COMO PLANEJAR UM SAF APÍCOLA REGIÃO FLORESTA COM ARAUCÁRIA-PR

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    COMO PLANEJAR UM SISTEMA AGROFLORESTAL APCOLA PARA A REGIODA FLORESTA COM ARAUCRIA NO PARAN?

    Fernanda Rocha; Gabriela Schmitz Gomes; Mahayana Zampronho Ferronato, Bruna Col deBella; Jairo Woruby; Carlos Miguel de Moraes.

    Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paran (UNICENTRO)-Campus de Irati/

    Departamento de Engenharia Florestal/ Laboratrio de Agrossilvicultura. [email protected],[email protected]

    RESUMOAs abelhas so responsveis por uma srie de servios ambientais, colaborando na polinizao decultivos e fornecendo uma ampla gama de produtos, alm de mel. Permitir os processos vitais dacolmia oferecendo floradas atrativas e que se estendam durante o ano a certeza da perpetuidadedessas vantagens. A partir da experincia do Laboratrio de Agrossilvicultura do Curso deEngenharia Florestal da Unicentro na conduo do projeto Apirios Rio de Mel e dos agricultoresfamiliares pertencentes a uma rede de fomento apcola organizada na regio, discutiu-se oplanejamento de Sistemas Agroflorestais (Safs) apcolas no Centro Sul do Paran, Brasil. O estudo

    buscou, dessa forma, selecionar algumas espcies melferas potenciais componentes de safs naregio da Floresta com Araucrias, bem como discutir alguns aspectos envolvidos nas decises deimplantao e manejo do sistema, enfocando a importncia da unio entre os saberes cientfico epopular.

    Palavras-chave: Sistema agroflorestal apcola, abelhas, plantas melferas.

    1-INTRODUOAs abelhas podem oferecer uma srie de vantagens, como assegurar a polinizao econsequentemente a produo de colheitas e sementes viveis, produo de mel e um maior balanoe diversidade ecolgica (MONGE, 2001).Permitir os processos vitais das colmias implantando floradas atrativas e que se estendam durante o

    ano a certeza da perpetuidade dessas vantagens atravs da oferta constante de alimento, como emum sistema agroflorestal (SAF) apcola.A viabilidade de um sistema agroflorestal apcola envolvendo abelhas melferas, abelhas indgenassem ferro, aroeira-vermelha (Schinus terebinthifolius) e videiras (Vitis vinifera) em produo familiarintegrada no Rio Grande do Sul foi comprovada por Wolff et al. (2007).No entanto, a diversidade de espcies vegetais e animais nativas e exticas a ser conjugada em umsistema agroflorestal varia conforme a regio, devendo ser utilizados critrios de escolha dos arranjosbaseados em aspectos ecolgicos, econmicos e sociais.O presente trabalho buscou apontar algumas espcies melferas com potencial para compor sistemasagroflorestais apcolas na regio da Floresta com Araucria no Centro Sul do Paran, bem comodiscutir alguns aspectos envolvidos nas decises de implantao e manejo do sistema.

    2-METODOLOGIAA partir da experincia do Laboratrio de Agrossilvicultura do Curso de Engenharia Florestal daUnicentro na conduo do projeto permanente de extenso Apirios Rio de Mel, e dos agricultoresfamiliares pertencentes a uma rede de fomento apcola organizada na regio, discutiu-se oplanejamento de sistemas agroflorestais apcolas no Centro Sul do Paran, Brasil.O Centro Sul do Paran caracterizado pela ocorrncia da Floresta Ombrfila Mista (Floresta comAraucrias) e pela presena marcante da agricultura familiar. A regio possui clima do tipo Cfb(temperado), com ocorrncia de geadas freqentes no inverno e temperatura mdia mxima de 24,2C e mnima de 11 C, com precipitao mdia mensal de 193,97 mm e umidade relativa do ar de79,58 %.As informaes sobre as espcies apcolas e sistemas de produo desenvolvidos na regio foram

    levantadas atravs de uma oficina sobre Espcies Melferas realizada no ms de agosto de 2008com apicultores familiares e de visitas constantes nas propriedades fomentadas, desde outubro de

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    2007. Paralelamente tem se efetuado observaes de campo em diversos ambientes registrando-sea espcie vegetal visitada e o tipo de abelha, bem como o perodo do ano em que ocorreu a florada,gerando-se um calendrio apcola regional.Embora o foco na escolha das espcies vegetais tenha recado sobre a abelha extica tradicionalprodutora de melApis mellifera scutellataL., considerou-se tambm a atratividade da planta s outrasabelhas nativas da regio, chamadas de Melipondeos, tais como Jata (Tetragonisca angustula),

    Mandaaia (Melipona quadrifasciata), Mirim (Plebeia remota), etc, que cumprem importante papel napolinizao das florestas e na produo agrcola.

    3-RESULTADOS E REFLEXO

    3.1-Como escolher as espcies vegetais?No caso de se implantar sistemas agroflorestais com foco principal na produo de mel e derivados, aatratividade das plantas s abelhas fator determinante de sucesso, devendo ser realizado umlevantamento prvio das espcies vegetais com potencial melfero. desejvel que estelevantamento seja feito tanto a campo (j que o perodo de florao e a atratividade das abelhas variaconforme a regio) atravs de observaes florais e etnobotnicas, quanto em consulta bibliografia

    tcnico-cientfica.Para a regio deste estudo, utilizou-se uma listagem prvia de plantas onde foi observada a presenada abelhaApis melliferana regio de Irati, Centro Sul do Paran (KLOSSOWSKI, 2008; COSO et al.(2008), compilada por tcnicos do Laboratrio de Agrossilvicultura e pelos apicultores familiares.Coso et al. (2008) levantaram 72 espcies vegetais com potencial melfero para a regio Centro Suldo Paran, verificando a ocorrncia de 24 famlias botnicas, destacando-se Fabaceae, Myrtaceae,Rosaceae, Asteraceae e Rutaceae.Para a seleo de um conjunto de espcies a ser trabalhado nos safs (Tabela 1), considerou-setambm outros fatores tais como poca e durao da florao, tipo de recurso ofertado (plen e/ounctar), tipos de abelhas atradas, entre outros.Tomou-se tambm como base as possibilidades de uso mltiplo da espcie e utilidade local. SegundoNair (1993), espcies de uso mltiplo so aquelas que podem ser deliberadamente implantadas e

    manejadas em Safs para mais de um uso, produto e/ou servio preferencial.Alm disso, priorizou-se espcies com silvicultura j de domnio tcnico/emprico na coleta e quebrade dormncia das sementes, produo de mudas, plantio, etc e de conhecimento e fcilreconhecimento por parte dos apicultores/agricultores.No constam na tabela as espcies espontneas de incio de sucesso consideradas como umvalioso pasto apcola, tais como o Catium (Senecio brasiliensisL.), os Assa Peixe (Vernonia spp.), asVassouras e Vassourinhas (Baccharisspp.), a Carqueja (Baccharisspp.), dentre outras, pois elas nonecessitam ser plantadas por mudas (no mximo espalha-se as sementes, caso no haja fontenatural na regio), bastando se promover a sua ocorrncia atravs da oferta de ambientes propcios sua colonizao, tais como reas mais abertas do SAF, bordas de floresta, beiras de estradas ecaminhos, etc, evitando-se o fogo e o veneno nestas reas.Outro aspecto a ser considerado na priorizao de espcies so as interaes ecolgicas com outras

    espcies da flora e fauna. Neste aspecto se destaca a arvoreta leguminosa Bracatinga-da-branca ouBracatinga-de-campo-mouro (Mimosa flocculosa Burkart), que fornece pasto apcola de outono(PEGORARO & CAMPANEZI,1992), poca de escassez de floradas na regio. Ela vem sendointroduzida em plantios experimentais na regio e demonstra uma interao muito positiva com osdemais componentes dos sistemas testados, como hortalias, j apresentando flores aps 6 mesesde plantio, atraindo uma grande variedade de insetos. Pelas timas caractersticas descritas, oLaboratrio de Agrossilvicultura est produzindo mudas para os agricultores fomentados, embora aespcie tambm se propague muito bem por semeadura direta a campo e ressemeadura natural.Outra espcie de importncia apcola regional a Bracatinga-comum (Mimosa scabrella), que j utilizada tradicionalmente em sistemas agroflorestais no Sul do Brasil para diversos usos madeireirose no madeireiros, e que colabora na manuteno das colnias de abelhas no perodo de inverno ena produo de mel e melato.

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    Tabela 1: Informaes sobre espcies com potencial melfero para compor Sistemas Agroflorestais (SAFs) apcolas na regioda Floresta com Araucria no Paran.

    Nome cientfico Nome comumFamlia

    Botnica Hbito poca florUso

    mltiploAllophylus edulis (St.Hil.) Radlk. Vacum Sapindaceae arbo set/out ma,or,aa,ad

    Aloe arborescensMill. Babosa Liliaceae her mai/ago me

    Butia eriospatha(Mart.ex Drude)

    Becc.Buti Arecaceae arbo set/abr ah,aa,ar

    Campomanesia xanthocarpa Berg Guabiroba Myrtaceae arbo set/nov ah,aa,ma,me

    Casearia sylvestris Sw. Guaatonga Salicaceae arbo ago/set ma,aa,ah

    Citrus spp. Laranjeira Rutaceae arbo mar/mai,ago/out me,ah

    Cucurbitaspp. Abboras Cucurbitaceae trep mar/mai,out/dez me,ah

    Eucalyptus spp. Eucalipto Myrtaceae arbo ago/set me,ma

    Eugenia uniflora L. Pitangueira Myrtaceae arbo ago/set ah,or,me,ma

    Helianthus annuus Girassol Asteraceae her Variado ah,aa,or,me

    Ilex paraguariensis St. Hil. Erva-mate Aquifoliaceae arbo out/dez me,ma,or,ah

    Ingasp. Ing Fabaceae-M arb Variado aa

    Lollium multiflorumLam. Azevm Poaceae her ago/nov av,aa

    Luehea divaricataMart. Aoita-cavalo Malvaceae arbo dez/jun me,aa,or,ad

    Matayba elaeagnoides Radlk. Miguel-pintado Sapindaceae arbo out or,ad

    Mimosa flocculosa Burkart Bracatinga-da-

    branca Fabaceae-M arbo mar/mai or,ad

    Mimosa scabrella Benth.Bracatinga-

    comumFabaceae-M arbo jul/set or,ad

    Ocimumsp. Manjerico Labiatae herb set/mai ah,me

    Parapiptadenia rigida(Benth)Brenan

    Monjoleiro Fabaceae-M arbo set/mar me,aa,or

    Prunus brasiliensis D. DietrichPessegueiro-

    bravoRosaceae arbo ago/out ah

    Prunus persica(L.)Batsch Pessegueiro Rosaceae arbo jul/set ah

    Pyrostegia venustaMiers. Cip de so joo Bignoniaceae trep jun/set or,ad

    Pyrus communis L. Pereira Rosaceae arbo mar,jul/set ah

    Raphanus sativusL. var. oleiferus Nabo forrageiro Cruciferae herb jun/set aa,ad

    Schinus molleL. Aroeira periquita Anacardiaceae arbo set/out or,ah,me

    Schinus terebinthifolius Raddi Aroeira vermelha Anacardiaceae arbo set/out ah,or

    Sebastiania commersoniana(Baill.)Smith&Downs

    Branquilho Euphorbiaceae arbo set/out me,ma

    Syagrus romanzoffiana(Cham.)Glassm.

    Jeriv Arecaceae arbo Variado ah,aa,or

    Trifolium repens L. Trevo branco Fabaceae-P herb ago/out aa,avLegenda:Famlia Botnica: Fabaceae-Mimosoideae, Fabaceae-PapilionoideaeHbito: her-herbceo; arbu-arbustivo; arb-arbreo; tre-trepador; ras-rastejante.poca flor: conforme calendrio apcola da regio de Irati, Paran.Uso mltiplo: ah-alimentao humana; aa-alimentao animal; ma-madeira; me-medicinal; av-adubao verde; or-ornamental;ar-artesanato; ad-recuperao de reas degradadas.

    3.2-Como escolher os arranjos entre as espcies?Aps conhecer o conjunto de espcies melferas potenciais para uma regio, deve-se estudar o

    melhor arranjo e composio para que se assegure um razovel suprimento de floradas ao longo doano.O desenho do saf, alm do uso apcola, pode ser direcionada para um ou mais usos secundrios,como produo de madeira ou produtos florestais no madeirveis, uso forrageiro em um sistemasilvopastoril, recuperao de reas degradadas, dentre outros.Ao mesmo tempo, deve-se considerar tambm a ocupao dos estratos, utilizando-se espciesherbceas, arbustivas, arbreas, trepadoras e rastejantes que otimizem o uso de recursos como luz,gua e nutrientes. Outro aspecto a considerar o tempo que a espcie leva at entrar no perodoreprodutivo, quando ir iniciar a produo de flores, e o seu tempo de vida til.

    4-RELAO DO TRABALHO COM A SUSTENTABILIDADEO planejamento de sistemas agroflorestais, pela natureza complexa de suas interaes, deve serpautado na integrao entre saberes, buscando-se a sustentabilidade ambiental, social e econmica

    e garantindo a sua adoo e adaptao pelos agricultores familiares de cada regio.

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    A apicultura e a meliponicultura racionais podem representar, atravs da perspectiva de uso mltiplodas espcies em um sistema agroflorestal, a promoo diversificao de rendas das propriedadesrurais familiares e a potencializao de outros cultivos agroecolgicos.

    5-CONCLUSES E LIES APRENDIDASEste incio de trabalho conjunto da equipe do Laboratrio de Agrossilvicultura e a rede de fomento

    apcola Rio de Mel tem se mostrado frutfero, colaborando na gerao e disseminao deconhecimentos.Atravs das trocas de experincias tem sido possvel, alm de enriquecer a bibliografia sobre o temasaf apcola, garantir a essas famlias uma alternativa de uso sustentvel atravs de atividades quealiam conservao ambiental com gerao de renda.

    6-REFERNCIAS BIBLIOGRFICASCOSO, M. B. S. et al. Famlias Botnicas de interesse Apcola para a Regio de Irati, Centro-Sul doParan, In: SEMANA DE ESTUDOS FLORESTAIS (10), Irati, 2008. Anais. CD-ROM.KLOSSOWSKI, A; RUPPEL, F.; LARA, A.M.; GOMES, G. S. Flores visitadas pela abelha Apismelliferana regio de Irati, Centro-Sul do Paran. In: SEMINRIO DE PESQUISA UNIVERSIDADEESTADUAL DO CENTRO-OESTE, 19, Guarapuava, 2008. Anais. CD-ROMMONGE, I. A. Cmo Manejar abejas nativas sin aguijn (Apidae: Meliponinae) en Sistemas

    Agroflorestales?. Agrofloresteria en las Americas, v. 8, n. 31, p.50-55, 2001NAIR, P. K.R. An introduction to Agroforestry. ICRAF, 499 p., 1993.WOLFF, L. et al. Sistema agroflorestal apcola envolvendo abelhas melferas, abelhas indgenas semferro, aroeira-vermelha e videiras, em produo integrada no interior de Pelotas-RS: um estudo decaso. Revista Brasileira de Agroecologia, v.2 n.2, p.1236-1239, 2007.PEGORARO, A.; CARPAZEZZI, A.A. Avaliao do Potencial Melfero da bracatinga-de-campo-mouro (Mimosa flocculosa Burkart). In: Simpsio Nacional sobre Recuperao de reasDegradadas,1992, Curitiba. Anais, p.425-429.