para arealização de um Ato no dia 30 com aCUT, Força Sindical, CTB, etc..

Essa mudança foi prejudicial, poisfoi jogada fora a oportunidade deavançar em uma diferenciação com essascentrais pelegas. Suas reivindicações sãodinheiro para as empresas, redução deimpostos, banco de horas, redução desalários, PDV’s, etc, ou seja, todas assoluções nos marcos de garantia dalucratividade do capital, o que só épossível atacando os trabalhadores. ACONLUTAS por outro lado defendeque sejam os ricos a pagarem pela criseque eles criaram.

Como organizar uma manifestaçãoconjunta com objetivos opostos?

A desculpa de que todas as centraisdefendem a manutenção dos empregosnão procede, pois as centrais governistastêm defendido “Planos de DemissõesVoluntárias”, ou literalmente se caladodiante das demissões da virada do ano.

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Espaço Socialista

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O argumento de que com a mesmadata e um Ato unificado seria possíveldisputar os trabalhadores que aindaacreditam nessas centrais também nãose sustenta.

Conforme dito acima, isso não seconfirmou. O controle dasmanifestações e o seu caráter foi ditadopelas Centrais pelegas, com poucoespaço para um discurso de luta.

E o pior é que o esperado aconteceu:nem a CUT nem a Força mobilizaramtrabalhadores, porque eles simplesmenteestão contra qualquer mobilização!!! Ocomparecimento foi basicamente desindicalistas liberados e de cabos eleitorais.

Seria diferente se houvesse umprocesso de lutas em nível estadual ounacional, no qual essas centrais fossemobrigadas a encabeçar lutas massivas.Mas na conjuntura em que estamos, amudança de data só serviu para mantero nível atual de dispersão e de ilusõesnessas centrais pelegas.

Por último, a mudança de data emcima da hora desorientou as atividadesque já estavam sendo preparadas, e alémde tudo se perdeu a oportunidade demarcar um perfil independente junto aospróprios trabalhadores.

Valia muito mais a pena ter feito aatividade nos moldes tirados em Belém,ainda que com todas as dificuldades poisseria mais um passo no sentido daconstrução de um pólo alternativo, aindaque embrionário, à burocracia sindicalda CUT e da Força.

APOSTAR NA UNIFICAÇÃO DA ESQUERDA EDOS TRABALHADORES PELA BASE!Por tudo o que foi dito antes, a

situação atual apresenta-se como detotal necessidade da construção deum pólo alternativo às centraispelegas, que impulsione as lutas eapresente uma outra saída aostrabalhadores contra a crise docapitalismo.

Construir um pólo socialistaalternativo é ainda mais necessário,devido ao fato de que nos últimos anosas referências socialistas e revolucionáriasficaram em crise e na defensiva. Agora,com o estouro da crise do capitalismo,é possível e ao mesmo tempo urgentelutarmos para a reconstrução de umaalternativa socialista de massas.

De forma geral, os trabalhadoresnão vislumbram outra sociedade que nãoo capitalismo e, portanto, o discurso das

empresas e do governo de que alucratividade deve ser preservadaaparece como algo natural einquestionável. Mas é justamente a lógicado lucro que os socialistas devem ter acoragem de questionar, pois todo lucrofunda-se na exploração do trabalhador,e na destruição da natureza!

Assim, continuaremos insistindo nanecessidade de um amplo trabalhoindependente de agitação epropaganda junto à classetrabalhadora, para disputar suaconsciência, denunciando as armadilhasdas propostas patronais e apontando umprograma alternativo em defesa dosinteresses dos trabalhadores, que rompacom a lógica do lucro.

Para potencializar esse trabalho,defendemos desde o início deste ano arealização de um Encontro Nacionalde Entidades de Luta e Ativistas,precedido de Encontros Regionais,como forma de abrir um amplo debatejunto à classe trabalhadora e à vanguarda,para tirarmos um calendário de luta e umprograma alternativo dos trabalhadorescontra a crise e o desemprego.

Seria possível envolver milhares deativistas de todo o país, a partir daunificação dos esforços da CONLUTASe da INTERSINDICAL, que por sua vezaumentariam sua inserção junto à classetrabalhadora através da organização desseEncontro Nacional.

O Encontro poderia e deveria serchamado ainda nesse primeiro semestre,como forma de preparar oenfrentamento às demissões e aosataques aos nossos direitos.

Se nos lembrarmos, a experiênciado Encontro de 2007 no Ibirapuera foiextremamente produtiva, e todas ascorrentes reconheceram isso.

A unificação da CONLUTAS coma INTERSINDICAL amplamentedefendida nas palavras por todos ossetores, seria assim colocada em práticaa partir da realidade das lutas, e nãoapenas com palavras ou discussões decúpula.

Até agora, porém, as principaiscorrentes políticas (O PSTU, que dirigea CONLUTAS e o PSOL que dirige aINTESINDICAl), têm se recusado aencampar essa proposta de um trabalhoofensivo e pela base junto aostrabalhadores. Essa atitude écontraditória com sua disposição de seunir com a CUT e a Força Sindical.

Assim, propomos que os ativistas etrabalhadores se juntem a nós na pressãojunto às maiores correntes, no sentidoda realização de um Encontro Nacionalanti-patronal e anti-governista,precedido de encontros regionais.

A realização no ABC do Encontrode Luta Contra a Crise e o Desemprego(ver matéria neste jornal) foi um passoimportante nesse sentido.

1) Não às demissões! Estabilidade noemprego e reintegração dosdemitidos!

2) Redução da jornada de trabalho semredução dos salários!

3) Estatização sob controle dostrabalhadores e sem indenização dasempresas que demitirem, ameaçaremfechar ou se transferirem!

4) Reestatização da Vale e demaisempresas privatizadas sob controle dostrabalhadores , sem indenização e comreadmissão dos demitidos!

5) Não pagamento das dívidaspúblicas, interna e externa , einvestimento desse dinheiro numprograma de obras e serviços públicossob controle dos trabalhadores, para

gerar empregos e melhorar ascondições imediatas de saúde,educação, moradia, transporte, culturae lazer . Fim da remessa de lucros parao exterior!

6) Estatização do Sistema Financeirosob controle dos trabalhadores!

7) Reforma agrária sob controle dostrabalhadores. Fim do latifúndio e doagronegócio. Por uma agriculturacoletiva, orgânica e ecológica voltadapara as necessidades da classetrabalhadora!8) Cotas proporcionais para negros enegras nos empregos gerados!9) Por um governo socialista dostrabalhadores baseado em suasorganizações de luta!

10) Por uma sociedade socialista!

PROPOSTAS PARA UM PROGRAMA DOS TRABALHADORESCONTRA A CRISE

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Espaço Socialista

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DESEMPREGO AMEAÇA TRABALHADORES.FORÇA SINDICAL E CUT SE ALIAM AOS PATRÕES PARA

DEFENDER O CAPITAL!

Nesta polêmica, não se trata dequestionar a combatividade do sindicatodos metalúrgicos de São José, nem suasintenções, mas sim um modelo deatuação que ao nosso ver não está àaltura para enfrentar os grandesataques desse período de crise.

O que precisa ser discutido é porque em uma categoria dirigida aolongo de mais de 20 anos por umsindicato que recebeacompanhamento direto da direçãonacional do PSTU, e que temprioridade da CONLUTAS, ostrabalhadores tendem a agir damesma forma que em outros locaiscujas direções não são de luta?

Ou seja, por que no caso dasdemissões da GM, e agora, da Embraer,o sindicato não conseguiu realizar umagreve ou formas de luta maisradicalizadas? Por que não foi possívelsequer juntar e organizar os demitidosem assembléias ou atos massivos?

Foi culpa dos própriostrabalhadores? Ou isso reflete umadefasagem no tipo de trabalho quevem sendo realizado todos esses anosnos sindicatos dirigidos pelaesquerda em geral?

Ao nosso ver, embora haja

dificuldades objetivas, a segunda opçãoé a que predomina. As dificuldades demobilização refletem a falta de umtrabalho político e ideológico maisestrutural junto aos trabalhadores, oque caracteriza uma concepção desindicalismo imediatista eeconomicista.

Se em períodos “normais” osindicalismo imediatista já é limitado, numperíodo de crise essas limitações setransformam em derrotas, pois esse tipode atuação não dá conta das questões defundo colocadas em toda crise estrutural– como a questão do lucro, dos objetivosda produção e da propriedade, a questãode que classe deve ter o poder político,qual rumo apontar para a sociedade.

A crise deve reorientar totalmente otipo de atuação sindical. É necessáriodisputar cotidianamente aconsciência das massas, discutindoa necessidade de os trabalhadoresapresentarem uma outra saída paraa sociedade, que rompa com a lógicado lucro e com a ordem de poder daburguesia, apontando umaperspectiva de futuro da construçãode uma outra ordem política e social,sob controle dos trabalhadores.

Enfim, trata-se de estabelecer um elo

entre as lutas imediatas e a propostasocialista revolucionária, pois a burguesiadefende cotidianamente a ideologiacapitalista de manter a produção voltadapara o lucro e para o mercado. Se nãofizermos essa disputa política eideológica, deixaremos os trabalhadoresà mercê da ideologia burguesa de que alucratividade das empresas é sagrada enão pode ser questionada.

Os metalúrgicos, tanto da GMcomo da EMBRAER, ao não teremdesenvolvido uma consciência anti-capitalista, nem um programa alternativo,pela falta de um trabalho político nessesentido, não enxergaram a possibilidadede resistir, pois não vêem uma formade ir além da lógica do lucro, nem defazer de sua luta uma campanha de todosos trabalhadores. Nesse sentido o lemaanterior “Demitiu, Parou” emboracorreto em princípio, se mostrouinsuficiente.

Diante das dificuldades provocadaspela falta desse trabalho mais ideológioe político, a orientação da direção daCONLUTAS (PSTU), foi de se juntar àCUT e à Força Sindical, buscando uma“unidade”... Então vimos as cenas emque Zé Maria saiu de braços dados como Paulinho da Força.

Isso não seria tãoproblemático se a Força estivessemobilizando contra as demissões.Mas neste caso, ficou nítido queo Paulinho só queria sepromover em cima da luta daEMBRAER. Tanto é assim,que a Força Sindical nãoorganizou protestos emnenhuma categoria contra asdemissões...

Essas são as conseqüênciasda falta de uma intervenção maispolítica e ideológica nossindicatos. É preciso um novotipo de atuação, à altura dosdesafios colocados peloprofundamento da crise.

Derrota na Embraer mostrou os limites de umsindicalismo imediatista

Polêmica

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Há muito o Espaço Socialista teminsistido na necessidade de construirmosa unidade entre setores de esquerda paraas tarefas imediatas, para o enfrentamentocotidiano com a burguesia e para aconstrução de uma ferramenta de luta quepossa servir de referência para ostrabalhadores e ganhá-los para a lutaanticapitalista. Temos feito esse esforçoporque acreditamos que os desafioscolocados para os socialistas só podemser enfrentados com unidade. É umaexigência do período histórico.

É nessa perspectiva que, desde o anopassado, temos defendido que a Conlutase a Intersindical – duas entidades ligadasa sindicatos, categorias, organizações epartidos de esquerda – impulsionem umencontro nacional de base, aberto a todosos trabalhadores, trabalhadoras edesempregados para que possamosdiscutir e deliberar sobre ações concretaspara enfrentar a crise econômica.

Informar, esclarecer, organizar emobilizar os trabalhadores pela base é iralém das ações de cúpula e é, ao nossomodo de ver, a melhor maneira deenfrentarmos os planos do governo e dospatrões.

A fim de contribuirmos com essa lutapela unidade da classe trabalhadora e dasorganizações de esquerda propomosrealizar no ABC paulista um EncontroRegional de base, aberto a todos os setoresantipatronais e antigovernistas paradiscutirmos ações concretas deintervenção, preparar o Dia Nacional deLutas e outras ações deliberadas.

Mas, apesar de praticamente toda aesquerda brasileira falar em unidade,observamos que na prática as coisas sãobem diferentes.

DOIS PROJETOS EM DISPUTA: O DOS

TRABALHADORES E O DA BURGUESIAAlém da necessidade, o Encontro

Regional ganhava ainda maior importânciapor ser o ABC paulista a sede doSeminário organizado pela CUT, PT,Sindicato dos

Metalúrgicos do ABC, prefeituras,governos federal e estadual em conjuntocom FIESP.

Esse Seminário teve o objetivo clarode promover o pacto social, em que a

direção do movimento sindical abre mãodas lutas pelos direitos dos trabalhadorespara que os patrões continuem tendo lucros.

Nas crises capitalistas, como esta emque estamos vivendo, é necessária adiscussão sobre o projeto que cada classesocial tem para a sua superação. Aburguesia e seus aliados indicam umcaminho: redução de direitos, de saláriose medidas que garantam a lucratividade.Os revolucionários indicam as lutas porquestões imediatas – como salário, diretose emprego – e por questões estratégicas– como a luta contra o capitalismo e aconstrução de um outro tipo de sociedade.

Esse é grande desafio da esquerda,construir uma alternativa de poder erecolocar na ordem do dia a discussãosobre a necessidade da revolução comoalternativa ao capitalismo.

Para o Espaço Socialista trata-se demostrar aos trabalhadores que há outrocaminho a seguir: o caminho da luta,única forma de manter os nossos direitose de mostrar para os patrões e seus aliadosque não aceitamos pagar pela crise.

UM ENCONTRO VITORIOSOEssa discussão sobre projeto é uma

disputa ideológica contra a burguesia ereferencial para fazermos um balanço doEncontro Regional do ABC, realizado em22/03, em São Bernardo.

Apesar do boicote de várias correntesde esquerda que atuam no ABC,contamos com a organização ativa daAPEOESP (Sindicato dos Professores –subsedes Santo André e São Bernardo)na construção do Encontro e com aparticipação de mais de 80 trabalhadorese trabalhadoras (professores, estudantes,servidores municipais, bancários, etc).

O Encontro Regional do ABCaprovou: a construção de um Comitêpermanente (Comitê de Luta contra odesemprego e a exploração capitalista); aparticipação no Dia Nacional de Lutas; aorganização de um debate sobreconcepção de movimento sindical e aparticipação no 1º de maio antigovenista,de esquerda e independente.

Como a Conlutas e a Intersindicalmudaram a data do Dia Nacional de Lutas– de 01 de Abril para 30 de março –como forma de unidade com a CUT, a

Força Sindical e demais centraisgovernistas, o Encontro Regional do ABCdeliberou não participar do ato unificado,mas irmos a locais de trabalho e estudo afim de discutirmos com os trabalhadoressobre a crise econômica e tambémapresentar as propostas programáticasaprovadas no Encontro.

Com a realização de atividades comoestas pudemos observar, através darecepção dos trabalhadores, a inquietaçãoquanto às ameaças de corte de direitos edesemprego que já atingem a nossa classee indicam que os efeitos da crise podemprovocar uma mudança na situaçãopolítica.

O fato lamentável foi o boicote doPSTU ao Encontro no momento em quea classe trabalhadora mais precisa deunidade. Lamentamos, pois o PSTU é acorrente hegemônica na Conlutas, temmaior possibilidade e responsabilidade emimpulsionar as lutas e construir a entidadecomo alternativa de esquerda e dostrabalhadores. No entanto, nãoestranhamos. O partido tem se recusadona prática a construir a Conlutas e aConlute na região do ABC, não marca-seplenária, reunião ou atividades conjuntas.E quando propomos qualquer iniciativapara sairmos do profundo isolamento eimpulsionarmos a construção oufortalecimento da Conlutas na região,somos acusados de estarmos realizandofóruns paralelos.

Embora ainda reunindo poucos esseEncontro torna-se vitorioso pois, nummomento de extrema fragmentação daesquerda, indica um reconhecimento dostrabalhadores da necessidade deconstrução da unidade dos lutadores emtorno de um programa anticapitalista.

Assim, o Espaço Socialista reiterao chamado a todas as organizações,partidos, grupos e entidades de esquerdae antigovernistas para construirmos oComitê de Luta contra o desempregoe a exploração capitalista e aofortalecimento das atividades dirigidaspara o avanço na consciência dostrabalhadores e desempregados a fim dese colocarem em movimento contra aexploração e pela unificação das lutas daclasse trabalhadora.

Encontro no ABC discute unidade da esquerda eluta contra cirse econômica

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O que está por trás do discurso sobrequalidade do ensino público em São Paulo

Para tratar da questão do ensinopúblico no Brasil e no Estado de SãoPaulo, é necessário entender e lógica e opapel do Estado burguês em todas assuas esferas. E, sobretudo, com astomadas para minimizar os danoscausados pelo agravamento da criseeconômica.

O Estado burguês surgiu e sempreagiu de modo a favorecer odesenvolvimento do capitalismo. Comseu monopólio da violência e suasdefinições de legalidade, expandiu eexpande territórios para garantir oslucros das empresas transnacionais, seendivida de modo crônico e permanentepara contornar crises periódicas empermanência, promove guerras,concede incentivos financeiros aosempresários e banqueiros e, atualmenteé convocado mais uma vez paragerenciar a crise atual do capitalismo.

No nosso caso, Lula já gastou maisde R$ 300 bilhões do dinheiro públicopara contornar a crise e garantir os lucrosdos empresários. Serra, que já havia dadoR$ 9 bilhões para as montadoras, gestouum pacote de R$ 20,6 bilhões, comisenção de impostos e obras de infra-estrutura de interesse dos empresários.

Como garantir serviços públicos dequalidade com os governos usando osrecursos públicos para proteger egarantir os lucros dos empresários e dosbanqueiros?

No Estado de São Paulo, em 2002,15,1% do orçamento do Estado eragasto na educação. A previsão para 2009,é de 13,1%. Com relação aos gastos compessoal e encargos com educação, em2002, foi de 13%. Em 2009, estáprevisto 9% do orçamento. Resultado:o ensino público da rede estadual de SãoPaulo encontra-se entre os piores do país.As escolas são sucateadas, as condiçõesde trabalho dos profissionais daeducação estadual estão precarizadas e

os professores são desvalorizados – éclaro, com exceção de algumas poucasescolas que são usadas como vitrines epara propagandear que a políticaeducacional do Estado de São Paulo estádando certo.

Uma outra ação do governo Serra– mas também do governo federal edas prefeituras como um todo – é jogarpra população que a educação e tambémos demais serviços públicos nãofuncionam com qualidade por culpa dosprofessores. E a partir daí, tramam todauma campanha, responsabilizando-ospela crise na educação. Não só isso,colocam em prática uma política deenquadramento dos professores e detodos os servidores públicos, através daavaliação de desempenho, avaliação dosprofessores em estágio probatório e,por último, a prova dos OFAs.

A prova dos OFAs, sob odiscurso de que contrataria professoresmelhores qualificados, também tinhaoutro objetivo, que era o de contratarprofessores recém formados, que nuncahaviam trabalhado na rede, e queentrariam numa situação bem maisprecarizada do que os que já estavamna rede estadual. Esses novosprofessores, diferentemente dos maisvelhos de rede, passariam a trabalhar emregime de INSS e entrariam com saláriosmenores do que os professores queestão trabalhando há 15 ou 20 anos, eque acumulam quinquênios, evoluçãofuncional, entre outros benefícios. Nocaso das mulheres, ao invés da licençagestante de 6 meses, teriam apenas 3,como ocorre no INSS. Ou seja, oEstado economizaria mais dinheiro paradar aos empresários e banqueiros.

E o sindicato dos trabalhadores(APEOESP), dirigido pela mesmacorrente sindical do presidente Lula nãofaz nada? Reproduzirei trechos doboletim do CR/RR.

“A grave crise internacional teve umaresposta tardia e insuficiente pelo governadorJosé Serra. O Estado de São Paulo não investirárecurso a mais do que já estava previsto, apenasfará a antecipação da liberação de R$ 20,6bilhões do Orçamento de 2009, parainvestimentos em infra-estrutura, que seriamexecutados ao longo no ano”. (pág.5)

E a central sindical (CUT) a qual estáfiliada a APEOESP, no mesmoboletim, tem um informe. Vejamos:

“ Desde o início da crise estabelecida, aCentral pressionou o Governo Federal e osgovernadores estaduais por ampliação de crédito,redução de juros e dos spreads bancários edesonerações momentâneas e específicas para ossetores mais atingidos pela crise, condicionadasa contrapartidas de emprego e manutenção darenda dos trabalhadores. (pág.9).

Vejam, caros colegas, que há a defesadescarada do uso do dinheiro públicopara atender os interesses dos capitalistas.A própria política educacional do Estadode São Paulo está em consonância como PDE do governo Lula que instituitambém as avaliações.

Diante disso, é necessárioimpulsionar um processo dereorganização das lutas no setor deeducação.

Além disso, é fundamental redobraros esforços para envolver as demaiscategorias de trabalhadores na luta poruma educação de qualidade para osnossos filhos.

É necessário que nós trabalhadorestratemos a educação em todos os níveis,como um bem coletivo e um dosinstrumentos de transformação social eespaço de produção de conhecimentoe desenvolvimento humano.

Para isso, a luta por uma educaçãopública de qualidade sob o controle dostrabalhadores deve se combinar com aluta pela a derrubada do capitalismo epela construção do Socialismo.

“A minha resposta à ofensiva à educação é a luta política consciente,crítica e organizada contra os ofensores”. (FREIRE, Paulo. Pedagogiada Autonomia, p.75).

Claudio Santana- Apeoesp Santo André

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DESGASTE DOS ESTADOS UNIDOS ECOMPETIÇÃO IMPERIALISTA

Os anos 2000 apresentaram umanovidade em relação aos anos 90: oneoliberalismo começa a perder sua forçapolítica. Os povos do mundo logo fizerama experiência com essa política ditada porWashington e Londres e a rejeitaram,protagonizando mobilizações importantescomo na Argentina, Equador, Bolívia,Venezuela e outros tantos países. Juntocom essa perda de legitimidade doneoliberalismo, os Estados Unidos tambémperderam espaço no mundo com inúmerasmanifestações de rechaço à sua política.

A perda de legitimidade doimperialismo estadunidense no mundo foium fator importante que dificultou aimplementação do projeto de dominação.Foram inúmeras dificuldades: AméricaLatina com sucessivas rebeliões, OrienteMédio com uma feroz resistência àinvasão tanto no Iraque como noAfeganistão e a rebelião dos Palestinos.Internamente, o imperialismoestadunidense também enfrentouresistências importantes que forammassificadas com a crise econômica.

O desgaste do governo Bush e ainvasão a países como Iraque eAfeganistão só fizeram aumentar aoposição dos povos ao imperialismoestadunidense. Esse processo, emconjunto com as mobilizações de massasdos trabalhadores, sobretudo nocontinente americano, impôs limites paraa política de Washington. É neste contextoque a eleição de Obama se explica: osEstados Unidos precisam mudar a suaaparência perante o mundo e seapresentar com um novo governo pararecuperar o prestígio e conseguir imporsua política de dominação. A maneira deenfrentar o anti-estadunidismo é secolocar como algo novo e simular quehouve mudança na política.

A atual crise econômica e a tendênciaà depressão também têm colocado gravesproblemas para as economias imperialistas,

pois o seu mercado interno não é suficientepara o escoamento da produção, o queobriga cada um desses países a buscar umamaior presença no mercado mundial. Essapresença precisa ser garantida ou pelas viasdiplomáticas ou pelas vias militares.

A crise de superprodução expressauma contradição básica do capitalismo,que é o fato da capacidade de produçãogerar um montante de mercadorias muitosuperior ao que pode ser consumido. Oalto desenvolvimento de técnicas deprodução faz com que esse problema seagrave, pois pode se produzir muito maisdo que em qualquer outro tempo. É issoque basicamente ocorre na atual criseeconômica, há uma restrição no mercadomundial.

Como um conjunto de países centraistem uma enorme capacidade produtiva eo mercado mundial tem limites físicos(geográficos) e político-econômicos, inicia-se uma feroz competição entre os paísesimperialistas para ter o controle docomércio mundial. Essa competição éuma das chaves da situação política que acrise econômica fez emergir: os paísesimperialistas precisam (pelas leis docapitalismo) acelerar a competição edominar a maior parte possível docomércio mundial.

A competição entre as grandespotências pode resultar em luta direta pormercados, como ocorreu nas duas guerrasmundiais. Essas duas guerras não foramoutra coisa senão uma disputa pelapartilha do mundo, ou seja, aos vencedorescaberia a maior fatia do mercado. A guerraem si torna-se também uma das soluçõespara a superação da crise no capitalismo,pois a destruição massiva de forçasprodutivas cria novas possibilidades parao mercado capitalista. Ao contrário do quedizem os analistas burgueses, a soluçãoda crise de 1929 não ocorreu pelo newdeal estadunidense ou qualquer outrapolítica, mas sim pelo resultado daSegunda Guerra Mundial, que abriuimensas possibilidades para o capitalismo.

Ou seja, a “era de ouro” do capitalismodos anos 50 e 60 se deu às custas da mortede milhões de seres humanos.

ESTADOS UNIDOS SE PREPARAM PARA ACOMPETIÇÃO

Nenhuma classe social é homogênea,há distintas frações em seu interior. Aburguesia se divide como industrial,comercial, financeira e no interior de cadauma delas há outros setores e tambémoutros interesses. No interior da burguesiaindustrial há, por exemplo, o setor ligadoà indústria armamentista. Entre aburguesia de um país e de outro tambémhá interesses distintos.

Nos momentos em que há umacerta estabilidade, esses diversos setoresconseguem fazer uma partilha e amenizaras contradições, ou seja, mantém umacerta unidade. No entanto, quando háuma crise essa unidade fica mais instávele surgem as disputas em que um setorprecisa derrotar o outro para sobreviver.Essa disputa ocorre, por exemplo, entre aburguesia industrial e financeira ou aindaentre empresas que produzem o mesmotipo de produto, como eletrodomésticos.Nessas disputas a insanidade da burguesiase revela. A lógica de sobrevivência daburguesia ameaça o mundo.

A essa disputa soma-se outra questão,que é o aumento da capacidade deprodução. É preciso criar um mercadoconsumidor que seja compatível com ovolume de produção. Com a criseeconômica em curso - não há ninguém quenão reconheça que ela é profunda e muitopróxima daquela registrada na década de20/30 - a disputa entre os diversos setoresda burguesia torna-se mais intensa.

É no contexto dessa profunda criseeconômica que precisamos compreendero significado da política internacional dosEstados Unidos, sob o governo Obama.Os Estados Unidos sabem que precisarãousar nessa disputa as ações da diplomaciae a pressão sobre diversos governos paraconseguir acordos que garantam livre

Diplomacia e guerra: doisinstrumentos de dominação

do imperialismoDalmo Duarte

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acesso para o capital estadunidense.E essa crise, pela sua profundidade,

já colocou em movimento todos os paísesna disputa por novos mercados. Odesgaste que os Estados Unidos sofreramna América Latina e no mundo fez comque perdessem espaço e se abrisse aoportunidade para outras potênciasimperialistas. A França e a Rússia, porexemplo, já realizaram importantesacordos comercias na América Latina,tradicional “reduto dos Estados Unidos”.Não é uma disputa que está começando,pois a invasão do Iraque e do Afeganistãona verdade já é parte dessa disputa pelaampliação dos mercados. Com oagravamento da crise o controle sobrematérias-primas como petróleo e gás sãofundamentais para reduzir custos emelhorar a posição na disputa.

Temosdiscutido com bastanteinsistência o fato de que a crise estruturaldo capital é um elemento fundamentalnessa competição imperialista, porquecada saída que o capital apresenta para acrise trás em si limites e novascontradições insolúveis. Uma solução emlongo prazo para o imperialismo só épossível com uma guerra que destrua asforças produtivas, condição para um novo“boom” do capitalismo. Manifesta-se ocaráter destrutivo do capitalismo, que paracontinuar existindo tem que matar milhõesde pessoas.

COM QUAL POLÍTICAAs armas e formas de disputa sempre

são uma questão em aberto, pois dependemessencialmente da correlação de forçasentre esses setores da burguesia mundial etambém entre o proletariado e a burguesia.Uma guerra, ainda mais quando envolvevários países, sempre é um risco para ocapitalismo (ainda que se chegue a algummomento em que, na lógica capitalista, issose torne impossível), pois há um desgastedo regime e o perigo de que o proletariado,como ocorreu na Rússia em 1917, atransforme em uma revolução socialista.

É por isso que, geralmente, o primeiroinstrumento de pressão são as gestõesdiplomáticas, com todo tipo de pressãopolítica e econômica (como imposição decotas de importação, aumento de impostospara determinados produtos, etc), massempre visando impor o projeto decontrole do país alvo. Nesse momento, ogoverno Obama tem utilizado muito esseinstrumento, mas, repetimos, buscandopor essas vias concretizar seus interesses.Isso não quer dizer que a via militar tenhasido abandonada, pelo contrário, ela é cada

vez mais uma possibilidade. A diplomaciaé uma política que se combina com a açãomilitar. O caráter militar é na verdade acaracterística central do imperialismo, ouseja, não há imperialismo sem poderiomilitar. Nas ações diplomáticas já estárepresentado de maneira subliminar opoderio militar de cada país.

Na década de 30, portanto no períododa depressão econômica, em um momentoem que a Alemanha fazia uma forteofensiva comercial para a região, os EstadosUnidos lançaram para a América Latina a“política da boa vizinhança”, que consistiaem ter como centro de suas relações comos países do continente americano asnegociações diplomáticas. Ao contrário dodiscurso do governo estadunidense, essapolítica não representava uma mudança noconteúdo, mas tão somente na forma emque foram adotadas novas armas e novosmecanismos de pressão. O caso maisfamoso foi a imposição de cotas deimportação para o açúcar cubano, que eraa única fonte de renda de Cuba e tinha osEstados Unidos como o principal cliente.Também se destaca o fato de que, quandoa diplomacia não era suficiente paragarantir a dominação, a tática militar entravaem ação, como foi a invasão da RepúblicaDominicana, e mais tarde da Baia dosPorcos em Cuba, assim como as dezenasde golpes militares que foram patrocinadospelos Estados Unidos.

Outro elemento que contesta a versãode que o novo governo estadunidense dámais destaque para a diplomacia é apresença de forças militares de ocupaçãono Iraque e Afeganistão e sucessivosataques militares a várias regiões doPaquistão. A promessa de redução departe do contingente militar no Iraque nãomuda essa caracterização. Em primeirolugar porque, pela ação militar, conseguiu-se constituir no Iraque um governoextremamente servil aos Estados Unidos.E segundo, no Afeganistão houve aumentodo efetivo militar. O recente anúncio deque os Estados Unidos vão priorizar aação política em relação ao Irã é outrabalela, pois a simples presença de milharesde soldados nas fronteiras é na práticaum elemento que desequilibra qualquernegociação.

Esses são apenas alguns dos elementosque comprovam que a diplomacia é apenasuma (e não a mais importante) das táticasutilizadas e que o aparato militar é elementofundamental na política do governoObama. A própria proposta de negociaçãocom o Irã é mais uma jogada, pois comopode haver negociações com a presença

de tanques, mísseis e milhares de soldadosna fronteira?

O importante é compreendermosque a diplomacia na política dos EstadosUnidos está a serviço de uma política dedominação do mundo e não de “formasrespeitosas” de relação com outros países.As conferências entre Estados, asreuniões, os tratados, enfim toda a políticada diplomacia dos Estados Unidos temum objetivo muito bem definido que ésubmeter outros países aos seus interesses.

Não pode restar nenhuma dúvida paraos trabalhadores de que a principal políticado governo Obama, assim como foi deBush, é a política belicista. A diplomaciaé parte dessa política de expansão dos seusdomínios, é um complemento da forçabélica.

O PODER MILITAR DOS ESTADOS

IMPERIALISTASNão é possível falar de Estados

imperialistas sem falar de poder bélico.Toda crise provoca um acirramento nadisputa pelo mercado mundial, em que oavanço de um significa que o outro temque recuar. Daí a importância do poderbélico, que é, em última instância, o quedecide a correlação de forças em nívelmundial.

Nenhuma crise do capital, ainda maisas parecidas com a atual, é resolvida noâmbito da política ou da economia,instrumentos que permitem no máximoadiá-las. Uma característica do conceito decrise estrutural é que sua solução (aindaque pela própria lógica do capital outrascrises sempre virão) passa por impor umaderrota histórica ao proletariado mundial,submetendo-o a um regime de trabalhobaseado na superexploração em escalamundial. Essa correlação de forças só podeser alcançada com uma guerra generalizada.

O poder e o forte armamento dosEstados imperialistas visam assim pelomenos três objetivos, que são amanutenção de seu poder na relação comoutros Estados, o controle do proletariadoe a preparação para possíveis conflitosarmados, que são fatos comuns nasociedade capitalista. As disputas políticase econômicas não raro se resolvemmilitarmente. Assim, a indústria militarpassa a ter nesses países um papel centraltambém na esfera da política.

A relação dos governos com a indústriade armas é tanto econômica como política.É econômica porque são os Estados – quedetém o monopólio das armas – quesustentam esse ramo da indústriacapitalista. E é política porque a indústria

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de armas é quem muitas vezes impõeposições belicistas aos Estados. Para se teridéia da relação orgânica entre Estado eindústria bélica, nos Estados Unidos oPentágono tem escritório permanentedentro das empresas bélicas, ou seja,funcionários do Estado trabalham dentrodas empresas. Também é comum queoficiais de alta patente das forças armadas,quando se aposentam, passem a ocuparpostos de direção nas empresas bélicas.

Nessa perspectiva, os Estados têmverdadeiros arsenais de destruição, capazesde jogar pelos ares cada grão de areia queexiste no mundo. Na economia capitalistaa produção só se efetiva se houverconsumo, e como o consumo de armasdepende de guerras, torna-se fundamentalpara a sobrevivência econômica dessaindústria a existência de guerras.

O PODER MILITAR DOS ESTADOS UNIDOS

Como sempre o discurso é um e aprática é outra. Os dados desmentemfacilmente o discurso mentiroso deObama. Os países imperialistas, em especialos Estados Unidos, são verdadeirasmáquinas de guerra. O anúncio do

orçamento dos Estados Unidos para o anofiscal de 2010 (que se inicia em outubro) éuma demonstração cabal, uma vez quedestina nada menos do que 664 bilhões dedólares para os gastos militares.

O exército dos Estados Unidos éformado por cerca de três milhões dehomens e mulheres, o que representa1,5% da população dos EUA. Segundo ojornal Brasil de Fato, os Estados Unidospossuem 725 bases militares espalhadaspelo mundo e por volta de 500 milsoldados servindo fora de suas fronteiras,sem falar nos que estão no Iraque e noAfeganistão. As despesas militarespassaram de 345 bilhões de dólares em2001 para 528,7 bilhões em 2006, e agoraos recém-anunciados 664 bilhões. Osgastos militares desse país são tãogigantescos que correspondem a 45% detodos os gastos militares do mundo.

Por trás dessa política de Estado (quejá é condenável) estão as bilionáriasempresas da indústria bélica. Das dezempresas líderes do setor no mundo, seissão estadunidenses. São cerca de 3% doPIB destinados para a defesa. Após ainvasão do Iraque e Afeganistão,

empresas como Am General, ArmorHoldings e Oshkosh Truck, que fornecemveículos militares, aumentaram seusfaturamentos em 40%. O controle dasempresas é tamanho que várias áreas dasforças armadas foram privatizadas, comoa administração dos quartéis, suasegurança, abastecimento, etc. Isso semfalar na investidura de funções militarespara as milícias. O seu poder não é sóeconômico, é sobretudo político, cominfluência em cargos importantes nahierarquia de decisões de Estado.

Com esses dados é possível destacarduas questões fundamentais: a primeira éque a política belicista não é deste oudaquele governo, mas é uma política deEstado e isso significa que Obama vaicontinuar com a política belicista de Bush.O diferencial é que no governo Obama adiplomacia ganha mais peso, mas comojá dissemos, não substitui, e sim reforça aação militar sobre os povos do mundo. Asegunda questão é que esse mesmoEstado está sob controle das empresas dosetor de armas e conseqüentemente todasas decisões dos governantes atendem aesses interesses.

Crise expõe barbárie capitalista: avanço daxenofobia

A mobilidade do trabalho, ou dostrabalhadores de um lugar para outro nointuito de ocupar postos de trabalho, emrazão da escassez destes ou por conta demelhores condições no trabalho e derendimentos maiores, provoca grandesêxodos, entre regiões localizadas em ummesmo país ou internacionais.

Esse deslocamento em massa provocaconseqüentemente o aumento da densidadepopulacional nos locais de destino dessestrabalhadores e também a elevação dacompetição entre os próprios trabalhadores.Esse processo em última instância éinteressante aos detentores dos meios deprodução e aos tomadores de serviço namedida em que se amplia quantitativamenteo exército industrial de reserva, gerando adiminuição do valor dos salários.

Como desdobramento dessefenômeno, também ocorre nesses lugaresde destino o aumento do desemprego eda precarização das condições de vida dostrabalhadores de um modo geral, seja porconta de uma super ocupação combinada

com a despreocupação dos Estados emconstruir infra-estrutura para readequaro espaço urbano a sua nova dimensãopopulacional. Essa massa humana emdeslocamento acaba sendo segregada emlocais desfavoráveis do ponto de serviçospúblicos, nas periferias das cidades,constituindo grandes bolsões de pobrezae miséria, como as favelas ou bairrosdegradados. Sendo que esse estado dedéficit habitacional é apropriadomercadologicamente pelos empresários dosetor imobiliário para especular econstruir moradias, por meio de subsídiosestatais ou de financiamentos públicos,moradias as quais são construídas nesseslugares distantes ou em outros tãodesfavoráveis para o deslocamento aoscentros urbanos quanto os lugares defavelização. Inclusive, nos EstadosUnidos, a crise do setor imobiliário afetouos trabalhadores pobres mutuários queperderam as casas, hipotecadas comogarantia de pagamento, e quanto a essaquestão em particular, o geógrafo norte

americano David Harvey, em entrevistaconcedida a revista Le MondeDiplomatique Brasil do mês de março de2009, explica que:

“a estrutura da crise financeira nos EstadosUnidos é notadamente urbana no que diz respeitoa suas origens. E é justamente essa relação queeu considero importante a analisar. Um dosresultados da crise é que cerca de 3 milhões depessoas perderam suas casa nos Estados Unidosno último ano. Provavelmente, antes que esseprocesso termine, entre 6 e 10 milhões de pessoasestarão na mesma situação. Se observarmos ondeisso aconteceu, a onda inicial de inadimplênciaocorreu em duas áreas específicas: uma delas, asvelhas cidades dos Estados Unidos, comoCleveland, Baltimore e Detroit; a outra coincidecom a distribuição da população negra. Narealidade, tivemos o que podemos chamar de umKatrina financeiro, que atingiu todas as cidades,simplesmente varrendo do mapa os bairros pobresem municípios como Cleveland e Baltimore. EmCleveland ocorre uma sobreposição perfeita entrebairros ocupados por afro-americanos e os lugaresonde estão o maior número de pessoas queperderam suas casas por causa das execuções

J. Paulo

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Espaço Socialista

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hipotecárias”

Esses bairros pobres a que se refereDavid Harvy são ocupadosprincipalmente por imigrantes de origemlatino-americana e de regiões pobres dooriente e da Europa, que serão lançadosem estado de maior degradação humana.

Esse movimento de mobilizaçãohumana tem provocado odescontentamento de setores da extrema-direita, que, não de hoje, perseguem eprocedem a assassinatos de imigrantes,como, por exemplo, o movimento contrao negro e o latino-americano nos EstadosUnidos, que ganha coro junto com omovimento da Lei e Ordem, de cunhonitidamente fascista. E esse processo dacrise econômica mundial, que se encontraem aprofundamento e que já colocou aeconomia mundial em recessão, estágerando aumento vertiginoso dos índicesde desemprego no mundo todo, a começarpelos centros do capitalismo. Então, osimigrantes, que já são alvo de políticas deextermínio, passam a ser entendidos porparte dos trabalhadores demitidos, que sãoobrigados a disputarem postos de trabalhomais precarizados, como inimigos,desconsiderando categoricamente oaspecto de classe e possibilitando ascondições para disputas violentas entre ospróprios trabalhadores. Esse fenômenoideológico e medonho é apropriado pelossetores da ultradireita, que tentam catalisaressa relação destrutiva. Por isso, verifica-se, não apenas nos Estados Unidos, mastambém na Europa, o avanço daxenofobia, inclusive estatal, que semanifesta por meio de políticas de barreiranas divisas contra a imigração, o nãofornecimento de vistos e as perseguiçõespoliciais. Exemplos disso são o vergonhosomuro que separa a divisa entre os EstadosUnidos e o México, em cujo ladoamericano existem mercenários queliteralmente caçam imigrantes e criamuma rede de corrupção para permitir aentrada de alguns, e os assassinatos delatino americanos em países europeus pelaprópria polícia, sob o argumento de queseriam criminosos ou suspeitos. Portanto,a crise tem acentuado o deslocamento dotrabalho para países mais industrializadose confrontado isso com o desempregonestes países.

Nesse cenário, os Estados europeusocidentais têm hostilizado os imigrantesprovenientes da África, América, OrienteMédio e, sobretudo, do leste europeu. Acrise já impactou com grande intensidadeos países do leste europeu, de tal forma

que alguns países como a Letônia passamsituação de instabilidade política nogoverno em razão do desemprego e dafalta de medidas eficientes para a suacontenção, que levou o então primeiroministro a renunciar em 20 de fevereirode 2009. Na Ucrânia a crise causou adiminuição da exportação de aço e oendividamento do Estado tem dificultadomedidas de intervenção na economia.Isso tudo provocou êxodos imigratóriosem direção aos países da Zona do Euro,os quais estão aplicando medidas paradificultar esse movimento. O EstadoAlemão tem assumido forte intenção deimpedir a imigração e em abril de 2009pretende discutir uma lei que proibirá aconcessão de vistos para imigrantes decerca de 8 (oito) países do leste europeu.Na mesma direção, a Holanda tambémtem dificultado os fluxos imigratórios.

Recentemente, a Europa foi palco defortes insurgências relacionadas com odesemprego e a questão da imigração. Oano de 2008 na França foi marcado porviolentas manifestações de imigrantes,africanos na maioria. Esses imigrantescriticavam a política do governo Sarkozyde expulsar imigrantes ilegais e exigia alegalização e também apontava o fortenível de desemprego, sendo asmanifestações duramente reprimidas pelapolícia francesa. Paris tornou-se umcampo de guerra urbana. Contudo essemovimento dos imigrantes africanos pelalegalização não se iniciou em 2008, já emoutubro de 2005 foram travadosviolentos enfrentamentos com a polícia,que foram deflagrados após dois jovensimigrantes morreram eletrocutadosdurante perseguição empreendida pelapolícia. É, portanto, nítida a posturaxenofóbica do Estado francês, a qualcontinua sendo conduzida pelo governoSarkozy, que deverá, inclusive, serfortalecida diante da crise econômica.Além disso, na Grécia também ocorreramenfrentamentos emdezembro de 2008,organizados principalmentepor anarquistas em conjuntocom organizações daesquerda, sendo que a maioriados manifestantes era deestudantes que ocuparamdiversos prédios públicos eprocederam a fortesmanifestações de rua. O poderpúblico grego adotou, não deagora, uma políticaendurecida contra asmanifestações populares e

contra os imigrantes, por meio dacriminalização dos movimentos sociais epor investidas contra imigrantes ilegais,resultando, inclusive em mortes nãoesclarecidas pela polícia e tambémmarcadas por absolvições, criando certadose de crise nas instituições do Estado,sobretudo o Judiciário. Tanto que asgrandes manifestações de dezembro de2008 foram iniciadas após o assassinatopela polícia do estudante AlexGrigoropoulos , em 6 de dezembro. Apósesse fato, estudantes invadiram as ruas dediversas cidades gregas, dentre as quais,Atenas, Salônica, Patras, Larissa, Iraklion,Chania (Creta), Ioannina, Volos, Kozani,Komotine. A propósito, em Petrasocorreu um ataque violento de radicaisde direita contra a sede de umaorganização política de imigrantes, tendosido lançada uma bomba contra a janelado prédio em que se encontravam osmilitantes, durantes a realização de umareunião.

Esses fenômenos de levantespopulares, incluindo os imigrantessegregados e perseguidos pelos aparelhosde repressão estatais, não estãoassumindo maiores dimensões por acaso,sendo eles conseqüências diretas da criseestrutural do capital que tem provocandoo aumento do desemprego e aprecarização das condições de trabalho ede vida do proletariado no mundo todo enesse cenário os imigrantes são parte dossetores mais explorados e expropriadospela burguesia, e cuja situação civil oscoloca em posição de extremaprecariedade no tocante aos direitossociais. A crise econômica em cursoacentuará a xenofobia e os partidos dedireita já estão utilizando isso paraaumentar a hostilização em relação aosimigrantes e, principalmente, para dividiros setores da classe trabalhadora edificultar sua organização para a lutacontra o capital.

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A HISTÓRIA DA EVOLUÇÃO

Nas épocas históricas de grandesmudanças sociais as classesrevolucionárias se apóiam na força darazão para o combate ideológico contraos mitos que constituem o arcabouço dopensamento das classes dominantes, partedo combate político geral. Assim fez aburguesia na sua multissecular lutarevolucionária e humanista contra anobreza e o clero. Ao longo dessa luta,alguns marcos se destacam. O primeiro éa descoberta de homens como Copérnico,Bruno, Kepler, Galileu e Newton de quea Terra não é o centro do universo, masapenas mais um planeta gravitando emtorno do sol num universo infinito. Osegundo marco foi a descoberta porDarwin de que as espécies animaisevoluem pela seleção natural dos maisaptos, de modo que a origem do homempode ser remontada até seus ancestraisprimatas (e no limite, até as bactérias queforam a primeira forma de toda a vidano planeta). Um terceiro marco seria adescoberta do inconsciente por Freud,mas em circunstâncias históricas eideológicas já alteradas.

A descoberta de Darwin foi publicadano livro “A origem das espécies”, cujolançamento está completando 150 anos(em 12/02/2009 comemoraram-se os200 anos de nascimento do próprioDarwin). A teoria da evolução já haviasido elaborada pelo naturalista inglês em1839, no retorno de uma viagem marítimaque se iniciara em 1835, e que teve entreoutros destinos o Brasil e as ilhasGalápagos, no litoral do Equador. Mas ateoria permaneceu inédita, pelo receio dopróprio autor de chocar a sociedade comuma novidade tão radical.

Em 1858, Darwin recebe umacorrespondência de outro cientista inglês,Alfred Russel Wallace, em que esteapresenta uma teoria idêntica à sua arespeito da seleção natural.Escrupulosamente, Darwin apresenta asduas teorias à comunidade científica,reconhecendo o papel de Wallace. Esomente no ano seguinte publica seu livro,que teve estrondosa repercussão. Assim,Darwin passaria à história como pai doevolucionismo em biologia.

“A origem das espécies” diziabasicamente que a natureza seleciona osorganismos mais adaptados a sobreviverem determinado ambiente, de modo queestes organismos transmitem suascaracterísticas aos seus descendentes,terminando por constituir uma espécie emseparado. O mecanismo pelo qual osorganismos desenvolvem adaptações(mutação) e transmitem suascaracterísticas (DNA), somente seriadescoberto no século XX, com o avançoda genética, e veio confirmar a intuiçãogenial de Darwin.

A MITOLOGIA SOCIAL BURGUESAO destino da teoria de Darwin seria

mais um exemplo do fenômeno pelo qual“a ciência destrói mitos e coloca outros emseu lugar”. O evolucionismo destruiu osmitos de que as formas de vida foramcriadas por Deus tais como existem hoje ede que o homem foi criado “à imagem esemelhança” do próprio Deus. Entretanto,o conceito de evolução acabou sendo partedo arsenal ideológico que justifica a posiçãode classe dominante da burguesia.

A ascensão da burguesia como classeé indissociável da ascensão do modo deprodução capitalista. O capitalismo temum papel histórico progressivo(reconhecido por Marx no “Manifesto”)de romper a estreiteza das relações sociaisfeudais e arcaicas, lançando as basesmateriais para a luta da moderna classetrabalhadora por sua emancipação. Poroutro lado, o capitalismo aprisiona ohomem em relações sociais tais que a suacondição de sujeito se reverte em meroobjeto do processo de reproduçãoampliada do valor econômico.

As relações sociais capitalistasrequerem um arsenal ideológico dejustificação, uma mitologia social que sebaseia no individualismo. Os pensadoresburgueses, de Hobbes e Locke a AdamSmith, tomaram a condição do burguêsinglês dos séculos XVII e XVIII egeneralizaram essa condição como sendoa “natureza humana” em geral, em todosos lugares e em todas as épocas.Inventaram a lenda da “guerra de todoscontra todos” no “estado de natureza” ea necessidade da invenção do Estado

dotado do monopólio da força paraproteger a propriedade privada “adquiridapelo trabalho” (na verdade, trabalhoalheio), que culmina na estapafúrdiaafirmação de que a busca de cada umpelos seus interesses individuais resulta“automaticamente” no bem coletivo, porobra da “mão invisível”.

COMPETIÇÃO NA NATUREZA E NA

SOCIEDADE

Tais mitos são a base do direitoburguês e do Estado moderno, a lógicacom a qual os indivíduos explicam a simesmos a vigência das relaçõescapitalistas, da concorrência, do “livremercado”, etc. Essas idéias já eramcomuns no tempo de Darwin. Na verdade,Darwin se inspirou em Malthus, epígonovulgar dos economistas clássicos, paraencontrar na natureza o fenômeno da lutapela sobrevivência. Malthus foi o autorda idéia de que a população cresce maisdo que os recursos necessários para suasobrevivência, de modo que ahumanidade estaria condenada a uma lutapermanente contra a escassez.

A competição, idéia motriz dasociedade burguesa, serviu de inspiraçãopara que Darwin identificasse a luta pelasobrevivência no mundo natural. Adescoberta de Darwin é verdadeira, masa inspiração de onde ele partiu é falsa. Aluta pela sobrevivência existe na naturezacomo um fato dado, um ponto de partida.Mas a competição na sociedade humanatem causas humanas, sociais e históricas,não naturais. A competição entre oshomens não tem a ver com uma suposta“natureza humana egoísta”, mas com adivisão da sociedade em classes, umfenômeno histórico e transitório.

150 anos do darwinismo: a evolução entre omito e a ciência Daniel Delfino

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A teoria malthusiana se provouobjetivamente falsa, pois tanto a escassezcom que se depara a maior parte dahumanidade, os trabalhadores, quanto aabundância de que desfruta a minoria, aburguesia, não são dados fixos absolutose a-históricos, mas relativos, artificiais. Nãoexiste escassez de recursos ousubcapacidade produtiva na sociedade. Aocontrário, existe a irracionalidade dasrelações sociais capitalistas, que condenama humanidade a crises econômicasperiódicas nos momentos em que as forçasprodutivas não podem ser colocadas emmovimento de modo lucrativo. A misériacaminha lado a lado com asuperprodução, pois a atividade produtivanão está colocada a serviço dasnecessidades humanas e sim do lucro. Oproblema está, portanto, na lógicacapitalista de apropriação privada daprodução coletiva.

O MITO DO PROGRESSO E AEVOLUÇÃO

Sob pretexto da luta contra a escassez,mas na verdade tendo como objetivo amultiplicação do lucro e a reproduçãoampliada do capital, a burguesia estápermanentemente obrigada a desenvolveras forças produtivas. O aumentoquantitativo da produção é o motorsecreto de toda a vida social capitalista,que se alimenta da incorporação deinovações tecnológicas, que por sua vezexigem um avanço constante doconhecimento científico.

Em nome desse mecanismo, oaumento da produção passou a sersinônimo de progresso. E o progressopassou a ser o objetivo de todas associedades. A ideologia burguesa doprogresso desconsidera completamente acapacidade da natureza de suportar asintervenções humanas, com ascatastróficas conseqüências ambientaiscom as quais nos defrontamos hoje.

O impulso para o progresso é outromito social burguês que contamina acompreensão da realidade, a tal ponto deter sido incorporado pelas próprias ciênciasnaturais. A evolução passou a sercompreendida como um valor moral,sinônimo de melhoria. O processo deevolução, um mecanismo cego e aleatório,que consiste simplesmente no fato de queas espécies animais se adaptam ao seu

ambiente, passou a ser tratado comoevidência de progresso no sentido burguês,como se houvesse um objetivopreviamente traçado para a transformaçãodas espécies animais em seres superiores.

DARWINISMO SOCIAL EIMPERIALISMO

Repõe-se assim disfarçadamente omito da divindade do homem, como se aevolução natural tivesse como objetivoproduzir o homem. E dentre os homens,naturalmente, os vencedores e osvencidos. A burguesia seria a classe socialdominante porque estaria composta dosindivíduos mais aptos. Da mesma formaos povos europeus teriam o direito deconquistar as raças bárbaras da África,Ásia e América pois seriam superiores. Asdiferenças históricas entre as classes e ospovos, os processos de dominação pelaforça, etc., foram grosseiramenteapagados da história por essa grotescateoria do “darwinismo social”.

As conseqüências mais trágicas dodarwinismo social foram vivenciadas noséculo XX, quando, em nome do triunfoda “raça ariana”, os nazistas perpetraramo extermínio de milhões de judeus. Oprojeto de eugenia, ou melhoramento daraça, realizado pelos nazistas é o maisdantesco corolário do darwinismo social.Desde então os adeptos desse pensamentoforam forçados a disfarçar um pouco asconexões abusivas que fazem entre teoriasda natureza e da sociedade.

Entretanto, tais teorias continuamdespontando, como aquela que foiformulada na década de 1970 segundo aqual o único objetivo dos seres vivos étransmitir seus genes. Todo ocomportamento animal (e humano) seriaexplicado por um instinto que o obriga adifundir seus genes. A teoria do “geneegoísta”, transforma um instrumento, osgenes, em causa de todo o processo,justamente porque não contempla aperspectiva da totalidade do processo.

HISTÓRIA NATURAL E EMANCIPAÇÃO

HUMANAAs diferenças e semelhanças entre a

história natural e a história social só podemser compreendidas na moldura de umalógica dialética, que explica a continuidadena descontinuidade e a descontinuidadena continuidade. O homem rompeu com

a natureza e ao mesmo tempo continuousendo parte dela. As duas esferaspreservam sua ligação e ao mesmo temposua especificidade, sua lógica própria, quenão pode ser transposta de uma esfera àoutra.

A luta pela sobrevivência na naturezanão é feita apenas de competição entre osorganismos, mas de cooperação emutualismo, tão abundantes quanto àsobrevivência do mais apto. É falsotranspor o individualismo liberal burguêspara a história natural, assim como é falsoexplicar as diferenças sociais por causasnaturais. Na história humana, a cooperaçãoe o coletivismo são fenômenos presentesdurante milênios, muito mais disseminadosque a competição, a qual é típica apenasda época capitalista.

A burguesia enquanto classe é incapazde desenvolver essa compreensãoabrangente da história natural e social. Aomesmo tempo em que necessita da ciência,a burguesia precisa distorcê-la, fragmentá-la, transformá-la em conhecimentoaltamente especializado de partes limitadasdo real, impedindo uma visão datotalidade. Por negar a compreensão darealidade como um todo, a burguesiaacaba repondo a necessidade do mito. NosEstados Unidos há uma intensa luta desetores religiosos para impor o ensino docriacionismo nas escolas, negando aevolução e defendendo a existência de um“desenho inteligente” na natureza, que sópoderia ser obra de um criador.

A sociedade que desenvolve aomáximo a ciência é a mesma que reproduzo obscurantismo religioso. A causa dessacontradição está na divisão social dotrabalho e na existência de uma classedominante que vive às custas do trabalhoalheio. O homem somente será livre dessadominação quando se tornar senhor doseu trabalho, do qual atualmente é escravo.Foi a partir do trabalho que os primatasevoluíram para humanos, quandogradualmente seu corpo, suas mãos, seucérebro, sua mente, se converteram eminstrumentos altamente sofisticados. Aevolução dos primatas até se tornaremhumanos é explicável no quadro da teoriada evolução descoberta por Darwin. Atransformação do homem emefetivamente humano só é realizável pormeio da teoria marxista da emancipaçãodo trabalho.

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