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CONSELHO PARA O DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA
EM CIÊNCIAS SOCIAIS EM ÁFRICA – CODESRIA PLURALISMO POLÍTICO E DEMOCRACIA
ELEITORAL NA GUINÉ-BISSAU
A CONSTRUÇÃO DEMOCRÁTICA NA GUINÉ-BISSAU: Limites e Possibilidades
Comunicação submetida por Ricardino Jacinto Dumas Teixeira ao CODESRIA como a contribuição para o diálogo aprofundado sobre os desafios da democracia eleitoral na Guiné-Bissau.
16 a 17 de Outubro 2008.
2
A CONSTRUÇÃO DEMOCRÁTICA NA GUINÉ-BISSAU: Limites e Possibilidades.
Ricardino Jacinto Dumas Teixeira1
RESUMO
O texto problematiza, com base na análise da literatura, os limites da democracia
procedimental moderna que tem subjacente uma concepção da cidadania como via de
acesso à justiça social. O caso guineense, fortemente marcado pela presença multi-étnica e
multi-cultural, evidencia esses limites. A presença dos grupos de Mandjundade - um
movimento nacional de expressão cultural, política e pedagógica de congregação de
diferentes etnias e grupos sociais -, articulados num ponto nodal de convergências étnicas
com capacidade de constituir-se uma rede governável-, é entendida como alternativa para
tentar minimizar o paradoxo da democracia eleitoral, que abre espaço para grupos
majoritários controlarem o Estado.
Palavras chave: democracia, cidadania, grupos étnicos.
1 Licenciado em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Roraima (2006), mestrado em Sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco (2008). Atualmente é professor de Faculdade de Ipojuca (Brasil), ministrando aulas de Sociologia Aplicada no curso de Graduação em Ciências Contábeis. Tem experiência na área de Ciências Sociais, com ênfase em Sociologia Política e Ciência Política, atuando principalmente nos seguintes temas: sociedade civil, democracia e participação. Participa do grupo de pesquisa “Democracia, Sociedade Civil e Cultura Política” da Universidade Federal de Pernambuco –Brasil. E-mail: [email protected]
3
INTRODUÇÃO
A democracia minimalista não oferece uma solução
teórica para questão substantiva de política pública (...)
O que ela oferece é um procedimento para decidir
questões que por sua própria natureza precisam ser
decididas coletivamente (Amy Gutmann, 1996:17).
Este artigo analisa os contornos teóricos dos limites da democracia eleitoral na Guiné-
Bissau, um país que há 15 anos enfrenta crises sociais e institucionais e luta para consolidar
a sua democracia, desde a realização de suas primeiras eleições multipartidárias em 1994.
É inegável, hoje, que a África é um continente de conflitos institucionais misturados com
questões étnicas. As origens dos conflitos fronteiriços podem ser encontradas no período de
1884-1885, na seqüência da Conferência de Berlim que dividiu as fronteiras africanas entre
as potências colonizadoras (sendo as principais Inglaterra, França e Portugal). Esses
conflitos também podem ser encontrados no processo de transição democrática,
implementada a partir da Revolução dos Cravos de 1974, em Portugal, período em que
vários países do Sul da Europa, do Cone Sul da América Latina entraram no caminho da
democracia e realizaram ou retomaram suas primeiras eleições democráticas.
Quando o processo de descolonização e da independência dos países africanos começou,
em finais dos anos 1950 e princípio da década de 1960 do século XX, algumas dessas
questões étnicas voltaram à tona, cujos contornos ainda hoje testemunhamos em episódios
tristes, como os massacres entre Tutsis e os Hutos2 (Macuane, 2000). Os compromissos
assumidos por grande parte de dirigentes dos países africanos que se libertaram do domínio
colonial continuam insuficientes para articular os interesses de diversos grupos sociais
(Cardoso, 2002).
2 Tutsis e os Hutos são duas etnias majoritárias de Ruanda e travaram, em 1990, os conflitos políticos de cunho étnico que levou genocídio de muitos ruandeses.
4
Com o processo da emancipação da dominação colonial e conseqüente independência dos
países africanos no princípio da década de 1960, a tarefa principal de novos dirigentes
consistia em construir um Estado Nacional nos moldes ocidentais.
Esse processo de construção de novas estruturas sociais e políticas, culturais e econômicas
por dirigentes de novos Estados africanos integram, por um lado, o ambiente político
internacional com os problemas internos e, por outro, as pretensões econômicas e políticas
das elites governamentais em criar novas estruturas sociais na África (Almond e Powel Jr,
1980 aput Jauará, 2004).
No que se refere ao ambiente político internacional, pode-se ressaltar as políticas
macroeconômicas e democráticas impostas aos países africanos pelo Fundo Monetário
Internacional e Banco Mundial como condição para a renegociação da dívida externa e
concessão de novos créditos no princípio dos anos de 1980. Assim, as estratégias de
liberalização política e econômica na África por parte das instituições internacionais
visavam, por um lado, à expansão dos valores democráticos liberal pelo mundo e, por outro
lado, a abertura de mercados nacionais ao capital externo, que na África significa mercado
sem regra e sem supervisão da sua possível ação nocivo à sociedade (Jauará, 2004).
No que tange aos problemas internos aos países africanos, no processo da construção de
suas sociedades, ressaltam-se o enfrentamento das questões de cunho multi-etnico com os
imperativos da construção de Estado-Nação. A adoção dessa política na Guiné-Bissau, no
Congresso de Cassacá de 1964 e na primeira Constituição de 1973, no seu artigo 4º, retirou
a autoridade dos chefes tradicionais, acusado-os de incentivar o tribalismo3 (Santos, 1987 e
Fernandes, 1993). Esse fato resultou na perda da legitimidade dos princípios políticos e
ideológicos do movimento nacionalista PAIGC (Lopes, 1987).
Sobre as pretensões das elites governamentais, destacam-se as dificuldades enfrentadas
para a criação de novas estruturais políticas e econômicas capazes de satisfazer as
3 Esse processo de tentativa de sedimentação da memória pré-colonial não foi facilmente aceito pelos grupos étnicos. Ver Peter Mendy. O colonialismo português em África: a tradição de resistência na Guiné-Bissau entre 1879-1915. Tese (doutorado em Ciência Política). University of Birmingham, INEP, 1991.
5
necessidades essenciais da população de forma que houvesse o compromisso com a
superação da herança negativa colonial. No caso concreto da Guiné-Bissau, diante da
dificuldade de incorporar os valores democráticos, a nova geração de elites não conseguiu
desenvolver os componentes que formam um regime democrático (Cardoso, 2002, p 27).
Resta saber se essas dificuldades podem ser superadas a partir de uma nova configuração
do espaço político representado por grupos sociais com capacidade de oferecer uma
alternativa viável face aos problemas estruturais vividos nas diferentes situações nacionais.
Para responder essas questões e sem a pretensão de esgotá-las, estruturalmente o trabalho
está dividido em três partes, mais as considerações finais: a) a revisão da literatura sobre os
fundamentos da noção de democracia e da cidadania moderna; b) a análise do processo
democrático em curso na África; c) os conflitos políticos na Guiné-Bissau no processo de
transição democrática e finalizando d) com uma alternativa para aperfeiçoar ou tentar
aperfeiçoar os processos democratizadores que propiciem a superação do individualismo
com valores democráticos, a saber, a participação, a decisão coletiva, a solidariedade, o
respeito ao outro para melhoria da qualidade de vida dos sujeitos sociais coletivos.
Na primeira parte do trabalho faremos uma breve revisão da literatura sobre os
fundamentos da democracia e da cidadania, desde Antiga Grécia até a modernidade.
Mostraremos a existência de teorias sobre a democracia e cidadania, analisando-as no
contexto guineense a fim de mostrar seus limites teóricos e à necessidade de ajustá-las à
realidade social e política da Guiné-Bissau.
Na segunda parte analisaremos a crise de legitimidade de governos autoritários na África e
as transições democráticas que ocorreram nesses países africanos, no princípio de 1990,
com a queda das ditaduras em Portugal e na Espanha.
Na terceira parte chamaremos a atenção para os sucessivos golpes de Estado misturados
com disputas étnicas e regionais que marcaram a transição política para a democracia na
Guiné-Bissau. Busca-se discutir a necessidade de repensar outras formas de representação
6
política para incluir grupos minoritários, já que o atual modelo majoritário da democracia
não conseguiu avançar na institucionalização de conflitos sociais e políticos e satisfação das
demandas essenciais da sociedade.
Na quarta e última parte indicaremos os grupos de Mandjudades, um movimento nacional
de expressão cultural, política e pedagógica de congregação de diferentes etnias e grupos
sociais articulados num ponto de convergência com capacidade política de constituir-se
uma rede governável, uma alternativa para tentar minimizar o paradoxo da democracia
eleitoral minimalista, que abre espaço para grupos majoritários assumiram o controle das
instituições sociais, políticas e econômicas do Estado. Chamaremos atenção pelo seu
formato, sua prática social e articulação com os grupos étnicos que são potenciais para a
articulação de uma sociedade pluralista.
OS FUNDAMENTOS DA DEMOCRACIA E DA CIDADANIA MODERNA .
A democracia é um conceito clássico em Ciências Sociais e Humanas. Sua origem pode ser
encontrada na Antiga Grécia, nos escritos de Platão e Aristóteles. Tanto Platão como
Aristóteles defendiam à concepção segundo a qual só os filósofos (os cidadãos), que
cultivam a razão associada à propriedade da terra, ao ócio, ao exercício do conhecimento
filosófico e à ação política caberiam a função do exercício de governo (Ribeiro, 2002).
Na antiguidade não existia a separação entre a democracia e a cidadania, pois todos os
cidadãos participavam diretamente nas questões de governo e pertenciam ao Estado, com a
exceção dos analfabetos, das mulheres, dos estrangeiros e das crianças menores de 18 anos,
excluídos da cidadania e da prática democrática por não pertencerem à classe dos cidadãos
(Bobbio, 2000).
A democracia, tal como a conhecemos hoje, é uma construção da modernidade. Iniciou-se a
partir do século XVIII, a partir de duas concepções fundamentais: Inglesa (liberal) e
francesa (republicana). A democracia inglesa foi dominada pela aliança entre o povo e a
aristocracia contra o Rei (Estado), enquanto que a francesa foi marcada pela aliança oposta
7
contra a aristocracia, baseada na idéia da república e da “igualdade de condições” da matrix
toquiviliana (Touraine, 1996 e Habermas, 1997).
Na explicação de Habermas, para os liberais, o status do cidadão determina-se a partir de
interesses privados onde o Estado é apresentado como aparelho burocrático da
administração pública, enquanto na concepção republicana o status do cidadão determina-
se pelo interesse público (sociedade civil) e se legitima no mundo da vida. Mesmo
ameaçada pelos interesses individuais das instâncias hierárquicas da racionalidade
instrumental (Estado e mercado), à esfera pública enfatiza-se a integração social a partir do
mundo da vida (Habermas, 1997), o que separa Hebermas de Gramsci que vê na sociedade
civil4 como uma instância da própria sociedade política (Estado) em seu sentido ampliado.
Nas duas concepções modernas da democracia e da sociedade – liberal e republicana - a
questão da cidadania é enfocada de forma deferente nas visões dos gregos, para a
constituição da sociedade civil e do Estado. Se, para os gregos, a essência do homem é a
racionalidade e o pensamento filosófico, para os modernos é a liberdade. Enquanto para os
gregos, a cidadania atrela-se ao exercício do conhecimento filosófico, para os iluministas, a
razão está atrelada ao trabalho e nascimento das ciências naturais (Ribeiro, 2002).
O trabalho atrelado ao nascimento da ciência, portanto, significa uma ruptura com o
pensamento grego que dá ao homem burguês a justificativa moral e política sobre a
sociedade e o Estado, com base num contrato social entre indivíduos livres que buscam a
paz e a segurança (Hobbes), a defesa da propriedade privada (Locke), ou para gerar as
condições de sociabilidade buscando o equilíbrio que garante a “vontade geral” da maioria
(Rousseau), o que distingue Rousseau em relação aos anteriores contratualistas que vêem o
contrato social como gênese da sociedade civil, em que os indivíduos garantem por meio de
um contrato os seus direitos de participarem na vida pública. (Bobbio, 1982).
4 Segundo Gramsci (1991, p. 32), entende-se por sociedade civil um conjunto de organismos privados responsáveis pela elaboração, organização e difusão das ideologias.
8
Nesse sentido, a cidadania para os contratualistas e/ou iluministas opõe-se ao estado de
natureza em que o homem vivia sem as leis da razão. As sociedades étnicas -
exemplificadas com os índios norte-americanos - encontram-se, nessa concepção, na fase
primitiva da humanidade, isto é, são sociedades onde impera o estado de natureza selvagem
sem “leis contratuais”. Como os grupos étnicos que hoje fazem parte da sociedade civil –
excluídos da cidadania desde Antiga Grécia até a modernidade – podem conquistá-la?
A visão liberal e pluralista resulta da teoria formulada por Weber e Shumpeter, que
desenvolveram uma teoria democrática em contraposição ao modelo clássico da
democracia direta, num contexto marcado pelo advento de partidos de massa na sociedade
industrial, no qual o sistema de produção e da economia tornou-se o problema central da
época (Bottomore, 1981).
A democracia direta, para Weber, só seria possível e viável em sociedades pequenas e
relativamente simples. Em sociedades complexas e diferenciadas, como a moderna, o
governo direto do povo está fora de questão, sendo substituído pela democracia
representativa. Em sua opinião, isso significa que o povo deve ser desprovido de qualquer
forma de poder ou controle externo sobre as decisões tomadas por elites governamentais, já
que a posse dos meios de administração tornava fácil estabelecer acordos políticos
(Bottomore, 1981).
Shumpeter entende a democracia como procedimento minimalista que tem pouco ou
nenhum valor substantivo. Segundo ele, a democracia é um “método político, isto é, certo
tipo de arranjo institucional para chegar a uma decisão política, incapaz de ser um fim em si
mesmo” (Shumpeter, 1961, p. 295).
A capacidade de indivíduos selecionarem seus representantes (líderes), por meio de um
simples ato do voto, é a condição essencial para considerar um país de democrático. A
insistência no minimalismo procedimental implica o abandono da democracia como um
ideal. Como observa Amy Gutmann, a interpretação de Shumpeter “deixa-nos sem
nenhuma razão para saber se um sistema é “democrático” ou não (Gutmann, 2005, p. 08).
9
Para os critérios shumpeteriano, a Guiné-Bissau pode ser considerada uma democracia. Isso
porque, para Shumpeter, as regras procedimentais de seleção de lideres para o governo
através de e eleições periódicas - que não são mais novidades no continente africano e na
Guiné-Bissau em particular - é a condição sine qua non para um regime ser considerado
democrático. As questões de interesse nacional, na visão shumpeteriana, não precisam ser
discutidas coletivamente, uma vez que a massa (estouro da boiada) é incapaz de propor
iniciativas ou propostas inovadoras no mundo político.
Cabe à elite, de forma racional, tomar as decisões políticas dentro das regras de jogo
democrático. Daí surge à idéia segundo a qual as transições democráticas são jogos
estendidos a todos os jogadores e a democracia tende a constituir-se como resultado do
próprio jogo político. Quais são as conjunturas e os valores que garantem o sucesso ou
insucesso do jogo democrático? Qual é o grau de incorporação dos valores e das regras do
jogo nos países constituídos por forças sociais e políticas que não pautam seus interesses
necessariamente dentro dessas mesmas regras? Quais são os obstáculos à própria
democratização da Guiné-Bissau?
Shumpeter não aceita nenhum tipo de controle externo por parte da sociedade e considera
de anti-democrático qualquer ação política que não seja via Parlamento. Assim, acreditava
que a competição pela liderança é a característica distintiva do método democrático
(Pateman, 1992). O que nos parece crucial, no caso guineense, é o fato das decisões
políticas das elites governamentais, que emergiram da luta de libertação e durante o
processo de democratização, mostraram-se insuficientes com a crescente proliferação de
demandas democráticas e acirramento de conflitos sociais fora do Parlamento. Esse
problema se agrava ainda mais pelo fato de que o exercício da política e da prática
democrática se confunde com a legitimidade da luta de libertação (Cardoso, 2002 p. 19).
A compreensão da essência da teoria de Weber e Shumpeter pode ser um bom caminho
para o entendimento das teorias democráticas contemporâneas, uma vez que a concepção
10
hoje hegemônica da democracia minimalista foi elaborada, em grande medida, dentro do
quadro estabelecido por Weber e Shumpeter e baseou-se em suas definições da democracia.
Robert Dahl (2005) é um desses autores que baseou sua definição da democracia dentro do
parâmetro weberiano e escopo shumpeteriano, ainda que de forma diferenciada. Ao
contrário de Weber e Shumpeter, Dahl acredita que a manutenção da democracia não
depende de regras processuais, mas seja fruto de cálculo de custos e benefícios feitos por
opositores político em conflito.
Neste sentido, o equilíbrio de forças políticas, tal como pretendia Rousseau -, é
fundamental para o funcionamento democrático. Diz Dahl (2005 p. 68): “a tolerância se
reinará e se estenderá apenas entre grupos que não provocaram, mutuamente, dano grave”.
Assim, os custos da intolerância podem ser reduzidos pelas garantias mútuas contra a
destruição ou outros tipos de danos. A tese do autor é de que o pluralismo e a competição
reduzem os obstáculos à participação de minorias, abrindo espaço para a contestação
política.
Nessa concepção, a democracia envolve duas dimensões fundamentais: contestação e
participação. Apesar de ter chamado atenção pela necessidade do pluralismo democrático,
Dahl, tal como em Weber e Shumpeter, não aceita atribuir um peso maior ao controle
externo da sociedade, mas a ampliação da participação das minorias nas decisões políticas.
A participação a que Dahl se faz referência restringe-se na defesa de interesses individuais
das elites como se fosse coletivo.
Além de mostrar o seu conservadorismo democrático com a idéia de controle externo, Dahl
coloca o consenso e o treinamento social por meio da família como condições necessárias
para um sistema poliárquico, mas não conseguiu mostrar em que consiste esse treinamento,
nem forneceu qualquer sugestão que tipo de treinamento pode ou não ser produzido por um
determinado tipo de sistema de controle (Pateman, 1992).
11
Concordando em grande parte com os argumentos defendidos por Weber, Shumpeter
(1961) e Dahl (2005), para autores como Huntington (1994), Przewoski, (1998), Przewoski,
Alvarez, Cheibub e Limongi (1997), a democracia é um regime onde os cargos no governo
são preenchidos através de eleições competitivas e livres.
Neste caso, as transições para a democracia são, portanto, jogos políticos racionais
estendidos a todos os cidadãos adultos na formação das instituições representativas através
de eleições periódicas e competitivas.
A concepção de democracia defendida por Weber, Shumpeter (1961), Dahl (2005),
Huntington (1994), Przewoski, (1994), Przewoski, Alvarez, Cheibub e Limongi (1997)
enquadram-se na definição minimalista5 da democracia que defende eleições periódicas,
sufrágio inclusivo e o “direito” de qualquer um candidatar-se a cargos eletivos.
Para os teóricos da democracia minimalista, a participação e o controle externo não têm um
papel central no método democrático procedimental-representativo. Por isso, a definição
processual da democracia é pouca esclarecedora para os dias atuais, por não oferecer uma
solução teórica para a questão substantiva da própria democracia (Amy Gutmann, 1996).
Esse argumento aplica-se o caso guineense e da África em geral, onde os processos de
democratização não geraram as condições substantivas da democracia e nem aliteraram as
heranças negativas do Estado colonial que foram mantidas em outras formas pelo antigo
regime durante a transição à democracia.
No caso da África, Bratton e Walle (1997), acreditam que a herança institucional dos países
africanos é que influencia as transições para a democracia no continente. Segundo esses
autores, a democracia tem mais chance de sucesso em regimes com certa experiência de
competição política. Assim, a intolerância e a falta de uma sociedade civil articulada são os
5 Uma definição minimalista é quando todas as propriedades ou características de identidade não disponíveis a
sua identificação são apresentadas como propriedades variáveis, hipotéticas, e não como propriedade de definição. Ver Sartori (1982, p., 84).
12
motivos para o fracasso das transições democráticas na África, razão pelas quais as
democracias têm pouca chance de sucesso no continente onde sobrepõe o poder militar.
O caso da Guiné-Bissau parece enquadrar-se na tese de Bratton e Walle. No entanto, se a
democracia não restringe-se apenas à competição política e eleitoral, apesar de ser uns dos
elementos importantes, faz-se necessário perguntar que concepções sobre democracia,
produzidas nos embate das organizações sociais (ou étnicas), podem apontar para uma
outra realidade para soluções dos problemas enfrentados pela sociedade civil guineense?
É importante, ainda, considerar a influência do sistema do governo e do sistema partidário
no curso da transição democrática. Para Lins e Stepan (1987), no sistema presidencialista6,
o candidato derrotado é excluído e supostamente não será membro da oposição na casa
legislativa. Sobre o sistema partidário, ressalta-se a dificuldade dos partidos políticos na
formação de opinião pública (Schewarzenberg, 1979 aput Petersen, Corsetti, Pedroso e
Ulrich, 1988, p. 101). No caso especifico da Guiné-Bissau, a frágil institucionalização de
partidos políticos, sem implantação na sociedade e de perfil ideológico indefinido explica,
em parte, o insucesso das organizações partidárias em estabelecer o vínculo com forças
sociais.
Ainda sobre Guiné-Bissau, ao analisar os limites do processo de transição democrática em
curso no país, Fafali Koudawo (1996, p. 69), pesquisador do Instituto Nacional de Estudos
e Pesquisa retoma, numa única pergunta, o debate sobre as pré-condições necessárias para
construção democrática: “o que é a sociedade civil num país que não teve tradição
pluralista na sua história recente?”7. O mesmo Koudawo aponta os grupos de Mandjundade
6 O governo presidencialista surgiu nos Estados Unidos após sua independência, em 1787, através dos constituintes que, reunidos em Filadélfia, redigiram a Constituição dos Estados Unidos da América. Entre as inúmeras atribuições de um Presidente norte-americano estariam: a regulamentação da economia, autorizar subvenções, aprovar ou não, fusões de empresas, baixar ou aumentar tarifas, firmar contratos e regulamentar o crédito (Polsby, eput Petersen, Corsetti, Pedroso e Ulrich, 1988, p. 84). Daí o receio de Lins e Stepan sobre o sistema presidencialista em relação ao poder concentrado no Presidente, ainda que o Congresso (ou Câmara) tenha algumas atribuições constitucionais. 7 Essa pergunta aproxima-se do argumento defendido pelos teóricos da modernização que falava da necessidade de se cumprirem certas precondições para que, de forma adequada, o processo de democratização pudesse ocorrer. Só quando essas condições (culturais e sociais) estivessem bem estabelecidas em decorrência de certo modelo de desenvolvimento econômico (aí se inclui também a cultura política liberal), a democracia
13
como instâncias informais de solidariedade que insurgiram contra o autoritarismo do
PAIGC. Esses grupos assumem, aqui, como agentes com a capacidade política de articular
um Estado governável de forma minimizar as clivagens étnicas e regionais, ao mesmo
tempo em que corrigem ou tentam corrigir os paradoxos da democracia eleitoral, que abre
espaço para grupos étnicos majoritários assumirem o controle do Estado por causa do seu
aspecto soma zero8.
Além disso, a presença de mandjundades - enquanto forças sociais coletivos - podem
colaborar para minimizar os sucessivos golpes de Estado no país onde as Forças Armadas
são controladas por grupos étnicos majoritários9 que inibe o pluralismo e incentiva o
continuísmo das práticas patrimonialista e clientelistas predominantes no cenário político
guinnense e, desse modo, influenciar de modo decisivo a configuração da agenda pública.
Até aqui foi examinado o fundamento da democracia e da cidadania moderna. Pela análise
dos seus pressupostos, destacou-se a sua tendência tradicionalmente individualista e elitista
que limita a participação política ao jogo processual, ao mesmo em tempo que abre espaço
para grupos sociais majoritários assumirem o controle de poder. No tópico seguinte, será
iniciada a análise das mudanças políticas que ocorrem na África com a transição à
democracia.
poderia emergir em países como a Guiné-Bissau. Outros autores ressaltam a dimensão política, a intervenção e estratégias de elites e os obstáculos inerentes à própria democratização. 8 Soma zero é quando um partido ou candidato que ganha às eleições leva a maioria das cadeiras na casa legislativa e com isso exclui a participação das minorias dentro do aparelho do Estado. 9 Vale lembrar que na Guiné-Bissau, os contingentes das Forças Armadas (Exército, Marinha e Força Área) são, majoritariamente, oriundos da etnia Balanta, que fora a principal mão de obra e braço direito de Amílcar Cabral na luta de libertação nacional contra o domínio de Portugal. Isso só foi possível, na avaliação de Cabral, em função da estrutura horizontal da sociedade Balanta (Cabral, 1978). Não obstante o papel da etnia Balanta na luta de libertação e no processo da “unidade nacional”, a história política recente da Guiné-Bissau está marcada por reivindicação de grupos étnicos que alegam serem excluídos na divisão de cargos durante o governo de Luís Cabral (1974-1980) e de João Bernaldo Vieira (1980 e 1998). Esse tratamento desigual sofrido por pessoas pelo fato de pertencerem determinados agrupamentos étnicos continua ainda hoje presente na memória política guineense.
14
TRANSIÇÃO DE AUTORITARISMO PARA A DEMOCRACIA NA ÁFR ICA.
As experiências das transições políticas na África são exatamente as dos países que
recentemente saíram formalmente de regime mono-partidário, como o caso de Guiné-
Bissau, Cabo Verde e São Tomé, que vinham de uma longa história de mono-partidarismo,
realizaram suas primeiras eleições em 1991. Estes últimos, que não conheceram nos seus
territórios lutas de libertação nacional são vistos como casos típicos do sucesso do
pluralismo político na África portuguesa (Jaurará, 2004) quando comparado com Guiné-
Bissau onde o alto grau de controle dos herdeiros do antigo regime e a influencia militar na
política domestica prevaleceram (Koudawo 2001). Evidencia-se um aspecto comum, a
saber, a dependência externa.
A Angola realizou suas primeiras eleições pluralistas em 1992, que reconduziu elegeu
presidente via eleição José Eduardo dos Santos, líder do MPLA (Movimento para a
Libertação de Angola). General Jonas Savimbi, líder da UNITA (União Nacional para a
Independência Total da Angola), recusou reconhecer o resultado do pleito recorrendo-se à
guerrilha armada que culminou na sua morte em 2000. Recentemente, em setembro de
2008, o país teve a sua segunda experiência com a democracia, realizou eleição para o
governo que reconduziu o MPLA no poder, que há mais de uma década dirige o país.
A República Democrática do Congo (anteriormente conhecida como Zaire) decidiu entrar
no caminho da democracia, realizou suas primeiras eleições gerais e multipartidárias em
1992. Esse processo foi solapado em 1997 depois de uma sangrenta guerra civil, concluído
em 2002 com a realização de eleição presidencial.
No caso especifico da Guiné-Bissau, o processo começou um pouco mais tarde. Em 1990
teve início o processo de liberalização do regime com o surgimento de partidos políticos de
oposição em 1991. Em 1994 o país realizou, em dois turnos, suas primeiras eleições
pluralistas que reconduziu ao poder via eleitoral João Bernaldo Viera do PAIGC. Esse
processo democrático foi interrompido após um levante militar em 1998, retomado em
Novembro de 1999, concluído em Janeiro de 2000.
.
15
Não obstante as realizações das primeiras eleições pluralistas na África, cenários de
conflitos políticos e étnicos e os processos de transições democráticas africanas não
produziram efeitos desejados, tanto do ponto de vista político como social e econômico.
No campo político, assistiu-se a uma tendência de tentativas de instalações de regimes
autoritários, o que muitas das vezes significou a repressão de qualquer forma de
contestação ou visão contrária aos regimes instalados, por exemplo, Angola, Zimbábue,
Moçambique, Zaire, Libéria, Ruanda, Burindi e Guiné Bissau, contribuindo para criação de
um ambiente social e político cada vez mais difícil e instável.
No aspecto social, as sucessivas elites governamentais não conseguiram promover práticas
governativas que encorajassem o desenvolvimento social aliado ao crescimento econômico
ao alcance de todos, dada à instabilidade interna e luta pelo poder entre diferentes atores
políticos, resultado de um baixo nível de governabilidade, bem como a ausência de um
ponto nodal de convergência e de equilíbrio de poder entre a sociedade política e a
sociedade civil que pudesse encorajar o pluralismo e a consolidação das instituições sociais
e políticas democráticas.
No caso específico de Guiné-Bissau, após a independência oficial contra o colonialismo
português, em 1974, a perseguição com tortura acompanhada de matança de adversários,
como normalmente acontece nos regimes autoritários, era uma prática do PAIGC (Partido
Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde). Um caso paradigmático é o de 17
de Outubro de 1986, que gerou uma crise profunda no interior da sociedade política e da
sociedade civil guineense10.
Essa maneira de fazer política do PAIGC foi mantida em outras formas durante a
democratização pelo o governo do PRS (Partido da Renovação Social). Os casos mais
graves são aqueles em que o governo tentou restringir a liberdade de expressão, da
imprensa e de associação, que são condições indispensáveis ao pluralismo político.
10 O caso 17 de Outubro de 1986 ficou marcado pelas apreensões acompanhadas de matanças de altos dirigentes do PAIGC, entre eles, Paulo Correia e Viriato Pã, acusados de tentativa de golpe de Estado contra o governo de João Bernardo Vieira.
16
A mais celebre ação política do governo do PRS consistiu na atribuição de altos cargos
chaves no governa, tendo como critério afinidades étnicas e regionais, o que denominamos
aqui de etnização do poder. É plausível afirmar, portanto, que tanto o governo do PAIGC
quanto o do PRS mantinham um aparato repressivo contra qualquer forma de contestação
ou visão contrária aos seus interesses político-partidários de permanecer no poder, práticas
inaceitáveis numa democracia do tipo liberal.
Na Guiné-Bissau, as regras processuais da democracia eleitoral foram rapidamente
instituídas, mas a incorporação delas por parte do Estado e da sociedade civil continua
problemática e difícil. No momento em que o país marcou suas primeiras eleições livres, a
transição para a democracia estava fadada ao fracasso. Isso porque os líderes políticos
apelaram para os votos da forma mais sensível aos eleitores: votam em mim porque sou da
região Norte e não votam nele porque é filho do Sul. O que veio em seguida foi o
recrudescimento das clivagens étnicas e regionais. Desta forma a democracia liberal não
poderia sobreviver sem algum grau de aceitação sobre as regras de jogo por parte dos
grupos étnicos que constituem uma base importante de estabilidade institucional sem a qual
a democracia eleitoral não pode funcionar.
A democracia eleitoral foi vista na Guiné-Bissau pelos diversos líderes e grupos sociais de
etnias majoritárias como a oportunidade para impor a sua própria agenda dentro do
governo. Como afirma Reynolds (1997), no sistema presidencialista africano os presidentes
tendem a ser pressionado pelas diferentes etnias e diversos interesses regionais e pode ter
incentivos para oferecer privilégios aos seus grupos étnicos e regionais como a forma de
garantir a eleição ou reeleição. Como consolidar as regras de jogo democrático sem abrir
mão dos valores multi-cultural e multi-etnico que constituem a sociedade guineense? Se,
por um lado, é importante certo grau de “unidade” e identidade nacional, sem a qual tornar-
se-á difícil à configuração de qualquer sociedade, por outro lado pode servir de justificativa
para excluir a participação de minorias nas questões de interesse público.
Essa dificuldade em articular as diferenças numa cadeia de equivalências tem gerado o
autoritarismo na Guiné-Bissau, embora o país tenha experimentado a democracia, uma
17
democracia que incorpora métodos processuais de seleção de líderes para governo, ao
mesmo tempo em que reserva formas anti-democráticas de controle das instituições da
República. A crise da democracia eleitoral parece instalar-se na Guiné-Bissau. Por causa
disso é que desde que o país adotou as regras do jogo da democracia liberal, em 1994,
nenhum governo ou presidente democraticamente eleito conseguiu terminar o seu mandato
devido os sucessivos golpes de Estado e exclusão da sociedade nas questões de interesse
nacional.
OS CONFLITOS POLÍTICOS NA TRANSIÇÃO DEMOCRÁTICA NA GUINÉ-BISSAU.
A história política guineense, historicamente, tem sido marcada por conflitos políticos e
exclusão da sociedade no usufruto da riqueza, de acesso a bens de consumo e de satisfação
das necessidades básicas essenciais. Impulsionados pelo desejo de subjugar outros povos e
culturas para melhor explorá-las e dominá-las, o imperialismo português decidiu lançar
mão de prática racistas e colonialistas que negavam a cultura dos grupos étnicos vistos pelo
governo de Portugal como “primitiva11”.
Essa marginalização gerou resistências de grupos sociais que facilitou, ainda que de forma
incipiente, o surgimento de movimentos nacionalistas de libertação nacional, entre eles, o
PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde), de Amílcar
Cabral, a FLING (Frente de Libertação Nacional da Guiné), de François Kankoila Mendy, a
ULG (União para a Libertação da Guiné), de Ibrahim Djaló, a UNGP (União Nacional da
Guiné Portuguesa), de Benjamim Pinto Bull, e o PSG (Partido Socialista da Guiné), de
Rafael Barbosa, que mais tarde filiou-se ao PAIGC por falta de estrutura e quadros, entre
outros motivos.
Esses movimentos tiveram que enfrentar conflitos ideológicos quanto à forma e os
caminhos que deveriam ser seguidos entre visões nacionalistas e posições pan-africanistas
defendidas em Gana, na Conferencia dos Povos Africanos sob liderança de Kwame 11 Não desconsideramos a política de Guiné Melhor instituída pelo governo colonial que visava, entre outras coisas, “valorizar” as tradições pré-colônias para melhor subjugá-las. Para articulação dessa política foi instituída o Congresso do Povo da Guiné (Fernandes, 1993, p. 43).
18
N´Krumah, em 1958, na qual foi sugerida a criação de um Parlamento africano e de uma
moeda única para uma sonhada “Estados Unidos da África”. Apesar da proliferação de
movimentos nacionalistas nesse período, apenas o PAIGC conseguiu articular uma vontade
coletiva em torno de um projeto político único: unidade entre os povos da Guiné e Cabo
Verde (Havik, 1999).
Após um longo período de exploração colonial dos territórios da Guiné e Cabo Verde, em
novembro de 1963, o partido inicia a luta após uma ampla mobilização e conscientização
das massas na zona rural do país. Nessa região, o PAIGC mantinha um maior controle
social e influencia política entre a população camponesa que mais apoio a luta de
libertação.
Em 1973, o PAIGC proclamou, de forma unilateral, a independência e proclama uma
República e busca o reconhecimento internacional. Em 10 de setembro de 1974, após a
queda do regime de Salazar, Portugal reconheceu oficialmente a independência da Guiné-
Bissau, que foi a primeira das ex-colônias portuguesas em África a alcançar o estatuto de
um país livre no continente.
A Revolução dos Cravos em Portugal, que derrubou o governo de Marcelo Caetano, em 25
de abril de 1974, em resposta ao descontentamento dos oficiais com a derrota nas ex-
colônias portuguesas - principalmente na Guiné-Bissau - foi o fim de uma longa ditadura e
o começo de um amplo movimento de democratização, contestação e enfrentamento entre
diversas forças políticas que o regime salazarista havia reprimido, tanto na Guiné-Bissau
como em Portugal.
Após a independência oficial da Guiné-Bissau, em 1974, o PAIGC passou a controlar toda
a vida social, política, cultural e econômica do país. O artigo 4° da Constituição da
República de 1973 definia o partido como a única força política e o dirigente máximo da
sociedade e do Estado.
19
O primeiro Presidente indicado pelo PAIGC, Luís Cabral, em 1974, foi deposto através de
um golpe de Estado, em 1980. Este golpe, que fora liderado pelo comandante de guerra,
João Bernardo Vieira, atual Presidente da República, defendia como justificativa preservar
a memória do passado pré-colonial como contraponto à “industrialização” defendido pelo
anterior governo (Augel, 2007).
Outra justificativa era de que o golpe de Estado seria uma forma de tirar o poder político da
mão dos cabo-verdianos, que detinham cargos chaves no governo para devolvê-los aos
“tradicionais” combatentes guineenses. O novo discurso nacionalista de 1980 teve desta
vez, o apoio das autoridades étnicas tradicionais e tornou-se uma das formas de
identificação nacional, (Fernandes, 1993).
Após três anos no poder como Presidente eleito via eleição em 1994, Vieira foi deposto por
um novo golpe de Estado liderado, desta vez, por Ansumane Mané. Mané foi combatente
do PAIGC na luta contra o colonialismo português e desempenhou as funções de Chefe de
Estado Maior do Exército no governo de Vieira até ser acusada pelo Presidente da
República de tráfico de armas para a guerrilha de Casamansa, região fronteiriça do
Senegal. Para restabelecimento da democracia foi necessária a negociação da Comunidade
de Países de Língua Oficial Portuguesa (CPLP) e dos demais países da sub-região Oeste
áfrica.
Ressalta-se que a derrubada de Vieira contou com o apoio dos militares de etnia Balanta
que representava na época 24% do total da população nacional e era a principal
colaboradora de Amílcar Cabral durante toda a luta contra o domínio de Portugal na Guiné-
Bissau. Excluídos na divisão de cargos nos sucessivos governos de Vieira, reforçado pelo
assassinato de dois dos seus principais líderes políticos, Viriato Pã e Paulo Correia, em
1986, os Balantas deram um vasto apoio a Ansumane Mané na derrubada do Presidente.
Em 2000, o General Mané foi assassinado por um grupo de militares logo após as segundas
eleições que elegeu Presidente o líder do PRS, Kumba Yalá. Trata-se de um conflito de
poder pelo controle de Estado entre os militares representados pelo General Mane, e o
20
poder político instituído democraticamente sob liderança do presidente Yalá misturado com
disputas étnicas.
Dada a fragilidade política do país e dos partidos políticos de oposição, que não têm sido
capazes de canalizar as demandas sociais junto ao Estado, a sociedade civil guineense
começou a ganhar a vitalidade no cenário político nacional.
Em 14 de Setembro de 2003, a política de golpe de Estado na Guiné-Bissau fez-se
novamente presente quando Yalá, eleito democraticamente em 1999, foi deposto da
Presidência da República pelo Chefe do Estado Maior, Veríssimo Seabra, sob a acusação
de corrupção, do uso arbitrário do poder e da promoção de intrigas entre diferentes grupos
étnicos no interior das Forças Aramadas como forma de se manter no poder. Este golpe - à
semelhanças dos de 1980 e 1998 – dividiu profundamente as Forças Armadas Nacionais
cujas conseqüências ainda hoje testemunhamos nas disputas políticas entre diferentes
líderes e grupos sociais. É plausível dizer que a destituição do Presidente Yalá explica-se,
em grande parte, pelo conflito de competência entre o poder civil e o poder militar.
Em 06 de outubro de 2004, Veríssimo Seabra, que foi o autor do golpe contra o governo de
Yalá, foi assassinado por um grupo de militares que participaram do programa de paz da
ONU, na Libéria, acusado de corrupção e promoção arbitrária no interior das Forças
Armadas. Para o sociólogo Hugo Monteiro (2004), o assassinato de Seabra não passa de
um ajuste de contas nas Forças Armadas pela deposição do Presidente Yalá em 2003.
Percebe-se, por outro lado, que as clivagens étnicas dentro das Forças Armadas e a luta
pelo poder entre os oficiais militares tinham também uma dimensão simbólica: a colocação
nas patentes militar dos dois ramos de arroz, principal produto de consumo nacional, cujos
produtores majoritariamente são oriundos da etnia Balanta, foi entendida como uma
demonstração de hegemonia Balanta dentro das Forças Armadas sob proteção do PRS,
então governo (Diário de Bissau, out. 2003, p. 13).
21
Ressalta-se que não foram apenas os líderes políticos e militares de etnia Balanta que
tiraram ou tentaram tirar proveito étnico durante a democratização. A Coligação Partidária
União Eleitoral, majoritariamente da etnia Mandinga e Fula procurou, sem sucesso, manter
a supremacia eleitoral no processo democrático apelando voto nas suas regiões, mas os
resultados eleitorais não foram os esperados.
Também durante o conflito militar de 1998, a juventude da etnia Papel da região de
Biombo12 deu um vasto apoio na manutenção do presidente Viera no poder, também da
mesma etnia. Por conta disto, a expressão etnização de poder distingue-se do termo
“balantalização” por desconsiderar o peso político de outras forças étnicas que disputam
espaços na arena política onde desenrola a luta hegemônica13.
Em 2006, o país conheceu uma “suposta” tentativa fracassada de golpe de Estado, desta vez
marcada para o dia da “reconciliação” no interior das Forças Armadas. Esse fato resultou
no assassinato do Comodoro Lamine Sanha, da etnia Mandinga e homem próximo de
Ansumane Mané - assassinado em 2000. Esse acontecimento provocou o confronto entre
forças policiais e juventude do Bairro Militar, que manifestaram publicamente seu
descontentamento pela forma como Sanhã foi assassinado.
12 Os jovens da etnia Papel da região de Biombo juntaram-se aos homens leais ao Presidente Vieira temendo aproximação do General Mané com a etnia Balanta. 13 Este argumento é corroborado pelos dados coletados numa pesquisa de 2007, em que foi analisada a “sociedade civil e democratização na Guiné-Bissau, 1994-2006”, disponível em: http//www.didinho.org. Os dados eleitorais demonstram, por exemplo, que o candidato João Bernaldo Viera, da etnia Papel da região de Biombo, sempre teve um desempenho surpreendente em todos os pleitos que ele concorreu como candidato ao cargo do Chefe de Estado. O mesmo aconteceu nos círculos eleitorais da região de Cacheu, da etnia Manjaca. Nessa região, o candidato João Tatis Sá - do mesmo grupo – teve um desempenho significativo. Nas primeiras eleições de 1994, no bojo da estratégia da devolução da autoridade tradicionais aos regulados como forma de manter a supremacia eleitoral, o PAIGC indicou Paulino Gomes como regulo Manjaco. Na região de Leste foi indicado pelo partido Aladje Mané, atual Presidente da Comissão Nacional de Eleições (Fernandes, 1993, p. 48). Amílcar Cabral, ainda que não desconsidere a existência de conflitos, deixa-nos entender que não eram de natureza étnica. Em sua análise, Cabral afirma: a única contradição que existia, no campo, era de natureza prática da luta pela sobrevivência, entre elas, o roubo de gado e a disputa de terra, e, na cidade, entre cabo-verdianos e guineenses, pela melhores posições no Estado. Dizia mais: esses últimos, a elite urbana, no fundo, queria comer cabritos ao lado de tugas portugueses (Cabral, 1978, p 126). Se fossemos fazer um paralelo com Cabral diríamos hoje que: com a saída de tugas portugueses, os diferentes grupos étnicos historicamente excluídos na divisão de cargos no Estado hoje estão dispostos a saborear o gosto do cabrito.
22
Em 2008, o Comandante-Geral da Marinha, o almirante Bubo Nachut foi acusado pelo
atual Presidente da República, João Bernardo Vieira14, de tentativa fracassada de golpe de
Estado contra o seu governo, somada à acusação de que o Bubo Nachut estaria utilizando as
Forças Armadas e uma parte do território nacional para o tráfico internacional de drogas.
A influência militar na política guineense dava-se praticamente em todos os órgãos do
Estado. Os militares assumiram posições estratégicas nos governos civis durante a
democratização, o que dificultava a ruptura com o passado autoritário do antigo regime.
Em suma, pode-se dizer que o processo de transição democrática tem se dado num quadro
de baixa institucionalização, no qual ainda não foi estabelecido o controle civil sobre os
militares, tampouco o respeito às regras de jogo eleitoral.
Admitindo-se que a democracia eleitoral custou à própria democratização da Guiné-Bissau,
resta-se perguntar qual seria a alternativa dentro do atual configuração étnica e regional
com potencialidade para o aprofundamento do pluralismo democrático? Que papel é
reservado aos grupos de Mandjundade15, nesse processo?
Para responder estas questões, precisamos olhar para além da noção da cidadania moderna
que tem subjacente uma concepção de sociedade civil para dar sentido a nossa crítica à
democracia eleitoral, porque a ausência de uma sociedade civil articulada é freqüentemente
utilizada para justificar o insucesso da democratização na África, particularmente no caso
de Guiné-Bissau onde se sobressai às sociedades étnicas.
14 Vieira retornou ao poder via eleição em 2006, depois de um longo período de exilo político em Portugal. 15 Com mais de 100 anos de existência, Mandjuande consiste em pessoas da mesma faixa etária, reunidas para a confraternização, danças e outras manifestações tradicionais com o objetivo de estreitar laços de solidariedade (Bull, 1989, p. 171).
23
UMA ALTERNATIVA
Até aqui a analise restringiu-se aos limites da noção da cidadania grega e moderna e da
democracia eleitoral para dar conta das questões substantivas da própria democracia,
particularmente em contextos como o de Guiné-Bissau.
Se analisarmos a cidadania do ponto de vista da cultura política das sociedades “modernas”
ocidentais, os grupos de Mandjundade - pelo menos no caso da Guiné-Bissau - parecem
configurar-se de forma distinta. Mas se analisarmos a cidadania no seu sentido ampliado,
como prática social, econômica, política e cultural historicamente construída que retrata a
forma típica de solidariedade e de concepção do mundo de uma dada sociedade, os grupos
de Mandjuandade também podem ser considerados partes integrantes da sociedade civil,
ainda que sua estrutura apresentar-se de forma diferente das sociedades capitalistas.
Como instâncias informais da coesão social e da solidariedade que insurgiram contra o
autoritarismo do Estado colonial e do governo do PAIGC, os Madjuandades são formados
por um Rei, uma Rainha, um Merinho ou Merinha, um soldado, um Cordeiro e um Djidiu.
Todos possuem funções especificas dentro do grupo.
Assim, uma Rainha ou um Rei são chefes do grupo e, em caso de rituais, festas de
aniversários ou casamento determina o montante a ser pago pelos soldados (elementos do
grupo), para realizações de eventos. O Cordeiro é mensageiro da comunidade. O Djidiu é
animador do movimento com suas canções de dito.
Já os soldados, embora não terem uma função especifica no interior do grupo, sempre que
necessário, são convocados para qualquer atividade que o Cordeiro não se dispõe a realizar.
Como um movimento cultural nacional, os Mandjuandades retomam as tradições do
passado e passam a ser incorporada também pelo movimento de jovens em que reflete a
solidariedade da vida cotidiana.
24
As canções (ditos) de Mandjuandades portam sempre conteúdos sociais, políticos, culturais
e econômicos que demonstram de alguma forma a resistência e a insatisfação da sociedade
contra qualquer comportamento de exclusão, da descriminação e da perseguição política.
Nas festas, os Mandjuandades cantam canções de ditos, que podem parecer despercebidos,
uma vez que os membros do grupo não podem manifestar suas indignações de forma direta
com receio de serem reprimimos pelo governo que, apesar de incorporar alguns
procedimentos democráticos processuais, não conseguiu desfazer-se dos legados
autoritários. Estas práticas se manifesta, seja pelos sucessivos golpes de Estado, seja ainda
pelas intimidações de civis.
Além da sua dimensão política e cultural, os Mandjuandades também têm um viés
pedagógico; é um lugar não só de entretenimento, mas de ensinamento, de troca de
conhecimentos, de experiências e de solidariedade. Um ponto importante que também
merece ser mencionado é o fato de Mandjuandades configurar-se como um movimento
nacional de convergência de vários grupos étnicos e regionais que expressam o vínculo de
solidariedade e de identidade nacional por meio do crioulo, a língua comum nas cidades e
tabancas (aldeias) e, dessa forma, tornando viável a comunicação entre diferentes grupos
étnicos.
Outro aspecto de extrema importância é o fato do português, apesar de ser a língua oficial
da sociedade e do Estado, não é a primeira língua de comunicação entre os guineenses, o
que viabiliza ainda mais o papel político dos grupos de Mandjundade que têm no crioulo
como a segunda língua de comunicação, a seguir das línguas étnicas.
Razões pelas quais a presença desses grupos deixa em aberto a possibilidade, em termos de
projeto de pesquisa, de configurar-se como uma alternativa ao conceito da cidadania e ao
paradoxo da democracia eleitoral, isto é, sobre a possibilidade de constituir-se um ponto
nodal da convergência das demandas étnicas que articula não propriamente uma unidade,
mas uma rede governável que possibilite o convívio democrático, a ampliação da
democracia respeitando as especificidades e superando os pré-conceitos.
25
A partir dessa proposta fundar-se-á o que poderíamos denominar da democracia dos grupos
de Mandjuande, uma democracia que incentivaria à participação política de minorias e
reconheceria os direitos sociais, jurídicos, culturais, econômicos e políticos mais amplos e
se legitimaria na democracia do cotidiano. Nesta acepção, a democracia dos grupos de
Madjuandades seria concebida como um processo a ser vivenciado além de regras
processuais formais, ou seja, uma visão de democracia como possibilidade de articulação
de diferentes demandas nos níveis locais, regionais e nacionais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS.
Foi verificado, no decorrer deste trabalho, o limite da democracia procedimental-eleitoral.
Pelos seus fundamentos, destacou-se sua insuficiência teórica para questões substantivas da
esfera pública. Essa insuficiência ficou mais clara no caso guineense, fortemente marcado
por demandas de grupos étnicos historicamente excluídos de diretos da cidadania.
O exame da história política recente da Guiné-Bissau mostrou-se que a institucionalização
das regras do jogo democrático como via para a melhoria das condições básicas, o exercício
da cidadania e resolução de crises sociais e econômicas via institucional, não geraram
resultados esperados, pelo contrário, intensificaram-se a violência, a criminalidade e os
golpes de Estado misturado com disputas étnicas. Isso nos leva a um segundo argumento
defendido ao longo do texto, segundo a qual as regras procedimentais da democracia liberal
não conseguiram avançar na mediação das questões substantiva que afetam,
indubitavelmente, o interesse e a constituição da sociedade.
Quanto à herança grega da cidadania mantida em outras formas pelo pensamento iluminista
da modernidade, enfatizou-se o seu paradoxo para os grupos étnicos que hoje fazem partida
da sociedade civil como via de acesso à emancipação e à cidadania. O pensamento grego e
moderno, de modo geral, exclui as etnias como se elas não fizessem parte da sociedade
civil, constituindo entrave na conquista da própria cidadania. Essa visão da cidadania
26
moderna de alguma maneira foi incorporada na pratica política dos dirigentes do PAIGC
para justificar a institucionalização do Estado e da identidade nacional.
Assim, é plausível dizer, resumidamente, que há um profundo distanciamento entre a lógica
formal da democracia minimalista e o modo pelo qual se dá a luta democrática na Guiné-
Bissau. Isso se deve, em grande parte, não apenas pela ausência de projetos políticos de boa
governança por parte das elites governamentais, um vetor que contribuiria, sem dúvida,
para a consolidação democrática, mas pela negligência das especificidades do país e à
exclusão das comunidades étnicas, as quais, indubitavelmente constituem a sociedade
guineense.
A valorização do papel político dessas comunidades pode constituir-se, em termos de
projeto político, uma alternativa para articular, ainda que de forma contingente, uma rede
governável das demandas étnicas e regionais, ao mesmo tempo em que valoriza as
especificidades do país, podendo assim abrir espaços para realização de futuras pesquisas
área de sociologia política guineense.
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