64
Índice Introdução....................................... 2 1. O Modo........................................ 3 1. 1. A noção do modo...................................3 1. 2. Os modos verbais no latim e no português..........4 2. O emprego do Conjuntivo.......................8 2.1. O Conjuntivo em oração principal...................8 2.1.1. Coniunctivus Iussivus..........................8 2.1.2. Coniunctivus Optativus.........................9 2.1.3. Coniunctivus Potentialis......................10 2. 2. O Conjuntivo em orações subordinadas.............12 2.2.1. Frases completivas (substantivas).............13 2.2.2. Orações relativas.............................18 2.2.3. Orações adverbiais............................22 3. A selecção do tempo..........................34 3.1. A selecção do tempo em orações principais.........34 3.2.A selecção do tempo em orações subordinadas........35 3.2.1. A selecção do tempo em frases condicionais....36 3.2.2. A concordância dos tempos: as regras da Consecutio Temporum............................................. 37 Conclusão....................................... 43 Bibliografia.................................... 44 1

Conjuntivo No Latim e No Portugues Szd

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Conjuntivo No Latim e No Portugues Szd

Índice

Introdução......................................................................................................2

1. O Modo.....................................................................................................3

1. 1. A noção do modo.................................................................................................3

1. 2. Os modos verbais no latim e no português........................................................4

2. O emprego do Conjuntivo.........................................................................8

2.1. O Conjuntivo em oração principal.....................................................................8

2.1.1. Coniunctivus Iussivus......................................................................................8

2.1.2. Coniunctivus Optativus...................................................................................9

2.1.3. Coniunctivus Potentialis................................................................................10

2. 2. O Conjuntivo em orações subordinadas.........................................................12

2.2.1. Frases completivas (substantivas).................................................................13

2.2.2. Orações relativas...........................................................................................18

2.2.3. Orações adverbiais........................................................................................22

3. A selecção do tempo...............................................................................34

3.1. A selecção do tempo em orações principais.....................................................34

3.2.A selecção do tempo em orações subordinadas................................................35

3.2.1. A selecção do tempo em frases condicionais................................................36

3.2.2. A concordância dos tempos: as regras da Consecutio Temporum................37

Conclusão....................................................................................................43

Bibliografia..................................................................................................44

1

Page 2: Conjuntivo No Latim e No Portugues Szd

Introdução

O emprego do Modo Conjuntivo é um ponto problemático, que pode causar

dificuldades durante da aprendizagem do latim ou duma língua românica, não apenas

para nós húngaros, em cuja língua não existe este modo, mas também para os falantes

nativos.1 Durante os meus estudos do latim, do português e um pouco do italiano

experimentei que apesar de falarmos sobre o mesmo Modo Conjuntivo o seu emprego

não é igual nas diferentes línguas e as diferenças nem sempre podem ser explicadas por

razões históricas. Isso é verdade sobretudo no caso do português, que comparado com

as outras línguas românicas tem algumas particularidades especiais, por exemplo a

existência do Futuro do Conjuntivo. O objectivo desta tese é recolher e sistematizar as

características comuns e diferentes do Conjuntivo latino e português, para facilitar a

aprendizagem destas línguas. A análise seria mais completa se comparássemos todas as

línguas românicas, mas isso ultrapassaria os nossos limites.

Primeiro vamos tratar de questões mais gerais como a definição do modo, os

diferentes modos verbais, as características gerais do Conjuntivo, depois examinaremos

a selecção do modo em orações principais e subordinadas nas duas línguas e no fim

compararemos o emprego dos tempos do Conjuntivo.

1 Marques, 3.

2

Page 3: Conjuntivo No Latim e No Portugues Szd

1. O Modo

Antes de começarmos a tratar das características do Modo Conjuntivo no latim e

no português temos de definir a noção do modo e recolher aqueles aspectos segundo os

quais podemos distinguir os diferentes modos.

1. 1. A noção do modo

A definição do modo é semelhante nas diferentes gramáticas. É uma categoria

verbal que exprime uma atitude do enunciador em relação ao enunciado. Há autores2

que sublinham a sua função modal. O modo, como o seu nome indica, é uma ligação

modal entre o locutor e o conteúdo sobre o qual fala. As modalidades que podem ser

marcadas assim são: as aléticas (necessidade, possibilidade, incidência); epistémicas

(certeza, plausabilidade, exclusão); deônticas (obrigação, permissão, proibição).3 Além

das três modalidades básicas existem também outras como: temporais, erotéticas,

avaliativas e causais.4 Podem ser expressas por diferentes formas lexicais, por exemplo

advérbios ou elementos funcionais como verbos modais ou modos verbais, então o

modo verbal é a manifestação gramatical da modalidade semântica.

Segundo Mateus e outros5 o uso dos modos liga-se também aos actos ilocutórios,

assim depende do tipo da frase em que aparece. Podemos encontrar uma ideia

semelhante em Pinkster, que diz que o modo num sentido mais amplo pode significar o

tipo da frase e a sua força ilocutória, por isso há linguistas que não distinguem estas três

noções. Ele considera necessária a distinção, mas resume a relação entre os modos e os

tipos de frases na tabela seguinte6:

Tipos de frases ModosIndicativo Imperativo Conjuntivo

Declarativo + - +Imperativo - + +Interrogativo + - +

2 Mateus e outros., Marques.3 Mateus e outros, 102-6. 4 Marques, 6. baseada em Oliveira, F.: Para uma semântica e pragmática de DEVER e PODER,

Dissertação de Doutoramento em Linguística Portuguesa, Faculdade de Letras da Universidade do Porto,

1988. 5Mateus e outros 102-6.6 Pinkster, 190.

3

Page 4: Conjuntivo No Latim e No Portugues Szd

No português costumam distinguir também frases exclamatvas, optativas,

imperativas, mas quanto ao emprego dos modos as exclamativas podem ser

consideradas declarativas enquanto os dois últimos podemos incluí-los numa categoria

maior das frases desiderativas7 nos quais usamos o Imperativo ou o Conjuntivo. Desta

relação entre modos e tipos de frases trataremos mais em relação ao uso do Conjuntivo

em orações principais, mas agora examinemos os diferentes modos verbais.

1. 2. Os modos verbais no latim e no português

Os três modos básicos que se encontram no latim e nas línguas neolatinas são o

Indicativo, o Imperativo e o Conjuntivo. Na língua indoeuropeia existia também o

Modo Optativo, que continuava a existir no grego antigo e no sânscrito, mas no latim

juntou-se ao Conjuntivo. Havia gramáticos8 que seguindo o exemplo grego diziam que o

Optativo existe também no latim apesar de as suas formas verbais serem iguais às do

Conjuntivo. Além de o Conjuntivo latino exprimir desejos, têm outras razões para

pensarem assim:

Enquanto a negação do Conjuntivo acontece com non em geral, no caso do

Optativo usa-se ne. (Mas há outros usos do Conjuntivo que se negam com ne.)

O uso dos tempos é diferente no caso do Optativo. O Presente exprime que o

desejo é possível, o Imperfeito que não é possível realizá-lo no presente, o mais-que-

Perfeito a irrealização no passado. O Presente do Optativo tem um valor de futuro. O

Imperfeito e o mais-que-Perfeito exprimem irrealização no presente e no passado como

no caso do conjuntivo potencial. O Perfeito do Optativo refere-se ao futuro mas indica

perfectividade.9.

Um outro modo problemático é o Condicional, que não existia nem na língua

indoeuropeia antiga nem no latim, mas existe nas línguas neolatinas. Este é o modo que

substitui o Conjuntivo potencial e além disso tem também um valor temporal na oração

oblíqua, onde exprime futuridade no passado, por isso chama-se também o Futuro do

Pretérito. O seu valor modal é também semelhante ao Futuro do Indicativo porque

ambos exprimem hipótese ou dúvida, o Futuro no presente, enquanto o condicional no

Passado. Além disso ambos provêm da construção do Infinitivo e o Presente ou o

7 Töttössy (1992), 199.8 Dionysius, Donatus9 Binnick 70-1.

4

Page 5: Conjuntivo No Latim e No Portugues Szd

Imperfeito do verbo habere.10 Há linguistas que por estas razões não consideram o

Condicional um modo independente.11

O Modo Imperativo, como o seu nome mostra, é o modo das ordens. No latim

existia além do I. Imperativus (Praesens) o II. Imperativus (Futurus), mas ambos eram

defectivos porque faltavam as formas da primeira e da terceira pessoa do I. e as formas

da primeira pessoa do II.. As formas negativas do I. são expressas por noli(te) mais o

Infinitivo ou por ne mais o Conjuntivo. O II. é negado por ne. No português existem

apenas as formas positivas do I.. Para substituir as formas que faltam é usado o Presente

do Conjuntivo em ambas as línguas.

O modo Conjuntivo já no latim tinha dois nomes, o Conjuntivo significa que

serve para ligar ideias, assim indica que entre duas ou mais orações há uma relação mais

forte. O outro nome é Subjuntivo, que nos sugere que a função principal deste modo é

indicar a subordinação, por isso há linguistas que negam a existência das suas

ocorrências independentes como vamos ver no próximo capítulo. Os linguistas

costumam definir o Indicativo e o Conjuntivo juntos determinando a diferença básica

entre estes dois modos. Uma solução que frequentemente aparece nas obras linguísticas

é que esta diferença é a assertividade. O Indicativo é o modo assertivo, assim usa-se

em frases declarativas e depois de verbos da afirmação e o Conjuntivo como o modo

não assertivo é seleccionado para exprimir desejo, dúvida, ordem, etc.12 Mas esta

hipótese é problemática porque o Indicativo não exprime sempre asserção e também o

Conjuntivo pode exprimi-la. Consideremos os exemplos seguintes:

(1)Pensa que os gatos podem voar.

(2)Lamento que tenham perdido o jogo.

Segundo uma outra hipótese há muitos que consideram o valor de verdade como

aspecto que pode distinguir os dois modos. Assim o Indicativo é o modo que exprime

um maior valor de verdade (certeza, realidade), enquanto no caso do uso do Conjuntivo

o grau da verdade é mais baixo (incerteza, dúvida, eventualidade, irrealidade)13. É

10 Nunes, 279.11 Cunha - Cintra, 460-2.12 Bybee, J. - Terrel, T. ”Análisis Semántico del Modo en Español”,: in Bosque, I(org.), Indicativo y

Subjuntivo, Taurus Universitria, Madrid, 1990, 145-163, apud Marques (1997), 192. ou. Marques, 9-12. 13 Cunha - Cintra, 463-4; Mateus e outros, 106.

5

Page 6: Conjuntivo No Latim e No Portugues Szd

interessante a hipótese de Farkas14, que distribui verbos de ancoragem intencional e

extensional. No caso dos verbos de ancoragem intencional o complemento é

interpretado relativamente a um único mundo e seleccionamos o Modo Indicativo,

enquanto a "ancoragem extensional" significa que o complemento é interpretado

relativamente a um conjunto de mundos, e neste caso usamos o Conjuntivo. A sua

hipótese é verdadeira no caso do romeno, mas não no caso das línguas românicas

ocidentais.

As hipóteses mencionadas consideravam o Indicativo o modo menos marcado e

tentavam determinar os casos quando temos de usar o Conjuntivo. Segundo Marques

seria mais lógico fazer o contrário. Ele considera marcado o Indicativo, que exprime

uma modalidade epistémica.15 Na definição de Woodcock o Indicativo exprime uma

atitude distanciada, o enunciador não exprime sentimentos sobre o assunto. O

Conjuntivo pelo contrário é usado quando a atitude do locutor não é neutra.16 Outras

gramáticas latinas também escrevem que a crença da verdade do enunciador é que

determina a selecção do modo. Assim usa-se o Indicativo quando é expressa uma crença

da verdade, enquanto o uso do Conjuntivo significa que o enunciador não aceita a

verdade do assunto expresso. Ou com outras palavras o Indicativo exprime uma verdade

objectiva, enquanto o Conjuntivo uma subjectiva.17

Santos18 combina diferentes hipóteses. Aceita que o Conjuntivo indica que o

assunto expresso não é verdadeiro e está ligado a um mundo virtual, mas ao mesmo

tempo sublinha que o enunciador é que escolhe o modo que considera adequado

segundo a sua crença de verdade.

Ainda temos de mencionar um fenómeno latino, o Indicativus Irrealis, que

Töttössy19 ilustra com o exemplo seguinte:

14Farkas, D.:”On the semantics of subjunctive complements”; in P. Hirschbühler e K. Koerner (eds):

Romance Languages and Modern Linguistic Theory; John Benjamins, 1992, 71-104. apud Marques

(2004) 96. ou Marques, 11.15Marques (1997), 194-7.16Woodcock, 83-4. 17 Nagy - Kovács - Péter 150.18 Santos, Ma J. A. V.: Os Usos do Conjuntivo em Língua Portuguesa (Uma proposta de Análise

Sintáctica e Semântico-Pragmática), Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1999, apud

Marques, 23-6. 19Töttössy (1991) 139.

6

Page 7: Conjuntivo No Latim e No Portugues Szd

(3)"Possum de ichneumonum utilitate, de crocodilorum, de felium dicere, sed nolo

esse longus."20

(4)Poderia falar sobre a utilidade das doninhas, dos crocodilos, dos gatos, mas não

quero ser longo.

Como podemos ver na tradução portuguesa, utilizamos o Condicional para indicar

que verdadeiramente não acontece o que a frase declara, apenas seria possível o seu

acontecimento. No latim ainda não existia o Condicional, mas para indicar a

potencialidade usavam os Presente e o Perfeito do Conjuntivo, como vamos ver no caso

das frases condicionais. A explicação é que nas situações semelhantes o locutor quer

sublinhar que tem a capacidade de fazer alguma coisa, mas naquele momento não quer

fazê-lo, por isso a frase exprime que esta capacidade é verdadeira. É semelhante o caso

das expressões de valor:

(5)"Cuius ego vicem doleo; qui urbem reliquit, id est patriam, pro qua et in qua

mori praeclarum fuit."21

(6)Tenho dor em vez dele; quem deixou a cidade, a pátria pela qual e em que teria

sido gloriosíssimo morrer.

Aqui a morte não aconteceu, o conteúdo é irreal, e neste caso no latim o emprego

do Coniunctivi Praeteritum Imperfectum ou o Praeteritum Perfectum seria normal. Mas

podemos dizer que morrer pela pátria é sempre glorioso, esta é uma verdade eterna,

assim o uso do Indicativo é normal. Seria mais evidente usar o Presente, mas o Perfeito

no seu uso gnómico pode ser usado no caso de verdades eternas. Assim talvez seja

melhor usar o Presente do Indicativo na frase portuguesa: é glorioso. Assim podemos

ver que a selecção do modo depende do atitude do locutor. No português também há

situações em que o Indicativo pode exprimir contrafactualidade, como vamos ver

quando tratarmos as frases condicionais.

20 Cicero: De natura deorum, 1, 101.21 Cicero: Epistlae ad Atticum VIII. 2. 2.

7

Page 8: Conjuntivo No Latim e No Portugues Szd

2. O emprego do Conjuntivo

2.1. O Conjuntivo em oração principal

O Conjuntivo emprega-se principalmente em orações subordinadas, por isso há

gramáticos que negam a existência das suas ocorrências independentes principalmente

no caso da língua portuguesa.22 porque ainda que algumas formas no Conjuntivo

aparentemente sejam independentes, sempre dependem duma palavra da oração

principal23 ou duma oração subordinante que existe apenas na estrutura profunda.24

Apesar disso não é correcto dizer que o Conjuntivo é o modo da subordinação, porque

também o Indicativo pode aparecer em orações subordinadas.25

No caso do latim o ponto de vista é o contrário, porque além de os gramáticos

aceitarem a existência dos empregos independentes do Conjuntivo, consideram que as

formas subordinadas provêm desses.26 Tradicionamente distinguem três tipos do

Conjuntivo em oração principal: Iussivus, Optativus, Potentialis. Examinando o valor

modal podemos ver que estas funções se ligam a diferentes modos da língua

indoeuropeia antiga. O Coni. Iussivus tem um valor de Imperativo, o Optativus era um

modo independente, como já mencionámos, e o Potentialis representa o Conjuntivo

antigo. No caso do português a situação mudou, porque apareceu um novo modo, o

Condicional, que herdou as funções do Potentialis. Mas examinemos estes três tipos do

Conjuntivo latino e as formas portuguesas correspondentes.

2.1.1. CONIUNCTIVUS IUSSIVUS

A sua função principal é substituir as formas do Impertaivo que faltam. No

português também existe este emprego das formas do Presente do Conjuntivo, que na

segunda pessoa do singular (e no plural) exprime apenas proibição (Coni. Prohibitivus

no latim), mas nas outras pessoas também ordem.27 O problema com este emprego é que

22 Cunha - Cintra 463.; Marques, 14-6. Marques, 16-21.23 Mattoso Camara 98. 24 Mateus e outros, 151-152.25Marques, R.: Sobre o valor dos Modos Conjuntivo e Indicativo em Português, Dissertação de Mestrado,

Faculdade de Letras de Lisboa, 1995 apud Marques, 26. 26Woodcock .84; http://greekandlatin.osu.edu/programs/latin/grammar/mood/subjunctiveMood.cfm/

2010.08.30.12:2527 Cunha - Cintra 465.

8

Page 9: Conjuntivo No Latim e No Portugues Szd

apenas formalmente podemos falar sobre Conjuntivo, segundo o seu valor modal

pertence ao Modo Imperativo, por isso não poderíamos mencioná-lo como o uso

independente do Conjuntivo. Mas há situações quando estas formas têm sentidos

adicionais e apenas aparentemente são ordens. Examinemos os exemplos seguintes:

(7)“Amemus patriam, pareamus senatui, consulamus bonis, praesentes fructus

negligamus, posteritatis gloriae serviamus.”28

(8) “Ne sit sane summum malum dolor, malum certe est”.29

(9) “Ne sim salvus, si aliter scribo ac sentio.”30

(10) “Ita mihi salva re publica vobiscum perfui liceat, ut ego...non atrocitate

animi moveor, sed singulari quadam humanitate et misericordia.”31

Na frase (7) podemos ver o Coniunctivus Hortativus, que exprime exortação e se usa na

primeira pessoa do singular ou do plural. Uma outra subcategoria que podemos

mencionar é o Coni. Concessivus (8), que se usa quando o enunciador admite a

existência de outras opiniões, mas não quer mudar a sua. O Coni. Iuris Iurandi (10) é o

Conjuntivo do juramento. Todos os tipos são negados por ne.

2.1.2. CONIUNCTIVUS OPTATIVUS

O Conjuntivo pode exprimir desejos em si ou muito mais frequentemente com

uma palavra que reforça o seu sentido: ut ou utinam (11) no caso de latim e oxalá (12)

no português. Neste caso também podemos ter subcategorias que se situam entre

Iussivus e Optativus, porque formalmente são ordens, mas exprimem desejos. A

negação podia ajudar na sua classificação, mas como o Iussivus também o Optativus se

nega com ne.

(11) “Falsus utinam vates sim!”32

(12) Oxalá não sofra um acidente!

28 Cicero: Pro Sestio 68. 143.29 Cicero Tusculunae Disputationes 2, 14.30 Cicero Epistulae ad Atticum 16, 13, 131 Cicero In Catilinam 4, 11.32 Livius: Ab urbe condita. 21.10.10

9

Page 10: Conjuntivo No Latim e No Portugues Szd

(13) “Di tibi dent, quaecumque optes!”33

(14) ...cives mei, valeant, sint incolumes, sint florentes, sint beati...34

(15) “Ne sim salvus, si aliter scribo ac sentio.”35

Os exemplos (13)-(15) pertencem a categorias semelhantes, com Coni. Precativus (13),

que serve para chamar os deuses. O Coni. Benedictionis (14) é o Conjuntivo da bênção,

o Coni. Maledictionis (15) é o da maldição. Em português também podemos encontrar

exemplos semelhantes principalmente em expressões fixas como:

(16) Deus queira que esteja bom tempo quando vamos à praia.

2.1.3. CONIUNCTIVUS POTENTIALIS

Exprime que a realização de uma acção é considerada possível ou provável pelo

enunciador. Muitas vezes esta realização depende duma condição, assim este tipo de

Conjuntivo usa-se em frases condicionais (2.2.2.3.) Em português esta função pertence

ao Modo Condicional. Além disso o Conjuntivo pode exprimir dúvida ou incerteza em

ambas as línguas, no português em frases introduzidas por talvez, no latim em geral

numa pergunta.

(17) Talvez esteja em casa.

(18) Quid faciam?

Há quem use uma quarta categoria do Conjuntivo independente, o Deliberativus para

classificar perguntas deste tipo. Esta pergunta pode ter diferentes sentidos, pode referir-

se a uma ordem directa:

(19) - Pedro, canta-nos uma canção francesa!

- O que é que faça?

ou as suas possibilidades:

(20) O que é que poderia fazer?

33 Plautus: Asinaria 46.34 Cicero: Pro Milone 34, 93.35 Cicero Epistulae ad Atticum 16, 13, 1

10

Page 11: Conjuntivo No Latim e No Portugues Szd

Traduzindo como (18) podemos classificar como Coni. Iussivus, enquanto no segundo

caso temos um Coni. Potentialis. Assim esta não é uma categoria sintáctica, mas apenas

retórica.

Como pudemos ver, o emprego do Conjuntivo em orações principais é bastante

amplo, principalmente no caso do latim. Por isso existem outras classificações destes

empregos que usam mais categorias, mas às vezes as categorias e as subcategorias

podem ser misturadas e assim o sistema torna-se menos claro, o que faz mais difícil a

aprendizagem da língua. Examinemos a classificação do manual A latin nyelvtan

középiskolások számára36, que têm as categorias seguintes: Optativus, Hortativus,

Concessivus, Potentialis, Dubitativus, Conditionalis, mas esta classificação tem pontos

problemáticos. Deixa ficar Optativus, mas distingue Potentialis e Conditionalis. O

primeiro refere-se ao presente, assim exprime possibilidade, probabilidade, o segundo

refere-se ao passado assim exprime irrealidade. Enquanto ambos indicam uma condição

seria melhor criar uma categoria maior, Conditionalis, e duas subcategorias, Potentialis

e Irrealis. Hortativus e Concessivus são subcategorias do Coni. Iussivus, mas acho que

estas duas em si não substituem todas as funções da categoria mais antiga. Dubitativus é

semelhante às perguntas deliberativas, pertencem aqui as perguntas potenciais.

Uma classificação mais detalhda e precisa e a classificação de Töttössy, que fez

uma tabela sumária sobre os tipos das frases absolutas e o modos e tempos adequados.

(supl.1.) Vamos examinar este sistema quando tratarmos da selecção do tempo no

capítulo 3.

As gramáticas portuguesas que admitem a existência do Conjuntivo em orações

independentes também têm classificações diferentes. Segundo a Nova Gramática o

Conjuntivo no português em oração principal pode exprimir os seguintes conteúdos:

desejo; ordem e proibição; hipótese e concessão; dúvida; exclamação indignante.37

Como vimos antes, estes empregos correspondem a diferentes categorias latinas.

Marques distingue três usos independentes e um em orações coordenadas: em

orações imperativas, em expressões fixas ou semi-fixas (optativo), em orações

introduzidas pelo advérbio talvez, em orações disjuntivas introduzidas com a conjunção

quer...quer; ou não; ou quando ambas as possibilidades são abolidas38:

(21) Fale ou cale irrito-te sempre. 36Nagy - Kovács - Péter 150-3.37 Cunha - Cintra 463-73.38 Marques, 37-8.

11

Page 12: Conjuntivo No Latim e No Portugues Szd

(22) Quer chova quer faça sol vamos à praia.

(23) Queiras ou não queiras tens de fazer o TPC.

2. 2. O Conjuntivo em orações subordinadas

Como já mencionámos, a função principal do modo Conjuntivo ou Subjuntivo é

que indica a subordinação e a ligação entre as orações duma construção subordinativa.

Mas isso não significa que em todas as orações subordinativas temos de usar este modo.

O Indicativo também pode aparecer em orações subordinadas e há possibilidades de

substituir os verbos finitos com outras construções como o Accusativus cum Infinitivo,

Supinum, Participium Imperfectum / Perfectum, Gerundium, Gerundivum, Ablativus

Absolutus no latim, o Infinitivo Flexionado ou Não-flexionado, o Particípio e o

Gerúndio no português. Para podermos classificar os usos do Conjuntivo em orações

subordinadas temos de recolher os diferentes tipos destas orações. As classificações das

diferentes gramáticas portuguesas e latinas não são totalmente iguais, mas as maiores

categorias são quase as mesmas. O nosso sistema é o seguinte:

Orações completivas (substantivas)

Orações relativas

Orações adverbiais:

Orações temporais

Orações condicionais

Orações causais

Orações conclusivas

Orações consecutivas

Orações concessivas

2.2.1. FRASES COMPLETIVAS (SUBSTANTIVAS)

Têm valor de substantivo e são introduzidas por uma conjunção integrante como

que e se no português. No latim costumam distinguir-se três grupos: as frases

substantivais declarativas, as interrogativas, que são as perguntas indirectas, e as finais

ou ordens indirectas. No caso do primeiro grupo o latim usa o Accusativus cum

Infinitivo, enquanto nos últimos dois o uso de Conjuntivo é obrigatório normalmente

depois de ut ou ne. Há grupos de verbos, adjectivos ou substantivos que seleccionam o

12

Page 13: Conjuntivo No Latim e No Portugues Szd

Conjuntivo por causa do seu sentido. Existe também o fenómeno da dupla selecção,

quando um verbo, adjectivo ou substantivo pode seleccionar o Indicativo, uma

construção de Infinitivo ou o Conjuntivo. Nestes casos há uma diferença no grau de

conhecimento e certeza, ou a selecção do modo tem um valor enfático. Por isso vale a

pena classificar os verbos segundo o seu sentido.

2.2.1.1.Verbos39 de vontade, desejo40, ordem e proibição (verba voluntatis)41

No caso do Latim esta é uma categoria dos verbos que seleccionam o Accusativus

cum Infinitivo quando queremos sublinhar o objecto destes verbos, porque neste caso

podemos considerar as orações substantivas declarativas.

(24) “Iubet nos Pythius Apollo noscere nosmet ipsos.”42

Mas quando destacamos o objectivo, o sentido final torna-se mais forte e temos de

considerar a oração uma ordem indirecta. (25). Neste caso o uso do Conjuntivo é

obrigatório com as conjunções seguintes: ut(i) finale ou os correspondentes com sentido

negativo: (ut) ne, ut non, neve/ neu. Pode aparecer também o pronome relativo qui3

quando tem o sentido ut is3 (26).

(25) “Volo ut mihi respondeas”.43

(26) “Clusini legatos Romam, qui auxilium ab senatu peterent, misere.”44

Nos textos menos literários a conjunção ut pode faltar (27). Neste tipo de orações o

conteúdo negativo não pode ser indicado por palavras negativas como nemo, nihil,

nullus, mas apenas com ne mais as formas positivas deles: ne quis(quam), ne ullus, ne

unquam, ne quando, ne usquam, necubi, necunde. As construções ut non e ut nihil

também podem aparecer, mas têm um valor enfático45 (28).

39 Vamos referir sempre aos verbos, mas naturalmente os adjectivos e substantivos do mesmo sentido têm

as mesmas características.40 ou volitivos e optativos apud Mateus e outros 273.41 querer, apetecer, exigir, pedir, preferir, pretender, admitir, recomendar, requerer, rogar, solicitar,

sugerir, suplicar, urgir, negar, ordenar, decretar, intimar, mandar prescrever, determinar, proibir apud.

Marques, 30-1.; volo, nolo, malo, sino, cupio, patior, iubeo, veto. apud Nagy-Kovács-Péter 159.42 Cicero: De finibus bonorum et malorum 5, 16, 44.43 Cicero: Orationes in Vatinium 6, 14.44 Livius: Ab urbe condita 5, 35, 4.45 Woodcock 101.

13

Page 14: Conjuntivo No Latim e No Portugues Szd

(27) “huic imperat quas possit adeat civitates”46

(28) “quod volo, // in Pamphilo ut sit nihil morae”47

Há alguns verbos de ordem e proibição como iubeo e veto que raramente seleccionam

uma oração subordinada, mas preferem o Accusativus cum Infinitivo. Iubeo com oração

subordinada significa ‘ordenar, decretar’:

(29) “Hic tibi in mentem non venit iubere, ut haec quoque referret.”48

No português estes verbos seleccionam uma oração em Conjuntivo introduzida por que

(30) ou usa-se o Infinitivo Flexionado (31). Quando o sujeito da oração principal e da

subordinada é o mesmo, aparece o Infinitivo Não- Flexionado. Neste caso o Conjuntivo

é também opcional, mas nem todos os verbos podem seleccioná-lo.49

(30) Pedem-nos que os visitemos.

(31) Pedem-nos para os visitarmos.

(32) Prefiro beber chá a beber café.

2.2.1.2.Verbos de sentimento e apreciação (verba affectuum)50:

No latim seleccionam o Accusativus cum Infinitivo quando o assunto é mais

importante do que a razão do sentimento, mas no caso contrário tornam-se orações

causais introduzidas por quod. A selecção do modo das orações causais será examinada

mais tarde. No português europeu seleccionam uma oração no Conjuntivo introduzida

por que (33) ou o Infinitivo Flexionado sem que (34), mas no português do Brasil é

possível seleccionar também o modo Indicativo depois de verbos e expresões como é

bom que, lamento que51 (35).

46 Caesar: De Bello Gallico 4, 21, 8.47 Terentius: Andria 138-9.48 Cicero: In Verrem 2, 4, 2849 Mateus e outros 274.50 apreciar, assustar, chatear, chocar, comover, compreender, consentir, convir, aconselhar, agradecer,

aguardar, envergonhar, espantar, esperar, estranhar, evitar, impedir, incomodar, lamentar, sentir,

lastimar, perceber, preocupar, procurar, recear, revoltar, surpreender, temer, tentar, transtornar apud

Marques, 30; gaudeo, laetor, doleo, indignor, aegre fero, moleste fero, miror, glorior, queror, gratulor,

gratias ago apud Nagy-Kovács-Péter 159.51 Marques (2001 b) 688.

14

Page 15: Conjuntivo No Latim e No Portugues Szd

(33) É bom que estejas aqui.

(34) É bom estares aqui.

(35) É bom que estás aqui.

Aqui temos de mencionar dois grupos especiais dos verbos latinos: os verba

impediendi52 e os verba timendi53. Estes verbos usam a conjunção negativa ne em

orações aparentemente positivas e quin ou quominus em orações negativas. A razão

desse fenómeno é que depois destes verbos as orações subordinadas vão ter um sentido

final. Para compreendermos melhor traduzamos as seguintes frases.

(36) “Obstitisti, ne ex Italia transire in Siciliam fugitivorum copiae possent”54

(37) Obstaste ao conjunto dos fugitivos para que não pudesse atravessar a

Sicília (em vez de: obstaste a que pudesse atravessar)

(38) “Metuo ne sero veniam”55

(39) Tenho medo de não chegar atrasado. (em vez de: tenho medo que chegue

atrasado.

2.2.1.3.Verbos de dúvida56

No latim os verbos de dúvida seleccionam uma pergunta indirecta que contém

um verbo no Conjuntivo (40), mas podem seleccionar Infinitivo quando exprimem

hesitação (41).57 Mas nem sempre era assim no latim arcaico, podemos encontrar

exemplos onde também o Indicativo podia aparecer (42). A forma negativa destes

verbos selecciona uma oração introduzida por quin, por isso vamos tratá-los entre as

orações consecutivas. No português depois destes verbos aparecem orações em

Conjuntivo introduzidas por que.

52 Impedio, prohibeo, impedimento sum, terreo, deterreo, obsto, obsisto, resisto, officio, adversor,

repugno, recuso, interdico apud Nagy-Kovács-Péter 182.53 Timeo, metuo, vereor, timor est, metus est, in metu sum, metus mihi incidit, anxius/ sollicitus sum,

periculum est apud Nagy-Kovács-Péter , 181.54 Cicero: In Verrem 2, 5.55 Plautus, Menaechmi 989.56 duvidar, suspeitar, desconfiar, duvidoso, improvável, inverosímil, questionável, problemático,

confuso, hipotético, discutível, presumível, apud Marques, 30; nescio, dubito, incertum est 57 Moreland e Fleischer 279.

15

Page 16: Conjuntivo No Latim e No Portugues Szd

(40) Quid Vesper erit, Incertum est.58

(41) Hoc facere dubito.

(42) Nescio quid tristis est.59

(43) Duvidei que chegássemos a tempo.

2.2.1.4.Verbos declarativos (verba dicendi)

Normalmente seleccionam o Indicativo no português e Accusativus cum

Infinitivo no latim, mas podem introduzir ordens indirectas e neste caso seleccionam

uma oração em Conjuntivo em ambas as línguas ou no português para + Infinitivo

Flexionado (46).

(44) „et ipsi Attico dixit ut sine cura essent”60

(45) Disse que desligassem a televisão.

(46) Disseste-nos para lermos este artigo.

2.2.1.5.Verbos de permissão:61

No latim introduzem ordens indirectas, assim seleccionam sempre o Conjuntivo.

No português também, como deixar pertence aos auxiliares causativos, em vez da

oração subordinada substantiva objetiva directa pode aparecer o Infinitivo Não-

flexionado. E neste único caso na língua portuguesa os pronomes oblíquos podem

actuar como sujeitos dos Infinitivos. O facto que sejam realmente sujeitos torna-se

evidente quando os substituímos pelas palavras correspondentes. 62

(47) Deixávamos que os convidados entrassem.

(48) Deixavámo-los entrar.

2.2.1.6.Verbos no futuro

58 Livius 59 Terentius: Heautontimorumemos 620.60 Cicero: Ad Atticum 16, 16a, 3.61 permitir, deixar, consentir apud Marques, 3162 http://www.soportugues.com.br/secoes/sint

16

Page 17: Conjuntivo No Latim e No Portugues Szd

No português o Futuro pode exprimir incerteza, por isso os verbos no Futuro

podem seleccionar uma oração em Conjuntivo.

(49) A opinião dela será que façam o trabalho rapidamente. 63

2.2.1.7.Verbos sob o escopo da negação

No caso de certos verbos a sua negação pode modificar o seu grau de certeza,

assim pode acontecer que o verbo positivo e o negado seleccionam diferentes modos

verbais. No português os verbos, adjectivos e substantivos de certeza e de conhecimento

normalmente seleccionam o Indicativo, mas quando são negados seleccionam o

Conjuntivo.

(50) Acho que não podias fazer mais.

(51) Não tenho a certeza que tivéssemos razão.

Alguns verbos de certeza e conhecimento, adjectivos de valores afectivos e

intelectuais64 podem seleccionar quer o Indicativo quer o Conjuntivo. A escolha

depende da atitude do enunciador e do verbo. Quando quer exprimir certeza, usa o

Indicativo, no caso de incerteza o Conjuntivo.

(52) Acredita que não tem de explicar isso.

(53) Suspeitava que já tivesse encontrado aquele homem.

Verbos como imaginar e supor seleccionam o Indicativo no PE, mas o

Conjuntivo no PB.65

(54) Imagina que está na praia. (PE)

(55) Imagina que esteja na praia. (PB)

2.2.2. ORAÇÕES RELATIVAS

63 Marques, 31.64 acreditar, admitir, assumir, calcular, certificar, desconfiar, imaginar, julgar, pensar, presumir, prever,

supor, suspeitar apud Marques, 33.65 Marques (2001 b) 689.

17

Page 18: Conjuntivo No Latim e No Portugues Szd

São introduzidas por um pronome ou um advérbio relativo. No latim qui3,

quicunque3, quantus3, qualis2, quot, ubi, unde, cum, quo, qua. No português os

pronomes não se flexionam, assim as diferentes relações entre os membros da frase são

expressas por preposições que seleccionam diferentes pronomes. Quando o sujeito ou o

complemento directo é que introduz a oração subordinada, usa-se que. Nos outros casos

o tipo de antecedente também é importante. Quando é uma pessoa, nos casos

preposicionais aparece quem ou o qual. O uso deles é facultativo quase sempre. Depois

de pronome pessoal o uso de quem é obrigatório, enquanto depois de um número,

pronome indefinido, o superlativo ou a preposição sem apenas o qual pode aparecer.

Quando o antecedente não é uma pessoa, depois das preposições de uma única sílaba

como em, de, a, com, por aparece que. Com as outras preposições usa-se o qual. Em vez

de genitivo usa-se cujo, um pronome relativo possesivo. Cuius originalmente era o

genitivo do pronome relativo qui3

No caso do latim a classificação mais simples das orações é distinguir

determinativas ou qualitativas. As relativas determinativas, que respondem à pergunta

Qual?, seleccionam o Indicativo excepto se dependem duma oração subordinada, e as

qualitativas, que respondem à pergunta Como?, seleccionam o Conjuntivo. Quando na

frase aperece qualis e talis, já não é necessário o Conjuntivo para indicar a que a frase é

qualitativa.

(56) “Exclusi eos, quos tu ad me salutatum mane miseras...” 66

(57) “Reperti sunt duo equites Romani, qui te ista cura liberarent.”67

(58) “...talem amicum habere volunt, quales ipsi esse non possunt.”68

Há casos quando as orações relativas têm sentidos secundários, que também

influenciam a selecção do modo. Segundo Pinkster69 as orações relativas de Conjuntivo

no latim são as seguintes:

As relativas finais, nas quais os assuntos descritos são posteriores ao assunto da

oração principal e vão ser feitos por certas pessoas. Quando o antecedente da

66 Cicero: In Catilinam 1, 10.67 Cicero: In Catilinam 1, 9.68 Cicero: Laelius de Amicitia 22, 82.69 Pinkster 213.

18

Page 19: Conjuntivo No Latim e No Portugues Szd

relativa está presente na principal, o pronome relativo pode ser substituído por ut

finale mais um pronome pessoal. Transformemos a frase (57):

(57’) Reperti sunt duo equites Romani ut ii te ista cura liberarent.

As relativas genéricas ou consecutivas, nas quais o assunto da oração principal

não é controlável, o acontecimento da oração subordinada é provável ou possível.

Nas relativas finais e consecutivas é um elemento comum a não-factividade,

enquanto nas outras duas a factividade Aqui em vez de qui3 poderíamos utilizar ut

consecutivum mais is3.

(59) “Caninius fuit mirifica vigilantia, qui suo toto consulatu somnum non

viderit.”70

As relativas causais, que descrevem factos que já aconteceram, assim exprimem

factividade como a categoria seguinte, as relativas concessivas, assim em ambos os

casos pode aparecer também o Indicativo principalmente no latim arcaico. Mas é

mais comum que qui3, pode ser substituído por cum causale com o pronome pessoal

mais o Conjuntivo.

(60) “Ego vero illi maximam gratiam habeo, qui me ea poena multaverit,

quam sine versura possem dissolvere.”71

(61) “di perdant, qui hodie me remoratus est; meque adeo, qui restiterim.”72

As relativas concessivas exprimem uma concessão, assim o pronome relativo

pode ser substituído por cum concessivum mais is3 .

(62) “Quis est, qui C. Fabricii, M. Curii non cum caritate aliqua

benevolentiae memoriam usurpet, quos numquam viderit.”73

(63) ego, qui illa nunquam probavi, tamen conservada arbitratus sum.74

70 Cicero: Epistulae ad Familiares 7, 30, 15.71 Cicero: Tusculunae Disputationes 1, 42.72 Terentius: Eunuchus 302.73 Cicero: Laelius de amicitia 28.74 Cicero: Philippicae 1, 23.

19

Page 20: Conjuntivo No Latim e No Portugues Szd

A gramática de Nagy-Kováts-Péter contrai estas categorias, e diz que se usa o

Conjuntivo quando a oração subordinada:

Exprime fim, consequência75, razão76 ou concessão. Neste caso qui3= ut/cum is3,

unde=ut inde, ubi= ut ibi.

Exprime não um facto, mas uma opinião77 do sujeito da oração principal. Neste

caso é evidente o uso do Conjuntivo, porque uma oração desse tipo sempre é

qualitativa.

Depende ligeiramente duma construção de Accusativus cum Infinitivo ou duma

oração subordinada de Conjuntivo. Isso é verdade no caso de todas as orações

subordinadas.

Woodcock inclui no seu sistema as categorias determinativo e qualitativo mais

que estão ligadas aos sentidos secundários, assim a sua categorização é a seguinte:

As relativas determinativas, que seleccionam o Indicativo.

As relativas generalizadoras, em que o uso do pronome quicumque (quem quer

que) é mais comum, seleccionam o Indicativo.

As relativas descritivas têm dois subgrupos: as genéricas ou qualitativas e as

consecutivas. Ambos seleccionam o Conjuntivo.

As relativas causais seleccionam o Conjuntivo.

As relativas concessivas ou adversativas seleccionam o Conjuntivo. Mas no

latim arcaico e às vezes no clássico usa-se o Indicativo nas relativas causais e

concessivas, como já mencionámos antes.

Há casos quando se usa o pronome relativo em vez de conjunções coordenativas

mais o pronome pessoal: et is3, sed is3, is3 autem, is3 enim, is3 igitur, etc, assim

temos de considerar as orações que introduzem orações principais. A prova disso é

que em oração oblíqua se comportam como as orações principais em geral, ficam

transformados em Accusativus cum Infinitivo.

75 Depois das expressões seguintes: sunt/ inveniuntur/ reperiuntur, qui; (nihil, non) habeo qui/ quod;

(nemo/ nihil/ nullus/ quis2) est qui/ quod Nagy -Kovács - Péter 202. 76 Depois de quippe/ut / utpote qui77 Depois dos adjectivos seguintes: (in)dignus, idoneus, aptius.

20

Page 21: Conjuntivo No Latim e No Portugues Szd

(64) “centuriones hostes vocare coeperunt: quorum (=sed eorum) progredi

ausus est nemo”78

(65) Caesar scripsit centuriones hostes vocare coepisse: quorum progredi

ausum esse neminem.

No português na classificação das orações relativas os aspectos sintácticos são mais

importantes do que os semânticos. Segundo o sistema de Mateus e outros79 os grupos

são os seguintes:

As relativas que têm antecedente podem ser restritivas ou apositivas. No

primeiro caso a oração relativa contém uma informação necessária para podermos

identificar aquilo que descreve. As relativas apositivas dão uma informação aditiva,

por isso neste caso a relação entre a oração principal e subordinada é mais ligeira do

que no caso das restritivas. Isso é indicado pela presença da vírgula. As apositivas

sempre têm um valor assertivo, por isso seleccionam o Indicativo. No caso das

restritivas o verbo da subordinante é que determina a selecção. Os verbos de

procurar e os que criam um universo de referência não designam “um indivíduo

determinado do mundo real, mas um conjunto de propriedades que definem um

conceito individual”80, por isso seleccionam o Conjuntivo.

(66) Conheces o homem que comprou a nossa casa.

(67) Preciso de alguém que fale japonês.

As relativas livres (sem antecedente) podem ter uma presuposição factual, neste

caso seleccionam o Indicativo e uma presuposição hipotética ou contrafactual, neste

caso seleccionam o Conjuntivo.

(68) Receberei quem me recomendares.

2.2.3. ORAÇÕES ADVERBIAIS

Exprimem uma circumstância da oração principal, a selecção do modo depende

da realidade da circunstância expressa.

78Caesar: Comentarii de Bello Gallico 5, 43, 6.79 Mateus e outros 285.80 Mateus e outros 290.

21

Page 22: Conjuntivo No Latim e No Portugues Szd

2.2.3.1. Orações temporais

As orações temporais respondem a perguntas: Quando?, Até quando?, Desde

quando?, etc. Em geral estão no Indicativo, mas às vezes além do sentido temporal

podem exprimir finalidade ou intenção e neste caso seleccionam o Conjuntivo. Além

disso as diferentes conjunções e o tempo verbal também podem influenciar a selecção

do modo. Por isso vamos examinar as diferentes conjunções e locuções conjuntivas

latinas e portuguesas. As que indicam posterioridade são as seguintes: priusquam e

antequam81 no latim e antes que no português. Podem referir-se ao futuro, ao passado

ou raramente ao presente. Neste último caso sempre seleccionam o Indicativo.

(69) “Membris utimur prius, quam didicimus, cuius ea utilitatis causa

habeamus.”82

(70) Usamos os nossos membros antes que aprendemos para que servem.

Quando se referem ao futuro, no português usa-se o Presente do Conjuntivo. No latim a

situação é mais complicada. Nas épocas pré- e pós-clássicas o Futuro do Indicativo

podia aparecer depois de priusquam e antequam, mas no período clássico em orações

negativas usa-se o Futuro Perfeito e nas positivas o Presente do Indicativo e o do

Conjuntivo aparecem igualmente. O último é seleccionado em geral quando a oração

principal exprime desejo ou vontade e a oração subordinada o fim desejado, porque aqui

o sentido final é claro. Há orações que estão no Conjuntivo apesar de que a finalidade

não seja tão evidente. O emprego do Conjuntivo é obrigatório quando a necessidade da

oração temporal antecede a necessidade da oração principal. 83

(71) Telefona-lhe antes que o visites.

(72) “Non defatigabor antequam illorum rationes percepero.”84

(73) “numquid prius, quam abeo, me rogaturus es?”85

(74) “vilica focum purum cotidie, priusquam cubitum eat, habeat.”86

81 Existem também as suas formas separadas: ante quam, prius quam apud Zumpt 117.82 Cicero: De Finibus Bonorum et Malorum 3, 63.83 Woodcock 184.84 Cicero: De Oratoribus 3, 145.85 Plautus: Trinummus 198.86 Cato: De Agricultura 143, 2.

22

Page 23: Conjuntivo No Latim e No Portugues Szd

(75) “pauca prius explanda sunt quam initium narrandi faciam.”87

Quando antequam (antes que) e priusquam se referem ao passado, nas orações

negativas do latim usa-se o Indicativo. Antes da época de Cícero e no estilo coloquial

também nas orações positivas aparecia o Indicativo, mas depois o uso de Conjuntivo

tornou-se normativo. Até Lívio o sentido final estava presente, mas depois o Conjuntivo

foi usado sem razão lógica.88 No caso de português antes que no passado normalmente

selecciona o Indicativo, mas quando exprime finalidade ou intenção pode seleccionar o

Conjuntivo.89

(76) “priusquam intro redii, exanimatus fui”90

(77) “prius in hostium castris constiterunt, quam plane ab his quid rei

ageretur cognosci posset.”91

(78) Escrevi a carta antes que eles chegaram a casa.

As conjunções da simultaneidade são: dum, donec, quoad, quamdiu, cum92 no latim e

enquanto, quando, ao mesmo tempo que, na altura em que, até que no português.

Normalmente estas conjunções no latim seleccionam o Indicativo e o tempo da oração

principal. Mas podem ter sentidos secundários que implicam a selecção do Conjuntivo.

Dum, donec, quoad, quamdiu quando têm o mesmo sentido que enquanto ou desde que

seleccionam sempre o indicativo, excepto dum, que pode ter um sentido concessivo, e

neste caso o emprego do Conjuntivo é normativo.93 Neste caso aparece frequentemente

a sua forma reforçada dummodo. Quando dum, modo ou dummodo são negadas por ne,

sempre exprimem pressuposição, por isso seleccionam o Conjuntivo.94 Enquanto

pertence ao grupo dos conjunções que quando se referem ao futuro podem seleccionar o

Futuro do Conjuntivo e no passado seleccionam o Indicativo.

(79) “Oderint dum metuant!” 95

87 Sallustius: De coniuratione Catilinae 4, 5.88 Woodcock 186.89 Marques, 35.90 Plautus: Aulularia 208.91 Caesar: Commentarii de Bello Gallico 3, 26, 3.92 Woodcock 178-182.93 Woodcock 178.94 Zumpt: 115.95 Tragicorum Romanorum Fragmenta Accius 203.

23

Page 24: Conjuntivo No Latim e No Portugues Szd

(80) “Dum ille ne sis, quem ego esse nolo, sis mea causa, qui lubet.” 96

(81) Ficarei enquanto quiseres.

Dum e cum podem ter um sentido ‘durante o tempo que’, assim descrevem o fundo

duma acção. Enquanto dum e cum temporale, que definem o tempo da acção da oração

principal, no latim clássico seleccionam o Indicativo, cum historicum, que descreve

alguma circunstância ou assunto secundário, refere-se sempre ao passado e selecciona

os Pretéritos do Conjuntivo. Depois da época do Lívio também nas orações introduzidas

por cum temporale pode aparecer o Conjuntivo.

(82) “Perpaucos dies, dum pecunia accipitur, commorabor.”97

(83) “Hasdrubal tum forte, cum haec gerebantur, apud Syphacem erat.”98

(84) “in secundo proelio cecidit Critias cum fortissime pugnaret”99

Dum, donec, quoad, quando significam até que, seleccionam o Indicativo quando a

oração temporal apenas marca aquele momento que é o fim da acção, mas quando tem

um sentido secundário final, usa-se o Conjuntivo, mas os autores tardios usavam o

Conjuntivo também quando este sentido secundário não existia. A conjunção

portuguesa até que, referida ao futuro, selecciona o Presente do Conjuntivo, referida ao

passado o Indicativo.

(85) “Ne expectetis dum hac domum redeam via.”100

(86) “Rhenus servat nomen donec Oceano misceatur.”101

(87) Espero até que venham.

(88) Estava feliz até que aconteceu a tragédia.

96 Plautus: Trinummus 979.97 Cicero: Epistulae ad Familiares 3, 5, 4.98 Livius: Ab urbe condita 29, 31, 1.99 Cornelius Nepos: De viris illustribus 8, 2, 7.100 Plautus: Pseudolus 1234. 101 Tacitus: Annales 2, 6.

24

Page 25: Conjuntivo No Latim e No Portugues Szd

Cum tem mais dois tipos que exprimem simultaneidade e normalmente estão com o

Indicativo. Cum inversum ou additivum: descreve um acontecimento improviso, e o

conteúdo da oração que introduz é mais importante do que a oração principal.

(89) Vixdum epistulam tuam legeram, cum ad me currens ad illum Postumus

Curtius venit.102

Cum iterativum: exprime uma repetição como a conjunção portuguesa sempre que.

(90) “Is qui non defendit iniuriam, neque propulsat a suis, cum potest, iniuste

facit.”103

As conjunções de anterioridade são as seguintes: post(ea)quam, ubi, ut (primum),

simulac/ simulatque, cum (primum), quotiens; depois de que, desde que, logo que, mal,

assim que, sempre que. No latim estas conjunções excepto cum seleccionam sempre o

Indicativo. No português, como no caso dos outras conjunções temporais, no futuro

seleccionam o Presente do Conjuntivo ou algumas o Futuro do Conjuntivo como:

depois de que, logo que, sempre que. No passado seleccionam o Indicativo.

(91) “Simul ac constituero, ad te scribam.”104

(92) “Ubi pericula virtute propulerant, sociis atque amicis auxilia

portabant.”105

(93) Telefonar-te-ão logo que chegarem.

(94) Estava muito contente depois de que o visitaste.

2.2.3.2. Orações condicionais

Exprimem uma condição da realização do assunto da oração principal. As suas

conjunções são as seguintes: se, caso, contanto que, desde que, salvo se, excepto se, a

não ser que, a menos que, sem que, uma vez que no português, si, quodsi, si quando, si

non/minus, nisi, nisi forte, sive, sin (autem) no latim. O oração principal chama-se

consequente ou apodosis, a subordinada antecedente ou protasis. Woodcock106 distingue 102 Cicero: Epistulae ad Atticum 9, 2a, 3103 Cicero: De Officiis ad Marcum Filium 3, 18, 74.104 Cicero: Epistulae ad Atticum 12, 40, 5. 105 Sallustius: De Coniuratione Catilinae 6, 5.106 Woodcock 147-157.

25

Page 26: Conjuntivo No Latim e No Portugues Szd

condições abertas e condições que implicam recusa. No primeiro caso o antecedente

descreve um assunto sem negar a verdade do facto. As condições abertas podem ser

particulares ou gerais, mas para podermos decidir a qual grupo pertencem temos de

conhecer o contexto. Woodcock usou o exemplo seguinte:

(95) Si hoc dicebat, errabat.

Esta frase pode ter diferentes sentidos: 1. Ele enganou-se quando estava a dizer isso. 2.

Ele enganava-se sempre que dizia isso. O primeiro é o sentido particular, o segundo o

geral. Nas frases condicionais com sentido particular o Conjuntivo pode aparecer apenas

no consequente.

(96) “Si meis incommodis laetabantur, urbis tamen periculo

commoverentur.”107

No caso das antecedentes com sentido geral a situação é diferente. Podem seleccionar o

Conjuntivo quando são introduzidas por uma palavra relativa indefinida e contêm um

verbo na segunda pessoa do singular em sentido geral ou quando têm um sentido

frequentativo como cum iterativum.

(97) Si ames, extemplo melius illi quem ames consulas quam rei tuae.108

(98) Vespasianus, si res posceret, manu hostibus obniti.109

As condições que implicam a negação descrevem não um facto, mas uma condição

imaginada que (ainda) não foi realizada. As que referem-se ao futuro são ideais, que

referem-se ao passado são irreais. Em ambos os casos o emprego do Conjuntivo é

obrigatório no antecedemte. No consequente normalmente usa-se o Coniunctivus

Potentialis, mas pode aparecer também o Indicativo nos casos seguintes:

Os verbos modais no Indicativo com o Infinitivo110 e os Pretéritos da Coniugatio

Periphrastica podem substituir o modo Conjuntivo.

(99) Neque sustineri poterant, ni extraordinariae cohortes se obiecissent.111

107 Cicero: Pro Sestio 24, 54.108 Plautus: Cistellaria 97.109 Tacitus: Historiae 2, 5110 debeo, oportet, licet, possum, apud Woodcock 92., 156.111 Livius: Ab urbe condita 7, 17, 12.

26

Page 27: Conjuntivo No Latim e No Portugues Szd

O Praeteritum Imperfectum do Indicativo pode exprimir acções começadas, mas

ainda não acabadas, assim pode ter um valor hipotético.

(100) Labebar longius, nisi me retinuissem.112

O Praeteritum Perfectum do Indicativo às vezes pode exprimir um facto

independente ou é um meio retórico, que apresenta um facto potencial como um

facto real.

(101) Nisi Latini arma sumpsissent, capti et deleti eramus.113

Os advérbios paene e prope dão um sentido quase-potencial com o Indicativo.

(102) Paene in foveam decidi, ni hic adesses114

(103) Quando a oração subordinada exprime concessão, o Indicativo na

apódose é natural.

(104) Etiam si quis dubitasset antea, sustulisti hanc suspicionem.115

A classificação mais geral das frases condicionais que aparece também nas gramáticas

portuguesas é a seguinte116:

Factuais ou reais, nos quais o conteúdo de ambas as orações se realiza no mundo

real, porque a oração condicional constitui uma condição suficiente da verificação

do conteúdo da oração principal. Esta definição modifica-se no caso do latim,

pertencem ao casus realis as frases condicionais em que o conteúdo de ambas as

orações é considerada real. Mas a selecção do modo é igual nas duas línguas, nas

condicionais factuais usa-se sempre o Indicativo.

(105) Si hoc fecisti, recte fecisti.

(106) Se as frutas estão maduras, caem das arvores.

112 Cicero: De legibus 1, 52.113 Livius: Ab urbe condita 3, 19, 8.114 Plautus: Persa 594115 Cicero: Pro Sulla 68.116 Mateus e outros 298-303., Nagy-Kovács-Péter 198.

27

Page 28: Conjuntivo No Latim e No Portugues Szd

Nas frases hipotéticas / potenciais o conteúdo das orações realiza-se num mundo

real, mas o seu intervalo do tempo não é acessível pelo enunciador, ou simplesmente

podemos dizer que a relização do conteúdo da frase ainda não aconteceu, mas é

possível. Segundo o tempo ao que se referem as frases hipotéticas podem ser

prováveis ou improváveis. No latim em todos os casos usa-se o Conjuntivo no

antecedente e o Indicativo ou Conjuntivo no consequente, apenas os tempos verbais

são diferentes. No português a selecção do modo é mais variável porque existe o

modo Condicional, e o Futuro do Conjuntivo, que no latim ainda não existiam. Nas

condicionais prováveis no consequente aparece o Futuro ou o Presente do Indicativo

no antecedente o Futuro do Conjuntivo. Nas condicionais improváveis no

consequente aparece o Imperfeito do Indicativo ou o Condicional Simples, no

antecedente o Imperfeito do Conjuntivo.

(107) Memoria minuitur, ... nisi eam exerceas.117

(108) Se ouvirem alguma coisa, dir-me-ão.

(109) Se viessem a Roma, veriam o Foro.

Nas frases contrafactuais ou irreais a realização do conteúdo das orações da frase

não é possível ou podemos dizer que a negação da oração principal é que se realiza,

por isso a oração principal também não pode ser realizada. Os modos verbais

seleccionados ficam os mesmos que nas rases hipotéticas, apenas o tempo verbal vai

mudar.

(110) Nisi Alexander essem, Diogenes esse vellem.118

(111) Se não houvesse dinheiro, não haveria tanta desigualdade.

(112) Si id fecisses, melius famae, melius pudicitiae tuae consuluisses.119

(113) Se tivesse chovido na semana passada, não teria havido seca.

Há investigadores segundo os quais esta classificação não é tão evidente.

Podemos ver que as frases hipotéticas improváveis e e contrafactuais que se referem

117 Cicero: Cato Maior de Senectute 7, 21.118 Plutharcos119 Cicero: Philippicae 2, 2, 3.

28

Page 29: Conjuntivo No Latim e No Portugues Szd

ao presente formalmente são iguais no português porque ambas usam o Imperfeito

do Conjuntivo no antecedente e o Condicional Simples (ou Imperfeito do

Indicativo) no consequente. Além disso o Indicativo também pode indicar

contrafactualidade nas frases condicionais, enquanto os Pretéritos do Conjuntivo

podem não indicar contrafactualidade. Marques120 examinando algumas hipóteses

sobre a selecção do modo em frases condicionais no inglês criou uma nova hipótese

sobre as condicionais portuguesas. Segundo ele as condicionais “reais” seleccionam

o Indicativo não porque sejam factuais, mas porque o antecedente é relacionado a

um único mundo possível que pode ser real ou não. Quanto às condicionais com

Futuro e as com um Pretérito do Conjuntivo a diferença não é que a primeira é

hipotética e a segunda é contrafactual. O Futuro do Conjuntivo indica apenas que o

valor de verdade do antecedente é desconhecido no mundo real, enquanto o

emprego dos Pretéritos significa que o antecedente não é relacionado ao mundo

real.

2.2.3.3. Orações causais

Exprimem o motivo da oração principal. As suas conjunções são as seguintes:

quod, quia, quoniam, quando, quandoquidem, siquidem, cum, non quod, non quo no

latim, no português: porque, como, porquanto, pois que, uma vez que, visto que, já que,

dado que seleccionam o Indicativo, por causa de, devido ao facto de, por seleccionam o

Infinitivo Flexionado ou Não-flexionado. No latim depois de cum causale o verbo da

oração subordinada está sempre no Conjuntivo porque introduz uma razão lógica. No

caso das outras conjunções a selecção do modo depende da relação entre a causa e o

enunciador. Quando exprime a sua opinião usa-se o Indicativo, mas quando atribui a

razão a alguém usa-se o Conjuntivo como se fosse na Oração Oblíqua.121

(114) Quae cum ita sint, Catilina, perge quo coepisti.122

(115) Quoniam de genere belli dixi, nunc de magnitudine pauca dicam.123

(116) Laudat Africanum Panaeteus, quod fuerit abstinens.124

120 Marques (2001 a) 330.121 Woodcock 196. 122 Cicero: De Coniuratione Catilinae 1, 5.123 Cicero: De Imperio Gn Pompei 8, 20.124 Cicero: De Officiis ad Marcum filium 2, 22, 76.

29

Page 30: Conjuntivo No Latim e No Portugues Szd

No português consideram-se verdadeiras as causas que não são negadas, assim

estas sempre seleccionam o Indicativo. As locuções negativas como não porque no

português ou non quod e non quo no latim exprimem uma razão não verdadeira, por

isso são seguidas pelo Conjuntivo. Mas no latim, quando as conjunções negativas

introduzem uma razão factual, mas naquela situação não é importante, usa-se o

Indicativo. Desde a época de Lívio pode aparecer o Indicativo depois de non quia

independentemente da não-factualidade da oração subordinada.125 Em geral na mesma

frase aparece a causa verdadeira numa oração introduzida por sed no latim e mas

porque no português. Quando há mais razões possíveis mas não sabemos qual é a

verdadeira no português as orações causais são introduzidas por ou porque, que sempre

selecciona o Conjuntivo.

(117) Gosto dele porque é sincero.

(118) Recebeu este prémio não porque seja talentoso, mas porque trabalhou

duramente.

(119) Neque vero hoc, quia sum ipse augur, ita sentio, sed quia sic existimare

nos est necesse.126

(120) Valuitque ea legatio, non tam quia pacem volebant Samnites quam quia

nondum parati erant ad bellum.127

(121) Não chegaram a tempo ou porque houvesse muito tráfego, ou porque

tivessem partido tarde.

2.2.3.4. Orações consecutivas

Exprimem um facto que é a consequência ou efeito da oração principal. São

introduzidas por: que, de forma que, de sorte que, tanto que, tão...que, tanto...que,

tamanho...que no português e ut, ut non, quin no latim. Ut non usa-se quando a oração

principal é positiva e quin quando é negativa. No latim as orações consecutivas ou as

que têm um sentido secundário consecutivo sempre seleccionam o Conjuntivo. No

português pode aparecer o Indicativo quando a consequência é real, mas quando a

125 Woodcock 199-200.126 Cicero: De Legibus 2, 31.127 Livius 8, 19, 3.

30

Page 31: Conjuntivo No Latim e No Portugues Szd

oração subordinada é negativa ou exprime uma acção pretendida usa-se o Conjuntivo e

acontece o mesmo no caso das orações consecutivas negativas.128

(122) Tantus in Curia clamor factus est ut populus concurreret.129

(123) Ele gosta deste livro tanto, que já o leu dez vezes.

(124) Não correu de maneira que ganhasse a competição.

2.2.3.5. Orações concessivas

Indicam a concessão às acções da oração principal, que admitem uma

contradição ou um facto inesperado. São introduzidas por embora, conquanto, ainda

que, ainda quando, mesmo que, se bem que, posto que, apesar de que no português e si,

etsi, tametsi, etiamsi, quamquam, quamvis, licet, ut (concessivum), cum (concessivum,

adversativum). No latim a selecção do modo depende da conjunção.

Quamquam normalmente selecciona o Indicativo, no latim clássico apenas podia

apareer o Conjuntivo Potencial, mas desde a época de Lívio o emprego do Conjuntivo é

mais comum também quando a oração subordinada exprime factualidade.130 A razão

disso pode ser que quamvis e quamquam trocaram o seu sentido.131

(125) “Vi vegere patriam, quamquam et possis et delicta corrigas, tamen

importunum est.”132

(126) “neque dux Romanus ultum iit aut corpora humavit, quamquam multi

tribunorum praefectorumque et insignes centuriones cecidissent.”133

Quamvis, ut e cum sempre seleccionam o Conjuntivo e licet também, mas sendo

originalmente um verbo no latim clássico, pode ser seguido apenas pelo Presente ou o

Perfeito do Conjuntivo, o uso dos Pretéritos só se tornou comum desde a época de

Juvenal.134 As conjunções derivadas de si seleccionam o modo como si nas orações

condicionais.

128 L. Marques, 36.129 Cicero: In Verrem 2, 2, 47. 130 Woodcock 201.131 Zumpt 89.132 Sallustius: De Bello Iugurthino 3, 2133 Tacitus: Annales 4, 73.134 Woodcock 202-3.

31

Page 32: Conjuntivo No Latim e No Portugues Szd

(127) „Quamvis sis molestus, numquam te esse confitebor malum.”135

(128) Sim licet extremum, sicut sum, missus in orbem136

No português seria permitido a alternância modal, entre as concessões reais e irreais,

mas depois das conjunções concessivas o uso do Indicativo seria agramático, assim

estas orações sempre seleccionam o Conjuntivo ou sem que o Infinitivo Flexionado.137

(129) Mesmo que não queiram, têm de estudar.

(130) Apesar de não ter visto o filme, considero-o uma obra-prima.

2.2.3.6. Orações comparativas

Exprimem um assunto semelhante ao da oração principal. No português em

geral seleccionam o Indicativo, mas podem seleccionar o Conjuntivo quando indicam

futuridade.138 A conjunção mais frequente é como, mas as expressões seguintes também

são usadas: tão...como, tanto… quanto, mais/ menos… (do) que. No latim, quando a

oração subordinada contém semelhança verdadeira, selecciona o Indicativo e é

introduzida por ut, uti, sicut, sicuti, quemadmodum, quomodo. Usa-se o Conjuntivo no

caso de semelhanças imaginadas ou supostas depois de quam mais pronome relativo 139

ou nas orações introduzidas por uma conjunção que provêm da condicional si, como

quasi, ac si, velut si, tamquam, tamquam (si).

(131) Zeno proponatur Eleates, qui perpessus est omnia potius quam conscios

delendae tyrannidis indicaret.140

(132) Parvi primo ortu sic iacent, tamquam omnino sine animo sit.141

135 Cicero: Tusculunae Disputationes 2, 25, 61.136 Ovidius: Tristia 4, 9, 9.137 Marques, 35.138 Marques, 35-6.139 Zumpt 83.140 Cicero: Tusculanae Disputationis 2, 52.141 Cicero: De Finibus Bonorum et Malorum 5, 15.

32

Page 33: Conjuntivo No Latim e No Portugues Szd

3. A selecção do tempo

3.1. A selecção do tempo em orações principais

Os tempos de Conjuntivo diferem dos tempos do Indicativo e esta diferença

manifesta-se além do seu valor modal no seu valor temporal. Neste capítulo

recolheremos os empregos independentes dos diferentes tempos de Conjuntivo. É um

bom ponto de partida a tabela de Töttössy142, que classifica as ocorrências dos tempos

do Conjuntivo em orações principais segundo o tipo da frase, o grau de realidade e o

valor temporal. (T 1. )

O Praesens Imperfectum sempre tem um valor do presente ou do futuro como o

Presente do Conjuntivo no português.143 Ambos podem exprimir dúvida e desejo.

(133) Di bene vortant!

(134) Eloquar an sileam?

(135) Oxalá chegue a tempo!

(136) Talvez esteja doente.

Além disso no latim este tempo é que exprime potencialidade no presente ou no

futuro. No português as acções no tempo futuro, como o seu resultado é ainda

desconhecido, não podem ser consideradas nem reais nem irreais, apenas potenciais. Por

isso o Futuro do Indicativo têm um valor modal de potencialidade, assim usa-se em vez

do latim Coniunctivi Praesens Imperfectum como vamos ver no caso das frases

condicionais.

O Coniunctivi Praesens Perfectum ou Perfeito do Conjuntivo pode ter um valor

temporal de pretérito quando exprime um desejo sobre um assunto que já é acabado,

mas ainda não conhecemos o resultado. No latim pode referir-se também ao presente ou

ao futuro quando exprime potencialidade ou proibição.

(137) Oxalá tenha passado o exame!

(138) Utinam vere auguraverim!

142Töttössy (1994) 197.143 Marques, 58.

33

Page 34: Conjuntivo No Latim e No Portugues Szd

O Coniunctivi Praeteritum Imperfectum ou o Imperfeito do Conjuntivo exprime

um desejo que se refere ao presente ou futuro, mas a sua realização é impossível.

(139) Oxalá pudesse voar!

(140) Utinam vero semper esset! Sed est perraro.

No latim pode exprimir irrealidade no presente, mas no português em oração

principal o Condicional ou o Imperfeito do Indicativo têm este sentido. Quando se

refere ao passado pode exprimir uma ordem, dúvida e potencialidade.

O Coniunctivi Praeteritum Perfectum ou o Pretérito Mais-que-Perfeito refere-se

apenas ao passado e exprime irrealidade no latim no português tem esta função apenas

no caso de desejos, nos outros casos o Condicional Composto ou o Mais-que-Perfeito

do Indicativo são os que o substituem.

Agora não tratamos do Futuro do Conjuntivo, que aparece apenas em certos

tipos de oração subordinada.

3.2.A selecção do tempo em orações subordinadas

Já mencionámos que o Modo Conjuntivo é considerado o modo da

subordinação, mas a situação não é tão simples. No latim existe um sistema, a

Consecutio Temporum que descreve as regras que determinam o tempo verbal da

oração subordinada., a base é sempre o tempo verbal da oração principal. Mas nem em

todos os casos empregamos estas regras porque a selecção do tempo da subordinada

nem sempre depende ligeiramente da oração principal. Há três tipos de selecção do

tempo nas orações subordinadas:

Quase como numa oração principal: no antecedente das frases condicionais,

depois das conjunções concessivas provenientes de si, nas orações comparativas.

O emprego correlativo dos tempos de Indicativo nas orações concessivas,

causais e temporais depois das conjunções que seleccionam o Indicativo.

O emprego correlativo dos tempos do Conjuntivo:

34

Page 35: Conjuntivo No Latim e No Portugues Szd

Consecutio Temporum nas perguntas e ordens indirectas, nas orações

relativas, nas orações concessivas, causais e temporais depois de conjunções

que seleccionam o Conjuntivo, as orações com sentido secundário final.

Consecutio consecutiva nas orações consecutivas ou com sentido

secundário consecutivo, nas relativas nos quais o conteúdo da oração

subordinada é mais importante do que a oração principal.

Consecutio em Oração Oblíqua nas orações que dependem duma

outra construção subordinada.

3.2.1. A SELECÇÃO DO TEMPO EM FRASES CONDICIONAIS

As frases condicionais são construções nas quais a selecção do tempo difere dos

outros tipos das construções subordinadas, porque aqui o valor temporal dos tempos não

tem um papel importante, o valor modal é que determina a selecção como nas orações

principais. No latim o antecedente selecciona os mesmos tempos que uma oração

principal, assim excepto no caso de casus mixtus o tempo verbal do antecedente e

consequente são iguais, mas no português não é assim, porque em oração principal o

Futuro de Indicativo e o Condicional exprimem potencialidade ou irrealidade e o

Conjuntivo aparece apenas nos antecedentes. Para ilustrar as diferenças usarei a mesma

frase que Moreland - Fleischer.144

As frases factuais seleccionam o Indicativo em ambas as línguas, mas enquanto

no latim todos os tempos podem aparecer em ambas as orações, no português pode

aparecer apenas o Presente ou o Futuro no consequente e o Presente no antecedente.

(141) Si laborat, felix est.

(142) Si laborabat felix erat

(143) Se trabalha é feliz.

No latim nas frases hipotéticas que se referem ao presente aparece o Coni.

Praesens Imperfectum ou no caso do consequente também o do Indicativo, no português

o Futuro ou Presente do Indicativo no consequente e o Futuro do Conjuntivo no

antecedente. 144Moreland - Fleischer 34-35

35

Page 36: Conjuntivo No Latim e No Portugues Szd

(144) Si laboret, felix sit

(145) Se trabalhar, será feliz.

Nas frases hipotéticas que se referem ao passado ou por outras palavras na

condicional improvável usa-se o Coni. Praesens Perfectum no latim, no português o

Imperfeito do Conjuntivo no antecedente e o Condicional Simples ou o Imperfeito do

Indicativo no consequente.

(146) Si laboraverit, felix fuerit.

(147) Se trabalhasse, seria feliz.

Nas frases irreais que se referem ao presente no português a selecção do tempo é

a mesma que nas condicionais improváveis. No latim neste caso o Coni. Praeteritum

Imperfectum é usado.

(148) Si laboraret, felix esset.

(149) Se trabalhasse, seria feliz.

Nas irreais que se referem ao passado o latim selecciona o Coni. Praeteritum

Perfectum enquanto no português aparece o Condicional Composto ou o Mais-que-

Perfeito Composto do Indicativo no consequente e o Imperfeito do Conjuntivo no

antecedente.

(150) Si laboravisset, felix fuisset.

(151) Se tivesse trabalhado, teria sido feliz.

3.2.2. A CONCORDÂNCIA DOS TEMPOS: AS REGRAS DA CONSECUTIO TEMPORUM

No latim na maior parte das orações subordinadas a selecção do tempo depende

do tempo do verbo da oração principal.. Neste capítulo resumiremos as regras da

Consecutio Temporum que determinam a concordância dos tempos.145

As regras principais:

145 Töttössy, (handout)

36

Page 37: Conjuntivo No Latim e No Portugues Szd

I. O uso dos tempos do Conjuntivo:

a. Se o predicado da oração principal está no presente, o predicado

da oração subordinada selecciona um dos Presentes do Conjuntivo.

b. Se o predicado da oração principal está no passado, o predicado da

oração subordinada selecciona um dos Pretéritos do Conjuntivo.

II. O uso dos aspectos:

a. Se a acção da oração subordinada ainda não é acabada quando

acontece a acção da oração principal, usam-se as formas imperfeitas.

b. Se a acção da oração subordinada já é acabada quando acontece a

acção da oração principal, usam-se as formas perfeitas.

c. A posterioridade também pode ser indicada, mas apenas nas

perguntas indirectas, nas orações introduzidas por non dubito, quin, e em certas

orações relativas qualitativas. Neste caso usamos a Coniugatio Periphrastica

Aciva que é o conjunto dum Participium Instans Activi146 mais a forma

adequada do verbo sum.

III. O valor dos tempos verbais:

a. São considerados como presente: Praesens Imperfectum

(Presente), Praesens Perfectum Logicum (exprime uma acção acabada),

Futurum Imperfectum (Futuro), Futurum Perectum (Futuro Composto),

Imperativus (Imperativo).

b. São considerados como passado: Praesens Perfectum Historicum

(Pretérito Perfeito Simples), Praeteritum Imperfectum (Imperfeito),

Praeteritum Perfectum (Pretérito Mais-que- Perfeito Composto).

As regras secundárias:

I. O uso dos tempos depois de Praesens Perfectum:

a. Depois do Praes. Perf. Log. o predicado da oração subordinada

normalmente selecciona um Presente do Conjuntivo principalmente quando na

oração principal aparecem os verbos seguintes: memini, novi, oblitus sum,

cognovi, didici, audivi, intellexi, accepi, animadverti, coepi + inf., desii + inf.

Mas já no latim clássico podiam aparecer também os Pretéritos do Conjuntivo.

146 raiz do Supinum mais -urus3. Há verbos que não têm Supinum, neste caso as formas imperfeitas são

usadas.

37

Page 38: Conjuntivo No Latim e No Portugues Szd

b. Depois dum Coni. Praes. Perf. que se refere ao presente

(prohibitivus, potentialis) também temos de usar os Presentes do Conjuntivo na

oração subordinada.

II. O uso dos tempos depois de Praes. Impf. Historicum:

a. O Praes. Impf. Historicum formalmente é presente, mas

semanticamente exprime acções passadas, por isso o uso dos tempos nas

orações subordinadas é duplo, podem aparecer quer os Presentes, quer os

Pretéritos do Conjuntivo. Se o predicado da oração principal antecede o

predicado da oração subordinada, como na maior parte das orações finais e

perguntas indirectas, o aspecto formal torna-se mais marcado, por isso o latim

prefere usar os Presentes do Conjuntivo. Mas se a referência ao passado não é

apagada por um outro aspecto, como no caso das orações introduzidas por cum

historicum, que antecedem o predicado da oração principal, usam-se os

Pretéritos do Conjuntivo.

b. A selecção do tempo pode depender também do autor. Plauto,

Cícero, César e Ovídio preferem os Presentes, enquanto Terencio, Lívio e

Tácito preferem os Pretéritos do Conjuntivo.

c. Depois de Praes. Impf. podemos encontrar também os Pretéritos

do Conjuntivo quando a oração expõe uma ideia dum autor mais antigo mas

estimado.

III. O uso de tempos depois do Infinitivus Imperfectus:

a. Se o predicado da oração principal é um Infinitivo Histórico147, na

oração principal estão os Pretéritos do Conjuntivo no latim clássico, mas na

época pós-clássica podem aparecer também os Presentes.

b. Quando o Infinitivo aparece numa exclamação, o seu valor

temporal influencia a selecção do tempo, assim quando se refere ao passado

selecciona os pretéritos nos outros casos os Presentes do Conjuntivo. Isso é

assim também quando o Infinitivo falta duma exclamação.

Regras da Consecutio da Oratio Obliqua

I. As formas verbais infinitas (Infinitivus, Paricipium., Gervndivum., Gerundium.,

Supinum) e os adjectivos aparentemente não têm valor temporal, indicam apenas uma

condição, o tempo é determinado pelo verbo finito do que dependem, assim temos de

147 Usa-se em narrações excitadas, assim refere ao passado.

38

Page 39: Conjuntivo No Latim e No Portugues Szd

aplicar as regras da consecutio temporum como se a oração subordinada dependesse

deste verbo finito.

a. É problemático o caso daquelas formas que exprimem anterioridade depois

dum verbo no presente, porque em geral referem-se ao passado, mas não

sempre. Neste caso a regra é a seguinte: a oração subordinada selecciona o

mesmo tempo que seleccionaria se a forma verbal infinita fosse substituido por

uma oração, mas no Conjuntivo.

II. A situação é semelhante quando uma oração subordinada depende duma outra oração

subordinada cujo predicado está no Conjuntivo. Neste caso a segunda oração

subordinada selecciona o mesmo tempo que seleccionaria se a oração de que depende

estivesse independente, mas no Conjuntivo.

Observações:

A) O predicado da oração subordinada está no Pretérito do Conjuntivo também nos

casos seguintes:

I. Quando uma oração independente com predicado no Pretérito do Conjuntivo se

torna dependente, não muda o tempo do seu predicado. Assim quando o predicado

era:

a. Um Conjuntivo dubitativo que se referia ao passado.

b. Um Conjuntivo potencial que se referia ao passado

c. Um Conjuntivo irreal que se referia ao presente ou ao passado.

II. Quando o presente da oração principal se refere ao presente e também ao

passado.

III. Quando no caso duma oração principal com predicado no presente a oração

subordinada depende dum substantivo que se refere também ao passado.

IV. Às vezes o predicado da oração subordinada quer exprimir um sentido

específico do Coni. Praet. Impf. ou Perf.

V. O Pretérito pode ser retido também no caso de verdades eternas quando quer

sublinhar não a validade geral da ideia, mas quer deslocar-se ao passado quando a

ideia nasceu.

VI. Às vezes o tempo da oração subordinada segue o tempo do verbo que está mais

próximo e não daquele de que depende.

B) Observações sobre o aspecto do predicado da oração subordinada:

39

Page 40: Conjuntivo No Latim e No Portugues Szd

I. No caso duma oração principal no futuro numa oração coordenada aparece o

Futuro Imperfeito no caso de simultaneidade e o Futuro Perfeito no caso de

anterioridade. Quando uma frase deste tipo se torna dependente, selecciona um

tempo do Conjuntivo conforme as regras, mas o seu aspecto não mudará. Às vezes

podem ficar no Indicativo. Isso geralmente acontece quando a oração subordinada

depende duma oração no futuro ou no presente.

Regras da Consecutio Consecutiva:

Temos de usar Presente do Conjuntivo em vez de Pretérito apesar de que a oração

principal esteja no passado nos casos seguintes:

I. Temos de usar o Presente Imperfeito se a acção da oração principal tem algum

efeito na oração subordinada e este efeito ainda existe ou acontece no presente.

II. Temos de usar o presente Perfeito também no caso de simultaneidade:

a. Quando a acção da oração principal aconteceu no passado, mas o

conteúdo da oração subordinada é simultáneo não apenas com a acção da

oração principal, mas refere-se ao passado correlacionado ao presente do

enunciador.

b. Se queremos sublinhar o conteúdo da oração subordinada e já não

depende tão ligeiramente da oração principal.

Como pudemos ver, o sistema é bastante consequente, por isso pode ser descrito

por regras. Há casos que primeiro parecem problemáticos, porque não se adaptam às

regras, mas o papel determinante do tempo verbal da oração principal quase sempre é

evidente. No português isso não é assim. Marques examinando as frases completivas

apontou que há outros factores que podem determinar a selecção do tempo das orações

subordinadas. A autora examinou os predicados factivos e volitivos eventivos e

estativos com dois métodos diferentes, primeiro usou os pontos do Reichenbach, depois

seguiu Kamp e Reyle e tirou as conclusões seguintes:

Há casos de concordância temporal e nestes casos os tempos do Conjuntivo não

têm um valor temporal próprio, comportam-se como no latim.

Nos outros casos também é frequente que não seja determinada pela oração

principal, mas por um elemento da oração subordinada, por exemplo um

40

Page 41: Conjuntivo No Latim e No Portugues Szd

advérbio. Mas temos de sublinhar que os tempos de Conjuntivo podem ter o seu

próprio valor temporal.148

No caso das orações principais já vimos o valor temporal da maior parte dos

tempos do Conjuntivo, mas ainda não examinámos os Futuros do Conjuntivo. O Futuro

Simples tem um valor de futuro e pode exprimir simultaneidade ou posterioridade,

enquanto o Futuro Composto indica anterioridade no futuro. Poderíamos esperar que

aparecesse nos casos quando o latim indica a posterioridade usando a Coniugatio

Periphrastica ou o Infinitivus Instans no Accusativus cum Infinitivo. Mas não é assim.

Acontece também no latim que o Presente ou o Imperfeito exprimem posterioridade,

mas no português todos os tempos do Conjuntivo têm um valor de futuro excepto o

Pretérito Perfeito Composto149, por isso o valor modal é que determina a selecção do

tempo. O Futuro do Conjuntivo coloca a realização do assunto num ponto longínquo no

futuro, assim exprime maior incerteza do que os outros tempos de Conjuntivo. Certos

tipos das orações requerem maior grau de assertividade, por isso o Futuro do

Conjuntivo não pode aparecer por exemplo nas completivas, só nas temporais e

condicionais.150

É interessante esta relação ligeira entre o Modo Conjuntivo e a noção da

futuridade no português. Já no caso das frases condicionais pudemos ver que o Futuro

do Indicativo pode ser usado em casos quando no latim apenas o uso do Conjuntivo é

possível, por exemplo nas frases condicionais hipotéticas ou em orações que exprimem

dúvida no presente. A razão disso é que este tempo além do seu valor temporal têm um

valor modal de potencialidade. Acontece uma coisa semelhante no caso do Modo

Conjuntivo, porque além do seu valor modal pode ter também um valor temporal da

futuridade. Isso é possível porque muitas vezes há advérbios ou outros elementos que

exprimem uma modalidade, assim o uso de Conjuntivo torna-se redundante quanto ao

seu valor modal, mas com o seu valor temporal pode enriquecer o sentido da oração.

Conclusão

148 Marques, 150.149 Oliveira 117.150 Marques, 107-8.

41

Page 42: Conjuntivo No Latim e No Portugues Szd

Examinando as diferentes incidências do Modo Conjuntivo podemos concluir

que há muitas correspondências nas duas línguas, o que é normal, porque estamos a

falar sobre o mesmo modo, mas às vezes vale a pena fazer uma análise mais detalhada,

porque pode surgir que no caso das coincidências as razões podem ser diferentes. Por

exemplo vimos no caso do latim e também do português que marcar a subordinação não

é a única função do Conjuntivo. Mas a explicação não é a mesma. No caso do latim

podemos sublinhar o facto que o seu emprego independente nas orações principais é

bastante amplo. No caso do português já não é assim, mas a selecção do tempo não é

determinada apenas pelo verbo da oração principal, assim os tempos do Conjuntivo têm

os seus próprios valores temporais.

Geralmente podemos dizer que o Conjuntivo exprime uma não asserção da

verdade em ambas as línguas, mas no latim a opinião do enunciador tem mais papel. Por

isso há situações quando a frase latina exprime realidade, assim usa o Indicativo, mas

no português isso não é possivel, por exemplo no caso das condicionais reais ou o

fenómeno Indicativus Irrealis no latim.

Há diferenças que têm razões históricas, assim caracterizam as línguas

românicas, como a diminuição do número dos empregos independentes do Conjuntivo,

devido à formação do Condicional. E no fim temos de mencionar mais uma vez o

Futuro do Conjuntivo, que é uma característica da língua portuguesa.

O uso deste modo é bastante amplo e aparentemente caótico, mas examinando-o

quando lemos um texto ou falamos com um falante nativo podemos descobrir a própria

lógica das línguas diferentes e depois torna-se mais fácil empregá-lo.

42

Page 43: Conjuntivo No Latim e No Portugues Szd

Bibliografia

BECK, C.: Latin Syntax: Chiefly from the German of C. G. Zumpt. Boston, 1838.

http://books.google.hu/books?

id=clMQAAAAYAAJ&pg=PA91&lpg=PA91&dq=Latin+Syntax:

+Chiefly+from+the+Grammar+of+C.+G.+Zumpt&source=bl&ots=k7-Cx -

rgbu&sig=oY4FNvUrwQ12ACirLgwtnB98okQ&hl=hu&ei=t117TNnaN87I swbqv7

yyDQ&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=2&ved=0CB4Q6AEwAQ#v=one

page&q&f=false/ 2010.08.30.9:30.

BINNICK, R. I.: Time and the verb: a guide to tense and aspect Oxford University

Press, Nova Iorque, 1991. http://www.ebook3000.com/Time-and-the-Verb--A-

Guide-to-Tense-and-Aspect_35082.html 2010. 09. 15. 13:25.

CUNHA, C. F. - CINTRA L. F. L.: Nova Gramática Do Português Contemporâneo:

Edições J. Sá da Costa, Lisboa, 1998.

MORELAND, F. L - FLEISCHER, R. M.: Latin an Intensive Course, University of

California Press Londres, 1977. http://books.google.hu/books?id=9DdeXjVqyiYC&

printsec=frontcover&dq=Latin+an +Intensive+Course&hl=hu&ei=G7CQTOqKJ4_Bs

waT4uG0AQ&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CC4Q6AEwAA

#v=onepage&q&f=false 2010.09.01.13:47.

MARQUES, M. L D. L.: O Modo Conjuntivo e a Expressão de Tempo em Frases

Completivas, Dissertação de Mestrado em Linguística Portuguesa Descritiva,

Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2001.

repositorio-aberto.up.pt/.../4790TM01PLUISAMARQUES000069353.pdf/

2010.08.30. 9:47.

MARQUES, R.: “Sobre a selecção de modo em orações completivas”, in Actas do XII

Encontro da Associação Portuguesa de Linguística, Braga, 1997, 191-202.

http://rprmarques.no.sapo.pt/sobre_a_seleccao_de_modo_em_oracoes_completivas.p

df/ 2010.08.30.9:21.

MARQUES, R.: “O Modo em Condicionais Contrafactuais e Hipotéticas”, Actas do

XVI. Encontro Nacional da associação portuguesa de Linguística, Lisboa, 2001 (a),

325-335, http://rprmarques.no.sapo.pt/o_modo_em_condicionais_contrafactuais_e

_hipoteticas.pdf/ 2010.08.30. 9:10

MARQUES, R.: “ Sobre a Distribuição do Modo em PE e em PB”, Actas do XVI

Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística, Lisboa, 2001 (b), 687-

698. http://rprmarques.no.sapo.pt/sobre_a_ distribuicao_do_modo_em_pe_e_pb.pdf/

2010.08.30.9:14.

43

Page 44: Conjuntivo No Latim e No Portugues Szd

MATEUS, M. H. M. - BRITO, A. M. - DUARTE, I. - FARIA, I. H.: Gramática da

Língua Portuguesa, Edições Caminho, Lisboa, 1999.

NAGY, F. - KOVÁTS, G. - PÉTER, G.: A latin nyelvtan középiskolások számára,

Nemzeti Tankönyvkiadó, Budapeste, 2001.

NUNES, J. J.: Compêndio de Gramática Histórica Portuguesa, Livraria Classica

Editora, Lisboa, 1975.

OLIVEIRA, F.: “Sobre os Tempos do Conjuntivo” in O Fascínio de Linguagem. Actas

do Colóquio da Homenagem a Fernanda Irene Fonseca, Universidade do Porto, 2008.

http://repositorio-aberto.up.pt/handle/10216/13875 2010. 09. 15. 12:55.

PINKSTER, H: Latin Syntax and Semantics, Routledge, Londres, 1990.

http://cybergreek.uchicago.edu/ lss/ 2010. 01. 12. 9:40

TÖTTÖSSY, Cs: “Az indicativus "irrealis" a latinban”. AULAM 1, 1991, 139-146.

TÖTTÖSSY, Cs: “A latin coniunctivus bizonyos használatai a latin főmondatokban”,

Annales Universitatis Litterarum et Artium Miskolciensium 2. 1992. 197-202.

TÖTTÖSSY, Cs: A coniunctivus viszonyított használata, handout, Ittzés Máté Latin

nyelvtan 3. előadás, 2005-6 tavaszi félév.

WOODCOCK, E. C: New Latin Syntax, Bristol Classical Press, Londres, 1959.

http://www.soportugues.com.br/secoes/sint/ 2010. 01. 12. 9:40

http://www.greekandlatin.osu.edu/programs/latin/grammar/mood/

latinConditions.cfmConditions in Latin

44