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CONSTRUINDO E ORGANIZANDO O ÁLBUM DE FAMÍLIA Luciana Fávero UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas Introdução "Construir e organizar um álbum de fotografia para meus avós maternos, a fim de que o registro da memória familiar não se perdesse devido às inapropriadas condições de armazenamento". Com essa idéia em mente, passei a arquitetar a construção do tal álbum. Defini que utilizaria cerca de cem fotos para narrar a história de minha família materna, fotos essas que seriam selecionadas com o auxílio de minha avó. Assim, foi necessário pesquisar técnicas que permitissem a execução do projeto, uma vez que eu nunca havia realizado tal atividade. Motivada inicialmente apenas pelos anseios de organizar as imagens da família e de aprender a maneira correta de armazenar fotografias, percebi ao longo do projeto novos fatores de relevância para o desenvolvimento do mesmo. Das histórias silenciosamente retomadas pelas imagens até me sentir parte da história, foram diversos os motivos pessoais que me fizeram prosseguir com o trabalho. Em trabalhos prévios sobre o tema "Álbum de Família", deparei-me com colocações interessantes. Numa delas, afirmava-se: "álbuns de fotografia familiares se constituem como lugar de memória e servem à função de reforçar a coesão social de um grupo mediante forte solicitação à adesão afetiva. Assim, constituir uma memória privada por meio desses reforça laços identitários e produz sentimentos de continuidade no tempo, de coerência de uma pessoa ou de um grupo social na construção de si próprio" (SANZ, acesso em 5 de junho de 2007). A partir dessas colocações, senti-me ainda mais incentivada a executar o projeto proposto, ciente da importância da atividade que realizaria. Resultados Pré - produção: Não era, como eu havia imaginado, num baú que as fotografias estavam guardadas. Numa caixa de papelão infestada por traças, empoeirada e abandonada num maleiro escuro, as fotos se deterioravam junto com seus negativos. Utilizando uma cadeira e as informações de minha avó, peguei a caixa e comecei por colocá-las numa outra caixa, livre de traças. Os negativos foram armazenados em outro local, separados das fotografias. Aproveitando a tarde livre, sentei-me com minha avó para selecionar as fotos. Pedi para que ela escolhesse as fotografias que considerava mais importantes. A cada foto escolhida, a justificativa: era impossível para ela, senhora de 80 anos, não contar as histórias trazidas a mente pelas imagens. Assim, entre histórias, o prazo de seleção das imagens teve que se estender: foram três dias para escolher as fotografias que iriam compor o álbum. Escolhidas as imagens, o próximo passo seria separá-las por "temas" e organizar a narrativa fotográfica. No entanto, deparei-me com um problema: como organizar essa narrativa? 1

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CONSTRUINDO E ORGANIZANDO O ÁLBUM DE FAMÍLIA

Luciana FáveroUNICAMP – Universidade Estadual de Campinas

Introdução"Construir e organizar um álbum de fotografia para meus avós maternos, a fim de que o

registro da memória familiar não se perdesse devido às inapropriadas condições de armazenamento". Com essa idéia em mente, passei a arquitetar a construção do tal álbum. Defini que utilizaria cerca de cem fotos para narrar a história de minha família materna, fotos essas que seriam selecionadas com o auxílio de minha avó. Assim, foi necessário pesquisar técnicas que permitissem a execução do projeto, uma vez que eu nunca havia realizado tal atividade.

Motivada inicialmente apenas pelos anseios de organizar as imagens da família e de aprender a maneira correta de armazenar fotografias, percebi ao longo do projeto novos fatores de relevância para o desenvolvimento do mesmo. Das histórias silenciosamente retomadas pelas imagens até me sentir parte da história, foram diversos os motivos pessoais que me fizeram prosseguir com o trabalho.

Em trabalhos prévios sobre o tema "Álbum de Família", deparei-me com colocações interessantes. Numa delas, afirmava-se: "álbuns de fotografia familiares se constituem como lugar de memória e servem à função de reforçar a coesão social de um grupo mediante forte solicitação à adesão afetiva. Assim, constituir uma memória privada por meio desses reforça laços identitários e produz sentimentos de continuidade no tempo, de coerência de uma pessoa ou de um grupo social na construção de si próprio" (SANZ, acesso em 5 de junho de 2007). A partir dessas colocações, senti-me ainda mais incentivada a executar o projeto proposto, ciente da importância da atividade que realizaria.

Resultados

Pré - produção:Não era, como eu havia imaginado, num baú que as fotografias estavam guardadas. Numa

caixa de papelão infestada por traças, empoeirada e abandonada num maleiro escuro, as fotos se deterioravam junto com seus negativos. Utilizando uma cadeira e as informações de minha avó, peguei a caixa e comecei por colocá-las numa outra caixa, livre de traças. Os negativos foram armazenados em outro local, separados das fotografias.

Aproveitando a tarde livre, sentei-me com minha avó para selecionar as fotos. Pedi para que ela escolhesse as fotografias que considerava mais importantes. A cada foto escolhida, a justificativa: era impossível para ela, senhora de 80 anos, não contar as histórias trazidas a mente pelas imagens. Assim, entre histórias, o prazo de seleção das imagens teve que se estender: foram três dias para escolher as fotografias que iriam compor o álbum.

Escolhidas as imagens, o próximo passo seria separá-las por "temas" e organizar a narrativa fotográfica. No entanto, deparei-me com um problema: como organizar essa narrativa?

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Utilizaria o tempo cronológico ou outro, não linear? Seguindo sugestões de minha avó, com quem dialoguei durante todo o processo, decidimos que as imagens seriam organizadas por assunto, mas não seguiriam uma ordem cronológica. Assim, sem um roteiro escrito, dividimos as 100 fotografias nas categorias: infância/ adolescência de minha avó; infância/ adolescência do meu avô; amigos de minha avó, amigos de meu avô; casamento dos meus avós; viagens do casal em questão; infância/ adolescência do meu tio; infância/ adolescência de minha mãe; infância/ adolescência da minha tia; viagens em família; festas.

A busca realizada no site "http//:www.google.com.br" com a entrada "técnicas para a confecção de álbuns fotográficos", não obteve resultados. Uma nova busca, sem as aspas, trouxe uma infinidade de sites como resposta - nenhum com as informações procuradas, o que pode ser percebido apenas pela descrição dos sites na página de pesquisa. Assim, parti para a outra busca, com a entrada "materiais adequados que podem ser utilizados como suporte para fotografias". Novamente, nenhum documento correspondente foi encontrado. Repeti a busca, agora sem as aspas. Foram muitos os sites que responderam a busca. No entanto, analisando os resumos que aparecem na página do Google, somente 4 pareciam ter alguma relação com o tema (Núcleo de Jornalismo USP, acesso em 5 de junho de 2007; SAKALL, acesso em 5 de junho de 2007; Kodak, acesso em 5 de junho de 2007; Lupa, acesso em 5 de junho de 2007). Assim, entrei nesses sites, sugeridos nas três primeiras páginas de resultados, e descobri que precisaria utilizar algum tipo de papel neutro para a confecção do álbum, e não deveria utilizar cola branca, fita adesiva ou plásticos de qualquer tipo para colar e proteger as fotografias.

Recorri novamente ao site de pesquisa para descobrir que tipos de papel são neutros. Utilizando a entrada "papel neutro", descobri que o papel manteiga - que pretendia utilizar como proteção das fotos - é neutro e, portanto, poderia ser utilizado. Na mesma busca, descobri o "Filiset neutro", um tipo de papel que poderia ser utilizado, mas só era encontrado na cor branca. Defini, assim, os materiais com que construiria meu álbum: papel manteiga, papel "Filiset neutro" e cantoneiras feitas com o mesmo papel.

Na papelaria "Vista Verde", uma surpresa desagradável: eles não trabalham com o papel "Filiset neutro". Dada a urgência do orçamento, cotei os preços com um outro papel, preto, tamanho A4, de gramatura semelhante ao papel cartão - e que, segundo a embalagem, também era neutro. Orçamento em mãos, liguei para minha avó, que autorizou a compra do material (um montante maior de dinheiro já havia me sido entregue). No dia seguinte, comecei a produção do álbum.

Produção:Limpei a mesa de vidro que utilizei para montar

o álbum com álcool, conforme recomendado por um site sobre preservação de fotografias (SAKALL, acesso em 5 de junho de 2007). Utilizando luvas cirúrgicas (uma vez que a gordura das mãos é extremamente nociva para as imagens) , produzi uma página do álbum de cada vez, terminando um tema antes de começar a trabalhar com as imagens de outro.

Sobre uma folha A4, distribuía as fotografias desejadas. Escolhida a posição final das imagens daquela folha, marcava os cantos de cada uma das posições com lápis, e, então, colava as cantoneiras (pequenos triângulos do papel, com tamanho suficiente

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Uma das fotos, sobre um bloco de papel manteiga

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para prender um canto da foto) previamente recortadas nos locais marcados, de forma a conseguir prender as fotografias assim que a cola branca utilizada secasse. Com as imagens no lugar, utilizava a cola bastão para fixar a folha de papel manteiga, também A4, apenas no extremo superior da página preta, a fim de proteger as fotos.

Ao final, as páginas, secas, foram armazenadas em uma caixa, na cor preta, comprada na papelaria.

Imagens do Produto Final:

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Os papéis utilizados para a confecção do álbum

A caixa

As páginas empilhadas

Uma das páginas do álbum

A caixa, com as páginas do álbum

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Pós -produção:Fotografei o produto final diversas vezes antes de levá-lo para minha avó, utilizando para

isso a câmera digital Samsung Digimax 530. As fotos foram passadas para o computador e copiadas em CD e pendrive, para garantir o acesso as mesmas no caso de algum problema.

A devolução do álbum, uma vez que não seria mais possível mostrá-lo para os colegas e professor em aula, ocorreu no mesmo dia em que o produto pôde ser apreciado pelo seus donos. Meus avós gostaram muito do álbum produzido; contaram outras histórias retomadas pelas fotos e pediram para que eu organizasse o restante das fotografias - o que ainda não ocorreu.

Discussão sobre os fatores negativos e positivos que interferiram na execução do projeto:

Fatores Negativos:Pode ser considerado fator negativo que interferiu na execução do projeto apenas o não

retorno de resultados, nas buscas iniciais realizadas no site http://www.google.com.br, uma vez que as novas buscas fizeram com que o tempo previsto para essas tarefas fosse extrapolado em 1,5 hora. O problema, talvez, referia-se as entradas utilizadas para a busca, uma vez que eram muito extensas e, grafadas entre aspas, restringiam ainda mais os resultados.

Além desse, o estado inicial de armazenamento das fotos demandou um tempo maior para a seleção das mesmas, uma vez que elas estavam misturadas aos negativos, empoeiradas e infestadas de traças.

Outro fator negativo foi a não existência do papel Filiset Neutro na papelaria na qual me propus a comprar o material, o que me preocupou no início. Esse problema foi sanado, uma vez que a vendedora apresentou-me um produto similar que pôde ser utilizado.

Fatores PositivosEmbora tendo resultado num grande atraso do cronograma previsto, discutir todas as

imagens selecionadas com meus avós foi fantástico: descobrir a história de minha família através das imagens, trabalhar a memória do meu avô (que, durante a execução, vinha ver as imagens que estavam sendo coladas e contava sua versão dos fatos), me perceber parte da história de minha família.

O olhar e os comentários de meus avós ao avaliar o projeto final foram, também, muito gratificantes - e me fizeram perceber o real significado do núcleo familiar e sua memória.

ConclusõesOs resultados atingidos superaram minhas expectativas. Não só realizei o projeto ao qual

me propus como aprendi muito, o que não esperava que fosse acontecer. Encontrei as informações sobre preservação de fotografias após certo tempo de pesquisa

que excedeu o estimado. No entanto, as informações encontradas foram excelentes, e serão utilizadas sempre que eu trabalhar com fotografias impressas.

Aprender sobre minha história familiar, escutar "causos" e investir tempo pensando sobre os relatos de meus avós foi excelente para que eu me percebesse parte de uma família com histórias para contar.

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Sugiro, para algum interessado num projeto semelhante, não estipular prazos tão pequenos para a montagem de um álbum. Excedi, muito, o tempo que previ para a execução de meu projeto, mas o tempo excedido foi fundamental para uma produção consciente e produziu reflexões profundas sobre o meu papel dentro do núcleo familiar. Assim, penso que o mesmo pode ocorrer com outras pessoas que se aventurem por projetos semelhantes.

Pretendo continuar e ampliar esse projeto, não só colocando mais páginas no álbum montado (como foi solicitado pelos meus avós), mas pesquisando métodos para organizar e preservar os negativos que também se encontram armazenados incorretamente.

Referências Bibliográficas

SANZ, Cláudia L. Passageiros do tempo e a experiência fotográfica: do álbum de família ao blog digital. In: XXVIII CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 2005, Rio de Janeiro. Disponível em: <http://reposcom.portcom.intercom.org.br/dspace/handle/1904/18403>. p.4. Acesso em: 5 jun.2007.

Núcleo de Jornalismo USP. Preservação de Materiais Fotográficos. Disponível em: <http://www.eca.usp.br/nucleos/njr/curso/PRESERVA%C7%C3O%20DE%20MATERIAIS%20FOTOGR%C1FICOS.doc>. Acesso em: 5 jun.2007.

SAKALL, Sergio. O Laboratório Fotográfico. Disponível em: <http://www.sergiosakall.com.br/montagem/fotografia-laboratorio.htm>. Acesso em: 5 jun.2007.

Kodak. Disponível em: <http://wwwpt.kodak.com/PT/pt/consumer/rincon/6020a_1.shtml>. Acesso em: 5 jun.2007.

Lupa. Disponível em: <http://www.lupa.com.pt/texto1.htm>. Acesso em: 5 jun. 2007.

Bibliografia

Lupa. Glossário. Disponível em: <http://www.lupa.com.pt/gloP.htm>. Acesso em: 5 jun. 2007.

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