Upload
monica-marinheiro
View
219
Download
3
Embed Size (px)
DESCRIPTION
comparação entre o livro "não-lugares" e Rem Koolhaas
Citation preview
Não – Lugares Introdução a uma
Antropologia da
Sobremodernidade
Marc Augé
Rem Koolhaas
Índice:
Citações do livro Não-lugares (pertinência pessoal)………..…………….……………..…….1
Marc Auge – Não-lugares (abordagem e dissertação contínua) ……………………………..…10
Rem Koolhaas (abordagem e dissertação contínua) ………..…………….………………..…….14
____________________________________________________________Não-Lugares
O próximo e o alhures
“A antropologia foi sempre uma antropologia do aqui e do agora. O etnólogo em
exercício é o que se encontra em qualquer parte (o seu aqui do momento) e que
descreve o que observa ou o que ouve nesse mesmo momento.” (…) Pág. 11
“ A actividade do etnólogo de terreno é desde o início uma actividade de
agrimensor do social, de operador de escalas, de comparatista que trabalha em
dimensão reduzida: improvisa um universo significativo, caso seja necessário
explorando, por meio de inquéritos rápidos, universos intermédios, ou consultando,
como historiador, os documentos utilizáveis. (…) Pág. 15
“ A preocupação dos etnólogos aproxima-os e, ao mesmo tempo, distingue-os dos
historiadores da micro-história; digamos antes – respeitando a anterioridade dos
primeiros – que os historiadores da micro-história redescobrem uma preocupação
de etnólogo quando são obrigados, também eles, a interrogarem-se sobre a
representatividade dos casos que analisam (…)” Pág. 16
“As culturas “trabalham” como a madeira verde e nunca constituem totalidades
acabadas (…)” Pág.23
“ (…) seja qual for o nível a que se aplica a investigação antropológica, tem por
objectivo interpretar a interpretação que outros fazem da categoria do outro aos
diferentes níveis que situam o seu lugar e impõem a sua necessidade (…)” Pág.23
“ (…) O que é novo não é que o mundo não tenha, ou tenha pouco, ou menos,
sentido, é antes que experimentemos explícita e intensamente a necessidade
quotidiana de lhe dar um: dar um sentido ao mundo, e não a certa aldeia ou a certa
linhagem. Esta necessidade de dar um sentido ao presente, senão ao passado, é a
contrapartida de superabundância de acontecimentos que corresponde a uma
situação que poderíamos dizer de “sobremodernidade”, a fim de darmos conta da
sua modalidade essencial: o excesso.” Pág.28
_____________________________________________________________________1
Citações (pertinência pessoal)
____________________________________________________________Não-Lugares
“ (…) Do ponto de vista da sobremodernidade, a dificuldade de pensar o tempo está
ligada à superabundância de acontecimentos do mundo contemporâneo (…)” Pág.29
“ (…) Estamos na era das mudanças de escala, em termos de conquista espacial
evidentemente, mas também na terra: os meios de transporte rápidos põem
qualquer capital a algumas horas no máximo de qualquer outra. (…)”
Pág.30
“ (…) Os não-lugares são tanto as instalações necessárias à circulação acelerada
das pessoas e dos bens (vias rápidas, nós de acesso, aeroportos) como os
próprios meios de transporte ou os grandes centros comerciais, ou ainda os
campos de transito prolongado onde são arrebanhados os refúgios do planeta. (…)” Pág.33
“ (…) O mundo da sobremodernidade não tem as medidas exactas daquele em que
cremos viver, porque vivemos num mundo que ainda não aprendemos a olhar.
Teremos de reaprender a pensar o espaço.” (…) Pág. 34
“ A antropologia pós-moderna revela (para lhe pagarmos na mesma moeda) de
uma análise da sobremodernidade da qual o seu método redutivista (do terreno ao
texto e do texto ao autor) não é mais do que uma expressão particular. (…) Pág.35
“ (…) A questão das condições de realização de uma antropologia da
contemporaneidade deve ser deslocada do método para o objecto. (…) Pág.37
“ (…) O século XXI será antropológico, não só porque as três figuras do excesso
são apenas a forma actual de uma matéria-prima perene que é a própria matéria da
antropologia, mas também porque nas situações de sobremodernidade (como nas
que a antropologia analisou sob o nome de “aculturação”) as componentes se adicionam
sem se destruir.” (…)
Pág.38
_____________________________________________________________________2
____________________________________________________________Não-Lugares
O lugar antropológico
“ o lugar comum ao etnólogo e àqueles dos quais fala é, precisamente, um lugar
(…)” Pág.39
“ (…) Pode até acontecer que a sua intervenção e a sua curiosidade devolvam
àqueles, junto dos quais inquire o gosto pelas suas origens, que os fenómenos
ligados à actualidade mais recente poderão ter atenuado, ou por vezes sufocado:
as migrações para a cidade, os novos povoamentos, a extensão das culturas
industriais.” (…) Pág.40
“ (…) Porque se o etnólogo se sente bem evidentemente tentado a identificar os
que estuda com a paisagem em que os descobre e com o espaço a que eles deram
forma, não ignora do mesmo modo que o não ignoram eles próprios as vicissitudes
da historia, a sua mobilidade, a multiplicidade dos espaços a que se referem e a
flutuação das suas fronteiras. Pode todavia, também com eles, ser tentado a avaliar
pelas transformações actuais a medida ilusória da sua estabilidade passada. (…) Pág.43
“ (…) Porque o objecto do etnólogo, em seu entender, são as sociedades
precisamente localizadas no espaço e no tempo. No terreno ideal do etnólogo (o
das sociedades “arcaicas ou atrasadas”), todos os homens são “médios”
(poderíamos dizer “representativos”); a localização no tempo e no espaço nelas é,
pois, fácil de efectuar: vale para todos, e a divisão em classes, as migrações, a
urbanização, a industrialização não intervêm para desmultiplicar as suas dimensões
e confundir a sua leitura” (…) Pág.44
“ (…) o lugar antropológico, é simultaneamente principio de sentido para os que
habitam e principio de inteligibilidade para aquele que o observa. A escala do lugar
antropológico é variável. (…) Pág.46
“ (…) O habitante do lugar antropológico vive na história, não faz história.” (…) Pág.48
“ (…) o estatuto intelectual do lugar antropológico é ambíguo. (…) Varia com a
situação e o ponto de vista que cada um ocupa. (…)” Pág.49
_____________________________________________________________________3
____________________________________________________________Não-Lugares
“ (…) o corpo é um espaço compósito e hierarquizado que pode ser investido do
exterior. Se temos exemplos de territórios pensados à imagem do corpo humano, o
corpo humano é muito geralmente, de modo inverso, pensado como um território.”
(…) Pág.53
“ (…) É então sobre o propósito corpo humano que vemos entrarem em jogo os
efeitos dos quais falávamos a propósito da construção do espaço. Os itinerários do
sonho são perigosos a partir do momento em que se afastam demasiado do corpo
concebido como centro.” (…) Pág.54
“ (…) A relação com a história que assombra as nossas paisagens talvez esteja em
vias de se estetizar e, simultaneamente, de se dessocializar e de se artificializar.
(…)” Pág.63
“ (…) Contraste: é à entrada das cidades, no espaço monótono dos grandes
conjuntos, das zonas industrializadas e dos supermercados, que vemos instalados
os painéis que nos convidam a visitar os monumentos antigos; é ao longo das
autoestradas que se multiplicam as referências às curiosidades locais que deveriam
reter-nos enquanto nos limitamos a passar, como se a alusão ao tempo e aos
lugares antigos, hoje, não fosse senão uma maneira de dizer o espaço presente.”
(…) Pág.64
Dos lugares aos não-lugares
“ (…) O lugar consuma-se através da palavra, da troca alusiva de certas senhas, na
conveniência e na intimidade cúmplice dos locutores. (…)
Se um lugar se pode definir como identitário, relacional e histórico, um espaço que
não pode definir-se nem como identitário, nem como relacional, nem como
histórico, definirá um não-lugar. (…) a sobremodernidade é produtora de não-
lugares (…) espaços que não são eles próprios lugares antropológicos (…)” Pág.67
“ (…) que se passa evidentemente com o não-lugar a mesma coisa que com o
lugar: nunca existe sob uma forma pura (…) O lugar e o não-lugar são antes
polaridades fugidias: o primeiro nunca é completamente apagado e o segundo
nunca se consuma totalmente (…) Pág.68
_____________________________________________________________________4
____________________________________________________________Não-Lugares
“ (…) incluímos na noção de lugar antropológico a possibilidade dos percursos que
nele se efectuam, dos discursos que ai se sustentam, e da linguagem que os
caracteriza.(…)” Pág.70
“ (…) É a estes deslocamentos do olhar, a estes jogos de imagens, a estes
esvaziamentos da consciência que podem conduzir (…) as manifestações mais
características daquilo a que propus chamar “sobremodernidade”. Esta impõe com
efeito às consciências individuais experiencias e provações muito novas de solidão,
directamente ligadas ao aparecimento e à proliferação de não-lugares.” (…) Pág. 79
“ (…) Vê-se bem que por “não-lugar” designamos duas realidades complementares
mas distintas: espaços constituídos em relação com certos fins (transporte, trânsito,
comercio, tempos livres), e a relação que os indivíduos mantêm com esses
espaços. “ (…) Pág 79
“ (…) os não-lugares mediatizam todo um conjunto de relações de si próprio consigo
e com os outros (…) os lugares antropológicos criam social orgânico, os não-lugares
criam contratualidade solitária. (…)” Pág.80
“ (…) Mas os não-lugares reais da sobremodernidade, os que tomamos quando
entramos numa autoestrada, fazemos compras no supermercado ou esperamos
num aeroporto o próximo voo para Londres ou Marselha, têm a particularidade de se
definirem também pelas palavras ou pelos textos que nos propõem (…)” Pág.81
“ (…) E o comboio, outrora, não era tão rápido que impedisse o viajante curioso de
decifrar de passagem o nome da estação – o que a velocidade excessivamente
grande dos comboios actuais impede, como se certos textos se tivessem tornado,
para o passageiro de hoje, obsoletos.” (…) Pág.84
“ (…) Diálogo mais directo, mas ainda mais silencioso: o que cada titular de um
cartão de crédito mantém com a caixa automática onde se insere e em cujo ecrã lhe
são transmitidas instruções de um modo geral encorajadoras, mas constituindo por
vezes verdadeiras chamadas à ordem (…)” Pág.84
_____________________________________________________________________5
____________________________________________________________Não-Lugares
“ (…) Enquanto era a identidade de uns e outros que fazia o “lugar antropológico”,
através das conveniências da linguagem, dos pontos de referencia da paisagem,
das regras não formuladas do saber-viver, é o não-lugar que cria a identidade
partilhada dos passageiros, da clientela ou dos condutores de domingo.” (…) Pág.85
“ (…) Não há individualização (direito ao anonimato) sem controlo de identidade. Pág.85
Bem entendido, os critérios da inocência são os critérios estabelecidos e oficiais da
identidade individual (os que figuram nos documentos e que misteriosos ficheiros
registam). Mas a inocência é outra coisa ainda: o espaço do não-lugar desembaraça
quem nele penetra das suas determinações habituais. (…)” Pág.86
“ (…) O espaço do não-lugar não cria nem identidade singular, nem relação, mas
solidão e semelhança.
Não deixa espaço também à história (…). Nele reinam a actualidade e a urgência do
momento presente. Uma vez que os não-lugares se percorrem, medem-se em
unidades de tempo. (…)” Pág.87
“ (…) Na realidade concreta do mundo de hoje, os lugares e os espaços, os lugares
e os não-lugares, emaranham-se, interpenetrem-se. A possibilidade do não-lugar
nunca está ausente seja de que lugar for. O regresso ao lugar é o recurso de quem
frequenta os não-lugares (…)” Pág.90
“ (…) O personagem está em sua casa quando se sente à vontade na retórica das
pessoas cuja existência partilha. (…)” Pág.91
“ (…) a sobremodernidade (que procede simultaneamente das três figuras de
excesso que são a superabundância de acontecimentos, a superabundancia
espacial e a individualização das referencias) encontra naturalmente a sua
expressão completa nos não-lugares. (…)” Pág.91
“ (…) A sobremodernidade não é a totalidade da contemporaneidade. (…)” Pág.92
_____________________________________________________________________6
____________________________________________________________Não-Lugares
“ (…) se os não-lugares são o espaço da sobremodernidade, esta não pode então
aspirar às mesmas ambições que a modernidade. A partir do momento em que os
indivíduos se aproximam, criam social e ordenam lugares. O espaço da
sobremodernidade, esse, é trabalhado pela seguinte contradição: só conhece
indivíduos (clientes, passageiros, utentes, ouvintes), mas estes não são
identificados, socializados e localizados (nome, profissão, local de nascimento, local
de residência) excepto à entrada e à saída. (…)” Pág.93
“ (…) O império, pensado como universo “totalitário”, nunca é um não-lugar.” (…) Pág. 95
“ (…) Na coexistência dos lugares e dos não-lugares, a pedra de toque será sempre
politica.” (…) Pág.96
Epilogo
“ (…) Redescobrir o não-lugar do espaço, um pouco mais tarde, escapar à coerção
totalitária do lugar, será com efeito redescobrir qualquer coisa que se parece com a
liberdade.” (…) Pág. 97
“ (…) A etnologia sempre lidou com pelo menos dois espaços: o do lugar que estuda
(uma aldeia, uma empresa) e o espaço, mais vasto, em que esse lugar se inscreve e
a partir do qual se exercem influencias e coerções que não deixam de ter efeito
sobre o jogo interno das relações locais (a etnia, o reino, o Estado). O etnólogo está
assim condenado ao estrabismo metodológico: não deve perder de vista nem lugar
imediato da sua observação nem as fronteiras pertinentes das suas marcas
exteriores.
Na situação da sobremodernidade, uma parte deste exterior é feita de não-lugares e
uma parte destes não-lugares é feita de imagens. Frequentar não-lugares, hoje, é
ocasião de uma experiencia sem verdadeiros precedentes históricos de
individualidade solitária e de mediação não humana (basta um cartaz ou um ecrã)
entre o indivíduo e a força pública.” (…) Pág.98
_____________________________________________________________________7
____________________________________________________________Não-Lugares
“ (…) O que é significativo na experiencia do não-lugar é a sua força de atracção,
inversamente proporcional à atracção territorial, aos pesos do lugar e da tradição.”
(…) Pág. 98
“ (…) Tanto nas suas modalidades modestas como nas suas expressões luxuosas, a
experiencia do não-lugar (indissociável de uma percepção mais ou menos clara da
aceleração da historia e do estreitamento do planeta) é hoje uma componente
essencial de toda a existência social. (…)” Pág.99
“ (…) É no anonimato do não-lugar que se experimenta solitariamente a comunidade
dos destinos humanos.(…)
(…) etnologia da solidão.”
Pág.100
_____________________________________________________________________8
____________________________________________________________Não-Lugares
Marc Augé é antropólogo. Africanista, realizou pesquisas, sobretudo, na Costa do
Marfim e no Togo. Foi presidente da EHESS, no período de 1985 a 1995, onde, actualmente,
coordena o Centro de Antropologia dos Mundos Contemporâneos. A partir dos anos 1980,
diversificou os seus estudos, realizando pesquisas na América Latina e incidindo o seu
interesse para as realidades do mundo contemporâneo. Desta preocupação recente, há uma
bibliografia que se tornou referência nas ciências sociais – são mais de trinta livros publicados,
que tratam de diversos temas tais como: o turismo, os desafios da antropologia, entre outros.
O não-lugar é um conceito proposto por Marc Augé, para designar um espaço de
passagem incapaz de dar forma a qualquer tipo de identidade – tema que reflecte nas suas
elaborações as preocupações com a questão do lugar – que emerge nos debates dos
arquitectos, urbanistas e paisagistas.
O antropólogo é conhecido como um grande observador da vida quotidiana e
reconhecido, sobretudo, por sua teoria dos não-lugares, espaços de circulação, de consumo
ou de comunicação – a antropologia (ciência preocupada com o factor humano e as suas
relações) vive um momento de grande agitação, sobretudo, no que toca à
contemporaneidade, com a atenção voltada para as cidades.
O lugar antropológico deixa mais espaço para acontecer vida, é aquele que permite
um conhecimento mais directo do observador, sendo que deste modo, a qualidade de lugar
antropológico está nas possíveis interpretações que o individuo lhe pode dar sem contudo
serem concretizadas.
Auge define o lugar, enquanto espaço antropológico, como um espaço identitário,
relacional e histórico.
O conceito antropológico de lugar e não-lugar, orientou a proposta no sentido de
construir um lugar antropológico, que guardasse memórias de experiência social, com
referências visuais reconhecíveis, refutando os espaços de passagem, indicativos da
crescente abstracção espacial da cidade, impossíveis de serem apreendidos sensivelmente
pelos seus habitantes.
Augé usa o termo sobremodernidade/ supermodernidade para dar a ideia de
continuidade. Na modernidade actual observamos mais factores de aceleração, como do
tempo, do que de ruptura. A supermodernidade é caracterizada pelas figuras de excesso:
superabundância factual, superabundância espacial e individualização das referências,
correspondendo a transformações das categorias de tempo, espaço e indivíduo.
“ (…) Esta necessidade de dar um sentido ao presente, senão ao passado, é a
contrapartida de superabundância de acontecimentos que corresponde a uma
situação que poderíamos dizer de “sobremodernidade”, a fim de darmos conta da
sua modalidade essencial: o excesso.” (…)
_____________________________________________________________________9
Marc Augé – Não-lugares (abordagem e dissertação contínua)
_____________________________________________________________Não-Lugares
O tempo é irreversível. Nos processos urbanos, os fenómenos são observados
continuamente, numa duração, sem um começo ou um fim evidentes ou visíveis, e em
desenvolvimento ou mutação permanente, desta forma, o excesso de tempo por efeito da
aceleração da história em que tudo se tornou acontecimento e que, por haver tantos
acontecimentos, já nada é acontecimento. Por isso, organizar o mundo a partir da categoria
tempo deixou de fazer sentido.
O espaço está ligado a uma fragmentação, a uma transformação evolutiva/
progressiva ou ‘desprogressiva’ até. É necessário conquista-lo. O excesso de espaço por
resultado da mobilidade de pessoas, bens, informações, imagens, provoca alteração da
escala em termos planetários através da concentração urbana, migrações populacionais e
produção de não-lugares, daqui advém o sentimento de que o planeta parece ter encolhido, e
sentimo-nos implicados em tudo, mesmo nos lugares mais remotos.
Estes factores enfraquecem as referências colectivas, originando um excesso de
individualismo, sem identidade. Portanto, o não-lugar caracteriza-se por não ser relacional,
identitário e histórico. As singularidades (dos objectos, grupos) organizam cada vez mais a
nossa relação com o mundo.
Para o autor, um espaço que não seja definido como identitário, como relacional,
como histórico, define-se então como um não-lugar. A conjectura defendida é a de que a
sobremodernidade é produtora de não-lugares, isto é, de espaços que não são em si lugares
antropológicos e que não integram os lugares antigos, classificados como "lugares de
memória". Através dos não-lugares descobre-se um mundo provisório e efémero,
comprometido com o transitório e com a solidão.
O não–lugar parece ser o lugar onde não há relação simbólica, sagrada, afectiva.
Onde se está por ajuste, com uma condição de papel social e não enquanto pessoa. Pode-se
estar na condição de condutor, de passageiro, de doente, de cliente. Não é o sujeito por
inteiro – está-se sob anonimato.
Os não-lugares são espaços banalizados, muitas vezes de circulação rápida. São
lugares de relações superficiais, instantâneas, transitórias, é um ‘não apego’ de forma afectiva
a um lugar.
Para alguns, os não-lugares podem fundar a experiência da liberdade, da identidade
supérflua, liberta de todo o constrangimento.
O não-lugar é completamente oposto ao espaço personalizado. É representado pelos
espaços públicos de rápida circulação, lugares de ausência em si mesmo, de experiencias
‘silenciosas’. Só, mas junto com outros, o habitante do não-lugar mantém com este uma
relação contratual representada por símbolos da sobremodernidade: cartões de crédito,
passaporte, carta de condução, enfim, por símbolos que permitem o acesso, comprovam a
identidade, autorizam deslocamentos impessoais. Lugares e não-lugares buscam o verbo
repensar ou a ausência deste.
____________________________________________________________________10
_____________________________________________________________Não-Lugares
Numa perspectiva pessoal, bastante resumida e instaurada de imagens, estes são…
lugares… ou não lugares… depende da visão de cada cidadão, onde este pode encontrar
uma condição de realização pessoal e identitária…ou não…
No fundo, os não-lugares revelam uma nova forma de viver o mundo. Mas o retorno
ao lugar pode ser o sonho dos que frequentam os não-lugares…ou para os que frequentam
os lugares, os não-lugares podem ser o refúgio ideal…
____________________________________________________________________11
_____________________________________________________________Não-Lugares
Os não-lugares são povoados de “turistas” em trânsito. Viajam, solitários, nesses
espaços de ninguém. São não-lugares livres de identidades.
Normalmente aos não-lugares são atribuídos determinados atributos físico-espaciais.
Na argumentação de Marc Augé, são citados como não-lugares, os aeroportos,
supermercados, vias-expressas e outras estruturas que caracterizam as cidades actuais.
____________________________________________________________________12
_____________________________________________________________Não-Lugares
Será que podemos definir aeroportos, estações de metro, supermercados, entre
outros, como não-lugares?
Muitos não utilizam efectivamente o termo não-lugares por achar o termo inadequado.
A seu ver os centros comerciais e aeroportos são, de fato, lugares. Funcionando como um
refúgio cultural para os estrangeiros quando estão em países onde a cultura difere muito do
seu país de origem. Um estrangeiro sabe que um centro comercial no Japão funciona da
mesma forma que um centro comercial no seu país. Há quem prefira o minimalismo das
coisas, pois não podem ou não querem apegar-se, talvez por frequentarem eternamente não-
lugares, ou simplesmente porque é assim que querem viver – desprendidos de lugares.
Por outro lado um não-lugar é aquele espaço de transição, em que as pessoas não se
identificam e não criam vínculo algum com nada. Um pouco por todo o lado, existem não-
lugares, espaços sem alma, sem qualidade de vida, onde os habitantes se tornaram apenas
ocupantes, viajantes da sobremodermidade – esta ao criar não-lugares, cria espaços de
ninguém, por onde as pessoas passam como meros utentes. E, com o ‘desesperado’
crescimento das cidades e da sociedade, deixamos de pensar e agir globalmente e passamos
a pensar e agir isoladamente…
Fotografia | Stewart Ferebee
____________________________________________________________________13
_____________________________________________________________Não-Lugares
Tanto os arquitectos quanto os etnólogos estão interessados na relação do espaço e
no que nele se pode fazer.
No caso do arquitecto, que se passeia num lugar que não lhe pertence, sente de um
modo diferenciado de quem os habita em exclusividade e permanência, ou seja, a memória
que temos dos espaços forma-se pelo modo como os indivíduos se revêem neles.
Ao que Marc Augé chama de não-lugares, Rem Koolhaas define-os como
Junkspaces.
Rem Koolhaas, arquitecto holandês, considerado um notório desconstrutivista,
acredita nas ideias do progresso social e na natureza propagandística da arquitectura. É
retórico e autor de edifícios reais. Fundou o OMA _ Office for Metropolitan Architecture.
Nasceu em 1944 e considera-se um escritor, mas em 2000 ganhou um Pritzker, o
mais importante prémio de arquitectura mundial. Na mesma frase, fala no singular e no plural
– e só ele poderá explicar de que se alimenta essa contaminação.
A razão de ser hoje em dia um dos
mais respeitados arquitectos urbanos é por
não ver limites entre estéticas, entendendo
que um bom projecto cruza fronteiras
próximas entre urbanismo, pintura e até
literatura, uma vez que, as possibilidades
da estética passam pelo rigor e
experimentações cheias de multi-
possibilidades, como num texto, sem
definição prévia, inclusive, um fato
engraçado é a questão de Rem ter sido
reconhecido pela inteligência de seus textos
teóricos sobre arquitectura, antes mesmo
dos seus projectos mais famosos.
Koolhaas acredita que não haja fronteiras
entre as estruturas, sendo o mais
importante a estética final e não os meios
que a interligam.
____________________________________________________________________14
Rem Koolhaas (abordagem e dissertação contínua)
_____________________________________________________________Não-Lugares
Koolhaas faz uma análise do resultado urbano da sobremodernizaçao criando o
conceito de junkspace, espaço-lixo, para definir o excesso da construção. Entende que a
nossa história é feita de grandes obras, mas não devemos subentender obviamente que toda
a construção do presente se trata de lixo.
Junkspace engloba o espaço fragmentado que procura uma continuidade, mas mais
especificamente, define uma construção reflectida do pós-modernismo/ supermodernismo,
reflectida no consumo, na velocidade, no excesso…
Mais do que nunca, a arquitectura do junkspace, ou dos não-lugares, é subjectiva e
uma mesma imagem pode revelar-se diferente de acordo com diversos pontos de vista.
Isto não quer dizer que a arquitectura de Koolhaas seja tratada como junkspace, seja
lixo… de certo algumas das suas obras poderão ser consideradas por muitos como não-
lugares, de carácter impessoal, efémera e despojada de sentimentos positivamente íntimos, e,
por outra grande parte, um lugar, com grande sentido de afectividade, pessoalidade…
Algumas das obras de Rem Koolhaas
Casa da Música, Porto
Sede da Televisão Central, China
____________________________________________________________________15
_____________________________________________________________Não-Lugares
CCTV, Pequim
Biblioteca Central, Seattle
Educatorium, Utrecht
Kunsthal, Roterdão
McCormick Tribune Campus Center, IIT, Chicago
____________________________________________________________________16
_____________________________________________________________Não-Lugares
Em vários projectos de Koolhaas, encontramos situações e preocupações que se
assemelham bastante aos conceitos abordados pelos não-lugares, espaços mediáticos,
globalizantes, efémeros, etc. Koolhaas é um dos arquitectos praticantes conscientes da
arquitectura globalizada. Nesta, os corpos, os espíritos e as coisas misturam-se na sedução
que provoca, uma sedução ao mesmo tempo de base utilitária e estética.
Os projectos de Koolhaas são geralmente derivados de programas temáticos tais
como, parques de entretenimento, exposições internacionais, reciclagem de áreas portuárias,
centros históricos, entre outros. Eles ocupam pontos estratégicos do território e estão
desconexos (com ou sem intenção) da estrutura urbana, constituindo, em geral, pontos de
referência. Neste tipo de espaços, as imagens tendem a tornar-se quase que ‘objectos de
contemplação’, relacionado com o que Rem Koolhaas tem denominado espaço lixo.
No concurso permanente entre o arquitecto e o seu tempo, Koolhaas chega a uma
posição única, o homem que se demite simultaneamente para o caos ao seu redor e vê nele
uma oportunidade para deixar um novo tipo de ordem.
Mas… serão estas obras de Rem Koolhaas exemplos de não-lugares?
Estas acompanham manifestamente a velocidade, o prazer da experiência superficial
das intensidades, para além da exacerbação do fluxo de imagens proporcionado pelas
actividades que abriga, serão então não-lugares?
Mas estas são tidas para criar sedução e interesse, funcionam com emoções, com um
contexto, com uma sintonia de identidades (embora transitórias). Continuarão estas obras a
ser tratadas como não-lugares? Para alguns, estes lugares permitem que se desenvolva um
sentido de identidade e personalidade atrelado a um contexto…
A mudança de sensibilidade que ocorre hoje (por via de vários factores já referidos),
determina o que o individuo toma por não-lugar…
____________________________________________________________________17
_____________________________________________________________Não-Lugares
Complexidades & Contradições Por:
Mónica Marinheiro
Atelier VII
EUVG
08-09