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COMUNICAÇÃO ORAL CIÊNCIAS HUMANAS, SOCIAIS APLICADAS, LINGUÍSTICAS, LETRAS E ARTES 3.1 FILOSOFIA, SOCIOLOGIA GENERO E LOUCURA: CONSIDERAÇÕES SOBRE SABER MÉDICO E PADRONIZAÇAO SOCIAL Fernando José Ciello....................................................................................................................01 MENINOS NEGROS NA FASE: DISCURSOS SOBRE MASCULINIDADE E SOCIABILIDADE VIOLENTA Fátima Sabrina da Rosa; Jaqueline Costa da Rosa.......................................................................05 NOVAS TEORIAS E NOVAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES Ana Paula de Oliveira; Amarildo Luiz Trevisan..........................................................................09 O PAPEL DA DIALOGICIDADE E DA TOLERÂNCIA NA AÇÃO POLÍTICA Maricélia Pereira Gehlen; Gabriela D’Ávila Schüttz...................................................................13 3.2 ANTROPOLOGIA, ARQUEOLOGIA, MUSEOLOGIA NARRATIVAS ORAIS E EVENTOS REMEMORADOS DE LÍDERES E LIDERANÇAS KAINGANG E GUARANI Nádia Philippsen Fürbringer.........................................................................................................16 3.3 - HISTÓRIA, GEOGRAFIA A FESTA DE NOSSA SENHORA DAS ÁGUAS (IVATUBA- PARANÁ). João Paulo P. Rodrigues;Sandra C. A. Pelegrini .........................................................................20 A PRÁXIS EDUCACIONAL INTERATIVA EM SALA DE AULA:A IMIGRAÇÃO POLONESA EM GUARANI DAS MISSÕES/RS COMO PROPOSTA DE ENSINO Aline Carlise Slodkowski; Meri Lourdes Bezzi...........................................................................23 ANÁLISE DA MANIFESTAÇÃO CULTURAL DA FARRA DO BOI NA REGIÃO DE GOVERNADOR CELSO RAMOS A PARTIR DO RELATO DOS NATIVOS, DESCENDENTES DE AÇORIANOS. Erica de Oliveira Gonçalves……………………………………………………………….....…27 ARQUIVOS DA MEMÓRIA: ORDENAÇÃO, HIGIENIZAÇÃO E TRATAMENTO DOS AUTOS DA VARA CIVIL DA COMORCA DE CAMPO MOURÃO (1974 -1976) Karoelen Ramos Santos ...............................................................................................................30 AS REPERCUSSÕES DA UTILIZAÇÃO DO TESTE DE DNA PELO PODER JUDICIÁRIO EM PROCESSOS DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE (FLORIANÓPOLIS 1980 2008) Giovanna Maria Poeta Grazziotin................................................................................................33 “BATIZEI SOLENEMENTE A FULANO, FILHO DE TAL”: O USO DE HOMÔNIMOS NOS BATISMOS EM PORTO ALEGRE (1772-1801) Nathan Camilo..............................................................................................................................37

Comunicacao Oral Humanas

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  • COMUNICAO ORAL CINCIAS HUMANAS, SOCIAIS APLICADAS, LINGUSTICAS, LETRAS E ARTES

    3.1 FILOSOFIA, SOCIOLOGIA

    GENERO E LOUCURA: CONSIDERAES SOBRE SABER MDICO E

    PADRONIZAAO SOCIAL

    Fernando Jos Ciello....................................................................................................................01

    MENINOS NEGROS NA FASE: DISCURSOS SOBRE MASCULINIDADE E

    SOCIABILIDADE VIOLENTA

    Ftima Sabrina da Rosa; Jaqueline Costa da Rosa.......................................................................05

    NOVAS TEORIAS E NOVAS PRTICAS NA FORMAO DE PROFESSORES

    Ana Paula de Oliveira; Amarildo Luiz Trevisan..........................................................................09

    O PAPEL DA DIALOGICIDADE E DA TOLERNCIA NA AO POLTICA

    Mariclia Pereira Gehlen; Gabriela Dvila Schttz...................................................................13

    3.2 ANTROPOLOGIA, ARQUEOLOGIA, MUSEOLOGIA

    NARRATIVAS ORAIS E EVENTOS REMEMORADOS DE LDERES E LIDERANAS

    KAINGANG E GUARANI

    Ndia Philippsen Frbringer.........................................................................................................16

    3.3 - HISTRIA, GEOGRAFIA

    A FESTA DE NOSSA SENHORA DAS GUAS (IVATUBA- PARAN).

    Joo Paulo P. Rodrigues;Sandra C. A. Pelegrini .........................................................................20

    A PRXIS EDUCACIONAL INTERATIVA EM SALA DE AULA:A IMIGRAO

    POLONESA EM GUARANI DAS MISSES/RS COMO PROPOSTA DE ENSINO

    Aline Carlise Slodkowski; Meri Lourdes Bezzi...........................................................................23

    ANLISE DA MANIFESTAO CULTURAL DA FARRA DO BOI NA REGIO DE

    GOVERNADOR CELSO RAMOS A PARTIR DO RELATO DOS NATIVOS,

    DESCENDENTES DE AORIANOS.

    Erica de Oliveira Gonalves.....27

    ARQUIVOS DA MEMRIA: ORDENAO, HIGIENIZAO E TRATAMENTO DOS

    AUTOS DA VARA CIVIL DA COMORCA DE CAMPO MOURO (1974 -1976)

    Karoelen Ramos Santos ...............................................................................................................30

    AS REPERCUSSES DA UTILIZAO DO TESTE DE DNA PELO PODER

    JUDICIRIO EM PROCESSOS DE INVESTIGAO DE PATERNIDADE

    (FLORIANPOLIS 1980 2008) Giovanna Maria Poeta Grazziotin................................................................................................33

    BATIZEI SOLENEMENTE A FULANO, FILHO DE TAL: O USO DE HOMNIMOS NOS BATISMOS EM PORTO ALEGRE (1772-1801)

    Nathan Camilo..............................................................................................................................37

  • CONFLITOS INTERTNICOS E CRIMINALIDADE EM PORTO ALEGRE (1890-

    1909)

    Carlos Eduardo Millen Grosso..40

    DISCURSOS BURGUESES DE CONFORMAO DA MORAL TRABALHISTA: 1970-

    2000, O CASO DE DANIEL GODRI.

    Vanessa Caroline da Cruz; Hernn Ramiro Ramrez......43

    ENTRE O LUGAR E O MUDAR: COTIDIANO E RENEGOCIAES RELIGIOSAS

    EM UMA COMUNIDADE ORTODOXA UCRANIANA

    Paulo Augusto Tamanini.........46

    HISTRIA, TEATRO E PRODUO CINEMATOGRFICA. ALCIONE ARAJO E

    AS MOAS DE FINO TRATO (1974 e 1993) Ester Cristiane Da Silva................................................................................................................49

    NEGROS INVISVEIS: UM ESTUDO SOBRE A COMUNIDADE QUILOMBOLA

    MORRO DO BOI, BALNERIO CAMBORI, SC

    Prof. Dr. Paulino de Jesus Francisco Cardoso; Mariana Schlickmann........................................53

    3.4 PSICOLOGIA E EDUCAO

    A MEMRIA COMO FORMAO: PENSAMENTOS ACERCA DO PROCESSO

    FORMATIVO/REFLEXIVO DE ALFABETIZADORAS RURAIS

    Julia Bolssoni Dolwitsch; Mariane Bolzan; Thas Virginea Borges Marchi; Helenise Sangoi

    Antunes.56

    COISAS DE MENINOS E MENINAS: DISCUTINDO GNERO NOS GRUPOS

    ESCOLARES DE FLORIANPOLIS (1911 1935) Ivan Vicente de Souza; Gladys Mary Ghizoni Teive...................................................................60

    DESAFIOS E ESPECIFICIDADES DA FORMAO DE PROFISSIONAIS

    DEDICADOS EDUCAO DE CRIANAS ENTRE O 0 E OS 3 ANOS.

    Ramona Correia Rosado Freitas; Elieuza Aparecida de Lima.................................................62

    ENTRE IMPRESSES DE ESTUDANTES E PROFESSORES: UM ESTUDO SOBRE O

    USO DAS TIC NA FORMAO INICIAL DE PROFESSORES NAS UNIVERSIDADES

    PBLICAS EM SANTA CATARINA

    Rafael da Cunha Lara; Elisa Maria Quartiero..............................................................................65

    ESCOLA E JOVENS PRIVADOS DE LIBERDADE: DESVENDANDO SENTIDOS

    Morgana Bozza; Nilda Stecanela...........................................................................................69

    FERRAMENTAS COGNITIVAS E PLANEJAMENTO CURRICULAR INTEGRADO

    NA FORMAO INICIAL DE PROFESSORES PARA O ENSINO DE CINCIAS.

    Juliane Nacari Magalhes; Elisa Maria Quartiero........................................................................71

    LABORATRIO DE AUDIOVISUAL NA ESCOLA

    Raquel Guerra; Ladio Martins...75

    NECESSIDADES DE PESQUISA EM ENSINO DE SOCIOLOGIA: A QUESTO

    DIDTICA

    Ariane Wollenhoupt da Luz Rodrigues; Estela Maris Giordani..................................................78

  • PESQUISAS DESENVOLVIDAS LUZ DE TEORIA DE REPRESENTAO

    SEMITICA NO CAMPO DA EDUCAO MATEMTICA EM RELAO AOS

    OBJETOS E ELEMENTOS DOS PROCESSOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM DA

    MATEMTICA.

    Rosana Antunes Dorada; Clia Finck Brandt ..............................................................................82

    TEMAS DAS PESQUISAS DESENVOLVIDAS NO CAMPO DA EDUCAO

    MATEMTICA LUZ DE UMA TEORIA DE REPRESENTAES SEMITICAS

    Glaucia Rochinski; Clia Finck Brandt .......................................................................................86

    TEORIA DA INTERAO A DISTNCIA E OS DESAFIOS PEDAGGICOS NESTA

    MODALIDADE

    Alexandre Motta; Jos Andr Peres Angotti................................................................................89

    3.5 CINCIA POLITICA, TEOLOGIA, DIREITO

    A FUNO SOCIAL DA EMPRESA NA CONSTITUIO FEDERAL DE 1988 E A

    ECONOMIA DE COMUNHO: UMA APROXIMAO POSSVEL.

    Maria Helena Ferreira Fonseca Faller; Luan Kirchhoff ..............................................................91

    AS IMPLICAES DA LGICA E DA RETRICA NO DISCURSO JURDICO

    Brunno Silva dos Santos ..............................................................................................................95

    CIDADANIA, DIREITO COSMOPOLITA E IMIGRAO: REFLEXES A PARTIR

    DE H. ARENDT E S. BENHABIB

    Raissa Wihby Ventura; Raquel Kritsch .......................................................................................98

    O DIREITO FUNDAMENTAL A UMA TUTELA TEMPESTIVA: A ANTECIPAO

    DE TUTELA COMO CONCRETIZAO DA DEMOCRACIA PARTICIPATIVA

    Dbora Bs e Silva; Paola Leonetti ...........................................................................................102

    UMA DISCUSSO SOBRE O CONCEITO DE DEMOCRACIA DELIBERATIVA.

    Brbara Cristina Mota Johas..........106

    3.6 LINGUISTICA, LETRA E ARTES

    A PRODUO DO ROMANCE DE AUTORIA FEMININA NO PARAN

    Adriana Lopes de Araujo............................................................................................................110

    ANLISE DE DICIONRIOS DESTINADOS S TURMAS DE ALFABETIZAO

    Janina Antonioli; Flix Valentn Bugueo Miranda .................................................................114

    CONTEMPLAO E PARTICIPAO: CONSIDERAES SOBRE A RECEPO

    NA ARTE CONTEMPORNEA

    Paula Cristina Luersen ..116

    FRANKLIN JOAQUIM CASCAES E A CIDADE DE FLORIANPOLIS:IMAGENS

    ALM DO MITO E MAGIA

    Aline Carmes Krger .................................................................................................................120

    HISTRIA, NARRAO E LITERATURA: UM DILOGO PRESENTE EM OBRAS

    DA COLEO BIBLIOTECA DA ESCOLA

    Eloisa da Rosa Oliveira; Gladir da Silva Cabral .......................................................................122

  • IMAGEM E PALAVRA: UM ESTUDO DO DESENHO INFANTIL EM UM CASO DE

    SURDEZ PROFUNDA

    Liane Carvalho Oleques ............................................................................................................126

    NARRATIVA E ENSINO DE INGLS NA ESCOLA PBLICA

    Rachel Mattos Bevilacqua .........................................................................................................130

    O ESTADO DA ARTE DAS TESES ACADMICAS QUE ABORDAM ARTE E

    INCLUSO. UM RECORTE DE 1998 A 2008 NO BRASIL

    Cristiane Higueras Sim; Maria Cristina da Rosa Fonseca da Silva .........................................132

    O PAPEL DO DIRETOR NO TEATRO DE BONECOS

    Elisza Peressoni Ribeiro; Prof. Dr. Valmor Nini Beltrame; Alex de Souza...........................135

    O TEATRO EM COMUNIDADES PERIFRICAS DE DIADEMA NOS VIOLENTOS

    ANOS 1990: A EXPERINCIA DO GRUPO JOVENS ATORES

    Clber Pereira Borge; Mrcia Pompeo Nogueira.......................................................................139

    OS GNEROS TEXTUAIS NOS LIVROS DIDTICOS DE LNGUA ESPANHOLA

    ngela Cristina Di Palma Back; Katiana Possamai Costa ........................................................143

    POLTICAS LINGUSTICAS: INTERFACES ENTRE O ACORDO ORTOGRFICO E

    A INFLUENCIA DA MDIA NO ENSINO DA LNGUA PORTUGUESA NO BRASIL

    Lisiane De Cesaro ......................................................................................................................147

    PRODUO DE VDEO EM AVA: UMA PORTA ABERTA PARA A

    APRENDIZAGEM DO ESPANHOL EM CURSO SUPERIOR

    Anglica Ilha Gonalves; Vanessa Ribas Fialho .......................................................................151

    RELATOS E PRTICAS REGIONAIS: O LISO DO SUSSUARO

    Andr Tessaro Pelinser; Joo Claudio Arendt............................................................................154

    REPRESENTAES CULTURAIS NO GIRAMUNDO TEATRO DE BONECOS: UM

    OLHAR DE BRINCANTE SOBRE OS TEXTOS, PERSONAGENS E TRILHAS

    SONORAS DE UM BA DE FUNDO FUNDO, COBRA NORATO E OS ORIXS.

    Luciano Oliveira ...158

    TEATRALIDADE E DANA. PROCEDIMENTOS DE PRODUO E PERCEPO

    Jussara Xavier ............................................................................................................................162

    TRADUO DA OBRA UN DRAMA NUEVO DE MANUEL TAMAYO Y BAUS: A

    IMPORTNCIA E AS DIFICULDADES DE TRADUZIR TEATRO

    Ana Celina Quevedo Salles; Luciana Ferrari Montemezzo ......................................................165

    TRNSITO MARGEM DO LAGO SOBRE EXTENSO DA AO ARTSTICA EM

    ESPAOS/TEMPO DIVERSOS

    Claudia Teresinha Washington ..................................................................................................169

    UM IDIA DE MUSEU DE ARTE

    Ana Lucia Moraes de Oliveira; Sandra Makowiecky ...............................................................173

    UMA INVESTIGAO FUNCIONALISTA DOS MEIOS DE EXPRESSO DA

    RELAO RETRICA DE CIRCUNSTNCIA EM ELOCUES FORMAIS

    Solane Montenegro de Souza Rezende Pedroso .......................................................................176

  • 3.7 ADMINISTRAO, ECONOMIA

    ABORDAGENS SOBRE A GESTO DE REDES PBLICAS DE COOPERAO

    Karina Martins da Cruz .............................................................................................................180

    ANLISE DAS HABILIDADES COGNITIVAS REQUERIDAS DOS ACADMICOS

    DO CURSO DE GRADUAO EM ADMINISTRAO DA UNESC, UTILIZANDO-SE

    DOS INDICADORES FUNDAMENTADOS NA TAXIONOMIA DE BLOOM

    Beatriz Casagrande de Assis; Edi Rus Junior ..........................................................................184

    COMPETNCIAS PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL: UMA ANLISE

    A PARTIR DAS PREMISSAS DA ECOEFICINCIA.

    Luciano Munck; Brbara Galleli Dias; Rafael Borim de Souza ...............................................186

    INTERNACIONALIZAO DE EMPRESAS: O CASO DE UMA EMPRESA

    CATARINENSE DE TECNOLOGIA

    William Ramos; Thiago Caon ...................................................................................................190

    O CONTEXTO AMBIENTAL E AS MUDANAS ORGANIZACIONAIS NO SETOR

    DE C&T AGRCOLA NO PARAN

    Gustavo Matarazzo Rezende; Elisa Yoshie Ichikawa ...........................................................194

    3.8 TURISMO, ARQUITETURA, PLAN, URBANISMO, DEMOG

    ARQUITETURA MODERNA NA SERRA GACHA: TIPOLOGIA RESIDENCIAL

    UNIFAMILIAR

    Bruna Rafaela Fiorio; Ana Elsia da Costa; Monika Maria Stumpp .........................................197

    3.9 CINCIA DA INFORMAO, COMUNICAO

    ANLISE DA PESENA DE FUNGOS NO ACERVO DO DEPARTAMENTO DE

    ARQUIVO GERAL: UM PROGRAMA DE PRESERVAO DA MEMRIA DA

    UFSM.

    Dbora Flores; Carlos Blaya Perez ............................................................................................200

    ATUAO DA ALA (AMERICAN LIBRARY ASSOCIATION) NO SECOND LIFE

    Richele Grenge Vignoli ...203

    DIVULGAO DA MARCA INSTITUCIONAL EM MEIOS DIGITAIS:

    COMUNICAO E SUSTENTABILIDADE.

    Amanda Pires Machado; Richard Perassi Luiz de Sousa ..........................................................206

    TERCEIRA IDADE E INTERNET: A CONTRIBUIO DO WEBJORNALISMO

    PARTICIPATIVO PARA A CIDADANIA

    Weslley Dalcol Leite; Maria Lcia Becker ...............................................................................210

    3.10 SERVIO SOCIAL, ECONOMIA DOMESTICA

    ASSESSORIA E FORUM PERMENENTE DA PESSOA IDOSA REGIO DOS CAMPOS GERAIS-PR

    Cecimara Anair Mariano; Dbora Puchalski Bronoski; Thaize Carolina Rodrigues de Oliveira;

    Mrcia Sgarbieiro; Maria Iolanda de Oliveira ...........................................................................213

  • SOCIEDADE CIVIL E PARTICIPAO NO MERCOSUL: UM DEBATE

    CONTEMPORANEO.

    Luciane Kulek; Danuta Estrufica Cantoia Luiz .........................................................................217

    3.11 OUTRAS

    A PESSOA IDOSA E SEU CONTEXTO: UM ESTUDO SOBRE A SITUAO DO

    IDOSO NA CIDADE DE CRICIMA-SC

    Diego Destro; Silvana de Souza Policarpi; Teresinha Maria Gonalves ..................................220

    A PRODUO DE UM MODELO DE DOCNCIA: UM ESTUDO SOBRE

    LITERATURA DE FORMAO REFERENCIADA EM CURSOS DE MAGISTRIO,

    NVEL MDIO, DO RIO GRANDE DO SUL

    Maria Renata Azevedo; Lus Henrique Sommer .......................................................................224

    A RELAO MULHER-CORPO-PUBLICIDADE LEITURA DA PUBLICIDADE NOS

    ANOS 1920 E 1950 NA REVISTA O CRUZEIRO Lais Hermann Mendes; Liliane Edira Ferreira Carvalho ..........................................................227

    A TEMTICA INDGENA NA ATUAO DO DOCENTE COM BASES

    ETNOGRFICAS E BIBLIOGRFICAS A PARTIR DA VISITA ALDEIA GUARANI

    NO MORRO DOS CAVALOS.

    Erica de Oliveira Gonalves .231

    DESENVOLVIMENTO DE UM JOGO EDUCATIVO SOBRE POLUIO SONORA

    PARA CRIANAS DE AT 10 ANOS

    Jonas Pinheiro Viana; Stephan Paulo.........................................................................................234

    ENTRE FORMAS E SENTIDOS UMA LEITURA DA DCADA DE 1980 A PARTIR DE

    FRASCOS DE PERFUME

    Larissa Lehmkuhl; Liliane Edira Ferreira Carvalho ..................................................................238

    TROCANDO DE PESCOO: AS GRAVATAS E A LEGITIMIDADE SOCIAL EM FINS

    DO SCULO XX

    Virginia Therezinha Kestering; Liliane Edira Ferreira Carvalho ..............................................243

    VESTIDA DE SONHOS: O UNIVERSO SIMBLICO DAS NOIVAS GESONI

    PAWLICK NO SCULO XXI

    Ana Carolina de Souza; Liliane Edira Ferreira Carvalho ..........................................................247

  • GENERO E LOUCURA: CONSIDERAES SOBRE SABER MDICO E PADRONIZAAO SOCIAL

    Fernando Jos Ciello1

    Universidade Estadual do Oeste do Paran 1. Introduo O trabalho aqui relatado est centrado na discusso sobre padres de gnero e saber psiquitrico. O objetivo principal o de expor algumas das discusses e resultados obtidos em projeto de iniciao cientfica em desenvolvimento nos ltimos anos com o mesmo tema. A questo dos padres de gnero tem implicaes diversas no ordenamento social e na vida dos indivduos, bem como na formulao de discursos, sejam eles para justificar ou fomentar um determinado estado de coisas. Em nossa sociedade, especificamente, os padres de comportamento e sociabilidade construdos para os sujeitos assumem um aspecto de classificao bastante evidente quando se analisa o discurso psiquitrico do fim do sculo XIX e incio do sculo XX. A psiquiatria deste perodo, e a medicina como um todo, estiveram ligadas s discusses que pudessem repercutir positivamente nos ideais de progresso manifestados na sociedade da poca: reorganizar e higienizar o espao vivido, modernizar a sociedade e as instituies, fortalecer o conhecimento cientfico, etc. Nessa perspectiva observou-se que o discurso mdico-pedaggico dos alienistas acabou por contribuir num processo de psiquiatrizao da diferena que evidentemente acompanha nossa sociedade at os dias de hoje. Atravs de leitura e anlise da bibliografia sobre a temtica buscamos revisitar o conhecimento produzido sobre padres de gnero e as experincias dos indivduos no campo psiquitrico no marco temporal considerado. 2. Mtodo Como os objetivos traados inicialmente no projeto eram de aproximao do objeto de estudo e reviso bibliogrfica, a necessidade de formar uma base slida para estudos futuros sobre as relaes entre constituio do Saber psiquitrico e padres sociais de Gnero foi uma preocupao constante. Dessa forma, a metodologia para execuo dos objetivos da pesquisa foi constituda basicamente na procura do material disponvel sobre a temtica em stios eletrnicos, revistas especializadas bem como na anlise de algumas obras especificas sobre o tema proposto. Na medida em que foi possvel perceber o objeto de estudo nas obras lidas foram construdos fichamentos, resenhas e alguns artigos cientficos para passar em revista o conhecimento adquirido. 3. Resultados e Discusso

    Segundo Scott a utilizao da palavra gnero prope perceber o carter fundamentalmente social da organizao das relaes entre os sexos, para alm das definies biopsicolgicas de homens e mulheres [6]. Em texto clssico sobre a temtica a autora aponta alguns fatores essenciais com os quais lidamos no presente trabalho. Assim como a autora, pretende-se problematizar a questo de gnero a partir do entendimento da natureza social das relaes entre homens e mulheres rejeitando, por assim dizer, determinismos do campo biolgico. Por ser dessa forma, ainda entendemos amparados na reviso bibliogrfica empreendida e conforme a prpria Joan Scott que relaes de gnero e Poder constroem-se reciprocamente. Assim, embora Scott no discuta precisamente a problemtica do Saber psiquitrico na construo de padres sociais de gnero ou inversamente, o efeito do gnero na construo do Saber psiquitrico possvel ressaltar a partir dela que a natureza no pode ser responsabilizada pelos preconceitos feitos em nome dela no campo psiquitrico, onde atributos de gnero foram utilizados para dar significado s designaes da loucura e onde normal e natural, em oposio ao insano, so formulaes que determinam destinos e estabelecem padres sociais.

    Quando observamos a questo dos padres de gnero em sua perspectiva histrica porm sem dissoci-la de outras anlises importante observar que em cada momento considerado, no somente as concepes de homem e mulher, mas todo um complexo sistema de papis sociais nico em sua essncia. Nas dcadas recentes assistimos a um grande empreendimento social Estado, organizaes no governamentais, sociedade civil em criar condies para que as questes de gnero sejam melhor percebidas em nosso meio, como faz exemplo os desdobramentos recentes do grande processo de luta em

    1 Graduando do Curso de Bacharelado em Cincias Sociais na UNIOESTE Campus Toledo, Paran. Endereo eletrnico: [email protected].

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    I Congresso de Iniciao Cientfica e Ps-Graduao - Florianpolis (SC) - setembro 2010

  • favor dos direitos da mulher. Em tempos no to distantes, contudo, as percepes de padres sociais de gnero eram diferenciadas. O presente trabalho inicia suas discusses ao perceber desde seu projeto que padres de gnero vinham sendo pensados na sociedade do fin de sicle a partir de designaes nosogrfias emitidas pela Medicina psiquitrica. Dessa forma, procuramos entender que no era precisamente um problema de doena mental que fazia com que mulheres que abandonavam seus lares fossem internadas em Hospcios, mas necessariamente uma caracterstica cultural de uma sociedade que no concebia a participao das mulheres nos ambientes dominados pelos homens, afastando-se de suas funes de mes e esposas. O saber psiquitrico ao qual se ligou inicialmente a tarefa de cuidar daqueles excludos do meio social recebeu tambm a tarefa de explicar pelos meios mdicos porque determinados indivduos no estavam totalmente inseridos no modo de operar que a sociedade moderna pensou.

    O projeto de sociedade moderna contou com a participao de diversos saberes alguns gestados na e para a nova situao. O desenvolvimento rpido de saberes tcnicos como o urbanismo e a engenharia sanitria, bem como sua aliana com a medicina, ilustram o momento vivenciado. [2]. Aliado ao processo de modernizao est o processo de aburguesamento da sociedade. Conforme Foucault [4], a volta da medicina para as questes do quotidiano e da vida particular dos sujeitos representativa de um momento em que o saber mdico necessitou responder burguesia quanto s questes que a prpria industrializao colocava. assim que a medicina psiquitrica encontrou terreno frtil em diversos pases sobretudo na Frana, onde teve seus pais fundadores para operar suas classificaes. O trabalho explora, assim, pensando no contexto em tela, a relao entre a medicina psiquitrica e os padres sociais de gnero que vigoravam para homens e mulheres.

    O surgimento da clnica psiquitrica e a prpria atuao dos alienistas est marcado fundamentalmente pela necessidade de inserir os indivduos numa economia de coisas bem administradas na sociedade. A loucura, ligada necessariamente a atuao de mdicos psiquiatras e aos hospcios, foi claramente objeto de esquadrinhamento social; e o louco, foi constitudo como individuo em cuja vida se evidenciaria a necessidade de tutela e enclausuramento. Ser louco, experienciar a loucura, significou essencialmente, no marco temporal considerado, experimentar a diferena; a anormalidade. Conforme comentado por diversas autoras [1;3;7] homens e mulheres foram alvos de violncias diferenciadas com o avano do processo de psiquiatrizao da diferena que foi empreendido pela medicina psiquitrica da poca. Tal processo fica mais claro quando pensamos nas pesquisas empreendidas pelas autoras pesquisadas. Cunha [2], por exemplo, ao pesquisar no Hospital do Juquery em So Paulo, se depara com casos onde a loucura fora diagnosticada pela clara transgresso do padro pensado para o sujeito. s mulheres, assim, cabia um papel de me devota aos filhos, esposa fiel ao marido e administradora do lar; num esquema totalmente voltado vida privada. Comportamentos como o de mulheres trabalhadoras; que se negassem a casar ou constituir famlia; ou que optassem por uma vida independente de pais ou marido seria facilmente enredado nas teias do saber mdico e psiquitrico. Para a mulher alvo principal das instituies psiquitricas da poca ainda se somava o fato de a medicina da poca acreditar que possuiam uma propenso natural para a loucura, como prova um caso estudado por Engel [3], no qual as crises epilticas apresentadas por uma paciente foram identificadas como decorrncia de seu perodo catamenial, onde naturalmente as mulheres se encontrariam propensas loucura, pelos prprios fluxos e refluxos de seu corpo. Aos homens, aos quais naturalmente se ligava a tarefa e o papel de bons trabalhadores, provedores familiares e cones de uma masculinidade dominadora, a loucura se configurava no campo dos vcios sociais (bebida, vagabundagem,...) e igualmente no campo da sexualidade, como faz exemplo principalmente a questo da homossexualidade que denunciava naturalmente a degenerao, o anti-natural:

    O doente teve fortuna e esbanjou-a. Desde ento teve uma vida de bomio, sem destino, ora com um irmo, ora com um cunhado, esquecido da mulher e filhos; s vezes tornava-se valente contra os parentes que o queriam corrigir (...). de se crer que j vai estabelecendo gradualmente um estado anlogo demncia, sem delrio algum bem caracterizado. Diagnstico: Degenerado. Fraco de esprito. [2]

    Ainda sobre a relao Homossexualidade Degenerao, Cunha comenta caso de um menino com dezessete anos, internado no Hospital do Juquery em 1908. Vejamos:

    Archangelo, aos dezessete anos de idade, um exemplar desta espcie: internado pelo pai aps reincidncia em prticas homossexuais, nenhuma observao apresenta em seu pronturio alm daquelas referentes sua condio sexual. Desenvolvimento excessivo do membro viril. Desde os dezesseis anos pederasta

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    I Congresso de Iniciao Cientfica e Ps-Graduao - Florianpolis (SC) - setembro 2010

  • passivo. Nunca praticou o coito normal com mulher, assinala o alienista. Segundo suas indicaes, o jovem (...) masturbava-se em excesso e estava acometido de doena venrea. Tinha (...) orelhas mal conformadas, (...) uma certa assimetria na cabea. [2]

    A necessidade de progresso imposta no prprio desenrolar histrico, demandou da sociedade

    moderna que no seu processo de adeso ao sistema capitalista, tambm ela aderisse a estratgias que implicitamente garantissem o sucesso do projeto de sociedade burguesa. Assim, no somente a larga utilizao do manicmio no perodo estudado que espanta, mas a utilizao dele para criminalizar os sujeitos que no estivessem dentro do esquema de funcionamento social. Na transgresso das tarefas domsticas, no caso das mulheres; ou na no vivncia das tarefas de provedor, no caso dos homens, as questes colocadas pela psiquiatria questionavam o natural em tais padres. Em texto clssico sobre Gnero, Joan Scott postula que padres de gnero so historicamente construdos para significar as relaes de poder na sociedade [6]. O natural questionado pela psiquiatria, assim, torna-se social ou como diz Scott: inteiramente social, na construo de padres de gnero, visto que os padres de comportamento de homens e mulheres conferem evidente significado ao esquema social pensado no perodo.

    De acordo com Engel, ainda, na categoria doena mental que se vo evidenciar as dimenses da interveno mdica na sociedade: na sexualidade, nas relaes de trabalho, nas condutas individuais ou coletivas que dissessem respeito a questes religiosas polticas ou sociais [3]. Os mdicos tornaram-se assim, profetas do progresso, presenas necessrias numa sociedade que pretendia ser moderna; detentores dos segredos sobre a anormalidade, indivduos a quem se poderia dar o direito do voto de Minerva. Os atributos de gnero coincidiram com a tendncia mdica e a psiquiatria no se furtou do poder que tinha ao entender que transgresses do mundo normal das relaes de gnero naturalmente precisariam ser entendidas como problemas de sanidade mental.

    4. Concluso

    Ao olharmos para as prticas culturais de determinada poca essencial observar que os sujeitos e instituies, bem como suas aes e ideologias encontram-se de certa forma consoantes com a forma de pensar que prpria ao perodo considerado. Cada cultura lida com os recursos que desenvolve, sendo impossvel, por exemplo, esperar que alienistas do incio do sculo XX quando mulheres so implacavelmente alijadas do mundo do trabalho e homens so invariavelmente tratados como loucos por no quererem assumir a dignidade de ser trabalhadores concebessem como possvel uma mulher querer efetivamente trabalhar e um homem negar-se ao seu suposto dever de faz-lo.

    Assim, penso ser importante no responsabilizar inteiramente os mdicos pelas violncias diversas que sofreram os sujeitos quando em poder da estrutura asilar e psiquitrica. Penso, contudo, que ao olharmos para os processos gestados no sculo XIX e XX, essencial observar que os preconceitos vividos por diversos sujeitos na atualidade, jarges sobre a prpria psiquiatria, bem como, inegavelmente o processo de naturalizao de padres sociais de gnero para homens e mulheres, devem seu nascimento ao desenvolvimento do saber psiquitrico e de suas articulaes com os projetos de sociedade ideal moderna. Referncias [1] CUNHA, Maria C. P. Loucura, Gnero Feminino: As mulheres do Juquery na So Paulo do Incio do Sculo XX. Revista Brasileira de Histria. So Paulo, v. 9, n. 18, pp. 121-144, ago./set. 1989. [2] CUNHA, Maria C. P. O Espelho do Mundo: Juquery, a Histria de um Asilo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986. [3] ENGEL, Magali. Psiquiatria e Feminilidade. In: DEL PRIORE, Mary (org.). Histria das Mulheres no Brasil. So Paulo: Contexto, 1997, pp. 322-361. [4] FOUCAULT, Michel. Histria da Sexualidade I: A vontade de Saber. 16 Edio. Rio de Janeiro: Edies Graal, 1988. [5] HARRIS, Ruth. Assassinato e Loucura: Medicina, Leis e Sociedade no fin de sicle. Rio de Janeiro: Rocco, 1993.

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  • [6] SCOTT, Joan. Gnero: uma categoria til de anlise histrica. Educao e Realidade. Porto Alegre, v. 16, n. 09, PP. 05-22, jul./dez.1990. [7] WADI, Yonissa Marmitt. Experincias de Vida, experincias de loucura: algumas histrias sobre mulheres internas no Hospcio So Pedro (Porto Alegre, RS, 1884-1923). Histria Unisinos. So Leopoldo, v. 10, n, 01, pp. 65-79, jan./abr. 2006.

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  • MENINOS NEGROS NA FASE: DISCURSOS SOBRE MASCULINIDADE E

    SOCIABILIDADE VIOLENTA 1

    Ftima Sabrina da Rosa2 Jaqueline Costa da Rosa

    Unisinos

    1. Introduo Esta apresentao visa analisar o processo de construo da identidade de jovens envolvidos em atos

    infracionais atravs dos conceitos de masculinidade violenta (Zaluar,2004) e sociabilidade violenta (Machado da Silva, 2000). A discusso comporta temas relacionados construo da identidade e ao conceito de violncia e seus desdobramentos, bem como a possvel insero deste ltimo como fator constitutivo das experincias coletivas de conflito. A anlise privilegia o envolvimento desses jovens na criminalidade como parte de um processo de individualizao e de busca por reconhecimento intersubjetivo e visibilidade social. Nesse sentido, em meio a um contexto de desigualdade, caracterstico das denominadas periferias urbanas em que estes atores esto inseridos, o ato violento aqui pensado como um recurso de reivindicao por um espao social e os conceitos de masculinidade e sociabilidade violenta aparecem como marcadores desse processo constituindo significativa influncia sobre a conduta da populao em questo.

    2. Mtodo A partir desse marco analtico foram realizadas leituras para um aprofundamento da perspectiva

    terica. Em seguida foram realizadas entrevistas com os jovens internos da FASE-RS (Fundao de Atendimento Socioeducativo do Rio Grande do Sul) no intuito de problematizar as possveis relaes entre a prtica do ato violento e a busca por reconhecimento por parte desses indivduos, priorizando-se a anlise na forma com que esse processo se desenvolve. Simultaneamente, foram coletados, junto FASE, dados referentes aos jovens internos. A finalizao do trabalho consiste em uma anlise conjunta do perfil desses jovens e dos discursos proferidos nas entrevistas, com o amparo do referencial terico.

    3. Resultados e discusso

    Os dados coletados junto FASE resultaram em um perfil preliminar desses sujeitos: so em sua

    maioria negros, com idade entre 17 e 18 anos, com educao bsica incompleta e representados, quase que em sua totalidade, pelo gnero masculino, o que suscita a possibilidade da violncia servir de recurso construo da identidade masculina juvenil. A partir do material coletado, alguns aspectos da anlise j so identificveis, como a invisibilidade a que esses sujeitos sentem-se expostos, a percepo de que no momento do conflito que aflora sua identidade masculina e a forma pela qual se relacionam com a comunidade onde esto inseridos, denotando, em alguns casos, fracos laos de comprometimento coletivo. Esses aspectos sugerem reflexes a cerca da condio de vulnerabilidade social vivenciada por esses sujeitos e as estratgias que utilizam na busca por reconhecimento.

    Partindo-se da ideia de que processo de construo da identidade se consolida atravs da constante afirmao de uma identidade viril, o conceito de masculinidade fundamental para compreender como se definem identidades calcadas em modelos de exaltao da virilidade. A tipificao do ideal genrico de masculinidade, normalmente, est associada a smbolos de poder e de fora como carros, esportes, guerras, o que pressupe uma constante afirmao da identidade viril (Bourdieu, 2002). No entanto, essa exaltao dos smbolos masculinizantes ligados dominao e fora pode levar a um descontrole das emoes violentas, ou ainda, a uma exaltao de modelos de masculinidade brutalizados. Para Zaluar (1984), com o trfico de drogas e o aumento da criminalidade, uma nova maneira de ampliar e adquirir virilidade emergiu atravs do 1 Este trabalho vincula-se pesquisa Violncia urbana e situaes de conflito: uma anlise sobre jovens negros na Regio Metropolitana de Porto Alegre, sob a orientao do professor Carlos A. Gadea (Bolsista de Produtividade - CNPq). 2 sabrinna.rosa@ hotmail.com (Bolsista PIBIC/CNPq Programa de ps-graduao em Cincias Sociais, Unisinos- RS)

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  • porte de armas e da abordagem violenta nos crimes. o que autora chama de masculinidade violenta. Alm disso, esse conceito no diz respeito a um modelo nico e concreto. A masculinidade hegemnica significa um tipo ideal adotado por um determinado contexto sociocultural e que se estabelece em oposio a outro modelo socialmente desvalorizado (Cornwall e Lindisfarne apud Cecchetto, 2004). Desse modo, o modelo de homem aceito e valorizado pode mudar de acordo com a sociedade.

    Nesse sentido, um contexto de desorganizao urbana e social, insegurana e excluso, tpico das regies metropolitanas, pode sugerir um modelo de masculinidade particular. A valorizao de um comportamento violento ganha sentido, medida que hipoteticamente serve de vetor construo de uma identidade concretizada atravs da fora e da coragem para alcanar reconhecimento intersubjetivo, principalmente, no nvel local.

    Tais processos de adeso a comportamentos criminosos tambm so marcadores de uma descrena no papel do Estado como provedor social e mantenedor da ordem pblica. A crise do Estado, enquanto entidade de proteo, e das instituies socializadoras como a famlia e a escola, preconizam um processo de desfiliao. As prticas violentas apresentam-se como reao a um processo civilizatrio e a uma norma social instituda, mas que no garante direitos e, menos ainda, benefcios.

    A sociabilidade violenta (Machado da Silva, 2000), o segundo conceito norteador da presente anlise, constitui-se como uma nova micro-ordem dentro da ordem estabelecida.Uma norma alternativa se configura em oposio norma internalizada no nvel macro.

    A sociabilidade violenta caracteriza um sistema em que a prpria violncia normatiza o ambiente e as relaes sociais. Nesse sentido, a fora, mais do que um meio de obter de poder, age como um princpio ordenador da prpria sociabilidade, regulamentador da ordem coletiva.

    Ao falar de comportamento violento, importante ressaltar sobre a concepo de violncia aqui apreciada. A anlise se fundamenta na tica da violncia por Durkeim e Foucault, alm de lanar vistas noo de violncia como quebra da ordem de Maffesoli.

    Tendo em conta a concepo durkheimiana de crime, pode-se dizer que um ato criminoso quando ofende os estados fortes e definidos da conscincia coletiva (1967, p.46 apud TAVARES DOS SANTOS, 2009, p.36). De certo modo, a concepo de Durkeim concorda com a viso de Foucault sobre o fato de a violncia representar, mesmo em situaes que no se configuram como crimes concretos, o excesso de fora empregado numa relao de poder. A noo de violncia, nesse caso, se liga concepo de coero por fora, a qual supe um dano ao outro, seja ele indivduo ou grupo social.

    J em Maffesoli (1987), a anlise do comportamento violento se apresenta mais no nvel esttico, pelo fato de visualizar prticas de violncia coletiva. Nesse sentido, a violncia em Maffesoli se mostra como parte do equilbrio social. Ambiguamente integrada noo de norma, a violncia acontece como quebra da ordem vigente para que outra ordem se estabelea. A prpria norma est ligada ambivalncia orgnica da violncia que, pela sua dupla funo e com os meios adequados (eles mesmos ambivalentes) permite a manuteno social.(MAFFESOLI, 1987, p. 97)

    Nesse sentido, a violncia social, principalmente quando entendida no nvel coletivo, apresenta-se como um fator pretensamente constitutivo do surgimento de um movimento social reconfigurado. O ato violento, principalmente, quando precedido de uma violncia simblica e sua ecloso denota visibilidade posterior, configura-se como contestao social. So prticas cometidas contra o poder formal e, portanto, aplicao de fora no institucionalizada em oposio representao da ordem e do controle social. Assim,

    se a socializao se define como a internalizao de cdigos sociais concretos, pode-se dizer que a violncia foi o produto de situaes de conflito e relaes de poder que traduzem a emergncia de uma forte exteriorizao do subjetivo (mundo da vida) em resposta a uma debilitada interiorizao do objetivo (sistema). (GADEA, 2007, p. 148)

    De acordo com Tavares dos Santos (2009), os ltimos trinta anos vm sendo marcados por um processo

    composto pela ambivalncia entre a massificao e a emergncia de comportamentos exacerbadamente individualistas. Nessa interao, a fragmentao social, produto de aes excludentes, principalmente, nos nveis econmico e social, gera prticas de contestao calcadas em modelos violentos. Estilos violentos de sociabilidade passam a marcar a interao social contempornea indo de encontro perspectiva de uma construo contnua do processo civilizatrio e minando as bases da sociedade dita democrtica e igualitria:

    Assistimos a uma mundializao das conflitualidades sociais. Como efeitos dos processos de excluso social e econmica inserem-se as prticas de violncia como norma social particular de ambos grupos da sociedade, presentes em

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  • mltiplas dimenses da violncia social e poltica contempornea. Trata-se de uma ruptura do contrato social e dos laos sociais, provocando fenmenos de desfiliao e de ruptura nas relaes de alteridade, dilacerando o vnculo entre o eu e o outro. (CASTEL, 1995, apud TAVARES DOS SANTOS, 2009, p.117)

    Os recursos dos atores individuais ou coletivos s prticas e estilos violentos so marcadores de uma

    insatisfao social. O Estado institucionalizou na forma de leis, as reivindicaes coletivas, mas no atendeu s demandas subjetivas. Como conseqncia, as instituies viram obstculos ou instrumentos de excluso social meta-polticos, reduzindo-se a confiana que se possa ter sobre elas (GADEA, 2007, p. 149). Dessa forma, no foi possvel que se desfizessem por completo divises e discriminaes na sociedade, as quais so sentidas pelas populaes e sublimadas, por vezes, na forma violenta, com vistas exigncia de visibilidade e reconhecimento social.

    Alm disso, tendo em conta a noo de territorialidade, as comunidades denominadas perifricas urbanas funcionam como smbolos da excluso social para seus moradores. Tanto pelo fato do distanciamento do centro comercial da cidade, como pelo estigma que confere s pessoas que saem em busca de trabalho ou diverso, tal comunidade pode se tornar um elemento pejorativo. Esse processo que pode ser chamado de hiperguetificao (Wacquant, 2000) e se faz percebido a partir dos anos 1970, vem descompondo os laos de solidariedade antes existentes, fazendo com que a luta coletiva por interesses locais perca fora, j que os indivduos esto empenhados em no integrar um grupo que confere uma identidade socialmente inferiorizada.

    O enfraquecimento dos laos sociais, tanto os laos vicinais como os familiares e a consequente perda do comprometimento com o grupo local tambm constituem um agravante importante para a no-internalizao das normas sociais pelos indivduos e, consequentemente, pelo no reconhecimento do outro. A perda da noo de alteridade configura uma facilitao ao uso da violncia como recurso.

    Num contexto de inferiorizao sociogreogrfico, a construo de uma identidade calcada num comportamento que prima pela exaltao da virilidade, da coragem e da fora, pode se constituir num elemento interessante de anlise sobre a forma como parte da populao jovem vem redefinindo a sua identidade em busca de reconhecimento e visibilidade na esfera individual. A falta de laos sociais, as ms condies de vida e a nsia por fazer parte da sociedade de consumo a que estes sujeitos esto submetidos so fatores fundamentais para compreender porque a violncia tem barganhado tantos jovens das periferias.

    Desse modo, a partir da anlise das primeiras entrevistas notvel que os comportamentos aceitveis e no aceitveis interiorizados pelos entrevistados variam de acordo com o crculo de relaes que estabelecem. A masculinidade ligada tica do trabalho e da proteo da famlia aparece em discursos remetidos pelo indivduo da tica da prpria famlia. No crculo de amigos, a masculinidade aceitvel e valorizada sempre remete aos valores da fora e da coragem. As vivncias da ordem violenta, considerada por eles como normal, tambm aparecem fortemente nos discursos:

    Perguntamos a um dos jovens se os amigos ficaram sabendo dos crimes e o que acharam: agora eles to me olhando at melhor, agora com arma era comigo o bagulho!. (M)

    Sobre a opinio da famlia e o que vivenciam no bairro:

    Minha me me ensinou tudo que era certo, mas de dia ali, eu vi que era tudo errado. Quando eu era criana eu via os loco com arma na mo, roubando, fugindo da polcia e gostei... (F) Eu j tinha roubado j. S que minha me no sabia (...)(M)

    Em outros momentos, o constrangimento por no representar o homem que a famlia e as pessoas mais

    velhas do bairro esperavam tambm mostra outro modelo de identidade masculina alternativo ao modelo violento: Bah l no meu bairro ficaram sabendo. Eu fiquei com vergonha (...) Ah eu conversava com todo mundo eles gostavam de mim. (F)

    4. Concluso possvel observar que a afirmao da virilidade no se apresenta em todos os nveis da convivncia

    social pelo fato de que se d num jogo cnico (o qual representa o enquadre), ou seja, na abordagem repentina vtima. O porte de arma e a intensidade da abordagem violenta so categorias que atribuem adjetivos (como poder e coragem) reforadores da representao de carter enrgico do sexo masculino, o que sugere um modo particular desses jovens configurarem o modelo de masculinidade eleito por eles de acordo com a ordem que orienta o lugar onde interagem. Essa exaltao da tipificao dos bandidos como

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  • fortes e dominantes, inclusive na interface com a sexualidade, se mostra muito clara nas referncias dos meninos aos traficantes que comandam a sua comunidade e possuem poder, dinheiro e (o que parece mais interessante para os meninos) mulheres.

    O comportamento violento, simbolicamente relacionado a atributos de virilidade, se mostra muito significativo como aporte afirmao do jovem masculinizado e dono de um espao social, ainda que este espao signifique o reconhecimento desse sujeito apenas no nvel local, j que, na maioria das vezes, o que interessa para esses indivduos ser respeitado e socialmente visvel na sua prpria comunidade.

    5. Referncias BAUMAN, Zygmunt. Comunidade: a busca por segurana no mundo atual, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2003.

    BOURDIEU. Pierre. A Dominao masculina. 3 Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.

    CASTELLS, Manuel. A Questo urbana. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.

    CECCHETTO, Ftima Regina. Violncia e estilos e masculinidade. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004.

    GADEA, Carlos. Violncia e invisibilidade dos movimentos sociais. Anais eletrnicos do II Seminrio Nacional Movimentos sociais, Participao e Democracia. Florianpolis, UFSC, 2007, p. 145-155.

    HONNETH. Axel. Luta por reconhecimento: a gramtica moral dos conflitos sociais. So Paulo: 34 Editora, 2003.

    MACHADO DA SILVA, Lus Antnio. Sociabilidade Violenta: uma dificuldade a mais para a ao coletiva nas favelas. Revista Democracia Viva n 8, 2000.

    MAFFESOLI, Michel. Dinmica da violncia. 1. ed. So Paulo: Vrtice, 1987.

    TANGERINO, Davi C. Crime e Cidade: Violncia Urbana e a Escola de Chicago. Rio de Janeiro, Editora Lumen Juris, 2007.

    TAVARES DOS SANTOS, Jos Vicente. Violncias e conflitualidades. Porto Alegre: Tomo Editorial, 2009.

    ZALUAR, Alba. Integrao Perversa: Pobreza e trfico de drogas. Rio de Janeiro, Editora FGV, 2004.

    WACQUANT, Lic. Os condenados da cidade: estudo sobre marginalidade avanada. Rio de Janeiro, Revan, 2001.

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  • NOVAS TEORIAS E NOVAS PRTICAS NA FORMAO DE PROFESSORES

    Ana Paula de Oliveira*; Amarildo Luiz Trevisan. Universidade Federal de Santa Maria

    1. Introduo

    O presente artigo um estudo de um projeto mais amplo, intitulado Teoria e Prtica da Formao no Reconhecimento do Outro, vinculado ao Grupo de Pesquisa Formao Cultural e Hermenutica (GPFORMA), coordenado pelo Prof. Dr. Amarildo Luiz Trevisan (UFSM/PPGE). O projeto em questo procura aproximar o seu foco de interesse do campo da formao de professores no Brasil, repensando o deslocamento da linha de discusso do plo da teoria para o plo da prtica, ou seja, do dever ser ao fazer do professor, procurando acompanhar a mudana de paradigma que norteou o surgimento da compreenso moderna do conhecimento.

    Nos ltimos anos tm surgido importantes iniciativas no campo filosfico-pedaggico interessadas em contribuir mais concretamente com o equacionamento dos problemas da Educao. Alm de tematizar a relao entre Filosofia e Educao, potencializando reflexes importantes para os diversos contextos pedaggicos, a partir do referencial de grandes pensadores da Filosofia, estes estudos chamam a ateno para a importncia do conceito de formao em sentido amplo. Inspiradas nas grandes experincias realizadas no Ocidente a Paidia grega, a Humanitas latina e a Bildung alem estas pesquisas procuram discutir os problemas educativos sob a perspectiva de valorizao da cultura e suas repercusses no contexto contemporneo. Porm, observa-se um considervel crescimento da produo nestes mesmos grupos de pesquisa direcionado cada vez mais para o problema da formao docente, considerada o verdadeiro calcanhar de Aquiles da educao.

    Por um lado, notrio que o debate tem se acentuado nos ltimos tempos porque a crise das solues propostas por outros modelos - como a do colapso da imagem do docente como demiurgo criador da cidadania (ROCHA, 2004, p. 155) [7] - tem aberto espaos para a reflexo filosfica. Esta discusso ficou bem evidente ultimamente em vrios artigos e livros, bem como diversos trabalhos apresentados no GT Filosofia da Educao, da ANPEd Nacional. Nesse contexto, dos 18 trabalhos selecionados em 2007 e dos 11 trabalhos apresentados em 2008, 6 em cada edio abordavam explicitamente esta questo; j em 2009, dos 11 trabalhos selecionados, 4 trataram do tema. Esses dados constituem uma pequena amostra da produo de alguns grupos de pesquisa que trabalham com Filosofia da Educao, no Brasil, relacionando o problema da formao com a realidade dos professores.

    Mas, por outro lado, cabe observar que estas pesquisas no campo terico-filosfico tm sido alimentadas, em grande medida, pelo debate que se estabeleceu sobre a relao entre teoria e prtica na formao de professores; questo esta que atravessa a relao entre Filosofia e Educao durante toda a histria do ocidente. O velho dilema entre teoria e prtica volta ao centro do debate, tornando-se atualmente um dos principais eixos articuladores da formao de professores nos cursos de licenciatura do Brasil. Como no poderia deixar de ser, o foco maior do debate no campo da Filosofia da Educao voltado para a compreenso subjacente discusso entre teoria e prtica, que serve de base legislao educacional (BRASIL, 2001) [1], a qual segue as ideias de autores como Csar Coll e Perrenoud. Se os PCNs seguiram o modelo proposto por Coll, o desenvolvimento das competncias torna-se o centro da atual reforma curricular dos cursos de licenciatura, sendo os contedos vistos no mais como um fim, ou eixo norteador da formao profissional do professor, para se tornar, na verdade, um meio para alcan-las. Em contraposio ao longo predomnio da teoria nos processos formativos, o modelo de Coll defende as dimenses conceitual, procedimental e atitudinal, enquanto o de Perrenoud segue o modelo da pedagogia das competncias. Porm, cabe frisar que este modelo no apenas se limitou a influenciar a formao de professores em cursos universitrios.

    inegvel que historicamente a formao de professores tem justaposto e, inclusive, confrontado a teoria e a prtica, na medida em que os estgios supervisionados, por exemplo, (embora no devam ser considerados apenas enquanto exerccio prtico, mas tambm como um campo privilegiado de aprendizagem terica), eram desenvolvidos at pouco tempo atrs apenas ao final do curso. Por isso, a legislao recente tomou a si a responsabilidade de eliminar este distanciamento. A soluo dada a cada curso varia de acordo com o projeto poltico pedaggico especfico, porm em geral as licenciaturas tm procurado se adequar em maior ou menor grau ao encurtamento entre o normativo e o vivido. Esta proposta procura substituir a centralidade dos contedos, que deixa de ser o eixo principal da formao, para dar espao articulao

    * Ana Paula de Oliveira: [email protected]

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  • entre a formao terica e a formao prtica, estreitando a relao da formao do professor com seu exerccio profissional.

    Mas ser que o problema da dicotomia entre a dimenso terica e a dimenso prtica da formao, bem como a necessidade de sua unificao, conforme recomendado pela legislao se dilui ou se dissolve no momento em que se adere ao paradigma preconizado por estas pedagogias? At que ponto esta transio proposta na legislao educacional brasileira est causando o efeito desejado? O que possvel reconhecer no iderio pedaggico das competncias enquanto aplicado formao dos professores? Em que sentido pode ser avaliado a relao entre teoria e prtica na formao do professor a partir da idia de reconhecimento do outro?

    Apesar de estarmos inseridos na complexidade de uma sociedade que escolheu viver, a partir da modernidade, sob o primado da prtica, a formao do professor no pode ficar refm de uma pretensa teoria e menos ainda do lado da simples prtica, o que seria apenas uma forma de tencionar o problema sem oferecer-lhe uma soluo. Afinal, como refere Pimenta [6], o professor pode produzir conhecimento a partir da prtica, desde que na investigao reflita intencionalmente sobre ela, problematizando os resultados obtidos com o suporte da teoria. E, portanto, como pesquisador de sua prpria prtica (2006, p. 43).

    Por isso, neste projeto de pesquisa pretendemos, primeiramente, debater o porqu da dificuldade das polticas de formao de professores em aliar teoria e prtica, privilegiando a prtica, problematizando a virada na compreenso moderna do conhecimento. E, segundo, propor uma reformulao da compreenso desta dicotomia baseado nos preceitos de uma Filosofia da Educao inspirada na teoria do reconhecimento social do outro, procurando evitar as armadilhas do compromisso com as instncias teolgico-metafsicas do contexto que ela foi gestada. O intuito despertar a formao em seu compromisso histrico-hermenutico com a sabedoria, com vistas a denunciar os estreitamentos reflexivos a que a formao de professores ficou submetida nesta proposta.

    2. Metodologia

    Este artigo prope discutir a ideia da reformulao do dilema teoria e prtica, desenvolvido pela educao brasileira, enquanto cristalizado nas normativas sobre a formao de professores, a partir da reflexo sobre uma Filosofia da Educao inspirada na teoria do reconhecimento social do outro. Para tanto, a hermenutica reconstrutiva uma abordagem emergente no campo da educao que serve aos propsitos desta pesquisa.

    Conforme Devechi e Trevisan (2010) [2], a hermenutica reconstrutiva surge como uma espcie de sntese de elementos positivos das precedentes, aproveitando os aspectos crticos e evolutivos das dialticas e a preocupao com as categorias contexto, mundo da vida e compreenso das fenomenolgico-hermenuticas.

    Nesta abordagem o sujeito comunicativo e objetiva o consenso. Os significados resultam dos acordos construdos pragmaticamente por uma comunidade de argumentao, estando o carter crtico na aceitao ou no das pretenses de validade do declarante. As pesquisas dessas abordagens se desenvolvem pelo descentramento do sujeito, o outro passa a ser, assim, a categoria central das pesquisas, e por isso essas investigaes surgem como reao hermenutica tradicional. De maneira diferente, ela fiel nesse ponto aos pressupostos da crtica por meios comunicativos, como conscincia aguda de negao da alteridade, sejam minorias exploradas, movimentos sociais, povos que lutam pela sua independncia e os diferentes.

    Assim, o giro da linguagem entendido nessas pesquisas como uma virada da discusso em direo ao outro, como sada da centralidade do si mesmo ou da autoconscincia de si absolutizada no paradigma moderno. A tese do reconhecimento do outro (Honneth, 2003) [3] passa a ser o vetor em todas as instncias pesquisadas e isso ocorre porque o pesquisador deve ter como pressuposto a anlise das crenas pela aceitao pblica, como voz a ser levada em considerao em todas as decises da vida pblica. Tais abordagens apanham no s o contexto, mas uma ideia de universalidade, ou seja, o conhecimento acordado diante dos interesses gerais, porm sempre suscetvel de falibilidade.

    Em linhas gerais, como a Teoria Crtica se renova constantemente, fazendo jus tese hegeliana de que a formao um devir constante, primeiro Habermas e Apel, e depois Honneth, retomam a partir de Hegel a discusso da formao de identidades sob o signo do reconhecimento ou do acolhimento existencial do outro. Surge assim um segundo momento da Teoria Crtica, caracterizado pela busca de sadas s aporias da razo, procurando, no terreno da intersubjetividade, a necessria superao do estranhamento pelo processo de reconhecimento social do outro.

    Nesse sentido Hegel traz contribuies importantes, pois fiel ao paradigma moderno de compreenso do conhecimento, na medida em que tornara claro, com seus apontamentos, que a teoria na modernidade prtica, ao. Se ela no tiver este carter de utilidade ou de transformao, no pode ser considerada uma teoria afinada aos princpios da modernidade, que surge em oposio ao modelo contemplativo prprio dos

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  • mundos antigo e medieval. A virada da prtica no campo do conhecimento moderno no significa, entretanto, um esquecimento da teoria, esvaziada dos seus fundamentos em benefcio de metodologias e tcnicas. Antes disso, significa que h uma nova interdependncia entre o terico e o prtico, e no a simples diluio de um dos plos contrastantes no outro. Em sntese, de certo ponto de vista, se a teoria no for prtica, isto , se ela no impelir ao, torna-se incua, vazia e sem sentido para o mundo em que vivemos. E, de outro, a prtica nesse contexto no pode mais ser concebida como um agir emprico e sem princpios, uma vez que ela surge impulsionada justamente por uma teoria.

    Ora, a articulao entre teoria e prtica proposta nos cursos de licenciaturas pela legislao procura equacionar diversos aspectos envolvidos nesta implicao, tanto relativo aos projetos pedaggicos, quanto curriculares e o problema dos estgios. Entretanto, conforme dito anteriormente, ao instituir como questo central nas discusses do mbito educacional a noo de competncias, estes aspectos compartilham de uma mesma preocupao: privilegiar a prtica em detrimento da teoria. No reconhecem assim que a virada da prtica no abole a instncia terica e, principalmente, a ntima cumplicidade e reciprocidade entre teoria e prtica no processo cognitivo (MORAES, 2009, p. 590) [5].

    3. Resultados e discusso

    Como presente projeto um desdobramento dos projetos de pesquisa intitulado, atualmente, como Formao no Contemporneo: Racionalidade Discursiva e Estetizao do Mundo da Vida - financiado pelo CNPq desde 2001, com Bolsa Produtividade em Pesquisa (PQ), com vigncia de 01.03.2008 a 28.02.2011 e o projeto de pesquisa denominado Formao no Contemporneo e Imagens de Docncia - financiado com auxlio do Edital Universal CNPq/2008 Faixa A (Processo n 476776/2008-2), com tempo de validade de 01.12.2008 a 30.11.2010. Em ambos os projetos est presente uma preocupao com os rumos da formao no contexto contemporneo, dominado por uma inflao de informaes de todos os tipos, formas e cores, e as imagens que so produzidos sobre a docncia. Ou seja, j existe a uma preocupao em pensar a docncia na correlao entre teoria e prtica compreendidas de modo mais amplo. Entre as concluses apresentadas a partir destes estudos, est a ideia de que a racionalidade de nosso sistema de crenas e valores, ou seja, a racionalidade ocidental, que dividiu o mundo em aparncia e essncia, corpo e alma, normativo e vivido, teoria e prtica, e demais binmios aparentemente irreconciliveis, baseada na suposio de um mundo mais permanente por detrs de um mundo mutvel e aparente. Surgida a partir do platonismo, ela recebeu reforo na filosofia moderna (epistemologia) e mais tarde no positivismo. Por isso, no capaz de dar conta analiticamente da formao do professor no ambiente de complexidade dos novos fenmenos culturais. Esses novos fenmenos criaram uma realidade artificial (a virtualidade, o ciberespao) que produz como afirma Matos [4], objetos sem imagens e imagens sem objetos (1999, p. 73). Ou seja, o prprio avano das tecnologias da informao e comunicao na veiculao do conhecimento j aboliu estes dualismos e binmios aparentemente irreconciliveis e por isso este se torna um dos motivos pelos quais no se sustenta mais no ambiente pedaggico a idia de essencializar conhecimentos. 4. Concluso

    Por ser um projeto em iniciao no obtemos concluses, apenas obtemos algumas consideraes importantes. Podemos evidencia que o alcance da pedagogia das competncias, enquanto uso da liberdade, ficou no meio do caminho, se tornando escrava da prtica. Como Hegel mesmo diz, se pode reconhec-la como apenas uma habilidade que domina uma certa coisa, ou seja, como uma certa tcnica. Por isso ela no serve como uma forma universal, mas algo sempre limitado ou escravo de um contexto especfico. O que lhe falta dominar a potncia universal, ou seja, fazer a leitura crtica do todo e perceber a essncia objetiva em sua totalidade, isto , desenvolver uma auto-compreeso crtica dos fins para o qual ela serve, que tipo de homem/mulher estaria formando e ainda para que tipo de sociedade ou de mundo opera. No mximo poder auxiliar na observao do que carece eventualmente ao educando desenvolver, ou seja, como um simples dispositivo ou habilidade.

    preciso assinalar que este equvoco resulta na tecnificao da formao, na medida em que prescreve o desenvolvimento de competncias e habilidades, porm em detrimento da formao mais ampla. As competncias especficas a serem mobilizadas independem do contexto em que elas ocorrem, suas variveis e identidades. H aqui um reconhecimento voltado ao universo do micro sem dvida, mas como falta uma perspectiva em relao ao sentido do todo, ou seja, de uma viso histrica, poltica e social da humanidade, o indivduo abre mo da dimenso crtica do processo em que est inserido e se transforma num mero executor de ordens sem importncia. A perda de referenciais mais amplos de anlise pode levar tanto formao de conscincias operativas e padronizadas quanto visionrias e profticas, igualmente voluntariosas, porm ingnuas, porque sem embasamento no real.

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  • Enfim, cremos ter deixado claro que no contexto do paradigma moderno do primado da prtica possvel promover uma nova articulao com a teorizao sobre a formao do professor, porm sem submisso ao praticismo e menos ainda cultivando uma averso dimenso terica. E que a tentativa de ultrapassar a dicotomia entre teoria e prtica, reforando esta em detrimento daquela, amparada numa Filosofia da Educao de corte construtivista e da pedagogia das competncias, fez a legislao sobre a formao de professores recair mais uma vez na instncia explicativa do conhecimento. Decididamente temos a a volta por cima do velho dilema entre teoria e prtica, ou seja, temos um reforo dicotomia que atravessa a preocupao da Filosofia e da Educao durante toda a histria ocidental. Referncias [1]BRASIL, Ministrio da Educao, Conselho Nacional de Educao: (2001a). Parecer CNE/CP 09, 08 de maio de 2001 Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formao de Professores da Educao Bsica, em nvel superior, curso de licenciatura, de graduao plena. Disponvel em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/009.pdf Encontrado em 17/02/2010. [2] DEVECHI, C. P.; TREVISAN, A. L. Sobre a proximidade do senso comum das pesquisas qualitativas em educao: decadncia ou dficit terico? Revista Brasileira de Educao (Impresso), v. 15, n. 43, p. 148-161, 2010.

    [3]HONNETH, Axel. Luta por reconhecimento. A gramtica moral dos conflitos sociais. Traduo Luiz Repa. So Paulo: Ed. 34, 2003. [4]MATTOS, P. A sociologia poltica do reconhecimento: as contribuies de Charles Taylor, Axel Honneth e Nancy Fraser. So Paulo: Annablume, 2006. [5]MORAES, M. C. M. A teoria tem consequncias: indagaes sobre o conhecimento no campo da educao. Revista Educao e Sociedade, Ago 2009, vol.30, no.107, p.585-607. [6]PIMENTA, S. G. Professor reflexivo: construindo uma crtica. In.: PIMENTA, S. G.; GHEDIN, E. (Orgs.) Professor reflexivo no Brasil: gnese e crtica de um conceito. 4 ed. So Paulo: Cortez, 2006. [7]ROCHA, M. Paradoxo da formao: servido voluntria e liberao. Revista Brasileira de Educao. Set/Out/Nov/Dez., 2004, n 27, p. 154-171.

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  • O PAPEL DA DIALOGICIDADE E DA TOLERNCIA NA AO POLTICA

    Mariclia Pereira Gehlen1; Gabriela Dvila Schttz2* 1Universidade de Caxias do Sul UCS, Programa de Ps-graduao em Educao

    2Universidade do Vale do Rio dos Sinos UNISNOS; Programa de Ps-graduao em Filosofia RESUMO 1. Introduo

    Este texto busca refletir sobre a prtica poltica como prtica de liberdade e promotora de paz entre os povos. Trata-se, portanto, de resgatar o sentido positivo da poltica, compreendendo que a dialogicidade e a tolerncia so valores fundamentais para orientar a ao. Este texto possui carter eminentemente terico e se fundamenta no estudo e anlise de dois textos: A paz perptua de Immanuel Kant e Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire. So utilizados alguns conceitos presentes nessas obras, tais como: a autonomia kantiana e a dialogicidade freiriana. Acredita-se que este tipo de reflexo contribua para anlise das relaes poltico-contemporneas, tendo em vista os processos de degenerao das soberanias nacionais, a partir da expanso e consolidao da globalizao, a instrumentalizao da poltica e do direito, e, por conseguinte, o rompimento dos vnculos de solidariedade entre os sujeitos/pases. 2. Mtodo Este trabalho possui carter eminentemente terico e utiliza os procedimentos ordinrios nesse tipo de estudo. Em relao fundamentao terica, faz uso de dois textos em especial: A paz perptua de Immanuel Kant e Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire. Constituem-se como elementos centrais deste trabalho os conceitos de autonomia (Kant), dialogicidade (Freire) e tolerncia recproca (Hoyos-Vzquez). Sobre a ideia de tolerncia, optamos pela releitura do conceito kantiano realizada por Hoyos- Vzquez, pois coincidimos com o autor que Kant vitima de um conceito monoltico de soberania, oriunda da soberania popular, constituda como nao na forma do Estado soberano (tradio republicana) e que se estabelece de um contrato na forma do Estado de direito (tradio liberal) (1997, pg,17). Em ambos os casos, questes vinculadas pluralidade, a interculturalidade e multiculturalidade que se constituem diferenas insuperveis entre os povos e naes so negligenciadas. 3. Discusso

    A paz entre os povos uma aspirao antiga da Humanidade. O grande filsofo da moral Immanuel Kant se dedicou a este problema em sua obra A paz perptua, em 1795. Nesta obra, Kant argumenta que conviver pacificamente depende de um esforo coletivo, organizado e contnuo, cujas premissas devem ser acordadas e respeitadas pelo conjunto da sociedade e sugere a formao de uma liga da paz (foedus pacificum). Isto , uma sociedade das naes. No obstante, o filsofo prussiano no se refere a uma espcie de Estado Mundial, como sugerem algumas leituras precipitadas, seu projeto alude a uma forma de organizao territorial e poltica que no comprometa a autonomia dos pases, ao mesmo tempo, permita solucionar pacificamente os problemas e divergncias, respeitando as diferenas de cada povo e facilitando as formas de cooperao entre eles. Para Kant, as pessoas precisam aprender a conviver, cultivando a tolerncia.

    Para Maldonado (1997), tolerncia significa desenvolver a capacidade de vivenciar um conflito de modo positivo, buscando solues justas para todos os envolvidos. Hoyos Vzquez (2007), nos fala das diferenas insuperveis. Segundo o autor, a tolerncia est na base da democracia, a partir da qual se funda a confiana, a compreenso e o reconhecimento da contingncia, manifesta nos prprios limites de cada um e do outro como diferente. Desta forma, a tolerncia recproca permite pensar outros modos de estabelecer as relaes, capazes de fomentar a compreenso mtua, de encontrar lugares de possveis encontros entre as diferentes perspectivas e/ou utopias, permitindo um dilogo acerca das formas mesmas de esta adaptao recproca, de simpatia e aproximao, e, principalmente, que deixem espao para o desacordo, sem com isso impossibilitar o consenso ou o avano no dilogo.

    O dilogo como prtica poltica de liberdade, de respeito pluralidade e de procura por espaos de encontro, de um mundo comum, onde se possa construir democraticamente significados e estratgicas compartilhadas, inclui o exerccio da tolerncia. Neste o sentido, a prtica poltica deve ser mediada pela

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    Paulo Freire, entre muitos outros aportes, nos fala do ser humano como sujeito dialgico. Segundo o autor, os homens no se fazem no silncio, mas na palavra, no trabalho, na ao, na reflexo e na prxis. Isto , o dilogo uma caracterstica essencial da nossa humanizao e, o contrrio, sua ausncia ou deformao nos desumaniza.

    Freire, ao trazer algumas consideraes sobre a essncia do dilogo, compreende a palavra, no somente como o meio que possibilita o dilogo, mas o dilogo mesmo. A palavra possui duas dimenses: a ao e a reflexo, ou seja, a prxis, sem a qual no poder se reproduzir verdadeiramente, posto que h uma interao radical entre ambas. A palavra no autntica priva a mesma de uma dessas dimenses, e se torna verbalismo, quando sacrifica a ao, o ativismo por ser negligente com a dimenso da reflexo.

    Para Freire, qualquer destas dicotomias, ao gerar formas inautnticas de existir, cria formas inautnticas de pensar que reforam a matriz que a constituem. A antidialogicidade o pronunciamento do mundo de modo unilateral, arrogante e auto-suficiente. O dilogo, como prtica de liberdade, no pode estabelecer abaixo hierarquia, violncia e coero. Deste modo, mesmo que seja um direito de todos os homens, a palavra verdadeira no pode diz-la ningum sozinho. O dilogo implica necessariamente um encontro de homens, mediatizados pelo mundo, em um pronunciamento que lhes vincule de modo integral, entre si, e ao mundo que devemos transformar. A dialogicidade como elemento para pensar a ao poltica e a paz entre os homens/povos nos ensina que o dilogo uma exigncia existencial, tambm uma prtica de liberdade. Portanto, de transformao e humanizao do e freireano mundo, e, no se pode confundir com disputa pelo poder. No se trata de se pronunciar sobre o outro, depositar-lhe ideias ou simplesmente ir negociando-as como mercadorias. algo mais profundo, se trata de um compromisso tico dos sujeitos para uma sociedade mais igualitria, em que todos possam atuar como sujeitos de seu prprio destino histrico, e no como expectadores de suas prprias vidas.

    Defendemos que o pensamento kantiano e freireano confluem em muitos aspectos: Tanto para Freire quanto para Kant, o homem construtor de si. A diferena que para Kant o homem retira de si, da prpria razo, os meios para se fazer homem, j em Freire a ao dialgica feita no mundo com os outros que possibilita a prpria construo(Zatti, 2007). Se aceitarmos o argumento de Kant, a paz no um estado natural, nasce tambm esperana de alcan-la, buscando-a atravs do exerccio do dilogo e tolerncia no seio da ao poltica. 4. Consideraes Finais

    Atualmente, vivemos em um mundo que se mostra instvel, incerto e repleto de desigualdades que ferem a dignidade humana. Cremos que se a tolerncia com as diferenas fosse cultivada, fosse um valor almejado pelos sujeitos/povos e praticada nas aes polticas, no haveria tanta violncia e tampouco necessitaramos estabelecer tantas leis e cdigos que, muitas vezes, acabam no sendo institudos ou assegurados pela falta de um acordo, um contrato das pessoas e dos povos entre si. A importncia do poder econmico em nossas sociedades, no deixa espao para os princpios e preocupaes ticos e morais na ao poltica. Por isso, acreditamos que a obra de Kant, ainda de grande valia para repensarmos nossas aes. Alm disso, pensamos ser profcua a reflexo proposta, ou seja, relacionar Immanuel Kant e Paulo Freire. Referncias Bibliogrficas FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 18. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. 184 p. HOYO VSQUEZ, Guillermo. Filosofa Poltica como Poltica Deliberativa, In. VZQUEZ (Organizador) Filosofa y teoras polticas entre la crtica y la utopia, Buenos Aires. CLASCO Libros. 1997. KANT, Immanuel. paz perpetua. So Paulo: L&PM, 1989. MALDONADO, Maria Tereza. Os construtores da paz: caminhos da preveno da violncia. So Paulo: Moderna, 1997.

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  • ZATTI, Vicente. Autonomia e educao em Immanuel Kant e Paulo Freire. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2007. Publicao Eletrnica ISBN 978-85-7430-656-8 Disponvel em: http://www.pucrs.br/edipucrs/online/autonomia/autonomia/capa.html Acesso em: 05 de jun. 2010.

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    NARRATIVAS ORAIS E EVENTOS REMEMORADOS DE LDERES E LIDERANAS KAINGANG E GUARANI

    Ndia Philippsen Frbringer1

    Universidade Federal do Paran 1. Introduo

    Esta pesquisa tem por objeto um conjunto de narrativas orais Kaingang e Guarani que compe o Acervo Memria Indgena do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade Federal do Paran (MAE). As narrativas indgenas e suas diferentes formas de expresso constituem um objeto relevante para a compreenso das formas de socialidade amerndia e, no caso especial deste acervo, das relaes de contato entre essas populaes indgenas e o Estado nao.

    Em janeiro de 1986 foi lanado o projeto Memria Indgena no Paran, com a orientao geral de Lcia Helena de Oliveira Cunha e Maria Lygia de Moura Pires na Universidade Federal do Paran. Este projeto teve por objetivo fazer um levantamento da memria oral dos grupos indgenas no Paran, em especial Kaingang e Guarani e tambm Xet.

    De acordo com o relatrio do Projeto Memria Indgena de janeiro de 1986, a pesquisa seria dividida em duas partes: uma pesquisa documental em registro de cronistas e viajantes, bibliografias, jornais e artigos em geral; a uma pesquisa de campo com entrevistas abertas e histrias de vida. Deste projeto constam 148 fitas cassetes com gravaes dessas pesquisas de campo (acervo de udio) e 11 pastas poliondas contendo o material da pesquisa documental (acervo documental). Todo este material foi doado ao Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da Universidade Federal do Paran, em 11 de julho de 1995, pela Professora Maria Lygia de Moura Pires, todos os arquivos e documentos foram inseridos no acervo do MAE como Coleo Memria Indgena.

    Levando-se em conta o tamanho do Acervo Memria Indgena foi necessrio realizar um recorte terico para a anlise das entrevistas. A fim de se aprofundar no que propriamente foi o Projeto Memria Indgena, o perodo escolhido foi o primeiro campo realizado na pesquisa julho de 1986 com 28 fitas. Outra caracterstica deste recorte que as entrevistas deste primeiro campo so feitas em grande parte com ndios Kaingang, sendo assim focaremos nossa anlise nas caractersticas deste grupo entrevistado. 2. Mtodo

    A nica listagem com todos os documentos e matrias do acervo Coleo Memria Indgena se encontra no Termo de Doao assinada por Maria Ligia Pires e, desde que foi feita a doao, esse material no foi mais trabalhado, com exceo da digitalizao de uma pequena parcela das fitas cassete que no foi concluda.

    As fitas cassete esto divididas em seis grupos referentes ao perodo de pesquisa de campo e aos grupos entrevistados. O primeiro campo feito no projeto ocorreu em Julho de 1986, no municpio Guarapuava, contam 26 fitas. O segundo campo foi feito em Rio das Cobras em Setembro do mesmo ano, com 22 fitas. O terceiro campo j em Janeiro de 1987, tambm em Rio das Cobras, com 27 fitas, e por ltimo, em Janeiro de 1987 em Guarapuava, o quarto campo ocorreu tendo como resultado mais 37 fitas. No mesmo perodo e local em que foi realizado o terceiro campo constam mais 10 fitas referentes indgenas pertencentes ao grupo Xet. E o ltimo grupo de fitas do acervo, 19, Memria Indgena so referentes aos meses de outubro e novembro de 1986 em Florianpolis, porm estas fitas tm como contedo palestras proferidas por Miguel Bartolom e Alcia Barabs sobre A concepo de Estado e o Estado e os Indgenas em AL (Amrica Latina), que foram incorporadas ao acervo posteriormente, alm de 5 fitas de entrevistas com datas aleatrias.

    Ao todo o Acervo Memria Indgena composto ento por 148 fitas cassete que englobam entrevistas gravadas com lideranas indgenas, demais relatos orais feitos nas comunidades e tambm palestras. Compem as entrevistas questes que dizem respeito a relatos sobre a histria dos grupos locais e registros da tradio oral. Em grande parte das entrevistas as perguntas so direcionadas para as primeiras situaes de contato dos prprios entrevistados com brancos ou lembranas dos seus familiares sobre esses momentos. Dentro das pastas poliondas tambm doadas ao MAE, encontram-se algumas folhas com transcries de alguns grupos de fitas, mas em geral so manuscritas e feitas por diferentes pessoas, sem que se tenha um documento nico que rena fita por fita uma transcrio mais fidedigna.

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    Para poder dar incio a esta pesquisa, dadas as especificidades de um trabalho em acervo museolgico, foi necessrio realizar a higienizao e re-catalogao dos documentos. Dessas 11 pastas doadas, encontram-se diversos tipos de documentos, como relatrios, ofcios, referncias bibliogrficas, jornais, revistas, dossis, transcrio de entrevistas, resumos e verses do projeto Memria Indgena. Sobre o acervo de udio, boa parte das fitas j foi ouvida e seus assuntos principais descritos e resumidos em arquivo Excel, a digitalizao de todas as fitas em arquivo MP3 tambm est em andamento, assim como as transcries. 3. Resultados e Discusso

    A transcrio do acervo de udio ainda se encontra em andamento, contudo seu ritmo mais lento devido ao estado das fitas que esto bastante prejudicadas pelas mudanas climticas e pelo tempo transcorrido desde a gravao. At o momento foram transcritas integralmente 11 fitas dos depoimentos coletados na rea Indgena de Marrecas, gerando cerca de 120 pginas de transcries. Como recorte proposto para este projeto, a anlise a seguir ser feita a partir do material de udio coletado pelos pesquisadores do Projeto Memria Indgena no primeiro campo. As entrevistas foram feitas em 1986, quando um grupo de pesquisadores se dirigiu at o municpio de Guarapuava e Turvo, no interior do Paran, especificamente at a rea Indgena de Marrecas. A saber, esta rea indgena foi homologada em 1984, atualmente tem 16.838,57 hectares e conta com uma populao de 390 indgenas, tanto Kaingang como Guarani. A pesquisa foi realizada pouco tempo depois da concretizao de um dos passos mais importantes para a demarcao desta rea como oficialmente indgena.

    Durante o ms de julho, os pesquisadores gravaram quase 30 horas de entrevistas, com cerca de vinte pessoas diferentes. Atravs da anlise do material percebemos que os que foram entrevistados so pessoas de mais idade dentro do grupo, alm de lideranas. importante caracterizar um pouco mais o grupo que estamos nos referindo. Na poca da pesquisa esta rea era habitada por Kaingang, Guarani e Xet. Estes trs grupos chegaram at Marrecas vindos de reas diferentes: de Palmas, de um territrio prximo ao Toldo de Boa Vista (rea ainda em processo de demarcao), e de um outro local que muitos se referiram como Embira Branca, provavelmente prximo rea Indgena Palmital em Unio da Vitria - Paran. As perguntas nas entrevistas foram orientadas para descobrir as opinies de cada um sobre como era a vida antes e depois do contato com a sociedade nacional (colocada como brancos), as lembranas de infncia e de histrias contadas por familiares mais velhos e etc.. Ao se analisar as transcries, possvel dividir as falas em alguns ncleos temticos. O primeiro refere-se s histrias/relatos sobre as experincias que foram vividas pelos entrevistados quando muito jovens, mas ainda mais, s experincias dos seus pais e parentes mais velhos, so falas que retratam o tempo dos antigos, das pessoas mais velhas. Um dos relatos diz respeito festa do Kiki. A festa do Kiki descrita por Baldus [1] e tem este nome porque durante este acontecimento uma espcie de garapa o Kiki bebida, todos os membros da aldeia participam. Este ritual um tipo de culto aos mortos, no qual os participantes rezam sem parar. Assim participam da festa principalmente famlias cujos parentes tenham falecido recentemente. As rezas entoadas durante toda a cerimnia so direcionadas para que os espritos possam ir embora em paz, sem mais incomodar aqueles que ainda vivem. Esta festa por poucos foi lembrada e todos os comentrios se referiam a realizao da festa em Chapec em Santa Catarina, local o qual teve as ltimas realizaes h anos. Talvez, a mesma festa registrada na revista Atualidade Indgena [2]. O segundo trata das lembranas relacionadas s movimentaes que os grupos tiveram durante o passar do tempo. So relatos que falam dos processos de disperso e posterior reunio das famlias em novos locais. Em geral, os pesquisadores buscavam saber se o entrevistado era nascido em Marrecas ou no, se havia morado em outros Postos Indgenas, se havia morado em cidades ou porque estava naquele local. H casos de adoo e apadrinhamento, que parecem ser freqentes com indgenas que tem sua aldeia prxima as cidades. Outros casos que apareceram foram os de jovens que teriam sado da aldeia para trabalhar nas cidades. Porm, nos casos relatados, ainda que estes indgenas permanecessem algum tempo nas cidades ou fazendas, eles sempre voltavam a morar nas aldeias, mas no necessariamente nas aldeias de origem. Neste grupo de relatos tambm se inserem as lembranas sobre a chegada de ndios Xet e das dificuldades uma vez que se inseriam trs populaes indgenas diferentes (Kaingang, Guarani e Xet) confinados em um mesmo territrio, sem levar em considerao suas especificidades culturais. Semelhante caso foi estudado por Maria Ligia de Moura Pires em Mangueirinha, Paran [3]. O terceiro grupo de relatos refere-se ao processo de assentamento na rea Indgena de Marrecas. Como comentado anteriormente, os grupos que residem em Marrecas eram de outros locais e foram, forosamente ou no, encaminhados para morar nesta outra rea. As formas pelas quais muitos vieram j foram descritas, mas ainda bom acrescentar outro fator que tambm teria influenciado na mudana de local.

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    A questo da bebida alcolica aparece em muitos relatos que demonstram como a insero desta bebida piorou a situao pela qual estes indgenas passavam. Um dos relatos demonstrou que alguns chefes de Posto, preocupados com o alcoolismo, tentaram intervir, proibindo o consumo de lcool entre os indgenas, fato considerado positivo por alguns entrevistados.

    importante ressaltar o aspecto da negociao entre os grupos que chegavam, cada qual em seu momento, e os que l j residiam. Como visto muitas das famlias que vieram para Marrecas chegaram num contexto de desconhecimento da sua prpria situao e futuro. Haviam sido forados a abandonar a terra e muitos deixaram seus animais de criao, roa, entre outras coisas. Em Marrecas juntaram-se grupos vindos de Palmas, Terra indgena Boa Vista, e aquele local que denominavam de Embira Branca, provavelmente prxima tambm rea Indgena Palmital, em Unio da Vitria. Locais distintos e tambm etnias distintas. Em Marrecas, foram agrupados Kaingang, Guarani e Xet em um mesmo territrio. Os dois primeiros grupos, estabeleceram aldeias separadas. Os Xet, em menor nmero, se misturaram entre os indgenas das duas outras etnias. Como j foi descrito, este processo de reassentamento foi conflituoso no incio, mas, com o tempo, Kaingang, Guarani e Xet conseguiram estabelecer relaes pacficas e conviverem num mesmo territrio. 4. Concluso

    Um dos objetivos principais do Projeto Memria Indgena era conseguir levantar uma srie de dados que seriam usados como embasamento de um livro didtico sobre populaes indgenas no Paran. por esta razo que muitos das questes que foram levantadas nas entrevistadas dizem respeito s lembranas mais remotas de cada ndio sobre sua vida ou histrias que seus parentes mais velhos contavam. O que estes questionamentos buscam , tambm, desconstruir a idia do vazio demogrfico que perpassa a histria do Paran.

    De acordo com o recorte feito para este projeto, buscaram-se informaes a respeito da ocupao da regio de Guarapuava pelos Kaingang e posteriormente pelos no-ndios. Os dados confirmaram as informaes de Lucio Tadeu Mota [4], demonstrando que a expanso da atividade pastoril levou a criao de aldeamentos que alteraram o modo de vida dos povos indgenas no estado do Paran com srias conseqncias para a reproduo cultural e social destes povos.

    Os aldeamentos agrupavam vrias etnias em um mesmo territrio. Desta forma, a despeito das diferenas culturais e lingsticas dos Kaingang e Guarani e destas etnias terem sido inimigas tradicionais no passado, estes indgenas foram compelidos a viver juntos, como o caso da Terra Indgena de Marrecas, no Paran. Os grupos comearam a dividir o mesmo espao devido a vrios fatores, como os citados anteriormente. Os resultados da pesquisa de Pires corroboram com os meus: o processo inexorvel de ocupao dos territrios mais meridionais do Brasil pelas foras civilizadoras da colnia inicialmente, e mais tarde do Imprio e mesmo da Repblica. As populaes tribais, envolvidas pelo avano civilizador, durante algum tempo se deslocam de uma regio para outra procurando fugir do contato com a civilizao [3]. Aos poucos, contudo, nem fugir mais era possvel e encurralados vrios grupos foram obrigados a se estabelecerem nos aldeamentos indgenas existentes no Paran as reservas indgenas.

    Da mesma forma que no caso analisado por Amoroso [5] os Guarani e Kaingang, sujeitos desta pesquisa, tambm foram grupos aldeados e suas diferenas culturais no foram consideradas. O fato de terem sido compelidos a viver/sobreviver desta forma teve vrias conseqncias. Atravs da anlise das transcries, foi possvel perceber, por exemplo, que a festa do Kiki, que era um evento tradicional entre os Kaingang, foi quase esquecida e que, na poca em que foram realizadas as entrevistas, restavam poucas lembranas. As separaes de famlias foram bastante citadas, as mudanas de local e a necessidade de sarem das aldeias para trabalhar em fazendas ou at mesmo na cidade provocaram a disperso de ncleos familiares e, quando no muito, de todo um grupo. Os entrevistados, ao falarem do contato com os brancos, sempre falam do alcoolismo, o que sugere que eles consideram que o alcoolismo conseqncia de toda a poltica estatal de aldeamento e ignorncia das especificidades das etnias e do contato violento com a sociedade nacional.

    Estes fatos vividos e relatados pelos Kaingang de Marrecas so importantes para refletirmos sobre o peso que a histria de contato com a sociedade nacional tem na memria dos integrantes deste grupo. O material analisado para a presente abordagem diz respeito apenas ao primeiro campo realizado pelos pesquisadores do Projeto Memria Indgena em 1986. O restante do acervo documental e de udio continuar a ser trabalhado e analisado, proporcionando futuramente uma anlise ainda mais completa dos relatos contidos neste acervo e a comparao entre os relatos coletados em Marrecas e os coletados em outras regies do Paran.

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    I Congresso de Iniciao Cientfica e Ps-Graduao - Florianpolis (SC) - setembro 2010

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    Referncias [1] BALDUS, Herbert. O culto aos mortos entre os Kaingang de Palmas. In: BALDUS, H. Ensaios de etnologia brasileira. So Paulo: Companhia Editora Nacional, 1979 [1937]. p. 8-33. [2] OLIVEIRA, Ismarth de Arajo (Dir.). FUNAI. Kiki, ritual sem hora para acabar. In: Revista de Atualidade Indgena. Braslia, 1977. [3] PIRES, Maria Ligia Moura. Guarani e Kaingang no Paran: um estudo de relaes intertribais. Braslia, 1975. 167 p. Dissertao (Mestrado em Antropologia Social) - Universidade de Braslia. [4]MOTA, Lcio Tadeu. As guerras dos ndios Kaingang: a histria pica dos ndios Kaingang no Paran, 1769-1924. Maring: Ed. da Univ. Est. de Maring, 1994. [5]AMOROSO, Marta Rosa. Mudana de Hbito. Catequese e educao para ndios nos aldeamentos capuchinhos. Revista Brasileira de Cincias Sociais. So Paulo: Vol.13, n.37, junho de 1998. Disponvel em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010269091998000200006&lng=en&nrm=iso&tlng=pt > Acesso em 31 jul. 2009. Agradecimentos Meu profundo agradecimento professora e orientadora Doutora Maria Ins Smiljanic, por toda a ateno. Maria Ligia de Moura Pires, pelos esclarecimentos dados e Universidade Federal do Paran por me oportunizar esta pesquisa de Iniciao