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Prof a . Débora de Gois Santos 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL Aula: Resolução CONAMA 307 e Gerenciamento de Resíduos sólidos da Construção Civil Disciplina: Gerenciamento das Construções – 101114 Prof a . Débora de Gois Santos São Cristóvão, Sergipe. Versão 3

CONAMA 307

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A Resolução CONAMA 307 do Conselho Nacional de Meio Ambiente dispõe asobre gestão dos resíduos da construção civil. Tem por objetivo de minimizar osimpactos ambientais, bem como estabelecer diretrizes, critérios e procedimentospara a gestão dos resíduos sólidos da construção civil. Isto acontece por que:a) Os resíduos sólidos da construção civil são dispostos em locais inadequados, oque leva à degradação ambiental.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

Aula: Resolução CONAMA 307 e Gerenciamento de Resíduos sólidos da Construção Civil

Disciplina: Gerenciamento das Construções – 101114 Profa. Débora de Gois Santos

São Cristóvão, Sergipe. Versão 3

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Resolução CONAMA 307 e Gerenciamento de Resíduos sólidos da Construção Civil

I - Resolução CONAMA n. 307

A Resolução CONAMA 307 do Conselho Nacional de Meio Ambiente dispõe a

sobre gestão dos resíduos da construção civil. Tem por objetivo de minimizar os

impactos ambientais, bem como estabelecer diretrizes, critérios e procedimentos

para a gestão dos resíduos sólidos da construção civil. Isto acontece por que:

a) Os resíduos sólidos da construção civil são dispostos em locais inadequados, o

que leva à degradação ambiental.

b) Representam um significativo percentual dos resíduos sólidos produzidos nas

áreas urbanas.

c) São resíduos provenientes de atividades de construção, reforma, reparos e

demolições de estruturas e estradas, remoção de vegetação e escavação de solos.

Para solucionar o problema do impacto ao meio ambiente, consideram-se:

a) A viabilidade técnica e econômica de produção e uso de materiais provenientes

da reciclagem de resíduos da construção civil.

b) A gestão integrada de resíduos da construção civil para benefícios sociais,

econômico e ambiental.

O objetivo dos geradores é não gerarem resíduos ou ainda promover a sua

redução, reutilização, reciclagem e destinação final.

A resolução apresenta como definições:

a) Resíduos da construção civil – “são aqueles provenientes de construções,

reformas, reparos e demolições de obras, resultantes da preparação e da escavação

de terrenos: tijolos, blocos cerâmicos, concreto em geral, solos, rochas, metais,

resinas, colas, tintas, madeiras e compensados, ferros, argamassa, gesso, telhas,

pavimento asfáltico, vidros, plásticos, tubulações, fiação elétrica. Tudo isto é

chamado de entulho de obra, caliça ou metralha".

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b) Geradores – “são as pessoas físicas ou jurídicas, públicas ou privadas,

responsáveis por atividades ou empreendimentos, que gerem os resíduos definidos

nesta resolução”.

c) Transportadores – “são as pessoas, físicas ou jurídicas, encarregados da coleta e

do transporte dos resíduos entre as fontes geradoras e as áreas de destinação”.

d) Agregado reciclado – “é o material granular proveniente do beneficiamento de

resíduos de construção que apresentem características técnicas para a aplicação

em obras de edificações, de infra-estrutura, em aterros sanitários ou outras obras de

engenharia”.

e) Gerenciamento de resíduos – “é o sistema de gestão que visa reutilizar ou reciclar

resíduos, incluindo planejamento, responsabilidade, práticas, procedimentos e

recursos para desenvolver e implementar as ações necessárias ao cumprimento das

etapas previstas em programas e planos”.

f) Reutilização – “é o processo de reaplicação de um resíduo, sem transformação do

mesmo”.

g) Reciclagem - “é o processo de reaproveitamento de um resíduo após este ter sido

submetido à transformação”.

h) Beneficiamento – “é o ato de submeter um resíduo a operações e/ou processos

que tenham por objetivo dotá-los de condições que permitam que sejam utilizadas

como matéria-prima ou produto”.

i) Aterro de resíduos da construção civil – “é a área onde serão empregadas técnicas

de disposição de resíduos da construção civil Classe “A” no solo, visando a

reservação de materiais segregados, de forma a possibilitar seu uso futuro e/ou

futura utilização da área, empregando princípios de engenharia para confiná-las ao

menor volume possível, sem causar danos à saúde pública e ao ambiente”.

j) Áreas de destinação de resíduos – “são as áreas destinadas ao beneficiamento ou

à disposição final de resíduos”.

A Resolução fornece a seguinte classificação dos resíduos:

Classe A – são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados:

a) De construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de

obras de infra-estrutura.

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b) De construção, demolição, reformas e reparos de edificações.

c) De processo de fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas

em concreto.

Classe B – resíduos recicláveis, como: plásticos, papel/papelão, metais,

vidros, madeira e outros.

Classe C – ainda não foram desenvolvidas tecnologias viáveis para sua

reciclagem/ recuperações (gesso).

Classe D – resíduos perigosos de construção (tintas, solventes, óleos,

amianto) ou ainda de demolição (reformas e reparos de clínicas radiológicas,

instalações industriais).

Em termos destinação dos resíduos, uma vez que eles não podem ir para

aterros domiciliares, encostas ou corpos d’água, a classificação preconiza:

Classe A – revitalizados ou reciclados na forma de agregados ou

encaminhados para área de resíduo de construção civil, colocado de modo a

possibilitar uma utilização futura.

Classe B – revitalizados, reciclados ou encaminhados para área de resíduo

de construção civil, colocado de modo a possibilitar uma utilização futura.

Classe C – armazenados, transportados e destinados conforme normas

técnicas específicas.

Classe D – armazenados, transportados e destinados conforme normas

técnicas específicas.

Quanto aos Municípios e ao Distrito Federal, por serem proibidos de receberam

os resíduos da construção civil em aterros sanitários devem elaborar um Plano

Integrado de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil, que deve conter:

• Programa Municipal de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil.

• Projetos de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil. Ele deve ser

entregue junto com o projeto do empreendimento. Estes projetos são elaborados

pelos grandes geradores, com procedimentos para o manejo e a destinação

ambientalmente adequados dos resíduos.

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Neste plano devem constar:

a) Diretrizes técnicas e procedimentos das responsabilidades dos geradores.

b) Cadastramento de áreas públicas ou privadas, para recebimento, triagem e

armazenagem temporária de pequenos volumes.

c) Estabelecimento de processos de licenciamento para as áreas de beneficiamento

e de disposição final de resíduos.

d) Proibição de disposição em áreas não licenciadas.

e) Incentivo à revitalização e à reciclagem no ciclo produtivo.

f) Definição de critérios para o cadastramento de transportadores.

g) Ações de orientação, de finalização e de controle dos agentes envolvidos.

h) Ações educativas para reduzir a geração de resíduos e possibilitar a sua

segregação.

As etapas do Projeto de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil são:

caracterização (identificação e quantificação), triagem (feita pelo gerador na origem),

acondicionamento (feito pelo gerador até a etapa de transporte com destino à

utilização e reciclagem), destinação (de acordo com a resolução).

Com o CONAMA, as prefeituras estão proibidas de receber os resíduos de

construção em aterros sanitários e devem ter plano integrado de gerenciamento de

resíduos da construção civil.

II - Gerenciamento de resíduos sólidos da construção civil

O gerenciamento de resíduos sólidos da construção civil passa pela

sustentabilidade do ambiente construído, cujo objetivo é a emissão zero. O

gerenciamento de resíduos esta dentro do desenvolvimento sustentável e da

reciclagem.

No arranjo produtivo local da construção civil estão todas as indústrias que

fornecem materiais, meios ou que manipulam estes materiais com o objetivo de

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construir edificações, comerciais ou residenciais, barragens, estradas para o

progresso e desenvolvimento de um povo. Estão inseridas aquelas indústrias que

causam impacto de responsabilidades na construção, como contaminação da água

de captação para abastecimento, ou cujos resíduos podem ser aplicados na

construção, de acordo com comprovações técnicas.

As indústrias ligadas à construção civil são cerâmica (branca e vermelha);

petróleo (asfalto, gás natural – para abastecimento industrial e residencial), pedreira

(aterro de material inerte, brita, pó de britagem, camadas do pavimento; celulose;

cervejaria; calçados (resíduos do couro e da borracha); químicas; mineração;

cimenteiras; extração de cal; produtoras de concreto; empresas de construção

(reciclagem de madeira, vidro, plástico, papel, concreto, cerâmica); aterros; lixões; e

vidros.

A cadeia produtiva da construção civil apresenta importantes impactos

ambientais em todas as etapas do seu processo: extração de matérias-primas,

produção de materiais, construção, uso e demolição.

Outro problema da construção civil é que as matérias-primas têm elevado

consumo energético para produção e têm que ser transportadas a grandes

distâncias. Estima-se que cerca de 80% da energia utilizada na produção de um

edifício é consumida na produção e no transporte de materiais.

As atividades de produção de matérias-primas, de canteiro e até mesmo de

manutenção e demolição geram impactos ambientais como resíduos, poeira e

poluentes industriais, como escórias de alto forno e de aciaria, resíduos cerâmicos.

A incorporação de resíduos na produção de materiais também pode reduzir o

consumo de energia, não apenas pelo fato dos produtos incorporarem grandes

quantidades de energia, mas porque podem reduzir as distâncias de transporte de

matérias-primas. A incorporação de resíduos no processo produtivo permite ainda a

redução da poluição gerada.

Conforme visto, a Resolução CONAMA 307 define responsabilidades e deveres

sobre os resíduos. A partir dela foram elaboradas as normas técnicas da ABNT

(Associação Brasileira de Normas Técnicas), são elas:

- NBR 15112 – Resíduos Sólidos da Construção Civil e resíduos volumosos. Áreas

de transbordo e triagem. Diretrizes para projeto, implantação e operação.

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- NBR 15113 – Resíduos Sólidos da Construção Civil e resíduos inertes. Aterros.

Diretrizes para projeto implantação e operação.

- NBR 15114 – Resíduos Sólidos da Construção Civil. Áreas de reciclagem.

Diretrizes para projeto, implantação e operação.

- NBR 15115 – Agregados reciclados de resíduos sólidos da Construção Civil.

Execução de camadas de pavimentação. Procedimentos.

- NBR 15116 – Agregados reciclados de resíduos sólidos da Construção Civil.

Utilização em pavimentação e preparo de concreto sem função estrutural.

Requisitos.

Os resíduos da Construção Civil são um dos resíduos industriais mais

heterogêneos por serem construídos de materiais como argamassa, areia, solo,

cerâmica vermelha e branca, concreto, metais, papel, pedras, asfalto, tintas, gesso,

plástico, borracha e matéria orgânica. Ainda, nos recursos pode-se adicionar:

consumo de energia, água, materiais e solo.

Mais por que gerenciar os resíduos? Para reduzir os impactos ambientais

através da reutilização, reciclagem e/ou destino apropriado dos resíduos, o que traz

economia de produção (minimização de consumo de materiais), gera menos detritos

para o ambiente, polui menos, gera emprego e renda pela manipulação deste

material.

A indústria da construção civil é importante porque ela produz o ambiente

construído e fornece um estoque de infra-estrutura que determina o grau de

flexibilidade e liberdade de uma sociedade por pelo menos 100 anos após a

construção.

As diretrizes da construção sustentável para a indústria de materiais de

construção são conseguidas através de: redução do consumo de energia no

processo de produção; eliminação ou redução das emissões aéreas no processo de

produção; redução do consumo de recursos minerais; redução da geração de

resíduos e perdas no processo; conservação das áreas naturais e da biodiversidade,

prolongamento da vida útil das edificações; possibilidade de desmontagem;

possibilidade de reciclagem/reutilização; produção de materiais de fácil absorção

pela natureza; baixa toxidade durante a produção; construção, uso e descarte final;

uso de recursos locais, geração de empregos; e promoção da economia local.

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Além disso, as diretrizes a perseguir são: busca de materiais renováveis,

padronização de dimensões, baixo conteúdo energético.

Estas diretrizes estão presentes nas diferentes fases de concepção e

construção, como: projeto, construção e desmontagem (materiais locais e previsão

de reutilização); produção de manuais de uso e de manutenção para edifícios e

sistemas; fabricantes (responsabilidades pelos materiais – extração de matéria-

prima até a disposição final).

Em termos globais, cerca de 61% dos resíduos lançados no ambiente são de

construção ou demolição, 25% são domésticos e 14% de outros. Além disso, 50%

dos recursos materiais consumidos pela sociedade vão para a construção civil.

Neste universo, os agentes envolvidos são: os produtores, os gerados e os

transportadores.

Assim, para valorizar os resíduos eles têm que passar por ensaios

(caracterização físico-química, propriedades dos resíduos), para visualizar o

processo de produção e o produto segue um exemplo da figura 01.

Figura 01: Fluxo de produção.

Na figura 02, pode-se observar o fluxo de materiais desde a chegada em

canteiro, seu processamento para compor o edifício até a saída na forma da

construção pronta, na forma de processamento.

Figura 02: Fluxograma do processo.

Outro ponto a destacar é que dentro da produção em canteiro existe também

a produção de resíduos, proveniente de rejeitos durante a construção da edificação,

como pode ser observado na figura 03, em destaque estão os momentos de

inspeção (rejeitos) bem como o retrabalho.

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Figura 03: Fluxo de produção de Koskela (1992), segmentação da produção em

atividades.

Mais quando e como surgiu o problema de geração de resíduos? A

preocupação surgiu na década de 1980 com a intensa industrialização, o advento de

novas tecnologias, o crescimento populacional, o aumento de pessoas em centros

urbanos e a diversificação de bens e serviços.

Estas situações levaram a problemas urbanos, como: escassez de área de

deposição de resíduos, ocupação e valorização de áreas urbanas, alto custo social

no gerenciamento de resíduos, problemas de saneamento público e contaminação

ambiental.

A solução é a reciclagem de resíduos, através da minimização da saída de

resíduos e entrada de matéria-prima não-renovável, que direciona para o

desenvolvimento sustentável e por conseqüência a um processo que leva à

mudança na exploração de recursos, na direção dos investimentos, na orientação do

desenvolvimento tecnologia e nas mudanças institucionais. Tudo isto é conseguido

por multidisciplinaridade, mudanças culturais, educação ambiental e visão sistêmica.

Os impactos ambientais a serem observados pelos resíduos são recursos

naturais energéticos, geração de resíduos, emissões de CO2 e recursos humanos.

Recursos naturais – matéria-prima – impacto que resulta na degradação das áreas

de extração da matéria-prima, esgotamento do recurso, geração de rejeitos lançados

ao solo, contaminando-o e degradando-o. A solução é uma extração adequada

(retirada da cobertura vegetal, técnicas de escavação, encaminhamento dos

rejeitos), incorporação com a matéria-prima de outros recursos (recursos

provenientes de outras indústrias e recursos locais), para evitar consumo de energia

e emissões aéreas devido ao transporte desses recursos.

Consumo de energia – considera renovabilidade da fonte energética, impactos

gerados na sua produção, distribuição e consumo do energético dos materiais. É

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importante o uso de fontes renováveis de energia, cuja produção seja local para

reduzir impactos com distribuição e buscar fontes energéticas em cuja produção a

degradação ambiental seja minimizada.

Geração de resíduos sólidos – representa um consumo desnecessário de recursos

naturais e requer a ocupação de solo para a sua disposição. As perdas devem ser

eliminadas ou reduzidas, através de programas de qualidade e de aperfeiçoamento

da mão-de-obra. Quando os resíduos não são tóxicos podem ser aproveitados como

insumos em outras indústrias ou mesmo na construção civil. Deve-se ainda evitar o

uso de embalagens (ex.: PVC, que libera dioxina) ou se usadas elas devem ser

retornáveis, reutilizáveis, recicláveis ou biodegradáveis.

Emissões aéreas – resulta em efeito estufa, destruição da camada de ozônio e

chuva ácida. Relacionam-se com o transporte, uso energético e a liberação de gases

durante o processo produtivo. A redução passa pela redução de distâncias

percorridas, uso de insumos locais, uso de energéticos e pela liberação de gases

durante o processo produtivo e produtos que minimizam os impactos.

Recursos humanos – considera descentralização da produção, integração das

empresas com a comunidade local, geração de postos de trabalho, acessibilidade ao

trabalho, estabilidade no emprego, possibilidades de aperfeiçoamento e qualidade

do ambiente de trabalho.

Os critérios para avaliar os impactos ambientais podem ser: disponibilidade de

matéria-prima, impactos na extração, eficiência na energia incorporada, durabilidade,

manutenção, reutilização, reciclabilidade, consumo de recursos naturais, emissões

de CO2 e chuva ácida.

Por sua vez, os benefícios da reciclagem na construção civil são:

- Redução no consumo de recursos naturais não-renováveis.

- Redução de áreas necessárias para aterro.

- Redução de consumo de energia durante o processo de produção e no transporte.

- Redução da poluição (emissão de gás carbônico, contaminação de rios).

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A reciclagem de resíduos de acordo com o tipo de resíduo, a tecnologia

empregada e a utilização proposta para o material reciclado, pode tornar o processo

impactante, gerando riscos ambientais, por que:

- Necessita empregar energia para transformar o produto ou torná-lo próprio para o

ingresso novamente na cadeia produtiva.

- Muitas vezes é necessário também além de energia, utilizar matérias–primas para

modificar o resíduo físico e/ou quimicamente, por se tratar de um material do qual

não se tem um conhecimento formado.

- A reciclagem apresenta risco inerente a qualquer inovação tecnológica (natureza

empírica do conhecimento e a falta de tradição), uma vez que muitos resíduos são

considerados perigosos, porque possuem elevadas concentrações de espécies

químicas perigosas.

O estudo de características físico-químicas e propriedades dos resíduos

(ensaios e métodos apropriados) é importante para salvar as aplicações dos

resíduos.

Se na ponta geradora do resíduo, a reciclagem significa redução de custos e

até mesmo novas oportunidades de negócios, no outro ponto do processo, a cadeia

produtiva que recicla reduz o volume de extração de matérias-primas, preservando

recursos naturais limitados. A reciclagem pode ser:

- Primária – é aquela definida como a reciclagem dentro do mesmo processo que

gerou o resíduo. Suas possibilidades são limitadas ou de alto custo. Assim, a

reciclagem secundária é uma alternativa a ser explorada. A primeira é bastante

aplicada na produção do aço e do vidro.

- Secundária – é a reciclagem de um resíduo em outro processo produtivo, diverso

daquele que o originou, apresenta inúmeras possibilidades, particularmente no

macro complexo da construção civil.

Existem dificuldades como a pureza, a necessidade de controle estreito da

uniformidade das matérias-primas e a concentração de plantas industriais em

determinadas regiões, tornando necessário o transporte de resíduos a longas

distâncias. Estes são fatores que diminuem a complexidade da reciclagem primária.

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A construção como fornecedora de resíduos tem principalmente as seguintes

aplicações:

- Pavimentação asfáltica, utilizando o asfalto e os agregados do asfalto como

concreto asfáltico.

- Tijolo ou bloco cerâmico, blocos de concreto, pedras, argamassas, cimento, cal, cal

hidráulica, areia e cascalho, que são usados na produção de agregados, como

agregados para concreto leve (ensaio de resistência mecânica). Eles apresentam

baixo custo; podem ser empregados em pavimentação de estradas (mistura de

concreto asfáltico ou como base e sub-base), enchimentos de fundações de

construção e aterro de vias de acesso.

O outro emprego do entulho é para compor blocos de vedação, já que não

exige grandes resistências mecânicas e o seu é custo relativamente baixo.

O resíduo cerâmico é um dos mais abundantes porque a matéria-prima é

abundante, além disso, o resíduo é usado na própria indústria. E mais, a indústria de

produtos cerâmicos pode absorver resíduos de outras indústrias, o que é um ponto

positivo segundo a visão ambiental.

Os resíduos da cerâmica vermelha podem ser reincorporados à massa

cerâmica, melhorando as propriedades dos materiais, ou servem para fabricar

concreto leve com agregado leve.

- Escórias de alto forno e de aciaria – podem ser usados como adições em blocos de

concreto e na indústria cimentícia. O entulho triturado pode ser utilizado em

pavimentação de estradas, enchimento de fundações de construção e aterro de vias

de acesso.

- Pozolana – utilizada na fabricação de blocos cerâmicos para diminuir a retração na

queima.

A incorporação de resíduos na produção de materiais permite:

- Reduzir a poluição (produção de CO2).

- Reduzir o consumo de energia (energia, distâncias de transporte da matéria-prima).

- Melhorar as características tecnológicas na produção de materiais (adição de sílica

ativa e da escória de alto forno).

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Com relação à análise de viabilidade econômica, ela aborda também os custos

com os resíduos provenientes de: licenças ambientes, deposição de resíduos,

transporte, multas ambientais, assim como faturamento quando o produto é

comercializado.

Perguntam-se quais seriam as dimensões da construção sustentável, elas

podem ser:

a) Econômica – relacionada a demanda de mercado, economia na vida útil, valores

futuros, processo e gerenciamento da construção. Nela se procura uma gestão e

alocação mais eficiente dos recursos financeiros, naturais e humanos disponíveis.

b) Funcional – trata da satisfação das necessidades, qualidade do ambiente interno,

desempenho térmico, e durabilidade.

c) Ambiental – são recursos naturais, biodiversidade, tolerância da natureza e

impactos ambientais.

d) Humano e social – compreendem estabilidade social, ambiente construído,

transporte, saúde, estética e aspectos culturais. Buscam a maior equidade na

distribuição dos bens, reduzindo diferenças entre as classes sociais.

Outras dimensões são:

- Ecológica – é obtida através da limitação no uso de recursos não-renováveis,

redução de resíduos, pesquisa em tecnologias de Produção mais Limpa (P+L) e

definição de regra para uma adequada proteção ambiental.

- Espacial – trata da ocupação do solo para qualquer atividade humana, mais

equilibrada e racional.

- Cultural – busca de raízes endógenas, privilegiando o contexto cultural local para a

implementação das diretrizes do desenvolvimento sustentável.

Como exemplo, cita-se a indústria cerâmica vermelha, que produz artefatos

cerâmicos como blocos e telhas. Nela as perdas de blocos com defeitos

normalmente são usadas como aterros. Um fim mais nobre é seu uso como

agregado graúdo para concretos de baixa resistência, lastro para pavimentação,

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insumo para argamassa de assentamento e revestimento depois de moídos e na

própria indústria que o gerou.

O setor de cerâmica vermelha caracteriza-se por produção tradicional em

pequenas e médias empresas nacionais, com pequena escala de produção. Por

causa disso, o setor tem perdido mercado para blocos de concreto, telhas de

amianto, que têm elevado grau de industrialização e alto impacto ambiental. Por

outro lado, o setor ceramista possui capacidade instalada para uma maior atenção

do setor no mercado, com incrementos a qualidade.

Ainda, é um setor que se caracteriza por ser conservador em relação a seus

produtos, sistemas produtivos e tecnologia utilizada, ou seja, a produção em sua

maioria é do tipo artesanal, sem conhecimentos técnicos nem controle de qualidade

e com mão-de-obra desqualificada. Normalmente não tem licenças oficiais para

extração e não existe análise técnica sobre a vida útil das jazidas. A figura 04

apresenta a cadeia produtiva da cerâmica vermelha e seus recursos.

Figura 04: Cadeia produtiva da cerâmica vermelha.

Assim, junto com o significado das letras apresentam-se as possíveis melhorias

em cada fase:

RN – recursos naturais – melhorias com extração próxima (distâncias de transporte

reduzidas), exploração consciente que permita uma rentabilidade e recuperação da

área, métodos mais adequados de exploração para otimizar o uso de argila, estudo

do material, pó (rudimentar) ou máquinas especificas (retro-escavadeira),

desmatamento, e incorporação de resíduos à matéria-prima.

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E – recursos energéticos – melhorias com resíduos de outras indústrias, como

serragem e cavaco (móveis), papel (calçadista), lenha (recurso renovável), óleo BPF

(CO2 e SO2 chuva ácida); serragem natural ou artificial; casca de arroz, coque de

petróleo e gás natural. Uma alternativa é o uso do calor do forno para a secagem

artificial e investimentos em eficiência energética, com outros produtos existentes na

região.

R – resíduos sólidos – melhorias com eliminação de perdas no produto acabado.

Nas fases de modelagem e secagem os resíduos podem ser incorporados ao

processo. Normalmente as indústrias usam os resíduos como aterro, principalmente

para recuperação da área de extração esgotada.

CO2 – emissões de CO2 – originadas da queima do energético, lenha, refil, óleo BPF

ou papel. Estas são melhorias no transporte dos insumos e no transporte do produto

acabado até o consumidor. O óleo de BPF libera também NO e SO2 (chuva ácida),

que levam a riscos de acidentes para a fauna e a flora.

RH - recursos humanos – relacionado com qualificação, ambiente de trabalho que

apresenta desconforto pelo calor intenso gerado pelos fornos, má iluminação,

ambientes confusos, sem um sistema de informação claro para os funcionários, e

sem equipamentos de proteção.

Quanto ao estágio atual do gerenciamento de resíduos no Brasil, existem as

normas técnicas já citadas e a certificação da qualidade em algumas empresas

construtoras. Em Sergipe, as iniciativas foram Projeto COMPETIR, que define

gargalos tecnológicos, e elaboração da cartilha CONAMA, com o apoio do

SINDOSCON/ SE; PROCOMPI, projeto que realizou diagnósticos das empresas

cerâmicas locais; e Rede Cerâmica.

Por fim, as melhorias gerenciais evoluíram a partir da década de 1980, em que

as melhorias surgiram em termos de aumento de produtividade (1980 a 1990), então

nas décadas seguintes foram incrementadas a minimização de desperdício (1990), a

eliminação ou redução do que não agrega valor (1992), o mapeamento do fluxo de

valor das cadeias produtivas (1998) e atualmente as estratégias estão voltadas para

a sustentabilidade (2000).

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