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A comunidade de Tejuco, localizada no município de Januária nasceu a partir da devoção religiosa a São José. O pároco do distrito entregou a imagem do Santo para seu José Moreira, um dos moradores mais antigos do lugarejo, que iniciou a festa. O coronel Alexandrino de Carvalho chegou à região e logo se apropriou das terras do Santo e da festa. Na década de 1950, o coronel começou então a fazer a doação de lotes. O lugar começou a ficar movimentado, tornando-se primeiro arraial, e hoje a comunidade de Tejuco. A partilha e a solidariedade são marcas fortes da comunidade. Terezinha, Ivaneide, Maria das Graças, Railda, Fátima, Pedro, Antônia, Manoel Aparecido contam que no início a produção era farta: feijão, arroz, abóbora, mandioca, milho, fava, melancia, algodão, que alimentava a todos. No dia a dia, entre a comunidade, não se pagava serviços, nem se vendia os produtos. Entre eles, os serviços e os produtos eram trocados. Vendiam algodão, farinha e mamona para a cidade de Januária, o que ajudava na compra anual de tecidos. Todo mundo se reunia para fazer a colheita, para ralar a mandioca na mão, para puxar a roda, para colher o feijão. Tudo era abundante: tinha café, almoço e jantar e ainda sobrava, relembra Dona Maria das Graça . Com a chegada das grandes fazendas e das empresas de eucalipto na região, na década de 1970, impactou fortemente a agricultura e o modo de vida desta comunidade. Os rios, riachos e fontes de água diminuíram, e com isso, o plantio do arroz. Com as áreas cercadas e devastadas a coleta das plantas do cerrado como o pequi ficou escassos. Em 2004, as famílias perceberam que era preciso organizar para buscar melhorias na infraestrutura, na produção e geração de renda. Perceberam que sozinhos tinham menos força do que juntos. A primeira associação criada na região foi na Barra do Tijuco, onde se uniram para reivindicar água e luz. Começaram, então, a buscar fontes de financiamento e parceiros. O primeiro projeto conquistado pela comunidade foi o PROSAN em 2004 que apoiou a compra de caixas para criação de abelha, roupas e equipamentos para a produção de mel. Minas Gerais Ano 6 | nº 913| Novembro | 2012 São Francisco- Minas Gerais Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Comunidade do Tejuco: Vencendo barreira e superando desafios 1 Alguns membros da Agriferta Feira da comunidade Tejuco

Comunidade do Tejuco: Vencendo barreira e superando desafios

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Page 1: Comunidade do Tejuco: Vencendo barreira e superando desafios

A comunidade de Tejuco, localizada no município de Januária nasceu a partir da devoção religiosa a São José. O pároco do distrito entregou a imagem do Santo para seu José Moreira, um dos moradores mais antigos do lugarejo, que iniciou a festa. O coronel Alexandrino de Carvalho chegou à região e logo se apropriou das terras do Santo e da festa. Na década de 1950, o coronel começou então a fazer a doação de lotes. O lugar começou a ficar movimentado, tornando-se primeiro arraial, e hoje a comunidade de Tejuco.A partilha e a solidariedade são marcas fortes da comunidade. Terezinha, Ivaneide, Maria das Graças, Railda, Fátima, Pedro, Antônia, Manoel Aparecido contam que no início a produção era farta: feijão, arroz, abóbora, mandioca, milho, fava, melancia, algodão, que alimentava a todos. No dia a dia, entre a comunidade, não se pagava serviços, nem se vendia os produtos. Entre eles, os serviços e os produtos eram trocados. Vendiam algodão, farinha e mamona para a cidade de Januária, o que ajudava na compra anual de tecidos. Todo mundo se reunia para fazer a colheita, para ralar a mandioca na mão, para puxar a roda,

para colher o feijão. Tudo era abundante: tinha café, almoço e jantar e ainda sobrava, relembra Dona Maria das Graça .Com a chegada das grandes fazendas e das empresas de eucalipto na região, na década de 1970, impactou fortemente a agricultura e o modo de vida desta comunidade. Os rios, riachos e fontes de água diminuíram, e com isso, o plantio do arroz. Com as áreas cercadas e devastadas a coleta das plantas do cerrado como o pequi ficou escassos.Em 2004, as famílias perceberam que era preciso o rgan iza r para buscar me lhor ias na infraestrutura, na produção e geração de renda. Perceberam que sozinhos tinham menos força do que juntos. A primeira associação criada na região foi na Barra do Tijuco, onde se uniram para reivindicar água e luz. Começaram, então, a buscar fontes de financiamento e parceiros. O

primeiro projeto conquistado pela comunidade foi o PROSAN em 2004 que apoiou a compra de caixas para criação de abelha, roupas e equipamentos para a produção de mel.

Minas Gerais

Ano 6 | nº 913| Novembro | 2012São Francisco- Minas Gerais

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Comunidade do Tejuco: Vencendo barreira e superando desafios

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Alguns membros da Agriferta

Feira da comunidade Tejuco

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Os intercâmbios e visitas foram importantes na consolidação do grupo. Em 2005, participaram do I Encontro de Agrobiodiversidade que acon teceu em Por te i r inha /MG, onde conheceram outros agricultores, experiências de conservação das sementes e comercialização.Em 2007 surgiu o Grupo de Mulheres Semeando para Crescer. Elas começaram a se reunir para conversar, se encontrar. Reunir é bom pra tudo: é o bate-papo, a conversa, além do nosso trabalho, diz alegre, a Dona Terezinha.No ano seguinte, após muita conversa, elas começaram a participar de cursos e oficinas, buscando desenvolver estratégias de melhoria da renda. De tudo que conheceram e experimentara, viram uma oportunidade na produção de biscoitos, e com o apoio da Cáritas Diocesana de Januária, as mulheres elaboraram projeto para o Fundo Nacional de Solidariedade. Com o recurso adquiriram fornos, batedeiras, liquidificadores, vasilhas, pia e mesa. Do biscoito que fazem, tiram uma parte para elas, e a outra é vendida na feira. O dinheiro que arrecadam com a venda dos biscoitos é todo revertido para o grupo. Com ele compram mais materiais para fazer os biscoitos para a próxima feira. E quando faltam produtos, elas dividem o material entre elas: uma leva o óleo, outra o açúcar. Para comprar a lenha, elas tiveram outra ideia: fazem um leilão de pratos, um do forno, como chamam que é feito pelo grupo e o outro, a partir da doação de uma das mulheres. Pode ser galinhada, frango assado ou outra especialidade. Cada domingo, uma é responsável pelo prato. A constituição da feira livre também foi uma iniciativa do grupo de mulheres. Após a primeira feira organizada pela diretora da escola da comunidade, foram as mulheres que entenderam que a realização de uma feira livre seria uma grande oportunidade para os agricultores e para a população da comunidade de Tejuco. Elas saíram com um convite para todos os agricultores e no primeiro domingo, o grupo de mulheres colocou logo três mesas. No domingo seguinte, apareceram outras mesas, até que formaram um grupo de 20 pessoas. A experiência da feira foi um sucesso. Os feirantes se organizaram numa associação Agriferta, com o apoio da Cáritas, elaborou outro projeto para o Fundo Nacional de Solidariedade, para aquisição de 10 barracas.Buscando melhorar as condições de produção, os agricultores ampliaram suas formas de financiamento. O projeto Seriema com o fundo rotativo solidário tem sido uma alternativa importante de fortalecimento. Algumas famílias também tem acessado o Pronaf, que apesar dos limites no acesso a política por parte da grande maioria dos pequenos agricultores e agricultoras, foi identificado casos de sucesso no acesso e pagamento do crédito. Alguns deles já acessaram 3 vezes de forma crescente.A comunidade de Tejuco não perdeu as referências e os valores de um tempo onde a vida parecia mais difícil, mas ao mesmo tempo, a natureza e a produção era farta. Seu Pedro, atual presidente da Agriferta reforça “ A união da comunidade foi essencial durante esta história de conquistas”.

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Produtos produzido na comunidade Tejuco

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Apoio:

Programa Cisternas