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Concepções sobre a democratização na Escola Pública: Um estudo de caso
Loide Reche Carascozo Hilka Pelizza Vier Machado
RESUMO
Este artigo apresenta uma reflexão sobre questões relacionadas à democratização em uma Escola Pública Estadual, bem como as possibilidades de ampliação da cidadania e da participação da comunidade escolar. A questão democrática encontra-se em estreita vinculação com o processo de descentralização. Tendo em vista a participação popular na gestão pública e as transformações qualitativas resultantes das relações Estado/Sociedade Civil, consideradas como referência de um ponto de inflexão e reforço das políticas públicas do Paraná, centradas na ampliação da cidadania ativa. As transformações ocorridas na sociedade e na escola nos últimos vinte anos, exigem formas democráticas de administração. A questão da democratização da gestão tornou-se formalmente uma determinação legal expressa em textos como a Constituição Federal de 1988, a Constituição estadual e, mais recentemente, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº9394/96, passando a incorporar a agenda de trabalho das Secretarias de Educação. Para que esse trabalho fosse realizado, foi utilizado o estudo de caso enquanto estratégia de pesquisa, como uma ferramenta complementar ao estudo qualitativo, a fim de obter mais informações sobre as realidades sociais e organizacionais que envolvem o contexto escolar. Procurou-se compreender o sentido da democracia, utilizado-se um questionário, que após distribuído aleatoriamente a professores, funcionários e pais de alunos, foi posteriormente recolhido e analisado, de acordo com os aspectos que permeiam as relações no interior das escolas, sua luta pela construção de colegiados com poder de deliberação e a participação dos pais, professores e demais funcionários como parceiros da escola no desenvolvimento educacional e em busca da democratização.
Palavras Chave: Democratização. Gestão Democrática. Participação. Cidadania.
INTRODUÇÃO
Democracia refere-se à “forma de governo” ou a “governo da maioria”; então, torna-se
claro, que as relações cotidianas no âmbito escolar devam explicitar esta linha de ação em que
toda gestão pressupõe uma ação. Espera-se do gestor educacional atitude compromissada de
construir, de fazer, sem ser autoritária, visto que a escola deve ser tida como um lugar
privilegiado para a construção do conhecimento e como eixo base das relações humanas,
viabilizando não só a produção de conhecimentos como também de atitudes necessárias à
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inserção neste novo mundo, com exigências cada vez maiores de cidadãos participativos e
criativos.
Administrar escolas é tarefa árdua. No entanto, ainda se encontra resquício do
autoritarismo, acompanhado por traumas antigos em que a sociedade se mostra fragilizada,
com medo, sem liberdade de se expressar e timidamente cedendo lugar às ideologias.
Percebe-se na gestão educacional, uma administração voltada para ações reprodutoras
de uma sociedade muitas vezes alienada e passiva, ditando regras e não estabelecendo uma
relação dialógica ideal com os envolvidos, estabelecendo meramente uma transmissão de
ordens, alegando na maioria das vezes o cumprimento de determinações que vem de cima,
não proporcionando assim, momentos para discussão.
Assim sendo, a escola, pelo que se observa, raramente é pautada pelo princípio de que
deva ser governada por interesses dos que estão envolvidos. Será que existe, de fato,
interesse maior pela gestão democrática? Qual seria então o papel da democracia na escola?
A participação na escola é muitas vezes, limitada, controlada e puramente formal. A
estrutura técnica se sobrepõe aos indivíduos envolvidos e o poder e a autoridade se instalam
de forma sutil, com obediência, dentro de uma perspectiva clássica de administração que
repudia a participação, o compartilhar idéias, a liberdade para expressar-se, a deliberação de
decisões e o respeito às iniciativas. A questão do controle ainda é muito forte, mesmo
sabendo que o poder e a autoridade são necessários em muitos momentos dentro de várias
organizações, intermediando e viabilizando ações criativas para melhoria, observa-se ainda
um controle rígido, um descompromisso e muito pouca participação da comunidade escolar
como um todo (professores, pais, funcionários, lideranças de bairro) no processo da gestão
escolar, causando assim automaticamente uma acomodação, em que as pessoas não se
mobilizam para nada e ficam alheias, esperando sempre serem orientadas ou então aceitando
passivamente tudo que venha das “autoridades competentes”, sem quer que seja, nenhum
questionamento crítico construtivo.
As atuais discussões sobre gestão escolar têm como dimensão e enfoque de atuação: a
mobilização, a organização e a articulação das condições materiais e humanas para garantir o
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avanço dos processos sócio-educacionais, priorizando o conhecimento e as relações internas e
externas da escola.
Sendo assim, o objetivo deste trabalho é o de buscar a compreensão do processo de
Gestão Democrática no cotidiano de uma Escola Pública do Ensino Fundamental.
Este artigo está distribuído em duas partes, sendo a primeira uma retrospectiva das
Constituições Brasileiras, no que diz respeito à democratização no Brasil, desde o domínio
Imperial, passando para Republicana, a partir da Constituição promulgada em 1891. A partir
de então, o Brasil passou por sete Constituições até chegar a atual, a oitava Constituição
Brasileira, promulgada em 05 de outubro de 1988, sofrendo várias alterações, sempre que
necessárias, através de emendas constitucionais de revisão, desde 1994 até a presente data.
A partir dessa análise, foi escrita a segunda parte, que vem a ser um estudo sobre a
escola no contexto democrático, com a finalidade de apontar elementos básicos da reflexão
que permitem examinar a democracia no limite, ao fim e ao cabo nas relações recíprocas, na
sua constituição, no seu desenvolvimento, nas suas tendências e possibilidades.
1. CONSIDERAÇÕES SOBRE DEMOCRACIA NO CONTEXTO HISTÓ RICO
BRASILEIRO
A primeira Constitução de que se tem conhecimento foi a outorgada por D. Pedro I,
após a dissolução da Assembléia Constituinte de 1823. Sua principal fonte foi a doutrina do
constitucionalista liberal-conservador francês Benjamin Constant de Rebecque. Previa, além
dos três poderes da doutrina clássica de Montesquieu, o poder moderador, concebido pelo
mencionado Benjamin Constant e atribuído ao Imperador como chefe supremo do
Estado brasileiro. Uma parte dos constituintes tinha orientação liberal-democrata: queriam
uma monarquia que respeitasse os direitos individuais, delimitando os poderes do Imperador,
a qual foi outorgada em 1824.
A abertura da Assembléia deu-se somente em 3 de maio de 1823, conforme comenta
Costa, (1979, p. 116):
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Durante as discussões da Constituinte ficou manifesta a intenção da maioria dos deputados de limitar o sentido do liberalismo e de distingui-lo das reivindicações democratizantes. Todos se diziam liberais, mas ao mesmo tempo se confessavam antidemocratas e antirevolucionários. As idéias revolucionárias provocavam desagrado entre os constituintes. A conciliação da liberdade com a ordem seria o preceito básico desses liberais, que se inspiravam em Benjamim Constant e Jean Baptiste Say. Em outras palavras: conciliar a liberdade com a ordem existente, isto é, manter a estrutura escravista de produção, cercear as pretensões democratizantes.
Para se ter conhecimento dessa primeira Constituição, no que diz respeito a
Democracia, observa-se no Título V, Seção II, o Art. 72, seguido dos parágrafos 2º conforme
descrito abaixo:
Art 72 - A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes: § 2º - Todos são iguais perante a lei.
Porém, a escravidão é mantida para assim manter a produção, cortando pela raiz as
pretensões de algumas classes e/ou raças consideradas inferiores. Ainda no mesmo artigo, nos
parágrafos 8º ao 10º, vê-se:
§ 8º - A todos é lícito associarem-se e reunirem-se livremente e sem armas; não podendo intervir a polícia senão para manter a ordem pública. § 9º - É permitido a quem quer que seja representar, mediante petição, aos Poderes Públicos, denunciar abusos das autoridades e promover a responsabilidade de culpados. § 10 - Em tempo de paz qualquer pessoa pode entrar no território nacional ou dele sair com a sua fortuna e bens, quando e como lhe convier, independentemente de passaporte.
Essa “liberdade” deu-se, porém de forma velada, pregando um tipo de liberdade e
agindo de outra forma, através de censuras, prisões e exílios, como se deu também nos
parágrafos 12 e 26 do mesmo artigo:
§ 12 - Em qualquer assunto é livre a manifestação de pensamento pela imprensa ou pela tribuna, sem dependência de censura, respondendo cada um pelos abusos que cometer nos casos e pela forma que a lei determinar. Não é permitido o anonimato. § 26 - Aos autores de obras literárias e artísticas é garantido o direito exclusivo de reproduzi-Ias, pela imprensa ou por qualquer outro processo mecânico. Os herdeiros dos autores gozarão desse direito pelo tempo que a lei determinar.
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A segunda Constituição, sendo a primeira Republicana, deu-se após um ano de
negociações, em 24 de fevereiro de 1891, seria decretada e promulgada pelo Congresso
Constituinte, mais uma Constituição, dessa vez, tendo sido convocado pelo governo
provisório da República recém-proclamada. Teve por principais fontes de influência as
Constituições dos Estados Unidos e da Argentina. Visando fundamentar juridicamente o novo
regime, a primeira constituição republicana do país foi redigida à semelhança dos princípios
fundamentais da carta norte-americana, embora os princípios liberais democráticos oriundos
daquela carta tivessem sido em grande parte suprimidos. (MELO; COSTA, 2007)
Segundo Melo e Costa (2007), isto ocorreu porque as pressões das oligarquias
latifundiárias, através de seus representantes, exerceram grande influência na redação do texto
desta constituição, propondo o estabelecimento de uma República federativa, com províncias
autônomas, centralizando o poder, advindo daqueles grupos regionais, à semelhança da forma
que agiam no extinto Império.
Após a derrota da Revolução Constitucionalista de 1932, em São Paulo, foi redigida a
Constituição da República Nova, promulgada em 16 de julho de 1934 pela Assembléia
Nacional Constituinte, onde foi mantida a eleição para presidente da República. Eram
numerosos os representantes da classe média e dos trabalhadores na sua elaboração, por esse
motivo, introduziram artigos destinados a atender a interesses desses grupos sociais. Pela
primeira vez , houve um capítulo sobre a educação e a cultur, onde instituia o ensino primário
como gratuito e obrigatório. Ela foi a que menos durou em toda a História Brasileira: durante
apenas três anos, mas vigorou oficialmente apenas um ano, tendo sido suspensa pela Lei de
Segurança Nacional (PILETTI; PILETTI, 2007).
Em sua Declaração de Direitos, no Título III, e Dos Direitos e das Garantias
Individuais no Capítulo II, Art. 113, inciso 1, ela mais uma vez vem assegurar a democracia,
como segue:
Art 113 - A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à subsistência, à segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes: 1) Todos são iguais perante a lei. Não haverá privilégios, nem distinções, por motivo de nascimento, sexo, raça, profissões próprias ou dos pais, classe social, riqueza, crenças religiosas ou idéias políticas.
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Apesar dessa afirmação a respeito da democracia, restrições aparecem nos incisos 2, 9
e 12 do mesmo artigo, como se observa:
2) Ninguém será obrigado a fazer, ou deixar de fazer alguma coisa, senão em virtude de lei; 9) Em qualquer assunto é livre a manifestação do pensamento, sem dependência de censura, salvo quanto a espetáculos e diversões públicas, respondendo cada um pelos abusos que cometer, nos casos e pela forma que a lei determinar. Não é permitido anonimato. É segurado o direito de resposta. A publicação de livros e periódicos independe de licença do Poder Público. Não será, porém, tolerada propaganda, de guerra ou de processos violentos, para subverter a ordem política ou social. 12) É garantida a liberdade de associação para fins lícitos, nenhuma associação será compulsoriamente dissolvida senão por sentença judiciária.
Tendo reformado profundamente a organização da República Velha e realizado
mudanças progressistas, a Carta de 1934 foi inovadora mas durou pouco: em 1937, Getúlio
Vargas, com o apoio de setores militares, planejou um golpe de estado, onde, de acordo com
Piletti e Piletti (2007):
...um suposto plano comunista, chamado Plano Cohem, forjado pelo capitão Olímpio Mourão Filho e pelo general Góis Monteiro, pelo qual haveria greves, assassinatos de líderes políticos, incêncidios em igrejas, etc. Sob essa falsa ameaça, Getúlio conseguiu convencer as Forças Armadas que só um regime forte, ditatorial, poderia enfrentar a ameaça dos comunistas.
No geral, porém, não diferiu muito de sua antecessora, a Constituição de 1891, já que
manteve o Brasil como uma república democrática, liberal e federativa. Se teria sido boa para
os interesses da nação e funcional para o sistema político do País, isso só o tempo poderia
dizer e, para a Constituição de 1934, o tempo foi muito curto. Por isso, o teste de democracia
moderna no Brasil teria que aguardar até 1946, quando a outra constituição liberal-
democrática foi promulgada.
Em 10 de novembro de 1937, foi outorgada pelo então presidente Getúlio Vargas, uma
nova Constituição, no mesmo dia em que implanta a ditadura do Estado Novo. É a quarta
Constituição do Brasil e a terceira da República, de conteúdo pretensamente democrático. A
própria Constituição, em seu artigo 178, dissolveu a Câmara dos Deputados, o Senado
Federal, as Assembléias Legislativas dos estados e as Câmaras Municipais. Foi a primeira
republicana autoritária que o Brasil teve, atendendo a interesses de grupos políticos desejosos
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de um governo forte que beneficiasse os dominantes e mais alguns e que consolidasse o
domínio daqueles que se punham ao lado de Vargas (PILETTI; PILETTI, 2007).
A principal característica dessa Constituição era a enorme concentração de poderes
nas mãos do chefe do Executivo. Seu conteúdo era fortemente centralizador, ficando a cargo
do presidente da República a nomeação das autoridades estaduais, os interventores. Esses, por
sua vez, cabia nomear as autoridades municipais.
Com o fim do Estado Novo em outubro de 1945, foram realizadas eleições para
Presidencia da República, deputados federais e senadores, com a missão de compor uma
Assembléia Nacional Constituinte, encarregada de elaborar uma nova Constituição para o
país, que entrou em vigor a partir de 18 setembro de 1946, substituindo a Carta Magna de
1937. Cotrim (2000), assinala que esta era uma Constituição liberal que atendia mais aos
interesses dos grandes empresários do que das classes trabalhadoras. Cotrim (2000, p. 124)
A Constituição Brasileira de 1946, representou um avanço da democracia e das
liberdades individuais do cidadão, na medida em que se acrescenta as moderações quanto aos
preconceitos de raça ou de classe, como se pode observar no Título IV, Capítulo II, Artigo
141, parágrafo 5º, 11 e 12 a seguir:
Art 141 - A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, a segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes: § 5º - É livre a manifestação do pensamento, sem que dependa de censura, salvo quanto a espetáculos e diversões públicas, respondendo cada um, nos casos e na forma que a lei preceituar pelos abusos que cometer. Não é permitido o anonimato. É assegurado o direito de resposta. A publicação de livros e periódicos não dependerá de licença do Poder Público. Não será, porém, tolerada propaganda de guerra, de processos violentos para subverter a ordem política e social, ou de preconceitos de raça ou de classe. § 11 - Todos podem reunir-se, sem armas, não intervindo a polícia senão para assegurar a ordem pública. Com esse intuito, poderá a policia designar o local para a reunião, contanto que, assim procedendo, não a frustre ou impossibilite. § 12 - É garantida a liberdade de associação para fins lícitos. Nenhuma associação poderá ser compulsoriamente dissolvida senão em virtude de sentença judiciária.
Posteriormente, a Constituição de 1967 foi votada em 24 de janeiro de 1967 e entrou
em vigor no dia 15 de março de 1967, sendo a sexta do Brasil e a quinta da República. Foi
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elaborada pelo Congresso Nacional, buscando institucionalizar e legalizar o regime militar,
aumentando a influência do Poder Executivo sobre o Legislativo e Judiciário e criando desta
forma, uma hierarquia constitucional centralizadora. O texto da Constituição de 1967 foi
elaborado pelos juristas "de confiança" do regime militar, sob encomenda do governo de
Castello Branco. Com maioria no Congresso, o governo não teve dificuldades para aprovar a
nova Carta, em janeiro de 1967. Com ela, os militares institucionalizavam o regime militar,
que começara em 1964 com caráter transitório (SCHIMIDT, 2005).
Trinta anos depois do golpe do Estado Novo, o Brasil ganhou uma nova constituição.
No entanto, a Constituição de 1967 do Regime Militar foi alterada pela Emenda Nº 1 (1969),
onde os membros da ditadura queriam evitar a personalização do poder. Em 13 de dezembro
de 1968, Costa e Silva decretou o Ato Institucional nº5 (AI-5), que vem a ser uma espécie de
“lei” que da poderes totais ao general presidente, permitindo, entre outras coisas, que feche o
Congresso, casse mandatos e suspenda direitos políticos. Schimidt (2005) atribui aos
governos militares, completa liberdade de legislar em matéria política, eleitoral, econômica e
tributária. No período da abertura política, várias outras emendas preparam o restabelecimento
de liberdades e instituições democráticas. É considerada por alguns especialistas, como uma
emenda à constituição de 1967, uma nova Constituição de caráter outorgado.
Tendo os trabalhos iniciados em fevereiro de 1987, a oitava constituição brasileira é
promulgada durante o governo José Sarney, em 05 de outubro de 1988, tendo passado por
algumas alterações através das emendas constitucionais de revisão no ano de 1994, passando,
a partir de então por emendas constitucionais até a presente data. A partir dessa primeira data,
a Sociedade Civil passou a ter maior inserção na vida política, ganhando mobilidade e
participação junto às instituições públicas (PILETTI; PILETTI, 2007).
A carta de 1988 define maior liberdade e direitos ao cidadão, direitos estes reduzidos
durante o Regime Militar. Viabiliza a incorporação de emendas populares e mantém o status
do Estado como República Presidencialista. Foi decretada e promulgada pela Assembléia
Nacional Constituinte de 1987, dando forma ao regime político vigente, pois desde 1964
estava o Brasil sob o regime da ditadura militar, e desde 1967 sob uma Carta Magna imposta
pelo governo.
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Estabelece garantias individuais e sociais na emenda onde cita que “a prática do
racismo é crime inafiançável, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei”.
Independentemente das controvérsias de cunho político, a Constituição Federal de 1988
continuou assegurando diversas garantias constitucionais, com o objetivo de dar maior
efetivade aos direitos fundamentais, permitindo a participação do Poder Judiciário sempre que
houver lesão ou ameaça de lesão a direitos (MELO; COSTA, 2007).
São garantias previstas pela CF/88: o mandado de injunção, habeas data (com a
finalidade de assegurar ao particular o acesso a informações que dizem respeito à pessoa do
impetrante, constantes de registro ou banco de dados de entidades governamentais ou de
caráter público ou correção destes dados, quando o particular não preferir fazer por processo
sigiloso, administrativo ou judicial) e ação popular; além dos já famosos habbeas corpus
(com a finalidade de assegurar a reparação ou prevenção do direito de ir e vir, constrangido
por ilegalidade ou por abuso de poder) e mandado de segurança (usado individualmente ou
coletivamente com a finalidade de proteger direito líquido e certo, não amparado por habbeas
corpus ou habbeas data) (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988).
Para demonstrar a mudança que estava havendo no sistema governamental brasileiro,
que saíra de um regime autoritário recentemente, a Carta Magna de 1988 qualificou como
crimes inafiançáveis a tortura e as ações armadas contra o estado democrático e a ordem
constitucional, criando assim dispositivos constitucionais para bloquear golpes de quaisquer
natureza. Com a nova constituição, o direito maior de um cidadão que vive em democracia foi
conquistado: foi determinada a eleição direta do presidente da República, dos governadores
dos estados e do Distrito Federal e dos prefeitos, além de prever as responsabilidades fiscais.
A nova Constituição ampliou os poderes do Congresso Nacional, tornando o Brasil um país
mais democrático.
Pode-se observar na CF 1988, no Título I, Artigo 1º, em seus Incisos do I ao IV,
conforme consta:
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana;
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IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
Na forma da Lei, conforme os Artigos 3º, Inciso I, no Título II e 5º, Incisos IV, IX,
XVI, XVIII, asseguram a democratização:
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença; XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente; XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento;
Após analisar o processo de descentralização do poder político e financeiro do Estado
Brasileiro promulgado pela Constituição de 1988, Souza (2001, p.1), afirma que:
A constituição de 1988 desenhou uma ordem institucional e federativa distinta da anterior. Voltada para a legitimação da democracia, os constituintes de 88 optaram por duas principais estratégias para construí-la: a abertura para a participação popular e societal e o compromisso com a descentralização tributária para estados e municípios.
Em virtude do grande impulso provocado pelas disposições da Constituição
democrática de 1988, o processo de amadurecimento da democracia ora em expansão na
sociedade brasileira tende a favorecer a atuação de órgãos de natureza "pluri-representativa" e
de atuação popular mais direta (LYRA, 1996, p. 17). Tais órgãos assumem o gozo da
capacidade de determinar, conduzir ou fiscalizar as políticas públicas eleitas e as demais
ações tomadas pela Administração Pública, a qual passa a ter um viés participativo que
aproxima o público do privado.
1.1 . O papel dos Conselhos Gestores
11
Os conselhos gestores, introduzidos na Constituição Federal de 1988, permitem a
participação da sociedade civil nas discussões sobre o planejamento e na gestão das diversas
políticas estatais responsáveis pela promoção de direitos fundamentais centrados em
diferentes segmentos: saúde, educação, cultura, assistência social, habitação, dentre outros.
Essa descentralização administrativa passa a ser vista como resultado da implantação do
modelo democrático participativo. Tais "órgãos administrativos" permitem um co-
gerenciamento do patrimônio público e o encaminhamento de ações destinadas ao
atendimento do interesse coletivo.
A competência de cada conselho gestor reserva a tais órgãos a prerrogativa de intervir
na promoção, defesa e divulgação dos direitos e interesses coletivos voltados as suas áreas
específicas de atuação, de acordo com os moldes previstos na legislação que os constituiu.
Assim, os assuntos discutidos como pauta de agenda de um conselho devem ser todos
direcionados ou interligados à sua pertinência temática, conforme o setor público objeto de
seu funcionamento, não obstante a possibilidade de entrelace com outros conselhos no caso de
discussões de políticas pluri-setoriais.
O problema de paridade nos conselhos comporta sérias divergências. Lyra (1996, p.
29), destaca que alguns Procuradores da República sustentam a idéia de que, em todos os
colegiados que prevêem a participação da comunidade através de organizações
representativas, essa participação necessitaria garantir a tais organizações uma presença
paritária, sem o governo ter direito ao voto decisivo ou ao poder de homologação.
A importância da paridade está para se garantir o peso nas decisões nos próprios
conselhos, permitindo uma coexistência de titularidade entre o Executivo e a soberania
popular, através de sua participação mais direta. Isso é essencial para a efetivação da
democracia participativa, ou, melhor especificando, na perspectiva de co-gestão pública, para
se garantir a democracia administrativa através do controle popular.
Somente gozando de autonomia garantida pela paridade é que esse processo de
controle popular viabiliza a efetivação da transparência nos atos da Administração Pública, à
medida que contribui para a materialização de princípios constitucionais administrativos
arrolados no art. 37, caput, da Constituição Federal de 1988, principalmente no que tange aos
princípios da moralidade e da eficiência. RAICHELIS, (apud SOUTO; PAZ, 2003), comenta
12
que "[...] o debate sobre os conselhos é de grande importância para a consolidação de
espaços públicos efetivamente democráticos e participativos.”
Em setores essenciais como a saúde e a educação, a existência de conselhos de
natureza deliberativa demonstra a oportunidade e também o dever da sociedade civil em
decidir, junto com o Poder Público, a gestão dessas áreas, elegendo quais são as prioridades
que devem ser atendidas. Além disso, fiscalizam e exigem transparência no manuseio das
despesas públicas e, por fim, sugerem a escolha de políticas públicas que atendam realmente
ao interesse público de determinada comunidade.
Não obstante a efetividade maior que conselhos de natureza deliberativa dispõem,
conclui-se que não se pode esquecer que os conselhos de caráter consultivo também se
revestem de prerrogativas importantes para a democracia participativa.
2. A ESCOLA PÚBLICA NO CONTEXTO DEMOCRÁTICO
A administração da escola pública brasileira tem-se caracterizado pela centralização,
verticalização e improvisação de ações que, ao longo da história, têm debilitado as escolas e
produzido o fracasso escolar, anulando, na prática, a universalização do acesso. Contudo, as
transformações ocorridas na sociedade e na escola nos 20 últimos anos, exigem formas
democráticas de administração. Assim, diante da necessidade de mudança na organização e
no funcionamento da escola, a questão da democratização da gestão tornou-se formalmente
uma determinação legal expressa em textos como a Constituição Federal de 1988, as
Constituições estaduais e, mais recentemente, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, passando a incorporar a agenda de trabalho das Secretarias de Educação.
No Título I, Artigo 1º da LDB nº 9394/96, cita: “A educação abrange os processos
formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas
instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e
nas manifestações culturais”
Ainda na mesma lei, no Título II, Artigo 2º, está escrito:
13
A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Relaciona o conteúdo ao princípio da gestão democrática na LDB, à alternativas para
sua materialização no âmbito das unidades escolares na perspectiva de superação da rotina
que tem caracterizado os mecanismos de ação coletiva na escola, conforme cita o Artigo 3º,
nos itens I, II e II abaixo:
Art. 3º. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas;
Discutem-se práticas de gerenciamento escolar no perfil das relações de uma
instituição educacional, considerando que estas relações refletem na prática docente, na
aprendizagem dos alunos e, conseqüentemente, na formação do homem do próximo milênio.
São abordados conceitos de extrema importância, tais como: gestão democrática, liderança,
autoridade, confiança, poder e competência, contrapondo-os a partir da contribuição das
várias teorias administrativas e dos teóricos da educação contemporânea com a finalidade de
formar uma organização do trabalho escolar com qualidade e, ao mesmo tempo, com caráter
participativo e representativo. Como um princípio para a construção da solidariedade humana,
é importante considerar a escola como uma unidade histórico-social formada por grupos
humanos intencionalmente constituídos. Pode-se ver claramente algumas dessas práticas
citadas na Lei de Diretrizes e Bases, nº 9394/96, nos seu artigo 3º, Incisos IV, V, VII ao XI a
seguir:
IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância; V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; VII - valorização do profissional da educação escolar; VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino; IX - garantia de padrão de qualidade; X - valorização da experiência extra-escolar; XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais.
Com a ampliação dos poderes do Congresso Nacional, permitiu-se a democratização
no interior das escolas, com eleições diretas para diretores, a criação das Associações de Pais
14
e Mestres e Conselhos Escolares, como parte do processo democrático, mas criou também, a
responsabilidade na aplicação dos recursos financeiros descentralizados, como parte
integrante do Estado.
Sendo assim, deve-se observar o contido no artigo 37, Inciso II da Constituição
Federal vigente, onde estabelece que:
Art.37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: II – A investidura em cargos ou empregos público dependo de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas de títulos, de acordo com a natureza e a complexibilidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração;
Ainda na Constituição Federal, em seu artigo 206, inciso VI, está garantida “gestão
democrática do ensino público, na forma da lei”.
Com a consolidação da Carta Magna de 1988, instituiu-se a descentralização política e
financeira, permitindo a descentralização no interior das escolas.
Dessa forma, no caso do Estado do Paraná contam os recursos destinados às escolas
oriundos de três fontes:
1. Recurso do Governo Federal através do Programa Dinheiro Direto na Escola - PDDE;
2. Recursos do Estado, como o Fundo Rotativo e o auxilio para a complementação da
merenda escolar; e,
3. Recursos Próprios, arrecadados pela APMF, através de contribuições comunitárias,
convênios e doações.
Esses documentos mostram que ao gestor escolar cabe observar as regras e critérios
relativos à captação dos recursos, utilização dos mesmos e prestação de contas. Além de ter
que gerir esses recursos de forma a garantir o bom desempenho de sua escola, o diretor deve
prestar muita atenção à correta aplicação e prestação de contas, pois é ela que garante que a
escola continue recebendo recursos.
A democratização das estruturas do poder escolar, vem permitir aos seus agentes a
formulação de políticas de interesses locais, estabelecendo um processo de diálogo com a
15
comunidade, pois é de longa data que se ouve ser a escola pública de qualidade um direito de
todos e um dever do Estado.
A democracia, a liberdade e a autonomia plena, são um processo de conquista
conjunta da sociedade que se organiza e se insere. Ou seja, traz para a comunidade escolar, a
participação mais efetiva dos gestores, pais, alunos, professores e funcionários da escola,
trazendo maior inserção democrática na estrutura do poder escolar, à democratização do poder
de participação e decisão a toda a comunidade escolar.
Partindo do entendimento dessa realidade, pode-se vislumbrar que a participação dos
segmentos no processo de tomada de decisões articulados aos interesses da sociedade e no
funcionamento da organização escolar representativa é fundamental para uma gestão
democrática.
Nesse sentido, Paro (1996, p. 151) ressalta que:
A possibilidade de uma administração democrática no sentido de sua articulação, na forma e conteúdo, com os interesses da sociedade como um todo, tem a ver com os fins e a natureza da coisa administrada. No caso da Administração Escolar, sua especificidade deriva, pois: a) dos objetivos que se buscam alcançar com a escola; b) da natureza do processo que envolve essa busca. Esses dois aspectos não estão de modo nenhum desvinculados um do outro. A apropriação do saber e o desenvolvimento da consciência crítica, como objetivos de uma educação transformadora, determinam (...) a própria natureza peculiar do processo pedagógico escolar; ou seja, esse processo não se constitui em mera diferenciação do processo de produção material que tem lugar na empresa, mas deriva sua especificidade de objetivos (educacionais) peculiares, objetivos estes articulados com os interesses sociais mais amplos e que são, por isso, antagônicos aos objetivos de dominação subjacentes à atividade produtiva capitalista.
Nessa esfera educacional há, portanto, uma possibilidade do aluno construir uma
consciência crítica de sua realidade histórica, cuja natureza reside na articulação dos objetivos
educacionais propostos pela Escola com os interesses sociais, onde a educação constitui-se
como um agente transformador, o qual pode congregar princípios de emancipação do homem
frente à sociedade capitalista.
A tendência gerencialista, que adquire certas especificidades quando adotada em
instituições e serviços do Estado tem sido designada de nova gestão pública. Gestão esta com
16
requintes de modelo empresarial, onde a escola se coloca a serviço da empresa, com metas a
cumprir, atendendo “clientela”, sendo o aluno na verdade, um mero número.
Assistiu-se na década de 90 a discursos, sugestões, propostas e reformas na área da
Gestão Escolar que visam apresentar novos modelos para aumentar a eficiência e a eficácia do
sistema de ensino, de maneira a superar as velhas concepções pautadas nas teorias
administrativas do início do século. Como menciona Oliveira (1997, p.90), são proposições
que convergem para novos modelos de organização do ensino público, calcados em formas
mais flexíveis, participativas e descentralizadas de administração dos recursos e das
responsabilidades.
Nesse novo ideário do Estado brasileiro, o setor de educação não poderia ficar imune.
A política educacional, notadamente a partir da década de 90, aponta para o
redimensionamento do sistema de ensino, através de novas formas de gerenciamento, com
vistas ao aumento de sua produtividade FRIGOTTO, 1985 (apud BUZZO, 2006)
Essas mudanças sugeridas, de fato, estão associadas aos processos de reestruturação
capitalista, deste final de século, que afetaram, diretamente, o papel do Estado em suas
funções e políticas públicas. Destaca-se nesse contexto, uma crise econômica que marca a
retenção dos gastos principalmente na área social.
No deslocamento de prioridades, o discurso passa a exigir reformas educacionais.
Nesse processo de reformas, muita ênfase vem sendo dada à criação e fortalecimento de
mecanismos de participação da comunidade no interior da escola. Divulga-se que as escolas
devem superar os problemas educacionais e administrativos, incluindo-se os financeiros,
encontrando novas fontes propulsoras do desenvolvimento na própria sociedade. Essas novas
formas de gerenciamento da escola pública visam a sua autonomia financeira, administrativa e
pedagógica, através de parcerias, de contratos ou de participação ativa da comunidade.
O respaldo para uma gestão democrática na escola pública – entendida como uma
abertura para a comunidade – também é assegurado, legalmente, na Carta Constitucional de
1998, “Gestão democrática do ensino público, na forma da lei”, através do Art. 206, Inciso
VI. É garantido, também, na LDB, Lei 9.394/96, nos Artigos 14 e 15, que destacam a
17
autonomia institucional como importante forma de flexibilização da estrutura administrativa e
pedagógica. Em síntese, os documentos oficiais da atualidade apontam regularmente para a
necessidade de participação dos profissionais da educação e membros da comunidade tanto na
administração escolar como na elaboração do Projeto Político Pedagógico de cada instituição.
Utópico acreditar que a democratização da escola pública surgirá espontaneamente,
pois entende-se que para que isso aconteça, mecanismos de organização e conscientização
comunitária devem ser elaborados e acionados por aqueles que se propõem a repensar a
qualidade dos serviços prestados pelas escolas públicas brasileiras.
Cabe-nos ainda ressaltar o que menciona Müller (2000, p.47):
O termo "democracia" não deriva apenas etimologicamente de "povo". Estados democráticos chamam-se governos "do povo"; eles se justificam afirmando que em última instância o povo estaria "governando". Todas as razões do exercício democrático do poder e da violência, todas as críticas da democracia dependem desse ponto de partida.
O uso da autoridade dentro de uma gestão educacional, deve ter o cuidado de não se
estender a um modelo vertical, devendo essencialmente privilegiar as relações horizontais
entre seus integrantes, mediando as discussões, as trocas de idéias, legitimando assim,
verdadeiras ações democráticas.
2.1. Descentralização como caminho para a democratização na escola
A descentralização, como caminho para democratizar a educação formal, vem sendo
estimulada desde a década de oitenta, como mostram os planos educacionais gestados nesse
período (80/90), cujas metas visavam a perspectiva de melhorar a produtividade do sistema.
Meta essa, reconhecida pelos setores da sociedade, como caminho da implementação de
novas formas de gestão educacional, privilegiando o eixo da qualidade e modernização da
gestão, justificando-se pelo fato de ser a política educacional definida preferencialmente pelo
poder público, com o objetivo de produzir mais e melhor, com menor custo.
Durante as mudanças da política educacional brasileira, presencia-se o discurso da
maior participação da sociedade, inclusive com responsabilidade financeira. Além disso, o
18
Estado passa a permitir e incentivar a coexistência de novas formas de gerenciamento escolar,
aparentemente mais democráticas.
Diante de todas estas colocações, percebe-se que uma escola organizada por todos que
nela atuam tem maiores chances de ser uma escola adequada aos interesses dos seus
organizadores. Também é notório que, trabalhar coletivamente é uma conquista muito difícil
de ser realizada. Dificuldades pessoais e institucionais sempre estarão presentes. Um dos
entraves no trabalho coletivo está no confronto de expectativas e desejos dos sujeitos
envolvidos, visto que a escola apresenta um papel social já definido – espaço de construção e
transmissão de cultura, onde seus sujeitos deixam de se perguntar que tipos de escola desejam
para si, seus alunos e filhos, uma vez que já têm implícito o desejo de se ter uma escola que
realmente pertença ao público; um lugar, onde nele todos trabalhem para a realização daquilo
que é de direito dos cidadãos, (VEIGA, 2004), de acordo com a legislação vigente, prevista na
Constituição Federal/88 e da LDBEN/96. Mas sobre a construção e transmissão de cultura
muito há por se dizer, desejar e esperar, principalmente no que diz respeito aos temas,
objetivos, métodos e recursos a serem assumidos, assim como os valores a serem cultivados e
praticados por toda a comunidade escolar.
Em conseqüência, a participação na gestão passou a referir-se a cada unidade escolar e
não ao universo muito mais amplo da política educacional. Todas as organizações mudam
quando surgem pressões externas, decorrentes da insatisfação dos habitantes de uma
localidade ou região com a atual gestão.
Entende-se democracia como um modo de vida onde todos os cidadãos, participantes
das tomadas de decisões que norteiam a sociedade em que vivem, têm direito de voz e de
voto, e acima de tudo, oportunidade de acesso aos bens da sociedade, sejam materiais ou
intelectuais. Deve, portanto, ser compreendida como o processo de aprender a pensar, onde só
será possível pela educação, e que sua contribuição certamente será necessária e única.
Nesse enfoque é que nos impõe a Gestão Democrática em princípio. Na realidade
dinâmica e complexa da atualidade, uma análise das idéias e valores, que determinadas
práticas educacionais assumem em relação à formação dos alunos.
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Ou seja, uma Gestão Democrática deve buscar meios de garantir o envolvimento da
comunidade no processo educativo, com todas as ações, habilidades, estratégias e limites que
a realidade complexa e contraditória demanda.
Sabendo dessa necessidade de se realizar uma gestão democrática baseada na
criação de meios institucionais que assegurem a participação na tomada de decisões, é preciso
envolver todos os funcionários das escolas, inclusive docentes, discentes e pais, resultando
como foco na maneira diferente de fazer a “educação”.
Uma alternativa de ação, a partir de um modelo próprio, tendo o coletivo como
alicerce para alcançar a excelência que a comunidade escolar pretende, de acordo com a
realidade vivenciada pela escola, consiste numa forma de Gestão Democrática. A participação
intensa e constante dos diferentes segmentos sociais nos processos decisórios, no compartilhar
das responsabilidades, na articulação de interesses, na transparência das ações, nos
compromissos sociais e controles coletivos, tem como resultado “compreender a
democratização em uma escola pública”.
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Considerando que o objetivo deste projeto seja o de buscar a compreensão do processo
de Gestão Democrática por integrantes de uma Escola Pública do Ensino Fundamental, foi
escolhido o método qualitativo, pois considera a existência de uma relação dinâmica entre
mundo real e sujeito, visando maior profundidade na relação escola/comunidade,
“...apropriado aos tipos de pesquisa que focam em resultados, especialmente ao entender as
experiências de indivíduos e grupos de pessoas em contextos organizacionais” (CASSEL;
SYMON, 1994, apud GIMENEZ, 2001, p. 3).
Para que tal estudo pudesse ser realizado, foi escolhida uma escola pública de pequeno
porte, localizada na região noroeste do Estado do Paraná, a qual apresenta uma clientela
heterogênea, predominantemente de baixa renda.
A obtenção dos dados foi realizada por meio de um questionário aberto, composto por
duas questões: O que você entende por democratização na escola pública? e Qual a sua
20
contribuição para que essa democratização aconteça? O mesmo foi distribuído à diretora, à
Orientadora Educacional, aos professores e a seis pais, escolhido aleatoriamente. Buscou-se
conhecer como os membros dessa comunidade escolar entendem a democratização e de que
maneira, com sua participação, contribuem para que ela ocorra em seu contexto educacional.
Apesar de limitado, conforme assinala Lijphat (1971) apud Gimenez (2001), o estudo de caso,
ao focar um único caso, este pode ser imensamente examinado, mesmo quando os recursos de
pesquisa à disposição do pesquisador dão relativamente limitados.
Todos que receberam o referido questionário se mostraram bastante receptivos e
prontos em colaborar, No total 23 (vinte e três) pessoas participaram da pesquisa, sendo: 01
(um) diretor, 01 (um) Coordenador Pedagógico, 12 (doze) professores, 01 (um) auxiliar
administrativo, 02 (dois) auxiliares de serviços gerais, e 06 (seis) mães e pais de alunos,
pertencentes à APMF e Conselho Escolar, tendo seus filhos regularmente matriculados na
escola. Das 23 (vinte e três) pessoas que receberam as questões, somente um professor se
absteve em responder.
O trabalho foi desenvolvido após ser procedida a elaboração de um plano detalhado
dos passos a serem seguidos, fazendo um levantamento da clientela a ser entrevistada, qual o
tipo de questionamento poderia ser feito para que atingisse toda essa clientela de maneira a
obter respostas de todos os segmentos, analisando dados vinculados ao processo de pesquisa
realizada para que se obtivesse sucesso. Este trabalho tem como foco não somente o “saber o
quê”, mas vai além ao considerar a questão associada ao “saber como” da democratização na
escola pública.
A escola analisada funciona atualmente com 06 (seis) turmas do ensino fundamental e
conta com 130 (cento e trinta) alunos regularmente matriculados no período matutino, tendo
uma sala de recursos que funciona no período vespertino, com 22 (vinte e dois) alunos, com
15 (quinze) professores, uma diretora, uma coordenadora pedagógica, uma secretária, no
corpo administrativo 03 (três) funcionários, sendo que 01 (um) como auxiliar administrativo e
outras 02 (duas) nos serviços gerais.
Considerando que as questões inseridas no questionário aplicado foram direcionadas
para se obter informações da compreensão de pais, professores e funcionários sobre a gestão
democrática e a participação dos mesmos no processo de ensino e aprendizagem na escola.
21
Após solicitar autorização da direção, o mesmo foi aplicado aos participantes. A distribuição
dos questionários foi através de livre adesão e guardando o anonimato. Os dados foram
analisados em conjunto com as perguntas, buscando-se significados representativos das
percepções dos entrevistados, bem como o relacionamento existente entre pais e
professores/direção/coordenação, professores e alunos, procurando conhecer as suas
concepções sobre a democratização e formas de participação.
4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
A apresentação dos dados está dividida em três partes. Sendo que inicialmente foi feita
uma caracterização da escola, a seguir ao perfil dos entrevistados, e por último foi feita a
análise dos dados.
4.1. Caracterização da Escola
A escola em que foi realizada a pesquisa é uma Escola Estadual, fundada em 1972,
tendo aproximadamente 130 (cento e trinta) alunos regularmente matriculados no período
matutino, em 06 (seis) turmas, sendo 02 (duas) quintas-séries, 02 (duas) sextas séries, 01
(uma) sétima série e 01 (uma) oitava série e no período vespertino funciona uma sala de
recursos, com 22 (vinte e dois) alunos. O seu corpo docente é formado por 15 (quinze)
professores; atende uma diretora, uma coordenadora pedagógica, uma secretária; exercem o
corpo administrativo 03 (três) funcionários, sendo que 01 (um) como auxiliar administrativo e
outras 02 (duas) nos serviços gerais.
4.2. Perfil dos entrevistados
Quanto ao perfil dos entrevistados, pode-se observar que dum total de 23 (vinte e três),
17 (dezessete) são do sexo feminino 75% (setenta e cinco por cento) do total e 06 (seis)
homens, portanto, 25% (vinte e cinco por cento) do total, sendo que todos tem idade superior
a 35 (trinta e cinco) anos, e desse total, 06 (seis) pais e mães de alunos pertencentes a
Comunidade Escolar.
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Avaliando-se o grau de escolaridade dos entrevistados, pode-se observar que na sua
maioria, são pós-graduados, 48% (quarenta e oito por cento), 22% (vinte e dois por cento)
possuem o nível superior, 17% (dezessete por cento) concluíram o ensino médio e 13% (treze
por cento) tem apenas o ensino fundamental, sendo que alguns sem completar.
4.3. Análise dos dados
Após serem recolhidas as informações, a análise dos dados resultou em cinco
categorias explicativas da democratização na escola, sendo elas: Participação de todos;
Respeito às diversidades; Dimensão política; Liberdade de expressão – voto; e Manifestações
de não democratização, a seguir descritos:
a) Participação de todos:
Inicialmente, a democratização na escola foi interpretada como a escola em que todos
“devem ter” vez e voz, onde opiniões, sugestões, comentários, direito de cada pessoa
expresso através de sua opinião, buscando qualidade de ensino.
A participação foi enfatizada também quanto os pais, conforme retrata no questionário
em que responderam desejar estar presentes na vida escolar de seus filhos.
A interação da escola com a comunidade foi outra demonstração para a
democratização, que buscou o envolvimento coletivo da comunidade escolar, proporcionando
igualdade de oportunidades, juntamente com o comprometimento de todos.
Ao serem questionados, sugeriram estabelecer mecanismos que garantam a
participação de todos: professores, funcionários, alunos, pais e outros para que participem das
decisões do Conselho Escolar, onde acontece a tomada de atitudes coletivas para o bem
comum da escola.
Considerando que a escola esteja de portas abertas, dando acesso direto através das
instâncias colegiadas, como; APMF (Associação de Pais, Mestres e Funcionários da Escola),
Conselho Escolar, Grêmio Estudantil, etc., na tomada de decisões, através de uma
23
participação efetiva. Deve-se ainda, buscar uma participação mais efetiva desses órgãos nas
tomadas de decisão, inclusive com sugestões, idéias, enriquecendo, assim, a comunidade
escolar.
Foi mencionado ainda o estímulo a ser dado aos membros do Conselho Escolar para
que estejam presentes e operantes, propondo e avaliando o Projeto Político Pedagógico da
escola, através de ações que garantam os direitos sociais, planejando, diagnosticando e
fixando diretrizes, objetivos e metas para um ensino de qualidade.
E concluindo este item, foi também ressaltada a importância e o esforço do professor
em juntar a teoria e a pesquisa à prática.
Nesse tópico pode-se observar que muitas das pessoas entrevistadas pensam em como
colaborar para que a democratização aconteça, buscando uma participação mais efetiva dos
envolvidos com o processo educacional.
b) Respeito às diversidades:
Dentro do respeito que deve ser dado às diversidades, foram citados alguns como: ser
dada a devida atenção às “múltiplas culturas” e ao “direito de cada cidadão expressar sua
opinião na escola”.
Foi ressaltado o fato de todos, na escola pública terem seus direitos garantidos,
respeitando o dos outros, onde sejam assegurados seus direitos, bem como exigido o
cumprimento dos deveres para com a comunidade, para o mundo que o cerca.
Ainda observando a visão dos entrevistados, pode-se sentir sua necessidade de estar
conscientizando professores, funcionários e pais para a realidade da transformação social,
questionando a realidade em que o aluno está inserido, bem como esclarecendo aos alunos
seus direitos e deveres dentro da sociedade. E para que tal prática seja efetivada, deve-se
conhecer a realidade atual dos educandos e indicar caminhos que levem à realidade desejada.
24
Além dessa conscientização, falou-se também em apoiar e valorizar os alunos, bem
como repensar as práticas pedagógicas, a fim de viabilizar o direito de todos à educação, e
com isso, melhorar o processo ensino-aprendizagem, criando um espaço democrático e de
questionamento constante das desigualdades sociais que aos menos favorecidos são impostos,
garantindo o direito de todos sobre o que compete a cada um.
E por fim, foi enfatizado que deve-se estimular ações que garantam os direitos sociais,
planejando diagnosticando e fixando diretrizes, objetivos e metas para um ensino de
qualidade.
Neste item foi possível observar que os entrevistados mostraram-se preocupados em
trabalhar as desigualdades e buscar o respeito a elas, valorizando a todos e criando
oportunidades para que garantam os direitos sociais de todos.
c) Dimensão política:
Ainda interpretada como a escola em que todos “devem ter” vez e voz, onde opiniões,
sugestões, comentários buscando qualidade de ensino, sejam aceitos, estudados e analisados,
onde a construção deve ser participativa no Projeto Político Pedagógico da escola, como
processo coletivo da sociedade, interagindo com a comunidade a fim de que todos tomem
conhecimento do contexto da escola, tornando-a verdadeiramente pública, atingindo a todos,
havendo a expansão das oportunidades dos educadores, garantindo a todos seus direitos,
respeitando o dos outros, tornando comprometida a participação de todos os membros que
compõe a escola, ter como medida política e não uma simples questão técnica pedagógica,
para que sejam assegurados os direitos de todos, bem como exigido o cumprimento dos
deveres para com a comunidade, para o mundo que o cerca.
Além disso, foi proposto em alguns dos questionários que houvesse uma ruptura das
práticas autoritárias, hierárquicas e clientelísticas, tendo como marco inicial a eleição para
diretores, garantindo assim, o direito de todos sobre o que compete a cada um dos segmentos
de usar os mecanismos que garantam a participação de: professores, funcionários, alunos e
pais nas decisões do Conselho Escolar, onde acontece a tomada de atitudes coletivas para o
bem comum da escola.
25
Dessa forma representar os reais interesses da comunidade escolar é um processo de
construção da autonomia, no sentido de reconhecer e resolver os seus problemas, tendo
cooperação das autoridades e comunidade, contribuir com a melhoria da qualidade de ensino,
num processo vinculado à expansão das oportunidades educacionais e consequentemente, as
condições estruturais de ensino-aprendizagem oferecidas no espaço escolar, deve ter como
finalidade conduzir uma educação que traspasse os muros escolares, proporcionando ao aluno
um instrumental teórico-prático que lhe permita compreender melhor sua vida em sociedade.
Alguns dos entrevistados vêem o Projeto Político Pedagógico da escola como um guia
das funções educativas com o objetivo maior no ensino-aprendizagem dos alunos.
Outras participações foram indicadas como importantes, tais como: “a
conscientização da realidade para transformação social, questionando a realidade em que o
aluno está inserido”, “o acesso direto através das instâncias colegiadas, como; APMF
(Associação de Pais, Mestres e Funcionários da Escola), Conselho Escolar, Grêmio
Estudantil, etc., na tomada de decisões, através de uma participação efetiva”, “o voto dando
idéias para o funcionamento escolar”, “estar promovendo discussões sobre vários assuntos
do cotidiano, tendo como foco os alunos e as atividades e debates em sala de aula”,
“participação no dia-a-dia na tomada de decisões da escola, através das instâncias
colegiadas e mesmo fora delas, criando um espaço democrático e de questionamento
constante das desigualdades sociais que aos menos favorecidos são impostos”, bem como
“estimulando ações que garantam os direitos sociais, planejando, diagnosticando e fixando
diretrizes, objetivos e metas para um ensino de qualidade”, como também “favorecendo a
liberdade de expressão dos alunos”.
Considerando o aluno como foco principal da escola pública, foi também considerado
importante o esclarecimento aos alunos de seus direitos e deveres dentro da sociedade, apóia-
los e valorizá-los levando os professores a repensar as práticas pedagógicas a fim de viabilizar
o direito à educação de todos, e com isso, melhorar o processo ensino-aprendizagem, a fim de
que possam refletir e analisar os conceitos básicos a serem trabalhados, procurando formar
cidadãos que sejam capazes de intervir no processo social do seu tempo, com autonomia e
consciência crítica.
26
Ao diretor foi dada a incumbência de delegar trabalho aos funcionários para que eles
possam executar sua função com mais eficiência.
Após analisadas as questões, pode-se também observar a preocupação dos
entrevistados para que todos, Direção, professores, funcionários, alunos e pais, sejam atuantes
e participem ativamente do cotidiano escolar, dando opiniões, sugestões, fazendo comentários
que busquem a qualidade do ensino ofertada na rede pública estadual.
d) Liberdade de expressão - voto:
Mais uma vez, a importância de se ter “vez e voz”, onde opiniões, sugestões,
comentários buscando qualidade de ensino, sejam aceitos, estudados e analisados, foi citada,
pois considera-se importante que os pais estejam presentes na vida escolar dos alunos, onde se
tem como direito expressar sua opinião na escola, tendo como marco inicial a eleição para
diretores. “Liberdade de expressão – expressão de idéias e voto”.
A construção do Projeto Político Pedagógico da escola deve ser participativa, tendo
em vista que quando acontece uma interação entre a comunidade estudantil, envolvendo todos
os participantes com objetivos definidos, proporcionando igualdade de oportunidades, com a
participação comprometida de todos os membros que compõe a escola, há uma ruptura das
práticas autoritárias, hierárquicas e clientelísticas.
Estabelecer mecanismos que garantam a participação de todos: professores,
funcionários, alunos, pais e outros para que participem das decisões do Conselho Escolar, na
tomada de atitudes coletivas para o bem comum da escola, representa um processo de
construção da autonomia, no sentido de que essa autonomia reconheça e resolva por si os seus
problemas, tendo cooperação das autoridades e comunidade, procurando criar um espaço
democrático e de questionamento constante das desigualdades sociais que aos menos
favorecidos são impostos, opinando e participando de todas as atividades que envolva a
escola, procurando ouvir o que os alunos e os professores têm a dizer e pondo em prática os
conhecimentos adquiridos, trabalhando com atividades planejadas que possibilitem ao aluno
não apenas a leitura e a expressão oral ou escrita, mas também a reflexão sobre o uso da
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linguagem em diferentes situações e contextos, representando enfim, os reais interesses da
comunidade escolar.
Mais uma vez foi possível avaliar a preocupação dos entrevistados quanto a sua
participação efetiva na vida escolar, pois aqui também mostraram-se preocupados em garantir
a todos o direto a se expressar verbalmente diante das dificuldades encontradas e ao voto,
quando das eleições para diretores, pois assim estarão buscando respeito, valorizando a todos
e criando oportunidades para que garantam os direitos sociais de todos.
e) Manifestações de não democratização:
Dois dos entrevistados, manifestaram-se bastante revoltados com a crise pela qual a
educação está passando, afirmando ser dada muita liberdade aos alunos, que fazem e falam o
que querem, citando inclusive um exemplo de um aluno que respondeu a um dos
entrevistados, o qual lhe faltou com o respeito, ofendendo-o com palavras obscenas.
Ambos citaram que o professor é considerado como um escravo dos superiores, pois
suas opiniões não são respeitadas, e que a democratização existe apenas para o aluno.
Ao serem questionados, disseram que gostariam que houvesse respaldo por parte do
aluno, “porque democratização por parte do professor já existe, somos democráticos
demais”; mas o aluno deve ter sua liberdade “cortada ao meio” para que o professor possa
exercer sua atividade “sem que nos falte o respeito”.
Esses entrevistados tiveram, portanto, uma manifestação contrária a democratização
tendo como sua opinião de insatisfação, a excessiva liberdade aos alunos e a falta de respaldo
dos professores, tendo em vista que aos alunos são garantidas muitas liberdades, enquanto ao
professor, acaba sendo tolhido de sua função de educador para a vida, se detendo em apenas
educar para o entendimento aos livros.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Constituição Federal de 1988, além de reafirmar o modelo democrático
representativo concretizado pelo voto, garante aos indivíduos o exercício direto do poder, o
que indica mudanças na forma de execução das decisões do próprio Estado. A atual
compreensão de Administração Pública tem por base a participação popular nos processos
decisórios administrativos. Isso significa que os cidadãos deixam de ser enxergados como
simples administrados, ou meros porta-vozes de reivindicações de serviços ou atividades
administrativas, assumindo uma função mais integrativa.
Os cidadãos interessados podem participar na preparação da vontade administrativa,
devendo haver, também, a colaboração do administrado na preparação e na execução da
vontade administrativa, fiscalizando os atos públicos da administração para que não haja um
distanciamento do ideal de busca pelo interesse coletivo. Neste sentido, os conselhos gestores
se despontam como instrumentos de controle popular da Administração Pública.
Ao definir democratização como "a universalização de oportunidades" ou como "o
cultivo da liberdade do educando", não se marca apenas uma diferença conceitual no plano
teórico, mas sobretudo busca-se uma adesão às práticas sociais que se consideram mais
valorosas.
Por isso, salientou-se a relevância do processo de participação na discussão e
implantação da gestão democrática, acreditando-se, ainda, que o processo de tomada de
decisões no interior da escola não pode estar desvinculado da ação coletiva, democrática e
integrada envolvendo a participação direta na elaboração do Projeto Político Pedagógico, que
representa a espinha dorsal do fazer no cotidiano escolar.
A relação com a comunidade é um fato importante para o redimensionamento da
Gestão Escolar, ficando expressa nas respostas a participação dos professores, dos
funcionários, dos integrantes da APMF (Associação de Pais, Mestres e Funcionários), do
Conselho Escolar, que é formado por Professores, Funcionários, Alunos, Pais/Mães ou
Responsáveis, e dos demais pais, bem como dos alunos.
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Para tanto, é necessário que o gestor garanta a participação das comunidades interna e
externa, a fim de que assumam o papel de co-responsável na construção de um projeto
pedagógico que vise ensino de qualidade para a atual clientela da escola pública e para que
isso aconteça é preciso preparar um novo gestor, redefinindo seu perfil, desenvolvendo
características de coordenador, colaborador e de educador, para que consigamos implementar
um processo de planejamento participativo de representantes dos segmentos da comunidade
interna (diretor, vice-diretor, especialistas, professores, alunos e funcionários) e externa (pais,
órgãos/instituições, sociedade civil organizada, etc.), com um conselho não só consultivo,
como também deliberativo.
A questão do controle, do poder aprisionado nas mãos de diretores e superiores ainda é
prática constante. Administrar escolas é tarefa árdua, porém, dentro dos moldes do
autoritarismo, legitima-se então, traumas antigos em que a sociedade se mostra ainda
fragilizada, com medo de se expressar, cedendo lugar às ideologias.
Percebe-se na gestão educacional, uma administração voltada com ações na verdade,
reprodutoras de uma sociedade infelizmente alienada e passiva, ditando regras e não
estabelecendo uma relação dialógica ideal com os envolvidos, estabelecendo meramente
uma transmissão de ordens, alegando na maioria das vezes cumprirem determinações que
lhes vem de cima, não proporcionando assim, momentos para discussão.
A participação é muitas vezes, limitada, controlada e puramente formal. A estrutura
técnica se sobrepõe aos indivíduos envolvidos. O poder e a autoridade se instalam de forma
sutil, com obediência, dentro de uma perspectiva clássica de administração que repudia a
participação, o compartilhar idéias, a liberdade para expressar-se , a deliberação de decisões
e o respeito às iniciativas. A questão do controle ainda é muito forte e mesmo sabendo que o
poder e a autoridade são necessários em muitos momentos dentro de várias organizações,
intermediando e viabilizando ações criativas para melhora, observa-se ainda um controle
rígido, um descompromisso e muito pouca participação da comunidade escolar como um todo
(professores, pais, funcionários, lideranças de bairro) no processo da gestão escolar, causando
assim automaticamente uma acomodação, em que as pessoas não se mobilizam para nada e
ficam alheias, esperando sempre serem orientadas ou então aceitando passivamente tudo que
venha das “autoridades competentes”, sem quer que seja , nenhum questionamento crítico
construtivo.
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Quando abordados sobre a sua participação no questionamento sobre a
democratização, os entrevistados se mostraram bastante receptivos e prontos a colaborar,
entretanto em alguns momentos, deixaram transparecer um certo grau de insatisfação quanto à
sua responsabilidade pelo que fazem ou pelo que não conseguem fazer, em face das
dificuldades que relatam.
Pode-se deduzir da análise que, a gestão mostra-se ainda pouco explorada,
apresentando nuances de uma democratização onde as ações são aparentemente participativas
na facção do PPP (Projeto Político Pedagógico) e nas atividades do cotidiano escolar.
Nem sempre as mudanças na estrutura escolar são suficientes para corresponder às
exigências do contexto social. A mudança pretendida, no que se refere à democratização das
relações no interior da escola analisada, vem sendo trabalhada de forma coletiva, procurando
se efetivar, conforme entendimento e comprometimento dos integrantes da Comunidade
Escolar a que pertence, pois cabe a estes a implementação da mudança.
Pode ser observado que as políticas atuais demonstram que a escola deva possuir uma
nova dimensão, voltada à participação de toda a comunidade escolar, inserindo ali, não só a
direção, os professores e os funcionários, como também, pais e alunos integrantes das APMF
e Conselho Escolar e demais pais e alunos da escola, na construção de uma verdadeira gestão,
de modo a aproximar todos os segmentos das questões de real interesse, objetivando uma
maior integração.
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