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TCC I Trabalh TCC I - Trabalho de Conclusão de Curso I Universidade Federal de Santa Maria
Centro de Educação Superior Norte – RS
Departamento de Ciências da Comunicação
Curso de Comunicação Social – Jornalismo
27 de junho a 08 de julho de 2011
COMUNICAÇÃO E FORMAÇÃO SINDICAL RURAL: UMA
ANÁLISE DO CONTEÚDO SINDICAL IMPRESSO
LEONIDES JOSÉ VOITACK
Artigo científico apresentado ao Curso de Comunicação Social – Jornalismo como requisito
para aprovação na Disciplina de TCC I, sob orientação da Professora Andréa Weber e
avaliação dos seguintes docentes:
______________________________________________________________________
Prof. Andréa Weber
Universidade Federal de Santa Maria/CESNORS
Orientadora
______________________________________________________________________
Prof. Carlos André Echenique Dominguez
Universidade Federal de Santa Maria/CESNORS
______________________________________________________________________
Prof. Jaqueline Quincozes Kegler
Universidade Federal de Santa Maria/CESNORS
______________________________________________________________________
Prof. Gelson Pelegrini
Universidade Regional Integrada - URI/FW
(Suplente)
Frederico Westphalen, 20 de junho 2011.
CESNORS Centro de Educação Superior norte RS
1
Comunicação e Formação Sindical Rural: Uma Análise do Conteúdo Sindical
Impresso1
Leonides José Voitack2
Andréa Weber3
RESUMO
Este estudo pretende analisar de que forma o material impresso de divulgação exposto no
balcão do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen RS, contribui para a
informação, formação e organização dos trabalhadores rurais. Para isso, serão analisados
os temas, as fontes e imagens mais recorrentes em folderes, folhetos e uma revista produzidos
pelo Sindicato e por outras entidades parceiras. Os resultados mostram que o Sindicato, as
políticas para o meio rural e a agricultura familiar, são os temas que predominam no espaço
do material, destacando a luta e a organização da categoria. Além disso, mostram que os
agricultores não atuam como fontes do material de divulgação, porém, tem seu protagonismo
no movimento sindical rural representado nas imagens.
PALAVRAS-CHAVE: Sindicato dos Trabalhadores Rurais; Agricultura Familiar;
Comunicação.
INTRODUÇÃO
A Região do Médio Alto Uruguai, da qual Frederico Westphalen, RS faz parte, é
composta por pequenas propriedades rurais, que trabalham em regime de economia familiar.
A média das propriedades é 17ha e a agricultura tem um papel muito importante no
desenvolvimento regional, pois, na maioria dos municípios, é a principal atividade econômica.
De acordo com o censo do IBGE 2010, Frederico Westphalen, tem uma população de 28.848
pessoas. A grande maioria, 23.338, cerca de 80%, mora na zona urbana, e 5.510, ou seja,
aproximadamente 20%, na zona rural.
O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen faz da comunicação
uma ferramenta de luta para a defesa de pautas construídas pelo movimento sindical, em uma
constante busca pelo desenvolvimento de alternativas que criem possibilidades de
permanência do homem no campo. O setor de comunicação do sindicato tem um papel muito
1Artigo científico apresentado ao Curso de Comunicação Social – Jornalismo como requisito para aprovação na Disciplina de
TCC I do Centro de Educação Superior Norte do RS da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
2Acadêmico do 7º semestre do curso de Comunicação Social – habilitação Jornalismo da UFSM/Cesnors.
3Orientadora desta pesquisa e professora do curso de Comunicação Social – habilitação Jornalismo da UFSM/Cesnors.
2
importante neste sentido, pois, ao se comunicar, as pessoas abrem caminho para a troca de
idéias. Conversando sobre suas realidades encontram no outro um auxílio para romper com as
barreiras do individualismo, e também para formar suas próprias opiniões, se envolvem nas
atividades do sindicato, tendo a possibilidade de participar desta organização e juntos
enfrentar os desafios.
O principal objetivo deste trabalho é estudar a importância da comunicação como
forma de conscientização e formação dos trabalhadores para a necessidade de buscar novas
alternativas para o desenvolvimento da agricultura familiar. Outro objetivo é observar o papel
que a comunicação vem prestando para o movimento sindical em face de sua organização.
A justificativa para sua realização é que a formação sindical é um instrumento de
conscientização, articulação e mobilização dos trabalhadores em nível regional, estadual e
nacional em que, organizados, os trabalhadores defendem seus ideais na busca de uma vida
melhor. A comunicação é indispensável para que haja sucesso no desenvolvimento de
projetos que envolvam estes trabalhadores. Além de auxiliar na informação do agricultor, ela
ainda constrói um espaço formador de opinião sobre o movimento na sociedade em geral.
Nossa análise, parte da idéia de que a elaboração de materiais para auxílio e
divulgação das lutas dos movimentos sociais, neste caso do Sindicato dos Trabalhadores
Rurais, abre espaço para uma reflexão sobre o impacto que este conteúdo provoca nos
associados. A intenção é fazer uma análise capaz de apontar alguns temas e características
mais recorrentes em relação à comunicação informação e formação sindical direcionada ao
meio rural.
Para isso, observamos os temas às fontes e as imagens presentes em folderes, folhetos
e revista impressos, produzidos pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio
Grande do Sul (FETAG), pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura
(CONTAG) e outras entidades parceiras, e disponibilizados pelo Sindicato dos Trabalhadores
Rurais de Frederico Westphalen.
1. Agricultura Familiar
Atualmente, no Brasil, atribui-se um destaque especial ao sistema agropecuário
familiar em virtude do importante papel social que vem desempenhando em termos de
produções alternativas e sustentáveis. No entanto, alguns fatores, principalmente os de ordem
3
tecnológica, colocam a agricultura familiar em uma condição delicada. De acordo com o
professor e pesquisador da USP Joaquim Guilhoto (2003, sp), “tão alvejado processo de
modernização da produção rural faz com que as possibilidades do desenvolvimento da
agricultura familiar por si só sejam reduzidas”. A questão é que em pequenas propriedades
onde o espaço é reduzido, ou o relevo é acidentado, não se viabiliza, no geral, o uso de
máquinas agrícolas. Porém, se devidamente pensada, esta propriedade pode ser desenvolvida
com a implantação de alternativas a partir do aproveitamento da matéria-prima já produzida,
no caso da laranja, uva, figo, abóbora, leite, carne entre outros, sendo que estes produtos
podem ser inclusive industrializados na própria propriedade rural.
Segundo Guilhoto (2003, sp), o grande número de propriedades rurais classificadas
como “familiar” diverge em termos de tamanho, capital e tecnologia, tornando as prioridades
individuais diferentes. Essa característica dificulta a organização dos trabalhadores, uma vez
que, pela diversificação de culturas, estes, muitas vezes, não têm conhecimento do que o outro
está produzindo ou então não vê como alternativa a união de interesses pela fortificação do
setor familiar. O pesquisador menciona que, em alguns lugares, agrupamentos como
associações e cooperativas possibilitam a permanência do sistema familiar, mas são
totalmente inexistentes em outras.
A agricultura familiar vem assumindo um papel de destaque na implantação das
agroindústrias familiares. A produção que era basicamente de grãos começou a ser
diversificada com a implantação de alternativas geradoras de renda para a pequena
propriedade, com a organização da produção, o agricultor passou a ter mais oportunidades em
desenvolver esse importante setor da agricultura. Segundo Pelegrini e Gazolla (2008, p. 37),
“atualmente a reprodução social da agricultura familiar passa pelos mercados tanto de
mercadorias agropecuárias, como de serviços e da força de trabalho”. Isso justifica a
necessidade de produzir e comercializar. No entanto, o desenvolvimento da agroindústria
familiar, por ser uma alternativa, não pode ficar isolado e nem subordinado ao mercado, como
ocorreu com a produção de grãos para as grandes indústrias. Comercializar esses produtos no
mercado final ou em feiras, acrescidos de outros bens e serviços, passa a ser uma estratégia de
reprodução social e possibilita agregar um maior valor à matéria-prima principal, e ainda
aumentar a qualidade e a vida útil desses produtos.
Muitos produtos tradicionalmente mantidos nas receitas caseiras vão passando de
geração a geração sem, muitas vezes, chegar ao conhecimento de outras pessoas que não as da
própria família. Neste sentido, Pelegrini e Gazolla (2008, p. 76) comentam que “o processo de
4
industrialização artesanal de alimentos possui um caráter cultural e histórico, que se constitui
em uma prática das unidades de produção familiar”. Com a agroindustrialização, esse produto
passa a ser conhecido, alcança um determinado público, esse público consumidor garante a
viabilidade da produção.
Desse modo, a agroindustrialização dos alimentos não deve ser entendida como sendo
um simples fato, mas ser considerada como um processo de sobrevivência das pessoas que
dessa forma se sustentam. De acordo com Pelegrini e Gazolla (2008, p. 56), os produtos
utilizados na alimentação humana foram sendo descobertos e introduzidos nos hábitos
alimentares. Pelegrini e Gazolla (2008, p. 56) salientam que, com o passar dos anos, esses
foram ganhando novas formas de transformação, ao conquistar novas configurações para o
consumo e para a sua armazenagem.
Conforme dados apresentados por Guilhoto (2003), a agricultura familiar representa
27% do Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Sul, e as cadeias produtivas
vinculadas ao campo representam metade do PIB do estado. Fica evidente assim, o grau de
importância que a agricultura familiar alcança no Rio Grande do Sul. No Brasil, essa
participação é calculada em 31%.
1.1 Agricultura Familiar em Frederico Westphalen
Frederico Westphalen, que é a cidade à qual se vincula o Sindicato dos Trabalhadores
Rurais deste estudo, depende economicamente da agricultura familiar desenvolvida no
município e em toda a região. Neste item, vamos abordar algumas questões relacionadas ao
desenvolvimento do município que está profundamente ligado ao setor agrícola.
O Município de Frederico Westphalen localiza-se no Noroeste do Estado do Rio
Grande do Sul, de acordo com o censo do IBGE 2010, tem uma população de 28.848 destas
somente 5.510 vivem na zona rural. Na pesquisa da Fundação de Economia e Estatística do
Rio Grande do Sul (FEE), no período de 1991-2000, o índice de Desenvolvimento Humano
Municipal (IDH-M) de Frederico Westphalen cresceu 11,80%, passando de 0,746 em 1991
para 0,834 em 2000. Em pesquisa publicada no Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil
(2003), Frederico Westphalen aparece entre os principais municípios brasileiros, com
população até 50 mil habitantes, que têm mais de 20% da população entre 18 a 24 anos
freqüentando um curso superior.
Quanto à formação geográfica, Pelegrini e Gazolla (2008, p. 24) atribuem ao relevo
acidentado e com superfície irregular o favorecimento da pequena propriedade rural. A
5
agricultura familiar adquire então um papel fundamental para a economia do município, pois
potencializa boa parte da indústria e comércio local, além de aproveitar a matéria-prima
originária da agricultura e transformá-la em produto de valor agregado, sendo uma alternativa
de renda familiar.
Magalski (2010) salienta que a implantação da fruticultura proporcionou o surgimento
de diversas agroindústrias famíliares de pequeno porte. Essas agroindústrias são produtoras de
doces, conservas, sucos e vinhos. De acordo com Zontta (2010), a Cooperativa de Produtos da
Agricultura Familiar (COPRAF), serve como uma forma de agregar valor à produção. Célio
de Pelegrin (2011) diz que, no Município de Frederico Westphalen, se produz soja, milho,
feijão, trigo, fumo, aves, bovinos e suínos, além da piscicultura, da produção de hortaliças e
da vitivinicultura. Destaca algumas novidades, entre estas a produção de nozes e uma lavoura
experimental de oliveiras.
Segundo Zontta (2010), os agricultores com o apoio do STR, da Empresa de
Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER) e da Secretaria da Agricultura estão em
busca de alternativas para investir em outros modelos de matriz produtiva, principalmente no
setor da fruticultura, possibilitando melhorias na qualificação e agregação de valor nos
produtos oriundos da agricultura familiar. Pelegrin (2010) destaca o interesse dos produtores
que estão buscando renda, abrindo novos espaços, organizando feiras de venda direta ao
consumidor, construindo também espaços fixos. Entre elas está a Cooperativa de Produtos da
Agricultura Familiar (COPRAF), que serve de referência para o público consumidor encontrar
produtos da agricultura familiar. Pelegrin (2010) enfatiza que os agricultores do regime
familiar estão trocando experiências e mostrando a importância da agricultura familiar,
aplicando práticas ecológicas e menos agressivas ao meio ambiente no município.
A descoberta de novas tecnologias, aliadas aos estudos feitos em busca de alternativas
que melhor se adaptam ao clima e solo da região, é possível aos poucos, se sobressair em
relação ao modelo produtivo local. De acordo com Pelegrini e Gazolla (2008, p. 44), a
modernização da agricultura através da incorporação do progresso tecnológico é que fez com
que houvesse aumento da produtividade da terra e do trabalho.
2. Comunicação Rural e Sindical
2.1 Comunicação Rural
6
Independente do meio onde vivemos, rural ou urbano, somos sujeitos comunicáveis
seja pela fala, escrita, olhares, gestos ou códigos. De acordo com Eduardo Nicol (1965 apud
Paulo Freire, 1983, pg. 44), “o mundo humano é [...] um mundo de comunicação, de
mediação entre homens que pensam falam e agem”. Juan Dias Bordenave (1988, p. 07)
conceitua comunicação rural como um conjunto de fluxos de informações, de diálogo e de
influência recíproca existentes entre os componentes do setor rural. Os meios pelos quais
estas informações circulam podem ser de natureza pessoal, formal ou informal, ou seja, nas
visitas mútuas, reuniões, exposições nas festas e velórios, como também através da mídia, A
comunicação rural, então, é um processo mais amplo que a informação agrícola ou a extensão
rural. De acordo com Bordenave (Ibid.), isso se deve ao fato de que a sociedade rural está
composta de grupos, associações, empresas e famílias entre as quais existem numerosos e
dinâmicos fluxos de comunicação. Segundo Freire (1983, pg. 45), “o sujeito pensante não
pode pensar sozinho, não pode pensar sem a co-participação de outros sujeitos”. Nesta co-
participação dos sujeitos no ato de pensar é que se dá a comunicação. Bordenave (1988)
refere-se ao diálogo participativo em que as famílias é que mudam ou transformam a
realidade rural e o agente de extensão é um co-participante.
Segundo Marques de Melo (1993, apud Magalhães 2004) aponta que a pobreza é
muito maior no campo do que na cidade, chegando a 39% da população rural em 1990. No
campo, é onde se encontram os menores índices de escolaridade e as maiores taxas de
analfabetismo do país. A agricultura concentra os mais baixos níveis de renda média. Para
Marques de Melo, tudo é uma questão de produção de conhecimento.
[...] se não priorizarmos a produção de conhecimento brasileiro sobre os processos
de comunicação rural continuaremos reproduzindo na sala de aula modelos
importados acriticamente das bibliografias estrangeiras ou realizando estudos
marginais sobre fenômenos típicos da vida rural, mas que não aprofundam as
relações simbólicas ou as mediações culturais (MARQUES DE MELO, 1993, p
77).
Muitas experiências frustradas em que o conhecimento técnico não foi aceito pelo
homem do campo por não compreender o conteúdo proposto devido à falta de conhecimento
deste conteúdo teórico, provocaram comentários de que o homem do campo não é capaz de
aceitar as inovações. No entanto, segundo Freire (Ibid.), faltou o verdadeiro entrosamento
entre a teoria e a prática, ou seja, a práxis em que ensinar e aprender devem estar em sintonia.
De nada adianta o conhecimento técnico sem que se considere a realidade do local aonde vai
se aplicar essa teoria. Magalhães (2004) explica que a comunicação se estabelece através da
trocas de idéias, do diálogo e da construção comum, que só é possível quando dois pólos da
7
estrutura relacional funcionam. Neste sentido, todo transmissor pode ser receptor, e todo
receptor pode ser transmissor.
No que se refere à tomada de decisões na agricultura, Bordenave (1988, pg. 21)
destaca três fatores: Querer, saber e poder. “A comunicação influi decisivamente sobre estes
três fatores: agricultores vão querer adotar uma inovação se sabem que ela existe e quais são
suas conseqüências e poderão executá-la se aprendem como fazer, isto é, os procedimentos
correspondentes”. Sendo assim, depois de ter certeza sobre como vai se realizar a atividade
proposta, o agricultor aceita sua aplicação. Importante mencionar que em determinadas
experiências se implantou o novo modelo tecnológico a partir de um dos membros do grupo.
Ou seja, a informação agrícola adotou técnicas de marketing, e o sucesso destes fez com que
outros agricultores viessem a implantar também a novidade.
Em se tratando de extensão, de acordo com Bordenave (1988, pg. 26), “a palavra
extensão vem da ação de estender os resultados da pesquisa agrícola aos agricultores”. Porém,
vale ressaltar que de nada adianta uma pesquisa apontar para melhorias, se neste sentido for
necessário o uso de máquinas, fertilizantes e defensivos incompatíveis com a capacidade
produtiva da propriedade. Sendo assim.
Há de se considerar que tecnologia agrícola, então, não são as sementes, máquinas
ou adubos, mas o conhecimento de seu uso correto num sistema de produção
determinado. Transferência de tecnologia, neste sentido, significa comunicação de
conhecimentos (BORDENAVE, 1988, pg. 48).
É importante para a comunicação rural levar em conta o estágio tecnológico em que se
encontram os agricultores de uma determinada região. Quando se aplica o conhecimento
como uma ferramenta transformadora, podemos dizer que essa inversão de fluxo informativo
representa a passagem da informação agrícola para a comunicação rural, neste sentido a
informação se difunde e aparece como uma troca de diálogo mútuo. Segundo Freire (1983,
sp) “a capacitação técnica constitui-se como um espaço que é objeto da reflexão dos
camponeses”. Se até a década de 70 a comunicação se dava de cima para baixo na figura de
um produtor de mensagens, que se dirigia ao agricultor unilateralmente, segundo Bordenave
(Ibid.), a comunicação rural cada vez mais deixa de funcionar naquele padrão vertical de
simples difusão. Hoje, ela está evoluindo para um diálogo participativo e problematizador, e
se percebe claramente esta ocorrência entre todos os grupos, pessoas e instituições que
compõem o setor rural.
Há de se considerar também outro fator diante da realidade crescente de um novo rural
brasileiro. Conforme Campanhola e Silva (2000 apud Magalhães 2004), pessoas da cidade
8
vão morar para o interior em busca de melhor qualidade de vida, desenvolvendo novas
alternativas de produção e industrialização. Segundo os autores “estas atividades geram a
mobilização de pessoas, incrementando o comércio de mercadorias, transporte e
comunicação, serviços auxiliares e atividades econômicas no meio rural”. Trata-se da
chamada nova ruralidade.
2.2 Comunicação Sindical
O sindicalismo no Brasil surge em 1858 no Rio de Janeiro com a sociedade de auxílio
mútuo. Estas sociedades acolhiam pessoas que estivessem passando por necessidades. Em
1906, ocorre o primeiro congresso dos trabalhadores que criam a Confederação Operária
Brasileira. Segundo Ribeiro (2008, sp), o objetivo do encontro era de democratizar o
movimento sindical e fazer da entidade sindical um órgão que representasse de verdade a
classe trabalhadora. O congresso foi um enfrentamento à política desvirtuada de alguns líderes
que apenas representavam seus próprios interesses, ao invés de representar sua categoria.
Nas décadas de 60 e 70, há uma busca do movimento camponês no sentido da
participação político-ideológica do movimento sindicalista rural interessado na condução do
próprio movimento. Dala Nora (2007,sp) aponta que, durante a década de 1980, aconteceram
algumas alterações sofridas pelo sindicalismo rural em consonância com o novo cenário
nacional de abertura democrática. E, dessa forma, nasce o “novo sindicalismo”, com
discussões mais críticas sobre a ação sindical. Com isso a luta sindical fica mais incisiva em
suas pautas de reivindicações.
Lima (2006,sp) define a questão em uma luta de nível ideológico, pois há muita
manipulação nos meios de comunicação e a atuação do sindicato deve ser no sentido de
revelar as coisas como elas são e como a política se desenvolve, sem manipulação. Mas é
importante destacar que a luta se faz com povo organizado e o sindicato é o instrumento que
articula esta luta.
Quando falamos nessa luta ideológica, queremos reforçar essa idéia de que os
trabalhadores deveriam ser formados no sentido de compreenderem a realidade objetiva em
que vivem. Mas isso só não basta. Lima (Ibid.) salienta que deve-se colocar as pessoas em
movimento para buscar suas reivindicações. Neste sentido, as manifestações em prol de seus
direitos, o material produzido para o convencimento e a sensibilização da comunidade diante
9
das reivindicações são argumentos que mobilizam e colocam as pessoas em movimento na
busca de seus direitos.
A organização sindical, em face aos problemas sociais, aparece como um espaço de
sobrevivência e resistência, em razão da construção de um modelo capaz de suprir as
adversidades regionais e locais.
Para Schneider (2003 apud Pelegrini e Gazolla, 2008, p. 75), deve-se levar em conta a
necessidade de estratégias de reprodução social frente às diferentes situações sociais. A
reprodução social, econômica, cultural e simbólica das formas familiares dependerá de um
complicado jogo através dos quais as unidades familiares relacionam-se com o ambiente e o
espaço no qual elas participam.
De acordo ainda com Schneider (Ibid.), desse modo, a reprodução não é apenas o
resultado de um ato de vontade individual ou do coletivo familiar ou, tampouco, uma
decorrência das pressões econômicas externas do sistema social. A reprodução social, então, é
o resultado do processo de intermediação entre indivíduos, entre membros com sua família e
estes interagindo com o ambiente social em que estão inseridos.
Cicília Peruzzo (1998,sp) diz que as pessoas se envolvem, se mobilizam, e se
organizam para assegurar a observância dos direitos fundamentais da pessoa humana ou,
ainda, para tratar de temáticas sociais mais amplas que dizem respeito ao conjunto da
sociedade.
Os estudos sobre comunicação e educação tendem a enfocar as relações e as inter-
relações entre os dois campos do conhecimento, principalmente a questão do ensino
aprendizagem enquanto mediada por um processo comunicativo; da utilização de
meios de comunicação na educação presencial; nas instituições de ensino; do papel
da mídia no processo de educação; da educação para a recepção crítica das
mensagens transmitidas através dos meios massivos, especialmente da televisão
(PERUZZO, 1998).
Peruzzo (Ibid.) destaca ainda que, as pessoas participam de grupos de interesses
sociais, organizações não governamentais, sindicatos e outros, na medida em que pela
organização e aplicação de suas idéias promovem um tipo de educação informal solidificado
pela cultura popular em benefício da formação para a cidadania. Para a autora isso abre uma
perspectiva diferente das mencionadas acima. Com isso nosso foco volta-se para a edu-
comunicação forjada em outro lugar, no âmbito da educação informal, mais precisamente a
que ocorre no contexto de organização e ação das organizações e movimentos populares.
Segundo Krohling (1997,sp), referindo-se aos movimentos sociais urbanos e rurais, “é
inegável a contribuição que os sujeitos coletivos sociais e políticos, emprestaram ao
10
alargamento do exercício do campo da política e ao processo de redemocratização da
sociedade”. A educação é um espaço de afirmação social de busca e partilha de
conhecimento. A comunicação é o facilitador para que o conhecimento chegue aos diferentes
tipos de grupos de pessoas.
Pereira (2006) observa que se percebe a disputa pelo sentido, a intenção de que seus
significados sejam decodificados por determinados grupos sociais. Segundo o autor, os meios
de comunicação sindicais, mais do que unidade, preocupam-se em mostrar uma aparente
unanimidade da categoria.
Um grande desafio para a construção do desenvolvimento humano e social demanda
de um intenso processo de formação de dirigentes e lideranças que se tornem capazes de
administrar as mudanças propostas como estratégias de enfrentamento e de organização do
movimento sindical em busca de formação consciente e ativa.
O material analisado se organiza entre a comunicação rural e sindical, buscamos
analisá-lo para observar de que forma ele contribui como instrumento de comunicação,
informação e formação dos trabalhadores da agricultura familiar.
3 Metodologia Utilizada para a Construção da Análise
Para a pesquisa que nos propomos fazer, vamos utilizar a metodologia de análise de
conteúdo de sete folderes, cinco folhetos e uma revista de origem da Federação dos
Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul FETAG/RS, e entidades afins, coletados
no balcão da sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Frederico Westphalen.
Nossa análise parte do pressuposto de que a elaboração de materiais para auxílio e divulgação
das lutas dos movimentos sociais, neste caso do STR, abre espaço para uma reflexão do
impacto que este conteúdo provoca nos associados. Grande parte do material é produzido em
nível nacional, estadual e adequado às demandas regionais e locais, e refletido na realidade
local através da sua distribuição, já outro montante é produzido na própria sede sindical e a
principal maneira de atingir o publico alvo (agricultor) é por meio das discussão em reuniões,
encontros comemorativos, lutas e mobilizações. A intenção da nossa análise é apontar
algumas características em relação à educação e formação sindical direcionada ao meio rural.
11
A análise de conteúdo é entendida como uma técnica hibrida que faz uma ponte
entre o formalismo estatístico e a análise qualitativa de materiais. De acordo com Bauer
(2002, sp), “a análise de conteúdo oscila entre estes dois pólos, ora valorizando a aspecto
quantitativo, ora o qualitativo”. Esta escolha vai depender da ideologia e dos interesses do
pesquisador. Segundo Wilson Corrêa da Fonseca Junior (2008, p. 285), “se o objetivo da
pesquisa é o aprofundamento deve-se usar o método da técnica qualitativa para que se possam
obter melhores resultados”. A nossa análise tem como foco os temas, as fontes e as imagens
do material coletado. Com isso esperamos poder aprofundar nossos estudos em relação a este
conteúdo.
O sindicato utiliza também o rádio para comunicar-se com seu público alvo, no
entanto por questões no que se refere aos diferentes recursos comunicacionais e suas
características muito diferenciadas, uma análise do programa radiofônico torna-se
incompatível com a nossa proposta. Outro fator é que no programa de rádio os assuntos são os
mesmos abordados nos folderes, folhetos e revista. Em virtude destes aspectos, optamos em
deixar o programa de rádio fora da nossa análise, mantendo o foco no material impresso.
O material impresso tem como característica a durabilidade, a possibilidade de
trabalhar com ilustrações, de poder circular entre vizinhos e mesmo em um local de pouco
acesso pela dificuldade de distribuição, como é o caso do meio rural da região, é bastante
valorizado justamente por essa possibilidade de ler e passar de um para outro e assim poder
comentar a respeito do conteúdo entre familiares, vizinhos e amigos. Para que nossa análise
possa ter foco, sem que para isso precise se usar de argumentos e métodos de outros gêneros,
optamos em somente analisar parte do material impresso do STR deixando além do programa
de rádio, também o jornal fora de nossa análise. Com isso nos propomos em ater-mos
exclusivamente nos folderes, folhetos e revista, que, abordam os mais diversos temas em
ralação ao Sindicato.
Alguns materiais coletados não possuem fonte revelada nem ano da publicação, são de
certa maneira um tanto rústicos e produzidos de forma quase artesanal. No entanto,
consideramos importante utilizá-los em nossa análise em virtude da possibilidade de
identificar a qualidade do conteúdo informacional destes. Outros materiais possuem fontes e
datas mencionadas, qualidade de impressão e fotos muito boas.
No quadro demonstrativo a seguir vimos a classificação do material em análise.
12
Quadro 1 - Material impresso coletado no balcão do STR/FW
FORMATO TEMA DATA ORIGEM TAMANHO COR
Folder Agricultor e
agricultura familiar
Não há Fetag –
RS/STRs/Contag
Quatro faces Colorido
Revista Agroindústria
familiar rural
2009 Fetag/Emater Oito faces Colorido
Folheto Centro natureza,
vida e saúde
Não há STR Duas faces Colorido
Folder Crédito fundiário Não há CONTAG/FETA
G/STTRs
Oito faces Colorido
Folder Cooperativa
Habitacional da
Agricultura
Familiar Ltda
Não há Fetag/RS Seis faces Colorido
Folheto Declaração anual
de rebanho é
obrigatória
2010 Governo do
RS/DFDSA/DPA
Uma face Colorido
Folheto Dia Internacional
da Mulher
2011 STR Uma face Colorido
Folder Escola de ensino
médio – Casa
familiar rural
2006 Casa Familiar
Rural
Quatro faces Colorido
Folder Fetag – RS 47 anos
de lutas e de
conquistas
2010 Fetag –
RS/STRs/Contag
Quatro faces Colorido
Folheto Fumicultor:
Valorize o Seu
Trabalho
Não há STR/Fetag Duas faces PB
Folder Proagro Mais Não há Banco do Brasil Quatro faces Colorido
Folder Programa Nacional
de Crédito
Fundiário
Não há CONTAG/FETA
G/STTRs
Dez faces Colorido
Folheto Sindicato dos
Trabalhadores
Rurais
Não há Fetag - RS Duas faces PB
Fonte: o autor
Neste sentido, o material produzido e distribuído pelo STR serve para o
convencimento e a sensibilização dos trabalhadores e trabalhadoras rurais e também da
13
comunidade diante das reivindicações dos agricultores. São argumentos que visam a
mobilização e tendem a colocar as pessoas em movimento na busca de seus direitos. Nossa
análise se propõe a identificar de que forma estes conteúdos se organizam com esse propósito.
4 A Comunicação Rural – Sindical no Sindicato dos Trabalhadores Rurais
4.1 Temática
Quadro 2 - Temas recorrentes nos treze itens analisados
Ordem Temas N° de vezes que aparece
01 Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) 10
02 Agricultura Familiar 09
03 Legislação e Meio Ambiente 07
04 Federação dos Trabalhadores na Agricultura
(Fetag)
06
05 Crédito Fundiário 05
06 Política Agrícola 05
07 Previdência Social e Saúde 05
08 Habitação 04
Fonte: o autor
Dez dos treze itens analisados tem como tema o Sindicato dos Trabalhadores Rurais,
apresentando conteúdos relacionados à luta e organização dos trabalhadores rurais. Trata-se
de assuntos que dizem respeito à história, mobilizações e conquistas do movimento sindical.
Nota-se que esse tema ora aparece nomeado como “STR” e ora como “movimento sindical”.
O STR aparece mais como entidade, estrutura organizacional, e o movimento sindical como
as atividades que dirigentes e trabalhadores realizam no dia-a-dia da luta sindical. É
importante destacar que luta se faz com povo organizado e o sindicato é o instrumento que
articula esta luta. Neste sentido, Pereira (2006, sp) observa que se percebe a disputa pelo
sentido, a intenção de que seus significados sejam decodificados por determinados grupos
sociais. Segundo o autor, os meios de comunicação sindicais, mais do que unidade,
preocupam-se em mostrar uma aparente unanimidade da categoria, por isso, a freqüência
14
deste tema no material analisado. Lima (2006, sp) salienta que se deve colocar as pessoas
em movimento para buscar suas reivindicações, e segundo Freire (1983, pg. 45), “o sujeito
pensante não pode pensar sozinho, não pode pensar sem a co-participação de outros sujeitos”.
Desta forma, a participação, o envolvimento das pessoas no movimento sindical, se justifica
pela necessidade de estar em contato com as outras pessoas de sua classe. E o material de
divulgação busca justamente essa unidade, mostrando os trabalhadores em suas atividades na
roça, no sindicato nas mobilizações e encontros comemorativos (oito de março - dia
internacional da mulher), mostrando um contexto que relaciona participação com conquistas
para a categoria.
Em nove dos treze itens analisados, a Agricultura Familiar aparece como tema.
Conforme dados apresentados por Guilhoto (2003, sp), a agricultura familiar representa 27%
do Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Sul e as cadeias produtivas vinculadas ao
campo representam metade do PIB do Estado. A agricultura familiar concentra a grande
maioria dos trabalhadores rurais, produtores de boa parte da matéria-prima que é utilizada
pela agroindústria familiar formando assim um ciclo, uma cadeia produtiva que agrega valor a
esse produto primário. Assim, pela recorrência deste tema vê-se que o STR/FW tem como
público agricultores familiares. Nessa temática o principal assunto é a agricultura familiar e
sua característica de pequena propriedade com mão-de-obra familiar, produzindo e
comercializando produtos in-natura ou industrializados pela própria família em pequenas
agroindústrias. Neste sentido, Pelegrini e Gazolla (Ibid.) comentam que o processo de
industrialização artesanal de alimentos possui um caráter cultural e histórico, que se constitui
em uma prática das unidades de produção familiar. Segundo os autores, a modernização da
agricultura através da incorporação do progresso tecnológico é que fez com que houvesse
aumento da produtividade da terra e do trabalho. De acordo com Freire (Ibid.), a capacitação
técnica constitui-se como um espaço que é objeto da reflexão dos camponeses.
Essa abordagem temática em relação à agricultura familiar numa perspectiva de se
organizar a propriedade de forma que gere renda em uma economia sustentável e de
qualidade, além do ensino de técnicas agrícolas, faz referência à educação e a formação dos
trabalhadores de acordo com a realidade da pequena propriedade. Gadotti (1999) diz que, a
educação tem um papel importante no processo de humanização do homem e na
transformação social. Isso significa uma educação especifica para um meio, no caso, o meio
rural, um grupo diferenciado com um interesse social. O material mostra o meio rural com
jovens, mulheres e homens se dedicando à formação, seja ela técnica (conhecimentos
científicos aplicados à agropecuária) ou social (formas de organização, direitos, qualidade de
15
vida). Neste sentido, a sucessão rural é apontada no conteúdo com a preocupação de formar
o jovem do campo, capacitá-lo em espaços educacionais voltados ao meio rural como a
pedagogia da alternância que valoriza a teoria e a aplicação prática do conhecimento na
propriedade rural.
Em sete dos treze itens, o tema tem relação com a questão da Legislação e do Meio
Ambiente, seja para a implantação e regulamentação de agroindústrias ou pela questão
ambiental, vigilância sanitária e sanidade animal. Os temas estão em foco neste período de
discussão sobre o novo código florestal. Tais questões relacionadas ao meio ambiente são
bastante discutidas pela repercussão que têm no cenário nacional e, com isso, no meio rural.
Neste sentido é importante que os trabalhadores conheçam e entendam o que significa essa
discussão, por isso, ela é frequentemente abordada no material disponibilizado pelo STR. A
busca pelo desenvolvimento sustentável que não agrida a natureza, com responsabilidade
social e cultural passa pela temática da legislação. A legislação não é só lei é conhecimento e
adequação. Segundo Schneider (2003 apud Pelegrini e Gazolla, 2008, p. 75), deve-se levar em
conta a necessidade de estratégias de reprodução social frente às diferentes situações sociais.
Neste sentido, a reprodução social, econômica, cultural e simbólica das formas familiares
dependerá de um complicado jogo através dos quais as “unidades familiares” relacionam-se
com o ambiente e o espaço no qual elas participam. O tema do material é significativamente
focado na questão da legislação, em virtude da atividade agrícola precisar estar de acordo com
liberações ambientais e autorizações sanitárias. Esse material serve de instrumento de
comunicação junto aos agricultores para a divulgação dessas exigências.
Em seis dos treze itens, o tema é a Federação dos Trabalhadores na Agricultura
(Fetag). A Fetag fica em uma posição intermediária entre os sindicatos e a Confederação
Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) e serve de elo e representa no estado do
Rio Grande do Sul, os pequenos trabalhadores da agricultura, que são, na grande maioria,
trabalhadores da agricultura familiar. Cicília Peruzzo (Ibid.) diz que as pessoas se envolvem,
se mobilizam, e se organizam para assegurar a observância dos direitos fundamentais da
pessoa humana ou, ainda, para tratar de temáticas sociais mais amplas que dizem respeito ao
conjunto da sociedade. Estas informações destacam em números a quantidade de pessoas que
ela representa em todo estado, em torno de 1, 3 milhões de trabalhadores (as) rurais, 351
sindicatos filiados em 23 regionais sindicais. Os números sugerem a importância pela quantia
de pessoas que agrega em sua estrutura. Assim, essa organização está refletida no material
analisado para que os agricultores conheçam a estrutura que os representa. O propósito
comunicacional do material enfatiza a luta a história e as conquistas do movimento sindical
16
colocando-se como mediador e representante dos agricultores. Assim, o objetivo
comunicacional da inserção dessa temática é legitimar a estrutura organizacional do sindicato
dos trabalhadores rurais e sua atuação social.
Em cinco dos treze itens, aparece o tema do Crédito Fundiário. O material aborda
questões relacionadas à necessidade de se conquistar crédito fundiário e agrícola viável de
acordo com a realidade da pequena propriedade à aquisição de terra com juros e prazos
diferenciados, considerando o alto valor dos insumos à necessidade de investimentos para que
se tenham condições de produzir e comercializar. Segundo Pelegrini e Gazolla (2008, p. 37), a
agricultura familiar passa pelos mercados tanto de mercadorias agropecuárias como de
serviços e da força de trabalho. Isso justifica a necessidade de produzir e comercializar, e
também de ter acesso a terra. No material, se destaca a importância da comunicação como um
instrumento de levar o conhecimento aos trabalhadores, para se ampliar e fortalecer as
estratégias na luta pelo crédito fundiário, de se divulgar estas informações nos meios de
comunicação disponíveis a fim de sensibilizar a sociedade quanto à importância de se
conquistar esse direito ao financiamento.
Em cinco dos treze itens, o tema trata da questão da Política Agrícola referente ao
preço dos produtos, à assistência e programas diferenciados aos agricultores e ainda o seguro
agrícola. As questões relacionadas aos trabalhadores e trabalhadoras rurais apontam para a
necessidade de se construir políticas públicas capazes de suprirem as demandas do meio rural.
Neste sentido, a valorização do trabalho do grupo familiar está relacionada a melhorias da
vida no campo, com a implantação de vários programas, entre os quais o seguro agrícola.
Estas ações promovidas pelos trabalhadores rurais em defesa da sua categoria vão de encontro
à formulação de políticas publicas para a agricultura na defesa da reforma agrária, em
benefício de atender aos trabalhadores sem-terra e assalariados do campo, bem como, os
trabalhadores arrendatários sem condições de adquirir sua terra. Segundo Krohling (1997,
sp), referindo-se aos movimentos sociais urbanos e rurais, é inegável a contribuição que os
sujeitos coletivos sociais e políticos, emprestaram ao alargamento do exercício do campo da
política e ao processo de redemocratização da sociedade. Assim, o sindicato busca mobilizar o
agricultor no sentido de ativar politicamente o movimento na articulação de manifestações em
defesa de condições de vida no meio rural.
Também em cinco dos treze itens, os temas da Previdência Social e Saúde são
abordados. Eles dizem respeito ao acesso à saúde, ao uso de métodos alternativos de saúde
preventiva e curativa à base de fitoterápicos (ervas medicinais). O material destaca a
17
organização dos trabalhadores e, de forma geral ressalta a importância da busca por
direitos, entre estes os relacionados à previdência social e à saúde, salário maternidade,
aposentadoria. Segundo Lima (2006, sp), neste sentido, as manifestações em prol de seus
direitos, bem como o material produzido para o convencimento e a sensibilização da
comunidade diante das reivindicações são argumentos que mobilizam e colocam as pessoas
em movimento na busca de seus direitos.
Quatro dos treze itens apontam o tema da habitação rural como forma de melhorar a
vida dos trabalhadores do campo. Esta pauta se tornou um marco da luta do movimento
sindical, conquistando benefícios para a população rural. A luta pela moradia já garantiu
melhorias na vida de muitos trabalhadores da roça, com moradia digna se possibilita avanços
em outras áreas ainda carentes de programas e avanços. A importância deste tema para o
sindicato pode ser observada no fato de que um dos folderes tratava exclusivamente deste
tema, pois a moradia é entendida pelo sindicato como um dos principais fatores para se ter
qualidade de vida.
4.2 Fontes
Quadro 3 - Fontes
Banco do Brasil 1
Casa familiar rural 1
Confederação Nacional dos trabalhadores
na Agricultura (Contag) 3
Empresa de Assistência Técnica e
Extensão Rural (Emater)
1
Federação dos Trabalhadores na
Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag) 8
Governo Federal 1
Governo RS – Secretaria da Agricultura 2
Ministério do Desenvolvimento Agrário 1
Secretário de Política Agrária da (Contag)
Willian C. S. Matias
1
Secretaria de Reordenamento Agrário 1
Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) 5
Total 25
Fonte: o autor
18
O quadro das fontes mostra que não há presença de agricultores como fontes, mas
somente a presença de entidades representativas, os sindicatos, as federações e a
confederação, além de outras entidades parceiras. Somente um texto sobre crédito fundiário e
luta sindical é assinado pelo Secretário de Política Agrária da Contag Willian C. S. Matias. O
material não é organizado na forma de entrevistas e sim por temas ligados ao movimento
sindical.
A voz institucional apresenta os conteúdos direcionados à classe trabalhadora com o
objetivo de informá-la, porém, a voz do indivíduo está representada nesses conteúdos, numa
relação fundamental: O sindicato representa os agricultores, logo a voz do sindicato é a voz
dos agricultores, nesta lógica, partindo da realidade do ambiente da luta sindical composta de
lideranças e trabalhadores é que surge está representação. Os nomes das pessoas responsáveis
por elaborar esses conteúdos não aparecem como fonte, apenas aparece o nome da entidade.
Além disso, o processo de seleção dos temas e sua abordagem se dá em um processo
comunicativo que inicia como reuniões, debates encontros e manifestações em defesa do
interesse dos trabalhadores (ambiente da luta sindical). Em seguida, esses temas e esses
debates servem de base para a elaboração desses conteúdos divulgados pelas entidades
representativas, como construindo uma espécie de “autoria coletiva”, que será assinada pelo
órgão de representação.
As entidades parceiras são oriundas notadamente de órgãos governamentais. Isso
mostra que o movimento sindical para construir suas conquistas precisa estar em sintonia com
as políticas públicas governamentais.
4.3 Imagens
Quadro 4 - Imagens
Educação 22
Mobilizações 10
Trabalho, vida no campo e
produtos
49
Total 81
Fonte: o autor
Das 81 imagens analisadas, em 49, o assunto é o trabalho dos agricultores, sendo na
grande maioria das vezes o agricultor representado em trabalho braçal, com enxadas, alicate
19
de poda, equipamento de apicultor, carregando fumo, colhendo legumes, frutas e cereais.
São produtos oriundos da agricultura familiar, produtos in-natura ou industrializados,
artesanatos, ervas medicinais e produtos derivados das plantas medicinais. Poucas pessoas
apenas estão em composição com o ambiente rural próximas de suas casas. O trabalho braçal
sem grandes aparatos tecnológicos também é característica do público presente nas imagens,
que é o público do STR. Das 81 imagens, em 22, aparecem pessoas em salas de aula,
mostrando a educação voltada ao meio rural. Isso também ocorre na representação de aulas
práticas em campo, onde aparecem várias culturas sendo manuseadas por jovens estudantes.
Em outras imagens, aparecem pessoas adultas em espaço de formação, reunidas em salas,
debatendo, discutindo apresentado propostas dos debates.
Das 81 imagens, em 10, estão presentes muitas pessoas participando de mobilizações,
com faixas, bandeiras, enxadas. Concentradas em praças, reivindicando suas pautas na luta do
movimento sindical. Há também algumas pessoas se pronunciando para a multidão. Em
outras imagens, as pessoas estão de mãos dadas caminhando, se movimentando e também em
algumas cercadas pela polícia.
Nas imagens, os trabalhadores ganham destaque, em uma tentativa de mostrar que o
movimento sindical é feito por trabalhadores, trabalhadoras e jovens rurais. O protagonismo
dos trabalhadores está evidenciado pelo trabalho no campo, em movimentos sociais e projetos
educacionais. Se os agricultores não aparecem como fontes, eles são marcadamente
assinalados nas fotos e figuras. Nestas, não há ênfase nos líderes, presidentes de sindicatos ou
políticos, mas nos trabalhadores.
A atividade agrícola retratada deixa claro que se trata de pequenos produtores,
trabalhadores em regime de economia familiar. Mostra ainda que, além do trabalho, a classe
está em busca de conhecimento, de aperfeiçoamento e também atenta para defender seus
direitos organizando-se e participando de mobilizações. A grande maioria das imagens não
credita autoria ao fotógrafo, para ser mais exato, apenas uma foto está creditada como
“Arquivo da Contag”.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao finalizar esta pesquisa sobre comunicação e formação sindical rural, tendo como
base o material impresso, coletado no balcão do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de
Frederico Westphalen, observamos a grande incidência da agricultura familiar e suas
20
características familiares enquanto composição e forma de trabalhar. Homens, mulheres e
jovens trabalham a terra numa perspectiva de qualidade de vida, que está profundamente
ligada às lutas do movimento sindical, formado justamente por este público da agricultura
familiar. Nesse contexto de trabalho, lutas e conquistas os trabalhadores organizados em
espaços de formação e debates sobre a realidade do campo, formulam suas reivindicações. O
conteúdo destas atividades se transforma em material de divulgação e conhecimento entre os
trabalhadores do campo, e se torna um instrumento de comunicação.
No entanto, observamos que os agricultores não aparecem como fontes no conteúdo
escrito dos folderes, folhetos e revista, mas aparecem nas fotos. Por outro lado os diretores
dos sindicatos e entidades parceiras, na maioria governamentais, aparecem pouco nas fotos e
mais como fontes nos conteúdos analisados. No geral, a temática aborda questões que são da
realidade da vida no campo, mas é nas fotos realmente que fica evidente o público-alvo do
material, destacando os trabalhadores em suas atividades de trabalho, estudo, formação e
mobilizações.
Na maioria dos temas há indicativos, orientações, informações de como funcionam
determinados programas e como fazer para participar, ainda chamam a atenção para a
necessidade de estar em sintonia com as pautas mantidas pela FETAG e os sindicatos,
colocando os avanços das mobilizações.
Nos conteúdos em geral, a informação é transmitida de forma sucinta, mas nem por
isso menos informativa. Essa característica de ser resumida é comum ao tipo de material
comunicacional analisado, constituído de folderes, revistas de poucas páginas e panfletos.
Mas é também uma estratégia de atingir o agricultor público-alvo do sindicato, a partir desses
conteúdos rápidos com isso podemos concluir que o material cumpre seu objetivo
comunicacional que é o de ligar o agricultor ao sindicato para a solução de problemas
concretos de seu dia-a-dia. Assim, apesar do pequeno tamanho e quantidade de texto, há uma
grande quantidade de informações contidas em tais conteúdos abordando temas com relatos
históricos das lutas e conquistas, as explicações sobre os programas e acesso à benefícios e
crédito, enfim toda a temática abordada em relação a classe trabalhadora rural. O movimento
sindical formado por trabalhadores e sindicalistas possuem um instrumento de muito valor
para divulgar suas ações, apesar de não ter como fonte direta os agricultores, pode servir para
os trabalhadores como um instrumento comunicacional, informativo e formativo em relação
ao trabalho do Sindicato dos Trabalhadores Rurais.
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6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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