Conhecimento - Gerenciamento

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  • 8/14/2019 Conhecimento - Gerenciamento

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    GERENCIAMENTO DO CONHECIMENTO:

    INTERAO UNIVERSIDADE E EMPRESA

    Ccero Caiara Junior*

    RESUMO

    O presente artigo tem por objetivo discutir os principais aspectos observados no momento da realizaode parcerias entre Universidades e Empresas. Aspectos sociais e culturais so abordados com detalhes.So discutidos os principais obstculos para uma parceria harmoniosa, bem como so descritosalguns modelos de sucesso existentes. A Gesto do Conhecimento tambm tratada como umdesafio para o bom relacionamento entre as Universidades e Empresas. O texto aborda ainda asprincipais Leis vigentes de incentivo s parcerias tecnolgicas existentes no Brasil.

    Palavras-chave: universidade, empresa, gesto do conhecimento, parceria

    ABSTRACT

    The present article has as objective to discuss the main aspects observed in the moment of theaccomplishment of partnerships between Universities and Companies. Social and cultural aspectsare approached with details. The main obstacles for a harmonious partnership are discussed, as wellas some existent successful models are described. The Knowlege Management is also approached asa challenge for the good relationship between the Universities and Companies. The text also talks

    about the main existent laws of incentive to the existent technological partnerships in Brazil.

    Key-words: university, company, knowledge management, partnership

    * Bacharel em Cincia da Computao, Especialista em Redes e Sistemas Distribudos e Mestrando em Engenhariade Produo na Universidade Federal de Santa Catarina; Professor das Faculdades SPEI. E-mail: [email protected]

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    1 INTRODUO

    A maior dificuldade no relacionamentoentre a Universidade e a Empresa, talvez seja o

    fato de as duas viverem realidades diferentes. A Universidade concentra esforos em

    pesquisas e na produo de artigos e papers,focaliza a boa formao acadmica dos alunos ebusca recursos financeiros para manter a suaestrutura administrativa.

    Por outro lado, a empresa busca alcanarvantagem competitiva perante seus concorrentes,focaliza a satisfao do cliente e visa aumentarseu lucro e crescer no atual mercado globalizado.

    Durante a Segunda Revoluo Industrial,o modelo brasileiro de isero do parqueprodutivo apoiou-se particularmente em mo-de-obra barata, matrias primas abundantes evariadas formas de protecionismo.

    A substituio de importaes baseou-sena compra de tecnologia no exterior comoprocesso de acelerao do processo decrescimento. Nesse contexto, o setor de Cinciae Tecnologia foi pouco acionado, tendo-severificado a baixa interao entre as

    Universidades, fontes geradoras deconhecimento e o setor empresarial. Atualmente,o Governo oferece diversos mecanismos parafomentar a Pesquisa & Desenvolvimento P&Dno Brasil, atravs de Leis onde os incentivosfiscais atraem a participao de diversasEmpresas.

    O objetivo deste artigo identificar,com base em Leis de incentivo tecnologiaexistentes no Brasil, a necessidade de sedesenvolver um modelo de estrutura interna de

    Pesquisa & Desenvolvimento, onde asUniversidades consigam manter uma parceriadinmica e que promova benefcios bilateraisjunto s Empresas.

    2 PRINCIPAIS OBSTCULOS PARA AINTERAO

    Cybert e Goodman (1997), enfatizam emseu estudo que, o fortalecimento efetivo da

    interao entre Universidade e Empresa,

    constituda a partir de convnios estimulados porincentivos governamentais, os quais seroabordados nas prximas sees deste artigo,decorre de uma nova viso do relacionamento

    entre parceiros, em cujo ncleo est a concepode um projeto de desenvolvimentoorganizacional. Podemos concluir que odesenvolvimento de parcerias tecnolgicasUniversidade-Empresa, inserido em umprocesso amplo capaz de prover mecanismos deintegrao entre pesquisadores dasUniversidades e os pesquisadores das Empresas.

    Em Criao de Conhecimento na Empresa,Nonaka e Takeuchi (1998) dizem que reunirpessoas com experincia e conhecimentos

    diferentes uma das condies necessrias criao do conhecimento.

    Aparentemente a afirmao dos autoresnos parece bastante simples e prtica. Noentanto, a troca de experincia e conhecimentosentre profissionais das Empresas e osPesquisadores das Universidades, no simples.Principalmente devido a ineficiente estruturainterna das duas organizaes.

    O acesso ao conhecimento cientfico e

    tcnico sempre teve importncia na lutacompetitiva, afirma Harvey (1993). A perda decompetitividade das empresas est ligadadiretamente questo educacional. Nopodemos encarar o problema da interaoUniversidade e Empresa como sendo algo queser solucionado com a implementao de umaferramenta revolucionria.

    Ruggles (1996), em seu artigo KnowledgeManagement Tools, enfatiza que o problema tecnolgico e sociolgico, portanto ao iniciarmos

    essa anlise nos deparamos com trs problemasfundamentais e que se no forem resolvidos noatingiremos nosso objetivo, so eles: a distnciafsica, a distncia social e a distncia temporal.Analisaremos a partir deste momento cada umdesses problemas.

    A distncia fsicacompromete e muitoqualquer tipo de interao, mesmo com osavanos tecnolgicos e ferramentas jdisponibilizadas sociedade. Temos que dealguma forma encurtar distncias fsicas e isso

    s ser possvel criando um elo pessoal entre

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    as duas organizaes, ou seja, um representantena Universidade e outro na Empresa, ambos como objetivo de estabelecer um elo consistente,leal e transparente entre as organizaes.

    A distncia social talvez se identifiquecomo o maior obstculo dessa interao. Aempresa visa lucro e est vinte e quatro horaspor dia procurando obter um algo a mais emrelao aos seus concorrentes. A Universidadeno tem fins lucrativos e caminha maislentamente devido, principalmente, a estruturasburocratizadas e hierarquizadas. Normalmenteo que para a Empresa deve ser feito paraontem, na Universidade ser feito paraamanh.

    A distncia temporal conseqentemente prejudicada pelas distnciassocial e fsica. Atingir a sincronizao corretaentre as organizaes tarefa difcil e somentebem conduzida e dirigida por lderes conscientesda importncia dessa relao, isso ser possvel.Alm disso muitas pesquisas so realizadas nasUniversidades e no se transformamimediatamente em um produto ou tecnologia,pois o mercado no est carente desses, entoessas pesquisas acabam arquivadas e

    esquecidas.Quando o mercado comea a exigir novos

    produtos ou tecnologia que as Empresas corrematrs e nem sempre percebem que aquelapesquisa j foi realizada h anos em algumaUniversidade. nesse momento que se observaa necessidade da Gesto do Conhecimento.

    Cybert e Goodman (1997), tambmdesenvolveram amplas pesquisas, apresen-tandoum conjunto de aspectos essenciais para a

    anlise da eficincia da interao entreUniversidades e Empresas. Alguns aspectosimportantes tambm devem ser salientados:

    n identificao das discordncias entreuniversidades e Empresas;

    n concepo dos benefcios para ambass partes;

    n criao de mecanismos de integraoentre as equipes das duas organizaes.

    3 GESTO DO CONHECIMENTO

    Conhecimento no dado nem informao,embora esteja relacionado com ambos e as

    diferenas entre esses termos sejamnormalmente uma questo de grau, Davenporte Prusak (1998). Baseado, na afirmao deDavenport & Prusak, podemos concluir que aGesto do Conhecimento muito mais complexaque o simples gerenciamento de dados ou deinformaes. Alm do mais, o conhecimento podeser dividido em duas categorias: osconhecimentos explcitos e osconhecimentos tcitos.

    Nonaka e Takeuchi (1999) realizaram uma

    importante distino entre os tipos deconhecimento que tem sido amplamenteempregada e permite que se aborde o assuntode uma maneira prtica :

    Conhecimentos Explcitos: so osconhecimentos estruturados e capazes de serverbalizados. Portanto, a parte estruturada eobjetiva do conhecimento, aquela que pode sertransportada, armazenada e compartilhada emdocumentos e sistemas computacionais. Ela fazparte do conhecimento explcito: normas,

    registros bibliogrficos, livros, proce-dimentos detrabalho e outros;

    Conhecimentos Tcitos: so osconhecimentos inerentes s pessoas, isto , ashabilidades que elas possuem. Trata-se, portanto,da parcela no estruturada do conhecimento, aqual no pode ser registrada e/ou facilmentetransmitida outra pessoa. Esses autorespropem ainda que existe um ciclo contnuodentro das empresas onde conhecimentoexplcito esteja se transformando em tcito e vice-

    versa.Com base nessas afirmaes de

    Nonaka e Takeuchi (1999), pode-se chegar sequaes que se seguem:

    - Informao = Dado + (Atributos, Relevncia, Contexto)

    - Conhecimento= Informao + (Experincia, Valores, Padres, RegrasImplcitas).

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    4 UM MODELO DE SUCESSO

    J abordamos os principais obstculos nainterao entre Universidades e Empresas e

    tambm a importncia da Gesto doConhecimento para essa interao. Nestemomento, ser descrito o modelo de estruturainterna aplicada na Universidade de Tecnologiade Compiegne, na Frana.

    A Universidade de Tecnologia deCompiegne, um exemplo a ser seguido paraalcanarmos um modelo eficaz. NessaUniversidade, objetivando reduzir ou eliminar asdistncias anteriormente citadas, foi criada umaestrutura denominada Interface Estudante

    Empresa Emprego IEEE, onde um canal nicofoi estabelecido e utilizado para atingirinteresses convergentes entre as organizaes.

    A estrutura trabalha com dois bancos dedados, onde em um deles so inseridos dadosdos alunos, tais como histrico, notas,experincias, cursos e dados adicionais casoexistam.

    Em outro banco de dados so inseridos osdados da empresa, ou seja, as necessidades de

    mercado. Posteriormente um matching, ou seja,uma procura realizada, onde os dois bancosde dados se cruzam e se complementam eminteresses comuns. Aplicaes como esta estosendo utilizadas tambm para o gerenciamentode capital intelectual. Essa aplicao citada apenas uma entre diversas que podem serimplementadas com sucesso na realidade denosso pas, basta para isso a quebra doparadigma de que a interao Universidade-Empresa no vivel.

    A idia de que Universidades e Empresasvivem realidades diferentes notria, mas quejuntas no podem atingir eficincia e troca deexperincias e valores, isso est provado que no verdade, haja visto o modelo de Compiegne.

    5 LEIS DE INCENTIVO PARA ES-TABELECIMENTO DE PARCERIAS

    O estabelecimento de parcerias entre

    Universidades e Empresas vem aumentando

    consideravelmente. Tal fato, deve-se aimportncia que o Governo vem demonstrandono que se refere ao apoio em P&D. O efeito daglobalizao, fez crescer a demanda por

    inovaes de produtos e processos nasEmpresas. Alm disso a reduo de recursos doGoverno para financiamentos de projetos emUniversidades, tambm j notada h tempo.Um dos mecanismos encontrados para solucionaresses problemas, so as leis de Incentivos Tecnologia.

    Inmeras so as formas e as Leis que oGoverno implementou nos ltimos anos. Dentrevrios dispositivos, destacamos a Lei Nr. 10.176- Lei de Tecnologia da Informao TI, publicada

    em 11 de janeiro de 2001. A Lei Nr. 10.176 surgiuem substituio Lei Nr. 8.248 de 23 de outubrode 1991, regulamentada pelo Decreto Nr. 792 de2 de abril de 1993. O objetivo principal da Lei10.176 oferecer s Empresas de informtica eautomao a concesso de incentivos fiscais,tendo como principal objetivo a formao deparcerias entre Universidades e Empresas. Oprincipal benefcio concedido s empresas aReduo do Imposto sobre ProdutosIndustrializados IPI.

    Por outro lado, as obrigaes das Empresasconsistem em Investir em atividades de P&D nomnimo 5% de seu faturamento bruto nomercado interno, decorrente da comercializaode bens e servios de informtica BIT,deduzidos os tributos correspondentes a taiscomercializaes, bem como o valor dasaquisies de produtos incentivados na formadessa Lei.

    J a distribuio dos investimentosconcedidos pela Lei 10.176 dever obedecer

    seguinte composio:n 2,7% em pesquisa e desenvolvimentoextra-convnio (internamente na empresa);n 2,3% em convnio distribudo da seguinteforma (externo);n 0,5%no Fundo Nacional de DesenvolvimentoCientfico e Tecnolgico (FNDCT);n 0,8%mediante convnio com centros ouinstitutos de pesquisa ou entidades brasileirasde ensino, oficiais ou reconhecidas das regiesNorte, Nordeste e Centro-Oeste, excetuada aZona Franca de Manaus;

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    n 1,0% mediante convnio com centros ouinstitutos de pesquisa ou entidades brasileirasde ensino, oficiais ou reconhecidas das regiesSul e Sudeste.

    Finalizando, a Lei 10.176 um modelo defomento P&D criada pelo Governo. Para aperfeita aplicao deste instrumento asUniversidades e Empresas devem estabelecermtodos e modelos para otimizarem suautilizao.

    6 VANTAGENS DA INTERAO ENTREUNIVERSIDADES E EMPRESAS

    Podemos aqui enumerar inmerasvantagens da interao Universidade e Empresa,dentre elas cabe-se relatar a importncia de semotivar nossos pesquisadores, que em muitasoportunidades ficam trancados em uma sala deuniversidade desmotivados aguardandopesquisas financiadas pelo Governo. A novatecnologia requer arquiteturas diferentes, que amaioria das nossas escolas no admite. Ohardware foi elaborado para uso das empresase no das escolas, Hawkins (1995).

    Por que a Empresa no pode instigar einvestir em pesquisas dentro da Universidade?As celebradas conexes com a indstria de altatecnologia do Vale do Silcio de Stanford ou aRota 128 MIT-Boston so configuraes bastantenovas e especiais da era da acumulao flexvel,afirma Harvey (1993). Muitas dessas pesquisaspodem resultar na introduo de uma novatecnologia, convergindo assim para um interessemtuo onde atingido o objetivo da interao:O pesquisador motivado e pesquisando e aEmpresa alcanando a to almejada vantagemcompetitiva.

    7 CONCLUSO

    O objetivo principal identificado nainterao entre Universidades e Empresas ainovao e o conhecimento. Para que isto se tornerealidade, necessria uma transformao e umaconcepo de um projeto de desenvolvimento

    organizacional por parte das Universidades.

    Definitivamente estamos vivendo a era doconhecimento, onde a estruturao e o corretoemprego da informao fundamental paraqualquer organizao. O compartilhamento e a

    transferncia de conhecimento so atividades quedevem ser muito bem trabalhadas e isso possvel atravs do gerenciamento doconhecimento. O conhecimento pode estardentro da Universidade e ser fundamental paraa Empresa e vice-versa. O Governo estcumprindo o seu papel no processo. Os interessesmtuos podem ser atingidos bastando para issoa conscientizao e o interesse das Universidadese das Empresas.

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