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Alexandre Luis Ritter Fernanda Zago Guedes Resumo A postura corporal é resultado da interação de fatores culturais, psicológicos, ergonômicos e biológi- cos. Equilíbrio muscular e amplitude de movimento são características individuais que contribuem na adequação da postura. Ocorrência de dor pode ser observada quan- do essas características deixam de existir, provocando de- créscimo na qualidade de vida do sujeito. O objetivo deste estudo é verificar o comportamento e as correlações das variáveis Força e Resistência Abdominal e Teste de Sen- tar e Alcançar no banco de dados do PROESP-BR. Na pesquisa observou-se que há uma grande prevalência de sujeitos abaixo da zona referenciada de saúde em ambas as variáveis, ocorrendo isso em ambos os sexos e em todas as idades. Todavia, não foi observada correlação adequada entre as variáveis, evidenciando a existência de outros fatores que podem estar favorecendo o arranjo postural. Palavras-chave Postura corporal, força abdominal, amplitude de movimento, qualidade de vida.

COMPORTAMENTO DAS VARI VEIS FOR A E RESIST NCIA … · cos. Equilíbrio muscular e amplitude de movimento são ... As dores nas costas são de difícil diagnóstico em função de

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COMPORTAMENTO DAS VARIÁVEIS FORÇA ERESISTÊNCIA ABDOMINAL E SENTAR EALCANÇAR NO PROJETO ESPORTE BRASIL –PROESP-BRAlexandre Luis Ritter

Fernanda Zago Guedes

ResumoA postura corporal é resultado da interação de

fatores culturais, psicológicos, ergonômicos e biológi-cos. Equilíbrio muscular e amplitude de movimento sãocaracterísticas individuais que contribuem na adequaçãoda postura. Ocorrência de dor pode ser observada quan-do essas características deixam de existir, provocando de-créscimo na qualidade de vida do sujeito. O objetivo desteestudo é verificar o comportamento e as correlações dasvariáveis Força e Resistência Abdominal e Teste de Sen-tar e Alcançar no banco de dados do PROESP-BR. Napesquisa observou-se que há uma grande prevalência desujeitos abaixo da zona referenciada de saúde em ambasas variáveis, ocorrendo isso em ambos os sexos e emtodas as idades. Todavia, não foi observada correlaçãoadequada entre as variáveis, evidenciando a existência deoutros fatores que podem estar favorecendo o arranjopostural.

Palavras-chavePostura corporal, força abdominal, amplitude de

movimento, qualidade de vida.

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AbstractBody posture is a resultant of the interaction of

cultural, psychological, ergonomics, and biological factors.Muscular balance and range of motion are individualcharacteristics that contribute to a postural adequacy. Painoccurrence may be observed when these characteristics nolonger exist, leading to a decreased quality of life. The aimof this paper was to verify how Abdominal Strength andEndurance Test and Sit and Reach Test behave and correlateto each other in PROESP-BR data base. A great prevalenceof subjects under health target zone in both variables wasverified, among boys and girls, and over all ages. In spite ofthat, no adequate correlation between the variables wasobserved, which showed that there would be other factorsthat may be acting on the postural arrangement.

KeywordsBody posture, abdominal strength, range of motion,

quality of life.

INTRODUÇÃOA qualidade de vida é um conceito que agrega uma série de outras variá-

veis. Domínio psicológico, nível de independência, relações sociais, meio ambi-ente, espiritualidade e físico são fatores que podem dar pistas de como o sujeitose sente frente ao seu grupo social. No domínio físico, uma faceta importante é ador e o desconforto. A magnitude de ocorrência dessa faceta pode influenciar noresultado final de uma avaliação da qualidade de vida do tipo proposto pela Or-ganização Mundial da Saúde – WHOQOL (FLECK, 2000).

Dentre as diferentes afecções álgicas, a dor nas costas é uma das mais co-muns e que mais causam afastamento do trabalho e das atividades cotidianas (FER-

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NANDES et al., 2007). As dores nas costas são de difícil diagnóstico em função desuas diferentes fontes de origem. A reorganização da dinâmica corporal tendo emvista as atividades do cotidiano e o enfraquecimento/fortalecimento desequilibra-do do corpo humano podem ser importantes causas dessas afecções.

A postura corporal humana é o resultado de um processo constante quevem ocorrendo ao longo de milhões de anos de evolução da espécie. Desde omomento em que os primeiro hominídeos começaram a apoiar o peso do corpoexclusivamente sobre os pés, inúmeras alterações estruturais se processaram.A articulação coxo-femural e a coluna talvez tenham sido os segmentos que maisalterações sofreram nesse processo.

O quadril rodou posteriormente para acomodar a sustentação da colunaque sofreu alterações nas suas curvas fisiológicas para dar conta das novas tarefasàs quais o novo homem foi submetido. Esse processo está em curso, pois as tarefascotidianas têm imposto ao homem a necessidade de encontrar novos arranjosposturais. (Figura 1)

Figura 1 – Novas demandas culturais, necessidade de novos arranjos corporais

Fonte: http://www.eq.uc.pt/jorge/aulas/ambiente/pc/coisasdanet/net-evolucao.gif

As estruturas biológicas (dentre outros aspectos como os culturais e osergonômicos, por exemplo) que suportam a realização dessas tarefas do cotidiano

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são inúmeras. Basicamente, os músculos responsáveis pela estabilização da colunavertebral são os flexores e extensores da articulação coxo-femural e os flexores eextensores da coluna. Dentre o primeiro grupo, pode-se citar como muito impor-tante para a mobilidade da coluna o músculo ílio-psoas e, para o segundo grupo, osmúsculos abdominais (reto abdominal, oblíquo externo e interno).

O conjunto do músculo ílio-psoas é composto medialmente pelo psoasmaior e lateralmente pelo ilíacus. Esses músculos, associados ao quadrado lom-bar, compõem o principal conjunto da região posterior da parede do abdômen.A função principal do ílio-psoas é a flexão da coxa e, quando a coxa está fixada,aquele músculo é o principal responsável pela flexão da coluna. Além disso, re-presenta um músculo importante na manutenção da postura ortostática, já queele previne a hiperextensão da articulação coxo-femoral (BYRD, 2005). Sua loca-lização (origem e inserção) é responsável, dentre os aspectos músculos-esqueléti-cos, pela determinação do grau da lordose lombar.

Figura 2 – Conjunto de músculos que se situam na parede do abdômen.

Fontes: www.nubodysfitness.com/enews/november2004/fitnessfacts.htm

www.cascadewellnessclinic.com/graphics/2artgfx/29psoas.gif

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O aumento da curvatura da lordose lombar, associada a sua perda demobilidade funcional, pode acarretar a limitação na amplitude de movimento dacoluna vertebral. O músculo ílio-psoas encurtado pode aumentar a curva lordó-tica que, por sua vez, também pode reduzir a mobilidade da coluna.

A quantidade de movimento que uma articulação realiza, ou seja suamobilidade num determinado plano é chamada de amplitude de movimento(ADM). A posição de referência ou inicial para se medir toda a ADM, exceto asrotações no plano transversal, é a anatômica. A ADM normal também sofrevariações entre os indivíduos, tendo influência de fatores como idade, sexo e aexecução ativa ou passiva da mensuração do movimento (NORKIN e WHITE,1997).

No caso da ADM da coluna, tem-se observado que o peso corporal e ahora do dia em que é feita a análise da mobilidade também são variáveis interve-nientes na amplitude de movimento (ENSINK et al., 1996).

Além disso, muitos são os fatores limitantes da ADM, como os ligamen-tos, a cápsula articular, a tensão passiva do músculo, a proximidade dos tecidosmoles e o contato das superfícies articulares. Entretanto, acredita-se que os mús-culos sejam, em grande escala, os maiores limitadores dos movimentos articula-res (KAPANDJI, 1997).

Quadro 1: amplitudes de movimento ósseo da coluna vertebral

(adaptado de Kapandji, 1997)

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Outro fator limitante é a falta de equilíbrio entre os músculos como, porexemplo, entre a musculatura posterior e anterior. A falta de força na musculatu-ra abdominal (região anterior) provoca um desequilíbrio postural e uma conse-qüente sobrecarga na coluna que tende a hiperextender. O oposto ocorre quan-do há uma lassidão muscular dos eretores da coluna (região posterior) e então otronco tende a fletir (MYERS, 2003).

Além das variáveis mencionadas, deve ser levado em consideração o tipode teste utilizado para medir a ADM da coluna. Muitos testes como o Teste “pontados dedos no chão” (Fingertip-to-Floor Method) e o Teste “Sentar e Alcançar”(Seat and Reach) não diferenciam o movimento da coluna do movimento da arti-culação do quadril, fornecendo um resultado que não se limita à amplitude deflexão da coluna. Da mesma forma, o Teste de Força e Resistência Abdominal(Seat up), além de medir o desempenho dos músculos abominais, por sua forma deexecução, verifica também a participação do músculo ílio-psoas.

Apesar dessas limitações por suas características de execução, ambos ostestes não podem ser desqualificados enquanto medidas precisas e objetivas. Seusprotocolos de aplicação são bastante claros e o resultado é de fácil entendimento(PROJETO ESPORTE BRASIL, 2006).

ObjetivoEste trabalho visa a verificar o comportamento das variáveis Força e Resis-

tência Abdominal e teste de Sentar e Alcançar a partir de dados do PROESP-BR.

Questões de pesquisa- Qual o comportamento em diferentes idades das variáveis Força e Re-

sistência Abdominal e Teste de Sentar e Alcançar?

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- Qual o comportamento em meninos e meninas nas variáveis Força eResistência Abdominal e Teste de Sentar e Alcançar?

- Qual o comportamento em diferentes idades de meninos e meninasdas variáveis Força e Resistência Abdominal e Teste de Sentar e Alcançar?

- Qual a prevalência de sujeitos na zona saudável nas variáveis Força eResistência Abdominal e Teste de Sentar e Alcançar?

- Há correlação entre as variáveis Força e Resistência Abdominal e Teste deSentar e Alcançar?

- Qual a proporção de crianças em risco de prevalência de dor nas cos-tas, levando-se em consideração as variáveis Força e Resistência Abdomi-nal e Teste de Sentar e Alcançar?

MÉTODOO presente trabalho é um estudo transversal de viés eminentemente quanti-

tativo. Utilizou-se de estatística descritiva e inferencial para alcançar seus resultados.

População e amostraEste estudo foi realizado com base no banco de dados do PROESP, com

informações coletadas entre 2003 e 20061 .A amostra é composta de 67227 crianças e adolescentes entre 7 e 17 anos

de idade provenientes do Distrito Federal e de todos os Estados da Brasil. Oquadro 2 apresenta dados relativos à amostra deste estudo.1 O acesso ao banco de dados do PROESP-BR foi gentilmente franqueado pela sua coordena-

ção. Especial agradecimento ao Dr. Adroaldo Cézar de Araújo Gaya (Coordenado Geral doGrupo de Pesquisa) pela prontidão em atender nossos pedidos de informação.

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Quadro 2 - Descrição da amostra

Análise estatísticaPara responder às questões de pesquisa foi utilizada a estatística descriti-

va mediante análise de freqüência e a estatística inferencial através da ANOVAOne-way, teste t de Student e correlação linear de Pearson.

RESULTADOSA seção de resultados está subdividida em seis subseções, corresponden-

tes às questões de pesquisa explicitadas anteriormente. Foi avaliada a existênciade diferença significativa entre as variáveis com a utilização do teste t de Studentpara amostras independentes e da ANOVA One-way e do teste post-hoc de Bon-ferroni.

Comportamento das variáveis em diferentes idadesNa variável Força e Resistência Abdominal, foi verificada diferença esta-

tisticamente significativa entre todas as faixas etárias. Foi observada, apenas entre

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os 16 e 17 anos, uma diminuição significativa. A variável Sentar e Alcançar nãoapresentou o mesmo comportamento. Entre os 7 e os 8 anos não houve variaçãosignificativa. Há um aumento significativo entre os 8 e 9 anos (p=0,047). Entreos 9 e os 14 anos não há variações significativas. Entre os 14 e 15 anos há umnovo aumento significativo de desempenho no teste (p=0,000) e entre os 15 e 17anos, não há variações significativas.

Figura 3 – Comportamento das variáveis Força e Resistência Abdominal e Sentar e Alcançar

Tabela 1 – Comportamento das variáveis Força e Resistência Abdominal e Sentar e Alcançar

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Comportamento das variáveis entre meninos e meninasAs variáveis Força e Resistência Abdominal e Sentar e Alcançar na totali-

dade da amostra apresentaram um diferença estatisticamente significativa entremeninos e meninas (p=0,000). Na Figura 4, está representada a média dos gru-pos e, na Tabela 2, há dados pormenorizados dos resultados.

Figura 4 – Média das variáveis agrupadas por sexo

Tabela 2 – Dados das variáveis agrupados pelo sexo dos participantes

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Comportamento das variáveis entre meninos e meninas de diferentesidades

Na variável Força e Resistência Abdominal para o grupo masculino, foiverificado um aumento estatisticamente significativo entre as idade de 8 e 9 anos,assim como entre os 10 e 16 anos. Entre os 16 e 17 anos, foi observada umadiminuição estatisticamente significativa no desempenho deste teste. No grupofeminino, foi observado um aumento nesse desempenho entre os 9 e 10 anos,11 e 13 anos. Entre os 16 e 17 anos observou-se uma diminuição estatisticamentesignificativa.

Na variável Sentar e Alcançar para o grupo masculino, foi observa-do um aumento estatisticamente significativo apenas entre as idades de 14 e15 anos. Para o grupo feminino, não se observou nenhuma diferenças esta-tisticamente significativa entre nenhuma faixa de idade. Na Figura 5, estárepresentado o comportamento das variáveis. Na Tabela 3, estão os dadoscompletos.

Na avaliação entre o grupo masculino e o grupo feminino, em dife-rentes idades, observou-se que o primeiro tem desempenho significativamentesuperior em todas as faixas de idade para a variável Força e Resistência Abdo-minal. O inverso ocorre com a variável Sentar e Alcançar, na qual o grupofeminino tem médias significativamente superiores ao grupo masculino em to-das as faixas de idade.

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Figura 5 – Comportamento das variáveis agrupadas por idade e por sexo

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Tabela 3 – Comportamento das variáveis em diferentes idades para os grupos masculino e

feminino

Prevalência de sujeitos na zona saudávelPara o estabelecimento da prevalência de sujeitos na zona saudável para

aptidão física (ZSApF), foram utilizados os parâmetros do PROESP.O que se observa nesses dados é que na variável Força e Resistência

Abdominal do grupo masculino, em torno de 1/3 da amostra se encontra abaixoda zona saudável recomendada (25,6%-31%). No grupo feminino, esse resultadoé um pouco pior, ficando a prevalência geral em torno de 35% (32,1%-40,5%).

Em relação à variável Sentar e Alcançar, a situação é bem pior, tanto parao grupo masculino como para o grupo feminino. No primeiro, os percentuaisabaixo da zona saudável recomendada situam-se em torno de 32,4% - 62,1%.Dados semelhantes são observados no grupo feminino, 33,2% - 66,6%.

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Figura 6 – Freqüência da ZSApF para Força e Resistência Abdominal

Figura 7 – Freqüência da ZSApF para Sentar e Alcançar

Tabela 4 – Freqüência observada nos grupos de idade e sexo em relação à Zona Saudável

para Aptidão Física para Força e Resistência Abdominal

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Correlação entre as variáveis em estudoFoi verificada, em um primeiro momento, a existência de correlação en-

tre as variáveis em toda a amostra. Considera-se uma correlação aceitável a partirdo r=0,50. Para este grupo foi observada uma correlação significativa, porémmuito baixa (r=0,105; p=0,000). Em um segundo momento, foi verificada a exis-tência de correlação entre as variáveis com a amostra agrupada por sexo. Alémdisso, foi observada uma correlação significativa, mas também muito baixa(I r=0,129; p=0,000 - H r=0,156; p=0,000). Ambas as informações estão repre-sentadas na Figura 8.

Foi ainda verificada a existência de correlação entre as diferentes faixasde idade e sexo. Os resultados se repetem, sendo encontrada a correlação maisalta (r=0,237; p=0,000) entre as variáveis Força e Resistência Abdominal e Sentare Alcançar para o grupo do sexo feminino de sete anos. Essa correlação apesarde significativa continua sendo muito baixa. A relação completa das correlaçõesestá apresentada na Tabela 5.

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Figura 8 – Correlação entre as variáveis na totalidade da amostra e agrupada por sexo

r=0,129; p=0,000 r=0,156; p=0,000

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Tabela 5 – Correlação entre as variáveis agrupadas por idade e sexo

Sujeitos em situação de risco de dorA dor nas costas pode ser um sintoma de alguma desorganização ou

desequilíbrio muscular entre flexores (i.e. abdominais e ílio-psoas) e extensoresda coluna. Jones et al. (2005) analisaram informações de adolescentes com e semdor recorrente nas costas. A regressão logística apontou reduzida amplitude demovimento do quadril, flexão lateral da coluna, mobilidade sagital da lombar eForça e Resistência Abdominal (medida pelo seat up) são fatores de risco para aprevalência de dor nas costas.

No PROESP, é possível verificar a prevalência de participantes com 14 e15 anos com níveis abaixo dos limites saudáveis tanto na medida do Sentar eAlcançar (que equivaleria ao teste de Schober modificado aplicado por Jones etal., 2005) como no teste Força e Resistência Abdominal (Seat up). Se fossem con-siderados apenas estes dois fatores de risco, poderíamos encontrar até 22,07% do

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grupo feminino de 14 anos com possível quadro dor. Na Figura 9, são apresenta-das as prevalências de risco dos grupos masculino e feminino de 14 e 15 anos deidade.

Figura 9 – Freqüência suposta de adolescentes com risco de dor nas costas

DISCUSSÃOOs dados aqui relatados em relação aos índices de desempenho das vari-

áveis Força e Resistência Abdominal e Teste de Sentar e Alcançar estão em con-sonância com os dados relatados pelo Grupo PROESP (2006).

Os dados apresentados pelos autores (op cit) se referem à população deescolares do Estado do Rio Grande do Sul. Com relação à Força e ResistênciaAbdominal, foi observada diferença estatisticamente significativa entre os gru-pos masculino e feminino em todas as idades. Os dados do PROESP-RS apon-tam para aumentos significativos para o grupo masculino apenas entre as idadesde 11 e 12 e 13 e 14 anos, diferentemente deste estudo. Aqui foi encontradadiferença estatisticamente significativa (p<0,05) em quase todas as faixas de ida-de, com exceção daquela compreendida entre os 8 e 10 anos. Em ambos osestudos foi observada diminuição no desempenho do grupo masculino entre os16 e 17 anos, e, neste estudo, essa diferença foi significativa.

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No grupo feminino, os dois grupos de população têm resultados seme-lhantes apenas para as faixas de idade entre 16 e 17 anos, quando ocorre umadiminuição significativa no desempenho da tarefa. Nos dois estudos, há um in-cremento de desempenho ao longo do tempo, contudo tal aumento é significati-vo entre os 9 e 10 e 11 e 13 anos de idade.

Com relação à variável Sentar e Alcançar, os dados referentes ao PRO-ESP-RS e ao PROESP-BR concordam quando afirmam que o desempenho dogrupo feminino é significativamente superior ao grupo masculino em todas asfaixas de idade. Exceção ocorre nos 8 e 9 anos de idade, pois no PROESP-RSessa diferença não é significativa e no PROESP-BR ela é observada.

Quando a variável Sentar e Alcançar é analisada ao longo do tempo nosgrupos masculino e feminino, os dois bancos de dados apresentam algumas dife-renciações. No PROESP-RS, o grupo masculino apresenta uma tendência dequeda no desempenho entre os 7 e 10 anos, uma estabilização entre os 10 e 11anos e uma tendência de aumento entre os 11 e 16 anos. Nos dados do PRO-ESP-BR, essa tendência de queda é observada entre os 7 e 8 anos e posterior-mente entre os 9 e 12 anos. Há então uma tendência de aumento significativoapenas entre os 14 e 15 anos de idade. Uma tendência de queda é mais uma vezvista entre os 16 e17 anos.

Em relação ao grupo feminino, os dados do PROESP-RS apresentamuma tendência de redução entre os 7 e 10 anos (significativa entre 7-8 anos). Háentão uma melhora a partir dos 10 anos, com estabilização aos entre os 13 e 14anos. Entre os 14 e 15 e 16 e 17, há um aumento significativo de desempenhodessa tarefa. Nos dados do PROESP-BR, esses resultados são contraditórios. Éobservada uma tendência de melhora no desempenho entre as idades de 7 e 16anos e uma tendência de queda entre os 16 e 17 anos de idade.

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Análises posteriores sobre as influências regionais devem ser efetuadaspara tentar encontrar onde se localizam as diferenças nos resultados. Questõescomo diferentes períodos de maturação sexual, hábitos de vida e de exposição apráticas desportivas regulares e estados nutricionais em regiões diferentes pode-riam ser fatores contribuintes para esses resultados incongruentes.

Os dados provenientes dos dois bancos de dados se mostram congru-entes em relação à variável Força e Resistência Abdominal, uma vez que noPROESP-RS a prevalência de abaixo da zona saudável para o grupo masculinoe feminino é de 53% e 66%, respectivamente. Nos dados dos PROESP-BR,esses resultados são de 48% e 59%. Já os dados referentes à zona saudável davariável Sentar e Alcançar, nos dois bancos de dados, apresentam algumas dis-crepâncias. No PROESP-RS, a prevalência abaixo da zona saudável para osgrupos masculino e feminino é de 58% e 60%, respectivamente. Nos docu-mentos do PROESP-BR, esses resultados são de 28% e 34%. Tal discrepânciapode estar localizada nos parâmetros utilizados em ambos os estudos. Se nãofor isso, novos estudos precisam ser feitos para tentar encontrar a razão detamanha diferença, assim como sugerido anteriormente em relação às diferen-ças regionais.

Em relação à análise da correlação entre as variáveis, não foi encontradanenhuma correlação significativa entre as variáveis Força e Resistência Abdomi-nal e Sentar e Alcançar. Isso pode dever-se ao fato de o teste de sentar e alcançarnão mensurar somente a flexibilidade da coluna, mas sim de toda musculaturaposterior.

ENSINK et al. (1996), em seu estudo, compararam diferentes técnicasde medida da mobilidade da coluna lombar em diferentes períodos do dia. Umdos testes utilizados foi o “Teste ponta dos dedos no chão” (Fingertip-to-FloorMethod - FFM), em que, durante uma posição máxima de flexão do tronco, com

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os joelhos completamente estendidos e os braços soltos em direção ao chão, adistância da ponta do dedo médio até o chão é medida em centímetros. Sabe-seque esse teste é um parâmetro incorreto na medida da ADM lombar, visto queele não diferencia os movimentos da coxa e da lombar e tampouco leva em con-sideração a diferença de comprimento dos membros superiores. Da mesma for-ma, a técnica de Schober também depende do comprimento dos músculos ísqui-os-tibiais.

Outros fatores importantes que podem influenciar na ADM lombar sãoo aquecimento dos músculos participantes e as mudanças na estrutura dos dis-cos; dispersão do líquido para fora do núcleo pulposo do disco pode levar a umadiminuição da tensão dos ligamentos anteriores e posteriores e dos músculos,resultando num aumento da ADM lombar.

O estudo de ENSINK et al. (1996) é o primeiro a demonstrar provar deque a confiabilidade e a validade dos métodos de medir a ADM lombar sãoinfluenciadas pela hora do dia – o que concorda com os achados de Krämer eGritz (apud ENSINK et al., 1996), que mostraram diferentes alturas dos discosintervertebrais durante a manhã e a noite.

No que se refere ao risco de se observar dor nas costas quando há umfraco desempenho nas variáveis Força e Resistência Abdominal e Sentar e Alcan-çar, os dados levantados neste estudo são preocupantes. A prevalência de riscode dor nas costas em torno de 15% e 20% para os grupos masculino e femininorespectivamente está em consonância com estudos internacionais de prevalênciade dor nas costas em populações desta faixa etária.

CONSIDERAÇÕES FINAISO presente trabalho teve como objetivo fazer uma breve e restrita avali-

ação do comportamento das variáveis relacionadas à saúde Força e Resistência

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Abdominal e Sentar e Alcançar. Tais variáveis são componentes que necessitamser avaliados quando se pensa em estudar a postura corporal humana por suarelação direta com os músculos que dão equilíbrio à coluna vertebral e a articula-ção do quadril. Tal estudo está intimamente ligado às questões referentes à qua-lidade de vida em geral e de crianças e adolescentes em específico. Quadros dedor aguda, recorrente ou crônica podem afetar o desempenho das atividadesdiárias e, por conseqüência, a qualidade de vida.

De forma alguma, os resultados aqui apresentados são conclusivos, poiscarecem de um olhar mais atento, contudo mostram que há necessidade de umestudo mais aprofundado dessas variáveis que, em teoria, deveriam estar correla-cionadas.

Sugere-se, para estudos futuros, agregar um instrumento que verifique aprevalência de dor nas costas, a fim de identificar sua relação com a Força eResistência Abdominal e o teste de Sentar e Alcançar. Poder-se-ia realizar tam-bém um estudo utilizando a análise fatorial, análise discriminante ou regressãologística para verificar que outros fatores biológicos podem estar influenciandoestas variáveis.

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Diálogo Canoas n. 12 jan-jun 2008

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