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CONEXÃO ENTRE COMPORTAMENTO
REPRODUTIVO E ESTRUTURA DA PAISAGEM:
O CASO DO TIZIU (Volatinia jacarina – Linnaeus,
1766) NO DISTRITO FEDERAL
Nataly Alexandra Hidalgo Aranzamendi
Orientador: Prof. Dr. Ricardo B. Machado
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Ecologia da Universidade de Brasília,
como requisito parcial para a obtenção do grau de
Mestre em Ecologia.
i
Agradecimentos
À minha mãe, meu pai, irmã e família por acreditar nas minhas capacidades, pelo apoio
constante e pela compreensão que sempre tiveram comigo apesar da distancia.
A meu orientador Prof. Dr. Ricardo Machado pela guia profissional e acadêmica durante
todo o mestrado, mas também pelo constante apoio frente a qualquer dificuldade. Para ele
meu maior agradecimento e admiração.
A Profa. Dra. Regina Macedo que foi a pessoa que me inspirou a continuarna área de
comportamento animal e sempre me ofereceu ajuda acadêmica, profissional e amizade dela.
Da mesma forma o sentimento de admiração é muito grande.
A Lilian Manica pela grande ajuda durante campo nos cinco meses de projeto. Além disso,
agradeço ajuda com as analises e interpretações, mas, sobretudo pela grande amizade.
Aos meus colegas do laboratório de Comportamento Animal que facilitaram o
desenvolvimento do projeto e também as discussões que inspiraram à procura de maiores
desafios acadêmicos. Da mesma forma, aos meus colegas do laboratório de Planejamento e
Conservação da Biodiversidade, especialmente a Barbara Zimbres que ajudou com a
elaboração dos mapas.
A todas as pessoas que ajudaram na coleta de dados em campo, principalmente Rafael da
Silva, Ana Carolina Gomes, Marcela Manara, Renata Alquezar, Igor Santos, April Sjoboen,
Pedro Diniz, Liandre Pereira, Cleyton Oliveira e Paula Sicsu.
Aos meus colegas de mestrado por sempre terem me acolhido aqui no Brasil, nossas
discussões sempre serão lembradas. Aosmeus amigos da Colina: Fernanda Cunha, Luciana
Morais, Amanda Gonçalves e Renato Barbosa por terem me apoiado e compartilhado
muitas experiências na convivência durante o mestrado.
Ao Conselho Nacional de Pesquisa CNPq e ao Programa Convenio de Estudantes de Pós-
graduação no Brasil que deu a bolsa de estudos de mestrado. Ao Departamento de Pesquisa
e Pós-graduação da UnB que providencio recursos financeiros para o trabalho em campo. A
Fundação de Apoio e Pesquisa do Distrito Federal que deu recursos para o Congresso
Neotropical e permitiu apresentar os resultados preliminares da pesquisa. Finalmente
agradeço à Coordenação, professores e colegas do Programa de Ecologia pelo
conhecimento e facilidades outorgado a minha pessoa durante a estadia no Brasil.
ii
Resumo
As agregações territoriais em aves têm sido documentadas para várias espécies e existem
muitas hipóteses para explicar as vantagens dos padrões de agregação. O tiziu (Volatinia
jacarina) é um ave neotropical que estabelece territórios para alimentação, exibição e
nidificação durante a época reprodutiva. Este estudo foi feito numa paisagem perturbada no
Cerrado durante a temporada chuvosa de 2010. Foi testado se o tamanho do território e o
número de machos nos agregados influenciavam parâmetros comportamentais das aves e o
sucesso de nidificação. Também, foi testado se os parâmetros comportamentais ou o
sucesso de nidificação era influenciado pelas características da paisagem (filtro grosso) ou
da vegetação local (filtro fino). Os resultados mostram que o tamanho de território não tem
relação com o número de machos dentro de um agregado, mas existe uma relação
significativa entre o tamanho de território e o sucesso de nidificação. A taxa de exibição
não teve relação com número de machos dentro dos agregados, mas houve uma tendência
no aumento da taxa nos machos que chegaram à área no final da estação reprodutiva. Na
escala maior, os resultados mostram que o padrão agregado foi influenciado pela
proximidade dos corpos de água, pela maior complexidade da estrutura da vegetação e
maior quantidade de árvores, sendo esses alguns dos preditores utilizados para avaliar o
sucesso de nidificação. A taxa de exibição teve uma relação negativa com a altura do
capim. Os resultados indicam que os elementos dominantes da paisagem influenciam a
escolha do habitat pelas aves (filtro grosso), mas a estrutura da vegetação (filtro fino)
destaca a influência da mesma no sucesso de nidificação e no comportamento reprodutivo.
É importante entender as vantagens das agregações territoriais para os indivíduos dentro da
população e como estas observações apoiam a ideia de uma estratégia mista na escolha de
habitat: primeiramente baseada nas características físicas do habitat e depois na presença
dos conspecíficos.
Palavras chave: agregação territorial, Tizius, paisagem, taxa de exibição
iii
Abstract
Territorial clustering has been documented in various bird species and several hypotheses
have been proposed to explain aggregation patterns. The Blue-black Grassquit is a
neotropical bird that establishes all-purpose territories during the breeding season. This
study was conducted in a modified landscape within the Brazilian Cerrado during the 2010
rainy season. We examined whether territory size and/or density of male aggregations
influence some behavioral parameters for nesting success. Also, we examined if male’s
behavioral parameters or nesting success was influenced by landscapeor territory’s
vegetation characteristics. Our results show that the number of displaying males within a
cluster has no relation with territory size. However, we found a significant relation between
territory size and nesting success. Display rate was not related with number of males in
clusters but it increased in the males established at the end of the season. These results
suggest territory size is a good predictor of pair formation. The results show that the
clustered pattern is influenced by water proximity; also, more complex strata of vegetation
and higher amount of trees are good predictors for nesting success. We also found a
negative relation between display rate and height of grass cover. All these findings could
explain the influence of dominant landscape elements in habitat selection by birds, and also
how micro scale vegetation analysis might influence reproductive behavior. It is important
to understand the benefits of territorial clustering for each individual within a population
and how these observations might support the combined strategy in habitat selection: first
based on habitat physical characteristics and then by the presence of conspecifics.
Keywords: territorial clustering, Blue-black Grassquit, neighbors, landscape influence, display rate
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 ............................................................................................................................... 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 2 MATERIAL E METODOS .................................................................................................... 6
Área de estudo ....................................................................................................................... 6 Coleta de dados ..................................................................................................................... 7 Análises dos territórios .......................................................................................................... 8 Densidade dos agrupamentos ................................................................................................ 9 Análises estatísticas ............................................................................................................. 10
RESULTADOS ...................................................................................................................... 11 Características territoriais .................................................................................................... 11 Taxa de exibição.................................................................................................................. 12 Tamanho do território.......................................................................................................... 13
DISCUSSÃO .......................................................................................................................... 15
CAPÍTULO 2 ............................................................................................................................. 24 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 25 MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................................. 29
Área de estudo ..................................................................................................................... 29 Observações comportamentais ............................................................................................ 30 Análises das imagens georeferenciadas .............................................................................. 30 Medidas da paisagem .......................................................................................................... 30 Medidas da vegetação local ................................................................................................. 31 Análises dos dados .............................................................................................................. 32
RESULTADOS ...................................................................................................................... 33 Tamanho do território e padrões de agregação em função da paisagem ............................. 33 Estrutura da vegetação e padrões comportamentais ............................................................ 38
DISCUSSÃO .......................................................................................................................... 43 CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 51 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 52
1
CAPÍTULO 1 EFEITOS DO TAMANHO DO TERRITÓRIO E DO NÚMERO DE
VIZINHOS NO SUCESSO DENIDIFICAÇÃODO TIZIU- Volatinia
jacarina
2
INTRODUÇÃO
A competição entre machos pela obtenção de melhores recursos é uma ideia que
gerou muitas hipóteses sobre sistemas reprodutivos influenciados por restrições
ecológicas (Wilson 1975, Emlem & Oring 1977, Johnson & Burley 1998, Wagner
1998). Charles Darwin (Darwin 1871) foi o primeiro a propor o conceito de seleção
sexual após analisar o comportamento das espécies sob o ponto de vista da competição
entre machos e a escolha da fêmea. Como cada indivíduo pode variar em qualidade
como parceiro potencial, são esperados mecanismos que assegurem que as fêmeas
tenham preferência por parceiros com a melhor qualidade possível, desta forma, a
competição entre membros de um sexo não impossibilita a escolha ativa pelo outro sexo
(Halliday 1983).
Muitas vezes a qualidade dos indivíduos pode ser mensurada em termos de sua
capacidade de defesa de recursos limitantes. Os principais recursos defendidos por
animais geralmente incluem alimentos, refúgio, espaço para os sexual displays
(doravante denominados exibições sexuais ou simplesmente exibições) e sítios de
nidificação, no caso das aves, os territórios são geralmente estabelecidos pelos machos e
muitas vezes usados com propósitos reprodutivos (Wilson 1975). A razão sexual da
população determina o número de parceiros potenciais e portanto tem uma influência
expressiva nas estratégias evolutivas das espécies (Kokko & Rankin 2006), desta forma,
a competição por parceiros não é diferente da competição por recursos (Emlem & Oring
1977, Kokko & Rankin2006).
Uma típica espécie territorial pode ser caracterizada como aquela que delimita
uma área na qual são executadas exibições dirigidas a indivíduos conspecíficos, em
especial outros machos, mas as exibições também têm funções importantes na atração
de fêmeas. Em geral, o macho residente do território é aquele que consegue manter uma
posição de propriedade dentro do espaço conquistado (Wilson, 1975). Alguns autores
têm postulado que o comportamento territorial é simplesmente um ranqueamento social
sem subordinados conspecíficos (e.g. Davis 1957, Wilson, 1975).
Para aquelas espécies que possuem comportamentos conspícuos de
territorialidade, as considerações na escolha do parceiro estão ligadas à escolha do
território (Wittenberger 1983, Stutchbury & Morton 2001). Existem, porém, várias
3
espécies territoriais que possuem grande sincronia reprodutiva e têm como resultado
padrões de agregação territorial com elevadas densidades (Tarof et al. 2004).
Territórios generalistas (all-purpose territories) e que são agregados utilizados
para alimentação, reprodução, execução das exibições e construção do ninho, tendo sido
registrados para várias espécies de aves (Robel 1976, Dale & Slagsvold 1990, Almeida
& Macedo 2001, Perry & Andersen 2003, Tarof et al. 2004, Barg et al. 2006, Roth &
Islam 2007). Aparentemente esses territórios estão distribuídos dentro de habitats
homogêneos, deixando algumas porções do habitat desocupadas e mesmo assim
existindo agregações (Dias et al. 2009), resultando no padrão de altas densidades de
territórios. Tais aglomerações devem inevitavelmente resultar em encontros agressivos
mais frequentes entre machos, sendo que a agressão intraespecífica tenderia a alcançar
níveis mais altos durante a temporada reprodutiva (Wilson 1975).
Até agora, os custos e benefícios e mecanismos de formação das agregações são
pouco entendidos (Perry & Andersen 2003, Kleindorfer & Dudaniec 2009). Atualmente,
existem várias hipóteses para explicar a aglomeração de ninhos, sendo que a maioria
delas se baseia sobre a possível redução de predação através de vocalizações de alerta
dos indivíduos aglomerados (Hamilton 1971, Kleindorfer & Dudaniec 2009). O custo
destas situações de alta densidade, entretanto, pode ser a alta prevalência de parasitos
pela maior quantidade de interações com os vizinhos (Danchin & Wagner 1997,
Kleindorfer & Dudaniec 2009).
Desta forma, considerando o possível alto custo para a evolução de agregações
reprodutivas, é importante entender quais seriam as vantagens em se manter um padrão
agregado. Para abordar essa questão, vários outros autores têm gerado hipóteses
relacionadas com possíveis mecanismos de compensação (Trivers 1972, Jonhson &
Burley 1998, Wagner 1998, Stutchbury & Morton 2001).
Uma dessas hipóteses, a do lek escondido, prediz que a procura por copula extra-
par feita pelas fêmeas de algumas espécies monogâmicas, produzirá agregações de
machos tentando obter parceiras, desta forma existem alguns poucos machos que obtêm
cópulas adicionais e outros machos subordinados que se acasalam monogamicamente,
mas que sofrem perdas em função das cópulas extra-par das parceiras (Wagner 1998).
Esse padrão de agregação permite que as fêmeas tenham maior acesso aos machos e a
oportunidade de comparar vários ao mesmo tempo (Stuchbury & Morton 2001).
4
O produto dessa agregação gera uma configuração espacial que possui machos
com territórios contíguos, mas diferentemente dos leks convencionais, cada macho
mantém um vínculo social com uma fêmea dentro do território e colabora no cuidado
parental dos filhotes (Wagner 1998). Mas, quando as fêmeas têm preferência por
machos que estão agrupados é razoável supor que elas vão discriminar entre os
agregados de menores tamanhos, diminuindo o sucesso de acasalamento para muitos
machos (Bradbury & Gibson 1983), tais variações indicam que alguns indivíduos não
vão conseguir se acasalar enquanto outros terão maiores oportunidades (Partridge
1983).
Nas situações de alta sincronia reprodutiva seria esperado que existam regras ou
padrões divergentes entre espécies (Stutchbury & Morton 2001) e talvez o macho não
participe ativamente no cuidado parental, mas como existem exemplos de espécies
tropicais com cuidado parental mútuo (Almeida & Macedo 2001, Stutchbury & Morton
2001), espera-se que ambos os sexos façam uma escolha ativa e exista uma alta
competição intrasexual por parceiros de alta qualidade (Trivers 1972, Stutchbury &
Morton 2001). Da mesma forma, são esperadas altas taxas de cópula extra-par, já que a
persistência de sistemas reprodutivos altamente sincronizados deve gerar benefícios
adicionais para os indivíduos que estabeleceram territórios perto de conspecíficos
(Danchin & Wagner 1997).
A alta densidadede indivíduos numa determinada área pode influenciar o
tamanho do território de cada macho, sendo que existe maior pressão para a entrada de
novos conspecíficos na área, por tanto, a resposta esperada é a compressão territorial.
Mas, existe um limite além do qual o animal não pode ser pressionado e nesse momento
o dono do território reage e defende sua propriedade (Wilson 1975).
Os conceitos de territorialidade agregada acima discutidos podem ser observados
em uma espécie de ave neotropical que contém uma combinação dessas características
comportamentais e sociais: o tiziu Volatinia jacarina (Linnaeus 1766). Algumas
características relevantes da espécie são a defesa de territórios e a repetição de exibições
contínuas e conspícuas compostas por saltos verticais em associação a uma vocalização
de curta duração (Sick 1997, Almeida & Macedo 2001, Dias et al. 2010). Geralmente os
territórios dos machos são pequenos e agregados, nos quais os machos executam as
5
exibições a partir de poleiros, utilizados para destacar sua presença em um ambiente
dominado por gramíneas (Dias et al. 2009).
Cada um dos machos se encontra associado a uma fêmea e ambos constroem o
ninho dentro do território defendido pelo macho, ambos cuidam da prole. Um fator
interessante é que apesar do macho estar envolvido com uma fêmea, formando um par
social, ele continua executando exibições, função que tem sido atribuída à possível
atração de outras fêmeas devido à alta incidência de cópula extra-par na espécie
(Carvalho et al. 2006, Almeida & Macedo 2001, Dias et al. 2010). A configuração de
agregação de ninhos do tiziu sugere que seu sistema socialmente monogâmico se
enquadraria no conceito de leks escondidos (Wagner 1998, Almeida & Macedo 2001),
embora ainda não se tenha dados suficientes para confirmar essa hipótese.
Aparentemente, redução de predação não é o mecanismo que está determinando a
agregação de machos nas populações estudadas até o momento (Dias et al. 2010).
Uma ideia bastante comum na seleção sexual é que as fêmeas escolhem os
machos com base nas diferenças sutis de suas exibições ou outros indícios indiretos.
Uma possibilidade é que fêmeas escolheriam os machos mais vigorosos e seriam
aqueles que conseguem ser detectados primeiro (Dale & Slagsvold 1990), nesse sentido,
Darwin (1871) propôs que as exibições mais elaboradas evoluíram para aumentar o
sucesso reprodutivo de machos (Barske et al. 2011), mesmo considerando que na
maioria dos casos as atividades de cortejo são energeticamente caras e requerem um alto
investimento dos machos (Wilson 1975). Existem exemplos em aves em que as fêmeas
exibem preferência por machos de territórios centrais, que possuem uma alta taxa de
exibição, aspecto que ressaltaria as características intrínsecas do macho (Halliday
1983).
Embora em muitas ocasiões seja difícil estabelecer a relação entre os detalhes da
exibição elaborada, como o vigor do desempenho e a relação com a escolha pela
fêmea,pesquisas feitas para espécies que apresentam exibições acrobáticas (Barske et al.
2011) demonstraram que as habilidades motoras são importantes indicadores da
qualidade dos machos. Assim, é plausível assumir que esta característica (i.e., a
qualidade da exibição) seria um indício indireto da qualidade do macho. Neste caso é
possível pensar que a presença de vários machos se exibindo simultaneamente geraria
6
uma variedade de opções e respostas das fêmeas na escolha do melhor macho (Wilson
1975).
Baseado nas teorias propostas anteriormente e nas observações feitas para o tiziu
foram propostos os seguintes objetivos neste estudo:
• Testar se os parâmetros comportamentais de machos e fêmeas de tiziu são
influenciados pelo tamanho do território do macho e pela densidade de machos
nos agregados (conjuntos de territórios próximos uns dos outros). Como hipótese
de trabalho associada, foi assumido que a taxa de exibição dos machos deve
aumentar na medida em que o número de machos nos agregados também
aumenta.
• Verificar se machos detentores de territórios que estejam agregados (com maior
número de vizinhos) apresentarão uma maior taxa de exibição que os machos
detentores de territórios mais isolados. Como hipótese de trabalho associada,
espera-se que machos que possuam mais vizinhos irão despender mais energia
(medido pela taxa de exibição) na defesa dos mesmos. Também, é esperado que
machos que consigam estabelecer territórios maiores sejam os que tenham
maiores probabilidades de estabelecer um ninho.
• Verificar se machos detentores de maiores territórios terão maiores chances de
acasalar mais cedo no período reprodutivo. Como hipótese de trabalho
associada, espera-se que o tamanho do território seja um indicador da qualidade
do macho e que isto reflita no sucesso de nidificação dos machos. Assim, é
esperado que machos com maiores territórios serão aqueles com maior sucesso
de acasalamento (avaliado pela formação de pares reprodutivos e subsequente
estabelecimento de ninho).
MATERIAL E METODOS
Área de estudo
O estudo foi feito no Brasil central, na Fazenda Água Limpa - FAL (15°57’ S
47°56’ O) em uma área de 3.700 ha localizada aproximadamente a 32 km da cidade de
Brasília, Distrito Federal e de propriedade da Universidade de Brasília - UnB. O local
de estudo foi visitado desde o começo de outubro de 2010, período que coincide com o
começo da estação chuvosa e o início da estação reprodutiva do tiziu, até o final de abril
7
de 2011, compreendendo uma estação reprodutiva do tiziu. Embora a FAL seja
composta por diversos ambientes nativos como o campo limpo, cerrado sentido restrito
e matas de galeria (Ratter 1991), o local escolhido para o estudo está coberto
principalmente por vegetação alterada (capinzal em um pomar abandonado). A área
escolhida vem sendo monitorada desde 1995 através de diversos projetos associados
com o Laboratório de Comportamento Animal do Departamento de Zoologia da UnB
(LCA-Zoo), e é favorável ao estabelecimento de territórios de tizius durante a época
reprodutiva.
Na área de estudo foi instalada uma grade com 86 estacas espaçadas por 20 m.
Para facilitar a localização das aves e delimitação dos territórios, cada estaca foi
identificada por uma letra e número (Figura1). Um segundo local de estudo foi situado
próximo à barragem da FAL, onde foram marcados cinco pontos de amostragem
(Figura2) com a ajuda de um GPS (Garmin modelo 12XL) e afastados entre si em 50 m.
Círculos concêntricos com diâmetro de 10 m foram feitos ao redor desses pontos, e
determinados os quatro pontos cardinais (N, S, L, O), para ter uma referência espacial
dos locais de interação dos tizius.
Coleta de dados
Marcação de indivíduos
Para capturar os indivíduos foram usadas redes de neblina (12 m por 2,5 m
malha 16 mm) que foram abertas antes do amanhecer. Os indivíduos capturados foram
marcados com uma combinação única de 3 anilhas coloridas e uma anilha metálica
(CEMAVE -Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves). Este protocolo é o
mesmo que vem sendo utilizado pelo LCA-Zoo para estudos com a espécie na FAL.
Além da marcação individual, medidas morfométricas foram tomadas para possíveis
estudos futuros e outras pesquisas realizadas paralelamente. O local de captura do
macho foi incluído na planilha e georeferenciado com ajuda de um GPS.
Observações comportamentais
O método de observação focal foi usado para a coleta de dados dos machos no
local de estudo. Durante 30 minutos foram anotadas as seguintes variáveis: código de
cores de marcação do macho, número de saltos ou vocalizações no período de
observação (minutos), presença de fêmea na área, número de interações agonísticas com
outros indivíduos e, quando possível, a identidade do intruso. Outros comportamentos
8
presenciados também foram anotados: as chamadas de contato entre os indivíduos,
perseguições, cópulas, forrageamento e alimentação do filhote. No início, metade e final
de cada período da observação focal, foram anotadas também o número de machos
vizinhos vocalizando ou fazendo exibições em um raio aproximado de 50 metros.
Em alguns casos, outros eventos que poderiam alterar o comportamento dos
machos ocorreram dentro da observação focal e portanto também foram considerados
como: presença de predadores, presença de pessoas na área, interrupções devido a
passagem de automóveis próxima á área de estudo, ou outros. Para as analises só foram
usadas as observações focais que tivessem completado os 30 minutos.
Análises dos territórios
Na medida em que a temporada reprodutiva foi avançando, o esforço de captura
com redes de neblina foi concentrado nos locais com maior atividade de machos que
ainda não haviam sido marcados. Assim, os machos que começaram a mostrar
regularidade de exibições nas áreas visitadas foram incluídos nas observações focais e
as características de seus territórios foram anotadas. Para delimitar os territórios, os
poleiros usados pelos machos para as exibições foram numerados e posteriormente
georeferenciados com a ajuda de um GPS. Da mesma forma, todos os locais onde
ocorreram interações agonísticas com outros machos foram identificados e
posteriormente georeferenciados.
Todas as coordenadas obtidas estavam na projeção Universal Transverse
Mercator (UTM e datum WGS 84), sendo que os pontos que delimitaram os territórios
nos agregados foram marcados com um GPS. Os pontos obtidos foram sobrepostos num
mosaico de fotos aéreas de alta resolução espacial (1 metro) cedido pela Agência de
Desenvolvimento do Distrito Federal – Terracap. O mosaico de fotos aéreas, que
representou a situação do Distrito Federal para o ano de 2010, foi importado e
processado com o uso do programa ArcGIS 9.3.1© (ESRI 2009). As áreas dos
territórios dos machos foram calculadas com o método do Polígono Mínimo Convexo
(Odum & Kuenzler 1955, Dale &Slagsvold 1990), que consiste em unir os pontos
formando um polígono para assim obter uma estimativa da localização e área do
território de cada macho.
Para cada território assim definido foram agregadas informações coletadas em
campo (locais de exibições, interações agonísticas e de ninhos) e outras processadas em
9
laboratório (tamanho de território, expresso em metros quadrados). Cabe destacar que
devido ao tamanho amostral reduzido para alguns indivíduos, as estimativas são
conservadoras e os territórios poderiam ter sido maiores em alguns casos.
As agregações foram definidas por grupos de três ou mais territórios de tizius
que estivessem contíguos. Para delimitar as diferentes agregações devia existir
suficiente habitat desocupado que fosse uma barreira visual e acústica entre os machos
fazendo exibições (pelo menos 40 metros). Indivíduos que estavam distanciados mais
de 100 m de qualquer outro macho foram considerados como solitários (Dias et al.
2009).
No meio de dezembro a atividade de exibição dos machos começou a diminuir o
que foi indicativo do começo da etapa de nidificação. Os machos com territórios
identificados no começo da estação foram monitorados regularmente até que fosse
observada a presença contínua de uma fêmea (pelo menos durante três visitas seguidas
ao território), o que foi denominado de sucesso de acasalamento. Posteriormente,
mediante uma busca intensiva em cada território, foram localizados os ninhos de cada
par. Caso houvesse a localização do ninho com ovos dentro, o evento foi considerado
como sucesso de nidificação.
Machos que tiveram uma atividade de exibição regular, mas não conseguiram se
acasalar e nem estabelecer ninho foram considerados sem sucesso de nidificação.
Machos que apareceram na área no começo da temporada reprodutiva, mas não tiveram
uma atividade de exibição regular não foram considerados nas análises e foram
considerados como indivíduos vagantes.
Densidade dos agrupamentos
Estudos anteriores (Maia et al. dados não publicados) determinaram que existem
dois picos de nidificação para os tizius durante a temporada chuvosa, que vai de outubro
a março (meses com índice pluviométrico acima de 100 mm médios ao ano, segundo
dados da estação climatológica do IBGE – disponíveis em www.recor.org.br). Com
base nesse padrão reprodutivo, foram feitas duas contagens de machos fazendo
exibições (1) no final de dezembro; e (2) no começo de fevereiro. Considera-se que os
10
períodos de contagem de indivíduos tenham sido coincidentes com os picos
reprodutivos previamente mencionados e esses foram denominados como T1 e T2.
Foram estabelecidos10 pontos de contagem espalhados em toda a área de estudo.
Como limite de amostragem, foi considerado um raio de 25 m no entorno de cada
ponto, sendo que eles estavam afastados 100 m de distância entre eles. A atividade de
contagem foi feita nas primeiras horas da manhã e foram registrados todos os machos,
com ou sem anilha, que estavam fazendo exibições.
Os pontos serviram para identificar os machos territoriais, que foram designados
de acordo com suas respectivas agregações. Posteriormente os dados das contagens
foram corroborados com observações regulares dos machos na área. Desta forma, foi
assumido que a maioria dos machos na área foi identificada e acompanhada durante as
observações focais.
Análises estatísticas
O programa R 2.3.13 (Development Core Team, 2011) foi usado para todas as
análises estatísticas. Em todos os testes estatísticos a hipótese nula foi rejeitada com um
nível de significância inferior a 5% (P < 0,05).
A taxa de exibição foi usada como a variável resposta em um modelo linear
generalizado elaborado para avaliar a relação desta taxa com o sucesso de nidificação
(indicado pela presença do ninho). Foram usados modelos de regressão linear para
avaliar se a taxa de exibição variou em função da distância do centro do território ao
centro do território mais próximo e também com o tamanho do território.
Da mesma forma, foram usados modelos lineares generalizados para avaliar a
relação entre a taxa de exibição (variável resposta) e o número de vizinhos nos
agrupamentos, área do território e distância mínima entre vizinhos. Finalmente utilizou-
se uma análise de variância fatorial para avaliar como o sucesso ou não de nidificação
estava relacionado com as outras variáveis independentes acima mencionadas.
Os modelos que tiveram resultados significativos foram testados usando-se os
índices de Akaike (AIC) e simplificados com a remoção sequencial de variáveis
(stepwise regression) até que fosse encontrado o modelo significativo mais simples.
Foram feitas análises de variância (ANOVA) para comparar os diferentes modelos que
tiveram os menores valores de AIC, e no caso de não existirem diferenças entre os
11
modelos, foi escolhido o modelo com o menor número de parâmetros (menos
variáveis).
Também foi utilizada uma ANOVA de um fator para avaliar se as diferenças
entre o sucesso de nidificação eram dependentes do tamanho do agregado. Por fim, foi
feita uma ANOVA one way para verificar se existiam diferenças entre os machos que
conseguiram estabelecer ninhos com sucesso ou não em relação a área do território
defendida.
RESULTADOS
Características territoriais
No mês de dezembro, foram avistados os primeiros machos fazendo exibições
na grade. No total foram feitas 70 observações focais de 51 machos. Mas os dados
usados nas analises pertencem a 42 territórios para 40 machos durante toda a temporada
reprodutiva. Dois machos delimitaram novos territórios depois de ter estabelecido o
primeiro com sucesso, e um deles (C53912) mudou de agrupamento na segunda
tentativa. Os territórios foram agrupados em oito agregados (identificados com letra de
A a H) localizados tanto na grade principal quanto próximo à barragem da FAL
(Figura3). Quatro machos não estiveram associados com nenhum agregado e foram
considerados como indivíduos solitários. Os números de machos encontrados em cada
agregado e os solitários estão na Tabela 1. Do total somente 5 machos que estiveram
presentes no primeiro pico reprodutivo (T1) se mantiveram até o segundo pico
reprodutivo (T2).
Observações comportamentais foram feitas para 40 indivíduos machos, dos
quais 23 estavam anilhados e 17 não tinham anilhas. A maioria dos indivíduos de cada
agregado foi identificada. O agregado G foi uma exceção já que possuía uma alta
densidade de machos tornando difícil a identificação de todos os machos e seus
territórios.Por isso as estimativas de tamanho dos territórios nesse agregado e as
observações focais foram restritas somente para aqueles machos anilhados.
12
Tabela 1. Número de machos de tiziu em cada agregado durante a temporada
reprodutiva dos anos 2010-2011
Agrupamentos Machos do período T1
Machos do período T2
A 6 3 B 6 5 C 3 3 D 6 4 E 2 2 F 1 3 G 10 6 H 5 3
Solitários 2 2 Total 41 31
Taxa de exibição
As primeiras exibições reprodutivas observadas em campo começaram no dia 17
de dezembro de 2010 (macho 2D6602). As taxas de exibição tinham uma ampla
variação dentro da população estudada, sendo a mínima registrada de 0,07 saltos/min e
a máxima de 16 saltos/min. Como mencionado anteriormente, muitos desses machos
(n=11) que começaram fazendo exibições na área sumiram subsequentemente, portanto
não foram considerados na análise.
A taxa de exibição não foi significativamente relacionada com o número de
machos registrados em cada agregado (F1,40 =3,23 p=0,08). Essa relação não se alterou
quando a variável tamanho do território foi incluída na análise (F1,37=3,22 p=0,08).
Houve uma diferença altamente significativa na taxa de exibição dos machos que
estavam presentes no primeiro pico reprodutivo (T1) (n=21) com a taxa de exibição dos
machos que ocuparam a área no segundo pico (T2) (n=20), sendo que ocorreu um
aumento na taxa de exibição à medida em que a temporada reprodutiva foi se
aproximando do final (F1,40=9,72 p<0,01) (Figura 4). A taxa de exibição dos indivíduos
que tiveram sucesso de nidificação não diferiu significativamente da taxa de exibição
dos machos que não estabeleceram ninho (t1,40=-1,83; p= 0,07).
13
Figura 4. Taxa de exibição dos machos presentes no pico período reprodutivo (1) e no
pico reprodutivo (2) (F1,40=9,72 p<0,01).
Tamanho do território
Tamanho de território foi bastante variável sendo a área mínima registrada de 12
m2 e a máxima de 735 m2 (n=42, dp=193 m2), também não houve diferença significativa
no tamanho do território defendido pelos machos dos dois picos reprodutivos (F1,40=2,2,
p=0,14).
Ao analisar o tamanho do território em relação ao sucesso de nidificação foi
encontrada uma relação significativa entre as duas variáveis (F1,40=6.55 p <0,01), sendo
que os territórios maiores foram aqueles que apresentaram maiores taxas de sucesso de
nidificação (Figura 5).
Taxa
de
exib
ição
(sal
tos/
min
)
Pico reprodutivo
14
Sucesso
Figura 5. Relação entre o sucesso de nidificação e a área ocupada pelos machos de tiziu
durante a temporada reprodutiva do 2010-2011 (F1,40=6.55 p <0,01).
A partir da elaboração de um modelo de regressão complexo, composto por
todas as variáveis previamente mencionadas, foi feito um procedimento de
simplificação, sendo que o critério de Akaike (AIC) foi utilizado como parâmetro para a
seleção dos modelos (Tabela 2). O modelo mais simples foi composto de três variáveis:
área, agrupamento e taxa de exibição, e o resultado do modelo generalizado linear
mostrou que o sucesso de nidificação não está associado com a distância ao vizinho
mais próximo (z=-0,82 p=0,41) ou com a taxa média de exibição (z=-0,84 p=0,40).
Tabela 2. Resumo da seleção de modelos para avaliara relação entre o sucesso de
nidificação e outras variáveis para os machos de tiziu monitorados na temporada
reprodutiva do 2010-2011.
Modelo k AIC
Sucesso(area+exibiçãototal+agrupamento+distancia+exi.x) 5 55,22
Sucesso(area+exibiçãototal+agrupamento+distancia) 4 53,35
Sucesso(area+exibiçãototal+agrupamento) 3 52,24
Obs.: k = número de parâmetros
Em relação ao sucesso de nidificação, observou-se que quanto maior era o
tamanho dos agrupamentos, ou seja, quanto maior era o número de machos presentes,
menor era a probabilidade de estabelecimento de um ninho com sucesso (Figura 6 e
Figura 7). Nesta analise foi possível observar que a relação foi significativa para as
Áre
a (m
2 )
semcom
15
variáveis área do território (GLM, Z=2,01, p< 0,05) e tamanho do agregado (GLM, Z=-
2,06, p< 0,05).
Figura 6. Número de machos em cada agrupamento em relação ao sucesso de
nidificação.
DISCUSSÃO
Os resultados mostraram que existem diferentes quantidades de machos em cada
um dos agregados e como consequência as áreas dos territórios defendidos por eles
possuem tamanhos muito variáveis. Mais indivíduos foram encontrados nas diferentes
áreas do que subsequentemente se estabeleceram com territórios o que sugere que há
um limite no número de territórios que podem ser mantidos na área de estudo. A
presença desses indivíduos tidos como vagantes pode ser resultado da exclusão
territorial por machos dominantes.
A presença dos vagantes talvez seja resultante do excesso de indivíduos adultos
em uma área onde existem fatores limitantes para o estabelecimento dos
territórios,como acontece em outras espécies socialmente monogâmicas que possuem
altas taxas de copula extra-par (Tachycineta bicolor [Dunn et al. 1994, Barber &
Robertson 1999]). Nossos resultados mostram que menos da metade dos machos
capturados permaneceu na área e a presença temporária deles pode representar uma
Sucesso de nidificação
Num
ero
de m
acho
s em
ca
da a
greg
ado
semcom
16
estratégia oportunista, através de tentativas de cópulas com fêmeas na área antes de se
deslocarem para áreas menos densas (Dunn et al. 1994, Barber & Robertson 1999).
Em espécies territoriais que agregam vários machos se exibindo
simultaneamente, variações na taxa de exibição foi o melhor preditor de escolha pelas
fêmeas (Wilkelski et al. 2001). Geralmente as fêmeas preferem os machos com maiores
taxas de exibição, provavelmente porque esses machos são mais conspícuos no
momento da escolha pela fêmea ou porque essa exibição indica honestamente a
qualidade do macho. Diferentemente do esperado, a taxa de exibição dos indivíduos que
ficaram na área de estudo teve ampla variação sem estar diretamente relacionada com as
situações de diferentes densidades de vizinhos.
Porém, Wilkelski et al. (2001) argumentam que o processo de coleta de
informação pelas fêmeas é custoso e devido ao curto período reprodutivo as fêmeas
escolhem somente um subgrupo de machos potenciais. Essas observações concordam
com o padrão observado em nosso estudo, pois a taxa de exibição não foi influente no
sucesso de nidificação. A taxa de exibição dos tizius machos na população estudada foi
variávele a decisão de escolha por fêmeas pode ocorrer em função do momento da visita
e as interações dos machos com outros conspecíficos (Wilkelski et al. 2001).
De acordo com os resultados obtidos, a taxa de exibição não foi influenciada
pela densidade de vizinhos. Por exemplo, em uma situação experimentalmensurando
efeitos de aglomeração e alta densidade de uma espécie poligínica (Rhodeus ocellatus
[Casalini et al. 2010]) foi observado que a intensidade de exibição pelo macho
influenciou a escolha da fêmea e tal taxa aumentou quando a densidade de machos se
manteve baixa. Nas situações de altas densidades, entretanto, as taxas de exibição
geralmente diminuem como resposta ao trade-off de defender o território em face a
competidores e a atração de parceiros. Na maioria dos casos e para muitas espécies a
taxa de exibição dos machos é sensível à variação do número de rivais (Casalini et al.
2010), sabendo que a competição por território pode ser diferente da competição por
obtenção de parceiros e a taxa de exibição pode ter ser útil para ambos propósitos.
Os tizius poderiam ser parte de um cenário diferente, em que machos territoriais
enfrentam situações de altas densidades e eventualmente conseguem reconhecer os
vizinhos próximos, sendo as exibições então dirigidas às fêmeas e não primariamente à
defesa territorial ou competição com outros machos. Essas respostas têm sido
17
encontradas para outras espécies que investem nos esforços territoriais só contra
intrusos recentes na área e conseguem tolerar mais facilmente indivíduos já conhecidos
de territórios adjacentes (Fisher 1954, Eason & Hannon 1994).
Por outro lado, sabe-se que a honestidade de um sinal sexual pode ser alterada
nas situações de grande densidade de machos executando exibições, como foi
encontrado em corujas da espécie territorial Bubo bubo (Penteriani 2003). Assim, a
mensagem associada às exibições (se para atração, defesa ou repulsa) é dependente da
densidade e dos contextos ambiental e social.
Provavelmente a escolha ativa pelas fêmeas, depois de vários parceiros terem
sido avaliados, esteja impondo uma pressão adicional na execução da exibição, como
foi documentado em outras espécies que possuem sistemas de vários machos se
exibindo ao mesmo tempo (Centrocercus urophasianus [Gibson 1996]).A chegada de
machos numa área com vários casais já estabelecidos, portanto com menor
disponibilidade de fêmeas e menores chances de se obter um território antes do final da
temporada reprodutiva, pode ter resultado em uma maior taxa de exibição de indivíduos
que se estabeleceram tardiamente, já que as taxas foram maiores nos indivíduos que
apareceram no segundo pico reprodutivo.
O fato de que os machos que possuíam territórios menores também tiveram
menores taxas de sucesso de nidificação se estavam nos agregados com muitos machos,
pode ter relação com a presença conspícua deles para os predadores (Danchin &
Wagner 1997), é razoável supor que existe um limiar no qual as agregações não trazem
benefícios para os membros dos grupos e os custos de predação aumentam.
A predação poderia estar relacionada à atividade de exibição dos machos, usada
pelos predadores para achar os ninhos (Dias et al. 2010), além disso, o fato dos
agregados com um número elevado de machos terem territórios mais concentrados
facilitaria o acesso a vários territórios quase simultaneamente para um predador aéreo
ou de grande tamanho. Possivelmente, a baixa taxa de sucesso de nidificação
encontrada reflete a alta predação documentada anteriormente nesta espécie (Aguilar et
al. 2008).
Neste estudo também foi encontrado que machos com territórios maiores
tiveram maiores chances de sucesso de nidificação, esse resultado está de acordo com
18
outros estudos de sistemas de machos agregados que mostraram que o tamanho do
território é um importante preditor da escolha da fêmea e o posterior estabelecimento de
ninho (Robel 1966, Price 1984).
As características territoriais podem estar correlacionadas com aspectos da
qualidade de cada macho e manter um território de grande tamanho pode acarretar altos
custos e para as fêmeas pode ser indicador indireto da capacidade do macho de
sobreviver e de sua qualidade como futuro pai (Price 1984).A ampla variação no
tamanho do território poderia estar associada à habilidade individual em manter os
limites territoriais, por sua vez determinadas pela experiência, idade ou condição física
superior, como foi encontrado para outras espécies (Ficedula hypoleuca [Dale &
Slagsvold 1990]). Ademais, esta habilidade física é mais evidente para as fêmeas na
medida em que a proximidade territorial entre machos é mínima, permitindo
comparações entre eles (Kokko & Rankin 2006). Porém, existem estudos com aves que
não encontraram uma relação entre a preferência das fêmeas pelos machos que
conseguiam manter territórios maiores (Ficedula hypoleuca [Dale & Slagsvold 1990])
Os tamanhos dos territórios achados neste estudo foram bem maiores do que
aqueles registrados em estudos anteriores (Murray 1982, Wilczynski et al. 1988,
Almeida & Macedo 2001). É provável que tamanho territorial resulte de circunstâncias
particulares em cada região e período reprodutivo, pode ser que exista uma variação
importante na capacidade de defesa territorial de cada indivíduo, da qualidade do
território escolhido ou do uso de habitat pela população de tizius em cada época
reprodutiva. Em estudos feitos com outras espécies ao longo de vários anos (e.g.,
Poecile atricapilla; Menill et al. 2004) os tamanhos de território foram muito variáveis
entre anos e tal variação estava relacionada com as densidades populacionais. No
mesmo estudo (Menill op. cit.) os territórios maiores indicavam a maior posição
hierárquica do macho e sua capacidade de defender uma área extensa ou de manter os
intrusos afastados dos recursos presentes no seu território. Neste sentido, o tamanho do
território pode não ter uma relação direita com a qualidade do mesmo.
Alguns autores sugeriram que a seleção sexual favorece a agregação de machos
porque facilita a escolha de parceiro social (Tarof et al. 2004, Kokko & Rankin 2006),
então, neste sentido, o estabelecimento de um macho dentro de uma agregação poderia
19
ser vista como uma estratégia adaptativa, sobretudo em espécies nas quais a capacidade
de escolha das fêmeas tem uma limitação temporal.
É possível inferir que existe um limite no número de indivíduos que ocupam
determinada área restrita, pois algumas pesquisas têm demonstrado que indivíduos que
se estabelecem no final da temporada precisam investir maiores esforços em defesa
territorial (Eason & Hannon 1994). Neste estudo foi encontrado que nos agregados com
maior número de machos territoriais as possibilidades de estabelecer um território com
sucesso de nidificação diminuíram. É provável que um número maior de machos nos
agregados exija um gasto de energia adicional para os donos de cada território na
manutenção dos limites territoriais. Todavia, também é esperado que o investimento em
delimitação territorial gradualmente decline com o tempo devido à familiaridade entre
vizinhos (Eason & Hannon 1994). Uma evidência de que existe familiaridade entre os
vizinhos nos agregados são as semelhanças encontradas nos padrões de vocalização
entre os tizius (Souza Dias 2009) e as poucas interações agonísticas presenciadas neste
estudo.
20
Figura 1. Mapa da área de estudo (grade) mostrando as estacas que serviam como referencia espacial dos territórios dos tizius.
21
Figura 2. Mapa da segunda área de estudo mostrando os cinco pontos de referencia dos territórios dos tizius.
22
Figura 3. Mapa dos agregados de territórios (indicados pelas letras A-H) e (S) indivíduos solitários de tizius na temporada reprodutiva 2010-2011. Cada polígono indica um território de tiziu, os ninhos apresentados são aqueles cujo dono não foi identificado e da mesma forma os pontos laranja correspondem aos poleiros de machos donos de territórios com dados insuficientes
23
Figura 7. Mapa do sucesso de nidificação dos tizius na temporada reprodutiva 2010-2011. 0= sem sucesso, 1=com sucesso.
TERRITORIOS
SUCESSO DE NIDIFICAÇÃO Metros
24
CAPÍTULO2 INFLUÊNCIA DAS CARACTERÍSTICAS DA PAISAGEM E ESTRUTURA DA
VEGETAÇÃO SOBRE OS PARÂMETROS COMPORTAMENTAIS E SUCESSO
DE NIDIFICAÇÃO NO TIZIU- Volatinia jacarina
25
INTRODUÇÃO
Muitos animais se agregam junto a conspecíficos em resposta aos fatores ambientais
e sociais (Mennill et al. 2004). Em espécies territoriais, as agregações podem refletir as
variações locais de densidade de recursos, sendo que a presença de machos já estabelecidos
ou conspecíficos dominantes poderia servir como um indicador da qualidade do habitat
para aqueles indivíduos que vão tentar se estabelecer numa determinada área (Kleindorfer
& Dudaniec 2009). Neste sentido, e para elucidar alguns aspectos das agregações, algumas
hipóteses têm sido propostas para explicar a seleção de habitat como força principal na hora
do estabelecimento de territórios (Herremans 1993, Danchin & Wagner 1997, Roth & Islam
2007).
As hipóteses de escolha do habitat ótimo para explicar agregações argumentam que
se a seleção do habitat é a razão para o agrupamento, seria esperado que a seleção de
territórios fosse baseada principalmente em características dominantes da paisagem
coincidindo com o habitat ideal para a espécie. No entanto, se os fatores sociais, como a
presença de conspecíficos, proteção contra predação, acasalamentos extra-par, etc. têm um
papel importante na agregação, as características paisagísticas não necessariamente serão
selecionadas (Roth & Islam 2007). Nesta condição, os benefícios da sociabilidade devem
compensar os custos da vida gregária, a maioria das hipóteses sugere que as agregações,
servem para evitar predadores ou as chances de um indivíduo ser predado diminuem pelo
efeito da diluição (Danchin& Wagner 1997, Kleindorfer & Dudaniec 2009).
Os padrões de distribuição de locais reprodutivos das espécies animais são o
resultado das decisões individuais na escolha do local de nidificação, que se baseiam
sobretudo na escolha do microhabitat, onde os indivíduos confiam nos sinais físicos do
ambiente que indicam a qualidade do local disponível, até a integração de múltiplos fatores
como a presença de conspecíficos (Danchin & Wagner 1997).
No caso dos habitats homogêneos é possível pensar que animais com acesso à uma
determinada área irão por ela se espalhar uniformemente, caso o ambiente seja contínuo.
Baseada nessa premissa, a hipótese de agregação tradicional propõe que os indivíduos
26
começam a colonizar as áreas mais adequadas e usam as características físicas do ambiente
como indicadores de qualidade (Danchin& Wagner 1997).
Em muitos casos, a distribuição dos territórios pode ser considerada como o
resultado de um fenômeno comportamental envolvendo estímulos e respostas, nesses casos,
a disponibilidade do habitat será determinada por outros fatores, como a ocorrência de
fontes alimentares, os possíveis predadores presentes e a densidade de conspecíficos. Por
outro lado, é claro também que os indivíduos que tentam se estabelecer numa área onde
existem outros indivíduos que chegaram antes, não avaliam a área com a mesma
perspectiva que os já residentes (Fretwell & Lucas 1969). Nesse sentido, a densidade
existente pode consistir em uma pressão seletiva muito forte sobre os indivíduos;
dependendo da espécie, a densidade pode ser considerada um fator mais importante nas
escalas locais (Kokko & Rankin 2006), enquanto os padrões de agregação seguem escalas
maiores da paisagem (Vickery et al. 2009).
Na medida em que o habitat preferido vai ficando saturado prevê-se que os
indivíduos potencialmente reprodutivos que chegam depois dos ambientes estarem
ocupados podem tanto escolher um habitat secundário ou podem continuar se comprimindo
nos habitats ideais (Vickery et al. 2009).
Os benefícios da vida gregária podem ultrapassar o limiar ideal e um tamanho de
grupo maior irá impor maiores custos aos membros do agregado. Neste caso os primeiros
colonizadores tentam ocupar um local de alta qualidade que é saturado rapidamente; na
medida em que os novos indivíduos chegam, mudam a percepção de qualidade do habitat
para o restante dos animais que chegam posteriormente. Com estas limitações os animais
não podem avaliar todos os locais simultaneamente e provavelmente usam diferentes
opções para discriminar entre os locais disponíveis (Nocera et al. 2009),isso pode ter como
resultado final uma distribuição espacial que não necessariamente reflete a qualidade do
habitat (Nocera et al. 2009, Vickery et al. 2009).
As primeiras hipóteses para explicar as agregações espaciais tinham relação com os
recursos agrupados (Tarof et al.2004, Melles et al. 2009), apesar de alguns trabalhos terem
testado as possíveis descontinuidades nas características da vegetação para explicar os
27
padrões de agregação em espécies socialmente monogâmicas, resultados sugeriram que os
padrões estavam mais relacionados à socialidade do que às características do habitat (e.g.
Tarof et al. 2004). Indivíduos podem obter informações sobre parceiros ou qualidade de
habitat dos conspecíficos na vizinhança (Danchin et al. 2004, Melles et al. 2009), pressões
da seleção sexual também podem influenciar a escolha de aves por agrupamentos com
diferentes densidades (Tarof et al. 2004, Melles et al. 2009).
Para exemplificar essas teorias, um estudo com aves granívoras focado nos habitats
usados pelas aves (Cunningham & Johnson 2006), descreve as características mais
destacadas dos territórios, como os poleiros para canto e os lugares de nidificação. Nesse
caso, tais fatores foram aqueles que mais afetaram os padrões de distribuição e a
abundância de indivíduos. São poucos os estudos que abrangeram estas características num
nível de escala maior; achar esses padrões de resposta pode fornecer informação sobre os
mecanismos pelos quais as aves em conjunto respondem ao ambiente circundante (Barg et
al. 2006).
A competição pela aquisição de um parceiro reprodutivo pode promover
asagregações, especialmente naquelas espécies que possuem uma estratégia mista de
reprodução; esse é o caso das espécies que se acasalam e formam um par principal e, ao
mesmo tempo, tentam copular com outros indivíduos. A tendência de fazer territórios
agregados em várias espécies de aves tem levantado novamente a importância de abordar
os estudos avaliando o papel dos fatores bióticos e sociais na determinação dessas
distribuições (Melles et al. 2009).
Uma espécie neotropical que possui este tipo de características como reprodução
altamente sincrônica e vários territórios contíguos num habitat aparentemente homogêneo,
é o tiziu- Volatinia jacarina (Linnaeus 1766). No tiziu os territórios dos machos geralmente
são pequenos e agregados, onde os machos executam exibições em poleiros que destacam a
presença deles num ambiente dominado por gramíneas (Dias et al. 2009). A configuração
de agregação de territórios na espécie juntamente com construção de ninhos dentro dos
territórios e investimento biparental indica que se trata de um sistema socialmente
monogâmico, mas que se assemelha a um lek (Almeida & Macedo 2001). As evidências de
28
que ocorre fertilização extra-par em larga escala (Carvalho et al. 2006) sugere que o padrão
de agregação da espécie pode configurar-se como um lek escondido (Wagner 1998).
Pesquisas feitas com o tiziu (Almeida & Macedo 2001) encontraram diferenças
entre as áreas ocupadas por territórios quando foram comparadas às áreas adjacentes
desocupadas. As autoras sugeriram que existem características da vegetação local que são
selecionadas pelos indivíduos, e os resultados apontaram que em áreas ocupadas havia um
percentual bem maior de gramíneas altas (45%), em comparação com áreas não ocupadas
por territórios (14%). Já as características dentro dos territórios foram bastante homogêneas
(Almeida& Macedo 2001), mas cabe pensar que algumas diferenças sutis na composição da
vegetação dentro dos territórios, além das características da paisagem, poderiam influenciar
alguns parâmetros comportamentais dos indivíduos, como a taxa de exibição.
Em outras espécies socialmente monogâmicas (Empidonax minimus [Tarof et al.
2004]) as características da vegetação não influenciaram os padrões de agregação. Mas em
espécies que habitam territórios com uma vegetação mista de diferentes estratos existem
características estruturais que influenciaram a disposição dos territórios (Dendroica
caerulea, [Roth & Islam 2007]). Nesse sentido, é possível inferir que algumas
características na menor escala poderiam influenciar os comportamentos de exibição dos
machos (Heindl & Winkler 2003).
Foram propostos os seguintes objetivos para o presente estudo:
• A agregação territorial e o tamanho dos territórios são influenciados por alguma
característica marcante da paisagem. As predições são de que os territórios estarão
agrupados seguindo alguma característica marcante da paisagem na qual estão
inseridos, tais como presença de corpos de água, tipo de vegetação circundante ou
proximidade às perturbações antrópicas. Da mesma forma, considerou-se que
diferenças na estrutura da vegetação dentro dos territórios influenciam o
comportamento do macho ou, no caso do estudo, a taxa de exibição. A predição
feita é de que a taxa de exibição irá variar de acordo com as condições de cobertura
e complexidade da vegetação e de acordo com o número de poleiros encontrados
dentro do território de cada macho.
29
MATERIAL E MÉTODOS
Área de estudo
O estudo foi feito no Brasil central, numa área localizada na Fazenda Água Limpa-
FAL (15°57’ S 47°56’ O), propriedade da Universidade de Brasília - UnB. A FAL possui
uma área de 3.700 ha e situa-se a aproximadamente 32 km da cidade de Brasília, Distrito
Federal. O estudo foi feito durante a temporada reprodutiva entre outubro de 2010 e abril de
2011. Embora a FAL seja composta por diversos ambientes nativos, como o campo limpo,
cerrado sentido restrito e matas de galeria (Ratter 1991), o local escolhido para o estudo
está coberto principalmente por vegetação alterada (capinzal).
No local de estudo foram delimitados territórios de machos marcando com fita
colorida os locais onde esses realizavam suas exibições comportamentais. Os machos foram
identificados pelas combinações de anilhas coloridas ou pela posição do território (ver
Capítulo 1). Posteriormente, esses locais foram georeferenciados usando um aparelho com
sistema de posicionamento geográfico (GPS) Garmin modelo 12 XL. Todas as coordenadas
obtidas estavam na projeção Universal Transverse Mercator (UTM e datum WGS 84). Os
territórios e localização dos poleiros e ninhos foram sobrepostos em um mosaico de fotos
aéreas de alta resolução espacial (1 metro) cedido pela Agência de Desenvolvimento do
Distrito Federal – Terracap. O mosaico de fotos aéreas, que representou a situação do
Distrito Federal para o ano de 2010, foi importado e processado com o uso do programa
ArcGIS 9.3.1© (ESRI 2009). Com este mesmo programa foi calculada a área de cada
território e também determinado o centroide dos polígonos correspondentes.
Os machos foram classificados de acordo com o sucesso (estado = 1) ou fracasso
(estado = 0) de nidificação, quer dizer, que os territórios considerados com sucesso foram
aqueles nos quais foi localizado pelo menos um ninho com ovos (Figura1).
30
Observações comportamentais
O método de observação focal foi usado para a coleta de dados referentes a machos.
Durante 30 minutos foram anotadas as seguintes variáveis comportamentais: código de
cores do macho e número de saltos e/ou vocalizações. O número de saltos por período de
observação focal foi denominado como taxa de exibição (no.de saltos/minuto). Para as
análises somente foram usadas as informações que completaram os 30 minutos de
observação.
Análises das imagens georeferenciadas
Foi utilizado um mosaico de fotos aéreas de alta definição da área de estudo
correspondente à época de estudo no final de 2010. Com ajuda do programa IDRISI
Taiga© (Eastman 2009) a imagem foi importada e decomposta em três bandas (azul, verde
e vermelho). As bandas foram utilizadas em uma análise de componentes principais para a
criação de novas imagens não correlacionadas. O objetivo da análise foi a eliminação dos
ruídos normalmente gerados durante a fase de imageamento (Eastman 2009). A imagem
obtida do primeiro componente principal, que abrangeu 99% da variância das imagens
originais, foi usada para fazer todas as análises espaciais e os mapas apresentados.
Medidas da paisagem
Os programas ArcGis 9.3.1© (ESRI 2009) e IDRISI Taiga© (Eastman, 2009) foram
utilizados para o cálculo de seis medidas da paisagem na região dos territórios
estabelecidos pelos machos de tiziu. As medidas da paisagem utilizadas foram os elementos
mais conspícuos da imagem, pudendo ser formações naturais ou elementos de origem
antrópico. A primeira medida utilizada foi a heterogeneidade da matriz que representa a
diversidade de elementos contidos numa área selecionada da imagem (representados pelo
número digital do pixel). A heterogeneidade foi expressa pelo índice de Shannon- H’ (Burel
&Baudry 2003), tendo sido escolhida uma janela de área 3 x 3 m para o cálculo do mesmo.
Assim, áreas mais homogêneas possuíram o mesmo valor de H’ e áreas mais heterogêneas
possuíram diferentes valores de H’. Cada território delimitado na área de estudo foi cruzado
com o mapa da heterogeneidade espacial, e para a caracterização de cada território foi
selecionado o valor máximo da heterogeneidade (Hmax). Foi assumido que o valor de
31
heterogeneidade representa a diversidade da estrutura de vegetação (diferentes tipos de
estratos vegetais) dentro dos territórios dos machos.
A segunda métrica obtida foi o índice de vegetação de diferença normalizada
(NDVI das siglas em inglês), a qual reflete a medida da biomassa vegetal contida dentro da
área analisada e, portanto dentro dos territórios dos machos. O índice é baseado nas
relações de reflectância espectral entre os diferentes tipos de vegetação (Crippen 1990). A
medida varia entre -1 e 1, e os valores são maiores na medida em que a vegetação arbórea é
mais densa.
As outras quatro métricas calculadas são baseadas na posição relativa dos territórios
na paisagem. Usando-se o centroide do território como referência, foram calculadas as
distâncias de cada um dos territórios até: o rio mais próximo, a vegetação mais densa,
estradas e a represa existente nas proximidades da área de estudo. Assim, procurou-se
observar se alguma destas características da paisagem estaria influenciando a aglomeração
dos territórios defendidos pelos machos.
Medidas da vegetação local
Dentro de cada um dos territórios foram calculadas outras variáveis espaciais
(escala local ou filtro fino) que poderiam influenciar alguns padrões da exibição sexual dos
machos. Os territórios previamente marcados foram visitados após a temporada reprodutiva
(abril de 2011), dentro do território foram contabilizados, marcados e georeferenciados
todos os poleiros utilizados pelos machos. Além disso, foram obtidos para cada território: a
altura média dos poleiros, a altura da árvore mais alta, espaçamento entre as árvores, altura
média do capim, altura média dos arbustos e número de árvores. Todas as medidas da
vegetação foram tomadas numa parcela circular com um raio de 5 m a partir do centróide
do território. Nos territórios que apresentaram uma área maior a 50 m2 foram feitas de duas
até três parcelas de raio 5 m afastadas pelo menos 20 m entre elas. Neste caso foi usada a
média dos valores obtidos para todas as parcelas para finalmente se obter um valor para
cada território.
32
Análises dos dados
Quando são analisados dados espaciais de áreas muito próximas geralmente ocorre
um problema de autocorrelação espacial (Moran 1950). Considerando esse aspecto, as
variáveis utilizadas nos modelos estatísticos (taxa de exibição e área de território) foram
analisadas com o programa SAM© (Rangel et al.2010) para a verificação de possíveis
autocorrelações espaciais nas medidas obtidas em campo. Foi utilizado o I de Moran
(Moran 1950) para medir a correlação de variáveis entre localidades espacialmente
próximas, sendo que os valores próximos a -1 indicam dados dispersos, os próximos a +1
dados correlacionados, e o valor de zero indica um padrão espacial ao acaso.
Foi usada uma análise de correspondência canônica para relacionar a taxa de
exibição e a área do território como variáveis resposta com as métricas da paisagem obtidas
para cada território, como variáveis explanatórias. Seguindo os procedimentos dados por
Borcard et al. (1992), foram usadas as coordenadas geográficas de cada território como
covariáveis dentro da analise de correspondência canônica para controlar a correlação
espacial da distribuição dos territórios em relação ao gradiente espacial.
Depois dessa analise, foi feito um modelo misto generalizado para testar a relação
entre as métricas da paisagem de cada território e o sucesso de nidificação. Os modelos que
tiveram resultados significativos foram testados usando os índices de Akaike (AIC) e
simplificados com a remoção sequencial de variáveis (stepwise regression) até que fosse
encontrado o modelo significativo mais simples.
Foi feita uma análise de componentes principais das variáveis locaispara
caracterizar os territórios dos machos. Para tanto, foram utilizadas as variáveis: altura de
arbustos, altura de capim, número de poleiros, número de árvores, altura da árvore mais
alta, altura dos poleiros e distância ao território mais próximo. Foi usada uma análise de
correspondência canônica para relacionar a taxa de exibição e a área do território com as
variáveis locais de vegetação de cada território, adicionando as coordenadas geográficas
como covariáveis para controlar a correlação espacial. Com base nos resultados da análise
anterior foi feita uma regressão múltipla para determinar se a taxa de exibição estaria sendo
33
influenciada pelas variáveis da vegetação local selecionadas nos modelos de
correspondência canônica.
Todas as variáveis foram testadas para normalidade com o teste de Shapiro-Wilks, e
no caso de não-normalidade, foram submetidas a uma transformação logarítmica. Possíveis
outliers foram identificados por meio dos gráficos de resíduos e usando os valores
dadistância de Cook. Os gráficos dos resíduos também foram analisados para possíveis
desvios de homocedasticidade.
Todas as análises estatísticas foram feitas com o software R 2.3.13 (Development
Core Team, 2011) e para todas as provas estatísticas a hipótese nula foi rejeitada num nível
de 5% (p< 0,05).
RESULTADOS
No total foram identificados 42 territórios para 40 machos durante toda a temporada
reprodutiva. Dois machos delimitaram novos territórios depois de ter estabelecido o
primeiro com sucesso, e um deles (C53912) mudou de agrupamento na segunda tentativa.
Os territórios foram agrupados em oito agregados (identificados com letra de A a H ver
Capitulo 1) localizados tanto na grade principal quanto próximo à barragem da FAL.
Quatro machos não estiveram associados com nenhum agregado e foram considerados
como indivíduossolitários.
Tamanho do território e padrões de agregação em função da paisagem
Os dois primeiros eixos da análise de componentes principais das métricas de
paisagem para os 42 territórios de tiziu explicam 97% da variação dos dados, sendo 90%
34
referente ao primeiro eixo. Este componente teve dois elementos que influenciaram
fortemente o tamanho dos territórios: distância para a represa e distância aos rios.
Os territórios menores estavam mais agrupados e próximos aos corpos de água do
que os territórios maiores. Ambos os elementos de paisagem também estavam
representados no eixo dois, mas com uma influência menor da distância às estradas (Figura
2).O gráfico abaixo (Figura 2) também mostra que os territórios se distinguem em dois
grupos (um com valores positivos e outro com valores negativos no primeiro componente
canônico). Os territórios menores estão localizados mais próximos à represa, variável que
esteve negativamente correlacionada com o primeiro componente principal.
Figura 2. Gráfico dos componentes ambientais para seis métricas de paisagem dos
territórios de tizius na temporada reprodutiva 2010-2011.
35
Os resultados da análise de autocorrelação espacial encontrou muitos valores
positivos acima de zero, o que indica alta correlação espacial influenciando as variáveis
independentes (Figuras3 e 4).
Figura 4.Índice de Moran para a área do território dos tizius, os valores encontrados dentro
da faixa cinza escuro indicam alta autocorrelação espacial num intervalo de 95% de
confiança.
Figura 3. Índice de Moran para a taxa de display, os valores encontrados dentro da faixa
cinza escuro indicam alta autocorrelação espacial num intervalo de 95% de confiança.
Unidade de distancia
Unidade de distancia
Í. de
Mor
an
Í. de
Mor
an
36
A análise de correspondência canônica indicou que a agregação dos territórios
explicada pelas métricas da paisagem só explica o 15% dos dados. O primeiro fator da
correspondência canônica explica 96% das variáveis, sendo que neste caso as variáveis da
paisagem influenciaram a taxa de exibição, no entanto a área do território não teve uma
contribuição importante (Tabelas 1 e 2)
Tabela 1.Importância dos componentes canônicos para as métricas da paisagem.
Parâmetros CCA1 CCA2 Eigenvalue 0,016 0,001 Proporção Explicada 0,961 0,040 Proporção Acumulativa 0,961 1,000
Tabela 2. Valores obtidos da análise de correlação canônica para as variáveis da paisagem
e as variáveis independentes e significância dos modelos generalizados mistos em relação
ao sucesso de nidificação.
Variáveis p Coeficientes canônicos CCA1 CCA2
área - 0,024 -0,001 exibição - -0,683 -0,024 matas 0,39 0,134 0,283 ndvi 0,04* -0,141 0,766 represa 0,23 -0,020 -0,002 rios 0,67 0,129 0,056 estrada 0,21 0,136 -0,536 diversidade 0,04* 0,771 -0,126
37
Do grupo das métricas da paisagem se destaca o valor de heterogeneidade da matriz
(diversidade) para o primeiro fator e NDVI, heterogeneidade da matriz e distância as
estradas para o segundo fator (Figura5)
Figura 5. Gráfico da análise de correspondência canônica mostrando o primeiro fator da
análise (CCA1) e o segundo fator (CCA2) assim como o agrupamento dos territórios de
tizius em relação as métricas da paisagem e a taxa de display e área do território.
Baseado nestes resultados foi feito um modelo linear generalizado para observar as
possíveis variáveis da paisagem que influenciaram o sucesso de nidificação nos machos de
tiziu.
Usando o critério de Akaike (AIC) foram selecionadas as variáveis que melhor
explicavam o sucesso de nidificação e foi escolhido o modelo que tinha menor valor do
índice com as variáveis não significativas que foram removidas sequencialmente (Tabela 3)
38
Tabela 3. Resumo da seleção de modelos para avaliar a relação entre o sucesso de
nidificação e variáveis da paisagem para os machos de tiziu monitorados na temporada
reprodutiva do 2010-2011.
Modelo k AIC
Sucesso(matas+ndvi+represa+rios+estrada+diversidade) 6 70,16
Sucesso(matas+ndvi+represa+ estrada+diversidade) 5 68,34
Sucesso(ndvi+represa+ estrada+diversidade) 4 66,96
Sucesso(ndvi+represa+ diversidade) 3 66,21
Obs.: k= número de parâmetros
Desta forma, foi possível observar que as variáveis NDVI (GLM, Z=2,07, p< 0,05)
e heterogeneidade da matriz (GLM, Z=1,92, p< 0,05) foram as melhores preditoras para os
machos terem sucesso ao estabelecer um ninho (Figuras6 e 7), quer dizer, territórios com
maior número de árvores dentro do território e maior diversidade de estratos tinham mais
possibilidades de possuir um ninho com sucesso.
Estrutura da vegetação e padrões comportamentais
A análise das variáveis de vegetação mostra que o componente principal 1 reflete
96% da variação dos dados e o segundo componente 3% da variação, portanto, usando os
dois primeiros componentes é possível explicar a distribuição das variáveis.
O fator que influiu consideravelmente no componente principal 1 foi a distância
para o território mais próximo (Tabela 4), comprovando que a agregação de territórios não
é um padrão obtido ao acaso (Figura8).
39
Tabela 4. Loadings da análise de componentes principais para as variáveis da vegetação
para os machos de tiziu monitorados na temporada reprodutiva do 2010-2011.
Variáveis Comp. 1 Comp.2 Comp.3 Comp.4 Comp.5 Comp.6 Comp.7 Dist. Mínima 0,0997 Alt. do capim
-0,991
Alt. dos arbustos
0,377 0,466 0,562 0,561 Arvore mais alta
-0,849 0,26 0,169 -0,384 0,172
Quant. árvores
-0,474 -0,388 -0,48 0,616 0,113 No. de poleiros
0,796 -0,488 0,177 -0,303
Alt. dos poleiros -0,271 0,531 0,353 -0,735
Figura 8. Gráfico da análise de componentes principais para as medidas de cobertura da
vegetação e distância mínima entre os territórios dos tizius na temporada reprodutiva 2010-
2011.
40
A análise de correspondência canônica mostra que 24% dos dados podem ser
explicados pela variação da cobertura vegetal. Só o fator um explica 98% dos dados, e a
taxa de exibição está sendo fortemente influenciada pela altura de capim, pela altura de
arbustos e pelo número de árvores dentro dos território (Figura 9 e Tabelas 5 e 6).
Tabela 5. Importância dos componentes canônicos para as variáveis da vegetação.
Parâmetros CCA1 CCA2 Eigenvalue 0,025 0,001 Proporção Explicada 0,983 0,017 Proporção Acumulada 0,983 1,000
Tabela 6. Valores obtidos da análise de correlação canônica para as variáveis da vegetação
e as variáveis independentes. A coluna ‘p’ indica a significância dos modelos generalizados
mistos em relação ao sucesso de nidificação
Variáveis p Coeficientes canônicos CCA1 CCA2
Área - 0,031 -0,001 Tx. Exibição - -0,816 -0,010 Dist. Mínima 0,62 0,023 -0,249 Alt. do capim 0,03* 0,253 0,274 Alt. dos arbustos 0,06 0,465 0,008 Arvore mais alta 0,76 -0,007 -0,609 Quant. de árvores 0,9 -0,514 -0,464 No. de poleiros 0,88 -0,091 -0,158 Alt. dos poleiros 0,27 0,095 -0,853
41
Figura 9. Gráfico da análise de correspondência canônica mostrando o primeiro fator da
análise (CCA1) e o segundo fator (CCA2) assim como o agrupamento dos territórios de
tizius em relação à cobertura da vegetação e a taxa de exibição e área do território.
Baseado nos resultados foi feita uma regressão múltipla, usando a taxa de exibição
como variável resposta em relação a todas as variáveis de vegetação amostradas. Depois
usando o critério de Akaike (AIC) foram selecionadas as variáveis que melhor explicam a
taxa de exibição e foi escolhido o modelo que tinha menor valor do índice com as variáveis
que foram selecionadas como mais relevantes (Tabela 7).
42
Tabela 7. Resumo da seleção de modelos para avaliar a relação entre taxa de exibição e
variáveis da vegetação para os machos de tiziu monitorados na temporada reprodutiva do
2010-2011.
Modelo k AIC
T.exibição(dist+capim+arbust+arv+nro.arv+poleir+nropoleiro) 7 35,18
T.exibição(dist+capim+arbust+arv+nro.arv+poleir) 6 33,21
T.exibição(capim+arbust+arv+nro.arv+poleir) 5 28,01
T.exibição(capim+arbust+ nro.arv+poleir) 4 26,51
T.exibição(capim+arbust+ nro.arv) 3 21,43
Obs.: k= número de parâmetros
O resultado da seleção de modelos indicou que a altura do capim, altura dos
arbustos e o número de árvores dentro do território explicavam melhor a relação (R2=0,30,
p<0,05). Contudo, somente a altura do capim foi significativa ao explicar a taxa de
exibição, ou seja, quanto maior a altura das gramíneas nos territórios menor será a taxa de
exibição dos machos (t34=-2,137, p< 0,05) (Figura10).
Figura 10. Modelo linear entre a taxa de exibição e a altura das gramíneas nos territórios
de tizius na temporada reprodutiva 2010-2011.
43
DISCUSSÃO
É sabido que a escolha do habitat feita por cada individuo é uma resposta à
combinação de diversos fatores ambientais (Bertin 1977). Os resultados obtidos neste
estudo mostram que existem fatores no nível da paisagem que influenciam o padrão de
agregação territorial em Volatinia jacarina. Entre eles, destacam-se a presença dos corpos
de água, sejam de origem antrópica, como a represa no local do estudo, ou simplesmente
fatores que façam parte da configuração natural da área, como são os pequenos rios. A
aglomeração de territórios ao redor de fatores marcantes da paisagem sugere que existem
elementos dominantes que influenciam o padrão final de escolha de território, como foi
demonstrado em outras espécies (Bertin 1977, Rossell 2001).
Embora a significância ecológica direta das características da paisagem seja difícil
de ser associada aos padrões de agregação de territórios (Rossell 2001), pode ser inferido
que as áreas com maior proximidade aos corpos de água possam oferecer mais recursos
alimentares próximos para os quais os indivíduos poderiam se movimentar constantemente.
Pudendo ser que as agregações espaciais dos territórios tenham mais relação com os
recursos agrupados (Tarof et al. 2004, Melles et al. 2009) o fato de existir uma correlação
dos territórios com a represa e rios também poderia estar mais relacionada com a
perturbação do ambiente, já que a espécie prefere ambientes perturbados.
Mas, a oferta de sementes das gramíneas para os tizius na época reprodutiva pode
influenciar essa escolha de território e essas seriam características de filtro fino (maior
escala) no estabelecimento dos mesmos. Em outras espécies que aproveitam recursos da
vegetação (Hylocichla mustelina, Catharus fuscescens [Bertin 1977], Vermivora
chrysoptera [Rossell 2001]) estes territórios estiveram agregados inicialmente também ao
redor dos cursos de água.
É possível que essas características estejam influenciando a concentração e a
compressão de territórios em alguns agregados (Rossell 2001), e em muitos casos a
pronunciada aglomeração num local pode excluir indivíduos que não conseguem
estabelecer-se nos habitats ótimos e são deslocados para habitats menos usados, nos quais
as chances de sucesso de nidificação sejam menores (Zimmerman 1971). A escolha do
44
lugar de reprodução é um aspecto muito importante e mesmo que as aves estejam no habitat
de maior qualidade podem ser impedidas de adquirir territórios pela competição
intraespecífica com outros machos (Cody 1981). O fato da análise ter explicado somente
15% dos dados pode ser devido a 2 fatores: primeiro, os territórios possuem características
muito homogêneas, provavelmente por causa da proximidade entre eles. Segundo, a escolha
do local dos territórios pode ser em parte explicada pela estrutura da paisagem, mas
também existem fatores comportamentais (características individuais) e ecológicos
(competição entre machos).
Além das influências numa escala maior na hora da escolha de territórios, alguns
dos atributos estruturais contidos dentro de cada território são requerimentos na escolha de
habitat dependendo da espécie (Cody 1981). De acordo com os resultados apresentados, os
elementos mais associados com o tamanho de território foram a diversidade de estratos
vegetais contidos em cada território e o número de árvores dentro de cada um; sendo os
fatores ambientais que ajudam na escolha do território.
Cody (1981) oferece exemplos com os quais argumenta que características da
vegetação podem ser usadas na discriminação de habitat pelos primeiros indivíduos que
colonizam as áreas reprodutivas, usado como uma dica panorâmica dos requerimentos
básicos das aves para o sucesso de acasalamento. Os próximos indivíduos que chegarem na
área podem usar uma combinação de estratégias: avaliar o habitat e também a presença de
conspecíficos (Fletcher & Sieving 2010). O resultado final será um padrão agregado e
influenciado por ambas características ambientais e comportamentais. Um exemplo dessa
situação é representado por aves que habitam vegetação de gramíneas, onde a altura da
vegetação e a densidade de indivíduos constituem fatores importantes na segregação de
territórios (Cody 1981). Essa combinação de características relevantes escolhidas por cada
indivíduo pode ter como resultado final que os donos de territórios com elementos
destacados sejam aqueles que tenham obtido maior sucesso de nidificação, como foi
evidenciado neste estudo.
Neste estudo foi encontrado que os territórios com maiores números de árvores e
mais estratos da vegetação podem ter mais possibilidades de serem escolhidos pelos
45
machos. Contudo, é importante considerar que a escolha de território pode ser afetada pela
data de ocupação e chegada dos indivíduos na área de estudo como acontece em outras
espécies (Locustella luscinioides [Aebischer et al. 1996]), onde os machos que chegam
mais cedo na área e que enfrentam menos competição têm maiores probabilidades de
adquirir melhores territórios inferindo futuros benefícios.
Em muitas espécies granívoras (Dolichonyx oryzivorus [Wittenberger 1980]) o
sucesso de acasalamento é geralmente relacionado com a disponibilidade de comida, mas
também as diferenças podem estar relacionadas à cobertura da vegetação,por isso é
importante considerar a natureza da estrutura da vegetação nos territórios selecionados
pelos machos que poderia influenciar futuramente no acasalamento (Ficken & Ficken
1965).
As diferenças sutis encontradas entre os territórios podem simplesmente refletir
variações no fornecimento de recursos presentes e locais de refúgio, e a estrutura da
vegetação é um elemento correlacionado com esta oferta. Esse tipo de relação recursos-
vegetação-sucesso de nidificação tem sido registrada principalmente em sistemas
poligínicos (Wittenberger 1980), mas poderiam estar presentes também num sistema
socialmente monogâmico como o do tiziu que possui uma configuração espacial de
territórios que permite a comparação simultânea da oferta de vários machos se exibindo
conjuntamente.
Cabe lembrar que o resultado final do tamanho do território provavelmente esteja
refletindo o resultado final da competição intraespecífica, recursos suficientes, influências
de fatores ambientais e outros processos que acontecem no estabelecimento de ninho, para
isso, é necessário identificar os mecanismos ambientais que estão influenciando as pressões
competitivas (Smith &Shugart 1987).
Best (1977) encontrou que existe relação entre o sucesso de estabelecimento do
macho e a disponibilidade de substrato de nidificação. Assim, é possível que na hora das
fêmeas avaliarem a qualidade do macho e do território, indiretamente elas também estão
avaliando a escolha do local de nidificação e consideram adicionalmente as características
da vegetação encontradas dentro do território.
46
Em outra espécie que escolhe habitats dominado por gramíneas (Spiza americana
Zimmerman 1977) foi encontrado que a estrutura da vegetação também foi um fator
próximo afetando a seleção de habitat e que as respostas de territorialidade foram
dependentes das densidades de conspecíficos, como foi encontrado neste estudo (Capitulo
1). A estrutura da vegetação e os fatores ambientais podem afetar diretamente o sucesso
reprodutivo (Zimmerman 1977), embora esse aspecto não tenha sido avaliado no presente
estudo. Geralmente o sucesso reprodutivo de cada macho não é uma medida confiável em
áreas com territórios muito próximos, onde as condições de mortalidade de ninhegos são
muito altas e uniformes, independentemente de outros fatores (Días et al. 2009).
Em uma espécie granívora Spiza americana (Zimmerman 1971) foi observado que
somente os machos que defendiam territórios com a vegetação gramínea suficientemente
alta e densa conseguiram atrair parceiras e construir um ninho com sucesso, como foi
observado neste estudo.Pesquisas em outros grupos animais (Kokko&Rankin 2006)
reforçam a ideia de que a seleção sexual pode ser influenciada por fatores ambientais que
influenciam a visibilidade (e.g. estrutura da vegetação) e outros tipos de recursos
disponíveis no território.
A presença de poleiros e a cobertura da vegetação dentro de cada território são
fatores importantes na escolha dos territórios segundo os resultados encontrados, e
sobretudo a cobertura de gramíneas, parece influir na taxa de exibição de cada macho.
Esses resultados destacam a ideia que a conspicuidade dos poleiros e a locação destes para
a exibição podem ser considerações importantes na hora de se estabelecer numa
determinada área; a presença dos poleiros numa matriz de gramíneas pode ser um fator
chave para o desenvolvimento da exibição acrobática da espécie (Castrale 1983). Todavia,
outros fatores além da altura dos poleiros, como a altura da vegetação circundante, podem
influenciar as respostas comportamentais de cada indivíduo. Uma vantagem na exibição
dependente da vegetação seria pular acima da vegetação o que poderia melhorar o
componente visual das exibições do macho (Wilczynskiet al. 1989).
Ademais, o que é denominado como habitat ótimo numa temporada pode ser um
padrão totalmente diferente na temporada seguinte e o produto disso é um padrão diferente
47
de agregação em cada ano (Herremans 1993), os territórios dos tizius possuem essas
características que mudam de ano a ano, tendo um padrão de agregação diferente em cada
temporada reprodutiva.
48
Figura 1. Mapa mostrando o sucesso de nidificação nos tiziusna temporada 2010-2011 (0=semsucesso, 1=comsucesso).
TERRITORIOS
SUCESSO DE NIDIFICAÇÃO
49
Figura 6. Mapa mostrando os valores encontrados de NDVI para cada territorio dos tiziusna temporada 2010-2011.
TERRITORIOS
50
Figura 7. Mapa mostrando os valores encontrados de heterogeneidade da matriz para cada territorio dos tizius na temporada 2010-2011.
TERRITORIOS
I. DE DIVERSIDADE
51
CONCLUSÃO
Neste estudo foram encontrados vários resultados significativos para a
população de Volatinia jacarina estudada durante a temporada reprodutiva de 2010-
2011. A taxa de exibição, que é uma característica relevante dos machos na época
reprodutiva e tem influência na formação de casal, não esteve relacionada com o
número de vizinhos próximos que estavam nos agregados territoriais. Contudo, machos
que chegaram à área no final da temporada reprodutiva tenderam a ter uma taxa de
exibição mais elevada. Considerando que a taxa de exibição dos machos é um caráter
muito conspícuo seria esperado que houvesse uma relação da mesma com o sucesso de
nidificação, aspecto que não foi observado. Machos detentores de territórios de maior
tamanho foram aqueles que tiveram maiores taxas de sucesso de nidificação. Por outro
lado, um maior número de vizinhos nos agregados causou uma menor taxa de
nidificação na área de estudos.
Ao analisar a seleção de habitat no nível da paisagem, a presença dos corpos de
água na área de estudo influenciou claramente a aglomeração dos territórios. Neste
estudo também foi encontrado que a maior quantidade de árvores e maior diversidade
de tipos de cobertura do solo (ambos indicadores da heterogeneidade da matriz de
paisagem) são bons preditores para que os machos tenham sucesso no estabelecimento
de ninho. De igual forma, numa escala mais fina dentro dos territórios escolhidos a
maior altura do capim teve relação com a menor taxa de exibição dos machos.
.
52
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