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TEXTO REVISADO Conceitos Básicos da Cabala Rav Michael Laitman, PhD 1

Conceitos Basicos Cabala

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  • TEXTO REVISADO

    Conceitos Bsicos da

    Cabala

    Rav Michael Laitman, PhD

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    A rvore da Vida

    Eis que antes das emanaes serem emanadas e das criaturas serem criadas, A simples luz superior preenchia toda a existncia. E no havia lacuna, como uma atmosfera vazia, um vcuo, ou um buraco, Mas tudo era preenchido com simples e ilimitada luz. E no havia tal parte como cabea ou cauda, Mas tudo era luz simples e suave, equilibrada igual e uniformemente, E foi chamada Luz Infinita. E quando por Sua simples vontade, surgiu o desejo de criar o mundo e emanar as emanaes, Para trazer luz a perfeio de Seus feitos, Seus nomes, Suas denominaes, Que foi a causa da criao dos mundos, Ele ento Se restringiu, no meio, Precisamente no centro, Ele restringiu a luz. E a luz afastou-se para os lados em torno daquele ponto central. E ali restou um espao vazio, um vcuo Circundando o ponto central. E a restrio foi uniforme Em volta do ponto vazio, De forma que o espao Uniformemente circundou-o. Assim, aps a restrio, Tendo formado um vcuo e um espao Precisamente no centro da luz infinita, Um lugar foi formado, Onde o emanado e criado podem residir. Ento da Luz Infinita uma nica linha estendeu-se, Desceu dentro daquele espao. E atravs daquela linha, Ele emanou, criou, formou, e Fez todos os mundos. Antes de estes mundos virem a ser Havia um infinito, um nome, em maravilhosa e oculta unidade, E mesmo nos anjos mais prximos a Ele No h capacidade de atingir o infinito, Pois no h mente que possa a Ele perceber, Porque Ele no tem lugar, nem limite, nem nome.

    O ARI, um grande Cabalista do sculo 16

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    Conceitos Bsicos Da Cabala

    INDICE

    Introduo.................................................................................................................

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    Captulo 1 O Mtodo de Percepo da

    Cabala......................................17

    Captulo 2 O Propsito da

    Cabala...............................................................23

    Captulo 3 A Outorga da

    Cabala.................................................................27

    Captulo 4 Perfeio e o

    Mundo...................................................................33

    Captulo 5 Livre

    Arbtrio.................................................................................39

    Captulo 6 A Essncia e o Propsito da

    Cabala.....................................49

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    Captulo 7 Do Posfcio ao

    Zohar.................................................................53

    Captulo 8 A Linguagem da

    Cabala...........................................................61

    Captulo 9 Do Prefcio ao

    Zohar.................................................................67

    Captulo 10 Da Introduo ao

    Zohar.........................................................77

    Captulo 11 Da Introduo ao Estudo das Dez

    Sefirot......................105

    Captulo 12 Condies para Revelar os Segredos da Sabedoria da

    Cabala...................................................................................111

    Captulo 13 Conceitos

    Chave......................................................................115

    Captulo 14 Perguntas Feitas

    Freqentemente....................................125

    Sobre o Bnei

    Baruch............................................................................................133

    Como contatar o Bnei

    Baruch.........................................................................135

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    NOTA DO AUTOR

    esmo podendo esse livro parecer bastante bsico, no seu propsito ser um livro que trata do conhecimento bsico da Cabala. Ao invs disso, um livro que ajuda

    os leitores a cultivarem uma familiaridade com os conceitos da Cabala, com os objetos espirituais, e com os termos espirituais.

    M Ao ler e reler este livro, a pessoa desenvolve observaes,

    sentidos e familiaridades internas que anteriormente no existiam dentro dela. Estas observaes recentemente adquiridas so como sensores que percebem o espao ao redor de ns que est oculto aos nossos sentidos convencionais.

    Assim, este livro tem como objetivo favorecer a contemplao dos termos espirituais. medida que nos integramos a estes termos, podemos comear a ver com nossa viso interior o desvelar da estrutura espiritual que nos circunda, quase como se uma neblina desvanecesse.

    Mesmo assim, este livro no voltado ao estudo dos fatos. Ao invs disso, um livro para iniciantes que desejam despertar as mais profundas e sutis sensaes que eles possam ter.

    Michael Laitman

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    INTRODUO

    Abra um pouco seu corao para mim,

    E eu revelarei o mundo para voc. -O Livro do Zohar

    Quem sou eu? Por que existo? De onde viemos? Para onde vamos? E qual nosso propsito aqui? J estivemos neste mundo antes? Por que h sofrimento neste mundo e podemos ns evit-lo? Como podemos atingir a paz, a realizao, e a felicidade?

    De gerao a gerao, as pessoas tentam encontrar respostas a estas dolorosas perguntas insistentes. O fato de elas permanecerem de gerao a gerao indica que ns ainda no recebemos respostas satisfatrias a elas. Enquanto estudamos a natureza e o universo, descobrimos que tudo que nos cerca existe e funciona de acordo com leis precisas e significativas. Mesmo assim, quando examinamos a ns mesmos, o znite da Criao, chegamos concluso de que a humanidade aparentemente existe fora deste sistema de leis racionais. Por exemplo, quando observamos como sabiamente a natureza criou nossos corpos e como de forma precisa e significativa cada clula em nossos corpos funciona, ns somos incapazes de responder pergunta: Por que o organismo inteiro existe? Tudo o que nos circunda permeado com conexes de causa e efeito. Nada criado sem um propsito; o mundo fsico governado por leis precisas de movimentao, transformao, e

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    circulao. No entanto, a pergunta principal Por que tudo existe (no apenas ns, mas o universo inteiro)? permanece sem resposta. Existe algum nesse mundo que no tenha sido tocado por esta pergunta ao menos uma vez? As teorias cientficas existentes declaram que o mundo governado por leis fsicas invariveis que ns somos incapazes de influenciar. Nossa nica tarefa vivermos bem, usando-as sabiamente e preparando o terreno para as futuras geraes. Mas, o viver bem no responde questo relacionada porque essas futuras geraes iro, ou deveriam, existir. A questo da origem da humanidade tanto por espcies primitivas atravs da evoluo, como pela visita e estabelecimento de extraterrestres no muda as questes essenciais. Existem duas datas principais na vida de cada pessoa: o nascimento e a morte. O que acontece entre elas pode ser exclusivo e, portanto sem preo. Tambm pode ser insignificante se ao fim disso h uma escurido e um vazio. Onde est nossa sbia, onisciente e coerente natureza que no faz nada sem propsito? Cada tomo, cada clula no organismo humano possui sua causa e seu propsito; mas, qual o propsito do organismo inteiro? Talvez existam algumas leis e objetivos que ns ainda no descobrimos. Ns podemos investigar algo em um nvel evolucionrio inferior ao nosso. Ns percebemos e compreendemos o significado da existncia inanimada, vegetativa e animal. Mas no podemos compreender o significado da existncia humana. Evidentemente, este entendimento pode ser atingido apenas a partir de um nvel existencial superior. Nossa investigao do mundo concentra-se no estudo de como ele reage nossa influncia sobre ele. Ns podemos apenas investigar em nosso prprio nvel e no acima dele. Mesmo quando investigamos em nosso prprio nvel, ns o estudamos aplicando algum impacto sobre o mundo e medindo a reao ao impacto. Ns percebemos nossa influncia sobre o mundo com

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    nossos cinco sentidos: viso, audio, olfato, gustao, e tato. Por outro lado, podemos usar instrumentos que expandem o alcance da percepo de nossos limitados sentidos. Infelizmente, ns no podemos reconhecer nada alm do que os nossos sentidos podem perceber e investigar. como se nada existisse alm do que percebemos. Tudo o que parece existir, existe apenas dentro daquilo que percebemos, e, uma criatura com sentidos diferentes experimentaria as mesmas coisas de forma totalmente diferente. Ao mesmo tempo, no sentimos falta de rgos sensoriais, como, por exemplo, um sexto dedo em nossas mos. Exatamente como impossvel explicar o significado da palavra viso a um cego de nascena, assim ento, ns somos incapazes de descobrir as formas ocultas da natureza com os mtodos de investigao que aplicamos hoje. De acordo com a Cabala, existe um mundo espiritual que imperceptvel aos nossos rgos sensoriais. No seu centro existe uma parte minscula nosso universo e nosso planeta (o corao deste universo). Esta esfera de informao, pensamentos e emoes nos afeta atravs das leis da natureza e de suas incidncias. Tambm nos coloca sob certas condies nas quais devemos agir. Ns no escolhemos onde, quando, com quem, e com quais traos e inclinaes ns nasceremos. Ns no escolhemos quem encontraremos e em qual ambiente cresceremos. Estas coisas determinam todas as nossas aes e reaes, como tambm todas as suas conseqncias. Ento onde est nosso livre arbtrio? De acordo com a Cabala, existem quatro conhecimentos obrigatrios a se atingir: A Criao: O estudo da Criao e a evoluo dos mundos, a saber:

    A maneira que o Criador criou os mundos, com as criaturas que os habitam, atravs de consecutivas restries;

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    As leis de interao entre os mundos espirituais e o material, e suas conseqncias;

    O objetivo da criao do homem formar um sistema com uma iluso da existncia do livre arbtrio, ao combinar a alma com o corpo, e ao control-los atravs da natureza e do aparente fator do acaso com a ajuda de dois sistemas, de foras da luz e da escurido, balanceados mutuamente.

    O Funcionamento: O estudo da essncia humana sua interconexo e interao com o mundo espiritual. O Funcionamento lida com o chegar a e ao sair de este mundo. Tambm inclui as reaes dos Mundos Superiores ao nosso mundo e aos outros seres humanos, causadas pelas aes do homem. Investiga o caminho de cada um, da criao dos mundos ao alcance do objetivo final.

    Encarnaes da Alma: O estudo da essncia de cada alma e suas encarnaes, como tambm das nossas aes nesta vida e suas conseqncias para as vidas subseqentes. A investigao das encarnaes examina como e porque uma alma desce a um corpo, e o que determina a aceitao de certa alma dentro de certo corpo.

    As encarnaes da Alma tambm lidam com o mistrio do acaso, e investiga a histria humana como resultado da ordem e de ciclos de almas definidos. Tambm segue esta trajetria por 6.000 anos e estuda a conexo da alma com o governo geral do sistema dos mundos, e estuda seus ciclos de vida e morte. Tambm define os fatores dos quais nosso caminhar neste mundo depende.

    Governo: O estudo de nosso mundo: os nveis inanimados, vegetativo, e animal da natureza, a essncia e o papel deles, e como eles so governados pelo mundo espiritual. Estuda o Governo Superior e nossa percepo da natureza, tempo, e espao. Investiga as Foras Superiores que movem os corpos materiais, e a maneira em que as foras internas conduzem todas as coisas, animadas e inanimadas, ao objetivo predeterminado.

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    Pode algum resolver este enigma fundamental da vida humana sem tocar na questo de sua origem? Todo ser humano encontra esta questo. A busca pelo objetivo e o significado da existncia a questo chave por volta da vida espiritual humana. Assim, a partir da segunda metade do sculo XX, ns temos observado um ressurgimento das aspiraes espirituais humanas.

    O progresso tecnolgico e as catstrofes globais que do surgimento a uma variedade de filosofias no trouxeram realizao espiritual humanidade. Como a Cabala explica, de todos os prazeres existentes, nosso mundo apenas recebeu uma minscula fagulha e sua presena nos objetos corpreos o que produz todos os nossos prazeres terrenos.

    Em outras palavras, todas as nossas sensaes prazerosas, de qualquer origem, so causadas apenas pela presena dessa minscula fagulha dentro delas. Atravs de nossas vidas, ns somos postos numa busca forada por novos objetos de prazer, esperando receber prazeres cada vez maiores; ns sequer suspeitamos que eles no passem de cascas.

    Para recebermos absoluta satisfao, devemos nos conscientizar da necessidade da elevao espiritual alm da matria. H dois caminhos em nosso mundo para se alcanar o objetivo: o caminho da ascenso espiritual (a Cabala), e o caminho do sofrimento.

    O caminho da Cabala um caminho de independente e voluntria compreenso da necessidade de gradualmente acabar com o egosmo, enquanto a Luz Superior utilizada para se perceber o egosmo como mal.

    s vezes as pessoas vm a compreender isto de forma totalmente inesperada. Uma pessoa secular, bem estabelecida e calma, de repente comea a sentir-se bastante descontente; qualquer fagulha de excitao, alegria, gosto pela vida e prazer desaparece da vida diria desta pessoa.

    Esse o estado de nossa gerao, onde a abundncia material faz surgir uma sensao de fome espiritual. Ns

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    comeamos buscar outras fontes de contentamento, muitas vezes escolhendo um longo e espinhoso caminho. O livre arbtrio existe entre o caminho da ascenso espiritual e o caminho do sofrimento. Pode-se apenas esperar que as pessoas iro escolher a vida ao invs de embarcarem no caminho do sofrimento, o mesmo caminho que ns freqentemente trilhamos no passado.

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  • CAPTULO 1 O MTODO DE PERCEPO DA CABALA

    A Cabala ensina sobre as conexes de causa e efeito entre as origens espirituais, que se unem de acordo com leis absolutas em um objetivo elevado: que o Criador seja alcanado pelos seres criados enquanto existem neste mundo. De acordo com a Cabala, cada um da humanidade precisa alcanar este ponto conclusivo, de completamente alcanar o objetivo e o programa da Criao. Atravs das geraes, indivduos tm alcanado certo nvel espiritual atravs do trabalho individual. Estas pessoas, chamadas Cabalistas, subiram at o topo da escada espiritual. Todo objeto material e seu agir, do menor ao maior, operado por foras espirituais que preenchem o universo inteiro. como se o nosso universo estivesse disposto sobre uma teia de foras. Tome, por exemplo, o mais insignificante organismo vivo que tem por papel meramente se reproduzir e sustentar sua espcie. Pense sobre quantas foras e sistemas complexos funcionam dentro dele, e como muitos deles permanecem imperceptveis ao olho humano. Se ns os multiplicssemos pelo nmero de organismos que vivem hoje, e por aqueles que j viveram em nosso universo e nos mundos espirituais, ns iremos ter uma vaga idia do vasto nmero de foras e conexes que os controlam. Algum pode descrever as foras espirituais como dois sistemas equivalentes e interconectados. A diferena entre eles

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    que um vem do Criador e desenvolve-se de cima para baixo atravs de todos os mundos at nosso mundo. E o outro comea em nosso mundo e eleva-se de acordo com as leis que foram desenvolvidas no primeiro sistema e agora funcionam no segundo. A Cabala define o primeiro sistema como A ordem da criao dos mundos e Sefirot, e o segundo como Os alcances ou nveis da profecia e do esprito. O segundo sistema ensina que as pessoas que desejam alcanar o grau conclusivo devem seguir as leis do primeiro sistema, que so as leis estudadas na Cabala. Quando algum ascende nestes nveis, o segundo fator nasce em seu interior. Isto , a espiritualidade. O mundo corpreo cheio de foras e fenmenos os quais no sentimos de forma direta, como a eletricidade e o magnetismo, mas, mesmo crianas pequenas esto acostumadas com seus nomes e os resultados de suas aes. Por exemplo, a despeito de nosso conhecimento da eletricidade ser limitado, ns aprendemos a utilizar este fenmeno para os nossos propsitos e definimos isto to naturalmente como damos nomes a coisas como o po e o acar. De forma similar, como se todos os nomes na Cabala nos dessem uma real e objetiva idia sobre um objeto espiritual. Pensando bem, da mesma forma que ns no temos idia sobre os objetos espirituais ou at mesmo sobre o Criador, assim, somos igualmente ignorantes sobre qualquer objeto, at sobre aqueles que podemos agarrar com nossas mos. Isto assim porque ns percebemos no o objeto em si, mas nossa reao ao seu impacto sobre os nossos sentidos. Estas reaes nos do um vislumbre de conhecimento, mesmo que a essncia do objeto em si permanea totalmente

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    oculta a ns. Alm do mais, ns somos absolutamente incapazes de entender at a ns mesmos. Tudo o que conhecemos sobre ns mesmos limitado s nossas aes e reaes. Como um instrumento de investigao do mundo, a cincia divide-se em duas partes: o estudo das propriedades da matria e o estudo de sua forma. Em outras palavras, no h nada no universo que no consista de matria e forma. Por exemplo, uma mesa uma combinao de matria e forma, onde a matria, como por exemplo, a madeira, a base que contm a forma aquela de uma mesa. Ou tome a palavra, mentiroso, onde a matria (o corpo de algum) o suporte da forma, a falsidade. Uma cincia que estuda a matria baseada em testes e experimentos que conduzem a concluses cientficas. No entanto, uma cincia que estuda a forma desconsiderando a matria, e as separando abstratamente, no pode ser baseada em experimentos. Isto igualmente verdadeiro com formas que nunca foram conectadas matria, porque uma forma sem matria no existe em nosso mundo. Uma forma pode ser separada da matria apenas na imaginao de algum. Assim ento, todas as concluses em tais casos so baseadas puramente em suposies tericas. Toda a filosofia relaciona-se com este tipo de cincia, e a humanidade muitas vezes sofreu por causa das concluses inconsistentes dos filsofos. A maioria dos cientistas modernos tem rejeitado este tipo de pesquisa porque suas concluses so completamente incertas. Enquanto investigamos os mundos espirituais, descobrimos que nossas percepes so meramente uma vontade de Cima que deseja que sintamos como se fossemos uma entidade existindo separada, e no uma parte do Criador. O mundo inteiro que nos

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    circunda na verdade o resultado da influncia das foras espirituais sobre ns. Este o porqu do mundo que nos cerca ser considerado um mundo de iluses. Deixe-me explicar o que isto significa com uma alegoria: Era uma vez um cocheiro. Ele possua um par de cavalos, uma casa, e uma famlia. Subitamente, veio a ele uma onda de m sorte: seus cavalos morreram e assim tambm sua mulher e seus filhos, e sua casa desmoronou. Em pouqussimo tempo o cocheiro morreu de aflio. Na corte celestial, discutia-se o que poderia ser dado para uma alma to atormentada. Finalmente, foi decidido faze-lo sentir como se estivesse vivo, com sua famlia em sua casa, como se tivesse bons cavalos, e estivesse feliz com seu trabalho e sua vida. Estas sensaes so algumas vezes percebidas da mesma forma em sonhos que parecem reais. De fato, apenas nossas sensaes criam as imagens do mundo que nos cerca. Ento quem pode diferenciar a iluso da realidade? Como todas as cincias, a Cabala tambm dividida em estudo da matria e estudo da forma. Contudo, possui um aspecto notvel e uma vantagem sobre outras cincias: Mesmo a parte dela que estuda a forma separada da matria baseada inteiramente em controle experimental; ou seja, sujeita anlise emprica! Quando um Cabalista eleva-se ao nvel espiritual do objeto estudado, ele ou ela adquire as qualidades do objeto e assim ento tem um completo insight. Esta pessoa pode praticamente operar diversas formas de matria, mesmo antes delas se manifestarem na matria, como que observando nossas iluses de fora delas! Como em qualquer outro ensino, a Cabala usa uma terminologia especfica e smbolos para descrever os objetos e

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    aes: uma fora espiritual, uma Sefira, ou um mundo so chamados pelo nome do objeto terrestre que controlam. Por todo objeto ou fora material corresponder fora ou objeto espiritual que o controla, uma conformidade completamente precisa criada entre o nome tomado do mundo corpreo e sua raiz espiritual, sua origem. Assim, apenas um Cabalista, que claramente conhece a correspondncia entre as foras espirituais e os objetos materiais, pode dar nomes a objetos espirituais. Apenas algum que atingiu o nvel espiritual de um objeto pode ver a conseqncia de sua influncia em nosso mundo. Os Cabalistas escrevem livros e passam seu conhecimento para outras pessoas usando a linguagem dos ramos. Esta linguagem excepcionalmente precisa porque baseada na conexo entre a raiz espiritual e o ramo corpreo. No pode ser alterada devido invarivel conexo entre um objeto e sua raiz espiritual. Ao mesmo tempo, nossa linguagem terrena est gradualmente perdendo sua preciso porque est conectada apenas ao ramo e no raiz. No entanto, o mero conhecimento superficial da linguagem insuficiente porque, simplesmente conhecer o nome de um objeto material no prov entendimento de sua forma espiritual. Apenas o conhecimento da forma espiritual habilita algum a ver seu resultado material, seu ramo. Ns podemos assim concluir que algum deve primeiro atingir a raiz espiritual, sua natureza e propriedades. Apenas assim pode algum dar o nome ao seu ramo neste mundo e estudar a conexo entre a raiz espiritual e o ramo material. Apenas assim pode algum entender a linguagem dos ramos,

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    com isso, facilitando um preciso intercmbio da informao espiritual. Ns podemos perguntar, Se algum deve atingir a raiz espiritual primeiro, como pode um iniciante dominar esta cincia sem entender corretamente o professor? A resposta que atravs do grandioso desejo pela espiritualidade, o estudante encontra o caminho correto e adquire a sensao do Mundo Superior. Isto feito ao se estudar apenas fontes autnticas, como tambm, ao separar-se de quaisquer rituais materiais.

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  • CAPTULO 2 O PROPSITO DA CABALA

    Os Cabalistas afirmam que o propsito da Criao trazer

    alegria e prazer aos seres criados. A vontade de obter prazer (o vaso ou alma) recebe prazer de acordo com a intensidade de seu desejo. por isso, que tudo que foi criado em todos os mundos meramente um varivel desejo de receber prazer, e o Criador satisfaz este desejo. Esta vontade de receber prazer a substncia da Criao, tanto espiritual como corprea, incluindo aquilo que j existe e aquilo que ir manifestar-se no futuro. A matria, em suas diversas manifestaes (minerais, plantas, seres humanos, cores, sons, etc.), simplesmente diferentes quantidades do desejo de receber prazer. A Luz emanada pelo Criador vitaliza e preenche tal matria. Originalmente, tanto o desejo de obter prazer chamado de vaso e o desejo de doar prazer chamado de a Luz correspondiam um ao outro em magnitude. Ou seja, o vaso (o desejo de alegrar-se) recebia mximo prazer. No entanto, conforme o desejo diminua, tanto o vaso como a Luz que o preenchia contraam-se gradualmente e continuaram se afastando do Criador at que alcanaram o mais baixo nvel, onde o desejo de obter prazer finalmente materializou-se. A nica diferena entre o Mundo Superior e o nosso repousa sobre o fato de que em nosso mundo o vaso (o desejo de receber prazer) existe no seu mais baixo nvel, chamado corpo material.

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    Antes da sua materializao final, o vaso desenvolve-se atravs de quatro estgios, divididos em dez Sefirot (nveis): Keter, Chochmah, Binah, Chessed, Gvurah, Tifferet, Netzach, Hod, Yessod, e Malchut. Estas Sefirot constituem filtros que inibem a Luz que o Criador direciona ao seres criados. A funo destes filtros enfraquecer a Luz at o grau em que as criaturas que existem em nosso mundo possam perceb-la. Sefirat (singular de Sefirot) Keter tambm chamada de o mundo de Adam Kadmon; Sefirat Chochmah chamada de o mundo de Atzilut; Sefirat Binah o mundo de Beriah; as Sefirot de Chessed a Yessod o mundo de Yetzirah; e a Sefirat Malchut o mundo de Assiyah. O ltimo nvel do mundo de Assiyah, constitui o nosso universo (veja o Esquema 1).

    Keter - Adam Kadmon Chochmah - Atzilut

    Binah - Beriah Chessed

    Gvurah Tifferet Netzach Hod Yessod Malchut Superior - Assiyah

    - Yetzirah

    ---------------------- Malchut Inferior - Nosso Universo

    Esquema 1

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  • CONCEITOS BSICOS DA CABALA

    A Cabala chama este nvel de Olam ha Zeh (este mundo). percebido por aqueles que existem nele, e o vaso, ou desejo de receber prazer, chamado de o corpo. A Luz, chamada prazer, percebida como a fora da vida. Mesmo estando a Luz que preenche o corpo to reduzida a ponto de no percebermos sua origem, ao observarmos certas regras dadas pelo Criador, descritas na Cabala, nos purificamos do egosmo e gradualmente ascendemos atravs de todos os mundos de volta Origem. Ao atingirmos nveis espirituais superiores, ns recebemos maiores pores de Luz at que alcancemos os nveis nos quais possamos receber toda a Luz (prazer absoluto e infinito) que foi destinada a ns desde a origem da Criao. Toda alma circundada por Luz espiritual. Por mais que os iniciantes na Cabala possam no entender o que esto estudando das fontes autnticas, seu poderoso desejo de entender evoca a Fora Superior que os circunda, e os efeitos desta Fora Superior os purificam e elevam. Se no nesta vida, ento na prxima, toda pessoa ir sentir a necessidade de estudar Cabala e de receber conhecimento sobre o Criador. A Luz circunda a alma humana por fora, at que se alcance um nvel espiritual onde a Luz comea a entrar nela. A recepo da Luz internamente depende apenas do desejo, da disposio de cada um e da pureza de sua alma.

    No entanto, durante os estudos a pessoa pronuncia os nomes das Sefirot, dos mundos, e das aes espirituais conectadas a alma dela. Assim, a alma recebe micro-doses de Luz do exterior, uma luz que gradualmente purifica a alma e a prepara para receber a energia e o deleite espiritual.

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  • CAPTULO 3 A OUTORGA DA CABALA

    O grande sbio, Rabi Akiva, (sculo I da Era Comum) disse:

    Ame o seu prximo como a si mesmo; esta a regra que abrange todas as leis espirituais. Como sabemos, o termo que abrange aponta para a soma de todos os elementos. Assim ento, quando Rabi Akiva fala do amor ao nosso prximo (uma de muitas leis espirituais), dos nossos deveres com relao sociedade e at em relao ao Criador como a lei que a tudo abrange, ele infere que todas as outras leis so meras componentes desta regra. No entanto, quando tentamos encontrar uma explicao para isso, nos encontramos com uma declarao ainda mais incomum pronunciada pelo sbio Hillel. Quando seu discpulo pediu para que ele o ensinasse por completo a sabedoria da Cabala enquanto estivesse sobre apenas uma perna, Hillel respondeu: Qualquer coisa que voc odeia, no faa aos outros! A resposta de Hillel ensina-nos que o completo propsito, ou seja, a razo para a existncia da Cabala elucidar e promover uma nica lei: Ame o seu prximo como a si mesmo. Mesmo assim, como posso eu amar outra pessoa como a mim mesmo? Amar os outros como a mim mesmo implicaria em constantemente satisfazer todos os desejos de todas as pessoas, enquanto eu sou incapaz de satisfazer at meus prprios desejos! Alm do mais, os sbios explicam que ns temos de satisfazer os desejos dos outros antes dos nossos prprios. Por exemplo, est escrito (Tosfot, Masechet Kidushin) que se voc tem apenas um travesseiro, voc deve d-lo ao seu amigo, ou se voc tem uma cadeira, outra pessoa deve us-la, enquanto voc

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  • CONCEITOS BSICOS DA CABALA

    fica de p ou senta no cho. Caso contrrio voc no estar cumprindo a instruo de amar o seu prximo. esta exigncia praticvel? Se Ame o seu prximo como a si mesmo a lei que abrange toda a Cabala, vamos primeiro entender o que a Cabala. A Cabala ensina que o mundo, e ns, seus habitantes, fomos criados apenas para cumprir as leis que tm por objetivo elevar espiritualmente a humanidade acima de nosso mundo material. Desta maneira, podemos atingir a similaridade e a unidade com o Criador. Ainda assim, por que o Criador precisou nos criar to corruptos e nos dar a Cabala para nossa correo? O Livro do Zohar responde esta questo da seguinte maneira: Aquele que come o po de outra pessoa tem vergonha de fitar os olhos de quem o d. Assim, o mundo foi criado para nos salvar desta vergonha. Ao lutarmos contra o nosso prprio egosmo e o corrigindo, obteremos nosso mundo futuro. Para esclarecer isso, imaginemos a seguinte situao: Um homem rico encontra seu amigo pobre, o qual ele no v h muito tempo. Ele leva-o para sua casa, d a ele comida, bebida, e roupas, dia aps dia. Um dia, querendo agradar seu amigo, o homem rico pergunta a ele o que mais pode fazer por ele. O pobre homem responde: Eu quero apenas uma coisa: receber tudo aquilo que voc tem me dado por piedade, s que, como recompensa pelo meu prprio trabalho. Voc pode preencher todos os meus desejos exceto este! Ns vemos ento como o doador incapaz de livrar da vergonha aquele que recebe. Ao invs disso, quanto mais favores o homem pobre recebe, maior a vergonha. O universo, nosso pequeno planeta, e a sociedade humana (nosso ambiente de trabalho) foram criados para nos salvar deste sentimento. Nosso

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    trabalho retornar ao Criador com desejos corrigidos e receber uma bem merecida recompensa, o enorme deleite da eternidade, da perfeio, e da fuso com o Criador. Mas, por que nos sentimos constrangidos e envergonhados quando recebemos algo dos outros? Os cientistas conhecem a lei de causa e efeito. Ela define que toda conseqncia prxima em caractersticas sua causa, ou origem, e todas as leis que atuam na origem so passadas sua conseqncia. O efeito desta lei manifesta-se em todos os nveis da natureza: inanimado, vegetativo, animal e humano. O estado de qualquer mineral determinado pelas leis que o controlam. Ns somos acostumados, e preferimos, a aquilo que experimentamos enquanto crescemos. De forma similar, toda partcula que a conseqncia de um todo ligada sua origem, e tudo que ausente na raiz odiado e negado pela sua conseqncia. Assim sendo, se o Criador da natureza a Raiz e a Origem de tudo que foi criado, ns percebemos todos as leis manifestadas Nele como agradveis, e tudo que ausente Nele como completamente estranho e sem atrativos. Por exemplo, ns gostamos de repousar e aborrecemos tanto o movimento que apenas nos movemos com o propsito de alcanar o repouso. Isto porque a Raiz (o Criador) do qual fomos originados absolutamente imutvel. Assim, qualquer mudana oposta nossa natureza. Ns nascemos e crescemos como egostas absolutos, nos importando apenas conosco. Ser egosta o que nos faz opostos ao Criador, que vitaliza toda a natureza. No entanto, ao sermos colocados sob a influncia da sociedade, comeamos a entender a necessidade pelo auxlio mtuo, embora sua medida e direcionamento dependam do nvel de desenvolvimento da sociedade.

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  • CONCEITOS BSICOS DA CABALA

    Ao criar nossa malevolncia (a m inclinao) e ao nos dar a Cabala como um contrapeso, o Criador nos habilitou a eliminar a manifestao do egosmo e a atingir o prazer sem a vergonha. H dois tipos de lei na Cabala aquelas que se referem s outras pessoas e aquelas que se referem ao Criador. No entanto, ambas existem para nos fazer similares ao Criador. No tem importncia alguma para ns se agimos por causa do Criador ou por causa de outras pessoas. Isto assim porque qualquer coisa que transcende os limites de nossos interesses pessoais permanece completamente imperceptvel. Todo movimento que fazemos por causa dos outros em seu fim para benefcio prprio. absolutamente impossvel fazer qualquer movimento fsico ou mental sem uma inteno anterior de extrair um mnimo de lucro desse movimento. Esta lei da natureza conhecida como absoluto egosmo. Apenas ao observar as leis espirituais algum pode alcanar o estado de amar incondicionalmente os outros. Aqueles que no seguem as regras da Cabala no tm como transcender os limites do absoluto egosmo. De acordo com a Cabala, as leis que regulam os relacionamentos sociais so mais importantes que as leis que regulam o relacionamento com o Criador. Isto assim porque quando seguimos estas leis sob circunstncias sociais variveis, podemos corrigir a ns mesmos de forma eficiente e na direo correta. Agora podemos entender a resposta de Hillel ao seu discpulo: o principal amar o seu prximo, o que resta so leis subsidirias, incluindo aquelas que pertencem s nossas relaes com o Criador. De fato, uma pessoa no pode fundir-se a Ele antes de alcanar o amor pelos outros. Portanto, o antigo sbio apontou para o ame ao seu prximo como o mais seguro e rpido meio de dominar a Cabala.

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  • CONCEITOS BSICOS DA CABALA

    Agora imagine uma nao com uma populao de milhes na qual todo membro, de maneira amorosa e ilimitada, deseja ajudar cada membro da sociedade e satisfaz todas suas necessidades. Claramente, nenhuma uma pessoa desta sociedade iria precisar se preocupar com ele ou ela, ou temer o futuro. De fato, milhes de pessoas amorosas iriam constantemente estar disposio de seus interesses e tomariam conta deles. No entanto, por a nao depender de seus membros, uma infrao da obrigao iria criar um vcuo na sociedade, porque algum iria permanecer sem ajuda. Quanto maior o nmero de infratores, maior a quantidade de regras, que cada membro da sociedade obrigado a cumprir, que seriam quebradas. Todos so responsveis uns pelo outros, tanto por observar as leis como por viol-las.

    Outro antigo sbio, Elazar, o filho de Rashbi (Rabi Shimon Bar-Yochai, o autor do Zohar), tem uma surpresa ainda maior para ns. Ele diz que no apenas toda nao, mas toda a humanidade, todo ser vivo, responsvel um pelo outro. Elazar declara que todas as naes tero de observar esta regra, e ao fazerem isso o mundo inteiro ser corrigido. O mundo no pode ser completamente corrigido e elevado a no ser que cada um abrace a lei do universo, que abrange a todas as outras leis.

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  • CAPTULO 4 PERFEIO E O MUNDO

    Como ns j sabemos, a essncia das leis do Criador est no

    amor, na mxima ateno e compaixo em relao a todos os membros da sociedade, como se fosse para si mesmo. Vejamos se aceitamos a lei do Criador apenas por f ou se alguma experimentao porventura necessria. Espero que os leitores venham a entender minha falta de apreciao por filosofias vazias, porque estruturas completas so construdas, e concluses completamente infundadas so traadas, baseadas em falsas concluses. Nossa gerao viu diversas filosofias colocadas em prtica. Quando afirmaes tericas bsicas mostram-se erradas, a teoria inteira entra em colapso e pode imergir milhes em tormento. Podemos desejar cumprir a lei do Criador ao estudar o mundo, e suas leis, a partir de dados obtidos na prtica? Quando observamos a ordem que existe na natureza, somos atingidos pela preciso de seu governo tanto no nvel microscpico como macroscpico. Tomemos por exemplo, as criaturas mais prximas a ns seres humanos. Uma clula que vem de um pai e chega a um lugar preparado e seguro em uma me, recebe tudo o que necessrio para o seu desenvolvimento at que emerge neste mundo. Nada pode amea-la at que comece sua existncia como um organismo separado. Quando o ser emerge, a natureza cuidadosamente faz surgir os sentimentos necessrios nos pais para darem criana absoluta confiana em seu amor e cuidado. Os humanos, da mesma forma que os animais e as plantas, multiplicam-se e ento tomam conta do desenvolvimento da sua prognie.

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  • CONCEITOS BSICOS DA CABALA

    No entanto, uma dramtica contradio existe entre a maneira em que a natureza toma conta do nascimento e do desenvolvimento independente inicial de uma espcie, e posteriormente, da sua luta pela sobrevivncia. Esta espantosa contradio na maneira em que o mundo governado, que existe em todos os nveis da vida, tem cativado as mentes humanas desde os tempos antigos e gerou diversas teorias:

    Evoluo: Esta teoria no considera necessrio explicar a contradio mencionada acima. O Criador criou o mundo e domina sobre todas as coisas. Ele insensvel, incapaz de pensar, e cria as espcies de acordo com as leis fsicas. As espcies criadas desenvolvem-se em conformidade com a evoluo, ou seja, em conformidade com as rgidas leis de sobrevivncia. Esta teoria refere-se ao Criador como sendo a natureza, assim enfatizando sua insensibilidade.

    Dualismo: Sendo que a surpreendente sabedoria da natureza excede em muito a habilidade da humanidade, impossvel predizer e planejar futuros organismos sem retro informao. O doador (a natureza) deve tambm possuir intelecto, memria e sentimentos. De fato, ningum pode afirmar que todo nvel da natureza seja controlado por mero acaso.

    Esta teoria tem levado concluso que duas foras existem, positiva e negativa, e que ambas as foras possuem intelecto e sentimentos. Assim, estas foras so capazes de dotar todas as coisas que criam com tais faculdades. O desenvolvimento desta teoria tem conduzido a criao de diversas outras teorias.

    Politesmo: A anlise das aes da natureza e a diviso destas foras de acordo com suas caractersticas trouxeram tona religies (tais como as da Grcia Antiga) que possuam uma assemblia de divindades, cada uma governada por certa fora.

    Ausncia de governo: Com o surgimento de instrumentos precisos e novos mtodos, a pesquisa recentemente descobriu

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  • CONCEITOS BSICOS DA CABALA

    uma estreita conexo entre todas as partes do mundo. Assim ento, a teoria sobre uma variedade de foras foi descartada e foi reposta com a hiptese sobre uma fora sbia e unificada que guia o mundo. No entanto, devido insignificncia da humanidade, comparada grandeza desta fora, ns estamos abandonados.

    Alis, a humanidade continua a sofrer a despeito das numerosas teorias sobre a criao do mundo e seu governo. No d para compreender porque a natureza to gentil no ventre da me e durante a tenra infncia, e to cruel na fase adulta, quando ns aparentemente precisamos de sua ajuda ainda mais. Uma questo surge: No somos ns a razo da crueldade da natureza em relao ao mundo?

    Todas as aes da natureza esto interconectadas; assim, ao violar suas leis, ns desequilibramos o sistema inteiro. No importa se falamos da natureza como um guia sem propsito e corao, ou como um Criador com um plano, objetivo, e sabedoria. Ns existimos em um mundo com certas leis, e ao viol-las somos punidos com um ambiente e uma sociedade corrompidos, e com nossa prpria corrupo. Alm disso, por serem as leis da natureza interconectadas, ao quebrarmos uma delas podemos causar sobre ns uma inesperada e severa turbulncia provinda de uma diferente direo.

    A natureza, ou o Criador (que na verdade so o mesmo), nos influencia atravs de certas leis, as quais somos obrigados a considerar como objetivas e compulsrias, e ento segui-las. Ns precisamos entender as leis da natureza, porque a negligncia em segui-las a causa de todos os nossos sofrimentos.

    de conhecimento comum que os humanos so seres sociais. Ns no podemos sobreviver sem a ajuda dos outros na sociedade. Assim, algum que subitamente decide se isolar da sociedade ser sujeito a uma vida de sofrimento, pois a pessoa no poder suprir as necessidades dele ou dela.

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    A natureza nos obriga a viver entre outros como ns, e ao nos relacionar com eles, executar duas operaes: receber todas as coisas necessrias da sociedade, e, dar sociedade o produto de nosso trabalho. A violao de qualquer uma dessas duas regras perturba o equilbrio da sociedade e, assim ento, merece o castigo da sociedade.

    No caso de excessiva recepo (como o roubo), a penalidade da sociedade ocorre imediatamente. J, se uma pessoa se recusa a servir sociedade, a punio, como regra, ou no ocorrer por completo ou no estar diretamente relacionada transgresso. por isso que a condio, que obriga algum a prestar um servio sociedade, normalmente ignorada. A natureza, no entanto, age como um juiz imparcial e pune a humanidade de acordo com seu desenvolvimento.

    A Cabala mantm que a seqncia de geraes no mundo meramente a apario e desapario de corpos baseados em protenas, enquanto a alma que preenche o eu muda sua roupagem sem desaparecer. A circulao do constante e limitado nmero de almas, a descida delas ao nosso mundo e a apario em novos corpos, nos prov com novas geraes de pessoas. Assim ento, com relao s almas, todas as geraes, da primeira at a ltima, so consideradas uma s gerao. No importa quantas vezes cada alma entra e sai de diversos corpos. Para efeitos de comparao, a morte do corpo no tem efeito algum sobre a alma, da mesma forma que as unhas ou fios de cabelo cortados no tm efeito algum sobre a vida de um corpo.

    Ao criar os mundos e ao d-los para ns, o Criador estabeleceu um objetivo diante de ns: alcanar Seu nvel e fundir-se a Ele ao ascender pelos mundos que Ele construiu. A questo , deve a humanidade sentir-se obrigada a realizar a vontade Dele?

    A Cabala revela uma imagem completa e ampliada do controle do Criador sobre ns. Assim, espontaneamente ou pressionados pelo sofrimento, nesta vida ou em uma prxima,

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  • CONCEITOS BSICOS DA CABALA

    influenciados por fatores fsicos, sociais e econmicos, cada um de ns, toda a humanidade, ir aceitar o propsito da Criao como seu objetivo de vida.

    No fim, todos atingiro um s objetivo. A nica diferena est no caminho: uma pessoa que voluntariamente e conscientemente avana em direo ao objetivo ganha duas vezes: economiza tempo, e experimenta o deleite da fuso com o Criador ao invs do sofrimento. A gravidade da situao est no fato de que a humanidade sequer imagina as calamidades que se encontram diante dela. O objetivo foi definido e as leis do universo so invariveis. Sofrimentos pessoais do cotidiano e constantes catstrofes globais esto fazendo cada um de ns se aperceber da necessidade da observncia da lei do Criador anular o egosmo e a inveja e no lugar disso desenvolver a compaixo, o auxlio mtuo e o amor.

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    CAPTULO 5 LIVRE ARBTRIO

    O conceito de liberdade determina nossa vida inteira.

    Animais em cativeiro normalmente desenvolvem sade precria e podem at morrer um claro sinal de que a natureza discorda de qualquer tipo de subjugao. No por acaso que por sculos a humanidade se engajou em batalhas e derramamentos de sangue para obter certa medida de liberdade. Ainda assim, ns temos uma idia um tanto vaga sobre a liberdade e a independncia. Ns assumimos que cada um possui uma necessidade interior por liberdade e independncia, e que ambas esto disponveis a ns vontade. Mas, se examinarmos nossas aes cuidadosamente, descobriremos que agimos compulsoriamente e que no temos nenhum livre arbtrio. Tal afirmao requer uma explicao: Externamente, um ser humano guiado por duas rdeas: o prazer ou a dor (tambm definidos como a felicidade ou o sofrimento). Os animais no tm livre arbtrio. A vantagem da humanidade sobre os animais que, as pessoas conscientemente preferem suportar a dor se acreditam que o prazer as aguarda no final. Assim, uma pessoa doente concorda com uma operao dolorosa, confiando que isto ir melhorar a sade dele ou dela. No entanto, esta escolha apenas um clculo pragmtico no qual algum compara o prazer futuro dor atual. Em outras palavras, este clculo uma simples operao matemtica na qual a quantidade de sofrimento subtrada do futuro prazer, e a diferena determina a escolha. Se o prazer alcanado menor que o prazer previsto, a pessoa sofre, ao invs de sentir-se alegre. A fora de atrao ao prazer e retrao dor a nica fora que controla os humanos, animais, e at os vegetais. Todas as criaturas vivas em todos os estgios e nveis de vida so governadas por ela; assim, neste aspecto no h diferena entre elas, porque o livre arbtrio no depende da inteligncia.

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    Alm do mais, at mesmo a seleo do tipo de prazer obrigatria e no depende do livre arbtrio de ningum. Ao contrrio, nossas escolhas so ditadas pelas normas e gostos da sociedade, e no pelo nosso livre arbtrio. O que acontece que, no existe indivduo independente que tenha sua prpria liberdade de ao. As pessoas que acreditam no Governo Superior esperam recompensa ou punio no mundo vindouro por suas aes. Os ateus esperam por isto neste mundo. Por esperarem recompensa ou punio por suas aes, eles pensam que tm livre arbtrio. A raiz deste fenmeno encontra-se na lei de causa e efeito que influencia a natureza como um todo e cada indivduo em particular. Em outras palavras, todos os quatro tipos de Criao inanimado, vegetativo, animal e humano so continuamente influenciados pela lei da causalidade e do propsito. Cada um de seus estados determinado pela influncia de causas externas que visam um objetivo predeterminado escolhido por estas, que o estado futuro. Todo objeto no mundo est constantemente desenvolvendo-se. Isto implica que todo objeto constantemente abandona formas anteriores e adquire novas formas sob a influncia de quatro fatores:

    1. A Origem :A evoluo que provm de sua prpria natureza

    e que ento invarivel 2. A evoluo que modifica sob a influncia de fatores

    externos 3. A evoluo e a transformao dos fatores externos

    O primeiro fator a origem ou a matria primria, sua

    forma anterior. Por todo objeto constantemente mudar de forma, cada forma anterior definida como primria com relao forma subseqente. As propriedades interiores dependem exclusivamente da origem, que determina a forma subseqente, e

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  • CONCEITOS BSICOS DA CABALA

    constitui seu fator principal, sua informao, gene ou propriedade individual.

    O segundo fator a ordem do desenvolvimento de causa e efeito que depende da origem do objeto. Esta ordem no muda. Um exemplo um gro de trigo que se deteriora no solo e que, como resultado, produz um novo rebento. O gro de trigo perde sua forma original, o que significa que ele completamente desaparece e adquire uma nova forma de rebento, que ir produzir uma nova forma inicial, um gro de trigo, assim como sua origem. Apenas o nmero de gros, e possivelmente sua qualidade (tamanho e sabor) podero mudar. Em outras palavras, algum pode observar a ordem de causa e efeito da qual cada coisa depende na origem do objeto.

    O terceiro fator a conexo de causa e efeito na matria primria, que muda suas propriedades aps seu contato com foras externas. Conseqentemente, a quantidade e a qualidade do gro muda porque fatores adicionais (solo, gua, sol) aparecem para complementar as propriedades da matria primria.

    Sendo que a fora da origem prevalece sobre os fatores adicionais, as mudanas podem modificar a qualidade do gro, mas no a espcie em si, tal como transformar um gro de trigo em um gro de cevada. Em outras palavras, como o segundo fator, o terceiro fator o fator interno do objeto, mas diferentemente do segundo, pode variar qualitativamente e quantitativamente.

    O quarto fator a conexo de causa e efeito entre as foras que agem no exterior, como oportunidades, os elementos da natureza, e os vizinhos. Geralmente, estes quatro fatores, juntos, influenciam todo objeto.

    O primeiro fator (a origem) fundamental para ns porque somos criaes de nossos pais. Como sua prognie, ns (em certo aspecto) somos suas cpias; ou seja, a maioria de todos os atributos dos pais e avs manifesta-se em seus filhos. Os conceitos e o conhecimento adquirido pelos ancestrais manifestam-se nos hbitos e propriedades dos descendentes, mesmo num nvel

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  • CONCEITOS BSICOS DA CABALA

    inconsciente. As foras ocultas da hereditariedade conduzem todas as aes dos descendentes e so passadas de gerao a gerao.

    Isto d origem a diversas inclinaes que podem ser observadas nas pessoas: f, criticismo, confortos materiais, mesquinhez, ou modstia. Nenhuma delas uma propriedade adquirida; mas ao invs disso, elas so uma herana de ancestrais prximos e distantes registrada no crebro do descendente.

    Por ns automaticamente herdarmos as propriedades adquiridas de nossos ancestrais, estas propriedades assemelham-se a um gro que perde sua forma no solo. No entanto, algumas de nossas propriedades adquiridas manifestam-se dentro de ns de maneira oposta.

    Devido matria primria manifestar-se em foras sem forma externa, esta matria pode levar consigo tanto propriedades positivas como negativas.

    Os outros trs fatores nos influenciam tambm. A ordem das causas e suas conseqncias que resultam da origem de algum (o 2 fator) invarivel. Um gro deteriora-se sob a influncia do seu meio e gradualmente muda sua forma at que um novo gro manifesta-se. Em outras palavras, o primeiro fator adquire a forma da matria primria; a diferena entre a planta anterior e seu novo rebento manifesta-se apenas na quantidade e na qualidade.

    Ao vir a este mundo, uma pessoa cai sob a influncia da sociedade contra a vontade dele ou dela e adentra no carter e nas propriedades da sociedade. Assim, as inclinaes hereditrias de algum so transformadas sob a influncia da sociedade.

    O terceiro fator baseado na influncia do meio. Cada um de ns sabe como nossos gostos e pontos de vista podem s vezes se inverter sob a influncia da sociedade. Nada assim pode ocorrer nos nveis inanimado, vegetativo, ou animal da natureza; isto pode apenas acontecer com humanos.

    O quarto fator a direta e indireta influncia de fatores externos negativos (problemas e ansiedade) que nada tm a ver

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  • CONCEITOS BSICOS DA CABALA

    com a ordem consecutiva de desenvolvimento da matria primria.

    Todos os nossos pensamentos e aes dependem destes quatro fatores que ditam nossa vida inteira. Exatamente como o barro nas mos do oleiro, ns estamos sob a influncia destes quatro fatores. Ns assim ento vemos que no h liberdade de desejo, que todas as coisas dependem exclusivamente da interao entre esses quatro fatores, e que ns no temos controle algum. Nenhuma teoria cientfica responde como o espiritual governa a matria do interior, e onde h ou o que faz mediao entre o corpo e a alma.

    A Cabala diz que tudo o que j foi criado em todos os mundos consiste apenas da Luz e do vaso que esta preenche. A nica criao o vaso que deseja receber a Luz que vem diretamente do Criador. Este desejo de receber a Luz que traz vida e prazer ao vaso tanto a substncia espiritual como corprea, dependendo da intensidade do desejo de cada um.

    As diferenas na natureza, a qualidade e a quantidade entre todos os seres criados, dependem apenas da extenso de seu desejo, que respectivamente preenchido com a Luz que vm do Criador, doador da vida.

    Tudo o que separa um objeto de outro e produz cores, substncias, ondas, e outros fatores diferenciadores, resultam da capacidade do desejo de receber e, por conseqncia, da quantidade de Luz que o preenche. Em outras palavras, um desejo de tamanho nmero um tem a forma de um mineral; diferentes tamanhos de desejos formam lquidos, cores, ou ondas. Tudo depende da posio na escala de desejos, enquanto a quantidade de Luz que envolve a ns e a todos os mundos igual e invarivel.

    Agora podemos esclarecer a questo sobre a liberdade do indivduo. Agora que j sabemos que um indivduo consiste de um desejo de receber certa quantidade da Luz do Criador, todos os traos peculiares quele desejo dependem exclusivamente da intensidade deste desejo, da fora que atrai a Luz.

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  • CONCEITOS BSICOS DA CABALA

    A fora de atrao que ns normalmente chamamos de ego nos compele a lutar pela nossa existncia. Se ns destrumos um dos desejos ou uma das aspiraes do ego, ns negamos a ele a oportunidade de usar seu vaso em potencial, o preenchimento que lhe dado de direito pelo Criador.

    Ns adquirimos todas as nossas idias atravs da influncia de nosso meio, pois um gro desenvolve-se apenas em seu solo, no meio que lhe cabe. Assim, a nica escolha que temos na vida a escolha de nossa sociedade, nosso crculo de amigos. Ao mudar nosso meio, ns necessariamente mudamos nossos pontos de vista porque um indivduo meramente uma cpia, um produto de sua sociedade.

    As pessoas que entendem isso concluem que ningum possui livre arbtrio porque a pessoa um produto da sociedade e o pensamento dela no conduz seu corpo. Ao invs disso, a informao externa armazenada na memria de seu crebro; e como um espelho, o crebro meramente reflete tudo o que ocorre no meio.

    Nossa origem nosso material primrio e bsico. Ns herdamos nossas aspiraes e inclinaes, e esta herana a nica coisa que distingue uma pessoa de outra. Cada um influenciado de forma diferente pela sociedade; e por isso que ns nunca iremos encontrar duas pessoas idnticas.

    Saiba que esse material primrio o patrimnio verdadeiro do indivduo, e ningum deve tentar modifica-lo, porque ao desenvolver seus traos singulares uma pessoa torna-se de fato um indivduo.

    Assim ento, uma pessoa que elimina sequer um nico impulso ou aspirao cria um vazio no mundo; este impulso ou aspirao nunca ser repetido em outro corpo. Partindo disto, ns vemos que crime as naes civilizadas cometem ao forar sua cultura sobre outras naes e ao destruir seus fundamentos.

    Ainda assim, possvel permitir uma completa liberdade individual em uma sociedade? Claramente, para funcionar normalmente, a sociedade precisa impor suas leis, restries e

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  • CONCEITOS BSICOS DA CABALA

    normas sobre os indivduos. O que ocorre que a pessoa est em uma constante luta contra sua sociedade. Aqui surge um ponto ainda mais profundo: se a maioria tem o direito de ditar as regras da sociedade, e as massas so sempre menos desenvolvidas que as pessoas mais desenvolvidas de cada sociedade, isto criaria regresso ao invs de progresso.

    Se uma sociedade estabelece suas leis de acordo com as leis espirituais, aqueles que as observam no perdem uma oportunidade de fundirem-se ao Criador como indivduos. Isto porque estas leis so as leis naturais do governo sobre o mundo e a sociedade. Se uma sociedade cria suas prprias leis, que contradizem as leis da natureza espiritual, aqueles que observam as leis espirituais iro alcanar seu mximo desenvolvimento.

    De acordo com o governo proposital, ns precisamos observar as leis da natureza para que os indivduos e a sociedade se desenvolvam na direo correta. A Cabala nos instrui a tomar todas as decises de acordo com a opinio da sociedade. A Cabala nos mostra que na vida cotidiana precisamos aceitar a opinio da maioria, e no desenvolvimento espiritual devemos seguir a opinio dos indivduos mais desenvolvidos.

    Esta regra chamada a lei natural do governo. Todas as regras e leis da cincia da Cabala compreendem as leis do governo natural. Ao se estudar as conexes entre as leis que influenciam nosso mundo de Cima para baixo atravs da Cabala, torna-se claro que a lei da influncia da maioria na sociedade uma lei natural.

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  • CAPTULO 6 A ESSNCIA E O PROPSITO DA

    CABALA

    Qual a essncia da Cabala? O propsito da Cabala focado na vida neste mundo ou no mundo futuro? Quem se beneficia da Cabala, o Criador ou Suas criaturas?

    Os Cabalistas que alcanam o Criador percebem que ele absolutamente gracioso. Explicam que Ele no pode causar nem a mais leve dor a qualquer um que seja no mundo, porque o egosmo, o desejo de receber para si mesmo, a causa de toda sensao desagradvel, ausente Nele. Ns afligimos os outros com o exclusivo propsito de satisfazer nosso desejo por algo. Se este sentimento no tivesse um domnio constante sobre o homem, no haveria fundamento para o mal no mundo. Por percebermos o Criador como absolutamente perfeito e completo, a ausncia Nele do desejo de obter indica a ausncia Nele de qualquer mal. Se este o caso, ento Ele deveria aparecer a ns como absolutamente gracioso, como uma sensao que nos envolve nos momentos de alegria, deleite, e realizao. No entanto, se tudo que sentimos vm do Criador, todas Suas criaturas deveriam sentir apenas a bondade e a graciosidade... E o que ns sentimos ao invs disso?! A natureza inteira consiste de quatro nveis: inanimado, vegetativo, animal e humano. Cada nvel submetido a um

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  • CONCEITOS BSICOS DA CABALA

    desenvolvimento proposital: crescimento por causa e efeito, lento e gradual. Isto reflete uma fruta, crescendo em uma rvore, que se torna atraente e comestvel apenas ao fim de seu amadurecimento. Contudo, por quantos estados intermedirios a fruta passou do comeo ao fim de seu crescimento? Os estados intermedirios nada revelam sobre a fase final da fruta, quando se torna polpuda e adocicada. Pelo contrrio, o oposto ocorre: assim como boa a fruta madura no seu final, da mesma forma ela amarga e dura durante seu amadurecimento. O mesmo ocorre no mundo animal: a capacidade mental de um animal limitada na maturidade, mas enquanto ele ainda cresce, suas limitaes so imperceptveis comparadas quelas de uma criana humana. Por exemplo, um novilho de um ano de idade tem todas as propriedades de um touro completamente adulto. Da ento, ele praticamente pra de se desenvolver, o que o faz oposto aos seres humanos, que adquirem inteligncia no vigor dos anos, mas que so totalmente dependentes e dignos de pena nos primeiros anos de vida. A diferena to gritante que, ao observar um novilho recm-nascido e um beb recm-nascido, algum que no est familiarizado com os caminhos de nosso mundo poderia concluir que nada digno poderia vir de um beb humano, enquanto um novilho poderia, no mnimo, crescer para ser um novo Napoleo. Como regra, os estados intermedirios so opostos ao resultado final. Assim ento, apenas algum que conhece o resultado final ir aceitar e entender a forma desagradvel de um objeto durante o seu desenvolvimento. por isso que as pessoas, quase sempre, tiram concluses errneas ao falharem em perceber com antecedncia o resultado final.

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  • CONCEITOS BSICOS DA CABALA

    De fato, os caminhos tomados pelo Criador no governo de nosso mundo so propositais e manifestam-se apenas no fim do desenvolvimento. Em Sua atitude em relao a ns, o Criador guiado pelo princpio do bem absoluto sem nenhum vestgio de maldade; e o propsito do Seu governo evidenciado em nosso desenvolvimento gradativo. No final, nos tornaremos capazes de receber toda a bondade que ele preparou para ns. Certamente, este objetivo ser alcanado de acordo com o Seu plano. Dois caminhos para o desenvolvimento na direo correta so preparados para ns:

    Um caminho de sofrimento que nos compele a escapar dele. Ns no vemos o objetivo e somos forados a correr da dor. Este caminho chamado de evoluo inconsciente, ou o caminho da dor.

    O caminho do desenvolvimento espiritual consciente, indolor e veloz, ao se seguir o mtodo Cabalstico, que facilita um rpido alcance do resultado desejado.

    O propsito de todas as leis de desenvolvimento, ao se usar o mtodo da Cabala, o reconhecimento do bem e do mal dentro de ns e o desenvolvimento do reconhecimento do mal. Ao observarmos as leis espirituais, podemos se livrar de todo o mal. Isto assim porque a diferena no desenvolvimento da pessoa cria um reconhecimento do mal mais superficial ou mais profundo, e um desejo mais poderoso ou menos poderoso de se livrar dele.

    A origem de todo o mal o nosso egosmo, porque ele oposto natureza do Criador que deseja apenas compartilhar o bem sobre ns. Por tudo que percebemos como prazeroso vir exatamente Dele, a proximidade do Criador percebida como prazer e, a medida de distanciamento Dele proporcionalmente sentida como sofrimento.

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  • CONCEITOS BSICOS DA CABALA

    Pelo fato do Criador odiar o egosmo, os humanos tambm o detestam, dependendo da medida de seu desenvolvimento. As atitudes em relao ao egosmo so bastante variadas, da aceitao do egosmo como normal em uma pessoa no desenvolvida espiritualmente, que o usa sem restries (a ponto de roubar e matar abertamente), passando pelo sentimento de vergonha de uma pessoa mais desenvolvida, por causa de suas demonstraes abertas de egosmo, verdadeira repulso ao egosmo em um indivduo espiritualmente desenvolvido.

    Assim, ns conclumos que as respostas s questes iniciais so as seguintes:

    A essncia da Cabala est em habilitar as pessoas a alcanarem o nvel conclusivo de desenvolvimento, sem sofrimento e de maneira positiva.

    O propsito da Cabala atingir o nvel conclusivo, de acordo com o trabalho espiritual que uma pessoa faz nela neste mundo.

    A Cabala no foi dada aos seres criados para o bem-estar deles; mas foi dada como uma instruo para o auto-aperfeioamento.

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  • CAPTULO 7 DO POSFCIO AO ZOHAR

    A Cabala explica que a observncia correta e consistente das

    leis espirituais conduz adeso com o Criador. Ainda assim, o que a palavra adeso significa? De fato, devido s limitaes do tempo, do espao tridimensional, e dos desejos corporais, nossos pensamentos no podem alcanar o Criador. Assim ento, enquanto nossos pensamentos estiverem presos a esses limites no poderemos ser objetivos. Ao transcendermos nossos egos se alteram o desejo de receber e as definies de tempo, espao e movimento. Eles adquirem uma dimenso espiritual. Neste estado, nossos pensamentos no dependem de nosso desejo de receber, e por isso so objetivos. Como resultado, a Cabala oferece a obteno da equivalncia de propriedades e aes com o Criador como um meio de nos aproximar Dele. dito: una-se s aes Dele; seja to gracioso, generoso e humilde como Ele . Mesmo assim, como se pode ter certeza que as aes do Criador e o prprio Criador so a mesma coisa? Alm do mais, por que devo me unir a Ele imitando Suas aes? No mundo material imaginamos a unio, ou adeso, como um encurtamento da distncia entre os corpos, e entendemos separao como o aumento da distncia entre os corpos. No entanto, o domnio espiritual no possui tais conceitos como tempo, espao e movimento. por isso que a equivalncia de propriedades entre dois objetos espirituais os aproxima, e a

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  • CONCEITOS BSICOS DA CABALA

    diferena de propriedades os afasta. L no pode existir adeso ou separao (da maneira em que a adeso e a separao ocorrem no espao) porque o objeto espiritual por si s no ocupa espao. Da mesma forma que um machado divide um objeto fsico, o surgimento de uma nova propriedade em um objeto espiritual o divide em duas partes. E assim, se a diferena nas propriedades insignificante, ento os objetos espirituais esto prximos um do outro. Quanto maior distino houver entre suas propriedades, mais remotos estaro um do outro. Se eles amam um ao outro esto prximos espiritualmente, e a distncia entre suas aparncias corpreas irrelevante. O relacionamento entre eles determinado por sua afinidade espiritual. Se algum gosta de alguma coisa que no querida por outra pessoa, a distncia entre eles depende da diferena de seus pontos de vista e de suas sensaes. Eles so considerados completamente opostos se um deles gosta de tudo que o outro odeia. Assim, vemos que no mundo espiritual (o mundo dos desejos), a similaridade ou diferena nas aspiraes, desejos, idias e propriedades, fazem o papel de um machado, dividindo o espiritual em partes. A distncia entre objetos espirituais determinada pelo nvel de incongruncia entre suas sensaes e propriedades. Assim ento, ao seguirmos a vontade, os sentimentos e os pensamentos do Criador, ns O aproximamos. Assim como o Criador age apenas para o bem de Seus seres criados, ns tambm temos que desejar o bem ao nosso prximo e sermos bons com todos eles. Por existirmos no mundo material, o mnimo necessrio para a existncia do corpo no considerado uma manifestao do egosmo.

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  • CONCEITOS BSICOS DA CABALA

    Podemos fazer o bem aos outros com absoluta abnegao? Alm de tudo, o Criador nos criou como absolutos egostas que possuem um desejo de receber prazer. No podemos transformar nossa natureza, e mesmo que sejamos bons uns com os outros iremos conscientemente ou inconscientemente tentar obter benefcios para ns mesmos. Sem vermos algum benefcio para ns, somos incapazes de fazer mesmo o mais desprezvel movimento para o bem de outro. De fato, as pessoas so ineficientes para mudar sua natureza de absoluto egosmo, ainda mais para a transformarem em algo completamente oposto (ser bom sem receber honra, descanso, fama, sade, ou dinheiro em troca). por isso que o mtodo de observncia das leis espirituais atravs da Cabala foi dado. No h outro meio pelo qual nossa natureza possa ser mudada. O corpo e seus rgos constituem um nico todo, e constantemente trocam sensaes e informao entre si. Por exemplo, se o corpo sente que uma de suas partes pode melhorar a condio geral do corpo inteiro, aquela parte especfica imediatamente sente isso e realiza a vontade dele. No caso de alguma parte do corpo sofrer, o corpo inteiro instantaneamente sabe disso e tenta melhorar a situao. Deste exemplo, pode-se entender o estado do homem, ou melhor, o estado da alma que atinge a unidade com o Criador. Antes de vestir-se em um corpo, a alma claramente um nico todo com o Criador. No entanto, logo que se veste em um corpo, ela separa-se completamente Dele graas diferena entre as propriedades do Criador e aquelas do corpo. Isto significa que ao conceder a sensao de egosmo alma, o Criador criou algo alm Dele mesmo, porque desejos diferentes separam os objetos no mundo espiritual. Assim ento, o objeto (a

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  • CONCEITOS BSICOS DA CABALA

    alma) e o egosmo (o corpo) tornam-se partes separadas. Similarmente, o homem est remoto do Criador, como um rgo que foi cortado do corpo. Eles esto to distantes um do outro a ponto de o homem completamente no sentir o Criador. De fato, a distncia to grande que ele pode apenas acreditar Nele, e no, conhecer a Ele. Assim, se ns atingirmos a unidade com o Criador ao fazermos nossas propriedades equivalentes s Dele (ou seja, observando as leis espirituais e transformando o egosmo, que nos separa do Criador, em altrusmo), alcanaremos Seus pensamentos e desejos. Ns revelamos tambm os segredos da Cabala, pois os pensamentos do Criador so os segredos do universo! H duas partes na Cabala: a revelada e a oculta. Ambas constituem os pensamentos do Criador. A Cabala como uma corda lanada do alto para uma pessoa se afogando num mar de egosmo. Ao observar as leis espirituais, a pessoa se prepara para o segundo e principal estgio, que quando aquele que observa e Aquele que o compele a observar se fundem espiritualmente. Aqueles que observam as regras espirituais passam por cinco nveis: Nefesh, Ruach, Neshamah, Chayah, e Yechidah. Cada nvel consiste de cinco sub-nveis, que por sua vez so divididos em mais cinco sub-nveis. Ao todo, a escada da ascenso espiritual, ou da aproximao do Criador, consiste de 125 degraus. Os cinco degraus principais desta escada so chamados mundos. Os seus sub-nveis so chamados Partzufim, os quais consistem de Sefirot. Todos aqueles que existem em certo mundo espiritual percebem os objetos naquele mundo e abaixo deles. No entanto, eles no podem sequer imaginar ou sentir coisa alguma de um

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  • CONCEITOS BSICOS DA CABALA

    mundo superior. Dessa forma, aquele que alcana um dos 125 nveis atinge todas as almas que l existem, das passadas, da presente e das futuras geraes e permanece l com elas. Ns, que existimos apenas neste mundo, somos incapazes de imaginar ou sentir qualquer coisa que exista em outros nveis ou outros mundos, inclusive aqueles que os habitam. Os Cabalistas que alcanam certo nvel em seu caminho rumo ao Criador, podem descrever aquele nvel com expresses que apenas pessoas que o atingiram podem entender. Aqueles que no atingiram o nvel descrito podem se confundir com tais descries e serem desviados do entendimento correto. Como foi dito acima, nosso caminho rumo ao Criador dividido em 125 nveis/degraus, mas ningum pode ascender todos eles antes de completar sua correo. H duas diferenas caractersticas entre todas as geraes e a ltima, completamente corrigida:

    1. Apenas na ltima gerao ser possvel atingir todos os 125 nveis.

    2. Nas geraes passadas, apenas umas poucas pessoas podiam atingir os outros mundos. Na ltima gerao, todos podero ascender atravs dos nveis espirituais e se fundir ao Criador.

    O termo ltima gerao se refere a todas as geraes humanas de 1995 em diante, porque, de acordo com O Livro do Zohar, este foi o tempo em que a humanidade entrou em uma nova fase a fase da Correo Final. Na Cabala, este perodo tambm chamado de o tempo da libertao, o tempo em que a humanidade est destinada a sair do seu estado mais baixo.

    Rashbi e seus discpulos ascenderam todos os 125 nveis. por isso que eles puderam escrever O Livro do Zohar, que

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  • CONCEITOS BSICOS DA CABALA

    compreende todos os 125 nveis dos mundos. ento dito no Zohar que o livro ser revelado apenas no fim dos dias, o que significa s vsperas do fim da correo. Outras geraes no puderam alcanar o fim da correo. Assim, elas no puderam entender este livro porque eram incapazes de galgar todos os 125 nveis dos quais o Livro do Zohar escrito. Em nossa gerao, podemos todos alcanar o 125 nvel; nesse momento, poderemos todos entender o Livro do Zohar.

    O fato de um Cabalista contemporneo ter tido sucesso em comentar completamente o Livro do Zohar um sinal de que ns estamos no limiar da ltima gerao, e que qualquer um pode entender o Livro do Zohar. De fato, nenhum comentrio sobre o Livro do Zohar apareceu antes de nosso tempo. Hoje, est disponvel para ns o claro e completo comentrio Sulam sobre o Livro do Zohar, escrito pelo Baal HaSulam, exatamente o que deveria acontecer na ltima gerao.

    No entanto, devemos entender que as aes espirituais no ocorrem da mesma maneira que as aes fsicas: ou seja, nestas, a causa e o efeito no ocorrem de maneira direta. Em nosso tempo, o estado espiritual dos mundos est pronto para a vinda do Messias (a fora que puxa a Criao para fora do egosmo e a conduz para o altrusmo). Ainda assim, isto meramente nos d uma oportunidade de alcance, enquanto o alcance em si depende de ns e de nossos nveis espirituais.

    Podemos nos unir com o Criador ao igualarmos nossas propriedades, desejos, e objetivos com os Dele, ao completamente destruirmos o egosmo e ao realizarmos boas aes de forma abnegada. No entanto, uma questo surge: aonde ir um completo egosta (algum incapaz de fazer um movimento espiritual ou fsico a no ser que este oferea benefcios pessoais) encontrar fora e motivao para viver para os outros?

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  • CONCEITOS BSICOS DA CABALA

    A resposta a esta questo pode ser facilmente compreendida atravs de um exemplo da vida:

    Imagine uma situao na qual voc de todo corao deseja dar um presente a algum que importante aos seus olhos, algum que voc ama e respeita. Suponha que esta pessoa aceita receber seu presente, ou, aceita vir jantar em sua casa.

    Mesmo que gaste dinheiro e trabalhe duro para cuidar bem do convidado importante, voc se alegrar nisso como se no fosse voc, mas, o convidado que faz a voc um favor compartilhando e entretendo voc, ao consentir em aceitar a sua oferta. Assim, se pudermos imaginar o Criador como algum que respeitamos, ns alegremente agradaremos a Ele.

    Ns podemos observar as leis do universo apenas se percebermos a grandeza do Criador. Assim, ao trabalharmos para Ele e percebermos Sua grandeza, ser como se recebssemos Dele. Mesmo assim, devido aos pensamentos dependerem da influncia da sociedade e do ambiente social, tudo que a sociedade honra torna-se tambm honrado aos olhos do indivduo. Assim, a coisa mais importante estar entre o maior nmero possvel de pessoas que exaltam o Criador.

    Se nosso meio no eleva o Criador ao nvel apropriado, tal meio no nos permitir atingir a espiritualidade. Um estudante deve se sentir como o menor de todos os estudantes. Dessa forma, o estudante pode absorver os pontos de vista da sociedade, e neste estado, o estudante considera os pontos de vista da sociedade importantes. Desta razo vem o ditado, Adquira um amigo para voc. De fato, quanto mais pessoas me influenciam com suas opinies, mais diligentemente eu poderei trabalhar em mim, em corrigir o meu egosmo para sentir o Criador.

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  • CONCEITOS BSICOS DA CABALA

    dito que toda pessoa deve atingir a Raiz, a origem da alma dele ou dela. Em outras palavras, o objetivo final deve ser a completa fuso com o Criador. As propriedades do Criador so designadas como Sefirot. por isso que, enquanto se estuda as Sefirot e suas aes como se aprendssemos estas propriedades, nos fundssemos a elas, nos unssemos com a mente do Criador, e nos tornssemos um com o Criador.

    A importncia da Cabala provm do fato de que ao estud-la, aprendemos como os mundos foram criados e como so governados. Ao estudarmos as aes e propriedades do Criador, descobrimos com o que temos de parecer para que nos unamos a Ele.

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  • CAPTULO 8 A LINGUAGEM DA CABALA

    Por ser o nosso vocabulrio limitado pela nossa percepo

    de mundo, que est conectada aos conceitos de tempo, espao, e movimento, no possumos palavras para expressar ou transmitir conceitos espirituais. Desenvolvemos todo o nosso vocabulrio atravs da existncia neste mundo, e assim, se quisermos usar palavras deste mundo para dar nome aos fenmenos espirituais, tais palavras sero inadequadas. difcil encontrar palavras para explicar a experincia da espiritualidade a algum que nunca a sentiu. Mesmo que queiramos descrever um objeto espiritual temos apenas palavras terrenas para nome-lo. Se mesmo para um nico conceito no for encontrada uma correspondncia precisa em palavras, o significado correto da cincia inteira ser arruinado. Assim, o problema do referir-se ao mundo espiritual, sem as palavras ou linguagem apropriadas para descrev-lo, permanece sem resoluo. Todo objeto e ao em nosso mundo se originam de um correspondente no mundo espiritual. Assim ento, os Cabalistas encontraram uma maneira confivel de transmitir a informao e o conhecimento aos outros. Eles usam os nomes dos objetos e aes (ramos) em nosso mundo material para descrever os objetos e aes correspondentes (razes) no mundo espiritual. Esta linguagem foi desenvolvida por pessoas que atingiram os mundos espirituais enquanto ainda viviam em nosso mundo, e que de forma precisa conheciam estas correspondncias. Assim,

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  • CONCEITOS BSICOS DA CABALA

    os Cabalistas de apropriadamente a chamaram de a linguagem dos ramos. Disto, podemos entender os nomes estranhos que encontramos nos livros Cabalsticos, as descries de aes que percebemos como histrias esquisitas ou como contos infantis. No entanto, essa linguagem bastante exata porque h uma correspondncia precisa e exclusiva entre cada raiz e seu ramo. No de se maravilhar que haja tal correspondncia, pois os criadores da linguagem dos ramos existiram simultaneamente em ambos os mundos espiritual e fsico. por isso que impossvel substituir sequer uma nica palavra e, por mais absurdo que parea, o ramo corresponde exatamente raiz. O que separa os objetos espirituais no o espao, mas sua incongruncia e dissimilaridade espiritual de propriedades. Assim ento, o nmero de almas, ou seja, de objetos espirituais separados, determina o nmero de pessoas no mundo fsico. No comeo da Criao havia uma nica alma comum: a Luz (prazer) e o corpo correspondente (desejo), Adam. Eles estavam unidos em adeso com o Criador, e ento receberam prazer mximo. A natureza da alma meramente o desejo de receber prazer, e a alma era preenchida com prazer de acordo com seu desejo. No entanto, tendo recebido prazer, a alma sentiu vergonha. Em nosso mundo, qualquer um que recebe um presente ou um favor se sente assim. A medida da sensao de vergonha depende do desenvolvimento espiritual da pessoa. Apenas este sentimento nos mantm constantemente dentro dos limites e nos compele a observar as leis da sociedade. A mesma sensao base de nossas aspiraes por conhecimento, riquezas, reconhecimento da sociedade, e honra.

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  • CONCEITOS BSICOS DA CABALA

    Logo que sentiu uma vergonha abrasadora, correspondente ao prazer recebido, a alma descobriu que o nico jeito de se livrar disso era parando de aproveitar o prazer. No entanto, por ser o desejo do Criador dar prazer alma, esta concordou em aceitar este prazer no para si mesma, mas apenas por causa do Criador. Assim como em nosso mundo, quanto mais prazer o filho recebe da comida, ao comer para a mame, mais prazer ele d aos pais. Nesta situao, a alma deve constantemente controlar a quantidade de prazer que recebe para que se alegre apenas por causa do Criador. No entanto, por no poder instantaneamente sobrepujar seu desejo natural de receber prazer para si mesma (por ser enorme!) a alma comum foi quebrada em uma mirade de fragmentos (almas). Estes fragmentos so mais fceis de serem trabalhados para neutralizar o desejo egosta de receber prazer. Por no existirem distncias no mundo espiritual, e por ser a proximidade determinada pela similaridade de aes e pensamentos (afinidade, amor), as almas que recebem por causa do Criador esto prximas Dele porque ambos se alegram, assim como uma me e seu filho. A proximidade determinada por quanto prazer a alma recebe por causa do Criador. O desejo de receber age instintivamente dentro de ns, mas nosso desejo de nos livrar da vergonha e de nos alegrar por causa do Criador vai surgindo aos poucos dentro de ns. Assim ento, o desejo de nos livrar da vergonha e de nos alegrarmos por causa do Criador requer esforos especiais e contnuos. A alma que recebe para si prpria oposta ao Doador em sua inteno e ao espiritual. Quanto mais prazer ela recebe de forma egosta, maior sua oposio ao Criador.

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  • CONCEITOS BSICOS DA CABALA

    Pelo fato da diferena nos desejos conduzir algum para longe do Criador, mundos diferentes foram criados em nveis diferentes de distanciamento de nosso mundo. Aqui, a cada parte da alma comum dado certo perodo de tempo (o tempo de vida) e repetidas oportunidades (os ciclos de vida) para a correo. Uma pessoa nasce apenas com o desejo de receber prazer para si prpria. Todos nosso desejos pessoais se originam do sistema das foras impuras. Em outras palavras, estamos infinitamente distantes do Criador, no podemos senti-Lo, e assim, somos considerados espiritualmente mortos. No entanto, se, enquanto lutando consigo mesma, uma pessoa adquire o desejo de viver, pensar, e agir apenas por causa dos outros e do Criador, tal purificao da alma permite a esta pessoa gradualmente se aproximar do Criador at completamente se fundir com Ele. E conforme algum se aproxima do Criador, mais prazer sentido por ele. para esta transformao da alma que nosso mundo e todos os mundos espirituais (os passos no caminho rumo ao Criador) foram criados. Fundir-se ao Criador uma tarefa que cada um precisa realizar enquanto continua vivendo em nosso mundo. Nosso mundo o ponto mais distante do Criador distante de Suas propriedades. Ao nos livrarmos do desejo egosta de receber prazer, nos aproximamos Dele e assim ganhamos duplamente: alegramos-nos recebendo prazer Dele e ao mesmo tempo, nos alegramos agradando a Ele. Da mesma maneira, quando eu como a comida da minha me, eu recebo prazer da comida e me alegro por dar prazer a ela. Deve se perceber que, enquanto o prazer egosta tem vida curta e limitado pelo tamanho do desejo (ns no podemos jantar duas vezes), uma pessoa pode doar, compartilhar ou

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  • CONCEITOS BSICOS DA CABALA

    receber infinitamente por causa dos outros. Correspondentemente, o prazer que a pessoa recebe infinito! Todos os mundos (incluindo nosso mundo) com tudo o que os habita unem-se no nico plano do Criador de compartilhar prazer infinito sobre a alma. Este nico pensamento, este objetivo, inclui a Criao inteira do comeo ao fim. Todo sofrimento que sentimos, nosso trabalho em ns mesmos, e a recompensa, so determinados apenas por este pensamento. Aps a correo individual todas as almas se renem em uma alma, como antes. Assim, o prazer recebido por cada alma no apenas dobra devida recepo do prazer e ao contentamento do Criador, mas multiplicado pelo nmero de almas reunidas. At l, ao trabalhar em si mesmas na ascenso espiritual os olhos das pessoas comeam a se abrir e outros mundos tornam-se visveis. Assim, enquanto permanecem nesse mundo atingem todos os mundos. Para elas, a linguagem aparentemente absurda da Cabala torna-se a linguagem das aes, pensamentos, e sensaes; os conceitos que so opostos em nosso mundo ento se unem na nica Raiz Superior.

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  • CAPTULO 9 DO PREFCIO AO ZOHAR

    O Livro do Zohar foi escondido dos no iniciados desde os

    dias de sua criao. Agora, as condies tornaram-se propcias para sua abertura ao pblico. Para fazer o Zohar acessvel a todo leitor, precisamos introduzi-lo com algumas explicaes. Primeiramente, deve ser notado que tudo que descrito no Zohar uma disposio das dez Sefirot: Keter, Chochmah, Binah, Chessed, Gvurah, Tifferet, Netzach, Hod, Yessod, Malchut, e suas combinaes. Da mesma maneira que qualquer pensamento expresso com um nmero limitado de letras do alfabeto, assim, so as combinaes das dez Sefirot suficientes para descrever cada objeto ou ao espiritual. No entanto, existem trs limites bem definidos que uma pessoa deve manter em mente referentes aos quatro nveis de percepo (ou de conhecimento) em nosso mundo: Matria, Forma na Matria, Forma Abstrata, e Essncia. Estes quatro nveis de alcance tambm existem nas dez Sefirot. O primeiro limite: O Zohar pesquisa apenas a Matria e a Forma na Matria, mas de forma alguma se ocupa com a Forma Abstrata e a Essncia. O segundo limite: Tudo o que foi criado consiste de trs nveis:

    1. O mundo de Ein Sof (o Infinito); 2. O mundo de Atzilut; 3. Os mundos de Beriah, Yetzirah, e Assiyah (BYA).

    O Zohar estuda apenas os trs ltimos mundos de BYA. Ele no estuda os mundos de Ein Sof e Atzilut por si prprios, mas apenas o que os mundos de BYA recebem de Atzilut e Ein Sof.

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  • CONCEITOS BSICOS DA CABALA

    O terceiro limite: Cada um dos mundos de BYA consiste de trs nveis:

    As Dez Sefirot que constituem a parte do Criador em cada mundo;

    As almas humanas; Tudo mais que existe: Malaachim (anjos), Levushim

    (vestimentas), e Heichalot (palcios). O Livro do Zohar estuda as almas humanas, enquanto os

    outros objetos so analisados apenas em relao s almas humanas. Nada mais obtido, alm de todos os enganos, imprecises, e desiluses que so resultados da ultrapassagem destes trs limites.

    As seguintes Sefirot correspondem aos quatro mundos j mencionados Atzilut, Beriah, Yetzirah, Assiyah (ABYA):

    A Sefirat (Sefira de) Chochmah corresponde ao mundo de Atzilut;

    A Sefirat Binah corresponde ao mundo de Beriah; As seis Sefirot, de Chessed a Yessod, coletivamente chamadas

    de Tifferet, correspondem ao mundo de Yetzirah;

    A Sefirat Malchut corresponde ao mundo de Assiyah. Tudo o que existe acima do mundo de Atzilut refere-se

    Sefirat Keter. No entanto, cada um dos mundos acima tambm dividido

    em dez Sefirot. Mesmo o menor objeto em qualquer um dos mundos dividido em (ou consiste de) dez Sefirot.

    O Zohar relaciona uma cor especfica a cada Sefira (Esquema 2):

    O branco corresponde Sefirat Chochmah; O vermelho corresponde Sefirat Binah;

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  • CONCEITOS BSICOS DA CABALA

    O verde corresponde Sefirat Tifferet; e O preto corresponde Sefirat Malchut.

    Chochma - Atzilut (Branco) Binah - Beriah (Vermelho) Chessed

    Mesmo sendo a Luz que preenche as Sefirot incolor, os

    receptores a vem com sua nuance correspondente. Assim, em todos os cinco mundos (de Ein Sof at o nosso mundo), a Luz que emana do Criador uma substncia absolutamente incolor e imperceptvel. Apenas aps atravessar os mundos e as Sefirot, como se atravessassem filtros coloridos, a percebemos tendo certa cor e intensidade dependendo do nvel da alma que recebe a Luz. Por exemplo, o mundo de Atzilut conduz a Luz sem a colorir em nada, porque este mundo tem propriedades similares quelas da Luz. por isso que a cor da Luz do mundo de Atzilut definida como branca. As propriedades dos outros mundos diferem das propriedades da Luz; assim, cada um deles a afeta de acordo com sua proximidade com a Luz. Se compararmos a Luz branca ao papel, a mensagem escrita nele apresenta a informao, e a cor da escrita se coloca contra o

    Gvurah Tifferet Netzach Hod Yessod Malchut - Assiyah (Preto)

    - Yetzirah (Verde) (Tifferet)

    Esquema 2

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  • CONCEITOS BSICOS DA CABALA

    fundo branco. Da mesma forma, ao percebermos o vermelho, o verde, e o preto, podemos perceber a Luz. O mundo de Atzilut (Sefirat Chochmah) o fundo branco do livro, assim, no podemos conceb-lo. No entanto, Binah (o mundo de Beriah), Tifferet (Yetzirah), e Malchut (Assiyah) que respectivamente correspondem ao vermelho, verde, e preto, nos concedem informao baseada em suas combinaes, interaes, e reaes Luz que passa do mundo de Atzilut ao nosso mundo. Deste modo, como se os mundos de Beriah, Yetzirah, e Assiyah formassem coberturas concntricas do mundo de Atzilut. Agora, olhemos para dentro dos quatro tipos de conhecimento de um objeto Matria, Forma na Matria, Forma Abstrata, e Essncia. Suponha que o objeto seja uma pessoa falsa:

    A Matria o corpo da pessoa; A Forma na Matria o atributo da falsidade; A Forma Abstrata a falsidade, s que percebida

    independentemente da Matria;

    A Essncia da pessoa (que absolutamente inconcebvel quando separada do corpo). No podemos imaginar a Essncia por si s com nossos

    rgos sensoriais, mesmo quando auxiliados por alguma fantasia. Podemos apenas conhecer as aes e reaes realidade circundante, e as diversas interaes com a Essncia. Por exemplo, quando examinamos um objeto, o olho no percebe o objeto em si, mas sua interao com a luz, ou melhor, a interao da luz com o olho. Nosso sentido da audio no percebe o som, mas a interao da onda com nosso sentido da audio. Nosso sentido da gustao no percebe o objeto em si, mas a interao da saliva, da extremidade dos nervos, e das glndulas com um objeto.

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  • CONCEITOS BSICOS DA CABALA

    Todas nossas sensaes revelam apenas as interaes com as reaes da Essncia, no a Essncia em si. At o nosso sentido do tato, que nos prov com a informao da rigidez e da temperatura de um objeto, no revela o objeto em si mas, nos permite apenas julga-lo baseados em nossa reao ao toque e sensao do objeto.

    Assim, o mximo conhecimento do mundo consiste em investigar como a Essncia nos influencia. No entanto, visto que mesmo em nossas mais extraordinrias fantasias no podermos imaginar a Essncia sem t-la sentido ao menos uma vez, em ns falta imagem mental e o desejo de a investigarmos.

    Alm do mais, no podemos sequer conhecer a ns mesmos, nossa prpria Essncia. Ao perceber a mim mesmo como um objeto que ocupa um lugar, uma forma, com temperatura, e habilidade de pensar, eu percebo os resultados das aes de minha Essncia, no a Essncia em si. Ns recebemos a idia mais completa em nosso mundo com o primeiro tipo de conhecimento a Matria. Esta informao quase suficiente para nossa existncia e interao com o mundo que nos cerca.

    Recebemos o segundo tipo de conhecimento, a Forma na Matria, aps investigarmos a natureza que nos cerca usando nossos sentidos. A evoluo deste tipo de conhecimento levou criao da cincia, sobre a qual ns nos baseamos profundamente em todas as situaes na vida. Este nvel de conhecimento do mundo tambm praticamente suficiente para os humanos.

    O terceiro tipo de conhecimento, a Forma Abstrata, seria possvel se pudssemos observar a forma enquanto separada da matria, ao invs de vestida na matria. No entanto, uma forma pode ser apenas separada da matria na imaginao de algum (por exemplo, a falsidade como uma noo abstrata, desconexa de uma pessoa).

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  • CONCEITOS BSICOS DA CABALA

    Ainda assim, como regra, a investigao de uma forma que est desconexa da matria, em sua forma abstrata, no produz resultados confiveis, e no co