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Ciência Rural, Santa Maria, v. 27, n. 2, p. 279-284,1997. ISSN 0103-8478 279 COMPORT AMENTO DA Haematobia irritans EM FAZENDAS COM DIFERENTES MANEJOS DE BOVINOS BEHA VIOUR Haematobia irritans IN HERD CA TTLE FARMS UNDER DIFFERENT MANAGEMENT Gilson Pereira de Oliveira I RESUMO A dinâmica parasitária da Haematobia irritans foi estudada em três fazendas com diferentes tipos de manejo de bovinos mestiços na região de São Carlos, SP, as quais não utilizavam nenhum tratamento específico à mosca. O experimento consistuiu na contagem de mosca na região dorso-lombar a cada 14 dias no período de outubro de 1992 a outubro de 1994. Cada fazenda adotava um tratamento: TI (Fazenda Ribeirão Bonito, verminose tratada com levamizole-Ripercol L injetável, carrapato com piretróide - Ectoplus "pour on" e berne com trichlorphon- Neguvon + óleo queimado, uso tópico); T! (Fazenda São Carlos, verminose tratada com levamizole - Ripercol injetável, carrapato tratado com banho de imersão comformamidina - Triatox e berne comfenthion - Tiguvon "pour on ") e T J (Fazenda Santa Eudóxia- sem tratamento). Os dados de contagem da mosca-do-chifre (MC), na escala JMC. 0.5, foram analisados em um modelo que incluiu além da média. os efeitos de tratamentos, ano, mês, período e as interações duplas, sendo que todos os efeitos diferiram entre si (P 50,01). Na escala original observou-se que a contagem nos meses de temperaturas mais elevadas (outubro a março), houve uma carga de /5,7 + 36,4 moscas/animal, enquanto que nos meses de temperaturas mais baixas (abril a setembro) foi de 6,8 + 23,6 moscas/animal. A média de infestação de moscas/animal diferiu (P 50,0/) entre os anos (92 = 4,8 + 7,8; 93 = 8,8 + 20,0; 94 = /6,6 + 43,8) eentrefazendas (TI = 3,/ + 9,7; T! = 2,2 + /3,7 e T J = 26,0 + 44,5), mostrando que o comportamento da mosca-do- chifre é irregular e acíclico. Observou-se ainda, uma eficiência (P<O,05) de 8/,/% e 86,3% nos tratamentos TI e T!, respectiva- mente, quando comparado com o tratamento T J . Palavras-chave: bovino, mosca-do-chifre, comportamento, controle. Alfredo Ribeiro de Freitas' SUMMARY Haematobia irritans parasitical dynamics was studied in three farms rearing crossbred beef caule, under different management systems, in the region of São Carlos, São Paulo State. /n the farms lVas not utilized any specific treatment against horn jlies. The experiment consisted in countingfortnightly the number of jlies on the dorso-lombar area of the animais, from October, 1992 to October, 1994. Each farm used a different parasite control: TI - Ribeirão Bonito Farm, anthihelminthic treatment. with injectable levamizole (Ripercol L); ticks treated with pour on pyrethroid compound (Ectoplus): and berne, treated with trichlorphon (Neguvon) plus used motor oil, applied topically; T!- São Carlos Farm, antihelminthic treatmen with injectable levamizole (Ripercol L); ticks treated with formamidine (Triatox) in immersion bath; and berne treated with pour on fenthion (Tiguvon): and T J - Santa Eudóxia Farm, no parasitism treatments. The number of hornjlies (MC) \Vas analised in the scale JMC. 0.5 in a statistical model that included, besides the mean, the eJJects of treatments, year, month, period and the double interactions. /n the scale MC, ali the eJJects differedfrom each other (P 50.01). During the months in which the temperature \Vas higher (October to March) average parasite load was of /5. 7+.36.4 jlies, while temperature \Vas 10IVer(April to August) it \Vas of6.8 + 23.6 jlies. The average parasite load differed (P 5 O.OI) among years (92 = 4.8 + 7.8; 93 = 8.8 + 20.0: 94 = /6.6 ± 43.8) and amongfarms (TI = 3./ + 9.7, T! = 2.2 + /3.7 eT J = 26.0 + 44.)), indicating that horn jly behaviour is irregular and noncyclic. The efficiency of 81./% and 86.3% was observed for treatment TI and T!> respectivelly, when compared to treatment T J . Key words: herd caule, hornjly, behaviour, control. I . Pesquisador Dsc. da EMBRAPA - Centro de Pesquisa de Pecuária do Sudeste, Caixa Postal 339, 13560-970, São Carlos, SP. Bolsista do CNPq. OLIVEIRA é o autor para correspondência. Recebido para publicação em 05.06.96 Aprovado em 23.10.96. T"'\T"'\",...T ~nn.., n"...

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Ciência Rural, Santa Maria, v. 27, n. 2, p. 279-284,1997.

ISSN 0103-8478279

COMPORT AMENTO DA Haematobia irritans EM FAZENDASCOM DIFERENTES MANEJOS DE BOVINOS

BEHA VIOUR Haematobia irritans IN HERD CA TTLE FARMSUNDER DIFFERENT MANAGEMENT

Gilson Pereira de Oliveira I

RESUMO

A dinâmica parasitária da Haematobia irritans foiestudada em três fazendas com diferentes tipos de manejo debovinos mestiços na região de São Carlos, SP, as quais nãoutilizavam nenhum tratamento específico à mosca. O experimentoconsistuiu na contagem de mosca na região dorso-lombar a cada14 dias no período de outubro de 1992 a outubro de 1994. Cada

fazenda adotava um tratamento: TI (Fazenda Ribeirão Bonito,verminose tratada com levamizole-Ripercol L injetável, carrapatocom piretróide - Ectoplus "pour on" e berne com trichlorphon-Neguvon + óleo queimado, uso tópico); T! (Fazenda São Carlos,verminose tratada com levamizole - Ripercol injetável, carrapatotratado com banho de imersão comformamidina - Triatox e bernecomfenthion - Tiguvon "pour on ") e TJ (Fazenda Santa Eudóxia-sem tratamento). Os dados de contagem da mosca-do-chifre (MC),na escala JMC. 0.5, foram analisados em um modelo que incluiualém da média. os efeitos de tratamentos, ano, mês, período e asinterações duplas, sendo que todos os efeitos diferiram entre si(P 50,01). Na escala original observou-se que a contagem nosmeses de temperaturas mais elevadas (outubro a março), houveuma carga de /5,7 + 36,4 moscas/animal, enquanto que nos mesesde temperaturas mais baixas (abril a setembro) foi de 6,8 + 23,6moscas/animal. A média de infestação de moscas/animal diferiu(P 50,0/) entre os anos (92 = 4,8 + 7,8; 93 = 8,8 + 20,0; 94 =

/6,6 + 43,8) eentrefazendas (TI = 3,/ + 9,7; T! = 2,2 + /3,7 eTJ = 26,0 + 44,5), mostrando que o comportamento da mosca-do-chifre é irregular e acíclico. Observou-se ainda, uma eficiência(P<O,05) de 8/,/% e 86,3% nos tratamentos TI e T!, respectiva-mente, quando comparado com o tratamento TJ.

Palavras-chave: bovino, mosca-do-chifre, comportamento,controle.

Alfredo Ribeiro de Freitas'

SUMMARY

Haematobia irritans parasitical dynamics was studiedin three farms rearing crossbred beef caule, under differentmanagement systems, in the region of São Carlos, São Paulo State./n the farms lVas not utilized any specific treatment against hornjlies. The experiment consisted in countingfortnightly the numberof jlies on the dorso-lombar area of the animais, from October,1992 to October, 1994. Each farm used a different parasitecontrol: TI - Ribeirão Bonito Farm, anthihelminthic treatment. withinjectable levamizole (Ripercol L); ticks treated with pour onpyrethroid compound (Ectoplus): and berne, treated withtrichlorphon (Neguvon) plus used motor oil, applied topically; T!-São Carlos Farm, antihelminthic treatmen with injectablelevamizole (Ripercol L); ticks treated with formamidine (Triatox)in immersion bath; and berne treated with pour on fenthion(Tiguvon): and TJ - Santa Eudóxia Farm, no parasitism treatments.The number of hornjlies (MC) \Vas analised in the scale JMC. 0.5

in a statistical model that included, besides the mean, the eJJectsof treatments, year, month, period and the double interactions. /nthe scale MC, ali the eJJects differedfrom each other (P 50.01).During the months in which the temperature \Vas higher (Octoberto March) average parasite load was of /5. 7+.36.4 jlies, whiletemperature \Vas 10IVer(April to August) it \Vas of6.8 + 23.6 jlies.The average parasite load differed (P 5 O.OI) among years (92= 4.8 + 7.8; 93 = 8.8 + 20.0: 94 = /6.6 ± 43.8) and amongfarms(TI = 3./ + 9.7, T! = 2.2 + /3.7 e TJ = 26.0 + 44.)), indicating thathorn jly behaviour is irregular and noncyclic. The efficiency of81./% and 86.3% was observed for treatment TI and T!>respectivelly, when compared to treatment TJ.

Key words: herd caule, hornjly, behaviour, control.

I .Pesquisador Dsc. da EMBRAPA - Centro de Pesquisa de Pecuária do Sudeste, Caixa Postal 339, 13560-970, São Carlos, SP. Bolsistado CNPq. OLIVEIRA é o autor para correspondência.

Recebido para publicação em 05.06.96 Aprovado em 23.10.96.T"'\T"'\",...T ~nn.., n" ...

280 Oliveira & Freitas

INTRODUÇÃO

A Haematobia irritans diante de suasinfestações nos bovinos, tem sido motivo de alardepelos pecuaristas desde o início de sua dispersão emterritório brasileiro. Possivelmente, esta situação tenhaexistido, em parte devido ao despreparo dos criadorese também pela propaganda veiculada pelos laborató-rios com o intuito de ganhar a competitividade dosmosquicidas lançados no mercado. Por outro lado, ainteração dos nossos técnicos com a literatura estran-geira sobre o assunto, motivou precauções exagera-das, culminando, desta forma, em controles inadequa-dos.

Hoje, as propriedades rurais convivem maisharmoniosamente com a presença da mosca, tomandodecisões menos precipitadas. Acontece que uma sériede informações à disposição do meio rural tomaram ohomem do campo mais cauteloso sobre o assunto. Issose deve, em parte, à continuidade dos trabalhos depesquisa na área que vêm trazendo, cada vez mais,informações do comportamento da H. irritans emnossas condições.

Nos Estados Unidos, onde o ectoparasitis-mo pela mosca-do-chifre se destaca com exclusividadenos bovinos, e assume situações críticas, a necessidadedo envolvimento com inúmeros processos alternativosde controle, na tentativa de solucionar o problema,tomou-se uma condição inevitável (BEADLESS et ai.,1979; HARVEY & BRETHOUR, 1986; BRETHOURet al., 1987; HALL & D01SY, 1989; MOON et al.,1993). Entretanto, se por um lado, os diferentesprincípios ativos utilizado ao longo dos anos contri-buiram para o controle da mosca, certamente osdiferentes métodos empregados aceleraram também osprocessos de químio-resistência da Haematobia(LOCKWOOD et al., 1985; QU1SENBERRY et al.,1984; LUTHER & BYFORD, 1987; BYFORD et ai.,1987; SPARKS & BYFORD, 1988, MACKINNON etal., 1991; CROSBY et al., 1991). Situações comoestas podem ser evitadas em nossos criatórios, desdeque seja usado o bom senso, e métodos racionais nocontrole da mosca.

O presente trabalho teve o objetivo deestudar o comportamento da H. irritans em trêspropriedades rurais com manejo de controle parasitá-rio habitual, sem contudo utilizar qualquer tratamentoespecífico para a mosca.

MATERIAIS E MÉTODOS

a) Obtenção dos dadosNo período de 1992 a 1994, foram feitas contagens da

H. irritans sobre a área dorso lombar de 30 bovinosmestiços europeu/zebu, em três propriedades agrícolascom criação extensiva, pertencentes à região de SãoCarlos, Estado de São Paulo. A região está situada a234km da capital do Estado, com clima classificadoem Cwa, com inverno seco e as maiores precipitaçõespluviais acontecendo nos meses de verão (outubro amarço), com regime hídrico údico. O solo predomi-nante de Latossolo Vermelho-Amarelo, fase arenosa,faz parte da estrutura das fazendas estudadas com pre-dominância na maioria, de pastagens de Brachlariadecumbens. Cada uma delas, localizada num municí-pio, possuia um manejo habitual, o qual correspondiaao tratamento parasitário (T) destinado na proprieda-de:TI-Fazenda Ribeirão Bonito - verminose, tratado comlevamizole-Ripercol L injetável; carrapato com pire-tróide "pour on" Ectoplus e berne com trichlorphon-Neguvon + óleo queimado, uso tópico.T2-Fazenda São Carlos, verminose tratada comlevamizole-Ripercol L injetável; carrapatos com banhode imersão a base de formarnidina- Triatox, e bem ecom fenthion- Tiguvon "pour on" eT) -Fazenda Santa Eudóxia, sem tratamento.

b) Metodologia de análiseOs dados de contagens da mosca-do-chifre,

na escala JMC. 0.5 foram analisados segundo o modelo,considerando os efeitos de fazenda (F), ano (A), mês(M) conforme segue:

i = 1,2,3; j = 1,2.3; k = 1,2, ...,12; 1= 1,2,...,nijkYijkl= efeito do l-ésimo animal avaliado no k-ésimo

mês do j-ésimo ano da i-ésima fazenda;f.J. = efeito da média teórica;Fi, Aj, M" = efeito principais de fazenda, ano e mês,

respectivamente;(FA)ij, (FM)jk, (AM)i k= efeitos de interação;Eijkl= erro aleatório suposto normalmente distribuido,com média zero e variância 02.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos, na escala JMC. 0.5,

considerando o comportamento da H. irritans, foramdistintos nos três municípios da região de São Carlos.Na Figura I estão apresentados os efeitos principais defazenda (A), mês (B) e ano (C).Observa-se que asfazendas de São Carlos e de Ribeirão Bonito, apresen-taram os menores níveis de infestação da mosca,

Ciência Rural, v. 27, n. 2, 1997.

Comportamento da Haematobia irritans em fazendas com diferentes manejos de bovinos. 281

A

l.c Jy~

2.I I

R.Bonlto S. Eudôn. S. Cano.

FAZENDA

B

~ J

1'? 2

II

10 11 12

M~

C5

~ 3

~1~:li!

1992 1993 1994

AKJ

Figura - Comportamento da Haematobia irritans (MC) embovinos mestiços relativo a: fazendas (A), mês (B) eano (C), em três municípios da região de São Carlos,Sf', nos anos de 1992, 1993 e 1994 (escala: JMC. 0.5)

provavelmente em decorrência do tratamento utiliza-do. Independente da fazenda e do ano, verificou-seuma flutuação sazonal de mosca, ocorrendo maioresinfestações nos meses mais quentes do ano (Figura IB).

Na Figura 2, estão apresentados os efeitosdas interações (P < 0,0001) fazenda x ano (A), fazendax mês (B) e ano x mês (C). A média de in-festação/animal foi menor na fazenda de São Carlos(1,1 ± 1,0,0,9 ± 0,6 e 1,2 ± 1,7); enquanto que, napropriedade de Santa Eudóxia observou-se que a nãoutilização de tratamento parasítico induziu a liberdadede maior desenvolvimento da mosca-do-chifre (2,9 +1,5, 3,7 + 3,0 e 4, I + 4,5), para os anos de 1992, 1993e 1994, respectivamente. Contudo, observa-se que onível de incidência da mosca nas propriedades de São

Carlos e Ribeirão Bonito, pode ser considerado dentrodos padrões de infestação aceitáveis da Haematobia.

A variação sazonal da mosca-do-chifre aolongo dos meses (Figura 2 B), está relacionada com afazenda, ou seja, sofreu a influência do tratamentohabitual aplicado a cada uma delas; sendo observadaincidência maior de mosca na fazenda de SantaEudóxia, principalmente nos meses de temperaturas eprecipitação pluvial mais elevadas, e população demosca semelhante nas demais. Existem diferençasclimáticas nos três municípios, porém, as linhasisotérmicas possuem tendências semelhantes, comtemperaturas médias mais baixas no período de abrila setembro, acompanhado de estiagem no mesmoperíodo (Figura 3). Independente de Fazenda, aincidência de mosca foi crescente nos anos de 1992 a1994, principalmente nos meses de outubro a dezem-bro (Figura 2 C).

A

_ 1992

0199301994

I~Is. CAJU.Ot)

FAZ[:"IDA

c

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1 6

Me;10 11 12

Figura 2 - Comportamento da Haematobia irritans (MC) embovinos relativos a: fazenda x ano (A), fazenda x mês(B) e ano x mês (C), nos três municípios da região deSão Carlos, sr, nos anos de 1992, 1993 e 1994(escala: JMC. 0.5).

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282 Oliveira & Freitas

Figura 3 - Precipitação pluvial, mm (A) e temperatura máxima(Mx) e Mínima (Mn), °C (B) da região de São Carlos,SP, relativo aos anos de 1992, 1993 e 1994.

Observou-se que no decorrer dos três anos,houve um crescimento progressivo na quantidade demoscas, sendo que em setembro de 1994 uma acentua-ção maior em toda região (Figuras I e 2 C). Durante operíodo experimental as médias de mosca apresenta-das na escala original entre fazendas variou de 0,7 a36,5 mosca/animal (Tabela I), enquanto que emnúmeros individuais variou de O a 428, o que significaque, esporadicamente, em alguns animais as infesta-ções atingem a números excessivos, embora, a médiapode ser considerada como de baixa infestação.

As primeiras observações sobre a epidernio-logia da H. irritans no Brasil foram realizadas porCOLLARES (1991), em Roraima. Em suas análises,verificou que a flutuação da mosca nos diferentesperíodos do ano foi acíclica, não acompanhando aesperada variação climática local, ou seja, o períodoseco e chuvoso. Ressaltou ainda, que, além dos fatoresabióticos, outras interferências devem interagir na suabiologia.

Comparando-se os tratamentos realizadosentre fazendas (Tabela 2), observou-se que a eficiênciade controle das moscas variou de 81,2% (1992) a92,0% (1993) em Ribeirão Bonito e de 66,6% (1992)a 95,3% (1993) em São Carlos, quando comparada aotratamento controle (T3: Santa Eudóxia). Constatou-se

ainda, que a melhor eficiência de controle desseparasita foi obtida no ano de 1993, independente defazenda.

Tabela I - Dados de contagem, na escala original, deHaematobia irritans obtidos de bovinos naregião de São Carlos, nos anos de 1992 a 1994:infestação média, mínima e máxima por animale total/fazenda/ano.

ANOS Média Mínimo Máximo Total

Fazenda Ribeirão Bonito

1992 1,2±3,3 O 16 1441993 1,7±4,4 O 35 7651994 5,7±14,5 O 132 1927

Fazenda Santa Eudóxia

1992 10,3±9,1 O 40 18531993 21,7±27,9 O 160 152791994 36,5±62,0 O 428 20815

Fazenda São Carlos

1992 1,7± 5,1 O 42 3171993 0,7± 2,5 O 23 4961994 4,0±21,2 O 370 2440

Tabela 2 - Intervalos de confiança ao nível de 5% deprobabilidade para a eficiência de controle, %,da mosca dos tratamentos existentes na fazendade Ribeirão Bonito TI (EF13) e na fazenda deSão Carlos T2 (EF23), quando comparado como tratamento da fazenda de Santa Eudóxia T3,onde LI e LS representam os limites inferiorr esuperior. respectivamente.

ANO LI EFI3 LS LI EF23 LS

199219931994

81,2 85,6 90,088,9 90,5 92,081,8 83,0 84,3

66,6 70,892,2 93,777,7 79,0

75,095,380,3

Em todas as análises realizadas, foramobservados efeitos significativos nos resultadosreferentes à região de São Carlos, caracterizando que,

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Comportamento da Haematobia irritans em fazendas com diferentes manejos de bovinos. 283

em cada propriedade, provavelmente influenciada pelomanejo e pela localização, houve uma evoluçãodiferenciada da mosca. GORDON et ai. (1984)descreveram os fatores climáticos, temperaturas,precipitação pluvial e umidade, como intimamenterelacionados ao desenvolvimento da mosca-do-chifre.No entanto, fundamentou, que, quando em excesso,esses elementos agem de forma negativa na suabiologia. Acrescentou ainda, que a localização dapropriedade, tipos de explorações a que se destinam,tipos de solo, e "performance" da pastagem quanto aoperíodo de crescimento, são fatores que predispõem aabundância da mosca-do-chifre.

Embora na região de São Carlos, em termosmédios, a infestação da mosca apresentou-se relativa-mente baixa, considerando-se a média dos doze meses,alguns animais apresentaram infestações bem expres-sivas, ou seja, bem acima da média. Resultadossemelhantes foram observados por BIANCHIN et ai.C 1993), os quais relataram que infestações médias deH. irritans provenientes de dois períodos chuvosos noEstado de Mato Grosso do Sul não ultrapassavam a 80moscas/animal. Na realidade, como relataram SAUE-RESSIG et ai. (1995), as incidências de mos-cas/animal em nosso território, estão, em média, bemabaixo daquelas relatadas na literatura estrangeira(CAMPBELL, 1976; HARVEY & BRETHOUR, 1986e KUNZ et ai., 1984). Portanto, as medidas de contro-le a serem adotadas devem ser criteriosas, e se possíveladequando aos demais tratamentos ectoparasiticidas,evitando-se desta forma, ativar o processo de químio-resistência antecipadamente. Como medida, toma-secomo base a descrição de BURNS et ai. 1975, em quepreconizou o tratamento limiar de 200 moscas/animal,por considerar razoáveis as perdas econômicas.Verificando-se que em média, as infestações norebanho dos municípios onde foram conduzi das asobservações, estão bem abaixo deste nível, excetuandoesporadicamente alguns animais, a medida a sertomada será a utilização de controle somente nessesbovinos. Com isso, será favoreci da a inter-relaçãoentre gerações de moscas resistentes àquelas aindasem resistência, atenuando-se, desta forma, o apareci-mento de possíveis populações resistentes.

CONCLUSÕES

I) A eficiência dos tratamentos aplicadosnas propriedades de Ribeirão Bonito e de São Carlosvaria de 81,2% a 92,0% e 66,6% a 95,3%, respectiva-mente; 2) O comportamento da mosca-do-chifre éatípico e acíclico entre os meses do ano e entresfazendas; 3) Na escala original, há uma carga de 15,7

± 36,4 moscas/animal nos meses de temperaturas maiselevadas (outubro a março) e de 6,8 + 23,6 mos-cas/animal nos meses de temperaturas mais baixas(abril a setembro); 4) Nos meses de estiagem e tempe-raturas mais baixas a incidência de moscas na regiãode São Carlos é reduzida.

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