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Dançarinas em Daytona Beach, na Flórida: os fotografados por Constantine Manos não sabem que estão sendo registrados Constantine Manos

Constantine Manos

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Dançarinas em Daytona Beach,na Flórida: os fotografados porConstantine Manos não sabemque estão sendo registrados

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O renomado fotógrafo confessa que passou por uma crise nacarreira e a reverteu mudando o rumo de sua arte. Saiba como

Constantine ManosDo p&b para a cor em grande estilo

POR NATÁLIA MANCZYK

M arcadas pela presençahumana, as fotos donorte-americano Cons-

tantine Manos, da Agência Mag-num, captam momentos de pessoascomuns em instantes de apreensão,diversão, paixão, descontentamentoe alegria. São sentimentos universaisque ele registra tanto nos Estados

Unidos quanto na Grécia, de ondeseus pais emigraram.

Depois de colaborar com gran-des revistas como Esquire, Life eLook, ele viveu três anos no país eu-ropeu, de 1961 a 1964, e fotografouos moradores de vilarejos na árearural. O trabalho rendeu o premiadolivro A Greek Portfolio, publicado

em 1972, e republicado em 1999com fotos inéditas feitas na época.Após o período na Grécia, Manosse estabeleceu em Boston, nos Es-tados Unidos, onde produziu maisum trabalho com reconhecimentomundial: Bostonians, que retrata osmoradores e os hábitos na cidade.Também registrou o cotidiano de

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Entrevista

soviéticos no período comu-nista em 1965, de nova-ior-quinos e turistas na TimesSquare, atenienses na capitalgrega, entre outros.

Membro efetivo da con-ceituada Agência Magnumdesde 1965, o fotógrafo mi-nistrará em 25 e 26 de no-vembro dois workshops co-mo parte do ciclo GrandesMestres da Fotografia, orga-nizado porFotografe em par-ceria com o SP Photo Fest.Em 2010, o ciclo trouxe aoBrasil Steve McCurry, um dosícones da fotografia mundial.

Dos Estados Unidos, Cons -tantine Manos concedeu en-trevista a Fotografe, revelandoa paixão pela liberdade de fazertrabalhos pessoais e a impor-tância de incluir o elementohumano na fotografia. Sempreenvolvido com imagens empreto e branco, ele conta queenfrentou uma crise na carreirae a contornou com a mudançade caminho com a adesão à fo-tografia em cor. Atualmente,ele está digitalizando os pri-meiros trabalhos em p&b,inéditos, e planeja mostrá-losno workshop no Brasil. Con-fira a entrevista.

Fotografe – O que mais oatrai na fotografia? Constantine Manos – Soufotógrafo desde os 13 anos,quando entrei no clube de fo-tografia da escola. Ainda hojea fotografia é para mim o mes-mo hobby de quando a co-nheci. Nunca tive um traba-lho regular e amo a liberdadede ser freelancer, embora te-nha enfrentado dificuldadesfinanceiras no início da car-reira. Gosto de fotografiasque são complexas psicolo-gicamente, que questionammas não dão respostas e que

Mais um flagrante em DaytonaBeach, Flórida: cortes e ângulosinusitados são o diferencial dasfotos em cor feitas por Manos

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Um dos trabalhosmarcantes dofotógrafo é o

registro em p&bde moradores de

vilarejos na Grécia

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convidam a vê-las várias ve-zes. Mas as melhores fotossão aquelas que representamsurpresas, isto é, são imagensque tenho no meu subcons-ciente, mas não as reconheçoaté que elas surjam. A emoçãode fazer uma foto que sejasurpreendente para mim, eespero que para o observadortambém, é sempre prazerosa.

Quais fotógrafos você temcomo referência?

A maior influência na mi-nha carreira foi Henri Car-tier-Bresson. Eu o descobriaos 13 anos, no clube de fo-tografia da escola. Na época,estudei as fotos, a vida dele erecolhi informações sobre aAgência Magnum, que se tor-nou um objetivo na minha vi-da. Depois, fui influenciadopor W. Eugene Smith, HelenLevitt e Gary Winograd.

Como você determina os te-mas a serem fotografados?

Eu sempre separei meutrabalho profissional do pes-soal. Na fotografia profissio-nal, sinto-me obrigado a aten-der as necessidades do cliente.Na pessoal, sou livre para se-guir meus instintos e prefirotrabalhar em projetos de lon-

go prazo, que produzem umbom volume de imagens.Nesse caso, cada fotografiatem uma vida própria, masjuntas formam um conjuntoestilístico.

Como você se prepara parafotografar para os traba-lhos pessoais?

Eu realmente não me pre-paro antes de fotografar paraum projeto pessoal. O temasurge a partir da ideia de qualassunto gostaria de explorare de como desejo que sejamas imagens. A partir daí voupara os eventos e lugares on-de sinto que posso ter maissucesso para encontrar o ma-terial bruto para essas fotos.

Você mantém alguma rela-ção com os personagensdurante os trabalhos?

Fotografo só em lugaresO fotógrafo Constantine Manos

Acima, uma dasfotos que Manos

considera dasmais importantes

da sua carreira,feita na Grécia

no início dosanos de 1960

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Entrevista

públicos e poderia ser cha-mado de um “fotógrafo dasruas”. Nunca converso comos personagens e a maioriadas pessoas que registro nemsabe que estou fazendo fotosdelas. Prefiro ser o observa-dor do que o observado econsidero a presença humanacomo necessária na fotogra-fia. O fluxo das pessoas emum ambiente de constantemudança de luzes e sombras,as transformações no rela-cionamento com os outros ecom os arredores e a cons-tante alteração nas expres-sões e nos movimentos secombinam para criar situa-ções dinâmicas, que dão aofotógrafo infinitas opções deem que instante apertar o bo-tão para fotografar. E esco-lhendo uma intersecção pre-cisa entre o tema e o tempo,ele pode transformar um mo-

mento ordinário em extraor-dinário e o real em surreal.

Transitando tanto entre osEstados Unidos e a Gréciavocê encontrou semelhan-ças entre os dois países?

A única semelhança queencontro entre a Grécia e osEstados Unidos é o fato deque sou profundamente en-volvido e familiar com a cul-tura de cada um deles. Porcausa dessa familiaridade, te-nho sentimentos fortes comos dois países e os dois povos.Na Grécia as pessoas são maishomogêneas e nos EstadosUnidos, bem mais diversas.É um país complexo, commuitas camadas e uma gran-de polarização.

O que o atrai a fazer fotosna Grécia?

Os vilarejos da Grécia me

atraíram já no início da minhacarreira, pois tanto meu paiquanto minha mãe são gregosvindos de povoados. Na mi-nha infância, sempre ouvi his-tórias do chorio, aldeia em gre-go. Cresci falando o idiomagrego em casa e sou fluente nalíngua. Fotografei na Gréciaem 1962 e 1963 e comecei re-gistrando vilarejos sem eletri-cidade. A vida era simples ebásica e as pessoas eram ado-ráveis e dignas.

Sempre com trabalhos empreto e branco, o que o le-vou à fotografia em cor emAmerican Color?

Comecei a carreira com afotografia p&b. Amava tra-balhar no quarto escuro, re-velando o filme e fazendo ascópias do meu trabalho. Nametade da minha carreira tiveuma crise porque me perdi

A interação daspessoas com oambiente e oaproveitamentode luzes esombras sãoconstantes naobra do fotógrafo

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pelo caminho no meu traba-lho pessoal com p&b. Depoisde vários anos de tentativassem encontrar uma direção,descobri as possibilidades emfotografar pessoas e momen-tos em cor. Tive um novo co-meço. Resultou em um gran-de trabalho, o chamado Ame-rican Color, que gerou doislivros (American Color, pu-blicado em 1995, e AmericanColor 2, publicado em 2010).Agora, estou reconsiderandovoltar ao p&b.

O que mudou quando vocêpassou a fotografar em cor?

A fotografia em cor foiuma catalizadora para as mu-danças no meu trabalho. An-tes, fotografava em cor parasatisfazer as necessidades docliente. Então, tive de passara fazer fotografias em cor quesatisfizessem minhas próprias

aspirações. O meu projetoem cor me ensinou que as fo-tos poderiam ser traiçoeirase sedutoras. A cor pode co-locar um véu de superficiali-dade sobre a imagem, maspode também transmitir vi-bração e vida em um momen-to simples do cotidiano.

Como foi para você a tran-sição da fotografia analó-gica para a digital?

A primeira vez que foto-grafei com câmera digital foicom o lançamento da LeicaM8, em 2008, e agora uso aM9. Tinha muita apreensãoquanto ao digital e amava mi-nhas câmeras Leica de filme.Toda a minha vida trabalheiem quarto escuro e tenhocentenas de cópias vintageem p&b daquele tempo. Po-rém, o momento em que fi-nalmente fiquei convencido

de que a fotografia digital erao caminho a seguir foi a partirdo interrompimento de fa-bricação do filme Kodachro-me (em 2009). Quando de-cidi a ir para o digital, vi queera divertido e relativamentefácil. Agora, amo o digital eestou fazendo lindas fotosem p&b e em cor com im-pressão a jato de tinta. O com-putador substituiu o quartoescuro e hoje pode fazer coisasque antes eram impossíveis.Acredito que um fotógrafohabilidoso pode fazer um ar-quivo digital parecer com tu-do o que ele deseja.

Qual foi o trabalho mais di-fícil que você fez?

O meu trabalho mais di-fícil foi fotografar para umrelatório anual corporativo.Fiz para ter como viver finan-ceiramente. Foi muito desa-

Acima, meninobrinca em

frente a umpainel em

HollywoodBeach, na

Flórida:flagrante

da série American

Color

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Entrevista

fiador, técnico e estressante.Odiei fazê-lo, pois semprepreferi produzir imagens pa-ra mim. Apesar disso, dei omeu melhor e fiz boas ima-gens para os clientes.

O que você conhece da fo-tografia brasileira?

Eu não sei muita coisa daa fotografia brasileira e esperoaprender mais na minha idaao Brasil. Sou bastante amigodo Sebastião Salgado e tenhomuita admiração por ele, co-mo pessoa e como fotógrafo.

Você já esteve na AméricaLatina?

Quando John F. Kennedyassumiu a presidência dos Es-tados Unidos, em 1961, viajeipela América Latina para fo-tografar as ações do Food forPeace (programa do governoamericano que distribui co-mida para 150 países; o pro-tótipo existe desde 1954, co-mo parte do Plano Marshall,que previa dar assistência aospaíses atingidos pela SegundaGuerra Mundial, e foi expan-dido aos moldes atuais no go-verno de Kennedy). Pelo queme lembro, estive no Brasil.Acho que fiz um bom traba-lho e as fotos foram usadascom sucesso no livro da or-ganização, mas elas não sãoimagens importantes paramim. Também fiz alguns tra-balhos em Cuba duranteworkshops que ministrei láe encontrei oportunidadesde fotos maravilhosas na ca-pital, Havana.

Há alguma manifestação cul-tural que você gostaria deretratar na América Latina?

Neste momento da minhavida, gostaria de voltar à fo-tografia p&b e registrar os

Acima, cena em Daytona Bike Week, o maior encontro de motociclistas do mundo

Manos busca combinar a iluminação, as cores e o movimento das pessoas para fazerfotos inovadoras e difíceis de serem vistas novamente, como as imagens acima e abaixo

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Entrevista

Estados Unidos e/ou a Gré-cia, países onde me sinto maisconfortável.

Há alguma foto que não ésua, mas você gostaria deter feito?

A foto que gostaria de terfeito é de Joseph Koudelka, dasérie Exílios. Mostra um ho-mem arremessando uma bola,uma moça deitada no gramadoe um cavalo ao fundo.

Quais são seus projetosprofissionais?

Estou planejando voltarà fotografia p&b. Tenho pen-sado muito em como querominhas novas fotos e esperocombinar a minha experiên-cia do passado em p&b e emcor em um novo trabalho.

Quais trabalhos você estádesenvolvendo?

Ando bastante ocupadoeditando e escaneando tra-balhos iniciais meus em p&b,muitos deles nunca vistos oupublicados. Penso em mos-trá-los na minha apresenta-ção no Brasil.

O que pretende ensinar noworkshop?

Tento ensinar, nos meusworkshops, como sair pelomundo e como fazer imagenscombinando gente, o momen-to, a luz e todos os elementosque façam da fotografia umaimagem que é uma surpresa,isto é, que nunca tenha sidovista antes e que nunca serávista novamente. Olho os port-fólios dos participantes e buscopor fotos que apontam umanova direção para seguirem,ajudando-os a encontrar suaprópria voz, baseados nos seusinteresses e em sua experiênciade vida.

Abaixo, imagem captada pelo checo Joseph Koudelka, que Manos gostaria de ter feito

O elemento humano é fundamental nas fotografias feitas por Constantine Manos,mesmo que representado por sombras como nas fotos acima e abaixo

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