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Comunicação e Escrita

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IESDE Letras Comunicação e Escrita

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  • Autoras

    Daniela Buscaratti de Souza TatarinFtima Maria de Santana

    2. edio2008

    ComunicaoEscrita

    Esse material parte integrante do Curso de Atualizao do IESDE BRASIL S/A, mais informaes www.iesde.com.br

  • 2007 IESDE Brasil S.A. proibida a reproduo, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorizao por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.

    Todos os direitos reservadosIESDE Brasil S.A.

    Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482 Batel

    80730-200 Curitiba PR

    www.iesde.com.br

    T216 Tatarin, Daniela Buscaratti de Souza. / Comunicao Escrita. / Daniela Buscaratti de Souza Tatarin; Ftima Marisa

    Santana 2.ed. Curitiba: IESDE Brasil S.A., 2008.80 p.

    ISBN: 978-85-7638-994-1

    1. Comunicao empresarial I. Coeso e coerncia. Gneros do discurso. II Ttulo

    CDD 658.401

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  • Sumrio

    Lngua e linguagem | 7O que , afinal, a lngua? | 7E a linguagem, como fica? | 8

    Coeso e coerncia | 19Comeo de conversa | 19Texto, coeso e coerncia | 19Coeso | 21

    Pargrafo emodalidades textuais | 29Comeo de conversa | 29O conceito de pargrafo | 30Modalidades textuais | 33O que narrar? | 33O que descrever? | 35O que dissertar? | 36

    Informao, opinio e dissertao | 45Texto de informao | 45Texto de opinio | 45Dissertao: o texto de opinio | 47O que , afinal, argumento? | 50O tema e a tese | 50

    Gneros do discurso | 57Carta | 57Resumo | 58Resenha | 59Ensaio | 60Comunicao | 61Relato | 61

    Gabarito | 69

    Anotaes | 77

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  • Apesar de sermos falantes nativos da Lngua Portuguesa, em alguns

    momentos sentimos certo estranhamento em relao s normas que

    nos so impostas durante o ensino formal dessa lngua, a ponto de afi r-

    marmos absurdos do tipo: a Lngua Portuguesa difcil ou eu no sou

    bom em portugus. Esse sentimento causado pelo fato de a gramtica

    tradicional, que estudamos na escola, ser muito diferente da lngua

    falada, que escutamos desde que nascemos. Isso acontece porque a ora-

    lidade e a lngua escrita passam por transformaes contnuas, enquanto

    a gramtica tradicional permaneceu praticamente a mesma desde o

    sculo XVI, poca em que foram formuladas as primeiras gramticas

    normativas em Portugal.

    Alm do distanciamento entre normas gramaticais e fala, existem outras

    variaes dentro desse mesmo idioma. Essa diversidade existente na

    Lngua Portuguesa se d por razes sociais, geogrfi cas e contextuais.

    importante frisar que todas essas variaes podem ser consideradas

    corretas, levando em considerao o contexto em que esto inseridas.

    O presente livro tem como objetivo a discusso de alguns aspectos da

    lingstica, contrastando com noes bsicas da norma culta como a

    coeso e a coerncia, gneros do discurso e modalidades textuais , possibi-

    litando ao leitor a prtica da escrita padro de forma consciente, ou seja,

    estando ciente de que as variaes lingsticas existem, no devem ser

    ignoradas e, muito menos, serem alvo de preconceito.

    Dessa forma, pretendemos despertar nos alunos um pensamento crtico

    para que eles possam transpor, com propriedade, para o papel suas

    idias e opinies.

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  • Lngua e linguagemDaniela Buscaratti de Souza Tatarin*

    Ftima Maria de Santana**

    O que , afinal, a lngua?Fala-se muito a respeito da lngua e da lingua gem. No entanto, muitos ainda concebem uma

    de finio equivocada do que lngua e do que ela representa para o convvio coletivo. Alguns te-ricos definiram a palavra lngua ao longo dos anos. Veja dois exemplos:

    [...] a lngua no se confunde com a lingua gem; somente uma parte determinada, essen cial dela [...] , ao mesmo tempo, um produto social da faculdade de linguagem e um conjunto de convenes necessrias, adotadas pelo cor po social para permitir o exerccio dessa facul dade nos indivduos. (SAUSSURE, 1998).

    Parece confuso, no? Essa uma definio tcni ca da lngua, estudada lingstas, estudiosos da lngua. Ns queremos um conceito mais simples.

    [...] a lngua no apenas um conjunto de sinais neutros trocados entre um emissor e um receptor, como se fs-semos apenas aparelhos de comunicao de mensagens. Na verdade, o conjunto de sinais conjunto de sons, no caso da fala, ou de letras, no caso da escrita apenas o ponto de partida para o que realmente signifi ca: a inteno de algum, daquele que fala ou daquele que escreve. (FARACO; TEZZA, 1999).

    a partir dessa segunda definio que vamos passar a compreender nosso estudo: a necessi-dade de aceitao da lngua como instrumento essencial ao convvio social, afinal, ela um sistema de normas, um cdigo que proporciona o entendimento entre as pessoas que falam ou escrevem.

    * Licenciada em Letras pela Universidade Federal do Paran (UFPR).** Licenciada em Letras pelo Centro Universitrio Campos de Andrade (Uniandrade).

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  • E a linguagem, como fica?Tudo o que pensamos sobre ns mesmos resultado do que pensamos sobre os outros e o mun-

    do. Por isso, a origem da linguagem a soci edade e sua funo, a interao. Fazem parte da linguagem a fala e a escrita.

    A lngua falada um sistema arbitrrio (afi nal, no existem regras para a fala), uma seleo e combinao de sons que diferem de significado de lngua para lngua e isso nos auxilia a aceitar a diver-sidade de pensamento.

    A lngua escrita, com todas as suas nor mas, nos ajuda a expressar nossas experin cias, extrair concluses, ampliar nossos limites, propor nossos problemas. Isso a fala tambm faz, porm o ato de es-crever nos permite ex pressar nossos pensamentos a um interlocutor ausente o texto pode ser lido por diferentes pessoas em diferentes lugares, mesmo muito tempo aps ser escrito. As normas presentes na escrita so regidas pela gramtica. impos svel existir uma lngua sem gramtica, sem organi zao sistmica, sem estrutura. Ento, no podemos prosseguir sem abranger a definio de norma padro, que seria a variedade reco nhecida pelos falantes como de maior prest gio social, considerada adequada para o uso oral nas situaes pblicas mais formais de interlocuo e para uso escrito em textos aca-dmicos, em livros, em jornais e em revistas. O lingista Marcos Bagno, em seu livro A Nor ma Oculta, refora de forma interessante a idia desse estudo.

    Norma [o]culta a gramtica no-escritaDamos o nome de norma oculta ao jogo ideolgico que est por trs da defesa de um conjunto

    padronizado de regras lingsti cas. Essa defesa se faz apoiada no mito de que o conhecimento da nor-ma culta garantia su ficiente para a insero do indivduo na catego ria dos que podem falar, dos que sabem falar e dos que tm direito palavra. No entanto, a restrio impos ta ao acesso dos falantes das variedades estig matizadas ao sistema educacional nico meio de aquisio da leitura, da escrita e das formas lingsticas prestigiadas j garante que essa ascenso social no ocorrer e preserva o conhe-cimento e uso da norma culta a uma parcela nfima da sociedade.

    Com isso, a discriminao explcita contra os que no sabem portugus ou contra os que atro-pelam a gramtica discriminao estam pada e difundida quase diariamente nos meios de comuni-cao apenas a face visvel de um mecanismo de excluso que atua em um nvel bem mais sutil e insidioso.

    Em sua superficialidade, a norma culta parece ser uma entidade de natureza exclusi vamente lingstica: tudo se resumiria a uma questo de pronncia correta das palavras; de ortografia e pontu-ao de regras de concordn cia e regncia e de organizao elegante das pa lavras nos enunciados. Essa norma culta es taria bem documentada nas gramticas normativas e, hoje, poderia ser adquirida facil-mente como bem de consumo nas formas ofe recidas pelo mercado (livros, manuais, colunas de jornais e revistas, CD-ROMs, sites, vdeos, entre outros).

    Percebeu a importncia do conhecimento da norma pa-dro? O que Marcos Bagno colo ca em seu texto, de maneira bem clara, o que percebemos facil mente em nosso dia -a-dia: o do-mnio da lngua essencial para a colocao social da pessoa.

    Portanto, alie conhecimentos

    gramaticais

    capacidade comunicativa!

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  • Existe certo e errado na lngua?Bagno afirma que o domnio da norma padro atribui prestgio ao indivduo. A fala e a escrita

    convivem entre si, mas em nossa sociedade a escrita tem um valor social maior, mesmo sabendo que escrever nunca foi e nunca ser a mesma coisa que falar. Veja a letra de Asa Branca. Esse famoso baio traz marcas da fala nordestina.

    Asa BrancaLuiz Gonzaga/Humberto Teixeira

    Quando oii a terra ardendo

    Qu fogura de So Joo.

    Eu perguntei a Deus do cu, ai

    Pru que tamanha judiao?

    Que brasero, que fornia

    Nem um p de prantao

    Por farta dgua, perdi meu gado

    Morreu de sede meu alazo.

    Int mesmo a asa branca

    Bateu asas do serto

    Entonce eu disse: adeus, Rosinha

    Guarda contigo meu corao.

    (...)

    Embora a sociedade d valor maior escrita, a fala e a escrita devem ter o mesmo valor e aten o. Seria um grave erro afirmar que a composi o acima, por exemplo, possui uma linguagem pobre, ou pior, errada.

    E da surge o preconceitoApesar de as pessoas desconhecerem a ori gem dos preconceitos, eles no surgem do nada. Mui-

    tas vezes so mantidos para preservar o po der de um grupo de indivduos sobre outros, arrai gados por meio da linguagem.

    No difcil observar como a Lngua Portu guesa falada de modos diferentes pelo Brasil afora. A lngua tambm varia conforme a situa o em que nos encontramos, a pessoa com quem falamos e at o papel que estamos desempenhan do. Isso evidencia uma caracterstica de todas as lnguas: nenhuma

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  • homognea e uniforme. No poderia ser diferente, afinal, as diferentes experi ncias sociais refletem na lngua que falamos. Dizemos, ento, que a Lngua Portuguesa no um sistema homogneo, pois tem muitas variantes.

    Observe os exemplos que seguem:

    Paulista comprando po:::::

    Dois pes, meu!::::

    Paranaense comprando po:::::

    Dois pes dgua, por favor! ::::

    Gacho comprando po:::::

    Dois cacetinhos, tch!

    Aqui vemos um mesmo objeto assumir deno minaes diferentes. A isso chamamos variao. Veja este outro exemplo:

    Texto 1

    Onde esto as manjubas, seu Antonio? No existem mais?

    Manjuba agora no tem...

    O que ser que aconteceu?

    que... bem... agora, aqui, rede j no tem. S tem uma. E de primeiro, quando ns era novo, n, no ponhava manjuba l pelo sul, dava muito por essas praias. isso.

    Texto 2

    Onde esto as manjubas, seu Antonio? No existem mais?

    No. Manjubas no existem mais.

    O que houve?

    Quando ramos jovens, pescvamos. Hoje, nem redes para pesca temos. Alm dis so, no havia manjubas no sul, apenas aqui. Agora o contrrio.

    Nesse exemplo, presenciamos a diferena na forma o das frases. importante frisar que, a fala sendo individual, permite tais diferenas.

    H outras formas de variao lingstica. Elas podem ser estabelecidas por critrios geogrficos, sociolgicos e contextuais. A variao geogrfica envolve as diferenas regionais. Conforme a re gio, usam-se determinadas palavras ou no (como no exemplo que vimos anteriormente do po). A vari-ao sociolgica envolve diferenas de sexo, ida de, profisso, nvel de escolarizao, classe so cial, raas e at localidade dentro de uma mes ma regio. Determinados grupos, por exemplo, advogados, mdi-cos, adolescentes, jogadores de futebol, utilizam diferentes expresses e palavras na fala. Esse tipo de variedade chamado gria ou Jargo.

    A variao contextual agrupa tudo aquilo que pode determinar diferenas na linguagem por in-fluncias alheias, como o assunto, o tipo de ou vinte, o lugar em que esto, dentre outros. Fala mos livre-mente em casa, mas em uma entrevis ta de emprego, por exemplo, no podemos sair dizendo s! falou.

    10 Comunicao Escrita

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  • Partindo disso, podemos analisar a variao lingstica como culturalista e comunicativa.Cultura-lista porque traz a lngua como repre sentao da experincia humana de modo espe cfico. Comunica-tiva porque traz a lngua como instituio de regras que determinam e demons tram as possibilidades comunicativas.

    Independentemente do enfoque, ambas as posies concordam com o fato de que a variao mantm a lngua viva e de que impossvel impedir a diver sidade. A lngua uma herana cultural e social e nada consegue apagar os traos humanos da diver sidade. A lngua pertence a cada falante e cada um tem um estilo prprio e nico de us-Ia.

    Para complementar nosso assunto e para que se saiba um pouco mais sobre a lngua, leia os tex-tos a seguir.

    Texto complementar

    No existem lnguas uniformes(POSSENTI, 1996, p. 33)

    Algum que estivesse desanimado pelo fato de que parece que as coisas no do certo no Brasil e que isso se deve ao povinho que habita esse pas (conhecem a piada?) poderia talvez achar que tem um argumento definitivo, quando observa que at mesmo para falar somos um povo des-leixado. Esse modo de encarar os fatos da linguagem bastante comum, infelizmente. Faz parte da viso de mundo que as pessoas tm a respeito dos campos nos quais no so especialistas. Em outras palavras, uma avaliao falsa. Mas como existe, e como tambm um fato social associado linguagem, deve ser levado em conta. Por isso, para quem pretende ter uma viso mais adequa-da do fenmeno da lingua gem, especialmente para os profissionais, dois fa tos so importantes: a) todas as lnguas variam, isto , no existe nenhuma sociedade ou comunidade na qual todos falem da mesma forma; b) a varie dade lingstica o reflexo da variedade social e, como em todas as so-ciedades existe alguma dife rena de status ou de papel entre indivduos ou grupos, essas diferenas se refletem na lngua. Ou seja: a primeira verdade que devemos encarar relativa ao fato de que em todos os pases (ou em todas as comunidades de falantes) existe vari edade de lngua. E no apenas no Brasil, porque seramos um povo descuidado, relapso, que no respeita nem mesmo sua rica lngua. A segunda verdade que as diferenas que existem numa lngua no so casuais. Ao contrrio, os fatores que permitem ou influenciam na variao podem ser detectados atravs de uma anlise mais cuidado sa e menos anedtica.

    Um dos tipos de fatores que produzem dife renas na fala de pessoas so externos lngua. Os principais so os fatores geogrficos, de clas se, de idade, de sexo, de etnia, de profisso etc. Ou seja: pessoas que moram em lugares diferen tes acabam caracterizando-se por falar, de algum modo, de maneira diferente em relao a outro grupo. Pessoas que pertencem a classes sociais diferentes, do mesmo modo (e, de certa forma, pela mesma razo, a distncia s que esta so cial) acabam carac-

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  • terizando sua fala por traos diversos em relao aos de outra classe. O mes mo vale para diferentes sexos, idades, etnias, pro fisses. De uma forma um pouco simplificada: assim como certos grupos se caracterizam atra vs de alguma marca (digamos, por utilizarem certos trajes, por terem determinados hbitos etc.), tambm podem caracterizar-se por traos lingsticos. Para exemplificar: podemos dizer que fulano velho porque tem tal hbito (fuma cigarro sem filtro, por exemplo), ou porque fala Brasil com um l no final (ao invs de falar Brasiu, com uma semivogal, como em geral ocorre com os mais jovens). Ou seja, as lnguas fornecem meios tambm para a identificao social. Por isso, freqente-mente estranho, quando no ridculo, um velho falar como uma criana, uma autorida de falar como uma pessoa simples etc. Por exem plo, muitos meninos no podem ou no querem usar a chamada linguagem correta na escola, sob pena de serem objeto de gozao por parte dos colegas, porque em nossa sociedade a correo considerada uma marca feminina.

    Tambm h fatores internos lngua que condicionam a variao. Ou seja, a variao de algu-ma forma regrada por uma gramtica inferior da lngua. Por isso, no preciso estudar uma ln gua para no errar em certos casos. Em outras palavras, h erros que ningum comete, porque a lngua no permite. Por exemplo, ouvem-se pro nncias alternativas de palavras como caixa, pei xe, outro: a pronncia padro incluiria a semivogal, a pronncia no-padro a eliminaria (caxa, pexe, otro). Mas nunca se ouve algum dizer peto ou jeto ao invs de peito e jeito. Por que ser que os mes-mos falantes ora eliminam e ora mantm a semivogal? Algum pode explicar por que o i cai antes de certas consoantes e no diante de outras? Algum pode explicar porque o u cai antes de t (otro) e o i no cai no mesmo contexto (peito, jei to)? Certamente, ento, o tipo de semivogal (i ou u) e a consoante seguinte so parte dos fatores internos relevantes para explicar esse fato que, de alguma forma, todo falante conhece.

    Outro exemplo: podem-se ouvir vrias pronn cias, em vrios lugares do pas, do som que se es creve com a letra l em palavras como al guma: alguma, auguma, arguma. A variao tambm exis-tir em palavras como planta: planta ou pranta (mas nunca ouviremos puanta). Mas, o l ser sempre um l em palavras como lata. Ou seja: no fim da slaba, ele varia; no meio, tambm (embora no com o mesmo nmero de variantes). Mas, no incio, nun ca. E isso vale para falantes cultos e incultos.

    Mais exemplos: poderemos ouvir os boi, dois cara, Comdia dos Erro, mas nunca o bois, um caras ou Comdia do Erros. Ouvi remos muitas vezes ns vai, mas nunca eu vamo(s). As-sim, as variaes lingsticas so condicionadas por fatores internos lngua ou por fatores sociais, ou por ambos ao mesmo tempo.

    Alguns sonham com uma lngua uniforme. S pode ser por mania repressiva ou medo da varie-dade, que uma das melhores coisas que a hu manidade inventou. E a variedade lingstica est en-tre as variedades mais funcionais que existem. Podemos pensar na variao como fonte de re cursos alternativos: quanto mais numerosos forem, mais expressiva pode ser a linguagem humana. Numa lngua uniforme talvez fosse possvel pen sar, dar ordens e instrues. Mas, e a poesia? E o humor? E como os falantes fariam para demons trar atitudes diferentes? Teriam que avisar (dizer, por exemplo, estou irritado, estou vontade, vou trat-lo formalmente)?

    12 Comunicao Escrita

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  • O certo falar assim porque se escreve assim(BAGNO, 2003)

    Diante de uma tabuleta escrita COLGIO provvel que um pernambucano, lendo-a em voz alta, diga clgio, que um carioca diga culgio, que um paulistano diga colgio. E agora? Quem est certo? Ora, todos esto igualmente certos. O que acontece que em toda lngua do mundo existe um fenmeno chamado variao, isto , nenhu ma lngua falada do mesmo jeito em todos os lu-gares, assim como nem todas as pessoas falam a prpria lngua de modo idntico.

    Infelizmente, existe uma tendncia (mais um preconceito!) muito forte no ensino da lngua de querer obrigar o aluno a pronunciar do jeito que se escreve, como se essa fosse a nica maneira certa de falar portugus. (Imagine se algum fosse falar ingls ou francs do jeito que se es creve!) Muitas gramticas e livros didticos che gam ao cmulo de aconselhar o professor a cor rigir quem fala muleque, bjo, minino, bisro, como se isso pudesse anular o fenmeno da vari ao, to natural e to antigo na histria das ln guas. Essa supervalorizao da lngua escrita com binada com o des-prezo da lngua falada um pre conceito que data de antes de Cristo!

    claro que preciso ensinar a escrever de acordo com a ortografia oficial, mas no se pode fazer isso tentando criar uma lngua falada arti ficial e reprovando como erradas as pronn cias que so resultado natural das foras inter nas que governam o idioma. Seria mais justo e democr-tico dizer ao aluno que ele pode dizer Bunito ou Bonito, mas que s pode escrever BONITO, porque necessria uma ortografia nica para toda a lngua, para que todos possam ler e compreender o que est escrito, mas pre ciso lembrar que ela funciona como a partitura de uma msica: cada ins-trumentista vai interpret-Ia de um modo todo seu, particular!

    O pintor belga Ren Magritte (1898-1967) tem um quadro famoso, chamado A Traio das Imagens, no qual se v a figura de um cachimbo e embaixo dela a frase escrita: Isto no um cachimbo.

    Em que esse exemplo pode servir nossa dis cusso? Isso no um cachimbo de verdade, mas simplesmente a representao grfica [...] de um cachimbo. O mesmo acontece com a escrita alfa-btica, em sua regulamentao ortogrfica oficial. Ela no a fala: uma tentativa de representao grfica, [...] e convencional da lngua falada. [...] Quando digo que a escrita uma tentativa de re-presentao porque sabemos que no existe ne nhuma ortografia em nenhuma lngua do mundo que consiga reproduzir a fala com fidelidade.

    [...]

    Esta relao complicada entre lngua falada e lngua escrita precisa ser profundamente ree-xaminada no ensino. Durante mais de dois mil anos, os estudos gramaticais se dedicaram exclu-sivamente lngua escrita literria, formal. Foi somente no comeo do sculo XX, com o nasci mento da cincia lingstica, que a lngua falada passou a ser considerada como o verdadeiro ob jeto de estudo cientfico. Afinal, a lngua falada a lngua tal como foi aprendida pelo falante em seu con-tato com a famlia e com a comunidade, logo nos primeiros anos de vida. o instrumento bsi co de sobrevivncia. Um grito de socorro tem muito mais eficcia do que essa mesma mensa gem escrita.

    13|Lngua e linguagem

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  • A lngua escrita, por seu lado, totalmente artificial, exige treinamento, memorizao, exer-ccio, obedece a regras fixas, de tendncia con servadora, alm de ser uma representao no exaustiva da lngua falada.

    Faa voc mesmo o teste: pegue uma pala vra bem simples fogo, por exemplo e pronun cie-a com todas as inflexes e tons, de voz que conseguir: espanto, medo, alegria, tristeza, sauda de, ira, remorso, horror, felicidade, histeria, pavor. Depois tente reproduzir por escrito essas mesmas infle-xes e tons de voz. impossvel. O mximo que a lngua escrita oferece so os sinais de ex clamao e de interrogao! A mera forma escrita no capaz de traduzir as inflexes e as intenes pre-tendidas pelo falante. Por isso, os autores de textos teatrais indicam, entre parnte ses, a emoo, sensao ou sentimento que o ator deve expressar numa dada fala.

    A importncia da lngua falada para o estudo cientfico est principalmente no fato de ser nessa lngua falada que ocorrem as mudanas e as vari aes que incessantemente vo transfor-mando a lngua. Quem quiser, por exemplo, conhecer o es tado atual da Lngua Portuguesa do Brasil precisar investigar empiricamente a lngua falada [...].

    Do ponto de vista da histria de cada indiv duo, o aprendizado da lngua falada sempre pre-cede o aprendizado da lngua escrita, quando ele acontece. Basta citar os bilhes de pessoas que nascem, crescem, vivem e morrem sem jamais aprender a ler e a escrever! E, no entanto ningum pode negar que so falantes perfeitamente com petentes de suas lnguas maternas.

    Do ponto de vista da histria da humanidade a mesma coisa. A espcie humana tem, pelo menos, um milho de anos. Ora, as primeiras for mas de escrita, conforme a classificao tradici onal dos historiadores, surgiram h apenas nove mil anos. A humanidade, portanto, passou 990.000 anos apenas falando!

    Quando o estudo da gramtica surgiu; no en tanto, na Antiguidade clssica, seu objetivo decla rado era investigar as regras da lngua escrita para poder preservar as formas consideradas mais cor retas e elegantes da lngua literria. Alis, a palavra gramtica, em grego, significa exata-mente a arte de escrever.

    Infelizmente, essas mesmas regras da ln gua literria comearam a ser cobradas da ln gua falada, o que um disparate cientfico sem tamanho!

    H cientistas que se dedicam especificamen te a estudar as diferenas, semelhanas, inter-relaes e interaes que existem entre as duas modalidades. O ensino tradicional da lngua, no entanto, quer que as pessoas falem sempre do mesmo modo como os grandes escritores escre-veram suas obras. A gramtica tradicional des preza totalmente os fenmenos da lngua oral, e quer impor a ferro e fogo a lngua literria como a nica forma legtima de falar e escrever, como a nica manifestao lingstica que merece ser estudada.

    [... ]

    14 Comunicao Escrita

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  • Atividades1. Como dissemos antes, a escrita pode ser uma atividade muito til. Redizer, por escrito, as informa-

    es que coletamos um bom modo de consolidar nosso conhecimento. Fazemos, ento, duas propostas:

    a) Faa um resumo das principais idias sobre a variao lingstica tratadas nesta aula.

    15|Lngua e linguagem

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  • b) Em seguida, escolha um tpico deste captulo que mais chamou sua ateno e prepare um texto breve sobre ele, para informar s pessoas sobre um aspecto bsico das lnguas e contri-buir, com isso, para que os preconceitos que ainda existem sejam desfeitos.

    2. (Unicamp adap.) Voc habitualmente usa e reconhece vrios nveis de linguagem, associ ados a diferentes falantes, estilos ou contextos. Voc sabe tambm que s vezes o falante utiliza um estilo que no o seu, para produzir efeitos especficos, que o que faz o maestro Jlio Medaglia na carta abaixo:

    MassaP, Erundina, massa! Agora que o maneiro Cazuza virou nome num pedao aqui na Sam-

    pa, quem sabe tu te anima e acha a um point pra bot o nome de Madalena Tagliaferro, Clu-dio Santoro, Jaques Klein, Edoardo Guarnieri, Guiomar Novaes, Joo de Souza Lima, Armando Belardi, Radams Gnatalli. Esses caras no foi cruner de banda a Ia Trogloditas do Sucesso, mas se a tua moada no manjar quem eles foi, d um look a na Enciclopdia Britnica ou no Groves International e tu vai saca que o astral do sculo 20 musical deve muito a eles. (Julio Medaglia, di-jei do Teatro Municipal do Rio de Janeiro).

    Painel do Leitor. Folha de S.Paulo, 4 out. 1990.

    16 Comunicao Escrita

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  • a) Que grupo social pode ser identificado por este estilo? Transcreva as marcas lingsticas caracte rsticas desse grupo, presentes no texto.

    b) O texto contm uma crtica implcita. Qual , e a quem dirigida?

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  • 18 Comunicao Escrita

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  • Coeso e coerncia

    Comeo de conversaVeni, vidi, vici

    (vim, vi, venci)

    Estas foram as palavras de Jlio Csar ao co municar ao senado romano sua vitria so bre o rei francs.

    Voc deve estar se perguntando o porqu dessa informao, dessa citao histrica. Bem, nosso assunto comunicao. Logo, a comunica o de Jlio Csar ao senado foi um ato comunica tivo e fun-cional.

    Produzir um bom texto no significa produzir uma obra literria. Saber escrever pressupe acima de tudo, saber ler e pensar. Nosso pensamento expresso por meio de palavras, que sero registradas pela escrita e, por sua vez, sero interpretadas pela leitura.

    A leitura fundamental escrita, mas no basta apenas ler, necessrio entender o que se l. Apesar do emergente poder dos meios eletr nicos de comunicao de massa (rdio, TV, internet), a leitura ainda uma das fontes mais ricas de informao. No toa que a cada dia publicam-se mais e mais livros, revistas e jornais.

    Os nossos conhecimentos so os germes das nossas produes. (Buffon, filsofo francs.) Como disse Buffon, a leitura no s nos ensi na os mecanismos da escrita, for nece idias que nos ajudam no ato de escrever.

    Texto, coeso e coernciaPodemos dizer que um texto bem-sucedido um texto consistente e eficaz, o que garantido

    pela coerncia, aspecto que estudaremos agora.

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  • Oi que l vinha pelo rio uma pedra boiando

    Em riba dessa pedra, trs navegador (sic)

    Um deles era cego, nada enxergando

    O outro no tinha brao pois o trem cortou

    Mas deles o terceiro era o mais sem-vergonha

    Pois estava nuzinho como Deus criou

    Eis que chegando adiante o cego num berreiro

    Olhando para o fundo, olha um tosto! gritou

    E ouvindo isso o tal que era aleijado

    Metendo a mo no fundo o tosto apanhou

    E o tal que estava nu tendo o tosto tomado

    Mais que ligeirinho no bolso guardou...

    Letra de embolada popular, para ser cantada velozmente.

    A coerncia se constitui por meio do nexo, da harmonia entre as partes que compem o texto. Para que a noo de coerncia seja esclarecida, veremos trs definies diferentes e depois analisare-mos um pequeno texto.

    Simm Empreiteira de Mo Obra Ltda.Av. da Pedra - 3366 - telefax: 555-4422 Osasco - SP. CGC/MF22.596.010/0001-33

    Prezado Sr.(a) Sndico(a)

    Venho por esta vos comunicar-lhe que nos sa empresa especializada, em servios de pin turas de edifcios, residncias, salas comerciais, com finssimo acabamento.

    Nossos funcionrios so todos profissio nais treinados em suas funes, com seguro de vida,

    Uma complexa rede de fatores de ordem lingstica, cognitiva e interacional.

    Ingedore Koch.

    A relao que se estabelece entre as par tes do texto, criando uma unidade de sentido.

    Jos Luiz Fiorin.

    Conexo, unio estreita entre vrias partes, relaes entre idias que se harmonizam, ausn cia de contradio. a coerncia que distingue um texto de um aglomerado de frases.

    Jos Luiz Fiorin e Francisco Plato Savioli.

    Agora leia o texto abaixo:

    20 Comunicao Escrita

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  • para oferecer-lhes nossos clientes, proficionalismo, segurana de quem tem 10 anos de tradio em pinturas.

    Nos garantimos nossos servios prestados aos nossos clientes por um perodo de 5 anos.

    Responsabilizaremos pelas obrigaes tra balhista e fiscais, de modo em que nosso pesso al que prestar os servios de mo-de-obra, sob seu comando.

    A responsabilidade civil, trabalhista e penal de danos pessoais, acidentes de trabalho, sero por conta de nossa empresa prestadora de servios.

    Faremos o seu oramento sem compromisso.

    Consulte-nos pelo fone (0XX) 555-4422 fa lar com Sr. Marcelino.

    Simm Empreiteira de Mo de Obra Ltda.

    Ser que esse texto est bem construdo? Ser que ele conseguir ser eficaz? Se disser que no, que o texto no conseguiu alcanar seus objetivos, concordamos com voc. Sua opinio est certa, do ponto de vista do conceito de coerncia textual.

    Melhor do que ficar discutindo conceitos identificar as falhas do texto. H vrias situaes nessa carta que impedem que a comunicao seja eficaz. Vejamos uma de las: como utiliza a Lngua Portu-guesa na sua mo dalidade escrita. preciso que seu autor saiba manejar bem a gramtica dessa lngua escrita, as regras, adequando-as situao comunicativa.

    Erros gramaticais como para oferecer-lhes nossos clientes, proficionalismo so provas de des-conhecimento do bsico da norma.

    Todas as inadequaes no segundo pargra fo esto relacionadas ao mau emprego da lngua es-crita, desobedincia s normas, que preci sam ser seguidas para que o texto ganhe clareza e d conta de seu recado. Quando no conhece mos bem essas regras, podemos (e devemos) consultar manuais de gramtica, com ou sem au xlio dos professores e at de colegas.

    CoesoComo voc j sabe, um texto no se forma apenas a partir do agrupamento de palavras ou de ora-

    es, preciso que haja uma articulao de pensa mentos, isto , que os termos que formam uma ora-o e as oraes que formam um perodo apresen tem uma relao, uma dependncia de significados.

    Orao:: frase que tem verbo. Exemplo: A garota saiu rpido da sala.

    Perodo:: agrupamento de duas ou mais oraes. Exemplo: A garota saiu rpido da sala, mas o garoto permaneceu.

    De um modo geral, podemos dizer que os fatores que garantem a coerncia atravessam o tex-to, mas vm do exterior, dos cuidados que pre cisamos tomar para que nossos textos possam garantir eficcia e surtir efeito. A coeso, por sua vez, interna ao texto e refere-se aos elementos lingsticos propriamente ditos, utilizados e ma nifestados no texto para impor ordem e articula o. Cada elemento

    Coeso e coerncia 21

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  • responsvel pela coeso textual funciona, no interior do texto, como um pequeno n, que serve para amarrar as idias. Por isso, a coeso pode ser vista como um dos recursos estruturais da lngua para garantir a articulao textual.

    Veja o exemplo:

    Amo voc. No gosto de suas manias. Eu

    tambm tenho manias.

    Amo voc, mas no gosto de suas manias,

    embora eu tambm as tenha.

    As idias nos dois enunciados tm coern cia, mas apenas no segundo os elementos articuladores aparecem. So eles que estabele cem a coeso do texto.

    Principais elementos coesivos

    ConjunoLigao de argumentos em favor de uma concluso.

    Gradao de argumentos em uma srie.

    Estabelecimento de aspecto decisrio na ar gumentao.

    Exemplo: Fiquei bastante feliz. Minha filha passou no vestibular e, alm disso, marcou o noivado.

    ConclusoEstabelecimento de concluso tendo em vis ta outros argumentos apresentados.

    Exemplo: Era bonita, inteligente e rica. Logo, a es posa perfeita.

    RestrioExplicaes.

    Justificativas.

    Explicitaes.

    Ilustraes.

    Generalizaes, amplificaes.

    Exemplo: J que chegaram, deveriam sentar.

    RedefinioCorrees, retificaes, esclarecimentos.

    Exemplo: Seu trabalho est catico, isto , est sem forma e contedo.

    22 Comunicao Escrita

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  • ComparaoInferioridade.

    Superioridade.

    Igualdade.

    Exemplo: O quadro disponvel para compra to bonito quanto o que est em sua casa.

    DisjunoArgumento introduzido leva a uma concluso oposta de outros.

    Exemplo: Os jovens brasileiros precisam encarar a escola com mais seriedade, talvez tentar mud -Ia, renov-Ia. Caso contrrio, o futuro ser bastante incerto.

    ContrajunoContraposio de argumentos de orientaes argumentativas diferentes, fazendo prevalecer o

    argumento introduzido pela conjuno adversativa, mas no o introduzido pela conjuno concessiva.

    Exemplo: Ele manso e cordato, mas no participa da vida de ningum.

    Texto complementar

    Coerncia e coeso textuaisA coerncia o conhecimento que o produ tor e o receptor tm do assunto tratado no texto,

    determinado por sua viso de mundo e o conheci mento da lngua que usam: tipos de textos, voca-bulrios etc.

    Coeso a costura necessria para que as partes de um texto componham harmonicamente o todo, deixando o texto agradvel leitura (ele mentos coesivos).

    Se voc leu o filme, veja o livro. Digo, assista ao disco.

    Platoon A cor do dinheiro

    Conte comigo

    Mquina Mortfera

    No exemplo, existe a incoerncia se mntica, pela inverso dos sentidos dos verbos.

    H muitas pessoas que sofrem do mal da solido. Basta que em redor delas se arme o silncio, que no se manifeste aos seus olhos nenhuma presena humana, para que delas se apodere imensa

    Coeso e coerncia 23

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  • angstia: como se o peso do cu desabasse sobre suas cabeas, como se dos horizontes se levantas-se o ann cio do fim do mundo.

    Observa-se que o termo pessoas foi reto mado cinco vezes, por intermdio de outras ex-presses que asseguram ao texto uma boa se qncia. Essas retomadas de um termo e outros mecanismos de que a lngua dispe para a clare za de uma comunicao constituem o que cha-mamos de coeso.

    Lembre-se:

    No existe um texto incoerente em si, mas um texto que pode ser incoerente em determinada situao. O texto ser incoerente se seu produtor no souber adequ-Io situao.

    O uso de elementos coesivos d ao texto maior legibilidade, explicitando os tipos de relaes estabelecidas entre os elementos lingsticos que o compem.

    Elementos coesivosObserve o texto a seguir.

    Havia um menino muito magro que vendia amendoins numa esquina de uma das avenidas de So Paulo. Ele era to fraquinho, que mal podia carregar a cesta em que estavam os pacotinhos de amendoim. Um dia, na esquina em que ficava, um motorista, que vinha em alta velocidade, perdeu a direo. O carro capo tou e ficou de rodas para o ar. O menino no pensou duas vezes. Correu para o carro e ti rou de l o motorista, que era um homem cor pulento. Carregou-o at a calada, parou um carro e levou o homem para o hospital. Assim, salvou-lhe a vida.

    Esse texto, uma redao escolar, apresenta uma incoerncia: se o menino era to fraco que quase no podia carregar a cesta de amendoins, como conseguiu carregar um homem corpulento do carro at a calada?

    A coeso de um texto, isto , a conexo entre vrios enunciados, obviamente no fru to do acaso, mas das relaes de sentido que existem entre eles. Essas relaes de sentido so manifesta-das sobretudo, por certa catego ria de palavras, as quais so chamadas de conectivos ou elementos de coeso. Sua fun o no texto exatamente a de pr em evidn cia as vrias relaes de sentido que existem entre os enunciados.

    Tipos de coernciaa) Coerncia narrativa

    incoerente narrar uma histria em que al gum est descendo uma ladeira num carro sem freios, que pra imediatamente, depois de ser bre cado, quando uma criana lhe corta a frente.

    b) Coerncia figurativa

    Suponhamos que se deseje figurativizar o tema despreocupao. Podem-se usar figuras como pessoas deitadas beira de uma piscina, drinques gelados, passeios pelos shoppings.

    24 Comunicao Escrita

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  • Atividades1. Leia este texto:

    Os ursos pandas chineses j foram paparicados pelos ecologistas at o limite da chatice. Mas prome te ser divertido v-Ios num filme que comea a ser rodado no Himalaia pela War-ner Brothers americana.

    Superinteressante.

    a) Releia a segunda frase do texto. O autor a inicia com uma marca de coeso, a palavra mas, que intro duz um sentido de oposio. Uma idia nova, que vai ser apresentada, ser oposta a uma idia da frase anterior. Quais so as idias que esto em oposio?

    No caberia, no entanto, na figurativizao desse tema, a utilizao de figuras como pessoas indo apressadas para o trabalho, fbricas funcionando a pleno vapor.

    c) Coerncia argumentativa

    Quando se defende um ponto de vista de que o homem deve buscar o amor e a amizade, no se pode dizer em seguida que no se deve confiar em ningum e que por isso melhor viver isolado.

    GES, Michelle. Oficina de leitura e produo de texto. Mdulo 11. Adaptado.

    Coeso e coerncia 25

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  • b) Outra marca de coeso existente na segunda frase o pronome los, em v-Ios. Esse pronome usado para ligar um termo mencionado na primeira frase do texto, evitando sua repetio. Qual esse termo?

    2. Os trechos que seguem foram retirados de redaes escritas por alunos do Ensino Mdio. Todos apresentam, em maior ou menor grau, problemas na articulao dos elementos textuais, principal-mente no que diz respeito utilizao dos recursos coesivos. Aps identificar os problemas, rees-creva os trechos de modo a torn-Ios mais claros e coesos. No momento de reescrev-Ios, voc pode, alm de substituir elementos coesivos, introduzir ou explicitar idias de modo a garantir que o sentido desejado pelo autor possa ser recuperado.

    a) Agora o caso mais surpreendente onde o ser humano pode chegar foi o caso do ndio, onde jovens ou animais tocaram fogo nele, pensando que fosse um mendigo; e da, e se fosse um men digo? Temos que avis-Ios que o mesmo tambm gente como ns, e qual o sentido de tocar fogo em uma pessoa que no est fazendo mal ningum, uma pessoa que por natureza j sofrido e pobre. Estes animais qual ser a punio?

    26 Comunicao Escrita

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  • b) A televiso no perfeita mas pode se extrair muita coisa boa dela. o caso da TV Cultura, onde h vrios programas educativos, excelentes, onde a criana aprende muito. Sendo as sim, a televiso no um estmulo ignorncia e sim um estmulo sabedoria, s se torna igno-rante uma pessoa que teve uma m educao, onde aprendeu desde criana as coisas ruins da vida.

    c) No Brasil, sempre que se descobre uma corrupo feito um sensacionalismo em cima e, de repente, surge outro escndalo para abafar o anterior, ou seja, no se tm leis severas onde pes soas que esto envolvidas sejam punidos exemplarmente para que os mesmos no conti-nuem a comet-Ios.

    Coeso e coerncia 27

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  • 3. (Unicamp adap.)

    [...] vejo na televiso e no rdio que o cujo bateu asas e voou. Virou ave migratria.

    O comentrio acima, do escritor Otto Lara Resende (Folha de S.Paulo, 8 out. 1992), re-fere-se ao fato de que o uso do pronome relativo cujo cada vez menos freqente. Isso faz que os falantes, ao tentarem utilizar esse pronome na escrita, construam seqncias sintti-cas que levam a interpretaes estranhas. Veja o exemplo seguinte:

    O povo no s quer o impeachment desse aventureiro chamado Collor, como o confisco dos bens nada honestos do Sr. Paulo Csar Farias e companhia. E que a esse PFL e ao Brizola (cuja ficha de filiao ao PDT j rasguei) resta a vingana do povo...

    L. R. N., Painel do Leitor, Folha de S. Paulo.

    a) O que L. R. N. pretendeu dizer com a orao entre parnteses?

    b) O que ele disse literalmente?

    c) Que tipo de conhecimento deve ter o leitor para entender o que L. R. N. quis dizer?

    28 Comunicao Escrita

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  • Pargrafo e modalidades textuais

    Comeo de conversaO texto escrito segue alguns padres formais em sua apresentao. Veja:

    :::: Ortografia imagine os problemas que teramos para ler um texto se cada indi vduo grafasse as palavras como bem entendesse. Se voc tiver dvidas quan to grafia de alguma palavra (e isso normal, porque a nossa ortografia, embora seja bastante regular, tem l suas parti-cularidades), o melhor a fazer consultar um dicionrio.

    :::: Pontuao tambm uma conveno que ajuda a deixar o texto claro e orienta a caminhada do leitor. Podemos dizer que os sinais de pontuao (vrgula, ponto, ponto-e-vrgula, ponto-de-interrogao, reticncias, ponto-de-exclamao, dois -pontos, travesso, aspas, parnteses) funcionam como uma espcie de sinais de trnsito: indicam paradas, anunciam dire es que o texto vai seguir, mostram os limites de um seguimento do texto etc.

    :::: Espaamento entre palavras entre as palavras h sempre um espao em bran co; imagine o trabalho que teramos para ler um texto em que as palavras no es tivessem separadas.

    :::: Pargrafo os textos so divididos em pa rgrafos. O pargrafo um recorte do texto que faci-lita o trabalho do autor, auxiliando-o a organizar a seqncia do seu texto e a leitura, quanto sua apre sentao. A regra aqui simples: sem pre que iniciamos um pargrafo, ocupa mos uma nova linha na pgina, afastan do-a um pouco para a direita da margem e grafamos a primeira palavra com a le tra inicial maiscula.

    Observando esses aspectos grficos voc compreender a importncia e a contribuio que eles do para a atividade da escrita, pois permi tem que os textos fiquem claros e legveis. Voc deve estar atento s regras grficas, que no so muitas, e aprend-Ias no difcil, para que haja qualidade na escrita dos seus textos.

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  • O conceito de pargrafoO pargrafo tem um aspecto visual que no pode ser esquecido: o texto dividido em par grafos

    no cansa o leitor. Alm disso, ele apre senta uma idia central, em torno da qual se agregam outras.

    A composio sinttica dos pargrafos ex tremamente variada. Podem conter desde uma nica palavra at um grande nmero de oraes complexas.

    Normalmente, os manuais escolares definem pargrafo como um conjunto de oraes que se fecham em um pensamento completo. A definio pode at ser til, do ponto de vista didtico (de es-trutura), mas no tem nenhum rigor, isto , uma regra prpria, porque a prpria expresso pen samento completo muito vaga.

    Observe a expresso: ajustamento s reaes previstas do ouvinte e do leitor. No caso da lingua-gem oral, ns temos um domnio muito bom desse ajustamento de acordo com o interlocutor, o assun-to, a nossa inteno e nossos objetivos. Normalmente, selecionamos e organizamos informaes para haver, ento, maior eficcia comunicativa. Por exemplo, ao observar um camel vendendo canetas na praa, a fala dele organiza grupos de informao desde o momento em que ele anuncia seu produto at receber o dinheiro pelo produto vendido. Da mesma forma, se um humorista fizer uma simples inverso de pargrafos, o efeito final certamente ser distorcido.

    J na escrita, a noo de pargrafo , antes de tudo (mas no apenas!) uma noo visual. A suspen-so de uma seqncia de linhas, com o recomeo destacado em outra linha, por si s, cria significado.

    Em um pargrafo, a frase inicial, tambm chamada de tpico frasal, deve ser clara e objetiva. A cons truo do pargrafo est baseada na ampliao do tpico frasal. Existem diversas maneiras de se elabo rar um pargrafo, variando de acordo com o objetivo de quem escreve e a natureza do assunto.

    Observe estes exemplos:

    Frase inicial Silvana quase perdeu o flego com a sbita revelao da mulher.

    Frases de

    desenvolvimento

    No teve coragem de mexer os olhos, a cabea, o corpo. Marcinha estava ali atrs ouvindo o

    terrvel segredo dela, o nico que escondia de sua melhor amiga. Depois disso, no conse-

    guiu concentrar-se em mais nada. As palavras da mulher iam e vinham sem encontrar espao

    de recepo.

    Frase de concluso Vez ou outra Silvana ouvia a frase: as cartas, minhas filhas, as cartas no mentem jamais.

    Edson Gabriel Garcia.

    E como elaborar um pargrafo?

    bem fcil, veja:

    Frase inicial Lana a idia central a ser desenvolvida.

    Frases de

    desenvolvimentoDesenvolvem a idia da frase inicial.

    Frase de concluso Conclui as idias, podendo aparecer ou no, dependendo do pargrafo.

    Observe mais um exemplo a seguir com o conceito aplicado.

    30 Comunicao Escrita

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  • Frase inicialA raiva uma doena fatal, provocada por um vrus que ataca o sistema nervoso das

    pessoas.

    Frases de desenvolvimento

    Ela transmitida pela mordida de um animal infectado, cuja saliva contm o vrus.

    O animal transmissor cachorro, em geral tem o comportamento alterado: torna-se

    agressivo ou tristonho, recusa gua e comida.

    Frase de concluso Conclui as idias, podendo aparecer ou no, dependendo do pargrafo.

    Guia Rural.

    Trabalhando o pargrafoLeia o texto abaixo e observe os recursos utilizados para articular as idias desenvolvidas.

    Golfinhos de Fernando de NoronhaPertencentes espcie Stenella longirostris, esses mamferos so vulgarmente conhecidos

    como golfinhos rotadores, devido ao giro carac terstico que * executam. Eles saltam da gua, atin-gindo uma altura de at 3 metros, e * do vrios giros em torno de seu eixo longitudinal, caindo ento novamente na gua e espalhando espuma em todas as direes. Esses saltos fa zem parte do que chamamos de comportamento areo junto com os outros, como: salto, camba lhota, batida de cabea, batida de cauda, batida de dorso etc. Esses golfinhos tambm gostam de surfar, o padro de comportamento conhecido como bowriding, no qual eles nadam na frente e ao lado da proa dos barcos, brincando nas marolas.

    Esses animais chegam na enseada com o nascer do sol, em grupos, e * deixam-na entre 15 e 16 horas. Golfinhos desta mesma espcie ocorrem no canal das ilhas havaianas e * tam bm se concen-tram a maior parte do dia em uma enseada chamada Kealakekua Bay. L, esses golfinhos descansam junto superfcie, bem perto uns dos outros, saindo noite para * se alimentarem longe da costa. J em Fernando de Noronha, os animais partem mais cedo e * no descansam.

    O texto lido tem como idia central falar so bre golfinhos. Para evitar a repetio das mes mas pa-lavras o autor faz substituies por pro nomes e outros substantivos.

    Exemplos: golfinhos / esses mamferos / esses animais / os animais / eles.

    Quando redigimos um pargrafo devemos ter a preocupao de evitar repeties, pois elas empobre cem o texto.

    Tipos de pargrafosa) Podemos produzir pargrafos com defini es. Ele muito comum na exposio de idias e ::::pode envolver processos como a descrio de detalhes, a citao de exem plos, principalmen-te confrontos e parale los abordados pelo tpico frasal (idia ini cial, assunto principal).

    Pargrafo e modalidades textuais 31

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  • Leia o pargrafo a seguir e descubra quem ele:

    Quem ele? Pesa entre 0,5mg e 1mg. Para sobreviver, precisa de sangue, calor e umidade. Esfo-meado fica cinza. Bem nutrido, torna-se avermelhado. Vive em mdia um ms e chega a colocar at 300 ovos por dia. Provoca coceira e irritao. ltima dica: motivo de eterna pre ocupao de pais e professores.

    Jornal do Brasil.

    Resposta: piolho

    O que voc leu uma definio.

    Na definio citada, o autor expe as carac tersticas de um tipo de inseto (peso, cor, tempo de vida e reproduo).

    b) Tambm podemos produzir pargrafos a partir de descries. Descrever tradu zir a imagem ::::em palavras, enumerando detalhes, apresentando elementos que o diferenciem dos demais.

    Exemplo:

    Era uma casa comum, como tantas milhares que existem na cidade. Nada ali indicava com fir-meza que vivia uma jogadora e leitora de cartas. Nada parecido com uma tenda de ciganas nem com um cmodo esotrico de adivinhadores do futuro, presente e passado. A no ser um pano preso na parede maior da sala, estampado com cartas de um baralho desconhecido. O pano esta va to novo que at permitia aos narizes comuns sentir o cheiro caracterstico de tecidos sem usos. No canto esquerdo da sala, uma pequena mesa quadrada coberta com uma toalha branca e um jogo de cartas.

    Edson Gabriel Garcia.

    No texto citado, as palavras sublinhadas fa zem referncia a uma descrio especfica.

    c) A :::: narrao outro meio de construo de um pargrafo. O elemento principal da narrao o fato, envolvendo personagens e seqncia de aes das quais eles parti cipam. O fato pode ser real ou imagin rio. Na narrao predominam os verbos de ao (como: cantar, falar, comer, subir, danar, estudar etc.).

    Exemplo:

    O tempo passou rapidamente. Logo, o rel gio da Catedral bateu treze horas e todos se levan-taram quase ao mesmo tempo, por fora do hbito. Marina tentou se atrasar um pouco, olhou bem nos olhos de Irineu e ele nos dela. E os olhares expressavam a vontade de no irem aula, de ficarem ali sentados conversando o que planejaram. Mas logo a turminha toda co meou a gritar que estava na hora, algumas amigas vieram para perto de Marina e no houve ou-tro jeito. Irineu e Marina juntaram -se aos colegas e foram subindo em direo ao colgio, sempre prximos um do outro. E o assun to do namoro surgiu, mas na boca dos colegas. E ganhou um adjetivo at certo ponto verdadeiro: namoro enrustido. Todos gozando, tirando sarro. Irineu e Marina ficaram muito verme lhos de raiva, o que confirmava o adjetivo. Mas, ao mesmo tempo, olhavam-se e sorriam disfaradamente, mostrando que a brincadeira tambm os agradava. Raiva e alegria se mistu ravam de um jeito divertido.

    lias Jos.

    32 Comunicao Escrita

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  • legenda:

    personagens

    onde ocorreu

    quando aconteceu

    como aconteceu (aes principais)

    Modalidades textuaisJ falamos sobre pargrafo, agora falaremos sobre as modalidades textuais.

    Uma mensagem qualquer pode apresentar trs tipos de arranjo combinatrio (modalidade): des-crio, narrao e dissertao. A descrio citada primeiramente, j que nos permite reprodu zir sen-saes de cor, brilho, forma, tamanho, cheiro, gosto etc. Nos textos descritivos, predomina o ele mento icnico (cone a simples forma, movimen to, sensao).

    J a narrao procura relatar uma histria com personagens cometendo aes que resultam con-flitos e desfechos. H choque, atrito, relaes. A narrativa pretende indicar aconteci mentos em uma certa seqncia temporal, nela pre dominando a secundidade (elementos posteriores). A dissertao construda por meio de raciocnios, opina, emite juzos de valor, argumenta, apresenta tese e a defende por meio de idias lgicas.

    O que narrar?Acompanhe a seguir um fragmento do conto A Quinta Histria (do livro A Legio Estrangeira), de

    Clarice Lispector:

    Queixei-me de baratas. Uma senhora ouviu- me a queixa. Deu-me a receita de como mat-Ias. Que misturasse em partes iguais acar, farinha e gesso. A farinha e o acar as atrairiam, o ges so estur-ricariam o de dentro delas. Assim fiz. Morreram.

    Mesmo muito pequeno, esse fragmento possui os elementos essenciais da narrativa: narrador, personagens, acontecimentos. Dentre as trs personagens que habitam a minscula trama narrador, senhora, baratas , duas so responsveis pelos acontecimentos: o eu-narrador e a se nhora que d a receita. A histria contm ainda um clmax, isto , um ponto alto que coincide com a frase final: Mor-reram.

    Elementos da estrutura da narrativaO elemento mais importante de uma narrativa o enredo ou a histria. Em uma histria no h

    um caso, tem-se a ao da histria, que ocorre no tempo, feita por personagens em um determi nado meio ou espao onde vivem. Algum conta a histria: esse elemento o foco narrativo.

    Pargrafo e modalidades textuais 33

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  • Vamos ler o conto de Wander Piroli para detectar os elementos da narrativa.

    FestaAtrs do balco, o rapaz de cabea pelada e avental olha o crioulo de roupa limpa e remen-

    dada, acompanhado de dois meninos de tnis branco, um mais velho e outro mais novo, mas am-bos com menos de dez anos.

    Os trs atravessam o salo, cuidadosamente, mas resolutamente, e se dirigem para o c modo dos fundos, onde h seis mesas desertas.

    O rapaz de cabea pelada vai ver o que eles querem. O homem pergunta em quanto fica uma cerveja, dois guarans e dois pezinhos.

    Duzentos e vinte.

    O preto concentra-se, aritmtico, e confirma o pedido.

    Que tal o po com molho? sugere o rapaz.

    Como?

    Passaram o po no molho da almndega. Fica muito gostoso.

    O homem olha para os meninos.

    O preo o mesmo informa o rapaz.

    Est certo.

    Os trs sentam-se numa das mesas, de forma canhestra, como se estivessem fazendo pela pri-meira vez na vida.

    O rapaz de cabea pelada traz as bebidas e os copos e, em seguida, num pratinho, os dois pes com meia almndega cada um. O homem (mais do que ele) os meninos olham para dentro dos pes, enquanto o rapaz cmplice se retira.

    Os meninos aguardam que a mo adulta leve solene o copo de cerveja at a boca, depois, cada um prova o seu guaran e morde o primeiro bocado do po.

    O homem toma a cerveja em pequenos go les, observando criteriosamente o menino mais ve-lho e o menino mais novo absorvidos com o sanduche e a bebida.

    Eles no tm pressa. O grande homem e seus dois meninos. E permanecem para sempre, hu-manos e indestrutveis, sentados naquela mesa.

    Como se desenrola a ao?

    Observe que, no conto Festa, a histria co mea com a chegada do crioulo acompanhado de dois meninos.

    Depois de resolver o que comer, o rapaz de cabea pelada traz o pedido e eles comem. A ao obedece ao relgio: tudo marcha, tempo ralmente para frente. Tem comeo, meio e fim, nessa ordem. Esse tipo de tempo no qual se pas sa o enredo chamado de histrico ou cronol gico, porque, dentro da realidade ficcional (in ventada), real no a personagem pensan do no que aconteceu ou imagi-

    34 Comunicao Escrita

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  • nando o que po deria acontecer. Como no traz flashback (in terrupo para falar do passado), diz-se que essa narrativa linear.

    Os fatos do conto constituem a ao, que externa, pois o leitor poderia v-Ia como se fosse um fato real: os trs atravessam o salo [...], se dirigem para o cmodo dos fundos.

    H tambm um espao exterior, um meio no qual ocorrem os fatos. No um lugar fantsti co, onde se passam os sonhos de alguma perso nagem. Novamente visvel. possvel descre ver claramente tanto o lugar como os elementos que o constituem, at mesmo as roupas. Muitos outros detalhes caracterizam o bar e as perso nagens. O ambiente urbano no parece um bar de beira de estrada e simples.

    Quanto ao narrador, no h uma primeira pessoa que diz estar ali vendo ou agindo; h, sim, al-gum de fora, uma terceira pessoa. Observe tambm, que o narrador no emite opinies, ele se limita a narrar a histria; por isso, esse narrador est em terceira pessoa e observador dos fatos.

    Primeira pessoa: a narrativa contada sob o ponto de vista de um narrador-personagem, que participa da histria.

    Ex.: Eu e meu pai estvamos voltando para casa quando tropecei num bueiro...

    Terceira pessoa: a narrativa contada sob o ponto de vista de um narrador-observador, que no participa da histria, e que, por escolha prpria, pode opinar ou no.

    Ex.: Pai e filho estavam descendo a ladeira...

    O que descrever?Acompanhe a seguir os fragmentos extrados do romance O Cortio, de Alusio Azevedo.

    Trecho 1

    A primeira que se ps a lavar foi a Leandra, por alcunha a Machona, portu guesa feroz, berradora, pulsos cabeludos e grossos, anca de animal do campo.

    Trecho 2

    Ao lado de Leandra foi colocar-se sua tina a Augusta Carne-Mole, brasileira, bran ca, mulher de Alexandre, um mulato de qua renta anos, soldado de polcia, de grande bigode preto...

    Trecho 3

    Junto dela ps-se a trabalhar a Leucdia, mulher de um ferreiro chamado Bruno, por tuguesa pe-quena e socada, de carnes duras, com uma fama terrvel de leviana entre suas vizinhas.

    Trecho 4

    Seguia-se a Paula, uma cabocla velha, meio idiota, a quem respeitavam todos pelas virtudes de que s ela dispunha para benzer erisipelas e cor tar febres por meio de rezas e feitiarias. [...]. Chama-vam-lhe Bruxa .

    Esses textos so descritivos:

    mostram, figurativamente, como so as personagens (feroz, berradora, pequena, socada);::::

    retratam as personagens, sem se deterem no que elas esto fazendo (um mulato de quarenta ::::anos, pernstico);

    Pargrafo e modalidades textuais 35

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  • trabalham com apostos, isto , expli caes sobre o aspecto das persona gens (Augusta Carne-::::Mole, brasileira, branca).

    Descrio um modo de compor textos em que so expostas caractersticas de pessoas, ob jetos, situaes etc.

    As descries so, normalmente, construdas a partir de termos concretos (pulsos cabeludos; ::::grande bigode preto).

    Utilizam, preferencialmente, verbos de ligao (ser, estar, permanecer, ficar etc.):::::

    ngela tinha cerca de vinte anos; parecia mais velha pelo desenvolvimento das propor es. Grande, carnuda, sangnea, era um desses exemplares excessivos do sexo que pa recem conformados expressamente para esposas da multido [...] POMPIA, Raul. O Ateneu.

    O que dissertar?Leia o texto jornalstico a seguir, selecionado para voc compreender melhor as afirmaes que

    o seguem:

    Diga-me o que comes e te direi quem sCertamente, depois do idioma, a comida o mais importante elo entre o homem e a cultura.

    Comer serve para nutrir o corpo, nutrir o es prito e estabelecer contatos com os antepassa dos, com os deuses.

    No caso brasileiro, vem-se mesas identificadoras de diferentes matrizes tnicas, reunindo Oci-dente e Oriente.

    O portugus navegador aproximou o mundo, estreitando contatos entre os povos. Buscou especiarias, temperos exticos, frutas estranhas e, assim, incluiu na civilizao lusitana presenas da ndia, da Indonsia, da China, da frica, da Amrica.

    Procedentes do reino, Portugal, chegaram queijos, doces de ovos, acar, leite, bolos, man-jares e outras iguarias originais dos conventos medievais.

    No Brasil, os ndios, com alimentao base de farinha de mandioca, peixes, caas, mostram uma culinria ecolgica.

    Na costa da frica impera o dend, junta mente com inhames, bananas, pimentas, feijes entre outras delcias, como quiabo e camares.

    Como se o Brasil fosse um enorme caldei ro, convivem e misturam-se diferentes e sabo rosas contribuies gastronmicas.

    Comer antes de tudo uma forma de pra zer, at pelo olhar esttico sobre o alimento, que pode informar o significado do que se come e de como se come.

    36 Comunicao Escrita

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  • [...]

    A tradio convive com a mudana. Acarajs pequenos e iguais aos encontrados na costa oci-dental africana esto lado a lado, na Bahia [...].

    Assim, vivem as muitas mesas brasilei ras, e pluralizar, creio, a melhor receita para comer no Brasil.

    Raul Lody, antroplogo especializado nas relaes entre cultura e alimentao. Adaptado.

    O texto inicia analisando a funo da comida e estabelecendo elos entre o alimento e a cultura; depois, enfoca a comida brasileira, mostrando nela a influncia de Portugal e de outras partes do mun-do proporcionadas pelos portugueses. Adian te, cita a culinria ecolgica dos ndios e dos africanos. Apresentando a anlise do ato de co mer e a caracterizao das outras culinrias, o autor compara, ar-gumenta e conclui.

    Dissertar expor uma idia, argumentando, comparando, defendendo um ponto de vista.

    Veja quais so as principais caractersticas no texto dissertativo:

    um texto temtico, pois evolui a partir de um raciocnio: Certamente, depois do idioma, a ::::comida o mais importante elo entre o homem e a cultura.;

    um texto que analisa e interpreta, ao mesmo tempo: Comer serve para nutrir o corpo, nutrir ::::o esprito e estabelecer contatos com os an tepassados, com os deuses.;

    um texto que aponta para relaes lgi cas de idias faz comparaes, mostra corres-::::pondncias, analisa conseqncias: No caso brasileiro, vem-se mesas identificadoras de dife rentes matrizes t nicas, reunindo Ocidente e Oriente. Procedentes do reino, Portugal, chega ram queijos, doces de ovos, acar, leite, bolos, manjares e outras iguarias originais dos conventos medievais.;

    um texto que usa, preferencialmente, verbos no presente (mesmo que apare am outros ::::tempos verbais, o presente o mais constante). A comida o mais importante elo... Comer serve para nutrir... No caso brasileiro, vem-se mesas....

    Comparando os textos dissertativos, narrativos e descritivos podemos retomar alguns aspectos:

    Texto dissertativo Texto narrativo Texto descritivo

    Expe um tema, ex-

    plica, avalia, classifica,

    analisa.

    Expe um fato, rela-

    ciona mudanas de

    situao, aponta antes,

    durante e depois dos

    acontecimentos (geral-

    mente).

    Expe caractersticas

    dos seres ou das coisas,

    apresenta uma viso.

    um tipo de texto

    argumentativo.

    um tipo de texto

    seqencial.

    um tipo de texto

    figurativo.

    Pargrafo e modalidades textuais 37

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  • Texto complementarVamos nos deter num dos aspectos mais importantes da organizao do texto: o pargrafo. O

    pargrafo tem, antes de tudo, uma importncia visual. O texto dividido em pargrafos descansa a vista do leitor, im pedindo que o olhar se perca num emaranhado sem fim de linhas. Compare as duas formas seguintes:

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    fcil perceber que a pgina da esquerda graficamente pesada, pouco convidativa lei-tura. Certamente voc j deixou de ler muita coi sa simplesmente pela aparncia assustadora da pgina. J a pgina da direita, pela sua diviso em blocos graficamente destacados pela diferena da primeira linha, tem uma aparncia mais agrad vel, que ajuda o leitor a ler o texto.

    A disposio grfica do texto tem uma impor tncia fundamental, por exemplo, na publicidade, em que at o tipo, cor e forma de letra so impor tantes para criar significados. Do mesmo modo, a diagramao de jornais e revistas d uma grande importncia clareza grfica dos textos e fotos, para facilitar a vida do leitor. claro que, no uni verso da escrita, h uma infinita variedade de for mas de apresentao que devem se adequar sem pre aos objetivos do texto: um texto cientfico so bre algum assunto rido (por exemplo, a compo sio qumica de diferentes solos) ter um tra tamento diferente se for escrito para especialis tas (j que entendem do assunto) ou para leigos (que nunca pensaram nisso na vida!).

    A aparn cia grfica do texto e o prprio texto devem se adequar inteno, ao tipo de leitor que se pre tende atingir, ao assunto etc.

    verdade que, no nosso caso, trabalhamos com uma tecnologia um pouco diferente do nosso ge nial homem das cavernas que desenhou a primeira letra na pedra: caneta (ou lpis) e papel! Mes-mo com apenas esses dois recursos bsicos, o cuidado com a disposio grfica pode fazer uma enorme diferena do ponto de vista do leitor que, afinal o objetivo ltimo do nosso texto!

    38 Comunicao Escrita

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  • O primeiro cuidado o mais simples: preciso que os sinais escritos sejam legveis. Se o lei-tor no entende a letra que escrevemos, o texto j fracassou antes mesmo de comear. Do mesmo modo, os sinais de pontuao e acentuao devem ser claros. Bem, s vezes nosso objetivo no exatamente atingir o leitor, mas ganhar uma nota alta... da a estratgia de, por exemplo, colocar um pingo duvidoso numa palavra de acentuao duvidosa ou que parea um s naquelas malditas excees e, na dvida, quem sabe o mestre no desconte ponto?! Mas claro que esse no mais o nosso caso.

    O segundo cuidado grfico do texto manuscrito (e que faz muita diferena!) o pargrafo, como vimos nas figuras anteriores. Como voc j percebeu nos vrios textos lidos, no apenas o aspecto visual que define o pargrafo; tambm o seu contedo. Isto , o pargrafo uma sub-unidade de significado na unidade maior no texto. No se abre um novo pargra fo ao sabor do acaso ou simplesmente pelo nmero de linhas, mas porque se encerra um grupo de informaes e se inicia outro grupo de informaes, relacionado com o primeiro.

    Outro aspecto que deve ser lembrado de que no existe pargrafo padro, que sirva para qualquer tipo de texto. Na verdade, um pa rgrafo pode ser tanto uma longa seqncia de sentenas como uma nica palavra. Tudo vai depender da natureza do nosso texto.

    [...]

    FARACO, Carlos Alberto; TEZZA, Cristvo. Oficina do Texto. Adaptado.

    5. classificao

    A intencionalidade de produo

    Autor e leitor obedecem a determinadas formas, de acordo com as intenes de acordo e leitura. Os textos ficam marcados pela inteno. Escrever para determinado pblico entender o que esse pblico gosta de ler. Cada vez mais o uso da linguagem verbal vai ficando mais prxima da inteno da comunicao.

    6. classificao

    Alguns gneros na nossa sociedade

    Gneros adequados para linguagem falada:

    contos e narrativas populares;::::

    poemas, canes, quadrinhas, parlendas, adivinhas, trava-lnguas, piadas;::::

    saudaes, instrues, relatos;::::

    entrevistas, notcias, anncios (via rdio e televiso);::::

    seminrios, palestras.::::

    Gneros adequados para linguagem escrita:

    quadrinhos, textos de jornais (ttulos, notcias);::::

    receitas, instrues de uso, listas, textos impressos em embalagens;::::

    cartas, bilhetes, postais, cartes, convi tes, dirios (pessoais, de classe, de via gem etc.);::::

    Pargrafo e modalidades textuais 39

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  • anncios, slogans, cartazes e folhetos, canes, poemas, quadrinhas, adivinhas; contos;::::

    relatos histricos, textos de enciclopdia, verbetes de dicionrio, textos expostivos de di-::::ferentes fontes ou suportes, textos teatrais.

    7. classificao

    Escolhas enunciativas

    Voc conhece palavras ou expresses marcantes que iniciam certos gneros? Como voc ini-cia uma carta a uma amiga? E uma carta comercial? E uma histria infantil?

    Era uma vez..., Prezados senhores..., Com panheiros..., fazem lembrar gneros discursivos que so iniciados por tais expresses. Lendo ou escutando expresses assim, logo deduzimos qual ser o tipo de texto que segue. Por isso di zemos que o texto tem uma estrutura prpria e que essa estru-tura se relaciona com aquilo que esperamos.

    Determinados gneros, no entanto, podem ser usados com intenes diferentes das que nor-malmente conhecemos. Tudo depender a quem ser direcionado o texto e qual a sua inteno.

    Atividades1. Construa um pargrafo para a frase inicial, desenvolvendo-a e dando a concluso. (Coloque a

    frase inicial e levante hipteses fazendo a pergunta: Por qu? Com as respostas dadas, elabore mentalmente um pargrafo antes de escrev-lo.)

    Viver na cidade grande tornou-se muito perigoso.

    2. Reescreva o pargrafo a seguir, utilizando em relao palavra goiabeira os elementos de ligao que julgar necessrios. Voc poder eliminar a palavra goiabeira apenas duas vezes. No restante do texto, voc poder substitu-Ia por outras palavras.

    40 Comunicao Escrita

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  • A goiabeira atinge oito metros de altura por at trinta centmetros de dimetro. A goia beira no tem utilidade em termos de aproveitamento da madeira e de sombreamento, mas os frutos fazem da goiabeira uma importante fonte de renda. Recentemente, a goiabeira tem sido aproveitada com su-cesso para reflorestamento, j que a goiabeira se revelou uma excelente pioneira. A goiabeira cresce em todas as regies do Brasil, desde a Amaznia at So Paulo.

    Trecho adaptado do Guia Rural.

    3. Faa o mesmo com o pargrafo a seguir. Nele, h uma adaptao de um trecho do livro Clarissa, de Erico Verissimo. Ateno: h duas palavras que devem ser substitudas, em determinados momen tos, por outros elementos equivalentes a ela. So Clarissa e luar. Aps essas substituies, voc chegar forma mais prxima do pargrafo original do livro mencionado.

    Clarissa infla as narinas. Parece a Clarissa que o luar tem um perfume todo especial. Se Clarissa pudesse pegar o luar, fechar o luar na palma da mo, guardar o luar numa caixinha ou no fundo de uma gaveta para soltar o luar nas noites escura... Como bonito o luar! Parece que as rvores esto borrifadas de leite.

    4. Proposta de redao:

    a) Junte coerentemente alguns dos trechos disponveis na coletnea 1 de modo a compor com a sua escolha um pequeno texto dissertativo (s vezes, o trecho se inicia com letra maiscula: despreze o fato). Se necessrio, faa adaptaes, use conetivos e acrescente informaes.

    b) Escolha na coletnea 2 um ttulo para o seu texto.

    Coletnea 1

    Quando se descobre que jovens asiticos batem em seus colegas americanos em conhecimen to adquirido, procuram-se motivos nica e exclusivamente na escola, nunca na sociedade.

    O Estado de S. Paulo.

    Pargrafo e modalidades textuais 41

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  • Prestes a ingressarmos no terceiro milnio, um olhar para o sculo XX nos descortina um per odo de extremas contradies...

    Revista de Comunicao.

    O homem pode criar milhes de mquinas. Entretanto, milhes de mquinas criaro o homem.

    Augusto Marzago.

    ... Vimos os homens quase levando o planeta hecatombe nuclear...

    ...medido pelos seus efeitos, ter sido o sculo da violncia e da injustia, sacudido por duas guerras mundiais apocalpticas.

    Coletnea 2

    Para sair do sculo XX

    Bens da educao

    O transtornado sculo XX

    Escalada vertiginosa

    A sada, onde est a sada?

    42 Comunicao Escrita

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  • 5. (Unicamp adap.) Umberto Eco, em Ps-escrito a O nome da rosa faz a seguinte reflexo acerca do ato de narrar:

    Entendendo que para contar necessrio primeiramente construir um mundo, o mais mo-biliado possvel, at os ltimos pormenores. Constri-se um rio, duas margens esquerda coloca-se um pescador, e se esse pescador possui um temperamento agressivo e uma folha penal pouco limpa, pronto: pode-se comear a escrever, traduzindo em palavras o que no pode deixar acontecer.

    Escreva uma narrativa utilizando os dados iniciais fornecidos por Umberto Eco. Imagine o nome do pescador, o nome do rio, os problemas da folha penal etc. D um ttulo narrativa.

    Pargrafo e modalidades textuais 43

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  • 44 Comunicao Escrita

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  • Informao, opinio e dissertao

    Texto de informaoVamos agora abordar um tipo de texto muito importante, porque quase todos os textos que se

    escrevem se baseiam nele: o texto de informao.

    Podemos entender por texto de informao aquele texto que tem por objetivo central in formar ao leitor algum ou alguns fatos.

    O texto de informao nos interessa princi palmente por duas razes:

    o tipo de texto que encontramos com freqncia. A informao pode ser polti ca, tcnica, ::::publicitria, cientfica, cultural etc. Ocupa um grande espao na vida moderna, pois quem no se informa aca ba se complicando na vida por no ter, ou no encontrar, solues para os pro-blemas do cotidiano;

    pelo seu volume, tambm o melhor tex to que se enquadra ao sistema da lngua escrita; o ::::seu uso dirio pelos meios de comunicao impressos criou uma refe rncia poderosa e no pode mais ser des prezado pela gramtica. Apresenta noo de texto, funes da linguagem, aspectos estruturais, como qualquer outro texto de valor literrio.

    Texto de opinio preciso ficar atento ao fato de que no exis te informao pura. A simples escolha do que se

    vai informar j indica um ponto de vista sobre o que importante e o que no importante. Por isso, devemos observar, ao realizarmos uma leitu ra de um texto informativo, quando ele se torna tambm um texto opinativo. Vejamos alguns ele mentos que caracterizam o texto opinativo.

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  • A opinio, o direito opinio e sua amplitu de impressa e, principalmente, o acesso diversi-dade de opinies (o que diz respeito tambm ao direito de acesso educao em todos os nveis) so aspectos fundamentais das sociedades (gru pos de pessoas) modernas. E nesse terreno argumentativo (toda opinio consistente supe argumentos) o texto escrito absolutamente insubstituvel.

    Temos milhares de informaes simultneas de minuto em minuto a televiso nos bombar deia diariamente com informaes; o sistema te lefnico nos permite a comunicao a longa dis tncia; a internet nos proporciona tambm um grande nmero de informaes em uma velocidade e proporo muito grande , embora essas informaes cotidianas nos transformem em uma es pcie de cidados do mundo, mesmo assim no nos garantem nenhuma solidez argumentativa.

    O texto de opinio sempre uma das cha ves, centrado sobre algum tema especfico, que ir nos propor uma resposta ativa diante de qual quer fato ou acontecimento. Seu ponto de partida a infor-mao (texto informativo), ainda que em estado bruto. A par tir de algumas informaes avulsas sobre um de terminado assunto, o texto opinativo procura dar sentido a elas, afinal, as informaes tm signifi-cado, mas podem nos levar a diversas concluses. possvel tambm que o texto de opinio nos leve dvida, que no conclua isso ou aquilo simples mente. Muitas vezes, ele assume um ponto de vista, que pode se chocar contra outros pontos de vista. Da a resposta ativa que a opinio exige: no estamos mais simplesmente absorvendo infor maes, mas pensando sobre elas.

    Os textos de opinio so to amplos como a natureza humana. Fazem parte de um dilogo con-temporneo (moderno) que levam e apresen tam argumentos em torno de questes que nos dizem respeito ao tempo presente, no espao pre sente, dirigindo-se a uma comunidade que nos rodeia, mas que pode ser influenciada por qualquer informao do passado temos, por exemplo, um ensaio cien-tfico, com linguagem especializada, defendendo uma nova abordagem para um assun to j retratado no passado.

    No texto de opinio, o aspecto de maior rele vncia convencer o leitor de um determinado pon-to de vista. Observe a diferena entre o texto informati vo e opinativo nos textos a seguir:

    Texto 1

    Participantes da So Silvestre j podem pegar kitOs 15 mil participantes da tradicional corri da de So Silvestre j podem retirar, no ginsio do

    Ibirapuera, o kit para a prova do dia 31 deste ms, em So Paulo.

    O ginsio fica na Rua Manoel da Nbrega, 1371, e estar aberto aos atletas de hoje at quinta-feira, das 10h s 18h.

    O kit contm o nmero de inscrio, um ma nual e a camiseta de corrida, alm de um chip que colocado no tnis para marcar o tempo do participante. O chip testado no momento da re tirada.

    A prova feminina da So Silvestre tem in cio s 15h15 do dia 31, e a masculina, s 17h. A larga-da acontece na Avenida Paulista, em frente ao Masp.

    Disponvel em: . Acesso em: 27 dez. 2004.

    46 Comunicao Escrita

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  • Texto 2

    Os gordos e os idiotasPor muito tempo, vamos ter de lembrar des sa pesquisa sobre nutrio, divulgada pelo IBGE,

    mostrando que no somos uma nao de desnu tridos (embora esse problema ainda afete vergo-nhosamente milhes de pessoas), mas de obe sos. Foi o melhor exemplo j produzido que se tem notcia de um equvoco social: afinal, o go verno chegou a falar em quarenta e cinco rni lhes de famintos ao lanar, com estardalhao, o Fome Zero e fazer disso uma bandeira de marketing. O cidado foi feito de idiota.

    Se tivessem feito erro dessa magnitude em poltica econmica, estaria naufragando, por exem-plo, numa inflao em disparada, fuga de dinheiro, e por a vai. O ponto: as polticas soci ais devem seguir o mesmo rigor das polticas eco nmicas.

    Precisamos monitorar indicadores como desnutrio, evaso escolar, aprendizado, abor tos, mortalidade infantil etc., assim como monitoramos a balana comercial, o emprego, a inflao.

    S assim sairemos da fase da idiotice de pro jetos sociais, muitos dos quais so amadores e ine-ficientes que se imaginam bons apenas pelas suas boas intenes.

    DIMENSTEIN, Gilberto. Folha de S.Paulo, 20 dez. 2004.

    Com a leitura dos textos, voc deve ter ob servado que o texto 1 tem por objetivo apresentar simplesmente informaes a um pblico leitor es pecfico. J o texto 2 possui um tipo de linguagem diferente, que tem por objetivo a defesa de uma opinio a partir do simples fato de uma informa o e apontando um ponto de vista e a reflexo do assunto abordado.

    Dissertao: o texto de opinio

    O que vem a ser o ato de dissertar?As pessoas, particularmente os estudantes, esto habituadas a ouvir falar em dissertao na esco-

    la, mais especificamente na aula de redao, porm, parece que no se do conta de que a disser tao est presente em vrias situaes da vida cotidiana.

    Toda vez que discutimos um assunto qualquer, um filme ou um show, estamos fazendo disserta-o. Nas discusses das aulas de Histria, Geo grafia, Literatura, ou mesmo em uma charge ou em um cartum esto sempre presentes elementos dissertativos. Dissertar , pois, discutir, expor ou comentar uma determinada idia.

    Ento, qual a diferena entre uma conver sa de bar e uma dissertao? Em um bar, as pessoas emitem opinies e nem sempre h necessidade de detalhar as razes pe las quais pensam desta ou da-quela maneira. J em um texto dissertativo, necessrio argumentar da forma mais clara possvel para que o leitor possa compreender o ponto de vista de quem escreve.

    Informao, opinio e dissertao 47

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  • a atitude da escrita da dissertao, que nos permite fazer o uso da linguagem a fim de expor idias, desenvolver raciocnios, encadear argu mentos, atingir concluses. Os textos dissertativos so produtos dessa atitude e participam ativamente do uso dirio da fala e da escrita.

    A elaborao de textos dissertativos escritos implica o domnio das formas de funcionamento prprias da lngua escrita, assim como outros as pectos dos quais dependem a organizao desse tipo de texto.

    Ao estruturarmos uma dissertao temos que dispor de trs momentos que so importantes para o bom entendimento do texto. So estes:

    introdu:::: o o ponto de partida do texto. Por isso deve apresentar de maneira cla ra o as-sunto a ser tratado e tambm deli mitar as questes referentes sobre o as sunto que sero abor-dadas. Dessa forma, a introduo encaminha o leitor, colocan do-lhe a orientao necessria para o desenvolvimento do texto. Ao construir a introduo do seu texto, voc pode utilizar recursos que despertem o interesse do leitor: formular uma tese, que dever ser discutida e provada pelo texto; lanar uma afirmao surpreendente, que o restante do texto tratar de justificar; propor uma pergunta, cuja resposta ser dada no de senvolvimento e explicitada na concluso.

    desenvolvimento:::: a parte do texto em que as idias, conceitos, informaes, ar gumentos de que voc dispe sero desen volvidos, de forma organizada e criteriosa. O desenvolvimen-to deve nascer da intro duo, apontando questes relativas ao as sunto que ser abordado; essas questes devem ser desenroladas e avaliadas sem pre por partes, de forma gradual e progres siva. O contedo do desenvolvimento pode ser organizado de diferentes maneiras, de acordo com as propostas do texto e as informaes disponveis.

    concluso:::: a parte final do texto, um resumo forte e sucinto de tudo aquilo que j foi dito. Alm desse resumo que reto ma e condensa o contedo anterior do tex to, a concluso deve expor claramente uma avaliao final do assunto discutido. Nesta parte, tambm se pode fa-zer pro postas de ao (que no devem adquirir formas de profecia adivinhaes).

    Embora no haja receitas, alguns procedimen tos bsicos podem ajud-lo a se expressar melhor na dissertao:

    anote tod:::: as as idias, frases, palavras, sensaes que surgiram sobre o tema. No se deixe travar. No censure nada, essa livre associao de idias bastante utili zada na redao dos jornais e nas propa gandas. Comece a fazer isso e veja como funciona;

    faa uma seleo das idias que surgirem. O esprito crtico s entra em ao neste segundo ::::momento;

    pense em um plano para seu texto: escolha a introduo, o desenvolvimento e a con cluso;::::

    redija o texto; ::::

    escolha um ttulo;::::

    releia vrias vezes, observando a coern cia, a fluncia da linguagem e a adequa o do voca-::::bulrio;

    faa a correo gramatical: principalmen te ortografia, concordncia e pontuao;::::

    p:::: asse a limpo sua dissertao.

    48 Comunicao Escrita

    Esse material parte integrante do Curso de Atualizao do IESDE BRASIL S/A, mais informaes www.iesde.com.br

  • Mantenha-se informado, leia jornais diaria mente, revistas e outros meios de comunicao atual e escreva bastante. S se aprende a escrever, lendo e escre vendo!

    Introduo

    Apresentao da idia

    central.

    Daqui a pouco tempo, muito menos que pode-

    mos imaginar, quem no dominar a informtica

    no encontrar lugar no mercado de trabalho.

    Mesmo se estiver procura de uma vaga como

    office-boy.

    Introduo

    Neste primeiro pargrafo, lana-se a idia

    de que, em pouco tempo, quem no do-

    minar a informtica no encontrar lugar

    no mercado de trabalho. Essa pode ser

    considerada a idia central do texto.

    Desenvolvimento

    Defesa da idia central

    por meio de argumen-

    tos que a comprovem

    (exemplos, comparaes

    e outras informaes).

    Apresentao das causas

    e conseqncias do as-

    sunto em discusso.

    Nos Estados Unidos, e de maneira crescente no

    Brasil, qualquer profissional autnomo que se

    preze faz pesquisa na internet. Mais e mais, a

    casa vira escritrio e o contato com o mundo

    exterior se d pela rede de computadores. Hoje,

    muitas ofertas de emprego so feitas eletronica-

    mente. O interessado em uma nova colocao

    entra na internet e consulta as pginas eletr-

    nicas das empresas que lhe interessam. Quem

    no tiver acesso a um computador j reduz suas

    chances de emprego pela metade.

    Desenvolvimento

    1. Argumento

    Neste pargrafo, procura-se firmar a idia

    cen