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1 UNIVERSIDADE DE SOROCABA PRÓ-REITORIA ACADÊMICA CUROS DE LETRAS PORTUGUÊS E INGLÊS SÔNIA REGINA DE CAMPOS COMPREENDENDO O TEXTO VISUAL NA ILUSTRAÇÃO DA POESIA INFANTIL SOROCABA/SP 2012

COMPREENDENDO O TEXTO VISUAL NA ILUSTRAÇÃO DA POESIA INFANTIL

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Trabalho de conclusão de curso

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Page 1: COMPREENDENDO O TEXTO VISUAL NA ILUSTRAÇÃO DA POESIA INFANTIL

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UNIVERSIDADE DE SOROCABA

PRÓ-REITORIA ACADÊMICA

CUROS DE LETRAS PORTUGUÊS E INGLÊS

SÔNIA REGINA DE CAMPOS

COMPREENDENDO O TEXTO VISUAL NA ILUSTRAÇÃO DA POESIA

INFANTIL

SOROCABA/SP

2012

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ILUSTRAÇÃO: A LINGUAGEM VISUAL DA POESIA

Trabalho de Conclusão de curso

apresentado como exigência

parcial para obtenção do

Diploma de Graduação em

Letras Português e Inglês, da

Universidade de Sorocaba.

Orientador: Prof. Dr. Luiz

Fernando Gomes

SOROCABA

2012

UNISO -UNIVERSIDADE DE SOROCABA

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SOROCABA

2012

Dedico esse trabalho à minha familia, que durante todo

esse processo esteve ao meu lado. Meus filhos, que partilharam

cada momento, minha mãe, que me incentivou sempre e meu

pai que se fez sempre presente em meu coração mesmo não

estando mais ao nosso lado. E aos meus amigos que sempre

acreditaram em mim, mesmo quando eu mesma não acreditei.

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EPÍGRAFE

A vida não passa de um livro de figuras, para o verdadeiro

artista. E até na poesia (que muitos julgam apenas um desfrute

sentimental e outros um jogo de intelecto), até na poesia, se lhe tiram

as imagens – que é que sobra? Não sobra nem a alma!

(Mario Quintana)

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RESUMO

Estamos na pós-modernidade. O uso da imagem é tão importante

quanto a linguagem verbal, escrita ou falada. A linguagem visual é um recurso

indispensável nos meios de comunicação de massa. É impossível falar de

literatura infantil, sem falar da ilustração. A ilustração é uma peça essencial no

texto e é considerada um texto visual. Nesta pesquisa algumas características

do texto escrito que também podem estar presentes na ilustração como as

figuras de linguagem, serão discutidas. O objeto de análise é a poesia infantil

e sua ilustração, porque a linguagem da poesia destaca a estética da

linguagem. Ela é abundante em metáforas e figuras literárias. Neste trabalho

alguns ilustradores falam sobre ilustração e também sobre a dificuldade de

ilustrar textos poéticos. As análises feitas em algumas ilustrações de poesia

infantil no livro “111 poemas para crianças” de Sergio Capparelli e ilustrado

por Ana Grazinsky, confirma que a imagem pode ser considerado como um

texto visual e podem ter características de texto verbal. Após estas análises,

concluímos quea ilustração é um texto visual , e assim como o texto verbal

necessita da interpretação do leitor. Ela desafia o leitor a relacioná-la com a

palavra e perceber que a ilustração dialoga com a palavra, por issso é

imprescindível copreendê-la como linguagem impregnada na manifestação de

sentido textual.

Palavras-chave: Texto. Ilustração. Poesia. Literatura Infantil

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ABSTRACT

We are in the modernity age. The use of image is as important as the verbal

language, written or spoken. The visual language is an indispensable resource in the

mass media. Is impossible to speak of infant literature without to speak of the

illustration. The illustration is an essential piece in the text and it is considered a

visual text. In this research are discussed some characteristics of written text that

may also be present in the illustration as figures of speech. The object of analysis is

the infantile poetry and his illustration, because the poetry language highlights the

aesthetics of language. It is abundant in metaphors and literary figures. In the work

some illustrators talk about illustration and also about the difficulty of illustrating

poetic texts. Analyses made on some illustrations of infantile poetry in the book “111

POEMAS PARA CRIANÇAS” by Sergio Capparelli and illustrate by Ana Grazinsky,

confirms that the image can be considered a visual text and can have characteristics

of verbal text. After these analyzes, we conclude that the illustration is a visual text as

well as the verbal text it requires the interpretation of the reader. She challenges the

reader to relate it to the word and realize that the illustration dialogues with the word,

so it is essential to understand her as a language impregnated in the manifestation of

textual meaning.

Keywords: Text. Illustration. Poetry. Infant literature.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 O trem dos ratinhos…………………………………………………… 29

Figura 2 Papai esta resfriado …………………………………………………... 30

Figura 3 Ônibus linha 21 ……………………………………………………….. 31

Figura 4 A morte bate a porta ………………………………………………….. 32

Figura 5 Fico cheiode tremeliques …………………………………………….. 33

Figura 6 Traças de regime ………………………………………………………34

Figura 7 O Pessegueiro ………………………………………………………… 36

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO………………………………………………………………… 09

1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ………………………………………… 11

1.1 Texto ………………………………………………………………………. 11

1.1.1 O texto poético …………………………………………………………. 14

1.1.2 A linguagem poética …………………………………………………… 14

1.1.3 O texto visual …………………………………………………………… 15

1.2 Ilustração ………………………………………………………………….16

1.2.1 Particularidades da ilustração ……………………………………...... 17

1.2.2 Ilustração de poesia …………………………………………………… 21

1.3 Literatura Infantil ……………………………………………………….. 22

1.3.1 Literatura ……………………………………………………………….. 22

1.3.2 Literatura infantil – uma pequena abordagem histórica …………... 24

2. METODOLOGIA DE PESQUISA ……………………………………….. 27

3. ANÁLISE DAS ILUSTRAÇÕES ………………………………………… 29

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ……………………………………………... 38

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS …………………………………… 40

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INTRODUÇÃO

Para desenvolver um trabalho de Literatura Infantil e juvenil, utilizei um

texto de Luis Camargo, escritor e ilustrador de livros infantis no qual ele

aborda o tema "ilustração de poesia" como uma relação inter-semiótica, ou

seja, a relação de duas linguagens, a linguagem verbal e a linguagem visual.

Esse texto despertou minha curiosidade sobre o papel da ilustração nos

textos destinados à crianças e sobre a forma como ela é produzida para o

texto poético.

Minha intenção, com este trabalho é ,em primeiro lugar, estabelecer um

paralelo entre texto e ilustração, e analisar o quanto das características do

texto estão presentes na ilustração ou , E, foi dentro dos Livros Infantis,

principalmente na poesia infantil que encontrei maior potencial para esta

pesquisa, pois é o segmento de livros onde mais se permite a

experimentação, um segmento que ainda não está totalmente tomado pela

racionalidade do homem adulto e que no campo da estilística nos oferece a

maior gama de dados para análise.

Muitas pesquisas já foram desenvolvidas nessa área, porém, devido a

complexidade que envolve as diversas relações que podemos encontrar entre

o texto poético direcionado à crianças e os diferentes tipos de ilustrações,

mas, ainda muito pode ser dito a esse repeito. Selecionando alguns textos

poéticos dentro da literatura infantil e os diversos tipos de ilustrações a eles

relacionados pretendo identificar as figura de linguagem do texto e a presença

das mesmas figuras na ilustração. Poderemos analisar as figuras de

linguagem presentes na ilustração bem como nos textos, entender essa

relação e perceber a sintonia entre escritor e ilustrador, entre texto e imagem,

e aprender a ler a imagem como texto e, deste modo de, conscientemente

optar por esta ou aquela obra, dependendo do objetivo que se pretende

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atingir com a criança.

Para Ricardo Azevedo, escritor e ilustrador, todo ilustrador interfere no

texto e cada leitor lê de maneiras diferentes, um emocionalmente, outro

racionalmente, despertando diferentes sensações. A imagem pode

desempenhar funções semelhantes às da palavra: pode representar;

descrever; narrar; simbolizar; expressar emoções, sentimentos e valores;

apelar ao observador, procurando persuadi-lo; brincar; chamar atenção para

si mesma, entre outras.

Então, se a função da imagem e da palavra são semelhantes, e se a

imagem, como sabemos, é também uma linguagem, poderemos identificar na

ilustração os mesmos recursos utilizados na produção do texto verbal?

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1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Neste capítulo apresento os conceitos de texto, abordando também

algumas noções sobre os textos poéticos; os conceitos de ilustração e as

suas particularidades; e também alguns conceitos de literatura e literatura

infantil que nortearão esse trabalho.

1.1.Texto

O termo "texto" vem do latim texere (construir, tecer), cujo particípio

passado textus também era usado como substantivo, e significava 'maneira

de tecer', ou 'coisa tecida', e ainda mais tarde, 'estrutura'. Foi só lá pelo século

14 que a evolução semântica da palavra atingiu o sentido de "tecelagem ou

estruturação de palavras", ou 'composição literária', e passou a ser usado em

inglês, proveniente do francês antigo texte (FERREIRA, 1999).

O texto, considerado como um todo organizado de sentido, de acordo

com Platão e Fiorin(2002), é a unidade básica com que devemos trabalhar no

ensino de Língua Portuguesa, porque é no texto que o usuário da língua

exercita a sua capacidade de organizar e transmitir ideias, informações e

opiniões.

Sob o ponto de vista das modernas teorias linguísticas, o conceito de

texto pode ser entendido de maneira mais abrangente. Duas esferas devem

ser consideradas: A primeira voltada estritamente para linguística; a segunda

estende-se a outras linguagens além da verbal. Daí podemos falar de texto

verbal, texto visual, texto verbal e visual, texto musical, texto cinematográfico,

entre outros.

Ao buscar saber sobre o termo texto, tem-se notado que esta palavra

se enuncia de forma abrangente, articulada a outros termos também

abrangentes, como: enunciação, sentido, significação, contexto, interpretante

e outros que, de uma ou de outra maneira, estejam ligados aos mecanismos

da organização textual responsaveis pela construção do sentido.

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Para L. Hjelmslev(Dubois, 1973) a palavra texto, no sentido mais amplo ,

designa um enunciado qualquer, falado ou escrito, longo ou curto, velho ou

novo. Para ele “Stop”é um texto tanto quanto O Romance da Rosa e todo

material linguístico estudado forma também um texto, retirado de uma ou mais

línguas.

Outro conceito de texto é dado por Koch e Travaglia (1989), para eles

o texto será entendido como uma unidade linguística concreta. Que é tomada

pelos usuários da língua, em uma situação de comunicação interativa

específica, como uma unidade de sentido e como preenchendo uma função

comunicativa reconhecível e reconhecida, independentemente da sua

extensão.

Para Marques(1990) o texto pode ser uma passagem escrita, em

verso ou prosa, um provérbio, uma legenda de fotografia, uma simples

exclamação, a totalidade de um livro,um artigo periódico, uma crônica, um

verbete de dicionário, uma reportagem, um anúncio. Um texto pode ser uma

sequência de atos de fala, um diálogo, uma conversa telefônica, uma

conferência, uma aula, um simples grito, uma longa discussão acerca de um

tema, comentários, informes, notícias veiculadas oralmente.

“As unidades discursivas inter-relacionadas com princípios

lógico semânticos constituem textos. Textos caracterizam-se

assim pela coerência contextual, pela coesão sequencial de

seus constituintes no plano do significado, pela adequação às

circunstâncias e condições do uso da língua.”(

MARQUES,1990, P.97).

Nas definições dadas por Platão e Fiorin(2002), são citadas três

propriedades de um texto. A primeira diz respeito a coerência de sentido, ou

seja, as frases de um texto estão relacionadas entre si e o sentido de uma

depende do sentido das demais frases com que se relacionam. Uma mesma

frase poderá adquirir sentido distinto dependendo do contexto na qual está

inserida. A segunda característica é o espaço em branco no papel antes e no

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final do texto, seja um texto verbal visual ou verbo-visual sempre será

delimitado por dois brancos.A terceira propriedade do texto , a que se refere,

nos remete ao contexto de produção do texto, esse seria produzido por um

sujeito, num determinado tempo e espaço, esse sujeito expõe no texto suas

ideias, seus anseios e temores e as expectativas de seu tempo e seu grupo

social. Portanto, o texto é assim definido:

“O texto é um todo organizado de sentido, delimitado por dois brancos

e produzido por um sujeito num dado espaço e num dado tempo.” (PLATÃO &

FIORIN, 2002, p.l8)

Como abordaríamos esse conceito diante de um texto ilustrado?

Teríamos nesse caso dois sujeitos: o escritor e o ilustrador, que, cada um

com sua linguagem, devem produzir uma coerência de sentido entre elas, ou

seja, a linguagem verbal e a linguagem visual. A ilustração preenche um

espaço, juntamente com o texto, antes do branco, o que nos leva a deduzir

que texto e imagem fazem parte do todo organizado de sentido e portanto a

ilustração também deve ser considerada como um texto ou parte integrante

dele.

Para Umberto Eco (2002), um texto literário é impregnado de figuras de

linguagem. As figuras de linguagem são utilizadas como representação de

sensações para o que não encontramos significado preciso. Algumas muito

utilizadas são: a metáfora – que é representar por semelhança, mas ainda há

a metonímia – o todo pela parte, o pleonasmo – redundância e muitas outras

que contribuem para enriquecer o texto. E é a presença delas uma das

causas para torná-lo polissêmico, rico em sentidos. Além da denotação

existem, para cada universo do discurso, conotações. E cabe ao leitor

escolher qual irá utilizar.

Como vimos, não existe um consenso entre os linguistas sobre o que

define um “texto”, abordamos aqui várias definições e para nortear o nosso

trabalho iremos nos ater ao texto verbal escrito, mais precisamente ao texto

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poético na literatura infantil. Para tanto, falaremos um pouco sobre o que é e

como se constrói um texto poético.

1.1.1 O texto poético

A afirmação de Eco(2002) que diz que , o texto poético é aquele que

apela a diversos recursos estilísticos para transmitir emoções e sentimentos,

respeitando os critérios de estilo do autor. Nas suas origens, os textos poéticos

tinham um carácter ritual e comunitário, embora tenham aparecido outras

temáticas ao longo dos anos. Os primeiros textos poéticos, por sua vez, foram

criados para serem cantados.

O mais habitual é que o texto poético esteja escrito em verso e se

chame poema ou poesia. Existem, no entanto, textos poéticos desenvolvidos

sob a forma de prosa. Os versos, as estrofes e o ritmo compõem a métrica do

texto poético, onde os poetas gravam o cunho dos seus recursos literários.

Os textos poéticos destacam-se pela inclusão de elementos de valor simbólico

e de imagens literárias. Desta forma, cabe ao leitor ter uma atitude ativa para

descodificar a mensagem.

No gênero poético, é evidenciada a estética da linguagem acima do próprio

conteúdo. O texto poético moderno costuma caracterizar-se pela sua

capacidade de associação e de síntese, com abundância de metáforas e de

outras figuras literárias.

1.1.2 A linguagem poética

Como já pudemos perceber cada situação, cada tipo de texto exige um

determinado tipo de linguagem. Podemos dizer que cada mensagem contém

uma intenção, assim como cada ambiente social exige um tipo de fala. Assim,

o vocabulário que escolhemos ao nos comunicar tem uma função específica:

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de emocionar, de transmitir a realidade, de persuadir ou simplesmente de

estabelecer um contato maior com o receptor. Estamos falando das funções

de linguagem, as quais são: referencial ou denotativa, emotiva ou expressiva,

conativa ou apelativa, fática, metalinguística e poética. Nesse momento,

vamos nos ater a essa última função.

A linguagem exerce função poética quando valoriza o texto na sua

elaboração, ou seja, quando o autor faz uso de combinação de palavras,

figuras de linguagem (metáfora, antítese, hipérbole, aliteração, etc.),

exploração dos sentidos e sentimentos, expressão do chamado eu-lírico,

dentre outros. Assim, é mais comum em textos literários, especialmente nos

poemas que enfatizam com mais frequência a subjetividade . É muito comum a

utilização de palavras no seu sentido conotativo (figurado) ao invés do

denotativo (do dicionário).

A linguagem comum usada no dia-a-dia não é suficiente para aqueles

que trabalham com a palavra. Para um escritor conseguir expressar-se com

originalidade, ele precisa criar imagens. Para um poeta não serve qualquer

palavra. Ele escolhe aquelas palavras e expressões que melhor traduzam sua

visão das coisas.

Essas metáforas e figuras literárias, usadas para construção de textos

literários e presentes abundantemente nos textos poéticos, são encontradas,

não raramente, nas ilustrações visto que podemos considerar as ilustrações

como um texto visual é natural que esse texto herde características do texto

verbal. Entendamos então no que consiste um texto visual .

1.1.3 O texto visual

Consideramos, pois, um texto como um discurso não apenas verbal.

Este pode pertencer à linguagem visual, por exemplo. E é este o tipo de texto,

inserido no livro e intimamente ligado à linguagem escrita, que iremos nos

deter.

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Para realmente entender um texto e pensá-lo devemos considerar a

importância da linguagem imagem-texto. Um livro ilustrado possui sua

linguagem verbal e sua linguagem visual. Consideramos pertencente à

linguagem verbal tudo aquilo que está escrito em palavras no livro. E

tomemos por linguagem visual o conjunto de elementos que constituem o

aspecto visual de um livro. Dentre esses elementos e para entendermos

melhor a relação texto-ilustração abordaremos a seguir alguns conceitos de

“ilustração”.

1.2 Ilustração

O termo“ ilustraçãol” é definido no dicionário Aurélio(2002) como :1. Ato

ou efeito de ilustrar(-se). 2. Conjunto de conhecimentos, saber. 3. Imagem ou

figura que orna ou elucida um texto escrito.

Uma ilustração é uma imagem pictórica utilizada para acompanhar,

explicar, interpretar, acrescentar informação, sintetizar ou até simplesmente

decorar um texto. Embora o termo seja usado frequentemente para se referir a

desenhos, pinturas ou colagens, uma fotografia também é uma ilustração.

A revolução industrial do século XIX marca o desenvolvimento da

qualidade gráfica dos livros para crianças, apesar de livros, de modo geral,

existirem desde o século XV. A presença de ilustrações/imagens

acompanhando os textos, desde os primórdios de seu aparecimento, tinha a

finalidade de enfeitar ou esclarecer, ilustrar/informar para educar ou criar e

propiciar prazer estético. Essa noção ainda é explicitada nos dicionários

contemporâneos, entretanto, várias outras funções podem surgir, reunindo-se a

estas, predominando ou mesmo anulando-as.

Além disso, solidifica sua posição como parte integrante das diferentes

manifestações da linguagem visual, possui características próprias e instala-se

no texto, entendido como um todo de sentido.

A prática comum de produção do livro de literatura infantil implica um

produtor do texto verbal (escritor) e outro das imagens (ilustrador). Este

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também é um autor, que, na seqüência de imagens, cria e recria a história. Os

elementos figurativos são organizados e articulados em sua própria linguagem,

traduzindo significados para a visualidade e ao mesmo tempo sendo um

espaço de invenção. Atualmente, há muitos autores que produzem na íntegra

os seus textos, congregando a palavra e a ilustração num trânsito entre

linguagens diversas, de mesma autoria, como Roger Mello, Ricardo Azevedo e

Ângela Lago, entre outros.

Apesar de o texto literário estar aparentemente ancorado no sistema da

língua escrita, os efeitos de sentido são constituídos e construídos pelas

estratégias de enunciação, a partir das articulações entre as diferentes

unidades dos sistemas de linguagens, as palavras e imagens que aí

engendram o sentido. Caracteriza-se assim, desde uma perspectiva semiótica,

o livro de literatura infantil.

1.2.1 Particularidades da ilustração

O que é, afinal, ilustração? Ramos, Panozzo( 2004), dizem quehá quem

a defina como a imagem que acompanha um texto. Essa definição revela fato

de que a ilustração não é considerada um texto, ou seja, não significa por si só

e o segundo, que ela apenas complementa a palavra, sem uma força

específica de significado.

“Discordamos, assim como alguns especialistas, de que a

ilustração seja apenas complemento. Ela é constituinte de uma

linguagem própria, cuja função é produzir sentido, pelo diálogo

que provoca com o leitor, por si mesma, como também na

interação com a palavra.. Ela pertence ao código visual, é

linguagem constituindo diálogo com outras linguagens”.

(RAMOS, PANOZZO, 2004)

Acreditamos, porém, que a ilustração não deva somente dar brilho à

palavra, pois estaria na condição de texto de apoio. Ela, juntamente com a

linguagem verbal, forma um texto.

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No caso da obra destinada à infância ou mesmo ao jovem,

consideramos ilustração não apenas os desenhos que acompanham a palavra,

mas todo e qualquer recurso de produção de imagem, seja uma vinheta

(pequena imagem de até um quarto do tamanho da página), a capitular (letra

que inicia um capítulo, geralmente em tamanho maior do que as outras e em

fonte diferente), figuras ou manchas.

É quase impossível passar pelo livro infantil sem observar atentamente a

ilustração, a imagem. Ela surge, muitas vezes, misturada em outros códigos,

por isso assemelha-se a outros discursos ou linguagem. Mais do que nunca,

ela assume, na contemporaneidade, a força motriz da leitura e da recepção

para dar ao leitor (de qualquer idade) uma completude da narrativa, uma idéia

geral da cena, um tom mágico, poético e colorido.

De acordo com Oliveira(2008), a ilustração em conjunto com o texto

verbal, é lida como um texto em que se citam e se representam ações,

atitudes, sentimentos, jogo de olhares etc. A imagem, em geral, contém e

direciona um pensamento, aponta sentidos, encaminha passos, modos de ler.

“Só haverá interesse na ilustração se ela nos possibilita a

criação de um novo texto visual. Uma das finalidades da

ilustração nos livros não é apenas apresentar uma versão do

texto, mas sim favorecer a criação de outra literatura, uma

espécie de livro e imagem pessoais dentro do

livro que estamos lendo”. (OLIVEIRA, 2008, p33)

O ilustrador olha seu objeto, construindo um espaço singular de

representações. São fragmentos do mundo, muitas vezes estabelecendo uma

relação semântica, ligando partes, unindo situações, outras vezes,

distanciando-se do texto para assumir um outro olhar. Mas de qualquer forma,

esses fragmentos do espaço visual, da situação (do que deseja recortar) que

estabelecem por meio do olhar um diálogo, um atravessamento do

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pensamento, da palavra, do traço. A ilustração é, então, uma espécie de

poesia.

“Nesta era dos avanços tecnológicos, nunca foi tão

fundamental, tão essencial, a educação da sensibilidade. O olhar

vendo, o olhar sendo. Os livros que unem palavra verbal e

palavra imagem (as múltiplas palavras) não podem ser lidos

ignorando-se a ilustração, o espaço, a moldura, a linguagem

grafotipológica. Nesses elementos há diversas possibilidades de

leitura, de fruição e de desenvolvimento da sensibilidade e do

intelecto”(GÓES, 2009, p.04].

Espécie de tradução intersemiótica, a ilustração reforça que a própria

palavra pode ser recodificada em outro sistema, lida de outra maneira.

Concebida como imagem literária, diferentemente de uma imagem não-

literária, ela possui efeitos sugestivos, plasticidade de uma prática poética, de

uma “poesia visual”. Esses recursos, exercícios retóricos visuais, de alguma

forma ou de outra, citam outras linguagens: as artes plásticas, cênicas e

cinematográficas.

Mauricio Veneza estabelece uma analogia entre a ilustração e a música:

“A relação entre imagem e texto na obra literária não deve ser de

vassalagem, e sim de associação. A analogia mais simples que

me ocorre é com a música popular. A música de Tom Jobim, por

exemplo, tem força própria e independente, assim como os

versos de Vinícios de Moraes. Mas quando se juntam, formam

uma terceira coisa que difere das duas anteriores e que não

existiria sem essa associação. O mesmo acontece com o livro

ilustrado.” (VENEZA apud OLIVEIRA, 2008, p.185).

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Notamos que exite uma interdependência, no livro ilustrado, entre escritor e

ilustrador, o que nos leva a pensar que o ilustrador é, antes de tudo, um leitor,

que cria as imagens à partir da interpretação que faz do texto lido. Rogério

Coelho afirma:

“Vejo a ilustração com um trabalho aberto, sem limite,

vejo o ilustrador como autor que deve ser um excelente leitor e

fazer com que a ilustração não seja algo decorativo ou para

preencher os espaços de um livro, mas sim algo enriquecedor,

que acrescente algo para o leitor. Que faça com que ele perceba

outros caminhos para aquele livro e principalmentepara seu

pensamento”. (Góes, 2009, p 64)

Vivemos na era da imagem, cada vez mais, aprendemos a ler através

das imagens, a criança ao manusear um livro, primeiramente busca fazer uma

leitura através das ilustrações que lhe possibilitará, na maioria das vezes uma

melhor compreensão durante a leitura do texto verbal, ou ainda, novas

interpretações para o mesmo texto. Jakson de Alencar argumenta, a partir de

sua experiência como editor de livros, que as ilustrações são vistas, na

maioria das vezes, como elemento secundário e não como signo

importantíssimo na leitura contemporânea:

“Nós vivemos na era da imagem, somos rodeados de imagens por

todos os lados. A tecnologia de produção de imagens avança

aceleradamente, mas ao mesmo tempo, há dificuldade de se lerem

imagens, porque viciamos o olhar, banalizamos as imagens,

olhamos sem ver, descuidamos dos detalhes, às vezes vemos

apenas o óbvio, sem ir aos sentidos mais profundos, olhamos para

as coisas rapidamente” [GÓES. 2009, p.28)

Entendemos um pouco sobre a ilustração e o seu papel na literatura

infantil comtemporânea, a seguir falaremos um pouco sobre a ilustração na

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poesia infantil, que é um segmento da literatura muito presente no universo da

criança.

1.2.2 Ilustração de poesia

“A poesia é um dos gêneros literários mais difíceis de

serem ilustrados.Em alguns casos pelo seu intimismo, pela

sucessão de metáforas e alegorias encadeadas, sem dúvidas

um dos momentos máximos de qualquer idioma. Tudo isso

dificulta qualquer tipo de concreção visual”.(OLIVEIRA, Rui,

apud OLIVEIRA,Ieda, 2008, p.22).

De acordo com Ricardo Azevedo(2009) , diante de um texto poético

não há uma convenção em que o ilustrador possa se apoiar. Ele deve apenas

inventar arbitrariamente uma possibilidade de interpretação visual. Devem

criar uma espécie de ficção visual, totalmente subjetiva e cheia de elementos

arbitrários

A poesia desenvolve na criança: a sensibilidade estética , a

imaginação, a criatividade . Desenvolve nela tanto o plano linguístico quanto

o psicológico através das rimas e ritmo. Uma boa ilustração virá a ampliar,

para a criança, o universo de significação.

Diante do texto literário, construído através da ficção e da linguagem

poética, cada um de nós pode ter uma leitura, um sentimento e uma

interpretação. Imagine, agora, ilustrá-lo. As imagens, tal como o texto,

também sairão, necessariamente creio eu, marcadas pela subjetividade, pela

ambiguidade, pela plurissignificação, pelo enfoque poético e pela linguagem

metafórica.

“Se a magia verbal e o encantamento rítmico são os dois primeiros

pilares da poesia, o terceiro, de igual importância, é a imagem.” (RICARDO

AZEVEDO, 2009)

Page 22: COMPREENDENDO O TEXTO VISUAL NA ILUSTRAÇÃO DA POESIA INFANTIL

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Como vimos, a ilustração, na literatura infantil, é tão importante quanto

o texto verbal. Na literatura infantil podemos alçar voos mais altos, reinventar

a realidade, criar novos mundos. Mas como podemos identificar o limite entre

a Literatura geral e a que denominamos “Literatura infantil”?Para entender

esse conceito particular, necessitamos, primeiramente de uma noção geral

sobre o termo “literatura”.

1.3 LITERATURA INFANTIL

Para entender esse conceito particular, necessitamos, primeiramente de

uma noção geral sobre o termo “literatura”.

1.3.1 Literatura

Afrânio Coutinho(1978), em suas "Notas de Teoria Literária", contribui

com este conceito: A literatura, como toda arte, é uma transfiguração do real, é

a realidade recriada, através do espírito do artista e retransmitida através da

língua para as formas, que são os gêneros, e com os quais ela toma corpo e

nova realidade. Passa, então, a viver outra vida, autônoma, independente do

autor e da experiência de realidade de onde proveio. Os fatos que lhe deram às

vezes origem perderam a realidade primitiva e adquiriram outra, graças à

imaginação do artista. São agora fatos de outra natureza, diferente dos fatos

naturais objetivados pela ciência ou pela história ou pelo social. O artista

literário cria ou recria um mundo de verdades que não são mais medidas pelos

mesmos padrões das verdades ocorridas. Os fatos que manipula não têm

comparação com os da realidade concreta. São as verdades humanas gerais,

que traduzem antes um sentimento de experiência, uma compreensão e um

julgamento das coisas humanas, um sentido de vida, e que fornecem um

retrato vivo e insinuante da vida. A Literatura é, assim, vida, parte da vida, não

se admitindo possa haver conflito entre uma e outra. Através das obras

literárias, tomamos contato com a vida, nas suas verdades eternas, comuns a

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todos os homens e lugares, porque são as verdades da mesma condição

humana.

Como dito acima, a literatura tem como uma de suas funções a

representação do real. Assim é que o crítico e sociólogo Antonio Candido A

literatura e a formação do homem ) constrói o seu conceito de literatura:

“A arte, e portanto a literatura, é uma transposição do real

para o ilusório por meio de uma estilização formal da linguagem ,

que propõe um tipo arbitrário de ordem para as coisas, os seres,

os sentimentos. Nela se combinam um elemento de vinculação à

realidade natural ou social, e um elemento de manipulação

técnica, indispensável à sua configuração, e implicando em uma

atitude de gratuidade”. ( CANDIDO, 1972, p.53).

Cecilia Meireles(1984) diz que sempre que uma atividade intelectual se

manifesta por intermédio da palavra, cai no domínio da literatura. A literatura

pórem não abrange, apenas, o que se encontra escrito, se bem que essa

pareça a maneira mais fácilde reconhecê-la, talvez pela relação que se

estabelece entre “literatura” e “letras”. A palavra pode ser apenas pronunciada.

É o fato de usá-la, como forma de expressão, independente da escrita, o que

designa o fenômeno literário. Assim a literatura pode ser considerada em dois

aspectos: o oral e o escrito.

Considerando os dois aspectos da literatura oral e o escrito, Cecilia

Meireles(1984) elabora as seguintes questões: “A Literatura Infantil faz parte

dessa Literatura Geral?”, “Existe uma Literatura Infantil?”, “Como caracterizá-

la?”

“São as crianças,na verdade, que o delimitam, com sua

preferência. Costuma se classificar como literatura infantil o que

para elas se escreve. Seria mais acertado, talvez, assim

classificar o que elas lêem com utilidade e prazer. Não haveria

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pois, ua Literatura Infantil a priori mas a posteriori. Mais do que

literatura infantil existem “livros para crianças”.(MEIRELES,

1984, p20)

1.3.2 Literatura Infantil - Uma pequena abordagem histórica.

Entenda-se que o adjetivo “infantil” não é utilizado para fazer referência

a uma literatura menor mas apenas para indicar um certo público para certo

tipo de literatura produzido na atualidade, por uma linguagem híbrida, formada

em grande parte pela pela adição de texto verbal com textos visuais.

Para entendermos literatura infantil, é relevante mencionar que, como

sabemos, antes do século XVIII a literatura veiculada para adultos e crianças

era exatamente a mesma, não havia distinção por faixa etária ou

aadurecimento psicológico, mas separada de maneira um tanto drástica em

função da classe social. As crianças pertencentes as classes altas liam os

grandes clássicos da literatura orientados por seus pais, já as crianças das

classe mais populares não tinham acesso à leitura e à escrita, contavam

apenas com a tradição oral de seu povo, a criança era vista como u adulto em

miniatura.

Desde a metade do século XVIII, com a industrialização e o

desenvolvimento dos centros urbanos, surgiram novas classe sociais. Nessa

nova sociedade, movida pelas novidades e pelo poder econômico é que se

começa fazer adaptação da literatura clássica para as ciranças..

Constatamos que hoje a criança continua entrando em contato com os

mesmos discursos que os adultos só que com uma grande diferença, com o

surgimento da pedagogia e a criação do universo infantil, há um conhecimento

mais amplo das etapas do desenvolvimento da criança e um respeito às

competências que cada uma dessas etapas comporta.

“Então, da mesma maneira que o termo infância foi

histórica e socialmente desenhado no tempo pelos fazeres e

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saberes da humanidade, a literatura destinada a essa infância

também teve de se adaptar a essas metamorfoses na busca de

diálogos mais amplos.”(GREGORIN FILHO,2009, p.43)

Cecilia Meireles(1984) classifica quatro casos de Literatura Infantil. O

primeiro caso é o da redação escrita das tradições orais, como é o caso dos

contos dos Irmão Grimmm Perrault e de La Fontaine. O segundo caso é o dos

livros que escritos para determinada criança, passaram depois a uso geral

como aconteceu com as Fábulas de La Fontaine, As aventuras de Telêmaco,

Felenon e outros mais. O terceiro caso é o dos livros não escritos para

crianças, mas que vieram a cair em suas mãos, e dos quais se fizeram depois

adaptações, reduções, visando torná-los mais compreensíveis ou adequados

ao pequeno público .

Esses casos de literatura para adultos que vieram a ser apreciadas

pelas crianças é que nos induzem a pensar que só depois de uma experiência

com elas se pode, verdadeiramentem conpreender suas preferências. Assim a

literatura Infantil, em lugar de ser a que se escreve para crianças, seria a que

as crianaças lêem com agrado.

Isso não significa que seja desnecessário escrever para a infância. Ou

inconveniente. Existgem mesmo muitos livros especialmente escritos para as

crianças que lograram o êxito pretendido. E esse é o quarto caso de Literatura

Infantil o que se refere às obras especialmente escritas para a infância.

Sendo desde cedo que se cria a intimidade com o objeto livro, e tendo a

influência visual duradoura como uma lembrança que se leva para o restante

da vida, por que então não explorar os outros sentidos que dispomos? Por que

não utilizar a literatura, a poesia e a ilustração para dar aos pequenos, novas

maneiras de ver, pensar e sentir o mundo, de refletir, de olhar por outros

ângulos. Busquemos ilustrações que nos permitam outras leituras diferentes

daquelas que já estão escritas dentro do livro e que em sua própria concepção

tenham arte e poesia, e que possam encantar todas as crianças, sejam elas

pequenas ou grandes.

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2. METODOLOGIA DE PESQUISA

Neste capítulo, explicarei e descreverei os procedimentos e os

instrumentos usados para a coleta e para a analise de dados.Com base na

fundamentação teórica apresentada no primeiro capítulo e tambem de acordo

com as questões que norteiam esse trabalho, justificarei a utilização dos

instrumentos escolhidos bem como os procedimentos adotados.

Inserido na linha de pesquisa da Linguagem poética, , a presente

pesquisa foi desenvolvida em função da importância da imagem na litetura

infantil e da presença nelas, de figuras de linguagem próprias do texto verbal.

Para a análise proposta usarei alguns poemas e ilustrações do livro “111

POEMAS PARA CRIANÇAS”, do poeta Sérgio Capparelli e ilustrado por Ana

Grasinsky. Depois de selecionar os poemas e imagens que seriam analisados,

busquei pelas imagens na internet, mas sem êxito. Então, imagens

selecionadas foram por mim escaneadas e editadas para este trabalho .

Num primeiro momento decidi que o tema da pesquisa seria a ilustração

de poesia infantil, então comecei a buscar vários livros infantis de poesia

ilustrada. O tema foi aceito pelo meu orientador, porém restava delimitar um

objeto específico para a análise . Optei por não entrar na área de semiótica, por

considera-la muito complexa.

Com alguns livros obtidos na biblioteca, comecei a buscar mais

atentamente por algo que despertasse o meu interesse neles e então optei por

identificar as figuras de linguagem, características da linguagem poética, nas

ilustrações. E dentre os livros pré selecionados optei por apenas um, o de

Sergio Capparelli, pois nele encontrei várias imagens que seviriam de base

para este trabalho.

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Desde a aprovação do projeto, comecei a pesquisar também os teóricos

que dariam fundamentação a esse trabalho. Buscando, na Internet, outros

trabalhos relacionados ao tema, pude orientar-me nas minhas pesquisas,

anotando vários nomes e buscando então pelos livros adequados e que

serviram de referencial teórico para desenvolvimento desse trabalho.

Descobri, durante minhas pesquisas, uma infinidade de trabalhos em

torno da imagem e da ilustração, devo dizer, pórem, que a

maioriadessestrabalhos estão relacionados à Semiótica e análises dos signos.

Pouco pude encontrar sobre a linguagem póetica da ilustração, o que dificultou

um pouco o meu trabalho.

Com as imagens selecionadas, do livro escolhido, consegui chegar à

proposta inicial do meu projeto: descobrir as respostas para a minha questão-

problema. Com isso descartei outras imagens e outros livros que teriam pouco

a acrescentar à minha pesquisa.

Para que eu pudesse chegar a questão da linguagem poética da

ilustração, foram necessárias várias imagens para análise e para realizar esse

trabalho, foi preciso encontrar o problema, ou seja, a razão pela qual estou

desenvolvendo esta pesquisa. E a questão levantada foi:

1. Sendo a imagem uma linguagem visual que podemos entender como

um texto-visual, as metáforas e outras figuras de linguagem, usadas para

construção de textos literários e presentes abundantemente nos textos

poéticos, estariam também presentes na ilustração?

Com essa única questão e com um único livro selecionado para a análise

eu procurei desenvolver o meu trabalho de pesquisa que será apresentadono

próximo capítulo.

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3. ANÁLISE DAS ILUSTRAÇÕES

Neste capítulo, analisarei as ilustrações que acompanham os poemas de

Sergio Capparelli de acordo com referências estudadas no primeiro capítulo

deste trabalho. O livro LIÇÕES DE TEXTO de Platão & Fiorim me guiará

durante a análise.

3.1 Poema: “O Trem dos Ratinhos”

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A onomatopéia consiste em palavras que procuram imitar asonoridade

produzida por um objeto ou uma ação. É um recurso frequentemente usado na

ilustração e o efeito pretendido é o de recriar a sensação sonoraque o leitor

teria se estivesse participando diretamente da ação narrada. O desenho das

letras e sua disposição na página contribuem para atingir o objetivo pretendido.

Nesse poema, (dois ultimos versos), o escritor utilizou-se da

onomatopéia para representar ao leitor o som do apito do trem. A ilustradora,

por sua vez, faz uso do mesmo recurso na imagem. Essa redundância contribui

para reforçar a mensagem ao leitor.

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3.2 Poema: “Papai está resfriado”

Neste outro poema o leitor pode observar, na ilustração, além da

onomatopéia, também a presença da hipérbole e pode compreender o sentido

exagerado que o autor atribui ao espirro do papai. Interessante observar a

interação entre texto e ilustração, vemos a onomatopéia no final do texto e a

ilustração como uma extenção do poema.

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A Hipérbole é a expressão intencionalmente exagerada com o intuito de

realçar uma idéia.

3.3 Poema: Ônibus linha 21

Nesse poema também temos a presença da hipérbole, no texto e na

ilustração. A ilustradora ao colocar os números “1000 e 50000” em tamanho

bem maior e preenchido em negrito, deu destaque aos números, possibilitando

ao leitor a visualização da mensagem contida no texto verbal.

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3.4 Poema: A morte bate a porta

Neste poema, destaca-se o uso da anáfora, que nada mais é que a

repetição de uma ou mais palavras no início de várias frases, criando assim

um efeito de reforço e coerência. Pela repetição, a palavra ou expressão em

causa é posta em destaque, permitindo ao escritor valorizar determinado

elemento textual. A ilustradora entendeu perfeitamente esse efeito e conseguiu

um efeito semelhante ao repetir o desenho da porta, intercalando as cores

branco e preto, transmitindo assim a idéia da repetição, essência da anáfora.

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3.5 Fico cheio de tremeliques

Outro exemplo de anáfora podemos encontrar neste poema, e

observamos o efeito gráfico que a ilustradora conseguiu para representar

visualmente a mensagem verbal.

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3.6 Poema: Traças de regime

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Percebemos que neste poema, Caparelli usou abundantemente as

figuras de linguagem. Primeiramente, identificamos no texto a prosopopéia ou

personificação, nele as traças recebem características humanas; elas leêm,

comem, dão conselhos, gostam de suspense. Outra figura usada no texto é a

metonímia, que consiste em utilizar um termo em lugar de outro, havendo entre

ambos uma relação de sentidos. Neste caso, o escritor refere-se aos livros pelo

nome de seus autores: Mario Quintana, Veríssimo, Cecília Meirelles, Lígia

Bojunga, Hesíodo e Lobato.

Na ilustração, encontramos a metáfora. O alimento “sanduiche”, como

metáfora para a leitura, que seria o alimento cultural para o conhecimento, e

que está recheado das metonímias do texto, alimentando a criatividade do

leitor.

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3.7 Poema: O pessegueiro

A onomatopéia está explícita na imagem do pessegueiro. A ilustradora

consegue transportar a idéia do texto para a ilustração e a imagem criada faz

com que o leitor sinta-se participante da cena.

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4.CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pudemos perceber neste trabalho que o conceito de texto ultrapassa

os limites do código verbal. Estamos habituados, no entanto a estudar apenas

a palavra ou a ilustração dissociadas uma da outra. Observamos aqui que as

duas linguagens constituem um único texto e que a ilustração não pode ser

considerada como um simples complemento mas como um elemento atuante

para compreensão do texto verbal

A prática comum de produção do livro de literatura infantil implica um

produtor do texto verbal (escritor) e outro das imagens (ilustrador). Este

também é um autor, que na seqüência de imagens, cria e recria a história.

Acreditamos, então, que a ilustração não deva somente dar brilho à palavra,

pois estaria na condição de texto de apoio. Ela, juntamente com a linguagem

verbal, forma um texto, constituido pelo enlace verbal e visual. Refletimos

então sobre a interação entre sistemas e a consequente leitura do texto como

um todo.

As ilustrações presentes nas obras de literatura infantil concorrem

para “alfabetizar” na linguagem visual, aquela que compreende o universo

das imagens, e cuja leitura permite que se amplie o universo da

admiração, para compreender o sentido de que se reveste o texto .Esse é

um processo que ocorre inicialmente pelo contato, a ver imagens, e pelo

acesso, aprender a olhar criteriosamente, ir além do gostar ou não gostar,

dialogar com o objeto visual e atribuir-lhe significado.

Além de descobrir as figuras é necessário decifrar seus códigos e

símbolos, atribuir-lhes sentido através de relações e conexões entre

palavra e imagem. Como toda escrita, para que possa ser lida, o

observador não pode apenas contemplar, precisa adentrar-se nas

linguagens do texto, num todo. Assim, desde a infância se educa o olhar

do leitor para compreender, tanto verbal como visualmente.

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O ato de ler inicia-se pelo contato visual e no processo de

apreensão de uma obra as significações são atribuídas pelo leitor a partir

da visualidade e da palavra. As duas linguagens, verbal e visual, dão

acesso ao sentido ali constituído. A ilustração dialoga com a palavra, por

issso é imprescindível copreendê-la como linguagem impregnada na

manifestação de sentido textual.

O ilustrador contrói um espaço singular de representações

estabelecendo, muitas vezes, uma relação semântica com o texto que

estabelece por meio do olhar um diálogo. A partir da ilustração atribuímos um

sentido maior ao conceito de texto. Ao direcionaros o olhar para a ilustração

do texto poético compreendemos que neste diálogo a imagem torna-se

também uma espécie de poesia. A ilustração reforça que a própria palavra

pode ser recodificada em outra linguagem, lida de outra maneira. Concebida

como uma imagem literária diferentemente de uma imagem não literária, ela

possui efeitos sugestivos, uma prática poética, de uma “poesia visual”.

Acreditamos, que a ilustração, juntamente com a linguagem verbal,

forma um texto, ou seja, o fenômeno apreendido pelo receptor constitui-se

pelo enlace visual e verbal. Nem sempre a ilustração antecipa significados

propostos pela palavra. Ela pode apresentar-se como um desafio que

precisa ser vencido pelo leitor, a fim de relacioná-la com a palavra. Para

demonstrar a existência de uma relação desafiante entre formas e

significados.

Enfim, as ilustrações são textos que incitam e solicitam leituras,

texturas, cisão de texto e imagem. Elas são visualidades e/ou a

legibilidades possíveis com a ajuda de vários suportes ou meios. São

sempre signos plurais, são textos visuais que carregam em sua

essência elementos característicos do texto verbal.

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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DUBOIS, Jean. Dicionário de lingüística. São Paulo : Cultrix, 1973.

KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça; TRAVAGLIA, Luis Carlos. Texto e

coerência. 8.ed. São Paulo: Cortez, 2002

MARQUES, M.Helena Duarte.Iniciação à semântica. Rio de JaneiroZahar

Editores. 1990.

PLATÃO & FIORIN.Lições de texto: leitura e redação. 4.ed. São Paulo: Ática,

2002

OLIVEIRA, Ieda de (org.). O que é qualidade em ilustração no livro infantil e

juvenil: com a palavra o ilustrador. São Paulo: DCL, 2008.

COUTINHO, Afrânio. Notas de teoria literária. 2. ed. Rio de Janeiro,

Civilização Brasileira, 1978.

GREGORIN FILHO, José Nicolau.Literatura Infantil: multiplas linguagens na

formação de leitores.São Paulo.Melhoramentos.2009.

MEIRELES, Cecilia. Problemas da Literatura Infantil. 3.ed. Rio de Janeiro.

Nova Fronteira, 1984.

GÓES, Lúcia Pimentel e JACKSON de Alencar (orgs.). A alma da imagem: A

ilustração nos livros para crianças e jovens na palavra de seus criadores. São

Paulo: Paulus, 2009.

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5.1 OUTRAS REFERÊNCIAS

AZEVEDO, Ricardo “Texto e imagem: diálogos e linguagens dentro do livro”

Artigo disponível em <http://www.ricardoazevedo.com.br/palestras.htm>

Acesso em 12/03/2012

RAMOS, Flávia Brochetto Ramos, PANOZZO, Neiva Senaide Petry “Entre a

ilustração e a palavra: buscando pontos de ancoragem. Disponível em

<http://www.ucm.es/info/especulo/numero26/ima_infa.html> Acesso em

25/04/2012.

CAMARGO, Luís.“A relação entre imagem e texto na ilustração de poesia

infantil” . Disponível em

<http//www.unicamp.br/iel/memoria/Ensaios/poesiainfantilport.htm >

Acesso em: 09/09/2011

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio eletrônico –

Século XXI. Versão 3.0. São Paulo: Lexikon, 1999. Acesso em 21/03/2012

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