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Comunicare - Rios

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Ano 13 - Nº173 - 2º Ano de Jornalismo "B" - PUCPR

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SERÁ QUE OS RIOS TÊM LUGAR NA VIDA DO CIDADÃO DA CAPITAL ECOLÓGICA?

Parceria entre jornalismo cidadão e riosopinião02 Curitiba, novembro de 2009

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OMBUDSMAN - FIDELIDADE AO TEMA É FUNDAMENTAL

Algumas lições de um tempo bom para produzir jornalistas de boa qualidade

Ana Superchinski

Qual a imagem que temos de um rio? Esta questão não deve se calar hoje. O normal é não vermos um rio como pertencendo naturalmente ao nosso meio urbano, mes-mo que historicamente Cu-ritiba tenha sido construída ribeirinha a dois rios, com o propósito de abastecimento de água e resolver o proble ma dos dejetos humanos. Os movimentos de um rio, seus ciclos naturais de cheias e secas, parecem não combinar com grandes aglomerados de pessoas e de construções imponen-tes. Então, ao longo dos tempos, procuramos do-mesticá-los da forma mais

conveniente para nós: des-viamos seu curso, canaliza-mos, construímos represas e usinas hidrelétricas, ar-quitetamos parques, que também não dão a noção de que ali circula um rio. Assim, nós não os vemos,

deixando de nos preocu-par com eles, pois virtual-mente deixam de exis tir. Mas e quando nós mesmos poluímos os rios sem sa-ber, devido à ineficiência do sistema de esgoto? Será que não temos nada a ver

com as favelas que se er-guem à margem dos rios, sem outro espaço senão esse, sofrendo especial-mente na época das cheias? Para falar sobre isso, nada melhor que usar uma arma jornalística relativamente nova: o jornalismo cidadão, presente nesta edição. É uma forma de noticiar sob o ponto de vista de quem vive a história, e não das autoridades para quem está tudo bem. A imparcialidade jornalística é abandonada pela causa do cidadão, edificando a democra-cia. Então, ótima leitura!

Gostaria de mencionar que me senti honrada com o convite para atuar como ombudsman. Ao analisar o 166º Comuni-care pude reviver todo o processo, tão fundamen-tal em minha formação. A capa elaborada tradu-ziu de maneira interessante o tema em questão – as influências estrangeiras como parte da formula-ção de nossa cultura – e serve de prelúdio a pautas densas e bem trabalhadas. No entanto, em determi-nado momento da leitura algumas matérias (como as principais de Tecnolo-

gia e de Moda) não reve-lam qualquer acordo com a temática proposta. Em-bora o Brasil seja citação constante, não há relação com o restante do jornal. Não vi influências forastei-ras, hábitos incorporados à nossa rotina, valores advin-dos de outros países, nem mesmo um simples gentí-lico estrangeiro. Nenhuma fronteira foi transposta. Em outros momentos senti clara ausência de jornalismo. Percebi pas-sagens puramente opina-tivas, até em títulos. Não deduzam, instiguem! Não reciclem releases, cor-

ram atrás de fontes. E por falar nelas, um grave erro: falta de referências de consulta nos boxes, o que pode parecer ou ser plágio. Por fim, cito argumentos superficiais, diagramação pouco ousada, ausência de espírito crítico na codução da entrevista. Por outro lado, reconheço que a tur-ma explorou bem as pos-sibilidades que o tema dá. Vão além e muito sucesso!

FALA LEITOR

“O Comunicare traz matérias atualíssimas

numa linguagem clara.”

Sandra Helena Schiavon, bibliotecária da PUCPR.

FALA PROFESSOR

“A edição Abrasileirado tem matérias de

interesse público, bem objetivas.”

Cícero Lira, professor de Jornalismo da PUCPR.

Rios de Curitiba estão escondidos, por isso a população lhes dá pouca atenção, causando prejuízos a todos e ao futuro da cidade

ção da Mmcom Dirigida(Comunicare 2005).

Carolina Kirchner, analista de Comunica-

EXPEDIENTEJornal Laboratório da

Pontifícia Universidade Católica do Paraná

Edição nº 173 - Turno DiurnoNovembro/2009/ nº 173

PUCPRRua Imaculada Conceição

1.155, Prado Velho, Curitiba/PR

ReitorClemente Ivo JuliatoDecano do CCJS

Roberto Linhares da CostaDecano-Adjunto do CCJS

Marilena WintersDiretora do Curso de

JornalismoProf. Mônica FortCOMUNICARE

Jornalista ResponsávelProf. Zanei Barcellos

DRT 1182-07-93Coord. de Projeto Gráfico

Prof. Queila Regina S. MatitzEDITORES

Primeira páginaJosé Mário Dias

OpiniãoAna Superchinski

EntrevistaEmeline Hirafuji

GeralFlávia Tomita

Cidade Marília Dissenha

Região MetropolitanaVinícius Gallon

PolíticaLívia Cardoso

LazerElis Paola Jacques

EsporteIgor H. Castanho

CulturaGisele Eberspächer

EducaçãoMarília Dissenha

NOSSA CAPA

A capa é inspirada no modelo dos tablóides

ingleses, chamando aten-ção para o problema dos

rios. Arte: José Mário Dias. Fotos das editorias.

Page 3: Comunicare - Rios

PALESTRAS ALERTAM SOBRE NECESSIDADE DE PRESERVAÇÃO DOS RIOS DE CURITIBA E REGIÃO

Cinco olhares sobre os rios curitibanosSegundo os palestrantes é fundamental que, junto ao governo, a população participe da revitalização dos rios e mananciais

entrevista 03Curitiba, novembro de 2009

Palestras organizadas no dia 14 de setembro pelos alunos da equipe do Comunicare da Pon-tifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) de Curitiba, com a orientação do professor Zanei Barcellos, trouxeram ao câmpus representantes do go- verno, comunidades e associa-ções com diversos pontos de vis-ta a respeito da atual situação dos rios da grande Curitiba. Em co-mum, os palestrantes apontaram que a integração entre governo e sociedade é fundamental para a

revitalização e preservação dos rios. O motivo da mobilização foi informar aos alunos de Jor-nalismo e Engenharia ambiental, que estavam presentes no local, sobre a qualidade das águas e outros problemas como ocupa-ções irregulares, poluição e o descaso do governo e da socie-dade. Essas diferentes opiniões contribuíram para a confecção do jornal Comunicare (Rios). Estavam presentes o presidente da AMA São Lourenço (Asso-ciação dos Moradores e Amigos

do São Lourenço) César Paes Leme, o vice-presidente da As-sociação de Moradores do bairro Liberdade de Colombo, Arivaldo da Silva Machado, a gerente da Secretaria do Meio Ambiente de Curitiba, Leny Mari Toniolo, o professor do curso de engenharia ambiental, Adalberto Egg Passos e o secretário de Habitação do Estado do Paraná, Rafael Greca.

Alunos questionam sobre a qualidade dos rios da capital

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Arivaldo da Silva Macha-do, vice-presidente da Asso-ciação de moradores do bair-ro Liberdade, em Colombo, às margens do rio Palmital, chamou atenção para o desen-tendimento entre a Prefeitura e o Estado que acaba estagnando a resolução dos problemas en-frentados pelos rios da cidade. Destacou também a dificuldade que ocorre na tentativa de edu-car o povo do bairro quanto à poluição dos rios. Segundo Ari-valdo, por mais que seja feito um trabalho de conscientização, não é raro que os moradores voltem a poluir mesmo sabendo dos efeitos nocivos à natureza e à população. Para o vice-presi- dente da associação, a falta de infra-estrutura e o descaso dos moradores e dos governantes impedem que o processo de revi-talização dos rios seja realizado.

Emeline HirafujiGeferson Barazetti

Lidiane Tonon

Arivaldo da Silva Machado

Leny Mari Toniolo, enge-nheira ambiental e gerente da Secretaria do Meio Ambiente de Curitiba, mostrou a necessidade de implantar a educação ambi-ental e a importância de ter uma referência histórica de cada rio. “É preciso trazer os rios para perto de nós, conhecer a sua história, só assim começaremos a prestar mais atenção e cuida-remos mais deles”. Na palestra, a engenheira também abordou o descaso da população em rela-ção a alguns rios. “Há pessoas que chamam os rios de valetão, o tratam como se fossem esgotos e jogam os seus lixos caseiros” ressalta. Leny também é respon-sável pelo projeto Olho D´água, Preservação e Recuperação de Nascentes, Educação Ambiental nas Microbacias da Cidade de Curitiba. Mais sobre educação ambiental na página 16.

Leny Mari Toniolo

O secretário de Habitação do Estado do Paraná e também presidente da Cohapar (Com-panhia de Habitação do Paraná), Rafael Greca falou sobre os pro-jetos de reurbanização de áreas que tiveram ocupação irregular e a revitalização das margens de rios. A etapa do bairro Zumbi dos Palmares, em Colombo, já foi concluída. Segundo Greca, a população da região está recolo-cada e o rio Palmital está preser-vado. Em Piraquara, mil famílias do bairro Guarituba estão sendo remanejadas e as ruas sem saída junto ao rio foram extintas. Com um investimento de aproxima-damente R$ 36 milhões, Pinhais deve ganhar 447 novas casas para famílias que habitam áreas de risco. De acordo o secretário, 40% dos paranaenses vivem na RMC e grande parte delas em situação de sub-habitação.

Rafael Greca

Adalberto Egg Passsos, pro-fessor de Engenharia Ambiental da PUCPR, deixou claro seu ponto de vista ao apontar que o problema dos rios em Curitiba é pior que o divulgado. Revelou que todos os rios da capital para-naense encontram-se em situa-ção caótica devido a agressões cometidas pela população e aler-tou que uma das soluções para o problema seria proteger os rios dos moradores, para Adal-berto, os maiores agressores. Segundo o professor, o fato de Curitiba ser conhecida como a capital ecológica, certamente não é devido à qualidade dos rios e que por trás do interesse em apresentar a cidade como referência ambiental, existe um enorme descaso que parte tanto do governo como da popula-ção. Saiba mais sobre polu-ição dos rios nas páginas 4 e 5.

Adalberto Egg Passos

Na palestra, o presidente da AMA São Lourenço (Associação dos Moradores e Amigos do São Lourenço), presidente do Lions Clube Mercês e assessor do Meio Ambiente do Distrito LD1 Lions Internacional, Cézar Paes Leme, enfatizou a importância do tra-balho voluntário na preservação dos rios e suas margens, como no projeto Viva Belém e o Patrulha Ambiental. Cézar declara que o rio Belém é o rio mais poluído de Curitiba. “Ele possui todos os exemplos de agressões possíveis que o homem pode fazer contra um rio” e relata que não fosse a ação voluntária de muitos, o rio Belém estaria em uma situação muito pior do que está hoje. O presidente da associação ainda chama a atenção dos moradores próximos às margens, “a melhor pessoa para cuidar é quem mora no local”.

Cézar Paes Leme

Habitação Educação Morador Poluição Voluntário

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LIXO DOMÉSTICO E ESGOTO URBANO SÃO OS PRINCIPAIS POLUENTES DOS RIOS DA RMC

Em algumas décadas, a população sofrerá para ter acesso à água tratada de rios da região metropolitana da capital paranaenseA situação dos rios que pas-

sam pela capital é crítica e, se-gundo o especialista em Eco-logia Adalberto Egg Passos, é provável que em até 30 anos não seja possível encontrar água tratada em Curitiba.

Diariamente são encontrados objetos e resíduos boiando na água, presença de lixo ao redor dos rios, assoreamento e tam-bém precariedade no sistema de tratamento de esgotos urbanos. Em função dos aclives e de-clives no percurso das águas, a poluição sofre um processo de isolamento e se intensifica mais próximo às nascentes, pela ur-banização e pelo grande número de indústrias serem mais ativos nessas regiões.

A maioria dos rios já estão canalizados em pelo menos um ponto do seu trajeto para que a construção civil não encontre problemas e o mau cheiro não perturbe as pessoas que passam perto deles. Em regiões mais pobres, há muitas ocupações ir-regulares nas margens dos rios, são construídas moradias que

contribuem para que a poluição das águas cresça ainda mais. Se-gundo o biológo e especialista na área de Ecologia Adalberto Egg Passos, está cada vez mais complicado tratar água para o consumo humano porque não é possível captar a água dos rios com tanta sujeira. Há um grande risco de a água não ficar completamente limpa. “Acredito

que em 30 anos não tenha água tratada de rios da região metro-politana de Curitiba para toda a população, caso o crescimento urbano continue com essa mes-ma intensidade”, acrescentou o especialista.

A Sanepar (Companhia de Saneamento do Paraná) leva água tratada e faz serviços como coleta e tratamento da água e

esgoto para todo o estado do Paraná. Alisson Anginski, agente técnico da Sanepar, relata que “no laboratório, ao coletar a água bruta, são encontrados sólidos e suspensão, resíduos vindos de erosões, principal-mente quando há enxurrada, pois a vegetação é transportada. As análises são feitas de hora em hora em um processo com uso

Morador utiliza kit para analisar qualidade da água

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ESPÉCIES MAIS RÚSTICAS TÊM MAIS FACILIDADE NA ADAPTAÇÃO AO NOVO AMBIENTE

Animais se adaptam para sobreviver à poluiçãoCom a poluição cada vez mais

presente nos rios curitibanos, os animais precisam se adaptar para sobreviver. Atualmente, algumas espécies convivem com ela mais facilmente, mostrando que ainda pode existir vida nos rios da capital.

A região de Curitiba possui 317 espécies entre peixes, aves, mamíferos, anfíbios e répteis, que dependem das áreas de rios e muitas vezes só podem ser encontradas nessa região. “Os animais com um maior potencial de sobrevivência são em geral espécies mais rústicas”, explica Marcelo Aranha, professor da Universidade Federal do Paraná, atuante em ecologia dos rios. Es-ses animais que têm alta adapta-ção à poluição são ciclídeos e espécies que se reproduzem

mais rapidamente, como o peixe barrigudinho encontrado em rios curitibanos.

A poluição, causada princi-palmente por produtos químicos, faz com que espécies de peixes se extinguam em poucos anos. Ara-nha fala que, além de contaminar os animais, a poluição é prejudi-cial ao ser humano que venha a consumir esse alimento. Em alguns rios é possível encontrar pessoas pescando. “Muitas delas não tem conhecimento de que esse alimento pode fazer mal. Pensam que, se da primeira vez que eles comem nada acontece, não tem com o que se preocupar. Porém esse mal, na maioria das vezes, só aparece a longo pra-zo”, disse o professor. Os guar-das municipais não tem muito o que fazer a esse respeito. “Esse

ato não é proibido. O que po-demos fazer é explicar os riscos a estas pessoas”, conta o guarda municipal Jaime da Costa.

Além dos peixes, outros ani-mais são suscetíveis a mudanças. Francielle Ciconetto

DesequilíbrioQuando matéria orgâni-ca é lançada no rio, aumenta a oferta de co-mida, fazendo com que a população de peixes, microorganismos e in-setos aquáticos tam-bém se multiplique. Após algum tempo, chega um ponto em que existe um número de peixes insuficiente para a grande oferta de co-mida. Quando essa ma-téria orgânica começa a se decompor, ocorre a fermentação, pro-cesso que consome o oxigênio da água. Esse processo faz com que os organismos morram por sua falta. F.C.

As aves, por exemplo, encontram nos rios as condições necessárias para a sua sobrevivência, como a garça-branca-grande e o biguá.

Bruna Regatieri

de produtos químicos para que a água chegue ao padrão para o consumo humano”.

Testes para analisar a quali-dade da água podem ser feitos por qualquer pessoa que possua um kit como o que é utilizado pela Sanepar para verificar os poluentes da água. É o caso do morador do bairro São Louren-ço, Bruno Verdi. Ele coleta água de diversos pontos do Rio São Lourenço e faz a análise. “Como um estudante da área da saúde, me preocupo com a situação ambiental e tento fazer a minha parte. Se encontro substâncias perigosas para a nossa saúde, alerto meus vizinhos e aviso a Sanepar”, complementa Verdi.

Curitiba possui três estações de tratamento de água e conta com a colaboração do IAP (In-stituto Ambiental do Paraná), que monitora a qualidade da água das bacias hidrográficas do estado. Mas, apesar dos esforços para manter a qualidade, os rios estão cada vez mais poluídos.

Técnico da Sanepar analisando a amostra

diagnóstico04 Curitiba, novembro de 2009

Animais mais resistentes têm mais facilidade para se adaptar

Água: cada vez mais difícil de ser tratada

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Page 5: Comunicare - Rios

ATERRO DA CAXIMBA, UM DOS RESPONSÁVEIS POR POLUIR O RIO IGUAÇU, DEVE SER FECHADO EM JANEIRO

Rio Iguaçu é o 2º mais poluído do BrasilEsgoto doméstico, ocupações irregulares, depósito de lixo e desmatamento são principais motivos da poluição dos rios da capital

Curitiba, que é conhecida como a capital ecológica do país, tem o segundo rio mais poluído do Brasil segundo o IBGE (In-stituto Brasileiro de Geografia e Estatística). É o Rio Iguaçu, que perde apenas para o Tietê. Essa poluição deve-se, em grande parte, à quantidade de pessoas que moram em volta do rio. Mas o aterro da Caximba também é um dos responsáveis por parte da poluição, uma vez que o rio é atingido pelo chorume do ater-ro.

Em abril deste ano ocorreu um impasse envolvendo o aterro da Caximba, e o IAP (Instituto Ambiental do Paraná) garantiu que o aterro seria desativado até julho, mês no qual a vida útil do local teria se esgotado. Porém, o aterro continua funcionando. Apesar do que afirma o IAP, a Secretaria do Meio Ambiente alega que Curitiba tem um pare-cer que permite a utilização do aterro até o começo de 2010.

“Se o aterro funcionar acima da capacidade limite prejudica-ria muito o Rio Iguaçu”, afirma Vítor Hugo Burko, presidente do IAP, que também não cogita a ampliação do aterro, o que, segundo ele prejudicaria ainda mais o rio. Mas como medidas foram tomadas pela prefeitura, a capacidade se estendeu até dezembro deste ano, gerando protestos de ecologistas e mora-dores, que também reivindicam a participação de uma comis-são para fiscalizar o material destinado ao aterro. Zoemir de Souza, criador de bois no bairro Caximba, reclama do mau cheiro e outros problemas gerados pelo aterro. “Tem dias que ninguém aguenta o cheiro aqui”, afirma Zoemir.

Segundo a Secretaria Muni-cipal do Meio Ambiente, o Plano de Encerramento, que prevê o fim do aterro até janeiro de 2010, só depende da aprovação do IAP para ser efetivado, deixando a

população ainda sem saber se o fechamento é certo ou não.

Outra preocupação dos mora-dores de Curitiba é para onde vai o lixo que antes era destinado à Caximba quando o aterro fechar. Segundo a Secretaria do Meio Ambiente, esse lixo já tem desti-no. O Sistema de Processamento e Aproveitamento de Resíduos

(Sipar) irá tratar e aproveitar o lixo produzido pela popula-ção de Curitiba. A indústria vai transformar o lixo em matéria-prima, como adubo. A proposta é eliminar o aterro sanitário.

O Rio Iguaçu não é o único poluído na capital. “A situa-ção dos rios de Curitiba é de-primente”, afirma Vítor Hugo

ÚNICO ESSENCIALMENTE CURITIBANO, RIO BELÉM SOFRE COM A FALTA DE CONSCIENTIZAÇÃO

calização do IAP, diz que “para pessoas físicas serem multadas, é necessário o recebimento de denúncias (0800-6430304) ou ser feito o flagrante”. A Secre-taria Municipal do Meio Ambi-ente (SMMA) afirma que é muito difícil conter este problema, pois não depende completamente do seu trabalho. Porém, não soube

A capital do Paraná sofre com a falta de preservação quando se trata dos rios da cidade. O Rio Belém, único essencialmente cu-ritibano, é também o que se en-contra em pior estado. Projetos de revitalização são feitos por todo seu percurso e dão resulta-do a longo prazo. Porém, a falta de controle dos órgãos respon-sáveis pela preservação do meio ambiente prejudica o andamento desse processo.

Com sua nascente localiza-da no bairro Cachoeira, região norte da cidade limitando-se com o município de Almirante Tamandaré, o Rio Belém pos-sui 17,13 km de extensão e tem sua fonte preservada pelo Parque das Nascentes, criado em 2001. Contudo, oito anos depois de sua fundação, o parque já não se encontra em condições boas de preservação como antes, con-

forme afirmou um funcionário do local: “A prefeitura não cuida mais. Para os lados de Almirante Tamandaré o rio é mais limpo”. Ao percorrer o caminho do rio pela cidade, nota-se a falta de preservação e cuidado imposta ao Belém, tanto pela população ribeirinha e cidadãos comuns quanto por fábricas.

O Instituto Ambiental do Paraná (IAP), afirma, em rela-ção à legislação de preservação dos rios, que existem leis que proíbem o despejo de dejetos e multas aplicadas nos diferentes casos; Por exemplo quem causar poluição em níveis que resultem em danos à saúde humana ou que provoquem a morte de animais ou a destruição significativa da flora. Para uma empresa que lançar resíduos tóxicos, a pena aumenta para cinco anos. Clau-demir Colerhans, técnico em fis-

Analívia Ferreira da Costa

Larissa Dalitz

Burko, presidente do IAP. Não é nenhuma novidade que os rios como o Atuba, Barigüi e Belém também estão num estado críti-co. Como principais motivos da poluição, temos o despejo de esgoto doméstico, ocupações irregulares e depósito de lixo. E apenas a conscientização da população não basta para revi-talizar esses rios. Programas de revitalização devem ser feitos e efetivados para que haja uma melhora significativa. Segundo a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, o programa Viva Barigui está sendo implantado para revitalizar a bacia hidrográ-fica do Rio Barigüi. O projeto prevê a realocação de famílias em áreas irregulares. Mas para os moradores de Curitiba ainda é pouco. “É uma vergonha a polu-ição dos rios da capital”, diz Ma-ria Zornig, moradora do bairro Jardim Botânico.

Rio Iguaçu, localizado ao lado do aterro da Caximba

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Lixo é encontrado na nascente do Rio Belém

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informar qual foi o último caso de multa aplicada a um cidadão comum ou empresa, e quais as respectivas penas. “Nós não po-demos fornecer dados pessoais sobre os casos sem o consenti-mento da pessoa ou empresa”.

Em contraponto, há projetos de revitalização como o AMA São Lourenço, que inserem a

comunidade em atividades pela preservação dos rios. Por exem-plo o Viva Belém, que foi criado com o intuito de promover ações que ajudem a preservar o rio Belém e conscientizar sobre a importância das ligações corre-tas de esgoto.

Fiscalização deixa a desejar quando se trata de preservar os rios

diagnóstico 05Curitiba, novembro de 2009

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Ponto poluído do Belém no bairro Uberaba

Page 6: Comunicare - Rios

propaganda06 Curitiba, novembro de 2009

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MORADORA DE 67 ANOS CONTA QUE ENTROU EM BUEIRO PARA DIMINUIR ESTRAGOS

Manutenção de bueiros é falha em CuritibaPopulação da cidade reclama que limpeza preventiva não é feita e a prefeitura não presta atendimento em dias de alagamento

cidade 07Curitiba, novembro de 2009

Os rios e bueiros de Curitiba precisam de limpeza constante para evitar enchentes e prejuí-zos à população. Moradores de bairros da capital reclamam do descaso da prefeitura na ma-nutenção dos bueiros, que a cada chuva forte alagam as ruas e le-vam sujeira e muitos transtornos para as casas da região.

A aposentada Cacilda Perei-ra, de 67 anos, mora no Uberaba há 50 anos e diz que nunca viu a prefeitura limpar os bueiros da região. Ela explica que os ala-gamentos ocorrem porque o rio Belém enche, e os bueiros entu-pidos não escoam toda a água. Cacilda conta que para evitar maiores prejuízos, limpou os bueiros próximos a sua casa. “Eu já entrei duas vezes para limpar. Coloquei luva e bota e entrei. Tirei um monte de lixo”.

As enchentes não ocorrem somente nos bairros mais afasta-dos. Proprietários de comércio na Rua Desembargador West-phalen, no bairro Rebouças tam-bém sofrem com os constantes alagamentos. Maurício Kops, 45 anos, proprietário de uma

loja de veículos, disse que sem-pre houve enchentes próximo ao cruzamento da Desembarga-dor Westphalen com a Brasílio Itiberê. Kops reclama que quan-do chama a prefeitura pelo tele-fone 156, nem sempre é atendido e, quando é, dificilmente alguém aparece para resolver o prolema.

“Passam alguns dias e a pre-feitura liga para dar satisfação. Dizem que foi feita a limpeza, que tiraram sete caçambas de lixo, mas eu questiono: ‘quando, por onde, como foi?’, porque eu nunca vejo”.

Kops conta que nas enchentes mais graves a água chega a subir

20 cm e que em todas as vezes tem que fechar as portas da loja. “É muito prejuízo, o cliente que vê a loja alagada não compra o carro. O imóvel é desvalorizado, fora a sujeira e o mau cheiro. Também não posso trocar os móveis, porque tudo apodrece”, contou.

Na mesma rua, a gerente da Globo Estofaria, Edlane O-liveira, 46 anos, também sofre com as enchentes constantes. Ela conta que precisou adaptar todos os móveis do estabeleci-mento para que os prejuízos fossem menores. “Nós fizemos tudo mais alto para não molhar”. Edlane calcula que em um dia de alagamento, chega a perder R$ 600. Ao contrário de Kops, ela diz que sempre é atendida no 156, mas que a prefeitura nunca chega a tempo.

O outro ladoO diretor do Departamento

de Pontes e Drenagem - res-ponsável pela manutenção dos bueiros -, Djalma Mendes dos Santos, diz que “a limpeza é feita durante todo o ano, até em época de estiagem”. Segundo ele, há cerca de 200 fiscais nas ruas que procuram por problemas nos bueiros, mas que esse número ainda é muito pequeno para uma cidade tão grande, e que a pre-feitura precisa da população para direcionar o trabalho.

Lixo em bueiro da R. José Hauer não permite escoamento da água

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SEM CONTATO DIRETO COM OS RIOS CANALIZADOS, POPULAÇÃO SE DESINTERESSA PELO BEM PÚBLICO

Rios canalizados perdem suas identidades no ambiente urbano Em Curitiba, a Bacia do Rio

Belém, que compreende uma grande parte central da cidade, foi considerada pelo Intituto Ambiental do Paraná (IAP), a mais prejudicada da capital. A bacia não atende aos parâmetros físico-químicos da análise que verifica a qualidade das águas dos rios curitibanos. A popu-lação, porém, se mostra pas-siva a isso e considera ações, como o confinamento de rios, necessárias para o crescimento do meio. Além disso, não se vê políticas públicas para criar uma relação mais próxima entre os rios e a população que vive cer-cada de concreto.

“As canalizações são im-portantes, pois é uma forma de manter os rios limpos e evitar

inundações”, disse a estudante de medicina Pollyana Schnaider, 20 anos, que mora no Centro de Curitiba e não sabia que o Rio Belém passa próximo da sua casa, embaixo da Rua Tibagi. “É melhor ser canalizado do que virar um esgoto ao ar livre”, expôs a dona de casa do bairro Bigorrilho, Mareli de Fátima, 47 anos, que pouco sabia sobre o Rio Bi-gorrilho, que passa pela Rua Fernando Moreira. Se-gundo a coordenadora técnica de recursos hídricos da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Cláudia Boscardin, não é mais autorizado a canalização de rios. Contudo, essa idéia persiste her-dada do intenso crescimento ur-bano do século XX, quando não existiam as preocupações ambi-

entais que se tem hoje em dia.O engenheiro civil Carlos

Eduardo Tucci conclui no livro “Águas Urbanas: Interfaces no Gerenciamento” que a ca-nalização de cursos d’água é socialmente injusta e incorreta em relação ao meio ambiente. Marília Dissenha

Além de privar a sociedade de um bem público, que lhe ofe-rece uma melhor qualidade de vida, esse processo impede que a própria população acompanhe as condições de suas águas. Per-dendo totalmente o contato com os rios, as pessoas passam a não

valorizá-los e a acreditar que rios abertos e limpos e urbanização não combinam. Desta forma, os rios perdem suas principais ca-racterísticas e acabam afastados e esquecidos pela população.

Moradores de bairros de Cu-ritiba afirmaram que não possuem contato com alguma campanha que vise construir uma maior valorização dos rios curitibanos. “Não há políticas públicas nem de despoluição nem de consci-entização quanto à importância dos rios”, disse o estudante de design Ricardo Alves, 26 anos e a auxiliar de produção de vídeos, Flávia Silva, 20 anos, declarou não ter contato com algo sobre esse assunto.

Cacilda não teme bueiros sujos

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Abaixo de prédios e carros, o Rio Belém passa pela Rua Tibagi

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PREFEITURA DE COLOMBO E GOVERNO DO ESTADO NÃO ENTRAM EM ACORDO E PREJUDICAM A QUALIDADE DE VIDA DA POPULAÇÃO LOCAL. MORADORES RECLAMAM E PROMOVEM ABAIXO-ASSINADO

Bairro Vila Liberdade é símbolo do descaso com os moradores ribeirinhos da RMCMais de 800 famílias vivem em condições precárias, contraem doenças físicas e psicológicas devido á falta de saneamento básico no bairro Vila Liberdade, às margens do rio Palmital. Obras em benefício da comunidade ainda não têm prazo para começar

região metropolitana08 Curitiba, novembro de 2009

Crianças que moram no bair-ro Vila Zumbi dos Palmares, em Colombo (Região Metropolitana de Curitiba), encontraram uma alternativa para se divertir nas horas de lazer: pescam em um córrego, denominado “Valetão da rua 28” pela população lo-cal, e nadam no rio Palmital, que de tão poluído já não tem mais peixes.

É possível ver muito lixo pendurado nas margens do valetão, apesar da água ser apa- rentemente limpa. Subindo o seu curso, em direção à nascente, chega-se ao bairro Centro Indus-trial de Mauá. Segundo o vice-presidente da Associação de Moradores da Vila Zumbi, Ade- neeldes Oliveira, nesse bairro não há rede de esgotos, assim as diversas fábricas do local, como de carvão, produtos de limpeza e tintas, não têm onde despejar seus resíduos, que acabam indo

para a mesma valeta onde os ga-rotos pescam.

Após as pescarias, os garo-tos voltam para casa, limpam os peixes e os comem. “O valetão

é podre, mas não tem problema, porque nós limpamos e fritamos os peixes direitinho”, afirmou GFL, de 8 anos. As mães dos garotos negam que seus filhos se

divirtam no Palmital e pesquem no riacho poluído, mas a popu-lação local confirma o fato. Os peixes mais encontrados na valeta são, segundo as crianças, cascudo, traíra e bagres, além de rãs, que eventualmente, são cap-turadas no Palmital.

No Posto de Saúde de Mauá, responsável pela Vila Zumbi, 20% das crianças que chegam apresentam diarréia. “Essas crianças, muitas vezes não têm acesso a saneamento básico, a higiene é precária e a água inge- rida é mal tratada. Quando o caso não é muito grave, tratamos com soro, senão encaminhamos para um hospital”, disse a técni-ca em enfermagem do Posto de Saúde de Mauá, Fabíola Souza Pereira. No verão esse problema aumenta, já que a quantidade de chuva é elevada e o contato com a água também. Fabíola acrescentou que não são só as

Quadras construídas para evitar ocupações irregulares Prefeitura de Colombo não ligou a rede de esgoto às casas

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Crianças da Vila Zumbi dos Palmares, em Colombo, nadam no rio Palmital, pescam e comem peixes de valeta poluída por fábricas de região industrial

MÃES DE GAROTOS NEGAM QUE SEUS FILHOS TENHAM CONTATO COM A ÁGUA, MAS A POPULAÇÃO LOCAL CONFIRMA O FATO

crianças prejudicadas pela falta de saneamento básico. Muitos adultos chegam ao posto com leptospirose, causada principal-mente pela urina do rato de es-goto, e hepatite A, ocasionada

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Rafael Peterson Félix, de 11 anos, é um morador do Bairro Liberdade de Colombo, Região Metropolitana de Curitiba, e as-sim como milhares de famílias, mora em uma área de ocupação irregular. Aproximadamente 800 famílias residem no bairro e são obrigadas a conviver diari-amente com os diversos proble-mas que esse tipo de habitação apresenta. Para conhecer essa realidade a fundo, os repórteres do Comunicare visitaram casas e percorreram o trecho do rio Palmital que corta a comunidade guiada por Rafael. Um dos principais proble-mas refere-se ao esgoto. A pre-feitura de Colombo construiu as tubulações, mas não ligou os encanamentos das ruas às casas dos moradores. Uma solução en-contrada pelas famílias foi cons- truir com os próprios recursos, uma tubulação improvisada que

sai das residências e cai direto no rio Palmital. Quando chove e o nível do rio aumenta, este es-goto volta para os encanamentos através das pias e dos sanitários, causando muita sujeira. Esta tubulação chegou a ser construída pela prefeitura de Colombo no bairro vizinho, Vila Zumbi, mas para que essa tubulação chegue ao Liberdade, é necessário passar por baixo da BR-116. O problema é que esse trajeto deve ser construído pelo Governo do Estado. E neste im-passe entre governo e prefeitura, são os moradores que sofrem. Em coletiva de imprensa reali- zada pelo presidente da Cohapar (Companhia de Habitação do Paraná), Rafael Greca, foi dito que essa obra começaria em se-tembro de 2009, mas até hoje nada foi feito, conforme consta-tou o Comunicare em loco. A família de Inês Ferreira

Lima convive ainda com outra dificuldade. A filha Ingrid Lima Cassiano, 12, sofre há dez anos com um câncer no maxilar e precisa de higiene para fazer o

tratamento. “Quando esse lixo volta pelo encanamento, a gente até limpa, mas parece que nunca é suficiente porque minha casa vive infestada de ratos e baratas.

Tenho medo que numa das cri-ses da Ingrid, quando sua boca sangra por conta do câncer, ela acabe pegando uma infecção”. Ingrid também faz quimiotera-

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Crianças pescam traira no ‘‘Valetão da rua 28’’Garotos caçam iscas

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Page 9: Comunicare - Rios

PREFEITURA DE COLOMBO E GOVERNO DO ESTADO NÃO ENTRAM EM ACORDO E PREJUDICAM A QUALIDADE DE VIDA DA POPULAÇÃO LOCAL. MORADORES RECLAMAM E PROMOVEM ABAIXO-ASSINADO

Bairro Vila Liberdade é símbolo do descaso com os moradores ribeirinhos da RMCMais de 800 famílias vivem em condições precárias, contraem doenças físicas e psicológicas devido á falta de saneamento básico no bairro Vila Liberdade, às margens do rio Palmital. Obras em benefício da comunidade ainda não têm prazo para começar

região metropolitana

Lívia Pulchério

O MURO QUE DIVIDE A VILA LIBERDADE TEM PONTOS DE DROGAS E PROSTITUIÇÃO

Moradores da Vila Zumbi precisam escolher entrepassar por um trecho perigoso ou andar mais 4 km

Dezenas de moradores do Bairro Liberdade e da Vila Zum-bi dos Palmares de Colombo, Região Metropolitana de Curiti-ba, trabalham e fazem compras fora dos dois bairros. E a prin-cipal via de acesso é um trecho murado de aproximadamente 1 km, que além de esburacado e lamacento, é violento, tendo diversos pontos com vendas de drogas e prostituição. Para atravessar para o outro lado a população construiu uma ponte com manilhas de esgoto e fez buracos no muro. Aí surge outro problema: quando chove, o cór-rego conhecido pelos moradores como “Valetão da Rua 28”, enche e encobre a ponte, im-pedindo a passagem.

Ivani Lima é uma dessas moradoras que todos os dias atravessam este caminho e re-lata o drama que vem sofrendo. “Eu trabalho no condomínio

Alphaville e todos os dias vou para o meu emprego com muito medo. Várias vezes encontrei grupos de jovens usando dro-gas e dizendo obscenidades para quem passava, isso sem falar nos casos de assalto que já ouvi”. Ivani também já precisou

09Curitiba, novembro de 2009

passar por outro local que au-menta o percurso até o seu em-prego em 4km. “Quando chove, o valetão enche e cobre a ponte, aí não tem como passar, por isso a gente tem que dar a volta pelo trevo do Atuba”.

Segundo Patrick Amorim,

Prefeitura de Colombo não ligou a rede de esgoto às casas

Crianças da Vila Zumbi dos Palmares, em Colombo, nadam no rio Palmital, pescam e comem peixes de valeta poluída por fábricas de região industrial

MÃES DE GAROTOS NEGAM QUE SEUS FILHOS TENHAM CONTATO COM A ÁGUA, MAS A POPULAÇÃO LOCAL CONFIRMA O FATO

tesoureiro da associação de moradores da Vila Zumbi, este trecho pertence ao residencial Alphaville, que pretende tapar todos os buracos do muro, para depois fazer um centro comer-cial. “Quando isso acontecer, os moradores terão que arran-jar outra forma de chegar até o trabalho. O trajeto ficará mais longe e caro, já que terão que pegar ônibus”, afirma Patrick.

Em outro ponto deste cami- nho os principais passantes são os carrinheiros, que enfrentam outra dificuldade. Moacir dos Anjos, faz este trajeto há 5 anos. “Toda vez que chove, as margens do rio Palmital desbarrancam e o caminho vira um lamaçal que nós mesmos temos que arrumar, já que as autoridades não fazem nada”, relata Moacir.

Entrada aberta pelos moradores que dá acesso ao Alphaville

Viní

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pia no hospital Erasto Gaertner, e durante cinco dias por mês a família tem de levá-la para fazer o tratamento. “Já tivemos que enfrentar muito lamaçal e

muita água do Palmital até a canela por amor a nossa filha”, desabafa José Carlos Cassiano, pai de Ingrid. O descaso do Go- verno não diz respeito apenas ao saneamento básico. A prefeitura de Colombo é responsável por disponibilizar à família de Ingrid o remédio Ipsilon, que custa R$ 25,00 e que controla as hemorra-gias da garota. Essa medicação não está sendo entregue à famí-lia que depende de doações. A população ribeirinha tam-bém espera o cumprimento das promessas do Governo. Mo-radores da região contam que as obras de regularização e re-locação das famílias que estão em áreas de risco e irregulares foram prometidas para abril, adiadas para julho e depois se- tembro, mas até agora não foram iniciadas. Na casa de Ivanira Lima, mãe do guia Rafael, a família che-

gou a perder todos os móveis por conta dos alagamentos, por isso tiveram que subir o nível da casa em um metro. “É a terceira vez que fazemos uma reforma.

Precisamos de mais estabilidade para viver com dignidade”, re-latou Ivanira. Rafael e o irmão Jean, também já levaram um grande susto. No fim de um dia chuvoso, a rua alagou, esconden-do um buraco. “Os meninos es-tavam brincando quando caíram com a cabeça virada para baixo.

Ana Luiza de LimaLívia Pulchério

Nathália PontesVinícius Gallon

pela contaminação das águas pelo vírus.

Uma cancha esportiva de-veria ser construída às margens do rio Palmital, como parte da estratégia para reduzir a crimi-nalidade do bairro, segundo o presidente da Cohapar, Rafael Greca. Mas até agora o que se vê são somente entulhos de lixo, mato e um módulo da polí-cia militar que abriga o Projeto povo, sempre vazio. Além disso, o rio Palmital possui uma bar-ragem, destinada à contenção de enchentes, que deveria estar recebendo tratamento de água, mas não está. “Essa cancha está prometida há tempos para as crianças brincarem, mas até hoje nada foi feito. Assim, a vila nunca vai deixar de ser favela”, constatou a dona de casa Ivonete Lucas, mãe de G.

Vinícius Gallon

Se um vizinho que passava no momento não tivesse visto es-taríamos sem eles agora”, conta a mãe dos meninos. Um caso de leptospirose traumatizou outra mãe. O filho de Naira dos Santos contraiu a doença enquanto limpava a casa alagada e teve contato com urina de rato. Depois de 18 dias internado no hospital, Claudinei dos Santos se curou, mas acabou morrendo vítima de assassi-nato. Desde então, dona Naira não consegue mais sair de casa quando chove, a lembrança do filho não a deixa esquecer do sofrimento causado pela doença. “Nem tirar a água que acumula dos alagamentos eu consigo. Es-tou enfrentando uma depressão profunda. Toda vez que vejo um rato minhas pernas incham e eu não consigo sair de casa. Não aguento mais sofrimento, pre-ciso muito de ajuda”, desabafa.

Para melhorar essa situação, é preciso que haja políticas públi-cas voltadas para o saneamento básico dessa região. São medidas simples que poderiam prevenir que várias famílias convivessem com tantos riscos de contamina-ção decorrentes de uma higiene precária. A finalização das obras da rede de esgotos é uma dessas medidas.

Abaixo-assinado Os moradores do Bairro Vila Liberdade promoveram um abaixo-assinado com as princi-pais reclamações referentes ao rio Palmital e a falta de sanea-mento Básico. O documento que será levado até a prefeitura de Colombo, arrecadou até o mo-mento 80 assinaturas.

‘‘Não aguento mais sofrimento, preciso muito de

ajuda’’

Page 10: Comunicare - Rios

TANTO OS RICOS, QUANTO OS POBRES POLUEM PORQUE TEM OUTRAS PRIORIDADES PARA SE PREOCUPAR

Falta de conscientização prejudica riosPesquisa realizada pela equipe do jornal Comunicare revela que gastos básicos são muito próximos entre as classes alta e baixa

região metropolitana10 Curitiba, novembro de 2009

Uma pesquisa realizada pelo Comunicare comprova que em casas de distintas classes sociais, o consumo de água, alimento e energia – os três principais ele-mentos que permitem uma com-paração entre classes – são quase que igualmente gastos. Ao contrário do que se acre-dita, não são somente as pessoas mais favorecidas financeira-mente que contribuem em maior volume para a poluição. Isso se deve ao fato de que há tanto pes-soas de classe média baixa cons- cientes, como pessoas de classe média alta sem noção alguma de cidadania.

Apesar disso, para o enge- nheiro ambiental, Carlos Garcia, há uma diferença de compor-tamento entre os dois grupos, “os menos favorecidos, que convivem com o problema da poluição diariamente, reclamam com mais frequência, enquanto

que as pessoas de classe alta se ausentam da preocupação, cul-pando o governo pela falta de comprometimento’’. Os mora-dores dos bairros de elite acham que pagando os impostos já es-tão fazendo sua parte. “Quando eu pago a conta de água, vem incluso uma taxa de esgoto. O

mínimo que eu espero, é que esse dinheiro seja investido nis-so. Não tenho tempo para ficar cobrando o governo”, explicou a empresária Estefania Andretta, moradora de Quatro Barras.

Além disso os rios e esgotos nesses locais estão canalizados, escondendo os reais problemas

pelos quais os rios de Curitiba e Região Metropolitana passam.

Para as pessoas da classe mé-dia baixa que moram perto dos rios poluídos, essa é a menor das preocupações, uma vez que problemas como desemprego, educação e saúde os afetam mais diretamente. A faxineira Clarissa

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LIXO ACUMULA NAS MARGENS DO DIQUE DO RIO PALMITAL, ÁREA DE PRESERVAÇÃO ESTÁ ABANDONADA

Impasse entre a prefeitura e a Cohapar prejudica moradores ribeirinhos da Vila Zumbi, em Colombo

Cinco anos após a construção do dique de contenção do rio Palmital, no bairro Vila Zumbi, em Colombo e da criação de uma área de preservação perma-nente do manancial pela Com-panhia de Habitação do Paraná (Cohapar) em parceria com a prefeitura do município, pouco tem sido feito para a manutenção destes espaços. Resultado disso é que nas margens do dique con-tinuam sendo despejados detri-tos, podendo ser encontrados desde produtos descartáveis até carcaças de veículos.

Apesar do bairro ter uma unidade da Cohapar instalada próxima à barragem, ela não dis-põe de funcionários suficientes, conta somente com um único responsável pela conservação do dique. De acordo com o presi-dente da associação de mora-dores da vila zumbi, Julio Piu,

a Companhia não assume a ma-nutenção da área de preservação como responsabilidade própria. “A Cohapar disse que o projeto na vila está encerrado, agora os problemas devem ser resolvidos com a prefeitura”, explica Piu. No entanto, a prefeitura contesta e insiste que a preservação deve ser feita pela companhia de habi-tação.

Enquanto esse desentendi-mento não é resolvido, alguns moradores tentam resolver es-tes problemas por conta própria, como o pintor Carlos Caduto, que junto com seus vizinhos, pagaram cerca de R$ 60 pela limpeza do espaço. Para a assis-tente social da Cohapar, Lorena Mylla, nem todos os moradores que receberam benefícios com o

Projeto O projeto “Direito de morar”, desenvolvido pela Cohapar e prefeitura de Co-lombo, entre outros orgãos públicos relocou 289 famí-lias que viviam em áreas de risco próximas ao rio Palmital e à BR-116 e regu-larizou terreno de 1.552 famílias. Foram construí-dos so- brados de 40 m² para essas famílias, com rede de esgoto e galerias de água fluviais, serviços que até então não existiam no local. O programa tam-bém incluiu obras de pavi-mentação além da área de preservação do manancial, já citado na reportagem ao lado. A falta de qualidade de algumas dessas obras é a principal reclamação dos moradores. Muitas ruas estão esburacadas, o que dificulta o tráfego de veículos.

Nathália Pontes

Ana Luiza de Lima

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Chagas, moradora do Atuba, em Pinhas, confessa: ‘‘Quando eu tiver dinheiro para dar uma vida melhor aos meus filhos e ao meu marido, talvez eu me preocupe com os rios’’.

Área de proteção do manancial encontra-se em péssima condição

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projeto o valorizam, muitos con-tinuam jogando lixo nas áreas de preservação. “É muito difí-cil conscientizar a população, muitos mantêm os mesmos hábi-tos que tinham quando viviam em casas com pouca infra-estru-tura”, afirma Lorena.

Um dos fatores responsáveis pelo desestímulo da população é o descumprimento das ações pro-metidas pela Cohapar. Segundo Piu, essa área de preservação de-veria ser um espaço de lazer do bairro. “Mas até hoje, não foram feitas as calçadas nem a cancha que foram prometidas”.

Além de tentar resolver esse problema do lixo, Caduto tam-bém vai ter que pagar para con-struir um cano que escoe o ex-cesso da água para o dique para evitar que sua rua alague.

Page 11: Comunicare - Rios

O PROGRAMA ENFRENTA DIFICULDADES COMO A FALTA DE CONSCIENTIZAÇÃO DA POPULAÇÃO

Agendas 21: falta de verba e informaçãoAs propostas de preservação de rios das Agendas 21 curitibanas variam conforme a realidade e localização do grupo da Agenda

política 11Curitiba, novembro de 2009

Curitiba tem Agendas 21 formadas por diversos grupos (a cidade não tem Agenda 21 própria). Cada uma apresenta diferentes propostas. Existe a Agenda da OAB, da Vila Torres e também um projeto em anda-mento para a implantação de uma Agenda empresarial. Porém essas Agendas locais enfrentam dificuldades como falta de verba e falta de informação.

Cada Agenda 21 tem as suas peculiaridades. As propostas mu-dam para se adequar com as car-acterísticas da região e do grupo. Na OAB não existe uma preocu-pação tão direta com a questão dos rios. Já na Vila Torres, onde um trecho do Rio Belém passa, existem ações voltadas especi-ficamente para isso. “O rio já chega aqui degradado, e o nosso objetivo é fazer com que ele não piore daqui pra frente”, afirmou Marcos Erimberto dos Santos, coordenador da Agenda 21 local da Vila Torres.

Apesar de apresentarem pro-postas diferentes, as dificuldades que os programas apresentam

são similares. A conscientização é uma delas. “Existe dificuldade na mudança de comportamento das pessoas”, disse Leda Ramos May, presidente da comissão da Agenda 21 da OAB. Na Vila Torres, de acordo com Santos, “a conscientização das pessoas já melhorou. Quase ninguém mais joga lixo nas margens do rio”. Mas ainda existem casos que mostram o contrário. Ele contou que já foi feita uma arborização às margens do Belém, mas hoje as árvores foram destruídas por moradores da região.

E o problema da Vila Torres

não pára por aí. Ainda existe ou-tro alarmante: não existe verba. “O poder público poderia ajudar financeiramente com as ações e eventos da agenda 21 para atin-girmos mais pessoas. Somos de uma comunidade carente. Não temos dinheiro pra isso”, re-clamou Santos.

Para piorar a situação, existe a desinformação de pessoas en-volvidas com a Agenda 21. O Comunicare tentou durante 8 dias realizar entrevista com a co-ordenadora das ações da Agenda 21 Paraná, Schirle Margaret dos Reis Branco. Ela não cedeu

entrevista, e respondeu email afirmando apenas que não tem “informação da existência de Agenda 21 em Curitiba”.

Mesmo com a existência desses problemas, o projeto de implantação da Agenda 21 em-presarial está de pé e as outras agendas continuam com as suas ações. Na OAB os resultados ainda não são muito perceptíveis pois o programa só começou na prática em junho desse ano. Na Vila Torres, Santos contou que alguns bons resultados podem ser notados, especialmente com relação a preservação do Belém. Na Agenda empresarial, está pre-visto para o fim de novembro um documento de referência. Carlos Garcias, membro do grupo de pesquisa da Agenda 21 empre-sarial, se diz otimista. “Existe interesse por parte das empresas. Mas também existem barreiras de algumas empresas que têm pensamento antigo. Essas em-presas ainda não chegaram no século 21”.

Na Vila Torres, as árvores na margem do Belém foram degradadas

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A PRESENÇA DA POPULAÇÃO ÀS MARGENS DOS RIOS IMPEDE O DESENVOLVIMENTO DA MATA CILIAR

Se cumpríssemos a lei, teríamos somente mata ciliar em CuritibaCom o crescimento de Curi-

tiba a população está cada vez mais próxima dos rios, impe-dindo, assim, que a mata ciliar cresça. Mata ciliar é vegetação que cerca os rios, formada por um conjunto de raízes, flores e árvores que se nutrem da umi-dade existente ali. Ela contribui para presença de animais como peixes e pássaros. Também me-lhora a qualidade da água, já que impede a presença do homem nas proximidades dos rios, o que di-minui a poluição e também o im-pacto da chuva, pois absorve toda a água, reduzindo as inundações.

Para a preservação da mata ciliar existe a lei nº 4.771/65, que prevê o tamanho ideal de mata para cada rio que pode variar de acordo com a dimen-são dos rios, por exemplo rios 10

metros de largura devem ter no mínimo 30 metros de mata ciliar, rios de 10 a 50 metros de largura, uma mata ciliar de 50 metros.

No caso de obras em Curiti-ba, há uma redução, permitindo assim, a mata ciliar de apenas 15 metros. “Isso é permitido em ca-sos especiais como quando trata-se de obras de interesse público como pontes, ruas e rodovias. Os demais casos são penaliza-dos com multas, que variam conforme o caso”, comenta o superintendente de controle am-biental da Secretaria do Meio Ambiente, Mário Sérgio Razera.

O principal fator de desmata-mento dessa área são as mora-dias irregulares nas margens de vários rios em diversos pontos da cidade. Um dos rios mais atingidos é o Barigui, o qual é

atualmente o protagonista de vários projetos de revitalização

Segundo o engenheiro flo-restal da SPVS (Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem), Flávio Kruger, “se fôssemos cumprir a lei em Curitiba não iria ter cidade e sim, somente mata ciliar.” Em Curitiba o pro-blema é por causa da população que está cada vez mais próxima dos rios. Há um projeto que prevê mudança da lei de mata ciliar querendo a diminuição do tamanho mínimo de 30 para 15 metros em alguns estados. Flávio comenta que não é o caminho e ainda afirma: “a lei da mata ciliar é uma lei antiga, foi muito bem elaborada para a época e se en-quadra bem para os dias atuais”.

O que éA Agenda 21 é um pro-grama de ações as-sinada por 178 países na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e De-senvolvimento Huma-no, conhecida como ECO-92, realizada em 1992 no Rio de Janeiro. Ela defende o desen-volvimento sustentá-vel, buscando melhorar a qualidade de vida e realizando atividades em harmonia com a natureza.É subdividida em glo-bal, nacional e local. A nacional e a local, podem elaborar e im-plementar sua própria Agenda 21, baseando-se na global e de acor-do com a sua realidade sócio-econômica.

Angela Laureanti P. Machado

Rio Barigui, CIC: Casas há menos de 30 metros do rio.

Rio Barigui, Campina do Siqueira: Mata ciliar preservada.

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Evelin Schelbauer

Page 12: Comunicare - Rios

SITUAÇÃO DAS LIGAÇÕES DE ESGOTO NA REGIÃO CENTRAL DE CURITIBA É CRÍTICA

Ligações irregulares de esgoto poluem riosImóveis que são atendidos pela Rede Coletora de Esgoto (RCE) da Sanepar desembocam em córrego sem receber tratamento

Política12 Curitiba, novembro de 2009

públicas, que possuem tubula-ções exclusivas para a entrada das águas das chuvas. O cor-reto, seria interligá-lo a redes de tratamento da Companhia de Saneamento do Paraná, Sanepar, que é responsável pela coleta e tratamento do esgoto.Isso acon-tece por falta de informação ou descaso com o meio ambiente.

Outro grande problema da capital, quando se trata de liga-ções de esgotos, é a região cen-tral. Pelo fato de serem muito antigas, as tubulações são cheias de infiltrações e a interligação de novas redes ou manutenção das já existentes é difícil de ser feita, pois os rios estão praticamente todos canalizados e as tubula-ções se encontram no meio da rua, impossibilitando ainda mais a realização de obras. É possível perceber a situação dos rios pelo cheiro dos bueiros ou observan-do a poluição no Rio Belém.

A fiscalização dessas ligações de esgoto é feita pela Sanepar e pela Prefeitura de Curitiba, que contam com ajuda de denúncias de moradores, pelo número 156, e através do Ministério Público.

Mas o descaso não é apenas dos cidadãos. Em alguns pontos da cidade, até mesmo a Sanepar possui ligações irregulares. Na Rua Sérgio Pereira da Silva, no bairro Vista Alegre, por exem-plo, até alguns dias era possível observar a presença das tampas de metal da Sanepar, ou seja, os imóveis eram atendidos pela Rede Coletora de Esgoto, mas durante muito tempo a Compa-nhia de Saneamento não ligava a rede coletora em nenhuma central de tratamento, fazendo com que o córrego ali presente ficasse poluído com o esgoto que desembocava.

Nos últimos dias a Compa-nhia começou a realizar obras

para o encaminhar o esgoto até a central de tratamento. Segundo a estudante Monique Burda, 23 anos, que mora em frente ao cór-rego há 12 anos, o mau cheiro é frequente, principalmente em dias quentes. O técnico em tele-comunicação, Cláudio Steller, 42 anos, morador da rua há mais de

14 anos, diz que o problema se intensificou há cerca de 6 anos, e que sempre entrava em con-tato com a prefeitura, no número 156, para fazer reclamações, mas nunca o problema era resolvido.

Após anos de reclamações e irregularidades, começam as obras

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Clarissa Herrig

Descaso• A Sanepar foi procu-

rada inúmeras vezes para esclarecer por-que algumas liga-ções de esgoto não passam por centrais de tratamento e vão diretamente aos rios. O jornal lamenta a falta de informações sobre um assunto que diz diretamente à saúde da população.

O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DO VIVA BARIGUI POSSUI AÇÕES IMEDIATAS, DE MÉDIO E DE LONGO PRAZO

Rio Barigui, o primeiro escolhido para projeto de revitalização de águas em Curitiba por atravessar um terço de seu território

O Projeto Viva Barigui é uma iniciativa da Prefeitura Municipal de Curitiba que tem como objetivo a revitalização da Bacia Hidrográfica do Rio Barigui. O projeto é constituído de uma série de medidas que visam mudar a história dos rios da cidade para que futuramente se tornem boas referências em ações ambientais. Porém para que isso aconteça problemas como a ocupação irregular das margens dos rios, as ligações irregulares de esgoto, o assorea-mento e a destruição da mata ciliar precisam ser solucionados.

O Projeto foi iniciado no dia 22 de março de 2007, dia Mun-dial da Água, e não possui data para terminar. Seu planejamento é baseado em ações imediatas, de médio e de longo prazo. O Viva Barigui funciona como um projeto piloto para a realização

As ligações de esgotos dire-cionadas irregularmente nas ga - lerias de águas pluviais são uma das maiores causas de poluição de nossos rios e do mau cheiro dos bueiros por toda cidade.

Muitas pessoas, ao cons-truírem suas casas ligam seu es-goto diretamente a essas galerias

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Parque Cambuí pronto e ocupação nas margens do Ria Barigui

de outros projetos que abrangem os principais rios que passam pela cidade de Curitiba. Segun-do Cláudia Regina Boscardin, Coordenadora do Planejamento Estratégico para a Revitalização da bacia do rio Barigui, esse foi o primeiro rio escolhido, pois

possui 60 km de céu aberto, o que facilita a visibilidade das ações que estão sendo realiza-das. O rio Barigui abrange um terço do território da cidade de Curitiba e um terço de sua popu-lação. O projeto gira em torno de quatro componentes principais:

o da infra-estrutura, da fisca-lização, da educação ambiental e das ações legais e institucionais.

Entre as ações de infra-estru-tura já realizadas estão o Parque Cambuí, inaugurado em 2008 e também o desassoreamento do lago Barigui. Essas ações abran-gem também outros aspectos im-portantes como e realocação de moradores das margens dos rios em parceria com a Cohab (Com-panhia de Habitação de Curitiba). A fiscalização e as ações legais e institucionais irão analisar a melhoria da qualidade da água e condição das ligações de esgoto. A educação ambiental fica por conta do Projeto Olho D´Água que visa conscientizar a popula-ção sobre a importância dos rios.

As condições de rede de es-goto da Bacia do Barigui são precárias. Segundo dados do Ippuc (Instituto de Pesquisa e

Planejamento Urbano de Cu-ritiba)de 2005 dos 90.821 lotes, apenas 21.540 possuem coleta e tratamento de esgoto. As ocupa-ções irregulares, divididas entre assentamentos espontâneos e loteamentos clandestinos, tam-bém apresentam dados preocu-pantes. O número de habitantes estimado para os assentamentos é de 82.787 e para os loteamen-tos clandestinos o número es-timado é de 12.855 habitantes.

O projeto foi apresentado na França e conseguiu parte de seu orçamento com a Agência Fran-cesa de Desenvolvimento (AFD), banco público que tem como mis-são participar do desenvolvimen-to de países pobres financiando projetos econômicos e sociais. O valor de 47 milhões será divi-dido entre a AFD e a Prefeitura.

Lívia Marques

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Page 13: Comunicare - Rios

MORADORES RECLAMAM TER PERDIDO A PRINCIPAL FORMA DE LAZER DA REGIÃO

Proibição da pesca esvazia o PassaúnaO Parque do Passaúna teve seu movimento reduzido à metade e agora é procurado por quem quer descansar durante a semana

lazer 13Curitiba, novembro de 2009

O Parque Municipal do Pas-saúna já foi um lugar muito co-nhecido por quem gosta de pes-car. Com a atividade proibida há quatro anos, o movimento do parque diminuiu e o interesse dos moradores das redondezas também. Porém, ele é bastante frequentado por aqueles que bus-cam relaxar durante a semana.

No horário próximo ao meio-dia, visitantes vão ao parque para descansar antes de voltar ao trabalho. “Venho aqui principal-mente porque é um dos lugares mais tranquilos no horário de al-moço”, comenta o recepcionista de 52 anos, Antonio César Vieira, que todos os dias vem ao parque entre os turnos de serviço. “In-clusive hoje é meu aniversário, e como minha mulher e eu tra-balhamos juntos, viemos aqui descansar e comemorar”.

Por outro lado, os moradores dos bairros mais próximos recla-mam que foi retirado o principal meio de lazer da região. Morador do bairro Augusta, Sidnei Neves

Santos, 27 anos, lembra que fre-quenta o parque desde criança, quando ia pescar com seu pai. “A população que estava acostu-mada a ir ao parque sempre, que vivia cheio, agora tem mais re-ceio de ir porque está perigoso e muito vazio. De quatro anos para cá o movimento ficou menor e agora temos que nos deslocar até os pesque-pagues”.

Ainda visitam o parque pes-soas em busca da pesca como lazer, pois guias turísticos, sites e informativos a citam como um atrativo da região. O guarda mu-nicipal João Kukla conta que, apesar da proibição, muitos não sabem da lei. “Tem que ficar cuidando porque muita gente ainda vem aqui tentar pescar. Às vezes não sabem que foi proibi-

do mesmo, mas tem uns que vem e encostam o carro e vão tirando devagarzinho os equipamentos achando que não estamos ven-do”, fala Kukla. Ele ainda afirma que o movimento do parque foi reduzido pela metade depois da pesca não ser mais permitida por sujar as margens do rio. Já nos finais de semana, o Parque Pas-saúna recebe mais frequentado-res, principalmente famílias que fazem piqueniques e usam as churrasqueiras disponíveis.

Segundo o assistente do de-partamento de parques e praças da secretaria municipal do meio ambiente, Denilson Mendes dos Santos, o rio do Parque Passaúna é uma reserva de água que abas-tece um terço de Curitiba. “Ele precisa ser preservado pois é um manancial, e a pesca poluía e degradava as margens do rio”, explica Santos.

Antônio Vieira descansa no parque durante o horário de almoço

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Daniela Mallmann AndradeElis Paola Jacques

Lorena Oliva

COMO MELHORAR OS PARQUES?

“O Barigui não tem churrasqueiras

suficientes no domingo.”Rubens Fernandes, 19,

estudante

“No Bacacheri os aparelhos de ginástica e o bar deixam a desejar.”

Vânia Carvalho, 41, doméstica

“No Atuba dá para jogar futebol americano, mas o

rio é muito poluído.”Ian Harbs, 17, estudante

“O Tanguá é para a famí-lia, é seguro e o mirante

é bonito.”Pedro Rocha, 29, professor

“O São Lourenço é um pouco perigoso, não vou

lá sozinha.”Celi Galliano, 77,

funcionária pública

Elis Paola Jacques

Page 14: Comunicare - Rios

ROUBOS, VANDALISMO E FALTA DE CONSERVAÇÃO DESESTIMULAM FREQUENTADORES

Descaso e abandono no Parque Náutico Cortado pelos Rios Belém e Iguaçu, parque possui estrutura precária, insegurança e poluição. Situação é de esquecimento

esporte14 Curitiba, novembro de 2009

Criado para aproveitar um trecho urbano por onde pas-sam os Rios Belém e Iguaçu, o Parque Náutico encontra-se em estado de abandono. A área com mais de dois milhões de metros quadrados possui sérios proble-mas de segurança, poluição e infraestrutura. A falta de conser-vação tornou as águas do parque poluídas e o número de frequen-tadores caiu consideravelmente.

Localizado na divisa de Curi-tiba com São José dos Pinhais, o local faz parte do Parque Iguaçu e era voltado para a prática de es-portes aquáticos como o remo e a canoagem. Para isso os la-gos contam com decks e torres utilizadas para cronometragem. Atualmente a maioria dessas estruturas estão em péssimas condições, dificultando a rea-lização de competições e o trei-no de atletas.

O espaço também contava com lanchonetes e até criadouros utilizados para a criação de pei-xes. Hoje não existe qualquer comércio dentro do parque e casa utilizada nos projetos de piscicultura encontra-se total-mente depredada, devido aos constantes atos de vandalismo

que ocorrem no local.Outro sério problema diz res-

peito à pista de corrida. O trajeto com mais de cinco quilômetros possui diversos buracos, que podem causar lesões nos corre-dores. Além disso, durante a se-mana o tráfego de automóveis é liberado na pista, fazendo com que as pessoas tenham que di-vidir espaço com os carros. Como agravante há o fato de que ao lado do parque existe uma es-tação de tratamento da Sanepar e os caminhões da companhia passam frequen-temente em alta

velocidade pela pista. Além do risco de aci-dentes, a po- eira levantada pelos veículos tem causado problemas de saúde nas pes-soas que circu-lam pelo local. O supervisor

de segurança Ednei da Silva, de 31 anos, já sofreu com esse tipo de problema. “Já tive problemas respiratórios devido à poeira dos caminhões, que passam correndo por aqui e levantam muito pó”.

Quem ainda se arrisca a tran-sitar pelo parque tem que lidar com a insegurança existente na região. A comunidade Iguape 2 faz divisa com os fundos do parque, em uma área pouco fre-

quentada. Como esta parte do parque fica distante da entrada, acaba ficando mais vazia e os as-saltos tornam-se comuns. A fia-ção elétrica dos postes que estão nos fundos foram roubadas para serem revendidas. Até um poste já foi derrubado para a retirada das barras de ferro, também des-tinadas à revenda.

Muitas pessoas preferem praticar seus exercícios próximo à entrada do parque, já que lá fica situada a sede da Guarda Municipal. É o caso do metalúr-gico Edinaldo Coutinho, de 28 anos. “Eu corro aqui na grama, perto dos guardas, já que é mais seguro”. Como o efetivo policial é pequeno, não há qualquer ação preventiva dos policiais, como a realização de rondas diárias. A insegurança é tamanha que, segundo relatos, até mesmo o tráfico de drogas já foi flagrado no local.

A conservação básica do parque também enfrenta dificul-dades. A administração do local conta com número reduzido de funcionários, o que dificulta até mesmo tarefas como o corte da grama. Em vários trechos do parque é possível visualizar o mato alto. Além disso, os rios e lagos presentes no parque estão em péssimas condições de con-servação. O Rio Belém possui um forte mau cheiro e grande concentração de poluentes como

garrafas e plásticos. Em alguns lagos e cavas do parque também é possível observar o assorea-mento, que reduz a qualidade da água e favorece o surgimento de plantas prejudiciais a água.

Mesmo com todos os pro-blemas, os frequentadores ainda torcem para que a situação no parque melhore. É o caso de

Kalil Boabaid, que coordena um projeto social de incentivo ao remo no local. “A gente espera que realmente haja um interesse e um empenho em melhorar o parque para o futuro”.

Decks estão abandonados e em más condições

ESPORTE E CONSCIENTIZAÇÃO

Competição estimula o cuidado com nascentes

No final do mês de agosto ocorreu a quinta edição da Cor-rida de Revezamento das Nas-centes do Iguaçu. O trajeto da corrida é de 91 km, e passa por Curitiba e mais seis municípios da Região Metropolitana.

Nesse ano, a corrida contou com mais de 1.000 inscritos, di-vididos em 110 equipes. A cor-rida representa uma boa forma de integração dos municípios da Região Metropolitana, além de integrar os atletas com a nature-za e incentivar a preservação das nascentes do Rio Iguaçu.

Nos vários municípios do tra-jeto, os atletas se deparam com diversas nascentes, afluentes e rios que dão origem ao Rio Igua-çu. No município de Piraquara são mais de 1.100 nascentes, e

em Curitiba mais 280.A preocupação com a natu-

reza não fica restrita a questão da preservação das nascentes, pois o regulamento da corrida proíbe que qualquer tipo de lixo fique pelo caminho. Se a equipe cometer essa infração é punida, perdendo tempo no percurso.

O professor José Carlos Costa participou pela terceira vez da corrida das nascentes e destaca a importância dessa iniciativa para preservação da natureza: “A paisagem é muito bonita, e você acaba conhecendo lugares diferentes e preservando esses lugares. É um grande in-centivo ao turismo na Região Metropolitana”.

“A gente espera que realmente

haja um interesse em melhorar”

Igor CastanhoPaulo Mello

Marina Miranda

Marina Miranda

Espaço para a piscicultura virou alvo de vândalosFo

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Fiação de postes foi roubada para ser revendida

Page 15: Comunicare - Rios

DESCASO COM PONTO TURÍSTICO E HISTÓRICO DA CIDADE

Vilinha está abandonada

Parque no Bairro Alto leva falta de saúde e insegurança para frequentadores

cultura 15Curitiba, novembro de 2009

A Vilinha, parque montado no primeiro foco de ocupação de Curitiba, no Bairro Alto, está abandonada. O cheiro que vem do Rio Atuba é forte e suas mar-gens estão poluídas. O portal, símbolo do parque, que deveria ser a entrada de um Centro Cul-tural, é apenas um muro com fundações e ferragens à mostra do lado de trás, oferecendo risco para as crianças que frequentam o local.

O parque foi construído em homenagem aos portugueses que ocuparam o local durante o Século XVII. Eles fomaram o primeiro povoado a ocupar a região que viria a ser Curitiba. Os imigrantes saíram dali e foram para onde hoje é a Praça Tiradentes (acompanhe a história no box ao lado).

Adriana Genovez de Oliveira tem três filhos e reclama do atual estado e da falta de segurança na Vilinha. “É ruim, às vezes tem gente usando drogas aqui. Eu que sou mãe fico preocupada. E o cheiro do rio fica ainda pior no verão”. Mas Adriana comenta que a pouco tempo o sistema de

iluminação do parque foi amplia-do. “Já ajudou bastante, princi-palmente de noite”. O parque não tem nenhum posto policial nem agentes de segurança.

Natálio Ribeiro, de 71 anos, mora na frente do parque desde sua construção. Ele conta que quando chove muito, o rio enche e todo o lixo fica espalhado pelo local. Ele comenta ainda que o Rio Atuba, que nasce em Co-lombo e passa por Pinhais, já vem sujo.

Outra reclamação de Natálio

é, assim como a de Adriana, a falta de segurança. Mas ele faz a sua parte e atua como um prote-tor do local. “Aqui tinha muito ma-conheiro, muita prostituta. Principalmente de noite. Quando eu vejo que eles estão aqui, eu venho e converso. Explico que o parque aqui é de todos, que tem criança que vem brincar aqui no outro dia. Eles sempre acabam indo embora, mas se precisar, vou chamar a polícia. Se eles não se comportarem bem, eu tiro”.

José Neto, da Secretaria Mu-nicipal do Meio Ambiente, de-clarou que a maior parte da po-luição do local é causada pelas moradias irregulares na margem do rio, e a solução é difícil e de-morada – e começa com a desa-propriação das famílias. Um pro-jeto, previsto para começar em 2010, pretende recuperar toda a bacia do Rio Atuba, com uma maior fiscalização, conscienti-zação de moradores e melhoria da infra-estrutura na margem do rio.

Gisele EberspächerJéssica Kimy

Rio Atuba e lixo nas margens

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e poluída pelo Rio Atuba

Vilinha com poucos frequentadores: poluição e falta de segurança preocupam moradores

Page 16: Comunicare - Rios

POPULAÇÃO DESCONHECE PROGRAMAS DA PREFEITURA

Programa de conscientização ambiental é falho em CuritibaInformação sobre preservação dos rios se concentra em poucas áreas de Curitiba

educação16 Curitiba, novembro de 2009

Moradores de áreas carentes de Curitiba muitas vezes não sabem o que é certo ou errado quando o assunto é educação ambiental. Jogar lixo no rio e ter esgoto irregular não é um erro tão evidente quando o cidadão não tem a orientação necessária. Projetos como o Olho D’Água da Secretaria do Meio Ambiente existem, mas não abrangem toda a população e, por isso, são insu-ficientes.

O projeto Olho D’Água atua em escolas de ensino funda-mental e médio, orientando as crianças na preservação e con-servação dos rios da capital. O programa existe desde 1994, com a proposta de adotar uma metodologia simplificada de di-agnóstico e análise da qualidade da água, mas ainda se concentra apenas nas escolas localizadas próximas ao Rio Barigui.

A Escola Estadual Cecília Meireles, no Bairro Alto, deixou de ser beneficiada pelo projeto em 2007 e hoje professores e alunos trabalham sozinhos na conscientização da população que vive nos arredores do Rio Atuba. A professora Fátima Badaró lamenta. “Nós não po-demos parar, é um trabalho que temos que dar segmento mesmo sem a ajuda da prefeitura”. Fáti-ma conta que a educação ambi-ental já trouxe mudanças na vida dos alunos da escola. “Nós per-cebemos quando saímos com as crianças, elas respeitam a natu-reza e não jogam lixo nos rios”. Contudo, essa região continua bastante degradada. Muitas ca-sas ao redor da escola possuem esgotos irregulares e o lixo que ainda é jogado no rio provoca constantes enchentes.

Além das crianças, a edu-cação ambiental para adultos também é necessária. O pintor Dirceu Taborda, 47 anos, mora às margens do Rio Bacacheri e

conta que nunca teve qualquer orientação sobre o meio ambi-ente. “Eu moro aqui no bairro há mais de 10 anos e nunca vi a prefeitura passar ou dar alguma

informação para a comunidade. Nós aqui só servimos para votar. Eles só aparecem nas eleições”.

RECICLAR ÓLEO PRESERVA AMBIENTE

Em Curitiba, óleo usadoainda é pouco reciclado

Uma das preocupações de Curitiba em relação aos rios é o destino do óleo de cozinha usado. Muitas vezes, esse óleo é despejado na pia da cozinha ou até mesmo em bueiros, reserva-dos exclusivamente para águas pluviais, e através da rede de esgoto, acaba indo para os rios. A Prefeitura de Curitiba divulga que recolhe aproximadamente 3 mil litros de óleo de cozinha.

O óleo é recolhido pela pre-feitura nos 24 terminais de ôni-bus da capital e pelos caminhões do Câmbio Verde, que passam por 80 pontos da cidade. A co-ordenadora do projeto de reci-clagem Eco Cidadão, Ana Flávia Souza, diz que a quantidade de óleo recolhido ainda é baixa e a prefeitura estuda formas de incentivo à reciclagem. “Uma forma de incentivo é entregar embalagens específicas para a coleta do produto aos carrinhei-ros, para que eles nos ajudem no

recolhimento porta a porta”.Há uma estimativa que um

litro de óleo polua 10 mil litros de água. Além disso, o óleo en-tope as redes de esgoto, con-tribuindo para as enchentes e refluxo do esgoto nas casas e cria uma fina camada na super-fície da água, prejudicando a oxigenação dos rios. Quando o óleo é reciclado, passa por um processo de limpeza que o trans-forma em matéria-prima para fabricação de óleo lubrificante biodegradável e biodiesel. Com os resíduos, ainda faz-se sabão, detergente e ração para animais.

Muitas pessoas já se consci-entizaram da importância de fa-zer sua parte, como a secretária Roseli Souza: “Sempre levo as garrafas PET com óleo ao Ter-minal do Capão da Imbuia. De-vemos cobrar ação dos políticos, mas fazer nossa parte”, diz.

Rafaela Sequeira Karyme Kaminski

Sem educação ambiental, população ainda joga lixo nos rios

Raf

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