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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA Programa de Pós-Graduação em Agricultura Tropical CONHECIMENTO DOS ÍNDIOS KAIABI SOBRE ABELHAS SEM FERRÃO NO PARQUE INDÍGENA DO XINGU, MATO GROSSO, BRASIL WEMERSON CHIMELLO BALLESTER CUIABÁ MT 2006

CONHECIMENTO DOS ÍNDIOS KAIABI SOBRE ABELHAS SEM … · RESUMO – As abelhas sem ferrão desempenham um papel significativo na alimentação, religião, mitos, ritos, crenças e

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA

    Programa de Pós-Graduação em Agricultura Tropical

    CONHECIMENTO DOS ÍNDIOS KAIABI SOBRE ABELHAS SEM FERRÃO NO PARQUE INDÍGENA DO XINGU, MATO

    GROSSO, BRASIL

    WEMERSON CHIMELLO BALLESTER

    CUIABÁ – MT 2006

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA

    Programa de Pós-Graduação em Agricultura Tropical

    CONHECIMENTO DOS ÍNDIOS KAIABI SOBRE ABELHAS SEM FERRÃO NO PARQUE INDÍGENA DO XINGU, MATO

    GROSSO, BRASIL

    WEMERSON CHIMELLO BALLESTER Engenheiro Agrônomo

    Orientador: Prof. Dr. MÁRCIO DO NASCIMENTO FERREIRA

    Dissertação apresentada ao

    Programa de Pós-Graduação em

    Agricultura Tropical da

    Universidade Federal de Mato

    Grosso, para obtenção do Título

    de Mestre em Agricultura Tropical.

    CUIABÁ – MT 2006

  • 2

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA

    Programa de Pós-Graduação em Agricultura Tropical

    CERTIFICADO DE APROVAÇÃO Título: CONHECIMENTO DOS ÍNDIOS KAIABI SOBRE ABELHAS SEM FERRÃO NO PARQUE INDÍGENA DO XINGU, MATO GROSSO, BRASIL

    Autor: WEMERSON CHIMELLO BALLESTER Orientador: Prof. Dr. MÁRCIO DO NASCIMENTO FERREIRA Aprovado em 18 de Dezembro de 2006. Comissão Examinadora:

    Prof. Dr. MÁRCIO DO NASCIMENTO FERREIRA FAMEV/UFMT

    Orientador

    Prof. Dr. Sebastião Carneiro Guimarães FAMEV/UFMT

    Prof. Dr. Alberto Dorval FENF/UFMT

  • 3

    CONHECIMENTO DOS ÍNDIOS KAIABI SOBRE ABELHAS SEM FERRÃO NO PARQUE INDÍGENA DO XINGU, MATO GROSSO, BRASIL

    RESUMO – As abelhas sem ferrão desempenham um papel significativo na alimentação, religião, mitos, ritos, crenças e também na medicina de vários

    povos do mundo. Esta pesquisa teve como objetivo registrar o conhecimento

    que os índios Kaiabi possuem sobre as abelhas sem ferrão. Os objetivos

    específicos foram verificar o número de etnoespécies de abelhas sem ferrão

    conhecidas pelos Kaiabi, a utilidade dos produtos fornecidos pelas abelhas,

    algumas características ecológicas de etnoespécies, além da classificação

    morfológica das abelhas, na visão desse povo. O estudo foi desenvolvido na

    aldeia Kwarujá, localizada no Parque Indígena do Xingu, região norte do

    estado de Mato Grosso e realizado no ano de 2001. Foram cinco meses de

    trabalho de campo, onde se utilizou técnicas de coleta de dados

    etnocientíficos. O Parque encontra-se em área de transição ecológica, entre

    o Cerrado do Centro-Oeste e a Floresta Amazônica, apresentando espécies

    animais e vegetais dos dois ecossistemas. Como resultado desta pesquisa

    foi registrado 27 etnoespécies de abelhas sem ferrão reconhecidas pelos

    Kaiabi. Os Kaiabi identificam também preferências das abelhas por

    ambientes com maior diversidade de plantas e animais; indicam espécies

    vegetais preferidas pelas abelhas para nidificação e espécies vegetais

    utilizadas para a alimentação; reconhecem diferenças nas estratégias de

    defesa das abelhas, na quantidade, densidade, coloração e gosto dos méis.

    A estrutura morfológica das abelhas recebe nomes na língua Kaiabi que, na

    maioria das vezes, correspondem a partes do corpo humano.

    Palavras-chave: etnoentomologia, índios Kaiabi, abelhas sem ferrão

  • KNOWLEDGE OF KAIABI INDIANS ON STINGLESS BEES AT PARQUE INDÍGENA DO XINGU, MATO GROSSO, BRAZIL ABSTRACT – Stingless bees play a significant role in the feeding, religion, myths, rites, beliefs, as well as in the medicine of several peoples worldwide. This

    research aimed to record the knowledge possessed by Kaiabi Indians on stingless

    bees. The specific objectives were to identify the number of stingless-bee

    ethnospecies known to the Kaiabi, the usefulness of products provided by bees,

    some ecological characteristics of ethnospecies, in addition to a morphological

    classification of these bees, as viewed by this people. The study was conducted at

    the Kwarujá village, located at Parque Indígena do Xingu (Xingu Indian

    Reservation), in the northern region of the State of Mato Grosso, Brazil, in the year

    2001. The research consisted of five months of field studies, during which

    ethnoscientific data collection techniques were used. The Reservation is located in

    an ecological-transition area, between the Central-Western Cerrado and the

    Amazon Rainforest, with animal and plant species of both ecosystems. Twenty-

    seven stingless-bee ethnospecies recognized by the Kaiabi were recorded as a

    result of this research. The Kaiabi also identify bee preferences for environments

    with greater diversity of plants and animals; indicate plant species preferred by the

    bees for nest building and plant species used for feeding; acknowledge differences

    in the defense strategies of bees, as well as in honey quantity, density, color, and

    taste. The morphological structures of bees receive names in the Kaiabi language

    that frequently correspond to parts of the human body.

    Keywords: ethnoentomology, Kaiabi Indians, stingless bees

  • ÍNDICE Pg

    1 INTRODUÇÃO 6 2 REVISÃO DE LITERATURA 8

    2.1 Abelhas sem ferrão 8 2.2 Os índios Kaiabi 9 2.3 Etnociência 112.3.1 Etnoentomologia 132.4 Metodologia Participativa em Pesquisas Etnocientíficas 152.4.1 Questões a serem consideradas pelo pesquisador 15

    2.4.2 Técnicas de coleta de dados 162.4.2.1 Pajés como informantes chave 17

    3 MATERIAL E MÉTODOS 183.1 Técnicas Empregadas na Coleta dos Dados 18

    4. RESULATDOS E DISCUSSÃO 214.1 Identificação, Comportamento e Usos os Produtos das

    Abelhas sem Ferrão 214.1.1 Espécies Vegetais Utilizadas pelas Abelhas na

    Nidificação e Alimentação 254.2 Representação Biogeográfica das Abelhas na Aldeia

    Kwarujá 254.3 Aspectos Morfológicos das Abelhas 28

    5. CONCLUSÕES 306 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS 31

  • 6

    1 INTRODUÇÃO

    O desenvolvimento de pesquisas junto a populações tradicionais

    começou a ganhar impulso a partir de 1950. O conhecimento indígena

    passou a ser estudado e a ser considerado por alguns cientistas como

    etnociência.

    Para POSEY (1983a) a etnociência explora a percepção do

    conhecimento do homem em sua adaptação a determinados ambientes e

    estuda como a população interage com todos os aspectos do ambiente

    natural. Isto inclui a fauna, a vegetação, solo, tipos de ambientes, além das

    particularidades locais e aspectos espirituais.

    O enraizamento milenar das sociedades indígenas nos diversos

    ecossistemas possibilitou-lhes um acúmulo de conhecimentos botânicos e

    zoológicos que as tornaram capazes de elaborar técnicas sofisticadas de

    manejo destes recursos naturais, obtendo um aproveitamento ecológico de

    grande diversidade biológica (POSEY, 1993).

    Algumas pesquisas indicam que a polinização das florestas tropicais,

    como no Brasil, é realizada em grande parte por insetos. KERR et al. (1996)

    atribuem a polinização de 40% a 90% das árvores nativas brasileiras às

    abelhas sem ferrão, mostrando que estes insetos são importantes e

    fundamentais para a formação de boas sementes, mantendo assim a

    diversidade nas florestas úmidas e evitando a perda significativa do banco

    genético das florestas nativas.

    Esta pesquisa tem como objetivo registrar aspectos do conhecimento

    que os índios Kaiabi, do Parque Indígena do Xingu, possuem sobre as

  • 7

    abelhas sem ferrão. Para a apresentação das informações o trabalho foi

    dividido em três partes: a primeira aborda a revisão da literatura com

    informações sobre as abelhas sem ferrão, aspectos da etnografia dos índios

    Kaiabi, conceitos e trabalhos sobre etnociência/etnoentomologia e as

    técnicas de coleta de dados utilizadas. A segunda faz um apanhado do

    material e da metodologia utilizada para o desenvolvimento da pesquisa. Por

    fim, faz-se a apresentação dos resultados alcançados incluindo número de

    etnoespécies de abelhas sem ferrão conhecidas pelos índios Kaiabi,

    utilidade dos produtos fornecidos por elas, características ecológicas de

    algumas etnoespécies, classificação morfológica da abelha sem ferrão na

    visão Kaiabi.

  • 8

    2 REVISÃO DE LITERATURA

    2.1 Abelhas sem ferrão

    As abelhas sem ferrão são consideradas abelhas sociais e

    pertencentes à subfamília Meliponinae, sendo conhecidos também como

    meliponíneos. Ocorrem com muita diversidade em toda região tropical do

    Planeta e também ocupam áreas de clima temperado subtropical. No Brasil

    existem mais de 200 espécies diferentes (ROUBIK, 1989).

    Os ninhos dessas abelhas são encontrados em locais bastante

    diversos como formigueiros abandonados, raízes de árvores, cavidades

    existentes nos troncos e galhos, além de construírem ninhos subterrâneos.

    Algumas espécies fazem seus ninhos em cupinzeiros e outras em

    formigueiros ativos (POSEY, 1987). Os meliponíneos utilizam diversos materiais para a construção dos

    seus ninhos. A cera, produzida pela própria abelha, juntamente com resinas

    de árvores, denominada por NOGUEIRA-NETO (1997) de cerume, é

    utilizado para a construção de favos, potes de mel e entradas de ninhos.

    Além do cerume para a construção de entradas dos ninhos, algumas

    espécies utilizam o barro misturado com resinas de árvores denominado

    geoprópolis (NOGUEIRA-NETO, 1997). Os potes, que armazenam o mel e o pólen, são pequenos reservatórios feitos de cerume ou cera pura,

    geralmente de forma oval e construídos fora da região das crias, ou às vezes

    encostadas nela, apresentando tamanhos variados (NOGUEIRA-NETO,

    1970).

  • 9

    Os meliponíneos exercem diversas atividades como, construir e

    manter os ninhos, abastecer os mesmos de alimentos, defenderem seus

    enxames com estratégias diferenciadas, comunicar com outros membros da

    colônia, etc., além de desempenharem um importante papel ecológico nos

    ecossistemas brasileiros através da realização da polinização de inúmeras

    espécies vegetais (NOGUEIRA-NETO, 1997). 2.2 Os índios Kaiabi Os Kaiabi são um povo de língua da família tupi-guarani, originários

    das regiões dos rios dos Peixes (MT) e médio Teles Pires (PA). As primeiras

    notícias desta etnia aparecem em 1915 no Relatório da Expedição Rondon

    (GRUMBERG, 1970). Naquela época, a principal atividade econômica na região era a

    extração de borracha, onde ocorreram muitos conflitos com os seringueiros

    subordinados a empresas seringalistas. Tal contato dizimou

    aproximadamente 2/3 da população kaiabi original (SENRA et al., 2004).

    O “boom da borracha” em 1942 e o início das atividades da

    Companhia Colonizadora Noroeste Mato-grossense LTDA (CONOMALI), na

    perspectiva do surgimento de novas cidades em terras Kaiabi, segundo

    (GRUMBERG, 1970), foram os fatores decisivos para o abandono de muitas

    famílias Kaiabi da área ancestral indo habitar as regiões do Parque Indígena

    do Xingu.

    Em 1955 criou-se a “Operação Kaiabi”, idealizada pelos irmãos Villas-

    Boas, onde ocorreu a transferência de parte dos Kaiabi para o Parque

    Indígena do Xingu. Esta transferência foi percebida na época como única

    forma de preservar a integridade Kaiabi frente às pressões econômicas.

    Entretanto, os Kaiabi que migraram, tiveram que se adaptar à nova realidade

    ambiental e cultural pois, várias espécies de animais e vegetais importantes

    para sua dieta, para sua cultura material, para fins medicinais, rituais e

    outras, não ocorriam no Parque Indígena do Xingu (ATHAYDE, 1999).

    Segundo ATHAYDE (1999) uma espécie vegetal que representava

    importante fonte de proteína com alto valor nutritivo é a castanha-do-pará

    (Bertholletia excelsa) denominada por eles de (y’wa ete – fruto verdadeiro).

  • 10

    GRUMBERG (2004) cita outros recursos florestais utilizados como fonte de

    alimento, que estão ausentes no Parque Indígena do Xingu, como o patauá

    (Oenocarpus bataua), o cacau (Theobrona cacao) e o açaí (Euterpe

    precatoria). Já o marajá (Bactris sp.) e a siriva (Bactris macana) eram

    usados para confecções de artesanatos e arcos, respectivamente.

    Na área ancestral existia maior diversidade e quantidade de

    mamíferos e aves. Com relação à pesca o quadro se inverte, pois o Xingu

    apresenta maior diversidade e abundância de peixes (ATHAYDE, 1999). ATHAYDE (1999) comenta que, se por um lado os Kaiabi sentem falta

    do seu ambiente ancestral, por outro lado sabem que é no Xingu que

    conseguirão viver sem grandes conflitos e manter sua cultura e seus

    conhecimentos tradicionais.

    Atualmente os Kaiabi vivem na Reserva Tatuy do Rio dos Peixes

    (MT), na Terra Indígena Kururuzinho (PA), próximo ao Rio Teles Pires e

    também no Parque Indígena do Xingu, sendo esta última localidade, a área

    de estudo desta pesquisa. É importante destacar que a população cresce a

    cada ano (SCHMIDT, 2001). Os Kaiabi do Parque Indígena do Xingu vivem em uma área de

    transição das savanas e florestas semideciduais mais secas ao sul para a

    floresta ombrófila amazônica ao norte com presença cerrados, campos,

    florestas de várzea, floresta de terra firme em terras pretas arqueológicas

    (ATHAYDE, 1999).

    Através dos trabalhos de SCHMIDT (2001) e SENRA et al. (2004), pôde-se observar que as classificações de ambientes que compõe o sistema

    Kaiabi são semelhantes aos utilizados no sistema convencional da ciência,

    ou seja, considera-se a altura do dossel, incidência de luminosidade,

    ocorrência de determinadas árvores como plantas indicadoras, tipos de solo,

    entre outros.

    a) Ka’areté: Representa uma floresta de terra firme, com árvores altas

    e maior diversidade florística se comparado a outras formações do Parque.

    É composto por três extratos arbóreos, sendo que o inferior é pouco

    desenvolvido facilitando o deslocamento no seu interior. É neste ambiente

    que aparecem trilhas para os deslocamentos mais longos, para caçar,

  • 11

    coletar plantas medicinais, coletar mel, extrair madeiras para a construção

    das casas, etc...

    Uma espécie vegetal indicadora deste ambiente tanto para os kaiabi

    como para a ciência, é o jatobá (Hymenaea sp.) denominada juta’yp. Sua

    casca é utilizada para confecções de canoas e seu fruto é consumido in

    natura.

    b) Yapopet: Floresta de várzea, área sujeita a inundações sazonais

    durante as estações chuvosas que vão de novembro a março. Ocorre nas

    imediações da toda a calha do rio principal e seus afluentes. Este tipo de

    ambiente fornece madeira para confecções de cabos de machado e de

    enxada, fibras para amarrações das casas, lenha para fins doméstico e

    também muito utilizado para a pesca nas estações chuvosas, onde o peixe

    se torna escasso.

    c) Ko: É a denominação das áreas de roça. No calendário agrícola

    Kaiabi, não interessa o mês em si, mas sim os avisos da natureza para o

    início dos trabalhos da roça. Por exemplo, o aparecimento de borboletas nas

    margens dos rios denominadas pelos Kaiabi de pana-pana e o

    amarelecimento e queda das folhas da árvore yag yp, indicam que o rio não

    subirá mais. A floração da árvore tameju yp é um sinal que em breve as

    chuvas começarão, portanto deve-se queimar a roça. Quanto as dimensões,

    as roças apresentam um padrão de aproximadamente seis mil metros

    quadrados, podendo haver roças maiores, porém os Kaiabi nunca fizeram

    roças muito grandes. A roçada é feita em aproximadamente três dias de

    trabalho, podendo contar com a mão-de-obra familiar ou também com

    convidados. Segundo SENRA et al. (2004) são cultivadas 154 variedades de plantas para fins de alimentação, onde o destaque fica para o amendoim

    Kaiabi com 26 variedades. Há uma seqüência identificável desde a roça de

    ciclo curto, passando pelo pomar, estágios de sucessão mais avançados até

    a floresta secundária.

    d) Kofet: É uma denominação genérica que representa o primeiro

    estágio sucessional após dois ciclos de cultivos agrícolas. Após este período

  • 12

    continua-se colhendo mandioca, algodão, pimenta, cará, mamão, banana,

    entre outras. Esta área é utilizada para caça e coletas. Para os Kaiabi as

    árvores muag yp, makawa yp e jateta yp são indicadoras deste ambiente.

    e) Ju: Área de campo sujeita a inundação sazonal. Na época das

    chuvas este ambiente é utilizado para pesca com arco e flecha e na época

    da seca é utilizado para coleta de frutas como o murici.

    GRUMBERG (1970) apresenta a economia Kaiabi baseada no cultivo

    de uma grande variedade de plantas e uma coleta diversificada. A produção

    primária de alimentos é proveniente do cultivo da terra; da caça de

    mamíferos, aves, anfíbios e répteis; da pesca e da coletas de frutas, de

    cogumelos e de méis.

    O mel é um alimento muito apreciado por este povo. O mais

    valorizado entre os Kaiabi, segundo GRUMBERG (1970) é o da abelha

    denominada tapé’wa. Se um enxame é descoberto durante uma expedição

    de caça e/ou coleta, seu mel é propriedade da pessoa que observou

    primeiro. Geralmente a árvore é derrubada e aberta com o machado,

    expondo os favos de mel que são espremidos com as mãos e colocados em

    recipientes feitos com folhas de banana-brava. Se o enxame estiver

    nidificado em árvores bem grossas, os Kaiabi constroem um andaime com

    pequenas árvores, ramos e cipós para a coleta do mel.

    2.3 Etnociência VIERTLER (2002) ilustra a história da etnociência como sendo o

    entrecruzamento principal de duas ciências: A Antropologia e a Biologia.

    POSEY (1983) salienta que a etnociência estuda a interação de uma

    determinada população com o ambiente em que vive, incluindo a fauna,

    vegetação, solo e tipos de ambientes, além de particularidades locais e

    aspectos espirituais.

    Para LÉVIS-STRAUSS (1970) esta íntima relação das populações

    com os ambientes em que vivem e nos quais se organizam, nos permite

  • 13

    compreender a lógica de um ecossistema equilibrado e suas interações

    físicas e biológicas.

    A esse respeito, transcreve-se a definição de etnoecologia

    apresentada por (MARQUES, 2002).

    “Etnoecologia é o campo da pesquisa (científica) transdisciplinar que

    estuda os pensamentos (conhecimentos e crenças), sentimentos e

    comportamentos que intermediam as interações entre as populações

    humanas que os possuem e os demais elementos do ecossistema que as

    incluem, bem como os impactos ambientais daí decorrentes.”

    Quando o prefixo etno é utilizado antes do nome de uma disciplina

    acadêmica, por exemplo, etnoentomologia, MARTIN (1995) mostra que

    pesquisadores desta área estão buscando as percepções de uma

    determinada sociedade dentro do contexto acadêmico da entomologia. Os

    conceitos de etnoecologia e etnociência vêm sendo utilizados por vários

    pesquisadores que trabalham com populações tradicionais. Os trabalhos de

    SCHIMIT (2001), VIERTLER (2002), MARQUES (2002) e POSEY (1979),

    demonstram a importância do conhecimento tradicional na interlocução com

    a sociedade acadêmica. Embora os estudos nesta área sejam novidade,

    começam a aparecer pesquisadores interessados no desenvolvimento de

    pesquisas de cunho etnocientífico (RODRIGUES, 2005). Estudando o conhecimento dos índios Guarani-M’byá sobre abelhas

    sem ferrão, RODRIGUES (2005) concluiu que muitas vezes o

    etnoconhecimento é coerente com o conhecimento científico. Destaca ainda

    que o conhecimento dos índios poderá contribuir para a re-introdução de

    espécies polinizadoras na região de Mata Altântica, onde os Guarani vivem.

    2.3.1 Etnoentomologia Estudos de COSTA-NETO (2004), demonstram que os insetos são

    um importante recurso alimentar para mais de três mil etnias em todo o

    mundo, apresentando alto valor nutritivo por serem ricos em proteínas,

    lipídeos, aminoácidos, sais minerais e vitaminas. RAMOS-ELORDUY (2000)

  • 14

    revela que o maior grupo de insetos comestíveis é o dos coleópteros,

    conhecidos popularmente como besouros, seguidos pelos ortópteros (grilos,

    gafanhotos) e pelos lepidópteros (borboletas e mariposas).

    A utilização de formigas Atta sexdens como alimento para os povos

    indígenas é muito comum. Segundo DUFOUR (1987) cada formigueiro, no

    auge da produção, pode fornecer entre 10 e 16 quilos das mesmas. Elas são

    consumidas crua ou torradas pelos índios Guarani (RODRIGUES, 2005) e

    entre os Enawene Nawe, que habitam a região noroeste do estado de Mato

    Grosso, as formigas são consumidas de forma in natura ou assadas e

    socadas em pilão e misturadas na massa de mandioca que se faz o beiju

    (MENDES, 2001).

    Pupas de uma vespa do gênero Polistes são consumidos pelos índios

    Chuh, da Guatemala que acreditam que a ingestão dos olhos pigmentada

    dessa espécie lhes dará poderes procriativos, gerando crianças com olhos

    grandes (RODRIGUES, 2005). O consumo esporádico de pupas de vespas

    também ocorre entre os Enawene Nawe (MENDES, 2001).

    As larvas de abelhas têm grande utilização como alimento e no

    preparo de receitas destinadas ao uso medicinal tradicional entre os índios

    Guarani (RODRIGUES, 2005). Entre os Enawene Nawe se observou o

    consumo de crias de abelhas, onde na hora da coleta de mel na mata,

    “habilmente os índios retiram os favos contendo as crias que são

    consumidas no local, ou então, dependendo da quantidade, são levadas

    para a casa e levadas diretamente ao fogo por alguns minutos” (MENDES,

    2001). Segundo COSTA NETO (2004),

    “os estudos de etnoentomologia podem estimular novas idéias a serem

    investigadas pela ciência, especialmente no que diz respeito à utilização

    medicinal e alimentar de insetos. O seguimento de linhas de pesquisa que

    enfatizem o potencial entomoterápico e protéico desses animais representa

    uma importante contribuição à questão da biodiversidade e abre

    possibilidades para a valorização econômica de espécies que são tidas

    como sem valor”.

  • 15

    Estudos realizados por CAPPAS e SOUZA (1995), mostram que o

    povo Maya também estabeleceu uma importante interação com as abelhas

    sem ferrão, relacionando esses insetos às questões religiosas, além de

    realizarem melhoramento genético para o aumento da produção de mel.

    No Brasil e no mundo, POSEY (1987) se tornou referência ao

    aprofundar suas pesquisas etnoentomológicas demonstrando a profunda

    relação dos índios Kayapó com as abelhas e vespas. Essa etnia conhece 56

    etnoespécies de abelhas e utilizam técnicas sofisticadas de manejo de

    enxames na natureza. Uma das técnicas utilizadas é a construção de uma

    plataforma com degraus para alcançar enxames que nidificam em árvores

    altas e com troncos grossos. Geralmente são abertos buracos nas árvores

    para a extração de mel, deixando partes de crias, pólen e mel para o re-

    estabelecimento do enxame.

    2.4 Metodologia Participativa em Pesquisas Etnocientíficas 2.4.1 Questões a serem consideradas pelo pesquisador Segundo VIERTLER (2002) devido à complexidade do processo de

    comunicação intercultural, ficou evidenciado a necessidade de estadias mais

    numerosas e prolongadas nas comunidades a serem estudadas, pois

    estreita o relacionamento do pesquisador e seus informantes. Neste

    contexto de profunda amizade e respeito ocorre não só um envolvimento

    racional, mas também afetivo entre o pesquisador e algumas famílias ou

    pessoas.

    Outro ponto fundamental que deve ser considerado em pesquisas

    etnocientíficas é que em sociedades tradicionais, o saber sempre aparece

    interligado a um fazer, e uma vivência prática. No caso de investigações

    etnobotânicas a classificação de plantas só faz sentido para os informantes

    se for construído através de práticas sociais, como o trabalho do cultivo da

    terra, preparação de comida, etc. (VIERTLER, 2002).

    É preciso também que o pesquisador considere a existência de certas

    entidades sobrenaturais, inacessível a verificação científica ocidental

    (VIERTLER, 2002). Neste sentido, SUIÁ (2002) afirmou que seu povo tem

  • 16

    regras para respeitar cada ser vivo que existe na natureza, interagindo com

    aspectos espirituais:

    “Todos os recursos naturais tem vida, tem seus espíritos. Por

    exemplo: pedra, aves, vento, peixes, barro, todos tem vida. Por isso, nós

    respeitamos os recursos naturais, porque eles têm seus espíritos e são

    seres vivos”.

    2.4.2 Técnicas de coleta de dados

    Existem várias técnicas de coleta de dados sobre a fala dos

    informantes, sendo muitas delas, disponibilizadas pela antropologia

    (MINAYO, 1998).

    O questionário é a técnica mais fechada à coleta de dados

    etnocientíficos. O pesquisador o elabora antes de ir para o campo,

    embasado em conceitos e teorias científicas priorizando os dados científicos.

    Em outro extremo está a técnica de observação participante, onde o

    pesquisador se dedica à participação nas várias atividades de interesse dos

    pesquisados. A técnica de entrevistas está entre os dois extremos,

    ocorrendo uma relação de comunicação mais equilibrada entre a visão do

    pesquisador e a dos informantes (VIERTLER, 2002).

    A técnica da entrevista é mais flexível quando comparado com a

    técnica de aplicação do questionário, pois além da diferença no tipo de

    linguagem, as peculiaridades culturais dos informantes podem ser

    abordadas (BECKER, 1994). Segundo o mesmo autor as entrevistas se

    organizam da seguinte forma: Nas entrevistas estruturadas todos os tópicos

    são fixados antes do contato com os informantes. Nas entrevistas

    parcialmente estruturadas alguns pontos fixos podem sofrer um

    redirecionamento, conforme o andamento da entrevista, e nas entrevistas

    não estruturadas, o diálogo entre o pesquisador e o informante é livre, pois

    quanto mais o informante falar, mais informações serão obtidas de acordo

    com sua própria visão de mundo.

    No caderno de campo, são feitas observações e impressões

    subjetivas, relacionadas ao dia-a-dia da comunidade, podendo não confirmar

  • 17

    previsões baseadas em teoria científicas. As representações gráficas, como

    desenhos e mapas, são muito úteis servindo para ensinar pessoas mais

    jovens da comunidade e o próprio pesquisador (MARQUES, 2002).

    2.4.2.1 Pajés como informantes chave

    Em pesquisas etnocientíficas fica evidente a importância da tentativa

    de aproximação do pesquisador com o(s) pajé(s). KAIABI (2002) descreve a

    importância dos pajés na transmissão do conhecimento deste povo.

    “Na filosofia indígena, todos os seres que existem no mundo têm vida

    e espírito. (...) A sociedade não indígena não consegue compreender o que

    são os espíritos dos seres e sua importância (...) (...) Nós índios

    conseguimos conhecê-los, sabe como? Para isto nós temos o pajé que

    visualiza o mundo espiritual e transmite o conhecimento e a importância

    deste mundo (...)”.

    IKPENG (2002) diz que os pajés ensinam a manejar os seres vivos.

    “Os pajés de todas as etnias são os cientistas de cada povo. Eles que se

    comunicam com os espíritos dos seres vivos e ensinam para as pessoas

    que não são pajés como cada ser vive e como pode manejar os seres vivos”

    De acordo com POSEY (1987), entre os índios Kayapó todos

    especialistas de abelhas são “xamãs”. Foram eles que conceberam o

    “modelo natural” da organização social desses índios, baseando-se na

    observação da ordenação social dos himenópteros.

  • 18

    3 MATERIAL E MÉTODOS

    O estudo1 foi realizado no Parque Indígena do Xingu, localizado ao

    norte do estado de Mato Grosso, mais particularmente na aldeia Kwarujá do

    povo Kaiabi. A região dos formadores do rio Xingu está situada ao sul do

    Parque, entre as coordenadas 10º 30’e 14º 30’ Latitude Sul e 51º 30’ e 55º 30’

    Longitude Oeste onde se encontram os rios Von den Stein, jatobá, Ronuro,

    Batovi, Kurisevo e Kuluene, sendo este o principal formador do Xingu, ao se

    encontrar com o Batovi-Ronuro (SCHMIDT, 2001). Segundo classificação de

    Köppen, o clima regional é caracterizado pelo tipo tropical chuvoso, com

    chuvas bem distribuídas durante o ano (em média 1600 mm anuais), e

    tropical úmido, com uma estação seca mais prolongada. As chuvas se

    concentram nos períodos de setembro a abril, com as máximas nos meses

    de novembro e dezembro, atingindo 2000 mm anuais (ATHAYDE, 1999).

    A classe de solo que predomina na região é o Latossolo Vermelho-

    Amarelo. Outras classes ocorrentes são: areias quartzosas, podzólicos em

    relevos acidentados, latossolos arenosos, solos litólicos e áreas que sofrem

    inundações periódicas (SCHMIDT, 2001).

    3.1 Técnicas Empregadas na Coleta dos Dados

    1 Este estudo foi desenvolvido a partir do projeto de alternativas econômicas executado pelo Instituto Socioambiental – ISA. O projeto desenvolve ações de apicultura e meliponicultura, no contexto do Programa Xingu, com objetivo de formar técnicos das etnias Kaiabi, Suiá, Ikpeng, Trumai e Yudjá. O ISA é uma associação sem fins lucrativos, fundada em 1994. O Instituto tem como objetivo de defender bens e direitos sociais, relativos ao meio ambiente, ao patrimônio cultural, aos direitos humanos e dos povos. O ISA produz estudos que promovam a sustentabilidade socioambiental, divulgando a diversidade cultural e biológica do país.

  • 19

    Para a realização desta pesquisa, foram realizadas várias visitas à

    aldeia Kwarujá no ano de 2001, totalizando cinco meses de trabalho de

    campo, oportunidade em que, participando da vida cotidiana dos índios,

    coletou-se os dados com uso de metodologia participativa.

    Durante todo o trabalho foi utilizada a técnica de observação

    participante, na qual, através de contatos diretos com a comunidade

    estudada, buscava-se informações com base somente nas observações,

    sempre seguidas de anotações no caderno de campo. Na aplicação desta

    técnica alguns pontos mereceram destaques:

    - acompanhar os índios em diversas atividades como: caçar, pescar, jogar

    futebol, queimar roças, buscar produtos nas roças e participar de coletas

    extrativistas de mel;

    - realizar capturas de enxames de abelhas sem ferrão, visando implantar a

    criação na aldeia Kwarujá;

    - participar de conversas informais com moradores da aldeia sobre assuntos

    não ligados aos objetivos da pesquisa

    No decorrer da pesquisa, mais precisamente no período de

    30/10/2001 a 03/11/2001, foi realizado um evento na aldeia Kwarujá

    denominado “ecologia das abelhas”. Nesta ocasião buscou-se conhecer,

    com mais precisão, o número das etnoespécies de abelhas sem ferrão

    conhecidas pelos Kaiabi, algumas características ecológicas das abelhas e

    usos dos produtos oferecidos por elas. Para a coleta destes dados utilizou-

    se a técnica de entrevistas livres e também de entrevistas parcialmente

    estruturadas.

    Outra técnica utilizada para conhecer a percepção dos índios com

    relação à distribuição das abelhas sem ferrão nas unidades de paisagem no

    entorno da aldeia, foi o mapeamento participativo, seguindo a metodologia

    de SCHMIDT (2001). Inicialmente foram realizadas reuniões com a

    comunidade para explicar os objetivos da elaboração do mapa, as atividades

    previstas e onde se pretendia chegar com esta ferramenta.

  • 20

    Através de descrições orais sobre a localização dos córregos, rios,

    lagoas, os caminhos utilizados nos variados tipos de ambientes, pôde-se

    esboçar, em um quadro negro, o desenho preliminar do mapa que, por sua

    vez, subsidiou o mapa definitivo em papel canson.

    As pessoas mais velhas da comunidade que participaram ativamente

    das discussões e tiveram um papel importante em reunir a comunidade em

    torno das atividades do projeto de pesquisa. Os mais jovens, por serem mais

    familiarizados com o uso do papel, facilitaram o trabalho de desenho e

    pintura do mapa, sempre acompanhado pelos mais velhos.

    Com o mapa elaborado e a lista de etnoespécies de abelhas sem

    ferrão conhecidas, pôde-se então, cruzar os dados e obter, na percepção

    indígena, a distribuição das etnoespécies nas unidades de paisagens.

    Para a coleta de dados sobre os recursos vegetais que as abelhas

    utilizam para se alimentarem e nidificarem foi utilizada a técnica de

    entrevista estruturada. A identificação taxonômica das espécies vegetais, já

    muito conhecidas na região, foi realizada através de literatura (LORENZI,

    1992) e (ATHAYDE, 1999).

    As espécies de abelhas identificadas pelo taxonomista Prof. Dr.

    Moure encontra-se na coleção entomológica da Universidade Federal do

    Paraná.

    O professor indígena Sirawã Kaiabi serviu de intérprete e formulava

    as perguntas na língua Kaiabi, para os dois principais informantes Arupá

    Kaiabi e Tuiaraiyp Kaiabi. As respostas traduzidas da língua Kaiabi para o

    português foram gravadas em fitas K-7 e posteriormente transcritas.

  • 21

    4. RESULATDOS E DISCUSSÃO

    4.1 Identificação, Comportamento e Usos os Produtos das Abelhas sem Ferrão

    Dentre as 27 espécies conhecidas pelos Kaiabi, sete foram

    identificadas cientificamente: Melipona (michmelia) oblitescens

    (COCKERELL, 1919), Tetragona clavipes (FABRICIUS, 1804), Tetragonisca

    angustula (LATREILLE, 1811), Frieseomelitta varia (LEPELETIER, 1836),

    Scaptotrigona postica (LATREILLE, 1807), Oxytrigona flaveola

    (FRIESE,1900), Tetragona truncata (MOURE, 1971). Neste trabalho,

    constatou-se a presença de uma etnoespécie de abelha sem ferrão ainda

    não classificada pela ciência, denominada pelos Kaiabi de Jawakanguu.

    Portanto, com base no resultado da identificação taxonômica, pode-se

    afirmar que as espécies de abelhas sem ferrão citadas, são encontradas no

    estado do Mato Grosso, contribuindo assim com os estudos de levantamento

    da biodiversidade de abelhas na região amazônica que, segundo

    PINHEIRO-MACHADO (2002), são incipientes.

    A denominação na língua indígena e alguns aspectos dos usos e

    restrições dos produtos e comportamento das abelhas, na visão Kaiabi, são

    apresentados na Tabela 1.

  • 22

    TABELA 1. Usos, restrições e comportamento das abelhas na perspectiva Kaiabi

    Nome indígena Nome científico Comportamento Usos dos produtos Marumaré Scaptotrigona

    postica Morde e corta o cabelo, muito brava, produz pouco mel

    Crias, mel e pólen são apreciados para consumo. No mês de julho o pólen é mais doce.

    Tata´eit Oxytrigona flaveola

    Solta líquida que queima a pele

    Apenas o mel é consumido como alimento e retirado com fogo

    Myju´ieit Sem identificação taxonômica

    Comumente encontram-se vários enxames em uma mesma árvore.

    Crias, mel e pólen são apreciados para o consumo Produz muito mel nos meses de setembro a novembro

    Y´wauu Sem identificação taxonômica

    Muito agressiva, produz bastante mel e prefere a árvore de jatobá para nidificar externamente

    Apenas o mel é consumido como alimento

    Mamangairowas

    ing

    Melipona (michmelia) oblitescens

    Morde e seu pêlo dá coceira, produz bastante mel de coloração escura, coleta fezes de onça

    O mel e o pólen são consumidos. O mel é utilizado para tosse e gripe. A cera é utilizada na confecção de artesanatos

    Jawakanguu Espécie nova Morde e seu pêlo dá coceira, produz bastante mel. É considerada parente da Melipona (michmelia) oblitescens

    O mel e o pólen são consumidos

    Jatei´i Tetragonisca angustula

    Muito mansa, produz pouco mel e geralmente é encontrada em árvores mortas caídas no chão

    Crias, mel e pólen são apreciados para o consumo. O mel é utilizado como antitérmico e dores de garganta

    A´yapyj Sem identificação taxonômica

    Gosta de entrar nos olhos Seu mel é apreciado somente no mês de agosto, pois na época das chuvas seu mel é amargo

    Marapypit Tetragona clavipes

    Carrega cera na pata, morde e enrosca no cabelo

    Crias, mel e pólen são apreciados para o consumo

    Akykyeit Sem identificação taxonômica

    Morde forte Crias, mel e pólen são apreciados para o consumo

    Eiryakã Tetragona truncata

    Mansa e produz mel azedo

    Crias, mel e pólen são apreciados para o consumo

    Akawut Sem identificação taxonômica

    Mansa e produz pouco mel

    Apenas o mel é consumido como alimento

    Ywypyeit Sem identificação taxonômica

    Eirywy Sem identificação taxonômica

    Ë encontrada em até 2 metros de profundidade, produz pouco mel

    Apenas o mel é consumido como alimento

    A´waruu Sem identificação taxonômica

    Muito brava e corta o cabelo. O mel é retirado com fogo

    Crias, mel e pólen são apreciados para o consumo

  • 23

    Nome indígena

    Nome científico Comportamento Usos dos produtos

    Kawintaj´uu Lestrimelitta sp. 1 Produz bastante mel de gosto azedo e espesso

    Mel tóxico. A cera quando queimada é utilizada para espantar mosquito

    Kawinta´ii Lestrimelitta sp. 2 Produz bastante mel de gosto azedo e espesso

    Mel tóxico. A cera quando queimada é utilizada para espantar mosquito

    Y´wau wai Sem identificação taxonômica

    Pequena, mansa e produz pouco mel

    Crias, mel e pólen são apreciados para o consumo

    Eju Sem identificação taxonômica

    Muito agressivo e possui ferrão. Seu mel é doce e produz bastante

    O mel que é consumido é retirado com fogo

    Kupia’eit Sem identificação taxonômica

    Nidifica dentro de cupinzeiros e produz pouco mel

    Apenas o mel é consumido

    Tymãkapemeit Frieseomelitta varia Abelha mansa, produz bastante mel, prefere nidificar em árvores secas e no alto

    Seu mel denso é muito apreciado. As crias e pólen são consumidos

    Jukyratyfet Sem identificação taxonômica

    Abelha mansa e produz bastante mel

    Seu mel é consumido principalmente no mês de outubro

    Tape’wá Sem identificação taxonômica

    Abelha brava, enrosca no cabelo, morde forte. Produz bastante mel. Esta etnoespécie prefere ambientes com características mais amazônicas

    Crias, mel e pólen são apreciados para o consumo

    Tapeowari Sem identificação taxonômica

    Abelha mansa e não produz mel

    Ajurusing Sem identificação taxonômica

    Nidifica em cupinzeiros aéreos, produz bastante mel

    O mel é consumido

    Curuneit Sem identificação taxonômica

    Nidifica em cupinzeiros terrestres e produz mel amargo

    O mel não é consumido, pois apresenta odor desagradável

    Eiratapap Sem identificação taxonômica

    Produz mel ruim, faz vomitar

    O mel não é consumido

    Os índios Kaiabi observaram o hábito anti-higiênico a espécie

    Melipona (michmelia) oblitescens, coletando fezes de onça. De fato algumas

    espécies de abelhas sem ferrão utilizam excrementos de vertebrados para

    usá-los em determinadas estruturas dos ninhos. Algumas espécies de

    abelhas sem ferrão utilizam também fezes de humanos e animais para

    construção do batume, estrutura que delimita os ninhos. Fato este

    observado também por NOGUEIRA-NETO (1997), com relação às espécies

    Trigona spinipes e Melipona rufiventris que coletaram excrementos de

    vertebrados para construção externa de ninhos aéreos e para o revestimento

    da colméia, respectivamente.

    Para os Kaiabi, os méis das espécies Lestrimelitta spp são perigosos.

    Certa vez, um cacique Kaiabi ingeriu este mel e sofreu um encolhimento dos

  • 24

    dedos da mão direita. Pelo acontecimento ele recebeu o nome desta abelha,

    Kawinta´ii. NOGUEIRA-NETO (1997) refere-se ao saburá (pólen misturado

    com mel) da abelha Lestrimelitta sp. e espécies afins, como tendo

    propriedades tóxicas aos seres humanos e que jamais devem ser

    consumidas. Ainda de acordo com este autor, o Padre Anchieta em 1.560,

    escreveu uma carta ao seu superior dizendo haver uma abelha chamada

    eiraquietá, cujo ninho apresenta numerosas bocas de entradas e que

    “quando se chupa toma as juntas do corpo, encolhe os nervos, ocasiona

    dores e tremores, provoca vômitos e relaxa o ventre”.

    Entre os Kaiabi, GRUMBERG (1970) destaca quatro etnoespécies de

    abelhas, sendo a Tape’’wá a mais valorizada. Em aldeias do povo Kaiabi

    localizadas no Rio Manito, a oeste do Parque, onde as características

    florestais são mais de espécies amazônicas, existe a ocorrência e a criação

    desta etnoespécie em colméias racionais. Entre os Kaiabi da aldeia Kwarujá,

    é clara a intenção de uma tentativa de aclimatação da etnoespécie Tape’wá,

    pois no Rio Xingu ela não ocorre.

    O povo Kaiabi da aldeia Kwarujá também faz uso de crias, de 11

    etnoespécies, na sua alimentação cotidiana. Fato este observado entre os

    povos Guarani (RODRIGUES, 2005), Enawene-Nawe (MENDES, 2001) e

    Kayapó (POSEY, 1987). Geralmente os Kaiabi consomem as crias nos

    locais onde os enxames são explorados, e, caso sobre, são levadas as suas

    residências para consumo posterior.

    Os kaiabi fazem usos dos méis das espécies de abelhas Tetragonisca

    angustula e Melipona (michmelia) oblitescens como medicinais.

    CORTOPASSI-LAURINO & GELLI (1991) pesquisaram e comprovaram

    ações antibactericidas em méis das espécies de abelhas Tetragonisca

    angustula, Tetragona clavipes, Melipona subnitida,Melipona scutelaris e

    Melipona quadrifasciata. Segundo NOGUEIRA-NETO (1997) os méis das

    espécies Melipona compressipes, Melipona quadrifasciata, Scaptotrigona

    bipunctata, Scaptotrigona postica e Tetragonisca angustula mostraram um

    poder antibacteriano de no mínimo grau 4 em uma escala de 5 graus.

  • 25

    4.1.1 Espécies Vegetais Utilizadas pelas Abelhas na Nidificação e Alimentação

    Para ROUBIK (1989) a maioria das espécies de abelhas sem ferrão

    depende de ocos das árvores para construir seus ninhos, enquanto uma

    minoria nidifica no solo ou constrói ninhos aéreos. Esta informação é

    coerente com a visão Kaiabi, pois das 27 etnoespécies, apenas cinco

    etnoespécies não nidificam em ocos de árvores. Como forma de localizar

    enxames na natureza, para posteriormente explorá-los, os índios Kaiabi

    procuram espécies vegetais que as abelhas utilizam para nidificação, e que

    são apresentadas a seguir: canelão (Lauraceae - Ocotea guianensis),

    arapari (Mimosaceae - Macrolobium acaciaefolium), itaúba (Lauraceae –

    Mezilaurus itauba), buriti (Arecaceae - Mauritia sp.), jatobá (Caesalpinaceae

    – Hymenaea sp.) e a peroba (Apocynaceae – Aspidosperma sp.)

    Os kaiabi indicam algumas espécies importantes na alimentação das

    abelhas: café-bravo (Euphorbiaceae - Mabea fistulifera), crendiúva

    (Ulmaceae – Trema micrantha), jacareúba (Clusiaceae – Calophyllum

    brasiliense), inajá (Arecaceae – Maximilliana maripa), buritizinho ( Arecaceae

    – Mauritiella sp.), ipê-amarelo (Bignoniaceae – Tabebuia caraíba), o

    mutambo (Sterculiaceae - Guazuma ulmifolia), a mangaba (Apocynaceae -

    Hancornia speciosa), o assa-peixe (Vernonia spp.), a macaúba (Arecaceae -

    Acrocomia aculeata), a bacaba (Arecaceae - Oenocarpus spp.) e o Ipê

    amarelo (Bignoniaceae - Tabebuia spp.). Algumas plantas da roça também

    são melíferas, como a fava (Papilionaceae - Phaseolus lunatus), urucum

    (Bixaceae - Bixa orellana), a mandioca (Euphorbiaceae - Manihot esculenta)

    e o milho (Poaceae - Zea mayz),

    4.2 Representação Biogeográfica das Abelhas na Aldeia Kwarujá Entre os índios Kaiabi da aldeia Kwarujá, o mapeamento indicou cinco

    diferentes ecossistemas. São eles: Ka’arete (mato alto de terra firme), Kofet

    (capoeira), Yapopet (mata de várzea), Ju campo e Ko (roça)

  • 26

    FIGURA 2 – Mapeamento dos ecossistemas na aldeia Kwarujá. As abelhas

    desenhadas na legenda são decorativas

    A partir do mapeamento participativo, pôde-se observar a distribuição

    geográfica das abelhas sem ferrão nas cinco unidades de paisagens,

    conforme Tabela 2.

  • 27

    TABELA 2. Etnoespécies de abelhas sem ferrão e seus locais de ocorrência conforme os índios Kaiabi da aldeia Kwarujá

    Abelha Ka’arete mato alto de terra

    firme

    Kofet capoeira

    Yapopet mata de várzea

    Ju campo

    Ko roça

    Eiratapap X Ajurusing X X Curuneit X X X Kupia’eit X Tapeowari X X X Tymãkapemeit X Jukyratyfet X X Tape’wá X X Marumaré X X X Tata´eit X X X Myju´ieit X X X Y´wauu X X Mamangairowasing X X X Jawakanguu X X X Jatei´i X X X A´yapyj X X Marapypit X X X X Akykyeit X Eiryakã X X X Akawut X X Ywypyeit X Eirywy X X A´waruu X X X Kawintaj´uu X X X Kawinta´ii X X X Y´wau wai X X Eju X

  • 28

    Segundo DOUBE e WARDHALGH (1991) a estrutura da vegetação

    influencia diretamente na composição da fauna local, onde suas

    características como, luminosidade, temperatura e umidade, entre outras,

    atuam diretamente na biologia das espécies, dando suporte para

    reprodução, nidificação, forrageamento e desenvolvimento.

    Os Kaiabi percebem que as etnoespécies de abelhas Ywypyeit,

    Akykyeit e Eirywy, são específicas das unidades de paisagem Ka’areté,

    indicando a necessidade de um ambiente mais úmido e com maior

    diversidade de espécies vegetais. Por este fato, essas abelhas

    provavelmente sirvam de indicadores biológicos de ambientes. Pela análise

    dos dados pode-se observar a preferência das abelhas pelo Ka’areté e a

    menor incidência das abelhas, segundo os índios, ocorre em áreas alteradas

    como o Ko.

    Trabalhos como de Tschrntke et al. (1998) e Morato (2004)

    encontraram uma correlação entre riqueza e abundância de espécies de

    abelhas solitárias entre os ambientes estudados, ressaltando o efeito direto

    da perturbação da vegetação sobre os insetos. Na perspectiva Kaiabi

    também existe a correlação entre o número de espécies de abelhas sem

    ferrão e a complexidade do ambiente, onde em ambientes alterados, o

    número de espécies diminui drasticamente

    4.3 Aspectos Morfológicos das Abelhas

    As estruturas morfológicas das abelhas recebem nomes na língua

    Kaiabi que, na maioria das vezes, correspondem aos da parte do corpo

    humano. Alguns, entretanto, são utilizados especificamente para a

    morfologia do inseto. Na Figura 3 são apresentadas as estruturas

    morfológicas nomeadas na língua Kaiabi e na Tabela 3 a correspondência

    dos termos em português.

  • 29

    FIGURA 3. Estrutura morfológica da abelha na língua Kaiabi.

    TABELA 3. Correspondência dos nomes das estruturas morfológicas das abelhas na língua Kaiabi e em português

    Nome Kaiabi Nome Português

    Iakang Cabeça Eirarea Olho composto

    eai’i Ocelos Opejop Antena

    Ijuru Mandíbula Iku Glossa Ete Tórax

    Ipepo Asa anterior Ipepoi’i Asa posteriror Ijywa Fêmur Ifwã Tarso

    Tymakang Corbícula api’a Abdome

    api’aap Placa tergal

  • 30

    5. CONCLUSÕES

    1. Os Kaiabi são entomofágicos.

    2. Na percepção dos índios Kaiabi, as espécies de abelhas sem ferrão estão

    associadas ao tipo de vegetação.

    3. O maior número de etnoespécies de abelhas sem ferrão está inserido em

    ambientes com maior diversidade de espécies vegetais. Três etnoespécies

    de abelhas são específicas deste ambiente.

    4. Reconhecem diferenças nas estratégias de defesas das abelhas sem

    ferrão na quantidade, densidade, coloração e gosto dos méis, além de

    apontarem mel da espécie Lestrimelitta como perigoso para a saúde

    7. Os Kaiabi Identificam seis espécies vegetais utilizadas pelas abelhas para

    nidificação e 16 espécies vegetais utilizadas para a alimentação.

    8. Verificou-se um conhecimento detalhado dos índios kaiabi sobre a

    morfologia das abelhas

  • 31

    6 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

    ATHAYDE, S. F. Caracterização dos recursos naturais, vegetação e fauna. Relatório interno do Programa Xingu – Instituto Socioambiental, 1999.

    BECKER, H. S. Métodos de pesquisas em ciencias sociais. 3 ed. São Paulo, Ed Hucitec. 1994, 112p.

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    GRUMBERG, G. Beitrage zur Ethnographie der Kayabi Zentralbrasiliens. Tese Doutoramento pela Faculdade de Filosofia da Universidade de Viena e

  • 32

    publicado em Archiv fur Volkerkunde, volume 24: 21-186, Viena. Traduzido por Eugênio Wenzel sob o título Contribuição para a etnografia dos Kayabi do Brasil Central. 1970.

    IKPENG, K. Ecologia Economia e Cultura. São Paulo: Instituto Socioambiental, 2002.

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    1 INTRODUÇÃO1 INTRODUÇÃO2 REVISÃO DE LITERATURA

    Índice.pdf1 INTRODUÇÃO