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Comunidades Verdes Andar a pé, usar bicicleta, abolir o carro, ter reúso de água, gerar a própria energia, reciclar lixo, transformar dejetos em adubo - e, até, medir dados de felicidade. Não faltam fórmulas para construir um bairro sustentável - mas o que faz a sustentabilidade de um empreendimento, até onde a especulação imobiliária comanda e o que essas comunidades devem oferecer aos moradores e à cidade? Por Bianca Antunes e Giovanny Gerolla Edição 198 - Setembro/2010 É quase um consenso que a palavra sustentabilidade está, muitas vezes, recheada de marketing. Até os marqueteiros já usam esse argumento para provar que seu empreendimento sustentável não é mais um como os outros, buscando alguma diferenciação na hora de utilizar o vocábulo como atrativo de venda. Os Detalhe da Masdar Plaza, projeto do escritório LAVA (Laboratory for Visionary Architecture), com painéis fotovoltaicos e guardassóis que se fecham de noite e se abrem durante o dia. A praça está no centro de Masdar, cidade sustentável com projeto urbano de Foster & Partners a 17 km de Abu Dhabi

Comunidades Verdes

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Andar a pé, usar bicicleta, abolir o carro, ter reúso de água, gerar a própria energia, reciclar lixo, transformar dejetos em adubo - e, até, medir dados de felicidade. Não faltam fórmulas para construir um bairro sustentável - mas o que faz a sustentabilidade de um empreendimento, até onde a especulação imobiliária comanda e o que essas comunidades devem oferecer aos moradores e à cidade?

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Comunidades Verdes

Andar a pé, usar bicicleta, abolir o carro, ter reúso de água, gerar a própria energia, reciclar lixo, transformar dejetos em adubo - e, até, medir dados de felicidade. Não faltam fórmulas para construir um bairro sustentável - mas o que faz a sustentabilidade de um empreendimento, até onde a especulação imobiliária comanda e o que essas comunidades devem oferecer aos moradores e à cidade?

Por Bianca Antunes e Giovanny Gerolla

Edição 198 - Setembro/2010

É quase um consenso que a palavra

sustentabilidade está, muitas vezes,

recheada de marketing. Até os

marqueteiros já usam esse argumento

para provar que seu empreendimento

sustentável não é mais um como os

outros, buscando alguma diferenciação

na hora de utilizar o vocábulo como

atrativo de venda. Os bairros

sustentáveis chegam com essa palavra

repleta de lugar-comum, e buscam o

comprador atraído pelo verde, pela

preservação do meio ambiente, pela

vontade de fazer algo pelo mundo ou,

apenas, de se sentir seguro - a

segurança que os condomínios fechados vendem. Ao mesmo tempo, é preciso pensar

adiante: como criar edifícios que não utilizem tanta energia e consumam menos água.

E mais: sair da esfera da construção solitária e partir para a esfera urbana. "A

Detalhe da Masdar Plaza, projeto do escritório LAVA

(Laboratory for Visionary Architecture), com painéis

fotovoltaicos e guardassóis que se fecham de noite e

se abrem durante o dia. A praça está no centro de

Masdar, cidade sustentável com projeto urbano de

Foster & Partners a 17 km de Abu Dhabi

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arquitetura do futuro, por necessidade, deverá se endereçar à crise ecológica mundial.

Uma aproximação holística para a sustentabilidade deve levar em conta não apenas

edifícios, mas a infraestrutura das cidades - principalmente o transporte, porque as

edificações e a movimentação das pessoas representam 70% da energia que

consumimos", relata Gerard Evenden, sócio sênior da Foster + Partners.

No Brasil, dois novos empreendimentos se

valem do carimbo sustentável para se

diferenciar no mercado: em Brasília, o bairro

Noroeste, e em Florianópolis/Palhoça, o Pedra

Branca. O primeiro aproveita o necessário

crescimento da capital e a especulação

imobiliária para retomar uma ideia inicial de

Lucio Costa de desenvolvimento de um lote a

noroeste do plano piloto. O segundo aproveita

a área de uma antiga fazenda na cidade de

Palhoça, vizinha de Florianópolis e a 18 km de

seu centro, para loteá-lo e, em apenas uma região dessa área, desenvolver conceitos

de urbanismo sustentável. O Noroeste foca na classe média alta e alta: a previsão é

que as unidades habitacionais custem pelo menos oito mil reais o metro quadrado

construído. Já o Pedra Branca proclama a diversidade de classes: o primeiro

empreendimento habitacional, lançado em maio de 2010, possui três tipos de plantas,

com 75 m2, 220 m2 e 440 m2 que custam de 220 mil a 1,5 milhão de reais.

Mas estar a 18 km do centro de Florianópolis - segundo os incorporadores, onde os

principais compradores dessas unidades trabalham - é sinônimo de sustentabilidade?

Pois a localização longe do centro, que acontece com muitos desses bairros, é um dos

principais motivos de crítica. Nabil Bonduki, arquiteto, urbanista, ex-vereador de São

Paulo e professor da FAUUSP, lembra algo que parece básico: não é possível pensar

em bairro sustentável se seus moradores têm de se deslocar por quilômetros para

chegar ao trabalho, principalmente se esse deslocamento for feito em transporte

privado. "Boa parte do que é vendido como bairro sustentável consome muito espaço

de áreas periurbanas, desmata e exige que cada familiar tenha um veículo próprio. É

Nesta página, o centro de bairro do Pedra

Branca, em Florianópolis/Palhoça, que segue

preceitos de urbanismo sustentável. Com 268

mil m2, este centro fica em uma área de 250

hectares de uma antiga fazenda que passou

por loteamentos, a 18 km de Florianópolis.

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necessário que haja comércio próximo, mistura de classes sociais, transporte coletivo

para todos, e espaços de baixo consumo energético, com luz e ventilação naturais",

defende.

Esse conjunto de fatores é o objetivo do Pedra Branca: ter comércio, serviço e

habitações de várias classes sociais (diga-se: de média a alta). Mas as construções

começaram agora, com um edifício exclusivamente habitacional, e a previsão é que

todo o bairro fique pronto em 15 anos. "A primeira etapa do centro do bairro, que

soma quase 20 quadras, deverá estar pronta em dez anos", afirma Valério Gomes,

presidente da Pedra Branca. Pelo menos por enquanto, quem morar por lá terá que se

deslocar quilômetros até o trabalho e se tiver pressa, de carro - assim, em pouca coisa

o Pedra Branca irá se diferenciar dos condomínios fechados que pululam nos arredores

da maioria das cidades do País.

No Oriente Médio, temos Masdar City, em uma zona a 17 km de Abu Dhabi, nos

Emirados Árabes. Masdar quer ser mais do que um bairro, quer ser uma cidade

sustentável. Com projeto urbano de Foster + Partners, o investimento é de 22 bilhões

de dólares, que deve receber, segundo os investidores, empresas, pesquisadores e

acadêmicos de todo o mundo, criando um centro internacional para organizações cujo

foco seja a energia renovável e tecnologias limpas. Construída em fases, os primeiros

moradores devem se mudar em setembro de 2010. De acordo com os arquitetos, sua

localização, apesar de distante de Abu Dhabi, é estratégica: leva em conta a principal

infraestrutura de transporte da cidade, com ligações por estradas e linhas férreas.

"Além disso, conduzimos estudos rigorosos para medir o sucesso do projeto e aplicar

as lições aprendidas nesta primeira fase para beneficiar os futuros desenvolvimentos",

explica Gerard Evenden.

Algumas das experiências de Masdar, inclusive, devem ajudar no desenvolvimento do

Estidama - um selo de certificação ambiental para construções do Oriente Médio,

como um Leed local. "Ser um arquiteto é ser um otimista - para acreditar no design

sustentável, você deve confiar que ele irá resultar em um mundo melhor. Masdar é

incrivelmente excitante pela escala que o projeto significa. Podemos unir tudo - casas,

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educação, trabalho, transporte e infraestrutura, até energia, água e questões de

densidade - e criar uma nova cidade a partir de um croqui", define Gerard.

DE DENTRO PRA FORA OU DE FORA PRA DENTRO Em vez de criar um bairro do zero

com o selo sustentável, por que não investir em revitalizações dentro da cidade? "O

mundo inteiro se mobiliza contra esse

espraiamento que ocupa áreas verdes e não

urbanizadas - para isso, precisaríamos de sete

planetas iguais ao nosso, considerando as

projeções futuras de crescimento

populacional", calcula o arquiteto Carlos Leite,

especializado em desenvolvimento urbano sustentável pela Universidade Politécnica

da Califórnia, e professor da FAU-Mackenzie. "A tendência é a cidade compacta, com

reurbanização de áreas centrais degradadas, otimização de infraestruturas e alta

densidade populacional. É para as cidades crescerem para dentro, e não mais para fora

- e sempre com sociodiversidade", conta.

É o que se fez, por exemplo, no projeto São Francisco Mission Bay, na Califórnia,

Estados Unidos, que propôs a recuperação urbana em áreas pré-existentes,

degradadas e vazias. A ideia pleiteia uma série de interesses privados que têm

conduzido ao aquecimento do mercado imobiliário (e, portanto, ao encarecimento do

metro quadrado). Mas ao mesmo tempo traz uma inversão de paradigma: essa

recriação do bairro pressupõe o crescimento da cidade para dentro, e não para fora,

como é comum nos esquemas de expansão urbana horizontal, rumo à periferia. O

plano diretor que delineou diretrizes do projeto previa também uma reserva de 14%

das habitações construídas para moradias

subsidiadas - voltadas às camadas sociais mais

baixas (classe média baixa, no caso).

Outro exemplo de aproveitamento de espaços

na cidade - desta vez, não no centro - é o

distrito de Vauban, em Friburgo, Alemanha.

Mission Bay, em São Francisco, com

revitalização de áreas vazias em região

industrial-portuária

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Localizado em uma área militar abandonada após a queda do muro de Berlim, o local

foi comprado pelo município em 1993 para a criação de um distrito ecológico, cuja

construção foi completada em 2006. O processo das tomadas de decisões de todos os

estágios foi baseado em uma ativa participação dos cidadãos e dos futuros

proprietários. Aqui há coexistência de casas e locais de trabalho, habitações para

classes sociais variadas, um sistema de mobilidade que foca no pedestre, bicicleta e

transporte público com mais privilégios que os carros privados, um centro comercial,

uma creche e escolas que limitam a necessidade de viagens até o centro da cidade.

Além disso, as construções têm um uso máximo da energia solar, e sistema de coleta e

tratamento de água da chuva; alguns edifícios são "passive energy homes", com um

consumo de 15 kWh/m2, ou, ainda, casas energéticas: produzem mais energia do que

consomem.

A ligação com o centro da cidade pode ser feita por transporte sobre trilhos - os light

rails, como uma proposta da própria prefeitura de oferecer esse tipo de transporte a

todos os grandes desenvolvimentos urbanos ao redor da cidade. A linha passa pela

principal rua de Vauban com três estações, de oito a dez vezes por hora em horários

de pico, e chega em 13 minutos ao centro. Como exemplo do que poderia ser feito no

Brasil, Carlos Leite elege a linha férrea paulista que vai da Estação da Luz ao limite com

o município de São Caetano, passando por bairros tradicionais como Mooca e Ipiranga.

"E a iniciativa pode ser totalmente privada - um ótimo negócio para o mercado

imobiliário -, enquanto o Estado entra com a gestão urbana", argumenta.

Apesar de concordar que, de maneira geral, países de outros continentes já tomaram a

decisão de não mais expandir suas malhas urbanas, o engenheiro Vanderley John acha

difícil adensar no Brasil. "É preciso que nossa infraestrutura seja compatível com o

adensamento, por isso acredito que nossas cidades continuarão crescendo para fora

ainda por um algum tempo", pondera. Carlos Leite e John concordam, no entanto, que

em qualquer caso deve haver análise para o desenvolvimento de uma solução local, a

partir dos problemas ambientais e sociais da comunidade em questão, em sua cultura

e momento histórico - se é preciso, por exemplo, pensar em drenagem, ou em gestão

de resíduos sólidos, ou em ruído da rua. "Sobre a construção de uma realidade local é

que se pensa nas prioridades que darão origem ao projeto do bairro, atendendo a

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necessidades pontuais", afirma John. Depois, analisa-se sua viabilidade econômica e a

disponibilidade de recursos para buscar a melhor solução.

Essa parece ser, aliás, uma das fórmulas compartilhadas no projeto de uma

comunidade sustentável. "A sustentabilidade se

relaciona fortemente com os recursos locais e ao clima.

Isso implica viabilidade global com apelo local:

enquanto as principais linhas e objetivos devem ser os

mesmos para as cidades ao redor do mundo, as formas

e os espaços devem ser relacionados especificamente

para cada local. É pensar globalmente e agir

localmente", diz Gerard. "Minha dica é olhar menor",

sugere Carlos Leite. "Temos que ser mais pontuais em

nossas operações urbanas, a serem realizadas quadra por quadra. Operações

gigantescas só fazem imobilizar os trabalhos, que nunca se completam, ou por

corrupção, ou porque houve mudança na gestão pública. É necessário ter grupos de

diretrizes que contemplem mais ações e menos pretensões", sugere.

Bairro selado O U.S. Green Building Council (USGBC) está trazendo para o Brasil seu

sistema de certificação Leed (Leadership in Energy and Environmental Design) para

bairros sustentáveis - já previsto para carimbar o Pedra Branca e o Brasília Noroeste.

"Quando falamos em bairros sustentáveis, não nos referimos a projetos futurísticos de

alta tecnologia, mas a empreendimentos desenvolvidos com base em um plano diretor

que incentive preservação ambiental, qualidade de vida, edificações eficientes para

água e energia, uso de materiais de construção de menor impacto ambiental, redução

das emissões de gases do efeito estufa e de outros ônus socioambientais", explica

Felipe Faria, gerente operacional da GBC Brasil.

A certificação é feita após uma avaliação a partir de uma lista de itens, tidos como

práticas sustentáveis essenciais para qualquer lugar do mundo. Dentre essas práticas,

destacam-se comunidades abertas, desenvolvimento compacto, prevenção da

poluição na construção e conservação de zonas úmidas e nascentes. "O Leed dá uma

meta, e cabe ao proprietário atingir sua melhor prática, com criatividade e inovação",

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diz Felipe. Avaliadores focam-se no plano diretor que orienta o projeto, e as auditorias

finais terminam só depois que toda a infraestrutura estiver concluída.

Para Vanderley John, no entanto, padronagens

ou sistematizações gerais nunca poderiam

conduzir à melhor solução local: "É um

paradoxo. O grande problema desse mercado

é que todos querem certificação como um

rótulo para venda; assim, pegam a lista pronta

de quesitos e tentam enfiar a sustentabilidade

dentro dela. Quando o resultado não cabe no

orçamento previsto, o investidor decide que

não fará nada daquilo", critica.

"Sustentabilidade é estudo e conhecimento. É

engenharia." Em defesa, Felipe Faria garante

que a GBC "vem estruturando créditos

regionais que possibilitem a pontuação de acordo com práticas bem específicas".

FÓRMULAS Angela Maria Gabriella Rossi, arquiteta, urbanista e professora do

Programa de Engenharia Urbana da Escola Politécnica da UFRJ, dá a fórmula do que

seria um bairro sustentável: a sustentabilidade deve estar presente na economia dos

recursos ou na viabilidade socioeconômica, na melhoria da qualidade ambiental, na

integração e acesso fácil do bairro ao resto da cidade, e no próprio projeto urbano,

contemplando densidade de espaços públicos, tipologias e identidades sociais. "Todos

esses campos devem ser atendidos para que um bairro seja sustentável. E a

acessibilidade a todas as camadas sociais é o maior de todos os desafios", argumenta.

Ainda segundo Angela, não há bairros sustentáveis no Brasil. "Essa ideia só existe a

partir de planejamento urbano consistente, planos diretores

completos e bem-executados, com controle do uso do solo e

fiscalização. Nós não temos a cultura do planejamento", diz.

De forma mais holística, os empreendimentos da britânica

BioRegional, empresa articuladora de comunidades

Masdar City, com investimento de 22 bilhões

de dólares, quer ser a primeira cidade

sustentável do mundo. O desenho da cidade

abole o uso do carro - o que permite ter ruas

mais estreitas, com sombreamento. Abaixo,

corte da Mazdar Plaza

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sustentáveis, seguem dez princípios organizados pelo seu programa One Planet Living,

desenvolvidos com a WWF (World Wide Fund for Nature), que guiam os projetos dos

bairros. "Esses dez princípios cobrem tudo - do transporte zero carbono até cultura,

tradições, saúde e alegria", explica Jennie Organ, gerente de comunicação da

BioRegional. A ideia é ajudar os parceiros a pensar holisticamente quando se fala em

sustentabilidade e a criar espaços nos quais viver e trabalhar custe uma parte justa dos

recursos de nosso planeta - e seja fácil, atrativo e barato. Para medir o quão

sustentável são um projeto ou uma decisão, a BioRegional parte do princípio das

pegadas ecológicas. A pegada (do inglês, footprint) representa as quantidades de terra

produtiva e de água do mar necessárias para regenerar os recursos gastos ou reciclar

resíduos gerados pelo consumo de determinada população. "Se o mundo vivesse hoje

no mesmo estilo de vida do britânico médio, precisaríamos de três planetas iguais ao

nosso, para que recursos estivessem disponíveis a todos", argumenta Jennie. Em 2005,

as pegadas ecológicas globais eram de 2,7 hectares por pessoa - enquanto a

biocapacidade disponível era de 1,8 hectares. De acordo com a WWF, as pegadas

excederam a biocapacidade da Terra, pela primeira vez, em 1980 - e desde então essa

distância só aumentou.

Brasília Noroeste, Distrito Federal O Noroeste já tinha implantação prevista em um

documento da década de 1980, de Lucio Costa - o Brasília revisitada. A Terracap,

empresa imobiliária de Brasília que atende a programas governamentais, declara que o

projeto de sustentabilidade para Noroeste - com projeto urbano de Paulo Zimbres -

tem como parâmetro os itens do certificado Leed para neighbourhood design (bairro

sustentável). Estão previstos a criação de reservatórios de água das chuvas, a

construção de bacias de retenção e tratamento

de esgoto (antes de lançá-lo no Lago Paranoá),

o uso de gás natural e de energia solar, a

proibição de chuveiros ou aquecedores elétricos nos apartamentos e a adoção do

Manual Verde do Noroeste - um plano de cuidados com o meio ambiente, voltado

para engenheiros, arquitetos e operacional de obra. Os resíduos sólidos serão

coletados por tubulações a vácuo: cada edifício terá bocas interligadas por dutos com

uma central de contêineres selados, para tratamento final. Bocas de coleta serão

também instaladas em área pública. Ainda de acordo com a Terracap, não há

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desmatamento para a construção do Noroeste, já que serão 247 hectares numa área

urbana de 821 hectares, em torno da qual se criam o Parque Ecológico Burle Marx e a

Área Arie Cruls, de preservação ambiental. Há o plantio previsto de 4,4 milhões de

mudas de espécies do cerrado em todo o Distrito Federal como meio de compensação

ambiental.

Pedra Branca, Florianópolis Especialistas do exterior e do Brasil se uniram para projetar

o primeiro bairro sustentável do País - ou pelo menos o primeiro a usar essa

nomenclatura. Jaime Lerner junto com profissionais como Tom Paladino e o grupo

Arup foram consultados e auxiliaram na

concepção do Pedra Branca. "O objetivo é

oferecer moradia, trabalho, ensino e lazer num

mesmo lugar, diminuindo a necessidade de uso

do automóvel, baixando a emissão de gases

poluentes", afirma Valério Gomes, presidente

da Pedra Branca. O primeiro edifício residencial

da primeira quadra do que chamam de "centro

de bairro" - a região de 268 mil m2 que segue

os preceitos de urbanismo sustentável no Pedra Branca - foi lançado em 2010. É um

edifício exclusivamente residencial, o que distorce, para esse primeiro momento, a

ideia de habitar e trabalhar em um mesmo bairro. Valério, no entanto, afirma que esse

quadro mudará rapidamente. "As primeiras quadras já devem contemplar, nos térreos

da Rua da Universidade, atividades comerciais, que começam a configurar o Open

Shopping de Pedra Branca. Enquanto as outras quadras vão sendo construídas serão

montadas lojas provisórias", explica.

Masdar City, Emirados Árabes Uma quase-cidade totalmente sustentável - e bilionária.

O investimento é de 22 bilhões de dólares em uma zona a 17 km de Abu Dhabi.

Inspirada na arquitetura e no planejamento urbano de cidades tradicionais árabes,

Masdar City - com projeto de Foster & Partners - possui ruas estreitas com sombra de

janelas, muros exteriores, jardins internos e torres de vento. E pretende ser uma

cidade em que os habitantes possam andar a pé. Eliminar carros e caminhões também

O bairro Noroeste, no Distrito Federal,

promete o uso de tecnologias avançadas para

garantir o selo de sustentabilidade - como

recolhimento do lixo por tubulações a vácuo

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permite que os edifícios fiquem mais próximos - equilibrando a sombra e a luz natural.

Para garantir a mínima taxa de pegada de carbono, a cidade é orientada a nordeste-

sudoeste, o que leva a um uso otimizado das brisas frescas da noite e dos ventos

quentes do dia. Parques separam as áreas construídas para capturar e direcionar as

brisas ao coração da cidade, reduzir o ganho solar e oferecer alguns oásis no dia a dia

urbano. Os edifícios devem não apenas respeitar, mas também superar os padrões de

sustentabilidade emitidos por organizações especializadas.

Mission Bay, São Francisco, Estados Unidos O bairro de Mission Bay, nos Estados

Unidos, traz uma estratégia de recuperação urbana em áreas pré-existentes,

degradadas e vazias. Com 122 hectares na região industrial-portuária de São Francisco,

tem investimentos privados que incluem seis mil unidades habitacionais, mais de 160

mil m2 de espaços públicos, além de um novo campus para a Universidade da

Califórnia e edifícios empresariais coligados a ela, que devem impulsionar a economia

local. O projeto teve início na década de 1980, quando a Santa Fe Pacific Realty

Corporation, empresa de transportes ferroviários e proprietária de Mission Bay,

aceitou a participação da comunidade local na elaboração de um projeto urbanístico. A

proposta final foi concluída em 1998 pelo escritório Johnson Fain, de Los Angeles, com

a participação de paisagistas como Simon Martin-Vegue, Winkelstein & Moris, de São

Francisco. Elementos fundamentais do projeto são a infraestrutura e a acessibilidade,

que o poder público se encarregou de prover, e que incentivaram a vivência dentro do

perímetro comunitário. "Novos acessos foram criados ligando o território ao centro da

cidade, com ampliação das linhas de transporte público", conta Carlos Leite, que

estudou o projeto. O maior investimento ficou por conta da extensão da linha de

metrô de superfície, que passou a conectar o bairro ao distrito financeiro da cidade. Há

ainda novas linhas de ônibus e uma nova estação de trem, a Cal-Train Station, que

interliga Mission Bay ao Vale do Silício, com um reaproveitamento do leito ferroviário

original que cruza toda a área.

http://au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/198/artigo184881-2.aspx